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ÍNDICE

Agremiação Página

G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra 03

G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis 95

G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro 183

G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio 263

G.R.E.S. Unidos da Tijuca 377

G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense 459

1
2
G.R.E.S.
UNIDOS DO
PORTO DA PEDRA

PRESIDENTE
Fabrício Montibelo
3
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“Lunário Perpétuo: A
Profética do Saber Popular”

Carnavalesco
Mauro Quintaes
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Enredo
Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular
Carnavalesco
Mauro Quintaes
Autor(es) do Enredo
Diego Araújo e Mauro Quintaes
Autor(es) da Sinopse do Enredo
Diego Araújo
Elaborador(es) do Roteiro do Desfile
Diego Araújo e Mauro Quintaes
Ano da Páginas
Livro Autor Editora
Edição Consultadas

01 Dicionário do Luís da Câmara Ediouro 2001 Todas


Folclore Brasileiro Cascudo Publicações S.A.

02 O non plus ultra do Jeronymo Cortez Emendado 1705 Todas


Lunário, e conforme o
pronostico perpetuo, expurgatório da
geral e particular Santa Inquisição
para todos os Reinos
e Províncias

03 Articulações Joana Paula Costa Dissertação de 2013 Todas


Armoriais: Uma Cardoso e Mestrado -
abordagem Andrade UEPB
dialógica/intertextual
do Lunário Perpétuo

04 Saberes e Práticas de Argus Publicação do 2012 Todas


Cura no Lunário Vasconcelos de Departamento de
Perpétuo de Almeida Biologia da
Gerónimo Cortés UFRPE - Olinda
(1555-1615) e sua
Influência no
Nordeste Brasileiro

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Ano da Páginas
Livro Autor Editora
Edição Consultadas

05 Almanaques de Rosilene Alves de Revista do 2011 pp. 107-122


Cordel: do fascínio Melo Instituto de
da leitura para a Estudos
feitura da escritura, Brasileiros –
outro campo de Universidade de
pesquisa São Paulo
Revista Historiar

06 Almanaque Juizo do Reinaldo Forte Imburana –


Ano: natureza, Carvalho Revista do Núcleo 2021 Todas
ciência e magia no Câmara Cascudo
Juazeiro do de Estudos Norte-
Norte/CE (1961- Rio-
1966) Grandenses/UFRN

07 As fortunas eruditas F.F. Figueirêdo Intercom –


e populares do Sociedade 2014 Todas
Lunário Perpétuo Brasileira de
Estudos
Interdisciplinares
da Comunicação
V – Congresso
Nacional de
História da Mídia

08 O Juízo do Ano. Luís Celestino de Imprensa da 2007 Todas


Um estudo sobre o França Júnior Universidade de
almanaque popular Coimbra. Revista
no Nordeste Portuguesa de
História.

09 INRC do Maracatu IPHAN IPHAN 2013 Todas


Nação

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo
Ano da Páginas
Livro Autor Editora
Edição Consultadas

10 Notas sobre a Aline da Silva Imprensa da 2015 Todas


produção, Medeiros Universidade de
circulação e a Coimbra. Revista
leitura do Lunário Portuguesa de
Perpétuo de História.
Jerônimo Cortez
entre Portugal e o
Brasil

Outras informações julgadas necessárias

1. Apresentação da Equipe de Criação

Mauro Quintaes, carnavalesco. Iniciou sua carreira no Carnaval no ano de 1984 sendo assistente
de carnavalescos como Max Lopes e Joãozinho Trinta. Em 1995 estreia na função pelo G.R.E.S.
Caprichosos de Pilares no Grupo Especial e pelo G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra no Grupo de
Acesso A onde levou a escola ao principal grupo de desfiles no ano seguinte, e em 1997, com um
grande desfile sobre a loucura consagra a vermelho e branco de São Gonçalo entre as cinco
melhores daquele carnaval, e após mais de duas décadas, o artista retorna ao posto de carnavalesco
do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra quando repete o feito de 1995, e outra vez, leva a escola a o
Grupo Especial com o enredo “A Invenção da Amazônia”, consagrando-se grande campeão da Série
Ouro 2023. Para o Carnaval de 2024 está responsável pela criação e coordenação da equipe que
trabalha a criação do enredo “Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular”.

Em atividade criativa há 40 anos no Carnaval do Rio de Janeiro acumula passagens consagradas


por agremiações como Unidos do Viradouro, Acadêmicos do Salgueiro, Estação Primeira de
Mangueira, Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos da Tijuca, São Clemente, Império
Serrano, Acadêmicos da Rocinha, União do Parque Curicica, Leão de Nova Iguaçu e Acadêmicos
do Sossego. Em São Paulo tem passagens por Gaviões da Fiel Torcida, Tom Maior, Unidos do
Peruche, Dragões da Real e Império de Casa Verde.

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Enredo

Outras informações julgadas necessárias

Diego Araújo, enredista. Iniciou sua carreira no carnaval na harmonia do G.R.E.S. União de
Jacarepaguá em 2010, no Carnaval 2011 foi um dos integrantes do Departamento Jovem e Cultural
comandado por Elisa Fernandes. Foi também em 2011, na cidade de Três Rios/RJ, através do G.R.E.S.
Bom das Bocas, que inicia sua trajetória como enredista assinando pesquisa, argumentação e texto, livro
abre-alas e sagrando-se campeão. Nos carnavais de 2013 e 2014 assina pesquisa, texto e o livro abre-
alas de “Negra, Pérola Mulher” e “Batuk” pelo G.R.E.S.E. Império da Tijuca.

Em 2023 chega ao G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra como integrante da equipe de criação do
Carnavalesco Mauro Quintaes sendo responsável pela pesquisa, texto e composição do livro abre-alas
do enredo “A Invenção da Amazônia” que rendeu o título para a agremiação e o prêmio SRZD de
Melhor Enredo da Série Ouro 2023. Para o Carnaval de 2024 continua responsável pelas mesmas
funções dentro da equipe de criação do enredo “Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular”.
Em sua carreira acumula passagens por escolas como Em Cima da Hora, Unidos de Bangu, Alegria da
Zona Sul e Acadêmicos do Sossego. Em São Paulo pelas escolas Império de Casa Verde, Nenê de Vila
Matilde e Dom Bosco de Itaquera. Também tem passagens pelas escolas Imperatriz Dona Leopoldina e
Imperatriz Leopoldense em Porto Alegre/RS; Mocidade Independente da Nova Corumbá em
Corumbá/MS; Brasil, Sangue Jovem, Mocidade Dependente do Samba, Real Mocidade Santista e
Mocidade Amazonense em Santos/SP.

2. Nota dos Autores do Enredo

O G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra, através do carnavalesco Mauro Quintaes e do enredista Diego
Araújo, agradecem a inestimável contribuição de Antônio Nóbrega para a construção deste enredo.
Saudamos também Bráulio Tavares, Ariano Suassuna, Lourival Oliveira, Pixinguinha, Antônio
Sapateiro, Antônio José Madureira, Levino Gerreira e Wilson freire que dividem os créditos das
composições que formam o espetáculo/CD “Lunário Perpétuo” que é parte da inspiração deste carnaval

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Enredo

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3. Referências Musicais

A folia no mundo – Um carnaval dos carnavais (Billy Boy, Cesar Reis e Elio Sabino)
No reino da folia, cada louco com sua mania (Vadinho, Carlinhos e Pinto)
O rei e o palhaço - (Bráulio Tavares, Antônio Nóbrega)
Ponteio acutilado - (Antônio Nóbrega)
Romance da filha do imperador do Brasil - (Ariano Suassuna, Antônio Nóbrega)
Carrossel do destino - (Bráulio Tavares, Antônio Nóbrega)
Romance da Nau Catarineta - (Toadas populares, Romance tradicional recriado por Ariano
Suassuna)
Canjiquinha - (Lourival Oliveira)
A morte do Touro Mão de Pau - (Ariano Suassuna, Antônio Nóbrega)
Pagão - (Pixinguinha)
Excelência - (Toadas populares, Recriação literária de Ariano Suassuna)
Meu foguete brasileiro - (Bráulio Tavares, Antônio Nóbrega)
Luzia no frevo - (Antonio Sapateiro)
Delírio - (Antonio José Madureira)
Lágrimas de um folião - (Levino Ferreira)
Romance de Riobaldo e Diadorim - (Wilson Freire, Antônio Nóbrega)
Lunário Perpétuo - (Bráulio Tavares, Wilson Freire, Antônio Nóbrega)

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Enredo
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4. Prelúdio ao Enredo

O G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra saúda a todos desejando um excelente carnaval. Para
o desfile no ano de 2024 apresentaremos o enredo “Lunário Perpétuo: A Profética do Saber
Popular” que foi desenvolvido pelo carnavalesco Mauro Quintaes e o enredista Diego Araújo.

Antes de apresentarmos a sinopse e o histórico do enredo proposto reservamos este espaço


inicial para apresentar a contribuição de parceiros que consideramos importantes para ratificar a
importância deste enredo: A Associação Cultural Boi Bumbá Caprichoso, o Professor Doutor
Adan Renê Pereira da Silva da Universidade Federal do Amazonas e a historiadora, ensaista e
escritora Isabel Lustosa da Universidade Nova de Lisboa.

Nas próximas linhas vocês serão presenteados com textos que, de forma singular,
demonstram o poder da sabedoria popular e do Lunário Perpétuo. Todos eles são parte das
pesquisas, encontros, trocas e vivências que nos permitiram criar o enredo deste Carnaval.
Acreditamos que, antes de nós – artistas do carnaval carioca – nos posicionarmos como vozes do
“saber-fazer” artístico dos desfile de escola de samba, este também deve ser um espaço para estreitar
pontes com quem perpetua os saberes populares e estuda a sua continuidade.

Nos entendemos como parte desse processo enquanto escola de samba que tem a missão de
levar conhecimento a todos, e por isso, buscamos nos unir a outras vozes para amplificar a
potencialidade da nossa missão e do trabalho pensado, escrito e executado por inúmeras pessoas
que sonham esse sonho especial junto ao pavilhão vermelho e branco.

Pra fazer esse tempo bom ser perpétuo,


Assim como o saber esse enredo não tem ponto final...

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Enredo
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SABER POPULAR: UMA REVOLUÇÃO ANCESTRAL

Uma mulher. Um desejo. Um boi. Morte e Ressurreição. Sim, estamos falando da conhecida
história dos bumbás, onde Mãe Catirina, grávida, deseja a língua do boi preferido da fazenda, e
pede ao seu marido, Pai Francisco, que o consiga. Em meio a tensões, Pai Francisco mata o boi e
corta a sua língua. O casal foge, e começa aí uma incessante busca dos vaqueiros pelos escravizados,
ao mesmo tempo que acontece as tentativas do patrão em ressuscitar o boi preferido de sua filha, a
graciosa Sinhazinha. Capturados, Pai Francisco e Mãe Catirina esperam um castigo, mas são
perdoados, graças a euforia diante do ressurgimento do boi, que chega alegre e altaneiro, dominando
a atenção e transformando em festa, a velha fazenda.

São muitos os vieses de investigação: uma sociedade patriarcal, assentada no trabalho


escravizado mediante a relação de espoliação da Casa Grande sobre a Senzala, representados aqui
por Pai Francisco e Mãe Catirina; a análise rabelaisiana da personagem do auto, o Dr. Cachaça; a
relação entre os saberes do médico e do pajé, cuja versão de Câmara Cascudo, é ele, o Dr. da Vida
quem ressuscita o boi, mas nos muitos bumbás da Amazônia, quem o faz é o pajé. E por aí vai.

Toda a sorte de informações sobre a mítica dos bumbás, nasce do mais elementar saber
popular que conhecemos: o desejo de uma mulher grávida por uma coisa inusitada, no caso, a língua
do mais bonito boi da fazenda, e o medo do Pai Francisco em ver o filho nascer com cara de língua
de boi, caso não saciasse o desejo de sua amada.

E assim nascem os bumbás. Do saber popular.

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Enredo

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E assim nasce o Boi Caprichoso, de Parintins. Cada toada, cada voz, cada história contada, cada
traço do artista, embebido em cores e formas, faz despertar e renascer a estrela reluzente do boi do
povo, o boi da revolução, o boi de Parintins, o touro negro da América: o Boi Caprichoso. A
ancestralidade dos saberes de sua gênese, como os muitos saberes e fazeres de sua construção, são
forjados nos ensinamentos milenares de pescadores, costureiras, tacacazeiras, quilombolas, juteiros,
indígenas e ribeirinhos, artistas detentores do “lunário perpétuo” das tradições populares
amazônicas, gente das barrancas, das águas e da floresta. Povo.

E agora, unimos nosso brado guerreiro ao “Lunário Perpétuo” do tigre de São Gonçalo, nessa
exaltação aos saberes populares das gentes brasileiras. Se o Boi Caprichoso é povo e tradição, com
a Porto da Pedra formamos um só corpo e um só espírito, um corpo-multidão, boi e tigre, arena e
avenida, teatro e procissão. Uma revolução ancestral...

Conselho de Artes do Boi Bumbá Caprichoso. Amazônida. Manifesto da cultura, triunfo do


povo e da sabedoria popular.

É PRECISO OLHAR PARA O ALTO E PARA A SABEDORIA DO POVO!


“Todas as histórias antigas chamam a terra de Mãe, Pacha Mama, Gaia. Uma deusa perfeita e infindável, fluxo de
graça, beleza e fartura”. Ailton Krenak

No momento em que escrevo esse texto, ainda estou sob o impacto do Balaio de Oxum, ocorrido
dia 8 de dezembro, data em que o Amazonas celebra sua padroeira, Nossa Senhora da Conceição.
O povo negro, por aqui tantas vezes invisibilizado, utilizou-se de sua sabedoria comum para
subverter a colonização e o racismo. Não louvou a Mãe original do Cristo, pelo contrário,
deparando-se com rios amazônicos que em muito calungavam África, empreteceram
inteligentemente a “ordem católica”: aquilombaram a fé à Senhora dos Rios, das Águas Doces,
Mamãe Oxum. Ela, a “doce mãe das águas doces”, como um dia escrevi em canção louvando a
senhora da beleza, mais especificamente Oxum Opara, a qual alquimiza meu ori em amor.

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Enredo

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Participar do Balaio me fez sentir a terra e sinestesiar as águas, enquanto levava flores nas
mãos. Como alguém do povo que sou, entre o louvor e a observação, algumas questões me
inquietaram: após séculos de escravidão, como aqueles tambores ainda rufavam? Em séculos de
colonização vigente, como aquela procissão de esperançosos rodantes não havia perdido a conexão
com a natureza? Depois de tantos anos de ideologia capitalista, como negros, brancos
empobrecidos, LGBTQIAPN+ e mulheres formaram aquele rio humano para pedir e agradecer?

É preciso olhar no abebé de Oxum. Sua dança atravessou o mar e nos reconectou com a
natureza: devemos refletir (sobre) o que vemos lá. Além da nossa imagem, o abebé inunda brilho.
Brilho também de Orun, o céu, que a Porto da Pedra veio trazer para este ano enquanto enredo,
ensinando o mesmo que Oxum, também festeira: o sagrado do chão que, no Carnaval, torna-se o
solo da Marquês de Sapucaí. A “deusa perfeita e infindável” anunciada por Krenak se torna fonte
de alegria e ressoa os mesmos instrumentos sagrados africanos que vi no Balaio, agora no pulsar
da Bateria.

Voltando ao Orun, a Porto da Pedra nos guia até a lua. Mamãe Oxum sussurra em forma de
intuição para mim: “essa escola pede que olhemos mais para o céu, porque de lá o povo fez
sabedoria comungada”. E assim o foi e vem sendo. Non plus ultra significa literalmente o ápice, o
apogeu. Tudo isso no contexto do almanaque, com os dias e meses do ano, e o lunário, que registra
esse mesmo tempo tendo a lua como marco. O Lunário Perpétuo mostra a força do saber da gente,
uma vez que era, à época de sua criação, talvez o único contato com a leitura que as camadas
populares tiveram acesso...

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“[...] transformando pessoas. Curando e se manifestando em forma de arte. Ultrapassando


séculos e agora predestinado ao povo mais saber em forma de Carnaval”. Que ousadia, Porto da
Pedra! Ousadia possível apenas àqueles e àquelas que sabem que nosso Povo não é amorfo, que
tem cores, histórias, camadas e mais camadas de lutas e saberes. Se a alguns esse saber parece
menor, o Tigre decide olhar no abebé de Oxum e ver a Lua – o nosso saber é tão grande e magistral
quanto ela. Aliás, mais sabedoria popular, porque se lembrarmos das Áfricas em suas diásporas,
saberemos que a Lua é, para os yorubás, Òṣùpá, Ìmọlẹ̀-Òrìṣà companheira do Òòrùn (Sol).

Sinto-me lisonjeado, enquanto um fazedor da cultura popular e filho da Amazônia, de poder


escrever que o lunário marcador do tempo nos “puxa pelo braço” para não esquecer o tempo de
realiançar nossas sabedorias comuns. Òṣùpá, Jaci - para os Tupi-, lunário perpétuo para a Porto da
Pedra. Emano, após ter me reconectado com a ancestralidade em uma data sagrada que um bom
almanaque marcaria, após tocar as areias com meus pés, após sentir a água tocar minha fronte,
depois de sentir a força do tempo que corre pra trás (o mesmo que inspirou xilogravuras e a arte
carnavalesca), toda energia positiva da Terra e do Céu para essa Escola. A bússola maior para a
vitória vocês já possuem: o povo que cultua enquanto samba. Se Nego Bispo, falecido recentemente
e a quem dedico esse texto, despertou-nos para o fato de que o quilombo era “incolonizável”,
porquanto fugiu para resistir e manter intocada sua sabedoria popular, efetivando a justiça
epistêmica, desejo que o Tigre seja um Quilombo na avenida e na vida em comunidade. Avante,
Porto da Pedra...

Adan Renê Pereira da Silva. Amazônida, doutor em Educação pela Universidade Federal
do Amazonas, compositor e Professor Adjunto da Universidade Federal do Amazonas. Do povo e
da sabedoria popular!

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UM LIVRO COMPLETO E INDISPENSÁVEL: O LUNÁRIO PERPÉTUO

Segundo Câmara Cascudo, o Lunário Perpétuo, primeiro dos almanaques que antigamente se
usavam no Brasil, foi o livro mais lido nos sertões do Nordeste durante os séculos XVIII e XIX. Inscrito
na memória popular, mesmo para os que não sabiam ler, mas conheciam seus ensinamentos pela
transmissão oral, o Lunário seria o responsável, segundo Cascudo, “por muita frase curiosa, dita pelo
sertanejo, e que provém de clássicos dos séculos XVI, ou XVIII”. O autor do primeiro Lunário Perpétuo
foi Jerônimo Cortez, natural de Valença na Espanha que, como tantos outros seus contemporâneos, se
beneficiava da recente invenção de Gutemberg para publicar sua obra. Ela aparece em 1594, sob o longo
título de: Lunario perpetuo el qual contiene los llenos y coniunciones perpetuas de la Luna, declarando
si seran de tarde o de mañana. Con la prognosticacion natural, y general de los tiempos; y de los
effectos e inclinaciones naturales que causan los Signos y Planetas en los que nacen debaxo de sus
dominios. Finalmente contiene algunas electiones de medicina, navegacion y agricultura, sin otras
cosas de consideracion y provecho; con un regimiento de sanidad a la postre. Seguiram-se várias outras
edições espanholas até a publicação portuguesa lançada em 1703 pela tipografia de Miguel Menescal,
em tradução e adaptação de Antônio da Silva de Brito. Foi essa versão a que mais circulou no Brasil,
sofrendo ao longo do tempo várias modificações, como era de praxe na reedição anual dos almanaques.

O Lunário era uma espécie de bíblia que não podia faltar nas casas de famílias do interior e
trazia de um tudo em suas páginas: astrologia, calendários, vidas de santos, biografia de papas,
conhecimentos agrícolas, conselhos de veterinária, etc. Almanaques em geral, são publicações
populares anuais, que reúnem informações cientificas e astrológicas; receitas de remédios caseiros;
rezas-forte para espantar mau-olhado, orientações sobre plantio e colheita, conselhos para a vida prática
em geral, tudo junto e misturado. O Lunário, por exemplo, oferecia uma “Memória de Remédios
Universais para as Enfermidades Ordinárias”, além de conselhos sobre que “socorro a dar às pessoas
afogadas e asfixiadas”; sobre “os modos de descobrir as águas, ensinando como achar fontes desse
líquido precioso em diversos terrenos”; ou ainda o “processo para construir um relógio de sol” e como
“conhecer a hora pela posição das estrelas”.

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Enredo
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No Lunário, a medicina se misturava às crendices e valia não só amarrar as folhas ou raízes


de uma planta na parte adoecida do corpo quanto produzir amuletos que deveriam ser costurados
com pedaços de plantas, animais, pedra, cabelos etc. Era tiro e queda para “livrar as mulheres que
estão de parto, de todo o perigo, dando-lhes esforço e animo naquele aperto.” Usar um diamante no
dedo evitava que a mulher parisse antes do tempo, porque, explicava o Lunário: “esta pedra tem
grande virtude para reter a criatura no ventre”. Também livrava seu portador de assombrações,
visões, quebrantos e até das ciladas do demônio.

Naturalmente que havia também algumas rezas que eram imbatíveis como a que se devia
dizer em latim a Santo Antônio de Lisboa. Era reza tão forte que quem a repetisse tinha meios de
não só achar “cousas perdidas” como também para se livrar de misérias, calamidades, da lepra e da
morte. Por meio dessa simples oração os enfermos recobravam a saúde e os necessitados
encontravam amparo. A reza era tão forte que a ela obedeciam: “o mar, os ventos e as tempestades”.

Nestes tempos de internet, de informação em tempo real; de facilidade de consulta aos livros
e receitas as mais difíceis; de serviços de meteorologia razoavelmente confiáveis em que, até mesmo
para os que ainda apostam na astrologia, tornou-se possível obter o mapa astral online, não haveria
lugar para o Lunário Perpétuo. Por isso a escolha desse livro como tema que a Porto da Pedra vai
levar para a Avenida em 2024 é uma escolha que remete a um tempo em que havia mais pensamento
mágico e mais esperança no futuro. Não sei se essa informação consta na internet, mas certamente
está lá no Lunário Perpétuo do valenciano Jerônimo Cortez que previu tudo sobre o assunto até o
futuro mais distante...

Isabel Lustosa. Brasileira. Historiadora, ensaista e escritora. Pesquisadora do Centro de


Humanidades ICHS/Universidade Nova de Lisboa. Do povo e dos saberes populares!

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HISTÓRICO DO ENREDO
“Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular”

Sinopse do Enredo

Alquimia dos Saberes

Ao reconhecer o valor da sabedoria popular,


Se fará cumprir esta profecia...

Nascida da primazia da mística humana, elevação do espírito na plena harmonia do ser. Feito
toque de conhecimento: Alquimia! Pedra que incendeia! Encandeia! Aura sagrada e mistério de luz.

Para abrir as portas do futuro: Sabedoria. Elo da razão e do misticismo. Segredo dos segredos.
Do obscuro à claridade, um santo e alquimistas reunidos. Coisas dos homens, seus laboratórios,
invenções e rituais abençoados pelo divino.

Que em tantas-folhas transmuta: Lunário! Aos reinos e províncias um perpétuo guia. Forjado
para encerrar as trevas da consciência humana, foi perseguido e proibido. Renascido! À luz da ciência,
com um toque de ocultismo e feitiçaria. Conhecimento ou bruxaria? Na mítica popular, um pouco de
tudo, do tangível e do sobrenatural. Mistério do sopro da vida. “Quintessência” celestial supralunar.
Que atravessa o tempo, imortal...

A Gênese do Saber Popular Brasileiro

Ao navegar por esses mares, espelho cristalino, mistérios que serpenteiam o mundo, infinito
como o próprio saber. E nesse vai e vem, no sobe e desce das marés, o lunário é testemunha da história,
clandestino, entre lusitanos esfarrapados ou nobres de fino trato.
Páginas que se misturaram à memória dos saberes indígenas e dos africanos acorrentados
trazidos para esta terra nem sempre gentil. Bugiganga. Quinquilharia. Tesouro achado, trocado,
herdado ou vendido pelos caixeiros viajantes. Artefato da gênese do saber popular brasileiro. Viu a
secura castigar o sertão e o sol arder feito chama de candeeiro. Viu gente que não acaba mais batendo
perna e levantando poeira. Fugindo da fome, da sede e da miséria.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

Retirante, inclemente, sina.


Amenizador do castigo! Predizendo: A sua natureza é de luta! Na fala dos místicos, o milagre
bendito dos profetas anunciadores da chuva. Contemplação dos sinais! O doce beijo da abelha na
florada da jurema. A formiga e o cupim mover os pedaços dessa terra. São José aliviar a aflição! E
assim...

O Presságio dos Astros

Vendo o homem simples olhar para o céu foi possível entender que nele existem outros
ensinamentos. Tá na boca do povo: Procure por Manoel! É o “Caboclo” afortunado que decifrou as
estrelas. Sabedoria matuta aprimorada com a velha literatura formando um novo arcabouço do
conhecimento.

Foi aí que o céu de Juazeiro do Norte traçou destinos e o “juízo do ano” foi apregoado em
folhetos. Devaneios astrológicos fundindo oralidade e escrita. Sortilégio na raiz da palavra, previsão
geral:

“No Litoral, no agreste ou no sertão


O inverno mediano já nos traz
Relâmpagos e chuvas desiguais,
Dando lucros a uns, a outros não
É feliz quem cuidar da plantação,
Sol e Júpiter governando traz enredo:
Todo rico sofrendo muito medo
E o pobre passando precisão”1

Presciência ou alucinação renovando o prognóstico feito almanaque zodiacal. Quem diria!


Numerologia e oniromancia. Na palma da mão calejada da lida: Quiromancia! Saberes da roda dos
signos e adivinhações na “Casa dos Horóscopos”.

Marcado em tinta, a matriz do saber. Nos tacos riscados com buril estão os personagens destas
e de outras bandas do interior. Tá nas praças, feiras e enfeitam o varal de cordel: Magias da boa sorte,
bons auspícios, amores e o bem viver. Tudo isso abençoado pelo Padim Ciço e os arcanos astrais.
Imagine só...

1
CABOCLO E SILVA. Manoel. O Juízo do Ano. 1970. Acróstico da previsão geral para o Nordeste.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

A Cura do Corpo e da Alma

Que ao se enraizar com outro tanto de gente vai ensinar a cuidar do corpo e da alma!
Misturando as coisas do tempo dos antigos e a sabedoria do fundo do quintal. Tome nota, não perca a
receita!

Combatendo a pestilência trazida pelas pragas quem sufocam, onde demora a chegar a
academia, quem acode é o saber popular. Coisa boa para fazer o bem, bálsamo contra os malefícios.
Descarrega tudo que há de ruim! Auxílio para quem precisa! Caridade dos pobres de dinheiro, mas,
ricos em candura! Tem benzedor, erveira, parteira. Tem jeito para tudo!

Crença de cada um, acalanto compartilhado com todos. Tem erva de muitos nomes, santo de
casa e altar de oração. Semente que germina para virar banho, garrafada e defumação. Raiz forte e
folha verde para curar onde dói. É ensinança do velho livreto, é a simplicidade do viver. É infalível.
Abraço generoso, basta ter um bocado de fé. É bonito de se ver...

Armorial dos Folguedos Populares

Quando o lunário de saberes seculares se torna inspiração. Suassuna! É chegada a hora,


Ariano! Do movimento se fazer armorial!

Recriar a arte de um país vivo para o povo se manifestar com ares de fidalguia. Onde bailam
os folguedos, porta-estandarte da cultura, vossas majestades são artistas da mais alta nobreza. Reis e
rainhas guardados pelos bons vaqueiros. Chapéu de couro, gibão e o alazão de companhia.

Rabecas e violinos irão anunciar! O encantamento da cavalhada, cavalo-marinho, bumba-meu-


boi, pastoril e o maracatu. As notas musicais regendo orquestra e quinteto pra fazer canção com a arte
dos folguedos do povo. E no “auto” da vida severina, eis a virgem compadecida.

Flâmulas e brasões. A pintura, a música e a literatura. Reinará nos corações o “rei degolado
nas caatingas do sertão” e na “Pedra do Reino” estará o trono da sua volta e ascensão.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

Domínios de caetana, o próprio sol inclemente. Onde se escreve com ferro quente, Caetana é onça
brava, visão alada do porvir. Contações do inesquecível menestrel que vão...

O Lunário Perpétuo de Um Brincante

Misturando outras histórias para se contar, cantar e dançar com um brincante que cria o seu
próprio lunário a partir das vivências e o saberes nordestinos. É o saber transpassando o tempo!

Ao palco do velho Marquês, onde desfilam os sonhos do povo, virão os versadores, cordelistas
e repentistas herdeiros de Louro do Pajeú. Junta toda essa gente, de São Gonçalo e do nordeste, no
coração festivo do Rio de Janeiro para celebrar os devaneios de Antônio Nóbrega!

Com as bênçãos da mãe de Deus! Ave-maria, estrela brilhante, guia do peregrino e honesta flor. Que
viaja em delírio e aventurança! A bordo da nau “catarineta” com a sua marujada navegante ou
voando com Tonheta e seu “foguete brasileiro”. Tem romance desse Brasil de misturas e
questionamentos, tem lanceiros do maracatu rural com suas lantejoulas coloridas e lanças a duelar.
Fascínio, odisseia e sentimento nas grandes veredas do sertão.

É o povo artista, é da rua, é do mundo. De tudo um pouco onde estão os versos que o poeta
escreveu, as cantigas que cantou, cinco ou seis coisas que sabe e outras tantas que ele esqueceu.
Ciranda da vida que vai girando em gerações sem ter fim. Vai tangendo a boiada das suas ideias que
se eternizam nas “lágrimas de um folião” que escreve o futuro desse país ainda mais genial e plural!

Vem, Antônio! E mostra que no esperançar de um novo tempo é assim que o lunário perpetua
sua missão. Feito livreto ou almanaque transformando pessoas. Curando e se manifestando em forma
de arte. Ultrapassando séculos e agora predestinando ao povo mais saber em forma de Carnaval. E
então...

“Na magia das cores, no rufar dos tambores”,


“Outra vez o tigre mostra as garras na avenida”,

E faz cumprir esta profecia,


Ao reconhecer o valor da sabedoria popular!
Sem existir ponto final...
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

Explanação Histórica do Enredo - Setorização

Abertura – Alquimia dos Saberes

Já fazem muitos séculos que a humanidade se envolve com a mística que desenvolveu saberes
primorosos. Alquimia! Que encontrou nos elementos da natureza a chave para a cura e salvação. Virou
filosofia, modo de viver. Transmutou valores e realizou a elevação espiritual do ser em harmonia.

É pedra que incendeia. Encandeia! Aura sagrada e mistério de luz. Alma em elevação, toque
de conhecimento. Foi assim que o intelecto humano se expandiu compreendendo as coisas desse
mundo e de outros criando uma ciência poderosa que legou à humanidade a chave que abriu as portas
do futuro.

Sabedoria! Para os alquimistas este sempre foi o elo que ligava razão e misticismo. Então
criou-se o segredo dos segredos, a linguagem oculta. Desde os tempos imemoriais quando o velho
sábio foi imortalizado em seu trono com os símbolos do saber eterno. Do obscuro à claridade,
conduzidos por São Tomás de Aquino. Coisa dos homens abençoada pelo divino com seus
laboratórios, invenções e rituais.

Neste cenário em que os homens ansiavam por saber surgiu o “Lunário Perpétuo”. Seu
delirante prognostico surgiu em 1594 pelas mãos de Jerónimo Cortés e aos habitantes dos reinos e
províncias do velho mundo legou conselhos, receitas e previsões. Os saberes, inicialmente ditados
pelas estrelas e a energia do cosmos, passavam a guiar o corpo e o espírito no caminho do cuidado e
do bem viver. Assim se deu o surgimento de um pequeno livreto mágico que foi compilado para
libertar das trevas a consciência humana, sendo perseguido e proibido. E renasceu! À luz da sabedoria,
com um toque de ocultismo e feitiçaria.

Conhecimento ou bruxaria? Loucura ou fascínio? Talvez um pouco de tudo isso! O que fez o
seu conteúdo atravessar séculos abarcando mais conhecimentos presentes na oralidade e vivências de
tantos homens e mulheres. Eis aqui o início da nossa profecia do saber! Com aquilo que se vê e toca

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

ou manifesta o sobrenatural. Mistério que traz aos viventes o sopro da vida, “quintessência” do mundo
celestial supralunar. Que atravessa o próprio tempo, imortal...

1º Setor – A Gênese do Saber Popular Brasileiro

Que outra vez refaz a sua importância ao navegar por um sem fim de mares que arrodeiam o
mundo, e nas lunações diversas, guarda em suas páginas os saberes das marés. Mistérios do espelho
cristalino ou que serpenteiam as profundezas. E nesse vai-e-vem vão se águas, a nossa história e
muita gente para o Brasil

Este país ainda menino recebeu e ouviu o que muitos tinham para contar entre os séculos para
começar a contar a sua própria história. O fluxo da imigração aumentava de forma considerável, entre
os esfarrapados da região do Minho que fugiam da pobreza e da fome, e depois, uma grande parcela
da elite portuguesa. Então o Lunário feito artefato de bagagem cruza o oceano com quem veio d’outros
cantos.

Deu-se cara a um Brasil onde de tudo um pouco se tinha ou sabia, mas, para as pinturas ou
páginas de livros só o europeu importava. Nessa trama de contrastes que de tudo um pouco misturava
se fez a gênese do saber popular brasileiro. Do encontro com os saberes, crenças, costumes e línguas
de indígenas que foram dizimados ou expulsos do seu lugar de origem, ou do tráfico de africanos, que
trouxe outros tantos saberes, crenças, costumes e línguas para cá. É o saber ganhando forma nesse
chão, entendendo as tantas memórias que a literatura esqueceu, mas, a oralidade sustentou viva,
costurando na transversal do tempo linear e histórico dessa pátria o ser e o saber brasileiro.

Tudo que aqui chegava, e tudo que aqui já estava, circulava com os caixeiros viajantes. Tudo
era passado a frente! Então, o pequeno livreto entraria em cena para mudar outra vez os rumos dessa
história. Virou artigo de venda e troca. Herança! Bugiganga, as vezes visto como um qualquer, e para
outros, virou tesouro. Seguiu por ai de encontro com um tanto de gente!

Espie só! Um dia aconteceu de uma grande seca castigar o sertão. A tormenta foi tamanha que
o sol fazia arder o cariri sem dó. Foi custoso, e então, o povo dessa terra enfadado de esperar amarrou
suas trouxas e foi-se embora fugindo da tormenta da miséria. Foram mais de 80 mil que se espalharam
por todos os cantos fugindo da fome e da sede pra tentar dar fim ao desespero!

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

Para tentar a salvação muitos foram buscar nos múltiplos saberes uma forma de amenizar
aquele grande castigo.

Foi então que o Lunário Perpétuo embebedou homens e mulheres de novos saberes,
transformando uma gente simples em figuras místicas do sertão que viajavam longa distâncias. De
encontro ao povo mais simples, lendo a terra e os sinais de todos os elementos da natureza, os saberes
do lunário se fundem ao saber popular e surgem os “Profetas da Chuva”.

Eram coisas simples do dia a dia que formulavam os saberes. Veja bem! Se a florada da jurema
estivesse pra chegar era sinal que a chuva estava por chegar. Se tem bota pra fora no formigueiro,
haverá chuva, se o cupinzeiro estiver cheio, também é bom sinal. E no dia de São José, quando o verão
tá dando o lugar ao outono, se tem chuva haverá água no sertão, se não vier, a seca vai castigar.
Profética do sertão...

2º Setor – O Presságio dos Astros

Que ensinou sobre as coisas da terra e seus saberes, e apontou que haveria no céu outros
ensinamentos. Eis o presságio dos astros! Que fez um homem simples decifrar a influência dos
diferentes corpos celestes sobre os seres terrestres.

O grande afortunado foi Manoel Caboclo e Silva que encontrou nas estrelas a previsão certa
para quem o procurava. A sabedoria matuta se alinhou aos conceitos literários do lunário e de outras
obras esotéricas formando um arcabouço de saber em que os devaneios astrológicos fundiam oralidade
e escrita, ciência e magia. Passado, presente e futuro rodando em folhetos que previam o “Juízo do
Ano”. É então que surgem os “almanaques de cordel”, que de forma singular, passam a exercer o
papel de divulgar práticas culturais, crenças tradicionais e os estudos astrais.

Foi então que, dia sim e no outro também, os céus de Juazeiro do Norte traçaram o sortilégio
de inúmeras pessoas. Caboclo também pensava na realidade dos seus semelhantes, os irmãos
sertanejos, e todo ano através de um pequeno acróstico com a palavra nordeste ele fazia previsões
gerais pra todo o sertão.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

Um exemplo dessas previsões é encontrado no juízo do ano de 1970 quando a previsão do


almanaque trazia a seguinte fala:

No Litoral, no agreste ou no sertão


O inverno mediano já nos traz
Relâmpagos e chuvas desiguais,
Dando lucros a uns, a outros não
É feliz quem cuidar da plantação,
Sol e Júpiter governando traz enredo:
Todo rico sofrendo muito medo
E o pobre passando precisão

Entre previsões e alucinações, refaz-se o prognóstico, adicionando na receita da vida simples


a astrologia e o estrelado zodiacal. Quem diria! E ainda se somam a numerologia e quiromancia
naquelas visões do futuro. Os saberes do mundo sobrenatural, magias e adivinhações passaram a ser
traduzidas de forma poética em pequenos livretos que nasceram do Lunário Perpétuo.

Na “Casa dos Horóscopos” a boa sorte, os bons auspícios, amores e bem viver ganhavam
forma para tomar as praças e feiras em varais de cordel. Os tacos de xilogravura selavam nas folhas
“ditos e costumes populares” feito matriz de saber que se refazia nas mãos de um homem simples.
Personagens de Juazeiro e outras bandas do sertão se eternizavam na arte de Manoel Caboclo que
traçava nas linhas do seu almanaque tantos destinos, e veja só, abençoado por Padre Cícero Romão e
iluminado pelos arcanos celestes...

3º Setor – A Cura do Corpo e da Alma

Imagine só! Essa profecia de saber traçada por um pequeno livreto já ensinou a ler os sinais
da natureza e o que tá lá na imensidão do céu. Se embolou com o povo, e se isso tudo não bastasse,
também ensinou a curar aflição do corpo e da alma. É de tudo um pouco, saber que não acaba.

É histórico que este país cresceu de forma desordenada aprofundando cada vez mais as
diferenças sociais onde o acesso a saúde e saneamento básico ficou cada vez mais precário, e em
muitos casos, não chegando a atingir a parcela da população que residia nos grandes interiores ou
zonas de pobreza.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

As pestilências da miséria trouxeram doenças para o corpo e para a alma, e para ser “doutor
da medicina” era preciso frequentar o banco da escola, coisa que era sabida, mas, não era para todos.

A medicina acadêmica avançou ao longo dos séculos aliada das múltiplas ciências, já os
cuidados da medicina popular encontraram no lunário perpétuo e nas vivências uma fonte de saberes
inestimável. Coisa boa pra fazer o bem, pra dar aos males uma cura.

Então a mistura de saberes, crendices e benfeitorias se agigantaram pelo agreste onde a vida
sempre foi severina. Se era precioso um auxílio, sem demora, tem por perto um benzedor, erveira ou
parteira e jeito pra quase tudo. Pra curar mordedura de bicho, fraqueza no corpo, dor nas costas e um
bocado mais de coisa. E não se esqueça de tomar nota da receita! Do preparo que tem que tem que
fazer é pelos quintais, nas bancadas ou nos mercados populares que você encontra essa porção de fé.

Tem de tudo um pouco, pra crença de cada um e pro saber de todos nós. Tem erva de nome
que nunca se ouviu, outras que guardam mistérios e aquelas que brotam atrás da sua casa. Semente
que germina na terra, vira banho, garrafada e defumação. Tem outro quê de magia e encantamento.
Tá escrito no velho livreto, tá vivo na boca do povo. Tem raiz forte, folha verde e flor de inúmeras
cores. Nessa receita de sabedoria popular você junta tudo isso com um bocado de fé e a receita é
infalível! É um abraço verdadeiro repleto de generosidade e caridade que aproxima a ciência e os
aconselhamentos de uma gente simples. É a cura do corpo e da alma pra fazer cumprir a profecia...

4º Setor – Armorial dos Folguedos Populares

Êta lunário danado! As andanças seculares dos seus saberes se uniram com a nossa gente de
muitas formas. E essa busca por saber traz essa profecia para o campo da inspiração, e então, as raízes
medievais do pequeno livro inspiram Ariano Suassuna a criar o manifesto que dá vida ao “Movimento
Armorial” na década de 1970.

Era a vez dos folguedos populares do Nordeste serem reconhecidos como arte erudita
produzida pelas mãos da nossa gente.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

Essa riqueza poética e artística se interliga ao espírito mágico dos folhetins e livretos ibérios –
como o Lunário Perpétuo – e assim, forma, segundo Ventura (2007, p.32) “as mais puras e legítimas
manifestações culturais populares” com seus brasões, estandartes, e obviamente, o cortejo de vossas
majestades populares, homens anônimos e mulheres anônimas possuidores de uma nobreza única.

Durante o armorial reavivou-se a crença na volta e ascensão do rei benevolente, e assim,


reaviva o coração do “Sebastianismo” em meio a secura da terra rachada. Assim na “Pedra do Reino”
ergueu-se o trono para o retorno triunfal onde reinará o “rei degolado nas caatingas do sertão”. Onde
caetana é o próprio sol inclemente. Caetana é onça brava. É a visão da morte sertaneja alada nas
contações de um velho menestrel.

Então manifestam-se rabecas, violas, violinos. Trazem consigo o brilho e a magia da


cavalhada, cavalo marinho, bumba-meu-boi, maracatu e o pastoril. As notas musicais bailam regendo
orquestra e quinteto que se inspiram nos folguedos populares para criar composições musicais. Fez-
se então o “romançal” brasileiro embalado pela viola portuguesa enluarada pela viola sertaneja.
Mistura de erudito e popular que nada mais desfaz nessa busca pelo saber.

Para ilustrar visualmente a beleza da simbologia deste movimento popular, Gilvan Samico e
J. Borges criaram gravuras de lendas e animais fantásticos em forma de xilogravura que ilustraram
flâmulas e quadros. Já Ariano desenvolveu o abecedário do cariri a partir dos ferros sertanejos de
marcar bois, que em suas múltiplas formas estudadas, revelaram conexões com à astrologia, ao
zodíaco e alquimia. Esses ferros formavam tipografias familiares a partir de uma base imutável que
sofria acréscimos a partir do momento em que os herdeiros passavam a criar seus próprios bois. A
profecia em forma de movimento e manifesto...

5º Setor – O Lunário Perpétuo de Um Brincante

Tantos séculos e saberes reunidos por um pequeno livreto que se tornaram uma imensidão de
tantas histórias entrecruzadas para se contar, e também, se cantar e dançar! Acredite só!

Essa profética do saber popular encontra um brincante que foi capaz de inventar o seu próprio
lunário perpétuo.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

Pouco mais de quatro séculos depois que o espanhol Jerónimo Cortés compila saberes
populares em seu livreto, no ano de 2002, o pernambucano Antônio Nóbrega formula um espetáculo
homônimo ao livro criado em 1594. É desta forma que o Lunário Perpétuo renasce nos tempos
contemporâneos pelas mãos de um artista que desde pequeno se deixou envolver pela beleza, poética
e verdade dos saberes populares.
Eis que a Marquês de Sapucaí, este palco popular, se ilumina para receber as fontes de
inspiração de Antônio! Chegam os cantadores do sertão! Versadores, cordelistas, repentistas herdeiros
de Mestre Louro do Pajeú, lá das bandas de São José do Egito. Eles chegam para o verso de improviso,
tomar as ruas e praças anunciando nesse coração festivo do Rio de Janeiro que o Nordeste, feito de
suor e lida, tem muito para mostrar ao mundo!

Nos devaneios do brincante Antônio as histórias fascinantes vão enfeitando essa avenida.
Primeiro! Eis a “Excelência” da mãe de Deus. O fervor da bênção, ave maria! Estrela brilhante, guia
do povo e honesta flor. Maria daqueles que a ti devotam fé, zelai o mundo! Depois anuncia a nau
“Catarineta” e sua marujada navegante. É o enfrentamento das tentações do “cabrunco”, salvos por
um anjo que lhes estendeu a mão.

Tem história de amor! Pra falar do “Romance de Riobaldo e Diadorim” nas grandes veredas
deste sertão do cangaço, a busca humana para entender e controlar os sentimentos. Retratos da
formação de um país de muitas misturas e questionamentos. E também o “Romance da filha do
imperador do Brasil” que se deixou encantar pelo valente vaqueiro. Trama do destino a paixão pelo
homem simples contra o orgulho excessivo ao renegar os “barões de capa e espada”.

A crítica social dança aos ventos no agitar dos canaviais. Em “O Rei e o Palhaço” o brincante
resgata as loas e toadas do maracatu rural contra o autoritarismo e opressão da vida dos canavieiros
que no Carnaval se enfeitam com seus bordados de lantejoulas coloridas, a lança e a dança bruta
enfrentando o coronel do engenho e seus desmandos.

Eis então o “Lunário Perpétuo de um Brincante”. Licença que vamos armar a lona! Onde estão
os versos que o poeta escreveu, as cantigas que cantou, cinco ou seis coisas que sabe e outras tantas
que ele esqueceu. É feito um rito de passagem, ciranda da vida. Ontem e hoje.
Amanhã e depois. É o tempo além do tempo. Presente e passado tangendo a boiadas das suas
ideias que vão se eternizar nesta noite de folia com os saberes do povo.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

É desta forma que o saber popular ultrapassa séculos: Ele nasce na fala, nas vivências e nas
memórias de homens e mulheres. Vira livreto, almanaque, transforma pessoas, cura o corpo, se
manifesta em forma de arte! E tudo isto renasce nos olhos, sorrisos e afetos da nossa gente!

O cumprir desta profecia se faz no esperançar de um novo tempo! De mais saber e folia “na
magia das cores, no rufar dos tambores”. É assim que “outra vez o tigre mostra as garras na
avenida” de volta ao seu lugar tão especial. Hoje a voz do povo gonçalense é voz do povo brasileiro!

É brado que não se cala!

É o ecoar do saber popular que anuncia:

Tempo bom vem pra ficar, sem ponto final...

Mauro Quintaes
Carnavalesco

Diego Araújo
Enredista

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

JUSTIFICATIVA DO ENREDO
Saber! Filosoficamente é o verbo que reúne diversos conhecimentos para pensar, discutir,
refletir e ensinar sobre algo. Existem saberes que emergem do povo e este “saber popular” se
manifesta em práticas que marcam a identidade de uma comunidade, de parte ou do todo de uma
sociedade.

Alguns desses saberes populares foram transcritos para um pequeno livreto, e em 1594,
formaram o “Lunário Perpétuo” do astrônomo e naturalista espanhol Jerónimo Cortés. Este artefato
único, que surge em um cenário onde a alquimia tinha grande valor, ganhou notoriedade no velho
mundo servindo como conselheiro e orientador de homens e mulheres de forma esotérica, cultural e
social.

Com os anos o lunário compilou outros saberes, viajou o mundo, foi proibido e se refez. Aqui
no Brasil desembarcou no século XVIII com tradução de Antônio da Silva de Brito, e tempos depois,
lá pelas bandas do sertão, se tornou objeto precioso. Câmara Cascudo (2001. p. 534) bem disse que
ele “foi durante dois séculos o livro mais lido nos sertões do Nordeste, informador de ciências
complicadas [...]. Não existia autoridade maior [...]”.

O “prognóstico geral e particular para todos os reinos e províncias” do lunário se fundiu aos
saberes populares nordestinos fazendo surgir uma profética singular em busca da chuva. Também foi
base para o almanaque de um matuto que admirava as estrelas, ensinou a cuidar do corpo, inspirou
um movimento artístico e foi recriado por um eterno brincante. É o poder do saber!

Por entender a Avenida Marquês de Sapucaí como um grande palco onde o povo é soberano,
o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Porto da Pedra, com distinta sapiência, celebra o
saber popular utilizando o “Lunário Perpétuo”, seus ensinamentos e desdobramentos, como guia
precioso do enredo do Carnaval 2024.

Encontramos esta história guardada feito tesouro nas faces, nas vozes e na singularidade de
nosso país. É a nossa profética para o “esperançar” de um Brasil mais brasileiro. É alquimia, sertão,
sol e lua, viola e rabeca. É o nosso...
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

“Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular”

Pois nos varais de cordel, nas praças e nas mãos do povo,

A sabedoria é chave da libertação...

Mauro Quintaes
Carnavalesco

Diego Araújo
Enredista

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

ROTEIRO DO DESFILE
ABERTURA – ALQUIMIA DOS SABERES

Comissão de Frente
A BUSCA INCESSANTE DO SABER

ELEMENTO CÊNICO
EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

1º Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira


Rodrigo França e Denadir Garcia
“MISTÉRIO SUPRALUNAR”
Ala 01 – Comunidade
ALQUIMISTAS

Pede-Passagem
“SIMBOLOGIA DO PODER”

Ala 02 - Baianas
ELEMENTAIS DA VIDA

Destaque de Chão
Giovana Cordeiro
PEDRA FILOSOFAL

Alegoria 01
“ALQUIMIA DOS SABERES”

SETOR 01 – A GÊNESE DO SABER POPULAR BRASILEIRO

Ala 03 - Comunidade
MAR DE MISTÉRIOS

Ala 04 - Comunidade
CONSELHEIRO DE QUEM VEIO
D’OUTROS CANTOS

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

Ala 05 - Comunidade
SABERES INDÍGENAS

Ala 06- Comunidade


SABERES AFRICANOS

Ala 07 - Comunidade
CAIXEIROS VIAJANTES

Ala 08 - Comunidade
RETIRANTES

DESTAQUE DE CHÃO
Erika Schneider
ABELHA RAINHA

Alegoria 02
“PROFÉTICA DA CHUVA”

SETOR 02 – O PRESSÁGIO DOS ASTROS

Ala 09 - Comunidade
CÉU ESTRELADO

Ala 10 - Comunidade
PREDIÇÕES DOS SIGNOS

DESTAQUES DE CHÃO
Gil Pinheiro e Vanessa Moretti
OS ENAMORADOS

Ala 11 - Passistas
AMORES DO CARIRI

RAINHA DE BATERIA
Tati Minerato
MAJESTADE LUNAR

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Ala 12 - Bateria
O ASSOMBRO DO SERTÃO

Ala 13 - Comunidade
ARCANOS DO SOL E DA LUA

Ala 14 - Comunidade
PRESCIENTE MANOEL CABOCLO

DESTAQUE DE CHÃO DESTAQUE DE CHÃO


Clau Letícia Sogiro
SIGNOS DO ZODÍACO ENERGIA SOLAR

Alegoria 03
“A CASA DOS HORÓSCOPOS”

SETOR 03 – A CURA DO CORPO E DA ALMA

Ala 15 - Comunidade
AGOURO ESPIRITUAL - PESTILÊNCIA

Ala 16 - Comunidade
BENZEDEIROS E PARTEIRAS

Ala 17 - Comunidade
PROTEÇÃO DOS SANTOS

Ala 18 - Comunidade
SEMENTES E RAÍZES

Ala 19 - Comunidade
FOLHAS E FLORES

Ala 20 - Comunidade
MERCADORES DE ERVAS

DESTAQUE DE CHÃO
Isadora Marinho
SABEDORIA DAS ERVAS

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Alegoria 04
“RELICÁRIO DA CURA”

SETOR 04 – ARMORIAL DOS FOLGUEDOS POPULARES

Ala 21 - Comunidade
GUARDA DOS VAQUEIROS

2º Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira


Johny Matos e Pietra Brum
“REINADO ARMORIAL”

Ala 22 - Comunidade
CAVALHADA

Ala 23 - Comunidade
CAVALO-MARINHO

Ala 24 - Comunidade
BUMBA-MEU-BOI

Ala 25 - Comunidade
PASTORIL

Grupos Cênicos
CORTEJO DO MARACATU

DESTAQUE DE CHÃO DESTAQUE DE CHÃO


Luisa Langer Paolla Nascimento
NOBREZA DA PEDRA DO REINO O FERRO EM BRASA NO SERTÃO
DESTAQUE DE CHÃO
Larissa Nicolau
A RABECA ANUNCIA A MUSICALIDADE ARMORIAL

Alegoria 05
“ARMORIAL DA ARTE POPULAR”

SETOR 05 – O LUNÁRIO PERPÉTUO DE UM BRINCANTE

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Ala 26 - Compositores
CANTADORES DO SERTÃO

Ala 27 - Comunidade
EXCELÊNCIA DA MÃE DE DEUS

Ala 28 - Comunidade
MARUJOS DA NAU CATARINETA

3º Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira


Pedro Figueiredo e Joyce Santos
O ROMANCE DE RIOBALDO E
DIADORIM

Ala 29 - Comunidade
TONHETA E O FOGUETE BRASILEIRO

DESTAQUE DE CHÃO
Gabi Ceballas
ETERNO ROMANÇAL BRASILEIRO

Ala 30 – Passistas Internacionais


A FILHA DO IMPERADOR DO BRASIL

Ala 31 - Comunidade
LANCEIROS RURAIS

DESTAQUE DE CHÃO
Valesca Popozuda
COLORIDO DA ARTE SEM FIM

Alegoria 06
“O LUNÁRIO PERPÉTUO DE UM BRINCANTE”

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Mauro Quintaes
Nº Nome da Alegoria O que Representa

XX PEDE PASSAGEM Antes do Lunário Perpétuo se tornar um


SIMBOLOGIA DO PODER aconselhador de homens e mulheres, poucos
tipos de livros eram acessíveis a população, e
alguns desses saberes literários também
nortearam a criação do conteúdo do nosso
pequeno livreto e o estudo dos alquimistas.

O “Bestiário” – livro medieval que descrevia os


animais – foi por longo período uma espécie de
“educador” para a lida com os animais e a
definição de seus sentidos reais e espirituais. Foi
desta forma que muitos símbolos do poder e
alquimista tomaram animais como referência.
Este é apenas um esboço que serve Dentro da alquimia a utilização dessas imagens
como referencial artístico para a e outros símbolos produziram um tipo de
criação da alegoria e auxilia a linguagem oculta que somente os iniciados nos
apresentação da mesma neste saberes alquímicos conseguiam ler. Os rostos de
documento. Sua forma final - em tigres na saia são adaptações inspiradas nas
desfile - pode conter variações estéticas gárgulas medievais que tinham como função
de cores, formas e volumes. serem “guardiãs de templos” e mantinham o mal
afastado daquele lugar.

O tigre – símbolo de nossa agremiação -


representa o poder, a ferocidade, a perspicácia,
sabedoria e inteligência. Então “outra vez, o
tigre mostra as garras na avenida...” altivo e
majestoso pedindo passagem para o seu povo
gonçalense viver o seu momento especial. Seu
rugido é forte e anuncia: Eis a profética do
saber popular!

Destaque Principal: Maria Laura Luzes


Fantasia: Maria, a Profetisa – Mãe da Alquimia

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Mauro Quintaes
Nº Nome da Alegoria O que Representa

01 CHASSI I Que se faça a revelação da busca pelo saber! Na


ALQUIMIA DOS SABERES velha Europa a alquimia foi uma forma que os
homens encontraram de expandir o intelecto e se
envolver com elementos místicos que
desenvolveram diversos saberes. Para os
alquimistas a sabedoria era o elo entre a razão e
misticismo, o tangível e o sobrenatural. Se tornou
ciência poderosa ao desvendar os mistérios
elementais. Incendiou! Encandeou! Em busca da
pedra da eternidade virou filosofia de vida, abriu os
olhos para o futuro. Compreendeu os planetas, as
estrelas, o sol e a lua. Imortalizou um velho sábio e
seus símbolos de poder. Do obscuro à claridade,
São Tomás de Aquino perpetuou conhecimentos
CHASSI II ocultos em laboratórios, invenções e rituais.
ALQUIMIA DOS SABERES
Entre o fim das trevas medievais e o acender
brilhante das luzes do renascimento descortinava-
se uma nova era moderna onde a busca por mais
sabedoria se tornava cada vez mais potente. A
humanidade ansiava por conhecimento! E foi neste
cenário de busca pelo saber que em 1594 Jenónimo
Cortés lança o seu delirante prognóstico aos
habitantes dos reinos e províncias com seus
conselhos, receitas e previsões. “Sabedoria é luz
que clareia...” e abre as páginas do livreto
Este é apenas um esboço que serve
“Lunário Perpétuo”, nosso enredo, condutor desta
como referencial artístico para a criação
profecia que busca a valorização dos saberes
da alegoria e auxilia a apresentação da
populares e conselheiro imortal.
mesma neste documento. Sua forma
final - em desfile - pode conter variações
estéticas de cores, formas e volumes.

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Mauro Quintaes
Nº Nome da Alegoria O que Representa

01 CHASSI I No “Chassi I” da alegoria 01 representamos o


ALQUIMIA DOS SABERES grande alquimista que em suas mãos manipula
(Continuação) elementos representando os estudos alquímicos
e astrais. O cabelo do grande alquimista forma
uma gigantesca trança representando o
entrecruzamento de saberes descobertos por
estes mestres da sabedoria em suas pesquisas.
Complementam o projeto cenográfico
elementos que estão ligados a arquitetura
medieval e os símbolos do saber gerados
através dos estudos dos alquimistas. Os rostos
de tigre da saia nas laterais são adaptações
inspiradas nas gárgulas medievais que tinham
como função serem “guardiãs de templos” e
mantinham o mal afastado daquele lugar.

No “Chassi II” da alegoria 01 representamos


CHASSI II
os laboratórios de alquimia. O cenário é
ALQUIMIA DOS SABERES
composto por elementos científicos que
(Continuação) formam os laboratórios onde os alquimistas
realizam seus estudos manipulando os
elementos. Complementam o projeto
cenográfico elementos ligados aos símbolos de
saber da alquimia. No fundo da alegoria
projeta-se o rosto de “Maria, a Profetisa” -
primeira mulher alquimista - banhado por
água, que para os alquimistas, é o elemento
que representa o saber original e a
compreensão, sendo a base de todas as
manipulações. Na parte traseira grandes
lamparinas e estrelas representam as luzes do
Este é apenas um esboço que serve renascimento que clareiam as mentes humanas
como referencial artístico para a criação com o saber. Os tigres alados nas laterais e os
da alegoria e auxilia a apresentação da rostos de tigres na saia são adaptações
mesma neste documento. Sua forma inspiradas nas gárgulas medievais que tinham
final - em desfile - pode conter variações como função serem “guardiãs de templos” e
estéticas de cores, formas e volumes. mantinham o mal afastado daquele lugar.

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Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Mauro Quintaes
Nº Nome da Alegoria O que Representa
Indumentárias do Chassi I
01 CHASSI I
ALQUIMIA DOS SABERES Destaque Principal: Francine Montibelo
(Continuação) Fantasia: Flor Alquímica – Magia da Terra

Destaques Laterais/ Frente:

Lorena – Era das Trevas


Franciele Montibelo – Noite Estrelada
Eliane – Magia do Fogo
Daniele – Magia dos Ventos
Lidiane – Quintessência
Fernanda Costa – Escuridão Astral

Composições Laterais – Baixo / Meio e Alto:


Alquimistas
CHASSI II
ALQUIMIA DOS SABERES
Indumentárias do Chassi II
(Continuação)
Destaque Principal: Fábio Sande
Fantasia: São Tomás de Aquino – O Santo
Alquimista

Destaque Performático: Corinto Rodrigues


Fantasia: O Grande Alquimista

Composições/Laboratórios:
Alquimistas
Este é apenas um esboço que serve
como referencial artístico para a criação
da alegoria e auxilia a apresentação da
mesma neste documento. Sua forma
final - em desfile - pode conter variações
estéticas de cores, formas e volumes.

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Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Mauro Quintaes
Nº Nome da Alegoria O que Representa

02 PROFÉTICA DA CHUVA “O sertão profetizou”: É preciso compreender os


sinais da natureza para saber se vai chover! Foi
vivendo uma seca devastadora que castigava o
sertão que diversos sertanejos saíram em busca de
salvação. Muita gente arrumou as trouxas e foi
embora fugindo da miséria, da seca, da sede e do
sol que fazia arder o cariri sem dó. Outro tanto de
gente ficou, e foi então que o Lunário, aquele
pequeno livreto, se fez grandioso com suas páginas
que ensinavam a ler os sinais da natureza para
previsão da chuva.

Este é apenas um esboço que serve E o que fez aquela gente? Se embebedou de saber!
como referencial artístico para a criação E foi então que os antigos registros foram
da alegoria e auxilia a apresentação da adaptados para o cenário do sertão fazendo surgir
mesma neste documento. Sua forma os chamados “Profetas da Chuva” que cortavam o
final - em desfile - pode conter variações agreste fazendo previsão do tempo.
estéticas de cores, formas e volumes. Eram sinais bem claros! Observar o voo das
abelhas, se o cupinzeiro estiver grande e cheio, se
houver bota-fora no formigueiro, ou então, se a
jurema florir o cariri, é certo que vem chuva aí! Em
cada dia específico do mês, formula-se uma nova
leitura. É verídico! É o saber popular com uma
dose porreta de fé pra vencer o aperreio da seca.
Por isso, quem vale o sertanejo é São José! No seu
dia, 19 de março, se as nuvens chuva, a água vira
benção e a seca naquele ano não vai castigar o
sertão!

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Nº Nome da Alegoria O que Representa

02 PROFÉTICA DA CHUVA Em chassi único representamos os elementos


(Continuação) presentes nas observações dos “Profetas das
Chuvas” para as realizações das previsões do
tempo. Estão presentes as formigas, cupins e uma
grande abelha. Na parte mais alta encontra-se o
semi-destaque vestido de “profeta da chuva” que
ergue uma imagem de São José comandando um
movimento especial que eleva a parte central da
alegoria revelando telões que exibem imagens
relacionadas aos sinais interpretados por eles para a
previsão da chuva. Junto do movimento também
surge o grupo cênico que encena a florada da
jurema. Na parte traseira complementam a
Este é apenas um esboço que serve
cenografia esculturas humanas e metade natureza
como referencial artístico para a criação
que simbolizam essa relação dos profetas com os
da alegoria e auxilia a apresentação da
elementos naturais.
mesma neste documento. Sua forma
final - em desfile - pode conter variações
estéticas de cores, formas e volumes.
Destaque Central-Baixo: Paulo Robert
Fantasia: Voo das Abelhas

Semi-Destaque:
Laterais: Sinais dos Insetos
Alto: Profeta da Chuva
Grupo Cênico/Alto: Florada da Jurema
Composições / Meio: Abelhas (Feminino)
Grupo Cênico / Baixo: Cupins (Masculino)

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Alegorias

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03 A CASA DOS HORÓSCOPOS Responda “meu sinhô”: Aqui se faz o presságio


dos astros?
Sejam bem-vindos à Casa dos Horóscopos! Em
Juazeiro do Norte foi um afortunado que olhou
para a estrelas e através delas traçou o sortilégio de
inúmeras pessoas. Manoel Caboclo e Silva alinhou
a sabedoria matuta aos conceitos literários do
lunário perpetuo e outras obras esotéricas para
formar um novo arcabouço do saber fundindo os
seus devaneios astrológicos com escrita, ciência e
magia.
Este é apenas um esboço que serve
E como ele fez isso? Em 1966 ele inaugura a
como referencial artístico para a criação
“Folhetaria Casa dos Horóscopos” onde passado,
da alegoria e auxilia a apresentação da
presente e o futuro passam a rodar nos folhetos
mesma neste documento. Sua forma
fazendo surgir os “almanaques de cordel”
final - em desfile - pode conter variações
divulgando as práticas culturais, crenças
estéticas de cores, formas e volumes.
tradicionais e estudos astrais. Sua publicação mais
famosa era o folhetim “Juízo do Ano” que se
tornou uma espécie de versão popular do Lunário
Perpétuo compilando saberes populares do
nordeste e até mesmo bençãos do Padre Cícero.
A fama de Caboclo correu todos os cantos do
sertão, e então, ele passou a receber inúmeras
pessoas em sua folhetaria realizando previsões
através da astrologia, numerologia, oniromancia e
quiromancia. Boa sorte, bons auspícios, amores e o
bem viver eram selados pelos tacos de xilogravura
formando uma nova matriz do saber nas mãos de
um homem simples. Personagens do Juazeiro e
outras bandas do sertão eram eternizados nos
cordéis de Manoel. Astros, signos, planetas e
assombrações. Os saberes populares iluminados
pelos arcanos celestes.

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Alegorias
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Nº Nome da Alegoria O que Representa

03 A CASA DOS HORÓSCOPOS Em chassi único representamos de forma alegórica


(Continuação) a folhetaria de Manoel Caboclo e Silva. Na parte
frontal alta apresentamos a figura de um grande
lobisomem fazendo menção ao cordel mais famoso
impresso na folhetaria chamado “O Valente Cobra-
Choca na Pega do Lobisomem” e na parte traseira
alta está presente um grande “Orbitron” inspirado
nas visões do futuro que inundaram as artes na
década de 1960 e mais a frente dariam forma a
estilos artísticos como o “retrofuturismo”.
Tomamos essas formas como inspiração para
mostrar como os pensamentos e sonhos daquela
Este é apenas um esboço que serve década imaginavam que seria o futuro.
como referencial artístico para a criação Complementam o cenário as estrelas, e também,
da alegoria e auxilia a apresentação da grandes esferas luminosas representando os
mesma neste documento. Sua forma planetas.
final - em desfile - pode conter variações Na base inferior de onde está o lobisomem a
estéticas de cores, formas e volumes. decoração é feita com mapas astrais e ao redor
estão funcionários da casa dos horóscopos
encenando a produção e reprodução de obras da
folhetaria. Abaixo do “Orbitron” retratamos o
espaço físico da folhetaria de Manoel Caboclo
onde ele recebia seus clientes. Complementam a
cenografia na parte frontal e traseira dois “Olhos
Místicos” que são joias de proteção astrológica
contra o mau-olhado, a inveja e as energias
negativas.

Semi-Destaques Laterais: Astros Reluzentes

Composições / Cadeiras: Copistas da Casa dos


Horóscopos

Composições (Femininas) / Orbitron:


Constelações

Grupo Cênico / Folhetaria: Casais do Cariri

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Criador das Alegorias (Cenógrafo)


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Nº Nome da Alegoria O que Representa

04 RELICÁRIO DA CURA “Separei as folhas secas, misturadas no pilão.


Confiei a rezadeira uma nova oração!” e com
as bênçãos de Deus-pai, Maria e os santos deste
altar, para todo mal há cura! É assim que os
benzedeiros, rezadeiras e parteiras iniciam suas
preces para vencer aquilo que atormenta a alma
e/ou o corpo. Nos sertões e interiores, quando a
medicina acadêmica demora a chegar, por um
motivo qualquer, é a força da sabedoria popular
que as pessoas buscam para conseguir o
balsamo sagrado. E esse Lunário, livrinho
danado, que tem um capítulo inteiro de banhos,
Este é apenas um esboço que serve unguentos e defumações ensinou muita gente a
como referencial artístico para a criação enfrentar tudo aquilo que se faz tormenta.
da alegoria e auxilia a apresentação da Tem nome de erva, folha, flor, raiz e semente
mesma neste documento. Sua forma que serve pra tudo! É o que se planta no quintal,
final - em desfile - pode conter variações ou então, se encontra com os mercadores que
estéticas de cores, formas e volumes. cruzam essa infinidade de rotas e estradas.
Quem nunca foi benzido com um galho tirado
do quintal, tomou um chá que apruma o corpo.
Um viva pro saber que mora nas mãos
abençoadas com o poder da cura! Eis aqui o
retrato de um Brasil que recebe do sobrenatural
as energias para expurgar o que há de ruim.
Tudo isso amparado pelos olhos das santidades
que moram naqueles relicários! É hora de fazer
a oração. Pai nosso, ave maria! Aqui estão os
saberes da cura, e com a graça de Deus-pai,
Maria e os santos deste altar, nenhum mal há de
vingar!

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Nº Nome da Alegoria O que Representa

04 RELICÁRIO DA CURA Em chassi único representamos os saberes


(Continuação) populares que curam. Na parte frontal
apresentamos a figura de uma rezadeira que traz
em sua pele as marcas do tempo e das curas já
realizadas. Os curativos em seu corpo representam
as dores seladas e curadas por suas rezas, ela
segura em uma de suas mãos o Lunário Perpétuo
representando o encontro dos saberes seculares do
livro com os saberes da medicina popular. Ainda na
parte frontal estão posicionadas as carroças dos
mercadores que vendem ervas nos grandes
mercados ou durante suas viagens, todas são
puxadas por calangos, que, para algumas crenças
Este é apenas um esboço que serve religiosas, representam a sabedoria oculta e o poder
como referencial artístico para a criação do inconsciente.
da alegoria e auxilia a apresentação da
Atrás da rezadeira ergue-se uma grande árvore que
mesma neste documento. Sua forma
sustenta a casa com seus galhos representando
final - em desfile - pode conter variações
todas as plantas que nascem nestes espaços e
estéticas de cores, formas e volumes.
servem como instrumentos de cura. Completam o
projeto cenográfico grandes imagens de santos em
molduras e penduradas nos galhos e nas laterais
representando a relação dos benzedeiros, rezadeiras
e parteiras com essas figuras religiosas que são
importantes também para a realização das suas
práticas de cura.

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Nº Nome da Alegoria O que Representa

04 RELICÁRIO DA CURA Destaque Central-Baixo: Ton Brício


(Continuação) Fantasia: Ostensório da Fé

Composições: Carroceiros Vendedores de


Ervas

Personagem / Alto / Árvore (Benzedeira):


Ludmilla de Aquino

Personagem / Alto / Árvore (Rezadeira):


Samile Cunha

Personagem / Alto / Árvore (Parteira): Leila


Este é apenas um esboço que serve Alquimista
como referencial artístico para a criação
da alegoria e auxilia a apresentação da Composições: Erva de Curar
mesma neste documento. Sua forma
final - em desfile - pode conter variações Grupo Cênico:
estéticas de cores, formas e volumes.
Velha-Guarda do G.R.E.S. Unidos do Porto da
Pedra trajados de Benzedeiros e Rezadeiras.

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05 ARMORIAL DA ARTE POPULAR “Tanta gente esperou por esse dia...” o pincel, a
cantoria, a arte popular! Que se manifesta na nos
saberes que se eternizam no cantar, no dançar,
representar, escrever, pintar, e acima de tudo,
vivenciar! Foi compreendendo essa grandeza que
está nas mãos do povo que na década de 70 o
inesquecível Ariano Suassuna formulou o
“Movimento Armorial” buscando fundir o erudito
e o popular para criar uma arte brasileira autêntica
com raízes nos folguedos nordestinos.
Nas páginas deste enredo, rimamos rapidamente,
Este é apenas um esboço que serve “e lá do ‘auto’ como a vida é um repente...”, o
como referencial artístico para a criação Lunário também alegrou nossa gente. E como foi
da alegoria e auxilia a apresentação da isso? O movimento de Suassuna bebeu dos saberes
mesma neste documento. Sua forma de várias referências de livretos e folhetins
final - em desfile - pode conter variações ibéricos. Lá estava ele, perpétuo entre gerações e
estéticas de cores, formas e volumes. como referência!
Foi assim que Suassuna transformou em arte a
busca por essa nova identidade cultural que
valorizasse a brasilidade da nossa gente. Então o
sertão se tornou palco de um grande reinado onde o
povo é realeza! A musicalidade ficou por conta dos
folguedos populares. Brasões, xilogravuras,
pinturas, livros e peças teatrais nasceram
misturando elementos medievais com elementos do
nosso sertão. Ariano Suassuna escreveu, Gilvan
Samico coloriu, Antônio Madureira compôs. E a
“Caetana” visão sertaneja da morte, guarda um
infinito de causos, escritos a ferro em brasa, tão
quentes quanto o sol que alumia o cariri.

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05 ARMORIAL DA ARTE POPULAR Em chassi único representamos alegoricamente


(Continuação) uma homenagem ao “Movimento Armorial” de
Ariano Suassuna.
Na parte frontal erguem-se imponentes cavaleiros
representando as referências medievais que
inspiraram Suassuna a criar o manifesto. Detalhe
importante, que, a criação carnavalesca nos
possibilita inserir nas mãos destes cavaleiros lápis
ao invés de lanças para simbolizar a criação dos
textos do armorial. Na parte central, em ambos os
lados, projetam-se pequenos palcos onde ocorre a
Este é apenas um esboço que serve encenação do “Auto da Compadecida”
como referencial artístico para a criação representando as obras produzidas por Ariano
da alegoria e auxilia a apresentação da Suassuna, que, aparece em forma de escultura no
mesma neste documento. Sua forma alto das bocas de cena. Ainda na parte central,
final - em desfile - pode conter variações patamar superior, como homenagem aos artistas
estéticas de cores, formas e volumes. ilustradores do armorial, ergue-se majestosa a
representação da onça caetana junto de esculturas
de aves sertanejas, sua forma é inspirada na
ilustração de Gilvan Samico chamada “Rumores
de Guerra em Tempos de Paz”.
Na parte traseira da alegoria complementam a
cenografia, em ambos os lados, brasões com a
representação original da onça caetana desenhada
por Suassuna que tem como detalhe de decoração
ferros que eram utilizados para ferrar boi no sertão
e se tornaram inspiração para criação de toda
tipografia utilizada nas obras de arte do
Movimento Armorial. Ainda na traseira estão
esculturas de cavaleiros sertanejos fazendo o
contraponto com os cavaleiros medievais da frente
da alegoria. Na idealização de Ariano Suassuna, as
referências ibéricas e medievais, no ápice da
experimentação e aplicação do manifesto armorial,
seriam substituídas por figuras do sertão brasileiro
para que nosso povo e sua arte fossem celebrados
com as mesma grandeza das artes eruditas.

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05 ARMORIAL DA ARTE POPULAR Destaque Principal: Janderson


(Continuação) Fantasia: O Reinado Armorial

Semi-Destaques Laterais: Cavaleiros


Armoriais

Composições: Heráldica Sertaneja

Grupos Cênicos / Palcos / Laterais:


Personagens do Auto da Compadecida

Este é apenas um esboço que serve


como referencial artístico para a criação
da alegoria e auxilia a apresentação da
mesma neste documento. Sua forma
final - em desfile - pode conter variações
estéticas de cores, formas e volumes.

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06 O LUNÁRIO PERPÉTUO DE UM “Vem Antônio, vem menino! Seu destino é


BRINCANTE cirandar, um brincante nordestino...” que
perpetua os saberes dessa gente!
São mais de 200 anos de saber do pequeno
livreto junto de nossa gente! É assim que o
Lunário Perpétuo percorreu caminhos,
influenciou vivências e relações.
Inspirado na grandeza dessas relações, o artista
pernambucano Antônio Nóbrega em 2002 cria
o espetáculo homônimo ao pequeno livreto que
nos inspirou e auxiliou na construção deste
carnaval.
O espetáculo “Lunário Perpétuo” nasce
Este é apenas um esboço que serve inspirado no que Antônio chama de “guia
como referencial artístico para a criação precioso”, e também, dos saberes populares que
da alegoria e auxilia a apresentação da envolvem todos os tipos de expressões advindas
mesma neste documento. Sua forma do povo. Artes plásticas, cênicas, musicais.
final - em desfile - pode conter variações Tudo que está na rua, nas mãos, na voz, na pele
estéticas de cores, formas e volumes. e nas expressões da nossa gente se faz
inspiração para que Tonheta, “um misto de
pícaro, bufão, palhaço, arlequim, vagabundo e
sabe-se lá mais quê” (segundo a descrição do
espetáculo) e João Sidurino (Mestre Siduca)
encenem, cantem e dancem a sabedoria popular
em forma de arte por todos os cantos desde país.
É assim, transformado em espetáculo de arte,
que o Lunário outra vez se faz perpétuo no
inconsciente coletivo. Ele nasce entre os velhos
alquimistas, faz entender a natureza, inspira um
sertanejo, cura o corpo e a alma, se torna
movimento e vira obra de arte! E o G.R.E.S.
Unidos do Porto da Pedra, orgulhoso da sua
missão de exaltar os saberes populares, faz
cumprir a profecia deste enredo ao desfilar sua
gente e sua arte nesta avenida! Viva o Lunário
Perpétuo e o saber popular!

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06 O LUNÁRIO PERPÉTUO DE UM Em chassi único representamos alegoricamente


BRINCANTE o cenário do espetáculo “Lunário Perpétuo” de
(Continuação) Antônio Nóbrega.
Na parte frontal um grande pandeiro –
instrumento usado pelo artista em grande parte
do espetáculo - é projetado como o local onde o
homenageado – Antônio Nóbrega – está
presente, nas laterais frontais se encontram seus
familiares e convidados. Ao centro da alegoria
é representado em forma de escultura o
personagem “Tonheta” e o caminhãozinho que
ele usa pra rodar pelas estradas ouvindo e
aprendendo os saberes populares. Ainda na
parte central, em ambos os lados, erguem-se
Este é apenas um esboço que serve pequenos palcos com composições que
como referencial artístico para a criação interagem com marionetes representando
da alegoria e auxilia a apresentação da personagens de obras de Ariano Suassuna,
mesma neste documento. Sua forma considerado por Antônio seu grande mestre.
final - em desfile - pode conter variações Na parte traseira ergue-se um grande picadeiro
estéticas de cores, formas e volumes. para homenagear os artistas mambembes
brasileiros que inspiraram a criação do
personagem Tonheta. Nas laterais do picadeiro
estão posicionadas as esculturas de João
Sidurino (Mestre Siduca), personagem que
acompanha as peripécias de Tonheta. Erguem-
se no projeto cenográfico grandes mastros
coloridos que complementam a decoração da
alegoria.

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Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


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Nº Nome da Alegoria O que Representa

06 O LUNÁRIO PERPÉTUO DE UM Destaque Central-Baixo (Pandeiro): Antônio


BRINCANTE Nóbrega
(Continuação) Fantasia: O Brincante Nordestino

Palcos Laterais / Frente: Família e


Convidados de Antônio Nóbrega

Semi-Destaques / Fundo: Cores da Alegria

Grupo Cênico / Laterais: Manipuladores de


Boneco

Grupo Cênico / Picadeiro: Exaltação ao


Artista Mambembe
Este é apenas um esboço que serve
como referencial artístico para a criação
da alegoria e auxilia a apresentação da
mesma neste documento. Sua forma
final - em desfile - pode conter variações
estéticas de cores, formas e volumes.

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Alegorias

Nomes dos Principais Destaques Respectivas Profissões

Maria Laura Luzes (Pede Passagem) Primeira Dama da Agremiação / Advogada

Fábio Sande (Alegoria 01) Estilista

Corinto Rodrigues (Alegoria 01) Produtor de Eventos

Paulo Robert (Alegoria 02) Cabelereiro/Estilista

Tom Brício (Alegoria 04) Educador

Ludmilla de Aquino (Alegoria 04) Publicitária / Jornalista

Samile Cunha (Alegoria 04) Professora Universitária

Janderson (Alegoria 05) Empresário

Antônio Nóbrega (Alegoria 06) Multiartista

Rosane Nóbrega (Alegoria 06) Esposa de Antônio Nóbrega / Coordenadora


do Instituto Brincante

Local do Barracão
Rua Rivadávia Corrêa, nº60 – Gamboa, Rio de Janeiro/RJ – Cidade do Samba
Diretor Responsável pelo Barracão
Aluízio Mendonça
Ferreiro Chefe de Equipe Carpinteiro Chefe de Equipe
Nildo Costa Futica
Escultor(a) Chefe de Equipe Pintor Chefe de Equipe
Bonan Gilberto
Eletricista Chefe de Equipe Mecânico Chefe de Equipe
Alan Carvalho Marquinho
Outros Profissionais e Respectivas Funções

Braulio Malheiros – Assistente do Carnavalesco


Rafael Torres – Assistente do Carnavalesco
Yuri Aguiar – Projetista de Alegorias
Alan Abreu – Chefe de Decoração
Nildo Costa – Chefe da Equipe de Parintins

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Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Mauro Quintaes
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala

01 Alquimistas A ala representa os Comunidade Departamento


alquimistas. A origem da de Harmonia
alquimia é incerta, porém, na
Europa sua presença é
registrada desde meados do
século XII na busca dos
homens por novos saberes. Os
alquimistas eram os
responsáveis pelos estudos
dos elementos naturais e
sobrenaturais que deram a
alquimia o status de bruxaria,
ciência e filosofia entre a era
das trevas e o renascimento.

02 Elementais da Vida A ala de baianas do G.R.E.S. Baianas Lindalva


Unidos do Porto da Pedra Mendonça
representa os estudos da
alquimia floral. O estudo das
flores, valorizando a planta viva,
promoveu a descoberta de
diversos saberes da cura, neste
período o plantio era feito
respeitando a tabuleta lunar, e
sua colheita, era feita durante o
ápice da luz da lua em noite
orvalhada.

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Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Mauro Quintaes
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala

03 Mar de Mistérios A ala representa o estudo das Comunidade Departamento


marés presente no Lunário de Harmonia
Perpétuo. A subida e descida
das mares era comandada pela
influência da lua sobre os
mares. As “Lunações”
influenciavam no
comportamento das águas que
poderiam subir ou descer
formando um espelho
cristalino ou revelando
mistérios monstruosos que
serpenteiam as profundezas e
as histórias dos navegadores.

04 Conselheiro de Quem A ala representa os lusitanos Comunidade Departamento


Veio D’Outros Cantos que vieram para o Brasil. A de Harmonia
chegada do Lunário Perpétuo
ao Brasil é incerta, mas, de
certo que está ali pelas vias de
1703 sua primeira tradução
para o português. Outra coisa
certa é que o Lunário era
artigo valoroso no velho
mundo, o também chamado de
“tantas-folhas” estava
presente na bagagem dos
esfarrapados da região do
Minho e de nobres que vieram
para o Brasil.

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Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Mauro Quintaes
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05 Saberes Indígenas A ala representa os povos Comunidade Departamento


indígenas brasileiros. Ao de Harmonia
chegar ao Brasil, o compilado
de saberes do Lunário
Perpétuo encontra os saberes
ancestrais dos povos
indígenas deste país. Na
gênese do saber popular
brasileiro estão presentes as
crenças, costumes, ritos e
línguas dos povos indígenas
que são a identidade
originária da nossa gente, do
nosso saber.

06 Saberes Africanos A ala representa os saberes Comunidade Departamento


africanos. Depois de se de Harmonia
encontrar com os saberes
indígenas, o Lunário Perpétuo
também se depara com os
saberes dos africanos que
foram trazidos ao Brasil pelas
rotas da diáspora que
aprisionou tantas crenças,
costumes, ritos e línguas que
estão presentes na gênese do
nosso saber popular.

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07 Caixeiros Viajantes A ala representa os caixeiros Comunidade Departamento
viajantes. Depois de cruzar de Harmonia
um oceano na bagagem de
lusitanos, encontrar os saberes
indígenas e africanos nestas
terras, o Lunário Perpétuo
virou artigo de venda e troca.
Artefato, bugiganga, livreto
que rodou todos os cantos nas
malas dos caixeiros indo de
encontro com outros rostos e
saberes.

08 Retirantes A ala representa os retirantes. Comunidade Departamento


O Lunário Perpétuo chega ao de Harmonia
sertão brasileiro no auge de
uma seca jamais vista. Do
coração ressecado do cariri
partiram mais de 80 mil
pessoas fugindo do sol que
fazia arder o chão e secar a
vegetação. Os rostos
carregavam a marca da agonia
gerada pela sede, fome e o
calor intenso feito fogo.

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09 Céu Estrelado A ala representa a leitura das Comunidade Departamento


estrelas realizada por Manoel de Harmonia
Caboclo. A partir da década
de 1960 o céu de Juazeiro do
Norte ganhou importância
notável entre os sertanejos, foi
neste período que começaram
a surgir as primeiras
conversas sobre lá existir um
homem que era capaz de
prever o futuro a partir da
leitura das estrelas.

10 Predições dos Signos A ala representa a leitura das Comunidade Departamento


constelações zodiacais. O de Harmonia
sertanejo que lia as estrelas
também fazia previsão através
das constelações zodiacais, foi
então que as 12 casas do
zodíaco e seus signos
passaram também a
determinar o sortilégio de
muitos que procuravam
Manoel Caboclo para a
formulação de seus
horóscopos particulares.

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11 Amores do Cariri A ala de Passistas do G.R.E.S. Passistas Gil Pinheiro


Unidos do Porto da Pedra
representa os casais que
buscavam os conselhos de
Manoel Caboclo. Uma
infinidade de pessoas
procurava os aconselhamentos
de Manoel Caboclo, mas,
tornou-se comum casais
buscarem as sábias palavras
do sertanejo que consultava os
astros para saberem se o
namoro, o noivado e o
casamento dariam certo.

12 O Assombro do Sertão A bateria do G.R.E.S. Unidos Bateria Ritmo Mestre Pablo


do Porto da Pedra representa o Feroz
cordel mais famoso impresso
na folhetaria de Manoel
Caboclo. Além das previsões
consultando as estrelas e
outros arcanos celestes,
Manoel Caboclo também
imprimia cordéis e seu
pequeno almanaque de
saberes. Entre as impressões
mais famosas está “O Cobra-
Choca na Pega do
Lobisomem” que narrava o
enfrentamento entre um
valente sertanejo e o
lobisomem que assombrava o
sertão.

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13 Arcanos do Sol e da A ala representa os arcanos Comunidade Departamento


Lua maiores do sol e da lua. As de Harmonia
estrelas e as constelações
zodiacais prediziam sobre os
destinos e o futuro, já os
arcanos do sol e da lua eram
responsáveis pelos sortilégios
do agora. Sorte ou azar, dia e
noite, sim e não. É a
representação da dualidade
que, através dos estudos de
Manoel Caboclo, traçavam as
respostas para questões mais
urgentes e atreladas ao
presente.

14 Presciente Manoel Ala representa o juazeirense Comunidade Departamento


Caboclo Manoel Caboclo. A partir do de Harmonia
estudo de vários livros
místicos, inclusive o Lunário
Perpétuo, Manoel Caboclo e
Silva formulou um novo
arcabouço do saber no
coração do sertão. Em
Juazeiro do Norte ele funda a
“Folhetaria Casa dos
Horóscopos” imprimindo
cordéis, atendendo pessoas
que buscavam por conselhos
místicos e prevendo o destino
do sertão através do “Juízo do
Ano” seu almanaque que era o
Lunário Perpétuo em
linguagem mais popular.

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15 Agouro Espiritual - A ala representa os seres Comunidade Departamento


Pestilência espirituais que afetam de Harmonia
negativamente corpo e alma.
Dentre as muitas perturbações
que afligem o corpo e alma
estão as “pestilências”
causadas por espíritos
negativos. Os agouros
causados por esses seres que
não tem forma definida,
considerados “abutres
espirituais” pelo Lunário
Perpétuo, causavam os mais
diversos infortúnios aos seres
humanos.

16 Benzedeiros e Parteiras Ala representa os benzedeiros Comunidade Departamento


e parteiras. Homens e de Harmonia
mulheres, que dotados de
grande saber, conhecem o
poder das plantas, raízes,
sementes, folhas e flores. São
conhecedores dos mistérios
dos santos também, das
orações e rezas. Onde a
medicina acadêmica não
chega, ou tarda a chegar, é o
conhecimento dessas figuras
que acode quem necessita,
suas figuras são respeitadas,
seu conhecimento é a força
dos ancestrais e de um tanto
que o Lunário Perpetuo
também acrescentou de saber.

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17 Proteção dos Santos A ala representa os santos de Comunidade Departamento


que auxiliam aos benzedores, de Harmonia
rezadeiras e parteiras. Nos
relicários e altares das casas
desses homens e mulheres
sempre há um ou mais santos
prontos para ajudar a quem
precisa. Orações, preces e
rezas são ofertadas com muita
fé e devoção em busca do
milagre bendito. Eis aqui o
Sagrado Coração de Jesus que
derrama as boas bênçãos e
proteção sobre todos que
necessitam. A vida e história
dos santos também é parte
importante dos sabres do
Lunário Perpétuo.

18 Sementes e Raízes A ala representa as sementes e Comunidade Departamento


raízes. Artefatos naturais de Harmonia
utilizados pelos benzedeiros,
rezadeiras e parteiras, elas
carregam fortes poderes
místicos e herbário que
auxiliam nas práticas da
medicina popular. No Lunário
Perpétuo elas fazem parte de
um extenso capítulo que
ensina banhos, infusões,
defumações e outras práticas
de cura do corpo e da alma
com auxílio desses elementos.

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19 Folhas e Flores A ala representa as folhas e Comunidade Departamento
flores. Artefatos naturais de Harmonia
utilizados pelos benzedeiros,
rezadeiras e parteiras, elas
carregam fortes poderes
místicos e herbário que
auxiliam nas práticas da
medicina popular. No Lunário
Perpétuo elas fazem parte de
um extenso capítulo que
ensina banhos, infusões,
defumações e outras práticas
de cura do corpo e da alma
com auxílio desses elementos.

20 Mercadores de Ervas A ala representa os mercadores Comunidade Departamento


de ervas. Se nos quintais de Harmonia
brotava de tudo um pouco para
as bençãos dos benzedeiros,
rezadeiras e parteiras, quando
não era possível encontrar o
que era necessário nos
arredores, a solução eram os
mercadores de erva que
cortavam as estradas vendendo
de tudo um pouco junto aos
seus auxiliares que se
encarregavam de acompanha-
los nas caminhadas. No
Lunário as ervas e especiarias
fazem parte de um extenso
capítulo que ensina banhos,
infusões, defumações e outras
práticas de cura do corpo e da
alma com auxilio desses
elementos.

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21 Guarda dos Vaqueiros A ala representa os vaqueiros Comunidade Departamento


como guarda do reinado de Harmonia
armorial. O estandarte vai a
frente anunciando que a
grande corte dos saberes
populares que nascem dos
folguedos vai passar! O
figurino, inspirado nas
indumentárias de Mestre
Espedito Seleiro, transforma a
figura do vaqueiro sertanejo
no grande cavaleiro que faz a
guarda do reino onde o
manifesto armorial se faz
verdade!

22 Cavalhada A ala representa a cavalhada. Comunidade Departamento


A cavalhada se faz presente, de Harmonia
renovando a tradição secular
do embate de cristãos e
mouros. É o primeiro
folguedo popular que se
apresenta como inspiração
para o “Quinteto Armorial”
em “Toada e Dobrada de
Cavalhada” composição de
Antônio José Madureira no
álbum “Do Romance ao
Galope Nordestino” que se
inspira na musicalidade
medieval que até hoje embala
as encenações do folguedo.

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23 Cavalo-Marinho A ala representa o folguedo Comunidade Departamento


do cavalo-marinho. A pisada é de Harmonia
forte, é o Capitão Marinho
quem anuncia a chegada! E
vem pra misturar na
“Orquestra Armorial” a
musicalidade das zabumbas,
pífanos, rabecas imortalizada
na composição de Cussy de
Almeida, a “Chamada Nr.1”
no álbum “Chamada”.
Dançam os arcos de fita e
flores, a máscara de Mestre
Ambrósio é o símbolo da
tradição que não vai se
acabar!

24 Bumba-Meu-Boi A ala representa o folguedo Comunidade Departamento


do bumba-meu-boi. Olha o de Harmonia
boi! Tem que respeitar o
“sotaque” de quem faz da arte
brincadeira tão bonita com a
beleza das suas fitas e enfeites
tradicionais formando um
colorido sem igual. E Cussy
de Almeida traz “O Aboio”
inspirado nos cantos dolentes
dos vaqueiros de fitas do
bumba-meu-boi no álbum
“Orquestra Armorial”.

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25 Pastoril A ala representa o Comunidade Departamento


folguedo do pastoril. Vem de Harmonia
chegando o Pastoril para
entoar suas loas ao
menino Jesus que nasceu!
Vem as Pastoras seguindo
o caminho apontado pela
estrela-guia! E a
“Despedida”, canção de
domínio público, anuncia
que um brincante que fez
“Quinteto Armorial” vai
se tornar mestre do saber
popular.

xx Cortejo do Maracatu Os Três Grupos Cênicos Grupos Departamento


representam personagens Cênicos de Harmonia
do cortejo do Maracatu
Nação. Vem o cortejo
cortando as ruas da cidade
ao som da marcação das
alfaias. É a nobreza real
da negritude
acompanhada dos seus
súditos que chega para se
apresentar. É carnaval! É
“Baque de Luanda” de
Antônio José de
Madureira que inspira e
se eterniza no álbum
“Quinteto Armorial” de
1978.

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26 Cantadores do Sertão A ala de Compositores do Compositores Fernando


G.R.E.S. Unidos do Porto da Macaco
Pedra representa os
versadores, cordelistas,
repentistas nordestinos. São
eles os herdeiros de Mestre
Louro do Pajeú, lá de São
José do Egito, que inspiram
Antônio Nóbrega e utilizavam
o Lunário Perpétuo como uma
das fontes de criação de
versos que consagraram
diversos mestres da cantoria
popular.

27 Excelência da Mãe de A ala representa a canção Comunidade Departamento


Deus “Excelência” do espetáculo de Harmonia
Lunário Perpétuo. Eis aqui a
confissão de fé que exalta a
bondosa face de Maria e roga
suas bençãos aos seres
humanos. Os fieis trazem em
suas mãos o estandarte da sua
devoção, saudamos a Virgem
do Carmelo, Nossa Senhora
do Carmo, padroeira de
Recife, cidade onde nasceu
Antônio Nóbrega.

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28 Marujos da Nau A ala representa a canção Comunidade Departamento


Catarineta “Romance da Nau Catarineta” de Harmonia
do espetáculo Lunário
Perpétuo. É a narrativa das
aventuras de uma tripulação
de marujos à deriva que é
“visitada” pelo diabo com o
intuito de levar consigo a
alma do capitão-general. O
embate é intenso até o
capitão-general entregar sua
alma a Deus e o corpo ao mar.
Desta forma o milagre
acontece, o diabo desaparece
e os marujos da Nau
Catarineta conseguem
finalmente chegar a “Porto de
Mar”.

29 Tonheta e o Foguete A ala representa a canção Comunidade Departamento


Brasileiro “Meu Foguete Brasileiro” do de Harmonia
espetáculo Lunário Perpétuo.
Tome seu assento no foguete
de Tonheta, que, está
carregado dos produtos da
nossa cultura e está pronto
para cruzar o espaço com
força total. Tonheta é um
personagem criado por
Antônio Nóbrega para
celebrar os artistas
mambembes brasileiros e os
espetáculos que cortam esse
país enfeitando as praças e
ruas com arte e alegria.

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30 A Filha do Imperador A ala representa a canção “O Passistas Departamento


do Brasil Romance da Filha do Internacionais de Harmonia
Imperador do Brasil” do
espetáculo Lunário Perpétuo.
Desde os tempos da corte o
Brasil é feito e refeito,
misturado e reinventado a
partir das misturas mais
improváveis. E não é que na
história – mesmo que não seja
comum na memória – bem
humorada, a filha de Dom
Pedro, de tanto recusar
“Barões de Capa e Espada”
com seus defeitos, terminou
enamorada por um vaqueiro
que fez bater mais forte o
coração no seu peito.

31 Lanceiros Rurais A ala representa a canção “O Comunidade Departamento


Rei e o Palhaço” do de Harmonia
espetáculo Lunário Perpétuo.
Aqui está o Caboclo de
Lança, dos versos do cantador
do baque solto, estão aqui os
canavieiros se vestem com
suas golas detalhadas, as
lantejoulas coloridas e o seu
chapéu de tantas fitas. Eis
aqui o retrato do homem
simples, figura nosso povo
brasileiro, que sofre o ano
inteiro, mas, quando chega
fevereiro vira personagem de
tamanha importância que no
seu peito só há espaço para a
alegria.

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FICHA TÉCNICA

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Local do Atelier
Rua Rivadávia Corrêa, nº 60, Gamboa – Rio de Janeiro / RJ – Cidade do Samba
Diretor Responsável pelo Atelier
Evelyn de Oliveira e Luiz Henrique
Costureiro(a) Chefe de Equipe Chapeleiro(a) Chefe de Equipe
Vera Lúcia João Victor Lacerda
Aderecista Chefe de Equipe Sapateiro(a) Chefe de Equipe
David de Oliveira, Whillhans Canuto e x
Leonardo Vitoriano
Outros Profissionais e Respectivas Funções

Romulo Roque, figurinista. Iniciou sua trajetória profissional há mais de 10


anos no Carnaval do Rio de Janeiro. Atua ao lado do carnavalesco Mauro
Quintaes desde o Carnaval de 2017 do G.R.E.S. Unidos da Tijuca. Tem
passagens por escolas como Dragões da Real e Império de Casa Verde, e para
o Carnaval de 2024, além da Unidos da Porto da Pedra também assina o
desenho de figurinos de diversas escolas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Outras informações julgadas necessárias

Observação: As fotos utilizadas neste material das fantasias são referenciais artísticos criados
durante a execução dos protótipos em Julho de 2023. Durante o processo de execução das
indumentárias para o desfile em Fevereiro de 2024 algumas formas podem ser alteradas, materiais
podem substituídos, tudo por questões que envolvem desde a disponibilidade específica de
materiais no mercado até mesmo adaptações julgadas como necessárias para finalização do figurino
e também o conforto do componente.

Ala 16 – Benzedeiros e Parteiras e Ala 20 – Mercadores de Ervas

As alas apresentam coreografia elaborada especialmente para complementar suas apresentações.

Ala 22 – Cavalhada

No dia oficial do desfile a ala se apresenta em duas cores: O azul representando os cristãos e o
vermelho representando os Mouros como é tradicionalmente feito no folguedo.

Ala 26 – Compositores – Cantadores do Sertão

A estampa da indumentária foi elaborada pelo carnavalesco Jorge Silveira, campeão do Carnaval
de São Paulo em 2023 pelo G.R.C.E.S. Mocidade Alegre. No dia do desfile os compositores trarão
consigo um violão representando a musicalidade nordestina.
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FICHA TÉCNICA

Fantasias

Outras informações julgadas necessárias

** Grupos Cênicos – Cortejo do Maracatu

Três grupos cênicos representam os personagens dos três maracatus nação mais antigos do Brasil
indicados pelos estandartes: Maracatu Nação Elefante (1800), Maracatu Nação Estrela Brilhante
(1824) e Maracatu Nação Leão Coroado (1863).

Observação: As referências visuais que estão servindo de base para o estudo e criação dos figurinos
dos personagens do Maracatu Nação fazem parte do Dossiê “INRC Maracatu Nação – Inventário
Nacional de Referências Culturais” produzido pelo IPHAN em 2013.

Capa do Dossiê do IPHAN

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FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo
Autor(es) do Samba-Enredo Guga Martins, Gustavo Clarão, Passos Júnior, Cristiano Teles,
Ailson Picanço, Leandro Gaúcho, Abílio Jr., Marquinho Paloma,
Orlando Ambrósio, Lucas Macedo, Gigi da Estiva e Clairton
Fonseca
Presidente da Ala dos Compositores
Fernando Nogueira Domingos (Fernando Macaco)
Total de Componentes da Compositor mais Idoso Compositor mais Jovem
Ala dos Compositores (Nome e Idade) (Nome e Idade)
39 Componentes Oswaldino Nunes (Vadinho) Passos Júnior e Ariane
(88 anos) Carvalho (34 Anos)
Outras informações julgadas necessárias

1. Letra Oficial do Samba-Enredo

Olhe pro céu onde a lua vagueia


As estrelas brilham no chão
Sabedoria é luz que clareia
Porto da Pedra no meu coração

Sou seu lunário! Conselheiro imortal!


Já 'folheando' cada ponto cardeal
Alquimia de almanaque (sou eu, sou eu)
Cada toque no atabaque (sou eu, sou eu)

Quem acendeu as lamparinas desse céu?


No Brasil os retirantes são os astros de cordel

O sertão profetizou, cada flor do Cariri


A 'ciência' desse povo, eu não guardo só pra mim
Separei as folhas secas misturadas no pilão
Confiei à rezadeira uma nova oração

Só porque eu escolhi, navegar por esse mar!


A viola perguntou para o santo do lugar:
Responda, 'meu Sinhô'! Será que é amor?
Meu povo vai passar!

Tanta gente esperou por esse dia...


O pincel, a cantoria... Nunca foi ponto final!
E lá do 'auto' como a vida é um repente
O estandarte vai na frente
Muito mais que carnaval!

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FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo
Outras informações julgadas necessárias

Vem Antônio, vem menino!


Seu destino é cirandar
Um brincante nordestino
A missão: perpetuar!

Quarto minguante, a moringa quase seca


Maré virou... Virou luar!
Tem alambique pra beber na quarta-feira
Okê, caboclo! Tempo bom vem pra ficar!

Quarto minguante, a moringa quase seca


Maré virou... Virou luar!
Tem alambique pra beber na quarta-feira
Faltava o Tigre pro lunário completar!

Existe uma pré-disposição do Lunário em ser uma folha em branco. Sua essência primordial é
acumular saberes e desde 1594, data de sua primeira publicação, a principal virtude desse livreto é
o poder de constar, existir, repassar, vivenciar e escrever os saberes de gente.
O samba do GRES Unidos do Porto da Pedra é uma obra interpretativa, em primeira pessoa, com o
próprio Lunário Perpétuo escrevendo a história, com foco central no saber popular e no
enriquecimento do livro original com os elementos da cultura nordestina brasileira, por isso,
melodicamente traz nuances que remetem à musicalidade nordestina, como o xote e o baião.
Marcado por constantes transições harmônicas, o samba apresenta 8 (oito) momentos melódicos,
com o objetivo de fomentar o canto e manter a dinâmica e a empolgação dos desfilantes.

“OLHE PRO CÉU ONDE A LUA VAGUEIA


AS ESTRELAS BRILHAM NO CHÃO
SABEDORIA É LUZ QUE CLAREIA
PORTO DA PEDRA NO MEU CORAÇÃO”

O desconhecido das folhas não escritas! Início de uma nova caminhada a quem tanto já trilhou...
(Re)aprender momentos não vividos! Dar luz a sabedoria popular que desfila durante o cortejo da
escola.
Inspirado no trecho da música de Luiz Gonzaga “Olha pro céu meu amor/Vê como ele está lindo
[...]”, por meio de uma prosopopeia que destaca a lua que vaga e as estrelas, que representam os
desfilantes da escola, que brilham neste momento na Marquês de Sapucaí. No Lunário, o céu e a
lua são explicações para os sentimentos humanos. É o mistério supralunar, a pedra filosofal, que
neste momento se confunde com o Porto da Pedra, dos corações.

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FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Outras informações julgadas necessárias

SOU SEU LUNÁRIO, CONSELHEIRO IMORTAL


JÁ FOLHEANDO CADA PONTO CARDEAL
ALQUIMIA DE ALMANAQUE (SOU EU! SOU EU!)
CADA TOQUE NO ATABAQUE (SOU EU! SOU EU!)

A página em branco começa a ser escrita, a história será contada! O Lunário Perpétuo se apresenta,
como grande conselheiro de homens e mulheres, a própria alquimia dos saberes e guardião do
conhecimento. O pequeno livro guarda as inquietações humanas, os mistérios de cada ponto cardeal
e a força dos toques ancestrais dos atabaques. A anáfora de “sou eu, sou eu” tem por objetivo
marcar o Lunário em multifaces do conhecimento popular, que vai dos fundamentos dos atabaques
à alquimia medieval.

QUEM ACENDEU AS LAMPARINAS DESSE CÉU?


NO BRASIL OS RETIRANTES SÃO OS ASTROS DE CORDEL

O livreto chega ao sertão e é enriquecido com as facetas populares. As estrelas são lamparinas que
iluminam a criatividade do nosso povo, que se converte em arte, em poesia... A luta dos retirantes
e as histórias dos caixeiros viajantes fazem do povo os verdadeiros astros descritos no livreto.
Acostumado a olhar pra cima em busca de conhecimento, percebe saber e finca raiz nos trejeitos
simples dos retirantes sertanejos.

O SERTÃO PROFETIZOU CADA FLOR DO CARIRI


A CIENCIA DESSE POVO EU NÃO GUARDO SÓ PRA MIM
SEPAREI AS FOLHAS SECAS MISTURADAS NO PILÃO
CONFIEI À REZADEIRA UMA NOVA ORAÇÃO

Encontra, desencontra, vira abrigo. Influenciado, influencia! Descobre a cor avermelhada, a terra
seca, no detalhe sertanejo. Conhece o cariri e observa a sensibilidade de um povo que vê na flor,
ciência. E esta ciência, não pode ser guardada a sete chaves por intelectuais em suas loas
parnasianas. Não! O saber é do povo e para o povo, e é por isso que se tornou o livro mais popular
do Brasil colonial. Ele guarda as orações das rezadeiras e as receitas das ervas secas maceradas no
pilão, é a arte que cura e ensina.
Revela em versos a magia do guia ancestral, que desvenda mistérios, em receitas e crendices. Para
as mazelas que no sertão ousam desembarcar, eis a sabedoria popular, um farol que ilumina. Com
rezas, ervas e mãos que o nascimento auxilia, encontra no almanaque, o bálsamo que acalma.
Benzedeiros, rezadeiras, parteiras, mercadores em harmonia, cura e fé, na ciência do dia-a-dia. Em
cada página um remédio, cada linha um ritual... Na lida sertaneja, um compêndio espiritual. Onde
a ciência se entrelaça com o divino, E o saber do livreto torna-se destino.

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FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Outras informações julgadas necessárias

SÓ PORQUE EU ESCOLHI NAVEGAR POR ESSE MAR!


A VIOLA PERGUNTOU PARA O SANTO DO LUGAR:
- RESPONDA, 'MEU SINHÔ'! SERÁ QUE É AMOR?
MEU POVO VAI PASSAR!

Conhecendo a fé, encontra respostas nas escritas de outrora! Da viola dos retirantes sertanejos,
relembra do diálogo com um santo. Antigas memórias que cruzaram o oceano e se eternizaram no
cotidiano do povo nordestino. Quem é o “santo do lugar”? Da viola, a resposta: "O santo dos
violeiros! São Gonçalo!". Que dá nome à cidade berço da Unidos do Porto da Pedra. A devoção
permanece viva entre as pessoas.
Trata-se de uma simbiose, um encontro, entre a exaltação do povo, da comunidade do Tigre de São
Gonçalo, com a sua arte! Ensinamentos do almanaque se misturando ao sentimento humano de
pertencimento.

TANTA GENTE ESPEROU POR ESTE DIA


O PINCEL, A CANTORIA... NUNCA FOI PONTO FINAL
E LÁ DO “AUTO” COMO A VIDA É UM REPENTE
O ESTANDARTE VAI NA FRENTE, MUITO MAIS QUE CARNAVAL

Suas escritas serviram de inspiração, o saber popular sempre foi motivo de fomentação e
inquietação humana, tal qual motivação para Ariano Suassuna e o seu Movimento Armorial. A
dança, a arte, o canto, escrita... Recorda a festança da recriação da arte de um país em movimento.
O saber é porta-estandarte da cultura e de sua perpetuação enquanto manifestação viva.
Ao mesmo tempo, o Lunário redige aquilo que vive! A página em branco reconhece a alegria dessa
gente e seu retorno ao grupo de elite do carnaval carioca. Curiosamente percebe os mesmos autores
de sua primeira passagem. O pincel (o carnavalesco Mauro Quintaes), a cantoria (o intérprete
Wantuir de Oliveira), que embalaram o “Carnaval dos Carnavais”, enredo da escola de 1996 e o
cortejo dos “loucos”, enredo de 1997, regressam neste momento tão especial de resgate da
comunidade gonçalense. Nunca foi ponto final!

Nota, também, a semelhança entre os festejos nordestinos e o carnaval quanto a representação de


um estandarte a frente de suas faces. Percebe amor, carinho, respeito... Descobre nas cores o afeto
por 'quem veio antes'. Ancestralidade, afirmação, lar. Comprova ser muito mais que carnaval...

VEM ANTÔNIO, VEM MENINO!


SEU DESTINO É CIRANDAR
UM BRINCANTE NORDESTINO
A MISSÃO: PERPETUAR!

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Outras informações julgadas necessárias

Um dos expoentes máximos do Movimento Armorial e seu legado, o artista Antônio Nóbrega, por
meio do espetáculo “Lunário Perpétuo”, revitalizou o interesse pela leitura da obra. É imortalizado
no papel que mais o distingue – o de um alegre brincante. Um chamado a disseminar a sabedoria
contida no almanaque.

QUARTO MINGUANTE, A MORINGA QUASE SECA


MARÉ VIROU... VIROU LUAR!
TEM ALAMBIQUE PRA BEBER NA QUARTA-FEIRA
OKÊ CABOCLO! TEMPO BOM VEM PRA FICAR!

QUARTO MINGUANTE, A MORINGA QUASE SECA


MARÉ VIROU... VIROU LUAR!
TEM ALAMBIQUE PRA BEBER NA QUARTA-FEIRA
FALTAVA O TIGRE PRO LUNÁRIO COMPLETAR!

Trata-se de uma provocação através dos conhecimentos obtidos da leitura do Lunário e da


observação do período vivido pela agremiação! Eis a justificativa pela não repetição do último
verso.
A primeira passagem, narra os ensinamentos obtidos através da compreensão do almanaque, onde
expõe as fases da lua e de sua influência na dança das águas do oceano. Num segundo momento,
observando este ensinamento da lua e as fases da maré, cria analogia com o período festivo da
Unidos do Porto da Pedra.

Dito isso, através das páginas do Lunário, aprende-se sobre a lua e suas fases, de como estas
mudanças interfere na tábua da maré dos oceanos. Assim, a lua quarto minguante resguarda o
período de seca no interior nordestino. Quando há sua mudança de fase ('a lua vira'), a maré sobe
('maré virou') e traz o período de fartura ao sertanejo. Mudança! O agradecimento ao caboclo... A
chegada de bons tempos!

Qualidades que podemos usar nos dias atuais quando falamos da vermelha e branca de São
Gonçalo... Foram mais de 10 (dez) anos no Grupo de Acesso do carnaval, tanta gente esperou por
esse dia e viveu um período de angústia, com a escola longe do grupo principal! Período de moringa
seca, à espera da mudança das águas! Coincidentemente, em 1995 (primeiro campeonato, no Grupo
de Acesso) e, em 2023 (terceiro campeonato, na Série Ouro), a escola desfilou sob o olhar de Mauro
Quintaes e da lua quarto minguante. Esta era a fase lunar nos dois desfiles da escola, em 'seu período
de moringa quase seca', nos grupos de acesso da folia do Rio de Janeiro.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Outras informações julgadas necessárias

Eis o presságio dos astros! Maré virou, virou luar! Povo em festa! E, assim como ocorrido no
primeiro campeonato, em seu segundo título, a quadra de ensaios da escola lotou, o povo sorriu, a
velha guarda dançou, a criança brincou, o alambique encheu... Não foi uma simples quarta-feira!
Com a virada da maré, enfim vem luar que alumia os caminhos da escola. É hora do tempo bom!
Chegou o dia da presença na elite do carnaval!

O GRES Unidos do Porto da Pedra se veste de Lunário, perpétuo como o amor de seus
componentes. Folha tem de sobra, conhecimento, sabedoria... Depois de tudo, o livreto saiu de
apenas um escritor e se colocou como parte, entendeu a relevância de tudo, conheceu sentimento,
virou componente, terceira pessoa e uma conclusão:

"Faltava o TIGRE pro LUNÁRIO completar".

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Bateria

Diretor Geral de Bateria


Mestre Pablo
Outros Diretores de Bateria
Roberto, Tarzan, Rayane, Jhon, Ruan, Mikão, Vitão, Negreti, Beicinha, Vitinho, Paulinho,
Matheus, Igor Prazeres e Cissê
Total de Componentes da Bateria
250 Componentes
NÚMERO DE COMPONENTES POR GRUPO DE INSTRUMENTOS
1ª Marcação 2ª Marcação 3ª Marcação Reco-Reco Ganzá
10 10 11 X X
Caixa Tarol Tamborim Tan-Tan Repinique
90 34 X 23
Prato Agogô Cuíca Pandeiro Chocalho
X 22 24 X 26
Outras informações julgadas necessárias

12 Ritmistas de Caixa e Repinique executarão bossa tocando triângulo

Bateria (Ritmo Feroz)

Fantasia: O Assombro do Sertão

A bateria do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra representa o cordel mais famoso impresso na
folhetaria de Manoel Caboclo. Além das previsões consultando as estrelas e outros arcanos celestes,
Manoel Caboclo também imprimia cordéis e seu pequeno almanaque de saberes. Entre as
impressões mais famosas está “O Cobra-Choca na Pega do Lobisomem” que narrava o
enfrentamento entre um valente sertanejo e o lobisomem que assombrava o sertão.

Rainha da Bateria

Tati Minerato

Fantasia: Brilho Lunar

A Rainha de Bateria do G.R.E.S Unidos do Porto da Pedra representa o brilho lunar. A Lua é um
dos arcanos maiores que figuravam nos estudos de Manoel Caboclo, representando o poder
feminino, a fertilidade, sendo considerada a rainha celeste. É ela que com seu brilho prateado
desperta as coisas “malasombradas” para vagar pelo sertão no cordel mais famoso de Manoel
Caboclo impresso na Casa dos Horóscopos chamado “O Valente Cabra-Choca na Pega do
Lobisomem”.

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FICHA TÉCNICA

Harmonia

Diretor Geral de Harmonia


Amauri de Oliveira
Outros Diretores de Harmonia
Luiz Borges e Ivan Brasil
Total de Componentes da Direção de Harmonia
80 Componentes (50 homens e 30 mulheres)
Puxador(es) do Samba-Enredo
Wantuir de Oliveira
Instrumentistas Acompanhantes do Samba-Enredo
Wellington Tico (Cavaquinho), Vanderson (Cavaquinho), Nilson (Violão 7 Cordas) e Vinícius
Chocolatt (Cavaquinho/ Bandolim)
Outras informações julgadas necessárias

Intérpretes de Apoio:
Eduardo (Duda SG), Bruno Vieira, Thiago Santos, Wilton (Nem) e Dani Myller

Diretor Geral de Harmonia

Amauri de Oliveira completará 30 anos de desfiles no ano de 2024, assumiu pela 1ª vez o
Departamento de Harmonia em 2007 na Porto da Pedra, em 2008 integrou a comissão de carnaval
da Unidos do Viradouro, em 2010 integrou a Comissão de Carnaval da Unidos de Vila Isabel,
retorna a Unidos do Porto da Pedra na função de Diretor de Carnaval para o carnaval de 2011. Para
o próximo carnaval reassume a função de Diretor Geral de Harmonia neste retorno ao Tigre de São
Gonçalo com a missão de buscar as notas máximas para o quesito, com vasta experiência na função,
tem se reunido com o seguimento semanalmente, mostrando vídeos de desfiles anteriores para
dividir a experiência com seus comentados, realizado workshops para capacitar os mais novos no
seguimento.

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FICHA TÉCNICA

Evolução

Diretor Geral de Evolução


Amauri de Oliveira
Outros Diretores de Evolução
Luiz Borges e Ivan Brasil
Total de Componentes da Direção de Evolução
80 Componentes (50 homens e 30 Mulheres)
Principais Passistas Femininos
Carol Portugal
Carol Andrade
Flávia Aguiar
Isabela Santos
Alessandra
Tainá Souza
Principais Passistas Masculinos
João Victor
Roberto Rodrigues
João Fernandes
Pablo Diego
Renato Metello
Outras informações julgadas necessárias

Gil Pinheiro – Diretor da Ala de Passistas

Gil Pinheiro é passista desde 2003 na unidos do Porto da pedra e em 2009, numa votação unânime,
é eleito coordenador da ala que dirige até os dias atuais. Seu trabalho é focado em apresentar um
conjunto de passistas leve, alegre e elegante para os apreciadores do desfile do G.R.E.S. Unidos do
Porto da Pedra. Um trabalho realizado de forma séria e com excelência, reconhecido por diversos
prêmios do carnaval, sendo valido salientar que, atualmente, a ala de passistas da agremiação é
considerada a maior em quantidade de componentes em todo carnaval do Rio de Janeiro, o que é
motivo de orgulho para ala e para toda agremiação.

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FICHA TÉCNICA

Informações Complementares

Vice-Presidente de Carnaval
X
Diretor Geral de Carnaval
Aluízio Mendonça
Outros Diretores de Carnaval
X
Responsável pela Ala das Crianças
X
Total de Componentes da Quantidade de Meninas Quantidade de Meninos
Ala das Crianças
X X X
Responsável pela Ala das Baianas
Lindalva Rozendo de Mendonça
Total de Componentes da Baiana mais Idosa Baiana mais Jovem
Ala das Baianas (Nome e Idade) (Nome e Idade)
70 Componentes Maria Luiza de Carvalho (88 Lilian Alves Romanel (41
Anos) Anos)
Responsável pela Velha-Guarda
Maria Adalia de Mesquita
Total de Componentes da Componente mais Idoso Componente mais Jovem
Velha-Guarda (Nome e Idade) (Nome e Idade)
13 Componentes Nilce Pinto Silva (83 Anos) Eubert Vinícius Dionísio
Marins (58 Anos)
Pessoas Notáveis que desfilam na Agremiação (Artistas, Esportistas, Políticos, etc.)

Giovana Cordeiro – Atriz brasileira, interpretou as personagens Xaviera Buckminster na novela


“Mar do Sertão” e Nina no filme “Carnaval”. A carioca de 27 anos está em destaque com a
personagem Luna da novela “Fuzuê” da Rede Globo, e agora, se apresenta como musa do G.R.E.S.
Unidos do Porto da Pedra.

Valesca Popozuda – Cantora e dançarina brasileira, foi vocalista da “Gaiola das Popozudas” e
desde 2012 segue carreira solo. Considerada a “Rainha do Funk Carioca”, Valesca foi Rainha de
Bateria do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra nos anos de 2009 e 2010, e agora, retorna como musa
da agremiação.

Antônio Nóbrega – Ator, dançarino e pesquisador das manifestações culturais brasileiras. O


Pernambucano que integrou o “Quinteto Armorial” como violinista e em 2002 cria o espetáculo
“Lunário Perpétuo”. Antônio é o grande homenageado e está presente na última alegoria com sua
família.

Rosane Almeida – Atriz, dançarina e coordenadora do projeto Brincante. Esposa de Antônio


Nóbrega estará presente junto de sua família na última alegoria.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Informações Complementares

Pessoas Notáveis que desfilam na Agremiação (Artistas, Esportistas, Políticos, etc.)

Na alegoria 06 estarão presentes os filhos de Antônio Nóbrega, e também, convidados que fizeram
parte da sua trajetória de vida artística desde o Movimento Armorial.

Outras informações julgadas necessárias

Aluízio Mendonça, 68 anos, iniciou suas atividades na Agremiação como componente de ala no
ano de 1995. Em 2000 foi convidado para fazer parte do corpo de harmonias da Escola, no ano de
2007 tornou se chefe de setor. Mais adiante em 2009 passou a ser Diretor de Alegorias. No ano de
2012 foi convidado para o cargo de diretor geral de harmonia e em 2013 deixou a função, porém
continuou a integrar o quadro de harmonia da Porto da Pedra. Ainda compondo o grupo de harmonia
passa a ser o responsável pelas curvas realizadas pelos carros da Agremiação no ano de 2015.

Em 2018 é convidado pela presidência a ser Diretor de Carnaval. No de 2019 participa da Comissão
de Harmonia. E no ano de 2022, volta exercer a função de Diretor de Carnaval, agregando a função
de Diretor de Barracão.

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FICHA TÉCNICA

Comissão de Frente

Responsável pela Comissão de Frente


Júnior Scapin
Coreógrafo(a) e Diretor(a)
Júnior Scapin (Coreógrafo) e Veronica Valle (Diretora Artística)
Total de Componentes da Componentes Femininos Componentes Masculinos
Comissão de Frente
15 Componentes X 15 Componentes
Outras informações julgadas necessárias

A BUSCA INCESSANTE DO SABER!


A Comissão de Frente do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra traz para avenida os alquimistas!
Pensadores, filósofos, sábios, inventores… Seres inspirados pela luz da lua, que os guia, olhando
para o céu buscando respostas. São eles que leem as constelações, mapeiam os astros e os saberes
mais profundos. Profetas do maravilhoso que nos permitem transcender ao fantástico. São matéria
e ideia, manipulam os elementos e reinventam a vida das coisas! Viram o mundo de cabeça para
baixo, projetam o avesso a propor novos olhares.

Chegam nesta passarela trazendo a visão de um mundo antigo onde a ciência e a imaginação se
moldaram através da busca de novos saberes! Neste “lugar do passado” encontram o direcionamento
para o futuro. É o saber que nos molda, nos empodera e faz o mundo caber na palma da mão! Eu,
você, nós somos como eles: Seres pensantes a reinventar as coisas! Consultando o Lunário Perpétuo,
guardião do conhecimento, conselheiro imortal. Traçando destinos, encontrando novos saberes,
manifestando o saber do povo para o povo.

E aconselha o Lunário aos alquimistas e quem mais quiser saber: No dia 11 de Fevereiro de 2024
passado e presente se conectam, é o momento auspicioso onde tudo é possível. O prognóstico em
noite de lua crescente é de um tempo bom que vem para ficar! E para quem acredita nesta busca
incessante: O saber liberta!

Esta imagem serve como referencial Artístico do Elemento Cênico da Comissão de Frente

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Comissão de Frente

Outras informações julgadas necessárias

Elemento Cênico: Em Algum Lugar do Passado

O elemento cênico da Comissão de Frente é intitulado “Em Algum Lugar do Passado”. Este
elemento ilustra alegoricamente o cenário onde é desenvolvida parte da coreografia de avanço, e
também, onde será apresentada a coreografia principal ao corpo de jurados para avaliação do
quesito.

Perfil dos Responsáveis / Comissão de Frente

Junior Scapin (Coreógrafo)

Atualmente é coreógrafo do show do Criança Esperança (2021/2022/2023), do Prêmio Multishow


de Música (2022/2023), do programa Vem Que Tem Na Globo (2022/2023), da turnê do show
Ícarus do Rapper BK, da mensagem de fim de ano da Tv Globo (2023) e da novela Guerreiros do
Sol - Tv Globo/Globoplay (2023/2024).

Veronica Valle (Diretora Artística)

Diretora de Criação, designer, cenógrafa. Mestranda em Artes Visuais, Imagem e Cultura pela
UFRJ, Veronica Valle possui pós-graduação em Design de Interiores e graduação em Desenho
Industrial pela UFRJ.

Atualmente é sócia-proprietária na empresa DNA Design do Novo, onde atua na conceituação


visual e artística para musicais e espetáculos de teatro e televisão. Como Diretora de Arte da TV
Globo, foi responsável pela concepção artística e cenografia de algumas edições do programa
Criança Esperança e Roberto Carlos Especial Final de Ano. Desenvolve projetos conceituais e
artísticos para Escolas de Samba do Rio de Janeiro como Mangueira, Viradouro, Imperatriz
Leopoldinense e Império Serrano. Desenvolve o conceito de marca, arquitetura e Design para
empresas e eventos e destacamos a JMJ 2014 e o “Tour da Tocha” para as Olimpíadas do Rio 2016.
Pelo reconhecimento do seu trabalho, recebeu indicação para o Prêmio Shell como melhor
Cenografia pela peça Constelações, recebeu o prêmio Casa Cláudia para os melhores espaços
corporativos e de melhor Identidade Visual na Bienal de Design.

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FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

1º Mestre-Sala Idade
Rodrigo França 30 Anos
1ª Porta-Bandeira Idade
Denadir Garcia 42 Anos
2º Mestre-Sala Idade
Johny Matos 33 Anos
2ª Porta-Bandeira Idade
Pietra Brum 15 Anos
3º Mestre-Sala Idade
Pedro Figueiredo 30 Anos
3ª Porta-Bandeira Idade
Joyce Santos 22 Anos
Outras informações julgadas necessárias

Fantasia do 1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Mistério Supralunar


O que representa:

O conjunto de indumentárias do 1º Casal do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra se chama


“Mistério Supralunar” representando os estudos dos alquimistas sobre a lua e os mistérios que
envolviam o grande satélite natural.

“Olhe pro céu onde a lua vagueia...” lá estão mistérios que poucos conhecem. Segundo registros
dos estudos realizados por alquimistas a influência da Lua sobre os seres vivos guarda saberes
ocultos. Para além das dimensões visíveis do satélite natural, exististe um reino celeste onde seria
guardado o 5º elemento – além de terra, água, fogo e ar – chamado “sopro da vida” ou
“quintessência” que seria a composição final para se atingir a vida eterna.

Apresentamos o “Mistério Supralunar”, o 1º Mestre-Sala Rodrigo França vestido de “Alquimista”


baila ao lado da 1ª Porta-Bandeira Denadir Garcia vestida de “Majestosa Lua” representando todo
o fascínio destes mestres da sabedoria pela grande esfera luminosa que baila no infinito e é
considerada guardiã dos mistérios ocultos da vida eterna.

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FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Outras informações julgadas necessárias

Perfil do 1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Rodrigo França

Iniciou como mestre-sala no G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra no ano de 2002 no projeto de
mestre-sala e porta-bandeira. Em 2006 é empossado como 3º mestre-sala da agremiação, sendo
elevado de posto de segundo mestre-sala do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra. Entre os anos de
2012 e 2017 foi o segundo mestre-sala da União da Ilha do Governador.

No Carnaval de 2018 passa a ser o primeiro mestre-sala do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra,
cargo que, com elegância e maestria, exerceu ao lado das porta-bandeiras Cynthia Santos e Laryssa
Victória atingindo as notas máximas, e para o Carnaval 2024, realiza a sua estreia como primeiro
mestre-sala do Grupo Especial ao lado da experiente e elegante porta-bandeira Denadir Garcia.

Denadir Garcia

Iniciou como porta bandeira na Mocidade Independente de Padre Miguel permanecendo na


agremiação por 8 anos. fui da ala de Mestre Sala e Porta Bandeira e depois de 3 anos na ala passei
a ser segunda porta bandeira. Após um tempo sem dançar retornou após vencer um concurso da
Caprichoso de Pilares onde foi empossada segunda porta-bandeira por 4 anos, nos 2 últimos passa
a ser primeira porta-bandeira da Renascer de Jacarepaguá onde permaneceu por 6 anos.

Após sua saída da Renascer, retorna a Caprichosos para ser primeira porta-bandeira. Em 2011 faz
sua estreia no Grupo Especial sendo a primeira porta-bandeira do G.R.E.S. Unidos do Porto da
Pedra ao lado do mestre-sala Diego Falcão. Em 2012 inicia um período de 6 anos como primeira-
porta bandeira da São Clemente, logo após passa 3 anos como primeira porta-bandeira da Unidos
de Vila Isabel.

Nos anos de 2022 e 2023 defendeu o primeiro pavilhão da Unidos da Tijuca, e para o Carnaval
2024, a experiente porta-bandeira completa 33 anos de bailado magistral na Marquês de Sapucaí
com a alegria de retornar a ostentar o pavilhão oficial do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra agora
ao lado do mestre-sala Rodrigo França.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Outras informações julgadas necessárias

Perfil da Apresentadora do 1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Stela Maris Araújo Sant’Ana

É bailarina e professora formada em Educação Física e Pós-graduada em Musculação e


Treinamento de Força, ambas pela Universidade Gama Filho. Na sua formação continuada tem
entre outros cursos CORE 360° - Fundamentos do treinamento funcional. Especializou-se com a
professora e coreógrafa Regina Sauer em Modern Jazz e nas técnicas de dança Moderna Lester
Horton e Marta Graham. Fez aulas no Alvin Ailey American Dance Center, Space Dance e Step em
Nova Iorque. Fez vários trabalhos na TV e no carnaval carioca.

No carnaval destaca-se o trabalho como bailarina na Comissão de Frente do G.R.E.S Grande Rio
2000, Imperatriz Leopoldinense 2010 e São Clemente 2014. Além de Assistente Coreográfico do
casal Mestre Sala e Porta Bandeira do G.R.E.S Acadêmicos do Grande Rio 2016, do G.R.E.S
Unidos de Vila Isabel em 2018, coreógrafa G.R.E.S Paraíso do Tuiuti 2016, G.R.E.S Renascer de
Jacarepaguá 2020 e G.R.E.S São Clemente 2022. No carnaval do município de Niterói coreografou
a comissão de frente G.R.E.S Magnólia Brasil nos anos 2020, 2022 e 2023, sendo neste último ano
contemplado como melhor comissão de frente pelo Prêmio Radar Niterói.

É bailarina na Cia Nós da Dança desde 2000, com ela esteve em inúmeros eventos como o V, VII,
XIII e XXIV Festival Internacional de Dança de Miami, Rock in Rio 2017 e dançou “Cirandas
Cirandinhas”; “Místico”; “Violência e paixão; “Telas”; “Bossa Nossa”; “Tempo”; “Autorretrato”,
“Maria”, “Diários de uma pandemia”, “Miltons do Brasil”, “Nós da Dança – 40 anos em
movimento” e “Tempo de nós”. Em 2019 funda o Cinesia Grupo de Dança, em que os artistas que
o integram dançam juntos há mais de 15 anos, com inúmeras coreografias compartilhadas em cena
no município de Niterói e em festivais de dança neste município e em outras localidades.

Em 2019 foi proponente do projeto “SERUMANO” contemplado no Edital da Fundação de Artes


de Niterói. Em 2022 inicia a direção e produção do espetáculo “Elas um Elo” em formato pocket
para ser apresentado em escolas da rede pública de 5 municípios do interior do Rio de Janeiro na
Semana Nacional de Ciência e Tecnologia da Faculdade de Formação de Professores da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro –FFP/UERJ, com apoio financeiro a Chamada
CNPq/MCTI/FNDCT Nº 05/2022 – Processo 404628/2022.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Outras informações julgadas necessárias

Fantasia do 2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Reinado Armorial

O que representa:

A indumentária do 2º Casal do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra se chama “Reinado Armorial”


representando a inspiração nos elementos medievais para a formação da iconografia do
“Movimento Armorial”.

Foi Ariano Suassuna, na década de 1970, o responsável pela formulação do “Movimento Armorial”,
que, em seu manifesto, criava uma nova arte erudita brasileira a partir de elementos visuais e
musicais que envolviam os folguedos populares nordestinos. Era uma verdadeira revolução nas
artes, e na literatura, muitas obras tomaram como inspiração as figuras celebres de monarquias
ibéricas para criarem romances e outras histórias que nasceram do Armorial e se consagraram na
literatura brasileira.

Apresentamos o “Reinado Armorial”, o 2º Mestre-Sala Johny Matos vestido de “Rei Armorial”


dança ao lado da 2ª Porta-Bandeira Pietra Brum vestida de “Rainha Armorial” representando a
inspiração nas histórias e figuras importantes das monarquias medievais que geram produções
literárias como “A Pedra do Reino” e o “O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão”.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Outras informações julgadas necessárias

Perfil do 2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Johny Matos

Começou no projeto da Independente da Praça da Bandeira em 2006, depois foi convidado a fazer
parte da ala de casais de mestre sala e porta bandeira da Acadêmicos do Grande Rio em 2009. Na
Unidos da Ponte ocupou o cargo de primeiro mestre-sala e chega na Porto da Pedra em 2017 onde
permanece por três carnavais. Após esse período recebe o convite da Em Cima da Hora para ocupar
o cargo de primeiro mestre onde permanece por dois carnavais. Em 2023 retorna para Unidos do
Porto da Pedra para ser o segundo mestre-sala no Carnaval 2024.

Pietra Brum

Iniciou sua carreira aos 4 anos de idade dançando em casa com ensinamentos básicos que foram
passados para ela. Aos 5 anos iniciou no projeto Manoel Dionísio após passar em um teste seletivo.
Daí em diante eu nunca mais parou de dançar. Em 2014 (ainda com 6 anos) teve a oportunidade de
desfilar na Porto da Pedra. Passou por escolas de São Gonçalo, Niterói e escolas Mirins. Em 2019
assumiu o posto de 3ª porta bandeira na Porto da Pedra. No ano seguinte (2020) teve a honra de ser
elevada ao posto de 2ª porta bandeira, cargo que permaneceu durante 3 anos. Em 2023 assumiu o
cargo de 1ª porta bandeira no Jardim Bangu, e retorno agora, com 15 anos, para o Carnaval de 2024
como 2ª porta-bandeira do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024
FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Outras informações julgadas necessárias

Fantasia do 3º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: O Romance de Riobaldo e Diadorim

O que representa:

A indumentária do 3º Casal do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra se chama “O Romance de


Riobaldo e Diadorim” representando a canção “O Romance de Riobaldo e Diadorim” do espetáculo
Lunário Perpétuo.

Em 2002 o multiartista Antônio Nóbrega lança o espetáculo que toma como base a mesma ideia
que fez surgir livreto Lunário Perpétuo: compilar saberes. Por sua vez, Antônio, ao produzir o seu
espetáculo, busca nas diversas manifestações artísticas brasileiras a inspiração para a criação ao
lado de seus parceiros. Da obra de Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, é que surge a
inspiração para a criação da canção “O Romance de Riobaldo e Diadorim” que narra a relação dos
dois personagens que vivem um amor reprimido que só se revela diante da morte de Diadorim.

Apresentamos “O Romance de Riobaldo e Diadorim”, o 3º Mestre-Sala Pedro Figueiredo vestido


de “Riobaldo” dança com a 3ª Porta-Bandeira Joyce Santos vestida de “Diadorim” representando
os dois personagens que protagonizam a história escrita por Guimarães Rosa e a canção de Wilson
Freire e Antônio Nóbrega. Diadorim se passa por homem para entrar para o cangaço buscando
vingança pela morte de seu pai Joca Ramiro. Riobaldo se torna seu grande amigo, e achando que
Diadorim era homem, não entende a estranha atração amorosa que sentia. O mistério só é revelado
quando Diadorim enfrenta Hermógenes, e ambos terminam de feridos mortalmente, antes do último
suspiro Riobaldo descobre a verdade e se declara para o amor de sua vida.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Outras informações julgadas necessárias

Perfil do 3º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Pedro Figueiredo

Iniciou sua carreira como mestre-sala mirim do G.R.E.S. Arranco do Engenho de Dentro. Defendeu
os pavilhões de diversas escolas do Rio de Janeiro, entre eles: Império Serrano, Em Cima da Hora
e União de Jacarepaguá. É fundador do Grupo Nobres Casais e instrutor de mestres-salas no projeto
Bailado dos Guerreiros. Em 2021, passou a integrar o quadro de casais do Tigre de São Gonçalo.
Em 2024, vai para seu 3º desfile pela Unidos do Porto da Pedra.

Joyce Santos

Começou a dançar com 3 anos no ano de 2004, e sempre sonhou em defender o pavilhão da escola
de sua cidade. Tem passagem pelas coirmãs Cubango como segunda porta-bandeira em 2018, como
terceira porta-bandeira em 2022 e pela Viradouro de 2019 a 2022 como instrutora do projeto da
escola. Seguindo uma trajetória em diversas escolas no carnaval de Niterói, em 2023 tem a honra
de defender pavilhões renomados como o da Lins Imperial sendo segunda porta-bandeira e União
do Parque Curicica como primeira porta-bandeira. Também tem passagem por outras escolas dentro
e fora do carnaval do Rio de Janeiro, e no Carnaval de 2024, será a terceira porta-bandeira da Unidos
do Porto da Pedra.

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G.R.E.S.
BEIJA-FLOR
DE NILÓPOLIS

PRESIDENTE
Almir Reis

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Um delírio de Carnaval na
Maceió de Rás Gonguila

CARNAVALESCO
João Vitor Araújo
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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Enredo
Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila
Carnavalesco
João Vitor Araújo
Autor(es) do Enredo
João Vitor Araújo
Autor(es) da Sinopse do Enredo
Rodrigo Hilário
Elaborador(es) do Roteiro do Desfile
João Vitor Araújo e Rodrigo Hilário
Ano da Páginas
Livro Autor Editora
Edição Consultadas
01 Alagoas Popular – Cármen Lúcia Instituto Arnon 2012 Todas
Folguedos e Dantas e Douglas de Mello
danças da nossa Apratto Tenório (Maceió)
gente

02 Aspectos do E. Salles Cunha Spiker (Rio de 1956 Todas


folclore de Janeiro)
Alagoas e outros
assuntos

03 Cultura Popular José Maria Tenório SECULT 1985 Todas


Rocha (Maceió)

04 Dicionário do Luís da Câmara Global Editora 2012 Todas


Folclore Brasileiro Cascudo (São Paulo)
(12ª edição)

05 Escravidão – Laurentino Gomes Globo Livros 2019 Todas


Volume 1: Do (Rio de Janeiro)
primeiro leilão de
cativos em
Portugal até a
morte de Zumbi
dos Palmares

06 Etnias indígenas Adriana Cirqueira IFAL (Maceió) 2020 Todas


alagoanas

07 Folclore de Theo Brandão Casa Ramalho 1949 Todas


Alagoas (Maceió)
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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

08 Folclore negro das Abelardo Duarte EDUFAL 1974 Todas


Alagoas (Maceió)

09 Folguedos José Maria Tenório SENEC 1979 Todas


carnavalescos de Rocha (Maceió)
Alagoas

10 Folguedos e José Maria Tenório SECA (Maceió) 1984 Todas


danças de Alagoas Rocha

11 Folguedos Theo Brandão Museu Theo 2003 Todas


Natalinos (3ª Brandão/UFAL
edição) (Maceió)

12 História Geral da Autores diversos UNESCO, MEC 2010 Todas


África – Volumes e UFSCar
3a7

13 Liberdade por um João José Reis e Companhia das 1996 Todas


fio - História dos Flávio dos Santos Letras (São
Quilombos no Gomes Paulo)
Brasil

14 Maravilhosa e Aydano André Verso Brasil 2012 Todas


soberana: Histórias Motta (Rio de Janeiro)
da Beija-Flor

15 O Brasil É Um Stella Villares CBPC (Rio de 2008 Todas


Luxo – Trinta Guimarães e outros Janeiro)
Carnavais de
Joãosinho Trinta

16 O corpo encantado Luiz Antonio Civilização 2019 Todas


das ruas Simas Brasileira (Rio
de Janeiro)

17 O folk-lore negro Arthur Ramos Civilização 1935 Todas


do Brasil Brasileira (Rio
de Janeiro)

18 O quilombismo – Abdias Perspectiva (São 2019 Todas


Documentos de Nascimento Paulo)
uma militância
Pan-Africanista

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

19 O quilombo dos Edison Carneiro Companhia 1958 Todas


Palmares (2ª Editora Nacional
Edição) (São Paulo)

20 Palmares: Flávio dos Santos Contexto (São 2014 Todas


Escravidão e Gomes Paulo)
liberdade no
Atlântico Sul (2ª
edição)

21 Pra tudo começar Fábio Fabato e Mórula (Rio de 2015 Todas


na quinta-feira: o Luiz Antonio Janeiro)
enredo dos enredos Simas

Outras informações julgadas necessárias

Textos acadêmicos consultados (teses, dissertações e artigos):

A família Beija-Flor. Autor: Luiz Anselmo Bezerra. Dissertação de Mestrado/História/UFF.


Niterói, 2010. Disponível em: https://tinyurl.com/2pavn85k

A perseverança e o silêncio: Ensaio sobre a disjunção nas narrativas sobre religiões afro-
brasileiras em Maceió. Autor: Paulo Victor de Oliveira. Dissertação de
Mestrado/Sociologia/UFAL. Maceió, 2019. Disponível em: https://tinyurl.com/4kntpp39

Sob a "sombra" de Palmares: escravidão, memória e resistência na Alagoas oitocentista. Autor:


Danilo Luiz Marques. Tese de Doutorado/História Social/PUC-SP. São Paulo, 2018. Disponível
em: https://tinyurl.com/bdexhdav

Tem, mas tá faltando: gestos interpretativos sobre turismo e carnaval de rua na cidade de
Maceió. Autor: Ernani Viana da Silva Neto. Dissertação de Mestrado/Turismo/UCS. Caxias do
Sul, 2014. Disponível em: https://tinyurl.com/3bfhah3b

Sites consultados:

A coroação de Sua Majestade Imperial Haile Selassie. National Geographic (02/11/1930).


Disponível em: https://tinyurl.com/3h2hd5mt

Dezenove horas de comemoração por dia cansam diplomatas, não Haile Selassie (tradução
livre). The New York Times (07/11/1930). Original em inglês disponível em:
https://tinyurl.com/vzeuhza5

Os antigos Carnavais de Maceió. Autor: Edberto Ticianeli. História de Alagoas, 2017. Disponível
em: https://tinyurl.com/y2dptsrb

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Rás Gonguila, o príncipe etíope dos carnavais alagoanos. Autor: Edberto Ticianeli. História de
Alagoas, 2020. Disponível em: https://tinyurl.com/muyk3h8c
História de Alagoas. https://www.historiadealagoas.com.br/

Bairros de Maceió. https://bairrosdemaceio.net/

Filmes, documentários e podcasts:

Arquivo confidencial #41: Haile Selassie. Canal História e Tu/Youtube. Disponível em:
https://tinyurl.com/ycxz4uf3

Coroação da Majestade Haile Selassie e Menen Asfaw. Canal Ethiopian South America/Youtube.
Disponível em: https://tinyurl.com/5e6zd9st

Orí. Documentário com roteiro de Maria Beatriz Nascimento e direção de Raquel Gerber (1989).
Disponível em: https://tinyurl.com/e8wmd7ud

Entrevistas:

Realizadas de modo virtual e presencial, em Alagoas e no Rio de Janeiro, entre os meses de


março e abril de 2023:

- Benedito dos Santos Filho (filho de Rás Gonguila);


- Lienete Marques do Nascimento e Silviany Domingues do Nascimento (sobrinha e sobrinha-
neta de Rás Gonguila);
- Mestres e mestras do Folclore Alagoano: Ana Alves Ferreira (Pastoril Recordar é
Viver/Maceió), Ana Paula Rocha Lins (Taieiras Nair da Bertina/São Miguel dos Campos e
Maceió), Edivar Vicente Feitosa (Guerreiro São Pedro Alagoano/Maceió) e Lucimar Alves da
Costa (Chegança Silva Jardim/Coqueiro Seco);
- Cármen Lúcia Dantas (museóloga);
- Edson Moreira (professor e referência nos estudos sobre presença e resistência negra em
Alagoas);
- Edberto Ticianeli (jornalista e pesquisador);
- Katiúscia Ribeiro (mestra e doutoranda em Filosofia Africana pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro);
- João Victor Lemos Viana (jornalista, pesquisador, brincante e presidente da Federação das
Organizações da Cultura Popular e do Artesanato Alagoano/Focuarte);
- Lucineide Barbosa (artesã e integrante da Focuarte);
- Josefina Medeiros Novaes (Associação dos Folguedos Populares de Alagoas/Asfopal);
- Hildenia Oliveira (museóloga);
- Victor Sarmento (museólogo).

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Perfil do Carnavalesco:

João Vitor Araújo nem tinha completado 14 anos quando viu um desfile de escola de samba ao vivo
pela primeira vez. Em sua estreia na Marquês de Sapucaí, no Carnaval de 1999, foi arrebatado por
uma certa agremiação azul e branca de Nilópolis, que trouxe para a avenida o aclamado desfile
sobre a cidade mineira de Araxá, com um samba antológico. Encantado com o luxo e o rodopio
frenético da ala das Baianinhas, aquele garoto mal sabia que, 25 anos mais tarde, seria ele o artista
responsável pelo desfile da Beija-Flor.

Carnavalesco e figurinista, João Vitor nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de março de 1985.


Apaixonou-se pelo Carnaval ainda na infância, quando morava com a família na Ilha do
Governador. Na adolescência, começou a frequentar a quadra da escola tricolor insulana, a União
da Ilha do Governador, onde foi componente e ajudante de ateliê de fantasias. Formou-se em design
gráfico pelo Senac e estudou design de moda no Senai/Cetiqt (Centro de Tecnologia da Indústria
Química e Têxtil).

No final do ano 2000, começou a trabalhar como aderecista na Portela, nos preparativos para o
Carnaval de 2001, sob o comando de Alexandre Louzada. Depois, João Vitor passou cinco anos na
Estação Primeira de Mangueira como aderecista e depois chefe de adereços com Max Lopes (1949-
2023). Em 2006, trabalhou na Unidos do Viradouro com Paulo Barros. Também trabalhou como
figurinista e assistente dos carnavalescos Fábio Ricardo, Luis Carlos Bruno e Edson Pereira.

Em 2014, no seu primeiro trabalho solo como carnavalesco, foi campeão da Série A, levando a
Unidos do Viradouro de volta ao Grupo Especial. Em 2015, permaneceu na vermelho e branca de
Niterói e estreou na principal divisão do Carnaval do Rio. Foi também neste ano que teve sua
primeira (e única) experiência fora do carnaval carioca, na escola Novo Império, de Vitória/Espírito
Santo.

Em 2017, assinou os desfiles de duas escolas: a Acadêmicos da Rocinha e a Unidos do Cabuçu,


com enredos em homenagem ao carnavalesco Viriato Ferreira (1930-1992), que integrou a equipe
de Joãosinho Trinta (1933-2011) na Beija-Flor, e ao cantor e instrumentista Dominguinhos (1941-
2013), respectivamente. Nos dois anos seguintes, foi carnavalesco da Unidos de Padre Miguel, com
trabalhos sobre a encantaria da ilha amazonense de Parintins, em 2018, e o escritor Dias Gomes
(1922-1999), em 2019.

Único carnavalesco negro a assinar um desfile no Grupo Especial em 2020, João Vitor desenvolveu
no Paraíso do Tuiuti um enredo sobre dois Sebastiões, o santo e o rei de Portugal. Após a pandemia,
assinou em 2022 o carnaval da Acadêmicos do Cubango, com uma homenagem à atriz Chica Xavier
(1932-2020).

De volta ao Grupo Especial, João Vitor dividiu o barracão em 2023 com a multicampeã Rosa
Magalhães, que assinou seu primeiro carnaval em 1974, na Beija-Flor. Após um desfile aclamado
pela crítica, que conquistou vários prêmios, incluindo quatro Estandartes de Ouro, considerado o
principal do Carnaval carioca, João Vitor Araújo assinou com a Beija-Flor de Nilópolis para o
Carnaval de 2024.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Perfil do Pesquisador:

Formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, Rodrigo Hilário possui pós-
graduação em Cenografia e Figurino pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e
especialização em roteiro e documentário pela Academia Internacional de Cinema. Atua desde 1999
na área de comunicação, como consultor, repórter, editor e produtor.

Nasceu em Sobradinho, Sertão da Bahia, em 13 de janeiro de 1978. Aos 2 anos, foi morar com a
família em Caruaru, no Agreste de Pernambuco. Filho de mãe carioca da Penha, herdou a paixão
pelo Carnaval do avô materno, um sapateiro que migrou para o Rio de Janeiro no início dos anos
1950, se apaixonou pelas escolas em 1954 e passou a frequentar os sambas em Madureira e no
Morro da Mangueira.

Seu trabalho "Processo criativo nas escolas de samba: a relação entre carnavalescos e artesãos",
elaborado para a conclusão da pós-graduação, foi selecionado para o 1º Congresso Nacional e
Internacional Vozes do Carnaval, realizado pela Universidade Nacional da Colômbia em 2017.

No Carnaval do Rio, integrou o corpo de jurados da Série A em 2016 e foi pesquisador dos enredos
do Império da Tijuca em 2017 (sobre São João Batista) e 2024 (sobre a cantora pernambucana Lia
de Itamaracá). Em 2023, foi convidado pela Beija-Flor de Nilópolis para desenvolver a pesquisa do
enredo da escola para o Carnaval 2024.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

HISTÓRICO DO ENREDO
Uma epopeia delirante

Para contar como surgiu o enredo da Beija-Flor de Nilópolis para o Carnaval 2024, é preciso voltar
um pouco no tempo. Após a pandemia de covid-19, que tirou a vida de muitos sambistas e
trabalhadores de diversas escolas de samba, riscou um Carnaval do calendário (2021) e adiou outro
(2022), a Beija-Flor trouxe para a Marquês de Sapucaí dois enredos contundentes, que tinham como
proposta provocar uma reflexão profunda no componente e no público.

Em 2022, naquele que ficou conhecido como o Carnaval de Abril, a escola cantou "Empretecer o
pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor", exaltando a intelectualidade preta como antídoto contra o
racismo. O resultado foi um vice-campeonato marcado na memória nilopolitana pela ousadia plástica
e versos como "Nada menos que respeito, não me venha sufocar / Quantas dores, quantas vidas nós
teremos que pagar?".

Em 2023, com "Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência", a Beija-Flor
recontou, a partir dos 200 anos da Independência da Bahia, as lutas contra a opressão, o descaso e a
desigualdade. Pujante, o samba dizia: "A revolução começa agora / Pela Mátria soberana, eis o povo
no poder". O desfile ficou em quarto lugar e rendeu o Estandarte de Ouro de Melhor Escola, algo que
não acontecia desde 2007.

Para 2024, a Deusa da Passarela tinha um desejo: trazer para a avenida um enredo que fosse ao mesmo
festivo e culturalmente denso, mantendo a tradição da escola de contar histórias relevantes da cultura
popular brasileira. Um mergulho em livros e textos variados (reportagens, ensaios e artigos
acadêmicos) indicou algumas possibilidades de enredos sobre Maceió – a cidade de cenários naturais
deslumbrantes e repleta de tradições populares que sintetizam a riqueza e a diversidade cultural de
Alagoas.

A descoberta do personagem que inspirou o enredo, com suas características de epopeia delirante, foi
como a faísca que acende o rastilho. A jornada de Benedito dos Santos, menino pobre e engraxate,
conhecido pelo apelido de Gonguila e folião inveterado, era por si só algo extraordinário e fascinante.
Que figura incrível este homem que inventou um parentesco com o imperador da Etiópia, acrescentou
o Rás ao apelido de infância e brilhou nos carnavais de rua da Maceió dos anos 1920-1930. Se fosse
vivo, Gonguila seria influencer, tamanha a importância dele para a cultura e a sociedade local da
época, a ponto de ser paparicado pela elite política em tempos de eleição.

Quando, ainda em tom de segredo, o pesquisador contou sobre a descoberta do personagem, o


carnavalesco arregalou os olhos e sacramentou: "Vamos contar a história deste homem!" Além da
excêntrica história do príncipe etíope de Maceió, havia também a necessidade de entender e
dimensionar o caldeirão de folguedos que faz a cultura popular alagoana ferver.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Para isso, foram essenciais as entrevistas realizadas entre março e abril de 2023 com estudiosos da
história e da cultura popular de Alagoas, que não se furtaram em compartilhar seus conhecimentos na
primeira etapa do trabalho de pesquisa: a museóloga Cármen Lúcia Dantas, o professor Edson
Moreira, o jornalista e pesquisador Edberto Ticianeli, a professora e pesquisadora Josefina Medeiros
Novaes e o jornalista João Victor Lemos Viana.

Faltava, ainda, conhecer o lugar onde viveu Gonguila, criador de uma saga incrível e inusitada,
fantasiosa e divertida, mas desconhecida para a maior parte dos maceioenses. Em abril, a equipe de
pesquisa foi até Maceió para esmiuçar os folguedos e a história do Rás Alagoano. A escola contou
com o apoio e a generosidade da Federação das Organizações da Cultura Popular e do Artesanato
Alagoano (Focuarte), organização não-governamental dedicada a mapear, resgatar e proteger a
identidade cultural do estado.

Por uma semana, o grupo liderado pelo carnavalesco João Vitor Araújo andou pelas ruas da bela
capital alagoana, sofreu com o calor e se encantou com o mar; conversou com pesquisadores,
jornalistas, antropólogos, museólogos e gestores públicos; assistiu a diversas apresentações folclóricas
realizadas em Maceió e cidades vizinhas; e se encontrou com dezenas de artesãos, mestres e brincantes
de folguedos populares.

Em uma noite, durante reunião organizada pelo Focuarte com mais de 20 artesãos e brincantes de
folguedos, a fotógrafa Ducy Lima, saudosa dos desfiles do bloco de carnaval favorito de sua infância,
que há muitos anos não saía mais pelas ruas, trouxe algo que a equipe buscava, mas ainda não havia
encontrado: a possibilidade de conhecer parentes de Gonguila. O depoimento inesperado da brincante
era o elo que faltava entre a pesquisa no papel e o personagem de carne e osso.

No dia seguinte, numa tarde de calor, a Beija-Flor bateu à porta de Dona Lienete, 78 anos, sobrinha
de Gonguila, na mesma casa onde ele morava quando faleceu, em 1968. Desconfiadas no começo –
"Como assim, a Beija-Flor? A escola de samba?" –, ela e a filha, Silviany Domingues, aos poucos
foram se abrindo. Contaram histórias da família e do Rás. Por elas, descobrimos que Gonguila tem
dois filhos vivos: um se chama Osvaldo e o outro, Benedito, como o pai.

Dona Lienete e Silviany, sentadas nas cadeiras na calçada em frente à casa da família, materializaram
o folião delirante que seria a inspiração do nosso enredo. Tudo estava completo. Não demorou muito
para que João Vitor, com a sensibilidade de quem vive os bastidores das escolas de samba há mais de
20 anos, criasse todo arco narrativo do enredo, com suas características de epopeia delirante, e
começasse o processo de desenhar fantasias e alegorias, concluído entre julho e agosto.

Olhando pelo retrovisor, percebe-se que o enredo da Beija-Flor para 2024 está interligado com os dois
anteriores: no Empretecer, o letramento racial como arma contra o racismo; no Brava Gente, o povo
como real libertador do país; e no Rás Gonguila, a epopeia de um homem preto, pobre e analfabeto
que decide mudar o próprio destino ao criar uma história delirante, mas cheia de verdade, a verdade
dele. Gonguila sonha (descendente de Zumbi, Dandara e Selassie), acredita e se torna referência do
Carnaval de Maceió.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

É exatamente o que a escola desejava: enaltecer a cultura brasileira, desta vez contando a história de
um desconhecido com uma mensagem relevante e absolutamente conectada com a Beija-Flor e sua
realidade. O sentimento de pertencimento que a escola cultiva em sua comunidade, majoritariamente
preta e pobre como Benedito, faz com que a Beija-Flor seja sinônimo de casa e família para seus
componentes. Gonguila é o nilopolitano no espelho.

Neste Domingo de Carnaval, nossa escola, nossa vida, nosso amor, subverte o tempo e o espaço na
Marquês de Sapucaí para contar uma história que mistura realidade e delírio. Eis a Beija-Flor, tão
linda!, derramando na avenida os devaneios de Rás Gonguila – o menino-folião, o nobre-engraxate, o
festeiro-da-ralé, que não cansa de nos encantar e inspirar.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

JUSTIFICATIVA DO ENREDO
Quase nada é literal, mas tudo é carnaval

O enredo da Beija-Flor para 2024 é um delírio baseado na realidade, um desafio ao tempo e ao espaço.
Quase nada nele é literal ou linear, mas tudo é fantasia e carnaval. Uma festa mágica, sob a luz dos
encantados, com as cores, os ritmos e os pisados dos folguedos de Alagoas. Um encontro entre
personagens reais, alguns dos quais viveram na mesma época, mas que nunca se viram.

O principal deles é Benedito dos Santos, figura central desta história. Um homem simples, que nasceu
em 1905, em Maceió, foi engraxate e viveu na pobreza; que amava a boêmia, virou folião e encantou
a capital alagoana; que respeitou seus ancestrais, acreditou na própria nobreza e passou a se chamar
Rás Gonguila, a dizer que era descendente do último imperador da Etiópia; e que tocou o seu clarim
pela última vez em 1968.

Os outros personagens, na verdade, são muitos.

São os aquilombados de Palmares, ancestrais de Gonguila e dos alagoanos, com suas raízes fincadas
nos cultos africanos e saberes indígenas. Marca de fé e resistência no maior dos quilombos, que não
era lugar só de guerra, mas também de festa.

São os antigos carnavais de Maceió, com personagens como o passista de frevo Moleque Namorador
e major folião Bonifácio Silveira, contemporâneos de Gonguila e figuras centrais da folia nas
primeiras décadas do século XX, quando os corsos e uma infinidade de blocos arrastavam multidões.

É Haile Selassie (1892-1975), o Rás Tafari, que nasceu na riqueza e virou imperador da Etiópia por
acaso. Vamos mergulhar nos devaneios de Gonguila para contar como ele viu a corte de Selassie partir
numa viagem encantada para uma terra de folguedos vibrantes, cores intensas, brisa mansa e mares
quentes.

É a Beija-Flor de Nilópolis, escola mãe do samba na Baixada Fluminense, a escola dos enredos
delirantes. Viajaremos na mente do Príncipe Etíope dos Carnavais Alagoanos para mostrar o encontro
dele com a Deusa da Passarela e seus soberanos.

São os mestres e mestras dos folguedos de Maceió das Alagoas – coco de roda e reisado, chegança e
pastoril, caboclinho e guerreiro; uma gente que pisa forte e canta alto para defender a soberania da
cultura popular.

São os bravos foliões de sangue alagoano, etíope e nilopolitano, que batem cabeça para os mestres do
passado e repetem o gesto de Gonguila, ao vestir a fantasia da liberdade e da imaginação para se
tornarem reis e rainhas.

Isso, minhas amigas e meus amigos, é algo que só é possível no Carnaval, uma festa na qual o tempo
não corre em linha reta; e o espaço se adapta aos desejos e delírios de cada folião. É na folia que o
nilopolitano – e por que não o etíope e o alagoano? – pode ser o que quiser. E se Gonguila já tinha o

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

sangue de Zumbi e Dandara, por que não poderia também ser descendente de Selassie, Salomão e
Sabá?
Tem algo de grandioso, heroico e mítico na história de vida do Rás Alagoano. As memórias de família
do menino Benedito, a infância como engraxate, o apelido de Gonguila, a vida boêmia, o
encantamento com o Carnaval e, enfim, a construção da figura do Rás – que é, a rigor, criação de uma
personagem de si mesmo; toda essa sequência de acontecimentos materializa uma figura
absolutamente instigante, mágica e carnavalesca.

E quando este homem, de maneira deliberada, decide cruzar a própria vida (ou seja, sua própria
verdade) com a de uma figura histórica contemporânea, de trajetória construída a léguas de distância
das ruas de Maceió, semeia o solo fértil para a brotar a imaginação da cultura popular, materializada
no enredo da Beija-Flor de Nilópolis.

Pois o carnaval não busca, necessariamente, a verdade factual, histórica, inconteste. Busca, antes de
tudo, a verdade das ruas, das pessoas que fazem a festa. Embora não seja proibido pretender ou
acreditar que o carnaval pode ditar certezas, também é preciso, no entender da Beija-Flor, resgatar a
capacidade que o carnaval tem de procurar o lúdico, o incrível, o mágico – e de jogar luz sobre figuras
fantásticas e anônimas.

Gonguila existiu. Selassie está nos livros de História. A Beija-Flor é real. A cultura popular de Alagoas
e Maceió também. Pois então a história que a Beija-Flor contará na avenida – esta mistura de realidade
e fantasia – se transforma em uma verdadeira e extraordinária viagem na mente de Benedito.

Ele, o nobre das ruas e dos Carnavais de Maceió; ele, que nunca foi propriamente coroado; agora será.
Então, vamos combinar uma coisa: hoje a Marquês de Sapucaí é Maceió, no ritmo dos apitos dos
mestres, com a soberania popular pronta para coroar Rás Gonguila em um grande banho de mar à
fantasia

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

SINOPSE DO ENREDO
Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila

Quem será o Benedito?

Nasceu em Maceió, no ano de 1905, um menino chamado Benedito, sobrenome dos Santos. Veio ao
mundo numa rua que não existe mais, numa parte da cidade com cheiro de magia e maresia, entre as
Igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e de São Benedito. Pouco se sabe sobre seu pai e sua
mãe. Seus nomes e suas memórias viraram cinzas. A única certeza que se tem sobre eles é que
sofreram na alma o horror da escravidão. Libertos e analfabetos, ganhavam o pão vendendo frutas nas
ruas da velha cidade ou limpando os palacetes dos barões do açúcar.

Ao pé do ouvido do moleque, sussurravam histórias encantadas de antepassados que eram reis e


rainhas de terras africanas, entre elas a Etiópia, e que desfilavam sua realeza lá pelos altos da Serra da
Barriga. A tradição que atravessou gerações levava Benedito de volta ao tempo de Palmares, o maior
dos quilombos, imponente símbolo de resistência no tempo das capitanias, cujo sangue nobre ainda
corre nas veias das Alagoas. Tempo de dor e luta, mas também de resistência e celebração, como
Benedito ouvia dos pais: “Meu filho, dia de festa era dia de descansar as armas”.

Abaixa teu escudo, guerreiro quilombola. Repousa tua flecha, bravo caeté de linhagem tupi; que hoje
dançaremos com os espíritos dos nossos ancestrais em pajelanças caboclas, crenças do catolicismo
popular e rituais da Mãe África! É dia de fazer nossos cantos e tambores ressoarem pela eternidade!
Assim, sob a proteção de gameleiras e juremas, aqueles que resistiram ao açoite e não dobraram os
joelhos deram origem a um povo que brinca sem perder a fé nas suas raízes.

É ele que manda na folia de Maceió

Antes mesmo de Benedito nascer, a Abissínia – nome antigo da Etiópia – já inspirava festas e cortejos
no centro de Maceió, região que os jornais da época chamavam de Maceyobissínia. Era um pedaço de
África na capital das Alagoas, onde os moleques passavam o tempo pelas ruas ensolaradas. Entre as
brincadeiras favoritas estava o jogo de pião. Quando não rodavam direito o pião, e ele tombava no
chão, diziam que era uma “gonga”. A falta de traquejo de Benedito com o brinquedo de madeira e o
barbante de algodão deu a ele o apelido de Gonguila.

Aprendeu o ofício de engraxate e sua lida era na ponta da flanela. Gastava prosa nas calçadas, a lustrar
sapatos de políticos, artistas e intelectuais na porta dos cafés e tabacarias. Mas era entre bêbados,
meretrizes e desocupados que mais gostava de estar, entre goles e cigarros, carteados e sinucas. Pois
foi na boêmia e nas encruzilhadas, junto ao povo de rua, que Gonguila achou o seu caminho e lapidou
seu maior talento: ser folião. Um devotado súdito de Momo, líder do Cavaleiro dos Montes, bloco que
fez história nos carnavais da capital, com nome inspirado nas dunas de areia da Praia do Jaraguá.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Naquele tempo, Maceió fervia entre o Sábado de Zé Pereira e as cinzas da Quarta-feira. Debaixo de
um sol de brasa, a única nuvem era de confete e serpentina. Em seus conversíveis, almofadinhas e
madames se divertiam nos corsos, enquanto a massa trançava as pernas no passo do frevo, importado
do vizinho Pernambuco.
Nas batalhas de orquestras que arrastavam multidões, vencia a que soprasse mais alto seus metais. E
tome cerveja gelada para esfriar a goela e lapada de cachaça para incendiar o povo de novo!

Gonguila descia do Farol ao cais do porto e seguia até a Ponta Grossa – onde até hoje moram seus
descendentes. Alto e forte, tocava clarim pelo trajeto, sempre ao lado do estandarte do bloco, com a
imagem de um ginete montado em um cavalo. Aqui e acolá, espetavam algum dinheiro com alfinete
no pano do estandarte, ou botavam algum vintém entre as costuras, que era para pagar os músicos.
Depois do desfile, virava porteiro da Fênix Alagoana, o clube dos ricos, que se embriagavam de lança-
perfume nos luxuosos salões.

Um dia, faltava pouco para o Carnaval, Gonguila ouviu a notícia: bem longe dali, Rás Tafari –
"príncipe respeitado" em amárico, uma das línguas faladas na Etiópia – era coroado imperador.
Fechou os olhos e puxou na gaveta da memória as histórias dos nobres etíopes de Palmares. Entre o
real e a fantasia, assumiu o parentesco com o monarca, botou um Rás na frente do apelido de infância
e virou Rás Gonguila. Em seu delírio, viu a coroação do imperador e profetizou: um dia, ainda haveria
de ver o encontro das realezas de Maceió, da Etiópia e de uma corte azul e branca, maravilhosa e
soberana.

Selassie, o imperador brincante

Em sua profecia, Rás Gonguila descobriu que sua herança africana começou há mais de 700 anos,
quando um primo distante, descendente direto da Rainha de Sabá e do Rei Salomão, fundou o Império
Etíope. Séculos depois, o destino fez um de seus truques. A imperatriz do momento estava lá tranquila,
governando a Etiópia, quando adoeceu e foi desta para uma melhor. Foi quando o filho de um
conselheiro do palácio, que não nasceu para reinar, viu o trono cair no seu colo, entregue de bandeja.
Seu nome: Rás Tafari – que significa “Príncipe Respeitado”.

Festa de coroação igual nunca se viu. Aquele que seria o último imperador da Etiópia escolheu o nome
de Haile Selassie – que significa “O Poder da Divina Trindade”. Etnias de várias partes do país vieram
saudar Sua Majestade Imperial, com seus trajes e adornos festivos: flores na cabeça, barro nos cabelos,
pintura no corpo, joias de madeira, miçangas e panos de estamparia. Vieram também os cristãos de
Lalibela, cidade onde Jesus tem a pele preta como seus irmãos.

Depois de sete dias e sete noites de música, dança e banquetes, estava coroado o novo Leão de Judá.
Rás Gonguila viu com seus próprios olhos quando ele saiu do palácio, acompanhado da imperatriz
Menen, em uma carruagem puxada por zebras e antílopes. À frente deles, um cortejo alucinante de
brincantes etíopes. Gonguila achou até que parecia um grande bloco de rua, com destino a Maceió.

É ela, a deusa nilopolitana

Gonguila mergulhou ainda mais fundo nos seus devaneios e convidou para a festa o povo da
Mirandela, que exalta a própria nobreza com samba no pé. Tem sido assim desde os tempos dos blocos
Centenário e Irineu Perna de Pau, que pavimentaram o caminho vitorioso da Beija-Flor, razão do
cantar feliz daquela gente.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Em seu sonho, o Rás alagoano viu a corte nilopolitana chegar flutuando ao cais do porto de sua querida
cidade. Batuqueiro estica o couro do tambor, velha guarda alinha o traje, passista diz no pé e baiana
ajeita a saia antes de girar na imensidão do asfalto. Acerta o passo, nobre mestre-sala, e desfralda o
pavilhão, guardiã do nosso maior tesouro. Olha a Beija-Flor aí, gente, mostrando que essa escola
nasceu para vencer e, cá entre nós, sempre foi chegada a viajar na imaginação.

Dos olhos dos nossos ancestrais caiu uma lágrima de saudade, lembrando o velho tempo que passou.
Brincando com a imaginação, hoje seremos fantasia. Um lindo beija-flor anunciando uma delirante
viagem carnavalesca rumo às Alagoas. Tirem do passado a nobreza, joguem fora a roupa do dia a dia
e vistam-se de reis e rainhas, como Gonguila e Selassie, que é o que vocês são!

Sobe todo mundo nesta carruagem de beija-flores encantados, pois os bons ventos vão nos guiar pelos
ares rumo àquele pedacinho de Brasil.

Abre a sede para a soberania popular

Lá vem a corte da Etiópia e a nobreza de Nilópolis, singrando o mar e cortando o vento. No cais
enfeitado de cor, Gonguila os espera acompanhado da nobreza da cultura popular de Maceió, ao som
do frevo e balé de estandartes. E o povo nas ruas regendo o apito dos mestres, que brincam folguedos
em todos os cantos de Alagoas e abrem a sede* desta grande festa da ancestralidade.

Tem chegança de marujo e coco de roda da beira da praia. Bumba-meu-boi e samba de matuto dos
canaviais. Caboclinho dos indígenas e pastoril dos autos natalinos. Tem folia de reis e tem guerreiro
– com suas igrejas na cabeça, o mais querido dos folguedos, que sintetiza a alma dos alagoanos: povo
de olhar e palavras doces como o mel da cana, abraço quente como o sol e gingado manso como o
balançar da palha do coqueiro. Gente que celebra de noite e de dia, na proteção de Nossa Senhora dos
Prazeres, padroeira de Maceió, e de todos os santos, encantados e orixás.

Está cumprida a profecia do encontro de realezas, que coroam Benedito: o imperador do Carnaval de
Maceió. É o triunfo da cultura popular, em um esfuziante banho à fantasia no azul piscina do mar de
Pajuçara. Neste congraçamento, todo mundo tem sangue nobre. Basta se deixar levar por um delírio
de Carnaval. Hoje tem escola de respeito batendo cabeça para Rás Gonguila.

Benedito, enfim, é Rei!

* Abrir a sede (lê-se “séde”) é como os alagoanos chamam o início das apresentações de seus
folguedos, sempre com um canto puxado pelo mestre dos brincantes. É o mesmo que abrir a gira,
começar os trabalhos.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

ROTEIRO DO DESFILE

ABERTURA
Comissão de Frente
Gira, mundo, feito o pião do menino!

1º Setor: O quilombo do menino Benedito


1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Claudinho e Selminha Sorriso
Dinastia de Zumbi e Dandara

Ala 01 – Arte Folia/Comunidade


Cultura e bravura dos Tupis e Caetés

Ala 02 – Comunidade
Guerreiros Jagas-Ingambalas

Grupo – Comunidade
Encantaria aos pés da gameleira e da jurema

Alegoria 01
Palmares de luta, Palmares de festa

2º Setor: Meu destino é ser brincante


Grupo – Comunidade
Bonifácio, o major folião

Ala 03 – Amigos do Rei


Chegou o Carnaval: sol de brasa no quengo

Ala 04 – Comunidade
Fênix Alagoana: brincadeira de grã-fino

Ala 05 – Comunidade
Borboletas, o primeiro amor de Benedito

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Ala 06 – Ala das Crianças


Gondoleiros Trovadores e Paganinis
Alagoanos

Ala 07 – Comunidade
Real Cavaleiro dos Montes

Ala 08 – Comunidade
Dois frevos para Gonguila

Alegoria 02
Olha o Carnaval de Maceió aí, gente!

3º Setor: Quando encontro a corte africana


Ala 09 – Comunidade
Descendente de Salomão

Ala 10 – Comunidade
Herdeiro de Sabá

2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


David Sabiá e Fernanda Love
A fé refletida nos vitrais

Ala 11 – Comunidade
Cristãos de Lalibela

Destaques de chão
Aieny Mendes e Flávia Custódio
Princesas da Etnia Suri

Ala 12 – Passistas
Etnia Suri

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Rainha de Bateria
Lorena Raissa
A mais bela guerreira da etnia Omí

Destaque da Bateria
Neide Tamborim
A grande matriarca da etnia Omí

Ala 13 – Bateria
Etnia Omí

Ala 14 – Comunidade
Etnia Hamer

Ala 15 – Comunidade
Etnia Mursi

Ala 16 – Comunidade
Etnia Karo

Alegoria 03
O último Leão de Judá

4º Setor: É ela, maravilhosa e soberana


Destaque de chão
Pinah
A Deusa da Passarela

Grupo – Comunidade
Cortejo de um pássaro real

Ala 17 – Ala das Borboletas/Ala Signos


Quando ainda não tinha Beija-Flor

Ala 18 – Comunidade
Nobreza nilopolitana

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3º e 4º Casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


O axé do nosso chão

3º Casal:
Muskito e Emanuelle Martins
Ogum e Iemanjá

4º Casal:
Hugo Almeida e Naninha Fidélis
Xangô e Oxum

Destaque de chão
Tia Lúcia
Rancho Beija-Flor

Ala 19 – Baianas
Um beija-flor do quintal de Tia Eulália

Ala 20 – Comunidade
O esplendor da corte egipciana

Ala 21 – Comunidade
Coração de serpente não se engana

Ala 22 – Comunidade
Brasil das maravilhas

Grupo de Pandeiristas
É o sorriso alegre do sambista

Destaque de chão
Raíssa Oliveira
Paraíso da Loucura

Alegoria 04
Razão do meu cantar feliz

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

5º Setor: A soberania popular me traz


Ala 23 – 1001 Noites/Vamos Nessa
Eu sou da terra onde o Guerreiro mora
(Guerreiro)

Ala 24 – Comunidade
Cordão Azul-Encarnado (Pastoril)

Ala 25 – Comunidade
Sagrado e profano (Reisado Alagoano)

Ala 26 – Karisma/Cabulosos
Encantaria de lanceiro (Caboclinhos)

Ala 27 – Ala Alledance/Comunidade


Trupé ligeiro e rodado (Coco de roda)

Destaque de chão
Brunna Gonçalves
A joia do folclore alagoano

Alegoria 05
O relicário da cultura alagoana

Ala 28 – Comunidade
Bom marujo também brinca (Cheganças e
Fandangos)

6º Setor: Tem Pajuçara no mar da Mirandela


Grupo – Comunidade
Guardiões da Pajuçara

Ala 29 – Comunidade
Brincantes do Pontal da Barra

Ala 30 – Comunidade
Frenesi da Jatiúca

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Ala 31 – Comunidade
Banhistas do Jaraguá

Destaque de chão
Carla Cachoeira
Devaneio subaquático

Alegoria 06
À beira-mar, nasce um rei

Ala 32 – Compositores
Menestréis Nilopolitanos

Ala 33 – Convidados
Discípulos de Gonguila

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Nº Nome da Alegoria O que representa
01 ALEGORIA 01 – ABREALAS Palmares de luta, Palmares de festa
a) QUADRIPÉ
Palmares, o quilombo dos meus sonhos de menino, é a
casa dos meus e de tantos outros. Terra dos meus
ancestrais de pele retinta e morada dos tupis e caetés,
que ali já estavam antes do horror da escravidão..
Encontro de culturas e saberes, lugar de quem acolhe o
irmão, aquele grande quilombo só existiu porque teve
gente que não se curvou. Pois quilombo é libertação.
Desde cedo me diziam, e eu sempre acreditei, que
quilombo é ancestralidade e é corpo. Por isso que todo
preto é quilombola: memória de um, pele do outro,
reflexo de todos. Fecho os olhos e vejo o quilombo que
b) PRIMEIRO MÓDULO eu imaginava quando era apenas Benedito. De alguma
forma eu sentia que pertencia àquele lugar. Era como se
meu coração de criança fosse invadido por alguma
coisa que não sei explicar, mas que vinha das histórias
que eu ouvia de painho e mainha. Meu quilombo de
moleque engraxate, com suas palmeiras exuberantes,
não era só um lugar de dor e luta. Bem mais que isso,
era também um lugar de festa, exuberante, onde os
guerreiros, cansados depois das batalhas, trocavam as
armas pelos atabaques. Porque mesmo na guerra, era
c) SEGUNDO MÓDULO preciso ter paz. No meu quilombo, paz sempre foi
Carnaval. E se a escola de samba é o novo quilombo,
esta avenida é o palco de todos eles. Maceió, Beija-Flor
e Etiópia: chegou o grande dia! Hoje o rei sou eu. E
você, nobre como eu, vem pra pista, que o quilombo é
todo nosso!

* As imagens acima são dos


croquis originais e servem apenas
como referência. Algumas
modificações cromáticas, estéticas
e de iluminação podem ter sido
realizadas na execução da
alegoria.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

ALEGORIA 01 – ABREALAS
01 a) QUADRIPÉ Principais elementos e signos:

Beija-flor:
O primeiro módulo do abre-alas tem como elemento
central o símbolo máximo da escola, o majestoso beija-
flor do Quilombo dos Palmares – que tem em sua base
de sustentação a figura de Exu. É a escola pedindo
licença ao senhor dos caminhos, ao mensageiro entre a
vida na terra (Ayê) e o plano espiritual (Orun),
conectando a escola às ancestralidades homenageadas
em seu desfile, a começar por Palmares, o mais firme
chão de Benedito. Também há beija-flores nos dois
b) PRIMEIRO MÓDULO quadripés, circundando as coroas, que representam a
nobreza africana presente nas terras alagoanas – desde
os altos da Serra da Barriga até as praias de Maceió; dos
Sertões à foz do Rio São Francisco.

Palmeiras, bambus e arte Tchokwe:


Nos dois módulos do abre-alas, destacam-se as
palmeiras estilizadas e os bambuzais do quilombo
imaginado por Benedito. Os bambus eram abundantes
nos arredores dos mocambos de Palmares, onde os
c) SEGUNDO MÓDULO moleques quilombolas brincavam enquanto não chegava
a hora de guerrear. As palmeiras compridas balançavam
suas folhas ao sabor dos ventos que varriam desde as
margens do rio Mundaú até o topo da Serra da Barriga.
Vem da profusão de palmeiras na região o nome do
maior dos quilombos. Os troncos dessas árvores
representadas na alegoria são formados por figuras
totêmicas que retratam as esculturas do povo Tchokwe
de Angola. Máscaras, escudos e lanças dos guerreiros
quilombolas seguem a mesma inspiração. A escolha pela
iconografia tchokwe vem de dois achados históricos:
primeiro, a influência e o intercâmbio cultural desse
* As imagens acima são dos povo com os Jagas e os Ingambalas, representados na
croquis originais e servem apenas Ala 2; segundo, pelo fato de que os primeiros africanos
como referência. Algumas escravizados trazidos para o Brasil vieram de Angola,
modificações cromáticas, estéticas assim como eram angolanos os mais numerosos
e de iluminação podem ter sido
quilombolas nos primeiros anos de Palmares.
realizadas na execução da
alegoria.
Destaques, semidestaques e composições:

1º módulo:

* Destaque Central Médio: Giovanna Lancelotti (Atriz)


– Um quilombo de todas as raças

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

ALEGORIA 01 – ABREALAS * Destaque Central Baixo: Evellyn Reis – Semente de


a) QUADRIPÉ Palmares
01
* Semidestaques Laterais: Fábia David e Leila David –
Encantaria da Serra da Barriga

* Composições – Mistérios de Mãe África

2º módulo:

* Destaque Central Alto: Zezito Ávila (Estilista) – A luz


do Orun banha o menino Benedito
b) PRIMEIRO MÓDULO * Semidestaques Masculinos: Márcio David e
Alexsander Inácio Alves – Realeza dos mocambos

* Composições – Mistérios de Mãe África

c) SEGUNDO MÓDULO

* As imagens acima são dos


croquis originais e servem apenas
como referência. Algumas
modificações cromáticas, estéticas
e de iluminação podem ter sido
realizadas na execução da
alegoria.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

02 ALEGORIA 02: Olha o Carnaval de Maceió aí, gente!

Desde pequeno eu sempre soube que queria ser


brincante. O carnaval da minha infância, quando eu era
Benedito, e da minha juventude, quando eu já era
Gonguila, tomava as ruas de Maceió arrastando um
turbilhão de gente sob um sol de fogo e uma música de
brasa: o frevo. Nascido no vizinho Pernambuco, o ritmo
chegou à capital das Alagoas nos anos 1920, e até hoje
não existe folia sem frevo em Maceió. Naquela época, o
Carnaval dos ricões e suas madames era nos desfiles de
* A imagem acima é do croqui corso, em cima de calhambeques. No asfalto quente,
original e serve apenas como uma multidão trançava as pernas, animada por uma
referência. Algumas modificações infinidade de agremiações e suas orquestras. Nesse
cromáticas, estéticas e de tempo, eu já era conhecido na cidade e virei o símbolo
iluminação podem ter sido
realizadas na execução da
de outro bloco importante: o Cavaleiro dos Montes. Eu
alegoria. desfilava do lado do estandarte e tocava clarim pelo
caminho, chamando as pessoas para o desfile, que
descia do bairro do Farol até o cais do porto no
Jaraguá. Fui ficando famoso, e até me chamavam de Rei
do Carnaval de Maceió. Época boa aquela, com confete
e serpentina, batalha de orquestra, um bloco em cada
esquina, desfile de carro enfeitado, eu de porteiro no
clube Fênix Alagoana, recebendo a grã-finagem de
Maceió. Mas eu sempre gostei mesmo foi das ruas e das
praças – como a que fizeram em homenagem a meu
amigo Moleque Namorador, o melhor passista que
Maceió já viu e que representava o Cavaleiro dos
Montes nos concursos de frevo.

Principais elementos e signos:

Carnaval na rua e na praça:


A alegoria representa um grande Carnaval nas ruas e
praças da Maceió de Gonguila. É inspirada nos estilos
artísticos Art Nouveau e Art Déco, com suas linhas
abstratas e geométricas, predominantes nas décadas de
1920 e 1930 – não por acaso, é a época da consagração
do Rás como o maior brincante da capital alagoana.
Balaústres, luminárias com figuras femininas e gárgulas
(representando o bloco Morcego); o coreto imaginado
pela Beija-Flor para a Praça Moleque Namorador, no
bairro da Ponta Grossa; e o clima romântico dos
carnavais do passado, com a decoração de adereços
geométricos e casais dançando nas laterais completam a
atmosfera do carro.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

02 ALEGORIA 02: Moleque Namorador:


No alto da alegoria, brilha a escultura dourada do
Moleque Namorador, apelido de Armando Veríssimo
Ribeiro. Nascido no interior de Alagoas, chegou a
Maceió em 1926, aos 7 anos. Também engraxate, virou
amigo de Gonguila. Com seus passos ligeiros e precisos,
representava o Cavaleiro do Montes nos concursos de
frevo. Era tão bom que se acostumou a ganhar de
passistas de Recife e Olinda. Morreu jovem, antes dos
30. Mas até hoje é lembrado com carinho pelos foliões
de Maceió, onde uma pequena praça leva o seu nome no
* A imagem acima é do croqui bairro da Ponta Grossa – a poucos metros da casa onde
original e serve apenas como Gonguila morou no fim da vida, e onde hoje vive parte
referência. Algumas modificações dos seus descendentes.
cromáticas, estéticas e de
iluminação podem ter sido
realizadas na execução da
Calhambeques e clarins:
alegoria. Inspirados no "Ford Bigode", primeiro carro fabricado
no Brasil e que fez sucesso nos anos 1920-1930, os dois
calhambeques na parte frontal lembram os desfiles de
corso pelas ruas do Centro e no Aterro do Jaraguá.
Simbolicamente, o corso das elites tem à sua frente a ala
do povão (Dois Frevos para Gonguila), aos pés da
escadaria da praça. No corrimão, destacam-se os clarins
que Gonguila tocava no desfile do seu bloco, o Cavaleiro
dos Montes.

Estandarte e músicos:
Na parte traseira da alegoria, o enorme estandarte remete
aos tempos em que os foliões de Maceió espetavam
notas de mil réis ou depositavam vinténs e tostões entre
as costuras dos brocados. Não era muito dinheiro, mas
dava para comprar alguma bebida e pagar os músicos,
aqui representados pelas figuras dos músicos que tocam
bumbo e metais.

Destaques, semidestaques e composições:


* Destaque Central Alto: Cláudia Lobo (Empresária) –
Frevança Alagoana

* Destaque Central Baixo: Carol Garson – Frenética


fervura

* Semidestaque Altos (4 masculinos): Anderson,


Edmundo, Juma e Ruan – Antigos blocos de Maceió

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

(Vou Botar Fora, com fantasia inspirada em traje militar,


e Caraduras, com fantasia de chifrudo)
02 ALEGORIA 02:
* Semidestaques Baixo (em cima dos calhambeques):
Lorraine Piso e Andrea Piso – Formosura de menina

* Composições na Lateral Inferior – Contagiante euforia

* Grupo na escadaria frontal (50 componentes) –


Passistas de frevo

* Grupo no interior da alegoria (25 componentes no


coreto) – Foliões dos antigos carnavais (Fantasias
* A imagem acima é do croqui diversas: Arlequim, Pierrô, Colombina, Melindrosa,
original e serve apenas como Cigana, Tocador)
referência. Algumas modificações
cromáticas, estéticas e de
iluminação podem ter sido * Composições (nos calhambeques): Motoristas e
realizadas na execução da soldados do desfile de corso
alegoria.

03 ALEGORIA 03: O último Leão de Judá

Podem achar que é delírio da minha cabeça, mas eu juro


que é verdade! Vocês sabem que de folia eu entendo,
mas eu nunca vi uma celebração tão espetacular como
a coroação do Rás Tafari. Quando eu soube da festa,
não pensei duas vezes. Vou dar um pulinho lá na Etiópia
para abraçar Haile Selassie, meu parente imperador.
Afinal, se já tenho sangue nobre de Palmares, tenho
* A imagem acima é do croqui também da Etiópia. Chegando lá, descobri que
original e serve apenas como chamavam ele de Leão de Judá. O palácio era tanto
referência. Algumas modificações luxo, mas tanto luxo, que meu olho chega brilhava. Veio
cromáticas, estéticas e de gente de tudo que era canto da Etiópia – um povo bonito,
iluminação podem ter sido
todo enfeitado, com porte de reis e rainhas. Me senti
realizadas na execução da
alegoria. como se fosse da família deles. Depois de sete dias e sete
noites de fartura, música e dança, finalmente coroaram
o homem. Foi quando eu convidei ele para conhecer
Maceió, seu carnaval, seus folguedos e suas praias. Rás
Tafari não só aceitou como mandou que todo mundo
fizesse um carnaval na frente do palácio. Ele sentado na
carruagem com a imperatriz, e aquele mundo de gente
na frente, como se fosse um grande bloco. Foi aí que eu
baqueei. Lembrei do meu Cavaleiro dos Montes, do meu
frevo, do meu Jaraguá. E pensei: nem acredito que o
imperador vai conhecer a minha terra e o meu povo!

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

ALEGORIA 03: Principais elementos e signos:

Leão de Judá
03 A imponente escultura de um leão coroado sobressai no
alto da alegoria – que, dentro da linha narrativa do
enredo, marca o início do grande delírio, da "alucinação
consciente" de Gonguila, que criou uma história
fantasiosa e passou a crer nela plenamente. A escultura
representa o Leão de Judá, título hereditário do trono
* A imagem acima é do croqui etíope desde Menelik (filho de Salomão e Sabá) até
original e serve apenas como Haile Selassie. A figura do Leão de Judá está na Insígnia
referência. Algumas modificações Real do Império Etíope e ficou estampada na bandeira
cromáticas, estéticas e de do país por quase 80 anos, até a extinção da monarquia
iluminação podem ter sido
em 1974. De tão marcante na heráldica do reinado de
realizadas na execução da
alegoria. Selassie, o Leão também está presente nos pés das
colunas laterais do palácio imperial.

Carruagem imperial
A realidade nos conta uma história saborosa e
engraçada: a carruagem usada na coroação de Haile
Selassie foi, na verdade, comprada de segunda mão da
família real da Alemanha. No desfile da Beija-Flor, a
representação é mais pomposa, pois o imperador
merece. Puxada por zebras ricamente enfeitadas para a
festa, a carruagem imperial tem a cabine aberta, no
formato de antílope. Nas laterais, a efígie de Selassie
estampada nas moedas do tempo em que ele reinava. Nas
rodas, a Estrela de Davi, símbolo máximo do judaísmo,
lembrando a origem salomônica do trono etíope.

Vitrais
Nas laterais da alegoria, as colunas do Palácio Imperial
são decoradas por vitrais coloridos que remetem aos
templos da Igreja Ortodoxa Etíope. Seus fiéis seguem
algumas tradições que guardam semelhanças com o
judaísmo, herança da dinastia do Rei Salomão e da
Rainha de Sabá. Os vitrais mostram cenas típicas do
cristianismo etíope, com representações de santos,
sacerdotes e, principalmente, do Jesus de pele preta. Eles
são retratados nos Evangelhos de Garima, considerados
um dos manuscritos cristãos mais antigos do mundo e
que hoje estão guardados em mosteiro no extremo norte
do país.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

03 ALEGORIA 03: Etnias na parte traseira


Enormes esculturas de cabeças representam alguns dos
povos tradicionais da Etiópia.

Destaques, semidestaques e composições:

* Destaque Central Alto: Deiseane Moreira – O Poder


da Divina Trindade (significado do nome Haile Selassie
em amárico)
* A imagem acima é do croqui
original e serve apenas como * Semidestaque/Personagem: Benedito dos Santos –
referência. Algumas modificações Imperador Selassie
cromáticas, estéticas e de
iluminação podem ter sido
* Semidestaque/Personagem: Silviany Domingues –
realizadas na execução da
alegoria. Imperatriz Menen

* Semidestaque Alto (8 femininos): Sacerdotisas


ortodoxas

* Semidestaque Baixo (laterais da carruagem): Michele


Nobre e Kamilla Duarte – Herdeiras do trono etíope

* Composições na Lateral Superior (em cima dos


antílopes) – Cortesãs palacianas

* Composições na Lateral Inferior (entre os leões, à


frente dos vitrais) – Súditas da realeza etíope

04 ALEGORIA 04: Razão do meu cantar feliz

Depois de coroar o Rás Tafari na Etiópia, conheci uma


escola de respeito, que entende muito bem a missão
sagrada de defender a cultura popular. Me encontrei com
os mais velhos, guardiães da sabedoria, e ouvi histórias
fantásticas como a minha, de nobres da ralé que todos os
dias batalham pelos próprios sonhos. Na força dos velhos
bambas, a ancestralidade daquele chão; no passo do
* A imagem acima é do croqui sambista, a prova de que eles sabem dizer no pé. Pra gente,
original e serve apenas como que tem pouco e trabalha muito, só existe um jeito de
referência. Algumas modificações seguir em frente: acreditar nos sonhos, no que você quer
cromáticas, estéticas e de ser. Porque uma hora tudo isso se transforma em verdade.
iluminação podem ter sido Foi assim que eu virei Rás Gonguila. É assim que todo
realizadas na execução da nilopolitano vira rei e rainha. Aí de repente, senti no ar o
alegoria. perfume das histórias mirabolantes contadas por aquela
turma de sangue nobre da Baixada Fluminense. Era a
Beija-Flor, convocada pelas forças encantadas do
Carnaval para este encontro de realezas na beira-mar de
Maceió.
126
Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

04 ALEGORIA 04: Principais elementos e signos:

Altar de afetos nilopolitanos

A alegoria é como um altar dos afetos nilopolitanos, que


sintetizam a alma da escola. Uma carruagem alada, puxada
por beija-flores, que conduz a Deusa da Passarela pelo delírio
de Gonguila. Na figura de quem foi Rainha de Bateria e
continua majestosa, com sua saia e seu séquito aos seus pés,
a lembrança da nobreza de pele preta e sangue azul e branco
* A imagem acima é do croqui da Baixada Fluminense – que, tal qual o povo de Palmares,
original e serve apenas como não se curva à opressão. É ela, a dinastia do povo da
referência. Algumas modificações Mirandela, a caminho de Maceió, para coroar o Rás
cromáticas, estéticas e de Alagoano. Nas laterais da alegoria, a representação da fé do
iluminação podem ter sido nilopolitano: do lado direito do carro, São Jorge, protetor da
realizadas na execução da quadra e do barracão; do lado esquerdo, Iemanjá, orixá de
alegoria. devoção do presidente de honra da escola. Na parte traseira,
os enormes discos, inspirados nas alegorias e nos adereços de
Joãosinho Trinta nos anos 1970 e 1980, dão uma atmosfera
onírica ao carro que encerra o setor nilopolitano do enredo.

Destaques, semidestaques e composições:


* Destaque Central Alto: Fernando Odnã Carvalho
(Empresário) – Dinastia Mirandela

* Destaque Central Médio (saia principal): Sonia Capeta (Ex-


Rainha de Bateria) – Matriarca nilopolitana

* Destaque Central Baixo (parte frontal): Cássio Dias (1º


Bailarino) – Beija-flor real

* Semidestaques Alto (masculino e feminino): Maurício


Médici e Priscila Heidemann – Brincando com a imaginação
(a fantasia faz referência ao verso do samba enredo de 1991,
Alice no Brasil das Maravilhas, com elementos que remetem
à estética do desfile)

* Semidestaques Médio – Cinderelas Negras (em referência


ao verso do samba enredo de 1983, A Grande Constelação das
Estrelas Negras, em homenagem a Pinah)

* Semidestaques Baixo (5 componentes) – O balé de beija-


flores (carrossel de saias ao redor de Sonia Capeta)

* Composições Laterais (6 componentes) – Flores de um


jardim delirante

* Grupo na escadaria frontal: Velha Guarda – Raiz que


nos reluz (destaque para Tia Débora, presidente da ala, e
Dona Madalena Reis, mãe do presidente da escola, na
parte frontal da alegoria)

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

05 ALEGORIA 05: O relicário da cultura alagoana

Alagoas pode ser pequena de tamanho, mas é grande na


quantidade de festa popular: dizem que são pelo menos
29, e quase todas existem em Maceió. Eu sempre fui
mais de Carnaval, mas lembro de muita festa boa que o
povo fazia em Maceió quando eu era mais moço. Coco
de roda era o que mais tinha nas praias, do Pontal da
Barra até a Jatiúca. Chegança e fandango eram também
* A imagem acima é do croqui no Pontal, lugar de pescador, marisqueiro, catador de
original e serve apenas como sururu e caranguejo. Mais pra dentro da cidade, o povo
referência. Algumas modificações esperava o ano todo pelas festas de Natal só pra ver
cromáticas, estéticas e de reisado e pastoril. Gostei tanto das moças dos cordões
iluminação podem ter sido Azul e Encarnado que durante um tempo eu tive grupo
realizadas na execução da
alegoria.
de pastoril no Farol. E posso dizer com orgulho pra
vocês que eu vi nascer o guerreiro, no tempo em que eu
já desfilava no Cavaleiro dos Montes no carnaval. É
muito folguedo em tão pouca terra, o que faz da gente
um povo festeiro e devoto. Todo maceioense tem orgulho
dos seus brincantes, do seu artesanato, dos saberes da
fé de sua gente: nos encantados, nos santos africanos,
na padroeira. Hoje, vendo essa homenagem tão bonita
às festas do meu povo e da minha terra, fico com os
olhos cheios d'água de tanta alegria.

Principais elementos e signos:

A padroeira
À frente da alegoria, resplandece a imagem de Nossa
Senhora dos Prazeres, padroeira de Maceió, rodeada de
anjos e sustentada por bonecas encontradas nos
mercados de artesanato locais. Na escultura, o
resplendor da santa remete às tramas e às cores do
bordado filé produzido por artesãs e artesãos do Pontal
da Barra.

Ícones do artesanato alagoano


Seis barquinhos com objetos da rotina de todo alagoano
estão representados na alegoria, sendo dois na parte
frontal, dois na lateral direita e dois na lateral esquerda.
Eles trazem almofadas com capas de bordado filé (feitas
por artesãos e artesãs do Pontal da Barra), carrancas do
Velho Chico, bonecas "namoradeiras", utensílios
domésticos, frutas e outros alimentos. A saia da alegoria
é decorada com 200 bonecas de pano feitas pelas artesãs
do Pontal da Barra.

128
Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Destaque, ainda, para os estandartes de fitas,


simbolizando os atuais blocos dos carnavais de Maceió;
05 ALEGORIA 05: e as flores com estrutura em vime, contorno preto e
preenchimento de renda colorida, posicionadas nos
portais laterais da alegoria, também inspiradas no
bordado filé.

Boi-de-carnaval
Nas laterais, o boi-de-carnaval, derivação do tradicional
bumba-meu-boi que, ao longo dos anos, absorveu
referências de outros folguedos alagoanos e se tornou
* A imagem acima é do croqui popular nos carnavais de Maceió, com seus temas
original e serve apenas como específicos e seus ricos adereços.
referência. Algumas modificações
cromáticas, estéticas e de
iluminação podem ter sido
Estrela espelhada
realizadas na execução da Na parte traseira, destaque para a estrela espelhada, que
alegoria. tem dois significados dentro da narrativa do enredo: 1) o
elemento simboliza a estrela que guiou os Reis Magos
até o local do nascimento de Jesus, cena que é a base da
representação do reisado, que por sua vez é a origem do
guerreiro; 2) no mais genuíno folguedo alagoano, o
espelho no chapéu tem significado espiritual: é ele que
protege a nação de brincantes, repelindo a inveja, o mau
olhado, o mau agouro. Sendo assim, que a estrela
espelhada proteja a Beija-Flor, seus componentes e
todos os brincantes de folguedos populares.

Destaques, semidestaques e composições:

* Destaque Central Alto: Marcus Jasmim (Produtor de


eventos) – Guardião dos folguedos de um povo

* Destaque Central Baixo (em cima da coroa de


bananas): Vittoria David – Tramas do bordado filé

* Semidestaques Médio (nos bois das laterais): Luciano


e Cláudio – Foliões do boi-de-carnaval

* Semidestaques Baixo (nas laterais, em cima das coroas


de cajus): Vandrea e Adelaine – Tramas do bordado filé

* Personagens (à frente da alegoria):


Bordadeiras do Pontal da Barra
Mestre Ivonete Santos dos Anjos/Patrimônio Vivo de
AL e Mestre Maria de Lourdes Barbosa/Patrimônio
Vivo de AL (a mais antiga bordadeira de filé em
atividade no Pontal da Barra, o maior centro de
artesanato de Maceió).

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

05 ALEGORIA 05:
* Composições:
Brincantes de guerreiro
Convidados: Osvaldo dos Santos; Marcos Evangelista
de Morais/Cafu e Mariah Morais.

Vem vadiar no meu cordel


3 casais com fantasias em preto e branco, inspiradas nas
xilogravuras da literatura de cordel, vendidas nos
* A imagem acima é do croqui mercados e feiras populares de Maceió.
original e serve apenas como
referência. Algumas modificações * Personalidade:
cromáticas, estéticas e de Cacá Diegues
iluminação podem ter sido
realizadas na execução da
alegoria.
06 ALEGORIA 06: À beira-mar, nasce um rei!

Um belo dia eu tava na Avenida da Paz, olhando o


horizonte, aquela linha em que o mar beija o céu.
Lembrei dos desfiles do Cavaleiro dos Montes, que
terminavam bem ali, com o povo se jogando na água de
fantasia e tudo. Foi quando vi um negócio
extraordinário: blocos de seres encantados saindo dos
corais e da espuma das ondas, guiados pelo senhor do
fundo do mar. Pisquei os olhos bem forte para ver se eu
não tava ficando doido. Tava não! Quem quiser que não
* A imagem acima é do croqui acredite, que ache invenção da minha cabeça. Só sei que
original e serve apenas como eu acreditei. E ali, do lado da minha ralé de gente nobre,
referência. Algumas modificações abraçado com os brincantes marinhos, vi que estavam
cromáticas, estéticas e de por chegar as cortes etíope e nilopolitana, junto com os
iluminação podem ter sido folguedos alagoanos. O Carnaval correndo solto fez
realizadas na execução da com que eu finalmente me sentisse um rei! Evoé, foliões
alegoria. e brincantes soberanos, que agora eu já posso
descansar em paz…
Principais elementos e signos:

Netuno e o banho de mar à fantasia


A imponente escultura de Netuno é o principal destaque
da sexta e última alegoria da Beija-Flor, que representa
um inesquecível banho de mar à fantasia nas praias de
Maceió, onde termina o grande delírio nilopolitano em
homenagem a Gonguila. É nas areias de Maceió que
acontece o grande encontro das realezas: de Palmares,
dos antigos carnavais da capital alagoana, da corte
imperial da Etiópia, da Beija-Flor e dos folguedos de
Alagoas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

06 ALEGORIA 06: De tridente na mão, Netuno, o senhor dos mares na


mitologia romana, se curva ao sonho do nosso Rás: a
soberania popular em um desfile de blocos
carnavalescos imaginários, mergulhados nas águas da
imaginação.

Seres marinhos encantados


A esplendorosa fauna marinha vem brincar com os
foliões convidados para a festa de Gonguila: peixes e
sereias; cavalos-marinhos e águas-vivas; polvos,
caranguejos e estrelas-do-mar. Na parte dianteira e na
* A imagem acima é do croqui traseira, composições dentro de bolhas transparentes
original e serve apenas como representam as algas marinhas. Também na parte
referência. Algumas modificações traseira, destaque para os tentáculos, que não estão
cromáticas, estéticas e de conectados a nenhum animal visível – uma última dose
iluminação podem ter sido de delírio e fantasia no desfile da Beija-Flor.
realizadas na execução da
alegoria. Destaques, semidestaques e composições:

* Destaque Central Alto/Personagem (em cima do


carrossel de peixes): Samuel Assis (Ator) – Rás
Gonguila Coroado

* Destaque Central Baixo: Thais Müller (Atriz) –


Princesinha dos corais

* Semidestaques Alto (4 femininos e 2 masculinos):


Ninfas e tritões alagoanos (no enredo, esses seres
mitológicos integram a corte netuniana em visita a
Maceió)

* Semidestaques Baixo: Sereias da Mirandela

* Composições:
Banhistas da folia marinha
Nos peixes das laterais, no carrossel de peixes e nos
tentáculos na parte traseira

Algas marinhas
Dentro das bolhas na parte frontal

131
Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Nomes dos Principais Destaques Respectivas Profissões


Giovanna Lancelotti Atriz

Zezito Ávila Empresário


Principal destaque de luxo da agremiação.
Começou a desfilar na escola em 1987, como
componente da ala Flor do Samba (Estandarte
de Ouro). Foi chefe de ala e de ateliê. Nos anos
2000, tornou-se destaque de alegoria.

Cláudia Lobo Empresária

Deiseane Moreira Empresária

Benedito dos Santos Servidor público e filho de Rás Gonguila

Silviany Domingues Servidora pública e sobrinha-neta de Rás


Gonguila

Fernando Odnã Carvalho Empresário

Sonia Capeta Ex-Rainha de Bateria


Cria da Beija-Flor, Sônia Maria Regina ganhou
o codinome de Capeta pela forma acelerada
como mexia os quadris enquanto sambava. Foi
descoberta pelo carnavalesco Joãosinho Trinta,
que se encantou com o vigor da passista. Reinou
como Rainha de Bateria de 1983 a 2002, quando
passou a coroa para Raíssa Oliveira. Sônia
Capeta tem título de Patrimônio Cultural e é
vencedora de um Estandarte de Ouro.

Cássio Dias Primeiro Bailarino


Primeiro bailarino da Beija-Flor, Cássio está
na escola desde 1990. Em 1992, desfilou à
frente da bateria ao lado de Sônia Capeta,
sendo assim um dos primeiros “Reis de
Bateria”, sucessor de Moisés, que tinha
desempenhado o papel. Em 1993 ganhou o
Estandarte de Ouro de Melhor Passista.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Marcus Jasmim Produtor de eventos


Destaque de luxo de 1997 e componente da
escola desde 1982.

Maria de Lourdes Gomes Barbosa Mestra do bordado filé

Ivonete Santos dos Anjos Patrimônio Vivo de Alagoas

Cacá Diegues Cineasta

Osvaldo dos Santos Servidor público e filho de Rás Gonguila

Samuel Assis Ator

Thaís Müller Atriz

Local do Barracão
Rua Rivadávia Corrêa, nº. 60 – Unidade 11 – Cidade do Samba – Gamboa – Zona Portuária
Diretor Responsável pelo Barracão
Alexandre Esposito “Jiló”
Ferreiro Chefe de Equipe Carpinteiro Chefe de Equipe
Alan Duque João Paulo
Escultor(a) Chefe de Equipe Pintor Chefe de Equipe
Kennedy Prata Leandro Assis
Eletricista Chefe de Equipe Mecânico Chefe de Equipe
Dedé Cléber Loiola
Outros Profissionais e Respectivas Funções

Ângela Costa Financeiro

David Augusto “Tigorofi” Supervisor de Barracão

Fabio Santos Destaques e Composições

Kennedy Prata (e equipe) Esculturas em Ferro e Movimento

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Renomado artista de Parintins, Kennedy Prata


volta à Beija-Flor de Nilópolis no Carnaval
2024.
Com passagens anteriores pela escola, foi
responsável por várias alegorias icônicas nos
desfiles da azul e branco entre 2008 e 2017. De
talento indiscutível, o trabalho de Kennedy é
marcado pela criatividade e precisão de
movimentos que imprime em suas esculturas.
Nos últimos 15 anos, as soluções encontradas
ou inventadas por Kennedy e sua equipe,
formada por nove artistas de Parintins,
ajudaram a elevar a qualidade e a
grandiosidade das alegorias. Sua parceria com
o saudoso mestre Laíla (1943-2021) e outros
integrantes da lendária Comissão de Carnaval
da Beija-Flor foi vital para o sucesso de
diversos desfiles da agremiação. Em Parintins,
já trabalhou no Boi Garantido. Atualmente,
está no Boi Caprichoso.
Ubiratan Silva Assistente de Carnaval

Yasmin Tavares Projetista e Produção de Carnaval

Jorge Baiano, Cara Preta e Bolinha Empastelação e Fibra

“Baixinho” e Henrique Placas de Acetato

Lenile Pessoa e Elbert Santos Compras

Evandro, Vagner e “Pagodinho” Almoxarifado

Max Aderecista Carro 01

Quinzinho Aderecista Carro 02

Luís Felipe Aderecista Carro 03

Adriano Aderecista Carro 04

Luiz Aderecista Carro 05

Orlando Aderecista Carro 06

Júlia Rodrigues Marketing e Comercial

Raphaela Reis Redes Sociais

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Natália Louise Assessoria de Imprensa

Pedro Phillipe Reis Assessoria de Imprensa

Bruno Laurato Assessoria de Imprensa

Vanessa Houtet E-commerce

Beatriz Rosa E-commerce

Edgar Laurindo, Elson “Bigode” e Cléber Portaria


Santos Cunha

Julia Caroline Recepção do 3º andar

Marcilene Moreira Assistente de copa

Tamires Enfermeira

Cláudia Chefe de brigada

Cleide, Késia, Ruan e Gleice Equipe de cozinha

135
Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)

DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS


Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala
01 Cultura e Antes, existiam os tupis no que hoje Arte Folia / Diretoria de
bravura dos se conhece como Alagoas. Vindos do Comunidade Carnaval e
Tupis e Caetés interior do continente, chegaram ao (1948) Harmonia
litoral e expulsaram os povos que ali
viviam, tidos como inimigos por
falarem outras línguas que não o
tupi. Mais tarde, toda região,
incluindo a Serra da Barriga, passou
a ser dominada pelos caetés, da
mesma linhagem linguística tupi.
Era um povo bravio, que caiu diante
das armas portuguesas, escravizado
como os africanos.

Esta ala presta homenagem à herança


cultural e à valentia dos tupis e
caetés, dois dos povos originários das
terras alagoanas. Destaque para os
maracás nas mãos do componente; a
saia de palha; e a máscara ritualística
na cabeça do desfilante.
02 Guerreiros Meu pai e minha mãe me contavam Comunidade Diretoria de
Jagas- as histórias de Nzinga, rainha de (1948) Carnaval e
Ingambalas Matamba, que protegia seu Harmonia
quilombo ordenando que seus
guerreiros imitassem as estratégias
de guerra dos temidos Ingambalas,
depois chamados de Jagas pelos
portugueses. Os primeiros africanos
escravizados trazidos para o Brasil
partiram de Angola. Desde que
ergueram o primeiro mocambo de
Palmares, as táticas de guerrilha
usadas para defender o quilombo
eram as mesmas que assombravam
os inimigos em Angola.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

02 Guerreiros Nesta fantasia de guerreiros Comunidade Diretoria de


Jagas- africanos, destaque para a lança e o (1948) Carnaval e
Ingambalas escudo como adereços de mão; e o Harmonia
ornamento de cabeça inspirado nas
máscaras do povo Tchokwe,
também presente no escudo.

G Encantaria aos Duas árvores sagradas e místicas. Comunidade Diretoria de


R pés da gameleira Árvores-mães, fincadas nas encostas (1948) Carnaval e
U e da jurema da Serra da Barriga. Assim é a Harmonia
P jurema, tronco forte dos indígenas
O que habitavam a região de Palmares
muito antes do quilombo. Assim é a
gameleira, raiz valente trazida da
África, essência do tempo e da vida,
que a tudo resiste. Na seiva de suas
folhas e debaixo de suas sombras,
repousam os saberes ancestrais e
encantados do povo preto e do povo
indígena das minhas Alagoas.

Para representar a grandiosidade da


gameleira e da jurema, a fantasia traz
esta figura totêmica, com o rosto que
remete aos mistérios dos saberes
ancestrais.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

G Bonifácio, o Meu amigo Bonifácio Magalhães da Comunidade Diretoria de


R major folião Silveira era um homem arretado! (1948) Carnaval e
U Pense num cabra bom! Nasceu no Harmonia
P Recife, mas fez a vida em Maceió.
O Serviu ao Exército, comandou a
Polícia, foi intendente e deputado.
Gostava tanto da cultura popular
que Bebedouro, bairro onde ele
morava e que eu frequentei muito,
ficou conhecido como República da
Alegria. Nos carnavais, a patente do
major era de general. Criou blocos
famosos, como Os Gigantes e o
Ciganinhas do Major. E foi minha
grande inspiração, pelo respeito que
tinha com a festa de rua.

Este grupo homenageia Major


Bonifácio com uma fantasia
inspirada nos trajes militares.
03 Chegou o Maceió é um calor que não acaba Amigos do Rei Diretoria de
Carnaval: sol de mais. Se não chove, o céu é um manto Carnaval e
brasa no quengo azul e o sol arde feito brasa no Harmonia
quengo. A gente olha pra cima e vê a
bola de fogo toda vermelha, laranja
e amarela. São as cores do calor, que
inspiraram tantos blocos históricos
na minha juventude.

Vulcão, Bola de Fogo e Pás


Douradas são alguns dos blocos
tradicionais dos anos 1920-1930, que
esquentavam as pedras das ruas do
Centro de Maceió e do bairro do
Jaraguá. É o calor da terra e das
pessoas, representado na fantasia de
cores quentes desta ala, que anuncia:
é tempo de Carnaval!

138
Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

04 Fênix Alagoana: Eu virei rei nas ruas. Nasci com alma Comunidade Diretoria de
brincadeira de de brincante, pois sempre gostei (1948) Carnaval e
grã-fino mais do calor das ladeiras, calçadas Harmonia
e encruzilhadas do que do conforto
dos salões. Mas foi na porta de um
clube de luxo, como recepcionista de
foliões endinheirados, que eu ganhei
a simpatia e o respeito da elite local.
Esse clube era o Fênix Alagoana.

O clube da grã-finagem de Maceió,


dos barões do açúcar, políticos,
artistas e intelectuais está
representado na fantasia pela ave
mitológica que pega fogo quando
morre, mas que das cinzas renasce.
Assim como um certo menino que
deu uma volta no destino e de
engraxate virou imperador – ainda
que na sua imaginação.
05 Borboletas, No meu tempo de menino, todo dia de Comunidade Diretoria de
primeiro amor Carnaval o povo inventava um bloco. (1948) Carnaval e
de Benedito Bastava virar a esquina para cruzar Harmonia
com um. Entre tantos, o Borboletas
tem lugar especial na minha
memória de folião. Ele me encantou
de primeira, quando vi as meninas
usando aquelas asas coloridas e
rosto todo branco pintado de pasta
d’água.

Quando Benedito nasceu, no


comecinho do século 20, o Carnaval
de Maceió passava por mudanças
importantes. Desde o fim do século
anterior, críticas aos blocos de sujos
(derivados do entrudo, o antigo e
violento costume português, que fez
adeptos no Brasil desde os tempos de
Colônia) e queixas pelas muitas
festas de elite (como os desfiles de
corsos e os bailes em clubes) fizeram
surgir dezenas de blocos na cidade.
Um deles foi o Borboletas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

06 Gondoleiros O que gondoleiros venezianos e um Comunidade Diretoria de


Trovadores e violinista genovês têm a ver com a (1948) Carnaval e
Paganinis folia de Maceió? Ganha um saco de Harmonia
Alagoanos confete e serpentina quem descobrir.
(Crianças) Brincadeira, eu explico pra vocês.
Quando eu ainda não era Gonguila, a
onda de cordões que surgiam em
Maceió trouxe dois com nomes bem
inusitados: Gondoleiros Trovadores e
Paganinis Alagoanos. O primeiro
lembrava os barqueiros e músicos dos
canais de Veneza. O segundo, sei lá
por que, era uma homenagem a
Niccolo Paganini, um compositor de
peças para violino nascido em
Gênova. Era Itália em plena Maceió.
Tinha que ser no Carnaval, né?

A fantasia é uma representação


carnavalesca inspirada no Arlequim,
personagem da commedia dell'arte, o
teatro popular surgido na Itália,
marcado pelo improviso e que ganhou
a Europa a partir do século 16. De
alma solta e brincalhona, o Arlequim
é o próprio espírito das crianças e do
Carnaval.
07 Real Cavaleiro Ah, meu bloquinho querido, que Comunidade Diretoria de
dos Montes orgulho eu tenho de ter sido um dos (1948) Carnaval e
seus líderes! Os desfiles do Cavaleiro Harmonia
dos Montes marcaram época no
Carnaval dos anos 1930 em Maceió. A
gente começava no bairro do Farol, na
parte alta da cidade, vinha descendo
até a praia do Jaraguá, na região do
cais do porto.

No caminho, o frevo arrastava


multidões, que vinham atrás do
estandarte. Todo ano eu vinha na
frente, tocando meu clarim. Eu me
sentia como um maestro regendo os
foliões. Que saudade, meu Cavaleiro!
Formalmente, o Cavaleiro dos Montes
ainda existe, mas desde 2010 seu
estandarte não baila mais pelas ruas de
Maceió. A fantasia representa um
folião-cavaleiro, montado a cavalo,
com um adereço de mão inspirado no
estandarte original do bloco.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

08 Dois frevos para Não existe Carnaval em Maceió sem Comunidade Diretoria de
Gonguila frevo. O ritmo embriagante que (1948) Carnaval e
chegou do nosso vizinho Pernambuco Harmonia
sempre foi a marca musical da folia
na cidade. Como se já não fosse
orgulho suficiente vir na frente do
Cavaleiro dos Montes e o povo me
chamar de Rei do Carnaval, fizeram
dois frevos pra mim. Fico todo besta
com esta homenagem tão linda.
Gonguila foi imortalizado em duas
obras, que honram sua memória de
folião e estão representadas nesta ala.

Pelas mãos dos compositores Jucá


Santos e Alves Damasceno, seu nome
foi escrito no frevo-canção (de estilo
cadenciado e letras melodiosas)
Evocação de Alagoas: “Relembro as
Alagoas do passado / Emocionado e
com saudades mil / [...] / o ‘Cavaleiro
dos Montes’ / Quero evocar sem
demora / Na imagem do ‘Rás
Gonguila’”. Foi, ainda, homenageado
em Frevo do Gonguila, estilo frevo-
de-rua (sem letra e com andamento
vigoroso, apenas no sopro dos
metais). No adereço de mão, a dupla
sombrinha alude aos dois frevos.
09 Descendente de Quando virei Rás Gonguila, descobri Comunidade Diretoria de
Salomão que minha linhagem vem de Salomão, (1948) Carnaval e
o rei de Israel e Judá conhecido por Harmonia
ser justo, sábio e rico. Tem um livro
que conta que um dia Salomão recebeu
em seu palácio em Jerusalém a visita
de uma bela mulher, soberana de um
reino distante, ao sul de Israel. Eles
tiveram um filho bem poderoso, que
muitos anos depois começaria esse
negócio de imperador da Etiópia.

Rei Salomão, filho do Rei David, cuja


história é contada no Kebra Negast,
um compilado de lendas etíopes
antigas, está representado nesta ala.
Conta o livro que Menelik, filho de
Salomão e Makeda, fundou uma
dinastia que foi semente do Império
Etíope.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

10 Herdeiro de Makeda, eu descobri depois, era o Comunidade Diretoria de


Sabá nome da Rainha de Sabá. Pariu o (1948) Carnaval e
menino dela com Salomão quando Harmonia
voltava de Jerusalém para o seu
reino. Ela era tinhosa. Só deixou o
rapaz visitar o pai quando completou
idade suficiente para atravessar rios,
desertos e montanhas. O rapaz
esperou, foi pra Israel, trouxe
tesouros para a mãe e decidiu honrar
o nome do pai fundando um império
na Etiópia.

Sabá, a matriarca do Império Etíope,


está representada nesta fantasia.
Conta o Kebra Nagast que a
Dinastia Salomônica fundada por
seu filho Menelik daria origem, anos
depois, ao Império Etíope. O trono
só foi extinto em 1974, após um
golpe militar que tirou do poder
Haile Selassie, o último Leão de
Judá.
11 Cristãos de No alto das montanhas ao norte da Comunidade Diretoria de
Lalibela Etiópia existe uma cidade chamada (1948) Carnaval e
Lalibela. É uma das mais antigas do Harmonia
país e guarda tesouros: igrejas
esculpidas em pedra viva. Essa tal de
Lalibela é sagrada para os católicos
de lá. Ouvi dizer que são ortodoxos.
Não sei direito o que isso significa.
Mas agora, que estou indo para a
coroação do Rás Tafári, quero ver se
dou um pulinho lá. Duvido que seja
mais bonita que Maceió.

Lalibela, cidade sagrada para os


cristãos ortodoxos da Etiópia, está
representada nesta fantasia. Os
típicos vitrais, que retratam cenas
cotidianas da ortodoxia, estão no
resplendor em formato de asas.
Lalibela recebe multidões durante as
festas que celebram a paz entre os
povos, simbolizada pela Cruz de
Cristo, presente nas costas da roupa.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

* Povos da Etiópia Agora o negócio vai ficar mais Destaques de Aieny Mendes
na festa da animado! Vai começar a festa do Rás Chão e Flávia
coroação – Tafári. De longe eu vejo chegando os Custódio
Princesas da povos da Etiópia, que vieram para a
Etnia Suri coroação do imperador. Porque não
existe festa sem povo! Os primeiros
que eu vejo são os Suri. A turma é
bonita, toda enfeitada. Parece até
que estão num desfile de blocos no
Carnaval de Maceió.

Se nas páginas da história oficial os


povos tradicionais da Etiópia foram
espectadores distantes da
entronização de Haile Selassie, no
desfile da Beija-Flor eles assumem o
papel de protagonistas. Afinal,
coroação é festa; e festa quem sabe
fazer é o povo! Convidadas para a
coroação do novo imperador, as
etnias ancestrais da Etiópia saíram
dos vales distantes, onde suas
tradições convivem em harmonia.
Vaidosas e valentes, percorreram
léguas – assim como Gonguila – para
saudar o Rás Tafari, trazendo sua
diversidade cultural e seus trajes
festivos para a grande coroação do
novo Leão de Judá. No delírio de
Gonguila, os primeiros povos que ele
avista vindo em direção ao Palácio
Imperial da Etiópia são os Suri,
representados na fantasia das
Princesas dos Passistas e na Ala dos
Passistas (Ala 12). São os Suri que
abrem o grande cortejo de etnias
etíopes na festa de coroação, que fez
Gonguila lembrar dos blocos de sua
cidade. Na sequência, vêm as etnias
Omí (Ala 13/Bateria), Hamer (Ala
14), Mursi (Ala 15) e Karo (Ala 16).

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

12 Etnia Suri A etnia Suri, retratada na fantasia da Ala de Diretoria de


ala de passistas da Beija-Flor, traz Passistas Carnaval e
para a coroação de Selassie suas (1948) Harmonia
máscaras tribais adornadas com
pintura de bolinhas e pequenos frutos
e sementes silvestres (presentes no
adereço de cabeça).

* A mais bela Doçura e valentia são a marca da Rainha de Lorena Raíssa


guerreira da jovem guerreira, que a todos fascina Bateria
Etnia Omí com a força com que defende e
representa a cultura de seu povo, da
tribo Omí. É a protegida dos
batuqueiros, responsáveis por animar
a festa, que a têm como filha.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

* A grande Conhece os segredos do som dos Destaque da Neide


matriarca da ventos, dos bichos e das águas, Bateria Tamborim
Etnia Omí sabedoria que usa para conquistar o
respeito de todos os batuqueiros da
tribo Omí.

13 Povos da Etiópia Os Omí, representados na bateria da Bateria Mestre Plínio e


na festa da Soberana, são pastores que têm uma (1948) Mestre Rodney
coroação – Etnia relação de amor com seu gado. Em
Omí sinal de respeito, cantam, dançam e
tocam para os bichos, com
instrumentos de couro e madeira.
Nos dias de festa, usam coloridos
panos de estamparia e brincos feitos
de presas de javali, conforme
retratado na fantasia.

14 Povos da Etiópia Os cabelos com cachos densos, Comunidade Diretoria de


na festa da untados com uma pasta feita de argila (1948) Carnaval e
coroação – Etnia ocre e gordura de animais, e o chapéu Harmonia
Hamer de capim seco são a marca registrada
dos Hamer, etnia conhecida pela
habilidade no comércio e pelo gosto
pelas festas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

15 Povos da Etiópia Conhecidos pela bravura com que Comunidade Diretoria de


na festa da defendem suas terras e pelo respeito (1948) Carnaval e
coroação – Etnia que impõem aos povos vizinhos, os Harmonia
Mursi Mursi trazem consigo um visual
inconfundível: um disco de madeira,
osso ou cerâmica usado para enfeitar
o lábio inferior. Essas verdadeiras
joias tribais estão representadas no
adereço de cabeça da fantasia. Em
dias de festa, presas de marfim são
usadas como joias, para destacar a
nobreza e a coragem desse povo.

16 Povos da Etiópia O povo Karo conhece os segredos de Comunidade Diretoria de


na festa da semear a terra. Aquilo que plantam e (1948) Carnaval e
coroação – Etnia colhem é o seu maior tesouro. Tanto Harmonia
Karo que em dia de festa usam um cesto de
frutos colhidos especialmente para a
ocasião, em sinal de respeito.

* A Deusa da Me disseram que a Beija-Flor tem Destaque de Pinah


Passarela uma rainha tão bonita, mas tão Chão
bonita, que fez Charles, o rei da
Inglaterra, mexer as cadeiras
quando ele ainda era príncipe.
Agora só falta Pinah botar o
imperador Selassie para cair no
samba.

Como uma deusa, Pinah – a


Cinderela Negra que encantou o Rei
da Inglaterra quando ele ainda era
príncipe – encanta a passarela, com
seu figurino esvoaçante, diáfano e
etéreo. Pinah é luz e talento cristalino
de rainha, que sublima a própria
nobreza na abertura do setor
dedicado à Beija-Flor.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

G Cortejo de um A corte de Nilópolis já vai partir Comunidade Diretoria de


R pássaro real rumo a Maceió. Tem festa sendo (1948) Carnaval e
U preparada na minha terra, e esse Harmonia
P povo lindo da Baixada não pode
O ficar de fora da minha coroação.

No devaneio de Gonguila, o pássaro


real faz as honras da casa e anuncia o
maior orgulho nilopolitano: a própria
Beija-Flor. Nobres da escola abrem o
cortejo azul e branco que parte para a
festa de coroação do Rás Alagoano.

17 Quando ainda Tudo que existe na cultura popular Ala das Néia e Tia
não tinha Beija- um dia teve começo. O melhor que a Borboletas / Débora
Flor gente faz é bater cabeça para os Ala Signos
ancestrais, os antepassados, aqueles
que tanto nos ensinaram. Eu não
existiria se não fosse meus sonhos, o
jogo de pião na rua, a folia que
aprendi com Major Bonifácio. Assim
como não existiria Beija-Flor se não
fossem esses blocos.

Inspirada nos antigos carnavais de


Nilópolis, a ala presta uma
homenagem aos blocos Irineu Perna
de Pau, dos Teixeiras e Centenário –
que plantaram nas ruas da cidade a
semente do que um dia seria a nossa
escola.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

18 Nobreza Com a nobreza da Beija-Flor eu Comunidade Diretoria de


Nilopolitana aprendi um samba que a escola (1948) Carnaval e
cantou um dia desses: esta “gente Harmonia
preta tem feitiço na palavra” e
"sangue azul, nilopolitano".

A gente nobre da Beija-Flor,


acostumada a se vestir de glória, traz
nesta fantasia a memória ancestral de
Joãosinho Trinta, Viriato Ferreira e
Cabana; e força de seu Anísio,
presidente de honra da Beija-Flor e
um dos grandes responsáveis por
fazer a escola do tamanho que ela é
hoje – todos eles estampados na parte
frontal da saia das damas e na parte
traseira do fraque dos cavalheiros.

* Rancho O rancho Beija-Flor, que desfilava nos Destaque de Tia Lúcia


Beija -Flor carnavais de Valença, cidade do Sul do Chão
Estado do Rio, inspirou o nome da
nossa escola, quando Tia Eulália
entendeu o recado mágico das asas de
uma ave pequenina e deslumbrante.

19 Um beija-flor no Olha que história bonita: era Natal de Ala das Tia Lúcia
quintal de Tia 1948 e um grupo de foliões se reuniu Baianas /
Eulália na casa de Tia Eulália. Queriam Comunidade
fundar um bloco novo, que ainda não (1948)
tinha nome. Ela lembrou do tempo de
menina, quando desfilava no Rancho
Beija-Flor, em Valença. Foi quando
um beija-flor cruzou o seu quintal,
parou no ar por uns instantes e sumiu
no céu azul de nuvens brancas.

Neste delirante bater de asas de um


beija-flor, estava criada e batizada a
Associação Carnavalesca Beija-Flor,
que mais tarde seria a grande escola
campeã, tendo Tia Eulália como a
única mulher entre os fundadores. A
matriarca do grêmio nilopolitano está
representada com uma fantasia que é
um festival de prata em plena pista.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

20 O esplendor da Por esta eu não esperava! Não é que Comunidade Diretoria de


corte egipciana a Beija-Flor é chegada num delírio? (1948) Carnaval e
Ou melhor, em acreditar nas Harmonia
histórias que ela mesma cria?
Fizeram até um desfile sobre uma
avó que viajou no tempo até a corte
do Egito. Se vovó foi, eu também fui,
só que pra corte da Etiópia!

Na primeira vez que Nilópolis


delirou, a vovó chorou ao lembrar de
tempos que não voltam mais. Fez
uma viagem no tempo, visitou as
origens da folia e se encantou com a
corte do Antigo Egito. Nesta fantasia,
lembramos o enredo de 1977, Vovó e
o Rei da Saturnália na Corte
Egipciana, o primeiro dos nossos
carnavais delirantes como a história
de Gonguila.
21 Coração de Esta é para quem me acha doido: Comunidade Diretoria de
serpente não se Adão e Eva viveram na Lapa, um (1948) Carnaval e
engana paraíso de prazer e pecado, e Harmonia
testemunharam os primórdios do
Carnaval do Rio de Janeiro. Duvidar
eu não duvido, mas acho graça
quando não acreditam que eu sou
descendente de Zumbi, Dandara e
Selassie.

A Lapa de Adão e Eva, alucinação da


Beija-Flor criada para o Carnaval de
1985, não podia estar representada de
maneira mais clara na fantasia. O
bairro boêmio está representado no
chapéu de malandro e nos famosos
arcos, presentes na saia e no adereço
de mão. A serpente, cujo coração não
se engana (título da fantasia
inspirado em um dos versos do
samba original), está nos ombros do
componente. Na cabeça e no cetro,
tem o pecado que fez Adão provar a
maçã e Eva comer a banana. E no
costeiro, chifres de diabinhos e os
boás usados por Pinah no desfile
quase 40 anos atrás.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

22 Brasil das Pensam que acabou? Tem mais: uma Comunidade Diretoria de
Maravilhas menina destemida segue um (1948) Carnaval e
misterioso coelho, cai num buraco e Harmonia
desce até um mundo desconhecido,
onde tudo é fantástico e quase nada
faz sentido. É, Beija-Flor... a gente
acabou de se conhecer, mas a nossa
história tem mais em comum do que
a gente pensa!

A fantasia representa Alice no Brasil


das Maravilhas, o enredo satírico da
Beija-Flor para o Carnaval 1991,
inspirado na obra do escritor
britânico Lewis Carroll. Nesta
história cheia de enigmas e críticas,
Alice conhece a ira do Rei e da
Rainha de Copas, que manda cortar a
cabeça de quem lhe enche a
paciência. É o mal-humorado casal
de monarcas que está representado
nesta ala.

G É o sorriso Clarim eu já toco, só falta aprender Comunidade Diretoria de


R alegre do pandeiro. Sou de Maceió, herança de (1948) Carnaval e
U sambista Palmares e de Etiópia. A partir de Harmonia
P agora, com o sorriso desta gente, que
O atravessa de um canto a outro da
pista, sou de Nilópolis também.

O grupo de pandeiristas e sambistas


representa a memória do povo
nilopolitano neste cortejo errante de
Carnaval, desde o tempo em que ela
ainda se chamava “o” Beija-Flor.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

* Paraíso da Esta mulher faz o chão tremer Destaque de Raíssa Oliveira


Loucura quando samba com seu porte de Chão
rainha. Como diz um samba antigo
da escola: "Tirem do passado a
nobreza, criem a fantasia mais linda,
delirem neste canto de emoção".

A fantasia é inspirada no enredo


Paraíso da Loucura, que a Beija-Flor
preparou para o Carnaval de 1979,
cujos primeiros versos do samba se
encaixam perfeitamente na trajetória
do homenageado: “Ao ressoarem os
clarins da folia / O sonho / Filho da
noite e do infinito / É o rei”.
23 Eu sou da terra "Guerreiro! Cheguei agora. Nossa Ala 1001 Luis Figueira e
onde o Guerreiro Senhora é nossa defesa!” Assim Noites / Ala Tuninho
mora começa uma das mais conhecidas Vamos Nessa
(Guerreiro) jornadas de guerreiro, o folguedo
mais querido de Alagoas. Jornada,
se vocês não sabem, é o mesmo que
cantiga. Posso dizer a vocês que tiver
a honra de ver nascer os primeiros
grupos de guerreiro de Maceió e
cidades vizinhas. Tambor, pandeiro
e sanfona; igrejas e fitas na cabeça;
o apito do mestre comandando os
brincantes. Lindo demais, o
guerreiro alagoano!

O cortejo de folguedos alagoanos


para a festa de coroação de Rás
Gonguila começa com o guerreiro. O
que ele tem de novo, tem de marcante
na cultura alagoana. Seus primeiros
registros são do final da década de
1920. O guerreiro é filho do Reisado:
também anuncia a chegada do
Menino Jesus, porém com mais
figurantes e atos encenados. As
apresentações retratam a devoção
popular com ritmo marcado no toque
do tambor, do pandeiro, da sanfona e
do apito do mestre.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

23 Eu sou da terra E no alto de seus trajes Ala 1001 Luis Figueira e


onde o Guerreiro multicoloridos, repletos de bordados Noites / Ala Tuninho
mora e fitas, resplandecem as igrejas, Vamos Nessa
(Guerreiro) como catedrais na cabeça dos
brincantes, e os pedacinhos de
espelho, para espantar o mau olhado.
O título da fantasia é o trecho de uma
jornada composta por brincantes de
Maceió: Sou beija-flor beijando a
flora / Eu sou da terra onde o
Guerreiro mora.

24 Cordão Azul- Pastoril é coisa de quem tem pouca Comunidade Diretoria de


Encarnado posse e muita fé. É o folguedo mais (1948) Carnaval e
(Pastoril) conhecido em Alagoas, que encena a Harmonia
espera dos pastores pela missa na
noite de Natal, anunciando o
nascimento de Jesus. Vocês sabiam
que eu inclusive chegue a organizar
pastoril no bairro do Farol? Sempre
teve esse negócio de rivalidade entre
o cordão Azul e o Encarnado, mas
isso só existe nas batalhas de versos
ao som do sax, trombone, violão e
tarol.

No canto e louvações das mulheres


do pastoril está a força que comanda
os cordões: Azul de um lado, a cor de
Nossa Senhora; Encarnado do outro;
a cor de Nosso Senhor – ambas as
cores representadas na fantasia. São
todas Dianas, que vestem as duas
cores em nome da paz: saiote rodado,
corpete bordado, avental barrado de
renda; chapéu de camponesa, arranjo
de flor, pandeirola na mão: “Boa
noite meus senhores todos / Boa
noite senhoras também / Somos
pastoras / Pastorinhas belas”, que
alegremente vamos à coroação de
Gonguila!
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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

25 Sagrado e O reisado caiu no gosto de que Comunidade Diretoria de


profano (Reisado morava longe do centro de Maceió e (1948) Carnaval e
Alagoano) em outras cidades de Alagoas. Entre Harmonia
a noite de Natal e a noite do Dia de
Reis, o povo se encantava com os
grupos que saíam pelas ruas
dançando, cantando e improvisando
declamações. O alferes ia na frente,
pedindo de porta em porta algum
dinheiro para bancar a festa.

Meio sagrado e meio profano, o


reisado é um auto natalino de origem
portuguesa. Nos trajes típicos do
reisado alagoano, representados
nesta fantasia, sobressaem os tecidos
coloridos como a chita, as balançado
das fitas e o brilho dos bordados e
coroas – lembrando a nobreza de
Gaspar, Baltazar e Belchior, os Três
Reis Magos que viajaram para dar
presentes ao Menino Jesus.
26 Encantaria de Este folguedo de indígena é bom de Ala Karisma / Bruno e
lanceiro ver na sombra da jurema. A gente Ala Cabulosos Thiago /
(Caboclinhos) canta, toca e bate o pé para espantar Luizinho
o inimigo, pedir chuva pra molhar a
terra seca, fazer festa sem
compromisso e também evocar os
encantados das matas.

De longe se vê o majestoso cocar,


para que ninguém esqueça a
imponência do povo que primeiro
pisou o chão das Alagoas. Tem toque
de guerra para o inimigo espantar e
de perré para fazer chover; tem toque
de baião para festejar e de toré para
fazer pajelança. É caboclinho,
herança indígena de lança na mão,
cheia de fitas e flechas cruzadas na
ponta. É caboclinho, trazendo os
mistérios dos encantados das matas,
que só a jurema sagrada conhece.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

27 Trupé ligeiro e Tá enganado quem pensa que coco Ala Alledance / Diretoria de
rodado de roda sempre foi dança de gente Comunidade Carnaval e
(Coco de roda) pobre, viu? E folguedo de praia que (1948) Harmonia
ganhou a rua, todo mundo na
embolada, tirando verso de
improviso, os homens de chapéu
para aparar o sol e as mulheres com
a beira da saia rodada segurada na
ponta da mão. Coco de roda é
alagoano raiz, com resposta
marcada na palma da mão,
lembrando o canto do preto e do
indígena que batia na quenga até ela
quebrar. Dizem os sabidos que isso
vem desde os tempos de Palmares. É
a ancestralidade que corre nas
nossas veias.

Quem vê hoje o coco em rodas nas


ruas não lembra que um dia ele já foi
dos salões. É dança praiana, sertaneja
e da cidade grande; dança de todo
mundo, com verso tirado no
improviso e na embolada. Chiado de
ganzá, tilintar de triângulo; abafado
de zabumba, soprado de flauta – são
muitos os jeitos de tocar. É o coco
rodado no chão de pedra ou terra
batida; no sol que esmorece ou na
sombra que amansa. Nesta fantasia,
tem dama bonita de saia rodada e
rapaz elegante de colete e chapéu,
marcando o passo no trupé – o passo
ligeiro, sapateado, como quem
amassa o chão de barro das casas
pobres de antigamente.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

* A joia do folclore A cultura de Alagoas não é só Destaque de Brunna


alagoano folguedo. Meu povo honra o Chão Gonçalves
artesanato, a comida simples, as
lendas contadas de geração em
geração, as músicas e as danças. A
tradição popular, o folclore, é a joia
de todo alagoano.

A fantasia representa o conjunto de


tradições que estão na memória e na
identidade de cada alagoano,
simbolizadas em cada peça vendida
na comunidade das Rendeiras, no
Pontal da Barra.
28 Bom marujo Ao som do pandeiro, rabeca e viola, Comunidade Diretoria de
também brinca chegança e fandango a gente (1948) Carnaval e
(Chegança e encontra lá no Pontal da Barra, com Harmonia
Fandango) passos que lembram o balanço do
mar. Homem e mulher, velho e
menino, não importa a patente, todo
mundo vestido de motivo naval, em
louvor a Jesus e à Virgem Maria.
Não tem letra de embaixada escrita.
É tudo passado de pai e mãe pra
filho, de mestre e mestra pra
brincante. Todos batendo os pés no
tombo do navio, enquanto narram
histórias de tormentas e calmarias,
amores e brigas, partidas e
chegadas.

Chegança e fandango são folguedos


que, de uma maneira resumida, têm
uma origem comum: as mouriscadas
da Península Ibérica, simulando as
batalhas navais entre mouros e
europeus. Vestida de branco e azul-
marinho, toda patente – de
marinheiro a almirante – celebra a
vida sobre as ondas declamando
embaixadas (canções) em louvor ao
Menino Deus e à Virgem Maria.
Nada é escrito; tudo se aprende de
ouvido, nos ensinamentos dos
mestres, passados de geração em
geração. Nesta fantasia, destaque
para os timões no costeiro e a âncora
no chapéu.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

G É Carnaval nas Toda esta saga que começou em Comunidade Diretoria de


R praias de Maceió Palmares, contou um pouco da (1948) Carnaval e
U – Guardiões da história do Carnaval de Maceió, foi Harmonia
P Pajuçara até a Etiópia, conheceu a Beija-Flor e
O reuniu os folguedos alagoanos... Sei
não... Eu tô achando que vai tudo
terminar num grande banho de mar à
fantasia, igualzinho como a gente
terminava os desfiles do Cavaleiro
dos Montes... O que é aquilo? Olha
lá, minha gente! Parece que tá
chegando um monte de bloco do
fundo do mar!

No delírio de Gonguila, eis o ato


derradeiro do seu destino de folião.
As etnias da Etiópia, a corte de
Nilópolis e os brincantes dos
folguedos alagoanos estão prestes a
se juntar ao cortejo de blocos
carnavalescos com seres aquáticos
que emergem das águas nas mais
belas praias de Maceió. É este o
cenário final da história criada pela
mente extraordinária de Benedito,
com um alucinante séquito marinho
para coroar o nosso Rás, conforme
veremos a seguir: Guardiões da
Pajuçara (Grupo), Brincantes do
Pontal da Barra (Ala 29), Frenesi
Jatiúca (Ala 30) e Banhistas do
Jaraguá (Ala 31).

Os Guardiões da Pajuçara
representam a praia das piscinas
naturais, dos arrecifes e do caminho
de areia que flutua sobre as águas; a
praia que foi parar no Mar da
Mirandela, em plena Nilópolis. Meio
homens, meio peixes, formam a
guarda real de Netuno, senhor dos
mares, e trazem o corpo enfeitado de
pérolas para a grande festa.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

29 É Carnaval nas Bem ali, onde a Lagoa do Mundaú Comunidade Diretoria de


praias de Maceió alcança o mar, desfilam os (1948) Carnaval e
– Brincantes do Brincantes do Pontal da Barra, com Harmonia
Pontal da Barra seus corpos de tentáculos e peixes na
cabeça. Este grupo de foliões
escolheu representar no baile
marinho de Gonguila as praias quase
virgens e desertas do bairro dos
artesãos e pescadores.

30 É Carnaval nas Corpo de água-viva, mãos de Comunidade Diretoria de


praias de Maceió barbatanas e cintura de estrela-do- (1948) Carnaval e
– Frenesi da mar. São os brincantes do Frenesi da Harmonia
Jatiúca Jatiúca, bloco carnavalesco da corte
netuniana na famosa praia, que antes
era só um vasto sítio de coqueiros.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

31 É Carnaval nas Gonguila morava na Ponta Grossa, Comunidade Diretoria de


praias de Maceió mas seu bairro do coração era mesmo (1948) Carnaval e
– Banhistas do o Jaraguá, onde terminavam os Harmonia
Jaraguá desfiles do seu bloco. Aquela
enseada de águas azuis beijando a
areia branca era o cenário do banho
de mar à fantasia, hábito dos foliões
de Maceió nos dias quentes de
Carnaval nos anos 1920-1930. Aqui
surge o bloco Banhistas do Jaraguá,
com a roupa típica para os banhos
salgados naquela época e as boias em
formato de beija-flor na cintura do
componente.

* Devaneio Bom mesmo é se perder nas águas de Destaque de Carla


Subaquático Maceió, minha sereia, mergulhada Chão Cachoeira
naquele azul sem fim, que tanto nos
orgulha e nos socorre nos dias de
calor.

A fantasia representa o balanço


hipnotizante das marés, tal qual a
musa do delirante cortejo marinho,
que deságua no asfalto o mais puro
samba no pé, como se fosse uma
onda a quebrar na areia.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

32 Menestréis A Ala dos Compositores, os Ala dos Kirraizinho


nilopolitanos menestréis da nossa escola, veste Compositores
calça branca, sapato bicolor, chapéu
e gravata borboleta. Na mão, uma
pequena viola. E no paletó, estampa
que reproduz o piso de ladrilhos do
Museu Théo Brandão, templo da
cultura popular das Alagoas.

33 Discípulos de Finalizando o desfile da Beija-Flor, Convidados Direção de


Gonguila esta ala – que não se configura Carnaval e
fantasiada e, portanto, não deve ser Harmonia
avaliada no regulamento do quesito –
congrega os foliões colaboradores e
amigos da Escola. Os foliões vestem
camisa inspirada em grafismos da
Etiópia. Homens e mulheres que
levam fé na cultura popular,
acreditam nos seus sonhos e têm
sangue de nobreza. Assim como um
dia acreditou o nosso querido Rás.
Evoé, Gonguila! A gente se vê por aí,
nobre folião...

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Fantasias

Local do Atelier
Rua Rivadávia Corrêa, 60 – Unidade 11 – Cidade do Samba – Gamboa – Rio de Janeiro – RJ
Diretores Responsáveis pelo Atelier
João Vitor Araújo, Fabynho Santos, Rodrigo Pacheco, Lenile Pessoa e Dudu Azevedo
Costureiro(a) Chefe de Equipe Chapeleiro(a) Chefe de Equipe
Ademilde Silvinho/Nequinha e Tatiane Almeida –
Aderecista Chefe de Equipe Sapateiro(a) Chefe de Equipe
Rodrigo Pacheco e Fabynho Santos José Francisco “Zé Sapateiro”
Outros Profissionais e Respectivas Funções

Fabynho Santos Equipe de Criação e Ateliê de Fantasias de Luxo

Rodrigo Pacheco Equipe de Criação e Ateliê de Fantasias

Valéria, Simone Sant’Ana, Michele, Beth, Responsáveis pelo Ateliê de Fantasias


Ana, Ricardo e Cleiton

Edmilson Lima Responsável pela confecção do 1° Casal de


Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Leozinho / Ateliê Aquarela Carioca Responsável pela confecção do 2°, 3º e 4º Casais


de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Outras informações julgadas necessárias

Informação complementar sobre alas do 3º Setor – “Quando encontro a corte africana”


As alas 14 (Etnia Hamer, com predomínio da cor vermelha), 15 (Etnia Mursi, com predomínio da
cor amarela) e 16 (Etnia Karo, com predomínio da cor verde) seguem o alinhamento de cores
conforme a bandeira da Etiópia.

Informação complementar sobre o término do 5º Setor – “A soberania popular me traz”


O quinto setor do desfile, ao contrário dos demais, não se encerra na alegoria – no caso, a de número
5, “O relicário da cultura alagoana”. Termina, na verdade, na ala de número 28, “Bom marujo
também brinca”, que desfila após o quinto carro. A razão é estética: o figurino remete aos trajes dos
marinheiros da chegança e do fandango, em consonância com o último setor do desfile, que vem na
sequência, com suas referências marinhas.

Mini-perfil: Fabynho Santos


Artista autodidata, começou no Carnaval em 1998, na Beija-Flor, onde permaneceu até 2002. Em
seguida, trabalhou com Joãosinho Trinta na Acadêmicos do Grande Rio. Como carnavalesco,
assinou os desfiles da São Clemente (2006 a 2008), Império da Tijuca (2009) e Unidos de Padre
Miguel (2011). De 2015 a 2017, foi figurinista da Acadêmicos do Cubango e da Mocidade Unida
160
Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

da Glória, em Vitória, no Espírito Santo. Retornou à Beija-Flor em 2018, como figurinista,


responsável por fantasias especiais e integrante da equipe de criação.

Mini-perfil: Rodrigo Pacheco


Começou no carnaval em 2005, como aderecista na Unidos de Vila Isabel. No ano seguinte, chegou
à Beija-Flor como chefe de alegoria, exercendo esta função até 2017. Nos dois anos seguintes,
integrou a Comissão de Carnaval, ajudando a escola a conquistar o campeonato de 2018. A partir
de 2020, passou a fazer parte da equipe de criação da escola. É também responsável pelos ateliês
de fantasias da escola em Nilópolis.

Ateliês de fantasias
Todas as fantasias da Beija-Flor são confeccionadas no barracão da Cidade do Samba e em dois
ateliês administrados pela própria escola, que ficam em Nilópolis. Nesses dois locais, são
produzidas, todos os anos, mais de 2.500 fantasias para os componentes, com profissionais
formados pela escola, sob supervisão constante da equipe de criação. Além de gerar pertencimento
para a comunidade, que participa ativamente da elaboração do carnaval, os dois ateliês contribuem
para propiciar emprego e renda e movimentar a economia do município.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Autor(es) do Samba-Enredo
Kirraizinho, Lucas Gringo, Wilsinho Paz, Venir Vieira, Marquinhos Beija-Flor e Dr. Rogério

Presidente da Ala dos Compositores


Kirraizinho
Total de Componentes da Compositor mais Idoso Compositor mais Jovem
Ala dos Compositores (Nome e Idade) (Nome e Idade)
58 Picolé (81 anos) Lucas Gringo (23 anos)
Outras informações julgadas necessárias

Letra do Samba-Enredo:

Em Maceió
O paraíso deu à luz a um menino
À beira-mar, nasci um rei
E o senhor das ruas deu o meu caminho
Eu acreditei!
Herdeiro da dinastia e das lutas de Zumbi
De Palmares às palmeiras e marés
Da cultura e bravura dos tupis e caetés
De nobre engraxate ao novo horizonte:
Real Cavaleiro dos Montes

Tem mironga, festa da ralé


Malandragem, frevo, arrasta-pé BIS
A magia que avoa, o rosário no andor
A cantiga que ecoa no axé do meu tambor

Gira, mundo, feito pião que Gonguila do jeito


Que me eterniza o bendito dos plebeus
Quando encontro a corte africana
A nobreza alagoana realiza os sonhos meus
Voa, Beija-Flor
A soberania popular me traz
Num batuque de Rás
Um coco, um pouco de samba de roda
E o povo anuncia: é ela!
Delira, tem Pajuçara no mar da Mirandela!

Aqui é Beija-Flor, doa a quem doer


Do gênio sonhador, da gana de vencer BIS

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Tá no meu peito, tá no meu grito


Escola de respeito que coroa Benedito

O Samba-Enredo, verso a verso:

EM MACEIÓ
O PARAÍSO DEU À LUZ A UM MENINO
À BEIRA-MAR, NASCI UM REI
E O SENHOR DAS RUAS DEU O MEU CAMINHO
EU ACREDITEI!

Os primeiros versos da estrofe inicial apresentam o lugar onde o personagem principal do enredo
veio ao mundo: Maceió, cidade iluminada pelo sol que brilha forte o ano todo, paraíso de águas
claras e quentes, de múltiplos tons de azul e verde. Este recanto formoso empresta sua luz a
Benedito, guiado na infância e na juventude pelo senhor das ruas – o mensageiro, o andarilho, o
dono das encruzilhadas. Era na rua que o menino jogava pião, era na rua que o rapaz se entregava
à boêmia, era na rua que ele reinava como folião. Nos caminhos abertos por Exu, Benedito conhece
o seu destino: nasceu um rei e acreditou em sua majestade!

HERDEIRO DA DINASTIA E DAS LUTAS DE ZUMBI


DE PALMARES ÀS PALMEIRAS E MARÉS
DA CULTURA E BRAVURA DOS TUPIS E CAETÉS
DE NOBRE ENGRAXATE AO NOVO HORIZONTE:
REAL CAVALEIRO DOS MONTES

O que corre nas veias de Benedito é nobreza de quilombo: Palmares, o maior de todos, erguido por
guerreiros africanos, que acolheram bravos tupis e caetés. Descendente de Zumbi e Dandara, que
espalharam a ancestralidade africana do alto da Serra da Barriga a todos os cantos de Alagoas. Da
infância como engraxate nas ruas do Centro da capital, o moleque cresceu e encontrou sua maior
vocação. Nasceu para ser brincante, folião soberano do Cavaleiro dos Montes, bloco da mais alta
realeza do Carnaval de Maceió.

TEM MIRONGA, FESTA DA RALÉ


MALANDRAGEM, FREVO, ARRASTA-PÉ BIS
A MAGIA QUE AVOA, O ROSÁRIO NO ANDOR
A CANTIGA QUE ECOA NO AXÉ DO MEU TAMBOR

Mironga é feitiço e encantamento, macumba de preto e pajelança de caboclo. Tudo isso tem nas
festas de gente simples, malandragem da ralé, que risca o chão com seus passos de frevo nos
carnavais de Maceió. É a devoção à padroeira que passa no andor, a fé no rosário pendente na mão.
É o axé dos tambores batidos em cada folguedo.

GIRA, MUNDO, FEITO PIÃO QUE GONGUILA DO JEITO


QUE ME ETERNIZA O BENDITO DOS PLEBEUS
QUANDO ENCONTRO A CORTE AFRICANA
A NOBREZA ALAGOANA REALIZA OS SONHOS MEUS

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Brincadeira de moleque era jogar pião: barbante enrolado na peça de madeira e golpe certeiro para
fazer o brinquedo girar. Na Maceió de Benedito, quando o pião não rodava direito e caía no chão,
os moleques diziam que era uma gonga. E cada um apontava o dedo: "Aquele cabra ali gonguila!"
Estava batizado nosso rei: Gonguila, o bendito dos plebeus. Que um dia pegou a corda do pião, deu
um giro na própria história e virou Rás, como o imperador da distante Etiópia.
Entre o real e a imaginação, trouxe a corte africana para encontrar a nobreza alagoana e realizar seu
grande sonho: botar uma coroa na cabeça.

VOA, BEIJA-FLOR
A SOBERANIA POPULAR ME TRAZ
NUM BATUQUE DE RÁS
UM COCO, UM POUCO DE SAMBA DE RODA
E O POVO ANUNCIA: É ELA!
DELIRA, TEM PAJUÇARA NO MAR DA MIRANDELA!

E segue o devaneio de Rás Gonguila. No encontro com a Deusa da Passarela, o príncipe etíope dos
carnavais alagoanos conhece o povo de sangue azul nilopolitano. É a Beija-Flor, Soberana da
Baixada, misturando um pouco de samba e coco-de-roda, um dos ritmos mais marcantes e populares
das Alagoas. Para delírio do povo, que anuncia: se Pajuçara é praia em Maceió, Mirandela é praia
em Nilópolis – com seu mar de gente a pisar forte na defesa do carnaval e de sua ancestralidade.

AQUI É BEIJA-FLOR, DOA A QUEM DOER


DO GÊNIO SONHADOR, DA GANA DE VENCER BIS
TÁ NO MEU PEITO, TÁ NO MEU GRITO
ESCOLA DE RESPEITO QUE COROA BENEDITO

Não levem a mal. Não é por desprezo que a gente diz: aqui é Beija-Flor, doa a quem doer. É por
orgulho! Orgulho de cantar os nossos ancestrais, o nosso chão, a nossa história -- recheada de
enredos e desfiles alucinantes, criados por tantos gênios sonhadores. Assim como Rás Gonguila,
que criou sua própria história. O que move a gente é a vontade de vencer, de soltar o grito preso no
peito. Escola de comunidade, que impõe respeito, e está pronta para mais esta missão: coroar
Benedito na Marquês de Sapucaí!

O samba, a liberdade artística e a gramática

A Beija-Flor destaca dois versos de seu samba que podem levantar discussões sobre erros
gramaticais que teriam sido cometidos pelos compositores.

O primeiro está no refrão principal: Aqui é Beija-Flor, doa a quem doer. Há gramáticos que
defendem a expressão "doa em quem doer" como certa, enquanto outros dizem que é perfeitamente
possível usar a versão que está no samba nilopolitano. Antonio Houaiss, em sua gramática da língua
portuguesa, diz que que o verbo "doer" aceita a partícula "lhe" seguida de um verbo no infinitivo.
Celso Pedro Luft, no "Dicionário Prático de Regência Verbal", vai na mesma linha, admitindo
também a preposição "a" – exatamente como está no verso do nosso samba.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

O segundo caso está na abertura da primeira estrofe: Em Maceió, o paraíso deu à luz a um menino.
Diz a norma culta: a expressão dar à luz, que significa parir, exige o acento grave. Ou seja: quando
alguém nasce, a mãe dá o filho à luz (vida, no sentido figurado) – não o contrário. Portanto, ao se
falar de um parto, a expressão correta é "dar à luz".

Alguns estudiosos admitem que a expressão “dar à luz” pode ser sucedida pela preposição “a”. Um
dos exemplos vem da Bíblia. Há edições do livro sagrado dos cristãos que registram a frase: "E
aconteceu que, como Raquel deu à luz a José, disse Jacó a Labão" (Gênesis 30:25). Observem:
tem "a" com e "a" sem acento grave.

A Beija-Flor não tem a pretensão de escrever uma nova gramática na avenida. Apenas gostaria de
lembrar que: a) o idioma é um organismo vivo e mutante; b) a língua tem suas regras, mas nem
todas são consenso entre os experts; c) o português castiço dos livros quase nunca é o mesmo falado
e entendido pelas ruas; d) não é pecado falar de um jeito simples, que todos entendam – como
ensina a tradição oral popular, que está na alma do nosso enredo; e) Carnaval é uma festa menos de
literalidade e mais de sentidos figurados, interpretações, liberdades e possibilidades criativas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Bateria

Diretor Geral de Bateria


Mestres Rodney José Ferreira e Plínio de Morais
Outros Diretores de Bateria
Anderson Miranda “Kombi”, Adelino Vieira “Saú do Gaz”, Diego, Thiago, Michel, Laísa Lima,
Xunei, Marlon, Dylan Guilherme, Maxwell, Jonny Alves e Zé Carlos
Total de Componentes da Bateria
240 (duzentos e quarenta componentes)
NÚMERO DE COMPONENTES POR GRUPO DE INSTRUMENTOS
1ª Marcação 2ª Marcação 3ª Marcação Reco-Reco Ganzá
09 09 13 0 0
Caixa Tarol Tamborim Tan-Tan Repinique
104 0 32 0 25
Prato Agogô Cuíca Pandeiro Chocalho
0 0 16 0 26
Outras informações julgadas necessárias

Frigideira: 06 componentes.

Coração da escola de samba

É praticamente impossível dar a verdadeira dimensão da importância da bateria para a vivência de


uma escola de samba, não somente no dia do desfile, mas também no cotidiano da agremiação.
Responsável por ditar o ritmo que vai embalar o samba e todos os componentes da escola, a bateria
é uma verdadeira orquestra rítmica, que toca a céu aberto e sem controle de som, espaço ou acústica.

São mais de 200 músicos que fazem um espetáculo único e preciso, alcançando excelência e
coordenação por meio de muita prática, ensaios e dedicação. Sendo os primeiros a chegar e os
últimos a sair nos eventos, os ritmistas são artistas que prestam devoção às suas escolas, para que o
show possa acontecer.

No universo das baterias das escolas de samba do carnaval carioca, é fundamental falar da
importância e do impacto da orquestra da Beija-Flor de Nilópolis. Na era Sambódromo, das 149
notas computadas no quesito Bateria desde o ano de 1984, a Beija-Flor obteve pontuação máxima
122 vezes. O apelido de Soberana, em homenagem à alcunha da própria escola, dá dimensão da
entrega e da dedicação de seus ritmistas, diretores e mestres ao longo do tempo.

Esses elementos foram fundamentais para a bateria alcançar o patamar de excelência que atualmente
ocupa, não só em termos de notas, mas também de premiações pelos mais diversos veículos que
cobrem o carnaval, incluindo o Estandarte de Ouro no ano de 2016. Além disso, vale destacar o
impacto de seus ritmistas por todo o mundo do samba.

Há 14 anos a bateria da Beija-Flor é comandada pelos mestres Plínio e Rodney. Plínio de Morais é
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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

mais um dos símbolos encarnados do que é pertencer, ser e construir a família nilopolitana.

Advindo do bloco Mocidade do São Mateus, de São João de Meriti, começou sua trajetória como
ritmista desde muito cedo, aos 13 anos, tocando surdo de terceira – ou, como se chamava à época,
surdo de contratempo. Em uma competição de blocos, a Mocidade foi campeã e o desempenho de
cinco ritmistas chamou a atenção do então presidente Anísio, que convidou os percussionistas para
integrar a bateria da Beija-Flor. Entre os selecionados estava Plínio.

Desde então, mestre Plínio compõe a escola de Nilópolis, tendo desfilado em algumas
oportunidades no G.R.E.S. Em Cima da Hora. Diretor desde 1993, com o Mestre Odilon, tornou-se
mestre em 1997, dividindo o cargo com Paulinho Botelho de 1998 a 2009, e com Rodney desde
então. Plínio se orgulha de ter participado de todos os 14 títulos da Beija-Flor – em nove deles como
mestre de Bateria – e é hoje, junto com Neguinho da Beija-Flor, o maior vencedor vivo do carnaval
carioca. Símbolo das baterias, do carnaval e, principalmente, da Família Beija-Flor, Plínio é figura
indispensável para compreender os rumos do carnaval brasileiro.

Rodney José Ferreira, que tem nome de sambista e bamba, começou muito cedo a se envolver com
o mundo do ritmo. Ainda que não seja flamenguista, começou sua trajetória numa torcida do
Flamengo, a Fla Méier. À época, os projetos de oficinas não eram consolidados, e foi a forma que
ele encontrou para, aos 8 anos, começar a aprender a tocar. Depois começou a tocar no bloco
carnavalesco Labareda do Méier, lar de diversos nomes do carnaval, como por exemplo o intérprete
Luizito (1954-2015). De lá, conseguiu sua primeira experiência numa escola de samba, na S.R.E.S.
Lins Imperial, aos 15 anos. Da verde e rosa do Lins, seguiu para a Caprichosos de Pilares, onde
também integrou o grupo show da escola, o CapriShow.

A partir daí, sua trajetória começou a tomar contornos de ainda maior liderança, ao se tornar braço
direito do mestre Paulinho Botelho, com quem trabalhou na Unidos do Viradouro e na Portela, antes
de rumarem para Nilópolis. Mestre Rodney esteve presente em todos os títulos da escola desde
1998, trabalhando ao lado dos mestres Plínio e Paulinho, antes de assumir o comando da Soberana
junto a Plínio, no ano de 2010.

Juntos, implementaram um ritmo inconfundível, com a marca registrada das frigideiras e do repique
mor, características que se destacam na bateria da agremiação, além do swing dos surdos de terceira
e das caixas muito bem executadas. Primeiro a chegar na avenida para os desfiles e último da bateria
a sair, mestre Rodney é marca registrada de dedicação e serviço à Beija-Flor de Nilópolis, e um dos
grandes mestres da história do Carnaval.

Um dos grandes orgulhos dos mestres Plínio e Rodney está na coordenação conjunta que fazem do
projeto de formação de ritmistas, que ocorre aos sábados. Na verdadeira dinâmica de família, veem
nisso não só a necessidade, mas a responsabilidade de comandar a renovação da escola, plantando
frutos que servirão à Beija-Flor e a todo o carnaval. Confiantes no trabalho de seus diretores, jovens
que também os ajudam a consolidar a marca da Soberana no carnaval, os mestres Plínio e Rodney
comandam a bateria com a certeza de bons trabalhos no presente e com uma preocupação
incondicional com o futuro da agremiação.

167
Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Rainha de Bateria: Lorena Raíssa

Em seu segundo ano à frente da bateria Soberana, Lorena Raissa é mais uma estrela da grande
constelação Beija-Flor de Nilópolis. Herdeira de uma longa linhagem de rainhas da comunidade
alimentada pela escola, Lorena conquistou seu lugar em um disputado concurso promovido para
valorizar as pratas da casa e dar continuidade ao legado de Sônia Capeta, Neide Tamborim e Raissa
de Oliveira.

Esbanjando carisma, talento e simpatia, a nossa majestade arrebatou corações e foi aclamada pela
diretoria, pelos segmentos e pela apaixonada torcida nilopolitana. Cria da comunidade, Lorena
nasceu enquanto a mãe, Aline Souza, voltava de um ensaio técnico na Sapucaí em 2007, ano do
histórico “Áfricas: Do Berço Real à Corte Brasileira”.

O ônibus que voltaria a Nilópolis precisou mudar de trajeto até a maternidade, onde veio ao mundo
nossa futura rainha. Nascida e criada em berço nilopolitano, filha de passista e neta de compositor,
Lorena representa o trabalho social realizado pela escola por meio do Instituto Beija-Flor e participa
ativamente da nossa Comissão Jovem Antirracista.

Aos 17 anos, tem a missão de representar a tradição do samba no pé e a graciosidade cultivada na


Ala de Passistas, que ela integra desde 2013. Apesar de jovem, seus dotes artísticos a fizeram
notável desde muito cedo, sendo, já há alguns anos, uma das principais atrações nas apresentações
da Beija-Flor.

Vida longa à Rainha Lorena!

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Harmonia

Diretor Geral de Harmonia


Simone Sant’Ana e Valber Frutuoso
Outros Diretores de Harmonia
Fabio, Ibson, Valtemir, Rosana, Beto, Janete, Catia, Patrícia, Osvaldo, Marcelo, Pedro, Amaury,
Baixinho, Rosangela, Ritinha, Rodrigo, Leandro, Sergio, Edu, Roberta, Arineia, Fernanda, Márcia,
Assis, Patrícia, Luciana, Alexandre, João, Marcão, Jucemar, Marcelo Caxias, Kaylane, Shirleise,
Alessandra, Vanderson, Juçan, Jorge André, Silvia, Luizinho Cabuloso, Marisa, Airton, Sheila,
Luizinho, Jorgina, Arleno, Andrea, Anderson, Aline e Luis.
Total de Componentes da Direção de Harmonia
75
Puxador(es) do Samba-Enredo
Intérprete Oficial – Neguinho da Beija-Flor
Cantores do Carro de Som – Jéssica Martin, Ane Lopes, Gilson Bacana, Igor Pitta, William Santos,
Ronaldo Junior, Nego Lindo, Lucas Gringo e Wendel Santos
Instrumentistas Acompanhantes do Samba-Enredo
Betinho Santos – Diretor Musical / Primeiro Cavaquinista / Músico
Júlio Cesar Assis – Cavaquinista / Músico
Jonathan Lima – Cavaquinista (afinação de bandolim) / Músico
Alan Vinícius – Violão Sete Cordas / Músico
Outras informações julgadas necessárias

Harmonia: incentivo à comunidade

Os diretores e as diretoras de Harmonia são aqueles e aquelas que incentivam os componentes a


evoluírem, em canto e dança. Além de estimular os brincantes, cabe também ao segmento
acompanhar as apresentações dos outros setores da escola, organizando, dirigindo e conduzindo as
exibições para o corpo de jurados e o público. Compete à Harmonia gerir, organizar, fiscalizar,
fazer com que o desfile se realize por meio da evolução linear dos desfilantes e dos elementos
cenográficos. No cortejo, sua função é garantir o perfeito desempenho dos componentes durante a
exibição. Figuras indispensáveis, os diretores e as diretoras de Harmonia, de modo geral, são
responsáveis por fazer com que a escola aconteça plenamente em uma dinâmica articulada com a
Direção de Carnaval.

A Beija-Flor de Nilópolis construiu uma sólida tradição no segmento por meio de apresentações
memoráveis na avenida, sobretudo pela força do canto e da evolução dos seus componentes. O chão
da escola é conhecido pela sua vibração e entrega. A manutenção e o fortalecimento desta
característica são resultado de um trabalho amplo, conduzido de forma primorosa pela Harmonia
dirigida por Simone Santana e Valber Frutuoso.

A história da vida de Simone está intimamente ligada à Beija-Flor de Nilópolis. Foi na escola que
a diretora construiu sua família e se desenvolveu como liderança.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Na agremiação desde 1995, foi desfilante, líder de comunidade, aderecista e chegou a se apresentar
como Porta-Bandeira em algumas apresentações externas. No segmento Harmonia, sua caminhada
teve início com um convite de Laíla (1943-2021). O convívio fez o mestre perceber a qualidade do
trabalho de Simone que foi acumulando responsabilidades e se destacando.
A dedicação, a capacidade, a liderança e o empenho foram reconhecidos no ano de 2019, quando
recebeu o convite para ser Diretora Geral da Harmonia, em parceria com Valber Frutuoso. Única
mulher a exercer o cargo no Grupo Especial em 2024, Simone é querida e respeitada na escola por
sua história e pela maneira correta e objetiva com que conduz o trabalho.

Valber Frutuoso é de uma família de sambistas. Filho de um dos fundadores do Cacique de Ramos,
iniciou sua trajetória como passista. Ainda jovem, na Acadêmicos do Grande Rio, ingressa no
segmento Harmonia, tendo Laíla como diretor. Assim como Simone, chegou à Beija-Flor no ano
de 1995. Convidado pelo mestre, Valber acumula mais de 20 anos de experiência na agremiação,
sendo figura importante do período mais vitorioso da história da escola. Em sua trajetória
carnavalesca, teve uma breve passagem pela Unidos da Ponte e uma exitosa jornada pela União da
Ilha, como Diretor Geral, levando a escola de volta ao Sábado das Campeãs no carnaval de 2014,
até assumir, em 2018, o cargo na Soberana. Exímio conhecedor do carnaval carioca, domina os
saberes e práticas necessários para o exercício do ofício e constitui com Simone uma dupla afinada
no objetivo de levar a escola à vitória.

Intérprete: Neguinho da Beija-Flor

Luiz Antônio Feliciano Marcondes acrescentou ao seu nome de batismo o nome artístico que o
consagrou: Neguinho da Beija-Flor. O cantor e compositor é um grande expoente desta agremiação,
que teve no seu talento um dos pilares de sua consolidação. Neguinho é patrimônio da Beija-Flor
de Nilópolis e do carnaval carioca. Sua voz inconfundível é uma marca indelével que ajudou a
construir a história gloriosa da azul e branco.

Filho de músico, a arte se fez presente desde a infância. Sua estreia como puxador de samba se deu
no então bloco Leão de Iguaçu. Foi o compositor Cabana, a pedido do patrono Anísio Abraão David,
quem fez o convite para que ele assumisse o posto no qual faria história na cultura brasileira, tanto
pelo sucesso quanto pela longevidade. Hoje, quase cinquenta anos depois, o cantor é a voz mais
conhecida e um dos principais artistas – senão o principal – do maior espetáculo da terra.

Vencedor de cinco Estandartes de Ouro do jornal O Globo, também foi agraciado com um Prêmio
SRZD e duas Estrelas do Carnaval, concedidas pelo site Carnavalesco. Além disso, é um dos
maiores vencedores do prêmio Tamborim de Ouro, do jornal O Dia, tendo conquistado por seis
vezes a distinção de A Voz da Avenida, uma vez como Personalidade e a justa deferência como
Intérprete da Década, recebida em 2007.

Para além do carnaval, construiu uma sólida e bem-sucedida carreira como cantor, com 36 discos
gravados ao longo de uma trajetória que coleciona sucessos e o fez excursionar o mundo para exibir
sua arte, arregimentando uma legião de fãs. No ano de 1991, conquistou o Prêmio Sharp de melhor
cantor de samba, reconhecido pelo público e pela crítica.

A Beija-Flor se orgulha de ter um dos maiores nomes do samba e da música popular brasileira como
seu intérprete. Neguinho é a nossa voz, nossa imagem e a nossa história viva, honra e glória desta
agremiação.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Evolução

Diretor Geral de Evolução


Dudu Azevedo
Outros Diretores de Evolução
Alcides, Alexandre Russo, Bahia, Bodão, Cavalo, Chacal, Choque, Claudinho, Clayton, Creck,
Dario, Diogo, Edvaldo, Fofão, Fumaça, Jacaré, Leandro, Lima, Lolocka, Lucas, Luiz, Maltheus,
Marcelinho, Marcelo, Marcos Góes, Mazinho, Michel Oliveira, Negão da Sul, Para, Peto, Pirikito,
Rick, Thiago, Thiago Jogador, Vinícius, Washington, Wesley, William e Xavier.
Total de Componentes da Direção de Evolução
40 (quarenta)
Principais Passistas Femininos
Lorena Raíssa (Rainha de Bateria), Raíssa Oliveira, Flávia Custódio, Carla Cachoeira, Aieny
Mendes de Araújo Nogueira, Steffany Sant’Ana dos Santos, Lorrayne Lopes, Lysana Andreza,
Elisa Oliveira, Thais Ferreira, Thaís Machado, Sabrina Coradini, Alexia Etyene Pereira, Lúcia
Helena da Silva, Melck Percidia Peixoto, Rayele Melo da Silva e Thaiane Vitória da Gávea.
Principais Passistas Masculinos
Cassio Dias, Evton Ramos, Eduardo Monteiro, João Ricardo Salvador, Mario Jr, Leandro Teodoro,
Lorenzo Matheus, Wesley Lindoso da Silva e Lucas B. Alves Cruz
Outras informações julgadas necessárias

Pinah Ayoub
Mineira de nascimento, carioca de coração, Maria da Penha estudou para ser contadora, mas acabou
virando modelo. Trabalhou com o lendário Jésus Henrique, que por anos foi um dos principais
destaques de luxo da escola. Ficou mundialmente famosa ao sambar com o então príncipe Charles,
hoje rei da Inglaterra. E atingiu o apogeu em 1983, no quinto título da Beija-Flor, como uma das
personagens do enredo A grande constelação das estrelas negras, de Joãosinho Trinta. Há muitos
anos vivem em São Paulo, mas nunca ter abandonado três dos seus grandes amores: o Rio, Nilópolis
e a Beija-Flor.

Raíssa Oliveira
Raissa Oliveira tem 33 anos e foi uma das mais longevas Rainhas de Bateria do Carnaval do Rio de
Janeiro. Ela já fazia parte da ala de passistas mirins da Beija-Flor quando, em 2003, aos 12 anos,
ganhou o concurso da comunidade nilopolitana para ser a nova soberana dos ritmistas da escola,
substituindo a lendária Sonia Capeta. Raíssa reinou por quase duas décadas, até entregar o posto a
Lorena Raíssa, no Carnaval 2023.

Aieny Mendes e Flávia Custódio


Crias da escola, as duas princesas da Ala de Passistas foram finalistas no concurso interno que
elegeu Lorena Raíssa Rainha de Bateria da Beija-Flor.

Carla Cachoeira
Profissional da área de recursos humanos, o primeiro contato de Carla com a Beija-Flor foi ainda
na infância, quando sua avó, Vilma, confeccionava fantasias. Desfilou pela primeira em 2004, como
baianinha. Depois, foi passista durante anos. Atualmente é diretora da Ala de Passistas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Brunna Gonçalves
Dançarina e influenciadora digital, Brunna participou do Big Brother Brasil 2022. É casada com a
funkeira Ludmilla, que em 2023 integrou o carro de som da Beija-Flor de Nilópolis.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Informações Complementares

Vice-Presidente de Carnaval

Diretor Geral de Carnaval
Dudu Azevedo
Outros Diretores de Carnaval

Responsáveis pela Ala das Crianças
Andrea e Anderson
Total de Componentes da Quantidade de Meninas Quantidade de Meninos
Ala das Crianças
60 50 10
Responsável pela Ala das Baianas
Lúcia Alves Boiça
Total de Componentes da Baiana mais idosa Baiana mais jovem
Ala das Baianas (Nome e Idade) (Nome e Idade)

70 Nilcea Costa da Silva Thaisy Gonçalves Vieira


81 Anos 36 Anos
Responsável pela Velha-Guarda
Débora Rosa Santos Cruz
Total de componentes da Componente mais idoso Componente mais jovem
Velha-Guarda (Nome e Idade) (Nome e Idade)
61 Terezinha Simões Soares Sueli Martins de Souza
91 Anos 64 Anos
Pessoas Notáveis que desfilam na Agremiação (Artistas, Esportistas, Políticos, etc.)

Samuel Assis (Ator)


Cacá Diegues (Cineasta, nascido em Maceió)
Thaís Müller (Atriz)
Pinah Ayoub (Empresária e Destaque de Chão)
Cássio Dias (1º bailarino da escola e Estandarte de Ouro de Passista Masculino em 1991)
Raíssa Oliveira (Empresária, ex-Rainha de Bateria e Destaque de Chão)
Sonia Capeta (ex-Rainha de Bateria e Estandarte de Ouro de Passista Feminino em 1994)
Neide Tamborim (Madrinha da Bateria e Estandarte de Ouro de Passista Feminino em 1993)
Carla Cachoeira (Profissional de Recursos Humanos e diretora da Ala de Passistas)
Benedito dos Santos (Servidor público e filho de Rás Gonguila)
Silviany Domingues (Servidora pública e sobrinha-neta de Rás Gonguila)
Osvaldo dos Santos (Servidor público e filho de Rás Gonguila)
Marcos Evangelista de Morais/Cafu (ex-Jogador de futebol)
Mariah Morais (jornalista, empresária e esposa do ex-jogador Cafu) / Apoiadora de projetos
sociais em Maceió e Alagoas.

173
Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Outras informações julgadas necessárias

Diretores da Ala de Baianas: Cátia, Arinea e Gil.

Diretor de Carnaval: Dudu Azevedo

Presente no samba desde a infância, Dudu teve seus maiores exemplos em casa.
Os pais se conheceram no carnaval, como lideranças de diferentes blocos e a folia sempre esteve
presente na rotina da família Azevedo. Seu pai, José Luiz Azevedo, foi, entre outros cargos e
funções, Diretor da RIOTUR e Diretor de Carnaval da Acadêmicos de Santa Cruz e da Mocidade
Independente de Padre Miguel.

Em sua trajetória, Dudu integrou, inicialmente como ritmista e depois como coordenador, o Grupo
Rio Samba Show, com participações em várias cidades do país e no exterior, com destaque para um
longo período no Japão, passando por Kobe, Shiga, Osaka e Tokyo. Também participou de diversos
eventos no Terreirão do Samba, como Concursos de Rei Momo e Rainha do Carnaval.

Nas escolas de samba, teve longa jornada como diretor de Harmonia, fazendo parte do corpo de
diretores da Unidos do Viradouro, mas, sem sombra de dúvidas, sua carreira é marcada pelo
trabalho desenvolvido no Acadêmicos do Grande Rio, escola na qual foi promovido a Diretor Geral
do segmento em 2004. O bom trabalho desenvolvido na tricolor despertou a atenção do Acadêmicos
do Salgueiro, que formalizou o convite para que ele assumisse o cargo de Diretor de Carnaval.

Desde então, Dudu vem se destacando como uma liderança que preza pelo diálogo, o respeito aos
profissionais e a integração da comunidade. Competitivo e dedicado, empenha-se em construir, no
dia a dia, um ambiente de respeito e cooperação que propicie o fortalecimento coletivo das
agremiações onde trabalha. A energia que emprega em seu trabalho serve de exemplo e combustível
para sua equipe.

Na Beija-Flor desde 2020, seu trabalho é uma aposta na organização, planejamento, estratégia e
ensaios frequentes na busca para que os movimentos sejam desenvolvidos cada vez mais de modo
contínuo e regular, possibilitando um ciclo harmonioso em que os passos de dança dos integrantes,
bem como a sua progressão na Avenida durante o desfile, estejam dentro do ritmo e sendo efetuados
na mesma cadência da Bateria e da harmonia de cordas, mas sem perder a espontaneidade genuína
do sambista, de modo que a Escola desfile evoluindo com tranquilidade, leveza, garra e alegria.

Para este carnaval, visando atingir esses objetivos e manter o padrão de excelência, foram realizadas
reuniões e ensaios na quadra da Escola semanalmente, reforçando os aspectos positivos alcançados
e lapidando aquilo que ainda poderia ser aprimorado para o desfile. Além disso, também foram
realizados ensaios mensais nas ruas de Nilópolis, além de encontros com escolas coirmãs, como os
ocorridos em dezembro de 2023 e janeiro de 2024, intitulados “Encontro de Quilombos”, em
conjunto com as agremiações coirmãs Unidos de Vila Isabel, Acadêmicos do Grande Rio,
Mocidade Independente de Padre Miguel e Imperatriz Leopoldinense.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Comissão de Frente

Responsável pela Comissão de Frente


Jorge Teixeira e Saulo Finelon
Coreógrafo(a) e Diretor(a)
Jorge Teixeira e Saulo Finelon
Total de Componentes da Componentes Femininos Componentes Masculinos
Comissão de Frente
15 0 15
Outras informações julgadas necessárias

Gira, mundo, feito o pião do menino...

A Comissão de Frente da Beija Flor de Nilópolis para o Carnaval de 2024 costura os retalhos da
memória mais remota de Benedito e refaz, na Marquês de Sapucaí, os caminhos percorridos pelo
do engraxate que se encantou pelos Carnavais de Maceió.

Guiado pelas histórias dos nobres que reinavam com bravura no alto da Serra da Barriga, o
menino recebe o axé da ancestralidade africana no templo sagrado do samba. Nesta brincadeira,
em que volteiam os sonhos e os delírios do moleque pobre, uma simples cadeira pode ser a
carruagem do monarca folião, que ganhava a vida a lustrar sapatos na ponta da flanela.

O gênio do menino sonhador, que teimava em girar pião das ruas da velha capital alagoana, será
finalmente coroado. Nesta noite, pião é coroa. Nesta noite, Benedito é rei. Viva o menino banhado
de luz, descendente de Palmares, que acreditou na história criada por ele mesmo. Viva Benedito e
Gonguila! Viva a Beija-Flor e o Carnaval!

Sobre os Coreógrafos:

Jorge Teixeira
Formado em Educação Artística (Faculdade de Formação Profissional Integrada) e em Música
(Escola de Música Villa-Lobos), Jorge Teixeira começou na dança em 1987, na Escola Hortência
Mollo. Diretor Artístico da Cia. Brasileira de Ballet e fundador do Conservatório Brasileiro de
Dança e da ONG Ciranda Carioca, destaca-se pela metodologia própria de ensino, que lhe deu
prêmios como: “Moção de Congratulações” (Câmara Municipal do Rio de Janeiro); “Melhor
Espetáculo” e “Menção Honrosa” (Prefeitura de Cabo Frio/RJ); “Moção Aplauso” (Prefeitura de
Carmo/RJ); “Prêmio Cultura Nota 10” (Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro); “Prêmio
Dedicación” (XIII Certamen Internacional de Danzas – Danzamérica 2007/Argentina); “Prêmio de
Melhor Maitre” (V Fest Dance 3); Prêmio “Especial de Melhor Grupo” (Festival de Dança de
Joinville/SC).

Foi professor convidado de companhias profissionais, como: Studio de Ballet Tatiana Leskova, Cia.
de Ballet da Cidade de Niterói (RJ), Deborah Colker Cia. de Dança, Ballet do Teatro Municipal do
Rio de Janeiro e Ballet Nacional Dell Sódre (Montevidéu/Uruguai). Foi consultor e supervisor de
cursos de ballet clássico nas escolas: Ballet da Ilha de Vila Velha (ES);

175
Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Escola de Dança da Fundação Clóvis Salgado, Belo Horizonte (MG); Escola Municipal de Bailados
de Ourinhos (SP).

Hoje atua como Diretor Artístico e Pedagógico da Escola Municipal de Bailados de Ourinhos e é
professor/ensaiador convidado do Ballet Nacional de Sodré (Montevidéu), sob a direção de Julio
Bocca. Tem sido premiado com seus alunos nos principais festivais de dança do mundo, tais como:
Youth América Grand Prix, New York (EUA); Prix de Lausanne (Suíça); International Ballet
Competition, Beijing (China); New York Ballet Competition (EUA); Mônaco Danse Fórum,
Mônaco; USA/IBC International Ballet Competition, Jackson. Orgulha-se de ter formado bailarinos
que atuam em grandes companhias, pelas Américas e Europa.

Desde 2007, assina como coreógrafo a Comissão de Frente de Escolas de Samba do Grupo Especial
do Carnaval do Rio de Janeiro. No ano de 2011, recebeu o Prêmio Plumas e Paetês, pela Melhor
Comissão de Frente do Grupo B do Carnaval Carioca.

Saulo Finelon
Iniciou seus estudos de balé em 1994, na Escola de Danças Maria Olenewa. Ingressou no Grupo
Thalhe, em 1995, passando a ter aulas com o professor Jorge Texeira. Em 1996, foi aprovado para
a Cia. de Ballet da Cidade de Niterói (RJ), onde atuou como solista do ballet “Caminhada”, do
coreógrafo Rodrigo Moreira. Em 1997, foi aprovado em audição pública para o Corpo de Baile do
Teatro Municipal do Rio de Janeiro, atuando como solista em vários espetáculos, tais como “Suíte
em Blanc”, de Lifar; “Divertssments No 5”, de Ballanchine; “Les Pressages”, de Massine;
“Daphinis e Cloé” de Fokine; “Amigos de Copélia”, de Henrique Martinez. Ensaiou sob a
orientação de Jean Yves Lourmaux (etóile da Ópera de Paris), então diretor do TMRJ, o primeiro
papel de Príncipe Desirée, do ballet “A Bela Adormecida”, de Marius Petipa.

Em 2001, atuou como solista em: “As Quatro Estações”, com música de Verdi e coreografia de
Gustavo Malojoli; “A Megera Domada”, de John Cankro, no papel de Inocêncio; “O Quebra-
Nozes”, de Dallal Achcar. Integra o elenco da Cia. Brasileira de Ballet como bailarino convidado,
desde a sua reestreia, em 2001. Em 2002, foi aprovado como Bailarino Estatutário do TMRJ.

A partir de 2003, passou a atuar como assistente/ensaiador de Jorge Texeira, nas companhias de
Ballet da Escola Petite Danse e na Cia Brasileira de Ballet. Atuou como assessor artístico do
Conservatório Brasileiro de Dança de 2007 a 2011. Desde 2004, é modelo exclusivo das grifes
internacionais de artigos de dança e fitness “Só Dança”, “Kerche&Kerche” e “Trinys”, atuando
como bailarino/modelo em desfiles do evento “Fashion Rio”. No filme “A Dona da História”, de
Daniel Filho, dançou com as atrizes Débora Falabella e Fernanda Lima. De 2008 a 2010, participou,
como bailarino convidado da Cia. Brasileira de Ballet, de diversas turnês internacionais, pelas
cidades de Miami e Nova York (EUA), Mônaco, Beijing (China) e Córdoba (Argentina).

Desde 2007, é assistente do coreógrafo Jorge Teixeira, nas coreografias da Comissão de Frente de
Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, como Portela, Grande Rio e Mocidade
Independente de Padre Miguel. Em 2011, recebeu o Prêmio Plumas e Paetês, pela Melhor Comissão
de Frente do Grupo B do Carnaval Carioca.

OBS.: a dupla Jorge Teixeira e Saulo Finelon criou, em 2017, o voo mágico do Aladin sobre a
Sapucaí, no último campeonato conquistado pela Mocidade Independente de Padre Miguel.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

1º Mestre-Sala Idade
Claudinho Souza 51
1ª Porta-Bandeira Idade
Selminha Sorriso 53
2º Mestre-Sala Idade
David Sabiá 37
2ª Porta-Bandeira Idade
Fernanda Love 35
3º Mestre-Sala Idade
Muskito 42
3ª Porta-Bandeira Idade
Emanuelle Martins 26
4º Mestre-Sala Idade
Hugo Martins 24
4ª Porta-Bandeira Idade
Naninha Fidélis 43
Outras informações julgadas necessárias

Dinastia de Zumbi e Dandara

Sangue de nobreza africana corria nas veias dos palmarinos. Por muito tempo, reinou no grande
quilombo a dinastia de Zumbi e Dandara, representados no 1º casal de Mestre-Sala e Porta-
Bandeira. Nascido livre e capturado ainda menino, Zumbi não se curvou ao cativeiro e fugiu. No
horizonte, bem no alto da serra, encontrou morada e liberdade. E também seu grande amor,
Dandara. Realidade e mito em forma de mulher, era a destemida soberana que comandava
guerrilhas e emboscadas. Juntos, foram os mais respeitados líderes de Palmares. Contra a
escravidão, resistência. E quando não foi mais possível lutar, preferiram a morte. Era mais digno
que se ajoelhar perante o açoite e a chibata. No desfile da Beija-Flor, as duas personagens recebem
o tratamento digno em suas indumentárias
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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Nas palavras do carnavalesco João Vitor Araújo: "Não podemos mais retratar realeza preta com
farrapos. Se esses nobres vestiam roupas rotas, foi por conta da maior covardia, da maior barbárie
que se pode perpetrar contra uma pessoa, que é escravizá-la. Se usavam trapos, foi contra a vontade
deles. Por isso que no Quilombo Beija-Flor, no Mocambo Nilopolitano, Zumbi e Dandara são
representados da forma que merecem: como rei e rainha de fato". É este o espírito retratado na
indumentária de Claudinho e Selminha: ancestralidade, nobreza e bravura a pulsar no coração de
cada alagoano.

Guardiões do nosso maior tesouro

O casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira tem papel de destaque no cortejo ritualístico que é o desfile
de escola de samba. Responsáveis por conduzir, proteger e apresentar o principal símbolo da
agremiação, os consortes se apresentam com graça, leveza e majestade fazendo brilhar o pavilhão.
Seu bailado se destaca na avenida pela elegância e é composto por meneios, mesuras, giros, meias-
voltas e torneados, em uma dança com passos e características próprias que encanta o público. O
pavilhão desfraldado é objeto de devoção dos fiéis apaixonados pela agremiação, valorizado pela
exuberância da arte de Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

Com mais de 30 anos de uma parceria vitoriosa e premiada, Claudinho Souza e Selminha Sorriso
colecionam, como primeiro casal, nada menos que dez títulos no carnaval carioca. O primeiro, em
1992, foi justamente na estreia como dupla, no Estácio de Sá. Na Beija-Flor de Nilópolis desde
1996, participaram ativamente do ciclo vitorioso que acumulou nove conquistas entre 1998 e 2018.
Defendendo a arte de Mestre-Sala e Porta-Bandeira como uma dança popular, destacam-se pela
garra, o vigor e a beleza de cada uma das suas apresentações. Formam um par respeitado, esperado
e reconhecido pela excelência que gerou.

Claudinho iniciou sua trajetória carnavalesca na ala das crianças do Unidos de São Carlos, através
dos pais que eram integrantes da escola. Aos dezesseis anos de idade, venceu um concurso para
terceiro Mestre-Sala da escola que havia trocado de nome para Estácio de Sá. Teve sua primeira
oportunidade como primeiro Mestre-Sala em 1990, dançando com Adriane. Mas seria justamente a
partir do par com Selminha que se consolidaria como um dos maiores da história do ofício, vencedor
por seis vezes do prêmio Estandarte de Ouro. Além da dança, Claudinho é músico, compositor e
professor de Educação Física.

Selminha começou como passista no Império Serrano, fazendo sua estreia como Porta-Bandeira no
ano de 1991. Pé quente, foi campeã do carnaval ao debutar no Estácio de Sá, no ato inaugural da
parceria histórica com Claudinho. Além dos muitos predicados de sua dança, notabiliza-se pelo
carisma que cativa o olhar de quem, admirado, observa sua exibição. Seis vezes premiada com o
prêmio Estandarte de Ouro, é amplamente reconhecida como uma das maiores da história.

Formada em Direito, Selminha é militar do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Desde o fim de
2022, é apresentadora do programa “Samba Coração” na TV Bandeirantes, dedicado ao samba e ao
carnaval carioca. Além disso, conduz o Departamento Cultural da escola e desenvolve um
importante trabalho social, aos sábados, na quadra da agremiação, oportunizando jovens através da
cultura do samba.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira – David Sabiá e Fernanda Love – A FÉ


REFLETIDA NOS VITRAIS

O mosaico de vidros coloridos, típico da Igreja Cristã Ortodoxa da Etiópia, está representado na
fantasia do 2º casal da Beija-Flor. Os vitrais presentes na saia da Porta-Bandeira e na capa do
Mestre-Sala são inspirados nos afrescos das 11 igrejas esculpidas em rocha de Lalibela, cidade-
berço do cristianismo etíope. Uma dessas igrejas é a de São Jorge, repleta de imagens sacras e cenas
litúrgicas pintadas nas paredes e no teto, que estão retratadas na indumentária.

3º e 4º Casais de Metre-Sala e Porta-Bandeira – O AXÉ DO NOSSO CHÃO

Esses dois casais retratam a religiosidade de matriz africana em uma perspectiva cultural diaspórica,
inseridos no setor em alusão à Beija-Flor, que tradicionalmente reverencia a ancestralidade preta.
Nesse contexto, os casais representam quatro orixás: Ogum e Iemanjá, Xangô e Oxum.

3º Casal – Muskito e Emanuelle Martins – OGUM E IEMANJÁ

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Abre-Alas – G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis – Carnaval 2024

Na fantasia do 3º casal, predominam as cores azul, branco e prata, usadas para representar Ogum e
Iemanjá. O mestre-sala personifica o orixá guerreiro e senhor da forja dos metais. Veste armadura
prateada com a cruz vermelha de São Jorge nas costas, e na capa, a imagem clássica do santo
católico: a cavalo, acertando o dragão com a lança. Na religiosidade popular de matriz africana,
Ogum é sincretizado com São Jorge – protetor da Beija-Flor, que guarda a quadra em Nilópolis e o
barracão na Cidade do Samba. A porta-bandeira é Iemanjá, rainha dos mares, da fertilidade e da
maternidade, representando os mares de Maceió. Na fantasia dela, destaque para as conchas,
escamas e rabos de peixe na saia, com as imagens de Iemanjá alternadas com a de Nossa Senhora
de Glória, uma das santas católicas com a qual Iemanjá é sincretizada.

4º Casal – Hugo Almeida e Naninha Fidélis – XANGÔ E OXUM

O 4º casal representa Xangô e Oxum. Na época em que Gonguila nasceu, Xangô era cultuado
livremente em Maceió. Até que, em 1912, a cidade assistiu a uma das mais violentas ondas de
intolerância religiosa da história do país, que ficou conhecido como Quebra de Xangô. Por décadas,
os atabaques foram silenciados nos terreiros. Era a época do Xangô Rezado Baixo. Foi só
recentemente que a justiça do grande Obá desceu sobre a cidade para dar fim à intolerância. É o
Xangô Rezado Alto, para que nunca mais exista gira em silêncio. Essa história está representada na
fantasia do mestre-sala, que traz em uma das mãos o oxê, o machado de duas lâminas de Xangô; e
veste branco e dourado em respeito a Oxum, o grande amor do Alafin de Oyó. Sincretizada com
Nossa Senhora dos Prazeres, padroeira de Maceió, Oxum está retratada na fantasia da porta-
bandeira, com a saia vazada na qual sobressaem os abebés, os espelhos da senhora das águas doces.

180
181
182
G.R.E.S.
Acadêmicos do
Salgueiro

PRESIDENTE

André Vaz

183
184
“Hutukara”

Carnavalesco

Edson Pereira

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Enredo
“Hutukara”
Carnavalesco
Edson Pereira
Autor(es) do Enredo
Edson Pereira e Igor Ricardo
Autor(es) da Sinopse do Enredo
Edson Pereira e Igor Ricardo
Elaborador(es) do Roteiro do Desfile
Edson Pereira e Igor Ricardo
Ano da Páginas
Livro Autor Editora
Edição Consultadas

01 A queda do céu: KOPENAWA, Cia. das Letras 2015 Todas


Palavras de um Davi; ALBERT,
xamã Yanomami Bruce

02 O desejo dos LIMULJA, Hanna Ubu Editora 2022 Todas


outros: Uma
etnografia dos
sonhos Yanomami

03 Joseca Yanomami: PEDROSA, MASP 2023 Todas


nossa terra-floresta Adriano;
RIBEIRO, David
Ribeiro;
BANIWA,
Denilson;
FERREIRA,
Patrícia; YXAPY,
Pará; e ALBERT,
Bruce

04 A árvore dos Pajés Parahiteri Editora Hedra 2022 Todas


cantos

05 Os comedores de Pajés Parahiteri Editora Hedra 2016 Todas


terra

187
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

06 O surgimento dos Pajés Parahiteri Editora Hedra 2022 Todas


pássaros

07 Futuro ancestral KRENAK, Ailton Companhia das 2022 Todas


Letras

08 Puu Naki Thëa ALBERT, Bruce; e Instituto 2021 Todas


Oni: O SENRA, Estêvão Socioambiental e
conhecimento Hutukara
Yanomami sobre Associação
abelhas Yanomami

09 Mari hi: a árvore LIMULJA, Hanna Ubu 2023 Todas


dos sonhos

10 Ancestrais da terra GIMOVSKI, Fabio Urukum 2021 Todas

Org: FERREIRA,
11 As línguas Helder; Instituto 2019 Todas
Yanomami no MACHADO, Ana Socioambiental e
Brasil Maria; e SENRA, Hutukara
Estêvão Associação
Yanomami
RICARDO, Fany
12 Povos indígenas no Pantaleoni; Instituto 2023 Todas
Brasil 2017/2022 KLEIN, Tatiane; Socioambiental
SANTOS, Tiago
Moreira dos

Claudia Andujar. NOGUEIRA,


13 A Luta Yanomami Thyago Instituto Moreira 2019 Todas
Salles

Urihi A. A Terra- BRUCE, Albert;


14 Floresta MILLIKEN, Instituto 2019 Todas
Yanomami Willian Socioambiental

O espírito da KOPENAWA,
15 floresta Davi; ALBERT, Companhia das 2023 Todas
Bruce Letras

188
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Outras informações julgadas necessárias

Perfil do Carnavalesco

EDSON PEREIRA
Edson Pereira iniciou a carreira artística no departamento de arte/cenografia da TV Globo, onde
exerceu a função de assistente de Chico Spinoza, à época carnavalesco da União da Ilha do
Governador. Foi sob as orientações dele que deu os primeiros passos no Carnaval. Em pouco tempo,
assumiu as funções de desenhista e pintor de arte em diversas escolas de samba. Formado em
figurino pela Iona College (EUA), alcançou a primeira oportunidade como carnavalesco em 2005,
na Unidos de Padre Miguel, onde permaneceu até 2008. Em 2010, recebe o primeiro desafio no
Grupo Especial do Rio de Janeiro, como carnavalesco da Unidos do Viradouro, ao lado de Júnior
Schall.

Passou pela União de Jacarepaguá e Renascer de Jacarepaguá, escola em que conquistou o título do
Grupo de Acesso em 2012. Com o sucesso e a identidade artística bem definidos, foi convidado
para dividir com Alexandre Louzada os carnavais da Mocidade Independente de Padre Miguel,
incluindo o projeto campeão do Grupo Especial em 2017. No mesmo ano, à frente da Unidos de
Padre Miguel, realizou um desfile histórico na agremiação. Para 2018, acertou o retorno à
Viradouro, onde garantiu mais um título na Série A do Carnaval. Entre 2019 e 2022, foi o
responsável pelos desfiles da Unidos de Vila Isabel, inclusive pela homenagem a Martinho da Vila,
presidente de honra e ídolo maior da agremiação do bairro de Noel. No mesmo ano, dividiu os
esforços entre mais uma passagem pela Unidos de Padre Miguel e uma homenagem a Clementina
de Jesus na Mocidade Alegre, escola do Grupo Especial de São Paulo. O reconhecimento de seu
trabalho o leva, então, ao Salgueiro. Pelo segundo ano consecutivo, o artista, dono de dezenas de
prêmios carnavalescos, é o responsável pela plástica da vermelho e branco e prepara um dos maiores
projetos da carreira.

189
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Perfil do Pesquisador

IGOR RICARDO

Igor Ricardo é formado em Jornalismo pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro) e graduando em Turismo na UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).
Trabalha na cobertura carnavalesca desde 2013. Neste período, o jornalista se notabilizou à frente
da Editoria de Carnaval do Jornal O Globo e do Jornal Extra, os jornais de maior renome da mídia
carioca e do país. Também foi convidado para a produção de reportagens internacionais durante os
desfiles carnavalescos da província de San Luís, na Argentina. Além disso, foi jurado no Carnaval
de Santos e Córdoba (Argentina). Por dois anos consecutivos, fez parte do corpo de jurados para a
escolha da Corte Real do Carnaval do Rio.

Em 2018, foi convidado a desenvolver a pesquisa de enredo da Unidos da Tijuca no desfile sobre
Miguel Falabella. No ano seguinte, ainda seguiu na escola, por onde conquistou todas as notas 10
dos jurados no enredo sobre a história do pão. Com elogiada atuação, Igor foi convidado pela
Unidos do Viradouro para auxiliar na defesa do enredo de 2020 e, juntamente com Marcus Ferreira
e Tarcísio Zanon, levou para casa os principais prêmios carnavalescos pelo tema “Ganhadeiras de
Itapuã”. Mais uma vez, conseguiu agradar todo o júri técnico da Avenida no quesito enredo,
colaborando com o título da vermelho e branco de Niterói. Em 2022, ainda na Viradouro,
conquistou pelo terceiro ano consecutivo todas as notas máximas do júri na defesa do enredo. No
Carnaval do ano passado, ajudou Rosa Magalhães e João Vitor Araújo na elaboração do livro Abre-
Alas do Paraíso do Tuiuti. Para 2024, Igor estreia na escola do coração, assinando o
desenvolvimento do enredo sobre o povo Yanomami.

Sites consultados:

- https://periodicos.ufpa.br/index.php/moara/article/viewFile/11746/8137
- https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Yanomami
- https://www.ufmg.br/revistaufmg/downloads/22/11-Artigo-11-p142-159.pdf
- https://survivalbrasil.org/povos/yanomami
- https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/publications/YAL00052_1.pdf
- https://www.laymert.com.br/wp-content/uploads/2015/02/Relato-da-visita-%C3%A0-
Aldeia-Watoriki-%E2%80%93-festa-da-pupunha.pdf
- https://terrasindigenas.org.br/pt-br/noticia/140632
- https://www.scielo.br/j/rbcs/a/zqp8KtwLwfLGHpxyRR9bSBj/?lang=pt
- https://wheretheleavesfall.com/explore/article-index/ya-nomaimi-ya-nomaimi-ya-
nomaimi/
- https://amazoniareal.com.br/ouro-do-sangue-yanomami/
- https://globoplay.globo.com/v/10636933/
- https://www.socioambiental.org/noticias-socioambientais/anfitrioes-yanomami-comecam-
receber-turistas-no-yaripo-o-pico-da-neblina
- https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/publications/YAL00024.pdf
- https://www1.folha.uol.com.br/colunas/desigualdades/2023/02/precisamos-falar-sobre-a-
beleza-dos-yanomamis.shtml
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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Vídeos consultados:

- “A última floresta”, de Luiz Bolognesi (2021)


- “Mãri Hi - A árvore do sonho”, de Morzaniel Yanomami (2023)
- https://www.youtube.com/watch?v=_enJW9BREQM
- https://www.youtube.com/watch?v=rMQTH5SrSMY
- Entrevista Davi Kopenawa - https://www.youtube.com/watch?v=5byN3rhbZKs
- Davi Kopenawa no Conversa com Pedro Bial - https://globoplay.globo.com/v/11524061/
- Entrevista Claudia Andujar - https://www.youtube.com/watch?v=poaF28yUFMc

** Os Acadêmicos do Salgueiro agradecem ao Instituto Socioambiental (ISA) e Instituto Moreira


Salles pela colaboração durante todo o processo de criação e desenvolvimento do enredo.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

HISTÓRICO DO ENREDO

Sinopse do enredo

Para todo salgueirense.


Flecha para tocar o coração da sociedade não indígena.

Amazonas, divisa com Roraima, entre as bacias do Rio Negro e do Rio Branco. Há mais de mil anos,
os Yanomami vivem na maior Terra Indígena (TI) do país, em um território ao norte do Brasil e ao
sul da Venezuela. Quinhentos anos antes dessas duas nações existirem, eles já estavam lá. Viver na
floresta é um ofício que requer uma sabedoria ancestral, não fabricada em laboratório, nem encontrada
nas páginas dos livros do “povo da mercadoria”. Viver na floresta tem o seu próprio conto e encanto.

“Omama recriou a floresta, pois a que havia antes era frágil. Virava outra sem parar, até que, o
céu
desabou sobre ela. Por isso, Omama criou uma nova floresta, mais sólida, cujo nome é Hutukara”
Davi Kopenawa - A queda do céu

Entre em transe. Sonhe.

Sob o luar de um anoitecer, todos se deitam, em redes, e iluminam o breu, numa aldeia sem luz elétrica,
com lanterninhas e pequenas fogueiras que vão ajudar a amenizar o ar gélido da madrugada
amazônica. A nossa noite, porém, é o seu dia. Sob o efeito da yãkõana, pó alucinógeno feito das raspas
de árvores que dá acesso aos espíritos, os xamãs da aldeia convocam os xapiris. Eles vêm com seus
corpos translúcidos, sempre belamente adornados e brilhantes. Só quem os conhece pode vê-los
porque são muito pequenos e brilham como a luz. Há muitos, muitos, milhares deles. Xapiri é luz que
dança e canta.

Ãë, ãë, ãë, e, e, e, e, e, ãë, ãë, ãë, ãë!

Os cantos dos xapiris são tão numerosos que suas palavras são inesgotáveis. Eles aprendem tais
melodias a partir das árvores de cantos. São árvores imensas, com troncos cobertos de lábios que se
movem sem parar, uns em cima dos outros. Dessas bocas saem cantos belíssimos, tão abundantes

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quanto as estrelas do peito do céu. Todos os cantos dos espíritos provêm dessas árvores muito antigas.
Esses espíritos ancestrais foram criados por Omama para que os Yanomami pudessem se vingar das
doenças e se proteger da morte. Os xapiris são os protetores dos humanos e seus filhos,
independentemente de quantos sejam, e da floresta. Eles garantem a todos nós, indígenas e não
indígenas, a certeza de que o sol nascerá no dia de amanhã e que o céu não desabará sobre a nossa
cabeça.

Vislumbramos o sol do alvorecer. Céu azul, corpos pintados de vermelho. Coberta de palha e folhas,
com uma praça de terra batida ao ar livre, o povo da aldeia parte para a caça e a coleta da pupunha,
ingrediente principal do seu “mingau”. Eles usam arcos e flechas. Elas pegam seus cestos, seus facões,
seus bebês e seguem para a roça. Aventuram-se mata adentro, com corpos imitando animais,
procurando alimentos, seguindo seus rastros. Abelhas comem no jatobá-roxo, jacarés passeiam pelas
águas, a sumaúma impõe majestade, e os perfumes exalam do fundo da selva. Flecham os animais,
pescam os peixes. Mais tarde, chegarão com tatus, mutuns, jabutis, antas, e até onças. Convidam uns
aos outros, de casas diferentes, para dançar durante suas grandes festas reahu.

Mas ouvem-se roncos. Estrondos. Militares estão raspando a pele da terra-mãe. A floresta é cortada
em pedaços, feito retalho. Os garimpeiros, “comedores de terra”, chegaram. Para os Yanomami, as
coisas que se extraem das profundezas da terra, como ouro e petróleo, são artifícios maléficos,
perigosos, impregnados de tosse e febre. Omama escondeu o minério embaixo da terra para que seu
irmão Yoasi, o criador da morte, não fizesse mal uso dele. Apesar da prudência de Omama, Yoasi fez
com que os não indígenas soubessem desses metais, despertando a cobiça dos invasores.

O que fazem os brancos com todo esse ouro? Por acaso, eles o comem?

Enquanto reviram a terra para tirar de lá as lascas do céu, da lua, do sol, e das estrelas que caíram no
primeiro tempo, a fumaça xawara da doença se espalha: a água fica barrenta; rios são destruídos;
animais desaparecem… A terra é demarcada, mas nem por isso protegida. Nada será forte o suficiente
para restituir o valor da floresta doente. Nenhum dinheiro poderá devolver aos espíritos o valor de
seus pais mortos.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

O ronco dos motores para ao anoitecer. É aí que se ouve um ruído muito pior: o das crianças chorando
de fome!

Em meio à essa tragédia, precisamos admirar a beleza e a força Yanomami. Para os inimigos dos
povos indígenas, o extermínio dos Yanomami passa pela destruição dessa beleza, passa pelo
esquecimento de quem são. Porque é reconhecendo a beleza, a cultura, a memória, a sua própria
língua, que os Yanomami afirmam a sua humanidade no mundo. Apaixone-mos por esse povo, por
sua maneira particular de contar histórias. O respeito só pode nascer da admiração, não da pena.
Afinal, o genocídio visto hoje mostra mais quem são os napë (não indígenas) do que sobre os
Yanomami.

Assim como os sonhos Yanomami que surgem quando as flores da árvore dos sonhos desabrocham,
sonhemos com um Brasil indígena. Os Yanomami não apenas pensam sobre seus sonhos, eles sonham
aquilo que pensam, ampliando e moldando sua forma de conhecer e imaginar o mundo. De Norte a
Sul, do Nordeste ao Sudeste, por toda a terra-floresta até os limites da Hutukara, os sonhos dos
diversos povos originários continuarão desabrochando em nós e seguiremos sendo resistência. Antes
do verde e amarelo, existia o Brasil do jenipapo e do vermelho. Antes da Coroa, existia (e ainda existe)
o Brasil do cocar. Não conheceremos o Brasil antes de vislumbrar e respeitar a história indígena.
Precisamos sonhar verdadeiramente a nossa terra.

E, aos inimigos dos povos indígenas, responderemos (em Yanomami): Ya nomaimi! Ya temi xoa!
(Eu não morro! Ainda estou vivo!).

Texto: Igor Ricardo


Desenvolvimento: Edson Pereira e Igor Ricardo
Colaboração: Davi Kopenawa e Marcos Wesley (Instituto SocioAmbiental)

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

JUSTIFICATIVA DO ENREDO

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro traz a inédita narrativa sobre
a história do povo Yanomami para o Carnaval 2024. A proposta fundamental do enredo Hutukara é
abordar um tema atual, realizando um trabalho à altura da tradição pioneira salgueirense. A
agremiação tijucana faz assim jus à própria trajetória na história dos desfiles das escolas de samba,
quando introduziu enredos exaltando a cultura afro-brasileira e a defesa do meio ambiente. Em 1979,
a vermelho e branco foi a primeira nesta última temática com o desfile “O reino encantado da mãe
natureza contra o reino do mal”, de Ivan Jorge.

A partir da leitura do livro “A queda do céu - palavras de um xamã Yanomami”, de Davi


Kopenawa e Bruce Albert, o desfile do Salgueiro propõe uma defesa da terra e dos povos
originários, seguindo a ótica cosmológica desta etnia. Para os Yanomami, Hutukara (o céu original
a partir do qual se formou a terra) é que mantém todo ser humano vivo, juntamente com os rios e a
floresta; ou seja, Hutukara (a terra-céu) é que nos dá a vida. É o nome que Omama (o demiurgo)
consolidou no início dos tempos. Por isso, é muito importante defendê-la.

Os Yanomami atingiram um grau de exposição de grande intensidade, a partir do fim dos anos
1960, tanto nos países em que vivem (Brasil e Venezuela) quanto na mídia internacional, em função
de estudos antropológicos e notícias sobre a tragédia sanitária vivida por esses indígenas. Essa imagem
pública, entretanto, acabou desviando a atenção de aspectos fundamentais de seu modo de viver. Uma
dessas características negligenciadas está no profundo conhecimento que os Yanomami têm da
floresta tropical em que vivem, das espécies vegetais nela existentes e das formas como podem ser
aproveitadas.

Esses povos constituem uma sociedade de caçadores-coletores e agricultores, ocupando um


território de cerca de 192 mil km², sendo a maior Terra Indígena do Brasil. Eles formam um amplo
conjunto linguístico e cultural, subdividido em quatro subgrupos falantes de línguas: Yanõmami,
Yanomae (ou Yanomama), Sanöma e Ninam (ou Yanam). Estima-se hoje a população Yanomami no
Brasil em aproximadamente 27.152 pessoas (IBGE, 2022), distribuídas em mais de 240 grupos locais.
Eles ocupam a região do Alto Rio Branco (oeste do estado de Roraima) e a margem esquerda do Rio

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Negro (norte do estado do Amazonas). Esse território é considerado pela comunidade científica como
prioritário para a proteção da biodiversidade da Amazônia brasileira.

Apesar disso, com os diversos projetos geopolíticos amazônicos dos governos militares, esses
povos foram submetidos a formas de contato mais intensas, e destrutivas. Em 1973, um trecho de 235
quilômetros da estrada Perimetral Norte (BR-210) começou a ser aberto, no sudeste do território
Yanomami, dentro do Plano de Integração Nacional lançado pelo governo do general Médici (1969-
1974). A abertura dos canteiros de obra da estrada foi responsável pelo primeiro grande choque
epidemiológico entre os Yanomami, que resultou em severas perdas. A Perimetral Norte foi
abandonada, mas deixou atrás de si um rastro de degradação sanitária e de desestruturação social
perceptível até os dias de hoje.

Concomitantemente, também foi revelado o potencial mineral da região, promovendo uma


primeira invasão de garimpeiros. A publicidade dada ao potencial mineral do território Yanomami
acabou desencadeando uma crescente invasão garimpeira que se transformaria em uma verdadeira
corrida do ouro no estado de Roraima. Durante esse período, as relações com os garimpeiros tornaram-
se a forma dominante de contato dos Yanomami com a sociedade. Essa ocupação maciça teve um
impacto epidemiológico e ecológico estarrecedor. As epidemias de malária e de infecções
respiratórias causaram, na época, a morte de aproximadamente 13% da população Yanomami do
Brasil. A destruição do leito dos rios e a poluição de suas águas acarretaram prejuízos consideráveis.

Em meio à tragédia, é urgente não perder de vista a beleza desse povo. As palavras de Davi
Kopenawa, a principal liderança Yanomami, são para que nos apaixonamos por eles, pela própria
maneira como veem (e criam) mundos. Davi acredita que o respeito pelo seu povo vai nascer apenas
com a admiração, não dá pena. Ou seja, é preciso reconhecer a essência, a humanidade, Yanomami.

O desfile do Salgueiro se coloca como meio para essa identificação. Para isso, diferentemente
de outras narrativas indígenas que já passaram pela Marquês de Sapucaí, a apresentação da vermelho
e branco é subsidiada pelo próprio olhar Yanomami. A forma particular de suas pinturas corporais, o
formato do cocar, até a musicalização de expressões da língua Yanomami estão sendo cuidadosamente
utilizadas. Em linhas gerais, a agremiação abandona a corriqueira visão eurocêntrica sobre o “índio”,
visto genericamente sempre com os mesmos trajes, utensílios e adornos.

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Neste carnaval salgueirense, o povo indígena é representado, portanto, pelos símbolos e


significados que carregam de maneira única.

Ao pensar e estruturar o desfile desta forma, o Salgueiro passa a mensagem de que é preciso
reconhecer e respeitar a população originária como eles são devidamente. Só assim o Brasil
valorizará a própria história. Como esse mundo ideal ainda está longe de ocorrer, projeta-se um
país utópico, já que os Yanomami fazem política através dos seus sonhos. O Salgueiro faz política
como e com os Yanomami. Isso implica em identificar que tudo o que existe merece consideração e
demonstra não “sonhar” consigo mesmo. Para fazer política, o outro é preciso e é preciso ter cuidado,
no sentido de cuidar, de pensar no outro.

Davi Kopenawa diz repetidamente que os brancos não sabem sonhar, por isso não conseguem
ver as coisas como elas realmente são. O xamã Yanomami, entretanto, compreende que entre os
brancos há aqueles que sabem sonhar, como Bruno Pereira e Dom Phillips - os dois foram assassinados
em junho de 2022, enquanto faziam pesquisas para um livro sobre a importância da Amazônia. A
vermelho e branco tijucana, assim como o indigenista e o jornalista, vai mais longe para sonhar
verdadeiramente a floresta.

“Acho que vocês deveriam sonhar a terra, pois ela tem coração e respira”
Davi Kopenawa, em entrevista a F. Watson, jul. 1992.

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SETORES DO DESFILE

• 1° SETOR – “É Hutukara! O chão de Omama”


A partir do livro “A queda do céu - palavras de um xamã Yanomami”, de Davi Kopenawa e Bruce
Albert, o Salgueiro se insere no universo mítico do povo Yanomami. A abertura do desfile, evoca,
simbolicamente, os xapiris - considerados seres de luz e protetores da floresta. Eles foram criados
juntos com a Hutukara pelo demiurgo Omama.

• 2° SETOR – “Caço de tacape, danço o ritual”


O setor mostra as atividades do dia a dia da aldeia Yanomami. Esses indígenas constituem uma
sociedade de pescadores, caçadores-coletores e agricultores. O território deles é formado pela yano
ou xapono, uma vasta casa coletiva em formato cônico, onde ocorrem as festas e outras celebrações.

• 3° SETOR – “Falar de amor enquanto a mata chora”


A terra-floresta está sendo rasgada. Neste momento do desfile salgueirense, a rotina Yanomami é
cortada pela chegada dos napës (forasteiro, inimigo). Na mitologia desse povo, foi Yoasi, o irmão
maligno de Omama, quem despertou a cobiça no homem. Ele revelou que os metais preciosos estavam
escondidos debaixo da terra. Toda a tragédia vista atualmente nos noticiários se iniciou no período da
Ditadura Militar, quando, sob a justificativa de integração nacional, estradas começaram a ser abertas
na Amazônia. Ao mesmo tempo, garimpeiros começam a explorar o solo da região em busca de
riqueza mineral. Essas relações levam doenças e morte ao território Yanomami.

• 4° SETOR – “Pra postar no seu perfil”


No quarto setor, o Salgueiro traz acontecimentos históricos e culturais desse povo. São fatos relevantes
e notórios que merecem ser compartilhados, e assim nunca esquecidos, por todos que se dizem
interessados pela história indígena. Ou seja, lembrar deles muito além do dia 19 de abril (tido como o
“dia do índio”).

• 5° SETOR – “Pelo povo da floresta”


O encerramento da apresentação traz outros povos indígenas do país que estão passando por situações
sanitárias e trágicas parecidas com as dos Yanomami. Entretanto, seguindo a ótica de que é preciso
admirar sua beleza para respeitá-los, o Salgueiro os insere aqui com suas particularidades. É um ato
político sonhar com um Brasil Indígena.

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ROTEIRO DO DESFILE
1º SETOR – “É HUTUKARA! O CHÃO DE OMAMA”

Comissão de frente
“YA NOMAIMI! YA TEMI XOA!” (EU NÃO
MORRO! AINDA ESTOU VIVO!)

1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


Sidclei Santos e Marcella Alves
YÃKOANA

Ala 01 - Ala Coreografada


“XAPIRIS, A MISSÃO”

Destaque de chão
Mc Rebecca
YARORIYOMA PË

Alegoria 01 - Abre-alas
HUTUKARA: A NOVA TERRA-FLORESTA

Destaque de chão
Tia Glorinha
EM TEU SOLO SAGRADO

Ala 02 - Ala das baianas


THUËYOMA, A MÃE YANOMAMI

Destaque de chão
Tati Barbieri
YARIPORARI, ESPÍRITO DA ARARA-
VERMELHA

Alegoria 02
AMOA HI: A ÁRVORE DOS CANTOS

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2º SETOR – “CAÇO DE TACAPE, DANÇO O RITUAL”

Ala 03 - Divina Folia


PESCA

Ala 04 - Ala das Crianças


CAÇA E PLANTAS

Ala 05 - Malandro Batuqueiro


WAKA, O TATU-CANASTRA

Ala 06 - Fúria Salgueirense


COLHEITA DA BANANA

Ala 07 - Amizade Salgueirense


EM BUSCA DA PUPUNHA

Destaque de chão
Tia Caboquinha
“NOSSA PATAYOMA”

Ala 08 - Velha-Guarda
“NOSSOS MAIORES”

Destaque de chão
Fernanda Figueiredo
FLOR DE MEL (PUU HANIKI)

Alegoria 03
A ALDEIA WATORIKI

200
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3º SETOR – “FALAR DE AMOR ENQUANTO A MATA CHORA”

Ala 09 - Ala do Maculelê


A TERRA FOI RASGADA

Ala 10 - Ala dos Negões


YOASI, O CRIADOR DA ESCURIDÃO

Rei e Rainha dos Passistas


ASTROS CAÍDOS DO CÉU

Ala 11 - Ala dos Passistas


MINÉRIO ESCONDIDO

Rainha de Bateria
Viviane Araújo
FOLHAS OKO XI

Ala 12 - Bateria
DIAMANTE BRUTO

CARRO DE SOM

Ala 13 - Guerreiros
ORU A WAKIXI, O GARIMPO DO OURO

Ala 14 - Ala dos Compositores


MILITARES

Destaque de chão
Ana Flávia Barcelos
DESTRUIÇÃO DA FLORESTA

Tripé
COMEDOR DE TERRA

Alegoria 04
A TRAGÉDIA YANOMAMI

201
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

4º SETOR – “PRA POSTAR NO SEU PERFIL”

Ala 15 - Família Salgueirense


CLAUDIA ANDUJAR: PELA LUTA
YANOMAMI

Ala 16 - Os Reis da Boemia


MASSACRE DO HAXIMU

2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


Leonardo Moreira e Barbara Mylena
ARA AMOKU (COGUMELOS)

Ala 17 - Domadoras
#ELASQUELUTAM! O TRABALHO DE
EHUANA YANOMAMI

Ala 18 - Vermelho e Branco


A ARTE DE JOSECA YANOMAMI

Ala 19 - Odisséia
O OSCAR YANOMAMI

Ala 20 - Diversidade
PROJETO YARIPO - EM DEFESA DO
PICO DA NEBLINA

Destaque de chão
Bianca Salgueiro
“A NOSSA ÁGUA É VIDA”

Alegoria 05
A BELEZA YANOMAMI

202
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

5º SETOR – “PELO POVO DA FLORESTA”

Ala 21 - Zé Carioca
MATIS (VALE DO JAVARI)

Ala 22 - Salgueiro é a Flecha


GUARANI KAIOWÁ

Ala 23 - Mariposa
KAYAPÓ-MEBÊNGÔKRE

Ala 24 - Loucura Salgueirense


AWÁ-GUAJÁ

Ala 25 - Juntos e Misturados


TUPI GUARANI MBYA

Ala 26 - Charme Salgueirense


XOKLENG

Destaque de chão
Cacau Protásio
SONHE A FLORESTA

Alegoria 06
POR UM BRASIL COCAR

203
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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Edson Pereira
Nº Nome da Alegoria O que Representa

01 HUTUKARA: A NOVA O abre-alas do Salgueiro apresenta o universo


TERRA-FLORESTA cosmológico do povo Yanomami sobre a criação da terra
onde vivem. Eles acreditam estar atualmente em um
segundo tempo. No primeiro, a floresta era fraca e Omama
(o Deus criador) fez o céu cair sobre todos os ancestrais.
A nova terra-floresta, cujo nome é Hutukara, está
sustentada pelo espírito de um jabuti.

Com isso, um outro céu desceu e se fixou acima da terra,


substituindo o que tinha desabado. No livro “A queda do
*Essa imagem é do croqui céu”, Davi Kopenawa narra que o demiurgo pensou na
original e serve apenas como
melhor forma de tornar essa nova terra-floresta mais
referência, pois foram realizadas
modificações de estética e de cor sólida. Para isso, introduziu em todo o céu varas de seu
na execução da Alegoria. metal brilhoso, que enfiou também na terra, como se
fossem raízes. Por isso, este novo céu é mais sólido que o
anterior.

Cabem aos xapiris, os espíritos luminosos, a proteção de


toda a Hutukara. Esses seres despertam ao anoitecer,
quando brincam e dançam pela terra-floresta. Eles moram
no alto e se deslocam por meio de espelhos que cobrem a
floresta desde o primeiro tempo. Foram nesses espelhos
que vieram à existência e é deles que descem em direção
aos xamãs. Os espelhos dos xapiris ficam dispostos por
toda a Hutukara. São muitos ao longo da floresta, pois
pertencem a todos os espíritos das folhas, dos cipós, das
árvores.

A alegoria traz também a representação dos primeiros


xamãs: seus braços são enfeitados com penachos de penas
de animais fincadas em braçadeiras.

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01 HUTUKARA: A NOVA Composições: Xapiris


TERRA-FLORESTA Composições: Seres místicos da floresta
Composições: Guardiões da Hutukara
Semi Destaque (lateral) - Chassi 1: Ipa Urihi (nossa
terra)
Semi Destaque (lateral) - Chassi 2: Huraaxi
(borboletas)
Destaque (Central Alto) - Chassi 1: Sandra Farias -
Kumirãyõma
*Essa imagem é do croqui Destaque (Central Alto) - Chassi 2: Nelcimar Pires -
original e serve apenas como Tihiri (espírito da onça)
referência, pois foram realizadas
modificações de estética e de cor
na execução da Alegoria.

AMOA HI: A ÁRVORE DOS A segunda alegoria ainda está dentro da visão
02
CANTOS cosmológica Yanomami. Davi Kopenawa conta que,
durante o transe xamânico, os xapiris se comunicam
através de cantos, e cantos infinitos. Esses espíritos vão
buscar tais versos na árvore dos cantos (em yanomami,
amoa hi). Foi Omama quem a criou para que os xapiris
possam ir até lá buscar sua palavra. Param ali para
coletar o coração de suas melodias.

Os espíritos de diversos animais são sempre os


*Essa imagem é do croqui
primeiros a acumular esses cantos. Tais espíritos são
original e serve apenas como
referência, pois foram realizadas vistos como avatares dos antepassados míticos da
modificações de estética e de cor primeira humanidade que acabaram assumindo a
na execução da Alegoria. condição de bicho em razão do seu comportamento
descontrolado. Ou seja, descumpriram regras sociais.

Como as palavras de Omama são inesgotáveis, os


cantos dos xapiris também são. Ainda de acordo com o
relato de Kopenawa, a árvore dos cantos está plantada
nos confins da floresta, onde fica o espírito de um tatu,
responsável também por sustentar parte da Hutukara.

205
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

02 AMOA HI: A ÁRVORE DOS Composições: Seres místicos da floresta


CANTOS Semi Destaque (lateral): Pássaros siikekeata
Destaque (Central Alto): Simara Sukarno - Japó
(pássaro amazônico)
Destaque (Central Baixo): Solenmira Munford -
Gato-maracajá

*Essa imagem é do croqui


original e serve apenas como
referência, pois foram realizadas
modificações de estética e de cor
na execução da Alegoria.

03 A ALDEIA WATORIKI Os grupos locais Yanomami são geralmente


constituídos por uma casa plurifamiliar em forma de
cone ou de cone truncado chamado yano ou xapono.
Cada casa coletiva ou aldeia considera-se como uma
entidade econômica e política autônoma da outra.
Apesar desse ideal autárquico, todos os grupos locais
mantêm uma rede de relações de troca cerimonial, ritual
e econômica com vários grupos vizinhos.
*Essa imagem é do croqui
original e serve apenas como O terceiro carro faz uma representação da maior aldeia
referência, pois foram realizadas do território Yanomami: a aldeia Watoriki, que se situa
modificações de estética e de cor
no extremo nordeste do estado do Amazonas, perto do
na execução da Alegoria.
seu limite com o estado de Roraima, entre as bacias dos
rios Demini e Catrimani.

206
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

03 A ALDEIA WATORIKI É nesse espaço que as mulheres indígenas


confeccionam seus cestos bem característicos, com
grafismos únicos, formas circulares e elementos que
remetem ao desenho do couro de animais, como a
jiboia. Chegam com seus frutos colhidos da roça. Os
homens descansam. Onde todos cantam. Dançam.
Realizam suas festas em celebração da vida e da morte,
chamadas de reahu.
*Essa imagem é do croqui
original e serve apenas como Os Yanomami fazem da casa coletiva ou aldeia um
referência, pois foram realizadas denso e confortável emaranhado de laços de
modificações de estética e de cor consanguinidade e afinidade. Os Yanomami não fazem
na execução da Alegoria. nenhuma separação rígida entre o espaço-tempo do
ritual e a vida cotidiana.

Composições: Përɨsɨ
Composições: Ritual reahu
Velha-Guarda: Ancestrais da terra
Semi Destaque (Lateral): Mamoruna
Semi Destaque (Central Alto): Mamoruna Puu
Destaque (Central Baixo): Maurício Pina - Tihinama

* COMEDOR DE TERRA Os Yanomami têm um modo particular para designar


os napës (garimpeiros, forasteiros) que invadem suas
terras em busca de metais preciosos: os chamam de
“comedores de terra”. Tudo porque eles começam a
revirar a terra, buscam com certo frenesi as coisas
maléficas que ficam no subsolo.

“Eles devastam nossas terras, destroem nossas


*Essa imagem é do croqui nascentes com voracidade, parecem seres famintos.
original e serve apenas como Tudo isso para encontrar ouro. Vocês comem ouro?
referência, pois foram realizadas Tudo isso para os outros brancos poderem com ele
modificações de estética e de cor fazer dentes e enfeites, ou só para esconder em suas
na execução da Alegoria. casas e demonstrar riqueza”.
Davi Kopenawa - A queda do céu

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

* COMEDOR DE TERRA O tripé que vem à frente da quarta alegoria traz uma
retroescavadeira estilizada como um animal e uma
grande boca.

Destaque (Central): João Helder - Në Waripë

*Essa imagem é do croqui


original e serve apenas como
referência, pois foram realizadas
modificações de estética e de cor
na execução da Alegoria.

04
A TRAGÉDIA YANOMAMI A exploração do garimpo ilegal, iniciada durante os
governos militares, trouxe malefícios para o povo
Yanomami. Na ganância de acumular riquezas, o homem
branco, feito abutres, transforma a floresta em
mercadorias para venda. Por isso, são também chamados
de “povo da mercadoria” pelos indígenas. Entretanto, isso
vem custando mais caro para os habitantes originários. O
desmatamento, a contaminação do solo, a poluição, levam
à desnutrição, doenças e mortes para os Yanomami. Neste
*Essa imagem é do croqui
período, como não conheciam a língua Yanomami, nem
original e serve apenas como
referência, pois foram realizadas mesmo pronunciar e escrever seus nomes, os indígenas
modificações de estética e de cor eram tratados e reconhecidos por números pendurados no
na execução da Alegoria. corpo.

O carro sintetiza a tragédia vivida por esse povo, trazendo


ainda elementos de sua própria cosmologia. Eles
acreditam que, ao retirar os metais do subsolo, a terra-
floresta libera uma fumaça, a xawara, que provoca
epidemia e mata os indígenas. Destruindo e matando as
raízes da Hutukara, os napës vão acabar se encontrando
com o ser do caos, Xiwãripo, que transformou todos os
ancestrais em forasteiros.

208
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

04 A TRAGÉDIA YANOMAMI Composições: Abutres (o povo da mercadoria)


Composições: Exército da morte
Semi Destaque (Central Baixo): Sabrina Ginga -
Matihi
Semi Destaque (lateral): Marcha da morte
Destaque (Central Alto): Ednaldo Cavalcanti - A
maldição de Yoasi
Destaque (Central Médio): Carlinhos do Salgueiro -
*Essa imagem é do croqui Xiwãripo
original e serve apenas como
referência, pois foram realizadas
modificações de estética e de cor
na execução da Alegoria.

A BELEZA YANOMAMI O poder da imagem foi rapidamente entendido pelo


05
indígena, que encontrou nessa forma uma possibilidade de
tornar o branco um ser importante para ajudar na
manutenção da sua sobrevivência (da não extinção).
Assim, na quinta alegoria, admirem a beleza e a força
desse povo, que nada contra a correnteza da destruição.
Os Yanomami são exímios nadadores e conhecedores
botânicos. Protegem o ponto mais alto do Brasil, o Pico
da Neblina/Yaripo, a Montanha do Vento. Eles afirmam a
*Essa imagem é do croqui sua humanidade no mundo pelo que são: é preciso
original e serve apenas como reconhecer essa beleza, a cultura, a memória, a sua própria
referência, pois foram realizadas língua, as pinturas.
modificações de estética e de cor
na execução da Alegoria.
Ou seja, a tragédia vista no setor anterior não é produzida
pelos Yanomami. Desta forma, não é produto de si. O
extermínio deles passa pela destruição, passa pelo
esquecimento de quem verdadeiramente são. As cenas de
horror que circulam, seguramente, dizem mais sobre
quem são os napë do que sobre os Yanomami. Não
devemos deixar isso acontecer.

** O carro irá intercalar imagens da água do rio limpa e


suja.

209
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

05 A BELEZA YANOMAMI Composições: Os filhos de Tëpërësiki


Semi Destaque (lateral): Mulheres das águas
Semi Destaque (Central Baixo): Xoã
Destaque (Central Alto): Rafael Eboli - Tëpërësiki (o
dono das águas)

*Essa imagem é do croqui


original e serve apenas como
referência, pois foram realizadas
modificações de estética e de cor
na execução da Alegoria.

06 POR UM BRASIL COCAR O Salgueiro é “uma raiz que nasce forte e cresce em
qualquer lugar”. A última alegoria do desfile é um grito
de exaltação ao Brasil originário, através da arte indígena.
Tal ferramenta virou uma política de enfrentamento frente
ao colonizador. O branco comum compreende melhor
códigos que está mais acostumado, como a arte, do que
um enfrentamento, algo visto como “selvagem”, contra os
invasores.
*Essa imagem é do croqui
Mas sonhe.
original e serve apenas como
referência, pois foram realizadas
modificações de estética e de cor Davi Kopenawa reafirma várias vezes que os napës não
na execução da Alegoria. sabem sonhar, por isso não conseguem vê-los como
realmente são. Ao sonhar com um país que reconhece e
respeita as particularidades de cada um dos povos
originários, encerramos o desfile fazendo um ato político
feito Yanomami. O sonhar desse povo tem uma força vital
e fundamental de sua própria concepção de mundo. Eles
sonham em prol do coletivo, não por um desejo de
satisfação pessoal.

210
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

06 POR UM BRASIL COCAR Ao plantar o sonho de respeitar verdadeiramente os povos


da floresta, o Salgueiro quer que essa raiz se fortaleça e
cresça na sociedade não-indígena. Porque é somente com
o respeito daquilo que vem verdadeiramente da nossa
terra que saberemos preservar toda a biodiversidade
existente. Assim como Bruno e Dom, brancos que
souberam entender verdadeiramente a floresta,
permaneceremos lutando, coletivamente, em prol dos
donos dessa terra. Ao lado de Kopenawa, que aparece no
*Essa imagem é do croqui
próprio sonho como um homem-pássaro, somos a arte-
original e serve apenas como
referência, pois foram realizadas flecha dessa mensagem!
modificações de estética e de cor
na execução da Alegoria. Davi Kopenawa e convidados (como haverá
indígenas e não indígenas, nem todos utilizarão cocar)
Composições: Raízes do Salgueiro
Velha-Guarda do Salgueiro
Destaque (Central Baixo): Itamar Almeida -
Kopenawa
Destaque (Central Alto): Elton Oliveira - Espírito
Hutukarari

211
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Nomes dos Principais Destaques Respectivas Profissões


Alegoria 01 (Abre-Alas)
Sandra Farias - Central Alto (Chassi 1) Funcionária Pública
Nelcimar Pires - Central Alto (Chassi 2) Estilista

Alegoria 02
Simara Sukarno - Central Alto Empresária
Solenmira Munford - Central Baixo Secretária

Alegoria 03
Maurício Pina - Central Baixo Cabeleireiro e artista plástico

Tripé
João Helder - Central Cirurgião Plástico

Alegoria 04
Ednaldo Cavalcanti - Central Alto Porteiro
Carlinhos do Salgueiro - Central Médio Coreógrafo

Alegoria 05
Rafael Eboli - Central Alto Cabeleireiro e aderecista

Alegoria 06
Itamar Almeida - Central Baixo Administrador
Elton Oliveira - Central Alto Bancário

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Local do Barracão
Rua Rivadávia Correa, 60 – Barracão 08 – Gamboa, Rio de Janeiro – RJ – CEP 20.220-290
Diretor Responsável pelo Barracão
Luan Teles
Ferreiro Chefe de Equipe Carpinteiro Chefe de Equipe
João da Costa Lopes Edson de Lima Miguel (Futica)
Escultor(a) Chefe de Equipe Pintor Chefe de Equipe
Marcel, Jô e Alex Leandro Assis
Eletricista Chefe de Equipe Mecânico Chefe de Equipe
Rogério Kennedy e Sérgio Santos Jadir Barbosa Correa
Outros Profissionais e Respectivas Funções

DIRETOR DE BARRACÃO

Luan Teles
Luan Teles, filho de uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio, Império da Tijuca,
começou como ritmista em 1999, ainda criança. Em 2004, quando seu pai assumiu a presidência do
Império passou a dividir seu tempo entre os estudos na parte da manhã e o barracão na parte da
tarde, onde ajudava na decoração, limpeza e outros serviços.

Em 2009, deixa a bateria definitivamente e passa a fazer o controle de material da escola. Em 2014,
é um ano marcante porque a verde branco da Tijuca desfila no Grupo Especial em um carnaval
muito elogiado. Neste ano, Luan começou a atuar como integrante da comissão de carnaval. Sempre
muito disciplinado e competente, assume a Direção de Carnaval e como o responsável pela temida
curva de entrada da escola na Avenida. Luan também assumiu esse cargo vital no Carnaval de 2023
na Estação Primeira de Mangueira. Sua competência, organização e desempenho o fizeram ser
convidado pelo Salgueiro para assumir a Direção de Barracão para a atual temporada.

Outras informações julgadas necessárias

Alegoria 01 (Abre-Alas)
Sandra Farias - Central Alto (Chassi 1)
Nome da fantasia: Kumirãyõma
O que representa: Espírito ancestral que leva beleza, saúde e alegria para os Yanomami. Transmite
os conhecimentos tradicionais das ervas/folhas para os indígenas lidarem com as doenças.
Kumirãyõma é tão respeitada e valorizada que dá nome à primeira associação das mulheres
Yanomami.

Nelcimar Pires - Central Alto (Chassi 2)


Nome da fantasia: Tihiri (espírito da onça)
O que representa: O destaque representa o espírito mais forte da floresta: a onça. De acordo com
a lenda Yanomami, o animal era o bicho de estimação de Omama. Por causa disso, é admirado e
temido ao mesmo tempo. Os Yanomami não caçam a onça. Eles só a matam quando se sentem
ameaçados pelo bicho.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Alegoria 02
Simara Sukarno - Central Alto
Nome da fantasia: Japó (pássaro amazônico)
O que representa: Um dos mais belos pássaros da floresta. Costuma fazer seus ninhos nas copas
das árvores. A destaque está na segunda alegoria que representa a árvore dos cantos - na lenda
indígena, é a árvore que ensina os cantos aos espíritos animais e xapiris.

Solenmira Munford - Central Baixo


Nome da fantasia: Gato-maracajá
O que representa: É um felino de pequeno porte e o único da América com habilidade para a caça
em árvores. Tal característica se assemelha muito a dos esquilos. Também possui uma
impressionante capacidade para saltar e garras avantajadas. Apesar de ameaçado em extinção, pode
ser encontrado com mais frequência no território Amazônico. A destaque está na segunda alegoria
que representa a árvore dos cantos - na lenda indígena Yanomami, é a árvore que ensina os cantos
aos animais/xapiris.

Alegoria 03
Maurício Pina - Central Baixo
Nome da fantasia: Tihinama
O que representa: Contam os mais velhos que Tihinama viveu há muito tempo e nasceu com o
dom de tecer os cestos xotehe (mais baixo) e wii (mais alto). Após a sua morte, deixou seus
ensinamentos sobre a técnica de cestaria para as mulheres. Mais do que ensinamentos, Tihinama
teria deixado sua própria energia presente até hoje no trabalho de cada mulher Yanomami.

Tripé
João Helder - Central
Nome da fantasia: Në Waripë
O que representa: Nas profundezas emaranhadas da urihi (terra), nas suas colinas e nos seus rios,
escondem-se inúmeros seres maléficos (në waripë), que ferem ou matam os Yanomami como se
fossem caça, provocando doenças e mortes. João Helder sintetiza esses seres maléficos.

Alegoria 04
Ednaldo Cavalcanti - Central Alto
Nome da fantasia: A maldição de Yoasi
O que representa: Na mitologia Yanomami, Yoasi é o irmão do deus Omama, porém é o
responsável pela origem da morte e dos males do mundo. É o criador da escuridão (noite) e do fogo.

Carlinhos do Salgueiro - Central Médio


Nome da fantasia: Xiwãripo, o ser do caos
O que representa: Na mitologia Yanomami, Xiwãripo foi o responsável por transformar os
ancestrais em forasteiros. É um ser maléfico que vive escondido na escuridão. Os Yanomami
acreditam que, cavando e enfraquecendo o solo, a terra irá rachar e muitos irão cair até o mundo
subterrâneo de Xiwãripo.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Alegoria 05
Rafael Eboli - Central Alto
Nome da fantasia: Tëpërësiki (ser aquático)
O que representa: Os Yanomami têm profunda ligação e respeito com as águas. Além de exímios
nadadores, eles acreditam que vieram de lá. Tudo porque se consideram filhos de Omama com a
deusa-mãe, que é filha do senhor das águas, Tëpërësiki. O destaque representa esse ser da mitologia
Yanomami, retratado no filme “A última floresta”, com roteiro de Luiz Bolognesi e Davi
Kopenawa.

Alegoria 06
Itamar Almeida - Central Baixo
Nome da fantasia: Kopenawa (marimbondo)
O que representa: O nome Yanomami tem ligação direta com a personalidade de cada um.
Kopenawa, que significa marimbondo, resume a trajetória do atual líder desse povo. Davi
Kopenawa costuma dizer que “marimbondo quando está quieto não se pode mexer nele”. Ou seja,
melhor não mexer com o marimbondo!

Elton Oliveira - Central Alto


Nome da fantasia: Espírito Hutukarari
O que representa: O sonhar para os Yanomami é um ato político. Nos sonhos de Davi Kopenawa,
ele é carregado pelos espíritos xapiris, que o levam para bem alto no céu. Nesses voos oníricos, é o
espírito de um pássaro que conversa e leva Davi para sobrevoar a Hutukara. O destaque do último
carro do Salgueiro faz essa importante representação.

Outros Profissionais e Respectivas Funções

Chica, Eliseu, Lauanny, Diego e Luciano - Aderecista de Alegorias


Fuca - Iluminação
Mateus - Placas
Nino - Fibras
Marcel, Jô e Alex - Movimentos
Nino - Empastelação
Leandro - Pintura de Arte
Junior - Arames
Hildemberg Batista - Talhas Hidráulicas
Rogério - Almoxarifado
Paulo Henrique Caetano - Comprador
Bárbara Mello - Assessora de Imprensa
Márcio Ronald - Desenhista
Ricardo Hessez e Allan Barbosa - Projetista
Igor Ricardo - Pesquisador e Roteirista
Denise Mattos - Assistente de Carnavalesco
Diogo Souza dos Santos - Brigada de Incêndio
Marcos Amendola, Rony e Kléber Basílio – Portaria
Wagner de Paula, Glória e João - Serviços Gerais

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Edson Pereira
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala

01 “Xapiris, a Do tempo das origens. Após o transe Coreografada Wallace


missão” xamânico, os xamãs “chamam”, Guimarães
“convocam”, “fazem dançar”, os
xapiris (espíritos de luz auxiliares
criados por Omama). Esses seres-
imagens primordiais são descritos no
livro “A queda do céu” como
brilhantes, paramentados com
ornamentos e pinturas luminosas. Os
xapiris são os defensores da floresta,
são os espíritos que garantem o
equilíbrio da Hutukara.

* Yaroriyoma pë São as filhas, irmãs, noras e esposas Destaque de MC Rebecca


dos xapiris. Essas mulheres espíritos Chão
também fazem sua dança para os
xamãs. São belíssimas jovens e
hábeis no preparo de encantamentos
amorosos. Seus feitiços alegram-nos
e assim elas conseguem fazer com
que se levantem e dancem.

216
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

* EM TEU SOLO A terra-floresta é um ser vivo para os Destaque de Maria da


SAGRADO Yanomami. Tia Glorinha vem à Chão Glória Lopes
frente da tradicional ala das baianas de Carvalho
do Salgueiro representando a mãe- (Tia Glorinha)
terra. Ela que dá a vida e sustenta
todos os seres humanos.

Thuëyoma, a mãe Na mitologia Yanomami, Thuëyoma Ala das Maria da


02 Yanomami foi a mulher que Omama tirou das Baianas Glória Lopes
águas para povoar a Hutukara. A de Carvalho
tradicional ala das baianas do (Tia Glorinha)
Salgueiro representa esse espírito
feminino também responsável pela
criação e vida de todos os seres
habitantes da floresta, seja a fauna,
flora e os próprios indígenas. Quando
Thuëyoma aparece aos xamãs, ela
aparece cantando e os faz falar sobre
a forma como são as pessoas
nascidas dela.

* Yariporari, A musa que vem à frente da segunda Destaque de Tati Barbieri


espírito da alegoria destaca, simbolicamente, Chão
arara-vermelha Yariporari, o espírito da arara-
vermelha. Nos mitos Yanomami,
este animal, tido como sagrado, está
ligado à origem dos cantos
cerimoniais. Suas penas também são
muito utilizadas nos adornos deste
povo.

217
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

03 Pesca Uma das principais atividades do dia Divina Folia Direção de


a dia dos Yanomami é a pesca. A Harmonia
maior parte dos peixes consumidos
por eles é capturada em pequenos
igarapés e áreas pantanosas.
Entretanto, costumam fazer
expedições coletivas de pesca de
longa duração pelo afluente do rio
Demini (importante curso d’água da
região), onde são encontrados os
peixes de grande porte. A captura
usualmente é feita com objetos
pontiagudos ou venenos vegetais.

04 Caça e plantas Os caçadores Yanomami têm um Ala das Mara Rosa


conhecimento excepcional da Crianças
ecologia do seu habitat, competência
de vital importância para o êxito na
caça. Esse aprendizado vem desde a
infância, quando são instruídos a
utilizar determinadas plantas para
capturar suas presas. Em certos
casos, as plantas têm propriedades
que afetam diretamente os animais
que as ingerem e, assim, modificam
seu comportamento frente aos
caçadores.

De volta ao desfile do Salgueiro,


após 16 anos, a ala das crianças da
Academia faz referência à caça de
tartarugas e às plantas utilizadas para
atrair os animais durante a caça. A
capacidade botânica dos “pequenos”
Yanomami é tamanha que eles são
reconhecidos por saber nomear mais
de duzentos tipos de flores durante
essa “brincadeira”. Eles também
conseguem prever, com certa
segurança, quais os animais
propensos a ser encontrados
em determinados lugares e em
diferentes estações do ano.

218
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

05 Waka, o tatu- A caça equivale a cerca de 10% da Malandro Direção de


canastra alimentação Yanomami e é uma Batuqueiro Harmonia
prática bastante valorizada pelos
homens. A carne dos animais é muito
valorizada por todos. Uma
curiosidade é que nenhum caçador
come a carne do animal que matou.
Ele a compartilha entre amigos e
familiares e, em troca, receberá a
carne de outro caçador. A ala faz
referência ao tatu-canastra,
considerado como o maior da espécie
no mundo, podendo chegar a 1,5
metros de comprimento, cuja carne é
muito renomada pelo povo da aldeia.

06 Colheita da As mulheres Yanomami são as Fúria Direção de


banana encarregadas das roças. Diariamente, Salgueirense Harmonia
levam cerca de quatro horas no
trabalho de colheita. Elas cultivam
mais de uma centena de alimentos,
com destaque para a banana. Os
Yanomami a assam e comem. A
fantasia traz outro forte aspecto da
rotina das indígenas, que é o
artesanato. Na cabeça, carregam
cestos que são usados para levar os
alimentos ou na troca com outras
aldeias.

219
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

07 Em busca da Outro ingrediente de vital importância Amizade Direção de


pupunha na alimentação Yanomami é a Salgueirense Harmonia
pupunha.
Entre as cerimônias típicas do grupo
está a colheita do fruto da pupunheira
para a chamada “Festa da Pupunha”. É
uma comemoração que costuma durar
a noite toda ou até mesmo dias. Nessa
festividade, os Yanomami se servem
de um “mingau” até terminarem com
um clássico vomitório, celebração do
excesso e da fartura. Os componentes
representam, portanto, a colheita da
pupunha.

* “Nossa Representa a mulher mais velha da Destaque de Maria Aliano


patayoma” aldeia. É a voz mais respeitada. Chão (Caboquinha)

“Nossos A elegante Velha-Guarda salgueirense


08 representa a sabedoria dos mais velhos Velha-Guarda Maria Aliano
maiores” (Caboquinha)
(nossos maiores, como os Yanomami
costumam dizer) sobre a floresta.
Todos os costumes desse povo são
passados de geração em geração
através da vivência. No livro “A queda
do céu”, Davi Kopenawa diz que “sem
floresta não tem história”. Essa história
passa pelos mais velhos.
“Nosso Omama é que colocou a
nossa luz de sabedoria. Nós já
estamos velhos, mas
nosso pensamento não vai parar. A
nossa vida acaba, outra vida nova
tem que continuar
para proteger a segurança da nossa
terra para nós”.
Davi Kopenawa

220
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Flor de mel (puu As mulheres Yanomami costumam Destaque de Fernanda


haniki) usar como enfeites feixes de folhas e Chão Figueiredo
flores, principalmente, nos lobos das
* orelhas. As mais usadas são as
“flores de mel” (puu haniki), cujo
cheiro baunilhado de cumarim é dito
ter a propriedade de deixar os
homens aturdidos.

A terra foi A plena convivência dos Yanomami Ala do Carlinhos do


09 rasgada com a natureza é interrompida. A Maculelê Salgueiro
“mata chora” diante do
desmatamento. A ala do maculelê
abre o terceiro setor fazendo uma
perfomance coreográfica para
marcar o impacto provocado pelo
avanço da exploração ilegal no
território Yanomami. O grupo de
componentes traz elementos
cenográficos.

“A Terra Yanomami é muito rica e o


governo pode extrair. Mas eu não
vou aceitar não. Eu
não aceito. Estou ao lado do meu
povo Yanomami, ao lado da
Hutukara, ao lado da minha
mãe terra. Estou ao lado do povo
guardião da floresta. Esse é o meu
papel. Vou pegar
mais outra flecha [e me preparar
para a luta]”.
Davi Kopenawa

221
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Yoasi, o criador Na cosmologia Yanomami, a Ala dos Direção de


10 da escuridão degradação que acomete a terra- Negões Harmonia
floresta é obra de Yoasi, o irmão de
Omama, responsável pela origem
dos males do mundo. Foi ele quem
revelou aos napës (forasteiro,
inimigo) que os metais preciosos
ficavam debaixo da terra,
despertando, portanto, a cobiça no
homem. Os garimpeiros são
considerados descendentes de Yoasi,
pois se acham poderosos, mas estão
envoltos pela escuridão.

Astros caídos do À frente da ala dos passistas, Patricia Rei e Rainha Carlinhos do
* céu Miranda e Danilo Vieira são os astros dos Passistas Salgueiro
caídos do céu no primeiro tempo.

222
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Para os Yanomami, o minério que se Ala de Carlinhos do


Minério extrai das profundezas da terra vem do Passistas Salgueiro
11 escondido antigo céu Hutukura que desabou
sobre os ancestrais. Foi Omama quem
escondeu os astros caídos porque sabia
do mal que faria aos indígenas e não
indígenas. A fantasia da ala dos
passistas do Salgueiro representa,
simbolicamente, esse episódio narrado
por Davi Kopenawa no livro “A queda
do céu”, trazendo as cores dos astros
(sol e lua) e as estrelas.

A rainha de bateria da Furiosa traz uma


Folhas Oko xi Rainha de Viviane Araújo
representação de uma planta temida
* Bateria
pelos Yanomami. Na concepção desse
povo, as folhas oko xi, quando
queimadas no fogo, produzem uma
fumaça amarelada de epidemia
faminta de carne humana. Apesar de
fazer parte dos contos Yanomami, de
sabedoria ancestral, eles associam
essas folhas à atividade do garimpo na
floresta. Quando esses forasteiros
queimam a floresta em busca dos
metais preciosos, estão espalhando a
fumaça dessa planta que traz a morte
para os indígenas.

Diamante bruto Os maiores (os mais velhos) da aldeia Bateria Guilherme dos
12 contam que, antigamente, coletavam Santos Oliveira
metais com pontinhos brilhantes para e Gustavo dos
fabricar uma substância de feitiçaria. Santos Oliveira
Com o brilho, usavam para cegar as
pessoas com quem estavam bravos.
Hoje, os mais novos não sabem mais
para que serve. Os descendentes de
Yoasi queriam esse metal, que
julgavam ser diamantes, para ganhar
dinheiro. Vender como mercadoria. Os
ritmistas da bateria Furiosa marcam,
portanto, o pensamento dos napës: a
cobiça pela busca do diamante bruto.
223
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Oru a wakixi, o Foi a partir do início da década de 70, Guerreiros Direção de


13 garimpo do ouro quando foi revelado um inventário Harmonia
sistemático dos recursos naturais da
terra Yanomami, que houve uma
primeira e grande invasão de
garimpeiros na região. A publicidade
dada ao potencial minerário do
território acabou desencadeando uma
corrida do ouro no estado de
Roraima. Omama ensinou aos
Yanomami a recear o ouro porque
trata-se de coisa maléfica, que só
provoca doença e morte. O ouro,
quando ainda é uma pedra, é
considerado como um ser vivo. Só
morre quando é derretido, quando
seu sangue evapora. Ao morrer,
deixa escapar o perigoso e mortífero
calor de seu sofro, que esse povo
chama de oru a wakixi.

Os projetos geopolíticos amazônicos Ala dos Nilda


Militares
14 dos governos militares submeteram Compositores Salgueiro
os Yanomami a formas de contato Baptista
mais intensas e nocivas. Em 1973, no Ferreira
âmbito do Plano de Integração
Nacional lançado pelo governo do
general Médici (1969-1974), houve
uma nova política de controle e
povoamento da região fronteiriça
norte-amazônica, com a abertura de
estradas. Nos anos seguintes, desta
vez no quadro do projeto
Polamazônia, criado pelo governo do
general Geisel (1974-1979),
começaram a ser implantados
projetos de colonização agrícola na
região. Os compositores da
Academia do Samba vestem figurino
para representar esse período da
história brasileira.

224
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Devastação da À frente de uma retroescavadeira Destaque de Ana Flávia


* floresta estilizada, Ana Flávia impõe a Chão Barcellos
destruição trazida pelos garimpeiros.
Os napës (não indígenas) espalham
sujeira pela floresta, matando a fauna
e flora existente no local.

Claudia A artista e fotógrafa suíça Claudia Família Direção de


Andujar: pela Andujar foi a primeira profissional Salgueirense Harmonia
15 luta Yanomami autorizada a registrar o cotidiano
Yanomami, após conhecer o líder
Davi Kopenawa em Boa Vista
(capital de Roraima), nos anos 70.
Claudia viveu entre os Yanomami e
produziu um longo trabalho junto a
eles. Foram livros, documentos e
mais de 40 mil imagens. São
registros das atividades diárias na
floresta e na maloca, dos rituais
xamânicos, do contato radical da
civilização branca com a indígena,
entre outros.

Vivendo de perto a tragédia


Yanomami, Andujar iniciou uma
militância em prol dos Yanomami,
unindo sua arte à política. Fundou em
1978 a Comissão pela Criação do
Parque Yanomami (CCPY) –
conhecida como Comissão Pró-
Yanomami. A Comissão organizou a
campanha pela demarcação do
território Yanomami, a fim de
garantir a preservação e a
sobrevivência desse povo originário
da Amazônia. A Terra Indígena
Yanomami foi reconhecida pelo
governo brasileiro em 1992.

225
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Claudia Andujar fez da luta pela preservação Família Direção de


15 Andujar: pela do povo, da cultura e da terra Salgueirense Harmonia
luta Yanomami Yanomami o trabalho de sua vida. A
fantasia da ala traz referências de
algumas produções icônicas de
Claudia Andujar como a vitória-
régia, os números que foram
pendurados nos Yanomami para
identificá-los, a cor dos filmes em
infravermelho (dando aspecto
arroxeado nas fotos), as margaridas -
sinônimo de resistência.

Massacre do A terra é demarcada, mas nem por isso Os Reis da Direção de


16 Haximu protegida. Em agosto de 1993, o Boemia Harmonia
mundo tomava conhecimento de um
crime bárbaro: a execução de homens,
mulheres e crianças indígenas que
habitavam a região montanhosa da
Terra Yanomami, conhecida como
Haximu. O fato chegou ao
conhecimento das autoridades por
meio de um bilhete escrito à mão e
logo ganhou as páginas de jornais de
todo o mundo.

No dia 15 de junho, sete garimpeiros


convidaram seis indígenas para caçar
e, durante a caminhada, mataram
quatro deles. Em retaliação, os
indígenas assassinaram um dos
garimpeiros. Esse foi o estopim para o
massacre que ocorreria depois. Em 23
de julho, garimpeiros invadiram a área
onde estavam alguns outros membros
do povo, a maioria mulheres e
crianças, pois os homens haviam saído
do local dias antes para participar de
uma festa típica. Os garimpeiros então
mataram a tiros e golpes de facão doze
indígenas: um homem adulto, duas
idosas, uma mulher, três adolescentes,
quatro crianças e um bebê.

226
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Massacre do Os criminosos foram identificados, Os Reis da Direção de


16 Haximu denunciados e presos pelo crime de Boemia Harmonia
genocídio. Até hoje, é o primeiro e
único caso de julgamento por
genocídio no Brasil. Diante da
sensibilidade do tema, o figurino da ala
caracteriza a morte dos indígenas
apenas pelo símbolo da caveira e o
bilhete sujo de sangue na gola da
roupa.

#Elasquelutam! As componentes destacam a Domadoras Direção de


17 O trabalho de representação artística de Ehuana Harmonia
Ehuana Yanomami. Por meio de pinturas,
Yanomami retrata as mulheres Yanomami como
“gigantas”. Elas são grandes e
dominam a floresta. Movem-se como
mulheres-folhas. Além da arte,
Ehuana é uma exímia pesquisadora
do seu povo e vem contribuindo com
uma investigação sobre as plantas
medicinais e o veneno de algumas
cobras usadas pelos Yanomami, um
conhecimento de domínio feminino e
em vias de desaparecimento.

Ela foi a primeira mulher de sua etnia


a escrever um livro em sua própria
língua (Yɨpɨmuwi thëã oni: Palavras
escritas sobre menstruação). A
artista vem se tornando uma
importante liderança feminina,
denunciando o garimpo ilegal, que
além de provocar a destruição
ambiental, também ameaça, viola e
prostitui meninas e mulheres.

227
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

A arte de Joseca Um dos notórios artistas da Terra Vermelho e Direção de


18 Yanomami Yanomami é o homenageado desta Branco Harmonia
ala. Joseca é professor da
comunidade Watorikɨ e ilustra vários
livros sobre as tradições de seu povo
publicados pela Hutukara
Associação Yanomami. Nos
desenhos, Joseca Yanomami expõe
meticulosamente entidades, lugares e
eventos evocados pelos mitos e
cantos xamânicos que ouviu desde a
infância, mas também por cenas da
vida cotidiana na floresta. O figurino
utilizado é inspirado livremente em
sua exposição “Árvores”, que já foi
exposta em países da Europa, Ásia e
Américas.

O Oscar Para chamar atenção sobre o garimpo Odisséia Direção de


19 Yanomami ilegal de ouro na Terra Yanomami e Harmonia
divulgar nomes de cineastas nascidos
na aldeia, como Morzaniel Ɨramari, a
associação Urihi e a agência de
publicidade DM9 lançaram uma
campanha global no último ano.
Levaram para o Oscar, o evento que
tem no troféu a representação
universal do ouro, uma estátua de
Omama. Foi uma alternativa à
estátua original de ouro 24 quilates.
A nova foi feita em cerâmica, sem
ouro, e está representada na cabeça
dos brincantes. A estátua foi enviada
para todos os 20 indicados ao Oscar
junto a um pedido de ajuda contra o
desmatamento.

228
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Projeto Yaripo - O Pico da Neblina fica dentro da Diversidade Edu e Beto


20 em defesa do Terra Indígena Yanomami e é
Pico da Neblina chamado por eles como Yaripo – a
Montanha do Vento. Esse é o ponto
mais alto do Brasil e é onde os
Yanomami iniciaram um projeto de
defesa de suas terras através do
turismo. Os passeios, que viraram
verdadeiras expedições, vêm
atraindo pesquisadores científicos do
mundo todo em busca de descobrir e
estudar a grande biodiversidade
existente na Amazônia. A mais
recente descoberta foi de uma nova
espécie de coruja. O animal pertence
ao gênero Glaucidium, foi coletado a
cerca de 2.200m de altitude, bem na
parte alta do pico. A espécie ainda
não tem nome, mas seus padrões
vocais são bem diferentes dos já
conhecidos até hoje.

* “A nossa água é Grávida, Bianca Salgueiro vem à Destaque de Bianca


Vida” frente da quinta alegoria representando Chão Salgueiro
a importância das águas para o povo
Yanomami. Eles se consideram filhos
das águas e dão muito importância
para a preservação dos rios. Para os
Yanomami, a água é vida!

O grupo de componentes representa


21 Matis (Vale do os povos matis que vivem na Terra
Javari) Zé Carioca Direção de
Indígena do Vale do Javari
Harmonia
(Amazonas). Este território forma a
segunda maior área indígena
demarcada do país e a que apresenta
a maior densidade de grupos isolados
no mundo.

229
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Foi na região que o indigenista Bruno


21 Matis (Vale do Pereira e o jornalista inglês Dom Zé Carioca Direção de
Javari) Phillips foram assassinados em junho Harmonia
de 2022, enquanto produziam um
livro sobre a biodiversidade da
Amazônia e a
importância de sua preservação. O
local sofre atualmente com a
exploração ilegal de madeira, pesca
ilegal, garimpo e violência armada.
Mas, em meio à tragédia provocada
pelo homem branco, destacamos na
ala a particularidade dos ornamentos
dos matis. A principal delas é o uso
de um disco circular na orelha,
chamado de tawa.

Habitando a região sul do Mato


22 Guarani Kaiowá Grosso do Sul, os Kaiowá vivem uma Salgueiro é a Direção de
contínua luta por suas terras, diante Flecha Harmonia
de disputas com grileiros e
fazendeiros. Atualmente, ocupam
mais de 20 áreas no estado, mas nem
todos os territórios ocupados estão
em sua totalidade ou nem todos estão
definitivamente legalizados. Ou seja,
há muitas pendências judiciais. Nesta
ala, os brincantes destacam o uso do
mbaraka (chocalho), um instrumento
musical sagrado usado em diversos
rituais pelos Kaiowá. Tais
cerimônias são conduzidas pelos
ñanderu que são líderes e
orientadores religiosos; e
contemplam necessidades
corriqueiras como colheita da roça,
ausência ou excesso de chuva. A
cada verso entoado pelo ñanderu a
comunidade o repete, sempre
acompanhados pelos mbaraka
confeccionado e usado por homens.

230
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

23 Kayapó- Os Kayapó vivem em aldeias Mariposa Direção de


Mẽbêngôkre dispersas ao longo do curso superior Harmonia
dos rios Iriri, Bacajá, Fresco e de
outros afluentes do rio Xingu. É
praticamente recoberto pela floresta
equatorial, com exceção da porção
oriental, preenchida por algumas
áreas de cerrado. Vivem ameaçados
pelo desmatamento e o garimpo
ilegal. A ala, que é formada só por
mulheres, destaca a liderança da
primeira cacica deste povo: a
assistente social Maial Kayapó. Ela é
filha do lendário cacique Paulinho
Paiakan, um dos pioneiros do
movimento indígena no Brasil, que
morreu vítima da Covid-19. Ele ficou
conhecido por sua luta pela inclusão
dos direitos indígenas na
Constituição Federal de 1988, pela
demarcação da Terra Indígena
Kayapó, obtida em 1991, e contra o
projeto da Hidrelétrica de Belo
Monte.

O figurino delas retrata a


singularidade da pintura corporal,
muito simbólica na cultura Kayapó,
feita com linhas geométricas e
intrincadas. Significa status e
comportamento social. Vermelho,
preto e verde são as principais cores.

24

231
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Awá-Guajá Os Awá-Guajá são povos de recém Loucura Direção de


contato, e vivem em grupos Salgueirense Harmonia
formados por uma ou mais famílias.
São um dos últimos povos no mundo
cuja cultura se baseia
economicamente apenas na caça,
pesca e na coleta de folhas, raízes e
cipós. Vivendo no estado do
Maranhão, os Guajá somam, hoje,
mais de 340 pessoas e vivem em três
terras indígenas: Alto Turiaçu, com
530.000 hectares, a qual
compartilham com índios Urubu-
Kaapor, Tembé e Krejê; Rio Caru,
com 176.000 hectares,
compartilhada com os Guajajara; e
Arariboia, 413.000 hectares,
compartilhada com os Guajajara. Os
madeireiros frequentemente rondam
essas terras, ameaçando sua vivência.
A fantasia destaca as principais
atividades desse povo, além dos
adereços de penas e o cocar
característico que circunda a cabeça.
25
Tupi Guarani A população atual desta comunidade Juntos e Direção de
Mbya são de 127 pessoas e ocupam a aldeia Misturados Harmonia
Ka’Aguy Hovy Porã, que significa
“Aldeia Mata Verde Bonita”, na
Área de Proteção Ambiental, em São
José de Imbassaí, no município de
Maricá (RJ), desde 2009. A região
foi escolhida e cedida para eles pelo
poder municipal, depois de passarem
por perseguições em Niteroi e Paraty.
Apesar do aparente apoio da
Prefeitura de Maricá, os Mbya vivem
a incerteza jurídica, já que o terreno
está sendo pleiteado por um grupo de
investidores estrangeiros para
construir um resort de luxo. Uma das
características deste povo que vive na
reserva em Maricá é o colorido de
suas peças. A roupa da ala traz ainda
a arara que é um dos mais belos
pássaros da Mata Atlântica, bioma
onde os Mbya vivem, mas que está
ameaçado de extinção.

232
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

26
Xokleng Centro da discussão sobre o Marco Charme Direção de
Temporal que se desenrola em Salgueirense Harmonia
Brasília, o povo Xokleng vem
enfrentando um longo histórico de
perseguições empreendidas pelo
Estado brasileiro. Eles vivem na
Terra Indígena Ibirama em Santa
Catarina e são sobreviventes de um
processo brutal de colonização do sul
do Brasil. A partir da segunda metade
do século XIX, esse povo passou a
ser visto como uma ameaça — e um
obstáculo — aos
interesses do governo imperial. Na
época, colonos europeus começaram
a se estabelecer na região. Pelas
décadas seguintes, os Xokleng
começaram a ser mortos. Conforme a
população era dizimada, diminuía
também o território ocupado por esse
povo, que quase desapareceu em sua
totalidade. É a extensão dessa terra
que está no centro da discussão sobre
o Marco Temporal.

Na ação, o Instituto do Meio


Ambiente de Santa Catarina pedia a
reintegração de posse de uma parte
da Terra Indígena Ibirama. O estado
de Santa Catarina argumentou que os
indígenas não têm direito a esse
território porque não moravam na
região em outubro de 1988. O
argumento se baseia na chamada tese
do Marco Temporal: seus defensores
sustentam que os povos originários
só têm direito aos territórios que
ocupavam (ou disputavam na
Justiça) no momento em que foi
promulgada a Constituição Federal.

233
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

26
Xokleng Sendo resistentes até hoje, os Charme Direção de
componentes destacam, Salgueirense Harmonia
artisticamente, a arte Xokleng. Uma
das características singulares deles é
a confecção do manto de urtiga. As
mulheres faziam e buscavam o
material no mato, faziam o manto
para se cobrir quando dormiam e era
usado como vestuário, no dia a dia e
em rituais. Esse tipo de vestuário é
muito importante para esse povo por
ter uma fibra muito resistente para
confecção e para cobrir o corpo,
como cobertor e se proteger do frio.
Atualmente, essa prática vem se
perdendo. Além do cocar e grafismo
particular, a fantasia traz o desenho
da araucária, árvore típica do sul do
Brasil, e considerada sagrada pelos
Xoklend.

*
Sonhe a floresta À frente da última alegoria, a atriz Destaque de Cacau Protásio
Cacau Protásio simboliza um convite Chão
para que todos sonhem a floresta. Davi
Kopenawa diz que só assim todos os
não-indígenas compreenderão de fato
o ser vivo que a natureza é.

234
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Fantasias

Local do Atelier
Rua Rivadávia Correa, 60 – Barracão 08 – Gamboa, Rio de Janeiro – RJ – CEP 20.220-290
Diretor Responsável pelo Atelier
Rita de Cássia e Gilmar Salles
Costureiro(a) Chefe de Equipe Chapeleiro(a) Chefe de Equipe
Luciene Ferreira Denis Linhares
Aderecista Chefe de Equipe Sapateiro(a) Chefe de Equipe
Glauber, Márcio Almeida, Daniel, Paulo,, Seu José
Márcio Magé, Wal, Wilber, Márcio Santiago,
Rose, Rafael Gomes, Raoni e Gil.
Outros Profissionais e Respectivas Funções

Belizário Cunha - Chefe de Ateliê das Composições

1º e 2º Casal - Fernando Magalhães

Victor - Vime

Junior - Arame

Anderson e Paula - Espuma

Outras informações julgadas necessárias

As imagens dos croquis e das fantasias são originais e servem apenas como referência, uma
vez que podem ter sido feitas modificações na execução/reprodução, de acordo com materiais
disponíveis no mercado.

235
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Autor(es) do Samba- Pedrinho da Flor / Marcelo Motta / Arlindinho Cruz / Renato


Enredo: Galante / Dudu Nobre / Leonardo Gallo / Ramon Via13 / Ralfe
Ribeiro

Presidente da Ala dos Compositores


Nilda Salgueiro Baptista Ferreira
Total de Componentes da Compositor mais Idoso Compositor mais Jovem
Ala dos Compositores (Nome e Idade) (Nome e Idade)
100 Luiz Camelô Leandro Thomaz
(Cem) 92 anos 26 anos
Outras informações julgadas necessárias

É Hutukara! O chão de Omama

O breu e a chama, Deus da criação

Xamã no transe de yakoana

Evoca xapiri, a missão…

Hutukara, ê! Sonho e insônia

Grita a Amazônia, antes que desabe

Caço de tacape, danço o ritual

Tenho o sangue que semeia a nação original

Eu aprendi português, a língua do opressor

pra te provar que meu penar também é sua dor

falar de amor enquanto a mata chora,

é luta sem Flecha, da boca pra fora!

236
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Tirania na bateia, militando por quinhão,

e teu povo na plateia, vendo a própria extinção

“Yoasi” que se julga: “família de bem”,

ouça agora a verdade que não lhe convém:

Você diz lembrar do povo Yanomami em dezenove de abril,

mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome,

quando o medo me partiu

Você quer me ouvir cantar Yanomami pra postar no seu perfil

entre aspas e negrito, o meu choro, o meu grito, nem a pau, Brasil!

Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom

somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom

Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso,

não queremos sua “ordem”, nem o seu “progresso”

Napê, nossa luta é sobreviver!

Napê, não vamos nos render!

Ya Temi Xoa! aê, êa!

Meu Salgueiro é a flecha

Pelo povo da floresta

Pois a chance que nos resta

É um Brasil cocar!

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

O samba

O samba do Salgueiro, composto por Pedrinho da Flor, Marcelo Motta, Arlindinho Cruz, Renato
Galante, Dudu Nobre, Leonardo Gallo, Ramon Via13 e Ralfe Ribeiro, percorre todo o enredo da
agremiação para o Carnaval 2024, sendo construído em primeira pessoa. Davi Kopenawa,
importante liderança Yanomami e que foi inspiração para o desenvolvimento do desfile, é o eu
lírico da poesia cantada pelos componentes salgueirenses.

Tal fato fica evidente ao longo da obra, mas, em específico, no trecho abaixo que trata do momento
em que Kopenawa relata ter aprendido a língua oficial do Brasil para poder denunciar o sofrimento
do seu povo.

“Eu aprendi português, a língua do opressor

pra te provar que meu penar também é sua dor”

Intercalando momentos subjetivos e dialogando com expressões atuais, o hino da Academia


percorre os setores da apresentação que a escola apresentará na Marquês de Sapucaí. Além disso, a
canção traz um feito inédito: é a primeira vez que termos/frases da língua Yanomami estão sendo
utilizados em uma música da sociedade não-indígena.

“É Hutukara! O chão de Omama

O breu e a chama, Deus da criação

Xamã no transe de yakoana

Evoca xapiri, a missão…

Hutukara, ê! Sonho e insônia

Grita a Amazônia, antes que desabe”

O trecho destacado acima marca a abertura do desfile com o universo cosmológico Yanomami.
Nele, Omama, o Deus da criação, é responsável pelo surgimento da nova terra-floresta (Hutukara).
Para ajudar na proteção desse espaço, o demiurgo também cria os xapiris, espíritos protetores. Esses
seres, porém, só aparecem para os xamãs após um ritual feito a partir do pó de uma árvore, a
yãkoana (fala-se também yakoana). Ou seja, ao mesmo tempo em que cria, Omama já sabe dos
desafios para se preservar a Hutukara (“sonho e insônia”). No verso “Grita a Amazônia, antes que
desabe”, há uma referência clara ao episódio narrado no livro “A queda do céu”, de Davi Kopenawa
e Bruce Albert, em que o céu antigo desabou, além de já aparecer a mensagem do enredo: a
preservação da Amazônia.

“Caço de tacape, danço o ritual

Tenho o sangue que semeia a nação original”

238
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Na sequência, o samba permeia o segundo setor, quando as atividades diárias dos Yanomami são
evidenciadas nas alas e alegoria. Esse povo pratica a caça, as mulheres colhem frutos na roça e
realizam grandes festas/rituais. São ações dos filhos verdadeiros da terra, posteriormente chamada
“Brasil” pelo colonizador.

“Eu aprendi português, a língua do opressor

pra te provar que meu penar também é sua dor

falar de amor enquanto a mata chora,

é luta sem Flecha, da boca pra fora!

Tirania na bateia, militando por quinhão,

e teu povo na plateia, vendo a própria extinção

“Yoasi” que se julga: “família de bem”,

ouça agora a verdade que não lhe convém:”

Nesses versos, compreende-se o terceiro setor que condensa a tragédia Yanomami com elementos
místicos de suas narrativas. A flecha, verdadeiro símbolo da luta indígena, aparece em uma
comparação com aqueles que se utilizam apenas de palavras bonitas para se dizer defensor da causa.
Enquanto a floresta está caindo, falar apenas não é o suficiente. É preciso agir!

A perspicácia do samba salgueirense combina palavras associadas ao garimpo ilegal (“bateia”) com
o período da Ditadura Militar. Foi nos anos de chumbo (“tirania”) que os Yanomami passaram a ter
maior contato com os brancos e contrair doenças, levando à morte de muitos. Foram entregues à
própria sorte.

Cabe salientar que a personificação do mal para os Yanomami passa, necessariamente, ao ser
chamado Yoasi. Ele é o irmão de Omama, porém sendo o responsável pela criação da morte e da
escuridão. Utilizando uma expressão atual (“família de bem”), os poetas mais uma vez estabelecem
uma relação extra contemporânea: Yoasi revelou aos humanos os metais preciosos escondidos
debaixo da terra. Em nome do progresso, eles acabam destruindo a natureza que Omama criou.

“Você diz lembrar do povo Yanomami em dezenove de abril,

mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome,

quando o medo me partiu

Você quer me ouvir cantar Yanomami pra postar no seu perfil

entre aspas e negrito, o meu choro, o meu grito, nem a pau, Brasil!”

239
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

A parte acima, considerada como “dedo na ferida”, versa justamente sobre o quarto setor, chamado
de “Pra postar no seu perfil”. Utilizando termos da geração TikToker, os compositores fazem uma
crítica pertinente sobre o universo Yanomami. Ninguém os conhecia de fato e de direito. As notícias
na mídia sobre eles estão ligadas à tragédia produzida pelo homem branco. Por isso, as fantasias e
a alegoria dessa parte do desfile salgueirense propõem um conhecimento sobre fatos relevantes,
culturais e artísticos de quem realmente são os Yanomami. Você sabia que o único caso de
condenação por genocídio no Brasil aconteceu na terra Yanomami? (“e sorriu da minha fome,
quando o medo me partiu”).

A resposta para aqueles que preferem tirar proveito da tragédia é categórica: “o meu choro, o meu
grito, nem a pau, Brasil!”. Os Yanomami não querem ser reconhecidos por algo que não é produzido
por eles. É preciso que reconheçamos a beleza e o universo particular do seu povo.

“Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom

somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom

Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso,

não queremos sua “ordem”, nem o seu “progresso”

Napê, nossa luta é sobreviver!

Napê, não vamos nos render!”

Assim como os Yanomami, há diversos outros povos originários pelo país que não são reconhecidos
pelo que verdadeiramente são, e sim vistos pela ótica da tragédia do homem branco. O último setor
do desfile traz outras etnias do Brasil original, mas pelo viés do que apresentam de particular (“antes
da sua bandeira, meu vermelho deu o tom”). Esse é o pensamento-chave do enredo.

O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, assassinados enquanto produziam material
em defesa da floresta, ganham citação na obra salgueirense por terem sido “brancos” que
entenderam verdadeiramente os povos indígenas. Mesmo que seus corpos não estejam mais aqui,
seus pensamentos permanecem em cada indígena – e até não indígenas. A luta incessante deles se
espalhou pela terra, feito marimbondos (significado de Kopenawa). Ou seja, é melhor não mexer
com eles. Porque irão lutar para vencer, sobreviver!

“Ya Temi Xoa! aê, êa!

Meu Salgueiro é a flecha

Pelo povo da floresta

Pois a chance que nos resta

É um Brasil cocar!”

240
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

O refrão principal do Salgueiro é um aguerrido grito de resistência em defesa dos povos originários.
Em “Ya Temi Xoa” que, em português, significa “ainda estou vivo”, a agremiação ressoa uma
expressão muito utilizada por eles nos últimos anos. Mesmo com tudo que vem ocorrendo,
permanecem vivos. A vermelho e branco da Tijuca sim é uma flecha nessa luta indígena, cuja vitória
será apenas quando todos respeitarem verdadeiramente os donos da nossa terra.

Harmonia do canto

Para o carnaval de 2024, o Salgueiro preparou os componentes em diversos ensaios e reuniões


realizados na quadra da escola, nas ruas Maxwell e Conde de Bonfim e ensaios separados ala a ala,
na Cidade do Samba. Para que o desfile se realize de maneira harmônica, integrando a tríade “ritmo,
canto e dança”, o Departamento de Harmonia irá valorizar e reforçar ainda mais a participação da
comunidade da escola. O cuidado musical é um dos pilares do trabalho da Harmonia. Aliar as
variações melódicas do samba de 2024 com o andamento da bateria, a interpretação dos cantores e
o arranjo musical é essencial para permitir que o componente evolua de maneira confortável. E isso
só foi possível através de inúmeras reuniões entre os integrantes do carro de som e bateria, com
ensaios semanais iniciados ainda no primeiro semestre de 2023.

A importância dos ensaios está na necessidade de ajustar o entrosamento e o canto dos componentes
– Alas de Comunidade, Composições de alegoria, Destaques, Semi Destaques e Destaques de Chão
–, com o ritmo do samba-enredo da escola. Para que cada componente compreendesse sua função
no desfile, foram feitas reuniões com a Diretoria Cultural nas quais os figurinos foram apresentados,
com as devidas explicações sobre o significado de cada um e o que representam dentro da história
que será contada. Assim, cada um dos componentes estará na Avenida Marquês de Sapucaí
consciente de seu papel, com conhecimento do enredo, da letra do samba-enredo e do roteiro de
desfile da escola. Bastante tradicional, a Harmonia do Salgueiro prima pelo cantar a plenos pulmões
de uma comunidade apaixonada que é muito disciplinada, buscando o máximo de cada componente.

Direção Musical

Pelo segundo ano consecutivo, o carro de som vem comandado pelo maestro, arranjador e diretor
musical, Alexandre Panzoldo, o Alemão do Cavaco, como é conhecido no meio musical e
carnavalesco. Alemão tem um vasto currículo na música e principalmente no carnaval carioca e
brasileiro. O profissional já passou por algumas outras escolas, com destaque para a Estação
Primeira de Mangueira, em que alcançou o campeonato duas vezes na função de diretor musical e,
também, de compositor. Formado pela Faculdade de Música Carlos Gomes, em São Paulo, se
orgulha das variadas participações como músico e arranjador em álbuns e shows de diversos artistas
brasileiros. Acumula, ainda, a função de comentarista da TV Globo no carnaval paulistano.

O carro de som

No ano passado, Alemão do Cavaco estreou na agremiação e, com este grupo do carro de som, foi
o único a conquistar 40 pontos do quesito na Marquês de Sapucaí. Para 2024, o desafio continua.
Sempre buscando a excelência no trabalho de canto e cordas, a equipe do carro de som, vem muito
ensaiada e preparada para o desfile, buscando a máxima sincronia entre bateria, cantos dos
intérpretes e o canto da escola em alas e lugares de destaque.

241
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Com o intuito de esclarecermos ao máximo nossas intenções em relação à parte musical do


Acadêmicos do Salgueiro, apresentamos aqui nossos objetivos em prol do canto e acompanhamento
musical para sustentação do nosso samba e para o quesito Harmonia do desfile.

Como priorizamos absolutamente a clareza do canto de nossos intérpretes e, para que isso seja feito
de forma leve, alegre e contagiante, atingindo nossos componentes e à todo o público presente na
Sapucaí, criamos um arranjo com uma “assinatura” salgueirense, porém com a preocupação da
funcionalidade do desfile.

Para este ano, temos um samba aclamado totalmente pela mídia especializada e também pelo
público, o que facilita a aceitação e a clareza da melodia e do canto.

O samba se inicia em tom menor, Bm (Si menor), fazendo uma alusão teatral ao sofrimento do povo
Yanomami, seguimos uma cadência de baixos, sétima menor e menor aumentada. Em alguns
momentos, lembrando passos e figuras rítmicas indígenas, dando uma intenção bem clara de um
caminhar pela floresta com essa trilha sugerida.

Alguns efeitos de solos de cavaquinhos e violões, ora dobradas, ora um sustentando a base de outro,
também colaboram com a proposta. Tudo exaustivamente ensaiado e “sincados” com a dinâmica
de canto e com a bateria Furiosa.

O andamento proposto pelo carro de som e acompanhado pela bateria é o de variação entre 145 e
146 bpm, buscando a cadência do samba, do canto e da liberdade da dança.

É fundamental que o conjunto, cordas, vozes e ritmo, estejam coesos e harmonicamente brilhando
para obtermos a melhor sonoridade e a melhor sustentação, do início ao fim de nosso desfile.

Há também uma proposta de algumas inversões de acordes para sairmos do lugar comum, mas
respeitando a tradição do samba enredo, e de nossa escola. Tudo isso sempre em harmonia com a
melodia do samba. Alguns elementos rítmicos em forma de caminhada também aparecerão nas
cordas, tudo acompanhando o samba e seu andamento.

O samba, que foi uma das obras mais divulgadas e aceitas no pré carnaval, facilitou demais nosso
trabalho, no sentido de adequarmos uma roupagem harmônica. Não precisamos alterar nada do
original em termos de canto, somente alinharmos as respirações, e a força do canto dos intérpretes.

Em trechos que a bateria faz as suas bossas, optamos por seguirmos fazendo nossa base de ritmo
harmônico. Em determinados momentos, silenciamos as cordas para o brilho somente da bateria,
principalmente, quando estamos em movimento, para não corrermos riscos de desencontros
sonoros, devido à distância. Em outros momentos, fizemos as figuras rítmicas que foram muito
ensaiadas com nossa bateria.

Em algumas bossas específicas, também fazemos um efeito nas cordas de “dança da chuva” ou
pode ser chamado de lembranças de figuras indígenas. Cavaquinhos e violões simulam essa rítmica.

Algumas terças e oitavas colocadas em pontos estratégicos feitas pela Lissandra Oliveira, dão um
brilho de harmonia sem perdermos o peso do coral, que vem sustentado por vozes mais médio
graves como Digão Audaz e Wagner do Vale.

242
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Além de dois cantores extremamente técnicos que são Psé Diminuta e Charles Silva, temos a estreia
do garoto Luan Lima, oriundo dos Aprendizes do Salgueiro.

Outro ponto de destaque é a divisão de sílabas nos cantores. Apesar do intérprete oficial Emerson
Dias ter a liberdade de sua interpretação, passando a "emoção", e a comunicação com o público, e
a própria divisão de canto peculiar, todos que estão cantando com ele, estão fazendo a mesma
divisão rítmica. As notas do canto também foram extremamente ensaiadas de forma separadas de
outros setores da escola, em estúdio de música, e, posteriormente em conjunto, com a bateria, o
canto da comunidade e alas, com o intuito da homogeneidade do canto, transformando a Academia
em um grande coral a céu aberto.

Outro ponto a destacar em relação ao nosso intérprete oficial, Emerson, é que além da intensa
comunicação com o público em momentos específicos, somente faz os chamados cacos, quando
necessários, sem poluição sonora na melodia, ou no canto da escola. Literalmente puxando e
conduzindo o canto da escola com limpeza e determinação.

243
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Bateria

Diretor Geral de Bateria


Guilherme dos Santos Oliveira e Gustavo dos Santos Oliveira
Outros Diretores de Bateria
Denise Oliveira, Pablo Barreto, Antônio Miranda (Tuninho), George Ferreira, Darlan Nascimento
Hiago Souza, João Baluardo, Kleber Basílio, Clair Basílio, Marcelo Vieira, Eduardo José, Luiz
Carlos Irineu (Orelha), e Emilson Matos (Shoua)
Total de Componentes da Bateria
270 (duzentos e setenta ritmistas)
NÚMERO DE COMPONENTES POR GRUPO DE INSTRUMENTOS
1ª Marcação 2ª Marcação 3ª Marcação Reco-Reco Ganzá
14 14 16 - -
Caixa Tarol Tamborim Tan-Tan Repinique
60 45 35 - 40
Prato Agogô Cuíca Pandeiro Chocalho
- - 24 - 22
Outras informações julgadas necessárias

A Bateria do Salgueiro – A Furiosa, como é conhecida a Bateria do Salgueiro, é uma das grandes
orquestras do Carnaval e uma das mais premiadas na história da folia carioca. É ela que acelera a
batida dos corações e arrepia os salgueirenses a cada vez que se posiciona na Avenida para abrir os
caminhos do cortejo da Academia. Comandada em sua trajetória por grandes Mestres, como
Dorinho, Tião da Alda, Bira, Branco Ernesto, Almir Guineto, Arengueiro, Mané Perigoso, Louro e
Marcão, a Furiosa, recebeu incontáveis notas dez e diversas premiações. Entre elas, nove
Estandartes de Ouro, maior prêmio do Carnaval carioca.

Mestre Guilherme e Mestre Gustavo - “Craque se faz em casa”. O lema utilizado nos clubes de
futebol que revelam grandes atletas é perfeito para apresentar os Mestres de Bateria da Furiosa: os
irmãos Guilherme dos Santos Oliveira e Gustavo dos Santos Oliveira. Crias dos Aprendizes do
Salgueiro e filhos de ritmista (seu pai, Tuninho, foi diretor da bateria da escola), Guilherme e
Gustavo deram os primeiros passos no ritmo na Furiosinha, apelido da bateria da escola de samba
mirim da vermelho e branco tijucana. Aos 18 anos, Guilherme começou a tocar na bateria da escola
mãe, incentivado por Mestre Louro, ícone do Salgueiro, que sempre que podia, deixava os mais
novos participarem dos ensaios para revelar talentos. Durante muitos anos, Guilherme desfilou na
bateria do Salgueiro, tocando diversos instrumentos. Até que, em 2011, já sob a batuta de Mestre
Marcão, foi convidado para ser um dos diretores auxiliares da Furiosa. A exemplo do irmão mais
velho, Gustavo também cresceu nos Aprendizes do Salgueiro. Em 1999, aos sete anos, já era
ritmista da escola mirim, onde também foi diretor, compositor e Mestre da Bateria. Aos 12 anos,
influenciado pelo pai, por Guilherme e por amigos, passou a tocar tarol na Furiosa, sem deixar a
função de Mestre de Bateria mirim. Em 2010, foi convidado para ser diretor da ala. Desde o
Carnaval de 2019, os dois comandam os ritmistas da Academia do Samba, garantindo, neste
período, todas as notas máximas do júri.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Formados em Música pela escola Villa Lobos, os irmãos têm diversos projetos juntos fora do
Carnaval. Craques da percussão, já fizeram parte do time de músicos de cantores e grupos famosos
como Fundo de Quintal, Clareou, Dudu Nobre e Ludmilla. Com a experiência adquirida, há três
anos, foram convidados a desenvolver um projeto na escola de música Frederic Douglas, no Harlem,
centro cultural afro-americano nos Estados Unidos.

No comando de 270 ritmistas, Guilherme e Gustavo contam com o auxílio de seus diretores –
Denise Oliveira, Pablo Barreto, Antônio Miranda (Tuninho), George Ferreira, Darlan Nascimento
Hiago Souza, João Baluardo, Kleber Basílio, Clair Basílio, Marcelo Vieira, Eduardo José, Luiz
Carlos Irineu (Orelha), e Emilson Matos (Shoua) - para mostrar ao público o ritmo firme do samba
do Morro do Salgueiro. Neste ano, eles também se debruçaram em estudos musicais do povo
Yanomami para buscar a excelência e as notas 10 em mais um desfile.

Fantasia da Bateria:

Diamante Bruto

Os maiores (os mais velhos) da aldeia contam que, antigamente, coletavam metais com pontinhos
brilhantes para fabricar uma substância de feitiçaria. Com o brilho, usavam para cegar as pessoas
com quem estavam bravos. Hoje, os mais novos não sabem mais para que serve. Os descendentes
de Yoasi queriam esse metal, que julgavam ser diamantes, para ganhar dinheiro. Vender como
mercadoria. Os ritmistas da bateria Furiosa marcam, portanto, o pensamento dos napës: a cobiça
pela busca do diamante bruto.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Figurino dos Mestres da Bateria e Diretores:

“Forasteiros”

Os mestres Gustavo e Guilherme, junto com os diretores da bateria Furiosa, representam os


“forasteiros”. É assim que os Yanomami chamam os garimpeiros. Eles invadem a floresta atrás dos
minérios, levando doença e morte para os indígenas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Rainha de Bateria – Viviane Araújo

Verdadeiro fenômeno do carnaval, Viviane Araújo é uma das maiores rainhas da história das escolas
de samba. Após sua estreia, em 1995, no Império da Tijuca, Viviane passou pela Mocidade
Independente, União de Jacarepaguá e pela paulistana Mancha Verde, até chegar ao Salgueiro, após
o carnaval de 2007. Desde então, reina absoluta à frente da Furiosa.

Referência quando o assunto é rainha ou madrinha de bateria, Viviane reúne todos os atributos
necessários para o posto: a beleza, o carisma, o gingado de sobra e a habilidade de tocar tamborim,
predicados mais que suficientes para enfeitiçar e hipnotizar o público que vai ao delírio a cada
passagem pela Avenida. Em seu 16º carnaval à frente da Furiosa do Salgueiro, Viviane Araújo virá
vestida como as folhas oko xi. É uma planta temida pelos Yanomami que, na concepção desse povo,
quando queimadas no fogo, produzem uma fumaça amarelada de epidemia faminta de carne
humana. Apesar de fazer parte dos contos Yanomami, de sabedoria ancestral, eles associam essas
folhas à atividade do garimpo na floresta. Quando esses forasteiros queimam a floresta em busca
dos metais preciosos, estão espalhando a fumaça dessa planta que traz a morte para os indígenas.

** As imagens dos croquis e das fantasias são originais e servem apenas como referência, uma
vez que podem ter sido feitas modificações na execução/reprodução, de acordo com materiais
disponíveis no mercado.

247
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Harmonia

Diretor Geral de Harmonia


Diego Pedroso, Paulo Cesar Evangelista e Paulo Dimitri
Outros Diretores de Harmonia
Nuriel, Glauce Gusmão, Vinicius, Waguinho, Rodrigo, Marcia, Dimitri, Pedro Selva, Owerlack J,
Lucimar, Gegê, Testa, Beauclair, Ramoa, André Fernandes, Odila, Sergio Tadeu, Paula, Gilson,
Wellington, Julio, Lázaro, Edson Alves, Ricardo, Vagner, Maurício, Sergio, Jota, Serginho, João,
Simone, Marcelo, Fernando Sá, Capoeira, Mendes, Felipe Gomes, Jedson, Barbara, Nivaldo,
Carim, Costa, Diego Pedroso, Ruan Frade, Marinho, Raphael, Nilson, Andre Jales.

Total de Componentes da Direção de Harmonia


72 (setenta e dois)
Puxador(es) do Samba-Enredo
Oficial: Emerson Dias
Auxiliares: Charles Silva, Lissandra Oliveira, Wagner do Vale, Psé Diminuta, Digão Audaz e Luan
Lima
Instrumentistas Acompanhantes do Samba-Enredo
Andy Lee (violão 7 cordas), Raphael Gravino (violão 6 cordas), Victor Nascimento (cavaquinho),
Xandão (bandolim)
Outras informações julgadas necessárias

Para o Carnaval de 2024, o Salgueiro formou uma Comissão de Harmonia, integrada por “pratas da
casa”: Diego Pedroso, Paulo Cesar Evangelista e Paulo Dimitri. Em conjunto, os três integrantes da
Comissão prepararam todos os componentes das alas da vermelho e branco (Passistas, Baianas,
Velha Guarda, Compositores, composições de carros alegóricos, entre outros) em ensaios técnicos
realizados às quintas-feiras e domingos, nas ruas Maxwell e Conde de Bonfim, na Tijuca, Zona
Norte do Rio, e ensaio individuais de cada ala na Cidade do Samba. Foram um total de 36 ensaios.

Em janeiro, o Salgueiro realizou ainda seu ensaio técnico na Marquês de Sapucaí para simulações
de apresentação de Comissão de Frente, Mestre-Sala e Porta-Bandeira e Bateria para cabine de
julgadores, além da entrada e saída da Bateria dos boxes. Nesses ensaios, os diretores de harmonia,
junto com diretores de outros departamentos da escola, ajustaram o entrosamento do canto dos
componentes com o ritmo do samba-enredo, contribuindo para o melhor trabalho de harmonia da
agremiação.

DIREÇÃO DE HARMONIA

Diego Pedroso

Diego Pedroso exerce o cargo de diretor de harmonia há oito anos, tendo começado na Unidos de
Vila Isabel. Nos dois últimos carnavais, atuou também pela Estácio de Sá e Império Serrano (onde
foi campeão). Estreia esse ano na Direção Geral de Harmonia do Salgueiro: “se sentindo muito
honrado pela oportunidade e confiança depositada”.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Paulo Cesar Evangelista

Conhecido como Paulinho do Salgueiro, é neto de um dos fundadores da Azul e Branco, uma das
escolas que deu origem ao Acadêmicos do Salgueiro. Integrante da Ala de Comunidade desde 2007,
é chamado para fazer parte da Harmonia do Salgueiro em 2010. Sua competência o fez assumir
cargos de diretoria de setores da harmonia até ser chamado este ano para fazer parte do trio que
comandará nosso desfile.

Paulo Dimitri

Chamado de menino prodígio pelos segmentos de harmonia, fez sua estreia em 2019 na Acadêmicos
do Sossego, de Niteroi. No mesmo ano atuou em diversas escolas que desfilavam na Intendente
Magalhães. Em 2020, recebe o convite para fazer parte da Comissão da União de Jacarepaguá, onde
atua até hoje. Paulo recebeu o convite para fazer parte da equipe de Harmonia do Império Serrano
em 2021, e, por causa do seu empenho e desempenho, foi convidado para fazer parte da Comissão
de Harmonia do Império. Após o carnaval de 2023, é convidado para fazer parte da Direção de
Harmonia do Salgueiro em que mescla sua metodologia de trabalho com as características da escola.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Evolução

Diretor Geral de Evolução


Diego Pedroso, Paulo Cesar Evangelista e Paulo Dimitri
Outros Diretores de Evolução
Nuriel, Glauce Gusmão, Vinicius, Waguinho, Rodrigo, Marcia, Dimitri, Pedro Selva, Owerlack J,
Lucimar, Gegê, Testa, Beauclair, Ramoa, André Fernandes, Odila, Sergio Tadeu, Paula, Gilson,
Wellington, Julio, Lázaro, Edson Alves, Ricardo, Vagner, Maurício, Sergio, Jota, Serginho, João,
Simone, Marcelo, Fernando Sá, Capoeira, Mendes, Felipe Gomes, Jedson, Barbara, Nivaldo,
Carim, Costa, Diego Pedroso, Ruan Frade, Marinho, Raphael, Nilson, Andre Jales.
Total de Componentes da Direção de Evolução
72 (setenta e dois)
Principais Passistas Femininos
Thaís de Paula, Raphaëlla Charron, Blenda Lucena, Mariane Marinho, Maryanne Hipólito, Vanessa
Passos, Isabelle Alves, Liani Devito, ⁠Bruna Souto, ⁠Ana Beatriz Borges, ⁠Eduarda Vitória Lima
Guimarães Apolinário, ⁠Amanda Martins Marques, Ingrid Machado, Andryelle dos Santos Martins,
Zaira Elisa R. Cancino, Ingrid Soares Xavier, Raquel Oliveira Lima, Fabiana Santos, Emanuelle
Rodrigues, Sabrina Amorim, Flávia Jooris, Patrícia Miranda, Marcelly Pitanga, Sandreline Chaves,
Larissa Cruz, Carolane Silva, Lívya Oliveira, Beatriz Braga, Cecília da Costa, Rayane Vitória Silva
De Oliveira, Lays Vitória Cezar da Silva, Ana Carolina do Nascimento, Gabrielle de Oliveira
Maciel, Cassia Anastacia Serafim Cruz, Luara Lino, Raissa Bezerra, Gabriela Carvalho, e Amanda
Valle.
Principais Passistas Masculinos
Gabriel Gomes, Helder Oliveira, Jonathan Santos, Danilo Vieira, Jonata Gama, Horfeu Valério,
Roberto Souza, Wesley Neto, Luís Otávio Antonio dos Santos, Davi Araújo, Bruno Chagas, Lucas
Nilvar, Raphael Mattos, Hudson Davi, Alex da Silva Oscar e Carlos Alberto José.
Outras informações julgadas necessárias

O quesito Evolução sempre recebeu atenção especial do Salgueiro. Para o carnaval de 2024, não
foi diferente. A Direção de Carnaval junto com a Direção de Harmonia trabalharam
incansavelmente nos ensaios técnicos, na quadra da escola e em ruas próximas à agremiação. Para
esse ano, foram feitos trabalhos individuais com cada ala com o objetivo de observar cada detalhe
específico e lapidar o canto dos componentes. O objetivo foi resgatar a espontaneidade e deixar os
componentes livres para “brincarem” o carnaval com vibração, empolgação e a alegria dos antigos
desfiles das escolas de samba, e para desfilarem mais “soltos”, sem amarras que pudessem
prejudicar ou inibir a espontaneidade dos componentes.

O Salgueiro foi responsável pela mudança da maneira de evoluir das escolas de samba, com um
desfile mais solto e animado e nossa intenção é manter essas características. Palestras foram
ministradas pela Diretoria Cultural para que cada componente saiba que está desempenhando um
papel relevante no desfile, defendendo as notas dos seus quesitos através do canto forte e
apresentação solta e leve. Vale acrescentar que, este ano, cada brincante recebeu um vídeo
explicativo sobre como vestir sua fantasia corretamente e o que ela representa dentro do enredo.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

No quesito Evolução, cabem algumas observações importantes:


1 – A ala de abertura da escola, comandada pelo coreógrafo Wallace Guimarães, teve um
preparativo mais intenso de ensaios, já que irão fazer uma performance especial na Avenida.

2 - O termo Passista surgiu por causa dos passos miudinhos de Paula do Salgueiro. A partir dela,
aqueles que "diziam no pé" passaram a ser chamados de passistas. Além de Paula, o Salgueiro teve
Narcisa, Roxinha, Vitamina, Damásio, Gargalhada, Carlinhos e tantos outros que brilharam na
Sapucaí, mobilizando o público com seus passos durante os desfiles do Salgueiro e mostrando toda
a ginga do Morro do Salgueiro. A Ala de Passistas – Vencedora do prêmio Estandarte de Ouro em
oito oportunidades, é detentora de diversos prêmios no carnaval. A Ala de Passistas é coordenada
por Carlos Borges, o Carlinhos do Salgueiro, dono de alguns prêmios de melhor passista no carnaval
carioca.

3 - O Salgueiro é uma das únicas escolas em que todas as fantasias de composições são dadas, sendo
assim obrigatória a presença dos componentes que desfilam nas alegorias em seus ensaios. A
intenção é que até nas alegorias seja mantido o nível de canto e animação do restante da escola.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Informações Complementares

Vice-Presidente de Carnaval
Joaquim Cruz
Diretor Geral de Carnaval
Wilsinho Alves
Outros Diretores de Carnaval
-
Responsável pela Ala das Crianças
Mara Rosa
Total de Componentes da Quantidade de Meninas Quantidade de Meninos
Ala das Crianças
70 46 24
(setenta) (quarenta e seis) (vinte e quatro)
Responsável pela Ala das Baianas
Maria da Glória Lopes de Carvalho (Tia Glorinha)
Total de Componentes da Baiana mais Idosa Baiana mais Jovem
Ala das Baianas (Nome e Idade) (Nome e Idade)
80 Marilena Rufino Isabela Lopes
(oitenta) 80 anos 43 anos
Responsável pela Velha-Guarda
Maria Aliano (Caboquinha)
Total de Componentes da Componente mais Idoso Componente mais Jovem
Velha-Guarda (Nome e Idade) (Nome e Idade)
88 Abigail Leontina Oliveira Jamile Patrícia de Oliveira
(oitenta e oito) 91 anos 54 anos
Pessoas Notáveis que desfilam na Agremiação (Artistas, Esportistas, Políticos, etc.)
Mc Rebecca (cantora), Tati Barbieri (influenciadora digital), Cacau Protásio (atriz), Viviane Araújo
(atriz), Davi Kopenawa (liderança indígena), Dário Kopenawa (liderança indígena), Ehuana Yanomami
(liderança indígena), Ênio Yanomami (liderança indígena), Julio Ye'kwana (liderança indígena), Carla
Yanomami (liderança indígena), Julião Yanomami (liderança indígena), João Figueiredo (liderança
indígena), Sônia Guajajara (ministra dos Povos Originários), Joênia Wapichana (presidente da Funai),
Sonia Bridi (jornalista), Hannah Limulja (escritora), Alessandra Sampaio (viúva do jornalista Dom
Phillips).

Outras informações julgadas necessárias

252
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

DIREÇÃO DE CARNAVAL

Wilsinho Alves
Wilsinho Alves possui grande experiência no Carnaval em diversas funções do espetáculo,
começando em 2002 no GRES Unidos do Viradouro. Na função de Diretor de Carnaval, debutou
em 2007 no GRES Unidos de Vila Isabel, permanecendo na função até o carnaval de 2014.
Para 2016, retornou ao GRES Unidos do Viradouro para assumir a Direção de Carnaval. Possui
diversos prêmios individuais e coletivos no Carnaval, notadamente os títulos de 2004 (Grupo de
Acesso), 2006 (Grupo Especial, na função de Superintendente de Carnaval), 2013 (Grupo Especial,
nas funções de Presidente e Diretor de Carnaval do GRES Unidos de Vila Isabel); prêmio Tamborim
de Ouro de Melhor Escola em 2009 e 2012; e Estandarte de Ouro de Melhor Escola em 2012. Após
uma passagem pelo GRES União da Ilha do Governador nos carnavais de 2017 e 2018, Wilsinho
Alves retornou em 2019 para comandar a Direção de Carnaval da Unidos de Vila Isabel, lá
permanecendo até o carnaval de 2021. Em 2022, estreou à frente do Império Serrano, onde mais
uma vez se sagrou campeão do carnaval, além de conquistar o Estandarte de Ouro de melhor escola.
Estreia nesta temporada no Acadêmicos do Salgueiro na função de Diretor Geral de Carnaval.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Comissão de Frente

Responsável pela Comissão de Frente


Patrick Carvalho
Coreógrafo(a) e Diretor(a)
Patrick Carvalho
Total de Componentes da Componentes Femininos Componentes Masculinos
Comissão de Frente
15 08 07
(quinze) (oito) (sete)
Outras informações julgadas necessárias

Nome da comissão de frente: “Ya nomaimi! Ya temi xoa!” (Eu não morro! Ainda estou vivo!)

“A floresta está viva. Só vai morrer se os brancos insistirem em destruí-la. Se


conseguirem, os rios vão desaparecer debaixo da terra, o chão vai se desfazer, as
árvores vão murchar e as pedras vão rachar no calor. A terra ressecada ficará vazia
e silenciosa. Os espíritos xapiri, que descem das montanhas para brincar na floresta,
fugirão para muito longe. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chamá-los e fazê-los dançar
para nos proteger. Não serão capazes de espantar as fumaças de epidemia
que nos devoram. Não conseguirão mais conter os seres maléficos, que
transformarão a floresta num caos. Então morreremos, um atrás do outro, tanto os
brancos quanto nós. Todos os xamãs vão acabar morrendo. Quando não houver mais
nenhum deles vivo para sustentar o céu, ele vai desabar”.
Davi Kopenawa - A queda do céu
Entre em transe. Sonhe. Mas não sonhe consigo.

Para ver as imagens das coisas, sonhe a floresta.

Com o pó yãkoana, os xamãs conseguem contemplar a imagem dos seres no mundo dos sonhos.

Nele, as raízes são vivas. Thuëyoma, a deusa-mãe dos Yanomami, se aproxima, envolta na
luminosidade dos espíritos xapiri pë, os protetores da terra-floresta. Além de curar os doentes, esses
seres tentam convencer os inimigos, aqueles que fuçam a terra feito tatus, a deixar os Yanomami
em paz.

“Ya nomaimi! Ya nomaimi!”, grita a grande mãe Yanomami.

Os vivos têm muito menos domínio sobre suas vidas do que gostariam, e os Yanomami sabem que
tudo que se refere à própria morte passa por uma vontade que lhes é alheia, mas diante da qual se
recusam terminantemente a se curvar.

“Eu não morro! Eu não morro!”, grita Thuëyoma (em português).

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Árvores nunca caem à toa; se caem perto de casa, é sinal de ataque. Os espíritos auxiliares das
florestas, os xapiris vêm em defesa. Os filhos de Thuëyoma sofrem, esmorecem, resistem aos apelos
incessantes dos inimigos, e é porque resistem que eles podem continuar existindo como Yanomami.
Assim, embora a morte seja sempre um desejo que vem de fora, os vivos se negam a sucumbir a
ela.

Mesmo que o inimigo deseje: “Eu não vou morrer!”.

A floresta está tão doente quanto os humanos. O ar que respiram já não é mais o mesmo. Falta o ar.
Presos na devastação dos napës, “meus filhos clamam pela vida”.

Em apelo para aqueles que sonham, Thuëyoma não desiste: “Ya nomaimi! Ya temi xoa!”. (Eu não
morro! Ainda estou viva!).

Sobre o Coreógrafo
Patrick Carvalho: O carioca Patrick Carvalho vivencia o carnaval desde sua infância. Foi na escola
mirim Golfinhos da Guanabara, quase quintal de sua casa, que ele fez parte do projeto de formação
de artes em geral com foco no carnaval. Em 2009 e 2010, foi um dos componentes da Comissão de
Frente da Unidos de Vila Isabel. No mesmo 2010, deu início à carreira de coreógrafo no carnaval,
na Alegria da Zona Sul. Nos anos seguintes, ainda no grupo de acesso, trabalhou durante três anos
nos Inocentes de Belford Roxo. Sua estreia no Grupo Especial aconteceu em 2015, na União da Ilha
do Governador, onde ficou até 2017. Neste ano, já sendo reconhecido pela excelência de seu
trabalho, fez jornada dupla, uma vez que foi o responsável também pela coreografia da Comissão
de Frente da Unidos do Porto da Pedra, escola que estava no Grupo de Acesso. O trabalho nos dois
grupos do carnaval se tornou recorrente nos anos seguintes, quando se dividiu entre escolas do
grupo de acesso e do Especial: Unidos de Vila Isabel e Inocentes de Belford Roxo; Paraíso do Tuiuti
e Inocentes de Belford Roxo; e Unidos de Vila Isabel e Acadêmicos do Cubango.

Premiado como melhor coreógrafo pelo Tamborim de Ouro, Plumas e Paetês, Estrelas do Carnaval,
entre outros. Patrick se tornou uma das grandes referências do carnaval, principalmente após o
carnaval de 2018, quando ganhou seu primeiro Estandarte de Ouro de Melhor Comissão de Frente,
além de outros 20 prêmios por seu trabalho à frente do Paraíso do Tuiuti. Sua coreografia, bastante
técnica, causou impacto, arrebatou a todos na Avenida, e contribuiu de forma decisiva para que a
escola do Morro do Tuiuti conquistasse um inédito vice-campeonato.

Como profissional da dança, levou sua arte para outros países com o espetáculo “Brasil Brasileiro”
e o projeto “Internacional Samba Congress”, além de ter sido o responsável por coreografias nas
cerimônias de abertura e encerramento das Paraolimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Idealizador
e responsável pelo evento Brasil Samba Congress e pelo projeto social Filhos do Samba, Patrick
Carvalho também é bastante conhecido por ter sido, por três temporadas, professor e coreógrafo
das atrizes Paloma Bernardi, Françoise Fourton e Claudia Ohana no quadro “Dança dos Famosos”,
do programa Domingão do Faustão, na Rede Globo de Televisão. Em 2022, o premiado coreógrafo
chega ao Salgueiro como o responsável pelo cartão de visitas da escola. Com talento e
profissionalismo, o sucesso do seu trabalho refletiu na continuidade à frente do projeto da escola
para o carnaval de 2024, quando novamente terá a responsabilidade e o desafio de abrilhantar a
abertura do desfile da Academia do Samba.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

Destacamos:

Cleia Santos - Natural de Manaus, a bailarina atualmente integra o Corpo de Dança do Amazonas
- CDA. É bacharela em dança pela Universidade do Estado do Amazonas e já integrou companhias
como: Companhia de Dança Ballet da Barra, Balé Experimental do Corpo de Dança Do Amazonas
e Gandhicats Project. Possui formação artística em ballet clássico, jazz, técnicas circenses, dança
moderna, contemporânea, street jazz, funk, entre outros. Já atuou em apresentações dos festivais de
Parintins (AM) e em escolas de samba do Carnaval de Manaus. Em 2024, faz sua estreia na
Passarela do Samba.

Outros profissionais:

Fernando Magalhães - confecção do figurino

Guilherme Camilo - maquiagem

Marimba e Joãosinho - efeitos especiais

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

1º Mestre-Sala Idade
Sidclei Santos 48 anos
1ª Porta-Bandeira Idade
Marcella Alves 40 anos
2º Mestre-Sala Idade
Leonardo Moreira 22 anos
2ª Porta-Bandeira Idade
Barbara Mylena 20 anos
Outras informações julgadas necessárias

A dança do mestre-sala e porta-bandeira, que ocorre durante os desfiles de escolas de samba no


Carnaval brasileiro, apresenta algumas semelhanças surpreendentes com as danças indígenas dos
Yanomami, apesar das aparentes diferenças culturais e contextuais. Ambas as manifestações
artísticas compartilham a característica de se desenrolar em cortejos, frequentemente em formato
circular, e desempenham um papel crucial na celebração da identidade e da herança cultural de seus
respectivos grupos.

Em primeiro lugar, a dança em formato circular nas duas tradições cria uma sensação de
comunidade e pertencimento. Tanto o mestre-sala e a porta-bandeira quanto os Yanomami
incorporam movimentos circulares em suas performances, simbolizando a união e a interconexão
entre os participantes. Esse aspecto ritualístico e coletivo é uma característica marcante que
transcende as barreiras culturais.

Além disso, ambas as danças possuem uma forte carga simbólica. Enquanto o mestre-sala e a porta-
bandeira representam a elegância, a graça e a história de uma escola de samba, os Yanomami
frequentemente incorporam elementos simbólicos relacionados à natureza, aos rituais
xamânicos e às narrativas mitológicas em suas danças. Ambas as formas de expressão têm o poder
de transmitir significados profundos sobre a identidade, os valores e a espiritualidade de suas
comunidades.

Apesar das diferenças na estética e nos contextos sociais, a dança do mestre-sala e da porta-bandeira
e as danças dos Yanomami compartilham a capacidade de unir as pessoas, transmitir tradições e
celebrar a riqueza cultural. Essas semelhanças destacam a universalidade da expressão artística e a
maneira como diferentes comunidades encontram meios únicos de se conectar com suas raízes e
expressar sua identidade por meio da dança.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Sidclei Santos - 1º Mestre-Sala


Sidclei começou no Carnaval aos sete anos, como Mestre-Sala do bloco “Vai Quem Quer”, no
bairro do Estácio. Ainda criança, participou da escola mirim Corações Unidos do CIEP e, em 1991,
ingressou na escola de samba Império da Tijuca. Após um intervalo de dedicação à carreira militar,
Sidclei voltou ao carnaval em 1994, nos Acadêmicos do Salgueiro, como segundo Mestre-Sala.
Com seu talento não demorou para assumir o posto de principal Mestre-Sala da escola, em 1997.
No ano seguinte, a consagração maior: a conquista do Estandarte de Ouro de melhor Mestre-Sala
do Carnaval carioca. Para encarar novos desafios, Sidclei deixou o Salgueiro e desfilou na São
Clemente e na Acadêmicos do Grande Rio. Em 2011, Sidclei retornou ao Salgueiro. O árduo
trabalho desenvolvido por Sidclei foi recompensado em 2017, quando foi eleito novamente o
melhor Mestre-Sala do Carnaval carioca pelo júri do Estandarte de Ouro. E não parou por aí. Em
2020, foi mais uma vez premiado com o Estandarte ao lado de sua parceira, Marcella Alves, o que
reafirmou o talento, compromisso e dedicação que o primeiro casal do Salgueiro apresenta na
Marquês de Sapucaí. Em 2022, Sidclei conquistou o quarto Estandarte de Ouro da carreira.

Marcella Alves - 1ª Porta-Bandeira


Bailarina e professora de Educação Física, Marcella Alves está no carnaval desde 1993, quando
estreou na Avenida, aos nove anos de idade, como segunda Porta-Bandeira da Lins Imperial. Três
anos depois, mesmo com a pouca idade, já assumia o posto de primeira Porta-Bandeira da escola,
ainda nos grupos de acesso. Em 1998, desfilou pela primeira vez no Grupo Especial, defendendo o
pavilhão da Caprichosos de Pilares.

Seu talento chamou atenção das grandes escolas e, em 2000, aos 17 anos, assumiu o posto de
primeira Porta-Bandeira do Salgueiro. Já em sua estreia na escola, ganhou seu primeiro Estandarte
de Ouro. Após o carnaval de 2005, deixou a agremiação e foi convidada pela Mocidade
Independente de Padre Miguel. Defendeu, ainda, a bandeira da Mangueira por quatro carnavais,
onde recebeu mais um Estandarte de Ouro. Retornou ao Salgueiro para o Carnaval de 2014. Em
2016, Marcella brilhou na Avenida e, além das quatro notas dez ao lado do parceiro Sidclei, foi
premiada novamente com o Estandarte de Ouro, o terceiro de sua carreira. O reconhecimento pelo
trabalho veio novamente em 2020, quando recebeu mais um Estandarte, o quarto, desta vez ao lado
do seu parceiro, Sidclei Santos.

Desde 2016, Sidclei e Marcella vêm garantindo a nota máxima de todos os julgadores. Os dois
atingiram um alto nível técnico de apresentação, aliando a dança clássica e tradicional do casal de
mestre-sala e porta-bandeira com performances impecáveis. A dupla vai defender o pavilhão
salgueirense pelo décimo primeiro ano consecutivo. Essa incrível jornada de dedicação e maestria
é uma prova do comprometimento com a arte do samba e com o legado do Salgueiro.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

A Fantasia

Nome da Fantasia: Yãkoana

Criação do Figurino: Edson Pereira

Confecção: Fernando Magalhães

O que representa: O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Salgueiro representa o pó


alucinógeno yãkoana, que é utilizado nos rituais cotidianos dos xamãs na Terra Indígena
Yanomami. A substância é feita a partir da resina da parte interna da casca da árvore yakoana hi. É
a partir da inalação deste pó de coloração avermelhada que os indígenas conseguem ver os xapiris,
os protetores da floresta. Esses espíritos de luz transmitem as mensagens de Omama para os xamãs
por meio dos cantos, colhidos das “árvores sábias”, que estão nas partes remotas da Hutukara.
Marcella e Sidclei nos levam a outro estado de espírito, abrindo caminho para a evocação dos
espíritos xapiris.

** A imagem do croqui é original e serve apenas como referência, uma vez que podem ter sido
feitas modificações na execução/reprodução, de acordo com materiais disponíveis no
mercado.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Leonardo Moreira - 2º Mestre-Sala


Leonardo entrou para o Carnaval em 2014, aos 13 anos. Hoje, com 22 anos e estudante de
odontologia, não teve dúvida ao escolher a dança do Mestre-Sala como seu futuro nos desfiles das
escolas de samba. Em busca de ensinamentos, ingressou no Projeto de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Madureira Toca, Canta e Dança. Sua estreia foi na escola de samba mirim Estrelinha da Mocidade.
De lá, seguiu para os Aprendizes do Salgueiro onde dançou até os 17 anos. Convidado a integrar o
quadro de casais da Lins Imperial, ficou na escola por três anos como 2º Mestre-Sala. Em 2018,
integrou o quadro de casais dos Acadêmicos do Sossego e, no ano seguinte, ganhou dois prêmios
como parte do melhor 2º Casal do Grupo B. Em 2023, o integrante da Coordenação do Workshop
Lapidando Talentos, desfila pela terceira vez como 3º Mestre-Sala da Academia. Para a temporada
de 2024, Leonardo assume o posto de 2º Mestre-Sala da Academia do Samba.

Barbara Mylena - 2º Porta-Bandeira


Cursando Educação Física (IBMR), Barbara Mylena é a terceira geração de porta-bandeira da
família. Deu os primeiros passos na tradicional escola de dança do Mestre Manoel Dionísio. Aos 8
anos, fez o primeiro desfile como segunda porta-bandeira dos Aprendizes do Salgueiro. Em 2014,
assumiu o primeiro pavilhão da agremiação mirim, onde ficou até 2022. Tem passagens por escolas
de samba como Acadêmicos de Vigário Geral (2016), Flor da Mina do Andaraí (2017) e Mocidade
Unida da Cidade de Deus (2023). Para 2024, fará estreia como segunda porta-bandeira do Salgueiro,
reconhecendo mais uma vez o talento nascido do seu quadro de jovens talentos.
A Fantasia

Nome da Fantasia: Ara amoku (cogumelos)

Criação do Figurino: Edson Pereira

Confecção: Fernando Magalhães

O que representa: Desde os tempos mais antigos, os ancestrais dos Yanomami comiam
cogumelos, principalmente, quando não encontravam caça. O segundo casal do Salgueiro
representa, simbolicamente, o livro “Ana Amopö: Cogumelos Yanomami", que foi o primeiro do
gênero sobre cogumelos comestíveis publicado no Brasil. Além de ajudar a manter viva a língua
Yanomami, este trabalho promove um diálogo entre os conhecimentos indígenas sobre alimentos e
os conhecimentos científicos, além de reforçar a contribuição para a preservação da floresta e da
biodiversidade. A obra é um marco e ganhou o prêmio Jabuti, em 2017, na categoria gastronomia.
A premiação é a mais tradicional de literatura do Brasil, concedida pela Câmara Brasileira do Livro
(CBL).

260
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro – Carnaval 2024

** A imagem do croqui é original e serve apenas como referência, uma vez que podem ter sido
feitas modificações na execução/reprodução, de acordo com materiais disponíveis no
mercado.

261
262
G.R.E.S.
ACADÊMICOS DO
GRANDE RIO

PRESIDENTE
MILTON ABREU DO NASCIMENTO “PERÁCIO”
263
264
“Nosso destino é ser Onça”

Carnavalescos
Gabriel Haddad e Leonardo Bora
265
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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Enredo
“Nosso destino é ser Onça”
Carnavalescos
Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Autor(es) do Enredo
Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Autor(es) da Sinopse do Enredo
Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Elaborador(es) do Roteiro do Desfile
Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Ano da Páginas
Livro Autor Editora
Edição Consultadas

01 A queda do céu. ALBERT, Bruce; Companhia das 2022 Todas


Palavras de um KOPENAWA, Letras
xamã yanomami. Davi

02 Tornar-se outro. O ALMEIDA, Maria Annablume 2002 Todas


topos canibal na Cândida Ferreira
literatura brasileira de

03 França Antártica. BERBARA, Editora Unicamp 2020 Todas


Ensaios Maria; HUE,
interdisciplinares Sheila;
MENEZES,
Renato (org.)

04 O casamento entre BOFF, Leonardo Planeta 2022 Todas


o céu e a terra.
Contos dos povos
indígenas do Brasil

05 Literatura Oral no CASCUDO, Luís Global Editora 2006 Todas


Brasil da Câmara

06 Dicionário de CHEVALIER, José Olympio 2003 Todas


símbolos. Mitos, Jean;
sonhos, costumes, GHEERBRANT,
gestos, formas, Alain
figuras, cores,
números

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Ano da Páginas
Livro Autor Editora
Edição Consultadas

07 Ficções GASPAR, Todavia 2022 Todas


amazônicas Francisco Vilaça;
VILAÇA,
Aparecida

08 Canto Mestizo GRAÚNA, Graça Blocos Editora 1999 Todas

09 Futuro Ancestral KRENAK, Ailton Companhia das 2022 Todas


Letras

10 Ideias para adiar o KRENAK, Ailton Companhia das 2019 Todas


fim do mundo Letras

11 Viagem à terra do LÉRY, Jean de Itatiaia 1980 Todas


Brasil

12 Slam Coalkan LUDEMIR, Julio Malê 2022 Todas


(Org)

13 Pajelanças e MAUÉS, EDUFPA 2008 Todas


religiões africanas Raymundo
na Amazônia Heraldo;
VILLACORTA,
Gisela Macambira
(org)

14 Contos indígenas MUNDURUKU, Global 2005 Todas


brasileiros Daniel

15 Meu destino é ser MUSSA, Alberto Record 2009 Todas


Onça

16 O Circo da Onça NEWTON Artelivro 2000 Todas


Malhada. Iniciação JÚNIOR, Carlos
à obra de Ariano
Suassuna

17 Meu tio o Iauaretê ROSA, João Nova Aguilar 2009 Todas


Guimarães

268
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Ano da Páginas
Livro Autor Editora
Edição Consultadas

18 Duas viagens ao STADEN, Hans L&PM Editores 2008 Todas


Brasil. Primeiros
registros sobre o
Brasil

19 Romance d’A SUASSUNA, José Olympio 2007 Todas


Pedra do Reino Ariano

20 Singularidades da THEVET, André Nacional 1944 Todas


França Antártica

21 Apropriação TUKANO, Daiara Autêntica 2019 Todas


cultural,
antropofagismo,
multiculturalidade,
globalização,
pensamento
decolonial e outros
carnavais

22 O som do rugido da VERUNSCHK, Companhia das 2021 Todas


onça Micheliny Letras

23 Literatura, Mito e VIEIRA DE Ômega 2008 Todas


Identidade ALMEIDA,
Nacional Alexandra

24 Comendo como VILAÇA, Editora UFRJ 1992 Todas


gente. Formas do Aparecida
canibalismo Wari’

25 Araweté: os deuses VIVEIROS DE Jorge Zahar 1986 Todas


canibais CASTRO, Editor
Eduardo

26 Metafísicas VIVEIROS DE Cosac Naify 2015 Todas


canibais CASTRO,
Eduardo
27 A onça e o fogo WAPICHANA Amarilys 2009 Todas

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Outras informações julgadas necessárias

Artigos, Dissertações e Teses consultados

ALZUGARAY, Paula; MUNIZ, Leandro. A constelação da onça. Revista Select. In:


https://select.art.br/a-constelacao-da-onca/. Acesso em 08/03/2023.

BANIWA, Denilson. Pajé-Onça: hackeando a 33ª Bienal de Artes de São Paulo. In:
https://www.behance.net/gallery/77978367/Paj-Onca-Hackeando-a-33-Bienal-de-Artes-de-Sao-
Paulo?locale=pt_BR. Acesso em 09/03/2023.

CORNILS, Patricia e LACERDA, Mariana. Ocupação Dos Artistas Premiados Do Pipa 2023:
Glicéria Tupinambá. Premio Pipa 2023. In: https://www.premiopipa.com/2023/10/ocupacao-dos-
artistas-premiados-do-pipa-2023-gliceria-tupinamba/ Acesso em 13/10/2023

ROXO, Elisangela. A volta do manto Tupinambá. Revista Piauí. In:


https://piaui.folha.uol.com.br/volta-do-manto-tupinamba/ Acesso em 10/08/2023

ROXO, Elisangela. Longe de casa. Revista Piauí. In: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/longe-


de-casa-2/ Acesso em 10/08/2023

Mostras e Exposições
- Exposição “Xamanismo – Visões fora do tempo” – Museo Chuileno de Arte Precolombino –
Curadoria de Constantino Manuel Torres
- Exposição “Tesouros Ancestrais do Peru” – Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB RJ –
Curadoria de Patricia Arana e Rodolfo de Athayde / Acervo: Museu Ouro do Peru e Armas do
Mundo
- Mostra “Movimento Armorial 50 anos” – Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB RJ - Curadoria
de Denise Mattar

270
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Outras informações julgadas necessárias

Perfil dos Carnavalescos

GABRIEL HADDAD

Gabriel Haddad Gomes Porto, 35 anos, é formado em Relações Internacionais pela


UNILASALLE – RJ (2011), Mestre em Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da UERJ
(PPGArtes – UERJ) e doutorando em História da Arte pelo PPGHArt-UERJ. Além disso, cursou
História da Arte na Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em
2008, começou a desenvolver trabalhos para o carnaval, realizando as defesas e justificativas de
enredo, fantasias e alegorias para a Estação Primeira de Mangueira. Para os carnavais de 2011 e
2012 realizou a pesquisa, o desenvolvimento e as defesas dos enredos da Imperatriz Leopoldinense
(“Sambar faz bem à saúde” e “Jorge, Amado Jorge”, respectivamente), em parceria com o
carnavalesco Max Lopes. Em paralelo, realizou trabalhos vitoriosos no concurso “Carnaval
Virtual”, na liga Virtuafolia, sagrando-se campeão pelo Grupo de Acesso, em 2011, e pelo Grupo
Especial, em 2012. A partir dos projetos de alegorias desenvolvidos para o Carnaval Virtual, foi
convidado pelo carnavalesco Eduardo Gonçalves para integrar a sua equipe de criação e arte-
finalização, na escola de samba Alegria da Zona Sul (então no Grupo de Acesso A), e pelo
carnavalesco Alexandre Louzada, que estava à frente da Mocidade Independente de Padre Miguel
(Grupo Especial). Para o carnaval de 2013, em parceria com os profissionais citados, desenvolveu
as plantas técnicas dos carros alegóricos. No mesmo ano, como carnavalesco, assinou o desfile da
Mocidade Unida do Santa Marta (que terminou campeã no Grupo de Acesso D), juntamente com
Eduardo Gonçalves, Leonardo Bora, Fábio Fabato, Rafael Gonçalves, Vitor Saraiva e Vinícius
Natal. Ainda em 2013, realizou a pesquisa, o desenvolvimento e as defesas do enredo da Unidos do
Viradouro (2ª colocada no Grupo de Acesso A). Para o carnaval de 2014, Gabriel seguiu como
assistente de Eduardo Gonçalves, no Império Serrano, e de Alexandre Louzada, na Portela (3ª
colocada no Grupo Especial), realizando os projetos artísticos e técnicos dos carros alegóricos de
ambas as escolas. No mesmo ano, permaneceu como carnavalesco da Mocidade Unida do Santa
Marta, em conjunto com Leonardo Bora, Rafael Gonçalves e Vítor Saraiva, sagrando-se novamente
campeão (Grupo de Acesso C). Além disso, desenvolveu, sob orientação de Alexandre Louzada, os
projetos das alegorias da escola de samba Império de Casa Verde, de São Paulo. Para o carnaval de
2015, Gabriel continuou na Portela (5ª colocada no Grupo Especial), tendo efetuado os projetos
artísticos e técnicos do carro abre-alas da agremiação (idealizado por Alexandre Louzada),
conhecido como a “Águia Redentora”. Graças ao impacto da alegoria, conquistou o prêmio de
melhor desenhista do Grupo Especial, cedido pelo Plumas e Paetês Cultural. No mesmo ano, foi
convidado pelo carnavalesco Fábio Ricardo para realizar a arte-finalização das alegorias da
Acadêmicos do Grande Rio (3ª colocada no Grupo Especial). Para o carnaval de 2016, Gabriel
seguiu assistente de Alexandre Louzada, na Mocidade Independente, e assinou, em parceria com
Leonardo Bora, o desfile apresentado pela Acadêmicos do Sossego, na Série B. O conjunto visual
e a narrativa do enredo sobre as imagens poéticas de Manoel de Barros levaram a escola à vitória.

271
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Outras informações julgadas necessárias

Perfil dos Carnavalescos (continuação)

Além disso, realizou os projetos artísticos e técnicos do carnavalesco Edson Pereira para a
Unidos de Padre Miguel (2ª colocada na Série A), e de Alexandre Louzada para a Unidos de Vila
Maria (5ª colocada no Grupo Especial de São Paulo). Para o carnaval de 2017, Gabriel trabalhou
como assistente e projetista na Mocidade Independente de Padre Miguel (uma das campeãs do
Grupo Especial, ao lado da Portela) e na Unidos de Padre Miguel (Série A), além de ter sido
convidado pelo carnavalesco Leandro Vieira para realizar projetos de alegorias da Mocidade
Alegre, do Grupo Especial de São Paulo. Em 2018 e 2019, ao lado de Leonardo Bora, assinou os
desfiles do GRES Acadêmicos do Cubango, pela Série A – ganhadores, ambos, do Estandarte de
Ouro de Melhor Escola e Melhor Samba – um feito inédito na história da premiação. A apresentação
de 2018, em homenagem a Arthur Bispo do Rosário, ganhou mais de 15 prêmios, gerou exposições
e desdobramentos diversos. O desfile de 2019, “Igbá Cubango – a alma das coisas e a arte dos
milagres”, ganhou mais de 40 prêmios e gerou o documentário “A Alma das Coisas”, de Douglas
Soares e Felipe Herzog. Além do carnaval, o artista já efetuou outros trabalhos, como os desenhos
cenográficos do concurso Miss Angola (2015 e 2016) e projetos cenográficos de inúmeros shows e
eventos. No carnaval de 2020, ao lado de Leonardo Bora, apresentou “Tata Londirá – O Canto do
Caboclo no Quilombo de Caxias”, enredo que levou a Grande Rio ao vice-campeonato do Grupo
Especial, além da conquista de cinco Estandartes de Ouro, incluindo o de Melhor Escola, Melhor
Ala de Baianas e a Categoria Especial Fernando Pamplona, prêmio este que valorizou o trabalho
realizado no carro abre-alas, em conjunto com as oficinas de criação da Escola de Belas Artes da
UFRJ, da PUC-RJ e do IFRJ-Belford Roxo. Além disso, a escola foi aclamada e premiada por
diversas outras instituições, demonstrando a potência do enredo proposto. No atípico carnaval de
2022, junto de Bora, assinou o desfile campeão do GRES Acadêmicos do Grande Rio, considerado,
na opinião de jornalistas, pesquisadores e formadores de opinião, um dos maiores desfiles do século.
“Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu” conquistou centenas de premiações do meio carnavalesco,
incluindo os Estandartes de Ouro de melhor escola, melhor enredo e Categoria Especial Fernando
Pamplona, graças ao trabalho de reaproveitamento de materiais apresentado na última alegoria do
cortejo (cujas esculturas foram posteriormente expostas no SESC-Pinheiros, na cidade de São
Paulo). Em 2023, Haddad e Bora assinaram a concepção visual do desfile da Grande Rio que
homenageou o cantor e compositor Zeca Pagodinho, conquistando o sexto lugar. Em outros
cenários artísticos, assinaram as fantasias da terceira e da quarta temporadas do programa televisivo
“The Masked Singer – Brasil”, veiculado pela Rede Globo de Televisão. Em 2023, realizaram
trabalhos para Beatriz Milhazes e participaram de 7 exposições nacionais, incluindo uma instalação
na rotunda do CCBB-RJ. A exposição “Laroyê, Grande Rio”, aberta em dezembro de 2023, levou
ao interior do Museu de Arte do Rio (MAR) criações para o desfile em homanegam a Exu – prova
de que essa narrativa continua a circular e a ocupar espaços.

272
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Outras informações julgadas necessárias

LEONARDO BORA

Leonardo Augusto Bora, 37 anos, é Licenciado em Letras Português-Inglês pela Pontifícia


Universidade Católica do Paraná (2009), Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná
(2011), Mestre e Doutor em Ciência da Literatura (Teoria Literária) pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (2014 e 2018). Atualmente, é professor adjunto de Fundamentos da Cultura Literária
Brasileira do Departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da UFRJ e professor
permanente do Programa de Pós-Graduação em História da Arte da UERJ. Foi, de 2018 a 2021,
Professor Substituto de Estudos da Cena, da Dramaturgia e do Espaço Cênico da Escola de Belas
Artes da UFRJ, ministrando aulas para os cursos de Cenografia e Indumentária. Participou do
Programa de Mobilidade Acadêmica (Doutorado-Sanduíche), com bolsa Erasmus + (concedida pela
União Europeia), morando seis meses (de janeiro a julho de 2017) na cidade de Nice, França, onde
conheceu e participou dos festejos carnavalescos daquele lugar, além de pesquisar o carnaval de
Veneza. Publicou, em 2019, o livro “A Antropofagia de Rosa Magalhães” (Rico Editora / Selo
Carnavalize), análise de 11 carnavais assinados pela famosa artista. Trabalhou como professor
assistente e revisor de textos no Curso e Colégio Positivo, em Curitiba-PR (2008 a 2011) e como
Professor Substituto do Departamento de Artes (curso de Produção Cultural) da Universidade
Federal Fluminense, em Niterói-RJ (2015 a 2016) Como ilustrador, já fez desenhos para eventos e
publicações, como a série “Família do Carnaval” (Editora NovaTerra, 2012 - 2017), o livro
científico “O sentido das estrelas – a história que nos trouxe à Terra”, da bióloga Eneida Miskalo
(Editora CRV, 2016), o livro infantil “Primeiro Voo”, de Denise Mazocco (Insight, 2019), e a obra
“Arte Total Brasileira”, de IzakDahora (Cândido, 2019). No campo específico das Escolas de
Samba, começou a trabalhar em 2008, quando realizou pequenos trabalhos para a Unidos do
Viradouro e ingressou no concurso “Carnaval Virtual” (Liga Virtuafolia), sagrando-se campeão
pelos grupos Especial e de Acesso. De 2009 a 2013, acumulou mais dois campeonatos (2010 e
2011) e três vice-campeonatos (2009, 2012 e 2013). Em 2012, prestou serviços para as Escolas de
Samba São Clemente, Alegria da Zona Sul e Estrelinha da Mocidade. No mesmo ano, ingressou na
Comissão de Carnaval da Mocidade Unida do Santa Marta (da qual também faziam parte Fábio
Fabato, Gabriel Haddad, Rafael Gonçalves, Vinícius Natal e Vítor Saraiva). A Escola de Botafogo
terminou campeã do Grupo D, após um desfile aclamado. Para o carnaval de 2014, permaneceu na
equipe de arte-finalização de desenhos de figurinos de Eduardo Gonçalves (então à frente do
Império Serrano) e na Comissão de Carnaval da Mocidade Unida do Santa Marta, juntamente com
Gabriel Haddad, Rafael Gonçalves e Vítor Saraiva. Bicampeã, após o desfile com o enredo “Na
hora em que o sol se esconde”, homenagem ao músico Dorival Caymmi, a Mocidade Unida do
Santa Marta subiu para o Grupo B. Para o carnaval de 2015, Leonardo Bora e Gabriel Haddad se
desligaram da Mocidade Unida e migraram para a Escola de Samba Acadêmicos do Sossego,
também no Grupo B. No desfile de 2015, com enredo baseado em contos de Mia Couto e na obra
“Made in Africa”, de Câmara Cascudo, a agremiação terminou em oitavo lugar. Para o carnaval de
2016, Leonardo e Gabriel, ainda à frente da Acadêmicos do Sossego, idealizaram enredo sobre as
imagens poéticas de Manoel de Barros: “O Circo do Menino Passarinho”.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Outras informações julgadas necessárias

O desfile terminou campeão e levou a escola para a Série A. No carnaval de 2018, assinou o
desfile do GRES Acadêmicos do Cubango, juntamente com Gabriel Haddad. A homenagem a
Arthur Bispo do Rosário, ganhadora de dezenas de prêmios (entre eles, os Estandartes de Ouro de
melhor escola e melhor samba de enredo), gerou exposições, apresentações de trabalhos acadêmicos
e parcerias com instituições de ensino. O desfile de 2019, “Igbá Cubango – a alma das coisas e a
arte dos milagres”, novamente ganhou os principais prêmios da Série A do Rio de Janeiro, incluindo
os Estandartes de Melhor Escola e Melhor Samba, um feito inédito. Enquanto prestador de serviços,
Leonardo Bora já efetuou trabalhos de criação visual para diversas agremiações carnavalescas do
Brasil, entre elas: Império da Tijuca, Boi da Ilha do Governador, Imperatriz Leopoldinense, Tupy
de Brás de Pina, Vai-Vai (São Paulo) e Piratas da Batucada (Macapá). No carnaval de 2020, ao lado
de Gabriel Haddad, apresentou “Tata Londirá – O Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias”,
enredo que levou a Grande Rio ao vice-campeonato do Grupo Especial, além da conquista de cinco
Estandartes de Ouro, incluindo o de Melhor Escola, Melhor Ala de Baianas e a Categoria Especial
Fernando Pamplona, prêmio este que valorizou o trabalho realizado no carro abre-alas em conjunto
com as oficinas de criação da Escola de Belas Artes-UFRJ, PUC-RJ e IFRJ-Belford Roxo. Além
disso, a escola foi aclamada e premiada por diversas outras instituições, demonstrando a potência
do enredo proposto. No atípico carnaval de 2022, junto de Haddad, assinou o desfile campeão do
GRES Acadêmicos do Grande Rio, considerado, na opinião de jornalistas, pesquisadores e
formadores de opinião, um dos maiores desfiles do século. “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”
conquistou centenas de premiações do meio carnavalesco, incluindo os Estandartes de Ouro de
melhor escola, melhor enredo e Categoria Especial Fernando Pamplona, graças ao trabalho de
reaproveitamento de materiais apresentado na última alegoria do cortejo (cujas esculturas foram
posteriormente expostas no SESC-Pinheiros, na cidade de São Paulo). Em 2023, Haddad e Bora
assinaram a concepção visual do desfile da Grande Rio que homenageou o cantor e compositor
Zeca Pagodinho, conquistando o sexto lugar. Em outros cenários artísticos, assinaram as fantasias
da terceira e da quarta temporadas do programa televisivo “The Masked Singer – Brasil”, veiculado
pela Rede Globo de Televisão. Em 2023, realizaram trabalhos para Beatriz Milhazes e participaram
de 7 exposições nacionais, incluindo uma instalação na rotunda do CCBB-RJ. A exposição “Laroyê,
Grande Rio”, aberta em dezembro de 2023, levou ao interior do Museu de Arte do Rio (MAR)
criações para o desfile em homanegam a Exu – prova de que essa narrativa continua a circular e a
ocupar espaços. Tem artigos acadêmicos publicados no Brasil e no exterior e desenvolve pesquisas
sobre narrativas carnavalescas, literaturas e linguagens artísticas diversas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

HISTÓRICO DO ENREDO
NOSSO DESTINO É SER ONÇA

Antes de tudo:

Incontáveis são as histórias que narram a origem do mundo. Criação, destruição, recriação –
eterno retorno. Aqui, falaremos do “eterno devir”. Imortalidade e futuro! Nos rastros, pelas trilhas de
Alberto Mussa, o mito Tupinambá restaurado é um mosaico de cosmovisões de nações indígenas que
habitavam (e habitam) o Brasil há milhares de anos. O próprio autor afirma, no início de “Meu destino
é ser Onça”, que somos brasileiros há milhares de anos (ele menciona datas entre 10 e 15 mil anos,
havendo pesquisas arqueológicas recentes que vão além, superando a datação de 50 mil anos atrás):
“Há pelo menos 11 mil anos – data bem antiga para a América do Sul – a Amazônia brasileira
passou a ter ocupação humana. (...) Há muitos indícios de que os povos da floresta influenciaram
profundamente a vida de outras populações ameríndias, estendendo sua penetração intelectual até os
Andes, antes que surgissem as ‘evoluídas’ civilizações andinas. Numa época ainda muito difícil de
identificar, por razões ainda também ignoradas, um desses povos abandonou sua região nativa para
iniciar um dos maiores processos migratórios das Américas. Falo dos tupi-guarani. (...) Não é difícil
imaginar que tomaram o sentido norte-sul, em direção às bacias do Paraguai e do Paraná, alcançando
mais tarde o litoral sul do Brasil, para voltar a se expandir no sentido sul-norte, até o Ceará – sempre
fugindo do cerrado e preferindo as matas mais fechadas.”
Ocupando posição central nas narrativas míticas dos povos tão complexos que desenharam os
contornos do litoral do Brasil e se conectavam tanto ao coração da Amazônia quanto às demais
sociedades ameríndias do que hoje se entende por latinoamérica, eis o signo deste enredo: a onça.
Metáfora viva dos rituais antropofágicos, é a onça uma chave para que sejam pensadas as disputas
identitárias brasileiras e a nossa eterna capacidade de devorar para recriar – e renascer, rebrotar,
revidar, deglutir. Insurgência e potência! Mais do que o animal em si, o bicho, a ideia de “devoração”
- jaguara. O ser divino, sagrado, que ergueu reinos, em nosso imaginário. Bordou de força e bravura
as narrativas de matriz oral dos povos originários, as lendas costuradas em folguedos e canções, os
cordéis do motor Armorial, o próprio carnaval do Rio de Janeiro, em algumas de suas melhores
apresentações. Hoje, expressa as lutas de muitas gentes – e, com os dentes e as garras à mostra, há de
expressar, também, a vitória da Grande Rio!

275
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

Ao final da narração do mito, Beto Mussa entoa:


“Quando, no fim das chuvas, aparece uma estrela muito vermelha, chamada Jaguar, é Sumé
transformado em onça (...). E os homens batem no chão com seus cajados e, para assustar a onça,
gritam eicobé xeramói! eicobé xeramói güé! – “viva, meu avô.”
E Jaci, então, se regenera – porque é um grande caraíba.
Os covardes choram, porque sabem que se o mundo acabar a angüera deles será devorada por
anhanga.
Mas nós, que somos fortes, não tememos.”
Lutamos!

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

Texto explicativo do enredo (“sinopse”):

NOSSO DESTINO É SER ONÇA


Tu me convoca e eu venho em todas as pelagens, venho na pelagem de estrela, Suaçurana, eu venho. Venho
na pelagem de onça-pintada, na pelagem de onça-branca, na pelagem de onça-parda, na pelagem de onça-
preta. Venho, Jaguaretê, eu venho. Acanjaruna, eu venho. Ianovare, eu venho. Jaguapinima, eu venho.
Ñanguarichã, eu venho. Nigucié-do-senjo, eu venho. Pacová-Sororoca, eu venho. Mingoê-do-sengue, eu
venho. Jagoareté-apiaba, eu venho. Onça Tigre, eu venho. Canguçuzinho-do-campo, eu venho. Maracajá, eu
venho. Jagoacucu, eu venho. Jaguatyrica, eu venho. Jaguapitangussu, eu venho. Iaguar, iauaretê, eu venho.
Tipai uu, eu venho.
Venho e te dou o que é teu por direito, tua roupa de onça.

Micheliny Verunschk – “O som do rugido da onça”

1. O primeiro rugido do mundo

Rugem, enfim, os tambores!


Assim contou o valente Tupinambá: no princípio, a escuridão pintava os talvezes - asas de
morcegos ancestrais, sombras de corujas primitivas. Caos. Quem reinava, envolto em mistério, era o
Velho, aquele que segurava um cajado e caminhava, solitário, sobre o céu. Sábio. Bebeu o néctar no
bico de um colibri. O Velho criou os homens e era adorado por eles, mas aos poucos percebeu a
terrível ingratidão: desiludido com a própria criação, destruiu o que havia esboçado em uma chuva
devastadora de fogo. Para apagar o fogo, criou o trovão, Tupã, que orquestrou um aguaceiro. Depois
do fogo e da água, o mundo adquiriu cicatrizes – mares, grotas, cordilheiras. Nesse tempo, onde tudo
era noite, a humanidade renasceu. Povoando a Terra-sem-mal, os descendentes da primeira mulher e
do único sobrevivente do dilúvio, o primeiro dos sábios pajés, cresceram e se multiplicaram. E
aprenderam com Maíra a dominar o fogo – herói civilizador. E aprenderam com a vida a respeitar a
onça: espírito maior, sonho e constelonções.

2. A terceira humanidade

Mas não há criação sem conflito e toda saga tem sua disputa: o avesso de Maíra, Sumé, detinha
muitos poderes – entre eles, o de se transformar em onça. Um não existia sem o outro. Os filhos de
ambos correram matas, enfrentando assombrações! Poxi, parente de Maíra, foi morar no céu e virou
Cuaraci, senhor do cocar de fogo – a origem do Sol, que iluminou as trevas. Jaci, um dos filhos do
enigmático Andejo, virou a Lua, depois de derrotar uma aldeia de jaguares, parentes de Sumé. Maíra

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e Sumé, opostos complementares, são os pais do trabalho e da guerra. Um novo dilúvio consumiu o
mundo, postas as desavenças. Brotou, então, a terceira humanidade! Maíra, transmutado em curumim,
reensinou o homem a cultivar o solo – da luta diária pela comida. Sumé, destemido caraíba, saltou
oceanos e sangrou o firmamento, misturando-se ao Sete-Estrelo. Ruge, voraz, no céu, perseguindo
eternamente a Lua, a fim de vingar seus parentes. Por isso é preciso comer o inimigo: devorar é tornar-
se outro. Vingonça. Vingar é sobreviver. Incisões no couro terrestre. Devorar é seguir adiante.

3. As visões dos homens-onças

Fumaça e cuias sagradas, xuatês e maracás. Visões trançadas em palhas ou incrustadas de jade.
Os rios, veias deste imenso corpo, levam e tragam memórias. Tudo, enfim, religado - bocas de onças-
carrancas, navegando... gargantas! Nas brasas do xamanismo, o jaguar era cultuado em altares e
cachimbos. Incas, Maias e Astecas ergueram templos ao seu louvor, coração-caverna, girar celeste.
Pelos vales espoliados, os povos originários perpetuavam narrativas de onças e homens em transe: a
ganância e a ignorância do invasor não conseguiam traduzir o que ensinavam os pajés. Tentativa em
vão, o apagar das pegadas. Os ritos permanecem vivos nos cantos e mitos dos povos Araweté, Asurini,
Kamayurá, Parakanã, Wari’, Guajajara, Juruna, Xipaia, Mawé, Bororo, Apinajé, Kayapó, Ofayé,
Pankararu, Baniwa, Apalai, Yawalapiti, Pataxó, Arara, Bacaeri, Tukano, Guarani Kaiowá, entre
outros, tantos, bravos!, cada um com a sua cosmovisão e os seus pensamentos mágicos. Urucum e
jenipapo. “Onça sabe quem mecê é”: no Brasil, terra indígena, bulha é pintura e máscara. Onça Grande
é mãe e pai.

4. Pintas, pontos e ponteios: reinados

O tempo que pinta as pedras retorce os mitos em causos, tramas a pé celebradas, vivas feito
cachoeiras. Onças se fazem memórias e viram histórias sortidas, cordelista e pescador, atravessando
tudo, na gira, no cruzo, palavra (en)cantada: ponto de caboclo, ponta de flecha, ponta de dente, ponteio
caipira. Encantarias! Tudo se funde e confunde nas troças do versador. Vem onça-maneta, onça-
cabocla, onça-da-mão-torta, onça-pé-de-boi, onça-de-bode, onça-borges, onça-mijadeira. Onceiro
vira onça e se apaixona, na sanha rosiana do sertão. O escudo do manto do Rapaz-do-Cavalo-Branco!
Caetana, Castanha, Onça-Loba que amamentou o herdeiro do trono do Sol, o Quinto Império da Pedra
do Reino. Onças aladas, colares de cobra coral. Não as onças sacrificadas dos romances de cavaleiros,

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mas onças que rasgam o peito dos ditos assinalados. O Circo da Onça Malhada, na rua: onça que
ensina e cura, transfigura, onças que somos nós!

5. O nosso destino é ser onça

Quem não brincou de onça-pintada, ao som e ao sabor das toadas? Quem não foi
tupinicopolitano, naquele amanhecer rugindo? E quem não se deixou morder pela prosa dentada,
indócil, duma Rosa antropofágica? A folia é antena e recado e fareja o que está na trilha. Os
destemores, as alegrias. Reantropofagias. Bafio de fera! Hoje, artistas recriam a Terra e fazem da onça
o estandarte. Lambe, demarcação: símbolo do que virá, para devorar as ignorâncias. Vencendo
demandas! Recontando a história, bafejando saberes. Onças-entidades que arranham as lisuras do
presente. Contra a colonialidade que aprisiona, na jugular do atraso. Em defesa dum futuro ancestral,
múltiplo e diverso. Pajé-Onça que hackeia, brabo, a história da arte: denuncia o roubo e celebra a
liberdade! Para que a floresta brote do asfalto e do vidro e aço e ferro e fuligem – as novas incisões,
Felinas. Para que o “ser selvagem” seja redesenhado, no samba que acende a alma. Onças travestis
guerreiras, panteronas, onças que redefinem os mantos Tupinambás, onças que devoram a morte e
fulguram feito estrelas. Onças da diferonça! Nos seixos da eternidade.
Eclipse!
Batemos os cajados no solo para adiar o fim do mundo. (R)Evolução.
Enquanto ela, a Onça, não comer a Lua.

Abrindo os caminhos
sem medo do tombo.
Nasci do encontro de luta
entre a aldeia e o quilombo.

Oxóssi Karajá – “Sete Flechas”

Narrativa em devoração e desdobramento de “Meu destino é ser Onça”, de Alberto Mussa


Enredo, pesquisa e texto: Gabriel Haddad e Leonardo Bora – carnavalescos

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JUSTIFICATIVA DO ENREDO
1. Apresentação geral, pertinência e relevância

Ainda nas páginas iniciais de “Meu destino é ser Onça”, o escritor Alberto Mussa afirma o
seguinte: “Não sei o que ainda é necessário fazer para que as pessoas compreendam isso – que não
estamos aqui faz apenas cinco séculos, mas há uns 15 mil anos. Há 15 mil anos somos brasileiros; e
não sabemos nada do Brasil.” Pois bem: o enredo do GRES Acadêmicos do Grande Rio para o
carnaval de 2024 é um convite a um mergulho no tempo e um retorno às narrativas de teor lendário,
mítico, mistura de rito e delírio. Revolvemos o solo sagrado da história e buscamos raízes muito,
muito profundas. As pegadas de heróis cujas sagas não estudamos no colégio: Maíra, Sumé,
Tamanduaré, Guaricuité. Uma história de criação, destruição e recriação do mundo, que passeia por
diversos cenários e momentos da nossa vida artística e cultural. Uma viagem guiada pelos rastros das
onças! Cantamos para o mundo inteiro que existe um mito de criação no qual a onça é o símbolo
central, divindade e constelação. Este mito, o mito Tupinambá, guarda lições preciosas e pode ser
entendido como síntese de um “ser brasileiro” fincado na ideia de devoção e devoração eternas.
Vamos por partes!
A semente do enredo começou a brotar em 2017 – trata-se, portanto, de uma pesquisa que foi
amadurecendo ao longo dos últimos anos, encontrando na Tricolor de Caxias o solo e o momento
ideais para o seu florescer carnavalesco. A Grande Rio, apesar de muito jovem, é uma agremiação
sambista com marcas identitárias bem definidas, tendo se consolidado, nas décadas de 1990 e 2000,
como uma escola afeita aos enredos de temáticas afro-indígenas, que saúdam um Brasil caboclo e as
brasilidades que cantam e dançam em aldeias e terreiros – caso de “Os santos que a África não viu”,
de 1994; “Madeira Mamoré: a volta dos que não foram, lá no Guaporé”, de 1997; “Amazonas, o
Eldorado é aqui”, de 2006; entre outros. “Nosso destino é ser Onça”, portanto, é um enredo inserido
em uma conjuntura maior, o que, com relação à memória da escola e ao afeto da comunidade, justifica
a escolha temática. Mais especificamente, a exposição “No tempo das conchas e da jacutinga”,
realizada no Museu Vivo do São Bento, em 2019, com curadoria de Marlucia Santos de Souza, nos
ensina que havia mais de 35 aldeias Tupinambá no Recôncavo Guanabarino, no século XVI. Foram
encontrados registros da presença da Aldeia Jacutinga e da Aldeia Sarapuí no território da atual cidade
de Duque de Caxias. Caxias, portanto, é terra indígena e terra Tupinambá!

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Trata-se, ainda, de um enredo de inspiração literária, o que o insere em uma bela tradição
carnavalesca da folia do Rio de Janeiro. Já vimos obras como “Macunaíma – o herói sem nenhum
caráter”, “Martim Cererê”, “Os Sertões”, “Memórias de um Sargento de Milícias”, “O Guarani”,
“Iracema” e “O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha” transformados em enredos. Obras
de Jorge Amado, Dias Gomes, Carolina Maria de Jesus, Ariano Suassuna, Carlos Drummond de
Andrade, Manoel de Barros, Chico Buarque, Nelson Rodrigues e Maria Clara Machado, entre outros,
também já se metamorfosearam em fantasias e carros alegóricos. A tradução de “Meu destino é ser
Onça” em narrativa de enredo escola de samba, no carnaval de 2024, direciona as lentes para a
importância da leitura literária e pode despertar o interesse de milhares de leitores Brasil e mundo
afora – algo registrado em matéria do jornal O Globo de janeiro de 2024.
Contribui, ainda, para a desconstrução de estereótipos relacionados às culturas indígenas e para
o enfrentamento de certas ideias bastante apregoadas nas mídias sociais da atualidade de que
determinadas linhas de enredos são “difíceis” ou “incompreensíveis pelo público” – visões que, no
mais das vezes, expressam preconceitos para com o universo sambista (considerando os públicos
espectador e desfilante incapazes de compreenderem tramas aprofundadas) ou mesmo, o que é
igualmente grave, o desconhecimento da nossa própria história. Todos estudamos, nos ensinos
fundamental e médio, as sagas de Aquiles, Heitor e Ulisses, personagens das epopeias de Homero;
são histórias povoadas de personagens com nomes “difíceis” ou “estranhos” (Polifemo, Laodamante,
Leucoteia, Caríbdis...) e episódios mirabolantes (o mesmo pode valer, por exemplo, para os textos
bíblicos do Antigo Testamento – e também, expandindo a visão, para boa parte dos best-sellers de
fantasia e para o cinema hollywoodiano); no entanto, tais histórias não nos parecem incompreensíveis,
uma vez que estão cristalizadas no imaginário ocidental. Crescemos ouvindo-as e lendo-as.
Felizmente, o mesmo universo das escolas de samba contribuiu para a popularização de termos em
línguas africanas, ligados às religiões afro-brasileiras. Os cantos dos povos originários brasileiros, que
sempre estiveram aqui, também são abraçados pelo samba e são raiz e tronco de nossa festa. O que há
de complicado, então, se não as lentes pré-concebidas?
Ora, o que mostraremos, na Avenida, é que todo brasileiro tem uma onça por perto, rondando,
em proteção. Cada um de nós tem uma roupa/pele de onça. Pisamos em terra indígena. Os nomes
Tupinambá estão em todos os lugares. As supostas “palavras difíceis” presentes na sinopse e no samba
são nomes de nações que vivem dentro dessa imensa e múltipla nação chamada Brasil – conhecer tais
nomes é pressuposto e fundamento. A nação Tupinambá não foi exterminada pelos séculos de matança
colonial: permanece viva, forte, resistente. Nossos heróis míticos são mais fortes e valentes que os

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guerreiros da antiga Grécia. Fizeram grandiosas maravilhas! E que uma escola de samba da Baixada
Fluminense, associação de matrizes negro-populares gestada entre a rua e o terreiro, cante e reverbere
isso... é algo a ser celebrado. Há muito a ser aprendido e desdobrado com a leitura do livro em questão.
Não se trata de um livro qualquer...

2. “Meu destino é ser Onça”

“Meu destino é ser Onça”, do escritor carioca Alberto Mussa, propõe a “restauração” (termo
utilizado pelo autor) do mito Tupinambá. O livro é dividido em diferentes partes, sendo que a narração
do mito ocupa cerca de 40 páginas. Uma leitura relativamente curta que guarda imensa densidade. As
demais partes que compõem o livro apresentam os processos de estudo, pesquisa e tradução de fontes
históricas que estruturaram a construção da obra, ou seja, é uma obra de teor metalinguístico (que
também fala da sua própria construção). Tal característica aparece em outras produções do autor, cujo
universo temático passeia por narrativas indígenas, árabes e africanas. Já havíamos dialogado com
Mussa no enredo de 2022, “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”, quando o segundo setor, “Exu-
Palmares”, foi concebido a partir da leitura do conto “A Cabeça de Zumbi”, presente na coletânea
“Elegbara” (um dos títulos de Exu, aliás). Agora, em 2024, a conversa é expandida.
O “mito restaurado” de Mussa é, na verdade, uma colagem de fragmentos estudados e
traduzidos pelo autor a partir da leitura de crônicas quinhentistas. Não há registros escritos dos antigos
Tupinambá que habitavam o Brasil, nos idos de 1500; o que Mussa fez (e apresenta os processos disso,
o que é muito interessante) foi cotejar textos de viajantes, estudar o tupi antigo e redesenhar uma
história que nos leva há pelo menos 15 mil anos. Segundo as palavras dele: “Apesar de sua forma oral
me ser incógnita, logo me dei conta de estar diante de uma autêntica epopeia mítica, que tinha a mesma
complexidade, a mesma importância, a mesma grandeza de seus congêneres – como a Teogonia, o
Livro dos Reis, o Enuma Elish, o Gênesis, o Popol Vuh, o Kalevala, o Kojiki, os Esse Ifa, o Rig Veda.
(...) Senti, assim, um impulso irresistível de incorporar a epopeia Tupinambá à nossa cultura literária.”
O trecho de Mussa explicita a grandiosidade de seu intento literário e a importância do
conhecimento do mito Tupinambá, cuja divindade criadora, o Velho, também é detentor dos poderes
de destruição e transformação – ele, onipotente, é o Velho Onça. As disputas entre Maíra e Sumé,
narradas no mito, explicam as origens dos e justificam os rituais antropofágicos, conjunto de práticas
sociais, simbólicas e religiosas que tem a onça como grande símbolo. A onça, presente no título dessa
“epopeia”, é um símbolo de força, destemor, proteção, devoração, transformação, incorporação do

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outro, poder, imortalidade. Tornar-se onça, para os antigos Tupinambá, é poder acessar a Terra-sem-
mal (espécie de “paraíso”), reencontrar os antepassados, tocar a perfeição. A onça, sob esse olhar, é o
ser mais perfeito e completo que existe, uma vez que está no topo da cadeia alimentar e tudo e todos
devora – não sendo devorada pelos homens. O ser humano, portanto, não é a mais perfeita criação
divina. Tornar-se onça é tornar-se imortal e acessar o que há de mais belo e poderoso no universo. A
boca da onça é o centro de tudo o que imaginamos enquanto Brasil.

3. Pesquisa e desenvolvimento do enredo

A leitura cuidadosa de “Meu destino é ser Onça” mostrou que as trilhas abertas por Mussa
poderiam ser expandidas, conectando o mito Tupinambá a outras leituras e, mais especificamente, a
uma série de reflexões urgentes, antenadas aos debates contemporâneos. O que o enredo propõe é que
a cosmovisão Tupinambá presente no mito e centrada na simbologia da onça atravessa a história do
Brasil, está impregnada em nosso chão e é algo definidor de nossas identidades. A partir do mito,
portanto, é possível pensar uma saga maior – daí o porquê de falarmos em “devoração e
desdobramento”. Se em 1993 o GRES Estácio de Sá cantou as simbologias da Lua a partir da
cosmogonia Karajá e em 1996 o GRES Mocidade Independente de Padre Miguel, com o seu “Criador
e Criatura”, desdobrou o Gênesis bíblico para propor uma crítica ao uso desenfreado das tecnologias
(o que pode causar o apocalipse), agora, em 2024, tomamos o mito Tupinambá como propulsor de
reflexões centradas na onça – uma constelação de brasilidades para, parafraseando Ailton Krenak,
adiar o fim do mundo. O enredo não fica “preso” (nem poderia, uma vez que tudo o que não desejamos
é “enjaular” a fera) à narrativa mítica do livro, mas a expande, percorrendo outros e fantásticos
territórios – tudo isso, diga-se, a partir de amplo debate com o autor e demais artistas e pesquisadores.
Contribuiu bastante para tal entendimento a leitura do artigo “A constelação da onça”, escrito
por Leandro Muniz e Paula Alzugaray e publicado na revista de arte Select, em junho de 2021. Os
autores mapeiam a presença recorrente de onças na produção artístico-cultural brasileira, informando,
com bastante clareza, que “a onça-pintada, também conhecida por jaguar, pantera-onça,
jaguarapinima, jaguaretê ou canguçu, é o maior felino das Américas. Por estar no topo da cadeia
alimentar e precisar de grandes áreas preservadas para sobreviver, esse animal sempre foi importante
nas ações de conservação ambiental. Para os cientistas, sua presença indicava que uma região oferecia
boas condições para a sobrevivência.” O fato de estar no topo da cadeia alimentar, segundo Alberto
Mussa, é fundamental para o dimensionamento mitológico do animal, uma vez que essa característica

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o tornava a um só tempo temido e venerado; o bicho mais forte e astuto, a boca que tudo come -
curiosamente, um dos atributos de Exu.
No decorrer da pesquisa, em diferentes momentos, pudemos traçar paralelos entre as
simbologias da onça e as simbologias de Exu, o tema central do enredo campeão de 2022. Assim
como o complexo de divindades afro-brasileiras unificado sob o nome “Exu”, a onça, durante o
período de colonização do Brasil, era comparada a demônios por frades jesuítas que procuravam
converter os indígenas ao cristianismo, associando a antropofagia e a “vida selvagem” (da qual a onça
e a cobra eram os principais representantes) a seres infernais. Isso nos ajuda a compreender o porquê
de a onça, hoje, ser considerada um poderoso emblema contra-colonial – da mesma forma que Exu se
tornou uma bandeira contra o racismo religioso e os séculos de violência.
O artigo da revista Select informa, ainda, o seguinte: “quando um arquétipo de destemor tem
de se submeter às regras exploratórias para não ser extinto, mudando hábitos para se adaptar ao
impacto humano e sobreviver em terras arrasadas, cabe lembrar as cosmogonias, os mitos de criação
dos povos e do mundo, que narram a destruição da terra original por cataclismos em forma de
incêndios ou dilúvios, decorrentes de crimes, traições ou vinganças. E pensar na capacidade de
transmutação atribuída a esse felino nos mitos e em como essa transformação tem sido uma chave da
resistência indígena. (...) A integração entre animal e humano é um traço saliente das cosmogonias
indígenas e, em muitos mitos de criação, há homens com a capacidade de se transformar em onça. No
mito Tupinambá, restaurado pelo escritor Alberto Mussa em ‘Meu destino é ser Onça’, o apocalipse
aconteceria quando Sumé, um indígena ancestral transformado em grande onça, devorasse a Lua,
apagando a luz da noite, extinguindo a humanidade.”
O trecho acima mostra que, segundo a cosmovisão dos antigos Tupinambá, a onça possui tanto
a capacidade criadora quanto o poder de destruição – está, portanto, acima das ideias maniqueístas
ocidentais de “bem” e “mal” (outro ponto de contato com as cosmovisões que enredam Exu). Com o
passar dos séculos, tal visão ancestral foi sendo incorporada por manifestações culturais diversas,
espraiando-se por todo o território brasileiro. É verdadeiramente impressionante o volume de
manifestações artísticas e culturais (textos literários, obras de artes visuais, canções, folguedos,
desfiles carnavalescos...) em que onças se fazem presentes, de modo que nos surpreende a constatação
de que nunca tivemos, no Grupo Especial carioca, um enredo centrado em mitos, histórias e
simbologias de onças. Já tivemos enredos ancorados nos conceitos de antropofagia (União da Ilha
1995, Imperatriz Leopoldinense 2002, Paraíso do Tuiuti 2015), mas o protagonismo antropofágico da

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onça nunca foi cantado de maneira inteira. A observação cuidadosa dos diferentes momentos do
desfile nos ajuda a compreender as dimensões da história contada e a sua notável diversidade.

4. Setorização

SETOR 1/ABERTURA - O PRIMEIRO RUGIDO DO MUNDO


O mito Tupinambá, restaurado por Alberto Mussa e publicado no livro “Meu destino é ser
Onça”, tem início com a criação do mundo: o Velho, divindade máxima que criou a si mesmo e tudo
devora (por isso é cantado como “Velho Onça”, boca e garganta eternas), fez brotar um céu de pedra,
o planeta e os homens, dando início à primeira humanidade. Não havia sol: as trevas imperavam e as
primitivas formas de vida floresciam em meio ao caos. O começo do enredo e do desfile, portanto,
nos leva a um espaço escuro e disforme; e segue vagando entre nebulosas, mistérios e constelações.
Luzeiros azuis davam contornos a uma onça celestial – vigia maior do povo Tupinambá.

SETOR 2 - VINGANÇA E RECRIAÇÃO


Desiludido com a própria criação, o Velho experimenta o sentimento de vingança e decide
destruir a primeira humanidade. Um grande fogaréu aniquila tudo o que havia no mundo, menos o
único pajé que permanecia bom: o Pajé do Mel, guardião das onças. Para apagar o fogo, o Velho fez
cair uma tempestade colossal – a origem de Tupã, o relâmpago. As águas escoaram e formaram os
oceanos. Enquanto o Pajé do Mel dava início a um novo ciclo de vida humana, na Terra-sem-mal, os
espíritos dos homens mortos no incêndio se contorciam no fundo dos rios e lagos – os espíritos
anhanga, que se metamorfoseavam em criaturas reptílicas. A Terra-sem-mal também era povoada por
assombrações, que se misturavam aos seres humanos, numa eterna transmutação.

SETOR 3 - TERCEIRA HUMANIDADE: ANTROPOFAGIA


Na Terra-sem-mal, os heróis míticos Maíra e Sumé, ambos descendentes do Pajé do Mel,
duelavam e expunham os seus superpoderes. Podem ser lidos como “opostos complementares”, uma
vez que um expressa os valores do trabalho (Maíra) e o outro os princípios da guerra (Sumé, que se
transformava em jaguar para devorar seus oponentes). Os herdeiros desses guerreiros indígenas,
Tamanduaré e Guaricuité, deram seguimento aos conflitos – dinâmica que está na origem dos rituais
antropofágicos, pilares dinâmicos da sociedade Tupinambá. Em meio a essa dualidade, surgem
Cuaraci, o Sol (um imenso cocar de Fogo, presente de Guapicara a seu pai, Poxi, que foi morar no

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céu) e Jaci, a Lua (descendente de Maíra, que derrotou uma aldeia de jaguares, descendentes de Sumé,
e por isso seria eternamente perseguida pelo caraíba associado à guerra, no plano celeste). Após um
segundo dilúvio, tem início a terceira humanidade – que perdura até hoje, em permanente ameaça: o
mundo pode acabar e é preciso impedir isso. Para retornar à Terra-sem-mal, é preciso se transformar
em onça: a antropofagia.

SETOR 4 - XAMANISMO: AS VISÕES DOS HOMENS-ONÇAS


Ao longo dos séculos, os rituais antropofágicos foram se reconfigurando. Povos indígenas do
Brasil e de demais localidades das Américas cultuaram as onças, erigindo templos e confeccionando
ídolos, joias, utensílios, vestimentas. Entalhadas por mãos de Astecas, Maias e Incas; moldadas e
pintadas por centenas de nações indígenas brasileiras. Os ritos xamânicos expressam tentativas de
acesso a outros planos astrais e de conexão com outras divindades, transformando homens em onças
e misturando devoção e devoração. Na visão poética do enredo, a onça é mãe e pai de um Brasil
diverso, terra indígena que não se curvou à violência colonial e que permanece a cantar e a dançar a
sua ancestralidade.

SETOR 5 - MURMÚRIOS DAS MATAS


Os cruzos culturais vivenciados no Brasil mostram que os cultos indígenas às onças viraram
lenda e canção; e se misturaram com as religiosidades africanas que aqui se desenvolveram no amplo
contexto diaspórico. Antropofagia e hibridismo. Histórias de onças são contadas por versadores,
pescadores, ribeirinhos, viajantes; onças baixam ao som dos atabaques e giram, caruanas e caboclas.
O caboclo Tupinambá é guardião da nossa gente. A beleza da cabocla Jurema, entidade tão popular,
se confunde com a onça-pintada – iconografia materializada em imagens de gesso e pinturas nos
terreiros. Rainha das matas, ao som do murmúrio das cascatas, a onça é força e cura – pajelança e
encantaria.

SETOR 6 - DEVO(RA)ÇÕES NOS SERTÕES, “AONDE A ONÇA MORA”


Pelas trilhas dos sertões, espaços míticos transformados em verso e prosa, onças são poetizadas
e alimentam impérios. O conto “Meu tio o Iauaretê”, de João Guimarães Rosa, expressa o triunfo do
perspectivismo ameríndio em nossas páginas literárias. A transformação homem-onça, fundante da
cosmovisão Tupinambá, é traduzida em literatura com as vivas tintas do mistério. Já Ariano Suassuna,
no belíssimo “Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-volta”, narra que o

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

império sertanejo do Brasil foi amamentado por uma onça, numa cena de notável dramaticidade.
Caetana seduz e mete medo. Onças são esfinges e brasões armoriais, adornando um país que tem
garras e dentes à mostra.

SETOR 7 - BRINCAR DE SER ONÇA


Nessa eterna devoração, brincar de ser onça é uma forma lúdica de se transformar em fera e
ocupar a rua. Brincantes vestindo fantasias de onças são vistos em cavalhadas, folias de reis, blocos,
festas de bois. No Amazonas, lendas e mitos indígenas são transformados em óperas caboclas – o
Festival de Parintins, o Festival Internacional de Tribos do Alto Solimões (quando a Onça Pintada e
a Onça Preta duelam em festa). O carnaval das escolas de samba também absorveu esse universo:
artistas como Fernando Pinto e Rosa Magalhães levaram centenas de onças para a Marquês de
Sapucaí, sempre em posição destacada, para além dos motivos gráficos costumeiramente utilizados
em estampas. Tupinicópolis é aqui. Os “Tupinambôs” de outrora, agora, se insurgem.

SETOR 8 - REANTROPOFAGIAS
Hoje, a onça é um poderoso símbolo de lutas. Os direitos das populações lgbtqiapn+, a
demarcação de terras indígenas, o adiamento do fim do mundo, como propõe o filósofo Ailton Krenak.
O conceito de “Reantropofagia”, de Denilson Baniwa, é um poderoso antídoto contra os venenos da
colonialidade. Pajés-Onças miram o futuro, que é ancestral. O primeiro manto Tupinambá, sagrada
vestimenta utilizada nos rituais antropofágicos, está prestes a voltar ao Brasil, sendo “devolvido” pela
Dinamarca – é a libertação de um grito enlutado e lutador, rugido coletivo, o nosso destino. Como
declara a artista Glicéria Tupinambá, somos poeira de estrelas e parentes de onças. Os antigos
Tupinambá batiam os cajados no chão para impedir que Jaguar (Sumé, transformado em estrela)
devore a Lua (Jaci). A Aldeia Grande Rio, mais feroz do que nunca, ganha a rua e avisa que o mundo
será recriado ao ressoar dos tambores sambistas!

5. Conceito estético e demais considerações

O primeiro ponto a ser destacado, aqui, diz respeito ao projeto luminotécnico. O estudo de
iluminação do desfile do GRES Acadêmicos do Grande Rio não envolve apenas uma dimensão
estética (a utilização de recursos de luz devido à beleza e à disponibilidade deles), mas, o que é mais

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

importante, uma dimensão narrativa – ou seja, a luz ajuda a contar a história, seus episódios e suas
variações. A luz, nesse caso, é parte do enredo, o que justifica as escolhas realizadas.
A concepção plástica do desfile foi desenvolvida a partir de extensa pesquisa teórica e
iconográfica, destacando-se as variações cromáticas, o uso alternativo de materiais e o cuidado para
com a não repetição de formas representativas no que diz respeito às onças, em fantasias e carros
alegóricos. Cada leitura de onça presente no desfile é diferente da outra, de modo que são poucas
aquelas que seguem uma linguagem mais “realista” ou figurativa. Essa preocupação foi imensa e
permanente. O mesmo é válido para o trabalho de estamparia: mais de 200 padrões de estampas foram
produzidos exclusivamente para o desfile, ilustrando a diversidade temática defendida em fantasias e
carros alegóricos. Outro cuidado inegociável, presente desde as etapas iniciais do trabalho, foi aquele
para com as representações de pessoas, adornos e demais signos indígenas em fantasias e carros
alegóricos. Sublinhamos a necessidade de refutar qualquer estereótipo historicamente construído pela
ótica colonial – branca e eurocentrada. A leitura do artigo redigido por Daiara Tukano para a coletânea
“Tecendo redes antirracistas” foi fundamental. Reforçamos aqui, ainda, o papel importante
desempenhado por Alberto Mussa, autor de “Meu destino é ser Onça”, com quem dialogamos ao
longo de todo o processo criativo. Mussa contribuiu com ideias e informações adicionais, de modo
que os “cadernos de campo” estão nas linhas e nas entrelinhas deste trabalho.
Com relação à visualidade, alguns pontos merecem ser iluminados. A predominância da cor
preta, na abertura, evoca experimentações plásticas de Jaider Esbell. No carro abre-alas, o uso de
peças em fibra cristal dialoga com as criações em vidro de Dale Chihuly – trabalho que exigiu meses
de estudo por parte dos trabalhadores do barracão da Grande Rio. No segundo setor, privilegiaram-se
formas abstratas e fluidas, evocações de um mundo original e deslocado do tempo. No terceiro setor,
as formas pontiagudas, agressivas, dão o tom: o ritual antropofágico e as demandas da Terra-sem-mal
exigiram uma plástica contundente e forte. O quarto setor do desfile encara o desafio de expressar a
diversidade, a riqueza e a sofisticação dos povos indígenas americanos – daí a opção por diferentes
materiais em cada fantasia de ala, tudo culminando em uma alegoria que propõe a transformação. No
quinto setor, o imaginário caboclo, com destaque para os diálogos com a plástica de J. Cunha. A
pesquisa iconográfica do sexto setor rendeu páginas e mais páginas de referências estéticas: o
movimento armorial é muito vasto e conversa com o imaginário medieval; procuramos, sobretudo,
respeitar o colorido observável em criações de nomes como Samico e Ariano Suassuna. No sétimo
setor, o carnaval devora a si mesmo: homenageamos as linguagens carnavalescas de nomes como
Fernando Pinto e Rosa Magalhães, optando pelos acordes “retrô” – mosaicos de pastilhas e espelhos,

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

profusão de lamês, pompons, boás de penas, paetês. O final dialoga com a produção de artistas
indígenas da contemporaneidade, como Tamikuã Txihi, Olinda Tupinambá, Denilson Baniwa e
Glicéria Tupinambá. A arte de rua explode em tons pop, como nos painéis de Igor Izy, “guardião das
onças”; o manto sagrado é reconstruído.
Deve-se destacar, aqui, a importância e a representatividade do manto Tupinambá para a
construção visual de todo o desfile. Em diferentes momentos da narrativa, observam-se vestes e
elementos decorativos que, por meio da utilização de materiais variados (penas, folhas, tecidos,
borracha eva, acetato etc.), insinuam capas e mantos rituais. Tal destaque é justificável, uma vez que,
além de ser um objeto ritual fundamental para a compreensão das práticas antropofágicas (o tornar-se
onça, o que desejamos que simbolicamente ocorra com todos os desfilantes da escola – incorporação
coletiva), o primeiro dos mantos roubados pelos colonizadores europeus irá retornar ao Brasil, em
2024. A nova edição de “Meu destino é ser Onça”, publicada em 2023, destaca a importância do
manto: “O manto Tupinambá – levado há 300 anos para a Dinamarca – é um exemplar raríssimo,
ainda preservado, dessa cultura indígena. Usado originalmente em rituais, o manto é feito de penas
vermelhas de guará costuradas em uma malha por meio de uma técnica similar à da tapeçaria”.
Diversas matérias jornalísticas de repercussão nacional noticiam o retorno do primeiro dos
mantos roubados ao Brasil, em 2024. Elisangela Roxo escreveu para a revista Piauí, em junho de
2023: “Um dos mais bem preservados entre os onze mantos Tupinambá remanescentes do século
XVII voltará definitivamente da Europa para o Brasil. Até o fim de 2023, o tesouro confeccionado
com as penas vermelhas do guará deixará para trás a coleção etnográfica do Nationalmuseet, o museu
nacional da Dinamarca, e integrará o acervo do Museu Nacional no Rio de Janeiro. (...) A peça, que
os indígenas consideram sagrada, está em Copenhague desde 1689, segundo registros oficiais.” Na
sequência da matéria, a jornalista menciona a ação de Glicéria Tupinambá, artista e pesquisadora
contemporânea que se autodeclara “parente de onça” e que está acompanhando o processo de retorno
do manto ao Brasil – uma interlocutora importantíssima durante o processo de concepção do enredo.
A imensa repercussão dos debates envolvendo o manto é apenas mais um ponto que mostra a
atualidade do enredo proposto e a importância de se conhecer o mito Tupinambá e a cosmovisão
restaurada por Mussa, sistema simbólico no qual a onça é caminho e chave.
Destaca-se, por fim, que o desenvolvimento do enredo continua a ser elaborado nas
“justificativas” de fantasias e carros alegóricos – textos que mais pretendem desdobrar os processos
artísticos do que encerrar ideias, fechando janelas. Entendemos que todo enredo de escola de samba
não se encerra na Quarta-feira de Cinzas: permanece vivo, pulsante, estimulando reflexões críticas,

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

debatendo a sociedade brasileira, ocupando outros espaços e gestando outras narrativas. Que este
“Nosso destino é ser Onça”, mítico e épico, profético, continue rugindo por muito tempo!
Apresentamos abaixo um trecho do posfácio redigido por Gabriel Haddad e Leonardo Bora
para a edição de 2023 de “Meu destino é ser Onça”, de Alberto Mussa, publicada pela editora
Civilização Brasileira, com capa de Aislan Pankararu:
“No Brasil, terra indígena, continuamos a ritualizar as nossas múltiplas identidades, rebrotando
nas frestas, fazendo festa. O enredo do GRES Acadêmicos do Grande Rio, agremiação da cidade de
Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para o desfile de carnaval do Grupo Especial do Rio de
Janeiro de 2024, deglute e desdobra o mito – tinta de jenipapo, pena da encantaria.
‘Nosso destino é ser Onça’ traduz a construção literária de Mussa em fantasias e alegorias.
Assim, ao som do samba de enredo, canto ancestral e comunitário, mostra ao mundo inteiro um Brasil
de brasilidades historicamente deturpadas ou mesmo retiradas dos livros didáticos e das prateleiras
literárias – moenda de violências. Caldo cultural que entorna, manto que se transforma: os corpos e
as corpas que sambam na Avenida reinventam a existência, rasuram a ‘História’ mofada e agarram
novas perspectivas e saberes. Não mais o exótico e não mais os ranços da colonialidade; nas
encruzilhadas festivas, a busca do eterno e a voz trovejante. Poeira de estrelas, transe. Sob o brilho da
Onça celeste!”
O Brasil e Duque de Caxias são terra indígena. O Quilombo Grande Rio se faz aldeia. O nosso
destino é ser Onça – brilhemos!

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

ROTEIRO DO DESFILE

SETOR 1 (Abertura) – O primeiro rugido do mundo

Comissão de Frente
CÉU DE PEDRA: CRIAÇÃO E
CONSTELAÇÃO

1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


Daniel Werneck e Taciana Couto
ONÇAS NEGRAS SOB O BRILHO DE
TÚIBAE

Grupo Performático
ESTRELAS

Ala 01 – Comunidade (coreografia)


ORNAMENTOS PARA O CÉU

Destaque de Chão – Musa


Mileide Mihaile
NEBULOSA

Alegoria 01
“MUNDO INAUGURAL, MISTERIOSO E
OBSCURO”
CHASSI 1: CAOS CELESTIAL
CHASSI 2: A CRIAÇÃO DOS HOMENS

SETOR 2 – Vingança e Recriação

Ala 02 – Comunidade
FOGO DEVASTADOR

Ala 03 – Comunidade
TUPÃ E O AGUACEIRO

Ala 04 – Comunidade
ESPÍRITOS ANHANGA
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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

Destaque de Chão – Musa


Karen Lopes
BOITATÁ, SERPENTE DE FOGO

Tripé 01
TERRA-SEM-MAL

SETOR 3 – Terceira Humanidade: Antropofagia

Ala 05 – Comunidade (Coreografia)


MAÍRA E SUMÉ, OS GRANDES
CARAÍBAS

Ala 06 – Comunidade
TAMANDUARÉ E GUARICUITÉ,
HERDEIROS DOS GUERREIROS

Destaques Performáticos
JACI E CUARACI

Grupo Performático
O DILÚVIO UNIVERSAL E A SALVAÇÃO
DO FOGO

Ala 07 – Baianas
AÇOIABA (MANTO TUPINAMBÁ)

Destaque de Chão – Musa


Gardênia Cavalcanti
GARRAS DE ONÇA E PENAS DE HARPIA

Alegoria 02
“JAU WARE SCHE” (“EU SOU JAGUAR”)

SETOR 4 – XAMANISMO: AS VISÕES DOS HOMENS-ONÇAS

Ala 08 – Comunidade
ASTECAS: EMPLUMADOS
GUERREIROS DO DEUS JAGUAR
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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

Ala 09 – Comunidade
MAIAS: JAGUARES DE JADE NOS
TEMPLOS DE TIKAL

Destaque de Chão – Musa


Luciene Santinha
ELDORADO AMAZÔNICO

Ala 10 – Passistas
INCAS: ONÇAS DE OURO NOS VALES
SAGRADOS

2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


Andrey Ricardo e Thauany Xavier
CERÂMICA TAPAJÔNICA

Guardiões do
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
MÁSCARAS E MISTÉRIOS

Rainha da Bateria
Paolla Oliveira
TRANSFORMAÇÃO: “NOSSO DESTINO É
SER ONÇA”

Ala 11 - Bateria
“O SOM DO RUGIDO DAS ONÇAS”

Ala 12 – Comunidade
ALTARES-COCARES

Destaque de Chão – Musa


Adriana Bombom
ADORNOS PARA KIANUMAKA-MANÃ

Alegoria 03
TEMPLO SAGRADO: “ONÇA GRANDE É MÃE
E PAI”

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

SETOR 5 – Murmúrios das Matas

Ala 13 – Compositores
PONTEIO CAIPIRA E CAUSOS
CANTADOS

Ala 14 – Comunidade (Coreografia)


ONÇA CARUANA: PAJELANÇA

Ala 15 – Comunidade
CRUZOS CABOCLOS – “CHAMA A
FORÇA ENCANTADA”

Destaque de Chão – Musa


Renata Frisson
SUÇUARANA CABOCLA

Tripé 02
ENCANTARIA

SETOR 6 – DEVO(RA)ÇÕES NOS SERTÕES, “AONDE A ONÇA


MORA”

Ala 16 – Comunidade
“MEU TIO O IAUARETÊ”

Ala 17 – Comunidade
BRASÕES ARMORIAIS

Ala 18 – Velha-guarda
NOBREZA DA PEDRA DO REINO

Destaque de Chão – Musa


ONÇA CAETANA

Alegoria 04
REINADO CASTANHO - SERTÃO DE
CAETANA

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

SETOR 7 – BRINCAR DE SER ONÇA

Ala 19 – Comunidade
ONÇA BUMBÁ OU BUMBA-MINHA-
ONÇA?

Grupo Performático – Pandeiristas e


Passistas Especiais
“É O BAFO DA ONÇA QUE ACABOU DE
CHEGAR!”

Ala 20 – Comunidade
TROPIFAGIA TUPINICOPOLITANA

Ala 21 – Comunidade / Damas


DAMAS DA CORTE, IN A SOUTH
AMERICAN WAY

Destaque de Chão – Muso


David Brazil
MARACATU COM ONÇA PINTADA

Tripé 03
ONÇAS FOLIÔNICAS

SETOR 8 – REANTROPOFAGIAS

Ala 22 – Gaiola das Loucas (Ala


LGBTQIAP+) / Comunidade
PANTERONAS E BICHANAS

Grupo Performático (Musas trans e travestis)


YWY-ETÉ, A TERRA VERDADEIRA

Ala 23 – Comunidade
ONÇA HACKER

Ala 24 – Adolescentes / Comunidade


MALIKAI DAPANA: ESCOLA DE PAJÉS

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

Grupo de Casais Mirins de


Mestres-Sala e Porta-Bandeiras
FUTURO ANCESTRAL

Ala 25 – Comunidade
“EICOBÉ XERAMÓI! EICOBÉ XERAMÓI
GÜÉ!” – “VIVA, MEU AVÔ!”

Destaque de Chão – Musa


Deolane Bezerra
ESTRELA VERMELHA

Alegoria 05
“ENQUANTO A ONÇA NÃO COMER A LUA”

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

01 “MUNDO INAUGURAL, “No princípio, o universo era provavelmente muito


MISTERIOSO E OBSCURO” escuro. Talvez fosse formado por um espaço sólido,
totalmente ocupado pelos morcegos originais, que batiam
CHASSI 1: CAOS CELESTIAL asas negras e eternas. Ou apenas por uma absoluta
CHASSI 2: A CRIAÇÃO DOS escuridão, projetada pela sombra das corujas primitivas”.
HOMENS A descrição poética apresentada por Alberto Mussa, no
início de “Meu destino é ser Onça”, orienta a concepção
do carro abre-alas da Grande Rio, intencionalmente
disforme e experimental. Trata-se de uma visão mágica
para a criação do mundo a partir da ação do Velho, ser
divino que, cansado da própria solidão, decidiu criar o céu
(Chassi 1) e os homens (Chassi 2), dando a eles o delicado
(e perigoso) poder da transformação. No primeiro chassi,
notam-se peças escultóricas abstratas, “flores astrais”,
inspiradas nas criações em vidro de Dale Chihuly e nas
enormes instalações de Joana Vasconcelos. Também são
observáveis formas e cores extraídas de pinturas de Jaider
Esbell, com destaque para as aspirais em ferro, adornadas
com tubos plásticos (gigantescos “filtros de sonhos”, teias
que enredam mistérios).
Há a presença, ainda, de uma profusão de conchas,
orbes, corujas e cristais – interpretação alegórica para a
ideia de “céu de pedra”. As sete onças celestes presentes
na parte frontal, esculpidas por Marina Vergara e equipe,
mostram garras e dentes e dão contornos à visão
* Os projetos apresentados são monumental de uma “constelação de pedra” – o
utilizados enquanto conceitos- Setestrêlo, que se confunde com o criador, transformado
chave para a confecção das em Túibae. Se “belezas são coisas acesas por dentro”, tal
alegorias, não havendo o primeira impressão materializa o encanto. Já o segundo
compromisso com a execução chassi traduz alegoricamente a criação dos homens,
literal de todos os detalhes esculpidos em troncos de árvores pela mágica ação do
apresentados no papel. Velho Onça. A imensa escultura elaborada por Vergara
dá traços híbridos à divindade, mistura de homem e fera:
ser celeste, irreal, cujo cajado reordena o caos e
movimenta uma floresta de contornos não-óbvios,
circulares, marcada pela predominância de formas
orgânicas – uma recorrência na produção plástica de
artistas indígenas da contemporaneidade.

298
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

01 “MUNDO INAUGURAL, A onça, segundo a cosmovisão Tupinambá,


MISTERIOSO E OBSCURO” expressa força, poder, plenitude e perfeição: tudo
devora, podendo construir e destruir universos.
CHASSI 1: CAOS CELESTIAL Grandes morcegos e corujas compõem o cenário que
CHASSI 2: A CRIAÇÃO DOS enreda o Velho Onça, mesmo espaço onde homens-
HOMENS árvores brotam e convidam o olhar de todos para um
mergulho no obscuro. Criação, giro, delírio!

Destaques e Composições

Chassi 1: Caos celestial


Destaque central baixo – Bruna Dias
Fantasia: Coruja primitiva

Destaque central alto – Luana Pires


Fantasia: Asas eternas

Composições teatralizadas: Morcegos originais

Composições laterais: Absoluta escuridão

Chassi 2: A criação dos homens


Semidestaques laterais frontais: Domínio das trevas

Semidestaques laterais corujas: Sombras profundas


* Os projetos apresentados são
utilizados enquanto conceitos- Composições laterais baixo: Núcleos astrais
chave para a confecção das
alegorias, não havendo o Composições peças giratórias: Seres disformes
compromisso com a execução
literal de todos os detalhes Composições circenses: Brotos de vida
apresentados no papel.
Composições teatralizadas topo árvores: Expansão
cósmica

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

Tripé TERRA-SEM-MAL O mito Tupinambá, restaurado por Alberto Mussa,


01 narra que, após a destruição do mundo inaugural por
meio da terrível chuva de fogo, coube ao Pajé do Mel
conduzir a nova humanidade, que, ciente do poder
incomensurável do Velho, passaria a cultuar a onça
como ser divino e perfeito – a força maior a ser
alcançada. Os descendentes do Pajé do Mel
começaram a se espalhar pelo mundo, ainda
conseguindo acessar a Terra-sem-mal, o lugar seguro
que não foi destruído pelo incêndio. Nas palavras do
autor, era um território restrito que “ainda conservava
as virtudes dadas pelo Velho: os alimentos brotavam
* Os projetos apresentados são espontaneamente, as flechas e paus de cavar
utilizados enquanto conceitos- trabalhavam sozinhos, não havia morte.” Este lugar
chave para a confecção das mágico inspira a concepção cênica deste elemento
alegorias, não havendo o alegórico, que traduz, em formas e cores, uma espécie
compromisso com a execução de árvore da vida, tronco de muitos frutos, a inspiração
literal de todos os detalhes notável em Carmézia Emiliano. Nesse universo mítico,
apresentados no papel. seres fantásticos conviviam com humanos – caso do
Matintaperera, mensageiro entre vivos e mortos – o ser
misterioso que avisava se os viventes “devem ou não ir
à guerra, se matarão ou não os inimigos”. Os sapos
cururus guardavam em seus papos um dos maiores
mistérios da criação: o fogo primitivo, cujo brilho
iluminava a escuridão reinante (afinl, ainda não havia
Sol). Trata-se de um elemento alegórico pequeno,
pensado para dar destaque aos personagens do enredo.

Destaques

Destaque central baixo – Xamã


Fantasia: Pajé do Mel

Destaque central alto: Samile Cunha


Fantasia: Matintaperera, pássaro proibido

300
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

02 “JAU WARE SCHE” (“EU “Eu sou jaguar!” Eis a livre tradução para a
SOU JAGUAR”) expressão “Jau ware sche”, em tupi antigo, que dá título
à segunda alegoria do desfile – uma interpretação
fantástica (e dramática) para os rituais antropofágicos
(que, segundo as palavras de Alberto Mussa, são, por
excelência, rituais de transformação e de veneração das
onças). Devoção e devoração. O carro apresenta
ossadas humanas (crânios, costelas, colunas vertebrais)
enredadas por uma profusão de cipós e raízes,
expressão da ideia de que essa terra, o Brasil, guarda a
memória profunda da antropofagia, tendo a onça por
símbolo maior – daí a presença de uma enorme cabeça
de onça, na parte frontal, compondo um conjunto
* Os projetos apresentados são escultórico executado por Alex Salvador e equipe.
utilizados enquanto conceitos- Trata-se de uma onça em tons terrosos, simulando
chave para a confecção das pedra pintada, rupestre, mistura de garganta e caverna
alegorias, não havendo o adorada pelas mãos dos nossos antepassados. Tal onça
compromisso com a execução representa, ainda, o domínio de Guaricuité e do seu pai,
literal de todos os detalhes Sumé, o grande caraíba que se comunicava diretamente
apresentados no papel. com o Velho e detinha o poder de se transformar em
jaguar. Na parte traseira da alegoria, o gigantesco
tamanduá representa a herança indígena de Maíra e
Tamanduaré, heróis míticos que dão origem à nação
Tupinambá. Nas palavras de Mussa: “De Tamanduaré
descendem os Tupinambá; de Guaricuité, todos os
Tobajara: Temiminó, Maracajá, Tupiniquim.
Tupinambá e Tobajara são inimigos irreconciliáveis e
por isso se matam e se devoram até hoje.” Ainda nas
palavras do autor, “Tupinambá e Tobajara começaram
a se multiplicar, dando origem à terceira humanidade”.
O carro, portanto, também é uma interpretação para
este mundo afastado da Terra-sem-mal, quando as
sagas míticas anteriormente traduzidas em fantasias são
poeira do tempo e pegadas da memória.

301
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

02 “JAU WARE SCHE” (“EU É preciso destacar que não se objetiva, com o
SOU JAGUAR”) desenho cênico do carro, o reforçar de estereótipos
associados aos rituais antropofágicos, que foram tão
difundidos no “Velho Mundo” devido aos relatos de
cronistas como Hans Staden, André Thevet, Jean de
Léry, entre outros. Por isso, partimos de uma
iconografia rupestre, observando fósseis, sambaquis,
grafismos e adornos em penas e palhas. Há a presença
de lanças e tacapes (Ibirapema era a ferramenta ritual
utilizada para quebrar o crânio do inimigo sacrificado),
além de cordas (Muçurana era a corda que aprisionava
o inimigo, nome originário de uma cobra muito temida)
* Os projetos apresentados são e rosáceas de penas (Enduape, o adoro emplumado que
utilizados enquanto conceitos- simulava rabos de aves admiradas). Os crânios de
chave para a confecção das jacarés exibem uma profusão de dentes: tudo é
alegorias, não havendo o pontiagudo e reforça a ideia de perfuração, mordida,
compromisso com a execução dentada. No alto de tudo, o imenso canitar (ou cocar)
literal de todos os detalhes de fogo, o presente que o filho Guapicara ofereceu ao
apresentados no papel. seu pai, Poxi, então transformado em Cuaraci, o Sol,
astro que ilumina a saga de tantas gentes. Mantendo as
dualidades, o fogo escorre em água – elemento
primordial para o beneficiamento da mandioca
(conjunto de saberes de mais de 4 mil anos) e o preparo
do cauim, base alimentar dos valentes e bebida que leva
ao transe. Tudo ferve, tudo é força! Os tons alaranjados
também evocam as raízes do tupinambo – raízes que
nos enredam, nutrem, devoram! É válido destacar que
o trabalho em cipós e raízes é um exemplo da
reciclagem que ocorre no interior dos barracões: todas
as peças foram confeccionadas por Alex Soares e
equipe com a mesma espuma utilizada para a feitura das
raízes do abre-alas de 2020, material este que foi
armazenado em um galpão e agora ganha novos
contornos, na alegoria de 2024.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

02 “JAU WARE SCHE” (“EU Destaques e Composições


SOU JAGUAR”)
Destaque central alto – Enoque Silva
Fantasia: Explosões solares

Destaque central baixo – Mell Muzzillo


Fantasia: Guerreira em vermelho guará

Destaque lateral traseiro direita – Bravura de


Guaricuité

Destaque lateral traseiro esquerda – Coragem de


* Os projetos apresentados são Tamanduaré
utilizados enquanto conceitos-
chave para a confecção das Composições teatralizadas ossadas: Guerreiros
alegorias, não havendo o Tupinambá
compromisso com a execução
literal de todos os detalhes Composições teatralizadas onça: Ritual de
apresentados no papel. devoração

Composições teatralizadas água: Fervor e transe

03 TEMPLO SAGRADO: “ONÇA A visão monumental de um templo em ouro,


GRANDE É MÃE E PAI” palha, pedras e penas ganha a Avenida e convida os
espectadores a um transe xamânico. Trata-se de uma
exaltação à riqueza e à diversidade artística dos povos
indígenas americanos, todos conectados pelo desejo de
se tornar fera, absorvendo a força dos inimigos
admirados, e pelo culto ancestral à onça – mãe e pai
dessa terra tão explorada e tão, tão resistente. O carro
sintetiza o setor que expande as raízes do mito
Tupinambá para outros territórios, expressando a ideia
de que a mistura entre devoção e devoração é uma
constante, unindo Astecas, Maias, Incas, Tupi-
Guaranis.

303
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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

03 TEMPLO SAGRADO: “ONÇA Para os componentes e torcedores da Grande Rio, o carro


GRANDE É MÃE E PAI” é um convite à memória afetiva, uma vez que apresenta
elementos cênicos livremente inspirados no carro abre-
alas do desfile de 2006, “Amazonas, o Eldorado é aqui”,
visualmente desenvolvido por Roberto Szaniecki. Não
deixa de ser, portanto, uma homenagem póstuma a este
grande artista que tanto engrandeceu a trajetória da
Grande Rio, no cenário do carnaval carioca. A escultora
Marina Vergara deu vida a totens, ídolos, vasos e adornos
que, juntos, formam um todo opulento e misterioso. As
mãos que seguram a cuia materializam a prática ritual de
ingerir bebidas e vapores que levam ao transe, ao contato
com outros espaços, tempos e materialidades. As faces
* Os projetos apresentados são são expressões da diversidade exaltada, mistura de
utilizados enquanto conceitos- máscaras e rostos, sonho e realidade. O devaneio é
chave para a confecção das traduzido simbolicamente com a presença de um barco
alegorias, não havendo o flutuante, interpretação carnavalesca para as embarcações
compromisso com a execução confeccionadas em totora (espécie de junco) nas ilhas dos
literal de todos os detalhes Uros, que navegam pelas águas do Lago Titicaca, cujo
apresentados no papel. nome, em livre tradução do Quéchua, quer dizer “Pedra
do Jaguar”. Lá, são comuns as carrancas que representam
cabeças de jaguares. As cores do templo central, em cujas
escadarias são observáveis peças escultóricas que
celebram o deus Wiracocha (a divindade criadora do
mundo, na cosmovisão inca), são inspiradas nas variações
avermelhadas que originalmente pintavam as pirâmides
de Tikal. Na parte traseira da alegoria, totens se
confundem com ocas e enaltecem, com beleza e alegria, a
arte plumária dos povos originários brasileiros. Vê-se um
desenho cenográfico que bem expressa o que o samba
canta, ao destacar a força de povos como Yawalapiti,
Pankararu, Apinajé, Araweté e Kamaiurá. Curiosamente,
o ritual Araweté, tema de precioso estudo de Eduardo
Viveiros de Castro, Camila de Caux e Guilherme Heurich,
já foi cantado pela Grande Rio, no desfile de 2008,
também desenvolvido por Roberto Szaniecki. Tudo é
sobre movimento, transformação, eterno retorno!

304
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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

03 TEMPLO SAGRADO: “ONÇA Destaques e Composições


GRANDE É MÃE E PAI”
Destaque central baixo – Danyllo Gayer
Fantasia: Altar Ameríndio

Destaque lateral frontal direito – Joalheria Maia

Destaque lateral frontal esquerdo – Esplendor


Asteca

Semidestaques escadarias – Tesouros do povo Inca

* Os projetos apresentados são Composições laterais: Cerâmica Karajá


utilizados enquanto conceitos-
chave para a confecção das Composições teatralizadas ocas laterais alto: Ouro
alegorias, não havendo o Inca
compromisso com a execução Composições teatralizadas ocas laterais baixo:
literal de todos os detalhes Ouro Inca e Brasil indígena
apresentados no papel. Composições teatralizadas cocares alto: Guerreiros
originários
Composições teatralizadas totens fundo: Brasil
indígena

Tripé ENCANTARIA “É a cor da Cabocla Jurema / eu vou me banhar


02 / lá nas águas claras...” Unido a um ponto de Umbanda,
musicado e cantado por Maria Bethânia, no álbum
“Brasileirinho”, o poema “Cabocla Jurema”, de Mário
de Andrade, é a inspiração mágica para a concepção do
elemento alegórico “Encantaria” – visão poética sobre
a presença de onças nas religiosidades afro-ameríndias.
A capa do referido álbum, inclusive, apresenta a
iconografia da cabocla Jurema, sempre ao lado de uma
onça-pintada. A natureza abriga seres encantados, que
nos ensinam lições de reconexão com a terra, proteção
e cura. Eis a tradução de um altar natural em devoção
aos caboclos, com a presença de tambores, oferendas e
adereços com penas estilizadas (recortes cujos
grafismos evocam as criações de J. Cunha, com
destaque para a pintura “Tupinambá”).

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

Tripé ENCANTARIA Sete flechas encantadas atravessam um arco-íris


02 e emolduram a cascata onde Jurema se banha,
protegida pelos olhos de uma onça. O elemento
alegórico também exalta o Caboclo Tupinambá, muito
popular nas linhas de Umbanda. Tudo é vida e verde,
exalando energia. Como canta a mesma Bethânia, voz
trovejante de cachoeira, no álbum “Meus quintais”,
dando vida à composição de Paulo Vanzolini intitulada
“Moda da Onça”: “Era um bicho pintado de cara chata
/ Orelha redonda, o bigode espetado / As mãos maringá
/ Um cabo comprido que vai como lá / E eu disse: /
* Os projetos apresentados são ‘Isso é onça, isso é onça’!” Pedindo a proteção de todos
utilizados enquanto conceitos- os encantados, caboclos e caruanas, a Grande Rio
chave para a confecção das exclama: “Kiô, kiô, kiô kiera!” Axé!
alegorias, não havendo o
compromisso com a execução Destaque performático cachoeira – Ana Beatriz
literal de todos os detalhes Genuncio
apresentados no papel. Fantasia: Jurema

Destaque performático alto – Demerson D’Álvaro


Fantasia: Caboclo Tupinambá

04 REINADO CASTANHO - Bem-vindos ao Reino Castanho do Sertão! O


SERTÃO DE CAETANA “Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue
do Vai-e-volta”, obra literária que motivou o belo
enredo do GRES Império Serrano, em 2002, pode ser
considerada um “tratado de onçologia”. Tal romance
elenca dezenas de tipos de onças presentes no
imaginário popular brasileiro: pardas, negras,
vermelhas, pintadas, mestiças, onças-de-bode, onças-
tigre, inclusive uma onça mijadeira e um jaguar
sarnento colorem as páginas de Ariano Suassuna. Em
diálogo com a mitologia romana, ao tratar do Quinto
Império Sertanejo, o narrador D. Pedro Dinis Ferreira-
Quaderna, o Dom Pedro IV, conta que seu avô, Dom
Pedro II, sobreviveu a um sacrifício terrível:

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Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

04 REINADO CASTANHO - a mãe, Princesa Isabel, foi degolada na Pedra do Reino


SERTÃO DE CAETANA e abandonada na caatinga, mas o bebê recém-nascido
(a Princesa incrivelmente pariu no momento da degola,
tendo a criança rolado pedra abaixo) não feneceu e foi
encontrada por um vaqueiro, perto do corpo da mãe
assassinada e de duas onças-pintadas – uma delas
fêmea, que teria amamentado o pequeno e,
consecutivamente, o Império do sertão brasileiro. A
metáfora, de indiscutível força e beleza, mostra o quão
importante é o signo da onça na prosa de Suassuna. Na
visão fantástica do nosso enredo, propomos a ideia de
* Os projetos apresentados são que todo o Brasil foi amamentado por uma onça mítica
utilizados enquanto conceitos- – senhora da vida e da morte, dona do nosso destino,
chave para a confecção das onça-loba que se faz Caetana e ganha asas sobre um
alegorias, não havendo o castelo sertanejo. Variação do bíblico leão alado de São
compromisso com a execução Marcos e integrada à estética armorial, a Onça Caetana
literal de todos os detalhes não deixa de reunir características que, nas
apresentados no papel. cosmogonias indígenas, representam a antropofagia
ritual praticada pelos homens. No pescoço da fera
esculpida por Levi Morais e equipe, um colar de cobra
coral, conforme a descrição de Suassuna. Mãe,
amamenta os filhotes de um Brasil em brasa. Das
páginas de Suassuna, extrai-se a descrição de uma
“terra agreste, espinhenta e pedregosa, batida pelo Sol
embraseado”; lugar cujo bafo “tanto pode ser o arquejo
de gerações e gerações de Cangaceiros, de rudes
Beatos e Profetas, assassinados durante anos e anos
(...), como pode ser a respiração dessa Fera estranha, a
Terra – esta Onça em cujo dorso habita a Raça piolhosa
dos homens. Pode ser, também, a respiração fogosa
dessa outra Fera, a Divindade, Onça-Malhada que é
dona da Parda, e que, há milênios, acicata a nossa Raça,
puxando-a para o alto, para o Reino e para o Sol.” O
pesquisador Carlos Newton Júnior escreveu o livro “O
Circo da Onça Malhada – Iniciação à obra de Ariano
Suassuna”, no qual detalha esse universo fantástico.

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Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

04 REINADO CASTANHO - É este imaginário poderoso o que motiva a


SERTÃO DE CAETANA construção cênica de uma alegoria extremamente
detalhada, cujas bandeiras, todas artesanais, são
reinterpretações de brasões e flâmulas armoriais. As
onças frontais, aladas, representam a diversidade
narrada por Suassuna, destacando-se a “Onça da Mão-
Torta” e a “Onça-Pé-de-Boi” cantadas pelo samba de
enredo – ambas muito presentes na iconografia
armorial e em histórias de folhetos de cordel. Neste
reino, notam-se ainda elementos de salas de milagres,
peças de xadrez (uma recorrência no universo temático
* Os projetos apresentados são abordado), escudos, cactos e, como não poderia deixar
utilizados enquanto conceitos- de ser, muitas estampas pintadas.
chave para a confecção das
alegorias, não havendo o Destaques e Composições
compromisso com a execução
literal de todos os detalhes Destaque central baixo – Sônia Soares
apresentados no papel. Fantasia: Rainha Armorial

Destaque central médio 1 – Luciana monteiro


Fantasia: Princesa Armorial

Destaque central médio 2 – Heloisa Honein


Fantasia: Realeza sertaneja

Destaque central alto – Guilherme Linhares


Fantasia: Imperador da Pedra do Reino

Destaque lateral baixo direito – Sob o Sol do sertão

Destaque lateral baixo esquerdo – Chão recortado

Destaque lateral médio direito – Esfinge armorial

Destaque lateral médio esquerdo – Brasão armorial

Composições laterais baixas – Nobres sertanejos

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

04 REINADO CASTANHO - Composições laterais baixas nas varandas - Velha-


SERTÃO DE CAETANA Guarda
Fantasia: Nobreza da Pedra do Reino

Composições teatralizadas castelo: Cortesãos


armoriais

Composições teatralizadas onças aladas: Arautos


do Reino

Tripé ONÇAS FOLIÔNICAS O espírito folião é parte constituinte da


3 identidade brasileira, de modo que não é possível
pensar em brasilidades sem observar as diversas
manifestações festivas que colorem nossas praças,
casas, avenidas, arenas, campos, aldeias, terreiros. E se
a onça é um símbolo tão profundo do que são essas
brasilidades em giro e dança permanentes, é fato que
muitas onças dão o ar da graça nas folias das nossas
gentes. Durante as pesquisas teóricas e iconográficas,
encontramos brincantes vestidos de onças em
cavalhadas, folias de reis, blocos de rua, cordões de
* Os projetos apresentados são bichos, folguedos de bumba-meu-boi e boi-bumbá. O
utilizados enquanto conceitos- tripé exalta a folia (e o carnaval, em específico) como
chave para a confecção das grande catarse antropofágica: momento em que as feras
alegorias, não havendo o são soltas e é possível tornar-se outro, vestindo uma
compromisso com a execução fantasia, utilizando uma máscara, brincando na rua,
literal de todos os detalhes enquanto o “couro come”. O conjunto escultórico,
apresentados no papel. confeccionado por Andrea Vieira, estiliza e
homenageia artistas como Rosa Magalhães e Fernando
Pinto, que tantas onças levaram para a Passarela do
Samba. Era corrente a “piada” segundo a qual, ano
após ano, “as onças da Rosa vão sozinhas para a
Avenida”.

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

Tripé ONÇAS FOLIÔNICAS Pois, no desfile da Grande Rio, elas chegaram


3 todas – e de uma só vez! Na parte dianteira do carro, os
bonecos foliões são versões estilizadas para
mascarados de cavalhadas e folias de reis (ou seriam
ritmistas de baterias de escolas de samba?). Na visão
lúdica e circense do carrossel, releituras de onças
carnavalescas apresentadas em diferentes desfiles
concebidos por Rosa Magalhães (inclusive as cabeças
de onças do alto, que fizeram parte de um cortejo
realizado em Salvador, no ano 2000). Também são
* Os projetos apresentados são observáveis referências ao inconfundível trabalho de
utilizados enquanto conceitos- Fernando Pinto – daí a opção pelos materiais brilhosos
chave para a confecção das e por técnicas de decoração muito populares na década
alegorias, não havendo o de 1980, como a construção de mosaicos e bordados
compromisso com a execução com o uso de pastilhas e paetês. As “jaguatiricas-
literal de todos os detalhes baianas” nos levam a Tupinicópolis, a mítica cidade
apresentados no papel. criada pelo artista, no desfile homônimo de 1987. Na
ocasião, as Baianas independentes incorporaram onças
sobre o asfalto da Sapucaí – mix de antropofagia,
tropicalismo e delírio cintilante. Todo o mundo pode
virar onça na Avenida: quando a bateria ruge, o samba
é que nos devora!

Destaques

Destaque central baixo – Regina Casé


Fantasia: Recital da Onça

Destaque central alto – Marcelo Rubens


Fantasia: Esplendor tropical

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

5 “ENQUANTO A ONÇA NÃO “Mas nós, que somos fortes, não tememos. Por
COMER A LUA” isso continuamos matando e comendo inimigos.
Enquanto a onça não comer a Lua.” O final de “Meu
destino é ser Onça” orienta a construção cênica da
última alegoria do desfile, assumidamente
experimental, vazada, em (re)construção. A onça é um
símbolo de força, destemor, proteção, devoração,
transformação, incorporação do outro, poder,
imortalidade. O ser mais antigo e perfeito, segundo a
cosmovisão Tupinambá; o ser que orienta e ilustra
tantas discussões e lutas do Brasil contemporâneo.
Tornar-se onça é alcançar a Terra-sem-mal e
* Os projetos apresentados são reencontrar os antepassados. Tornar-se onça, o nosso
utilizados enquanto conceitos- destino, é ir à luta. A matéria “A constelação da onça”,
chave para a confecção das escrita por Leandro Muniz e Paula Alzugaray e
alegorias, não havendo o publicada na revista de arte Select, explica o seguinte:
compromisso com a execução “se a presença de grandes carnívoros implica um
literal de todos os detalhes ecossistema rico e saudável, para os indígenas, esse
apresentados no papel. animal é um dos mais antigos do mundo, em um estado
avançado de compreensão do tempo. (...) Mais que um
animal, a onça é uma entidade que empresta ao mundo
e aos outros seres a sua força destruidora. Para o bem
ou para o mal.” Senhora de todos os tempos, a onça, no
final do nosso enredo é o símbolo de um mundo que
pode ser reconstruído a partir dos ensinamentos e da
luta dos povos originários. Por isso desenhamos uma
apoteose cósmica: a visão de uma onça abstrata,
livremente inspirada na arte desenvolvida por Aislan
Pankararu para o pôster de divulgação do enredo,
prestes a devorar uma Lua também desconstruída.
Enquanto o duelo celeste se desenrola, guerreiros
indígenas (homens e mulheres-onças) empunham os
seus facões e entoam cantos de luta, convocando toda
a população para um mesmo ritual festivo – peças
escultóricas confeccionadas por William Mansour e
equipe.

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

5 “ENQUANTO A ONÇA NÃO O conceito da alegoria evoca a ideia de


COMER A LUA” andaimes, estruturas de ferro que servem de platôs para
os brincantes, “segurando” o céu e, parafraseando o
filósofo Ailton Krenak, adiando o fim do mundo.
Trata-se da construção de novas perspectivas e novos
conhecimentos: o erigir do Futuro Ancestral. As
fantasias das composições teatralizadas, espécies de
bate-bolas estilizados, com mantos de folhas e
máscaras de onças, foram confeccionadas durante a
oficina de verão promovida graças à parceria da
Grande Rio com diferentes instituições de ensino:
EBA-UFRJ, PUC-Rio e IFRJ – Campus Belford Roxo.
* Os projetos apresentados são Um cenário onde o vermelho e o verde se destacam –
utilizados enquanto conceitos- as complementares cores da escola, a esperança e a
chave para a confecção das luta. Na parte traseira, o triunfo do manto: a peça,
alegorias, não havendo o também confeccionada nas oficinas carnavalescas a
compromisso com a execução partir do estudo de técnicas de tapeçaria desenvolvidas
literal de todos os detalhes por Glicéria Tupinambá, expressa a libertação de uma
apresentados no papel. história muito, muito profunda – até então
desconhecida do grande público ou aprisionada aos
estereótipos do olhar colonial. Saudamos a luta
Tupinambá de ontem, hoje e amanhã. E convocamos
todas, todos e todes para um ritual que não se encerra
na quarta-feira: transformados em onças e inflados de
vida, fazemos coro à narrativa de Alberto Mussa e
gritamos para todos os cantos que “não estamos aqui
faz apenas cinco séculos, mas há uns 15 mil anos”;
cantamos e dançamos para celebrar, nas palavras de
Krenak, um “outro mundo possível”.

Destaques e Composições

Destaque central avancê – Fantasia: Raiz do futuro

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Nº Nome da Alegoria O que Representa

5 “ENQUANTO A ONÇA NÃO Destaques e Composições


COMER A LUA”
Destaque performático baixo – Márcia Pantera
Fantasia: Força felina

Destaque central médio 1 - Thábata Oliveira


Fantasia: Floresta de pé

Destaque central médio 2 – Simone Oliveira


Fantasia: Veios da Terra

Destaque performático alto frontal – Uýra Sodoma


* Os projetos apresentados são Fantasia: Fera lunar
utilizados enquanto conceitos-
chave para a confecção das Destaque performático manto Tupinambá – Uhura
alegorias, não havendo o Bqueer
compromisso com a execução Fantasia: Eternidade
literal de todos os detalhes
apresentados no papel. Destaques laterais femininos – Natureza em rede

Destaques laterais masculinos – Natureza em rede

Composições varanda/andaime central – Grupo de


convidados (artistas, ativistas, escritores, líderes
indígenas)

Composições laterais baixas – Reconstrução

Composições teatralizadas andaimes – Onças em


luta

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Nomes dos Principais Destaques Respectivas Profissões


Alegoria 1 – A
Bruna Dias (Destaque Central Baixo) Corretora de Imóveis

Luana Pires (Destaque Central Médio) Empresária

Alegoria 2
Enoque (Destaque Central Alto) Servidor Público

Alegoria 3
Danyllo Gayer (Destaque Central Baixo) Diretor Financeiro

Alegoria 4
Sonia Soares (Destaque Central Baixo) Empresária

Luciana Monteiro (Destaque Central Média) Empresária

Guilherme Linhares (Destaque Central Alto) Ator e Empresário

Alegoria 5
Thábata Oliveira (Destaque Central Baixo) Empresária

Simone Oliveira (Destaque Central Médio) Empresária

Uýra Sodoma (Destaque Central Alto) Artista Visual Indígena, Educadora e Mestra
em Ecologia da Amazônia

Uhura Bqueer (Destaque Central Giratório) Artista Visual Multimídia

Tripé 1
Xamã Cantor e Ator

Samuel Abrantes Proferssor e Performer

Tripé 2
Ana Beatriz Genuncio Estilista
Demerson D’Alvaro Ator

Tripé 3
Regina Casé Atriz e Apresentadora
Marcelo Rubens Artista plástico

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Local do Barracão
Rua Rivadávia Corrêa, nº. 60 – Barracão nº. 04 – Gamboa – Rio de Janeiro – Cidade do Samba
Diretor Responsável pelo Barracão
Sylvio Batista
Ferreiro Chefe de Equipe Carpinteiro Chefe de Equipe
João Lopes Edgar Barcellos
Escultor(a) Chefe de Equipe Pintor Chefe de Equipe
Andrea Vieira, Alex Salvador, Levi Morais, Gilmar Moreira e Rafael Vieira
Marina Vergara e William Mansour
Eletricista Chefe de Equipe Mecânico Chefe de Equipe
Tom Pereira e Reinaldo Maurício
Outros Profissionais e Respectivas Funções
Patryck Thomaz, Rafael Gonçalves, Renato Esteves, - Equipe de criação artística e assistentes dos
Sophia Chueke e Theo Neves carnavalescos

Zé Paulo Conceição, Jovanna Souza, Luciano - Aderecistas Chefes de Equipes


Furtado, Sophia Chueke e Theo Neves

Diego Andrade e Nayra Nascimento - Gestão de Barracão

Vaninha, João e Leo - Compras e Almoxarifado

Renato Castro e José Claudio Sousa - Laminação, Fibra e Empastelação

Know How (Tom Pereira) e Paulo Ornellas - Iluminação

Matheus Costa - Placas de Acetato / EVA

Vilmar Almeida - Vidraceiro

Marco Antônio Oliveira - Neon

Glenda Barros, Sidinei Avelino e Suellen Refrande - Router e Laser

Tom Pereira - Efeitos Especiais

Alex Salvador e Leandro Rodrigues - Movimento de Esculturas e Estruturas

Alex Soares - Espuma

Carlos Eduardo, Jorge Cardozo e Leonardo Marinho - Bandeiras da alegoria 4

Ananda e Carol, André Lúcio, Carla Meireles e - Coreógrafos de alegorias


Hugo Raphael

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FICHA TÉCNICA

Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala

* Estrelas Segundo o mito Tupinambá narrado Grupo Direção de


por Alberto Mussa, em “Meu destino Performático Carnaval
é ser Onça”, o Velho, criador do céu (1988)
de pedra e dos homens que povoaram
a Terra, se transformou na primeira
constelação a brilhar no firmamento
– Túibae. A visão de mundo
Tupinambá direciona os nossos
olhos para a abóbada celeste,
investigando os mistérios que
cintilam em desenhos. As roupas do
grupo de guardiões evocam a beleza
dos luzeiros, ensinando que somos
pó de estrelas e que, nos termos da
artista contemporânea Glicéria
Tupinambá, “na dúvida, é preciso
olhar para os astros”. Leandro Muniz
e Paula Alzugaray, em matéria para
a revista Select intitulada “A
constelação da onça”, informam que
“a voracidade da onça também está
nas constelações celestes, onde essa
rainha da cadeia alimentar é
igualmente temida.” No desfile da
Grande Rio, tudo é brilho estelar!

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FICHA TÉCNICA

Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala
01 Ornamentos Abram os olhos! A descrição que dá Comunidade Direção de
Para o Céu início à narrativa mítica de “Meu destino (1988) Carnaval
é ser Onça” orienta a concepção visual
da primeira ala do desfile da Grande
Rio: uma viagem cósmica por espaços e
tempos governados pelo mistério. O
Velho criou o céu e fez brotar a vida
terrestre, pontuando a escuridão de
desenhos fluorescentes. O grupo de
brincantes veste as cores do “mundo
inaugural”, conjunto livremente
inspirado em criações de artistas como
Jaider Esbell e Aislan Pankararu. As
texturas e os volumes misturam
materiais têxteis e plásticos, evocando
primitivas formas de vida, de aspectos
microbiológicos, celulares, como se
tudo florescesse no escuro – flores
astrais, moléculas de sonho, viagem
lisérgica. Transe! Isso se justifica, uma
vez que, segundo o explicado por
Leandro Muniz e Paula Alzugaray em
matéria para a revista Select, “assim
como as pinturas indígenas encontram
ressonâncias com os esquemas de
representação científicos de células e
ecossistemas, algumas mitologias sobre
a onça também encontram paralelos
com o pensamento científico”. Os tons
cítricos, em contraste com variações de
preto, desenham contornos indefinidos,
que insinuam o caos original.
Observam-se, ainda, estruturas que
*Obs: 3 figurinos evocam olhos de criaturas noturnas,
como corujas e mariposas. Em meio à
profusão de estímulos visuais, também
se fazem notar asas de morcegos, rostos
de feras e silhuetas de colibris, seres
importantes para a construção mítica do
imaginário Tupinambá.

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FICHA TÉCNICA

Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala

* Nebulosa A fantasia da musa é uma Destaque de Mileide


interpretação abstrata para a Chão / Musa Mihaile
imensidão celeste, destacando a (1988)
presença de um colibri – pássaro
sagrado, de rara beleza, que
alimentava o Velho com o néctar das
flores astrais. As nebulosas são
berçários de estrelas: é para elas que
direcionamos o olhar.

02 Fogo Devastador Conta o mito Tupinambá que, Comunidade Direção de


desiludido com a própria criação, (1988) Carnaval
devido ao descaso dos homens, o
Velho Onça experimentou um
“sentimento novo – o desejo de
vingança.” Envenenado pela raiva e
pelo desencanto, o criador decidiu
destruir a própria obra. Para isso,
“fez descer do céu um fogo
devastador.” As chamas aniquilaram
a terra, “enrugando e encrespando
sua superfície – e formando as
montanhas e as depressões.”
Somente a linhagem do Pajé do Mel,
responsável por repovoar o mundo e
cultuar a onça celeste, foi poupada da
aniquilação. A fantasia, de cores
explosivas, é uma interpretação
fantástica para a “fúria do incêndio”,
misturando elementos e adornos
indígenas com materiais plásticos,
com destaque para o uso de acetato
derretido (algo condizente com a
temática traduzida em roupa).

318
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FICHA TÉCNICA

Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala

03 Tupã e o “Tudo acaba em fogaréu / e Comunidade Direção de


Aguaceiro depois transborda em mar!” Para (1988) Carnaval
apagar o fogo e dar início ao
processo de recriação da
humanidade, o Velho, “com seu
poder misterioso, criou Tupã. E Tupã
correu pelos quatro cantos do
universo, provocando assim uma
tremenda tempestade. E o aguaceiro
do céu extinguiu o fogo da terra.” As
letras da narrativa de Alberto Mussa
emprestam formas e cores para a
fantasia de ala que representa as
águas torrenciais que apagaram o
incêndio e deram origem aos
oceanos – massas líquidas que
desenharam os contornos de um
novo mundo. “Por isso, porque as
águas do temporal provocado por
Tupã arrastaram consigo as cinzas
das coisas queimadas, o mar é tão
salgado e de paladar tão ruim” –
explica o texto de Mussa. O volume
de tecidos e materiais plásticos cria
um todo intempestivo, interpretação
fluida para o mito do surgimento de
Tupã – que, explicam as letras do
mito, diferentemente do que as
narrativas coloniais apregoaram, não
se trata de uma divindade criadora do
mundo, mas de um fenômeno
natural: o relâmpago.

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Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala

04 Espíritos A narrativa mítica de “Meu Comunidade Direção de


Anhanga destino é ser Onça” explica que os (1988) Carnaval
seres humanos que foram fulminados
pelo incêndio provocado pelo Velho
se transformaram em criaturas
fantásticas – os espíritos anhanga.
Segundo as palavras do autor,
“nenhum espírito era mais terrível e
despertava mais temor que os
anhanga – que são as almas dos
primeiros homens, mortos no
incêndio”. A fantasia é uma
interpretação lúdica para a temática
*Obs: com apresentada, misturando cores que
variações de evocam as profundezas lodosas de
cabeças rios e lagos, lugares habitados por
essas entidades. Ainda de acordo
com o texto, “os anhanga vivem no
fundo das águas. Mas às vezes vêm à
terra, invisíveis, ou aparecendo sob
as formas mais estranhas (...)”. As
cabeças variadas, inspiradas em
criações de Jaider Esbell, expressam
tais “formas estranhas” e
misteriosas, de contornos reptílicos –
uma vez que os teiús, lagartos, eram
animais associados aos anhanga.

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Fantasia Representa Ala pela Ala

* Boitatá, Serpente Narra o mito que, após o Destaque de Karen Lopes


de Fogo incêndio e o aguaceiro, o mundo Chão / Musa
passou a ser habitado por criaturas (1988)
fantásticas, como a lendária serpente
de fogo. Nas letras de Mussa, era
terrível o Boitatá, “uma serpente de
fogo, que aparece de repente e mata
de repente.” A evolução da musa é o
bote dessa cobra.

05 Maíra e Sumé, os Não há criação sem conflito. À Comunidade Ananda e


Grandes medida que a segunda humanidade (1988) Caroline
Caraíbas se expandia, ramificando o tronco do
Pajé do Mel, as disputas eclodiam e
os seres viventes se distanciavam dos
limites da Terra-sem-mal. Narra o
mito que dois descendentes desse
mesmo tronco se diferenciavam dos
demais, uma vez que possuíam
poderes impressionantes: Maíra e
Sumé. Maíra é uma espécie de “herói
civilizador”, aquele que ensinou aos
outros seres humanos preciosas
lições sobre o trabalho: como
*Obs: 2 figurinos cultivar o solo, preservar o fogo,
cozinhar os alimentos, prolongar a
vida. Sumé, por outro lado, expressa
o belicismo da guerra: a caça, as
pulsões animalescas, a dominação do
outro.

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05 Maíra e Sumé, os São opostos complementares, Comunidade Ananda e


Grandes sendo que tal antagonismo iria (1988) Caroline
Caraíbas alimentar a visão de mundo dos
antigos Tupinambá (e, por extensão,
os rituais antropofágicos). As
fantasias da ala traduzem o bailado
guerreiro dessa oposição de visões e
temperamentos: de um lado, Maíra,
caraíba (grande pajé) que roubou o
fogo dos pássaros (daí a visão
estilizada de uma cabeça de harpia) e
dominava as técnicas de cultivo (daí,
por conseguinte, a presença de
verdes, bagas, favas e sementes); do
*Obs: 2 figurinos outro lado, em tons quentes, Sumé:
guerreiro que se transformava em
onça, temível, adornado com dentes
e garras de feras. Ambas as roupas
apresentam capas que são versões
estilizadas do manto Tupinambá,
utilizado em cerimônias e ritos.

06 Tamanduaré e Os descendentes de Maíra e Sumé Comunidade Direção de


Guaricuité, deram seguimento aos conflitos e à (1988) Carnaval
Herdeiros dos visão dualista de mundo (que, é
Guerreiros importante frisar, não deve ser
confundida com o maniqueísmo
judaico-cristão tão presente na visão
de mundo dos invasores europeus).
O mito explica que dois “herdeiros
dessa guerra” se destacavam – em
grande medida, devido ao poder de
transformação herdado de seus pais,
os “superpajés” (termo utilizado por
Alberto Mussa) Maíra e Sumé.
*Obs: 2 figurinos

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06 Tamanduaré e Tamanduaré, filho de Maíra, Comunidade Direção de


Guaricuité, “era um grande tuxaua”, líder (1988) Carnaval
Herdeiros dos responsável pela preservação das
Guerreiros técnicas de cultivo e pelo apego à
terra – daí a associação com o
tamanduá, visível na estrutura da
roupa. Tamanduaré se transformava
em tamanduá, por isso a carne do
animal, na sociedade Tupinambá, era
terminantemente proibida para o
consumo humano. Guaricuité, o filho
de Sumé, herdou do pai a fúria e a
ferocidade - e por isso a fantasia
evoca um homem-jaguar, alguém
*Obs: 2 figurinos que “não cultivava a terra e só se
preocupava em guerrear, matar e
devorar todos os tapuia.” O dado
mais extraordinário do mito é que
ambos são irmãos gêmeos, uma vez
que os pais mantiveram relações com
uma mesma mulher e a
engravidaram simultaneamente. Na
Marquês de Sapucaí, a demanda
mítica se dá de forma festiva, alegre,
embalada pelo samba.

* Jaci e Cuaraci Diferentemente do que Destaques Direção de


propagam outras narrativas de teor Performáticos Carnaval
lendário já cantadas na Passarela do (2024)
Samba, o mito Tupinambá explica
que Jaci, a Lua, e Cuaraci, o Sol,
foram dois poderosos feiticeiros,
descendentes de Maíra e inimigos de
Sumé. Originalmente chamado Poxi,
Cuaraci detinha o poder mágico de
transformar pessoas em animais.

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* Jaci e Cuaraci Certo dia, cansado da vida terreal, Destaques Direção de


decidiu transformar a si mesmo no Performáticos Carnaval
mais belo homem do universo e (1988)
subiu ao céu, onde foi morar. No céu,
ganhou do próprio filho, Guapicara,
um imenso cocar de fogo – a origem
do Sol, que passou a iluminar a vida
na Terra. É nesse momento, portanto,
que surge a luz solar. Jaci, bisneto de
Poxi, tinha o poder de ressuscitar as
pessoas. Ele foi o responsável por
derrotar uma aldeia de Jaguares,
descendentes de Sumé – o que selaria
o seu destino, no espaço cósmico.
Quando subiu ao céu, Jaci se
transformou na Lua, que tem o poder
de se regenerar a cada novo ciclo (as
fases lunares, que orientam a vida na
Terra, influenciando o cultivo, as
marés, os rituais mágicos). A
importância desses corpos celestes
para a visão de mundo Tupinambá
explica a presença dos grandes
Tuxauas no desfile da Grande Rio,
fantasias que continuam a expressar
as complementaridades. Os dias
passaram a ser regidos pelo Sol; as
noites revelavam o esplendor da Lua.

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* O Dilúvio Praticamente todas as Grupo Direção de


Universal e a narrativas míticas conhecidas Performático Carnaval
Salvação do Fogo envolvem dilúvios e falam de (2023)
mundos destruídos pelas águas. O
mito Tupinambá restaurado por
Mussa explica que a segunda
humanidade, representada pelas lutas
e maravilhas vivenciadas por heróis
como Maíra, Sumé, Jaci e Cuaraci,
também enfrentou o seu dilúvio –
provocado pela luta de Tamanduaré
e Guaricuité, os irmãos gêmeos que
guerrearam permanentemente.
Tamanduaré abriu um buraco no
chão, do qual jorrou tanta água que
as aldeias se viram submersas. As
pessoas, que precisaram se refugiar
nas copas das árvores, temiam a
extinção do fogo – por isso Maíra
guardou o fogo nas costas de uma
preguiça, que conseguiu se salvar
porque subiu no topo da árvore mais
alta. Tal dilúvio é importante para a
narrativa do enredo porque pode ser
entendido como, literalmente, um
divisor de águas no tempo mítico:
quando a massa líquida baixou, tinha
início a terceira humanidade cantada
pelo samba – um mundo cujos
habitantes não mais conseguiam
acessar fisicamente a Terra-sem-
mal; um mundo cujos habitantes só
poderiam vivenciar o poder da
transformação em onça por meio do
ritual antropofágico.

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07 Açoiaba (Manto A ala das Baianas do GRES Ala das Marilene dos
Tupinambá) Acadêmicos do Grande Rio Baianas (1988) Anjos e Regina
apresenta uma fantasia
extremamente simbólica e poderosa
para a compreensão do enredo.
Nossas mães e tias, vozes da
ancestralidade e da sabedoria da
agremiação, narradoras de tantas
histórias e guardiãs de tantos
segredos, vestem açoiabas (mantos)
que reinterpretam as dimensões
sagradas do manto Tupinambá
utilizado em rituais desde os tempos
que a memória não alcança. Trata-se
de uma leitura desenvolvida com
muito respeito, uma vez que
compreendemos as dimensões
sagradas do manto e as dimensões
sagradas do girar das Baianas. O
trabalho em arte plumária dialoga
com a iconografia Tupinambá e
propõe um contraste cromático: o
rodopiar das mães da escola faz com
que o manto tinja a avenida com o
vermelho do guará, ave cujas penas
eram utilizadas para a confecção das
vestes cerimoniais. A pesquisa para a
concepção do figurino contou com o
olhar afetuoso de Glicéria
Tupinambá, artista e pesquisadora
brasileira que recria mantos, na
contemporaneidade.

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07 Açoiaba (Manto Glicéria (ou Célia, como Ala das Marilene dos
Tupinambá) também é chamada) acompanha o Baianas (1988) Anjos e Regina
processo de negociação e retorno de
mantos roubados do Brasil por
viajantes europeus – peças que, hoje,
jazem insones nos museus da
Europa. “O manto fala comigo”,
explica a artista, que, em diálogo
com os carnavalescos, revelou que
sonhou com muitas mulheres
sentadas, em silêncio, à espera de um
ritual. Quando a música começava,
elas se levantavam, todas vestindo
mantos, e ritualizavam algo muito
potente. O compartilhar dessa visão
nos deu a certeza de que as Baianas
da Grande Rio precisavam expressar
tamanha magnitude, contribuindo,
inclusive, para a denúncia do roubo
de peças fundamentais para a
compreensão da nossa história e para
a propagação da ideia, tão defendida
por Célia, de que as mulheres
assumiam posições de protagonismo
na sociedade Tupinambá, também
vestindo os mantos. Os abanos são
máscaras de onças, o símbolo maior,
a divindade mais venerada – o nosso
destino, enfim. Este momento não
deixa de ser, ainda, uma celebração
do retorno do primeiro dos mantos
roubados ao Brasil, que irá ocorrer
em maio de 2024, quando o Museu
Nacional da Dinamarca enviará a
peça ao Museu Nacional – UFRJ.

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* Garras de Onça O mito narra que os rituais Destaque de Gardênia


e Penas de antropofágicos envolviam uma série Chão / Musa Cavalcanti
Harpia de práticas corporais, como a feitura (1988)
de incisões. Segundo as letras de
Mussa, “Maíra ensinou como fazer
as crianças se tornarem valentes na
guerra: dar aos recém-nascidos
garras de onça e penas de harpia.” A
fantasia da musa é uma tradução
desse espírito guerreiro.

08 Astecas: O tempo mítico é levado pelas águas Comunidade Direção de


Emplumados turbulentas da história. Alberto (1988) Carnaval
Guerreiros do Mussa explica, no início do seu livro
Deus Jaguar reinterpretado em enredo
carnavalesco, que o culto à onça
enquanto símbolo maior de força,
devoração, transformação, perfeição
e coragem nunca foi algo restrito ao
território brasileiro. As pesquisas
arqueológicas mais recentes
explicam que os antigos indígenas da
nação Tupinambá, que ocupavam
praticamente todo o litoral brasileiro
quando do processo de invasão
europeia, no século XVI, eram
oriundos da região amazônica e se
comunicavam com as demais
sociedades ameríndias. Nas palavras
dele, “há muitos indícios de que os
povos da floresta influenciaram
profundamente a vida de outras
populações ameríndias (...)”.

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08 Astecas: Navegando por rios que não Comunidade Direção de


Emplumados encontram fronteiras, o enredo nos (1988) Carnaval
Guerreiros do leva ao culto à onça compartilhado
Deus Jaguar com demais civilizações indígenas
americanas, caso dos Astecas, que
cultuavam Tezcatlipoca, criador do
mundo e vigia dos viventes. Tal
divindade celeste é representada,
justamente, pelo jaguar. A fantasia,
inspirada na iconografia dos Astecas,
veste os guerreiros do deus Jaguar
com adereços que valorizam a arte
plumária, materializando na avenida
um exército de homens-feras
dispostos a devorar o título do
carnaval.

09 Maias: Jaguares Ainda em terras Comunidade Direção de


de Jade nos mesoamericanas, a civilização Maia (1988) Carnaval
Templos de Tikal construiu templos em louvor a
deuses jaguares, destacando-se o
complexo de Tikal. Havia a crença,
bastante difundida no interior da
cultura Maia, de que quatro jaguares
velavam as quatro vias de acesso ao
centro de uma aldeia. Tais jaguares
míticos seriam os guardiões dos
campos e da própria noite – por isso
era imaginado, segundo o descrito
pelos simbologistas Jean Chevalier e
Alain Gheerbrant, que “a goela do
jaguar estilizada simbolizava o céu.”

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09 Maias: Jaguares Para a concepção da fantasia, Comunidade Direção de


de Jade nos optou-se por cores e texturas que (1988) Carnaval
Templos de Tikal evocam a riqueza da pedra jade,
muito valorizada pelos Maias, uma
vez que representava valores como
regeneração e renascimento (além de
associações com o elemento água e o
alimento milho). São muitas,
incontáveis, as aparições de jaguares
em esculturas de calendários,
pinturas de cenas cerimoniais em
vasos e demais peças de cerâmica,
joias, adornos, paredes de templos
que resistem às intempéries. Os
componentes da ala são os guardiões
dessa complexidade mítica e dessa
diversidade sociocultural.

* Eldorado A narrativa de “Meu destino é Destaque de Luciene


Amazônico ser Onça” destaca que “há pelo Chão / Musa Santinha
menos 11 mil anos – data bem antiga
para a América do Sul – a Amazônia
brasileira passou a ter ocupação
humana.” Foi no coração da floresta
tropical que as mais antigas
sociedades brasileiras se
desenvolveram, em contato direto
com as civilizações andinas, situadas
nas terras mais altas da América do
Sul. A musa representa o mítico
Eldorado, crença que fascinou
viajantes e continua a estimular o
nosso imaginário.

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10 Incas: Onças de O livro que transformamos em Comunidade Marisa Furacão


Ouro nos Vales enredo explica que a sociedade (1988) e Avelino
Sagrados Tupinambá estendia a “sua Ribeiro
penetração intelectual até os Andes
(...)”. Chegamos, assim, aos
“impérios” andinos, o triunfo do
povo Inca. O jaguar, para a sociedade
Inca, era um dos três animais
sagrados, juntamente com o condor e
a serpente (e é interessantíssimo
notar os paralelos com a narrativa de
“Meu destino é ser Onça”, onde
notamos a presença da cobra
Muçurana e da harpia, cujas penas
eram cultuadas por Maíra). Dono dos
caminhos da terra, o jaguar foi
moldado em ouro e cultuado em
altares por regiões que se expandem
pelos territórios que hoje dão
contornos a países como Peru, Chile,
Bolívia, Colômbia, Equador e
Venezuela. A ourivesaria Inca
inspira as fantasias da ala de
passistas da Grande Rio, cujos
componentes exibem, em suas
cabeças, a representação estilizada
de um jaguar de ouro exposto no
Museo Chileno de Arte
Precolombino, em Santiago, no
Chile. Tudo resplandece e evoca
riqueza – a materialidade do metal, a
devoção ao animal tão temido quanto
sagrado. Ouro que brilha na palma
dos pés!

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* Máscaras e As fantasias dos guardiões do Guardiões do Direção de


Mistérios segundo casal de Mestre-Sala e Segundo Casal Carnaval
Porta-Bandeira da Grande Rio (1988)
apresentam variações de máscaras
cerimoniais indígenas utilizadas em
cultos aos deuses jaguares, rituais
xamânicos e demais festividades.
Também são objetivos votivos,
oferendas às onças sagradas. Os
elementos decorativos não ficam
restritos ao imaginário brasileiro,
conectando diferentes matrizes
indígenas americanas – vide as
cabeças, que evocam máscaras
utilizadas nas Tigradas. Nas saias,
cujas formas se confundem com
cumbucas de barro (vasos onde se
guardam mistérios, o princípio
regente do uso de máscaras), notam-
se onças da arte Waurá.

* Transformação: A fantasia da Rainha de Rainha da Paolla Oliveira


“Nosso destino é Bateria, Paolla Oliveira, traduz o Bateria (2020)
ser Onça” ponto central do enredo: a
possibilidade de se transformar em
onça, o ser mais perfeito que existe,
aquele que tudo devora. Nas raízes
dos rituais antropofágicos de outrora,
tal desejo foi compartilhado por
povos de diferentes territórios da
América e continua a mexer com o
nosso imaginário. Transformada em
onça, a Rainha reluz, arranha o
asfalto e prova que toda mulher
brasileira é uma guerreira poderosa.

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11 “O Som do A bateria do GRES Ala da Bateria Mestre


Rugido das Acadêmicos do Grande Rio, (1988) Fabrício
Onças” comandada por Mestre Fafá, Machado
incorpora a bravura das onças e faz a (Mestre Fafá)
Avenida vibrar com o seu poderoso
rugido em forma de samba! As
fantasias foram concebidas a partir
da mescla da iconografia do povo
Ticuna (os elementos que dão formas
e cores às túnicas vestidas pelos
ritmistas, com base em tecido de cor
e textura cruas e aplicações em tons
que evocam peças de cerâmica) com
*Obs: 2 variações máscaras que simulam peças de
de cabeças argila dos conjuntos ceramistas
Karajá e Waurá (adornos que
compõem as cabeças, com leves e
intencionais variações de formas e
pinturas, objetivando-se a
diversidade). O nome dado à fantasia
dialoga com o título livro “O som do
rugido da onça”, da escritora
Micheliny Verunschk, que narra, a
partir de uma perspectiva contra-
colonial, a história de crianças
indígenas do povo Miranha que são
levadas (sequestradas, é o correto a
dizer) à Alemanha pela expedição de
Spix e Martius. As simbologias da
onça atravessam o texto, aparecendo
o felino enquanto ser sagrado que
protege e dá força às personagens.
Nossa bateria ruge e celebra um país
que brada em louvor aos ancestrais
originários – homens e mulheres-
onças, guerreiros que não se calam.

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12 Altares-Cocares São incontáveis as narrativas Comunidade Direção de


indígenas que contam histórias de (1988) Carnaval
homens e onças. Pode-se dizer, sem
qualquer exagero, que a onça está
presente na cosmovisão de todos os
povos originários brasileiros. Na
visão poética do enredo, as raízes do
mito Tupinambá se expandem e se
espraiam por outros territórios do
nosso país, terra indígena e terra-
onça. A diversidade de línguas,
*Obs: 7 variações adornos, traços e contos é tamanha
de cabeças e que só poderíamos expressar a
cocares riqueza e a beleza dessa
complexidade artística e cultural
com uma fantasia de ala não-
unificada. Isso justifica a variação de
cocares e cabeças de onças no topo
dos totens vestidos pelos brincantes,
criações inspiradas na iconografia
dos povos Yawalapíti, Bororo,
Caiapó, Apinajé, Karajá, Waurá e
Kamaiurá. Temos, aqui, a celebração
de um Brasil multicolorido, com
centenas de falares, mitos, cantos e
danças que giram ao redor desse
símbolo ancestral: a onça, sinônimo
de força e coragem, pintada e feita a
mão, tingida de urucum e jenipapo,
adornada com penas de arara e palha
de carnaúba.

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Adornos para Kianumaka-Manã, na Destaque de Adriana


Kianumaka- mitologia Tupi-Guarani, é uma Chão / Musa Bombom
Manã divindade feminina associada às (1988)
onças – guerreira de espírito livre,
guardiã das florestas. A fantasia da
musa imagina adornos para a deusa,
misturando elementos decorativos e
padrões gráficos de diferentes nações
indígenas brasileiras.

13 Ponteio Caipira e Os compositores do GRES Acadêmicos Ala dos Licinho Junior


Causos Cantados do Grande Rio contam e cantam, com as Compositores
suas fantasias inspiradas em vestes (1988)
pantaneiras, que as histórias envolvendo
onças se propagaram Brasil adentro (e
também Brasil afora) por obra do
cancioneiro popular. As narrativas
indígenas começam a se misturar com
influências de outras matrizes culturais,
oferecendo farto material para
cordelistas, pescadores, repentistas,
violeiros que ponteiam causos
fantásticos, pontuados de medo, fascínio
e bravura. São esses contadores e
cantadores que dão início ao setor que
mostra os cruzos culturais (expressão
muito propagada por Luiz Antonio
Simas e Luiz Rufino) que
transformaram onças em símbolos
potentes para o pensar de variantes das
religiões afro-ameríndias. Onças serão
cultuadas em terreiros e virarão pontos
de macumba, troças, versos que se
perdem no domínio público – porque
aqui, no Brasil, tudo se devora e
transforma.

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14 Onça Caruana: Cantada, a onça se faz encantada. Comunidade Bira Dance


Pajelança Encantada, passa a ser incorporada – e (1988)
gira, em celebrações religiosas que
misturam influências indígenas
diversas. No “mundo místico dos
caruanas” descrito pela Pajé Zeneida
Lima (enredo da coirmã Beija-Flor de
Nilópolis, em 1998), a onça é uma força
de raro poder – entidade capaz de
conectar o homem à terra, guardiã e
devoradora de mundos. Na literatura
modernista de Raul Bopp, uma onça
caruana chamada Maracá se despe de
sua pele de animal e é incorporada por
um Pajé: “Mato! Quero minha onça
caruana Maracá te chama / Onça chegou
Saltou Entrou no corpo do Pajé”. A
presença dessa cena no poema “Cobra
Norato”, publicado por Bopp em 1931,
mostra que a onça e as pajelanças
caboclas foram incorporadas pelas letras
do modernismo brasileiro, que desejava
revisar criticamente as influências
europeias, repensar a noção de
“identidade nacional” e valorizar os
falares e as práticas culturais das terras
de cá, Brasil e Pindorama, terra de
onças. A fantasia da ala, coreografada
por Bira Dance, é uma visão
carnavalesca para os cultos das
pajelanças, destacando-se a presença de
maracás e grafismos. Nota-se, ainda, a
presença de cobras, animais muito
associados às onças, nas narrativas
míticas, nos ponteios dos versadores, no
couro dos atabaques. O colorido da
fantasia é inspirado na arte de Flavio de
Carvalho feita para a capa da primeira
edição de “Cobra Norato”.

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15 Cruzos Caboclos “Caboclo brada, vira bicho, Ala da Bateria Direção de


– “Chama a desata o nó do tempo (...).” O (1988) Carnaval
Força fragmento de Luiz Antonio Simas e
Encantada” Luiz Rufino, extraído do livro “Flecha
no Tempo”, bem expressa o que muito
se vê, nos terreiros do Brasil. As
religiões de matrizes africanas se
misturam com cultos indígenas e,
especialmente no que diz respeito ao
universo mágico dos caboclos,
incorpora as simbologias da onça
enquanto expressão da força da
ancestralidade ameríndia. São muitos
os pontos de caboclos, cantados e
dançados nas macumbas, que
mencionam onças – inclusive o ponto
de onde foi extraído parte do nome da
fantasia, cantado por Tainá Santos:
“Joga a flecha, Sultão / Chama a onça,
Gentil / É guerreiro, Sultão / Chama a
onça na mata / (...) Traz a concentração
/ Chama a força encantada”. A roupa
dialoga com vestes cerimoniais em sua
forma, utilizando de uma profusão de
folhas com pinturas gráficas – livre
inspiração na extraordinária arte de J.
Cunha, artista que dedicou parte de seu
trabalho artístico para o pensar da
visão de mundo Tupinambá, as
macumbas, as religiosidades que se
confundem com as brasilidades mais
pulsantes. Nas cabeças dos
componentes, os ofás de Oxóssi: dono
da caça, guerreiro da flecha certeira,
cavaleiro de Aruanda e, nos terreiros
da encantaria, o senhor das onças
sagradas.

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* Suçuarana A fantasia da musa exalta o Destaque de Renata Frisson


Cabocla imaginário das matas e a presença da Chão / Musa
“Onça Cabocla”, que, segundo o (1988)
“Almanaque Brasilidades” de Simas,
é uma entidade poderosa e quase
imortal, capaz de se transformar em
uma feiticeira tapuia. Nossa felina é
uma Suçuarana, a onça parda,
também chamada de “leão baio”. O
seu olhar fascina os povos da
floresta; no sambar da musa, o
triunfo de um Brasil-caboclo.

16 “Meu Tio o As raízes profundas de que o enredo Comunidade Direção de


Iauaretê” fala atravessam o solo dos sertões (1988) Carnaval
brasileiros, espaços míticos e
poéticos traduzidos com extrema
sensibilidade por autores tão
diferentes como João Guimarães
Rosa e Ariano Suassuna. O conto
“Meu tio o Iauaretê”, de Rosa,
originalmente publicado no livro
“Estas estórias”, de 1969, é, na
opinião do antropólogo Eduardo
Viveiros de Castro, uma das mais
fascinantes obras da literatura
brasileira, uma vez que poeticamente
descreve a transformação de um
onceiro (antigo caçador de onças) em
uma onça. A metamorfose, o tornar-
se outro.

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16 “Meu Tio o A paixão: o narrador, dentro do seu Comunidade Direção de


Iauaretê” rancho iluminado por apenas um (1988) Carnaval
“foguinho” (daí a presença de um
lampião na cabeça), conta a um
interlocutor desconhecido sobre o
amor que desenvolveu por uma onça,
Maria-Maria. Nas palavras do
narrador, que possui raízes indígenas
e, aos poucos, de tanto conhecer as
onças, começa a se entender
enquanto tal, “onça é povo meu,
meus parentes.” A fantasia sintetiza
esse imaginário noturno, instintivo,
violento: estrelas explodem em
capim, o coração sertanejo sangra,
elementos de vestes indígenas se
misturam ao gibão. A pesquisadora
Maria Cândida Ferreira de Almeida
explica que “cada onça morta pelo
caçador permanece junto ao
contador, rediviva, presa à sua
condição de devoradora-devorada”.
As onças gráficas presentes na gola
são releituras de ilustrações
presentes em diferentes edições do
conto, destacando-se os traços de
Poty Lazzarotto. Na opinião de
Alberto Mussa, autor de “Meu
destino é ser Onça”, “Meu tio o
Iauaretê” é a obra máxima de
Guimarães Rosa. “Onça sabe quem
mecê é!”

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17 Brasões As trilhas do ser-tão humano conduzem Comunidade Direção de


Armoriais o enredo ao imaginário sertanejo (1988) Carnaval
imortalizado na arte armorial. O
chamado “Movimento Armorial”, na
década de 1970, propunha a fusão de
elementos da dita “cultura erudita”, de
matrizes europeias, com linguagens
artísticas e narrativas populares afro-
indígenas do Nordeste brasileiro, como
os maracatus, os cavalos marinhos, os
reisados e as folias de bois. Segundo o
dicionário do Museu Afro Brasil
Emanoel Araujo, tal movimento
propunha fusões de xilogravuras de
cordel com tapeçarias medievais; teatro
de mamulengos com óperas e textos
clássicos; “a rabeca, sem a qual não há
baião, os pífanos de origem indígena, as
zabumbas dos maracatus, o
“marimbau”, uma criação armorial
derivada do berimbau, os triângulos dos
xaxados e dos xotes, etc.” Não é possível
passar pela iconografia armorial sem
notar a presença das onças. Personagens
constantes nas obras de cordel e nas
xilogravuras de mestres como J. Borges,
as onças foram incorporadas por artistas
como Gilvan Samico e Ariano
Suassuna, considerado o “fundador” do
movimento. A fantasia da ala anuncia a
entrada em um fantástico reino armorial:
os arautos exibem bandeiras com onças
aladas, variantes tropicais do leão de
São Marcos, uma reinterpretação de
desenho do próprio Suassuna. Não os
leões do Império Britânico, tampouco a
águia norte-americana; o Império
Sertanejo tem um símbolo maior: ela, a
onça, brasão de um país cujo sangue é
mestiço.

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18 Nobreza da A publicação do “Romance Galeria da Pedrinho Naval


Pedra do Reino d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Velha-Guarda
Sangue do Vai-e-volta”, de Ariano (1988)
Suassuna, em 1971, é considerado o
marco fundacional do Movimento
Armorial. O Império Sertanejo
poetizado por Suassuna tem a onça
como símbolo onipresente.
Desenhos de felinos ilustram os
“folhetos” (a incorporação da
linguagem da literatura de cordel) e
descrições de cenas fantásticas
envolvendo onças aparecem ao
longo das mais de 700 páginas. O
sertão em si, para ele, era uma grande
onça feroz. O GRES Acadêmicos do
Grande Rio representa a cidade de
Duque de Caxias, cuja população é
formada por milhares de migrantes
nordestinos e cujo solo guarda a
força dos antepassados indígenas. A
nossa querida galeria da Velha-
Guarda, orgulhosa de sua trajetória e
ciente da sua importância para a
perpetuação dos valores sambistas,
veste roupas de uma realeza
sertaneja, nobres que desfilam a sua
linhagem de sangue vermelho e
verde, sangue sambista, sangue de
onça!

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* Onça Caetana Segundo o “Romance d’A Destaque de


Pedra do Reino”, a Onça Caetana é Chão / Musa
uma “divindade cariri”
extremamente fascinante, que,
metamorfoseada num corpo de
mulher (sob a forma de Moça
Caetana), sangrava “os assinalados”
com as suas garras, para, depois,
beber o sangue dos homens que por
ela se deixavam seduzir e
repousavam em seu peito. A fantasia
da musa é uma interpretação
carnavalesca para esse misto de
sedução e perigo – a beleza que pode
ser fatal.

19 Onça-Bumbá ou Escreveu Oswald de Andrade, Comunidade Direção de


Bumba-Minha- no seu “Manifesto Antropófago” de (1988) Carnaval
Onça? 1928, que, no Brasil, não fomos
catequizados – “fizemos foi
carnaval”. Aqui, tudo vira festa! A
alegria, prova dos nove, é uma forma
de morder e devorar o passado,
arranhar os horrores de uma história
tão violenta e ritualizar a vida, tocar
o sagrado, ocupar espaços, gritar ao
mundo o porquê de sermos únicos.
Folias e festas populares de todo o
Brasil incorporaram o espírito
devorador que estrutura a visão de
*Obs: 2 figurinos mundo traduzida em “Meu destino é
ser Onça”. Brincar de ser onça, como
sugere o nome do setor, é uma forma
de celebrar as brasilidades em suas
facetas mais coloridas e indóceis.
Tudo, afinal, é antropofagia!

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19 Onça-Bumbá ou A fantasia da ala que abre o setor Comunidade Direção de


Bumba-Minha- mistura referências folclóricas e brinca (1988) Carnaval
Onça? com a ideia de que onças rugem em
festas dos mais variados tipos,
adornadas com fitas, pastilhas, babados
e penas: são as máscaras de palhaços de
cavalhadas e folias de reis, são as
cabeças dos cazumbás do bumba-meu-
boi maranhense, são as narrativas
fantásticas e as esculturas que bailam no
Festival Folclórico de Parintins, são o
duelo que norteia o Festival
Internacional de Tribos do Alto
Solimões, quando a Onça Pintada
(Nação Omágua) e a Onça Preta (Nação
Ticuna) disputam o título de campeã. No
*Obs: 2 figurinos
desfile da Grande Rio, qual onça sairá
vitoriosa?

* “É o Bafo da Quem nunca ouviu falar em um dos mais Pandeiristas e Marisa Furacão
Onça que tradicionais blocos do carnaval de rua do Passistas e Avelino
Acabou de Rio de Janeiro? O Bafo da Onça, Especiais Ribeiro
Chegar!” fundado em 12 de dezembro de 1956, no (2022)
bairro do Catumbi, fez fama sobre o
asfalto da cidade, duelando, anualmente,
com o rival Cacique de Ramos. No
carnaval de 1985, o samba da Beija-Flor
cantou que “Ramos tem Cacique; Bafo
tem também; um devora o outro e
ninguém sabe quem é quem!” A
devoração permanece, enquanto o couro
come. O nosso já tradicional grupo de
pandeiristas e passistas especiais,
vestindo fantasias de desenhos “retrô”,
diz no pé que o carnaval carioca é uma
festa que assimila o melhor de todas as
outras, convidando a Avenida inteira a
virar onça e a cair no mais afiado de
todos os sambas!

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20 Tropifagia As escolas de samba do Comunidade Direção de


Tupinicopolitana carnaval carioca, ano após ano, (1988) Carnaval
apresentam nas avenidas de desfiles
narrativas que debatem o que é ser
brasileiro e o que, afinal de contas,
define a nossa identidade, tão
múltipla e inclassificável. Quais
símbolos são perenes, quais as
fronteiras das brasilidades? Entre os
carnavalescos que já desenvolveram
enredos e visualidades para as
agremiações sambistas do Rio,
Fernando Pinto é um dos que mais
profundamente mergulhou nesse
debate, traduzindo-o em forma de
folia, desvario, gozo, devaneio. Não
à toa, foi associado à Tropicália, que,
por sua vez, comeu das carnes da
Antropofagia! As onças, nos
trabalhos de Fernando, podem ser
entendidas como símbolos de um
país que precisa reconhecer a si
mesmo no espelho da história,
transformando-se em algo melhor,
mais poderoso. Não por outro
motivo, uma onça em posição de
ataque encimava o letreiro que
saudava os povos indígenas
brasileiros, no desfile da Mocidade
Independente de Padre Miguel de
1983, “Como era verde o meu
Xingu.”

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20 Tropifagia Não por outro motivo, ainda, o Comunidade Direção de


Tupinicopolitana carro abre-alas do emblemático (1988) Carnaval
desfile de 1987 da mesma
agremiação da Zona Oeste,
“Tupinicópolis”, exibia uma cara de
onça enquanto outdoor em meio aos
prédios espelhados da metrópole
pós-marajoara. Fernando também
decorou um baile carnavalesco do
Morro da Urca com motivos de onça,
convidando os foliões a passarem
por dentro da garganta de um felino.
Narrador cuja contemporaneidade
grita, ele fez da onça placa e bandeira
- bradando pela demarcação das
terras indígenas, exaltando a
cosmovisão dos povos originários. A
fantasia da ala mistura elementos
presentes nas criações de Fernando e
celebra o gênio tão original.

21 Damas Da Corte, Rosa Magalhães declarou, em Ala das Damas Direção de


In A South diferentes ocasiões, que / Comunidade Carnaval
American Way “Tupinicópolis” é o mais genial (1988)
enredo já apresentado na Passarela
do Samba. A “Professora”, como é
carinhosamente conhecida, também
se utilizou das onças enquanto
personagens de seus enredos, não se
resumindo aos motivos decorativos e
aos padrões gráficos. No controverso
desfile de 2002, por exemplo, as
onças dominaram um setor inteiro da
apresentação da Imperatriz
Leopoldinense –

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21 Damas Da Corte, diálogo que a artista estabeleceu com Ala das Damas Direção de
In A South “O Guarani”, de José de Alencar, no / Comunidade Carnaval
American Way interior da narrativa intitulada (1988)
“Goitacazes: Tupi or not Tupi, in a
South American Way!”, sobre a
antropofagia cultural. Também há
um capítulo dedicado às onças no
enredo campeão de 1994, “Catarina
de Médicis na Corte dos Tupinambôs
e Tabajeres”, quando a escola de
Ramos falou da presença de
indígenas Tupinambá em uma
entrada régia realizada na cidade de
Ruão, na França, em 1550. A ala das
damas da Grande Rio homenageia
essa artista e o seu fascínio pelas
onças, apresentando uma roupa de
colorido, talhe, adereços e texturas
que evocam o imaginário artístico
observado. É evidente a inspiração
na indumentária da Porta-Bandeira
Maria Helena de 2002, com acentos
de Cartier. É a primeira vez, em mais
de 35 anos consecutivos, que os
desfiles do Rio de Janeiro não veem
Rosa assinando um enredo, fantasias
e alegorias. No desfile da Grande
Rio, a folia a reverencia!

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* Maracatu com Fundindo os universos Destaque de David Brazil


Onça Pintada temáticos de Fernando Pinto e Rosa Chão / Muso
Magalhães, a fantasia do muso
celebra a arte desses artistas que
tanto enfatizaram as onças em suas
criações carnavalescas. Nos dias
regidos por Momo, todas, todos e
todes podem mostrar as suas garras e
soltar as suas feras: brinquemos!

22 Panteronas e O último setor do desfile de Gaiola das Direção de


Bichanas 2024 do GRES Acadêmicos do Loucas (Ala Carnaval
Grande Rio mostra que o espírito de LGBTQIAP+)
luta dos antigos Tupinambá, / Comunidade
personificado na onça, permanece (1988)
enraizado no solo brasileiro, dando
contornos às demandas de muitos
coletivos. Re-existe, jamais
definhou. À la Joãosinho Trinta,
embarcamos num delírio final e
propomos a ideia de que o desejo de
devoração, transformação e
incorporação do outro nortearam as
demandas da Terra-sem-mal,
narradas na obra de Mussa, e
também as outras demandas da
história não-oficial brasileira; e
permanecem vivas, no hoje, quando
virar onça é lutar por direitos,
defender causas justas, demarcar
territórios, proteger corpos e corpas
vulneráveis, atacar – se preciso for.

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22 Panteronas e As onças, outrora caçadas e Gaiola das Direção de


Bichanas consideradas maléficas (vide os Loucas (Ala Carnaval
textos de jesuítas que associavam os LGBTQIAP+)
felinos a demônios), agora se / Comunidade
insurgem e ganham a rua! Hoje, a (1988)
onça é um dos principais símbolos da
autoafirmação de pessoas trans e
travestis, algo observável no trabalho
de artistas como Yná Kabe
Rodríguez Olfenza. Pode-se dizer
que o conjunto de características da
onça fez dela “um símbolo de poder
e conhecimento. (...) Olfenza tem
usado imagens da onça em analogia
à travestilidade: ambas são
ameaçadas, vigiadas e vivem
processos de transformação em seus
corpos” – escreveram Leandro
Muniz e Paula Alzugaray para a
revista Select. Já a multiartista Rafa
Bqueer declara que “sempre vai ser
político você ser uma bicha na rua,
rebolando, usando um macacão de
onça, usando cores neon.” A sua
drag, Uhura, é conhecida como a
“Panterona da Amazônia”. A
tradicional “ala dos leques” da
Grande Rio celebra a diversidade e
veste as cores fortes, gritantes, da
luta contra o preconceito – figurino
livremente inspirado em criações de
Uhura. Travestidas de pantera, as
“bichanas” da ala evoluem o seu
orgulho e mostram as suas garras!

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* Ywy-Eté, a Terra Em maio de 2023, Ailton Grupo Direção de


Verdadeira Krenak e Denilson Baniwa Performático Carnaval
encenaram, no palco do Teatro (Travestis e
Municipal de São Paulo (mesmo Mulheres
cenário que viu as ações da Semana Trans) (2022)
de 1922) uma montagem da ópera “O
Guarani”, com partitura de Carlos
Gomes e libreto inspirado no
romance de José de Alencar. Essa
montagem pode ser considerada
revolucionária em vários sentidos, a
começar pelo fato de que foi
produzida e interpretada/cantada por
pessoas indígenas. Um dado
interessantíssimo da proposta é a
ressignificação da figura da onça. No
texto alencariano do século XIX,
expoente do romantismo brasileiro, a
onça é descrita com as tintas da
vilania: é enfrentada e derrotada pelo
herói Peri, um indígena dócil, amigo
dos colonizadores. Na montagem de
Krenak e Baniwa, a onça é Ywy-Eté,
a “Terra Verdadeira”, ser sagrado e
insurgente que reconecta o herói
indígena às suas raízes tão
deturpadas (ou mesmo apagadas)
pela prosa romântica. Nosso grupo
de musas trans e travestis incorpora
essa simbologia e veste figurinos
livremente inspirados na concepção
estética da ópera – explosão de
energia nas cores da escola, onças
ferozes que não se deixam dominar!

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23 Onça Hacker Fazer arte é lutar, provocar, Comunidade Direção de


transgredir! A onça aparece com cada (1988) Carnaval
vez mais força na produção de artistas
indígenas contemporâneos, sendo
notáveis os trabalhos de nomes como
Jaider Esbell, Daiara Tukano,
Tamikuã Txihi, Olinda Tupinambá,
Mavi Morais, Denilson Baniwa. Este
último, autor do “Manifesto
Reantropofágico”, espalhou, por
inúmeros lugares do Brasil, cartazes
com imagens de onças e mensagens
que demarcam espaços como ruas,
prédios públicos e demais espaços de
ampla circulação como “terra
indígena”. Trata-se, obviamente, de
uma ação política contundente, que
denuncia e questiona as tensões
jurídicas e políticas que envolvem a
demarcação de terras indígenas na
contemporaneidade. Vem crescendo a
utilização do verbo “hackear” para a
compreensão das propostas artísticas
de quem se insurge contra as
narrativas coloniais e decide rasurar a
história oficial, ocupando espaços com
leituras a contrapelo. O Pajé-Onça que
Baniwa incorpora, em suas ações
performáticas, é também um Pajé-
Hacker. A fantasia da ala, cujo
capacete é livremente inspirado nos
traços do artista, dialoga com a
produção estética dos nomes
mencionados, mostrando que a arte
indígena brasileira não é aprisionável
pelos estereótipos reducionistas.

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23 Onça Hacker Ela conversa com as Comunidade Direção de


perspectivas afro-futuristas, abraça (1988) Carnaval
utopias e distopias, está conectada ao
mundo, na rede, online.
Tupinicópolis é real. A “Onça
Hacker” da Grande Rio é uma
espécie de cosmonauta: em busca de
novas cosmovisões, reconecta o
mundo à ancestralidade Tupinambá.

24 Malikai Dapana: O futuro da Grande Rio veste Ala dos Direção de


Escola de Pajés as cores da agremiação e celebra a Adolescentes Carnaval
existência da única Escola de Pajés (1988)
brasileira, a Malikai Dapana (Maloca
dos Conhecimentos dos Pajés),
localizada às margens do rio Ayari,
no Amazonas. Tal escola foi
construída pelo último grande Pajé-
Onça Baniwa, Seu Mandu, que
desejava perpetuar os ensinamentos
de seu povo – inclusive o respeito
para com o mais perfeito dos seres, a
onça. O Pajé-Onça é o estágio mais
avançado de existência terreal.
Denilson Baniwa, artista dessa
mesma nação, afirma que o seu
trabalho é o trabalho de um tradutor:
alguém que caminha por diferentes
mundos e se coloca “à disposição
desse ser ancestral para contar os
ciclos de fim de mundo que já
existiram e que podem voltar a
existir se a gente não tomar
cuidado.”

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24 Malikai Dapana: A fantasia da ala mistura Ala dos Direção de


Escola de Pajés elementos indígenas de teor futurista Adolescentes Carnaval
com referências explícitas ao (1988)
universo escolar – caso das mochilas
com caras de onça, outro diálogo
com os traços de Baniwa. Os
adereços de mão sugerem uma
revoada de borboletas-onça
(espécime que realmente existe!),
evocando a proposta de Baniwa de
construir uma escola dentro da
Pinacoteca do Estado de São Paulo:
a Escola Panapaná (coletivo de
borboleta). Onça que ensina, cura e
ocupa tantos espaços!

* Futuro Ancestral Quando artistas como Olinda Grupo de Direção de


Tupinambá e Denilson Baniwa falam Casais Mirins Carnaval
para as novas gerações que o planeta de
já vivenciou ciclos de fim de mundo Mestres-Sala e
(algo miticamente narrado pelos Porta-
antigos Tupinambá, conforme o que Bandeiras
é visto em “Meu destino é ser (1988)
Onça”), eles atentam para a
necessidade de mudar mentalidades
e evitar ainda mais mortes e
destruições. É por isso que muito se
fala, hoje, na construção de um
“Futuro Ancestral”, título de um belo
texto filosófico de Ailton Krenak.

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* Futuro Ancestral O trecho final do ensaio, intitulado Grupo de Direção de


“O coração no ritmo da Terra”, Casais Mirins Carnaval
inspira a concepção das fantasias dos de
casais de Mestre-Sala e Porta- Mestres-Sala e
Bandeiras mirins da Grande Rio, Porta-
crianças e adolescentes cujos Bandeiras
bailados confirmam a perpetuação (1988)
dos valores sambistas e a certeza de
que não se pode construir uma ideia
de futuro sem a valorização dos
saberes ancestrais. As fantasias, de
notável acento “pop”, conversam a
produção artística de Igor Izy, que se
autointitula o “Guardião das Onças”.
A onça é o grande motivo imagético
da produção do jovem artista, que
participa de ações em parques
nacionais e territórios indígenas. A
arte de Izy, marcada pelas cores
fortes e pela proposição de imagens
de um futuro indígena cuja avançada
tecnologia não fere a biodiversidade,
também estampa as bandeiras
desfraldadas na avenida –
manutenção da tradição de convidar
artistas de outros círculos culturais
para a feitura das “bandeiras mirins”,
iniciada no carnaval de 2020. De um
lado, o futuro; do outro, a primeira
bandeira da escola tricolor: a
ancestralidade e a importância de se
conhecer a própria história.

353
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala

25 “Eicobé A última ala do desfile do Comunidade Direção de


Xeramói! Eicobé GRES Acadêmicos do Grande Rio (1988) Carnaval
Xeramói Güé!” – volta ao início de tudo e busca, no
“Viva, meu final do mito Tupinambá restaurado
Avô!” por Alberto Mussa, a ideia de que é
preciso adiar o fim do mundo. Narra
a saga de “Meu destino é ser Onça”
que a disputa entre Maíra e Sumé
permanece, no plano celeste. Jaci,
descendente de Maíra, é perseguida
por Sumé, a estrela Jaguar. Quando
Jaci, a Lua, aparece vermelha... isso
sinaliza uma grande ameaça: o risco
da destruição e da morte. Os
Tupinambá realizavam, então, um
ritual para assustar a onça, batendo
os cajados no chão e gritando
“eicobé xeramói! eicobé xeramói
güé!”, ou seja: “viva, meu avô!”
Saudavam, assim, o Velho Onça,
permitindo que Jaci se regenere e dê
início a um novo ciclo. O mito
poeticamente descreve a
possibilidade da aniquilação de
nosso mundo, o que precisa ser
adiado – outrora, por meio da
antropofagia; hoje, através da luta
coletiva. Ailton Krenak, em “Ideias
para adiar o fim do mundo”, defende
que “tudo é natureza. O cosmos é
natureza”. No mesmo livro, fala que
“cantar, dançar e viver a experiência
mágica de suspender o céu é comum
em muitas tradições.

354
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Gabriel Haddad e Leonardo Bora
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala

25 “Eicobé Suspender o céu é ampliar o Comunidade Direção de


Xeramói! Eicobé nosso horizonte” – um horizonte (1988) Carnaval
Xeramói Güé!” – existencial, eterno. A fantasia é uma
“Viva, meu interpretação carnavalesca para tal
Avô!” visão, evocando as corporeidades
fantásticas dos bate-bolas, seres que
ganham as ruas dessa grande terra
indígena, nos dias suspensos por
Momo. As máscaras, inspiradas em
Baniwa, fazem uma composição
com as capas de folhas, outra
releitura para o manto Tupinambá.
Nos cajados são amarradas as bolas,
que representam justamente a Lua,
vermelha - a presença da ira de
Sumé. Nas saias dos brincantes, sete
diferentes estampas de pelagens de
onças: onça-pintada, suçuarana,
gato-macambira, gato-do-mato
pequeno, gato maracajá, jaguatirica e
gato-do-mato grande.

* Estrela O livro “Meu destino é ser Destaque de Deolane


Vermelha Onça” descreve: “Jaguar é uma Chão / Musa Bezerra
estrela muito vermelha, que quer
devorar a Lua, quando aparece no
fim das chuvas.” A fantasia da musa
é uma interpretação carnavalesca
para tal simbologia: tudo cintila em
vermelho, brilhando estelar no céu
do Sambódromo.

355
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Fantasias

Local do Atelier
Rua Rivadávia Corrêa, nº. 60 – Barracão nº. 04 – Gamboa – Rio de Janeiro – Cidade do Samba
Diretor Responsável pelo Atelier
Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Costureiro(a) Chefe de Equipe Chapeleiro(a) Chefe de Equipe
Bruno César, Carla Vanessa e Nete Cândido. Bruno César, Nete, Camila, Paulo César, Rafael,
(Protótipos das Fantasias – Rogério Santini) Jorginho, Wellington, Márcio, Denis, Ingrid,
Samuel Abrantes, Marcio Paulino, Andréia,
Sonia, Julio, Ágatha, Thuane, Alessandra,
Oficina Grande Rio.
Aderecista Chefe de Equipe Sapateiro(a) Chefe de Equipe
Bruno César, Nete, Camila, Paulo César, Rafael, José Francisco
Jorginho, Wellington, Márcio, Denis, Glauber,
Andréia, Sonia, Julio, Ágatha, Thuane,
Alessandra, Oficina Grande Rio (Desirée,
André, Flávio, Gamba)
Outros Profissionais e Respectivas Funções
Patryck Thomaz, Rafael Gonçalves, Renato - Equipe de criação artística e assistentes dos
Esteves, Sophia Chueke e Theo Neves carnavalescos

Diego Andrade e Nayra Nascimento - Gestão de Barracão

Vaninha, João e Leo - Compras e Almoxarifado

Almir - Arames

Chiquinho e Alex - Espuma

Matheus - Placas de Acetato / EVA

Gilmar Moreira e Rafael Vieira - Pintura de Arte

Bruno Negromonte - Vime

Glenda, Sidinei, Suellen e Aran - Laser e router


Outras informações julgadas necessárias

Outros aderecistas que merecem destaque na criação do Carnaval da Grande Rio: Edemilson
Rodrigues, Leandra Belmiro, Lucas Corassa, Alan Nóbrega, Yasmin, Anahi, Marina, Éverton e
Joana D’Arc.

356
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Autor(es) do Samba-Enredo Derê, Marcelinho Júnior, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Tony
Vietnã e Eduardo Queiroz
Presidente da Ala dos Compositores
Licinho Junior
Total de Componentes da Compositor mais idoso Compositor mais jovem
Ala dos Compositores (Nome e Idade) (Nome e Idade)
70 (setenta) Isabel Fonseca (75 anos) Arlindinho Cruz (32 anos)
Outras informações julgadas necessárias

Trovejou, escureceu!
O Velho Onça, senhor da criação
É homem-fera, é brilho celeste
Devora e se veste de constelação
Tudo acaba em fogaréu
E depois transborda em mar
A terceira humanidade Cuaraci vem clarear
Ê, Sumé, nas garras da sua ira
Enfrentou Maíra, tanto perseguiu!
Seus herdeiros vivem essa guerra
Povoando a Terra
A voz Tupinambá rugiu:

É preta, parda, é pintada, feita a mão


Suçuarana no sertão que vem e vai
Maracajá, jaguatirica ou jaguar
É jaguarana, Onça Grande, mãe e pai
(Onça Grande, mãe e pai...)

Yawalapiti, Pankararu, Apinajé


O ritual Araweté, a flecha de Kamaiurá
No tempo que pinta a pedra, pajelança encantada
Onça-loba coroada na memória popular
Kiô! Kiô, kiô, kiô, Kiera...
É cabocla, é mão-torta
Pé-de-boi que o chão recorta
Travestida de pantera
Kiô! Kiô, kiô, kiô, Kiera...
A folia em reverência
Onde a arte é resistência
Sou Caxias, bicho-fera!

Werá werá auê, nauru werá auê!


A “Aldeia Grande Rio” ganha a rua
No meu destino a eternidade
Traz no manto a liberdade...
Enquanto a onça não comer a Lua!

357
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Outras informações julgadas necessárias

DEFESA DO SAMBA-ENREDO

O samba de 2024 do GRES Acadêmicos do Grande Rio apresenta letra e melodias valentes,
como o enredo “Nosso destino é ser Onça” pediu desde o primeiro momento em que a sinopse foi
lida na quadra da Tricolor de Caxias. Todo enredo de escola de samba possui o seu espírito, a sua
aura. Nesse caso, trata-se de uma narrativa mítica, de acordes épicos e lendários; uma saga que fala
de transformação, devoração, eternidade e poder. Força, garra, grito. Queixo alto, dentes à mostra.
Tudo isso é perceptível na proposição poética dos compositores, um samba interpretativo e sinuoso,
que percorre trilhas de inusitadas criatividade e potência - conforme se depreende das explicações
abaixo:

Trovejou, escureceu!
O Velho Onça, senhor da criação
É homem-fera, é brilho celeste
Devora e se veste de constelação

O trecho nos convida a viajar para o início do mito Tupinambá restaurado pelo escritor
Alberto Mussa, centro do livro “Meu destino é ser Onça”. Conta a narrativa mítica que o mundo e
os seres humanos foram criados pelo Velho, divindade ancestral que se transforma na primeira
constelação, Túibae. Não havia sol: a escuridão imperava e envolvia o Velho em mistério. Por deter
os poderes da criação e da destruição, o Velho se confunde com a Onça, o ser mais perfeito e
poderoso que existe, o topo da cadeia alimentar, aquele que tudo e todos devora.

Tudo acaba em fogaréu


E depois transborda em mar
A terceira humanidade Cuaraci vem clarear

Este fragmento descreve a destruição do mundo por obra do próprio criador, que, desiludido
com os homens, aniquilou a vida terrena em um incêndio gigantesco. Para apagar o fogo, criou
Tupã e fez cair um enorme aguaceiro – a origem dos oceanos. Estamos falando de um tempo mítico,
época em que seres humanos e criaturas fantásticas conviviam e podiam acessar a Terra-sem-mal.
O surgimento do Sol, Cuaraci (guerreiro outrora chamado Poxi, que vai morar no céu e ganha de
presente do filho, Guapicara, um enorme cocar de fogo), ilumina o mundo e abre caminhos para a
terceira humanidade, depois de disputas e batalhas épicas: a origem dos rituais antropofágicos.

358
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Outras informações julgadas necessárias

Ê, Sumé, nas garras da sua ira


Enfrentou Maíra, tanto perseguiu!
Seus herdeiros vivem essa guerra
Povoando a Terra
A voz Tupinambá rugiu:

O mito Tupinambá, cuja voz ruge em nosso samba, descreve as disputas travadas entre
Maíra, herói civilizador ligado ao trabalho e ao cultivo do solo, e Sumé, guerreiro e feiticeiro que
detinha o poder de se transformar em onça e expressava os valores da guerra (daí a opção pela
palavra “ira” e a referência às “garras”). Os herdeiros de Maíra e Sumé (respectivamente,
Tamanduaré e Guaricuité) deram seguimento aos conflitos, cujas raízes são a origem dos rituais
antropofágicos. Passado o tempo mítico dos grandes caraíbas (pajés muito poderosos, que detinham
os segredos das transformações), a humanidade se viu distante da Terra-sem-mal. Para acessar tal
lugar desejado e se comunicar com os antepassados, era preciso ritualizar – a antropofagia, ritual
de transformação em onça.

É preta, parda, é pintada, feita a mão


Suçuarana no sertão que vem e vai
Maracajá, jaguatirica ou jaguar
É jaguarana, Onça Grande, mãe e pai

O refrão de meio do samba começa a desdobrar o mito Tupinambá narrado em “Meu destino
é ser Onça”, mostrando que, no Brasil, todos temos uma onça como guia e vigia, seja ela do tipo
que for. Diferentes povos indígenas americanos cultuaram a onça (também chamada de jaguar), ao
longo dos séculos, enquanto símbolo de poder, transformação, força, perfeição. Esculpiram e
pintaram feras, ergueram templos em seu louvor. Os rituais xamânicos dos povos originários
brasileiros e de outros territórios ameríndios conectam homens e deuses e promovem a
transformação em onça, que, na visão poética do enredo e dos compositores, é mãe e pai dessa terra
tão vasta e tão resistente. O trecho apresenta a diversidade da ideia de onça (uma vez que o enredo
não se restringe à onça-pintada) e já antecipa os passeios pelo mítico sertão (o “vem e vai”).

Yawalapiti, Pankararu, Apinajé


O ritual Araweté, a flecha de Kamaiurá

A diversidade dos povos indígenas brasileiros expressa a riqueza da nossa terra, sendo que
a onça é personagem central de lendas e narrativas míticas de todas as nações originárias. O
fragmento saúda alguns dos povos elencados na sinopse (cujas histórias envolvendo onças foram
consultadas para a pesquisa do enredo e diluídas no desenvolvimento dele), merecendo destaque a
menção ao ritual Araweté, também poetizado no samba de enredo da Grande Rio de 2008 (o que
não deixa de expressar um diálogo com a memória afetiva da própria escola).

359
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Outras informações julgadas necessárias

No tempo que pinta a pedra, pajelança encantada


Onça-loba coroada na memória popular

O trecho sintetiza dois momentos do desfile, quais sejam: aquele que destaca a forte presença
de onças e de suas simbologias em rituais religiosos afro-indígenas, como pajelanças e encantarias
(onças que baixam e dançam em terreiros, onças encantadas e cantadas por versadores); e aquele
que narra a construção de um império sertanejo, no “Romance d’A Pedra do Reino”, de Ariano
Suassuna, pedra angular do Movimento Armorial – Império este que foi amamentado por uma onça,
numa evidente ressignificação da mítica história da fundação de Roma, quando os gêmeos Rômulo
e Remo foram amamentados por uma loba. A onça vira emblema real, nessa corte sertaneja: entre
brasões e coroas, o rugido da nobreza mestiça.

Kiô! Kiô, kiô, kiô kiera...


É cabocla, é mão-torta
Pé-de-boi que o chão recorta
Travestida de pantera

Como em demais fragmentos do samba, a poética dos compositores propõe um “vem e vai”,
costurando de maneira rica e não-óbvia elementos presentes na sequência do enredo.
Antropofagicamente, a letra de um samba de enredo devora e incorpora os pontos cantados para
caboclos, nas giras de Umbanda e Candomblé: daí o porquê de “Kiô! Kiô, kiô, kiô kiera...”,
momento extremamente poderoso da composição. O trecho menciona onças lendárias do
imaginário folclórico brasileiro, como a onça cabocla, a onça da mão-torta e a onça pé-de-boi,
inseridas no “chão recortado” dos sertões do Brasil profundo. Por fim, antecipa o final e poetiza o
“tornar-se outro” e “tornar-se onça” da luta de pessoas lgbtqiapn+, panteras que se insurgem e
rasgam os preconceitos.

Kiô! Kiô, kiô, kiera...


A folia em reverência
Onde a arte é resistência
Sou Caxias, bicho-fera!

Novamente exaltando o nosso Brasil caboclo, terra indígena em cujas veias corre sangue de
onça, o fragmento faz referência à incorporação de onças pelas folias brasileiras – manifestações
festivas, como o próprio carnaval, onde é possível devorar outras identidades, transformando-se em
fera. Ainda, direciona os nossos olhares para o final da narrativa do enredo, quando a ação de artistas
indígenas contemporâneos coloca a onça em posição de centralidade, valendo-se desse símbolo
enquanto mensagem de luta em defesa da demarcação de terras e da construção de um futuro
ancestral. A transformação sugerida no início, quando o “homem-fera” (o Velho) é exaltado, se
completa: cada componente da Grande Rio brada que virou onça, guerreiro cujo samba (no pé e na
garganta) é capaz de mudar o mundo.

360
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Outras informações julgadas necessárias

Werá werá auê, nauru werá auê!


A “Aldeia Grande Rio” ganha a rua

O início do “refrão de cabeça” do samba poeticamente dialoga com variantes do tupi antigo
e conclama os componentes da escola para um canto de luta! Em livre tradução, a expressão “Werá
werá auê, nauru werá auê!” pode ser entendida como “guerreiro e guardião com asas”, uma
saudação ao espírito dos antigos guerreiros da nação Tupinambá, guardiões indígenas que vestiam
mantos de penas durante os rituais. Estes mantos simbolicamente elevavam os guerreiros ao céu,
durante os rituais de transformação em onça. O imaginário celeste aparece tanto no início quanto
no final do desfile, tamanha a sua importância (além da ideia de circularidade). O trecho saúda a
Grande Rio enquanto “aldeia”, corpo coletivo que ganha a rua e celebra as nossas raízes.

No meu destino a eternidade


Traz no manto a liberdade...
Enquanto a Onça não comer a Lua!

A segunda metade do “refrão de cabeça” dialoga explicitamente com o final do mito


Tupinambá restaurado por Alberto Mussa, em “Meu destino é ser Onça”, quando o autor escreve:
“Mas nós, que somos fortes, não tememos. Por isso continuamos matando e comendo inimigos.
Enquanto a onça não comer a Lua.” Narra o mito que Sumé, transformado na estrela Jaguar,
permanece a perseguir Jaci, a Lua (descendente de Maíra, que derrotou uma aldeia de jaguares), no
plano celeste. Se a Lua for comida por Sumé, o mundo será novamente destruído. Para adiar o fim
do mundo, ritualizamos e nos transformamos em onça! Buscamos a eternidade do tempo mítico e
do plano cósmico, saudando, ainda, o retorno do primeiro dos mantos Tupinambá roubados pela
Europa ao Brasil – o culminar da epopeia transformada em desfile, quando todo brasileiro se
transforma em onça e canta ao mundo que bravamente faz carnaval!

361
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Bateria

Diretor Geral de Bateria


Fabrício Machado (Mestre Fafá)
Outros Diretores de Bateria
Presidente de Honra da Bateria: Do Gás; Laelcio Magé, Thales, Rogério, Vitor Medeiros, Vitor
Machado, Wallace, Jackson, Saleiro, Clewinho, Diogo (Jow) e Roberta.
Total de Componentes da Bateria
270
NÚMERO DE COMPONENTES POR GRUPO DE INSTRUMENTOS
1ª Marcação 2ª Marcação 3ª Marcação Reco-Reco Ganzá
12 12 14 - -
Caixa Tarol Tamborim Tan-Tan Repinique
90 - 36 - 34
Prato Agogô Cuíca Pandeiro Chocalho
- 24 24 - 24
Outras informações julgadas necessárias

OBS: Para que haja uma integração entre parte do enredo de 2024 e nossa bateria, Mestre Fafá
desenvolveu uma paradinha em que são utilizados 8 (oito) triângulos e 2 (dois) timbais.

Sobre a bateria do G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio

Mesmo sendo a escola mais nova do Grupo Especial, a Grande Rio possui uma das baterias mais
expressivas do carnaval carioca. E foi com menos de 10 anos, em 1996, que recebeu seu primeiro
Estandarte de Ouro, sob a batuta de Mestre Mauricio. Mas foi com a cadência e a famosa “conversa de
instrumentos”, características em suas bossas, que o Mestre Odilon fez com que a nossa bateria figurasse
de vez entre as melhores do carnaval. Dos 12 desfiles sob sua regência, a bateria obteve nota máxima
em 9 carnavais, além de conquistar mais dois Estandartes de Ouro, nos anos de 1999 e 2005.Com a
saída de Mestre Odilon, a bateria da Grande Rio passou a ser comandada por outro grande nome do
carnaval: Mestre Ciça. E foi o ritmo aguerrido e a ousadia de Ciça que fizeram com que a bateria tricolor
passasse a ser conhecida como “Bateria Invocada”. Com a saída do mestre Ciça, o comando dos
ritmistas ficou a cargo do Mestre Thiago Diogo, que com sua técnica e musicalidade alcançou alguns
resultados positivos para a escola. Estreando em 2019, o jovem mestre Fabricio Machado, o Fafá,
comandou um resgate das características da bateria da Grande Rio dos tempos de Odilon, baseando seu
trabalho em um ritmo mais cadenciado, permitindo uma melhor execução no toque de cada instrumento
e suas respectivas acentuações.
Como resultado, a bateria obteve a nota 40 e alguns importantes prêmios do carnaval, dentre eles,
o Estandarte de Ouro, o quarto da escola para este quesito. No carnaval de 2020, mestre Fafá deu
continuidade ao Projeto de Percussão, que no ano anterior dera grandes frutos, além de ter valorizado
na avenida a manutenção do ritmo e o trabalho específico em cada naipe, o que lhe rendera a nota
máxima no desfile. Em 2022, ano em que a escola alcançou o tão esperado título do Grupo Especial, a
bateria obteve a nota máxima de todos os jurados, além do Estandarte de Ouro de Melhor Bateria do
Grupo Especial. No carnaval de 2023, mais uma vez a excelência pairou sobre a cadência da bateria
comandada por Mestre Fafá, resultando em nota máxima no julgamento.

362
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Bateria

Outras informações julgadas necessárias

Mestre Fafá

Em quatro anos à frente da bateria, Mestre Fafá garantiu, junto aos seus ritmistas, as notas
máximas no quesito que defendem. Além de um resgate rítmico da bateria da Grande Rio, Mestre
Fafá criou um estilo próprio de apresentação aos julgadores, explicando tudo que será executado
pela bateria. Na sua estreia, em 2019, além da nota máxima de todos os jurados, a bateria da Grande
Rio conseguiu diversos prêmios dados pela imprensa especializada, dentre eles o Estandarte de
Ouro de Melhor Bateria. No ano seguinte, em sua segunda passagem como mestre pela avenida,
conquistou mais uma vez a nota máxima, ajudando a escola a conquistar o vice-campeonato do
Grupo Especial. Após um ano sem desfiles, os ensaios se intensificaram, focando principalmente
na manutenção rítmica, com a realização de ensaios específicos com cada naipe, além do trabalho
em conjunto com toda a bateria de equalização e manutenção de andamento.
Mestre Fafá tem como características principais um ritmo cadenciado e equalizado, assim a
bateria da Grande Rio consegue uma melhor execução no toque de cada instrumento, e na
finalização das Bossas, além de alcançar suas respectivas acentuações. Em 2022, alcançou,
novamente, a nota máxima - e contribuiu para a vitória inédita da escola no Grupo Especial do
carnaval carioca.
Para o Carnaval de 2024, mais uma vez, a bateria da Grande Rio trará bossas que têm como
principais características o respeito à melodia e à métrica do samba, sem deixar de valorizar o
diálogo entre todos os instrumentos.

Rainha da Bateria: Paolla Oliveira


Fantasia: Transformação: “Nosso destino é ser Onça”
A fantasia da Rainha de Bateria, Paolla Oliveira, traduz o ponto central do enredo: a
possibilidade de se transformar em onça, o ser mais perfeito que existe, aquele que tudo devora.
Nas raízes dos rituais antropofágicos de outrora, tal desejo foi compartilhado por povos de
diferentes territórios da América e continua a mexer com o nosso imaginário. Transformada em
onça, a Rainha reluz, arranha o asfalto e prova que toda mulher brasileira é uma guerreira poderosa.

363
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Harmonia

Diretor Geral de Harmonia


Andrezinho, Cacá Santos, Clayton Bola e Jefferson Guimarães
Outros Diretores de Harmonia
Wilson, Guilherme, Genivaldo, Ailton, Andressa, Leandro, Igor, Peixe, Geraldo, Diego, Jorginho,
Tito, Fabio, Rochelle, Chico, Sintia, Clayton, Germano, Thatyane, Mazinha, Limão, Sr. Cosme,
Rose, Adilson, Luiz Carlos, Paulo Roberto, Jorge, Bernadete, Ricardo, Tatu, Joyce, Torrada, Valdir,
Sapo, Renata, Zumar, Fabio, Wellington, Pastinha, Batata, Daniella, Roberta e Jorge.
Total de Componentes da Direção de Harmonia
60 (sessenta) componentes
Puxador(es) do Samba-Enredo
Evandro Malandro
Instrumentistas Acompanhantes do Samba-Enredo
Violão sete cordas - Jorge Luiz Porto Naymaier
Cavaco solo - Marcos Vinícius S. B. Torres
Afinação de Bandolim - Ben Hur Félix Duarte

Cantores: Chalana Cristina Saleiro, Ruan Paiva, Carlos Antônio Figueira, Thiago Alberto de
Oliveira, Amilton Abreu do Nascimento, Ricardo Augusto S. Guimarães e Diego Nascimento
Outras informações julgadas necessárias

Direção de Harmonia
Para que o desfile de 2024 da Grande Rio seja realizado de maneira harmônica, integrando a
tríade “ritmo, canto e dança”, o Departamento de Harmonia, formado pelos diretores Andrezinho,
Cacá Santos, Clayton Bola e Jefferson Guimarães, supervisionado pelo Diretor de Carnaval Thiago
Monteiro, irá valorizar e reforçar ainda mais a participação da comunidade da cidade de Duque de
Caxias no desfile. Com a escolha de um enredo festejado pelos componentes da escola, foi preciso
intensificar o trabalho, destinando vagas em todas as alas para a participação dos distritos e bairros
do município e fazendo com que os quatro macros distritos existentes na região estivessem
presentes, unidos, defendendo o samba da escola. Ensaios nessas comunidades também foram
realizados semanalmente, desde agosto de 2023, objetivando a maior integração da escola com a
sua cidade. A Grande Rio ainda conta com um grupo de 60 diretores de harmonia auxiliares e 60
diretores do Departamento de Carnaval que têm a orientação para fazer com que cada componente
saiba que está desempenhando um papel relevante no desfile, defendendo as notas dos seus quesitos
através do canto forte e apresentação solta e leve.
O cuidado musical é um dos pilares do trabalho da Harmonia. Aliar as variações melódicas
do samba de 2024 com o andamento da bateria, a interpretação dos cantores e o arranjo musical é
essencial para permitir que o componente evolua de maneira confortável. E isso só foi possível
através de inúmeras reuniões entre os integrantes do carro de som e bateria, ensaios semanais
iniciados em agosto e intensificados em dezembro com os ensaios técnicos realizados na rua. A
escola foi exaustivamente preparada para o desfile.

364
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Harmonia

Outras informações julgadas necessárias

Evandro Malandro

Evandro dos Santos (44 anos) nasceu em Nova Friburgo e teve sua iniciação musical aos 9
anos de idade. Tornou-se instrumentista, dominando instrumentos como saxofone, flauta-
transversal, bateria, entre outros. Começou sua trajetória musical em escolas de samba da cidade de
Nova Friburgo em 2002, nas quais desempenhou distintas funções, desde cavaquinista a intérprete
oficial, ao longo de 10 anos de trajetória. Tendo sua capacidade reconhecida, cruzou fronteiras e
estreou no Carnaval carioca como cantor de apoio de Luizinho Andanças, na Porto da Pedra, no
ano de 2009. Neste ano, também fez parte do carro de som da Renascer de Jacarepaguá. Em 2010,
cantou com Dominguinhos do Estácio, na Imperatriz Leopoldinense, e, em 2011, voltou a compor
o quadro de cantores da Porto da Pedra. Como cantor principal, defendeu a Imperador do Ipiranga,
escola do grupo de acesso Paulista, no ano de 2012 e 2013.
Nos mesmos anos, foi o responsável pelo microfone principal da Apoteose do Samba em
Uruguaiana-RS, cidade onde ficou conhecido por sua passagem como cantor Oficial na escola
Bambas da Alegria nos anos de 2011 e 2012 , no decorrer dos anos e trabalhos em passagens pelas
escolas foi campeão na Escola de Samba Deu Chucha na Zebra (Uruguaiana - RS) sagrando-se
Melhor Intérprete do carnaval Uruguaianense em 2023 . No ano de 2013, assumiu como intérprete
oficial, juntamente com Diego Nicolau, na Renascer de Jacarepaguá. Em sua passagem por essa
agremiação, ganhou um Estandarte de Ouro. Ficaram juntos até 2017. Em 2018, seguiu para o
Acadêmicos do Cubango para ser o cantor principal onde também foi estandarte de Ouro.
No Acadêmicos do Grande Rio, foi cantor de apoio de Emerson Dias de 2014 a 2018. Pelo
seu talento e dedicação à escola, alcançou o microfone principal em 2019. Fez preparação intensa
para ocupar este posto e aperfeiçoar seu dom inato, com sessões de fonoaudiologia e preparação
vocal musical, tudo para que o seu desempenho na Avenida como intérprete oficial da Grande Rio
fosse o momento mais brilhante de sua carreira. No carnaval de 2020 conquistou diversos prêmios,
incluindo o Estandarte de Ouro de Melhor Intérprete do ano, o que ajudou a escola conquistar
também outros dois Estandartes de Ouro, o de Melhor Escola e Melhor Samba-Enredo, além de ter
comandado o canto e o carro de som na avenida de maneira segura e vibrante, o que auxiliou na
nota máxima em harmonia e no vice-campeonato na disputa oficial. No carnaval de 2022 foi um
dos responsáveis pela brilhante apresentação da escola, conduzindo de maneira arrebatadora o carro
de som no primeiro campeonato da Grande Rio. Em 2023, foi diretor musical da exposição “Laroyê,
Grande Rio”, aberta no Museu de Arte do Rio – MAR.

365
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Evolução

Diretor Geral de Evolução


Thiago Monteiro
Outros Diretores de Evolução
Jorge Bento, Luzimar, Marinaldo, Miltinho, Silvano, Anita, Anderon, Vandete, Renato, Jander,
Madalena, Paulo R., Marile, Regina, Lena, Naeli, Gilberto F., Dario, Zana, Antônia, José Carlos,
Delza, Vera Lucia, Harley, Tavares M, M. Helena, Nilza, Marly, Vicente, Aroldo Brito, Rosangela,
Janifer, Malu, Paulo Apoc, Fatima Apoc, Sandra, Jacaré, Mônica, Moniquinha, P. Naval, Dica,
Edmeia, Café, João C, Jailson, Luis R. Ostras, Licinho, Luis Alberto, Edilcilene, Cafu, Walber,
Reni, Karen, Paulo 10, Chiquinho, Aroldo P, Luzinete, Alessandra, Eva, Baiano, Silvano.
Total de Componentes da Direção de Evolução
60 (sessenta) componentes
Principais Passistas Femininos
Luciene Santinha, Lara Perácio, Andressa, Camila Mendes (Camilão), Camila Machado (Cá
Trovão), Maria de Fátima, Ariele, Rayssa, Victória, Thaiane Gabriella, Juliana Santos e Elizabeth
Borges.
Principais Passistas Masculinos
Wellington Szaniesck, Yago Sensação, Marcos Vinicius Costa, Cleiton Marques, Jepherson Alves,
Igor Santos, Tiago Soares, Rei Rodrigo, Hiago Malandrinho e Sérginho Sambista
Outras informações julgadas necessárias
Fazer o componente se divertir na Sapucaí sem esquecer que o mesmo desempenhe seu papel
na construção de um desfile competitivo é o principal objetivo da Direção de Harmonia e Evolução
da Grande Rio. A apresentação da escola precisa acontecer de forma fluida e solta e, por esse
motivo, a escola foi preparada para que cada componente simplesmente se “solte” no desfile. Isso
não significa que as alas performáticas ou coreografadas, existentes no corpo da escola, estejam
alheias a esta metodologia, pelo contrário, em algumas situações o tema necessita ser retratado e
defendido através de caracterização específica, sempre em sintonia com ritmo do samba e o
andamento da bateria. A Grande Rio, em 2024, pretende realizar um desfile de Escola de Samba
incentivando a evolução, começando pelos segmentos tradicionais, como a ala de baianas, sua
elegante galeria da velha-guarda, a arte do samba no pé em sua essência através do requebrado da
ala de passistas e o comprometimento das alas de comunidade. Traremos ainda uma tradição do
Carnaval, esquecida pelo tempo, do grupo de passistas “pandeiristas” (4 homens e 6 mulheres),
responsável por trazer mais samba no pé com a malandragem própria dos primórdios das nossas
escolas de samba.

Ala de Passistas
Coordenadores da Ala de Passistas – Marisa Furacão e Avelino Ribeiro
Na Grande Rio, escola que guarda de forma cara a tradição do samba na sua maior essência,
a premiada ala de passistas, detentora de seis prêmios Estandarte de Ouro, requer atenção especial.
Com ensaios iniciados em maio, a exigência principal para que um homem ou mulher se torne
membro do seleto grupo de passistas da Grande Rio é deter a arte do samba no pé com garbo e
elegância. Sob essa perspectiva, a pessoa, para ser passista, precisa “dizer no pé”, como as
cabrochas e os malandros de outrora tão bem ensinaram às gerações futuras!

366
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Informações Complementares

Vice-Presidente de Carnaval
-
Diretor Geral de Carnaval
Thiago Monteiro
Outros Diretores de Carnaval
-
Responsável pela Ala das Crianças
Daniela, Roberta e Gesmar
Total de Componentes da Quantidade de Meninas Quantidade de Meninos
Ala das Crianças
70 (setenta) 35 (trinta e cinco) 35 (trinta e cinco)
Responsável pela Ala das Baianas
Marilene dos Anjos
Total de Componentes da Baiana mais Idosa Baiana mais Jovem
Ala das Baianas (Nome e Idade) (Nome e Idade)
70 (setenta) Dalva Ignácia das Dores (84 Fabiana de Paula da Silva
anos) Ferreira (42 anos)
Responsável pela Velha-Guarda
Pedrinho Naval
Total de Componentes da Componente mais Idoso Componente mais Jovem
Velha-Guarda (Nome e Idade) (Nome e Idade)
85 (oitenta e cinco) na ala e 16 Amaury Silva Dos Santos (89 Claudia Maria Bertolino De
(dezesseis) na Alegoria 4 anos) Souza (53 anos)
Pessoas Notáveis que desfilam na Agremiação (Artistas, Esportistas, Políticos, etc.)
Paolla Oliveira, Xamã, Uhura Bqueer, David Brazil, Mileide Mihaile, Adriana Bombom, Samile
Cunha, Deolane Bezerra, Uýra Sodoma, Celia Tupinambá, Mell Muzillo e Demerson D’Álvaro.
Outras informações julgadas necessárias

Thiago Monteiro
Trazendo em suas bagagens os títulos e as passagens vitoriosas por escolas como Unidos da
Tijuca, Império da Tijuca, Paraíso do Tuiuti e outras, acumula inúmeros resultados positivos ao
longo de sua carreira. Amante do Carnaval desde seus 5 anos de idade, iniciou sua trajetória na
Unidos da Tijuca como diretor de Harmonia, participou ativamente dos títulos da escola do Borel
em 2010 e 2012. No Império da Tijuca exerceu a função de Diretor de Carnaval em 2013, sagrando-
se Campeão da Série A. Thiago Monteiro, está em sua segunda passagem na Grande Rio, em sua
primeira passagem pela escola exerceu a função de Diretor Geral de Harmonia (2014, 2015 e 2016),
sempre alcançando as notas máximas nos quesitos de chão. Exerceu a função de Diretor de Carnaval
da LIERJ (Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) em 2017 e 2018, responsável pela
organização e realização do Carnaval da Série A. Também em 2018, na função de Diretor de
Carnaval do Paraíso do Tuiuti, alcançou o feito de levar a escola ao segundo lugar do Grupo
Especial, contrariando expectativas de público e crítica e consolidando seu nome na história do
Carnaval.

367
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Informações Complementares

Outras informações julgadas necessárias

Thiago Monteiro (continuação)

Dessa forma, foi convidado a retornar à Grande Rio, em 2019, escola de samba que tão bem
conhece e onde é querido por todos, atuando na função de Diretor de Carnaval, onde em 2020 foi
vice-campeão do Carnaval. Além disso, recebeu diversos prêmios conferidos pela imprensa
especializada e foi reconhecido como um dos maiores responsáveis pelas recentes mudanças
ocorridas na forma de desfilar da tricolor de Caxias e da escola de São Cristóvão (Paraíso do Tuiuti),
nos últimos anos. Também é coautor do livro “Harmonia de Escola de Samba – Teoria e Prática”
da editora Litieris. Administrador de formação, pós-graduado em Auditoria, Thiago, em sua
metodologia de trabalho, procura aliar técnica, concentração e organização à forma leve e dinâmica
com a qual uma escola de samba deve se preparar para seu desfile. Foi campeão na direção de
carnaval pelo carnaval de 2022, no qual recebeu inúmeros prêmios, dentre os quais está o Estandarte
de Ouro de Melhor Escola (também recebido em 2013 e 2020). Para o Carnaval de 2024, o Diretor
possui um fluxo de trabalho incessante, minucioso e incansável de preparação para o desfile em
cada detalhe da maneira como a Grande Rio se apresentará na Avenida.

368
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Comissão de Frente

Responsável pela Comissão de Frente


Beth Bejani e Hélio Bejani
Coreógrafo(a) e Diretor(a)
Beth Bejani e Hélio Bejani
Total de Componentes da Componentes Femininos Componentes Masculinos
Comissão de Frente
15 (quinze) 3 (três) 12 (doze)
Outras informações julgadas necessárias

Representação da Comissão de Frente

Nome: CÉU DE PEDRA: CRIAÇÃO E CONSTELAÇÃO


“Trovejou, escureceu!” A Comissão de Frente do GRES Acadêmicos do Grande Rio convida
a Avenida a viajar para tempos míticos, imemoriais, quando, segundo o imaginário Tupinambá, “o
universo era provavelmente muito escuro”. Narra o livro de Alberto Mussa, “Meu destino é ser
Onça”, que, no início de tudo, reinava o mistério em meio ao caos. Morcegos ancestrais bateram as
suas asas (“negras e eternas”) e surgiu o Velho, criador do mundo.
Os morcegos eram venerados enquanto guardiões das artes, uma vez que habitavam as
cavernas coloridas por pinturas. Seguindo o seu desejo e demonstrando o seu poder, o Velho criou
o céu – “e o céu foi feito de pedra”, simbolismo representado no elemento cenográfico de apoio.
Também coube ao Velho dar vida aos homens e inflar em cada ser vivente o espírito de luta e
transformação.
Despidos de suas asas e munidos de força e coragem, os valentes guerreiros da nação
Tupinambá empreendem um ritual mágico, a fim de venerar o seu ancestral divino e, no clímax da
apresentação, acordar e celebrar a grande onça celeste, divindade que se confunde com o próprio
criador e cintila em meio às constelações. Narra o mito que o Velho se transforma em constelação
– daí a crença Tupinambá de que todos somos poeira cósmica, estrelas, seres iluminados que
vagueiam pelo infinito.

Sobre os Coreógrafos da Comissão de Frente

Hélio Bejani

Iniciou carreira artística como músico profissional tocando trompete, em Piracicaba (SP),
cidade onde nasceu. Ingressou para o ballet na cidade de Campinas (SP), cursando o Método da
ROYAL ACADEMY OF DANCING, onde trabalhou no Corpo de Baile Lina Penteado sob a
Direção Artística de Addy Addor e Cleusa Fernandes. Através de concurso oficial, ingressou para
o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1985, onde atuou como solista e
bailarino principal nas suas principais montagens. Ganhou o Prêmio Tadeu Morozowicz como
melhor Bailarino Clássico no VIII Concurso de Ballet e Coreografia realizado pelo Conselho
Brasileiro da Dança. Foi partner da bailarina Ana Botafogo, para quem atualmente realiza trabalhos
coreográficos.

369
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Comissão de Frente

Outras informações julgadas necessárias

Sobre os Coreógrafos da Comissão de Frente (continuação)

Dançou e coreografou também para os mais renomados grupos e escolas do Rio de Janeiro:
Escola de Danças Maria Olenewa, Associação de Ballet do Rio de Janeiro, Stúdio 88, Escola de
Dança Alice Arja, Escola de Danças Spinelli, Stúdio Bertha Rosanova, Cia Versátil de Dança, Rio
Ballet, Ballet Dalal Achcar, Centro de Danças Johnny Franklin, Cia Brasileira de Danças e Ballet
da Cidade de Niterói. Foi premiado nos principais concursos e mostras de dança no Brasil.Com sua
própria remontagem, realizou os espetáculos “A Bela Adormecida” e “Coppélia”, no Teatro Sesi
Rio. Coreografou e dirigiu o espetáculo “MADE IN CORAÇÃO”, realizado no Espaço Cultural
FINEP e no Teatro Cacilda Becker, com participação dos bailarinos do Theatro Municipal do Rio
de Janeiro, que lhe valeu o Prêmio de melhor Diretor de Grupo de 1999, outorgado pela revista
“Você e a Dança” (SP). Dirigiu e coreografou o espetáculo “Descobrimento do Brasil”,
comemorativo aos 500 anos, na cidade de Fortaleza - CE, no Teatro José de Alencar. (2000). Como
docente, foi professor convidado da Cia de Ballet da Cidade de Niterói. (2001/2002), professor de
nível técnico no Centro de Danças Johnny Franklin e professor convidado da Cia. Deborah Colker.
No Theatro Municipal do Rio de Janeiro, foi Assistente de Direção e Ensaiador do Corpo de Baile
na Direção de Dalal Achcar (2000/2001), coordenador do Corpo Artístico na Orquestra Sinfônica
(2003 a 2006), coordenador do Corpo Artístico no Corpo de Baile (2007 a 2008), Diretor Artístico
do Corpo de Baile (2009 a 2013) e Chefe da Divisão de Dança (2014 a 2015). Atualmente é Diretor
da Escola de Dança Maria Olenewa do mesmo TMRJ, Diretor do Ballet do TMRJ e Diretor Geral
do Ballet Escola Maria Olenewa, local onde, em seu primeiro ano, já realizou o ballet completo
“Giselle”, em temporada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e o Ballet “O Lago Dos Cisnes”,
para a abertura do Festival de Joinville, em 2018. No Carnaval, foi coreógrafo da Comissão de
Frente do Acadêmicos do Salgueiro entre os anos de 2008 e 2018, no Grupo Especial, e, no ano de
2019, assumiu a comissão de frente da Acadêmicos do Grande Rio. Já foi premiado com 3
Estandartes de Ouro, sendo 2 de melhor comissão de frente e 1 de inovação. No carnaval de 2020,
apresentou, ao lado de Beth Bejani, uma das comissões mais aclamadas do ano, conquistando
pontuação máxima e alcançando o vicecampeonato com a escola. Alcançando novamente a
pontuação máxima dos jurados, auxiliou a Grande Rio a buscar o seu primeiro campeonato, no
carnaval de 2022.

Beth Bejani

Iniciou seus estudos de dança clássica no Centro de Danças Johnny Franklin, em 1985, tendo
o próprio Franklin como mestre. Logo depois, passou por mestres renomados como Tatiana
Leskova, Eugenia Feodorova, Dennis Gray, entre muitos outros. Aos 17 anos passou a integrar o
Rio Ballet, dançando vários ballets de repertório e sendo premiada em diversos concursos, inclusive
CBDD. É profissional de dança, reconhecida pelo Sindicato dos Profissionais de Dança - RJ desde
1998.

370
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Comissão de Frente

Outras informações julgadas necessárias

Sobre os Coreógrafos da Comissão de Frente (continuação)

Já atuou como bailarina da Rede Globo de Televisão, coreógrafa, professora de ballet


clássico, ensaiadora, assessora de direção (na montagem de espetáculos de dança) e possui curso de
atores para teatro e televisão. Na área de dança, já fez parte de novelas, seriados, especiais e
programas da Rede Globo de Televisão, como Criança Esperança, Uga, Daniela Mercury, Ivete
Sangalo, Quarteto em Si, Gilberto Gil, Sandy e Júnior, Os Normais, Você Decide, entre muitos
outros. Como coreógrafa do Rio Ballet, recebeu diversas premiações em concursos brasileiros e
latino-americanos. Foi assessora na direção de espetáculos profissionais no Rio de Janeiro, como
“Made in Coração” (este com a participação de bailarinos do Theatro Municipal do RJ), espetáculos
no SESI, no teatro Cacilda Becker e em outros auditórios da cidade. No Carnaval, coreografa e faz
direção artística de casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira desde o ano de 2005. Foi coreógrafa do
casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Mangueira, no período de 2005 a 2010, e do casal do
Acadêmicos do Salgueiro, de 2012 a 2018. De 2008 a 2018, foi assistente na Comissão de Frente
do Salgueiro e, a partir de 2013, também passou a assinar o trabalho como coreógrafa da Comissão
de Frente. Assinou, ainda, comissões para a Caprichosos de Pilares, a Acadêmicos do Cubango e a
Acadêmicos da Rocinha na sequência, recebendo diversos prêmios de melhor comissão de frente.
A partir de 2019, defende com brilhantismo o quesito no Acadêmicos do Grande Rio, recebendo o
Estandarte de Ouro de Inovação. No carnaval de 2020, apresentou, ao lado de Hélio Bejani, uma
das comissões mais aclamadas do ano, conquistando pontuação máxima e alcançando o vice-
campeonato com a escola. Alcançando novamente a pontuação máxima dos jurados, auxiliou a
Grande Rio a buscar o seu primeiro campeonato no carnaval de 2022.

371
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

1º Mestre-Sala Idade
Daniel Werneck 35 anos
1ª Porta-Bandeira Idade
Taciana Couto 23 anos
2º Mestre-Sala Idade
Andrey Ricardo 29 anos
2ª Porta-Bandeira Idade
Thauany Xavier 17 anos
Outras informações julgadas necessárias

1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


Nome da Fantasia: “Onças Negras sob o Brilho de Túibae”
Criação do Figurino: Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Confecção: Atelier Aquarela Carioca
Representação: O primeiro casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Grande Rio, Daniel Werneck
e Taciana Couto, expressa o bailar do “mundo inaugural”, quando a escuridão dominava o universo
e o poder do Velho, o criador da humanidade, explodia em poeira cósmica. Um dos poderes
oferecidos pelo Velho aos grandes caraíbas (guerreiros indígenas dos tempos imemoriais) era,
justamente, o de se transformar em onça. Nosso casal, com beleza, força e valentia, defende o
símbolo maior da escola, o Pavilhão tricolor de Caxias. Eis a síntese desse imaginário marcado pela
magia e pelo encantamento! A predominância da cor preta é a tradução das sombras primitivas,
vestígios de uma época inalcançável, quando não havia os raios solares. Os elementos
composicionais das vestes de ambos evocam as roupas cerimoniais dos antigos guerreiros da nação
Tupinambá, com destaque para a arte plumária e para a presença de dentes de onça. Narra o mito,
sob a pena de Alberto Mussa, que “o Velho é Túibae, a primeira constelação que apareceu no céu.”
Sob o brilho etéreo do criador, a dança infinita e o girar do tempo!
Figurinos do 1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

372
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Outras informações julgadas necessárias

Sobre o Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


Daniel Werneck

Uma história de vida totalmente ligada ao universo das escolas de samba e à arte de dançar.
Esse é o perfil de Daniel, que teve seu primeiro contato com o samba aos nove anos de idade,
quando pisou pela primeira vez numa quadra, a da coirmã Acadêmicos do Salgueiro. Imediatamente
se juntou ao grupo de crianças que estava ali sambando e, a partir daquele momento, nunca mais
parou. Desfilou como componente na escola mirim Aprendizes do Salgueiro em 1998 e 1999. Seus
primeiros movimentos como mestre-sala aconteceram de forma inusitada: no ano de 1999, logo
após a cerimônia de sua primeira comunhão, foi direto para o ensaio da referida escola mirim.
Quando o avistaram com calça e sapatos brancos, logo o colocaram para dançar como mestre-sala
acompanhando a terceira porta-bandeira. Arriscou ali seus primeiros passos na arte deste bailado e
não tardou para mostrar seu talento. Tanto é assim que já no ano seguinte desfilou como terceiro
mestre-sala do Aprendizes do Salgueiro, onde ficou até o ano de 2007. Mas já em 2006 havia se
tornado terceiro mestre-sala do Acadêmicos do Salgueiro. Em 2009, passou a ser o segundo mestre-
sala do Salgueiro, posição que ocupou até 2011 – nessa passagem, ganhou o prêmio Estandarte de
Ouro de Mestre-Sala Revelação em 2010. Em 2012 estreou como primeiro mestre-sala da Estácio
de Sá, escola da Série A do Carnaval Carioca, onde se manteve até 2014. Alcançou o posto de
primeiro mestre-sala do Acadêmicos do Grande Rio em 2015, onde se encontra até o momento,
tendo alcançado em 2018 o prêmio Estandarte de Ouro de melhor mestre-sala do Grupo Especial.
Nos carnavais de 2020, 2022 e 2023, ao lado de Taciana Couto, alcançou a nota máxima dos
jurados, contribuindo para brilhantes desfiles, que incluem o vicecampeonato de 20 e o primeiro
título da Grande Rio, em 22.

Taciana Couto

Pode-se dizer que Taciana já era Grande Rio antes mesmo de nascer: seu primeiro desfile
pela tricolor de Caxias foi dentro da barriga de sua mãe, que desfilou, no ano de 2000, grávida. Para
ela, a agremiação é nada menos do que a extensão de sua família. Sua mãe foi porta-bandeira do
primeiro quadro de casais mirins da agremiação, seu pai foi compositor da escola e vários
integrantes de sua família participam ativamente do cotidiano da escola nos mais distintos
segmentos. Teve sua primeira experiência de foliã na escola mirim Pimpolhos da Grande Rio aos
cinco anos de idade, onde desfilou até os sete anos. Tendo se encantado pela arte do bailado,
começou a desfilar no quadro de casais mirins da escola mãe, ocasião em que deu seus primeiros
passos como porta-bandeira. Logo depois, passou a defender o pavilhão da Pimpolhos da Grande
Rio, primeiramente, como segunda porta-bandeira, entre os anos de 2013 e 2014 e, posteriormente,
como primeira, entre 2015 e 2017. Buscando aperfeiçoamento, foi ter aulas na reconhecida escola
de mestre-sala e porta-bandeira do Mestre Dionísio, até que foi convidada, em 2016, para ocupar o
posto de segunda porta-bandeira do Acadêmicos da Rocinha, escola da Série A do Carnaval carioca.

373
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Outras informações julgadas necessárias

Sobre o Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira (continuação)

E, como jamais perdeu seu vínculo com a Grande Rio, na preparação para o Carnaval de 2017,
numa reunião, na quadra, foi anunciada como terceira porta-bandeira da agremiação. Retomando
as palavras do samba-exaltação da escola, “o sonho se tornou realidade” – frase, aliás, que carrega
consigo na essência de sua dança, pois fez questão de gravá-la na ponteira de sua bandeira. Seria o
momento de encerrar um ciclo de 13 carnavais na escola mirim, lugar onde recebeu oportunidades
como ganhar uma bolsa numa renomada escola de balé clássico, fundamental em sua formação.
Como primeira porta-bandeira da Grande Rio, levou todo o seu talento inato, aperfeiçoado ao longo
dos anos com muito trabalho e dedicação, para a Avenida, demonstrando um desempenho seguro e
uma dança encantadora. Nos carnavais de 2020, 2022 e 2023, ao lado de Daniel Werneck, alcançou
a nota máxima dos jurados, contribuindo para brilhantes desfiles, que incluem o vicecampeonato
de 20 e o primeiro título da Grande Rio, em 22.

Coreógrafa: Beth Bejani

Iniciou seus estudos de dança clássica no Centro de Danças Johnny Franklin em 1985,
tendo o próprio como mestre. Logo depois passou por mestres renomados como Tatiana Leskova,
Eugenia Feodorova, Dennis Gray, entre muitos outros. Aos 17 anos passou a integrar o Rio Ballet,
dançando vários ballets de repertório e sendo premiada em diversos concursos, inclusive CBDD.
É profissional de dança, reconhecida pelo Sindicato dos Profissionais de Dança - RJ desde
1998.Já atuou como bailarina da Rede Globo de Televisão, coreógrafa, professora de ballet
clássico, ensaiadora, assessora de direção (na montagem de espetáculos de dança) e possui curso
de atores para teatro e televisão. Na área de dança, já fez parte de novelas, seriados, especiais e
programas da Rede Globo de Televisão, como Criança Esperança, Uga Uga, Daniela Mercury,
Ivete Sangalo, Quarteto em Si, Gilberto Gil, Sandy e Júnior, Os Normais, Você Decide, dentre
muitos outros.
Como coreógrafa do Rio Ballet, recebeu diversas premiações em concursos brasileiros e
latino-americanos. Foi assessora na direção de espetáculos profissionais no Rio de Janeiro como
Made in Coração (este com a participação de bailarinos do Theatro Municipal do RJ), espetáculos
no SESI, no teatro Cacilda Becker e outros.
No Carnaval, coreografa e faz direção artística de casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
desde o ano de 2005. Foi coreógrafa do casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Mangueira (2005,
2006, 2007, 2008, 2009 e 2010) e do casal do Salgueiro de 2012 a 2018. De 2008 a 2018 foi
assistente na Comissão de Frente do Salgueiro e, em 2013, também assumiu a Comissão de Frente
da Caprichosos de Pilares. Desde o Carnaval de 2019, defende com brilhantismo o quesito no
Acadêmicos do Grande Rio.

374
Abre-Alas – G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Outras informações julgadas necessárias

2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


Andrey Ricardo e Thauany Xavier
Nome da Fantasia: Cerâmica Tapajônica
Criação do Figurino: Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Confecção: Atelier Aquarela Carioca
Representação:
Alberto Mussa escreve, na abertura de “Meu destino é ser Onça”, que “foi na Amazônia, mais
especificamente na região de Santarém, no Pará, que surgiu, há 8 mil anos, a mais antiga cerâmica
do continente, também das mais antigas do mundo.” Tal cerâmica, também chamada de “cerâmica
tapajônica”, uma vez que era produzida na ampla região do rio Tapajós, guarda os traços
sofisticados de uma civilização ainda negligenciada pelo estudo mais convencional da história do
Brasil, preso às perspectivas eurocêntricas. É impressionante a recorrência de onças ou jaguares
(dois termos para uma mesma ideia) esculpidos em vasos, máscaras cerimoniais, urnas, cachimbos,
panelas e demais utensílios encontrados por arqueólogos. Isso mostra a força dessa simbologia para
os povos que produziram um dos mais impressionantes conjuntos ceramistas do mundo inteiro – o
que é exaltado nas fantasias do segundo casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Grande Rio.

375
376
G.R.E.S.
Unidos da Tijuca

PRESIDENTE
FERNANDO HORTA

377
378
“O Conto de Fados”

Carnavalesco
ALEXANDRE LOUZADA

379
380
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Enredo
“O Conto de Fados”

Carnavalesco
Alexandre Louzada
Autor(es) do Enredo
Alexandre Louzada
Autor(es) da Sinopse do Enredo
Alexandre Louzada e André Luis da Silva Junior
Elaborador(es) do Roteiro do Desfile
Alexandre Louzada e André Luis da Silva Junior
Ano da Páginas
Livro Autor Editora
Edição Consultadas

01 As cantigas de Leodegário A. de Gernasa 1974 Todas


Pero Meogo Azevedo Filho

02 Estudos Cleonice MEC – 1973 Todas


camonianos Berardinelli Departamento de
Assuntos
Culturais

03 Obra |Completa Luís de Camões Aguilar 1963 Todas

04 Os Lusíadas Luís de Camões Edição 1972 Todas


coordenada por
Gladstone
Chaves de Melo
et al. Rio de
Janeiro:
Ministério da
Educação e
Cultura
05
Os Lusíadas Luís de Camões Edição de Todas
Emanuel Paulo
Ramos – Porto
Editora

381
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

06 Os Lusíadas. Fac- Luís de Camões Lisboa: Imprensa 1982 Todas


símile das duas Nacional-Casa
edições de 1572 da Moeda

Rio de Janeiro,
07 Algumas reflexões Ernst Cassirer, José Olympio 1964 Todas
sobre poética de Cassiano Ricardo
vanguarda
Lisboa, Arcádia
08 Luís de Camões Hernâni Cidade 1961 Todas
Porto: Sextante
09 A cidade de Teolinda Gersão 2011 Todas
Ulísses

10 Essais de A. J. et alii Paris, Larousse 1972 Todas


sémiotique Greimas
poétique

11 Poesias completas Jorge d G. Lima Rio de Janeiro, 1974 Todas


Aguilar

12 Metaficção Linda Hutcheon São Paulo: 1991 Todas


Historiográfica Tradução: Ricardo Editora Unesp
Cruz

13 Obra poética Fernando Pessoa Rio de Janeiro, 1969 Todas


Aguilar

14 A estrutura de Os Jorge de Sena Lisboa, 1970 Todas


Lusíasdas e outros Portugália
estudos
camonianos e de
poesia peninsular
do século XVI

15 Ensaio sobre a José Saramago 8° ed. São Paulo, 2009 Todas


Cegueira Companhia das
Letras

16 Memorial do José Saramago 32° ed. São 2014 Todas


Convento Paulo,
Companhia das
Letras

17 Conceitos Emil Stiger Rio de Janeiro, 1974 Todas


fundamentais da Tradução: Celeste Tempo
poética Aida Galeão Brasileiro

382
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

18 Los Tartessos y Juan Antonio Editora Anaya 1990 Todas


Otros Enigmas de Cebrián
la Historia

19 Historia de España José Luis Comellas Editora Planeta 2000 Todas

Celtíberos: Tras la Fernando Quesada


20 Estela de Sanz Todas
Numancia

“Lendas e Mitos de Alxandre Lima


21 Portugal” Lisboa: Editorial 2010 Todas
Presença

“Histórias e Contos Maria João Silva


22 Tradicionais de Porto: Porto 2015 Todas
Portugal” Editora

“Lendas
Portuguesas: José Geraldo
23 Narrativas Ferreira Coimbra: 2018 Todas
Populares” Almedina

“Lendas e
Mistérios de António Pereira
24 Portugal: Uma Lisboa: Esfera 2017 Todas
Viagem pelo dos Livros
Sobrenatural”

“Contos e Lendas
de Portugal: Alberto Pereira
25 Narrativas Martins Coimbra: 2019 Todas
Tradicionais” Imprensa da
Universidade de
Coimbra

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JUSTIFICATIVA DO ENREDO
“A verdade histórica não existe. A História não é mais do que uma ficção. Quer dizer, uma ficção com mais dados concretos, reais,
mas também com muita imaginação”
José Saramago

A maior lição da história é ser e saber-se apenas uma versão de si própria, é ser
uma narrativa entre tantas outras possíveis, um enredo, ainda que cheio de som e de
fúria, ora repleto de verossimilhança ora repleto de fantasia. Uma história, por vezes,
oficial, por vezes, oficiosa, rica por poder percorrer vários caminhos, narrada por
vencedores, reivindicada pelos vencidos.
Linda Hutcheon, em sua Metaficção Historiográfica, aponta para a tendência
pós-moderna das narrativas de unirem a história consagrada à ficção: “A junção entre
o histórico e o ficcional cria outros olhares, outros ângulos e encerra, assim, o embate
das afirmações de poder da História oficial, vista como única e imutável, quando, na
verdade, ela é apenas uma “história das histórias”.
Walter Benjamim descreve “o reino narrativo”, descrevendo a liberdade do ato
de narrar e a junção da tradição oral e de todas as narrativas possíveis a diferentes pontos
de vista.
Tal qual as narrativas descritas pelos teóricos, nosso enredo é uma entre tantas
histórias possíveis e combina mitologia, versões da história oficial, lendas pagãs e
católicas.
Todas essas versões criam um enredo, uma lenda, um conto “fadado” a entreter
e a ensinar que lendas portuguesas, “com certeza”, também fazem parte da nossa
história.
“O Conto de Fados” - título do enredo da Unidos da Tijuca para o carnaval de
2024 - é literalmente uma viagem a uma Portugal mítica e mística. Um enredo que
contará, em clima de encantamento, fatos e lendas populares do país.
Em um jogo de palavras, o “Conto de Fadas” se torna “O Conto de Fados”. O
lúdico passa a interagir com as histórias narradas, inventadas e, sobretudo,
repaginadas. Tem histórias dos antigos reinos, da Terra das Serpentes, das Minas do
Rei Salomão, dos Druidas. Entre conquistas e reconquistas, o enredo cria
um mosaico de riquezas, de tradições e de romarias.
O termo Fado do título do enredo, para além do significado musical, em sua
origem, significa DESTINO, fabulação. Nosso enredo conta como herdarmos uma
língua, algumas crenças e muitos SEGREDOS que perpassam nossa história e mostram
que esse DESTINO também é nosso.... “esse fado vira samba, e o samba vira fado”.

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Por enquanto, é isso! O resto é o “segredo” que Fátima não contou a ninguém!
Sou Tijuca vou além”… além-mar!

São lendas portuguesas com certeza.

____________________
1
Nota: o enredo não é sobre o Fado, o estilo musical típico português. A partir da etimologia do termo Fado - destino - fabulação, amplia-se seu
significado para contar as lendas relativas à história de Portugal.
Etimologia (origem da palavra fado). Do latim fatum.i, "profecia", destino. Em Camões, o termo fado surge, sobretudo, com o sentido de destino,
fatalidade; fatum.ii, é a mesma palavra que deu origem às palavras fada, fadário. Do latim fatum (entidade correspondente à moira grega), origem aos
termos fado, fada, fatal, fatídico.
Música-canção popular portuguesa, dolente e triste; música e dança que acompanham essa canção.
O fado, estilo musical, se faz presente, no enredo, no setor Alma Portuguesa

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HISTÓRICO DO ENREDO
Os mitos constituem-se de um repertório de narrativas que são transmitidas,
de geração em geração, como parte da infância da Literatura. Em sua etimologia,
mythós se traduz como mensagem, discurso, uma forma de comunicação, de
caráter simbólico, que nos auxilia a entender, de forma figurativa, o nascimento das
civilizações.
Nessas narrativas, deuses rivalizavam com heróis e com humanos,
influenciando diretamente na vida das pessoas. A partir desses mitos, criam-se
narrativas para fundação de cidades, de reinos, de heróis.
Obras como Ilíada e Odisseia, de Homero, exerceram grande influência em Os
Lusíadas, obra capital da saga portuguesa, escrita mais de vinte séculos depois.
Deuses, heróis e histórias, citados nas três obras, mostram o diálogo entre elas,
ainda que com tantos anos de distância e com diferentes propósitos. Dessa forma,
essas obras mantêm vivo o mito que, no dizer de Fernando Pessoa, é o “nada que é
tudo”.
Dentre os mitos fundadores presentes nessas obras, Orfeu, filho de Apolo e
Calíope, se destaca. Ele que, com sua lira, encantava as pessoas, parava o vento,
silenciava os animais, por amor a Eurídice, desce ao “abismo da saudade” e convence
Hades a resgatar sua amada do lugar que ninguém jamais voltou. Ele não poderia
olhar “para trás” sob risco de perder novamente seu amor. Os gregos pareciam dizer
que, na vida, se olha para frente, que o passado é jornada concluída e não volta mais.
Orfeu olha para trás e perde para sempre Eurídice.
Em Os Lusíadas, Orfeu cantava o “fado", palavra usada como sinônimo de
destino. Tal qual as “Moiras”gregas2, ele aprendeu, à duras penas, os segredos da vida
e da morte. Se em Portugal, ele é citado em Os Lusíadas e se torna nome do período
literário que inaugura o modernismo português3, no Brasil, Orfeu da Conceição4 é o
poeta negro, compositor de samba, que desceu ao submundo carioca e conheceu os
segredos da vida e do carnaval na obra de Vinícius de Moraes.
No nosso enredo, o Orfeu sambista se torna narrador, “aedo”5, condutor,
compositor, mito grego-luso-brasileiro que desafia as ordens e olha para trás, para o
passado, porque sabe que assim o fazendo, repensa o presente, cria um futuro
diverso. Ao desafiar o tempo e o espaço, nosso Orfeu conta uma história repleta de fé,
de conquistas e de reconquistas.
_____________________
2
Nota: As moiras, na mitologia grega, eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram três
mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos.
3
Nota: O Orfismo, nomeado a partir de Orfeu, foi o movimento literário que inaugurou o modernismo em Portugal. Entre seus fundadores, estão os
poetas Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro.
4
Nota: Orfeu da Conceição é uma peça teatral escrita por Vinicius de Moraes, em 1954, baseada no drama da mitologia grega de Orfeu e Eurídice. A
trilha sonora da peça foi lançada em vinil, no ano de 1956, pela Odeon, com música escrita por Antônio Carlos Jobim e letra de Vinicius.
5
Nota: Aedo - na Grécia antiga, cantor que apresentava suas composições religiosas ou épicas, acompanhando-se ao som da cítara - Orfeu,
considerado um músico sublime, é o mais conhecido dos aedos - poeta divino, grandioso; bardo, vate.

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Orfeu da Conceição, ao tecer esse texto, quer apenas compor um “SAMBA


FADADO” a nos ensinar que as histórias de lá transbordam aqui, que precisamos
olhar para “trás”, revisitar as narrativas em busca das origens e, sobretudo,
precisamos revisitar o passado para escrever um futuro diferente.

Setor 1 - Fados Mitológicos


“Abro os portais da imaginação
Toda fantasia hoje é real(...)
E desejo desvendar
Misteriosas civilizações
Cidades perdidas encontrar
Tesouros que atraíram gerações”
Unidos da Tijuca - 2005

Conta Orfeu as viagens de Ulisses, em grego Odisseu, o herói de Homero6,


navegador errante que, saindo do mar Egeu, chega ao Mediterrâneo, depois de
ultrapassar as Colunas de Hércules, atualmente o Estreito de Gibraltar. O mito grego
desembarca em Offiusa, a terra mítica das serpentes, governada pela rainha Serpes.
Offiusa, nome grego dado ao local que se tornaria Portugal, testemunhou a
história de amor da Rainha Serpes com o herói recém-chegado. Ulisses tentava voltar
a sua terra natal, mas encontra Serpes, uma rainha “tão só e carente”, que lhe promete
uma cidade com seu nome, a mais linda e próspera de toda região. Ulisses concordou,
não com palavras, apenas com um gesto. Assim, “à beira do Tejo, nascia Lisboa” ou
Olissipo7, a cidade de Ulisses. O grego, entretanto, queria e precisava voltar para a sua
esposa e traçou um plano para fugir. Em uma noite, Ulisses iria passear, ao luar, com a
rainha, e a ludibriou enviando um de seus homens no seu lugar, assim poderia escapar
em um barco.
Quando a rainha descobriu que foi enganada, gritou e envenenou o “sósia” de
Ulisses com sua picada. Do alto de sua montanha, a rainha desceu até o porto para
alcançar seu amado, e sua força foi tão grande que conseguiu modelar a única
montanha, em sete, pelo serpentear de seu corpo.
Dizem que foi nesse momento que nosso Orfeu se apaixonou por todas essas
lendas e resolveu se aprofundar mais nessa história. Ele que, por amor, moveu céus e
terras, resolveu cantar esse “fado” repleto de fantasias e de fé.
Depois das lendas gregas, Orfeu narrou as histórias dos tempos em que os
fenícios percorriam as águas do Mediterrâneo, com suas históricas rotas comerciais até
chegarem ao território que viria a ser Portugal.
_____________________
6
Nota: A data aproximada da composição de "Ilíada" e de "Odisseia" é objeto de debate entre os estudiosos. No entanto, essas obras são amplamente
consideradas como tendo sido compostas e transmitidas oralmente, no final do período conhecido como Idade das Trevas grega, por volta dos séculos
IX a.c ou VIII a.c.
7
Nota: Teolinda Gersão, em sua Cidade de Ulisses, nos conta, a partir do mito grego, como a cidade de Olissipo, foi criada em homenagem ao herói
grego, ao longo dos anos, por modificação fonética passa de Olissipo, Lissibon até se tornar Lisboa, a cidade das Sete Colinas. Na Odisseia de
Homero, existe a referência a Ofiussa, a terra das Serpentes, o lugar mítico que é considerado, por sua descrição geográfica, como Portugal.

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Ao aportarem na Praia de Offir, “a praia bravia”, na freguesia de Fão8, levaram


de lá quatrocentos e vinte “talentos de ouro” e carregamentos de madeira para
entregarem ao rei Salomão - lendário soberano de Israel. A praia de Offir, segundo as
lendas, fornecia ao rei ouro e madeira para serem guardadas em suas famosas minas.
Depois de tantos barcos atravessarem o Mediterrâneo até Israel, o rei, em
gratidão, envia a Offir, de presente aos Fenícios, uma arca repleta de corcéis, os mais
ágeis e fortes que se tem notícia. Infelizmente, relata Orfeu, uma medonha tempestade
arrebatou a embarcação onde se encontravam os cavalos. A embarcação naufragou,
mas, por intervenção divina, os corcéis se transformaram nos rochedos que até hoje se
veem na lendária praia. Dizem que os rochedos - ou Cavalos de Fão - nome popular do
ponto turístico, resguardam as riquezas ainda existentes no local, e que, em caso de
perigo, emergem das marés para protegê-las.
Orfeu foi juntando as informações para compor seu “samba fadado”.

“VAI BUSCAR, NO VASTO OCEANO, O HERÓICO ODISSEU


QUE, ALÉM DO EGEU, NÃO SE AMEDRONTOU
COM UMA RAINHA TÃO SÓ E CARENTE
MULHER OU SERPENTE QUE JUROU O SEU AMOR
À BEIRA DO TEJO, NASCIA LISBOA,
A MUSA DAS LOAS DOS SEUS MENESTREIS
NA PRAIA BRAVIA, O OURO ESCORRIA
E O GUARDIÃO EMERGIA DAS MARES”

_____________________
8
Nota: Offir é uma praia situada na freguesia de Fão, Esposende, Portugal. O nome Offir aparece, no Antigo Testamento, várias vezes, entre as quais
para designar uma terra distante de Israel de onde se recolhia ouro.
As lendas fenícias relacionadas ao Rei Salomão, da mesma forma, também são difíceis de serem datadas com precisão.
Quanto à data provável, o reinado de Salomão é tradicionalmente situado entre os sécs. IX a.c e X a.c. No entanto, a própria existência de Salomão é
motivo de debate entre os estudiosos. Alguns consideram Salomão como um personagem histórico, enquanto outros acreditam que ele possa ser um
personagem lendário ou simbólico.

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Setor 2 - Fados de Magia


“Desvendar esse mistério
É caso sério, quem se arrisca a procurar
O desconhecido, no tempo perdido
Aquele pergaminho milenar
São cinzas na poeira da memória
E brincam com a imaginação”
Unidos da Tijuca - 2010

Conta nosso Orfeu as lendas e as crenças mágicas dos povos pré-romanos que
habitavam a Península Ibérica durante a idade do Bronze.
Considerada pelos antigos como Finisterra, o fim da terra, o lugar onde tudo
acabava, a Península Ibérica, mais especificamente o território que viria a ser Portugal,
era conhecida por sua aura de mistérios e de magia. Se os gregos e os fenícios relataram
diversas lendas sobre o local, muitas tribos celtas, que habitaram a região, ampliaram o
repertório de histórias. Dentre essas tribos, uma das mais famosas eram os Celtiberos9,
um povo politeísta e animista que acreditava em múltiplas divindades associadas a
fenômenos da natureza e a eventos sobrenaturais, dentre os quais cerimônias e cultos
de veneração à terra, ao tempo, às águas.
Os druidas eram os sacerdotes locais responsáveis por manter a tradição oral e o
conhecimento mágico desses povos. Além de curandeiros, usavam suas habilidades
mágicas para conectar o mundo espiritual ao terreno. Para eles, o carvalho, a árvore
sagrada - símbolo do conhecimento - funcionava como portal para invocar deuses como
Nabia, Téginas, Sucellus e Cariocecus. Essas entidades, amplamente adoradas por esses
povos, agiam como guardiões da natureza, do conhecimento, da fertilidade ou como
protetores de conflitos bélicos.
Nabia, por exemplo, deusa da fertilidade e da renovação, reinava sobre os rios,
as águas e o barro. Já as deusas Téginas eram as guardiãs da sabedoria, do lar - as
senhoras do tempo. Cariocecus, deus da guerra e da caça, associado à coragem, era
venerado em batalhas como protetor dos guerreiros. Sucellus, deus da agricultura, das
florestas e das bebidas, era adorado pelas tribos locais por ser um deus bonachão e
generoso, era frequentemente invocado em cerimônias de fertilidade e de colheitas,
principalmente da uva. Sua história, tal qual o Deus Romano Baco, é ligada a festivais
regados a vinho.

_____________________
9
Nota: Os Celtas foram povos que habitaram regiões que se estendiam da Península Ibérica e Ilhas Britânicas até a Ásia Menor. As tribos que
ocuparam a região da Península Ibérica são conhecidas como Celtiberos (celta- iberos).

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Desde os primórdios de sua história, reflete Orfeu, as terras que virariam Portugal
já tinham uma aura de magia e de encantamentos.10
Orfeu vai resgatando essas histórias para compor seu samba... “olhar para trás” é
sempre um ótimo exercício para seguir em frente.

“PÕE NO BALAIO UM PUNHADO DE MAGIA


DAS DIVINDADES QUE INVADIAM O LUGAR
PÕE NO BALAIO E AMASSA COM CARINHO
QUE DO CACHO EU FAÇO VINHO
PRA COLHEITA FESTEJAR”

_____________________
10
Nota: A origem exata da civilização Celtibera é difícil de determinar. Não existe um consenso sobre a chegada dos Celtiberos na península Ibérica.
Seguimos o pensamento de "Los Celtiberos y Otros Enigmas de la Historia", de Juan Antonio Cebrián que aponta que esses povos habitaram a região,
provavelmente, desde o século II a.c. até o século I d.C. Os estudiosos mencionam a presença dos gregos e dos fenícios antes da chegada dos Celtas e
mencionam a chegada dos romanos e dos mouros na sequência.

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Setor 3 - Fados Invasores

“No olhar dos invasores


A cobiça, a maresia”
Unidos da tijuca - 2023

Canta nosso Orfeu, aquele que sabe do passado, do presente e do futuro, a história
das invasões, de como diferentes grupos, ao longo dos séculos, invadiram as terras que
se tornariam Portugal e deixaram um legado que, ainda hoje, exerce influência em
diversos setores da vida.
A chegada dos Romanos, e posteriormente dos Mouros, à Península Ibérica11, é
uma história cheia de histórias, quase um conto fadado a nos fazer entender que aquele
relato de lá também faz parte do nosso destino de cá!
A Península ibérica até então, habitada por diversas tribos celtas, resistiu
bravamente, durante muitos anos, à invasão romana, mas foram gradualmente
subjugadas. Os romanos, há séculos, tentavam invadir a região, motivados pelo desejo
de expandir seu território e de estabelecer uma base sólida de poder econômico e
político por lá.
A influência dessa ocupação, que durou mais de 600 anos, pode ser sentida, até
hoje, em aspectos como língua, arquitetura e cultura. O latim, levado às regiões
conquistadas, foi sendo modificado até se consolidar nas línguas românicas como
Português, Francês, Espanhol, Italiano.
A herança deixada pelos romanos inclui, além de construções como aquedutos,
pontes, estradas, teatros, a influência no direito, na religião e na mitologia.
Com a romanização, os deuses celtas, a princípio, sincretizados, foram sendo
absorvido com a ascensão do Cristianismo, assim a velha religião celta pagã foi sendo
gradualmente abandonada.
Lembra nosso aedo Orfeu que nem tudo foi “Pax” para os romanos. Viriato, líder
guerreiro que se destacou por sua resistência contra a invasão romana à Península
Ibérica, era considerado pelas legiões invasoras como o “terror romanorum”, o terror
de Roma.
As lendas sobre ele apontam que o guerreiro talvez pertencesse às tribos lusas,
ou talvez fosse descendente dos celtiberos; há quem afirme que era seguidor dos
druidas, pastor de ovelhas e caçador; ora chamado de príncipe, ora elevado à linhagem
de semideus, descendente de Hércules. São tantas lendas que pairam sobre ele, que
virou mito cujo único consenso é o de ser considerado o líder que venceu diversos
exércitos romanos com sua espada mágica e com seu escudo sagrado.

_____________________
11
Nota: Durante as invasões romanas, Portugal ainda não existia como país. A Península Ibérica, na época, era chamada de Hispânia Ulterior, área que
correspondia a parte do território atual de Portugal e Hispânia Citerior, corresponde à parte do atual território da Espanha. Usaremos o termo Península
Ibérica, ainda que, no momento do relato, ela não se denominasse assim, para facilitar a compreensão.

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Na verdade, com a queda do Império Romano, a Península Ibérica se tornou


vulnerável à invasão de diversos povos, dentre os quais os Mouros, um povo
muçulmano oriundo do norte da África. Eles ocuparam grande parte da atual Portugal
por mais de sete séculos, deixando uma forte influência na cultura, na literatura, na
arquitetura e na língua portuguesa, que incorporou muitas palavras de origem árabe12.
A chegada dos Mouros foi marcada por um florescimento cultural, científico e
artístico significativo. Durante esse tempo, eles introduziram avanços significativos na
matemática, na astronomia, na arquitetura, na alquimia, deixando um legado duradouro
na região, conhecimentos esses que foram decisivos para o desenvolvimento da
navegação e da exploração marítima nos séculos posteriores.
A introdução do sistema numérico decimal hindu-arábico, que é o que usamos
hoje em dia, facilitou muito a realização de cálculos e a precisão nas medições,
possibilitando avanços significativos na construção de mapas e de instrumentos de
navegação.
Além disso, os árabes também introduziram conceitos matemáticos como a
álgebra e a trigonometria, que eram essenciais para a cartografia e a navegação.
Na astronomia, eles fizeram grandes progressos, observando e catalogando as
estrelas, os planetas e outros corpos celestes, além de desenvolveram instrumentos de
observação e técnicas matemáticas para calcular as posições dos astros com
precisão. Esses conhecimentos foram importantes para a navegação, pois permitiram
aos marinheiros determinarem suas posições no mar com base nas estrelas e outros
corpos celestes.
A ocupação Moura, na Península Ibérica, deixou também uma grande herança
em termos arquitetônicos. A arquitetura mourisca tem como uma das características
marcantes o uso de arcos, de abóbadas e de cúpulas, que eram apoiadas por colunas e
capitéis ricamente decorados por azulejos, outro elemento decorativo introduzido por
esses povos que fizeram história no local. Muito utilizado na arte islâmica, para decorar
mesquitas e palácios, a arte da azulejaria, na Península Ibérica, passou a ser utilizada
também para revestir paredes e para ornamentar igrejas, mosteiros e palácios reais. Com
o tempo, os desenhos dos azulejos foram sendo modificados e passaram a incluir
elementos figurativos, como cenas da vida cotidiana e temas religiosos. Mais do que
uma simples decoração, a peça passou, como um livro de cerâmica, ao longo do tempo,
a contar as histórias das invasões e da reconquista.

_____________________
12
Nota: Estima-se que a invasão moura tenha deixado um legado, na Língua Portuguesa, de mais de 1.000 palavras, como "azeitona", "açúcar",
"alface", “azeite" entre muitas outras começadas por “al” como "alfândega", "almoxarife”.

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Os Mouros acabaram levando também, para as regiões conquistadas, o


conhecimento sobre a alquimia - um saber aprendido com antigos egípcios. A alquimia,
em sua busca pela purificação e pela sublimação da matéria, sempre procurou
transformar toda matéria em ouro.
Essas narrativas, por exemplo, mostram como a sociedade de então teve avanços
significativos que impulsionariam as navegações que ocorreriam nos séculos seguintes.
Nosso narrador, depois de relatar as muitas heranças deixadas pelos povos
invasores, compreende como esse legado “de mil e uma noites”13, deixado por
Romanos e Mouros, moldou a história local, deixando marcas profundas na cultura, na
arquitetura, na língua e na gastronomia do país - influências que contribuíram para
moldar a identidade cultural de Portugal, uma rica mistura de tradições, saberes e
sabores.
“N'ALMA DO FADO, MIL E UMA NOITES,
DOCES SABORES, VELHO SABER...”

_____________________
13
Nota: O termo “Mil e uma noites” se refere ao famoso livro árabe em que Sherazade, por meio de artifícios narrativos, consegue salvar a própria
vida, contando histórias intermináveis.
No caso, o termo, além de mencionar a obra capital dos mouros, se refere ao legado infinito, de “mil e uma noites”, deixado por esses povos, herança
que ainda hoje molda a sociedade portuguesa.

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Setor 4 - Fados Marítimos

“Quis assim o meu destino


Portugal por toda a
Europa … naveguei
E novos povos encontrei
Por tempestades e lendas eu passei (…)
Por tantos mares viajei
Na Índia, eu então cheguei (…)
Descobertas e culturas”
Unidos da Tijuca - 1998

Ao som de um cavaquinho, nosso Orfeu, juntando as informações desse


mosaico de conhecimento, quase pronto para finalizar seu samba-enredo, abre o livro
das muitas histórias e relata a Reconquista de Portugal, um processo longo e intenso
para expulsar os Mouros. Quando, em 1249, o Rei Afonso consegue a retomada do
controle do território português, Portugal começa a se tornar um reino independente,
constituído a partir das muitas influências culturais deixadas por todos esses povos que
o invadiram ao longo dos séculos.
O período pós-reconquista marcou também o início das grandes navegações
portuguesas. Os marinheiros portugueses, liderados pelo Infante D. Henrique -
fundador da Escola de Sagres - receberam os primeiros estudos e projetos de viagens
oceânicas. Foi em Sagres que ampliaram o conhecimento sobre o mundo, aprimoraram as
embarcações e aperfeiçoaram os cálculos e os instrumentos náuticos como a bússola e o
astrolábio, conhecimentos matemáticos, astronômicos trazidos pelos Mouros.
Com as navegações, foram estabelecidas rotas comerciais importantes que
agradavam aos comerciantes, à Coroa, à nobreza e ao clero, todos de olho nos lucros e
na possibilidade de expandir a fé cristã.
Essas histórias do mar, de tão recontadas e com tantas versões, se parecem mais
uma lenda de um pequeno reino de oitenta e dois quilômetros quadrados, fadado a
procurar no mar uma saída para seus problemas. Parece lenda, observa Orfeu, um reino
tão pequeno chegar a alcançar uma área que percorria do Atlântico ao Índico até o
Pacífico, passando por mares nunca dantes navegados.
Nos conta Orfeu que os navegantes portugueses detalhavam, em suas crônicas,
os monstros marinhos e as criaturas míticas que acreditavam ver nos oceanos por onde
passavam. A qualquer sinal de intempéries, escuridão, nevoeiro ou mesmo animais, os
navegantes ficavam em pânico nas embarcações. Os monstros marinhos, segundo as
crenças da época, eram considerados predadores vorazes, destruidores dos navios.
Essas criaturas dizimariam os tripulantes, saqueariam mantimentos, trariam o caos.
Orfeu catalogou várias narrativas que falavam das criaturas que assombraram os
marinheiros. A primeira delas conta que cruzaram o Cabo das Tormentas, atual Cabo
da Boa Esperança, os navegantes portugueses, e relataram o pavor de encontrar
Adamastor, o monstro lendário, frequentemente citado na literatura portuguesa,
descrito como um gigante terrível que amedrontava a todos que passavam pela África.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Segundo as lendas, Adamastor estava furioso com a presença dos navegadores


portugueses que chegaram ao reino de Matamba, atual Angola. Lá, pelas terras de Ifá,
o orixá do destino na cultura africana, Adamastor se levantava dos mares revoltos e
lançava tempestades e ventos fortes contra os navios que se aventuravam por terras
Africanas. Os relatos da época descrevem Adamastor como uma criatura com o rosto
sempre escondido por trás de uma espécie de máscara que ocultava suas lágrimas e sua
dor por ter sido ignorado pela deusa Tétis. As ondas gigantes e as tempestades violentas
que assolavam o cabo das Tormentas seriam resultado do seu choro e de seus gritos de
tristeza.
Ao passarem pelo Oceano Índico, os navegantes, com pavor, dizem ter visto
Varuna, uma criatura colossal que emergiu das profundezas do mar quando a expedição
portuguesa se aproximou de Calicute da costa oeste indiana.
Considerado o protetor dos mares Hindu, esse monstro era uma espécie de
crocodilo marinho apavorante que se erguia imponente lançando enormes ondas que
afundaram várias caravelas.
Muitos outros monstros apareceram pelo caminho. Ao cruzarem o Atlântico, sob
o céu daquela terra que seria chamada de Vera Cruz, uma criatura terrível foi vista pelos
marinheiros portugueses emergindo das brumas densas que surgiram após um período
de calmaria. Chamada de Monstro do Nevoeiro, a criatura provocava inúmeros
naufrágios. Dizem que causava uma espécie de cegueira para punir todos aqueles que
tentavam se apossar de terras que não lhes pertenciam. As lendas contam que São
Brandão, um santo cristão navegador, foi quem o descreveu, pela primeira vez, e
popularizou sua história.
Essas não eram as únicas criaturas que povoavam a imaginação dos navegantes.
Tangaroa e o Dragão de Quatro Cabeças também apavoraram as expedições e viraram
lendas contadas por séculos.
Tangaroa era o temido monstro marinho que apavorou os marinheiros
portugueses que se aproximaram da costa da Nova Guiné, no Oceano Pacífico. Ele
emergia à superfície com o corpo repleto de escamas e conchas. Tangaroa era
conhecido por sua fúria implacável e sua capacidade de causar destruição nas
embarcações.
Já o Dragão de Quatro Cabeças foi relatado pelas caravelas portuguesas que se
aproximavam de Macau no mar da China. Esse gigantesco monstro, que habitava as
profundezas do Oceano Pacífico, era conhecido por sua força indomável e pelas quatro
cabeças que lançavam labaredas para destruir as embarcações.14
Quem conta um conto de terror, aumenta muitos pontos com fervor.
Orfeu nos traz uma leitura contemporânea que nos mostra os monstros
imaginados os quais eram, na verdade, o reflexo daqueles que exploravam, impunham
sua cultura e aniquilavam populações inteiras. A partir da leitura de Octavio Paz, em
“O Labirinto da Solidão", compreendemos como a imposição de uma língua e de uma
cultura estrangeiras pelos colonizadores, destruiu o senso de identidade dos povos
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

nativos, apagando sua história e seu propósito. Ele afirma que os europeus falharam em
entender e em respeitar as complexas e diversas sociedades que encontraram, optando
por impor seus próprios valores e crenças às pessoas que colonizaram, o que, na maioria
das vezes, resultou em sofrimento e em devastação das populações locais.
O inferno, desculpe Sartre, não eram os outros, os outros não eram os monstros,
as criaturas abomináveis eram eles próprios, que escravizaram e dizimaram, por meio
de violência incomensurável, populações inteiras. Eram esses, sim, os verdadeiros
monstros marítimos colonizadores.
Segundo nosso Orfeu, era isso que dizia, o tempo todo, o velho do Restelo, o
ranzinza personagem de Os Lusíadas, de Camões, que vivia sentado no cais de Lisboa,
observando as caravelas partirem para “conquistar um mundo novo”. Ele lembrava a
todos sobre a cobiça vã e desmedida, sobre massacre para com os povos conquistados,
sobre a aculturação e o aniquilamento que esses povos sofreriam.
O velho do Restelo era o alerta e a consciência diante da cegueira de uma
sociedade que buscava explorar, lucrar e converter a todos, a qualquer custo.
Em meio a monstros e a brumas, as caravelas, segundo as lendas camonianas
resgatadas por Orfeu, chegam à Ilha dos Amores conduzidas por Tétis, a deusa do mar.
Lá se refestelam e, enquanto a tripulação que sobreviveu às intempéries descansa,
Vasco da Gama é levado para o alto de uma montanha.
Como em um conto de fado, relata Orfeu, quis o destino que Vasco pudesse
contemplar a “máquina do mundo”, a configuração do inconfigurável, a alegoria do
conhecimento divino, a compreensão do passado, do presente e do futuro. Ali, o
navegador português contempla a ordem do cosmos, a música das esferas, a geografia
da Terra, a história de Portugal. Imagens se sobrepunham, símbolos, pessoas, rituais.
De tudo que viu, uma certeza: toda aquela riqueza, conseguida através da colonização,
não duraria.
A verdadeira riqueza da nação, ainda que Vasco da Gama não conseguisse
entender, não viria dessa forma.
Atento, Orfeu resume tantas lições...
“SONHO DE SAGRES... FOI A MATAMBA, HERDOU O SAMBA, IFA, DENDÊ
PORTUGAL, DAS GLÓRIAS QUE REVELAM O PASSADO,
AO MONSTRO QUE SANGROU ESCRAVIZADOS
E VEIO APORTAR NO MAR QUE BRILHA SOB O CÉU DE
VERA CRUZ...”

_____________________
14
Nota: em 1488, os portugueses dobram o Cabo das Tormentas (atual Cabo da Boa Esperança). Em 1498, Vasco da Gama chega à Calicute, na Índia.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral aporta, em terras que, mais tarde, se chamariam Brasil. Em 1511, os portugueses chegaram à ilha que receberia o
nome de Nova Guiné; nos séculos seguintes, eles perderiam o controle da região para ingleses, holandeses e alemães. O nome atual do país é Papua
Nova Guiné. Já Macau, na China, esteve sob o domínio português de 1557 até 1999.
Fonte SILVA, Alberto da Costa. A Epopeia das Descobertas: dos antigos navegadores às rotas da informação. Rio de Janeiro: Ed. Moderna, 1999.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Setor 5 - Fado d ‘alma portuguesa com certeza

“Deus fez o homem


E o homem faz a arte
Que se alastra em toda parte
Desde sua criação”
Unidos da Tijuca - 1983

Orfeu observa que o Velho do Restelo, o ranzinza personagem de Os Lusíadas,


sempre teve razão. Todas as riquezas advindas das expansões marítimas não foram mais
do que uma cegueira coletiva, uma cobiça vã que se esvaiu, que construiu conventos e
palácios, mas muito pouco melhorou a vida do povo.
A verdadeira riqueza de uma sociedade, refletiu Orfeu, ainda que durante
séculos, se acreditasse vir do ouro, ou das especiarias, sempre esteve no patrimônio
cultural, nos ofícios, nos modos de fazer, nos saberes do povo: a música, a culinária, o
artesanato, a arte, a literatura, entre outros símbolos - verdadeiras riquezas de um país
- conhecimentos que, transmitidos, de geração em geração, trazem um sentimento de
pertencimento, de integração e criam a verdadeira alma e riqueza de uma nação.15
Mais do que o ouro, Portugal tem duas flores, por exemplo, que ajudam a contar
sua história. A alfazema, símbolo cultural do país, introduzida na região pelos
romanos, se tornou parte essencial em muitos aspectos da vida portuguesa seja na
culinária, na medicina ou em celebrações religiosas.
Reza a lenda que um rei português muito enfermo, desperta depois de lhe fazerem
inalar a essência de Alfazema. Quando o rei entende o que aconteceu, ordena que se
plante alfazema para todos os lados.
O cravo, cultuado e cultivado em Portugal como símbolo da paixão e do amor há
muitos séculos, alcançou uma dimensão histórica quando os portugueses marcharam
pelas ruas de Lisboa, segurando a flor, exigindo o fim da ditadura. A chamada
Revolução dos Cravos foi um movimento social contra a ditadura de Salazar. Desde
então, o cravo reafirmou-se como símbolo nacional de Portugal, representando a luta
pela liberdade, pela justiça e pelos direitos humanos.
Na canção Tanto Mar, Chico Buarque afirma “guarda um cravo para mim, eu
queria estar na festa(...), lá faz primavera”. Era claro o entusiasmo do cantor com o
momento em que florescia a esperança em Portugal, após a ditadura, diferente do que
acontecia no Brasil.
Essas duas flores, pois, contam histórias, mostram como as tradições culturais
foram transmitidas pelo povo durante muitos anos.

_____________________
15
Nota: o setor trata de histórias e lendas recontadas pelo imaginário popular; logo, é difícil datar, com precisão, a origem das narrativas. O foco do
setor não é uma abordagem cronológica, mas apontar como a arte, os saberes e os ofícios se tornaram, ao longo do tempo, “a alma portuguesa”.
Historiadores, inclusive, divergem, sobremaneira, a respeito das datas e lendas apresentadas no setor o que reitera a abordagem no “tempo das lendas”
e não no tempo convencional.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

O artesanato também desempenha um papel fundamental na preservação da


riqueza cultural de Portugal. A confecção dos tapetes de Arraiolos, por exemplo, é uma
tradição portuguesa originária da vila de Arraiolos, no Alentejo. Esse tipo de tapete é
caracterizado por cores vibrantes e desenhos que refletem a cultura e a história da
região.
Reza a lenda que uma jovem andava triste, sem trabalho, ao andar pelos campos,
ouve uma voz misteriosa que lhe diz para procurar, na natureza, materiais como a lã
dos carneiros para fazer diversos bordados; ela gostou tanto do que aprendeu
que resolveu compartilhar tudo com sua aldeia.
O Lenço dos Namorados é uma outra tradição artesanal portuguesa, originária da
região do Minho. Contam as lendas, que as moças, privadas de papéis para escrever
cartas aos pretendentes, bordavam lenços com mensagens de amor.
A tradição de passar esses conhecimentos, de geração em geração, preserva a
história, um dos maiores patrimônios culturais de um país.
Uma outra peça de artesanato que se tornou um ícone português, uma
representação concreta dessa “alma” lusitana é o Galo de Barcelos. Segundo a lenda,
um peregrino foi acusado de roubo, na cidade de Barcelos, apesar de negar a culpa.
Enquanto era levado à forca, o homem avistou um galo assado em um prato e disse: "É
tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me
enforcarem!” Enquanto, o homem era levado à forca, o galo ergueu-se na mesa e
cantou. O homem que seguira para o enforcamento, sobreviveu. Depois se descobriu
que o acusado se salvara graças a um nó malfeito.
Desde então, o Galo de Barcelos se tornou símbolo de boa sorte em Portugal. De
uma lenda, virou peça de artesanato, o “souvenir” mais vendido, em todo país, se tornou
um dos símbolos atuais da identidade portuguesa.
Em termos culinários, muitas histórias mantêm viva a tradição, a identidade e a
história do povo português.
Os doces conventuais portugueses, por exemplo, têm uma longa história que
remonta aos tempos dos conventos e dos mosteiros em Portugal. As freiras e os monges
dessas instituições produziram doces e outros alimentos como forma de sustento e como
meio de ajudar os mais necessitados. A maioria dos doces era feita com ingredientes
simples, como açúcar, ovos e amêndoas, e muitos deles são ainda hoje muito apreciados
em Portugal e em todo o mundo. Contam que, toda vez que era preciso engomar os
hábitos de freiras e de padres, a clara era separada da gema do ovo para dar vigor às
roupas eclesiásticas. Com uma demanda tão grande pela clara, restavam gemas em
excesso, usadas, então, pelas freiras para criar receitas fabulosas.
Contam as crônicas que admiradores secretos se infiltravam nos conventos para
descobrir essas receitas e acabavam se apaixonando pelas religiosas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Uma das mais famosas histórias afirma que um nobre português se apaixonou
por uma freira e, para conquistar o seu coração, ofereceu ao convento as receitas
secretas de doces de sua família. A lenda não nos fala sobre o desfecho amoroso;
sabemos, no entanto, que os doces conventuais caíram nas graças do povo.
A música é outro patrimônio cultural de valor inestimável, expressão de grupos
e de indivíduos, tradição passada de geração para geração. O Fado - estilo musical
tradicional português - é considerado tão importante para a cultura portuguesa que foi
declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Ainda que a origem seja controversa16, as lendas sugerem que o Fado tenha se
originado nas ruas de Lisboa. Segundo uma lenda local, um jovem marinheiro e uma
bela jovem do Alfama, o bairro mais antigo de Lisboa, iniciam um romance secreto,
sem o conhecimento do pai da jovem. Com raiva, o pai trancou a filha, em casa, para
que não pudesse mais ver o marinheiro. O jovem, desesperado, decidiu cantar do lado
de fora da casa da amada para expressar todo seu amor e saudade. Os moradores do
bairro se juntaram para ouvi-lo e ficaram emocionados com a beleza da música e a
profundidade da emoção que ela transmitia.
O fato é que essa tradição foi passada, para gerações futuras, como uma música
que retrata a saudade, a paixão e as emoções intensas do povo português. Vozes como
a de Amália Rodrigues, a "rainha do Fado" que elevou o gênero a nível
internacional, popularizando-o, ao mesmo tempo em que preserva suas tradições.
Vozes como Carlos do Carmo, Mariza, Ana Moura, entre tantas outras, fizeram e
ainda fazem do “fado” parte essencial da identidade portuguesa, alma musical e poética
de uma nação.
A atividade pesqueira, além de fonte de renda de inúmeras comunidades
portuguesas, também faz parte da tradição passada de geração em geração. Esse ofício
envolve técnicas, histórias, lendas que também dizem muito da identidade nacional.
Dizem que é história de pescador, mas muitos lembram até hoje de uma lenda do
século XIX de um pescador chamado Manuel, que pescou um bacalhau gigante e o usou
como dote para se casar com uma das moças mais bonitas e desejadas de Aveiro. A
partir daí, os moradores da cidade começaram a enxergar o bacalhau como um símbolo
de amor e de sorte. Até hoje, essa lenda é contada, em algumas regiões de Portugal,
como uma bela história sobre a importância da pesca na cultura local.
Diversos festivais e eventos culturais celebram a cultura pesqueira todos os anos.
A literatura, por sua vez, reconhecida como uma das grandes riquezas das
nações, é o retrato da identidade cultural e histórica de um país. A Literatura
Portuguesa, mundialmente famosa por autores como Camões, Eça de Queiroz,
Fernando Pessoa entre tantos outros, alcança, pela primeira vez, o prêmio Nobel, em
1998, com Saramago por sua reflexão e busca por uma sociedade mais justa e
igualitária, capaz de se livrar da cegueira do cotidiano.
_____________________
16
Nota: O estilo musical conhecido como Fado, de origem controversa, alimenta narrativas que ora remontam ao período Mouro, ora apontam as ruas
de Lisboa ou influências de várias partes do mundo como a Modinha e o Lundum do Brasil com origens africanas e portuguesas.

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Em seu romance "Memorial do Convento", uma revisão alegórica e crítica da


história portuguesa, Saramago menciona a Passarola, um aparelho voador criado pelo
padre brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, máquina símbolo de liberdade,
representação da vontade humana de se libertar dos grilhões da vida cotidiana e voar
sobre os preconceitos, sobre a incoerência dos governantes. Na história, o padre é
auxiliado pela personagem Blimunda, aquela que tem o poder de ver a alma das
pessoas, de enxergar além das aparências.
A riqueza e a verdadeira “alma portuguesa” não estavam no além-mar, mas
se faziam presentes, desde sempre, nas flores que contam histórias, no artesanato, na
culinária, na música, nos ofícios, na literatura, nos saberes populares e nas lendas
transmitidas para as futuras gerações. Tudo isso reafirma a identidade cultural e a
histórica de um país, o sentimento de pertencimento, o grande tesouro de valor
inestimável de qualquer nação.
A lição que Orfeu mais se fixou foi saber, tal qual vimos com a personagem
Blimunda, de Saramago, que, para enxergar a alma das pessoas, das coisas e dos
lugares, é preciso ir além das aparências, é preciso “re-parar”, “parar muitas” vezes para
observar além do ego e da cobiça desmedida.17
Orfeu resume algumas dessas riquezas em trechos do seu samba...

“PESCAR HISTÓRIAS… (...)


UM BANHO DE ALFAZEMA QUE CONDUZ (...)
FADO VIRA SAMBA, E O SAMBA VIRA FADO”

_____________________
17
Nota: A motivação do setor é apontar que a riqueza de um país advém de sua arte, das tradições passadas de geração em geração; jamais trazer uma
abordagem cronológica a qual mostre que um tipo de atividade precedeu a outra. Até porque baseamos nossas pesquisas em lendas, em narrativas
populares, em tradições orais, sem qualquer intenção de localizar essas lendas com precisão no tempo. Aqui temos o tempo da fabulação!

400
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Setor 6 - Fados das lendas em Romaria


“É segredo, não conto a ninguém
Sou Tijuca, vou além”
Unidos da Tijuca - 2010

Conta o destino, o fado dos antigos poetas, que os povos invasores legaram a
Portugal histórias, conhecimentos, mitos fundadores de cidades, narrativas das
navegações, das artes, dos saberes e dos ofícios. Para além das narrativas, esses povos
deixaram ainda, na Península Ibérica, línguas, crenças, religiões.
As lendas relativas à fé formam um capítulo à parte no imaginário português. As
muitas histórias dos santos católicos cultuados em Portugal se somam a um grande
mistério, uma aparição que traz consigo um segredo que, há mais de um século, desafia
a religião, a ciência, a psicologia.
Entre a devoção e a lenda existe um limite tênue. Mais uma vez, quem conta as
“contas desse rosário”, aumenta muitos pontos.
Ao abrir os livros sagrados, Orfeu, aquele que por amor desceu ao inferno e
conheceu o céu, se surpreende com as muitas narrativas que rondam o culto a alguns
santos católicos.
Ele nos narra as lendas do apóstolo Tiago que, no momento após a morte de
Jesus, vai à Península Ibérica pregar sua mensagem divina. Após a morte dele, os anjos
transportaram o corpo do apóstolo, agora Santiago, por um caminho que passava por
Lisboa, Porto, Braga, Coimbra e Tomar. A devoção a ele se fortaleceu de tal forma que
muitas igrejas foram construídas em sua homenagem ao longo do caminho. O destino
final dos restos mortais do Santo foi a Cidade de Santiago de Compostela, na fronteira
entre Portugal e Espanha. Reza a lenda que assim foi criada a famosa rota de
peregrinação à cidade.
Uma outra lenda, muito popular em Portugal, conta que São Gonçalo do
Amarante se disfarçava de violeiro e saía, pelas ruas da cidade, se aproximando dos
mais necessitados. Além de lhes prestar ajuda, o futuro santo oferecia aos povos de rua
a possibilidade de conversão ao Cristianismo. Ao passar em frente a uma igreja, ele
teria sido expulso pelos padres que não reconheceram sua identidade. Gonçalo teria
então ido até uma taberna próxima e lá, novamente, ao tocar sua viola, teria
transformado a água em vinho. Os presentes na taberna ficaram surpresos e, ao
descobrirem sua verdadeira identidade, passaram a reverenciá-lo como um santo.
Talvez um dos Santos mais populares de Portugal seja Santo Antônio de Lisboa.
Uma das lendas mais famosas associadas a ele conta que uma mulher que desejava
muito ter um filho pede ao santo sua intercessão. Ela foi aconselhada a sempre segurar
a imagem do menino Jesus e enfeitar a casa com lírios. Ela fez tudo o que foi pedido, e
prontamente teve a criança.

401
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Depois disso, muitas mulheres acabaram pedindo ajuda ao santo para ter filhos
ou se casar, dando a ele a fama de santo dos milagres ou santo casamenteiro.18
Além dos santos, das festas e das devoções aos anjos, também são comuns, em
Portugal, momentos celebrados em romarias, em procissões e em missas.
A Festa dos tabuleiros - ou Festa do Divino Espírito Santo - ocorre na cidade de
Tomar, no centro de Portugal. Segundo consta, uma certa rainha portuguesa estava
viajando pela região de Tomar e, ao passar por uma aldeia, ouviu um menino chorando
de fome. Ela pediu ao menino para mostrar o que ele tinha nas mãos, e ele respondeu
que era apenas pão. A rainha então abriu o pão e encontrou rosas dentro dele. Por conta
desse milagre, tabuleiros, em forma de torre, decorados com pães e com rosas, são
transportados, pelas ruas da cidade, em procissões. Os pães são distribuídos aos pobres
e aos participantes da festa como uma forma de partilha e de comunhão.
A devoção aos Anjos do Sagrado Coração de Maria é também uma manifestação
religiosa muito presente no país, celebrada em diversas igrejas e santuários através de
missas, de festas e de procissões. Segundo a lenda, os jovens pastores viram Nossa
Senhora com um coração na mão cercado de espinhos. As três crianças compreenderam
que aquele era o Coração Imaculado da Santíssima Virgem, ofendido pelos pecados da
humanidade, que necessitavam de reparação. Daquele momento em diante, a devoção
se fortaleceu.
No imaginário português, permanece um grande segredo, diriam alguns um
mistério ou uma lenda, talvez um surto coletivo de jovens camponeses em período de
guerra e de privação, quem sabe um fenômeno atípico causado por nuvens e um intenso
raio de sol na primavera portuguesa, não se sabe. Mas, a aparição da Virgem Maria, na
cidade de Fátima, Portugal, para as três crianças - Lúcia, Francisco e Jacinta -
é considerada um dos grandes fenômenos religiosos de Portugal. Os segredos revelados
pela Santa aos jovens se tornaram lendários: visão do inferno, mensagem para Rússia,
atentados.
Muito foi dito sobre as mensagens, o que reascende eternamente o imaginário
das fábulas. Orfeu vem nos comunicar o segredo de Fátima, imaginado, sonhado e,
sobretudo, carnavalizado: “Teremos paz quando houver respeito a todas as religiões,
quando entendermos que toda mãe é sagrada em oração e todas as crenças se unem em
perdão! Amém e Axé...
Assim, Orfeu une em seu samba...
“O SANTO ROSÁRIO E O POVO DE FÉ
PRA CANTAR O FADO TIJUCANO MACUMBADO DE AMÉM E AXÉ
GIRA BAIANA PERFUMADA DE ALECRIM
QUE A UNIDOS DA TIJUCA DEFUMA NO BENJOIM”
_____________________
18
Nota: Não existe um consenso a respeito da data exata do nascimento de Santos como Santiago, Santo Antônio, São Gonçalo de Amarantes. São
muitas as lendas em torno dessas figuras históricas que viveram, há muitos séculos, sem registros precisos da data de seu nascimento.
Já a festa dos Tabuleiros de Tomar e adoração dos santos anjos, ainda que sejam celebrações mais recentes, também são difíceis de localizar com
precisão no tempo. A ordem das alas logo não tem intenção com a cronologia, a ênfase é recontar as lendas presentes no imaginário popular.
Nota: rezam as lendas internas da Unidos da Tijuca que o presidente Fernando Horta ouvia atentamente a explicação do enredo. Interrompeu apenas
quando ouviu que a história da aparição de Fátima seria uma das lendas abordadas no enredo. “Lenda não, isso é verdade”. Teria dito ele... “inclusive
teve três testemunhas… complementou!

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FADO DERRADEIRO

Revisitar o passado sempre traz a possibilidade de reescrever um futuro diferente,


de não repetir os erros e de ampliar as lições.
Ao falar das lendas portuguesas, o risco e o medo de abordar as “páginas infelizes
da história” de um país formado culturalmente por invasões, mas que também invadiu
e impôs sua língua, sua cultura, sua religião a um preço que, ainda hoje, as antigas
colônias pagam; flagelos da colonização que se perpetuaram, mundo afora, na
escravidão e nas eternas sombras da desigualdade social, do racismo estrutural.
Sociedades se reconstroem, se refazem e, acima de tudo, deveriam repensam,
dentro de um novo contexto, como o futuro poder ser escrito com cores diferentes do
passado, com fé e com respeito ao próximo. É essencial que as nações colonizadoras
confrontem seu próprio passado, reconheçam e aprendam com os erros cometidos. O
diálogo aberto, a educação histórica honesta e a cooperação internacional são
fundamentais para enfrentar as consequências da colonização e avançar em direção a
um mundo mais justo e equitativo.
Os monstros marítimos do nosso enredo nos trazem a consciência de que o
inferno não são os outros, mas a nossa incapacidade de enxergar a realidade.
Isso posto, lembramos de Eça de Queiroz, o escritor realista português, que
afirma que somos todos fadistas, somos todos, no fundo, conduzidos por essa canção
chamada destino.
Conduzidos por nosso Orfeu, mergulhamos nas lendas gregas, fenícias, na
mitologia celta, nas lendas da colonização, nos mistérios da fé; descobrimos que as
verdadeiras riquezas de um país se encontram na arte, na cultura, nos fazeres e nos
ofícios do povo os quais se perpetuam por gerações, criando um sentimento de
pertencimento e de integração.
Quando Orfeu decide cantar as narrativas de lá, sabia que todas elas transbordam
nas nossas histórias de cá. O samba, as narrativas, todo esse enredo se concretiza dentro
dessa herança repleta de poesia e de beleza, flor transformada do Lácio, a língua
portuguesa. Ela que faz o “fado virar samba e o samba virar fado”, que, por destino,
nos permite contar e cantar todas essas histórias.
Uma língua que vem das invasões romanas, com cores mouras, imposição e
reconstrução, materna, transformada, subversiva na gramática do colonizador, nas
próclises, nos dendês e nas farofas de influências africanas e indígenas.19

_____________________
19
Nota: Quando usamos, em nosso samba enredo, palavras como balaio, axé, dendê, batuque, ifá, benjoim e a própria palavra “samba” sabemos que
essa história é ancestral, e que nossa língua portuguesa é bem brasileira, repleta de influências africanas, tanto que foi denominada, por Lélia
Gonzalez, como “pretuguês”

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Ela é nosso veículo de comunicação e de arcabouço desse samba fadado a nos


lembrar que as mais belas histórias são aquelas que, sem pretensão com a verdade, nos
transportam no tempo, nos conectam, nos fazem imaginar novas possibilidades, nos
fazem questionar e, sobretudo, nos ensinam sobre nós mesmos.
Quando Orfeu olha “para atrás”, nos traz possibilidades de caminhar, com
segurança, para o futuro e escrever um enredo diferente.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

ROTEIRO DO DESFILE

PRIMEIRO SETOR:
FADOS MITOLÓGICOS

Comissão de Frente
“OFFIUSA”

1° Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:


Matheus André e Lucinha Nobre
“O OURO DE OFFIR”

Velha-Guarda: OS DESCENDENTES DE
ORFEU

Ala 01 – Comunidade
CAVALOS DE FÃO; “OS GUARDIÕES
QUE EMERGIAM DAS MARÉS”

Alegoria 01
Abre-Alas
A ARCA DE UMA NOVA ALIANÇA: GUARDIÃ
DAS LENDAS DOS SEGREDOS DE OFFIR

SEGUNDO SETOR:
FADOS DE MAGIA

Ala 02 – Comunidade
OS DRUIDAS: A CONEXÃO ENTRE O
MUNDO ESPIRITUAL E O TERRENO

Ala 03 – Comunidade
NÁBIA: A DEUSA DOS RIOS E DO
BARRO

405
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Ala 04 – Ala das Baianas


AS TÉGINAS: GUARDIÃS DO
CONHECIMENTO E DO TEMPO

Ala 05 – Comunidade
CARIOCECUS: DEUS DA GUERRA E DA
CAÇA

Ala 06 – Comunidade
SUCELLUS: O DEUS DA
AGRICULTURA E DAS FESTIVIDADES
“DO CACHO FAÇO VINHO PRA
COLHEITA FESTEJAR”

DESTAQUE DE CHÃO
MUSA – O VINHO NO BALAIO DE
MAGIA
Lorena Fafá

Alegoria 02
OS SEGREDOS DOS POVOS PRÉ-ROMANOS: UM
BALAIO DE MAGIA – A CONEXÃO MÍSTICA
ENTRE A NATUREZA E O HOMEM

TERCEIRO SETOR:
FADOS INVASORES

Ala 07 – Comunidade
OS LEGIONÁRIOS E OS
GUERRILHEIROS: UMA DISPUTA
LENDÁRIA

DESTAQUE PERFORMÁTICO -
“VIRIATO”
THIAGO AVANCCI

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Ala 07 – Comunidade
OS LEGIONÁRIOS E OS
GUERRILHEIROS: UMA DISPUTA
LENDÁRIA

2° Casal de Mestre-Sala e Porta Bandeira


Rafael Gomes e Thainá Teixeira
“HERANÇA DAS MIL E UMA NOITES”

Ala 08 – Passistas
ALQUIMIA: OS PASSISTAS VALEM
OURO!

Rainha de Bateria
Lexa
A ÚLTIMA RAINHA MOURA: MATRIARCA
DA DIVERSIDADE

Ala 09 – Bateria
BATERIA: HISTÓRIAS EM CERÂMICA

Ala 10 – Comunidade
ARQUITETURA MOURISCA: UM
PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Ala 11 – Comunidade
ASTRONOMIA: LEGADO ESTELAR DOS
MOUROS

DESTAQUE DE CHÃO
MUSA – Os Astros do Oriente
Mariah Dantas

Tripé
HERANÇAS MOURAS: “DOCES SABORES,
VELHO SABER”

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

QUARTO SETOR:
FADOS MARÍTIMOS

Ala 12 – Comunidade
ADAMASTOR: O MOSTRO DAS
TORMENTAS

Ala 13 – Comunidade
VARUNA: O DEUS CROCODILO DOS
MARES DA ÍNDIA

DESTAQUE DE CHÃO
MUSA – BRUMA DA BRANCA ESPUMA
Larissa Neto

Ala 14 – Comunidade
O MONSTRO DA BRUMA: TERROR E
CEGUEIRA NO ATLÂNTICO

Ala 15 – Comunidade
TANGAROA: O MONSTRO DA COSTA
DA NOVA DA GUINÉ

Ala 16 – Comunidade
O DRAGÃO DE QUATRO CABEÇAS: O
TERROR DOS MARINHEIROS NO MAR
DA CHINA

DESTAQUE DE CHÃO
MUSA – POR MARES NUNCA DANTES
NAVEGADOS
Patricia Chélida

Alegoria 03
OS SEGREDOS DA MÁQUINA DO MUNDO: O
ALERTA À MONSTRUOSIDADE NA
COLONIZAÇÃO

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

QUINTO SETOR:
FADO D’ALMA PORTUGUESA COM CERTEZA

Ala 17 – Comunidade
ALFAZEMA E O CRAVO: ENTRE A
CURA E A DEMOCRACIA

Ala 18 – Comunidade
TAPETES E LENÇOS: A CRIATIVIDADE
E A TRADIÇÃO ARTESANAL

DESTAQUE DE CHÃO
MUSA - ÍCONE PORTUGUÊS
Ana Filipa

Ala 19 – Comunidade
GALO DE BARCELOS: SÍMBOLO DE
SORTE E DE JUSTIÇA

Ala 20 – Comunidade
PESCADOR DE HISTÓRIAS: A ARTE
DA PESCA EM PORTUGAL

Ala 21 – Comunidade
A FREIRA DOCEIRA: TRADIÇÃO DOS
CONVENTOS

Ala 22 – Comunidade
FADO: ALMA MUSICAL PORTUGUESA

Ala 23 – Comunidade
PASSAROLA

DESTAQUE DE CHÃO
MUSA – ALMA PORTUGUESA
Bete Floris

409
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Alegoria 04
PASSAROLA: OS SEGREDOS DA VERDADEIRA
ALMA PORTUGUESA

SEXTO SETOR:
FADOS DAS LENDAS EM ROMARIA

Ala 24 – Comunidade
OS PEREGRINOS DE SANTIAGO: AS
LENDAS PELO CAMINHO

Ala 25 – Comunidade
OS DEVOTOS DE SANTO ANTÔNIO DE
LISBOA: O LENDÁRIO SANTO
CASAMENTEIRO

Ala 26 – Comunidade
OS DEVOTOS DE SÃO GONÇALO: AS
CRÔNICAS DE UM SANTO VIOLEIRO

DESTAQUE DE CHÃO
MUSA - FÉ
Geisa Eloy

Ala 27 – Comunidade
FESTA DOS TABULEIROS: A ROMARIA
DOS PÃES E ROSAS

Ala 28 – Comunidade
ANJOS DE MARIA: A CONSAGRAÇÃO
DE TODAS AS MÃES

Alegoria 05
SEGREDOS EM ROMARIA: A UNIÃO DO
AMÉM COM AXÉ

ALA DE COMPOSITORES

410
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Alexandre Louzada e Airton Filho
Nº Nome da Alegoria O que Representa

01 Abre-Alas Contam as lendas que os fenícios, ao percorrerem o


A ARCA DE UMA NOVA Mediterrâneo, aportaram na Praia de Offir, nas terras
ALIANÇA: GUARDIÃ DAS que se tornariam Portugal. Era de lá que eles extraíam
LENDAS E DOS SEGREDOS o ouro que abastecia as lendárias minas do rei Salomão,
DE OFFIR soberano de Israel. Depois de tantos barcos
atravessarem o Mediterrâneo até Israel, o rei, em
gratidão, enviara a Offir, de presente aos Fenícios, uma
arca repleta de corcéis. A embarcação, infelizmente,
acaba naufragando próximo à famosa praia. Contam as
lendas que os corcéis se transformaram nos rochedos
que, até hoje, se veem por lá.
O Abre-Alas da Unidos da Tijuca reconta essa
história repleta de encantamentos, uma arca da aliança
*Imagem meramente ilustrativa entre os povos, guardiã das lendas, das histórias e dos
segredos que serão contados por todos o enredo. O
pavão - símbolo da escola – se torna o veículo para
contar essas lendas. Vale lembrar que, em muitas
representações artísticas relativas a Salomão, o pavão é
mostrado, em palácios, como um símbolo de riqueza e
de opulência.
O tom dourado da alegoria remete ao ouro de Offir,
as ondas do mar e os lendários cavalos que compõem o
entorno do carro remontam à lenda.
Na segunda parte da alegoria, o trono do Salomão se
apresenta, em um cenário repleto de elementos que
remetem ao Templo de Jerusalém, como o Menorah e
os leões, símbolos sagrados de fé e de poder.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

02 OS SEGREDOS DOS POVOS Os celtiberos foram os povos pré-romanos que


PRÉ-ROMANOS: UM habitaram as terras que viriam a ser Portugal. A alegoria
BALAIO DE MAGIA – A traz a história desses povos que deixaram uma aura de
CONEXÃO MÍSTICA ENTRE encantamento e de magia no local.
A NATUREZA E O HOMEM A conexão deles com a natureza era tão grande que a
floresta era considerada como um local mágico de
crença na coexistência de seres espirituais com os seres
humanos. Eles viviam em casebres de madeira e de
pedra e acreditavam em múltiplas divindades
associadas a fenômenos da natureza e a eventos
sobrenaturais, dentre os quais cerimônias e cultos de
veneração à água, ao barro, à uva, ao tempo.
A alegoria recria esse cenário no qual os druidas – os
sacerdotes responsáveis por preservar a magia dos
*Imagem meramente ilustrativa celtiberos – usavam suas habilidades para conectar o
mundo espiritual ao terreno. O carvalho, a árvore
sagrada, símbolo do conhecimento, era usado por eles
como um portal mágico. Em Portugal, a azinheira - o
carvalho mais abundante, era usado para invocar os
deuses e os seres míticos como Ephona, uma entidade
em forma de cavaloa alado/unicórnio, protetora da mãe
natureza.
Na alegoria, raízes, cogumelos, folhas e flores
reforçam a conexão estreita entre esses povos com a
natureza.

* Tripé A alegoria traz o conjunto de contribuições mouras,


um legado que, até este tempo, molda aspectos da vida
HERANÇAS MOURAS: portuguesa. Os azulejos, os minaretes, a representação
“DOCES SABORES, VELHO dos planetas nos ajudam a contar como a herança moura
SABER” deixou uma marca significativa, em Portugal, em
diversos campos, incluindo arquitetura, astronomia,
ciência, literatura, gastronomia etc.
Na astronomia, além de observarem e catalogarem os
planetas e os corpos celestes, eles desenvolveram
instrumentos de observação e técnicas matemáticas
para calcular as posições dos astros com precisão.
Os árabes trouxeram ainda conhecimento na
medicina, na matemática, na poesia, impactando
*Imagem meramente ilustrativa positivamente o progresso científico em Portugal.
No tripé, um sábio mouro, no meio de todo esse
legado, está sentado sobre um tapete mágico, aquele
que, nas lendas árabes, é capaz de nos transportar pelo
tempo e pelo espaço, mostrando como as histórias
antigas nos ajudam a entender o presente, e provando
que todo saber traz um imenso sabor para a vida.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

* Tripé Obs.: os minaretes são as torres onde os fiéis são


chamados à oração nas mesquitas. Embora muitos
HERANÇAS MOURAS: tenham sido convertidas em igrejas, após a reconquista
“DOCES SABORES, VELHO cristã, essas torres ainda são encontradas em algumas
SABER” estruturas históricas em Portugal

*Imagem meramente ilustrativa

03 OS SEGREDOS DA A alegoria reconta as muitas narrativas das navegações.


MÁQUINA DO MUNDO: O Parecia até lenda que aquele pequeno reino, ainda em
ALERTA À formação, ao buscar no mar uma saída para tantas
MONSTRUOSIDADE NA privações, tenha chegado a mares nunca dantes
COLONIZAÇÃO navegados.
Os marinheiros portugueses detalhavam, em suas
crônicas, os monstros marinhos que acreditavam ver,
nos oceanos, por onde passavam.
Na alegoria, vemos a representação de um desses
monstros com várias mãos e com grandes olhos de
cobiça.
Vemos também as esculturas do escritor português
Luís de Camões e do seu alter ego, o velho do Restelo,
*Imagem meramente ilustrativa personagem de Os Lusíadas. Era justamente essa
personagem quem alertava a todos sobre a cobiça
desvairada dos navegantes e da corte. (Atenção aos
olhos da cobiça, grande mal da colonização).
O velho do Restelo era a voz que denunciava a
monstruosidade dos colonizadores para com os povos
nativos. Os temíveis monstros, relatados pelos
navegantes, já sabia a personagem camoniana, eram os
próprios colonizadores.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

03 OS SEGREDOS DA Ao lado do episódio do velho do Restelo, um outro


MÁQUINA DO MUNDO: O momento magistral de Os Lusíadas, retratado na
ALERTA À alegoria, é a lendária “máquina do mundo”, apresentada
MONSTRUOSIDADE NA a Vasco da Gama na Ilha dos Amores. A máquina era a
COLONIZAÇÃO configuração do inconfigurável - a alegoria do
conhecimento divino, a compreensão do passado, do
presente e do futuro. Os desejos humanos, a maldade, a
bondade, a inveja: tudo se via ali. O navegador
português pode contemplar a ordem do cosmos, a
geografia da Terra, a história de Portugal.
De tudo que viu, durante as navegações, uma certeza:
toda aquela riqueza, conseguida através da colonização
não duraria.
*Imagem meramente ilustrativa A verdadeira riqueza da nação, Vasco da Gama ainda
não conseguia entender, não viria através da
colonização.
Os espelhos presentes na alegoria são os simbólicos e
lendários presentes dados pelos colonizadores aos
nativos. Espelhos que refletem uma imagem distorcida
da realidade - “lhes deram um espelho e viram um
mundo doente”.

04 PASSAROLA: OS José Saramago, aclamado escritor português, em seu


SEGREDOS DA romance “Memorial do Convento”, descreve a
VERDADEIRA ALMA construção de um aparelho voador, idealizado pelo
PORTUGUESA padre brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão.
Essa máquina, chamada de Passarola, se tornaria o
símbolo da liberdade, a representação da “alma”
portuguesa genuína.
No livro, o padre é auxiliado pela personagem
Blimunda, aquela que tem o poder de ver a alma das
pessoas, de enxergar além das aparências. É ela quem,
com seus poderes mágicos, consegue fazer a Passarola
decolar.
*Imagem meramente ilustrativa A representação carnavalesca da Passarola, em nossa
alegoria, une as verdadeiras riquezas do país, muitas
vezes, invisíveis em um primeiro olhar.
A “alma portuguesa”, essencial e invisível aos olhos,
não estava nas riquezas em ouro advindas do além-mar,
mas se fazia presente, desde sempre, nas flores que
contam histórias, no artesanato, na culinária, na música,
nos ofícios, na literatura, nos saberes populares e nas
lendas transmitidas de geração em geração.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

04 PASSAROLA: OS Nossa Passarola reconta muitas histórias, dentre as


SEGREDOS DA quais, a lenda da jovem camponesa que coloca um
VERDADEIRA ALMA cravo no fuzil de um soldado, durante os conflitos que
PORTUGUESA culminariam com o fim da ditadura de Salazar. O ato
simbólico se espalhou por toda parte e nomeou a
Revolução dos Cravos, o movimento que restituiria as
liberdades democráticas de Portugal.
A canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso,
até então proibida no governo de Salazar, se tornaria
símbolo desse momento.
Na nossa alegoria, a cantora de fado Mariza, ícone da
música portuguesa, simboliza, com sua fantasia
chamada “Grândola Vila Morena”, esse reflorescer de
*Imagem meramente ilustrativa
Portugal após a revolução.
Ela, tal qual a Revolução de Cravos, também
completa 50 anos. A cantora moçambicana é filha de
pai português e foi, ainda pequena, viver em Lisboa.
Na alegoria, a representação do escritor José
Saramago, da rainha do fado, Amália Rodrigues bem
como de elementos que compõem a verdadeira alma
portuguesa, tesouro de valor inestimável de qualquer
nação.
A passarola transporta, mundo afora, todo esse
patrimônio cultural, riquezas que fazem um país alçar
voos em relação ao respeito ao seu povo, à sua cultura
e à sua história.

05 SEGREDOS EM ROMARIA: O último carro, tal qual um andor em procissão, traz


A UNIÃO DO AMÉM COM a imagem daquela cuja história é envolta em
AXÉ “segredos”.
A aparição de Fátima aos pastores e a revelação dos
três segredos permanecem no imaginário português, até
hoje, como um dos seus maiores mistérios.
Diriam alguns se tratar de uma lenda, talvez um surto
coletivo de jovens camponeses em período de guerra e
privação, quem sabe um fenômeno atípico causado por
nuvens e um intenso raio de sol em um dia de primavera
portuguesa.
*Imagem meramente ilustrativa O fato é que a aparição da Virgem Maria, na cidade
de Fátima, é considerada um dos grandes fenômenos
religiosos de Portugal. Os segredos revelados pela
Santa aos jovens se tornaram lendários: visão do
inferno, mensagens sobre guerra, atentados. Muito foi
dito a respeito das mensagens – o que reascende
eternamente o imaginário das fábulas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

SEGREDOS EM ROMARIA:
A UNIÃO DO AMÉM COM
05 AXÉ Orfeu, nosso narrador, vem nos comunicar o segredo de
Fátima, imaginado, sonhado e, sobretudo,
carnavalizado: só alcançaremos a paz quando houver
respeito irrestrito a todas as pessoas, a todas as
orientações, a todas as religiões, quando entendermos
que toda mãe é sagrada, que todas as crenças precisam
se unir em perdão, que nenhuma luta por território vale
a vida de um irmão.
A alegoria vem ladeada por Yabás, as mães rainhas,
*Imagem meramente ilustrativa as baianas que defumam o desfile com benjoim em
busca de purificação e de paz.
A alegoria traz ainda rosas, anjos e alecrim, planta
sagrada que Nossa Senhora encontrou ao lado da
manjedoura do menino Jesus.
A alegoria é, sobretudo, uma mensagem de
esperança, de união, de perdão e da comunhão do Santo
Rosário com o Povo de Fé, do AMÉM com o AXÉ!

“O SANTO ROSÁRIO E O POVO DE FÉ


PRA CANTAR O FADO TIJUCANO MACUMBADO DE AMÉM E AXÉ
GIRA BAIANA PERFUMADA DE ALECRIM
QUE A UNIDOS DA TIJUCA DEFUMA NO BENJOIM”

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Nomes dos Principais Destaques Respectivas Profissões


Abre-Alas - “A Arca de uma Nova Aliança:
Guardiã das Lendas dos Segredos de Offir”
Waleska Mamede - Segredo Guardado pelos Empresária
Cavalos de Fão
Anderson Soares - Fantasia: Tesouro Nutricionista
Encantado da Praia de Offir
Amanda Marques - Fantasia: Tesouro Modelo
Encantado da Praia de Offir
Janderson Tavares - Fantasia: Tesouro Figurinista
Encantado da Praia de Offir
Paula Valente - Fantasia: Guardiões do Tesouro Empresária

Alegoria 02 - “Os Segredos dos Povos Pré-


Romanos: Um Balaio de Magia - A Conexão
entre a Natureza e o Homem”
Yoohji Leão - Fantasia: Gnomo
Adriana Bernardes - Fantasia: Fada em Fado Modelo e Figurinista
de Primavera Executiva Comercial
Corintho Rodrigues - Fantasia: Magia Druida Cerimonialista
Luciana - Fantasia: Ninfas
Karina - Fantasia: Ninfas
Leonardo - Fantasia: Fauno
Roberto - Fantasia: Fauno
Wellington - Fantasia: Fauno
Willian Rufino - Fantasia: Fauno

Tripé - “Heranças Mouras: Doces Sabores,


Velho Saber”
Rodrigo Leocádio - Fantasia: Herança Empresário
Mourisca

Alegoria 03 - “Os Segredos da Máquina do


Mundo: O Alerta à Monstruosidade na
Colonização”
Catarina Harmony - Fantasia: As Brumas do
Mar Bravio
Luiz Dorini - Fantasia: Vasco da Gama e a Cabelereiro
Máquina do Mundo
Talita - Fantasia: Mistérios dos Mares Nunca
Dante Navegados

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Sandra - Fantasia: Mistérios dos Mares Nunca


Dante Navegados

Alegoria 04 - “Passarola: Os Segredos da


Verdadeira Alma Portuguesa”
Grupo de composição (Queijo inferior
frontal) – Fantasia: Soldados da revolução dos
cravos
Meime dos Brilhos - Fantasia: Amália, A Maquiadora Profissional
Eterna Voz de Portugal
Carla Close - Fantasia: Blimunda Sete-Luas Empresária
Carlos Açuna - Fantasia: Bartolomeu Sete-Sóis
Dida - Fantasia: Fadista
Felipe - Fantasia: Fadista
Alegoria 05 - “Segredos em Romaria: A
União do Amém com Axé”
Thalita Amaral - Fantasia: Luzes de uma Empresária
Aparição
Leandro Palma - Fantasia: Arcanjo da Paz
Nabil - Fantasia: Anjos
Lisa Suan - Fantasia: Anjos
Karen Lima - Fantasia: Anjos
Rony Matos - Fantasia: Anjos

Abre-Alas - “A Arca de uma Nova Aliança:


Guardiã das Lendas dos Segredos de Offir”
Waleska Mamede - Segredo Guardado pelos
Cavalos de Fão
Anderson Soares - Fantasia: Tesouro
Encantado da Praia de Offir
Amanda Marques - Fantasia: Tesouro
Encantado da Praia de Offir
Janderson Tavares - Fantasia: Tesouro
Encantado da Praia de Offir
Paula Valente - Fantasia: Guardiões do Tesouro

Alegoria 02 - “Os Segredos dos Povos Pré-


Romanos: Um Balaio de Magia - A Conexão
entre a Natureza e o Homem”
Yoohji Leão - Fantasia: Gnomo
Adriana Bernardes - Fantasia: Fada em Fado
de Primavera

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Local do Barracão
Rua Rivadávia Corrêa, nº. 60 – Barracão nº. 12 – Gamboa – Rio de Janeiro – Cidade do Samba
Diretor Responsável pelo Barracão
Fernando Leal
Ferreiro Chefe de Equipe Carpinteiro Chefe de Equipe
Alan Duque Futica
Escultor(a) Chefe de Equipe Pintor Chefe de Equipe
Alex Salvador Magrão (Tuninho Fita)
Eletricista Chefe de Equipe Mecânico Chefe de Equipe
Gilmar Antônio
Outros Profissionais e Respectivas Funções
Alexandre Louzada Carnavalesco
Airton Filho Projetista
Leandro Santos Decorador
Nino Fibra
Tom (Know How) Iluminação

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FICHA TÉCNICA

Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Alexandre Louzada e Airton Filho
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala
Ala da Velha- Harmonia
Guarda
* Velha-Guarda: A Velha-Guarda da Unidos da
os Descendentes Tijuca, tradicional guardiã das
de Orfeu histórias contadas por tantos
carnavais, é formada por diversos
antigos compositores de samba.
É ela quem transmite, de geração em
geração, todo conhecimento e todas
as histórias do carnaval.
Eles, descendentes de Orfeu da
*Imagem Conceição, compositores de tantos
meramente sambas, prestam homenagem ao
ilustrativa mito grego, lenda fundadora que nos
inspira ao longo do enredo. A ala
usa figurino branco com um
drapeado helênico .

01 Cavalos de Fão: Contam as lendas que os fenícios, Comunidade Harmonia


“os guardiões depois de enviarem muitos
que emergiam carregamentos de ouro ao rei
das marés” Salomão, foram presenteados com
uma arca repleta de corcéis, os mais
ágeis que se tem notícia. A
embarcação, todavia, afundou
justamente perto da praia de Offir,
na freguesia Fão, Portugal. Dizem
que, por intervenção divina, os
cavalos se transformaram nos
*Imagem rochedos e, até hoje, se veem, na
meramente região, chamados de Cavalos de
ilustrativa Fão, popular ponto turístico
português.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

01 Cavalos de Fão: Segundo as histórias, esses cavalos Comunidade Harmonia


“os guardiões de rocha são os guardiões que
que emergiam resguardam as riquezas do local, e
das marés” que, em caso de perigo, emergem
das marés para protegê-las.
O figurino resgata essa lenda
portuguesa, reproduzindo os
cavalos, que afundaram mesclando o
preto dos rochedos com as cores do
mar.

*Imagem
meramente
ilustrativa

02 Os Druidas: a Os druidas celtiberos eram Comunidade Harmonia


conexão entre o sacerdotes que desempenhavam um
mundo espiritual papel fundamental na cultura e na
e o terreno religião local. Muitos deles vestiam
roupas de pele de carneiro, um
material sagrado associado à
fertilidade. Acredita-se que a
escolha do traje também tivesse uma
função simbólica ajudando os
druidas a se conectarem com a
natureza e a assumirem uma posição
*Imagem espiritual elevada. O carvalho – a
meramente árvore sagrada desses povos, um dos
ilustrativa símbolos do conhecimento,
representação do ciclo da vida –
funcionava como um portal entre o
mundo espiritual e o terreno.
As folhas do carvalho, os símbolos
druidas, a pele e chifre estilizados
do carneiro compõem o figurino.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

04 As Téginas: A ala das Baianas da Unidos da Ala das Harmonia


guardiãs do Tijuca representa as deusas Téginas, Baianas
conhecimento e as guardiãs do rio Tejo, as senhoras
do tempo da sabedoria e do tempo, dos povos
celtiberos.
Essas entidades eram representadas
vestindo roupas adornadas com
flores e folhas com tom dourado
outonal, refletindo a sua conexão
extrema com a natureza e com o
tempo, em um mundo em constante
evolução e mudança.
*Imagem A exemplo das Téginas, as Baianas,
meramente no mundo do samba, são veneradas
ilustrativa com as senhoras detentoras do
conhecimento e representantes da
ancestralidade.

05 Cariocecus: deus Cariocecus é o deus celtibero da Comunidade Harmonia


da guerra e da guerra e da caça, associado à
caça coragem e ao poder militar, era
venerado, era venerado, em
batalhas, como protetor dos
guerreiros.
Todo o figurino de Cariocecus
remete às atividades de caça e de
guerra, demonstrando suas
habilidades e status como uma
divindade guerreira e conectada à
*Imagem natureza.
meramente Em suas mãos, o arco e a flecha,
ilustrativa símbolos da sua habilidade como
caçador. Na fantasia, chifres de
animais e a palha, comumente
associada ao trigo, à cevada e a
outros cereais, reforçam a conexão
de Deus com a natureza.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

06 Sucellus: o deus Sucellus, deus celtibero da Comunidade Harmonia


da agricultura e agricultura, das florestas e das
das festividades bebidas, principalmente do vinho,
“do cacho faço era venerado pelas tribos locais por
vinho pra ser um deus bonachão e generoso,
colheita festejar” que se preocupava com a
prosperidade e com o bem-estar dos
seres humanos. Sucellus, tal qual o
Deus romano baco, era
frequentemente invocado em
cerimônias de fertilidade para
assegurar boas colheitas e garantir a
alegria dos festejos.
A fantasia, em tom de vinho, repleta
*Imagem de uvas, remete à conexão do Deus
meramente com a bebida e as festividades.
ilustrativa
* O Vinho no Musa Harmonia
Balaio de Magia (Destaque de
Chão)

*Imagem
meramente
ilustrativa

07 Os Legionários e A ala encena o embate entre a Comunidade Harmonia


os Guerrilheiros: Legião Romana e o exército de
uma disputa Viriato, uma espécie de
lendária guerrilheiros locais que tinham por
objetivos expulsar o invasor.
Os Romanos, que invadiram a
Península Ibérica, e por lá,
permaneceram por muitos séculos,
foram expulsos, segundo as
histórias, pelo exército de Viriato.
A elite do exército romano,
frequentemente chamada de “Os
Legionários”, é representada por
uniforme vermelho com elmo e com
armadura. O vermelho, segundo a
tradição romana, representava a
força e a bravura dos guerreiros.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

* O contraste entre a caracterização


dos soldados romanos com a
indumentária mais rústica do
Exército de Viriato é claro.
Formado por uma tropa de
camponeses e pastores o exército do
herói usava chifres e roupas repletas
Viriato de farrapos. Eles lutavam armados
Destaque com coragem e conseguiram vencer
Performático da o invasor.
Ala 07

*Imagens
meramente
ilustrativas

08 Alquimia: os Os passistas da Unidos da Tijuca Passistas Harmonia


passistas valem representam a alquimia – um
ouro! conhecimento esotérico e milenar.
Os Mouros, que tiveram contato
com a alquimia, através dos
egípcios, fizeram suas próprias
contribuições para a ciência como a
descoberta de novos elementos
químicos e técnicas de destilação.
Eles acabaram levando esse
conhecimento às regiões
*Imagem conquistadas, ampliando a gama de
meramente saberes. Os alquimistas buscavam
ilustrativa transformar metais comuns em ouro.
Na fantasia dos passistas, em tom
dourado, os símbolos mais comuns
na alquimia como a lua, força
feminina; e o sol, potência
masculina e fonte infinita de energia
para os alquimistas. Essas forças se
conectam diretamente ao ouro:
matéria-prima da alquimia.
O encantamento da dança dos
passistas, o bailado, a ginga, como
um processo de transcendência da
alquimia, faz toda energia virar
ouro!

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

* A última Contam as lendas que Aragonta, a Rainha de Lexa


rainha moura: última rainha dos Mouros Bateria
percebendo a reconquista cristã
matriarca da iminente, estabeleceu uma forte
diversidade conexão entre esses mundos tão
diferentes.
A rainha estimulou a coexistência de
diferentes culturas e religiões e é
considerada ainda hoje como a
matriarca da diversidade cultural da
região, mãe simbólica de uma nação
que carrega sangue mouro e cristão,
um símbolo de unidade em meio à
*Imagem diversidade.
meramente Sua fantasia prateada representa a
ilustrativa riqueza dos reinos mouros sempre
adornados por penas de pavão.

09 Bateria: histórias A Bateria da Unidos da Tijuca traz, Bateria Harmonia


em cerâmica em sua vestimenta, um legado
mouro repleto de histórias: a arte da
azulejaria.
Os azulejos mouriscos,
caracterizados, a princípio, por
utilizar elementos decorativos
geométricos e florais, foram
introduzidos na Península Ibérica,
durante a ocupação moura. Muito
*Imagem utilizado na arte islâmica, para
meramente decorar mesquitas e palácios, na
ilustrativa Península Ibérica, a técnica passou a
ser utilizada também para revestir
paredes e para ornamentar, mais
tarde, igrejas, mosteiros e palácios
reais.
Mais do que uma simples
decoração, a peça passou, como um
livro de cerâmica, a contar histórias
das invasões e da reconquista.
A cor azul – a mais comum nos
azulejos – era usada por ser mais
fácil e barata de produzir, bastava
adicionar óxido de cobalto à mistura
de argila usada para fazer os
azulejos.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

09 Bateria: histórias A sua importância cultural é tal que Bateria Harmonia


em cerâmica a UNESCO inscreveu a técnica da
arte do azulejo de Portugal, herança
moura, como Patrimônio Cultural
Imaterial da Humanidade.

*Imagem
meramente
ilustrativa

10 Arquitetura A ocupação Moura, na Península Comunidade Harmonia


Mourisca: um Ibérica, deixou também uma grande
patrimônio herança em termos arquitetônicos. A
histórico arquitetura mourisca tem como
característica marcantes o uso de
arcos, de abóbadas e de cúpulas, que
eram apoiadas por colunas e capitéis
ricamente decorados. Na fantasia,
arcos, a decoração nas faixas que
representam as colunas das
construções mouriscas com
azulejos; a abóbada, na parte central
*Imagem do figurino, compõe a ideia desses
meramente legados estético e cultural que
ilustrativa permanece como uma das mais
fascinantes heranças arquitetônicas
da história.

11 Astronomia: Os Mouros trouxeram Comunidade Harmonia


legado estelar conhecimentos avançados da
dos Mouros astronomia árabe e persa para a
Península Ibérica. Além de
observarem e catalogarem as
estrelas, os planetas e outros corpos
celestes, eles desenvolveram
instrumentos de observação e
técnicas matemáticas para calcular
as posições dos astros com precisão.
A fantasia, repleta de elementos que
*Imagem fazem referência à astronomia como
meramente estrelas, astros reflete o legado que
ilustrativa essa ciência deixou para os povos da
região.
426
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

11 Astronomia: Esses conhecimentos foram Comunidade Harmonia


legado estelar importantes para as grandes
dos Mouros navegações, que tiveram seu apogeu
alguns séculos depois, uma vez que
permitiram aos marinheiros
determinarem suas posições no mar
com base nas estrelas e em outros
corpos celestes.

*Imagem
meramente
ilustrativa

* Os Astros do Musa Harmonia


Oriente (Destaque de
Chão)

*Imagem
meramente
ilustrativa

12 Adamastor: o Adamastor é o lendário monstro da Comunidade Harmonia


monstro das literatura portuguesa, associado ao
tormentas Cabo das Tormentas, atualmente
conhecido como Cabo da Boa
Esperança, no sul do continente
africano.
Esse monstro, descrito como um
gigante terrível, amedrontava os
navegantes portugueses que
cruzavam a África rumo a Ásia.
Os relatos mais antigos de
*Imagem Adamastor o descrevem como uma
meramente criatura barbada sempre com o rosto
ilustrativa escondido por trás de uma espécie
de máscara tribal africana que
ocultava sua tristeza.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

12 Adamastor: o Dizem que Adamastor teve sua Comunidade Harmonia


monstro das paixão ignorada pela deusa Tétis - a
tormentas deusa do mar – e as ondas gigantes e
as tempestades violentas que
assolavam o Cabo das Tormentas
seriam o resultado do seu choro e de
seus gritos de desespero.
O figurino, além da máscara tribal,
traz volutas, ornamentos espiralados
que representam o azul do mar
sempre revolto, e o negro das rochas
*Imagem que terrorizavam os marinheiros.
meramente
ilustrativa

13 Varuna: o deus Os Hindus contavam histórias sobre Comunidade Harmonia


crocodilo dos o deus Varuna há séculos, mas os
mares da Índia portugueses ignoraram esses avisos
e continuaram sua busca por
fortuna. Foi então que Varuna
decidiu mostrar seu poder aos
viajantes imprudentes. O figurino de
Varuna – o protetor dos mares
Hindu – representa essa criatura
colossal, uma espécie de crocodilo
marinho cujas cores refletem o tom
*Imagem das algas e do mar da Índia.
meramente Segundo os relatos, Varuna emergiu
ilustrativa das profundezas do mar quando a
expedição portuguesa se aproximou
de Calicute na costa oeste da Índia.

* Bruma da Musa Harmonia


Branca Espuma (Destaque de
Chão)

*Imagem
meramente
ilustrativa
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

14 O monstro da Contam as histórias antigas a lenda Comunidade Harmonia


bruma: terror e do monstro da bruma que
cegueira no assombrava os marinheiros
Atlântico portugueses no Atlântico em direção
ao Novo Continente.
Segundo os relatos, essa criatura
terrível emergia das brumas densas
que surgiam após períodos de
calmaria, causando pânico e
desespero entre os navegadores. O
monstro aparecia durante o
nevoeiro, assaltando os navios com
*Imagem violência e provocando naufrágios.
meramente Dizem que ele causava uma espécie
ilustrativa de cegueira para punir todos aqueles
que tentavam se apossar de terras
que não lhes pertenciam.
A lenda desse monstro do nevoeiro
tem conexão com São Brandão, o
santo cristão lendário, conhecido
como o santo dos navegantes, a
primeira pessoa a descrevê-lo. A
partir de então, a lenda se
popularizou e passou a apavorar a
todos que cruzavam o Oceano
Atlântico.
O figurino tenta reproduzir esse
monstro que criava uma espécie de
“paredão” de névoa com longos
braços que destruíam as
embarcações e impediam a visão
dos navegantes já demasiadamente
cegos pela cobiça desvairada.
15 Tangaroa: o De acordo com as crônicas da época Comunidade Harmonia
monstro da das navegações, Tangaroa era o
Costa da Nova temido monstro marítimo que
Guiné apavorava os marinheiros
portugueses que navegavam
próximo à costa da Nova Guiné, no
Oceano Pacífico.
Depois descrito como uma criatura
colossal que emergia à superfície
com o corpo repleto de escamas, de
conchas, de peixes, Tangaroa era
temido por sua fúria implacável e
*Imagem sua capacidade de causar destruição
meramente nas embarcações.
ilustrativa

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

15 Tangaroa: o Quando pediram a um tripulante Comunidade Harmonia


monstro da para descrever o monstro, ele o
Costa da Nova desenhou com uma máscara e
Guiné estampas tribais típicas da Polinésia
que conferiam um ar misterioso e
sagrado à sua imagem. Nas mãos, o
monstro tinha uma espécie de
pequenos tentáculos que imitavam
um polvo.
A representação da criatura com
cores do Oceano Pacífico mescladas
com as cores dos musgos e das algas
*Imagem marinhas mostra a conexão entre
meramente Tangaroa e as divindades do mar,
ilustrativa conferindo-lhe poderes
sobrenaturais e um status de
entidade divina.

16 O Dragão de Há muito tempo, quando os Comunidade Harmonia


Quatro Cabeças: navegantes portugueses cruzavam os
o terror dos mares em busca de novas rotas
marinheiros no comerciais, uma lenda assombrou
mar da China suas jornadas quando se
aproximaram de Macau, no mar da
China. Era a lenda do temível
Dragão de Quatro Cabeças.
Conta-se que o gigantesco monstro,
que habitava as profundezas do
Oceano Pacífico, era conhecido por
sua fúria indomável e pelas quatro
cabeças. Segundo os relatos, essas
*Imagem cabeças lançavam labaredas que
meramente destruíam as embarcações.
ilustrativa Na fantasia, as quatro cabeças do
dragão, as cores do mar e os
elementos que remetem à China.

430
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

* Por Mares Musa Harmonia


Dantes (Destaque de
Navegados Chão)

*Imagem
meramente
ilustrativa

17 Alfazema e o A alfazema – símbolo cultural de Comunidade Harmonia


Cravo: entre a Portugal – foi introduzida, na região,
cura e a pelos romanos há mais de 2000
democracia anos. Reza a lenda que um rei,
muito enfermo, desperta depois de
lhe fazerem inalar a essência de
Alfazema. Quando o rei se dá conta
do ocorrido, ordena que se plante
alfazema para todos os lados. A
alfazema tornou-se, desde então,
parte essencial em muitos aspectos
da vida portuguesa, seja na
*Imagem culinária, na medicina e em
meramente celebrações religiosas.
ilustrativa O cravo, por sua vez, era cultuado
e cultivado, em Portugal, como
símbolo da paixão e do amor há
centenas de anos. Todavia, seu
simbolismo alcançou uma dimensão
histórica, no momento em que
portugueses marcharam pelas ruas
de Lisboa, segurando cravos,
exigindo o fim da ditadura. A
chamada Revolução dos Cravos foi
um movimento social contra a
ditadura de Salazar.

431
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

17 Alfazema e o A partir daí, o cravo tornou-se um Comunidade Harmonia


Cravo: entre a símbolo nacional de Portugal,
cura e a representando a luta pela liberdade,
democracia pela justiça e pelos direitos
humanos. Essas duas flores
representam os valores e a história
da nação portuguesa.
O figurino masculino, representando
o cravo, traz um traje típico
português remetendo a todos que
foram às ruas marchar pelo fim da
ditadura. O traje feminino,
*Imagem representando a alfazema, traz uma
meramente indumentária típica das camponesas
ilustrativa locais.
As cores das fantasias
representam, respectivamente, as
flores em questão.
18 Tapetes e O Tapete de Arraiolo é uma tradição Comunidade Harmonia
Lenços: a portuguesa originaria da vila de
criatividade e a Arraiolos, localizada no Alentejo.
tradição Esse tipo de tapete é caracterizado
artesanal por cores vibrantes e desenhos que
refletem a cultura e a história da
região.
Reza a lenda que uma jovem
andava triste, sem trabalho, e ao
andar pelos campos, ouve uma voz
misteriosa que lhe diz para procurar,
na natureza, materiais como a lã dos
caneiros para fazer diversos
*Imagem bordados. Os trabalhos ficaram
meramente lindos, e ela resolveu compartilhar o
ilustrativa que aprendeu com a aldeia.
O Lenço dos Namorados, por sua
vez, é uma tradição popular
portuguesa que é originária da
região do Minho. Contam as lendas
que uma moça, privada de papéis
para escrever cartas a um
pretendente, bordou lenços com
mensagens de amor. O costume
virou uma tradição local.

432
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

18 Tapetes e Tanto o tapete de Arraiolo como o Comunidade Harmonia


Lenços: a lenço dos namorados se tornaram,
criatividade e a ao longo dos anos, símbolos da
tradição identidade e da história do povo
artesanal português, uma tradição passada de
geração em geração que preserva,
através do artesanato, as expressões
da arte popular.
A fantasia, na parte da frente, traz
a imagem de um grande tapete e, na
cabeça, a representação do lenço dos
namorados; dessa forma, presta
homenagem ao artesanato típico de
*Imagem Portugal.
meramente
ilustrativa

* Ícone Português Musa Harmonia


(Destaque de
Chão)

*Imagem
meramente
ilustrativa

19 Galo de A lenda do Galo de Barcelos é uma Comunidade Harmonia


Barcelos: história popular portuguesa que
símbolo de sorte relata as aventuras de um peregrino
e de justiça acusado de roubo na cidade de
Barcelos, Portugal. Apesar de negar
a culpa, foi levado à forca. Enquanto
avistava um galo assado em um
prato, disse: “É tão certo eu ser
inocente, como é certo esse galo
cantar quando me enforcarem”!
Nesse momento, o galo ergueu-se,
na mesa, e cantou, e o homem
*Imagem sobreviveu ao enforcamento (depois
meramente se descobriu que o acusado se
ilustrativa salvara graças a um nó malfeito).
433
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

19 Galo de Desde então, o Galo de Barcelos Comunidade Harmonia


Barcelos: se tornou símbolo de boa sorte e o
símbolo de sorte artesanato mais vendido no país. O
e de justiça figurino, em forma de galo, faz
alusão a esse ícone, a representação
simbólica do país aos olhos
estrangeiros.

*Imagem
meramente
ilustrativa

20 Pescador de Dizem que é história de pescador, Comunidade Harmonia


histórias: a arte mas muitos lembram, na atualidade,
da pesca em da lenda de um pescador chamado
Portugal Manuel, que pescou um bacalhau
gigante e o usou como dote para se
casar com uma das moças mais
bonitas e desejadas de Aveiro. Após
isso, os moradores da cidade
começaram a enxergar o bacalhau
como um símbolo de amor e de
sorte. Até hoje, essa história é
contada, em algumas regiões de
*Imagem Portugal, com o surgimento da
meramente tecnologia moderna, o que permitiu
ilustrativa que os pescadores navegassem mais
longe, no oceano, em busca de
peixes.
De toda forma, a atividade
pesqueira, além de fonte de renda de
inúmeras comunidades portuguesas,
é uma tradição passada para
gerações futuras, como parte da
identidade nacional. Diversos
eventos culturais e festivais
celebram a cultura pesqueira todos
os anos. A rede de pesca e os peixes
ajudam a compor o figurino do
pescador que, em dias festivos,
costuma usar tons avermelhados em
homenagem à pátria.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

21 A Freira Os doces conventuais Comunidade Harmonia


Doceira: portugueses trazem consigo um
tradição dos imenso repertório de histórias.
conventos Durante anos, as freiras e os
monges dessas instituições
produziram doces e outros
alimentos como forma de sustento
e como meio de ajudar os mais
necessitados. A maioria dos doces
era feita com ingredientes simples
como açúcar, ovos e amêndoas.
Em uma das lendas, contam
*Imagem
que os admiradores secretos se
meramente
infiltravam, nos conventos, para
ilustrativa
descobrir as receitas e acabavam
se apaixonando pelas religiosas.
Um nobre português acabou se
apaixonando por uma freira e, para
conquistar o seu coração, ofereceu
ao convento as receitas secretas
dos doces de sua família. A lenda
não nos fala sobre o desfecho
amoroso, sabemos, no entanto, que
os doces conventuais caíram nas
graças do povo.
A fantasia a "freira doceira",
auto explanatória, é uma
homenagem à tradição dos doces
conventuais portugueses, e mostra
o lado criativo e humanitário da
confecção dos doces cuja renda
era, muitas vezes, revertida para o
amparo aos mais necessitados.
22 Fado: alma O fado, estilo musical Comunidade Harmonia
musical tradicional português, carrega
portuguesa consigo muitas lendas sobre sua
história e sua origem. Uma
história muito contada, em
Portugal, afirma que marinheiros
que se reuniam, após um longo dia
de trabalho, para cantar e contar
suas aventuras. Conta a lenda que
um jovem marinheiro se
apaixonou por uma bela jovem do
*Imagem Alfama, o bairro mais antigo de
meramente Lisboa.
ilustrativa

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

22 Fado: alma Quando o pai da jovem Comunidade Harmonia


musical soube, ele a trancou em casa para
portuguesa que não pudesse mais ver o
marinheiro. O jovem, desesperado,
decidiu cantar, do lado de fora da
casa da amada, para expressar
todo seu amor e saudade. Os
moradores do bairro se juntaram
para ouvi-lo, e ficaram
emocionados com a beleza da
música e a profundidade da
*Imagem
emoção que ela transmitia.
meramente
O fato é que essa tradição,
ilustrativa
de cantar o fado, seja qual for sua
origem verdadeira, foi passada, de
geração em geração, como uma
música que retrata a saudade, a
paixão e as emoções intensas do
povo português.
O figurino retrata o rapaz
com sua viola - instrumento
originário para acompanhar o
fado.
O fado foi declarado
Patrimônio Cultural Imaterial da
Humanidade pela UNESCO. É uma
parte essencial da identidade
portuguesa e continua a ser
apreciado por amantes da música
em todo o mundo.
23 Passarola A “Passarola” é uma criação fictícia Comunidade Harmonia
do escritor português José Saramago
presente no seu romance “Memorial
do Convento”. Trata-se de um
aparelho voador, criado pelo padre
brasileiro Bartolomeu Lourenço de
Gusmão. Na história, ele é auxiliado
pela personagem Blimunda, aquela
que tem o poder de ver a alma das
*Imagem pessoas, de enxergar além das
meramente aparências.
ilustrativa A “Passarola” é um símbolo de
liberdade, representando a vontade
humana de se libertar dos grilhões
da vida cotidiana, voar sobre os
preconceitos, sobre a incoerência
dos governantes.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

23 Passarola No contexto da trama, a Passarola Comunidade Harmonia


é utilizada como uma forma de
crítica à Igreja Católica e ao poder
vigente, em Portugal, na época em
que se passa a história. O fato de
Bartolomeu tentar voar simboliza a
busca pelo conhecimento e pela
liberdade, o que era visto como uma
ameaça pelos detentores do poder.
*Imagem A fantasia representando a
meramente passarola de Memorial do Convento
ilustrativa é uma homenagem à riqueza da
literatura portuguesa, já tantas vezes
mencionada no enredo, mas que,
com Saramago, alcança, pela
primeira vez, o prêmio Nobel, por
sua reflexão e pela busca por uma
sociedade mais justa e igualitária.
O reconhecimento mundial da
literatura em Língua Portuguesa,
ainda que tardio, coroa uma das
riquezas mais sublimes da lusofonia.
A fantasia tenta reproduzir os
desenhos que os personagens de
Saramago projetaram da
“passarola”, aos moldes de um
pássaro. As escrituras na “passarola”
homenageiam a literatura.

* Alma Portuguesa Musa Harmonia


(Destaque de
Chão)

*Imagem
meramente
ilustrativa

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

24 Os Peregrinos de O culto a Santiago de Compostela, Comunidade Harmonia


Santiago: as conhecido como São Tiago em
lendas pelo Portugal, é muito significativo para
caminho os portugueses, especialmente
devido ao Caminho de Santiago,
uma rota de fé atravessa o norte de
Portugal, passando por cidades
como Porto, Barcelos, Ponte de
Lima e Valença, até a cidade de
Santiago de Compostela, na
Espanha. Neste local, acredita-se
estar enterrado o santo que fora
*Imagem apóstolo de Cristo.
meramente Contam as lendas que, após a
ilustrativa morte de Jesus, Tiago foi à
Península Ibérica pregar sua
mensagem divina. Com a morte do
apóstolo, anjos transportaram o
corpo dele por um caminho que
passava por inúmeras cidades
portuguesas. A devoção, a partir
dessa crença, se fortaleceu de tal
forma que muitas igrejas foram
construídas, em Portugal, em sua
homenagem.
A fantasia traz símbolos carregados
pelos peregrinos como a concha, a
cruz no cajado, e a cabaça que
ajudava a manter a água resfriada.
Os peregrinos se guiavam, por
toda rota, por meio de marcas
douradas-amareladas presentes pelo
caminho. Figurativamente, essas
cores se fazem presentes na fantasia.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

25 Os devotos de Santo Antônio de Lisboa é um dos Comunidade Harmonia


Santo Antônio de santos mais reverenciados e amados
Lisboa: o em Portugal. Sua devoção é tão
lendário Santo grande e seus fiéis são tão
casamenteiro numerosos que é comum ver, no
país, diversas igrejas, capelas e
estátuas dedicadas a ele, além de
festas e procissões em sua honra.
Muitos devotos recorrem a ele em
busca de auxílio, nas mais diversas
áreas da vida, especialmente em
assuntos relacionados ao amor e ao
casamento.
*Imagem Conta a lenda que uma mulher que
meramente desejava muito se casar e ter um
ilustrativa filho pediu ao santo a sua
intercessão. Ela foi aconselhada a
sempre segurar a imagem do menino
Jesus e enfeitar a casa com lírios.
Ela fez tudo o que foi pedido;
prontamente se casou e teve o filho.
O lírio - símbolo da pureza e da
fertilidade - é associado ainda à
união matrimonial.
A lenda correu o mundo, e muitas
pessoas, ainda hoje, pedem a
intercessão do Santo quando querem
se casar. É comum, em Portugal, as
procissões trazerem devotos com
roupas que prestam homenagem ao
Santo.
A fantasia representa esse
momento: o lírio, presente na
fantasia, reaviva a lenda e reforça a
fama de casamenteiro do santo.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

26 Os devotos de São Gonçalo de Amarante é um Comunidade Harmonia


São Gonçalo: as santo também muito cultuado em
crônicas de um Portugal. Uma das lendas mais
santo violeiro famosas do santo conta que ele teria
se disfarçado de violeiro e saído,
pelas ruas da cidade, se
aproximando dos mais necessitados.
Além de lhes prestar ajuda, o santo
oferecia aos povos de rua a
possibilidade de conversão ao
Cristianismo. Ao passar em frente a
uma igreja, ele teria sido expulso
*Imagem pelos padres, que não reconheceram
meramente sua identidade. Gonçalo teria, então,
ilustrativa ido até uma taberna próxima e lá,
novamente, ao tocar sua viola, teria
transformado a água em vinho. Os
presentes na taberna ficaram
surpresos e, ao descobrir sua
verdadeira identidade, passaram a
reverenciá-lo como um santo por
seu coração gigante, seu cuidado
com o próximo e a empatia com os
mais necessitados.
A fantasia faz alusão a esse
episódio da vida do Santo e ao
costume local em que devotos
homenageiam o santo, em dias
festivos, portando uma viola e o
desenho de um coração vermelho no
peito.
* Fé Musa Harmonia
(Destaque de
Chão)

*Imagem
meramente
ilustrativa

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

27 Festa dos A Festa dos Tabuleiros, ou Festa do Comunidade Harmonia


Tabuleiros: Divino Espírito Santo, é uma das
romaria dos pães mais ricas e famosas romarias
e rosas portuguesas celebrada na cidade de
Tomar. De acordo com a lenda, uma
rainha portuguesa viajava pela
região de Tomar e, ao passar por
uma aldeia, ouviu um menino
chorando de fome. Ela pediu ao
menino para lhe mostrar o que tinha
nas mãos. O menino respondeu que
era apenas pão. A rainha, então,
*Imagem abriu o pão e encontrou rosas dentro
meramente dele. Por conta desse milagre,
ilustrativa tabuleiros, em forma de torre,
decorados com pães e com rosas,
são transportados pelas ruas da
cidade em procissões. Os pães são
distribuídos aos pobres e aos
participantes da festa como forma de
partilha e de comunhão.
A fantasia representa esse
momento de romaria tradicional das
terras portuguesas.
28 Anjos de Maria: A devoção aos Anjos do Sagrado Comunidade Harmonia
a consagração de Coração de Maria é uma
todas as mães manifestação religiosa muito
importante em Portugal. Segundo a
tradição, a devoção teve início com
a aparição de Nossa Senhora de
Fátima.
De acordo com a lenda, os
pastorinhos viram Nossa Senhora
com um coração na mão, cercado de
espinhos. As três crianças
*Imagem compreenderam que aquele era o
meramente Coração Imaculado da Santíssima
ilustrativa Virgem, ofendido pelos pecados da
humanidade e que necessitava de
reparação. A devoção aos santuários
espalhados por Portugal,
especialmente na região de Braga,
onde se encontra o Santuário dos
Anjos.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

28 Anjos de Maria: Hoje esses anjos prestam Comunidade Harmonia


a consagração de homenagem a todas as consagrações
todas as mães de Maria, como que para lembrar
que todas as mães são sagradas.
O Sagrado Coração de Maria, ao
centro da fantasia, bem como as asas
estilizadas, compõe o figurino em
tom claro e angelical.

*Imagem
meramente
ilustrativa

442
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Fantasias

Local do Atelier
Rua Rivadávia Corrêa, 60 – Barracão 12, Gamboa/Rio de Janeiro – RJ
Diretor Responsável pelo Atelier
Alexandre Louzada
Costureiro(a) Chefe de Equipe Chapeleiro(a) Chefe de Equipe
Miriam Pires Alexandre Louzada
Aderecista Chefe de Equipe Sapateiro(a) Chefe de Equipe
Alexandre Louzada José Francisco (Zé Sapateiro)
Outros Profissionais e Respectivas Funções
Alexandre Louzada Carnavalesco
Airton Filho Figurinista
Almir Ferragens
Agatha, Roberto, Chefes de Ateliês
Taylor. Marcelo,
Lázaro, Drielly,
Charlene, Alex, Denise e
Júnior
Magrão (Tuninho Fita) Pintura de Arte
Ateliê SubliMagia Arte Plumária
Sr. Luís Cortador
Outras informações julgadas necessárias

443
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Autor(es) do Samba-Enredo Júlio Alves, Claudio Russo, Jorge Arthur, Chico Alves, Silas
Augusto e De Sousa.

Presidente da Ala dos Compositores


Direção de Carnaval e Harmonia
Total de Componentes da Compositor mais Idoso Compositor mais Jovem
Ala dos Compositores (Nome e Idade) (Nome e Idade)
65 Azeitona Gabriel Machado
77 anos 25 anos
Outras informações julgadas necessárias

LETRA DO SAMBA-ENREDO:

Um samba fadado
Ao mar do outro lado
A pescar histórias, memória ancestral
Viaja na bruma da branca espuma
Pra encantar no carnaval

Vai buscar, no vasto oceano, o heroico Odisseu


Que, além do Egeu, não se amedrontou
Com uma rainha tão só e carente
Mulher ou serpente que jurou o seu amor
À beira do Tejo, nascia Lisboa
A musa das Loas dos seus menestréis
Na praia bravia, o ouro escorria
E o guardião emergia das marés

Põe no balaio um punhado de magia


Das divindades que invadiam o lugar
Põe no balaio e amassa com carinho
Que do cacho eu faço vinho pra colheita festejar

N'alma do fado, mil e uma noites, doces sabores, velho saber


Sonho de Sagres... foi a Matamba, herdou o samba, Ifá, dendê
Portugal, das glórias que revelam o passado
Ao monstro que sangrou escravizados
E veio aportar no mar
Que brilha sob o céu de Vera Cruz
Um banho de alfazema que conduz
O Santo Rosário e o povo de fé (de fé)
Pra cantar o fado tijucano
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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Macumbado de amém e axé

Gira baiana perfumada de alecrim


Que a Unidos da Tijuca defuma no benjoin
Gira na roda a saia de linho rendado
Que o fado vira samba e o samba vira fado

Outras informações julgadas necessárias


Sobre a Letra do Samba
O samba-enredo da Unidos da Tijuca, em 2024, traz um compilado de lendas portuguesas que
acabam transbordando também, nas nossas histórias, de forma que o “Fado vira Samba, e o Samba
vira Fado”.

UM SAMBA FADADO
AO MAR DO OUTRO LADO
A PESCAR HISTÓRIAS, MEMÓRIA ANCESTRAL
VIAJA NA BRUMA DA BRANCA ESPUMA
PRA ENCANTAR NO CARNAVAL

Um samba que vai “pescando histórias”, “do mar do outro lado”, lendas, contos de uma grande
viagem de muitos encontros: exorcizando os monstros do passado e resgatando nossa
ancestralidade.

VAI BUSCAR, NO VASTO OCEANO, O HEROICO ODISSEU


QUE, ALÉM DO EGEU, NÃO SE AMEDRONTOU
COM UMA RAINHA TÃO SÓ E CARENTE
MULHER OU SERPENTE QUE JUROU O SEU AMOR
À BEIRA DO TEJO, NASCIA LISBOA
A MUSA DAS LOAS DOS SEUS MENESTRÉIS

Contam as lendas de Homero, que Ulisses, em grego Odisseu, ao atravessar o mar Egeu, chega
em Offiusa, a terra das Serpentes, o local que, segundo as lendas, viria a ser Portugal.
A rainha Serpes, “tão só e carente”, “mulher ou serpente?”, se apaixona pelo herói grego e lhe
promete uma cidade com seu nome “Ulissabon/Lisboa. Assim, “À BEIRA DO TEJO, NASCIA
LISBOA”, a cidade cantada por tantos poetas, “musa das Loas dos seus menestréis”

NA PRAIA BRAVIA, O OURO ESCORRIA


E O GUARDIÃO EMERGIA DAS MARÉS

O samba relembra a lenda dos fenícios que extraíam ouro, da lendária praia de Offir, da
freguesia do Fão, Portugal. Esse ouro abastecia os vastos tesouros do Rei Salomão. O rei, em
gratidão, envia uma embarcação repleta de corcéis que naufraga no local. Esses “cavalos de Fão”,
“os guardiões que emergiam das marés, à propósito, nomeiam o famoso ponto turístico local.

PÕE NO BALAIO UM PUNHADO DE MAGIA


DAS DIVINDADES QUE INVADIAM O LUGAR
PÓE NO BALAIO E AMASSA COM CARINHO
QUE DO CACHO EU FAÇO VINHO PRA COLHEITA FESTEJAR

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Nesse balaio de histórias com um punhado de magia, o samba resgata as narrativas dos
celtiberos, os povos pré-romanos que habitaram a região, conhecidos pela ligação estreita com a
natureza.
Politeístas e animistas, esses povos acreditam em múltiplas divindades associadas a fenômenos
da natureza e a eventos sobrenaturais, dentre os quais cerimônias da colheita e dos cultos de
veneração à terra, ao tempo, ao vinho.

N’ALMA DO FADO, MIL E UMA NOITES, DOCES SABORES, VELHO SABER

Depois dos celtiberos, o samba nos conta como os Romanos e os Mouros invadiram a região que
seria a Península Ibérica. Esses povos deixaram uma herança que perpassa a língua, a arquitetura,
a matemática, a gastronomia, a astronomia.
O legado deixado pelos povos invasores, patrimônio “de mil e uma noites”, molda, ainda hoje,
a identidade cultural de Portugal – uma rica mistura de tradições, saberes e de sabores.

SONHO DE SAGRES... FOI A MATAMBA, HERDOU O SAMBA, IFÁ, DENDÊ


PORTUGAL, DAS GLÓRIAS QUE REVELAM O PASSADO
AO MONSTRO QUE SANGROU ESCRAVIZADOS
E VEIO APORTAR NO MAR
QUE BRILHA SOB O CÉU DE VERA CRUZ

Os marinheiros portugueses, liderados pelo Infante D. Henrique, através da Escola de Sagres,


ampliaram o conhecimento sobre o mundo, aprimoraram as embarcações e os instrumentos
náuticos de forma que Portugal se tornou a primeira superpotência marítima global com colônias
pelo mundo todo.

Navegaram por mares nunca dantes navegados, aportando, desde o Reino de Matamba, atual
Angola, passando por Macau, na China, até Nova Guiné.
Os marinheiros portugueses relatavam, em muitas crônicas, o medo dos monstros marinhos que
encontrariam pelo caminho. Hoje sabemos que os “monstros que sangraram os escravizados”,
eram eles mesmos. As atitudes dos colonizadores em aniquilar culturas e vidas, eram, de fato,
monstruosas.

Os escravos que aportaram, “no mar que brilha sob o céu de Vera Cruz”, trouxeram mais do
que azeite de dendê, os orixás, o samba, trouxeram a força da resistência contra os monstros da
colonização.

UM BANHO DE ALFAZEMA QUE CONDUZ


O SANTO ROSÁRIO E O POVO DE FÉ (DE FÉ)
PRA CANTAR O FADO TIJUCANO
MACUMBADO DE AMÉM E AXÉ

GIRA BAIANA PERFUMADA DE ALECRIM

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

QUE A UNIDOS DA TIJUCA DEFUMA NO BENJOIN


GIRA NA RODA A SAIA DE LINHO RENDADO
QUE O FADO VIRA SAMBA E O SAMBA VIRA FADO

A grande riqueza de Portugal não viria do ouro do além-mar. A verdadeira riqueza de uma nação
advém do povo: símbolos, flores, gastronomia, música/fado, literatura – saberes transmitidos de
geração em geração.
Nosso samba, uma celebração de fé, desvenda, sob as bençãos de Fátima, um dos maiores
mistérios portugueses: só alçaremos a paz quando houver a comunhão do Santo Rosário com o
Povo de Fé, do benjoim com Alfazema e Alecrim, mistura do AMÉM com o AXÉ.

Nota: a flor do Alecrim foi encontrada na manjedoura do menino Jesus, ao lado de Maria, logo
se tornou um símbolo de purificação do catolicismo. O benjoin, por sua vez, usado nas religiões de
matrizes africanas, também é usado para defumar e purificar os ambientes. A alfazema, uma das
flores, símbolo de Portugal, é cultuada na região por seu poder curador e por trazer paz!

Outras informações julgadas


Sobre a Melodia do Samba

O samba da Unidos da Tijuca gira em torno do campo harmônico de Sol.


A escola inicia o samba pelo refrão final, e este refrão, em tom maior (G), {GIRA BAIANA
PERFUMADA DE ALECRIM(...) até QUE O FADO VIRA SAMBA E O SAMBA VIRA FADO}
é marcado pelo clima alegre e festivo, notas vibrantes e desenhos melódicos que nos remetem ao
ápice da grande viagem portuguesa que veio transformar o Brasil neste mosaico de culturas que
conhecemos, sem dúvidas, a maior contribuição deixada por aqui, ao unir instrumentos de cordas,
percussão às vozes e, a partir disso, fazer o maior espetáculo a céu aberto do mundo, que, no nosso
caso: Faz o fado virar samba e o samba vira fado!
A primeira do samba inicia em tom menor (Gm), no trecho que vai de: {UM SAMBA FADADO
(...) até PRA ENCANTAR NO CARNAVAL} é marcada por uma melodia crescente e guerreira que
tem função, aliada a poesia do samba, de trazer uma abertura com valentia e uma apresentação
vigorosa da proposto do enredo.
E o samba fadado a levar a Unidos da Tijuca à avenida Marques de Sapucaí, começa a traçar o
seu destino, se ergue em tom maior (G) e {VAI BUSCAR, NO VASTO OCEANO, HERÓICO
ODISSEU (...) ATÉ COM UMA RAINHA TÃO SÓ E CARENTE} é perceptível a abertura da
melodia que propositalmente está ligada ao início da aventura tijucana pelos mares.
E a variação melódica torna ao tom menor (Gm) {MULHER OU SERPENTE QUE JUROU O
SEU AMOR (...) até E O GUARDIÃO EMERGIA DAS MARÉS} é o nascimento de Lisboa a beira
do rio Tejo e a melodia bailando ganha dramaticidade sem perder a força e prepara a finalização
para chegada do refrão do meio, importante dizer que o tom menor aqui mantém o clima e não tem
caráter dolente.

O refrão do meio em tom maior (G) {PÕE NO BALAIO UM PUNHADO DE MAGIA (...) a
QUE DO CACHO EU FAÇO VINHO PRA COLHEITA FESTEJAR} tem um desenho melódico
que privilegia o canto e a alegria, a repetição da frase que inicia o refrão possibilita o envolvimento
do componente e remete aos festejos que celebram a boa colheita.
O início da segunda parte do samba carrega um lirismo melodioso característico dos fados e em
tom menor (Gm) {N’ALMA DO FADO, MIL E UMA NOITES, DOCES SABORES, VELHO SABER
(...) até SONHO DE SAGRES...FOI A MATAMBA, HERDOU O SAMBA, IFÁ, DENDÊ} possui na

447
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

melodia uma crescente, além de ter uma nota Sol diminuta tão específica e peculiar em: {HERDOU
O SAMBA}
A passagem para o tom maior (G) {PORTUGAL, DAS GLÓRIAS QUE REVELAM O PASSADO
(...) até E VEIO APORTAR} faz a melodia se abrir para o canto e ganhar força para elucidar um
setor tão importante do enredo. Falamos das glórias portuguesas, como falamos também, da
atrocidade que foi a escravidão e a diáspora africana. Definitivamente, não passamos pano!
A melodia retoma o tom menor (Gm) e dança harmonicamente como as ondas do mar {NO MAR
(...) até MACUMBADO DE AMÉM E AXÉ} é o momento que o caldo cultural do nosso enredo se
prepara para desaguar numa explosão de felicidade com a chegada do refrão. Esta preparação
tem um desenho melódico crescente, equilibrado e vigoroso que dialoga com toda a construção do
samba.

GIRA BAIANA PERFUMADA DE ALECRIM (A)


QUE A UNIDOS DA TIJUCA DEFUMA NO BENJOIN (A)
GIRA NA RODA A SAIA DE LINHO RENDADO (B)
QUE O FADO VIRA SAMBA E O SAMBA VIRA FADO (B)

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Bateria

Diretor Geral de Bateria


Mestre Casagrande
Outros Diretores de Bateria
Coringa, Cosme, Gabriel, Jorginho, Julinho, Junior Sampaio, Marcos Esguleba, Lucas, Rodrigo
Diamante, Thompson e Yuri.
Total de Componentes da Bateria
262 (duzentos e sessenta e dois) componentes
NÚMERO DE COMPONENTES POR GRUPO DE INSTRUMENTOS
1ª Marcação 2ª Marcação 3ª Marcação Reco-Reco Ganzá
12 12 11 - -
Caixa Tarol Tamborim Tan-Tan Repinique
100 - 36 - 37
Prato Agogô Cuíca Pandeiro Chocalho
- - 24 2 24
Outras informações julgadas necessárias

Repique Mor - 4

449
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Harmonia

Diretor Geral de Harmonia


Fernando Costa
Outros Diretores de Harmonia
Allan Guimarães, André Dias Vianna, Antônio Augusto, Arthur Napoleão, Carlos Gomes da Motta,
Cláudia Souza, Deise Lúcia Ramos de Alencar, Eduardo Neves, Fábio Cardoso, Janaína Leite, Jorge
da Silva Maio, José Adriano, Jucelino Santana, Leonardo Vinícius Canedo, Luís Antônio Pinto
Duarte, Luiz Carlos França, Luiz Claudio da Silva Braga, Luiz Fernando Correa, Luiz Fernando
Turibi, Marcelo Guimarães, Marcelo Pulcheiro, Magno de Aguiar Granadeiro, Mary Oliveira da
Costa, Marvio Salustiano de Souza, Paulo Cesar Constancio da Conceição, Paulo Delphim, Renato
Cardoso, Rodrigo Francisco de Oliveira, Sidnei Marcio Consentino, Thiago Henrique Dias,
Weverton Augusto dos Santos e Victor Manaia.
Total de Componentes da Direção de Harmonia
42 (quarenta e dois) componentes
Puxador(es) do Samba-Enredo
Intérprete Oficial: Ito Melodia
Intérpretes de Apoio: Tem Tem Jr, Matheus Gaúcho, Tuninho Jr, Thiago Chaffin e Maninho.
Instrumentistas Acompanhantes do Samba-Enredo
Diretor Musical: Ivinho do Cavaco
Cavaquinho: Ivinho do Cavaco e Sandro Pio
Violão de Seis Cordas: Nildo Barbosa
Violão de Sete Cordas: Xanddy Uruguaio
Outras informações julgadas necessárias
O intérprete: Ito Melodia, nome artístico de Acraílton Forde, herdou do pai, Aroldo Melodia, o
talento de um dos maiores intérpretes das escolas de samba. Ito é vencedor de seis Estandartes de
Ouro, entre outros prêmios como o Tamborim de Ouro e Estrela do Carnaval.
Para o carnaval de 2024, é quem comanda o carro de som da Unidos da Tijuca com sua
irreverência e estilo únicos.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Evolução

Diretor Geral de Evolução


Fernando Costa
Outros Diretores de Evolução
Marquinho Marino (Diretor de Carnaval)
Total de Componentes da Direção de Evolução
44 (quarenta e quatro) componentes
Principais Passistas Femininos
Natany Peres, Gleice, Ana Patrícia e Júlia Santos.
Principais Passistas Masculinos
Flávio, Anderson e Bruno.
Outras informações julgadas necessárias
Leyla Barros – Coordenadora da Ala de Passistas

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Informações Complementares

Vice-Presidente de Carnaval
João Paredes
Diretor Geral de Carnaval
Marquinho Marino
Outros Diretores de Carnaval
-
Responsável pela Ala das Crianças
-
Total de Componentes da Quantidade de Meninas Quantidade de Meninos
Ala das Crianças
- - -
Responsável pela Ala das Baianas
Ivone Gomes
Total de Componentes da Baiana mais Idosa Baiana mais Jovem
Ala das Baianas (Nome e Idade) (Nome e Idade)
65 Maria da Conceição Jéssica Marcolino
83 anos 29 anos
Responsável pela Velha-Guarda
Ricardo Luís da Silva
Total de Componentes da Componente mais Idoso Componente mais Jovem
Velha-Guarda (Nome e Idade) (Nome e Idade)
48 Dona Lenir Lilian Estevan
78 anos 52 anos
Pessoas Notáveis que desfilam na Agremiação (Artistas, Esportistas, Políticos, etc.)

Outras informações julgadas necessárias

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA
Comissão de Frente

Responsável pela Comissão de Frente


Sérgio Lobato
Coreógrafo(a) e Diretor(a)
Sérgio Lobato e Patrícia Salgado
Total de Componentes da Componentes Femininos Componentes Masculinos
Comissão de Frente
17 08 09
(quinze) (oito) (nove)
Outras informações julgadas necessárias

Total de componentes aparentes nas apresentações: 15 (quinze)

OFFIUSA
Os mitos da fundação fazem parte de diversas populações ao redor do mundo. A busca das
origens faz parte de um imaginário coletivo em que o passado nos serve como mirada para nosso
presente, justificando ações, escolhas e limites da História. A antropóloga Maria Laura
Cavalcanti, no texto “Origem: Para que as quero?”, e mesmo o antropólogo Levi Strauss, em seu
clássico “Sobre o mito e o significado”, apontam para a ânsia humana de buscar o “início de tudo”
e que tal ação faz parte do fluxo da vida social humana.
Dito isso, nossa comissão de frente tem o objetivo de mostrar, de maneira carnavalizada,
uma, dentre tantas outras versões, história a respeito de um mito da origem da criação de Lisboa e,
por conseguinte, de Portugal.
Inspirado no mito grego, Orfeu da Conceição, conhecido pelo seu amor impossível, é o
narrador de nossa história. É ele que, junto às Moiras – originalmente eram três, mas, aqui
ampliadas ao número de doze – deusas da mitologia grega que tecem o destino em fios e nós,
narram, contam, tecem e desfiam uma linda e conturbada história de amor.
Quando Offiusa ainda era uma terra quase que inabitada morava, ali, a Rainha das Serpentes.
Ora humana, ora em formato de animal, a Rainha reinava e comandava o território até que
Ulisses, o conquistador, chega às suas terras, encantando-a.
Ao viverem uma história de amor, a Rainha permite que Ulisses funde, ali, uma cidade.
Entretanto, ao finalizar o feito, o homem desaparece, deixando a mulher furiosa e despertando
nela o seu pior lado: o de se transformar em serpente e destruir tudo e todos à sua volta. A ira da
rainha das serpentes estremeceu todo o entorno, formando o território que hoje conhecemos como
Portugal.
Ao terminar de narrar a história, Orfeu festeja, pois, contou e cantou mais uma história de
amor tecida pelos fios do destino. Ao falar sobre um dos muitos mitos da criação de Portugal –
aqui, baseado na mitologia grega – demonstra como tal mito da fundação, até hoje, se faz presente
no imaginário popular e o amor, por fim, constrói os belos e trágicos destinos da humanidade.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

Observação:
O Orfeu grego se transmuta em Orfeu da Conceição, nosso narrador, para nos envolver nas tramas
desse destino que começou a ser tecido quando Portugal era conhecido como OFFIUSA, a Terra
das Serpentes. Em nosso enredo, o cavaquinho toma o lugar da lira, momento mágico de
transformação do mito grego em fábula brasileira, conversão do Orfeu grego em Orfeu da
Conceição.

Ficha Técnica da Comissão de Frente 2024:


Assistente de ensaios: Luiz Henrique / Assiste técnico: Michell Baes / Criação cenográfica e dos
figurinos: Airton Filho / Projeto técnico: Airton Filho / Confecção dos figurinos: Ateliê Avant
Première / Responsável pelas esculturas e movimentos especiais: Alex Salvador / Estrutura e
Ferragem: Alan Duque / Carpintaria: Futica / Pintura: Tuninho Fita / Iluminação: Tom / Aderecista:
Leandro Santos

Profissionais envolvidos com o movimento coreográfico:


André Lucio / Fernanda Omena / Patrick Domingues / Ana Clara Pina / Anny Gianott / Guilherme
Henrique / Isabela Nishitani / Jeniffer Monteiro / Jhenifer Aguiar / Jhony Vaz / João Pedro / Júnior
Ovídio / Mayara Alves / Renan / Rodrigo da Silva / Thaissa Portilho / Willian Souza

Sérgio Lobato: Coreógrafo, Maitre de Ballet. Foi Diretor do Ballet do Theatro


Municipal do RJ. Diretor Artístico da Escola Bolshoi no Brasil. Intercâmbio
Artístico, no Royal Ballet School (Londres), Vaganova Academia (Rússia-São
Petersburgo), American Ballet (NY- EUA). Coreógrafo premiado em festivais de
dança Internacional e Nacional. Convidado para trabalhos em Cias. Nacionais e
Escolas América Latina. Coreógrafo premiado no Carnaval Carioca, tal como,
Estandarte de Ouro, Tamborim de Ouro, Samba net 3x, Plumas e Paetês, Rádio tupi,
e muitos outros. Trabalhou com grandes artistas Internacionais e Nacionais.
Atualmente, é Professor e coreógrafo da Escola Petite Danse

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

1º Mestre-Sala Idade
Matheus André 26 anos
1ª Porta-Bandeira Idade
Lucinha Nobre 48 anos
2º Mestre-Sala Idade
Rafael Gomes 34 anos
2ª Porta-Bandeira Idade
Thainá Teixeira 27 anos
Outras informações julgadas necessárias
*DADOS SOBRE O PRIMEIRO CASAL DE MESTRE-SALA E PORTA-
BANDEIRA

O OURO DE OFFIR - O primeiro casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


da Unidos da Tijuca representa o Ouro de Offir. Segundo as lendas, da
Praia de Offir, em Portugal, os fenícios extraíam o ouro que Salomão
usava para abastecer sua fabulosa riqueza.
O ouro de Offir era conhecido por sua pureza divina e apresentava
tanto um valor espiritual quanto material. Sua qualidade inigualável o
tornava um símbolo de prosperidade e de conexão com Deus.
O figurino do casal representa a essência desse ouro lendário -
personificação da opulência e do sagrado - um material valioso que
entrou para a história.

455
Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

*Imagem meramente ilustrativa


Matheus André: Após os primeiros passos como Mestre-Sala no projeto "Madureira,
Toca, Canta e Dança" e na Escola Mestre Dionísio, Matheus defendeu os pavilhões das
agremiações Unidos do Anil, Unidos da Vila Kennedy e Caprichosos de Pilares, onde
venceu o concurso para 2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Ingressou em 2016 na
Unidos da Tijuca, após ganhar o concurso que formou o 2º Casal da agremiação. Após
07 (sete) anos, foi alçado ao posto de 1º Mestre-Sala para o Carnaval de 2023, tendo em
vista sua dedicação a arte do bailado e ao seu carisma sem esquecer de unir as nuances
entre o vigor, a técnica e o bailado tradicional de Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

Lucinha Nobre: Deu início a sua carreira como primeira porta-bandeira em 1992,
conquistando a atenção da crítica e do público. Construiu uma linda trajetória no samba
com bastante solidez e leveza, conquistando muitos prêmios como: 06 (seis) estandartes
de ouro e 03 (três) tamborins de ouro. Sendo o último, em 2022, pela Portela.
Se destaca, também, como apresentadora e comentarista de carnaval na TV Globo.
Defendeu escolas como Mocidade, Unidos da Tijuca e Portela. No ano de 2024,
finalmente retorna à Unidos da Tijuca, escola onde mais recebeu notas máximas e,
também, frequentemente premiada.

Outras informações julgadas necessárias


*DADOS SOBRE O SEGUNDO CASAL DE MESTRE-SALA E PORTA-
BANDEIRA

*Imagem meramente ilustrativa

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Abre-Alas – G.R.E.S. Unidos da Tijuca – Carnaval 2024

HERANÇA DAS MIL E UMA NOITES – O segundo Casal de Mestre-


Sala e Porta-Bandeira da Unidos da Tijuca representa a herança moura, povo
que ocupou a Península Ibérica por muitos séculos.
Em Portugal, essa ocupação deixou um legado duradouro influenciando a
arquitetura, a ciência, a língua, a astronomia.
As muitas estrelas da fantasia relembram esse legado de “mil e uma noites”
tal qual as histórias contadas por Sherazade na obra capital do mundo árabe.
Nosso casal nos ajuda a contar as muitas histórias dessa herança que ainda
hoje é parte integrante da identidade cultural portuguesa.

457
458
G.R.E.S.
IMPERATRIZ
LEOPOLDINENSE

PRESIDENTE
CÁTIA DRUMOND

459
460
Nome Do Enredo

COM A SORTE VIRADA PARA A LUA SEGUNDO O


TESTAMENTO DA CIGANA ESMERALDA

Carnavalesco
Leandro Vieira
461
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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Enredo

Enredo
Com a sorte virada para a lua segundo o testamento da cigana Esmeralda.
Carnavalesco
Leandro Vieira.
Autor(es) do Enredo
Leandro Vieira.
Autor(es) da Sinopse do Enredo
Leandro Vieira.
Elaborador(es) do Roteiro do Desfile
Leandro Vieira.
Ano da Páginas
Livro Autor Editora
Edição Consultadas

01 O testamento da Leandro Gomes de Domínio Público Todas as


cigana Esmeralda Barros páginas

02 100 cordéis Organização e Mossoró: 2008 Todas as


históricos segundo Curadoria de Queima-Bucha páginas
a Academia Gonçalo Ferreira
Brasileira de da Silva
Literatura de
Cordel

Outras informações julgadas necessárias

463
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

HISTÓRICO DO ENREDO

O enredo COM A SORTE VIRADA PRA LUA SEGUNDO O TESTAMENTO DA CIGANA


ESMERALDA se debruça livremente sobre um pequeno folheto literário cujo conteúdo gira entorno
do encontro do testamento da cigana Bruges de Esmeralda e o descortinar de seus ensinamentos
místicos.

Escrito há mais de cem anos pelo paraibano Leandro Gomes de Barros, a obra (batizada de O
testamento da cigana Esmeralda) é um clássico literário do escritor nordestino conhecido como o rei
da poesia do sertão. Na narrativa fictícia do folheto, após a morte da cigana no continente europeu, o
testamento da personagem foi descoberto e trazido para o Brasil por um grupo de ciganos. Com o
avanço da leitura da obra, nos deparamos com uma reunião de imaginários místicos atribuídos ao
universo cigano reinterpretado pelos delírios da literatura nordestina de caráter popular. Desse modo,
o que encontramos na obra que inspira o enredo é uma série de ensinamentos advindos de conceitos
coletivos sobre a interpretação dos sonhos; uma tabela para a consulta prévia de datas consideradas
felizes ou aziagas; um guia para a leitura da sorte através do estudo da palma da mão; a influência dos
astros junto à sina dos indivíduos e, ainda, uma série de abordagens zodiacais que flertam com o tão
enigmático quanto popular universo do horóscopo.

O fato é que o enredo Leopoldinense é formatado a partir de parte do conhecimento desse conteúdo
de caráter popular expresso pela mencionada obra. Longe de querer ser fiel a tudo que ele aborda, o
fantasioso testamento é vertido em um lúdico manual momesco traduzido em canto, dança e imagens
poéticas a partir de nossas intenções. Com o libreto nas mãos e o delírio como premissa, vislumbramos
uma narrativa que festeja o desejo de bem viver e se alimenta da ânsia pela boa sorte enquanto flerta
com o rico imaginário atribuído à cultura cigana. Dessa maneira, o enredo que desfila é uma ficção
carnavalesca em cima de uma ficção literária popular.

Na sequência, o texto anexado ao material que expõe o histórico do enredo, revela não apenas a livre
interpretação da obra que nos inspira, como também, pode ser compreendido como uma sinopse das
intenções narrativas e conceituais da proposta apresentada.

COM A SORTE VIRADA PRA LUA SEGUNDO O TESTAMENTO DA CIGANA ESMERALDA.

Conto, em meio ao carnaval, que uma cigana chamada Esmeralda deixou escrito um testamento cheio
de ensinamentos. Esse testamento foi trazido para o Brasil por um grupo de ciganos que, em caravana
e ao redor de fogueiras, espalhou festa, música, circo, dança e a crença popular naquilo que o
testamento guardava. O fato é que esse testamento parou nas minhas mãos e ao lê-lo, desde então,
quero a festa de adormecer nos braços de Morfeu pra colher um sonho bom pra sonhar acordado.
Sonhar com cisne pra esperar candura. Com rosa encarnada pra ser feliz sem demora. De olhos
fechados, sonhar com urso, macaco ou vaca gorda, para que, de olhos abertos, eu possa botar fé no
jogo certo, ganhar na dezena e na centena. Quebrar a banca quando der doze no milhar e, na véspera,
com um elefante eu sonhar. Ciente do que diz o testamento, peço apenas que com pressa me acordem
caso, em sonho, um sultão vier me visitar.
464
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Sei de cor e salteado (e foi lendo o testamento da cigana que eu aprendi) que há dias nos quais o azar
se põe a espreitar. Por isso, malandro que sou, piso manso pra não vacilar. Espero aquilo que não se
antecipa nem se atrasa. O que é meu - a cigana me contou - tem data e hora marcada pra chegar. Tá
escrito na palma da mão que a linha da fortuna vai fazer valer o meu corre-corre pra não deixar a
peteca cair. Que a linha da vida é forte e que a linha do amor é fino traço, quase corda bamba, onde é
bom se equilibrar com a expectativa de não cair, enquanto espero que pinte aquele sorriso de pele
preta que vai pintar a vida que eu quero (e que todo mundo quer) de rosa.

Sei que tá na palma da mão o que se ganha e se perde. Que tá no céu o tempo bom e o tempo mau.
Nos astros que se movem. Nos planetas que mudam de lugar. Conto-lhes o segredo que habita o céu
desde o tempo dos faraós: quem erra também pode passar a acertar. A vida embolada pode embalar.
Quem chora pode então gargalhar. O de cima descer. O de baixo subir. O zodíaco prever ou anunciar
aquilo que virá, o sol entrar em peixes, o brilho lunar em aquário, o balanço das marés fazer as coisas
mudarem, o calendário marcar fevereiro, quem é bamba bombar e a Escola decolar. E é aí que (foi a
cigana quem me antecipou) ninguém segura, amarra ou prende quem nasceu com a sorte virada pra
lua.

*Pesquisa, desenvolvimento e texto: Leandro Vieira.

465
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

JUSTIFICATIVA DO ENREDO

Para o pleno entendimento da narrativa expressa pelo enredo “COM A SORTE VIRADA PRA LUA
SEGUNDO O TESTAMENTO DA CIGANA ESMERALDA” é preciso compreender duas intenções
artísticas como premissa pré-determinada para a sua realização. A primeira, como já foi dito, é que o
enredo se debruça numa obra literária que possui o imaginário cigano como mote para flertar com
ideias populares que falam sobre a leitura dos sonhos dos que dormem; guias e calendários para
obtenção de boa sorte; adivinhações possíveis através da leitura das mãos; da ideia de destino; da
influência dos astros sobre os indivíduos e da interpretação zodiacal.

A segunda premissa, como a sinopse inclusa nesse material sugere, é que aquilo que apresentamos
como narrativa carnavalesca não é - e nem quer ser – a tradução literal do folheto. O enredo que desfila
é uma ficção carnavalesca sobre um testamento já fantasioso (ou seja, ficção) que gira em torno de
uma cigana (igualmente inventada) que é a personagem central da obra de um gênio da literatura
nordestina que fez de sua imaginação febril o motor para a criação do conteúdo literário que nos serve
de material carnavalesco.

Livre da ideia de querer ser um fac-símile (ou seja, não queremos fazer de nosso desfile uma
reprodução exata de tudo que consta na obra original) o enredo apresentado pinça do testamento que
se configura como uma espécie de compilação dos saberes atribuído à cigana Esmeralda, aquilo que
nos convém para a construção de uma narrativa que recebe acréscimos de ficção intencionais na busca
da criação de um ambiente carnavalesco permissivo e afinado com o universo cultural da escola.

Sem deixar de ser ancorado pelo que sugere o testamento, é importante frisar que realizar ficção é
altamente afinado com o universo carnavalesco, sobretudo com a produção dos enredos e das
visualidades produzidas para os desfiles das escolas de samba enquanto narrativa artística. Embora
em desuso, a ficção aplicada ao carnaval, ou seja, a possibilidade de criar mundos e realidades
alternativas a partir de obras ou situações reais que podem receber camadas de imaginação é o que
justifica o enredo apresentado.

Debruçados sobre a literatura popular e mergulhados em imaginários lúdicos vislumbrados pelo povo
brasileiro em seus anseios mais plenos de humanidade, reavemos a partir de “COM A SORTE
VIRADA PRA LUA SEGUNDO O TESTAMENTO DA CIGANA ESMERALDA” a ideia de que
um enredo pode (também) reivindicar a fuga da realidade como uma possibilidade de realizar carnaval
de alto nível narrativo e pleno exercício de fartura criativa.

A seguir, a abordagem do enredo é apresentada de forma resumida a partir de sua setorização


acompanhada de breves comentários que lançam luz nos conteúdos narrativos, artísticos e conceituais
que apontam o recorte por nós pré-determinados para serem apresentados na obra carnavalesca que
desfila.

466
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

PRIMEIRO SETOR / A CARAVANA, A FESTA E UM MANUAL DELIRANTE: Como dito,


a Imperatriz Leopoldinense está mergulhada em atmosfera cigana. A comissão de frente inicia o ritual
e, ludicamente, lança luz sobre o fogo e a fogueira como artifícios fundamentais para os ritos ciganos.

O setor introduz o tema: o testamento de uma cigana chamada Esmeralda é encontrado por um grupo
de ciganos que se encarrega de trazer o artigo para terras brasileiras. É sobre esse material literário
que a Imperatriz Leopoldinense está debruçada. Em linhas gerais, os componentes do setor vestem-se
à moda cigana. Uma caravana festiva abre caminho para que as baianas personifiquem a própria
cigana Esmeralda. Aquela que tudo sabe. Aquela que tudo vê de forma antecipada.

É de sua sabedoria diante da possibilidade de desvendar um mundo lírico de devaneios; de antecipar


o destino de um indivíduo a partir daquilo que as mãos podem guardar; de seu conhecimento
astrológico e de sua sapiência no que diz respeito à questões zodiacais que a construção visual do
abre-alas da escola está debruçada.

SEGUNDO SETOR / SONHANDO A VIDA FEITO CARNAVAL: Recorrendo ao conteúdo do


testamento da cigana Esmeralda e se atendo à abordagem que prevê a interpretação de um sonho como
uma das formas de se ler a sina de uma pessoa, adentramos nas brumas de um mundo lírico.
Ludicamente, estamos nos domínios de Morfeu - o deus grego dos sonhos.

Em suma, o conjunto de fantasias que desfila flerta com uma atmosfera lírica enquanto menciona
algumas das imagens apontadas pelo libreto como o prenúncio de um fato antecipado pelo sonho
daqueles que dormem. No conjunto visual das alas, o branco predomina quase que como uma névoa
acrescida de artigos brilhantes que vão ganhando pequenos toques de cor. Em sequência, há sonhos
que antecipam o anúncio de felicidade plena; sonhos compreendidos como maus presságios; sonhos
que antecipam candura e, ainda, sonhos que podem ser entendidos como bons para pôr fé no jogo.

TERCEIRO SETOR / DESTINO TRAÇADO: UM CALENDÁRIO E A LEITURA DA MÃO:


A ideia de que o destino é algo pré-estabelecido como uma sina a ser cumprida que pode ser antecipada
por um conhecimento adivinhatório é uma das mais fascinantes páginas associadas ao imaginário
cigano. Dessa forma, a possibilidade de possuir um guia que prevê informações para o bem viver e o
interesse de saber previamente o que acontecerá no futuro é o mote principal do setor.

De início, nos debruçamos sobre a existência de uma tabela disponibilizada pelo testamento da cigana
onde é possível consultar datas apresentadas como dias de sorte ou azar. Na sequência, a partir do
elemento cenográfico, mergulhamos no universo da leitura da mão (quiromancia) partindo do
princípio de que nela está escrito (seja pelo formato dos dedos, pelas linhas que cruzam a palma, ou
pelos “montes”) o destino de cada indivíduo, tal qual sugerem os versos do libreto que lança luz sobre
o testamento fictício.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

QUARTO SETOR / OS ASTROS NA IMENSIDÃO: O setor mergulha nos ensinamentos


atribuídos à cigana no campo astrológico. No testamento ficcional vislumbrado por Leandro Gomes
de Barros, o autor não apenas narra a influência dos astros sobre a personalidade das pessoas como
também credita à personagem uma curiosa semana astrológica. Nela, Esmeralda deixa por escrito a
regência de cada dia da semana correlacionando-os a satélites e planetas.

Conceitualmente, as fantasias se debruçam num conceito estético que faz uso da tradição de associar
os dias da semana a astros celestes ou a deuses pagãos. Visualmente, o setor investe em múltiplas
linguagens para a exploração do tema. Além dos figurinos destinados às alas, há elementos aéreos, a
inserção de uma dupla de musas e um conjunto alegórico que lança luz no conhecimento astrológico
advindo do Egito a partir da informação contida no testamento de que Esmeralda era filha de egípcios,
sabedora “do segredo da esfinge” e da “ciência do Faraó, cujos os livros se perderam.”

QUINTO SETOR / O ZODÍACO E O PRENÚNCIO DA SINA DA MINHA ESCOLA: Fazendo


lúdicos paralelos que se valem da permissividade carnavalesca e reivindicando a ficção e o delírio
como premissas de atividades artísticas ligadas ao carnaval, entrecruzamos as premunições zodiacais
atribuídas à cigana em seu testamento ao mapa astrológico da escola de Ramos.

Tirando partido do horóscopo, da posição dos planetas e dos signos do zodíaco em relação à terra no
exato momento de seu “nascimento” (para nós, a data de sua fundação) lançamos um olhar esotérico
sobre a própria Imperatriz Leopoldinense.

Fundada em seis de março de 1959 e analisada astrologicamente sob à luz da poesia carnavalesca, o
Grêmio que desfila é regido por Netuno, seu signo é o décimo segundo signo astrológico do zodíaco
(peixes) e sua lua é em aquário. É sobre esses aspetos conceituais e estéticos que encerramos nossa
apresentação nos derramando na visualidade de signos que possuem a água como elemento. O planeta
azul (Netuno) impõe suas cores. O deus dos mares e das marés se funde à constelação de “piscis”. Na
última alegoria, reluz a lua em aquário (para quem viramos a nossa sorte) enquanto o dia clareia.

Por Leandro Vieira em fevereiro de 2024

468
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

ROTEIRO DO DESFILE

PRIMEIRO SETOR:
A CARAVANA, A FESTA E UM MANUAL
DELIRANTE

Comissão de Frente
A CIGANA E A FOGUEIRA

1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira


Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro
“A CIGANA ESMERALDA E O PRÍNCIPE DA
FRANÇA”

Elemento Cenográfico Aéreo


A IMPERATRIZ DESFILA COM A SORTE
VIRADA PRA LUA

Ala 01 – Ala Dó Ré Mi / Ala Baile da Gaiola


CARAVANA EM FESTA

Elemento Cenográfico
A CARAVANA

Ala 02 – Ala das Baianas


A CIGANA QUE TUDO PODE ENXERGAR

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Alegoria 01 – Abre-Alas
IMAGENS POÉTICAS PARA UM
TESTAMENTO VERTIDO EM MANUAL

SEGUNDO SETOR:
SONHANDO A VIDA FEITO CARNAVAL

Ala 03 – Ala da Velha-Guarda


O SONHO NO TESTAMENTO DA CIGANA
ESMERALDA

Destaque de Chão
ASAS PARA SONHAR

Ala 04 – Ala Choro Suburbano


MORFEU: SONHO, DEVANEIO E MAGIA

Ala 05 – Ala Bandeira Dois


SONHAR COM ROSA

Ala 06 – Ala Largo do Itararé


SE SONHAR COM SULTÃO

Ala 07 – Ala Bonecas Deslumbradas


SONHAR COM A DAMA DO BARALHO

Ala 08 – Ala Rio Antigo


QUEM SONHA COM CISNE

Alegoria 02:
SE SONHAR COM BICHO, RISCA A FÉ NO
TALÃO

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

TERCEIRO SETOR:
DESTINO TRAÇADO: UM CALENDÁRIO E A
LEITURA DA MÃO

Ala 09 – Ala Bar da Portuguesa


DIAS FELIZES

Destaque de Chão
Azar

Ala 10 – Ala Cinco Bocas


DIAS AZIAGOS

Elemento Cenográfico
O DESTINO TRAÇADO NA MÃO

Ala 11 – Ala de Passistas


A LINHA DO CORAÇÃO

Rainha da Bateria
Maria Mariá
UM TREVO-DE-QUATRO-FOLHAS PARA
GUARDAR NA MÃO

Ala 12 – Ala da Bateria


A LINHA DA VIDA

Ala 13 – Ala Rainha de Ramos


A LINHA DA FORTUNA

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Ala 14 – Ala Tamarineira


O MONTE APOLO

Alegoria 03
A VIDA EM CADA LINHA

QUARTO SETOR:
OS ASTROS NA IMENSIDÃO

Elementos Decorativos Aéreos


ASTROS CELESTES

Ala 15 – Ala Morro da Baiana


A LUA

Ala 16 – Ala 484


A REGÊNCIA DE MARTE

Ala 17 – Ala Piscinão de Ramos


SOB A REGÊNCIA DE MERCÚRIO

Ala 18 – Ala Deu no Poste


O PLANETA JÚPITER

Ala 19 – Ala Parque Shanghai


VÊNUS: A ESTRELA DA MANHÃ

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Dupla de Musas
A REGÊNCIA DE SATURNO E O BRILHO DO SOL

Alegoria 04
A CIÊNCIA DO FARAÓ E OS ASTROS NA
IMENSIDÃO

QUINTO SETOR:
O ZODÍACO E O PRENÚNCIO DA SINA DA
MINHA ESCOLA

Ala 20 – Ala Bar dos Compositores


MAPA ASTRAL: A CERTEZA DA MINHA
DIREÇÃO

Ala 21 – Ala Cortume Carioca


O ZODÍACO E O PRENÚNCIO DA SINA

2º Casal De Mestre-Sala e Porta-Bandeira


Marcos Ferreira e Alcione Carvalho
“PEIXES COM A REGÊNCIA DE NETUNO”

ALA 22 – Ala Cigana Feiticeira


NETUNO: O PLANETA AZUL

ALA 23 – Ala Chopinho de Olaria


SOL EM PEIXES

Alegoria 05
UMA PISCIANA COM A SORTE VIRADA PRA
LUA

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Alegorias

Criador das Alegorias (Cenógrafo)


Leandro Vieira
Nº Nome da Alegoria O que Representa

* Elemento Cenográfico Aéreo Como mencionado na justificativa, o enredo que


A IMPERATRIZ DESFILA COM A se apresenta possui o delírio como premissa.
SORTE VIRADA PRA LUA Para tal, e com o interesse de realizar isso de
forma plena, seu conteúdo narrativo se debruça
em um testamento fantasioso, atribuído a uma
cigana igualmente fantasiosa, para criar uma
terceira fantasia. Longe de ser a transposição de
seu conteúdo integral, o enredo é uma ficção
sobre a ficção. Nele, a Imperatriz
Leopoldinense toma conhecimento do conteúdo
do testamento da cigana Esmeralda, seleciona o
que lhe interessa e, como o samba que cantamos
sugere, monta um manual carnavalesco.

Tirando partido da linguagem coloquial que


associa o êxito pessoal à expressão “de bunda
pra lua” - além de dar sentido ao título que
batiza o enredo - construímos a cena que se
exibe na abertura do desfile como a tradução
O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
daquilo que cantamos: “A Imperatriz desfila
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao com a sorte virada pra lua”.
longo das decisões de seu processo de realização.

Ostentando o “manual”, acompanhada por uma


lua cenográfica ilustrada com contornos
permissivos que menciona uma dimensão
espacial, a componente suspensa que flutua
sobre a ala batizada de “A CARAVANA EM
FESTA” veste-se à moda da realeza européia
tão bem difundida no imaginário associado à
escola de Ramos em função de sua ligação
nominal com a Imperatriz Leopoldina.

474
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

* Elemento Cenográfico Pedindo passagem para uma escola que se


A CARAVANA debruça sobre um imaginário fictício em torno
de uma cigana e seu testamento igualmente
ficcional, um conjunto de caminhões de
contornos carnavalescos avança sobre a avenida
de desfiles tendo um grupo de ciganos ocupando
sua carroceria.

Povo de natureza nômade, os ciganos são


frequentemente associados às caravanas que se
deslocam de maneira contínua e, segundo o
libreto popular que fala sobre o testamento da
cigana Esmeralda, foram eles quem
encontraram o artigo e o trouxeram para o Brasil
O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
no interior de um barril.
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao
longo das decisões de seu processo de realização.
DESTAQUE CENTRAL: “Santa Sara, a
rainha” – Em destaque na porção frontal do
elemento cenográfico, Sabrina Santtana faz da
sua experiência coreográfica o motivo da
performance que exibe ao personificar de forma
carnavalesca a santa a quem os ciganos dedicam
devoção. Considerada uma espécie de rainha a
quem se dedica flores e frutas, Santa Sara é
representada no imaginário sacro como uma
mulher negra – tal qual a pele retinta de Sabrina
- que traz sobre a cabeça o famoso lenço,
símbolo de sua pureza milagrosa.

DESTAQUES LATERAIS: “O sol e a lua” -


De um lado, o sol; do outro a lua, ambos,
companheiros do dia e da noite dos que
percorrem estradas. Para os ciganos, dois
elementos de força e energia. O sol simboliza o
esclarecimento, a luz que guia até à revelação.
A lua, por sua vez, guarda a luz que ilumina o
escuro da noite. O corpo celeste que descortina
os mistérios ocultos.

Para dar contorno estético a estes dois símbolos


naturais adorados pela cultura que nos inspira na
introdução do tema, os destaques Luisinho 28 e
Ton Brício vestem-se à moda cigana enquanto
reproduzem signos visuais, artísticos e poéticos
associados ao sol e a lua respectivamente.

475
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

* Elemento Cenográfico COMPOSIÇÕES GERAIS: “Andarilhos” -


A CARAVANA Como dito, ciganos são povos nômades que se
espalharam pelo mundo todo. Apesar de se
estabelecerem como andarilhos em países de
culturas distintas e distantes geograficamente, o
modo como se vestem são um traço
característico que os une na semelhança do
figurino. É esse traço visual altamente
popularizado como o traje de sua cultura no
imaginário coletivo que direciona a fantasia dos
componentes que ocupam o conjunto
cenográfico.

As mulheres ostentam as indefectíveis longas


O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que saias multicoloridas e as blusas folgadas
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao
longo das decisões de seu processo de realização.
confeccionadas em babados. Sobre a cabeça, o
véu. Os homens vestem blusas de mangas fartas
e longas presas ao redor do pulso. O colete e o
chapéu enfeitado arrematam o visual masculino.
Ambos são adornados por artigos dourados -
como pulseiras, brincos de argola e colares -
enquanto ostentam variada sorte de adereço nas
mãos, como o leque e pandeiro enfeitado com
fitas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Abre-Alas
01 IMAGENS POÉTICAS PARA UM O Abre-alas se utiliza de uma estética lúdica que
TESTAMENTO VERTIDO EM aponta para uma narrativa carnavalesca
MANUAL mergulhada em uma atmosfera mística. Nele, os
diferentes conteúdos abordados ao longo do
desfile que virá se apresentam envolvidos por
um contorno visual poético. O devaneio guia
uma seleção de elementos que une a
representação de signos zodiacais, ambiente
astrológico, desconexão com a realidade e o
universo da quiromancia (a prática da leitura das
mãos) como mote para o ornamento geral
distribuído pelos dois módulos que compõem a
cenografia da alegoria.

O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode


No segundo módulo, o rosto da cigana surge
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao
junto à chama alegórica. Ela é a dona da
longo das decisões de seu processo de realização. sabedoria ancestral que se descortinará ao longo
do desfile. A ela é atribuído o testamento tido
como de grande valia para os que, ao entendê-lo
como uma espécie de manual, buscam os
benefícios da boa sorte.

O visual geral dos dois módulos sugere uma


atmosfera esotérica. As imagens que ilustram o
horóscopo parecem emergir como vultos que se
fundem às chamas escultóricas. O desenho em
ferro e a iluminação dão contorno arrojado ao
visual geral. Os ponteiros dos relógios
astronômicos giram, tendo o sol e a lua como
ornamento. Poeticamente, eles buscam a
posição das estrelas e dos planetas para o
encontro de uma direção.

Como argumentamos, a partir daqui, largamos a


mão daquilo que nos prende ao mundo real para
seguirmos de mãos dadas à realidade onírica
apresentada pelo testamento da cigana
Esmeralda.

DESTAQUE CENTRAL: “O fogo como


elemento” - Na porção frontal do primeiro
módulo do carro-abre-alas, Paola Drumond
veste figurino aquecido por uma coloração
avermelhada que faz menção ao fogo.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Abre-Alas Cercada pela representação escultórica dos


01 IMAGENS POÉTICAS PARA UM signos de Áries, Leão e Sagitário, ela
TESTAMENTO VERTIDO EM personifica o elemento que rege essas três casas
MANUAL zodiacais. No horóscopo, o fogo representa a
liberdade indomável, a criatividade desmedida e
o entusiasmo pleno. Três premissas que
consideramos pertinentes serem invocadas de
forma simbólica na abertura do desfile da
escola.

COMPOSIÇÕES GERAIS: “Estrelas” –


Reluzindo a combinação do branco e do prata,
os figurinos femininos que se espalham pelos
dois módulos da alegoria fazem menção ao
brilho das estrelas. Conceitualmente, estamos
O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode
longe do chão, com os pés e a cabeça em
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao
ambiente lírico.
longo das decisões de seu processo de realização.
COMPOSIÇÃO ACROBÁTICA: “Energia
astral” - Em performance no interior das
estruturas giratórias presentes no primeiro
módulo, a fantasia espelhada que se funde ao
conjunto visual reforça a ideia de que estamos
num ambiente delirante. Ao fazer com que as
estruturas metálicas girem, o grupo de acrobatas
personifica a energia que faz com que os astros
se movam e incidam sua vibração astral sobre
os indivíduos.

478
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

02 A alegoria encerra o setor dedicado à


SE SONHAR COM BICHO, RISCA A
interpretação das ilusões que se revelam nos
FÉ NO TALÃO
sonhos dos que dormem. Após a sequência de
fantasias de ala que dão contorno a algumas das
imagens apontadas pelo libreto como o
prenúncio de um fato antecipado por um sonho,
o conjunto cenográfico lança luz na prática
popular de utilizar o conteúdo dos sonhos como
artificio para realizar apostas em jogos que
possibilitem o ganho financeiro.

Nesse contexto é o universo do jogo do bicho


quem ganha destaque lúdico na materialização
visual daquilo que ganha forma alegórica.
Mergulhada em um ambiente delirante, a
alegoria recorre a um universo de inocência para
reforçar o aspecto permissivo do mundo dos
sonhos.
O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao
Artisticamente, a figura feminina com
longo das decisões de seu processo de realização. contornos monárquicos esculpida no topo da
alegoria personifica a própria Imperatriz
Leopoldinense. Inserida no mesmo ambiente
delirante dos que sonham, sua saia ganha ares
de roleta enquanto os bichos que compõem o
imaginário da prática de apostas se exibem
como parte de um carrossel que ilustra o
fascínio que a interpretação dos sonhos exerce
sobre o imaginário popular dos jogos de azar.

DESTAQUE CENTRAL: “Nos braços de


Morfeu” - De acordo com a mitologia grega
Morfeu é o deus do sonho. É dele a
responsabilidade de moldar os devaneios
transformados em imagens enquanto dormimos
por ter a mágica capacidade de assumir formas
variadas no tempo em que estamos em seus
braços – ou seja, em sono profundo. Em razão
da inserção da alegoria no desfecho do setor que
aborda o mundo dos sonhos, Morfeu ressurge no
contexto alegórico para moldar novas imagens:
bichos que podem ser vertidos em números bons
para servirem de aposta.

479
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

02
SE SONHAR COM BICHO, RISCA A Para personificar o mito em versão luxuosa, o
FÉ NO TALÃO destaque Kevin faz da iconografia clássica do
personagem o motivo para a realização da
indumentária que veste: o Deus alado (como a
maioria das divindades associadas ao sono) que
ostenta sobre a cabeça um olho dotado de asas
que tudo pode enxergar enquanto dormimos.

COMPOSIÇÕES GERAIS: “Vale o escrito” -


O grupo de malandros que se espalha no
conjunto alegórico exibe no traje que veste a
variada sorte de animais contidos na loteria
popular ilegal. Nela, 25 bichos são associados a
números que podem ser escolhidos em uma
espécie de talão no qual a seleção numérica é
transformada em aposta escrita. Com o sorteio,
quem acerta a numeração redigida de forma
prévia, ganha o prêmio em dinheiro.
O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao
longo das decisões de seu processo de realização.
VELHA-GUARDA: “Deu zebra” – Na lateral
da alegoria, alguns componentes da velha-
guarda que desfilariam no chão mas foram
impossibilitados de seguir o desfile caminhando
em função de problemas de locomoção recente,
vestem figurino zebrado. Situados na alegoria
que menciona de forma lúdica a famosa banca
de apostas, o figurino remete a expressão “deu
zebra.” Por não fazer parte dos 25 animais
associados ao jogo, a expressão popular remete
a algo que ocorreu de forma inesperada.

PERSONALIDADE: “O velho malandro” –


Na porção frontal da alegoria, Chiquinho - o
histórico e eterno mestre-sala Leopoldinense -
veste-se à moda dos antigos malandros para
apresentar o universo dos sonhos traduzidos em
apostas que a alegoria sugere.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

* O pequeno elemento cenográfico insere no


Elemento Cenográfico terceiro setor do desfile um dos mais populares
O DESTINO TRAÇADO NA MÃO aspectos atribuídos à cultura cigana presente no
testamento vertido em manual carnavalesco: a
leitura da mão de um indivíduo, de forma que
seja possível prever acontecimentos.

Mergulhando nesse ambiente e abrindo


caminho para que as alas que virão aprofundem
o tema, na porção frontal da alegoria, um olho
simula observar um par de mãos. Como o
conjunto escultórico sugere, é sobre o conteúdo
das mãos que nos debruçaremos a partir daqui.

No geral, a atmosfera é lúdica, mística e


O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
carnavalesca. Desse modo, no conjunto de
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao engrenagens douradas que ornamentam a
longo das decisões de seu processo de realização.
alegoria, observam-se ponteiros que giram em
busca de um sentido. Conceitualmente, eles
indicam que o futuro é algo que já possui hora
marcada para acontecer e que a leitura das mãos
pode nos fazer saber o que virá de forma prévia.

DESTAQUE CENTRAL: “O resplendor da


quiromancia” - Quiromancia é o nome dado à
prática de ler as mãos e, a partir da interpretação
de seus traços físicos, predizer o que está por
vir. Inclusa nesse contexto, a destaque Nathália
Drumond veste fantasia de inspiração cigana e
predomínio de dourado para mencionar de
forma carnavalesca a riqueza contida na ideia
que a mão de um indivíduo guarda uma espécie
de “livro” onde o seu futuro está ao alcance da
leitura daqueles que, como a cigana Esmeralda
ensina, sabem realizar sua interpretação a partir
de um conjunto de saberes ancestrais.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

A alegoria encerra a abordagem das alas que a


03 A VIDA EM CADA LINHA antecedem, associando os saberes da leitura das
mãos de forma mais contundente ao universo
cigano e à ideia de destino e sorte. Como sugere
o testamento da cigana, a prática diz respeito a
uma série de interpretações das características
físicas presentes nas mãos, a fim de criar
paralelos capazes de sentenciar personalidades,
tendência para erros e acertos e, de forma mais
popular, o futuro.

Alegoricamente, essas informações são


O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode mencionadas através da lúdica construção que
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao orienta a visualidade que desfila. Na porção
longo das decisões de seu processo de realização.
frontal, uma figura de contornos fantásticos
simboliza a sorte. Rodeada por um conjunto de
mãos escultóricas, ela busca a mão que
apresenta o traço que lhe dará passagem.

Na porção superior, as roletas giram como se o


destino estivesse ao sabor da sorte. Nas laterais,
sobre a cenografia que reproduz uma espécie de
tenda cigana, um par de mãos de contornos
carnavalescos ostentam símbolos esotéricos e a
marcação em destaque das principais linhas da
palma da mão. Segundo o testamento e sua
sapiência atribuída à Esmeralda, para a leitura
completa e precisa, é preciso observar as linhas,
o tamanho, o formato dos dedos, as unhas e os
montes, correlacionando estes traços físicos
com aspectos esotéricos.

O conjunto escultórico que ornamenta o carro


reproduz ainda o contorno figurativo de ciganas
e gatos de sabor jocoso. As figuras femininas
mencionam as donas de uma sabedoria ancestral
que determina que apenas as mulheres podem
ler as mãos dos indivíduos. Os gatos, por sua
vez, fazem menção à ideia recorrente entre o
povo cigano de que os felinos guardam
mediunidade e são capazes de emprestar essa
sensibilidade aqueles que os possuem como
animal de estimação.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

A VIDA EM CADA LINHA COMPOSIÇÕES GERAIS: “Ciganos” -


03 Como foi dito, a leitura de mão está
intimamente ligada aos povos ciganos e esta é a
razão para que os variados figurinos que vestem
os homens e as mulheres que se espalham pelos
diferentes espaços cênicos da alegoria estejam
submetidos a essa estética específica. Para tal,
o traje cigano (masculino e feminino) se revela
como a inspiração que ancora a interpretação
carnavalesca de saias multicores, tecidos
rendados, adornos dourados, véus, calças,
O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode coletes e chapéus que podem ser vistos sobre o
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao conjunto alegórico.
longo das decisões de seu processo de realização.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Inaugurando a visualidade do setor batizado de


* Elementos Decorativos Aéreos “OS ASTROS NA IMENSIDÃO”, um conjunto
ASTROS CELESTES de elementos decorativos infláveis espalha-se
ao longo (e sobre) as alas para lançar luz em um
aspecto distinto (mas complementar) daquele
que as fantasias que desfilam no chão abordam
sobre a sabedoria astrológica da cigana
Esmeralda: a influência de corpos celestes sobre
a personalidade dos indivíduos.

Para tal, os balões de formato esférico


reproduzem o aspecto arredondado de planetas,
luas e estrelas enquanto estampam imagens que
revelam rostos dotados de diferentes expressões
associadas a comportamentos humanos.

O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode


facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
Ornados com símbolos gráficos que remetem ao
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao ambiente esotérico, convém destacar que não há
longo das decisões de seu processo de realização.
ordem pré-determinada para a disposição dos
elementos ao longo do setor. Como não
possuem uma necessidade de interpretação que
os correlacione de maneira direta com o
conteúdo especifico de determinada ala, eles
flutuam de maneira aleatória sem configurar
equívoco junto ao roteiro por estarem
plenamente de acordo com as intenções
artísticas e conceituais do recorte visual
proposto para este momento do desfile.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

04 A CIÊNCIA DO FARAÓ E OS Encerrando o setor dedicado aos ensinamentos


ASTROS NA IMENSIDÃO atribuídos à cigana Esmeralda no campo
astrológico, a alegoria tira partido conceitual de
um trecho do testamento atribuído à Esmeralda
onde a personagem menciona a origem de seus
conhecimentos sobre os corpos celestes tendo o
Egito como mote.

Essa informação é que nutre o delírio


carnavalesco que direciona a estética da
alegoria. Como se vê, o imaginário egípcio
assume destaque no conjunto cênico. Símbolos
hieroglíficos, esfinges e a reprodução
arquitetônica de altares de contorno egípcio são
O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
motivo para o ornamento geral. Na porção
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao frontal é a reprodução da simbologia mais
longo das decisões de seu processo de realização.
comum associada a deusa nut (a deusa do céu
egípcio) que assume protagonismo: o vulto
feminino de pele azul como a noite e coberto de
estrelas. Sua presença se alinha com o conceito
de uma alegoria que, como o samba diz, vai sob
a luz das estrelas, uma vez que a deusa é adorada
como a personificação da vastidão do céu e a
representação de toda sorte de corpo celeste,
incluindo as galáxias, as estrelas e os planetas.

Distribuídos pela alegoria – mas com destaque


maior na porção superior - são esses corpos
celestes que ganham contornos alegóricos,
permissivos e carnavalescos para mencionar
que estamos numa dimensão onírica. Na parte
mais alta, dispostos como se orbitassem ao redor
do sol, o conjunto visual aponta para o
conhecimento astral revelado pelo conteúdo
pinçado do testamento que nos inspira no que
diz respeito às influências dos astros sobre a sina
de um indivíduo.

DESTAQUE CENTRAL: “A deusa do céu


egípcio” - Na porção central da alegoria, Samile
Drumond ostenta visual de inspiração egípcia
associado às cores noturnas para mencionar em
tom carnavalesco a deusa Nut. Na mitologia do
antigo Egito, Nut representava a imensidão do
céu enquanto era tida como a mãe de todos
corpos celestes.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

04 A CIÊNCIA DO FARAÓ E OS DESTAQUE PERFORMÁTICO: “A múmia


ASTROS NA IMENSIDÃO do faraó” - Na parte frontal da alegoria se vê um
sarcófago decorado à moda carnavalesca. Nele,
a drag caricata Suzy Brasil apresenta sua
performance bem humorada que tira partido do
imaginário dos corpos mumificados do antigo
Egito. Ao abrir o sarcófago e fazer do tumulo do
faraó objeto de humor, Suzy libera os segredos
que a cigana Esmeralda diz saber sobre esse
universo místico e misterioso.

COMPOSIÇÕES GERAIS: “Nut e o brilho


das galáxias” - Espalhando-se por toda a
alegoria, a fantasia feminina de inspiração
O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
egípcia lança luz na ideia de que a deusa Nut
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao simboliza a Via Láctea. Está é a razão pelo qual
longo das decisões de seu processo de realização.
o figurino é negro e cravejado de pedrinhas
brilhantes como se remetessem às estrelas
presentes nas galáxias.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

05 UMA PISCIANA COM A SORTE


VIRADA PRA LUA A alegoria que encerra o setor batizado de “O
ZODÍACO E O PRENÚNCIO DA SINA DA
MINHA ESCOLA” tira partido do horóscopo
como um atributo de sorte para a escola que
desfila. Fazendo lúdicos paralelos que
reivindicam o delírio como premissa da prática
carnavalesca, entrecruzamos as premonições
zodiacais atribuídas à cigana em seu testamento
com as informações obtidas a partir do mapa
astrológico da escola de Ramos partindo do
princípio que a data de fundação do grêmio
corresponde à data de seu “nascimento” para a
folia carioca.

Fundada em seis de março de 1959 e analisada


astrologicamente sob a luz da poesia
carnavalesca, o Grêmio que desfila é regido por
O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode Netuno, seu signo é o décimo segundo signo
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao astrológico do zodíaco (peixes) e sua lua é em
longo das decisões de seu processo de realização.
aquário. É sobre esses aspetos conceituais e
estéticos que encerramos nossa apresentação
nos derramando na visualidade de signos que
possuem a água como elemento.

Alegoricamente, a imagem mais popular de


Netuno (o deus dos mares e das marés que
empresta seu nome para o oitavo planeta do
sistema solar a partir do sol) ganha contorno
jocoso enquanto se funde a um cardume de
peixes de visualidade carnavalesca que
menciona o signo astral da décima segunda casa
zodiacal. Peixes, como mencionado na ala que
antecede a alegoria, é o signo que rege a
Imperatriz Leopoldinense. Na porção superior
do conjunto cenográfico, as esculturas
reproduzem luas onde se nota uma presença
feminina que carrega o aguadeiro (símbolo do
signo de aquário). O conjunto faz menção ao
fato de, segundo as previsões astrológicas de seu
mapa carnavalesco, a Imperatriz ter a lua em
aquário.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

05 UMA PISCIANA COM A SORTE


VIRADA PRA LUA
COMPOSIÇÕES GERAIS: “Água como
elemento” - Mergulhados numa lúdica analise
zodiacal que trata a escola Leopoldinense como
um indivíduo, acrescentamos a informação de
que os signos zodiacais são divididos entre
quatro categorias de elementos naturais: o fogo,
a terra, o ar e a água.

Tirando partido dessa informação, distribuímos


sobre toda a alegoria, a fantasia materializada
através de tecidos transparentes com
predominância de azul, para mencionar a água
como elemento dos que - como a Imperatriz
Leopoldinense em sua permissiva abordagem
carnavalesca - estão sobre a influência zodiacal
do signo de peixes.
O croqui é uma simples referência que direciona a criação e pode
facilitar o acompanhamento do roteiro. A materialização é o que
desfila, as formas, os materiais e as opções estéticas do criador ao
longo das decisões de seu processo de realização.

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FICHA TÉCNICA

Alegorias

Nomes dos Principais Destaques Respectivas Profissões

Sabrina Sant’Ana Artista

Kevin Martins Empresário

Paola Drumond Empresária

Samile Drumond Empresária

Nathalia Drumond Empresária

Ton Brício Empresário

Chiquinho Mestre-Sala

Luizinho 28 Estilista

Local do Barracão
Rua Rivadávia Correa 60 – Barracão 02.
Diretor Responsável pelo Barracão
Roni Jorge
Ferreiro Chefe de Equipe Carpinteiro Chefe de Equipe
João Lopes Fabricio de Lima
Escultor(a) Chefe de Equipe Pintor Chefe de Equipe
José Teixeira e Max Muller Leandro Assis
Eletricista Chefe de Equipe Mecânico Chefe de Equipe
Allan Carvalho Robson Saturnino
Outros Profissionais e Respectivas Funções:

Projetos Técnicos: Renato Esteves e Rayner Botelho

Nino da Fibra – Empastelação e Reprodução em fibra

Batista – Mecanismos hidráulicos

Reprodução de adereços gerais – Renato José, Novinha, Max e Wellington

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FICHA TÉCNICA

Fantasias

Criador(es) das Fantasias (Figurinistas)


Leandro Vieira
DADOS SOBRE AS FANTASIAS DE ALAS
Nome da O que Nome da Responsável

Fantasia Representa Ala pela Ala

01 Caravana em Festa O desfile que se descortina Ala Dó Ré Mi / Comissão de


parte de uma narrativa Ala Baile da Carnaval
fictícia que possui o Gaiola
imaginário cigano como (1959)
mote. Segundo a obra que
inspira livremente o
enredo, após a morte de
Esmeralda na Europa, o
testamento da cigana foi
encontrado por um grupo
de ciganos que tratou de
trazer esse precioso
conteúdo textual para
terras brasileiras.

Assim, estreando o
conjunto de fantasias de
ala numa espécie de
caravana que une música,
canto e dança, os
responsáveis por terem
trazido o valioso artigo
para o Brasil inauguram a
atmosfera mágica de nossa
apresentação.

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01 Caravana em Festa A ala (de traje misto) reúne


a clássica estética
associada à moda cigana.
Enquanto o figurino
masculino exibe violino,
chapéu, calça, colete e
joias douradas; as
mulheres exibem amplas
saias de véus cortados em
godê, laços enfeitados com
fitas, brincos de argola e
lenços ricamente
decorados cobrindo a
cabeça.

Junto dos brincantes, em


múltiplos figurinos de
saias multicolores, a típica
indumentária cigana ganha
destaque e performance
sob pernas de pau. Como
diz o samba que cantamos,
“a caravana está em festa”.

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02 A Cigana Que Tudo Pode As baianas leopoldinenses Ala das Baianas Comissão de
Enxergar vestem-se à moda cigana (1959) Carnaval
para dar contorno
carnavalesco a cigana que
tudo sabe e tudo pode
enxergar. Para tal, a mais
tradicional ala da folia
carioca mescla elementos
característicos do icônico
traje de baiana com
aspectos da típica
indumentária cigana.

Sob a cabeça, o lenço


ricamente adornado com
moedas metálicas é
acompanhado de flores,
leque e uma moldura
formada por um conjunto
de penas tingidas na
tonalidade da pedra verde
que batiza a cigana fictícia
que nos deixa seu
testamento como um
manual de sabedoria.

No pescoço, os colares
dourados remetem ao
gosto cigano pela
extravagância do ouro.
Como se observa, a saia é
preenchida por uma
variedade de cortes de
lenços em godê, enquanto
o pano da costa – marca do
traje das baianas
tradicionais - é
transformado em uma
espécie de adorno
enfeitado que ostenta um
olho rodeado de artigos
dourados que reproduzem
símbolos afinados com a
cultura cigana.

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03 O Sonho no Testamento da O branco predominante no Ala da Velha- Comissão de


Cigana Esmeralda traje que veste a velha- Guarda Carnaval
guarda nos leva as brumas (1959)
de um mundo de sonhos.
Com nossos anciões,
adentramos no conteúdo
que inaugura o conjunto de
saberes atribuído à cigana
em seu testamento: a
decifração dos sonhos.
Desse modo, o traje que
veste o tradicional figurino
associado à velha-guarda
(o terno e o chapéu
atribuído ao sambista
carioca do início do século
passado) faz da capa do
libreto que nos inspira a
estampa que ornamenta
seu visual.

Como dito, é o conteúdo


inicial desse testamento
fictício vertido em manual
que direciona a narrativa
do setor que se inaugura.
Na obra, invenção do
poeta paraibano Leandro
Gomes de Barros, o
mundo dos sonhos é
vislumbrado como uma
das formas para que a sina
de uma pessoa possa ser
lida. É este conteúdo
lúdico quem direciona o
conceito carnavalesco do
setor batizado de
SONHANDO A VIDA
FEITO CARNAVAL.

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* Asas para Sonhar A musa Rafa Kalimann Musa Comissão de


apresenta-se como uma (1959) Carnaval
figura alada.
Poeticamente, ela nos
oferece um par de asas
para partirmos em direção
ao mundo de sonho,
devaneio e magia que se
descortinará na sequência.

04 Morfeu: Sonho, Devaneio e Recorrendo ao libreto Ala Choro Comissão de


Magia popular, e se atendo à Suburbano Carnaval
abordagem que prevê o (1959)
sonho como uma das
formas de se ler a sina de
uma pessoa, adentramos
nas brumas de um mundo
lírico enquanto revelamos
o conteúdo do material
literário que nos inspira.
Ludicamente, como
menciona a sinopse do
enredo, estamos nos
domínios de Morfeu - o
nome do deus grego dos
sonhos – e é ele quem nos
pega pela mão para que
possamos entrar em um
território de sonhos
transformados em
fantasias carnavalescas.

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04 Morfeu: Sonho, Devaneio e De acordo com a mitologia Ala Choro Comissão de


Magia grega, Morfeu é um dos Suburbano Carnaval
filhos de Hipnos, o deus do (1959)
sono. É ele quem molda os
devaneios transformados
em imagens durante o
período em que dormimos
por ter a mágica
capacidade de assumir
formas variadas enquanto
estamos em seus braços –
ou seja, em sono profundo.

Para apresentá-lo em
contornos carnavalescos, o
figurino da ala se inspira
na iconografia clássica do
mito: O Deus grego alado
(como a maioria das
divindades associadas ao
sono) que veste túnica
branca e ostenta sobre a
cabeça um olho dotado de
um par de asas que tudo
pode enxergar enquanto
sonhamos.

05 Sonhar com Rosa Mergulhados nos braços Ala Bandeira Comissão de


de Morfeu, no mundo dos Dois Carnaval
sonhos, e na interpretação (1959)
pré-escrita pela cigana
sobre os devaneios de
quem dorme, as fantasias
que seguem dão contorno
estético a alguns dos
sonhos mencionados nas
páginas do “testamento”
que estamos debruçados.

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05 Sonhar com Rosa A partir disso, e em Ala Bandeira Comissão de


sequência, o conjunto de Dois Carnaval
fantasias que desfila flerta (1959)
com uma atmosfera lírica
enquanto menciona
algumas das imagens
apontadas pelo libreto
como o prenúncio de uma
sina antecipada enquanto
dormimos.

Para tal, como se observa,


a fantasia que desfila
ostenta um conjunto de
rosas como motivo
decorativo para seus
ornamentos. No campo da
cultura popular, o
imaginário coletivo parece
ter transposto a expressão
“viver num mar de rosas”
(ou seja, viver em estado
de plena felicidade) para o
mundo da interpretação
dos sonhos de modo que a
ideia de que sonhar com
rosa é traduzido como a
certeza de grande alegria
por vir.

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05 Sonhar com Rosa Não à toa, as linhas do Ala Bandeira Comissão de


testamento fictício Dois Carnaval
apontam para o fato de que (1959)
sonhar com rosa anuncia
felicidade. Assim sendo,
materializando a
compreensão desse sonho
através recursos próprios
da visualidade
carnavalesca, em linhas
gerais, o figurino que veste
a ala apresenta uma
poética versão feminina
com predomínio de
branco, tons alvos e
rosáceos, contextualizados
com o universo estético
associado à Imperatriz
Leopoldinense. Trata-se
de uma dama, à moda da
corte que, numa visão
geral da ala, faz com que a
soma dos ornamentos
florais que se espalham
pelas saias e pelos
adereços configurem-se
como uma expressão
carnavalesca que sugere
uma vida florida.

06 Se Sonhar com Sultão O figurino que veste os Ala Largo do Comissão de


brincantes que desfilam dá Itararé Carnaval
contorno poético e (1959)
carnavalesco à figura de
um sultão. Com isso,
mencionamos nova
premonição abordada pela
cigana, já que, segundo os
ensinamentos pré-
determinados em seu
testamento, quem sonha
com sultão pode
compreender o fato como a
antecipação de um mau
pressentimento.

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06 Se Sonhar com Sultão Para a tradução estética Ala Largo do Comissão de


desse sonho ligado à Itararé Carnaval
notícias desagradáveis, o (1959)
figurino apresenta-se
como uma lúdica imagem
carnavalesca acrescida da
jocosidade mórbida
possibilitada pela
maquiagem momesca. Em
suma, o traje recorre à
visualidade mais popular
associada à estética dos
monarcas árabes ou
islâmicos: a túnica de
tecido brocado, a calça de
corte largo, o gosto pelo
enfeite, a espada como
adereço e o turbante que,
em sua versão momesca,
ganha ornamento
emplumado.

07 Sonhar com a Dama do Dentre as ilusões dos que Ala Bonecas Comissão de
Baralho dormem mencionadas pela Deslumbradas Carnaval
obra que nos inspira, (1959)
sonhar com a dama do
baralho é apontado como
um sonho de grande valia
para jogadores
interessados em obter
vantagens financeiras.

Materializada em jocosa
versão carnavalesca, é a
estampa feminina presente
no baralho como a figura
de uma rainha quem
norteia a realização do
figurino que veste a ala.

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07 Sonhar com a Dama do À moda da corte europeia Ala Bonecas Comissão de


Baralho (com peruca, coroa e saia Deslumbradas Carnaval
de anca em versão (1959)
estilizada), a fantasia é
ornamentada com a
reprodução da indefectível
carta feminina marcada
com a letra Q, do inglês
queen (rainha, em tradução
para o português).

O figurino que veste a ala


08 Quem Sonha com Cisne dá contorno carnavalesco à Ala Rio Antigo Comissão de
figura de um cisne. (1959) Carnaval
Tirando partido do lirismo
e da poesia, junto da
brancura predominante da
fantasia, o pássaro é
transformado numa
espécie de “burrinha
carnavalesca” que se
projeta na parte frontal do
folião ao tempo em que um
par de asas é transformado
num costeiro
ornamentado.

Deslizando sobre as
brumas dos nossos sonhos,
segundo o testamento da
cigana Esmeralda, a
presença de um cisne no
mundo inconsciente dos
que dormem antecipa
mensagens de candura.
Quem sabe, um amor
inocente. Ou ainda, uma
relação sem más intenções.

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A ideia de que o destino é


09 Dias Felizes algo pré-estabelecido Ala Bar da Comissão de
como uma sina a ser Portuguesa Carnaval
cumprida que pode ser (1959)
antecipada por um
conhecimento
adivinhatório parece ser
uma das mais fascinantes
páginas associadas ao
imaginário cigano. A ideia
de possuir um guia que
antecipe informações para
o bem viver, ou o interesse
de saber previamente o que
está por acontecer, parece
ser uma das maiores
ansiedades humanas. É
nesse contexto de interesse
por uma espécie de cartilha
que antecipe o que virá,
que chama a atenção a
existência de uma tabela
(destacada no material
literário que nos inspira
como “a única e
verdadeira”) inclusa no
testamento de Esmeralda
como uma possibilidade
de consultar uma
sequência de datas
apontadas como felizes ou
infelizes ao longo do ano.

Para lançar luz nessa


curiosa tabela, iniciamos o
setor com a divulgação do
calendário que reúne os
dias de alegria
mencionados no libreto.

Para isso, a fantasia da ala


“Dias felizes” ostenta

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

alegre composição Ala Bar da Comissão de


09 Dias Felizes cromática Portuguesa Carnaval
(predominantemente (1959)
amarela) em associação à
artigos dourados. Nas
costas, a ferradura
decorativa (o elemento é
símbolo universal para a
atração da boa sorte) é o
ornamento de onde parte a
costeiro metálico que dá ao
conjunto que desfila seu
aspecto reluzente.

Por fim, enquanto exibem


o amarelo combinado ao
ouro metálico de seus
figurinos, os brincantes
erguem em múltiplos
estandartes, variada sorte
de datas apontadas como
oportunas por serem
entendidas como dias que
detém energias positivas
ao longo dos meses do ano.

* Azar Contrapondo a coloração Musa Comissão de


alegre da ala que a (1959) Carnaval
antecede, a musa Aricia
Silva veste figurino de
coloração sombria e signos
visuais associados a
artigos fúnebres para
antecipar o infortúnio que
ronda os dias de revés e
contratempo mencionados
pela ala que virá na
sequência.

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10 Dias Aziagos Em oposição à Ala Cinco Bocas Comissão de


combinação alegre e (1959) Carnaval
luminosa do figurino da
ala que a antecede, a
fantasia “DIAS
AZIAGOS” (ou seja, dias
de má sorte) apresenta-se
como um cigano de vulto
sombrio (por combinar
tons mórbidos de cinza,
preto e roxo) que também
ergue estandartes.
Todavia, se na ala anterior
as datas mencionadas pelo
adereço revelavam um
calendário que marca dias
vitoriosos, agora, é a
variada sorte de datas
apontadas pela cigana
como dias acompanhados
de mal agouro que se
multiplicam junto aos
desfilantes.

Se, para os dias felizes o


amarelo predomina nos
ornamentos dos
estandartes que guardam
as datas boas, nos dias
aziagos é o roxo (cor
ligada à melancolia e ao
que é fúnebre) quem
emoldura o topo do
adereço de mão dos
brincantes.

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11 A Linha do Coração Como dito anteriormente, Ala de Passistas Comissão de


a ideia de possuir um guia (1959) Carnaval
que antecipe informações
para o bem viver, ou o
interesse de saber de forma
prévia o que está por
acontecer, parecem ser
ansiedades humanas. Se
houve o interesse do autor
do testamento da cigana
Esmeralda por difundir um
calendário para consultar
previamente o azar e a
sorte, por certo ele não
deixaria de lançar luz em
uma prática ancestral
atribuída aos ciganos
quando o assunto é o
conhecimento antecipado
daquilo que já está traçado
como destino: a leitura da
mão.

É importante frisar que a


leitura das mãos é uma das
abordagens divinatórias
atribuída à cultura cigana
que maior interesse suscita
no imaginário popular. No
testamento da cigana
Esmeralda, Leandro
Gomes de Barros (seu
autor) lança luz na prática
e destaca uma das três
mais importantes linhas da
palma da mão: a linha do
coração, chamada pelo
libreto dedicado aos
ensinamentos da cigana
como a “linha do amor”.

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11 A Linha do Coração Como o nome diz, esse Ala de Passistas Comissão de


traço físico iniciado (1959) Carnaval
debaixo do mindinho e
estendido até o lado oposto
da palma, trata de algo que
diz respeito aquilo que a
maioria das pessoas
querem saber: questões
emocionais ligadas à vida
amorosa.

Desse modo, seguindo o


roteiro de desfile e
acrescentando a
abordagem carnavalesca
sobre a leitura das mãos
em nossa narrativa, logo
após o tripé que introduz a
quiromancia (nome da
prática de ler a mão) está a
ala de passistas do grêmio
carnavalesco.

É em função disso que o


figurino geral dos passistas
mescla a indumentária
cigana em associação a
signos estéticos
comumente ligados ao
amor ao tempo em que a
cor rosa assume
predomínio no visual
geral. Para os ciganos, a
cor rosa é associada ao
amor e ao romance.

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* Um Trevo-De-Quatro- Se em função de sua Rainha de Bateria Comissão de


Folhas para Guardar na contribuição vital ao (1959) Carnaval
Mão desfile a bateria
Leopoldinense está
ludicamente associada à
linha da vida, a Rainha de
nossa bateria apresenta-se
como uma versão
carnavalesca para um
artificio de sorte
extremamente popular no
imaginário coletivo: o
trevo-de-quatro-folhas.

Para os ciganos, a folha


verde pouco frequente (a
mais comum é o trevo de
três folhas) é um poderoso
talismã capaz de atrair boa
sorte para a vida daqueles
que os encontram e os
guardam como bem
valioso.

Tê-lo na mão é garantia de


boa aventurança.
Exatamente o que
desejamos para a nossa
bateria.

12 A Linha da Vida Inclusos no momento em Ala da Bateria Comissão de


que as linhas da palma da (1959) Carnaval
mão são o mote para a
narrativa carnavalesca e,
por serem os responsáveis
por aquilo que possibilita o
pulsar vital da escola em
desfile (o ritmo), a bateria
é correlacionada de forma
poética à linha da vida.

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12 A Linha da Vida Segundo o próprio Ala da Bateria Comissão de


testamento da cigana (1959) Carnaval
Esmeralda, a linha da vida
começa no indicador e
desce pela palma, em
busca do coração até a
munheca. Essa linha é o
mais importante traço
físico para a leitura do
destino de um indivíduo.
Não à toa, inúmeras são as
considerações sobre as
possibilidades de leitura
desse traço físico incluídas
no libreto que nos inspira.

*Como informação visual


complementar e
demonstrando capricho, os
instrumentos da bateria
são “estampados” com
uma arte gráfica
especialmente produzida
para reforçar a ideia de que
o grupo está inserido no
contexto que une o povo
cigano e a prática da
quiromancia. Para tal, na
ilustração dos
instrumentos, se vê uma
mão de contornos místicos
que ostenta os principais
traços para a leitura das
mãos.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

13 A Linha da Fortuna A quiromancia usa como Ala Rainha de Comissão de


instrumento de leitura a Ramos Carnaval
mão de cada pessoa (1959)
partindo do princípio de
que nela está escrito o
destino de cada indivíduo.
Segundo o testamento da
cigana Esmeralda, a linha
da fortuna “revela o
verdadeiro segredo da
nossa felicidade”
apontando ainda que
“quem nasce pra ser rico,
ela diz a qualidade”.
Assim sendo, para dar
contorno carnavalesco à
informação associada a
esse traço físico que parte
da base da palma da mão
até a região localizada
entre o dedo indicador e o
dedo médio, a fantasia que
veste a ala reúne signos
visuais que se relacionam
com perspectivas de
sucesso financeiro.

No adereço, a presença de
uma mão como estampa
anuncia que temos a
quiromancia como mote
principal.
Predominantemente verde
(cor associada ao dinheiro)
e finalizada com
acabamentos dourados e
brilhantes (atributos
associados à riqueza) o
figurino ostenta sob a
cabeça um baú entreaberto
que revela artigos áureos
como símbolo da fortuna
individual daqueles que
possuem a vantagem de ter
este traço físico
proeminente cruzando a
palma da mão.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

14 O Monte Apolo No libreto de onde Ala Tamarineira Comissão de


pinçamos ideias para o (1959) Carnaval
enredo que desfila, ao
debruçar-se sobre a ficção
de um manual que passeia
sobre o conteúdo da leitura
da mão, Leandro Gomes
de Barros atribui inúmeras
menções à cigana a quem
diz pertencer o testamento
e a sabedoria por ele
descrita ao longo de suas
páginas. Desse modo,
além das linhas que
cruzam a palma da mão, o
testamento menciona que a
região também guarda
pequenas áreas chamadas
de “montes”.

Entre os montes da mão,


destaca-se o Monte Apolo
(chamado pelos ciganos de
forma corriqueira de
Monte Sol). O “monte” é
uma protuberante região
localizada na base do dedo
anelar capaz de identificar
possibilidades de fama ou
sucesso nas realizações
dos indivíduos.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

14 O Monte Apolo Dentro desse contexto, o Ala Tamarineira Comissão de


figurino que veste os (1959) Carnaval
brincantes da ala faz
menção ao conhecimento
cigano sobre o referido
monte ao utilizar-se de
signos visuais associados a
ligação nominal entre esse
traço físico e o sol tirando
partido do predomínio de
uma coloração luminosa
que combina amarelos e
dourados com o intuito de
expressar a vitalidade e a
alegria do sucesso
individual.

15 A Lua Concluída a sequência de Ala Morro da Comissão de


alas ligadas à quiromancia, Baiana Carnaval
mergulhamos agora nos (1959)
ensinamentos atribuídos à
cigana Esmeralda no
campo astrológico. Dentro
desse contexto, no
testamento ficcional
vislumbrado por Leandro
Gomes de Barros, o autor
credita à personagem uma
curiosa semana
astrológica. Nela,
Esmeralda deixa por
escrito a regência de cada
dia da semana
correlacionando-os a
satélites e planetas.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

15 A Lua É ela quem diz que “a Ala Morro da Comissão de


semana astrológica Baiana Carnaval
começa segunda-feira, (1959)
com o dia da lua” e,
portanto, essa é a razão
pelo qual uma lúdica e
poética representação do
famoso satélite natural da
terra ganha romântico
destaque junto ao visual da
ala que dá início ao setor.
Pálida e espalhando sua
luz cor de prata através do
uso de artigos
carnavalescos, é o brilho
lunar quem inaugura o
conjunto de fantasias
associadas aos astros
celestes correlacionados
pela cigana com os dias da
semana.

16 A Regência de Marte Como prevê o testamento, Ala 484 Comissão de


a terça-feira está associada (1959) Carnaval
à Marte (do latim Martis),
o Deus da guerra na
mitologia romana. Não à
toa, o conjunto visual que
desfila é inspirado na
iconografia mais popular
do mito que batiza aquele
que é o quarto planeta do
sistema solar a partir do
sol: a figura adorada na
Roma antiga que ostenta
seu poderio marcial
através da armadura
dourada e do capacete que
o deixa apto para o
combate.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

16 A Regência de Marte De coloração Ala 484 Comissão de


predominantemente (1959) Carnaval
avermelhada - tal qual o
astro celeste que se
apresenta encoberto pela
poeira de óxido de ferro
que lhe dá coloração
similar à que tinge o traje
dos componentes - a
fantasia ostenta um escudo
como adereço de mão.
Nele, “o planeta
vermelho” que rege a
terça-feira apresenta seu
aspecto científico mais
difundido: a aparência
rochosa e a vermelhidão
característica.

17 Sob a Regência de Após a regência de Marte, Ala Piscinão de Comissão de


Mercúrio Mercúrio se apresenta em Ramos Carnaval
desfile. É ele quem rege a (1959)
quarta-feira e, para dar-lhe
contorno carnavalesco, o
figurino faz uso de
referências que possuem
como mote aspectos
visuais, culturais e
científicos associados ao
menor planeta do sistema
solar.

Para tal, a fantasia que


veste a ala apresenta-se
como uma versão
estilizada do mitológico
Deus da Roma antiga que
ao planeta empresta seu
nome.

511
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

17 Sob a Regência de Se o figurino de Marte Ala Piscinão de Comissão de


Mercúrio apresenta coloração Ramos Carnaval
avermelhada em função do (1959)
óxido de ferro abundante,
o de mercúrio mescla
aspectos da indumentária
romana com adornos de
aparência férrea para
mencionar (à moda
carnavalesca) a alta
concentração de ferro que
caracteriza o planeta.

Concluindo o visual geral,


nas mãos, como adereço, o
caduceu (uma espécie de
bastão atribuído à figura
mitológica em torno do
qual se entrelaçam duas
serpentes) é arrematado no
topo pela mais popular
representação figurativa
do planeta que apresenta
sua superfície rochosa
caracterizada por crateras
tal qual sugere a peça
decorativa.

18 O Planeta Júpiter Como se mostra evidente, Ala Deu no Poste Comissão de


o libreto que ficciona a (1959) Carnaval
sabedoria astrológica da
cigana faz uso de uma
tradição que deu aos astros
celestes nomes de deuses
pagãos. Seguindo essa
premissa, o nome Júpiter é
originário da mitologia
romana, onde a divindade
era celebrada como o deus
do céu e rei dos deuses.

512
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

18 O Planeta Júpiter Em linhas gerais, o Ala Deu no Poste Comissão de


figurino faz uso da (1959) Carnaval
indumentária
característica da Roma
antiga em associação a
aspectos visuais do planeta
associado ao deus
mencionado. Sobre a
cabeça, uma gálea dourada
(o capacete romano)
ostenta, no topo, uma
estrutura esférica e
brilhante que remete de
forma carnavalesca à
silhueta do maior planeta
do sistema solar e sua
coloração “dourada” em
função da combinação
gasosa que compõe sua
atmosfera.

19 Vênus: A Estrela da Encerrando a sequência de Ala Parque Comissão de


Manhã alas do setor, o figurino da Shanghai Carnaval
ala faz poética menção ao (1959)
planeta Vênus. Chamado
de Estrela Dalva em
função do aspecto
brilhante, é esta
característica alva,
cintilante e luminosa que
prevalece junto ao
conjunto visual da ala que
desfila. Segundo a semana
astrológica atribuída à
cigana, o corpo celeste
mais resplandecente do
céu rege a sexta-feira.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

19 Vênus: A Estrela da Representado no adereço Ala Parque Comissão de


Manhã de mão através de uma Shanghai Carnaval
romântica leitura de (1959)
contorno lírico, o planeta
associado à deusa
homônima do amor e da
beleza é traduzido de
forma carnavalesca como
um astro celeste
ornamentado com artigos
metálicos e brilhantes.

* A Regência de Saturno e o Lançando luz nos dias da Musas Comissão de


Brilho do Sol semana astrológica de (1959) Carnaval
forma completa e
diversificando as
possibilidades de
apresentar a narrativa
carnavalesca fazendo uso
das múltiplas linguagens
para a exploração estética
do tema em figurinos de
ala, adereços, elementos
aéreos e, por fim, em
figurinos de musas, as
beldades Tati Rosa e
Carmem Mondego
mencionam de forma
carnavalesca signos
visuais que remetem ao
planeta Saturno e ao Sol,
respectivamente.

Segundo a semana
astrológica apontada pela
cigana, o sábado é regido
pelo segundo maior
planeta do sistema solar
(Saturno), enquanto o
domingo, por sua vez, está
regido sob os domínios do
astro rei: o sol.

514
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

20 Mapa Astral: a Certeza da Inaugurando o último setor Ala dos Comissão de


Minha Direção do desfile Leopoldinense, Compositores Carnaval
a ala dos compositores (1959)
ostenta na estampa do traje
que veste uma clara
menção ao universo
zodiacal. É mergulhado
nesse universo de
interferências planetárias,
solares e lunares que
encerramos nosso enredo
tirando partido do
horóscopo como um
atributo de sorte para a
escola que desfila.
Fazendo lúdicos paralelos
que se valem da
permissividade
carnavalesca e
reivindicando a ficção e o
delírio como premissas de
atividades como o
carnaval, entrecruzamos as
premonições zodiacais
atribuídas à cigana em seu
testamento com as
informações obtidas a
partir do mapa astrológico
da escola de Ramos
partindo do princípio que
sua data de fundação
corresponde à data de seu
“nascimento” para a folia
carioca.

515
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

21 O Zodíaco e o Prenúncio Predominantemente azul, Ala Cortume Comissão de


da Sina a fantasia que veste a ala Carioca Carnaval
faz da mandala zodiacal (1959)
motivo para o ornamento
decorativo do figurino,
enquanto bandeiras de
estampas variadas
tremulam os símbolos que
representam os doze
signos astrológicos.

Ao longo do testamento
atribuído à cigana
Esmeralda, várias
menções aos signos astrais
são cruzadas com fatores
de sorte alinhados à
influência dos corpos
celestes junto à sina dos
indivíduos. Em linhas
gerais, o zodíaco é baseado
em uma análise do céu a
partir da posição dos
planetas no momento
exato do nascimento de um
ser. É dessa análise que as
características básicas
ligadas à personalidade de
um indivíduo e as suas
predisposições no campo
comportamental são
percebidas como algo que
pode ser anunciado de
forma antecipada em
função do alinhamento dos
corpos celestes juntos às
casas zodiacais.

516
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

21 O Zodíaco e o Prenúncio A partir disso, e tirando Ala Cortume Comissão de


da Sina partido de uma lúdica e Carioca Carnaval
permissiva abordagem que (1959)
trata a Imperatriz como um
ser, nos lançamos na busca
de conexões poéticas entre
o grêmio carnavalesco, os
astros celestes que sobre
ela lançam influência e
energia, bem como sua
casa zodiacal.

22 Netuno: O Planeta Azul Flertando com a poesia de Ala Cigana Comissão de


fazer do céu astrológico do Feiticeira Carnaval
Grêmio em desfile uma (1959)
bandeira que reafirma os
valores lúdicos da prática
carnavalesca, a ala faz
menção ao planeta regente
da Imperatriz a partir do
estudo astrológico que
prevê a data de registro de
sua fundação como a data
que documenta seu
nascimento. Fundada no
dia 06 de março de 1959
(portanto, segundo o seu
mapa astrológico
personalizado, durante o
período de incidência solar
sobre a constelação de
“piscis”), a Imperatriz está
sob a regência de Netuno.

517
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

22 Netuno: O Planeta Azul Historicamente, o nome Ala Cigana Comissão de


que batiza o oitavo planeta Feiticeira Carnaval
do sistema solar deriva do (1959)
deus romano homônimo
tido como o senhor dos
mares e das marés. Não à
toa, seu vulto escultórico
mais popular no
imaginário do mito assume
destaque junto ao figurino.

Predominantemente
tingida pela cor azul, a
fantasia faz de sua
coloração um atributo
estético à serviço do
conceito: com uma
atmosfera formada por
gases como o hélio e o
metano, o corpo celeste
possui como famosa
característica visual a
coloração azulada que
brilha na imensidão do
universo em função de sua
combinação gasosa.

23 Sol em Peixes O signo de peixes é o Ala Chopinho de Comissão de


décimo segundo, e último, Olaria Carnaval
signo do zodíaco. (1959)
Corresponde à casa
zodiacal dos que nascem
entre 19 de fevereiro e 20
de março, período em que
o sol lança luz sobre a
constelação de piscis.

Fundada após o carnaval


de 1959, (no sexto dia de
março) o registro do
nascimento do GRES
Imperatriz Leopoldinense
a coloca sob as influências
astrais do signo de peixes.

518
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

23 Sol em Peixes Signo do elemento água, Ala Chopinho de Comissão de


fantasioso e carnavalesco Olaria Carnaval
por dissolução das (1959)
realidades, sua
representação estética
mais comum assume
protagonismo junto à
fantasia. Individualmente,
o peixe revela uma
visualidade lúdica,
traduzida por seu aspecto
metálico e pelos
ornamentos dourados e
brilhantes que lhe dão
aparência de joia. No
conjunto, os múltiplos
brincantes se configuram
como uma espécie de
cardume metálico (e
carnavalesco) que emerge
de uma seleção de tecidos
e adereços azulados.

*Junto da ala, um conjunto


de bandeirões localizados
na lateral do desfile
ornamenta a passagem do
grupo. Estampados com
imagens de galáxias, o
conjunto visual de
bandeiras laterais sugere
que estamos viajando de
forma lúdica e
carnavalesca por um céu
astrológico, em especial,
no céu que guarda a
constelação do signo de
peixes.

519
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Fantasias

Local do Atelier
Rua Rivadávia Correa 60 – Barracão 02.
Diretor Responsável pelo Atelier
Leandro Vieira
Costureiro(a) Chefe de Equipe Chapeleiro(a) Chefe de Equipe
Crys Machado e Sirley dos Santos. Rivelino.
Aderecista Chefe de Equipe Sapateiro(a) Chefe de Equipe
Vera Galvão, Lili de Niterói, Thiago Borges e José.
Wagner
Outros Profissionais e Respectivas Funções

Leandro Assis - Pintura de arte


Vitor Negromonte - Trabalho de vime
Élcio - Estruturas em arame moldado

Outras informações julgadas necessárias


As fantasias de alas que eventualmente estejam ilustradas por desenhos, assim como destaques de
chão, são croquis que podem sofrer alterações de forma e coloração em virtude da confecção e da
natureza dos corpos, devendo ser interpretado o conceito do figurino e sua leitura, e não a fidelidade
absoluta dos traços.

520
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Samba-Enredo

Autor(es) do Samba-Enredo
Jeferson Lima, Antonio Crescente, Bello, Carlinhos
Niterói, Gabriel Coelho, Jorge Goulart, Luiz Brinquinho,
Miguel da Imperatriz, Renne Barbosa, Rômulo Meirelles,
Sílvio Mesquita e Me leva.

Presidente da Ala dos Compositores


André Bonatte (Dep. Cultural)
Total de Componentes da Compositor mais idoso Compositor mais jovem
Ala dos Compositores
75 Zé Katimba (91) Luizinho das camisas (24)
Outras informações julgadas necessárias

521
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Ê CIGANA, A CARAVANA ESTÁ EM FESTA


TEM FOGUEIRA, DANÇA E SERESTA
NESTA AVENIDA DA ILUSÃO
AO SOM DE VIOLÃO E VIOLINO
O VERSO DA MAIS PURA INSPIRAÇÃO
DESCOBRI SEU TESTAMENTO E FIZ UM MANUAL
SONHEI A VIDA FEITO CARNAVAL
EM DEVANEIOS E MAGIA
CERQUEI POR TODOS OS LADOS,
RISCANDO A FÉ NO TALÃO
APOSTEI NA COROA E NO CORAÇÃO

O DESTINO É TRAÇADO NA PALMA DA MÃO


E A VIDA SE EQUILIBRA EM CADA LINHA
ANDARILHO, SONHADOR
NA CORDA BAMBA DO AMOR BIS
ENCONTREI MINHA RAINHA
(Ô IMPERATRIZ)

OLHEI O CÉU NO INFINITO DA CONSTELAÇÃO


A NOITE, O VÉU, EU VI OS ASTROS NA IMENSIDÃO
FUI SOB À LUZ DAS ESTRELAS
BUSCAR A CERTEZA DA MINHA DIREÇÃO
Ê LUAR DE BALANÇAR MARÉ
MEU CANTAR É UM SINAL DE FÉ
PRENÚNCIO DA SINA DA MINHA ESCOLA
O SOL BEIJA A LUA NO ESPELHO DO MAR

JÁ ESTÁ MARCADO NO MEU CALENDÁRIO


VERDE-ESMERALDA É VITÓRIA QUE VIRÁ
O QUE É MEU É DA CIGANA,
O QUE É DELA NÃO É MEU BIS
QUANDO CHEGA FEVEREIRO
MEU CAMINHO É TODO SEU

VAI CLAREAR… OLHA O POVO CANTANDO NA RUA


A IMPERATRIZ DESFILA
COM A SORTE VIRADA PRA LUA BIS

522
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Sobre a Letra do Samba

Ê CIGANA, A CARAVANA ESTÁ EM FESTA


TEM FOGUEIRA, DANÇA E SERESTA
NESTA AVENIDA DA ILUSÃO
AO SOM DE VIOLÃO E VIOLINO
O VERSO DA MAIS PURA INSPIRAÇÃO
DESCOBRI SEU TESTAMENTO E FIZ UM MANUAL

A linha narrativa que conduz a Imperatriz Leopoldinense em seu desfile


no carnaval de 2024, como apresentado em nossa sinopse, é a
utilização de um testamento escrito por uma cigana denominada
Esmeralda, onde encontramos dicas de interpretações em busca da tão
desejada sorte.

Leandro Gomes de Barros, autor do livreto, conta, de forma lúdica e


fictícia, que o testamento foi trazido ao Brasil por um grupo de ciganos
que, ao redor de fogueiras, espalhou festa, música, circo, dança e a
crença popular naquilo que o testamento guardava.

Corroborando com os elementos visuais apresentados no primeiro


setor do desfile, a introdução do Samba-enredo da Imperatriz
apresenta os elementos do universo do povo cigano que permeiam no
imaginário popular. A caravana abre o cortejo leopoldinense na
avenida de maneira festiva, com dança e musicalidade, carregando as
características fundamentais das celebrações desse grupo para então
revelar os ensinamentos escritos pela cigana Esmeralda.

SONHEI A VIDA FEITO CARNAVAL


EM DEVANEIOS E MAGIA
CERQUEI POR TODOS OS LADOS,
RISCANDO A FÉ NO TALÃO
APOSTEI NA COROA E NO CORAÇÃO

A segunda estrofe do samba apresenta o setor dos sonhos, no qual o


testamento nos revela as mais diversas interpretações. A letra do
Samba apresenta o setor naquele que talvez seja, para nós sambistas,
o maior de todos os sonhos: sonhar a vida como um eterno carnaval.
A letra também descreve a busca pela sorte nos jogos, insinuando a
crença popular, genuinamente brasileira, de que o um sonho pode
revelar o palpite certo para a vitória, riscando a fé no talão.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

A segunda estrofe do samba apresenta o setor dos sonhos, no qual o


testamento nos revela as mais diversas interpretações. A letra do
Samba apresenta o setor naquele que talvez seja, para nós sambistas,
o maior de todos os sonhos: sonhar a vida como um eterno carnaval. A
letra também descreve a busca pela sorte nos jogos, insinuando a
crença popular, genuinamente brasileira, de que o um sonho pode
revelar o palpite certo para a vitória, riscando a fé no talão.

Será que o sonho da Imperatriz será realizado na quarta-feira de


cinzas? A aposta está feita! É na coroa e no coração!

O DESTINO É TRAÇADO NA PALMA DA MÃO


E A VIDA SE EQUILIBRA EM CADA LINHA
ANDARILHO, SONHADOR
NA CORDA BAMBA DO AMOR
ENCONTREI MINHA RAINHA
(Ô IMPERATRIZ)

O refrão central do samba apresenta o setor da leitura das mãos na


arte da interpretação das linhas que definem os segredos das nossas
vidas. Os versos fazem um paralelo entre as linhas da mão e a própria
linha da vida, na qual nós nos equilibramos dia-a-dia para mantermos
vivo o sonho de encontrar, por exemplo, um grande amor:

Ô Imperatriz!

OLHEI O CÉU NO INFINITO DA CONSTELAÇÃO


A NOITE, O VÉU, EU VI OS ASTROS NA IMENSIDÃO
FUI SOB À LUZ DAS ESTRELAS
BUSCAR A CERTEZA DA MINHA DIREÇÃO

O quarto setor do desfile da Imperatriz Leopoldinense remete ao


conhecimento astrológico da cigana Esmeralda sobre os corpos
celestes. Segundo o testamento, quando os astros se movem tudo pode
mudar...quem erra também pode passar a acertar, e aquele que um dia
chorou, também pode gargalhar. Então, sob à luz das estrelas, nos
astros que flutuam na imensidão do infinito, buscamos o melhor
caminho para a direção do nosso destino.

Ê LUAR DE BALANÇAR MARÉ


MEU CANTAR É UM SINAL DE FÉ
PRENÚNCIO DA SINA DA MINHA ESCOLA
O SOL BEIJA A LUA NO ESPELHO DO MAR
JÁ ESTÁ MARCADO NO MEU CALENDÁRIO
VERDE-ESMERALDA É VITÓRIA QUE VIRÁ

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

O quinto setor de desfile contempla as previsões zodiacais também


impressas nas linhas do testamento da Cigana Esmeralda. A fé que a
sorte virá quando o balanço das marés fazer as coisas mudarem, o
calendário marcar fevereiro, quem é bamba bombar, a nossa Escola
decolar. E é aí que (foi a cigana quem me antecipou) ninguém segura,
amarra ou prende quem nasceu com a sina de ter sorte virada pra lua.

O QUE É MEU É DA CIGANA,


O QUE É DELA NÃO É MEU
QUANDO CHEGA FEVEREIRO
MEU CAMINHO É TODO SEU

Os versos que compõem o pré-refrão do samba da Imperatriz remetem


ao cancioneiro popular onde a figura da cigana é colocada com um
toque de divindade. O que é nosso, a ela pertence, foi ela quem deu.
No trecho, a Imperatriz deixa claro que seu destino está entregue à
cigana Esmeralda. Ela é quem conduzirá o desfile leopoldinense na
busca pelo sonhado título de campeã do Carnaval.

VAI CLAREAR… OLHA O POVO CANTANDO NA RUA


A IMPERATRIZ DESFILA
COM A SORTE VIRADA PRA LUA

O último verso do samba-enredo debruça sobre a sua posição de


desfile, na qual, sendo a última a entrar na avenida, fechando o
domingo de carnaval, terá seu povo em caravana cantando ao nascer
de um novo dia. Eis a sina de uma Escola que desfila com a sorte virada
pra lua!

Sobre a Melodia do Samba

A Imperatriz Leopoldinense apresentará no carnaval de


2024 um samba construído sobre uma melodia
essencialmente romântica. O intuito é a descrição da
atmosfera misteriosa e apaixonada do universo cigano. A
melodia repousa sobre o tom de Sol menor, transitando,
suavemente, em direção ao seu relativo e ao seu homônimo
maior.

525
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

A cabeça do samba evoca a cigana. Neste momento, a


melodia que reveste a letra traz consigo um ar de mistério,
com uma progressão harmônica de quinta aumentada no
acorde de Sol menor. É o mistério que existe no mundo
cigano, do qual todos nós temos curiosidade, mas somente
os inclusos conhecem os seus meandros. Assim sendo, a
primeira parte da obra segue com melodia de notas longas,
com frases sinuosas e sedutoras, em progressões
harmônicas de quarto grau da tonalidade de origem, as
quais irão encaminhar os versos que falam em festa, dança,
seresta, violão, violino e a AVENIDA DA ILUSÃO. A partir
deste ponto, a melodia começa a ganhar luminosidade, pois
ocorre a descoberta do TESTAMENTO da cigana
Esmeralda. A melodia passa a adquirir uma dinâmica mais
viva, com notas mais curtas e festivas.

O refrão do meio é em Sol maior, homônimo do tom


original. É um tom alegre e festivo que convida o
componente a dançar e cantar com mais força e alegria,
principalmente no momento onde brada, a plenos pulmões,
o nome da sua escola de coração: Ô, IMPERATRIZ.

Chegamos a segunda parte do samba com a melodia em tom


maior (G), porém com traços de lirismo e doçura. Foi
harmonizada com regressão da oitava para sétima maior,
em seguida para sexta; da sexta para a quinta do tom
original; para, enfim, repousar. Após o breve repouso
inicia-se um crescendo no quarto grau do tom de Sol maior
onde canta: FUI SOB À LUZ DAS ESTRELAS BUSCAR A
CERTEZA DA MINHA DIREÇÃO. A partir deste ponto
ocorre um dos trechos mais envolventes da melodia.
Quando se canta” Ê, LUAR DE BALANÇAR MARÉ...” a
melodia volta ao tom original com uma dose alta de
felicidade e entusiasmo. No trecho em que se canta
“PRENÚNCIO DA SINA...”, a melodia se modula para o
relativo do tom original. É um trecho em Si bemol maior.

526
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Apesar de ser em tom maior, é um trecho que conversa com


a primeira parte do samba. Trata-se da mesma atmosfera
romântica. Vai assim até o segmento, que podemos chamar
de pré-refrão, onde é pinçado o tema do cancioneiro
popular que diz “O QUE É MEU É DA CIGANA, O QUE É
DELA NÃO É MEU...” numa melodia simples, clara e
eficaz. Como é toda a arte que brota espontaneamente do
povo.

Por fim, chegamos ao refrão principal. Ele é no tom


Original, um tom menor, mas a melodia visita o tom
relativo durante a progressão. Isso aumenta e mantém alta
a intensidade de alegria do refrão. É uma luz brilhante
sobre o trecho. A melodia empolga e contagia o componente
que se sente motivado em entoar: VAI CLAREAR, OLHA O
POVO CANTANDO NA RUA.

527
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Bateria

Diretor Geral de Bateria


Mestre Lolo
Outros Diretores de Bateria
Mauro Lobo, Lucas, Nômade, Júnior, Jean, Baleado, Jhones, Nego Edy, Renan, Tikinho,
Caliquinho e Dedé
Total de Componentes da Bateria
250 componentes
NÚMERO DE COMPONENTES POR GRUPO DE INSTRUMENTOS
1ª Marcação 2ª Marcação 3ª Marcação Reco-Reco Ganzá
13 13 15 - -
Caixa Tarol Tamborim Tan-Tan Repinique
101 - 30 - 30
Zabumba Triângulos Cuíca Pandeiro Chocalho
- - 24 - 24
Outras informações julgadas necessárias

*DADOS SOBRE O MESTRE DE BATERIA:

Desde que assumiu o comando da bateria do GRES Imperatriz Leopoldinense, Mestre Lolo
coleciona elogios e notas máximas. Luiz Alberto – seu nome de batismo – está há nove anos no
comando da Swing da Leopoldina e, ao longo desse período, construiu uma das mais bem sucedidas
histórias de regência frente aos ritmistas. Talentoso e disciplinado, o trabalho de Mestre Lolo
desfruta de reconhecimento junto à crítica, além de acumular um número sem fim de premiações e
troféus.

Primando pela perfeita conversa rítmica entre as diferentes sonoridades de cada naipe que formam
a bateria, o mestre se destaca pela preservação das características essenciais do samba buscando
unir versatilidade, qualidade de execução rítmica e a mais perfeita cadência. Figura de destaque
para a conquista do campeonato da escola (o mesmo que encerrou o jejum de 22 anos longe do
primeiro lugar do pódio carnavalesco) Mestre Lolo segue na busca da excelência como poderá ser
visto no desfile de 2024.

528
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Harmonia

Diretor Geral de Harmonia


Thiago Santos e Mauro Amorim
Outros Diretores de Harmonia
Andre do Valle, Coelho, Renato Cosme, Felipe, Elso, Fábio Churrasqueiro, Fabinho Caprichosos,
Fábio Ribeiro, Jairo, Luis Paulo, Leo, Sidinho, Maurício, Macumba, Regis, Coelho, Nascente, Leo
Neto, Fernando, Nelson, Patrick, Renata, Giselle, Ana Paula, Rafael, Rodrigo, Tony, Tuninho,
Mariana, Renatinha e Zelito
Total de Componentes da Direção de Harmonia
40 (quarenta) componentes
Puxador(es) do Samba-Enredo

INTÉRPRETE PRINCIPAL: Pitty de Menezes

CANTORES DE APOIO: Jonathan Fragoso, Maderson Carvalho, Lucas Macedo, Chicão, Jefão e
Thati Carvalho.

*DADOS SOBRE O INTÉRPRETE PITTY DE MENEZES:

O intérprete Pitty de Menezes começou sua carreira no final da década de 2000, como cantor da
escola mirim da GRES Unidos do Viradouro. No mesmo ano - em 2007 - estreou como cantor de
apoio da agremiação de Niterói, através do convite do então intérprete do Grêmio, Dominguinhos
do Estácio. Seguiu como cantor de apoio da Viradouro até o ano de 2016, quando finalmente estreou
como intérprete oficial, no Grupo de Acesso C, na Sereno de Campo Grande.

De 2016 a 2019, foi presença no canto de apoio de grandes agremiações do carnaval carioca, entre
elas, a Unidos da Tijuca, a Vila Isabel e a Renascer de Jacarepaguá.

Destacando-se no cenário musical carnavalesco, assume como cantor oficial da Porto da Pedra -
dividindo o microfone com Luizinho Andanças – no ano de 2019. Por fim, em 2020, assume sozinho
o microfone da agremiação de São Gonçalo garantindo, junto dos demais segmentos, a nota máxima
no quesito samba-enredo e harmonia. Com atuação elogiada pela mídia especializada, ganhou
reconhecimento como a voz revelação dos últimos anos.

O profissionalismo e o talento de Pitty de Menezes o leva até a Imperatriz Leopoldinense para o


carnaval de 2023. Após a sua virtuosa apresentação no desfile campeão que marca o fim de um
jejum de 22 anos, a qualidade de seu canto e a interação entre a sua voz e o componente que defende
a nossa bandeira, o intérprete é apontado pela crítica, pelo público e pelos componentes da escola
como o dono da voz que personifica a Imperatriz Leopoldinense em nova fase.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

Instrumentistas Acompanhantes do Samba-Enredo

Violão: Pedro Miguel / Cavaquinho: Leandro Tomaz e Vinícius Marques /


Direção Musical: Pedro Miguel

Outras informações julgadas necessárias

O trabalho desenvolvido pela direção de harmonia do GRESIL teve como objetivo proporcionar o
perfeito entrosamento entre o ritmo e o canto. Dessa maneira, tão logo o samba que nos impulsiona
em desfile foi escolhido, demos início aos ensaios de canto. Dessa forma, o intérprete, os cantores
de apoio, o time de cordas, os componentes de nossa comunidade e a nossa bateria começaram um
processo coletivo de interpretação da obra que apresentamos.
Paralelamente aos ensaios realizados com alternância entre a quadra e as ruas de nosso bairro, o
time que compõe o carro de som Leopoldinense trabalhou de forma a desenvolver um arranjo
musical capaz de contemplar uma harmonia pertinente ao fortalecimento da interpretação do samba.
Ao longo do processo de preparo para o desfile, buscamos desenvolver um trabalho interessado em
atingir a excelência. Cremos que é a soma das qualidades dos envolvidos que mostra na Avenida
de desfiles os frutos de meses de ensaio e dedicação coletiva.

*DADOS SOBRE OS DIRETORES DE HARMONIA:

Thiago Santos assina pelo segundo ano a direção geral de harmonia do GRES Imperatriz
Leopoldinense. É importante destacá-lo como uma “cria” do pavilhão de Ramos e, portanto, uma
aposta “da casa” que comprovadamente deu certo. O ano de 2010 marca sua estreia como Harmonia
de ala no Grêmio que guarda a sua paixão pelo território onde nasceu e se criou: a Imperatriz. Três
anos depois de assumir responsabilidades junto aos componentes de ala, assume o cargo de Diretor
de Harmonia. Em paralelo ao trabalho desenvolvido no GRESIL, seu talento organizacional e sua
capacidade de estimular os ânimos dos componentes esteve à serviço de escolas populares como o
GRES Tradição, o GRES União do Parque Curicica, o GRES Caprichosos de Pilares, o GRES
Império Serrano, o GRES Acadêmicos da Rocinha e o GRES Unidos do Viradouro.
Após a estreia com rendimento acima da média em função da aplicação de suas ideias de
organização associadas à espontaneidade característica dos festejos populares, Thiago segue sendo
a liderança naturalmente forjada junto ao chão Leopoldinense ao unir a técnica e a alegria que hoje
são as marcas de seu trabalho transpostas para o corpo coletivo que personifica a Harmonia
Leopoldinense na pista de desfile.

Após o sucesso alcançado em sua estreia na direção de carnaval do GRES Imperatriz


Leopoldinense, Mauro Amorim aceitou o desafio de acumular a dupla jornada: direção de carnaval
e direção de harmonia. Sobre o diretor é oportuno salientar que o mesmo iniciou sua carreira em
2009 no segmento de harmonia, fazendo parte do time da Renascer após um curso de formação da
própria escola. Depois disso, passou por escolas como Unidos de Padre Miguel, Mocidade e
Caprichosos, até assumir sua primeira direção geral, na Unidos de Bangu. Com um trabalho
diferenciado feito junto à direção geral da Imperatriz (de 2015 até 2017), o convite para comandar
a direção geral da Viradouro surgiu em 2018 e foi prontamente aceito. O bom trabalho o levou a
alcançar a nota máxima no quesito, ajudando no título do Acesso daquele mesmo ano. Lá
permaneceu até o ano de 2020, onde contribuiu ativamente das conquistas recentes da Escola de
Niterói (entre elas o vice-campeonato de 2019 e o título de 2020).

530
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Evolução

Diretor Geral de Evolução


Mauro Amorim e André Bonatte
Outros Diretores de Evolução
Diretores de Harmonia e Harmonias de Ala
Total de Componentes da Direção de Evolução
80 (oitenta) componentes
Principais Passistas Femininos
Carmem Mondengo, Tuany de Paula, Tati Rosa, Mayara Simões, Karolaine Souza e Ana Pérola.
Principais Passistas Masculinos
Jairo Cruz, Pablo Araújo, Jhonny Pereira, Jonas Matheus e Rodrigo Nascimento
Outras informações julgadas necessárias

Sabedores de sua importância para a qualidade da exibição Leopoldinense, nossos componentes


não medirão esforços para estarem preparados para a apresentação que realizamos na Avenida de
desfiles. São incontáveis os números de ensaios realizados na quadra e nas ruas do bairro. São
incontáveis os encontros de nossos ritmistas, de nossos passistas, de nossas baianas, de nossos
componentes de ala, dos integrantes de nossa comissão de frente e de nossos casais de mestre-sala
e porta-bandeira para a busca da excelência.

Assim, empenhados, estimulamos de forma participativa que cada um dos envolvidos com a
exibição da Imperatriz Leopoldinense possa estar integrado de forma coletiva em busca de um só
objetivo: A perfeita evolução das pessoas que pisam nessa Avenida carnavalesca para defender a
nossa bandeira. Após o último desfile, não temos dúvidas que é desta comunhão que nasce a
possibilidade do pleno rendimento.

531
Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Informações Complementares

Vice-Presidente de Carnaval
-
Diretor Geral de Carnaval
Mauro Amorim e André Bonatte
Outros Diretores de Carnaval
-
Responsável pela Ala das Crianças
-
Total de Componentes da Quantidade de Meninas Quantidade de Meninos
Ala das Crianças - -
-
Responsável pela Ala das Baianas
Raul Cuquejo
Total de Componentes da Baiana mais Idosa Baiana mais Jovem
Ala das Baianas (Nome e Idade) (Nome e Idade)
80 Neuza Nogueira Carla Galvão
(oitenta) 86 anos 48 anos
Responsável pela Velha-Guarda
Solange Costa
Total de Componentes da Componente mais Idoso Componente mais Jovem
Velha-Guarda (Nome e Idade) (Nome e Idade)
70 Isa Teixeira Mello Ana Claudia Muniz de Lima
(setenta) 93 anos 52 anos
Pessoas Notáveis que desfilam na Agremiação (Artistas, Esportistas, Políticos, etc.)
Preto Jóia,
Outras informações julgadas necessárias

*SOBRE OS PROFISSIONAIS RESPONÁVEIS PELA DIREÇÃO DE CARNAVAL:

Mauro Amorim estreia na direção de carnaval no ano de 2023 de forma vitoriosa por participar de
forma atuante do desfile que marca o fim do jejum de títulos leopoldinenses. Responsável pela
eficiente comunicação entre os segmentos e os processos encaminhados ao longo da construção do
carnaval, Mauro se estabelece como um atuante parceiro na transposição dos anseios artísticos do
carnavalesco para a realidade do desfile. Dividindo a função de carnaval com André Bonatte, o
carioca possui notória experiência junto a realização dos desfiles em função de sua proximidade
com as tradições do samba e dos sambistas.
Cria da Imperatriz, André Bonatte começou a desfilar na ala infantil da escola no ano de 1989. Foi
ritmista - responsável pela coordenação do naipe de tamborins - entre os anos de 1991 e 2006. Atuou
como diretor de harmonia entre os anos de 2007 e 2009 sendo convidado a integrar a direção de
carnaval em 2010, como assistente. No ano de 2020 assumiu a direção geral de Harmonia no desfile
campeão da Imperatriz, no grupo de acesso, recebendo além das notas máximas, inúmeras
premiações no quesito. André Bonatte integra em dupla a Direção de Carnaval do GRESIL desde
2022.
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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Comissão de Frente

Responsável pela Comissão de Frente


Marcelo Misailidis
Coreógrafo(a) e Diretor(a)
Marcelo Misailidis
Total de Componentes da Componentes Femininos Componentes Masculinos
Comissão de Frente
18 08 10
Outras informações julgadas necessárias

A CIGANA E A FOGUEIRA

O fogo é elemento central para o povo cigano. Fundamental em todos os rituais, ele é essência e
alquimia. Encerra e renova. Aquele que cria e exorciza. A partir dessa informação, a comissão de
frente inaugura o desfile Leopoldinense tendo como ponto de partida um elemento muito simbólico
para a cultura cigano: a fogueira.

Poeticamente, junto da madeira em brasa, nossos bailarinos se revelam como salamandras em


estado de lúdica incandescência. Junto deles, Esmeralda apresenta-se como uma divindade que, em
torno das chamas (e tingida por sua coloração avermelhada) nos conduz a adentrar no universo
místico que se descortinará ao longo de um desfile que se nutre do imaginário cigano.

Ficha Técnica da Comissão de Frente 2024:

Criação coreográfica: Marcelo Misailidis / Assistentes: Dani Uhebe, Aloani Bastos, Eliomar
Bonavita / Figurinos: Leandro Vieira / Cenografia: Leandro Vieira e Marcelo Misailidis /
Confecção de figurino: Regina Fonseca e Christina Gall / Maquiagem: Christina Gall / Efeitos:
Fernando Soares / Cenotécnico: Tárcio Carivardo / Pintura de arte: Leandro Assis

Profissionais envolvidos com o movimento coreográfico:

Antônio Ornelas / Atila Soares / Braulio Gomes / Cristian Aguiar / Eduardo Gama / Glauci Vieira
/ Luiz Otávio / Marcelo de Souza / Moisés Ferreira / Yago Gonsalves / Marcelle Gomes / Rafaella
Ferreira / Karen Lino / Priscila dos Santos / Paula Tinoco / Fernanda Lima / Jéssica Lessa / Gyselle
Christiny.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

*DADOS SOBRE O COREÓGRAFO MARCELO MISAILIDIS

Marcelo Misailidis é um dos nomes mais importantes da dança brasileira, premiado idealizador e
diretor cultural, que atua na concepção de espetáculos. Em suas criações, utiliza como base as
experiências acumuladas em mais de 35 anos de carreira atuando em projetos que integram dança,
canto e teatro, além de ser uma celebrada figura no universo das escolas de samba do Rio, sobretudo,
por sua atuação como coreógrafo de comissão de frente e das inúmeras contribuições artísticas para
o quesito.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

FICHA TÉCNICA

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

1º Mestre-Sala Idade
Phelipe Lemos 34 anos
1ª Porta-Bandeira Idade
Rafaela Theodoro 31 anos
2º Mestre-Sala Idade
Marcos Ferreira 33 anos
2ª Porta-Bandeira Idade
Alcione Carvalho 40 anos
Outras informações julgadas necessárias

A CIGANA ESMERALDA E O PRÍNCIPE DA FRANÇA - A porta-bandeira é a cigana fictícia


a quem é atribuído o testamento tido como um tesouro por conter os ensinamentos e os métodos
para ler a sina de um indivíduo. Batizada Esmeralda pela genialidade do poeta nordestino Leandro
Gomes de Barros em sua obra fictícia conhecida como “O testamento da cigana Esmeralda”, a
personagem baila com o pavilhão Leopoldinense enquanto seu figurino revela a tonalidade da pedra
verde que ela carrega em seu nome.

Ao verde é acrescentado o ouro tão apreciado pelo povo cigano. O mesmo ouro que prevalece sobre
o figurino do mestre-sala que a corteja. Coroado, ele é o príncipe da França. O nobre europeu com
quem, segundo a narrativa fantasiosa da obra que nos inspira, a personagem foi casada.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

*SOBRE PHELIPE LEMOS E RAFAELA THEODORO:

Phelipe Lemos ingressou no carnaval das Escolas de Samba ainda criança como mestre-sala mirim
na Acadêmicos do Cubango. Tornou-se primeiro mestre-sala aos 21 anos, na Imperatriz
Leopoldinense e já sendo premiado como revelação. Durante 5 anos consecutivos defendeu o
pavilhão leopoldinense até assumir o cargo de primeiro mestre-sala do GRES Vila Isabel em 2016.
De 2017 até 2020, defendeu o pavilhão da Ilha do Governador e, em 2022, o pavilhão da Unidos
da Tijuca. Premiado quatro vezes pelo Estandarte de Ouro do jornal O Globo, Phelipe acumula
experiencia como professor da Escola de mestre-sala e porta-bandeira Manoel Dionisio e hoje atua
como instrutor do projeto social de mestre-sala e porta-bandeira da Imperatriz leopoldinense.
Philipe é conhecido pelo seu talento nato e sua técnica apurada na arte da dança do mestre-sala.

Rafaela Theodoro chegou ao carnaval das Escolas de Samba pelas mãos de sua avó, Luiza
Theodoro, também Porta Bandeira. Aprendeu seus primeiros passos de dança na Escola de mestre-
sala e porta-bandeira Manoel Dionísio. Pouco meses após entrar no curso foi escolhida para assumir
o posto de segunda porta bandeira do GRES Vila Isabel. Dois anos depois, com apenas 18 anos, é
convidada a defender o pavilhão da Imperatriz Leopoldinense, onde permanece até hoje.
Celebrando seus 16 anos de avenida, a premiada porta-bandeira também se dedica a ensinar sua
arte aos jovens do Projeto Social de mestre-sala e porta-bandeira da escola. Rafaela é uma porta-
bandeira de grande afinação técnica no que compreende o bailado de uma porta-bandeira, se
apresenta sempre de maneira elegante e defendendo o pavilhão da GRESIL há 14 anos ininterruptos.

Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro são parceiros de dança desde suas primeiras aulas na Escola de
Bailado. Estiveram juntos na Vila Isabel e durante 2011 até 2015 defenderam o Pavilhão da Verde
e Branco, formando uma das duplas mais elogiadas durante todo o tempo que estiveram juntos.

Após 7 anos afastados, em 2023 essa dupla se reencontrou e novamente passaram a defender o
Pavilhão da Imperatriz Leopoldinense. Esta retomada trouxe, além da contribuição para o
campeonato da Imperatriz no carnaval que passou, grande alegria para os componentes da Escola,
torcedores, admiradores e amantes do quesito. Juntos, a dupla traz o verdadeiro bailado (elegante e
virtuoso) enquanto apresenta de maneira clássica, a tradicional dança do mestre-sala e da porta-
bandeira.

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Abre-Alas – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense – Carnaval 2024

*DADOS SOBRE A ORIENTADORA DO PRIMEIRO CASAL:

Ana Botafogo, é Primeira Bailarina do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Iniciou sua
carreira profissional na França, integrando o Ballet de Marseille, de Roland Petit. Em 1981
ingressou, já como primeira bailarina, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, cargo que lhe deu
notoriedade no universo da dança. De 2015 até 2018, foi diretora artística do Ballet do Theatro
Municipal carioca. Como artista convidada, dançou com importantes companhias, entre elas:
Saddler's Wells Royal Ballet; Ballet Nacional de Cuba, Ballet da Ópera de Roma, Ballet de
Santiago, Ballet Municipal de Assúncion. Ao longo da carreira, apresentou-se em mais de 100
cidades brasileiras. No exterior, exibiu-se nos palcos da Europa, Ásia e Américas do Norte, Central
e do Sul.

Por sua brilhante atuação e notoriedade, Ana Botafogo, é considerada pelo público e pela crítica
uma das mais importantes bailarinas brasileiras de todos os tempos.

*DADOS SOBRE O SEGUNDO CASAL DE MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA.

PEIXES COM A REGÊNCIA DE NETUNO: Inseridos no contexto de desfile que lança luz em
aspectos zodiacais da própria Imperatriz Leopoldinense, o figurino que veste nosso segundo casal
de mestre-sala e porta bandeira menciona o fato da escola de Ramos ser pisciana e, portanto, regida
por Netuno.

Para tal, o azul predomina no figurino da dupla enquanto a reprodução de peixes dourados adorna
a saia da porta-bandeira. Dançando, Alcione Carvalho é cortejada por seu mestre-sala Marcos
Ferreira. Ele é o próprio Netuno, o deus romano dos oceanos que dá nome ao oitavo planeta do
sistema solar. Sobre a cabeça carnavalesca que lhe serve de fantasia está o contorno estético mais
popular do corpo celeste que seu traje menciona de forma lúdica: a esfera brilhante e azulada que
rege a constelação de “piscis.”

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