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2014
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 2
Santo Ângelo/RS/Brasil
2014
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 3
Dedicatória
Agradecimento
É muito difícil tentar resumir em palavras a beleza das energias que me foram
lançadas no decorrer desse percurso, pois corro o risco de não conseguir expressar
tão profundo sentimento a todas as pessoas que me incentivaram. Por isso, antes
de fazer os costumeiros agradecimentos individuais, agradeço a todos que direta ou
indiretamente me possibilitaram aprender através de seus questionamentos e
desafios para alçar voos maiores e, desta forma, possibilitar a continuidade desta
história.
Agradeço:
- Ao meu amado esposo Jesse, pelo seu amor e carinho, que me incentiva a
buscar e alcançar meus sonhos;
- À minha filha Paula, minha alegria de viver, minha amiga e auxiliadora nas
horas precisas e ao meu genro Rafael, por amá-la tanto e fazê-la feliz, o que é a
minha felicidade também;
- À amiga e colega Maria José Machado de Lima que suportou meus choros
saudosos durante as estadias em Buenos Aires e, que, me aconselhou e acarinhou
como uma verdadeira mãe;
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- À amiga e colega Lilian Mary Zieger, por ter tido essa ideia de nos levar para
a Argentina e nos desafiar a conhecer e crescer como profissionais e pessoas
humanas;
Muito obrigada.
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RESUMO
RESUMEN
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................09
METODOLOGIA.........................................................................................................12
CAPITULO I - INFÂNCIA...........................................................................................18
Gestão Participativa...............................................................................................68
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................76
REFERENCIAS..........................................................................................................81
NOTAS .....................................................................................................................88
ANEXOS.....................................................................................................................89
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 9
Introdução
finais que não traz uma conclusão precisa, até porque, é temerário ter uma como
verdade absoluta.
O presente trabalho não tem a pretensão de indicar soluções, mas de ajudar a
ampliar os debates e buscar uma forma conjunta (profissionais, pais e governos),
caminhos para garantir uma educação de qualidade na Educação Infantil de Santo
Ângelo, no Rio Grande do Sul/Brasil.
Metodologia
Capitulo I
Infância
Mas essa é uma realidade atual, durante muitos séculos a infância não foi vista
nem tampouco considerada como parte da vida de um sujeito onde também se tem
não somente obrigações, mas principalmente direitos a serem considerados.
Quando se detém a questionar sobre o significado de infância, várias são as
dúvidas que surgem:
- De que infância se está falando?
- Quais suas especificidades?
- Que tipo de educação a infância atual necessita, como sujeito prioritário do
processo educativo?
- A educação que está sendo ofertada a ela, é apropriada?
É impossível deixar de lembrar que a infância, segundo Narodowski (1994), é
o “suposto universal da ação pedagógica” (p. 24). A infância, nesse sentido, pode
ser vista em uma análise particular, em situação escolar, dentro da qual
historicamente procuram-se padrões de normalidade e de desempenhos que
estabeleçam referências e modelos para a prática educativa.
Nessa perspectiva, Rousseau (1979) afirma que: “cada idade, cada etapa da
vida tem sua perfeição conveniente a espécie de maturidade que lhe é própria” (p.
164). Já para Freinet (apud Nascimento, 1995, p. 46) essa ideia se desdobra e
amplifica através das “virtualidades humanas”, dado que para este autor as
intenções educativas devem partir delas vinculando a escola à vida concreta das
crianças, pois “só a vida educa”.
O certo é que, embora todas as tentativas para determinar um significado
comum sobre a infância, não se pode negar que o mais relevante é assegurar o
atendimento às crianças pequenas de forma integral e com qualidade, e que este
atendimento seja relativo tanto ao fator educacional quanto ao fator de cuidar, uma
vez que ainda há também a polêmica do “papel” do professor nos estabelecimentos
que oferecem a educação infantil, em que se questiona se ele deve ensinar ou
cuidar das crianças.
É impossível ignorar que o papel do docente na formação da criança é de
fundamental importância e que questões como essas devem ser amplamente
debatidas a fim de se chegar a um denominador comum sem prejuízos para a
educação dos pequenos.
No contexto atual, a concepção de infância tem tomado um sentido social
muito curto, pois, sofrem a influência das expectativas e pretensão dos adultos com
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 22
Capítulo II
se que o futuro da criança sempre foi definido pelo desejo e expectativas dos
adultos e, isso, é igual em todas as fases da história.
A história da educação no mundo mostra duas linhas equidistantes de
pensamento: uma de que toda a sociedade fundamentada numa economia
exploradora, dividida em classes, tende a usar a educação como meio de favorecer
os dominantes e subjugar, ainda mais, as classes menos favorecidas. E a outra: a
de que, embora com minguados avanços através dos anos, a educação deve ser
pública e universal, estendida a todos os cidadãos e igual para todos (como se
refere toda legislação educacional deste país).
No antigo Egito, o sistema de ensino se desenvolvia através da transmissão de
conhecimentos próprios para cada classe social, não permitindo que uma classe
aprendesse o que cabia a outra. Na Roma Antiga, o primeiro educador era o pai, o
“pater familiae”, que tinha poder total sobre a vida dos membros da família.
A educação das elites baseava-se em aprender as letras, o direito e a retórica,
para desempenhar funções políticas próprias das classes dominantes. O modelo de
organização do Estado Romano impedia às classes populares de ter acesso à
educação ou à simples arte da palavra, pois existiam poucas escolas e, estas, se
restringiam às elites para manter, assim, o poder do Estado.
O trabalho braçal era tratado como indigno ao homem livre, ficando a cargo de
escravos. No entanto, alguns patrões da época, para melhorar a qualidade da mão
de obra, instituíram em suas propriedades algumas escolas que capacitavam os
escravos para exercer profissões melhores e de maior procura. Desta forma, estes
critérios investiam na educação melhorando e encarecendo seus escravos numa
espécie de transação econômica.
Modelos educacionais herdados da antiguidade, mais precisamente dos
gregos, onde a criança era propriedade do pai, que tinha o controle até mesmo
sobre a vida e a morte da mesma, foi propagado pelo mundo com algumas
pequenas alterações e usado até pouco tempo atrás. Tudo o que a criança iria fazer
era determinado pelo seu pai, senhor absoluto. A criança não tinha vez nem voz,
tanto em questões políticas ou sociais e a família dependia do controle paterno, pois
era uma sociedade totalmente patriarcal.
Com o crescimento do cristianismo, aos poucos, essas ideias foram mudando
e as crianças passaram a ser vistas de outra forma permitindo, assim, que se
alterassem os modos de lidar com as mesmas. O impacto do cristianismo descortina
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 24
um novo olhar sobre os pequenos: “Em verdade vos digo que, se não vos
converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no
Reino dos Céus. Aquele, portanto que se tornar pequenino como esta criança, esse
é o maior no Reino dos Céus” (Bíblia Sagrada, 2010, p. 884), no entanto, este foi
um processo muito lento no qual a Igreja teve grande participação. Pode-se
observar na história, entre os séculos V e VIII, que ocorriam altos índices de
mortalidade e abandono infantil.
Na Idade Média, a sociedade era estabelecida pelo sistema feudal onde os
senhores de terras tinham – com a legitimação do estado e da Igreja – poderes
quase absolutos, inclusive com suas próprias leis, moeda, cultura, moral. A criança
era tida como um adulto em miniatura, que exercia as mesmas tarefas dos mais
velhos e vestiam-se como eles. Os adultos desejavam que a criança crescesse o
mais rápido possível para não morrer, devido às precárias condições de vida.
A sociedade da época era relapsa no cuidado infantil e induzia aos monges
esses cuidados, os quais recebiam em seus monastérios os órfãos e enjeitados e,
desta forma, a criar redutos específicos para a educação infantil. Ali eles vestiam,
alimentavam e educavam estes pequenos, num sistema de formação integral. Ao
contrário da educação bárbara da época que defendia que a educação das crianças
deveria ser embasada no endurecimento do coração ainda quando pequenos, a
educação proposta pelos monges cresceu baseada no amor e na serenidade.
Durante esse período a Igreja teve papel fundamental na luta contra a prática do
infanticídio e na revalorização da criança e do casamento, valorizando a
maternidade e a criação sadia dos filhos.
A partir do século XIII, as cidades começaram a crescer devido ao impulso do
comércio e a Igreja Católica começou a perder o seu poder com o surgimento da
classe burguesa a qual se ocupava da assistência social aos menos favorecidos. As
descobertas científicas se tornaram mais avançadas a partir do século XVI, a
estimativa de vida aumentou e as mudanças sociais e econômicas levaram à
Revolução Industrial.
No contexto do século XIII, as mulheres tiveram de deixar seus lares onde
eram tarefeiras cuidando da casa, dos filhos e do marido para procurar trabalho e
ajudar a família em seu sustento. Com isso as crianças menores tiveram que ir para
abrigos ou serem cuidadas pelas crianças maiores. Devido às enormes
necessidades das mães trabalhadoras, que rendiam mais sem a preocupação de
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 25
como seus filhos seriam cuidados, começaram a surgir às creches, que foram
aparecendo como forma de atender aos pedidos das trabalhadoras, mas
principalmente, pela melhora na produção destas.
Com o surgimento das primeiras creches, surgem também as primeiras
propostas para a educação infantil, bem diferentes da perspectiva feudal onde a
criança começava a trabalhar logo que saísse da faixa de mortalidade. Já se podia
notar, então, algumas diferenças nas roupas usadas pelos pequenos, pelo menos
os filhos da burguesia, que começavam a ser diferenciadas das dos adultos.
A sociedade burguesa passa a se preocupar com a forma de preparar essa
criança para o futuro através de cuidados e ensinos próprios para elas, porém como
a educação foi incumbida, em sua grande maioria, às escolas leigas, não houve a
permissão de se misturarem as classes sociais. Surge, então, um ensino para ricos
e outro para pobres, além da diferenciação de sexo, com prioridade de ensino para
os meninos. Desta forma, as creches além de serem lugares onde as crianças
ficavam no período de trabalho dos pais, também passaram a ter um caráter
assistencial, de saúde e de preservação da vida, mas ainda não eram relacionadas
à educação.
A educação, então, passa a ter a seguinte forma: primário – para classes
populares e de curta duração com a finalidade de formar mão de obra; o secundário
– para os burgueses e os aristocratas, de longa duração para formar a classe
dominante e pensante.
O povo passa a ver na educação a representação de ganhos futuros maiores e
crescimento da qualidade de vida, enquanto que os burgueses começam a difundir
o ensino superior. Contudo, no final do século XIX, a escola se apresenta (em
muitos aspectos) como um reflexo da fragmentação social. As crianças não tinham o
mesmo padrão de ensino a elas ofertado e, para resolver o problema, foram criados
os programas compensatórios que visavam suprir tanto a educação como a saúde,
a nutrição, e as deficiências sociais e culturais existentes. Sabe-se que “na Escócia
o industrial Owen, por volta de 1816, instituiu creches para os filhos de suas
operárias, com características filantrópicas. Owen teve uma visão de que este tipo
de assistência aumentaria a produção de suas fábricas” (Lourenço Filho, 1959, apud
George, n.d., ¶ 2).
A partir deste fato as creches se espalharam rapidamente pela Inglaterra e
foram enriquecidas pelas viagens que Owen fez ao continente onde conheceu
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 26
escolas, para crianças de quatro a seis anos de idade (Brasil, 1996, art. 29 e
30).
As concepções e políticas para essa faixa etária têm variado ao longo do
tempo, muitas mudanças ocorreram na forma de entender a infância como uma fase
de formação de caráter e personalidade.
No Brasil do século XVI, a infância era tida como iluminação e revelação e
torna-se objeto de catequização a fim de transformar definitivamente o modo de crer
e ser, principalmente, das populações indígenas. Os jesuítas acreditavam que
poderiam realizar sua missão como evangelizadores, através das crianças, então
houve uma suposta valorização da infância. No entanto, isto significou a violação
dos seus direitos como seres humanos pertencentes a uma sociedade diferente,
causando sua aculturação, o que incluía castigos físicos como punições por não se
comportarem como deveriam, segundo os jesuítas.
Schmitz (1994) relata que a criação dos colégios jesuíticos passou por
diversas organizações. A primeira foi o surgimento dos colégios tipo residências,
destinados aos meninos que seriam os futuros jesuítas. Esses residiam e
estudavam no mesmo local e frequentavam as universidades civis para um maior
controle dos futuros mandatários da doutrina e da fé cristã. A segunda foi quando
surgiram os colégios docentes para jesuítas, onde lá moram e ensinavam, ficando
totalmente internos. No terceiro, esses colégios para docentes somente admitiam
alunos seculares, tendo como professores os jesuítas. Na última fase, surgiram os
colégios só para seculares, ou só para jesuítas, onde era dada uma formação séria
e sólida para os futuros membros da Companhia.
O desenvolvimento da Educação Infantil no Brasil foi um pouco diferente dos
países europeus, primeiramente porque o Brasil é um país jovem frente a toda a
história do velho mundo, e depois porque ao mesmo tempo em que os órgãos de
atendimento à infância serviam para que as mulheres operárias trabalhassem nas
indústrias, também servia aos filhos das mulheres empregadas domésticas e aos
enjeitados pelas mães solteiras. Essas entidades tinham uma visão assistencialista
onde cuidavam somente da segurança, da higiene e da alimentação (Schmitz,
1994). Eram as chamadas casas da roda ou casa dos expostos e infância. Este
nome provém do tipo de mecanismo que se utilizava para abandonar os bebês sem
que tivessem suas identidades reveladas. Tratava-se de uma engenhoca cilíndrica
fixada na parede das instituições ou das casas de misericórdia, que repartida ao
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 29
meio por um tapume não permitia a visão do outro lado. Desta forma, quando uma
criança era colocada ali, a engenhoca era girada colocando a mesma dentro da
instituição, depois era só tocar um sino para avisar que mais um abandonado
chegava. Esta prática se estendeu por mais de um século, sendo o Brasil o último
país a abolir definitivamente a roda em meados de 1950. Estas instituições tinham
primeiramente um caráter filantrópico, caritativo e assistencial, prestando desta
forma um trabalho significativo para a sociedade da época uma vez que afastava o
“problema” de ter onde deixar os filhos indesejados ou por força de trabalho.
Alguns setores da sociedade brasileira como: empresários, religiosos e
educadores começaram a se preocupar e a pensar num espaço fora das casas dos
expostos e do âmbito familiar em que pudessem diminuir o alto índice de
mortalidade infantil, a desnutrição generalizada e o alto índice de acidentes
domésticos. Assim, um número expressivo de creches foi sendo criadas, mas não
pelo poder público e, sim, por organizações filantrópicas.
Enquanto que algumas famílias mais abastadas pagavam uma babá para
cuidar de seus filhos pequenos, as operárias e trabalhadoras tinham que optar em
deixar seus filhos sozinhos ou colocá-los em creches que, por suas necessidades,
tinham que ser gratuitas ou cobrar muito pouco enquanto estivesse trabalhando. Isto
determinava turno integral, por isso as creches tinham de tratar da saúde, da
higiene e da alimentação dessas crianças não se preocupando com a educação.
Neste período começou a ser ventilada a criação dos Jardins de Infância,
defendidos pelas pessoas que acreditavam que os mesmos trariam vantagens para
o desenvolvimento infantil e criticado por outros por seguir o modelo de algumas
instituições europeias.
Por volta dos anos 70, a educação passa a ser obrigatória e gratuita para o
nível básico com duração de oito anos; no ano de 1971, a Lei n º 5.692/71 traz o
princípio de que o Ensino Fundamental deve ser de responsabilidade do município,
como cita Both: “[...] os Municípios passaram a se responsabilizar pela
administração do Ensino de Primeiro Grau, mas não existiu uma política
descentralizadora, gerando redes municipais pobres, precárias, dependentes e sem
autonomia” (Both, 1997, p. 56). Isto significa que muitos, ainda, não estavam
preparados para assumir tal demanda principalmente os municípios mais carentes.
Essa Lei ainda abriu o precedente de que, empresas particulares cujas funcionárias
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escola” [grifo da pesquisadora] para quem atende de quatro a seis anos de idade.
Sua regulamentação foi reiterada nos artigos 29 e 30 diz que:
a educação de crianças de 0 a 6 anos de idade, passa a fazer parte da
Educação Básica (que engloba a Educação Infantil, Ensino Fundamental e o
Ensino Médio) e tem por finalidade o pleno desenvolvimento e de forma
integral da criança como forma de complementar a ação da família e da
comunidade e que esta será oferecida em creches (de 0 a 3 anos) e pré-
escolas (de 4 a 6 anos).
Assim, com uma exigência primeira da perspectiva social e da lei, também foi
uma preocupação do município de Santo Ângelo, no Estado do Rio Grande do
Sul/Brasil, oferecer atendimento a todas as crianças, independentemente de sua
classe social, onde as ações na Educação Infantil sejam adequadas e as crianças
sejam estimuladas a exercer suas capacidades motoras e proporcione novas
descobertas, bem como inicie o seu processo de alfabetização e letramento,
reconhecendo-se como sujeito de fato e de direito como os jovens e os adultos.
Capítulo III
Qualidade em Educação
Qualidade da, na, ou em Educação deve ter uma perspectiva polissêmica porque traz
subentendida diversas significações. São inúmeros os aspectos a qualificar, avaliar e
estabelecer a natureza, as propriedades e os atributos que se deseja no processo educativo,
visando a produção, organização, gestão e propagação de saberes e conhecimentos essenciais
para o exercício da cidadania., até porque “a educação é essencialmente uma prática social
presente em diferentes espaços e momentos da produção da vida social” (Dourado, 2001, p.
3).
Tudo na vida muda no tempo e no espaço, inclusive os conceitos, as concepções e as
representações sobre o que significa uma educação de qualidade principalmente se levarmos
em conta as mudanças mais urgentes da sociedade.
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 32
alunos, o clima da região, o tempo que estes passam no ambiente escolar [parcial ou
integralmente] e, sobretudo, as necessidades do processo de ensino e de aprendizagem.
3) Uma escola que possui as condições de ofertar um ensino de qualidade passa por
variações que compreende, além do projeto político pedagógico, o clima organizacional, a
gestão dos sistemas e das escolas.
Desta maneira, nota-se a importância de uma escola de qualidade oferecer aos alunos:
a) Existência de salas de aulas compatíveis às atividades e à clientela;
b) ambiente escolar adequado à realização de atividades de ensino, lazer e recreação, práticas
desportivas e culturais, reuniões com a comunidade etc;
c) equipamentos em quantidade, qualidade e condições de uso adequadas às atividades
escolares;
d) biblioteca com espaço físico apropriado para leitura, consulta ao acervo, estudo individual
e/ou em grupo, pesquisa on line, dentre outros, incluindo, acervo com quantidade e qualidade
para atender ao trabalho pedagógico e ao número de alunos
existentes na escola;
e) laboratórios de ensino, informática, brinquedoteca, entre outros;
f) serviços de apoio e orientação aos estudantes;
g) garantia de condições de acessibilidade e atendimento para portadores de necessidades
especiais;
h) ambiente escolar com plena segurança para alunos, professores, funcionários, pais e
comunidade em geral;
i) programas que contribuam para uma cultura de paz na escola.
Matsuura (2004, p.1), cita que uma escola de qualidade ou uma boa escola é aquela em
que existe um clima favorável à aprendizagem, em que os professores e gestores são
líderes animadores e em que a violência é substituída pela cultura da paz e pelo gosto
de os alunos irem a uma instituição que atende às suas necessidades. Uma boa escola
tem um currículo significativo: mantém um pé no seu ambiente e outro na sociedade
em rede.
A gestão democrática deve ser participativa na escola, pois isso se apresenta como um
dos fatores essenciais das condições de oferta de ensino com qualidade, além de enfatizar os
processos de participação mais ampla e se articular com a formação inicial e continuada,
além de experiência profissional, formação específica e capacidade de comunicação e de
motivação dos diferentes segmentos da comunidade escolar, de forma a contribuir com a
melhoria da qualidade de ensino.
Capítulo IV
Essa medida deverá ser implantada até 2010 pelos Municípios, Estados e
Distrito Federal. Durante esse período os sistemas de ensino terão prazo
para adaptar-se ao novo modelo de pré-escolas, que agora passarão a
atender crianças de 4 e 5 anos de idade (Brasil, 2006).
Apesar das evidências de que as crianças que frequentam a pré-escola têm
maior aproveitamento no decorrer de sua vida acadêmica, a decisão do Conselho
Nacional de Educação (CNE) foi de ampliar o Ensino Fundamental, tornando o
ingresso de crianças de 6 anos obrigatório nessa etapa da educação básica, privou
as crianças de um ano na Educação Infantil.
Quanto aos profissionais que atendem essa etapa da Educação Básica,
segundo o Censo Escolar de 2011, entre os professores da Educação Infantil de
Santo Ângelo, 7% dos profissionais possuem ensino médio regular, 18 possuem
ensino médio em outras modalidades e cerca de 92% já adquiriram uma formação
superior (Pedagogia). Assim como 29% não tem curso de pós graduação e 71% dos
professores já tem esta especialização. Isso é considerado um grande avanço, pois
antes da LDB nº 9394/96, o nível mínimo de formação dos profissionais em
Educação Infantil não era exigido, e nela trabalhavam profissionais de diferentes
níveis de escolaridade, contrariando a necessidade de uma formação pedagógica,
conforme cita a LDB:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal (art.
62, p. 47).
Para auxiliar o trabalho pedagógico diário e garantir a qualidade da oferta de
ensino pelos profissionais da Educação Infantil, o MEC em 1998, lança e distribui às
escolas de todo o país o documento chamado de Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil (RCNEI).
Como primeira proposta curricular oficial, esse documento é lançado em três
volumes: “[...] o primeiro apresenta uma reflexão geral do atendimento no Brasil,
sobre as concepções de criança, de educação e do profissional; o segundo trata da
Formação pessoal e social, e o terceiro volume ocupa-se dos diferentes conteúdos
incluídos em Conhecimentos no mundo” (Brasil, 2008, p.7).
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 42
Função
compensatória de
“carências”.
Papel do
Profissional Recreacionista Educador (a) Professor (a).
Infantil
Capítulo V
Santo Ângelo foi fundado, em 1706, pelo padre belga Diogo Haze da
Companhia de Jesus. Em 1756, com a Guerra Guaranítica, a cidade foi destruída e
assim ficou por quase 100 anos. Só por volta de 1830 as terras começaram a ser
distribuídas em sesmarias designadas para paulistas que assim começaram o
repovoamento da região.
Em 22 de março de 1873, Santo Ângelo, que então possuía 10 mil Km² de
área, se emancipou de Cruz Alta e no final do século XIX começou a chegar à
cidade os imigrantes alemães, italianos, poloneses, russos, holandeses, gregos,
entre outros vindos da Europa. Santo Ângelo foi o ponto de partida da Coluna
Prestes, movimento que atravessou o país lutando por melhores condições sociais.
A cidade apresentou enorme desenvolvimento econômico e industrial no
período entre os anos 30 a 79, vindo a possuir mais de 90 mil habitantes. Já nos
anos 80, ocorreram diversas emancipações deixando o território do município
reduzido a menos de 10% do território original seguido de uma significativa quebra
geral nas indústrias, quando houve uma grande emigração. A partir dos anos 90, a
cidade começa a renascer e sua população chega a 90.000 habitantes devido à
reabertura de indústrias e à atração de novos investimentos.
Segundo o Censo Demográfico de 2012, sua população constava de 76.275
habitantes. Seu contexto econômico está baseado principalmente no comércio
associado a pequenas indústrias e agricultura, sendo que os principais produtos
cultivados são: soja, milho e trigo. Também se destacam a pecuária, com a criação
de bovinos e suínos, e a prática do turismo.
O Índice do Desenvolvimento Humano para o Município em 2011 aponta:
Educação = 0,934; Longevidade = 0,789 e Renda = 0, 741, sendo que o IDH
Municipal ficou em 0,821. São 80 bairros no total, sendo o principal, além do centro,
o Bairro Pippi. O município está dividido em 14 distritos, além da sede. Os distritos
são: Comandaí, Buriti, Rincão dos Mendes, Colônia Municipal, Lajeado Cerne,
Restinga Seca, Ressaca da Buriti. Atafona, Cristo Rei, Sossego, Rincão dos
Roratos, União, Rincão Meotti e Lajeado Micuim.
O município é também reconhecido como um polo educacional, principalmente
por contar com três instituições de ensino superior: a Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), campus de Santo Ângelo, o Instituto
Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA) e a Uníntese, onde estudam
aproximadamente 6.000 acadêmicos. Possui um movimento estudantil muito
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 46
atuante como a União dos Estudantes de Santo Ângelo (UESA), Diretório Central
dos Estudantes da URI (DCE) e Central do Estudante. Santo Ângelo conta
atualmente com 21 escolas municipais de atendimento infantil, entre Creches e Pré-
escolas (dados obtidos na prefeitura do município de SantoÂngelo).
Os santo-angelenses costumam se reunir em clubes, CTGs (Centro de
Tradições Gaúchas), ou nas representações das etnias, para festas, apresentações
artísticas e eventos culturais. As praças da cidade também são muito usadas pela
população sendo duas as mais importantes, Praça Leônidas Ribas ou a “Praça do
Brique” e Praça Pinheiro Machado que fica em frente ao principal ponto turístico que
é a Catedral Angelopolitana.
Eventos como a FENAMILHO (Festa Internacional do Milho) e o Carnaval de
rua, também costumam atrair muita gente da cidade e turistas, que chegam ávidos
pelo conhecimento da história da cidade, além dos desfiles de 7 de Setembro
(Independência do Brasil) e de 20 de Setembro (Revolução Farroupilha).
A cidade conta ainda com o Acervo Histórico Municipal, o grande cinema/teatro
Cine Cisne com 2 salas e um Café, o Teatro Municipal, a Academia de Letras de
Santo Ângelo, o Museu Municipal Dr. José Olavo Machado, o Museu Marechal
Rondon, localizado no 1º Batalhão de Comunicações, o Museu Ferroviário junto ao
Memorial Coluna Prestes, o Seminário Sagrada Família e a cascata do Comandaí,
situada no distrito homônimo. Os principais monumentos do município são os
seguintes: Capela do Colégio Teresa Verzéri; Catedral Angelopolitana; Monumento à
Coluna Prestes, primeira obra projetada por Oscar Niemeyer no estado;
Monumento à Sepé Tiarajú, índio Guarani que batalhou na Guerra Guaranítica;
Prédio da Prefeitura; Santuário de Schoenstatt.
A diversidade religiosa é significativa contando com as mais diversas crenças.
A maioria é católica, especialmente apostólica romana, seguido das evangélicas
(incluindo batistas, adventistas, luteranos, presbiterianos, metodistas, além de várias
de origem pentecostal), espíritas, afro-brasileiras, testemunhas de Jeová e
mórmons. Existem minorias que seguem o islamismo e o budismo, há também
outras expressões como o xamanismo (Mbyá guarani), o paganismo e o judaísmo.
O Fórum de Santo Ângelo merece destaque em seu novo prédio com sua linda
arquitetura. A cidade também conta com inúmeras opções no setor de prestação de
serviços, bons locais para entretenimento e lazer, boa gastronomia e hotelaria, além
de poder contar com 4 ótimos Hospitais e vários Postos de Saúde. Para a
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 47
Capítulo VI
Educação Infantil foram distintos e específicos durante essas cinco décadas de seu
desenvolvimento, assim como as orientações teóricas e metodológicas, mas ao
longo de sua trajetória foram sendo modificadas a fim de se adequarem as novas
propostas educativas, construindo espaços de aprendizagens, auxiliando no
desenvolvimento de hábitos e atitudes e preparando para o ingresso no Ensino
Fundamental (o que tornou a Educação Infantil do município num referencial para os
demais municípios da região).
Ao longo dos anos, a rede municipal de ensino de Santo Ângelo não se
modificou apenas na qualidade de oferta e no número de estabelecimentos,
matrículas ou concepções teóricas e metodológicas em prol de um melhor ensino
/aprendizagem de seus alunos, mas também, ampliou e primou pelos seus
profissionais, que somente ingressam na rede através de concursos e tendo o
mínimo exigido segundo a LDB, que é de nível superior. Os profissionais que não se
adequaram as exigências da LDB que estipulou até o ano de 2010 para que os que
já estavam na rede, fizessem a sua conclusão no Ensino Superior, são colocados
em cargos de extinção ou transferidos a outros setores municipais.
Atualmente o município conta com 119 professoras, todas nomeadas por
concursos, 20 atendentes e 30 monitores, além de 21 coordenadoras, 23
cozinheiras e 21 serventes para atender somente a Educação Infantil. A rede
também aceita estagiárias das universidades, que desenvolvem estágios de
80horas a seis meses e não são remuneradas, mas assistidas pelos professores e
supervisionadas pelos mestres das entidades de onde vieram.
As crianças de creches e pré-escolas do município podem usufruir de horários
de acordo com a necessidade da família, sendo ofertado o horário integral para
creches (das 07h30min às 18h30min) ou meio turno (manhã ou tarde) para as
crianças entre zero e três anos de idade e meio turno (manhã ou tarde) para as
crianças de quatro a cinco anos de idade na pré-escola. Durante o período em que
os alunos permanecem na escola são oferecidas refeições balanceadas, com
cardápios feitos por nutricionistas, onde é servido café da manhã, lanche da manhã,
almoço, lanche da tarde e jantar.
Com a regulamentação do FUNDEB, em 2007, o município passa a receber
seu percentual de verba para a Educação Infantil, contudo esses recursos ainda não
são suficientes para uma boa qualidade, tanto de vagas como na oferta, para esta
etapa da educação básica. Devido à grande necessidade de oferta de vagas e da
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 52
Capítulo VII
É notório, no estudo das respostas dadas, que muitos professores que atuam
na Educação Infantil possuem de 19 a 30 anos de idade, portanto, é um publico
jovem em início de carreira. Embora haja uma grande parte de professores se
aposentando e, mesmo que, o magistério não seja atrativo para muitos jovens
(conforme algumas pesquisas informais realizadas no ano de 2012), ainda assim,
estão ingressando no magistério e principalmente na EI, candidatos jovens e que
fizeram esta escolha por opção.
A maioria dos pais dos alunos da Educação Infantil são jovens de 20 a 25 anos
de idade, outros estão na faixa de 26 a 30 anos e, alguns poucos, estão na faixa
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 57
etária de 31 a 40 anos. Isto mostra que as famílias estão se constituindo mais cedo
e, isto, contribui para o aumento da densidade demográfica de Santo Ângelo que,
em 2012, ficou em 112,09 habitantes por quilômetro quadrado (segundo o Relatório
Dinâmico de 2012).
A grande maioria dos professores é do sexo feminino. Este fato ainda
representa uma concepção tradicional de que “cuidar de criança” [grifo nosso] é
tarefa feminina. Isso representa que ainda existem conceitos remanescentes das
creches onde a criança era deixada para que os pais pudessem trabalhar e
passavam a ser cuidadas por “tias”.
Arroyo alerta que:
A infância deixou de ser apenas objeto dos cuidados maternos familiares e
hoje tem que ser objeto dos deveres públicos do Estado, da sociedade como
um todo. Estes fenômenos, estes fatos sociais, são fundamentais para que o
educador tenha consciência de seu papel enquanto educador da infância
(1994, p.90).
uma nova doutrina em relação aos infantes, que é a doutrina da criança como
sujeito de direitos” (Craidy & Kaercher, 2001, p. 3).
Percebe-se nas falas que houve muitas mudanças na forma de entender a EI
como uma etapa da Educação Básica, que as crianças devem frequentar porque
tem direito de receber atendimento especializado para sua formação.
Provavelmente existam mais professores na rede municipal do que na estadual e
particular devido à existência de melhores salários, como também, à quantidade de
estabelecimentos de ensino de EI e às políticas municipais de atendimento desta
demanda. Em suma, é bem provável que a rede municipal de educação na EI seja
mais atraente do que em outras esferas, no município de Santo Ângelo.
Nas entrevistas realizadas se percebeu que os professores se importam com
a melhoria da qualidade do ensino, pois, os educadores buscam
aperfeiçoamento/especialização e atualização através de cursos específicos de
graduação e pós-graduação, muitos estão cursando o Ensino Superior, outros já o
concluíram. Wajskop destaca a importância da formação adequada dos profissionais
que atuam na EI. Para ele “a formação adequada do professor de Educação Infantil
e sua atuação junto às crianças são fatores determinantes para garantir situações
de aprendizagens eficazes e enriquecedoras” (2005, p. 13). No artigo 14 da
Resolução nº 246/99, assinada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, consta
que “a direção das instituições de Educação Infantil deve ser exercida por
profissional formado em curso de graduação em Pedagogia ou em nível de pós-
graduação em Administração Escolar” (¶ 15). É importante que os docentes não se
contentem com uma formação básica, mas que busquem uma maior qualificação
por que é fundamental:
a) ressignificar os saberes:, o educador precisa conhecer o processo histórico
dos conhecimentos, desde a mais longínqua origem imaginável
(Hengemühle, 2008);
b) despertar o sonho dos estudantes em relação ao saber: ele deve
problematiza-lo (Hengemühle, 2008);
c) tornar dinâmica a práxis pedagógica: os alunos precisam ser provocados
no seu desejo ou não de aprender por meio da apresentação de problema,
da discussão, elencando novos problemas e construindo novas soluções
(Hengemühle, 2008).
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Constatou-se, pelas fichas de matrícula dos alunos, que a maioria dos pais
normalmente tem formação até o Ensino Fundamental, alguns estão participando da
EJA, enquanto que outros poucos frequentaram ou, ainda, estão frequentando o
Ensino Médio e, uma parcela muito pequena, cursaram ou estão cursando o Ensino
Superior. É uma demanda bastante variada no aspecto econômico, sendo que
algumas escolas estão inseridas em comunidades onde os pais possuem uma
renda maior, estabilidade no emprego, ou mesmo são pequenos empresários. O
grau de instrução influencia muito na criança porque, quer queira ou não, ainda se
educa pelo exemplo. Tanto pais como educadores são exemplos para os infantes.
Se os pais não veem importância nos estudos, não exigem comprometimento, não
dão limites, os pequenos não tenderão a construir uma personalidade forte e
responsável (itens indispensáveis para um caráter expressivo).
Os profissionais da EI estão numa boa faixa de experiência docente, justificada
pela valorização recente dessa etapa de ensino com Plano de Carreira próprio,
incentivo através de melhoria salarial e estrutura. O educador procura ser um
profissional reflexivo que proporcione situações de aprendizagens para todas as
crianças além de zelar pelo seu desenvolvimento pessoal, já que passa a maior
parte de seu tempo no ambiente escolar. Aqui entra mais uma vez o papel do
gestor em conduzir um trabalho criativo que ofereça condições materiais,
pedagógicas, culturais, sociais, e humanas para que a criança viva em todos os
sentidos, principalmente, na sua infância, uma vez que esta é fundamental para sua
inserção no mundo.
A maioria dos pais entrevistados tem, em média, dois filhos na escola. Isto
demonstra que ao passar dos anos, as famílias estão planejando mais a quantidade
de filhos que desejam ter. Nos séculos XVIII e XIX era comum as famílias terem
muitos filhos. A vida era mais fácil porque a mulher tinha dedicação exclusiva para o
lar e sua prole, a educação não era para todos. Antigamente, a vida das famílias era
mais simples e tranquila, não existia a correria que vemos hoje em dia. As pessoas
andavam a pé, pois quase não existiam carros. As ruas eram de terra ou de
paralelepípedos. As crianças podiam brincar nas ruas e calçadas, pois não havia
perigo de acidentes ou assaltos. Os vizinhos eram como integrantes das outras
famílias, todos os dias se reuniam nas varandas de suas casas para conversar
enquanto as crianças brincavam. A mulher não trabalhava e também não tinha tanta
liberdade de escolha, não existiam métodos contraceptivos e as pessoas não
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E mais:
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 61
vez e à voz nas questões escolares. A escola deve ter cuidado com os brinquedos
para que não sejam tóxicos, de material resistível à criança, colorido e do interesse
da mesma.
O mesmo acontece com os pais que também não sabem de onde se originam
os recursos, e nem sabem como funciona a liberação destes. O que eles podem
requerer para a escola é como fazer para conseguir algo que consideram importante
para as crianças. Mas, para isso, precisam saber origem dos recursos e, também, o
valor e como planejar para usá-los da melhor forma.
A comunidade escolar pouco se envolve na construção e implementação de
políticas educacionais, pois geralmente, é chamada apenas para concordar com
decisões já deliberadas pelo poder político ou para arrecadar verbas através de
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 66
Em espaços democráticos, sabe-se que uma gestão, seja qual for sua vertente
política e ideológica, deve ter o interesse público como prioridade. Variam os
mecanismos para atingir esse objetivo, é bem verdade, mas não há como divergir
da teoria de que gestar em uma democracia é gestar para o interesse da
coletividade – senão, seria preciso mudar a palavra “democracia” [grifo nosso].
Toda comunidade escolar deve saber que:
A verba que vem do governo federal é distribuída pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) por canais como o Programa Dinheiro
Direto na Escola (PDDE) - depositado na conta bancária da entidade
executora da escola, geralmente a Associação de Pais e Mestres (APM), e
ganhando rapidez para suprir necessidades básicas de manutenção,
aquisição de material didático e formação. Já os recursos dos estados e
municípios são administrados pelas Secretarias de Educação, que
providenciam itens como estrutura física, carteiras e pagamento de
funcionários. Sem a visão geral das necessidades da escola, o gestor se
dedica só a apagar incêndios . É essencial que haja um olhar panorâmico que
é conseguido com a reunião de representantes de professores, funcionários,
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Gestão Participativa
Foi feita uma pergunta que, a princípio parece um tanto boba ou óbvia, mas
que se achou muito importante. Pediu-se para ver o Projeto Político Pedagógico,
caso existisse um documento escrito. Interessante que apesar de existir tal
documento e de o mesmo ser um documento público que deve estrar acessível à
toda comunidade escolar, nem todos o conhecem ou o leram. “Eu nunca vi o PPP
desta escola, trabalho com o que a coordenadora me fala” (Docente 14 da escola
E). “Eu sei que existe, mas está sempre guardado na gaveta da mesa da diretora”
(Docente 18 da escola F). “Nem sei se existe” (professora A). “Eu pedi emprestado
e tirei um xerox pra mim ter um exemplar comigo. Acho importante o professor ter
um com ele”. (Docente 2 da escola A).
A LDB de 1996 diz que a proposta pedagógica é um documento de referência.
Por meio dela, a comunidade escolar exerce sua autonomia financeira,
administrativa e pedagógica. Também chamada de projeto pedagógico, projeto
político-pedagógico ou projeto educativo, a proposta pedagógica pode ser
comparada ao que o educador espanhol Manuel Álvarez (2009, p.29) chama de
"uma pequena Constituição"[grifo do autor]. Nem por isso ela deve ser encarada
como um conjunto de normas rígidas. Elaborar esse documento é uma oportunidade
para a escola escolher o currículo e organizar o espaço e o tempo de acordo com as
necessidades de ensino.
Perguntou-se aos pais e professores se eles participaram da elaboração da
proposta pedagógica da escola e se foram chamados para a sua atualização ou
reelaboração. A maioria dos docentes confirmou sua participação, mas o mesmo
não aconteceu com os pais, conforme seus depoimentos: “nunca fomos chamados
para saber do projeto da escola” (pais 6, 7 e 8 da escola B), “só nos chamam para
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O Programa Mais Cultura nas Escolas quer trazer a contribuição que as artes e
a cultura provocam para tornar os processos de aprendizado mais efetivos, mais
criativos, e mais proveitosos. Por isso deve-se criar um Plano de Atividade Cultural
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Cabe, aqui, explicar que os projetos e/ou programas não são elaborados pelas
escolas, e sim, pelos governos e colocados em votação por consulta popular, onde
são destacadas as prioridades. Também entram na lista projetos de manutenção e
restauração das escolas, manutenção ou aquisição de equipamentos, melhoria de
infraestrutura, etc.
O pai atento e preocupado, que vai à escola com regularidade, que participa
nas reuniões de pais, nas atividades da escola; o pai que só vai à escola
quando é convidado a ir, que não aparece nas reuniões porque não tem
tempo, não participa nas atividades porque considera ser uma perda de
tempo; o pai perfeitamente despreocupado do filho, que não sabe nem quer
saber se está tudo a correr bem na escola, que anda completamente alheado
dos problemas do seu filho; e depois há ainda aquele pai que fica de repente
muito preocupado com o seu filho, quando lhe aparece em casa uma
participação grave do seu educando e então é altura de “castigar” a escola
pelos desastres cometidos pelo seu filho e claro, não foi essa a educação
que lhe deu (Veríssimo & Galante, n.d., p.1).
chamar um policial para destrancar a escola, pois ouvi o choro dela lá dentro” (M23
da escola E). Esse episódio ficou conhecido na cidade, foi um caso isolado, mas
que exerce influência e preocupação sobre outros pais de outras comunidades.
Antes de fechar a escola dee-se fazer uma vistoria para ver se alguma criança ficou
para trás (crianças de Educação Infantil são fáceis de serem esquecidas e
trancadas nas escolas, pois gostam de brincar de se esconder ou de ir ao banheiro
na última hora sem dizer nada a ninguém) e se encontrar alguma criança, é preciso
entrar em contato com a família e ficar com ela até alguém buscá-la. Ou, em
ultíssimo caso, levá-la em casa.
Ao perguntar aos pais se estão satisfeitos com o atendimento que a escola dá
às crianças, eles disseram que estão satisfeitos. Muitos relataram que as crianças
estão mais sociáveis “chegam em casa felizes contando as historinhas e músicas
que aprenderam” (P3 da escola A). Outra mãe, (M11 da escola C) disse que “antes
minha filha era muito nervosa, não brincava só chorava, desde que foi para a
escola mudou, agora sabe brincar com outras crianças” A mãe 16 da escola D,
muito feliz, diz que o filho de 4 anos “já sabe identificar as letras de seu nome, antes
era uma briga para tomar banho, agora disse que a professora ensinou que temos
que estar limpinhos”. O pai 30 da escola F que acompanha o filho na escola disse
que “com as novas leis amparando a EI as escolas estão mais preparadas, os
professores mais dedicados e comprometidos e as crianças tem um espaço onde
podem aprender, ser criativas, e isso é muito bom para a motivação ao estudo”.
Considerações Finais
oferecer uma educação de qualidade para todos. Nesse contexto, muitas ações se
reconhecem importantes para concretizar o pensamento democrático que perpassa
pelo ambiente escolar e um dos mais importantes elementos é a participação da
comunidade, a cogestão dos pais nas escolhas de paradigmas que a educação vai
trilhar.
A gestão escolar democrático-participativa é o elemento de democratização da
escola (e consequentemente da sociedade) e de articulação das relações sociais
com o contexto histórico que vivenciamos. Mas, esse tipo de gestão não se aprende
em livros, ela é construída no cotidiano escolar e encontra, na figura do professor,
um de seus responsáveis para a criação e manutenção de processos, atitudes e
vivências democráticas.
Apurou-se, ao longo da pesquisa e através dos dados coletados, que os
professores reconhecem as melhorias ocorridas na escola com o auxilio de políticas
públicas que liberam verbas garantindo projetos e/ou programas de apoio às
crianças, mas ainda tem muito a melhorar. A Educação Infantil ganha espaço e
valorização quando é reconhecida como uma importante etapa na vida da criança e
os profissionais que atuam necessitam de preparação. A valorização do magistério
dedicado a EI se percebe nas falas de algumas professoras quando dizem: “ Não foi
sempre assim, até há pouco tempo éramos consideradas uma classe sem
importância, cuidadores de crianças” (Docentes da escola B). Outra professora
relata: “Os professores do ensino fundamental e médio olhavam para nós como se
fossem melhores” (Docente 8 da escola C).
Essas falas ilustrativas evidenciam o novo rumo da EI e, nesse contexto, o
profissional passa, na construção e incorporação deste novo paradigma, por
transformações em sua identidade profissional e social, deixando de ser apenas
professor ensinador para também ser professor pesquisador, professor formador
humano, professor reflexivo, atuante, conhecedor e analista dos contextos sociais e
institucionais, exercendo sua profissão e transformando, concomitantemente, seu
local de trabalho. Um dos avanços da categoria dos professores da EI é a seleção
através de concurso público porque existe o Plano de Carreira.
A gestão escolar democrático participativa oferece aos professores e
comunidade intra e extraescolar o desafio de perceber que a igualdade de
oportunidade para a democracia significa igualdade de oportunidades reais para
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 77
todos que são desiguais, para todos que necessitam de possibilidades diferentes
para se desenvolverem.
A viabilidade desta realidade, apenas será possível, quando houver superação
das práticas autoritárias que permeiam as práticas educativas e, estas, serem
substituídas por processos de participação coletiva que favoreça o desenvolvimento
humano oferecendo novas possibilidades de olhares e ações educativas.
O que chama a atenção é o grande número de pais que não conhecem as
propostas pedagógicas das escolas, provocando uma lacuna entre a escola e a
família, que deveria ser preenchida com mais interação, adaptação dos horários de
reuniões, ou mesmo visitas aos lares levando a proposta da escola para comentar e
esclarecer. Sabe-se que existe falta de funcionários, que os que estão na escola
não dispõem de muito tempo para se deslocar, mas esse contato com a família é
muito importante, tanto para a valorização quanto para a participação em decisões
fundamentais para a vida das crianças e o futuro da comunidade que traçará seu
rumo conforme a educação dos seus moradores.
As escolas estão recebendo muitas melhorias, mas ainda se percebe que o
ideal está longe, pois enquanto algumas, mais próximas do centro da cidade, estão
estruturadas, outras mais distantes não possuem a estrutura necessária para
atender crianças pequenas, e esses pais são os que menos têm tempo de participar
da vida escolar, pois trabalham muito cedo, deixam os filhos para irmãos mais
velhos (mas também crianças) levar à escola, ou vizinhos que levam seus filhos e
dos que não podem levar (falas existentes entre os entrevistados).
Durante o estudo foram sendo comprovadas as hipóteses levantadas no
projeto de pesquisa, tais como: os recursos financeiros destinados à melhoria do
ensino pode ser um dos elementos determinantes desse padrão de qualidade, pois
ninguém consegue fazer mudanças sem recursos financeiros. Milagres até podem
existir, mas seres humanos imperfeitos como são, não conseguem fazer. Como em
qualquer outra etapa da educação básica, para que haja investimento na educação,
é necessário investir pesado financeiramente para adquirir infraestrutura adequada,
material adequado, professores capacitados; o nível de formação dos profissionais
envolvidos interfere na execução dessas ações porque é imprescindível uma
formação adequada para o pleno atendimento dos pequenos, contemplando suas
necessidades de maneira que consigam se desenvolver o melhor possível,
promovendo o sucesso. Para tanto, se faz necessário criar o hábito da formação
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 78
continuada e permanente dos profissionais da educação que lidam com essa faixa
etária para, também, atingir a qualidade na educação. Assim sendo, tudo que está
ou é feito em torno da educação são fatores determinantes para garantir e gerar a
qualidade das ações voltadas para a educação infantil da rede municipal de ensino
da cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul/Brasil.
Para discutir as propostas das políticas públicas voltadas para a Educação
Infantil já foram realizados em Santo Ângelo a promoção do Movimento Interfóruns
de Educação Infantil do Brasil que teve o apoio da Prefeitura Municipal de Santo
Ângelo (através da Secretaria Municipal da Educação), IESA, URI, CNEC, Undime-
RS e Sindicato dos Professores Municipais de Santo Ângelo com os objetivos de
implantar e implementar o Fórum de Educação Infantil da Região das Missões; o I
Encontro do Fórum Infantil das Missões, realizado no Teatro Municipal Antônio Sepp
com a denominação “Educação Infantil: O que Cabe no meu Mundo”. Já foi
oportunizado e, continua sendo, momentos de discussão sobre os aspectos legais
da Educação Infantil no contexto da Educação Básica; discussão sobre o currículo
da Educação Infantil e a especificidade do ensino-aprendizagem nesta etapa de
ensino evidenciando a importância da interlocução entre família, escola e sociedade
para o desenvolvimento integral da criança. Mas, ainda é pouco.
Há a necessidade de mais formação continuada para os professores da EI,
mais parcerias com as universidades, oficinas, mostras de trabalhos, socialização
de experiências exitosas em grandes eventos (encontros, seminários, congressos,
feiras). É preciso divulgar o que está sendo feito dentro das escolas, comprometer
mais a família, a sociedade santo-angelense. É preciso dar visibilidade para as
escolas de EI.
Projetos que estão em desenvolvimento:
O que cabe no meu mundo? A importância da (re) construção de valores na
infância;
Vida de Peixe
Melhoria da aprendizagem
Mas, além de tudo isso, pensa-se que também devam ser fatores geradores
de qualidade nas ações voltadas para a EI:
Dedicação/comprometimento/envolvimento de todos
Capacitação
Dinamismo
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Determinação/ousadia
Perfil democrático
Promoção de bons relacionamentos
Transparência/honestidade/ética
Equilíbrio
Idealismo
Investimento
Valorização dos profissionais
Políticas públicas específicas
Currículo adequado
Estrutura física e material adequados
Acesso e permanência garantida
Efetiva inclusão
Cumprimento da legislação.
Referencias
Legislação
Notas
*
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância, órgão das Nações Unidas
que tem como objetivo promover a defesa dos direitos das crianças, ajudar a dar
respostas às suas necessidades e contribuir para o seu desenvolvimento.
A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO EM DEBATE 88
Anexos
Idade: .........................
Gênero: ..........................(M – masculino; F – Feminino)
Escolarização: ..............................................................
Experiência profissional (só para professores): ..................................................
Quantos filhos possui? (só para pais): .......................................................
1. como se sente em relação à escola?
2. O espaço físico da escola está compatível com as necessidades das crianças
e está de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais?
3. As crianças tem um ambiente onde possam brincar, fazer atividades lúdicas
fora da sala de aula?
4. A escola possui material para atividades de recreação e ludicidade suficiente
para todos os alunos?
5. Você tem conhecimento sobre as verbas que a escola recebe através de
políticas públicas?
6. Alguns pais e professores disseram que desconhecem a origem das verbas
públicas e que não participam do planejamento das ua aplicação. Por que?
(somente para gestores)
7. A escola possui proposta pedagógica escrita?
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