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ESTUDOS CULTURAIS

Nós fomos uma geração que quisemos ter


A fermentação acesso à cultura.
Vera Sílvia Magalhães in “Estrangeira em seu próprio

cultural da década país”, Revista de Cultura Vozes, No.1, Ano 92, Vol. 92,
p.111.

brasileira de 60 I

RESUMO A PRINCIPAL CARACTERÍSTICA da década de 60


A principal característica da década de 60 é a contradição. é a contradição. Ela se expressa através de
Ela se expressa através de variadas e múltiplas posições em variadas e múltiplas posições em todos os
todos os campos da atividade política, econômica e cultural. campos da atividade política, econômica e
Este ensaio aborda o conjunto dessas especificidades que cultural. Daí a perspectiva de oposição en-
constituíram um dos mais ricos e paradoxais períodos da tre diferentes princípios e ideologias, que
história brasileira contemporânea. acaba se expressando numa tensão constan-
te. De um lado, o corte com a tradição. De
ABSTRACT outro, a retomada dessa mesma tradição.
In Brazil, many activities within the field of politics, Ideologicamente, nada melhor para expres-
economics and culture typify the 1960’s as a decade of sar este princípio do que a conhecida ima-
contradiction. So the aim of this article is to approach this gem do General Golbery do Couto e Silva
period of the Brazilian contemporary history in order to show que, embora aplicada a um outro contexto,
the cultural ferment. expressa com absoluta fidelidade o que vi-
vemos naquela década: os movimentos de
sístole e diástole1. Havia, efetivamente, uma
vontade de abertura para o mundo e, ao
mesmo tempo, um voltar-se para dentro de
si mesmo.
Em 21 de abril de 1960 inaugurara-se
Brasília, a nova capital brasileira. O slogan
de Juscelino Kubitschek era significativo:
50 anos em 5. O desenvolvimentismo afir-
mava-se no Brasil a partir daquele desafio
concretizado. Logo em 1964, contudo, a na-
ção sofreria um golpe de estado. O inter-
regno destes quatro anos ilustra, à sacieda-
de, as contradições e as tensões vividas
pela nação.
Na verdade, este tensionamento não
era novo. Pelo menos desde as décadas de
10 e 20 ele se colocava em especial para os
intelectuais e os políticos brasileiros, como
bem relembra Celso Furtado:2 em 1922 tivé-
ramos a Semana de Arte Moderna em São
Paulo, mas em 1928 Paulo Prado editaria o
pessimista Retrato do Brasil. De um lado,
Mário de Andrade fizera a descoberta do
Brasil a partir da cultura popular e da
Antônio Hohlfeldt Amazônia, mas pouco antes Oliveira Vian-
Doutor em Teoria da Literatura pela PUCRS.
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em na decretara a ideologia conservadora e mi-
Comunicação Social, da FAMECOS-PUCRS. litarista expressa especialmente em Popula-

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ções meridionais do Brasil (1920). Em 1924 des- ção do ISEB - Instituto Superior de Estudos
cobríramos o antropofagismo oswaldiano, Brasileiros, idealizado e concretizado por
mas em 1937 sofreríamos o intervencionis- um conjunto de militares5 claramente liga-
mo do Estado Novo. dos aos tenentes dos anos 20. A ideologia
Carlos Guilherme Motta, em Ideologia nacionalista destes intelectuais não impe-
da cultura brasileira,3 divide em três épocas diu que o governo JK se constituísse no
distintas a história brasileira recente (consi- primeiro grande momento de internaciona-
derando o período por ele estudado): a) de lização de nossa economia, inclusive medi-
1957 a 1964, ampliação e revisão reformis- ante a substituição de importações pela in-
tas; b) de 1964 a 1969, revisões radicais; c) dustrialização acelerada do país, a partir
de 1969 a 1974, impasses da dependência. da instalação das montadoras de automó-
Complementarmente, Anamaria Fadul, veis.
com pequenas diferenças, admite quatro O período JK se caracteriza por uma
diferentes momentos em nossa história re- internacionalização da economia brasileira
cente4: a) 1964 a 1968, do golpe militar ao justamente no momento em que se procura
AI-5; b) 1968 a 1974, do AI-5 até a posse do “fabricar” um ideário nacionalista para se
General Geisel; c) 1974 a 1979, da posse de diagnosticar e agir sobre os problemas nacionais.6
Geisel à posse do General Figueiredo; d) Assim, a contradição se apresenta
período de Figueiredo à anunciada posse num tensionamento em que o ISEB preten-
de Tancredo Neves. de influenciar o governo, enquanto este
Numa ou noutra divisão, verificamos busca uma legitimação através do ISEB. A
que o mesmo movimento de composição e crise surgida já ao final daquela adminis-
decomposição pode ser claramente obser- tração é bastante conhecida, estendendo-se
vado. Como se disse, este movimento era ao longo do período seguinte, até a disso-
verificável desde muito antes, embora ele lução da instituição após o golpe de 1964.7
vá se clarificando à medida em que avança- Se a industrialização recebe forte im-
mos no tempo (tomando como referencial o pulso do governo, o segmento agrário, ao
golpe de 1964). mesmo tempo, organiza-se para a sua luta,
Na década de 50, o país buscara confi- criando-se, a partir de 1955, a primeira Liga
gurar alguns horizontes de desenvolvimen- Camponesa, sediada no Engenho Galiléia,8
to científico bastante significativos: em 1951 culminando com a I Conferência de Lavra-
criara-se o CNPq – Conselho Nacional de dores e Trabalhadores Agrícolas Brasilei-
Pesquisa Científica, simultâneo ao surgi- ros, em Belo Horizonte, em novembro de
mento da CAPES- Coordenação de Aperfei- 1962. A reforma agrária seria incluída nas
çoamento de Pessoal de Nível Superior. A reformas de base, mas o primeiro docu-
reforma universitária, desdobrada a partir mento importante sobre o tema seria pro-
de 1965, através do execrado acordo MEC- duzido apenas no período do General Cas-
USAID pode ser vista, ao mesmo tempo, tello Branco, após o golpe de 1964.
como uma continuidade e uma ruptura em Por outro lado, a cultura alienada, a que
relação àquela primeira tendência, eis que, mais tarde referir-se-á o CPC- Centro Popu-
de um lado, tende a abandonar o enfoque lar de Cultura da UNE, entra em discussão.
humanista de nossa educação, buscando a A “ideologia nacionalista queria ser o idio-
formação profissionalizante e tecnicista, ma político dominante”. 9 Ao longo dos
mas, ao mesmo tempo, propiciará o surgi- anos 50, construíra-se uma espécie de oni-
mento de nossos primeiros cursos de pós- potência da intelectualidade, que sentia
graduação. uma vocação para conduzir os destinos da
Da mesma maneira, assistimos, no nação, ainda segundo o brazilianist francês
âmbito da administração Juscelino Kubits- (p. 114), sentimento que seria seguido de
chek, o surgimento, em 1956, e a solidifica- outro, absolutamente oposto, o da precarie-

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dade de sua própria subsistência, após o após o plebiscito de janeiro de 1963), mas
golpe de 1964 e, em especial, após o AI-5 resultando na concretização ditatorial do
de dezembro de 1968. Uma síntese precária golpe de março de 1964.
adviria com a organização dos cursos de Quatro conceitos centralizam os deba-
pós-graduação nas universidades, às quais tes: povo - nação - Estado e revolução,12 di-
se confinariam os intelectuais, enquanto vidindo-se, o último, entre a utopia socia-
professores, não sem sofrerem controles lista e a reforma democrático-burguesa. As
ideológicos e processos de cassação, como contradições ficam especialmente eviden-
os verificados logo após o AI-5. De qual- tes quando se examina, já há distância, o
quer forma, eles se tornariam profissionais e conhecido Manifesto do CPC, assinado,
especialistas, limitando-se, parcialmente, a dentre outros, por Carlos Estevam Martins.
um papel bem menos vanguardista do que Pretende-se falar em nome do povo e em
haviam pretendido antes. defesa do povo, mas o texto se dirige o
Na verdade, ao ISEB opor-se-ia o tempo todo aos intelectuais e aos artistas,
IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Demo- especialmente aqueles a quem se considera
crática, fundado em 1959, com cobertura di- alienados,13 numa espécie de chamamento à
reta da CIA, e que se desdobraria ainda no conscientização e ao engajamento.
IPES- Instituto de Pesquisas e Estudos Soci- A modernização convivia com o arcaís-
14
ais, de 1961, também apoiado pelos norte- mo, da mesma maneira que o ideologismo
americanos, quando a ascensão inevitável com o esteticismo na produção artística da-
de João Goulart vinha radicalizar o tensio- quele período. De um lado, aspirava-se à
namento entre o pensamento nacionalista e assimilação cultural, de outro, à explicitação
o internacionalista.10 dos conflitos e das contradições.15
É importante lembrar-se que os acon- Era consensual, contudo, entre as dife-
tecimentos brasileiros integravam-se a um rentes correntes ideológicas, que uma solu-
contexto internacional, e especialmente lati- ção deveria ocorrer. A esquerda nacionalis-
no-americano igualmente contraditório: em ta tratou de pressionar cada vez mais o go-
1959 ocorrera a revolução cubana liderada verno João Goulart em direção às reformas
por Fidel Castro, o que fizera com que os de base. Os conservadores, por outro lado,
Estados Unidos voltassem seus olhares organizaram-se, fartamente financiados
mais diretamente para o continente, resul- através da CIA, nas manobras que resultari-
tando na criação, em 1961, da Aliança para am no golpe de 1964. O desenlace, uma vez
o Progresso. mais, apresenta-se contraditório: pode ser
Os debates que se sucediam no conti- visto enquanto a ruptura com a tendência
nente equilibravam-se entre a teoria da de- nacionalista e populista, na medida em que
pendência e o desenvolvimentismo. Assim, a ditadura modificaria profundamente o
ao nacionalismo exacerbado, complementa- espaço de interferência tanto da intelectua-
do pelo pan-americanismo que se tornará evi- lidade quanto dos segmentos sindicais e
dente no Brasil durante o período de Jânio religiosos brasileiros. No entanto, se visua-
Quadros, por exemplo, opõe-se um interna- lizado em relação à década de 50, nada
cionalismo crescente. Contra o localismo de- mais faz do que retomar, expandir e apro-
fende-se o cosmopolitismo, 11 ao ufanismo fundar a industrialização e a internacionali-
opõe-se o criticismo, entendendo-se a neces- zação, através de acordos bilaterais e de
sidade de um ponto de ruptura que se orien- um conjunto de medidas político-adminis-
te, simultaneamente, pelo nacional e o po- trativas que, até 1968, terá modificado sig-
pular, apontando, ao mesmo tempo, para nificativamente o país, possibilitando o
uma ampliação da experiência democrática surgimento do que verdadeiramente se po-
( o que se fará nos turbulentos anos da ad- derá desde então denominar como indústria
ministração de João Goulart, sobretudo cultural enquanto um livre mercado16 anima-

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do, protegido e articulado através do Esta- levar em conta que fora o governo João
do, na medida em que a forma produtiva é Goulart que, através da lei n.º 4.117, de 27
acionada pela motivação econômica do re- de agosto de 1962, editara o Código Brasi-
torno do capital, o lucro (p. 140), cujas con- leiro de Telecomunicações e criara o CON-
seqüências são, no mínimo, três: TEL - Conselho Nacional de Telecomunica-
a) superabundância de oferta de pro- ções, buscando a institucionalização do
dutos; novo Código Brasileiro de Comunicações a
b) ilusão da transformação do real; partir de 1962, a que se seguiria a regula-
c) reconhecimento autoritário da vali- mentação do mesmo Código em 20 de mar-
dade de sua própria produção, pela aceita- ço de 1963, atualizando-se a regulamenta-
ção tautológica do mercado (p.142). ção dos serviços de radiodifusão em 31 de
Evidentemente, cada campo artístico outubro daquele ano. No entanto, a coloca-
desenvolverá seus próprios mecanismos, ção em prática dessas determinações, evi-
contando inclusive com a explosão da ati- dentemente adaptadas à ideologia do
vidade publicitária que “assumiu uma fun- novo poder, dar-se-ia apenas após 31 de
ção econômica fundamental na implemen- março de 1964. Por outro lado, os grupos
tação do modelo de desenvolvimento ado- empresariais brasileiros interessados em
tado”.17 O mercado de consumo brasileiro ampliar sua presença no novo campo das
é caracterizado por sua enorme dimensão, comunicações tomara iniciativas desde
mesmo que se considere o relativamente muito antes: já em 18 setembro de 1950, As-
pequeno percentual da população capaz sis Chateaubriand e os Diários e Emissoras
de absorver os novos produtos de consu- Associados haviam investido no novo meio
mo que se lançarão. Trata-se de um conjun- de comunicação que era a televisão, com a
to diferenciado e cada vez mais amplo, que inauguração da TV Difusora, mais tarde
justifica o projeto de integração nacional que, TV Tupi, canal 3, em São Paulo e, logo em
a partir de então, será concretizado, através seguida, no Rio de Janeiro. Em 1953, surgi-
da EMBRATEL - Empresa Brasileira de Te- ria a TV Record do Rio de Janeiro. Outros
lecomunicações, constituída enquanto em- países da América Latina inaugurariam
presa pública a partir de 16 de setembro de seus sistemas comerciais de televisão na
1965. A nova empresa desenvolve uma fan- mesma década: a Venezuela a partir de
tástica rede de torres de retransmissão, li- 1955 e o Uruguai em 1956, sendo o sistema
gadas a um satélite de comunicações, en- argentino deste mesmo ano.
quanto, em conjunto com as empresas pri- Em 1962, a TV Globo firma o acordo,
vadas, e mediante a política de concessões depois cancelado, com o grupo norte-ame-
e revisão das mesmas, criam-se as redes na- ricano Time-Life, o que lhe daria não ape-
cionais de televisão e os grandes conglo- nas um significativo aporte financeiro
merados de comunicações, colocando em quanto permitir-lhe-ia um salto qualitativo
mãos de um grupo selecionado de empre- na tecnologia empregada para as transmis-
sários emissoras de rádio e televisão, bem sões, o que a transformaria, imediatamente,
como grandes empreendimentos de jorna- no principal adversário do grupo das emis-
lismo gráfico, de que emergirão grupos soras Associadas. Naquele mesmo ano de
como a Abril Cultural ou a TV Globo. A 1962, criava-se a ABERT – Associação Bra-
iniciativa se completa com a criação, a 15 sileira de Emissoras de Rádio e Televisão,
de janeiro de 1968, da AERP – Assessoria como resposta dos empresários19 que deti-
Especial de Relações Públicas da Presidên- nham as concessões governamentais, à
cia da República, que logo se tornaria o crescente presença e pressão governamen-
maior anunciante do país.18 tal naquele campo de atividade, sempre
Neste episódio, uma vez mais, a con- mais e mais regulamentada pelo Estado.
tradição é evidente. De um lado, deve-se Os Estados Unidos, por outro lado, a

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partir de agosto de 1962, aprovam a Lei do tudo, perdura: de um lado, compositores e
Satélite de Comunicações, que permite que intérpretes como Chico Buarque de Holan-
se considere como de interesse governa- da e Gilberto Gil encontram intérpretes
mental iniciativas de empresas particulares como Elis Regina e Jair Rodrigues, com li-
neste novo campo tecnológico, ampliando nhas que se equilibram entre o poético e o
sua presença e predomínio internacional militante. De outro, Caetano Veloso rompe
em fevereiro de 1963, com a criação do as barreiras mais tradicionais de nossa mú-
COMSAT – Communications Satelitte Cor- sica popular, estabelecidas desde 1956,
poration e, em 20 de agosto de 1964, do com a bossa nova de João Gilberto, abrindo
INTELSAT – International Communications caminho para o Tropicalismo, a partir de
Satelitte Consortium, englobando países 1968, após o sucesso da canção Alegria, ale-
europeus e latino-americanos enquanto po- gria.
tenciais clientes para seus satélites de co- Neste mesmo ano de 1968, a disputa
municações. 20 O Brasil associar-se-ia ao pelos mercados televisivos cresceria, com a
consórcio em 4 de fevereiro de 1965 e a 25 presença do telejornalismo da Bandeiran-
de fevereiro de 1967 cria o Ministério das tes, através do Titulares da Notícia, respon-
Comunicações, por decreto-lei. dendo a TV Globo com o incremento quali-
Temos, assim, iniciativas norte-ameri- tativo de suas telenovelas, por exemplo,
canas no desenvolvimento de tecnologias através das emissões de Os Irmãos Cora-
de ponta, ao mesmo tempo em que outras, gem. O surgimento do vídeo tape, em 1969,
inéditas no Brasil, são aqui implantadas, possibilitaria o Jornal Nacional da TV Glo-
ainda no decorrer da administração João bo, a 1º de setembro, ampliando-se sua
Goulart. Quando se dá a ruptura institucio- qualificação com a chegada da cor, em
nal, os novos governantes encontram dis- 1972,21 o que completaria a revolução, solidi-
ponibilizadas as tecnologias de que neces- ficada desde 1967, com a implantação do
sitam para concretizar o controle ideológi- primeiro satélite brasileiro de telecomuni-
co sob a capa do discurso da integração na- cações,22 no chamado padrão Globo de quali-
cional: o sistema de torres de retransmis- dade. A morte de Assis Chateaubriand, o in-
são, a discagem direta à distância e os saté- contestável líder das Associadas, em 1967
lites de comunicação permitem que aque- é, neste sentido, emblemática. A partir de
les concessionários de rádio e televisão, então, cresce a estrela do conglomerado de
considerados confiáveis pelo sistema, pos- Roberto Marinho, culminando o processo
sam ampliar sua presença, viabilizados, si- de transposição do controle das telecomu-
multaneamente, pelo desenvolvimento da nicações de um grupo ao outro, com a não-
infra-estrutura tecnológica, a cargo do go- renovação da concessão da TV Tupi e, logo
verno, e pela expansão do mercado de em seguida, a idêntica medida com outras
consumo, ampliado pela incrementação da empresas do grupo Associado, que será re-
atividade publicitária, já organizado em re- distribuído, resultando em novas redes
des regionais, e logo depois nacionais. como o SBT de Sílvio Santos:23 atingia-se,
Se as primeiras telenovelas haviam verdadeiramente, a integração nacional.24
surgido, através da TV Excelsior e Tupi,
logo seguidas pelos shows musicais da Ex-
celsior, em 1965 seria a vez do jornalismo, II
com o Telejornal da TV Globo. No ano de
1967 atingir-se-ia o auge da programação Se a televisão apresenta, em sua implanta-
musical, com programas como Jovem ção, as mesmas contradições que os demais
Guarda, O Fino da Bossa e os festivais de sistemas culturais brasileiros, será ela, tal-
música popular brasileira, em especial vez, o único sistema, no entanto, que se
através da TV Record. A contradição, con- manterá em relativa unidade ao longo dos

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anos 60. É que todos os demais segmentos Quanto à prosa, o chamado romance de
da produção cultural do país, do teatro à 30, essencialmente rural, com o ciclo de au-
música popular, passando pela literatura e tores nordestinos, ganharia conotações ur-
as artes plásticas, sem esquecermos o cine- banas com o grupo sulino, em especial Eri-
ma, estarão marcados pelo mesmo tensio- co Verissimo e Dyonélio Machado. Na dé-
namento que indicamos na abertura deste cada de 60, passaria a sofrer o tensiona-
texto. Na verdade, enquanto parte da supe- mento de um experimentalismo crescente
restrutura produtiva, estes segmentos refle- ao lado de um conjunto de obras claramen-
tem e concretizam aquelas contradições te engajadas na denúncia do projeto ditato-
que a sociedade brasileira evidenciava. rial então em desenvolvimento, valendo ci-
tar, como exemplos, do primeiro grupo, a
Literatura – Apesar do alto grau de Wally Salomão (Me segura que eu vou dar um
analfabetismo, a literatura sempre teve um troço) e José Agrippino de Paula (Pan Amé-
privilegiado status no país.25 Nossos escri- rica) e, do outro, o Quarup de Antonio
tores experimentaram forte influência sobre Callado.27 Gradualmente, as duas tendênci-
o pensamento nacional, provavelmente as encontrar-se-ão pela necessidade de dri-
porque desenvolviam, paralelamente à blar a censura e a proibição de livros, utili-
produção mais estritamente literária, uma zando-se da técnica do romance reportagem
atividade jornalística, de que o sucesso de exemplificados em Ivan Angelo e Ignácio
público da crônica melhor traduz esta situa- de Loyola Brandão, dentre outros. O pro-
ção. Aliás, é exatamente no decorrer dos duto final desta época, por seu lado, gerará
anos 60 que este produto, simultaneamente igualmente contraditórias avaliações com o
literário e jornalístico, recebe a consagração passar do tempo. Flora Sussekind entende
dos leitores, com nomes como Otto Lara como francamente dispersiva aquela pro-
Rezende, Carlos Drummond de Andrade, dução,28 enquanto Antonio Candido tem
Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e ou- um entendimento contrário.29
tros tantos. Desde os revolucionários de Ao mesmo tempo, um sem-número
1922, a poesia brasileira oscilava entre a de iniciativas alternativas vão se desdo-
militância e o esteticismo, dividindo-se, brar: a poesia reproduzida em mimeógrafo,
por isso mesmo, pedagogicamente, as dife- movimentos como o varal de poesia ou a chu-
rentes gerações segundo estes mesmos crité- va de poesia, a poesia-postal, e assim por di-
rios: o experimentalismo de 22 se opõe, de ante, produções manifestamente artesanais,
certo modo, à crescente consciência social opunham-se às obras produzidas editorial-
de 30, abrindo caminho para uma espécie mente em empresas que haviam sofrido
de síntese que se esboça com a geração de forte modernização de seus parques gráfi-
45, de que João Cabral de Melo Neto seria cos no decorrer da década, como o caso
o exemplo mais significativo. Mas o tensio- exemplar da Record.
namento entre as diferentes tendências não
se havia esgotado: em 1956 surge o Mani- Teatro – Também o teatro vai experi-
festo Concreto, liderado pelos irmãos Cam- mentar este tensionamento. Desde 1948, a
pos, complementado no ano seguinte pelo produção teatral brasileira experimentava
grupo Tendência, de Belo Horizonte, de uma qualificação crescente, com a inclusão
Affonso Ávila. 1961 marca o manifesto do à dramaturgia internacional de novos dra-
Poema Práxis, de Mário Chamie, mas em maturgos brasileiros e uma mise-en-scène re-
1962 editam-se os três cadernos da coleção lativamente atualizada à encenação euro-
Violão de Rua, que se opunha a todas aque- péia, graças ao TBC – Teatro Brasileiro de
las tendências, reunindo, dentre outros, a Comédia, de Franco Zampari. A influência
poetas como Ferreira Gullar e Moacyr Fé- dessa instituição desdobrar-se-ia, nos anos
lix.26 subseqüentes, pelo menos até 1967, com a

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criação de inúmeros grupos de atores ou renome na época (dezembro de 1964), de
diretores-empresários, boa parte dos quais um lado, e dos caminhos abertos pelos es-
oriundos do TBC, os chamados filhotes do petáculos do CPC da UNE, especialmente
TBC. No entanto, fundara-se em 1953 o Te- aqueles que se valiam da música popular,
atro de Arena, em São Paulo, cuja direção para repassar os seus recados à população,
será assumida, a partir de 1956, por Augus- sobretudo a dos estudantes, resultando em
to Boal, jovem diretor então recém-egresso experiências como o disco O povo canta, de
de curso nos Estados Unidos, onde convi- 1962. Opinião teve a participação de Zé
vera especialmente com a dramaturgia de Kéti, João do Vale e da cantora Nara Leão,
Arthur Miller. A partir de 1958, desenvolve que se tornaria a musa da bossa nova, inter-
aquele grupo os Seminários de Dramatur- pretando textos de Oduvaldo Viana Filho,
gia, de que emergiriam, ao final da década Arnaldo Costa e Paulo Pontes, dentre ou-
e, em especial nos primeiros anos da déca- tros.
da seguinte, dramaturgos como Gianfran- O TBC, confrontado com sua tradição,
cesco Guarnieri (Eles não usam black-tie; reage, produzindo, em 1964, Vereda da sal-
1958), Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha vação, de Jorge Andrade, mais tarde o prin-
(Chapetuba Futebol Clube;1958), Bilbao, via Co- cipal dramaturgo brasileiro contemporâ-
pacabana (Augusto Boal; 1958) e Edy Lima neo, ao lado de Nelson Rodrigues que, en-
(A farsa da esposa perfeita; 1958). Esses drama- quanto isso, prosseguia sua carreira de
turgos integrar-se-iam, logo depois, ao obras provocativas, quase sempre proibi-
CPC da UNE, somando-se a Paulo Pontes, das pela censura ou fortemente prejudica-
desenvolvendo uma obra de intensa de- das por cortes absurdos em seu texto.
núncia ideológica, de modo que se torna- A tendência de reunir música e dra-
rão os nomes referenciais de toda a drama- maturgia chegaria ao auge com o sucesso
turgia brasileira ao longo das duas próxi- inesperado, primeiro fora do país, num fes-
mas décadas, ainda que alguns deles te- tival de teatro em Nancy, França, e depois
nham experimentado o exílio, como Au- no próprio Brasil, de um espetáculo cha-
gusto Boal, ou terminado por se adaptarem mado Morte e vida Severina, que se baseava
à televisão, como Guarnieri, Dias Gomes, num texto de João Cabral de Melo Neto,
Vianinha ou Paulo Pontes, que entende ser que recebera músicas do então compositor-
a televisão, apesar de tudo, um veículo es- revelação, Chico Buarque de Hollanda. Era
sencialmente democrático; pode ser ligado por 1965 e a peça, dirigida por Silney Siqueira,
qualquer um.. O grande tema é o que interessa à tornar-se-ia rapidamente um referencial
maioria da população, o que não quer dizer que porque, ao mesmo tempo em que ratificava
existe contradição entre qualidade e televisão, a denúncia contra as mazelas sociais brasi-
mas sim entre a TV e a linguagem aristocráti- leiras, encontrava uma forma inovadora e
ca.30 atrativa para comunicar-se com o público,
Criara-se, assim, a nova dramaturgia fugindo, ao mesmo tempo, do maniqueís-
televisiva, que resultará nos casos especiais e mo tão característico das esquerdas, segun-
nas séries brasileiras. do avaliação de Paulo Francis.31 A experi-
O Teatro de Arena inovou não apenas ência geraria um ciclo de espetáculos que,
na dramaturgia, tocando em temas essenci- somados à série já mencionada dos Arena
almente vinculados à realidade brasileira, conta... resultaria em trabalhos como Liber-
quanto buscou criar novas linguagens e dade, liberdade (1965) e Homem do princípio ao
formas de espetáculo, surgindo as experi- fim (1966), culminando no contraditório
ências da série Arena conta..., a partir da exi- Roda Viva do Teatro Oficina, de 1968, com
tosa experiência de um show poético-musi- texto e música de Chico Buarque de Ho-
cal, Opinião, que reuniu dramaturgos, can- llanda e direção de José Celso Martinez
tores de mpb e intelectuais brasileiros de Corrêa, aliás, outra referência do teatro des-

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te período, que oscilou, constantemente, mas a revelação de O Rei da Vela, de
entre o ativismo político-ideológico, com Oswald de Andrade, quebraria a linha de
obras como Pequenos burgueses (1963), de criação até então seguida pelo Oficina, le-
Gorki, ou Galileu, Galilei (1968), de Brecht, e vando o grupo a um experimentalismo ra-
o experimentalismo radical da linguagem dical, resultando em sua dissolução, após
teatral, com a revelação de O Rei da Vela, profunda contribuição ao nosso teatro, em
texto de Oswald de Andrade, de 1933, es- 1974.
treado em 29 de setembro de 1967, até o Na continuidade dessas diferentes e
contraditório Gracias, Señor, com que o gru- contraditórias tendências, produziram-se
po encerraria suas atividades no Brasil, di- espetáculos que, impedidos de falar da si-
ante do exílio de José Celso. Isso, não sem tuação ditatorial brasileira, inspiravam-se
antes ter revelado as idéias de Artaud e em outros casos internacionais para provo-
Grotowski e ter trazido ao país o grupo carem nossa reflexão. Assim foi com O Vi-
inglês The Living Theater, de Judith Malina gário, de Rolf Hochut (1965), imediatamente
e Julian Beck, que enfrentou sucessivas proibido pela censura, O Berço do Herói, de
perseguições policiais, sob as mais diver- Dias Gomes (1968), também proibido, Oh
sas acusações. que delícia de guerra, de Adhemar Guerra
Algum tempo depois, estas experiên- (1966), Marat-Sade, de Peter Weiss, com di-
cias seriam retomadas, já em outra perspec- reção do mesmo Adhemar Guerra (1967) ou
tiva, por Gianfrancesco Guarnieri, com Cas- O Interrogatório, ainda de Peter Weiss, sob
tro Alves pede passagem (1970). direção de Celso Nunes (1970), abrindo ca-
Um pouco mais distante destes dois minho para a posterior experiência de Ma-
centros - o Arena, no perímetro da Boca do cunaíma, já na década seguinte, sem esque-
Lixo de São Paulo – e a PUC-SP, onde se cermos a montagem de O Arquiteto e o Impe-
produzira a peça de Siqueira, um outro rador da Assíria, de José Arrabal, dirigido
ponto mexeria com o teatro brasileiro da por Ivan de Albuquerque (1970), com que
década: era o teatro da atriz e empresária também se concluía a década.
Ruth Escobar que, a partir de 1968, traria ao Por outro lado, um sem-número de
Brasil diretores de renome, em especial o dramaturgos foram sendo revelados a par-
espanhol Victor Garcia, que realizaria tra- tir do talvez ano mais trágico do teatro bra-
balhos experimentais de grande enverga- sileiro, na expressão do crítico Yan Michal-
dura, buscando espaços alternativos na ci- ski, 1968,32 auge da crise provocada pelas
dade para as suas encenações, como ocor- constantes interdições da censura, produ-
reu com Cemitério de Automóveis, de José Ar- zindo uma dramaturgia cuja principal ca-
rabal (1968), encenado em uma garagem, racterística era o enredo baseado em ape-
ou recriando os espaços disponíveis, como nas duas personagens, afim de viabilizar as
aconteceu com O Balcão, de Jean Genet produções, aprofundando, metaforicamen-
(1969), que obrigou à destruição-reconstru- te, a condição ditatorial do país. Foram os
ção total do teatro de Ruth Escobar. casos de Antonio Bivar (Abre a janela, Cordé-
Uma quarta referência da criação tea- lia Brasil, e deixa entrar o sol da manhã, 1968),
tral brasileira, como se viu, era o Grupo José Vicente (O Assalto, 1969), Leilah Assun-
Oficina que, tendo iniciado na tradição de ção (Fala baixo senão eu grito, 1969), Consuelo
um método de encenação revolucionário de Castro (À flor da pele, 1969), Isabel Câma-
quando de sua criação, mas já clássico na ra (As moças, 1969) e, muito especialmente,
década de 60, o método Stanislawski, con- Plínio Marcos, com Jornada de um imbecil até
tava com a presença de um dos atores mais o entendimento (1968), a que se seguiriam,
completos que o teatro brasileiro já teve, apesar das proibições, Navalha na carne,
Eugênio Kusnet. Clássicos como Brecht e Quando as máquinas param, Barrela, Dois perdi-
Gorki constituíam o forte de seu repertório, dos numa noite suja, etc. Plínio Marcos tor-

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 45


nar-se-ia, até o final da década de 80, numa balho desenvolvido na Inglaterra. O proje-
espécie de pedra no sapato da ditadura: to, contudo, apesar de ter produzido algu-
proibido de ter peças representadas, tor- mas obras de referência em nossa cinema-
nou-se jornalista. Proibido de atuar na re- tografia, naufragaria em torno de 1957, com
vista Veja, mediante ameaças do corte de a debandada dos integrantes da experiên-
verbas publicitárias governamentais, pas- cia.
sou a freqüentar os bares do Bexiga e Bela O CPC da UNE concretizaria, em
Vista, vendendo textos na forma de edições 1962, uma experiência curiosa, o filme de
de cordel, dando entrevistas e publicando longa-metragem 5 vezes favela, composto
suas peças por uma editora paulista, num por cinco diferentes episódios (média me-
circuito alternativo que se desdobrava pe- tragens) assinados por cinco diferentes rea-
las universidades, com os livros passando lizadores. Um ano antes, Glauber Rocha fil-
de mão em mão. Continuariam, também, os mara Barravento, sendo do mesmo ano Os
dramaturgos do Arena, em especial Viani- cafagestes de Ruy Guerra, e Arraial do Cabo,
nha, a produzir seus textos, como A longa de Paulo César Sarraceni, um dos diretores
noite de Cristal (1970) e muito especialmente de 5 vezes favela. O resultado entusiasmaria
Corpo a Corpo, do mesmo ano, vencedor de os jovens realizadores, sobretudo centrali-
um concurso nacional de dramaturgia, ime- zados no Rio de Janeiro ( ao contrário do
diatamente proibido, mais tarde, quando teatro, cuja maior produção naquela déca-
encenado, considerado como a melhor me- da esteve situada em São Paulo), e sob o
táfora das contradições das diferentes slogan “Uma idéia na cabeça e uma câmera
gerações daquele período. na mão” eles dariam início ao que se cha-
O período que se seguiria, na década maria de cinema novo brasileiro, sob a inspi-
de 70, seria marcado pela reorganização ração de uma Estética da fome, na acepção de
das entidades representativas da categoria, Glauber Rocha (1965). Jovens universitári-
com o surgimento da ACET, reunindo pro- os, leitores dos Cahiers du Cinéma francês,
dutores teatrais cariocas, a FENATA, rea- fortemente influenciados por Jean-Luc Go-
proximando realizadores do teatro amador, dard, dentre outros realizadores, eles bus-
e a indicação de Orlando Miranda para a cariam fazer um cinema de denúncia social
direção do Serviço Nacional de Teatro. mas com uma experimentação tão radical
de linguagem, que este cinema acabaria ab-
Cinema – as contradições no segmen- solutamente afastado do público sobre o
to cinematográfico são ainda mais eviden- qual falava, mas com o qual não estabelece-
tes. Na década de 50, ao lado das produ- ria diálogo: o povo brasileiro, em especial
ções das chamadas chanchadas da Atlântida, seus segmentos populares. Houve exce-
que popularizavam e divulgavam conjun- ções, como o Vidas secas de Nelson Pereira
tos musicais brasileiros, como o Trio Iraki- dos Santos (1963), o Deus e o diabo na terra do
tan, ou intérpretes oriundos especialmente sol (1964) ou Terra em transe (1967), ambos
do teatro de revistas, como Grande Othelo, de Glauber Rocha, que se tornariam refe-
Dercy Gonçalves, Zezé de Macedo e Osca- renciais do movimento. Mas o cinema novo
rito, dentre tantos, buscava-se um projeto foi-se isolando cada vez mais, de sorte que,
mais conseqüente para uma cinematografia na metade da década seguinte, era pratica-
nacional, com a criação dos Estúdios Vera mente inevitável sua dissolução em outras
Cruz (1950). Para tanto, trouxera-se um con- estéticas, sobretudo após a morte de Glau-
junto de realizadores italianos, dentre os ber Rocha.
quais o já citado Franco Zampari, Vitorio Houve, contudo, algumas experiênci-
Gassman e Ruggero Jacobi, a que se somou as significativas, como a produção alternati-
o brasileiro Alberto Cavalcanti, já consagra- va de A margem, de Ozualdo Candeias
do internacionalmente a partir de seu tra- (1967), ou o chamado ciclo da boca-do-lixo, a

46 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral


partir de O bandido da luz vermelha, de Rogé- artes no país, em sentido estrito. Os mar-
rio Sganzerla (1968), que buscariam uma chands haviam começado atividades na dé-
estética mais condizente com a experiência cada anterior, mas de maneira isolada e
populista que, por exemplo, programas tele- sem continuidade, sobretudo em centros
visivos como o de Chacrinha trazia aos ví- como o Rio de Janeiro e São Paulo.34 Algu-
deos de todos os brasileiros, semanalmen- mas galerias abriram suas portas, igual-
te. mente, na década anterior. Será apenas no
O AI-5 de dezembro de 1968, contudo, decorrer dos anos 60, contudo, que a ativi-
aguçou uma outra tendência, igualmente dade do mercado de artes plásticas implan-
contraditória tanto em seus produtos quan- tar-se-á efetivamente no Brasil.
to em sua avaliação histórica posterior: a Desde 1951, com o surgimento da Bie-
pornochanchada. Tratava-se de filmes que nal Internacional de São Paulo, o modernis-
sugeriam uma eroticidade que, de fato, não mo chegara às artes plásticas entre nós.
traziam. Pelo contrário, muitas vezes, ape- Mas não se refletia ainda no mercado, ape-
lavam a um mau gosto lamentável. Mas ao sar dos investimentos feitos pelo MASP-
longo de quase uma década, apesar de seu Museu de Arte de São Paulo, idealizado
falso moralismo, mantiveram a indústria ci- por Assis Chateaubriand, e que investia
nematográfica brasileira em funcionamen- fortemente na aquisição de obras do impres-
to, vindo a experimentar um certo requinte sionismo europeu e do modernismo brasilei-
do gênero, por exemplo, com uma série de ro.
filmes que, a partir de Os paqueras, de Regi- As premiações concedidas pela Bienal
naldo Farias (1969), passam a ser então pro- trazem o artista para o mercado de arte e,
duzidos. A reformulação da EMBRAFILME consequentemente, a partir de 1961, come-
- Empresa Brasileira de Filmes, no âmbito çam as atividades dos leilões de arte, alter-
do I PNC - Plano Nacional de Cultura, em nativa encontrada pelos marchands para co-
1972, permite um melhor planejamento de locar em evidência um determinado nome,
produção, numa simbiose entre a busca de cuja obra acabava valorizada, na maioria
legitimação do regime autoritário e uma dos casos artificialmente, com os diferentes
certa flexibilidade de produção, resultan- lances que alcançava. Os leilões comerciais
do, ainda uma vez, em produtos contradi- ganham espaço em 1965, primeiro em São
tórios, de um lado, com o ciclo dos filmes Paulo, e o boom do mercado surgirá logo na
históricos, cuja partida se dá com a produ- abertura da década seguinte. A maioria das
ção de Independência ou Morte, de 1972, co- galerias comerciais de grande porte, contu-
memorativo ao sesquicentário da indepen- do, foram fundadas ainda na década de 60,
dência brasileira, dirigido por Osvaldo a partir de 1967, mas enfrentam alguns pro-
Massaini, e, de outro, a uma série de obras blemas:
que começariam, gradualmente, a abrir-se a) o mercado é caótico, porque não há
para uma verdadeira indústria cinemato- uma única cidade reconhecida como centro
gráfica brasileira, e cujo processo seria in- cultural do país e atuando como referencial
terrompido na gestão Collor de Melo, para de valorização e reconhecimento de uma
ser retomada na de Fernando Henrique obra;
Cardoso. A EMBRAFILME vai se colocar b) não há marchands que empresariem
contra o esteticismo e o filme ideológico verdadeiramente movimentos de vanguar-
para poder ocupar o mercado33. da, limitando-se a promover o já razoavel-
mente estabelecido;
Artes plásticas – também este segmen- c) não há magnatas que tenham em-
to experimentará a permanente contradição presariado de maneira significativa a aqui-
em nosso país. Observe-se que, até a déca- sição de coleções ou atraído grandes com-
da de 60, não se pode falar em mercado de pras ou financiado a produção de determi-

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 47


nados artistas.35 senta um ambiente baseado no jogo de bi-
Desde 1956, com o manifesto concre- lhar.
tista, surgira uma aproximação entre a lite- “O bilhar: mais que mistério vital, que
ratura e as artes plásticas, sobretudo com o segredo oculta na sua plasticidade, na
desdobramento do movimento em diferen- sua atração aos que aele se dedicam? Nesta
tes tendências, destacando-se, por exem- obra fica patente o que considero antiarte: a
plo, as experiências do arquiteto Julio Pla- habilidade de cada jogador é o que interes-
za36 ou dos próprios irmãos Campos, de sa no jogo em si, mas na totalidade é a ação
Décio Pignatari e do manifesto da poesia real do jogo que interessa: desde que esta
semiótica de 1964. O figurativismo, tradici- termine, temporariamente ou de vez, cessa
onalmente presente na paisagem plástica a ‘obra’ em sua ação - não há pois o propó-
brasileira, é invadido pelo abstracionismo. sito esteticista de ‘apreciar’ o jogo na sua
As técnicas utilizadas combinam-se dife- beleza, mas apenas realizá-lo” (depoimen-
rentemente, inclusive na distribuição geo- to de Hélio Oiticica).41
gráfica do país: os artistas plásticos mais A estas duas figuras, soma-se Mário
engajados ideologicamente, situados, por Pedrosa, crítico de formação marxista que
exemplo, no sul, preferem as técnicas mais vinha promovendo uma revisão dos valores
tradicionais da gravura e da escultura, en- plásticos, nas linhas até então seguidas por
quanto que os experimentalismos formalis- diferentes figuras de nossa cultura, em es-
tas do centro do país vão optar pela pintu- pecial Ferreira Gullar, em obras como Cul-
ra, utilizando novos materiais então lança- tura posta em questão (1965) e sobretudo Van-
dos no mercado, ou desenvolvendo experi- guarda e subdesenvolvimento (1969). Preten-
ências com objetos,37 respondendo, de certo dia-se distinguir três níveis de produção e
modo, a incentivos que as bolsas de estudo circulação artística, quais sejam, a) a arte do
de instituições norte-americanas, em espe- povo: rural e marginal, em que artista e
cial a Fullbright, colocavam a sua disposi- povo se confundem identitariamente; b)
ção. arte popular, em que o artista profissional
Entre 1965 e 1966, o teatro Opinião pa- assume a identidade do povo e fala em seu
trocina duas grandes exposições no Museu nome; e c) arte popular revolucionária, em
de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que que o artista assume um compromisso real
podem ser lidas enquanto balizadoras das com o povo, falando em sua defesa, valori-
novas tendências. Em 1967 ocorre a exposi- zando, consequentemente, o conteúdo da
ção Nova Objetividade Brasileira, ainda no obra de arte.42
MAM carioca, antecedida pela experiência
dos parangolés de Hélio Oiticica, influencia-
do pelo construtivismo e o dadaísmo, no III
que então se denominou de neoconcretis-
mo38, alcançando uma síntese das diferentes Após o golpe de março de 1964, de certo
tendências no desdobramento de seu traba- modo a intelectualidade brasileira se reen-
lho. controu na Revista de Civilização Brasileira,
Para Rubens Gershman, um dos prin- que o editor Enio Silveira e o poeta Moacyr
cipais ativistas de então, o período entre Félix passaram a publicar, já a partir da-
1964 e 1968 foi o da “utopia absoluta”.39 quele mesmo ano, numa primeira fase, que
Alternam-se, opõem-se e se complemen- se desenvolverá até 1968, quando do AI-5.
tam, ao mesmo tempo, a pesquisa formal e Depois da Marcha da Família, com
o conteúdo político-ideológico.40 Pode-se Deus e pela Liberdade, organizada pelos
considerar que este tensionamento ganha setores mais reacionários da sociedade bra-
sua maior expressividade na exposição co- sileira, e do golpe de março de 1964, não se
letiva Opinião 66, onde Hélio Oiticica apre- interromperia, de um momento para outro,

48 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral


o movimento de análise crítica da socieda- A reforma universitária iniciada na
de brasileira. Naquele mesmo ano de 1964, metade da década de 60, modernizou a
e apesar do golpe de estado, publicar-se-ia universidade brasileira, permitindo a cria-
o livro de Caio Prado Jr. que se tornaria ção dos programas de doutorado. O inte-
uma espécie de bíblia da esquerda brasilei- lectual, definitivamente, profissionalizou-
ra, A Revolução brasileira. Na seqüência dos se. Depois de 1974, com a rápida implanta-
anos dos festivais brasileiros de mpb, tam- ção da indústria cultural no país, não cabia
bém surgiriam os festivais internacionais, mais aos intelectuais qualquer negativa so-
já com patrocinadores multinacionais, e em bre a existência de instituições como a tele-
maio de 1968 não ocorreriam apenas os visão: a identidade demiúrgica do intelec-
grandes debates em torno dos movimentos tual brasileiro cedia espaço para o intelec-
estudantis em Paris, quanto a invasão da tual orgânico que, vinculado a um ou outro
União Soviética à Tcheco-eslováquia, o que segmento social, produziria segundo sua
retiraria boa parte do discurso da esquerda identificação grupal. Surgia, por exemplo,
brasileira. dentre outros tantos exemplos, a chamada
A Guerra do Vietnã de um lado, com imprensa nanica, segundo expressão de João
a posterior derrota norte-americana, e o Antonio, tão bem estudada pioneiramente
movimento yippie internacional responderi- por Sérgio Caparelli.44 O Brasil entrara, de-
am, por outro lado, à expectativa de maior finitivamente, na era da indústria cultural e
liberdade e criatividade. A morte do estu- se, durante as décadas de 60 e 70, a impren-
dante secundarista Edson Luís, no restau- sa alternativa ocuparia importante espaço,
rante Calabouço, no Rio de Janeiro, e o mo- com o surgimento de diversas publicações
vimento que se seguiu, no dia 29 de neste campo, como Opinião, a partir de 1972
março de 1968, culminaria na grande mar- e até 1977, o jornal Ex, logo proibido e
cha dos 100 mil, animada pelo líder estu- substituído por Mais um, igualmente proi-
dantil Vladimir Palmeira, em 26 de junho, bido, além de inúmeros jornais francamen-
cujo desdobramento seria a negativa do te políticos como o Jornal de Debates (1973) e
Congresso Nacional em permitir o proces- o Polítika (1973), De Fato, de Belo Horizonte
so contra o deputado federal Márcio Morei- (1975), ou o Coojornal, de Porto Alegre
ra Alves, o que serviria de desculpa para o (1975), que sofreria constante perseguição
Governo editar o Ato Institucional n.º 5, de policial, tendo inclusive ameaçados seus
dezembro de 1968, fechando o Congresso e anunciantes com cortes de verbas de publi-
legitimando, de vez, a intervenção gover- cidade governamental, ou revistas cultu-
namental em todos os segmentos político- rais, como a Argumento, a partir de outubro
partidários brasileiros. de 1973, que não passaria do quarto núme-
A estratégia isebiana de escamotear as ro, a contradição entre um e outro aspecto
oposições de classe em nome de um gené- de nossa imprensa permaneceria. Na ver-
rico conceito de nação estava definitivamen- dade, tudo começara com a publicação do
te sepultada. Sua incapacidade de levar em Pasquim, a partir de junho de 1969, nova ex-
conta a orientação em direção à industriali- periência de Millôr Fernandes e um grupo
zação nacional, mediante investimentos in- de jornalistas que já haviam, anteriormente,
ternacionais, adotada pela administração feito a inovação de Pif-Paf, de vida efêmera.
JK, a confusão entre um discurso científico A cultura alternativa ganharia, ainda,
e outro, ideológico, ignorando a dissocia- publicações especializadas como Versus,
ção ideológica do Brasil,43 fez com que as de 1976, dando prosseguimento, de certo
diferenças ganhassem um foro de legitimi- modo, à eclosão das histórias em quadri-
dade e uma concretude que culminaria no nhos que, desde a grande exposição do
golpe de 1964, que as esquerdas não sou- MASP em 1970, alcançara um status privile-
beram nem antever nem evitar. giado em nosso país. Versus possibilitou a

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 49


veiculação, no Brasil, de quadrinhos já clás- de jornais diários de 1960 para os 1,2 bi-
sicos internacionalmente e que, no entanto, lhões de jornais-dia de 1976.47 Ocupava um
ainda eram praticamente desconhecidos lugar destacado na indústria cultural mun-
em nosso país. dial, eis que em 1975 era o nono mercado
Aliás, no campo da chamada grande mundial de televisão, o quinto mercado
imprensa, desde a década de 50, com as mundial do disco e o sexto mercado mun-
fortes mudanças sofridas pelos jornais do dial de publicidade.48
centro do país,45 surgindo os suplementos O governo federal alcançara sua legi-
culturais como o do Jornal do Brasil, que se timação através de três iniciativas básicas:
tornaria praticamente o órgão oficial do a) incentivo à produção cultural;
concretismo, as reformas haviam ocorrido b) dinamização dos circuitos de distri-
de maneira profunda e radical, na década buição;
de 60. De 1965 a 1968, desenvolvera-se a c) consumo de bens culturais.49
experiência pioneira da revista Realidade, a Na verdade, “a montagem de bens
primeira tentativa, depois da morte de O simbólicos em ritmo industrial nos fornece
Cruzeiro, de se publicar um veículo com ca- um modelo de tempo cultural acelerado”,
ráter nacional. Realidade somava, à tradição segundo bem observa Alfredo Bosi,50 que
de O Cruzeiro, a perspectiva crítica e a qua- acrescenta: o sempre novo, contudo, nem
lidade do texto, distanciando-se do perfil sempre é original. Na verdade, constituía-
populista da revista dos Associados. Mas o se neste processo uma nova oposição entre
AI-5 de 1968 viria a tornar impossível a so- produção industrial e ciclos e enraizamento, de
brevivência de Realidade, logo substituída, maneira que o novo jamais tinha a oportuni-
pela Editora Abril, por uma outra revista, dade de aprofundar-se, sendo logo substi-
Veja, que marca, por seu lado, a entrada da tuído por outro produto, ou seja, jamais se
grande imprensa nas tiragens massivas e experimentava uma continuidade de pro-
num projeto verdadeiramente nacional de cesso, mas sim, o constante lançamento de
circulação. outros produtos que substituíam artificial-
Na década de 70, por fim, ocorrerá o mente os anteriormente veiculados. Após
surgimento dos jornais alternativos locali- 1964, produz-se no interior do Brasil todo e
zados em determinados segmentos popu- qualquer produto cultural, embora o trata-
lacionais, como os feministas Brasil, mulher mento que lhes é dado esteja muito mais
e Nós, mulheres de 1975, dentre tantos ou- vinculado ao mercado internacional do que
tros. ao local, eis que se trata de produtos pa-
Uma das grandes novidades do pano- dronizados e estandardizados segundo
rama cultural brasileiro na década de 60 foi modelos universais: os meios de comunicação
a criação, a partir de 1966, do Conselho Fe- de massa em geral, e a televisão, em particu-
deral de Cultura, oficialmente implantado lar, constituem os veículos de uma ação ‘pe-
no ano seguinte.46 A este projeto, que bus- dagógica’ a serviço do processo de unifica-
cava a integração cultural brasileira em ção do mercado material e simbólico, que
uma única ação abrangente, seguir-se-ia o I se traduz pela imposição ‘diferencial’ da cultu-
PNC – Plano Nacional de Cultura, de 1972, ra dominante.51
seguido do Programa de Ação Cultural, de A complementaridade do processo é
1973. O governo federal, senhor da situação dada pelo próprio governo federal, através
político-administrativa, permitia-se liberar de produções como Minerva em ação cultural
os espaços para a produção cultural, agili- ou Domingo Mobral, de que resulta um país
zando e patrocinando o fomento cultural, colorido e tropical, pleno de manifestações
numa perspectiva de mercado capitalista folclóricas que podem ser aproximadas e
de bens de consumo (p. 237). assimiladas pelas produções da indústria
O Brasil saltaria dos quatro milhões cultural, na medida em que não se diferen-

50 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral


ciam, para o grande público, os circuitos de f) produção televisiva feita exclusiva-
sua circulação.52 mente por especialistas;
Para muitos, o ano de 1968, marcado g) controle da televisão exercido ex-
pelo AI-5, é o ano de verdadeiro início da clusivamente por seus proprietários e não
década de 60 que se expandiria, assim, pelos receptores.56
pela década seguinte. Neste sentido, é pre- A década de 60 termina com um ba-
ciso considerar que a década de 50 e seu lanço extraordinário: 30 milhões de brasi-
ufanismo contraditório havia se estendido, leiros economicamente ativos, 12 milhões
efetivamente, ao longo de mais da metade de cidadãos integrados nacionalmente em
da década seguinte, e que a década de 60, rede por televisão, três milhões de cida-
aberta em 1968, seria, sobretudo, a ‘época dãos contribuintes do imposto de renda,
da negação”, segundo José Celso Martinez 500 mil leitores, tiragens de cinco mil
Corrêa.53 exemplares nas edições dos chamados best-
De fato, os anos 60 serão anos de “vi- sellers.57 Ao longo da década, 24% do valor
rada”, como querem alguns54. O Brasil não total alocado para a publicidade estaria
é mais um país subdesenvolvido. O outdoor concentrado na televisão, percentual que
ganha cidadania (p.6). O país possui 30 mi- aumentaria nos anos seguintes,58 atingindo
lhões de espectadores de televisão (p. 33) e 90% na década seguinte.
logo o slogan “este é um país que vai pra A introdução da televisão no conti-
frente” torna-se parcialmente realidade (p. nente, aliás, provocara uma retração de
93). mais de metade da circulação de jornais59.
A experiência da primeira grande O grande negócio da televisão expandira-
campanha publicitária de fundo político- se em três lucrativos campos de atividades:
partidário, desenvolvida pela sul-rio- a venda de aparelhos, que vão sendo bara-
grandense MPM Propaganda, quando do teados à medida em que sua produção é
plebiscito em torno da fórmula parlamenta- nacionalizada e se massifica, inclusive de-
rismo x presidencialismo, no decorrer de pois da introdução da televisão a cores;
1962, culminando na histórica decisão de 6 venda de filmes para veiculação nas dife-
de janeiro de 1963, em favor do retorno ao rentes estações; venda dos espaços de pu-
presidencialismo, inaugurara a ostensiva blicidade, em especial para o governo.
presença das empresas publicitárias no ho- O balanço da década, não obstante, re-
rizonte da opinião pública brasileira. Não é serva ainda um panorama de contradições:
de se surpreender, portanto, que, depois o Estado crescera, mas não os direitos da
de março de 1964, elas se aliem ao novo sociedade civil.60 Contudo, alguns jornalis-
governo e auxiliem, de maneira decisiva, a tas como Luís Carlos Maciel preferem lem-
construir o novo perfil do país. Atingia-se, brar a década dos 60 sob outro prisma: a
na década de 70, cerca de 500 mil mensa- grande lição que se tentou aprender, nos anos 60,
gens-dia de propaganda, segundo Celso Ja- foi a liberdade. Verificou-se o seguinte: o que as
piassu.55 Existiam, contudo, problemas a pessoas fazem socialmente é pura loucura,
serem ultrapassados, segundo Muniz So- um escudo usado como proteção contra a
dré: verdadeira natureza da realidade, espontâ-
a) controle central das emissões; nea e incontrolável. As instituições cristali-
b) existência de um só emissor, mas zam essa proteção, para que ela possa ser
receptores diferenciados; utilizada pelas massas. Só pode haver co-
c) imobilização dos indivíduos, consi- nhecimento de verdade, clareza, quando os
derados isoladamente; escudos são dispensados. Um escudo é
d) revolução passiva de costumes e útil, como defesa, mas também cobre a vi-
hábitos cotidianos; são. A experiênia vital dos 60 foi distorci-
e) despolitização social; da, diluída e, finalmente, esquecida nos

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 51


anos seguintes. Os caminhos da liberdade 1958 T/A farsa da esposa perfeita
foram perdidos mais uma vez.61 Edy Lima/Arena/São Paulo
Para Maciel, os anos 70 “são os anos 1959 L/manifesto da poesia neo-concretista
mestres” e os 80 “os anos da diluição”. 1959(1956?) M/surgimento da bossa nova
Para nós, os anos 60 continuarão sendo os 1959 Revolução Cubana
anos da contradição, quando descobrimos 1959 surgimento do IBAD
a liberdade e as inúmeras alternativas de Instituto Brasileiro de Ação Democrática, ligado à CIA
vida, mas quando também sofremos a in- década de 60 surgimento dos brazilianists
terdição, a proibição e a negação ■ 21/04/1960 Inauguração de Brasília por JK
1960 criação do Mercado Comum Centroamericano
América Central, pelos USA
Acontecimentos Político-Econômicos e 1960 I Convenção de Crítica Cinematográfica
Culturais da década de 60 no Bra- 17/08/1961 surgimento da Aliança para o Progresso
sil e América Latina: na Conferência Pan-Americana de Punta del Este
25/08/1961 renúncia de JQ e imediata posse do
1948 constituição do TBC/Teatro Brasileiro de Comédia/ Presidente da Câmara Federal, Ranieri Mazzili
S. Paulo 02/09/1961 votação pelo Congresso Nacional do Parlamentarismo
1951 criação CNPq 07/09/1961 posse de João Goulart
1951 criação CAPES 29/11/1961 início das atividades do IPES
1961 criação FINEP Instituto de Pesquisas e Estudios Sociais, ligado à CIA
1968 criação FAPESP 04/1961 empréstimos ao Brasil de U$ 624,400 milhões
1968 reforma universitária e doação de U$ 152,600 milhões
1975 abertura da SBPC às ciências humanas 1961 decreto de JQ obriga percentuais de transmissão
1950/1957 Cia. Cinematográfica Vera Cruz de mpb nas emissoras de rádio
09/1950 TV Tupi, canal 3 (até 1980)/São Paulo 30/05/1961 DECRETO 50.666 cria o CONTEL
1951 TV Tupi do Rio de Janeiro 1961 L/manifesto do poema práxis
1951 Bienal de São Paulo/São Paulo Mário Chamie (1962?) /São Paulo
1953 TV Record do Rio de Janeiro 1961 C/Barravento/Glauber Rocha
1953 fundação do Teatro de Arena /S. Paulo 1961 C/Os Cafajestes/Ruy Guerra
1955 formação da 1a. Liga Camponesa Engenho Galiléia 1961 C/Arraial do Cabo/Paulo César Sarraceni
1955 criação da TV na Venezuela 1961 surgimento da TV Educativa
1956 criação da TV no Uruguai 12/1961 a 03/1964 fundação do CPC
1956 Augusto Boal assume direção do Arena/SP Centro de Cultura Popular da UNE
1956 surgimento do ISEB 06/07/1962 apresentação da emenda à Constituição pelo Senador
Instituto Superior de Estudos Brasileiros Argemiro de Figueiredo que extingue o Parlamentarismo
1956 L/Manifesto da Poesia concreta 1962 3 Cadernos do Violão de Rua/Rio de Janeiro
1957 L/manifesto do grupo Tendência 08/03/1962 aprovação do regimento interno do CPC
Affonso Avila Belo Horizonte 08/1962 Lei do Satélite de Comunicações/Kennedy/USA
1958 Seminários de Dramaturgia do Arena/SP 11/1962 I Conferência de Lavradores e Trabalhadores
22/02/1958 T/Eles não usam black-tie Agrícolas Brasileiros/Belo Horizonte
Gianfrancesco Guarnieri/Arena/São Paulo 1962 C/5 vezes favela
1958 T/Chapetuba Futebol Clube (filme de episódios financiado pelo CPC/UNE)
Oduvaldo Viana Filho/Arena/São Paulo 1962 MPB/ disco O Povo canta
1958 T/Quarto de empregada (financiado pelo CPC/UNE)
Roberto Freire/Arena/São Paulo 1962 institucionalização do Código Brasileiro de Telecomunicações
1958 T/Bilbao, via Copacabana 1962 acordo técnico grupo Time-Life/TV Globo
Augusto Boal/Arena/São Paulo 1962 surgimento da ABERT
1958 T/Gente como a gente 1962 Jornal de Vanguarda - TV Excelsior /São Paulo
Roberto Freire Arena São Paulo 06/11/1963 votação e aprovação do retorno ao Presidencialismo

52 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral


02/1963 criação do COMSAT 1966 T/Oh que delícia de guerra/ Adhemar Guerra
Communications Satelitte Corporation 1966 criação do FUNTEVÊ pelo CONTEL
20/03/1963 regulamentação do Código de Telecomunicações 1966/1967 CPI sobre TV Globo
31/10/1963 regulamentação para serviços de radiodifusão 1966 criação da Orquestra Sinfônica Brasileira/RJ
(atualizado 74) 1966 criação Conselho Federal de Cultura
1963 produção de telenovelas /Excelsior e Tupi 1967 fundação de galerias de arte comerciais/SP
1963 produção de musicais pela TV Excelsior 1967 início do processo das grandes passeatas
1963 C/Vidas Secas/Nelson Pereira dos Santos 1967 L/manifesto do poema processo
1963 T/Pequenos burgueses/Oficina 1967 C/A Margem/Ozualdo Candeias
19/08/1963 Semana Nacional de Poesia de Vanguarda 1967 C/Terra em Transe/Glauber Rocha
10-11/ 1963 Conferência Executiva Extraordinária 1967 AP/exposição Nova Objetividade Brasileira/MAM/RJ
do Rádio/Genebra 29/09/1967 T/O Rei da Vela/José Celso Martinez Correa
1964 L/manifesto da poesia semiótica Oficina/São Paulo
13/03/1964 Comício pelas reformas de base 1967 T/Marat-Sade/Adhemar Guerra
20/03/1964 Marcha das Famílias com Deus e pela liberdade 1967 T/Dois perdidos numa noite suja/Plínio Marcos
31/03/1964 Golpe de estado 1967 T/Navalha na carne
20/08/1964 criação do INTELSAT 1967 T/Homens de papel
International Communications Satelitte Consortium 1967 T/Quando as máquinas param
1964 C/Deus e o diabo na terra do sol/Glauber Rocha 1967 T/Édipo Rei/Flávio Rangel/ Paulo Autran
1964 Ensaio/A Revolução Brasileira/Caio Prado Junior 1967 T/Rasto atrás/Jorge de Andrade/ Giani Ratto
05/1964 revista Pif-Paf de Millor Fernandes 1967 T/O Fardão/Bráulio Pedroso
31/03/1964 T/Os Azeredo mais os Benevides 1967 MPB/Domingo no Parque/Gilberto Gil
Oduvaldo Vianna Filho 1967 MPB/Caetano Veloso/Alegria, Alegria
1964 T/Vereda da Salvação, de Jorge Andrade/ TBC/São Paulo 1967 TV/Jovem Guarda
12/1964 T/ Show Opinião/Rio de Janeiro 1967 TV/O Fino da Bossa
01/04/1964 invasão e depredação do ISEB e da UNE, 1967 TV/festivais de mpb/III Festival TV Record
que é incendiada/Rio de Janeiro 1967 morte de Assis Chateaubriand/Diários Associados
1965 difusão mundial das pesquisas com LSD– 1967 implantação do satélite doméstico brasileiro
a alegria da descoberta da sexualidade de telecomunicações
08/1965 Revista REALIDADE/São Paulo 1968 C/O Bandido da Luz Vermelha/Rogério Sganzerla
1965 C/O desafio/Paulo César Sarraceni 1968 C/O Bravo guerreiro/Gustavo Dahl
C/São Paulo SA/Luiz Sérgio Person 1968/1970 início de pesados investimentos pelos USA
1965 T/Morte e Vida Severina, Silney Siqueira em comunicações na America do Sul
1965 T/Arena conta Zumbi 04/01/1968 Lei de Censura
1965 T/Liberdade, Liberdade 15/01/1968 criação da AERP/Assessoria Especial de
1965 T/Arena conta Bahia Relações Públicas da Presidência da República
26/04/1965 inauguração da TV Globo/Telejornal da Globo 05/1968 Guerra do Vietnã/ataque da URSS à Tcheco-eslováquia/
1965 Ensaio: Cultura posta em questão/Ferreira Gullar rebeldia dos jovens em Paris
1965 Ensaio: Estética da fome/ Glauber Rocha 28 /03/1968 morte do estudante Edson Luís no ataque ao
1965 proibição total de peças como O Vigário, O Berço do Herói Restaurante Calabouço/RJ
1965-1968 Revista Civilização Brasileira (1a. fase)/RJ 26/06/1968 passeata dos 100 mil/surgimento de Vladimir Palmeira
1965 leilões de artes plásticas/São Paulo 10/1968 congresso da UNE em Ibiúna
1965-1966 AP/exposições Opinião/MAM/Rio de Janeiro 12/1968 negativa do Congresso Nacional em cassar
1966 influência do Living Theater o deputado Mário Moreira Alves
1966 influência de Artaud e Grotowski 13/12/1968 Ato Institucional n. 5
1966 C/O Desafio/Paulo César Sarraceni 1968 o ano mais trágico do teatro brasileiro
1966 T/Onde canta o sabiá/Gastão Tojeiro/Paulo Affonso Grisolli 1968 T/Roda Viva/Oficina/Chico Buarque/ José Celso
1966 T /Os Inimigos/Oficina 1968 L e M - surgimento do Tropicalismo
1966 T/Homem do princípio ao fim 1968 T - Cemitério de Automóveis - Victor Garcia

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 53


/Arrabal/ Ruth Escobar/SP 1972/7 surgimento do OPINIÃO
1968 T/Eu sou vida, eu não sou morte/redescoberta de 1972 I Plano Nacional de Cultura
Qorpo Santo 1973 surgimento do EX e MAIS UM
1968 T/Jornada de um imbecil até o entendimento/Plínio 1973 surgimento do JORNAL DE DEBATES
Marcos 1973 surgimento do POLITIKA
1968 T/Feira Paulista de Opinião/só com peças proibidas 1973 surgimento da TV a cores (ou 1971?)
1968 T/Cordélia Brasil/Antonio Bivar 10/1973 Revista Argumento/Rio de Janeiro
1968 T/Dr. Getúlio, sua vida, sua glória/Dias Gomes 1974 dissolução do Oficina, após prisão de José Celso
1968 T/Galileu, Galilei - Oficina/Eugênio Kusnet 1974 surgimento da ACET/Rio de Janeiro
1969 C/Os Paqueras/Reginaldo Farias 1974 posse de Orlando Miranda no SNT
1969 C/Macunaíma/Joaquim Pedro de Andrade 1974 fundação da CONFENATA
1969 T/Hair/musical/São Paulo 1975 surgimento do MOVIMENTO
1969 T/O assalto/José Vicente/São Paulo 1975 surgimento do BRASIL MULHER
1969 T/Fala baixo senão eu grito/ Leilah Assunção/S. Paulo 1975 surgimento do Nós, Mulheres
1969 T/À flor da pele/Consuelo de Castro/São Paulo 1975 surgimento do DE FATO/Belo Horizonte
1969 T/As moças/Isabel Câmara/São Paulo 1975 surgimento do COOJORNAL/POA
1969 T/O Balcão/Victor Garcia/Ruth Escobar/São Paulo 1975 III Plano Nacional de Cultura (Ney Braga)
1969 Ensaio/Vanguarda e subdesenvolvimento/Ferreira 1975 I Debate do Teatro Casagrande
Gullar 1976 surgimento do VERSUS
1969 organização profissional da classe teatral 1977 telenovela Irmãos Coragem/TV Globo/R. Janeiro
26/06/1969 surgimento do PASQUIM 1977 surgimento do EM TEMPO/Os Cafajestes/Ruy Guerra
1969 nacionalização da TV Globo
1969 surgimento do movimento yippie mundial
1969 chegada do vídeo-tape no Brasil
01/09/1969 Jornal Nacional da TV Globo/Rio de Janeiro
1970 população nacional economicamente ativa: Notas
30 milhões; 500 mil leitores
90% dos recursos de publicidade estão 1 COUTO E SILVA, Golbery – Conjuntura política nacional – O
dirigidos para a TV Poder Executivo & Geopolítica do Brasil, Rio de Janeiro, José
1970 surgimento do BONDINHO Olympio. 1981.
1970 Titulares da Notícia/TV Bandeirantes/SP
1970 incremento qualitativo da telenovela na Globo: 2 FURTADO, Celso - “Que somos?” , São Paulo, Folha de
TV/Irmãos Coragem/TV Globo/Rio de Janeiro São Paulo. Ilustrada. 28 de abril de 1984, p. 44. Revisto e
1970 transmissão internacional da Copa do Mundo retrabalhado em Cultura e desenvolvimento em época de crise.
1970 utilização do out odor para publicidade Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1984, p.17 e ss.
1970 valorização do filme histórico
1970 T/A longa noite de Cristal/Oduvaldo Vianna Filho 3 MOTA, Carlos Guilherme - Ideologia da cultura brasileira
1970 T/O Interrogatório/Peter Weiss/ Celso Nunes (1933-1974), São Paulo, Ática. 1978, p.27 e ss.
1970 T/O Arquiteto e o Imperador da Assíria /Ivan de
Albuquerque/ Rubens Corrêa e José Wilker/R. Janeiro 4 FADUL, Anamaria - ”Políticas culturais e processo polí-
1970 T/A resistível ascensão de Arturo Ui/Brecht/ tico brasileiro” in MELO, José Marques de - Comunicação e
despedida do ARENA transição democrática, Porto Alegre, Mercado Aberto. 1985,
1970/1 teatro-jornal do Arena/prisão de A. Boal p.180 e ss.
1970 boom mercado de artes/São Paulo/R. Janeiro
1970 T/Castro Alves pede passagem/ 5 PÉCAUT, Daniel - Os intelectuais e a política no Brasil, São
Gianfrancesco Guarnieri Paulo, Ática. 1990, p. 107 e ss.
1972 criação do Conselho Nacional de Telecomunicações
1970 T/Corpo a Corpo/Oduvaldo Vianna Filho 6 ORTIZ, Renato - Cultura brasileira & identidade nacional, São
1972 C/Independência ou Morte/Osvaldo Massaini Paulo, Brasiliense.1985, p. 46-47.

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7 SODRÉ, Nelson Werneck - A verdade sobre o ISEB, Rio de 20 SCHILLER, Herbert - O império norte-americano das comunica-
Janeiro, Avenir.1978 e TOLEDO, Caio Navarro de Toledo ções, Petrópolis, Vozes. 1976, p.145 e ss.
- ISEB: Fábrica de ideologias, São Paulo, Ática. 1977.
21 A primeira transmissão a cores ocorreu oficialmente no
8 OLIVEN, Ruben George - “Industrialização, urbanização Brasil no dia 10 de fevereiro de 1972, com a inauguração
e meios de comunicação de massa” in MELO, José Mar- da Festa da Uva, em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul,
ques de - Op. cit., p. 30 e ss. pela Tv Globo.

9 PÉCAUT, Daniel - op. cit., p. 105, apud WEFFORT, 22 KEHL, Maria Rita - Anos 70 - Televisão, Rio de Janeiro,
Francisco - Origens do sindicalismo populista no Brasil: a conjun- Europa.1979/1980.
tura do após-guerra, São Paulo, USP. 1972. Tese de Douto-
rado, mimeo. 23 MESQUITA, Humberto – Tupi: A greve da fome, São Paulo,
Cortez.1982, em especial p.185 e ss.
10 DREIFUSS, René Armand – 1964: A conquista do Estado,
Petrópolis, Vozes. 1981 e CARONE, Edgard - A República 24 ORTIZ, Renato - op. cit., p. 83.
liberal - II - evolução política (1945-1964), São Paulo, DIFEL
1985, p.185. 25 CANDIDO, Antonio - Literatura e sociedade, São Paulo. Cia.
Editora Nacional. 1980.
11 CHAUÍ, Marilena - O Nacional e o popular na cultura brasileira
- Seminários, São Paulo, Brasiliense. 1983, p.96/7 e ss. 26 Para uma boa análise desta produção, ver SANT’ANNA,
Affonso Romano de - Música popular e moderna poesia brasilei-
12 Idem, ibidem, ps. 73/4. ra, Petrópolis, Vozes.1980.

13 Idem, ibidem, p. 86. Ver, também, BERLINCK, Manoel T. 27 HOHLFELDT, Antonio - “Relações entre jornalismo e li-
- O Centro Popular de Cultura da UNE, Campinas, Papirus. teratura na década dos 70” in KOHUT, Karl (Org.) -
1984. Palavra e poder - Os intelectuais na sociedade brasileira, Frankfurt
am Main, Vervuert Verlag. 1991, p. 125 e ss.
14 FREITAS Filho, Armando; HOLLANDA, Heloísa Buar-
que de; et GONÇALVES, Marcos Augusto - Anos 70 - 28 SUSSEKIND, Flora - Tal Brasil, qual romance?, Rio de Janei-
Literatura, Rio de Janeiro, Europa.1979/1980. ro, Achiamé. 1984.

15 BOSI, Alfredo et allii - Conjuntura Nacional - III Ciclo de 29 CANDIDO,Antonio - Literatura e subdesenvolvimento in Re-
debates do Teatro Casa Grande, Petrópolis, Vozes. 1979, p.211 vista Argumento, Rio de Janeiro, Paz e Terra, Ano 1, N. 1, p.
e ss. 7 e ss.

16 SODRÉ, Muniz - “O mercado de bens culturais” in 30 KEHL, Maria Rita - “Um só povo, uma só cabeça, uma
MICELI, Sérgio (Org.) - Estado e cultura no Brasil, São Paulo, só nação” in CARVALHO, Elisabeth; KEHL, Maria Rita;
DIFEL.1984, p. 138 e ss. et RIBEIRO, Santuza Naves (Org.) - Anos 70 - Televisão,
Rio de Janeiro, Europa.1979/1980, ps. 20/1.
17 RÜDIGER, Francisco Ricardo - “Publicidade no Brasil
pós-64: função econômica e projeto hegemônico” in 31 FRANCIS, Paulo - “Um balaio de nacionalismo e
MELO, José Marques - op. cit. , p. 36 e ss. experimentalismo”, São Paulo, Revista Visão. Fevereiro de
1970. Citado por HOLLANDA, Heloísa Buarque de et
18 CAPARELLI, Sérgio - Comunicação de massa sem massa, São GONÇALVES, Marcos Augusto - “Política e literatura: a
Paulo, Cortez.1980 e CAPARELLI, Sérgio - Televisão e capi- ficção da realidade brasileira” in FREITAS FILHO, Ar-
talismo no Brasil, Porto Alegre, L&PM. 1982. mando et allii - Anos 70 - Literatura, op. cit., p.7.

19 15 ANOS DE HISTÓRIA, Rio de Janeiro, Rede Globo de 32 MICHALSKI, Yan - O teatro sob pressão, Rio de Janeiro, Jor-
Televisão.1984, p. 347. ge Zahar.1985, p. 33.

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 55


33 ORTIZ, Renato, op. cit., p. 113. 49 Idem, ibidem, p. 115.

34 DURAND, José Carlos - “Expansão do mercado de arte 50 BOSI, Alfredo - Cultura brasileira, São Paulo, Ática. 1987,
em São Paulo” in MICELI, Sérgio - op. cit., p. 173 e ss. p.9.

35 Idem, ibidem, p. 202 e ss. 51 MICELI, Sérgio - A noite da madrinha, São Paulo, Perspecti-
va. 1972, p. 218.
36 PLAZA, Julio e CAMPOS, Augusto - Caixa preta, São Pau-
lo, Invenção. 1975. 52 OLIVEN, Ruben George - op. cit., p. 82.

37 AYALA, Walmir - Arte gaúcha 74, catálogo da exposição 53 FREITAS FILHO, Armando et allii - op. cit., p. 21.
de igual título, Rio de Janeiro. MEC.1974. Ver também,
HOHLFELDT, Antonio - “Figuras e abstração nas artes 54 CARVALHO, Elisabeth et allii - op. cit. p. 12.
plásticas gaúchas” in Mudanças, quatro ensaios de sociologia da
arte, Caixas do Sul/Porto Alegre, UCS/EST. 1977, p. 53 e 55 JAPIASSU, Celso - I Ciclo de debates do teatro Casa Grande,
ss. Deve-se consultar, igualmente, PONTUAL, Roberto - Rio de Janeiro, Inúbia. 1976, p. 209, II.
“50 anos de arte brasileira”, texto introdutório ao catálo-
go da exposição Arte/ Brasil/ hoje - 50 anos depois, São Paulo, 56 SODRÉ, Muniz - I Ciclo de debates do teatro Casa Grande, op.
Galeria Collectio 1973. cit., ps. 122, I e II, e p. 123, I.

38 ZILIO, Carlos - O nacional e o popular na cultura brasileira - 57 CABRAL, Reinaldo - Literatura e poder pós-64, Rio de Janei-
Artes plásticas, São Paulo, Brasiliense. 1982, p. 26 e ss. ro, Opção. 1977, p.17.

39 HOLLANDA, Heloísa Buarque de et GONÇALVES, Mar- 58 CAPARELLI, Sérgio - Comunicação de massa sem massa, op.
cos A. - Cultura e participação nos anos 60, São Paulo, Brasili- cit., p. 10.
ense. 1982, p. 89.
59 CAPARELLI, Sérgio - Televisão e capitalismo no Brasil, op.
40 ZILIO, Carlos - op. cit., p. 33. cit., p.152.

41 ZILIO, Carlos - idem, ibidem, p. 53. 60 CARDOSO, Ruth - Sociedade civil e meios de comunicação no
Brasil in MELO, José Marques (Org.)- op. cit., p. 118 e ss.
42 CHAUÍ, Marilena - O Nacional e o popular na cultura brasileira
- Seminários, op. cit., p. 126 e ss., p. 126. 61 MACIEL, Luís Carlos - Anos 60, Porto Alegre, L & PM.
1987, p. 117.
43 PÉCAUT, Daniel - op. cit.; p. 132.

44 Caparelli, Sérgio - Comunicação de massa sem massa, op. cit. e


HOHLFELDT, Antonio - op. cit. in nota 22.

45 SILVA, Carlos Eduardo Lins da – O adiantado da hora, São


Paulo, Summus. 1991. Ver, também, ABREU, Alzira Al-
ves de (Org.) – Imprensa em transição, Rio de Janeiro, Funda-
ção Getúlio Vargas.1996.

46 MICELI, Sérgio - op. cit., p. 234 e ss.

47 ORTIZ, Renato - op. cit., p. 83.

48 Idem, ibidem, p. 84.

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