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O  “ESTICAR”  CONCEPTUAL  REVISITADO:  ADAPTANDO  CATEGORIAS  EM  ANÁLISE 
COMPARATIVA 
 
Quando  os  académicos  tornam  os  seus  modelos  e  hipóteses  mais  abrangentes,  de  forma  a 
açambarcar  casos  adicionais,  necessitam,  normalmente,  de  adaptar  as  suas  categorias 
analíticas,  de  modo  a  que  se  adequem  a  novos  contextos.  O  trabalho  de  Giovanni  Sartori 
relativamente  aos  “viajar”  conceptual  e  “esticar”  conceptual  providencia  uma  importante 
orientação  para  enfrentar  a  tarefa  fundamental  da  análise  comparativa.  Porém,  o 
método/estrutura científica do pensamento de Sartori é baseada naquilo que se pode chamar 
de  categorização  clássica,  que  vê  a  relação  entre  categorias  em  termos  de  uma  hierarquia 
taxonómica,  cada  categoria  tendo  fronteiras  definidas  e  propriedades  características 
partilhadas por todos os membros. Examinamos o desafio colocado a este método/estrutura 
científica  pelos  dois  tipos  de  categorias  não  clássicas:  parecenças  familiares  e  categorias 
radiais.  Com  tais  categorias,  a  exageradamente  estrita  aplicação  de  um  método/estrutura 
científica  clássico  pode  levar  ao  abandono  da  categorização  prematura  ou  à  sua  alteração 
inapropriada.  Discutimos  soluções  para  estes  problemas,  utilizando  exemplos  de  como  os 
académicos  têm  adaptado  as  suas  categorias  na  pesquisa  comparativa,  nas  áreas  da 
democracia e do autoritarismo. 
 
Conceitos  estabilizados/estabelecidos  e  uma  compreensão  comum  das  categorias  são 
normalmente vistos como as fundações para qualquer comunidade científica de pesquisa. No 
entanto, a ambiguidade, confusão e disputa acerca das categorias/categorização são comuns 
nas  ciências  sociais.  Uma  importante  causa  desta  dificuldade  é  a  perpétua  busca  pela 
generalização. Enquanto os académicos procuram adaptar os seus modelos e hipóteses a mais 
casos, num esforço para atingir um conhecimento mais vasto, têm muitas vezes de adaptar as 
suas categorias de modo a que abranjam novos contextos. Um das mais incisivas soluções para 
este problema da adaptação das categorias é o trabalho de Giovanni Sartori acerca do viajar 
conceptual (a aplicação de conceitos a novos casos) e do esticar conceptual (a distorção que 
ocorre quando um conceito não se adapta a novos casos). 
Este  é  um  velho  debate,  e  pode  parecer  que  este  problema  da  categorização  foi  suplantado 
por  novas  abordagens  analíticas  e  estatísticas.  No  entanto,  não  é  o  caso.  Os  académicos 
acostumados  à  linguagem  das  “variáveis”  reconhecerão  que  as  questões  aqui  levantadas  se 
encontram  intimamente  relacionadas  com  os  problemas  relativos  ao  estabelecimento  da 
validade  da  observação  e  medição  dos  vários  casos.  Por  exemplo,  os  analistas  que 
cuidadosamente derivaram e testaram um grupo de hipóteses acerca da participação política 
num conjunto de casos, irão normalmente desejar sondar a generalidade das suas descobertas 
através da examinação das mesmas hipóteses em casos adicionais. Para isso, têm primeiro de 
estabelecer que a participação política tem um significado suficientemente similar nos novos 
casos.  Uma  preocupação  excessiva  com  as  dificuldades  em  estabelecer  equivalência  entre 
contextos  de  análise  pode,  naturalmente,  levar  ao  abandono  do  esforço  de  comparação,  de 
uma  vez  por  todas.  O  mérito  da  abordagem  de  Sartori  reside  no  encorajamento  da  atenção 
dos académicos em relação ao contexto, sem abandonar uma comparação mais vasta. 
Em  anos  recentes,  gerou‐se  um  novo  interesse  no  problema  da  aplicação  de  categorias  em 
contextos diversos, nomeadamente, devido à ascensão de uma escola/pensamento de análise 
comparativa  histórica,  bem  como  devido  à  literatura  de  política  comparativa  relativa  ao 
autoritarismo  e  corporativismo,  nos  anos  70,  e  à  democratização,  nos  anos 80  e  90.  A  partir 
destas obras académicas, é evidente que uma comparação vasta/alargada requer um uso de 
categorias  sensível  ao  contexto.  Para  além  do  mais,  a  profundidade  histórica  presente  em 
muitos destes estudos proporciona um alerta de que o problema do “esticar” conceptual pode 
surgir, não só, do movimento entre casos mas, também, das alterações ao longo do tempo em 
cada caso. Daí que seja uma preocupação bastante presente o desafio de alcançar a virtude do 
“viajar” conceptual, sem cair no vício do “esticar” conceptual. 
Devemos examinar como as categorias se alteram – ou deviam alterar‐se – à medida que são 
aplicadas  a  novos  casos.  O  método/estrutura  científica  original  de  Sartori  baseia‐se  nas 
suposições  daquilo  que  é  por  vezes  apelidado  de  categorização  clássica,  na  qual  a  relação 
entre  categorias  é  compreendida  em  termos  de  uma  hierarquia  taxonómica  de  sucessivas 
categorias  mais  abrangentes  (1970,  1038).  Cada  categoria  possui  limites  definidos  e 
propriedades  determinantes  que  são  partilhados  por  todos  os  membros  e  que  servem  para 
localizá‐la  na  hierarquia.  Porém,  a  filosofia  linguística  do  século  XX  e  a  ciência  cognitiva 
contemporânea  apresentaram  um  desafio  fundamental  a  esta  compreensão  das  categorias, 
afirmando  que  vários  tipos  de  categorias  não  possuem  estes  atributos  (Lakoff,  1987).  Pode 
parecer que este desafio põe em causa a abordagem de Sartori. Todavia, mostramos que estes 
tipos alternativos de categorias podem ser tratados de um modo que é distinto da perspectiva 
de Sartori, ainda que complementar.  
De  forma  a  constituir  uma  base/referência  contra  a  qual  perspectivas  alternativas  acerca  de 
categorias podem ser avaliadas, examinamos, antes de mais, o procedimento de Sartori para a 
modificação  de  categorias.  Seguidamente,  exploramos  os  diversos  problemas  que  surgem 
enquanto se lida com tipos de categorias que não se enquadram no padrão clássico, que é a 
base  da  abordagem  de  Sartori.  Primeiro,  examinamos  as  questões  que  surgem  com  as 
categorias de “semelhança familiar”.  
 
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Esta discussão sugere que o método de Sartori pode ser aplicado de forma estrita, levando os 
analistas  a  abandonar  uma  categoria  prematuramente,  quando,  inicialmente,  parece  não 
conseguir  abranger  casos  adicionais.  Consideramos,  de  seguida,  aquilo  que  os  cientistas 
cognitivos apelidam de categoria “radial”, providenciando uma análise racional para o porquê 
de  diferentes  tipos  de  categorias  (por  exemplo,  democracia,  em  oposição  ao  autoritarismo) 
serem  modificadas  de  formas  distintas  à  medida  que  são  adaptadas  de  forma  a  abrangerem 
novos casos. Concluímos sugerindo novas directrizes para adaptar categorias no processo de 
análise comparativa. 
 
 
 
EVITANDO  O  “ESTICAR”  CONCEPTUAL:  A  ESTRUTURA  CIENTÍFICA/METODOLOGIA  DE 
SARTORI 
 
Um  elemento  central  na  visão  clássica  das  categorias,  que  constitui  a  base  do 
método/estrutura científica de Sartori, é a compreensão de extensão e intensão (Sartori, 1970, 
1041;  idem,  1984,  24).  A extensão  de  uma  categoria  é  o  conjunto  de  entidades  no  mundo  a 
que se refere. A intensão é o conjunto de significados ou atributos que definem a categoria e 
determinam a associação. 
Estão  em  questão  dois  padrões  complementares  na  relação  entre  extensão  e  intensão, 
nomeadamente,  a  ocorrência  de  (1)  mais  características  específicas  com  uma  extensão  mais 
limitada  e  maior  intensão,  e  (2)  mais  categorias  gerais  com  maior  extensão  e  intensão  mais 
limitada. Alguns filósofos defendem que estes padrões reflectem uma “lei de variação inversa” 
(Angeles,  1981,  141).  Numa  hierarquia  taxonómica,  estas  categorias  mais  específicas  e  mais 
gerais  ocupam  posições  subordinadas  e  subordinantes/dominantes,  com  a  extensão  das 
categorias subordinadas contidas no interior das subordinantes. A hierarquia representada por 
estes conjuntos de termos pode ser apelidada de “escada de generalidade”, segundo o rótulo 
de Sartori. 
Um  exemplo  servirá  para  ilustrar  estes  padrões.  Na  famosa  tipologia  de  Max  Weber,  a 
autoridade  patrimonial  é  um  tipo  de  autoridade  tradicional,  que  é  um  dos  seus  três  tipos 
gerais de autoridade ou dominação legítima, que, por sua vez, é um tipo dentro da categoria 
de  dominação,  mais  abrangente  (1978,  212‐15,  226,  231).  Dentro  de  cada  par  de  categorias 
sucessivo,  o  primeiro  é  subordinado,  o  segundo,  subordinante.  Em  relação  a  cada  categoria 
subordinada,  a  categoria  subordinante  correspondente  contém  um  significado  menos 
específico e cobre mais casos; assim, tem maior extensão e menor intensão. 
Este  entendimento  clássico  das  categorias  ajuda  a  encarar  o  problema  do  “esticar” 
conceptual”. Quando os académicos pegam numa categoria desenvolvida para um conjunto de 
casos  e  a  extendem  a  casos  adicionais,  os  novos  casos  podem  ser  suficientemente/tão 
diferentes que a categoria, na sua forma original, já não é apropriada. Se este problema surgir, 
podem  adaptar  a  categoria  subindo  a  escada  de  generalidade,  obedecendo,  assim,  à  lei  de 
variação inversa. À medida que aumentam a extensão, reduzem a intensão ao grau necessário 
para  abranger  novos  contextos.  Por  exemplo,  os  académicos  envolvidos  num  estudo 
comparativo  de  autoridade  patrimonial  podem  adicionar  casos  à  sua  análise  que  apenas 
marginalmente cabem nesta/nessa categoria. De modo a evitar o “esticar” conceptual, podem 
subir  na  escada  de  generalidade  e  referir‐se  ao  grupo  de  casos  mais  abrangente  como 
instâncias/exemplos de autoridade tradicional. Este jogo entre extensão e intensão na escada 
de  generalidade  é  ilustrado  na  Figura  1  (Figure  1).  Com  as  categorias  obedecendo  à  lei  de 
variação inversa, a escada de generalidade surge como a linha de inclinação negativa.6 
Resumindo,  este  método/estrutura  científica  ajuda  os  investigadores  a  proceder  com  maior 
cuidado/tacto quando se debruçam sobre uma das tarefas básicas da pesquisa comparativa: o 
esforço de alcançar um conhecimento mais vasto através da análise de um leque mais amplo 
de  casos.  O  valor  deste  método/estrutura  científica  merece  ênfase  particularmente  à  luz  do 
cepticismo,  da  parte  dos  académicos  comprometidos  com  uma  perspectiva  “interpretativa”, 
acerca da possibilidade de alcançar uma ciência social comparativa viável (Geertz 1973, 1983; 
MacIntyre  1971;  Rabinow  and  Sullivan  1987,  Taylor  1971;  Winch  1959).  O  método/estrutura 
científica  de  Sartori  debruça‐se  sobre  algumas  das  importantes  preocupações  suscitadas  por 
esta perspectiva, nomeadamente, que uma comparação vasta é difícil, que a realidade política 
e  social  é  heterogénea,  que  aplicar  uma  categoria  num  determinado  contexto  requer  um 
conhecimento  detalhado  desse  contexto,  e  que  é  fácil  aplicar  categorias  erradamente  (ou 
falhar  na  aplicação  das  categorias).  A  escada  de  generalidade  oferece  um  procedimento 
específico  para  solucionar  estas  questões.  Este  procedimento  serviu,  merecidamente, 
enquanto  uma  referência  para  os  analistas  que  lutam  contra  o  problema  de  extender 
categorias a novos casos. 
 
 
CATEGORIAS DE SEMELHANÇA/PARECENÇA FAMILIAR 
 
A  aplicação  da  escada  de  generalidade  assume  limites  claros  e  os  atributos  definidores  das 
categorias  clássicas.  Uma  exploração  das  categorias  de  semelhança  familiar  mostra  que,  por 
vezes, esta suposição deve ser afrouxada/moderada.  
 
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A  ideia  de  semelhança  familiar  de  Ludwig  Wittgenstein  implica  um  princípio  de  associação 
categórica/de  categoria  diferente  daquele  das  categorias  clássicas,  em  que  pode  acontecer 
não existir nenhum atributo que todos os membros da categoria partilhem. O rótulo para este 
tipo  de  categoria  deriva  do  facto  de  que  podemos  reconhecer  os  membros  de  uma  família 
genética  humana  através  da  observação  dos  atributos  que  partilham  em  variados  graus, 
contrastado  com  membros  não  familiares  que  podem  partilhar  poucos  deles.  Os  pontos  em 
comum são bastante evidentes, mesmo que possam não existir traços que todos os membros 
da  família,  enquanto  membros  da  família,  tenham  em  comum  (Wittgenstein  1968,  números 
65‐75; ver também Canfield 1968 e Hallett 1977, 140‐41, 147‐48).7 
Um padrão similar aparece com frequência nas ciências sociais. Uma categoria, definida de um 
modo  particular,  pode  adaptar‐se/corresponder/abranger  a  um  número  de  casos 
razoavelmente  bem,  mas,  numa  examinação  minuciosa,  pode  tornar‐se  claro  que  para  a 
maioria  dos  casos  a  adaptação/abrangência/correspondência  não  é  perfeita.  Ainda  assim,  a 
categoria  assimila  um  conjunto  de  pontos  comuns  considerados  como  analiticamente 
importantes pelo investigador. Este padrão é encontrado, por exemplo, na literatura acerca de 
corporativismo,  que  geralmente  apresenta  uma  séria  de  atributos  definidores,  normalmente 
sem  a  expectativa  de  que  o  conjunto  de  atributos  completo  seja  encontrado  em  todas  as 
instâncias  (Malloy  1977;  Schmitter  1974).  Daí  que,  ao  longo  de  várias  décadas  do  século  XX, 
tenha  sido  razoável  caracterizar  relações  laborais  na  Argentina,  Brasil,  Chile  e  México 
enquanto  corporativas,  apesar  da  variação  nas  características  da  estruturação  corporativa, 
relações  subsidiárias  e  controlo  dos  grupos  encontrados  nos  quatro  casos  (Collier  e  Collier 
1991). 
O  que  aconteceria  se  aplicássemos  o  método  de  Sartori  numa  categoria  de  semelhança 
familiar? Consideremos um exercício hipotético em análise comparativa. Suponha‐se que (1) o 
analista começa com um caso de estudo produzindo uma nova categoria de interesse teórico 
parecendo,  inicialmente,  ter  cinco  atributos  definidores,  (2)  o  caso  inicial  é  um  de  seis  que 
partilha uma semelhança familiar, (3) vem a verificar‐se que esta semelhança familiar ocasiona 
seis  atributos  partilhados,  e  (4)  cada  caso  possui  um  combinação  diferente  de  apenas  cinco 
destes. Nenhum atributo é partilhado por todos os casos. 
Utilizando este exemplo (ver Figura 2), iremos examinar as consequências que surgiriam se o 
analista aplicasse, de forma rígida/inflexível, a escada de generalidade. Se a pesquisa caso de 
estudo original fosse feita no Caso A, a intensão da categoria inicial iria envolver os Atributos 
1‐5 (1 a 5). Adicionando o Caso B à análise, outros analistas poderiam notar que o Atributo 5 
estava  em  falta.  Poderiam  procurar  evitar  o  “esticar”  conceptual  subindo  a  escada  de 
generalidade até uma categoria que envolvesse ambos os casos (A e B) e cuja intensão fosse 
reduzida aos Atributos 1‐4. Adicionar o Caso C poderia levar a que se subisse mais um patamar 
na escada, para uma categoria ainda mais geral que envolvesse apenas os Atributos 1‐3. Como 
pode ser visto na figura, quando este  processo repetitivo/sequencial chegasse finalmente  ao 
Caso F, o último patamar da escada de generalidade traria a eliminação da característica/traço 
final,  deixando  uma  categoria  sem  atributos.  Assim,  o  analista  talvez  abandone  a  categoria 
prematuramente.  O  exemplo  na  Figura  2  serve  como  um  alerta  de  que,  no  decorrer  do 
processo de aplicação de categorias a casos adicionais, poderá ser contraprodutivo insistir em 
eliminar os atributos não tidos em comum por todos os casos considerados. 
Um modo de evitar este problema é o de observar o conjunto mais vasto de casos de forma 
simultânea, de modo a que os pontos em comum evidentes na Figura 2 fossem reconhecidos. 
Todavia,  atendendo  a  que  todos  em  todos  os  casos  se  encontra  em  falta  pelo  menos  um 
atributo,  um  investigador  acostumado  a  pensar  em  termos  de  categorias  clássicas  poderá, 
ainda  assim,  concluir  que  se  trata  de  uma  categoria  fraca/pouco  importante  que  deverá  ser 
abandonada. Uma resposta possível seria a de enfatizar que a categoria é uma consequência 
analítica  que  o  investigador  não  deveria  esperar  que  fosse  uma  descrição  perfeita  de  cada 
caso. Um exemplo conhecido deste tipo de resultados é o ‘tipo ideal’, do qual cada se espera 
que cada caso específico seja apenas uma aproximação parcial.8 
Algumas das abordagens criativas à clarificação/aperfeiçoamento das categorias no campo das 
políticas comparativas podem ser vistas como tentativas de lidar com a semelhança familiar. 
 
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Przeworski  e  Teune  argumentam  que,  em  pesquisa  comparativa,  a  conceptualização  e  a 
medição  requerem,  por  vezes,  uma  abordagem  de  “sistema  específico/sistemicamente 
específica”. Sugerem, com efeito, que, em contextos diversos, diferentes atributos podem ser 
utilizados enquanto propriedades definidoras, de uma mesma categoria.9 Nie, Poell e Prewitt 
empregam uma perspectiva semelhante quando comparam a participação política nos Estados 
Unidos e em quatro outros países (1969, 377). Para todos os países, a sua análise focaliza‐se 
em quatro atributos da participação que são relativamente standard. Contudo, na análise de 
um quinto atributo – associação a um partido político – observam que, enquanto em quatro 
dos países tem um significado quase equivalente, a associação político‐partidária nos Estados 
Unidos tem uma forma e significado significativamente diferentes. Os autores concluem que, 
nos Estados Unidos, o envolvimento em campanhas eleitorais reflecte uma forma equivalente 
de participação política. Assim, para esse país, analisam a participação em campanhas ao invés 
da associação partidária. 
Como  neste  último  exemplo,  é  evidente  que  a  semelhança  familiar  pode,  por  vezes,  ser 
avaliada através da identificação de atributos que estão presentes a variados graus em casos 
particulares,  para  além  de  simplesmente  presentes  ou  ausentes.  Isto  pode  ser  alcançado 
através  da  aplicação  de  algum  tipo  de  escala/escalamento  multidimensional  que  especifica 
dimensões subjacentes para comparação entre casos. Ainda assim, é importante lembrarmo‐
nos de que o escalamento multidimensional não elimina o problema original da formação do 
conceito. No espírito da máxima de Sartori, “a formação do conceito permanece/é anterior à 
quantificação” (1970, 1038), temos de reconhecer que um pré‐requisito para tal escalamento 
é estabelecer‐se aquilo que está a ser escalado/sujeito a alterações de escala.10 
Quando  o  analista  encontra  um  padrão  de  semelhança  familiar,  duas  prioridades  devem  ser 
correspondidas. Primeiro, na avaliação empírica dos atributos, devemos evitar uma aplicação 
da  escada  de  generalidade  que  seja  tão  estrita  que  resulte  na  rejeição  inapropriada  de  uma 
categoria  potencialmente  útil.  Segundo,  é  essencial  explorar  a  relação  analítica  subjacente 
entre  os  atributos  que  constituem  a  semelhança  familiar,  estabelecendo  a  justificação  para 
manter uma categoria. Uma preocupação com esta relação analítica é central para a discussão 
das categorias radiais, para a qual nos voltamos agora. 
 
 
CATEGORIAS RADIAIS 
 
Um outro tipo de categoria que não cabe no padrão clássico é o da categoria radial, analisada 
por  cientistas  de  ciência  cognitiva  como  Lakoff  (1978,  capítulo  6).  Como  com  a  semelhança 
familiar,  com  as  categoriais  radiais  é  possível  que  dois  membros  da  categoria  não  partilhem 
tudo do que podem ser vistos como os atributos definidores. Em contraste com o padrão de 
semelhança  familiar,  com  as  categorias  radiais  o  significado  global  de  uma  categoria  é 
ancorado  numa  “subcategoria  central”,  que  corresponde  ao  “melhor”  caso,  ou  protótipo,  da 
categoria.11  No  processo  de  (re)conhecimento,  a  subcategoria  central  funciona  como  um 
padrão/fórmula,  que  é  constituída  por  um  conjunto  de  traços  que  são  aprendidos  todos 
juntos,  compreendidos/assimilados  todos  juntos,  e  mais  facilmente  reconhecidos  quando 
encontrados  todos  juntos.  As  “subcategorias  não  centrais”  são  variantes  de  uma  categoria 
central. Não têm necessariamente de partilhar atributos definidores entre si, mas apenas com 
a  subcategoria  central  –  daí  o  termo  radial,  que  se  refere  a  esta  estrutura/estruturação 
interna. 
Um  dos  exemplos  de  Lakoff,  em  linguagem  comum,  de  uma  categoria  radial  é  “mãe”  (1987, 
83‐84). Nesse caso, a subcategoria central corresponde a um indivíduo que,  no contexto das 
relações  de  género  convencionais  nos  Estados  Unidos,  é  muitas  vezes  considerado  uma 
“verdadeira”  mãe  –  isto  é,  um  que  (1)  é  uma  mulher,  (2)  contribui  para  metade  da 
‘maquiagem’  genética  da  criança,  (3)  dá  à  luz  a  criança,  (4)  é  a  mulher  do  pai,  e  (5) 
sustenta/toma conta da criança. As subcategorias não centrais surgem quando os elementos 
componentes  são  recolhidos/tratados/encarados  individualmente,  ou  em  grupos  de  dois  ou 
mais.  Neste  exemplo,  os  tipos  familiares/de  família  surgem  se  estes  papéis  são  encarados 
individualmente:  “mãe  genérica”,  “mãe  de  nascença/mãe  biológica”,  “madrasta”  e  “ama‐de‐
leite/mãe de sustento”. 
 As  categorias  radiais  merecem  atenção  neste  ponto  porque  têm  um  importante  papel  na 
linguagem  da  ciência  social.  Por  exemplo,  acompanhando  Ostiguy  (1993),  podemos  ver 
“democracia”  enquanto  uma  categoria  radial.  Obviamente,  o  problema  de  identificar  as 
componentes  da  democracia  tem  sido,  há  muito,  matéria  de  debate.  Para  propósitos 
ilustrativos,  a  seguinte  definição  parcial  será  suficiente.12  Podemos  dizer  que  a  subcategoria 
central “democracia” é constituída por elementos como (1) participação abrangente e efectiva 
no processo legislativo/de legislar, (2) limitação do poder do estado e protecção dos direitos 
individuais,  e  (3)  de  acordo  com  algumas  opiniões/relatos,  relações  económicas  e  sociais 
igualitárias (ou, pelo menos, relativamente igualitárias). A primeira componente seleccionada 
individualmente pode ser vista enquanto constituindo a subcategoria não central “democracia 
participativa”, a primeira e a segunda combinadas enquanto constituindo “democracia liberal”, 
e  a  primeira  e  a  terceira  combinadas  enquanto  constituindo  aquilo  que  se  pode  chamar  de 
“democracia popular”. 
 
 
Comparando as categorias Radial e Clássica 
 
A forma interna das categorias radiais varia daquela das categorias clássicas. As variantes que 
se  ramificam  no  interior  de  uma  categoria  radial  como  “mãe”  ou  “democracia”  podem  ser 
vistas como subconjuntos da categoria geral. Porém, não partilham a totalidade dos atributos 
pelos quais poderíamos reconhecer a categoria geral, como partilham no caso das categorias 
clássicas. Pelo contrário, elas dividem‐nas. A diferença tem importantes implicações no modo 
como estes dois tipos de categorias são usadas em análise comparativa. 
Antes de compararmos as categorias radiais e clássicas mais além, uma questão de rotulação 
(pôr  rótulo/nomear)  deve  ser  clarificada.  Referimo‐nos  aos  elementos  componentes  das 
categorias  clássicas  enquanto  subordinantes  e  subordinados,  enquanto,  para  categorias 
radiais,  nos  referimos  a  subcategorias  centrais  e  não  centrais.  Em  prol  de  uma  comparação, 
podemos  aplicar  rótulos  mais  genéricos  (ver  Figura  3).  O  termo  categoria  primária  será 
utilizado  para  referir  uma  categoria  geral,  enquanto  categoria  secundária  será  utilizado  para 
referir  uma  categoria  cujo  significado  deriva  da  categoria  primária.  Deste  modo,  “mãe”  e 
“democracia”  são  categorias  primárias,  e  “mãe  biológica”  e  “democracia  liberal”  são  as 
categorias  secundárias  correspondentes.  No  domínio  da  categorização  clássica, 
"autoritarismo"  é  uma  categoria  primária,  e  “autoritarismo  burocrático”  é  a  categoria 
secundária correspondente. 
 
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O contraste entre categorias clássicas e radiais pode, agora, ser examinado, primeiro utilizando 
os exemplos de Lakoff de “cão”, uma categoria clássica no esquema da taxonomia tradicional, 
e  “mãe”,  uma  categoria  radial  (1987,  46,  74‐76).  Como  se  pode  ver  na  Figura  4,  no  caso  da 
categoria tradicional de “cão” os atributos diferenciadores das categorias secundárias ocorrem 
em adição/para além daqueles da categoria primária. Em contraste, com a categoria radial de 
“mãe”  os  atributos  diferenciadores  das  categorias  secundárias  encontram‐se  contidos  no 
interior da categoria primária. 
Os  exemplos  de  “autoritarismo”,  compreendido  como  uma  categoria  clássica,13  e 
“democracia”, compreendido como uma categoria radial, possuem o mesmo contraste (Figura 
5).  Em  relação  ao  autoritarismo,  os  atributos  diferenciadores  das  categorias  secundárias 
“populista” e “burocrático” ocorrem para além/em  adição àquelas da categoria primária. No 
caso  de  “democracia”,  os  atributos  diferenciadores  associados  com  democracia 
“participativa”, “liberal” e “popular” encontram‐se contidos no interior da categoria primária. 
Este contraste entre os dois tipos de categorias tem uma importante consequência prática em 
termos  de  como  encaramos  o  problema  do  “esticar”  conceptual:  a  extensão  da  categoria 
secundária na categorização radial pode exceder aquela da categoria primária. 
 
Página 850 
 
Consideremos  um  exemplo:  uma  mulher  que  é  a  mãe  biológica  pode  não  parecer 
corresponder  à  categoria  geral  daquilo  que  é  visto/compreendido  como  uma  mãe 
“verdadeira”.14 Todas as mães que cabem na categoria primária (por exemplo, todas as mães 
“verdadeiras”) são mães biológicas, mas o inverso não é o caso. Assim, existem no mundo mais 
mães biológicas do que mães “verdadeiras”. 
O  mesmo  padrão  aparece  com  a  democracia.  Se  apenas  a  extensa  participação  política 
associada com democracia está presente  num determinado país (sem  protecção dos direitos 
daqueles  que,  em  qualquer  altura,  possam  encontrar‐se  em  minoria),  muitos  investigadores 
concluirão  que  não  é  aquilo  que  eles  consideram  ser  uma  democracia  “verdadeira”. 
Novamente,  a  extensão  da  categoria  secundária  irá  exceder  a  da  categoria  primária, 
envolvendo a mesma já discutida relação inversa entre extensão e intensão. 
 
 
Autoritarismo  Versus  Democracia:  Padrões  Contrastantes  de  Alteração  de 
Categoria/Alteração Categórica 
 
Apliquemos estas ideias em dois exemplos de viagem/viajar conceptual. Durante um período 
inicial  de  grande  interesse  pelo  autoritarismo  burocrático,  essa  categoria  era  por  vezes 
extendida  a  casos  que  apenas  marginalmente  cabiam  no  significado  original  (Collier  1979, 
1993). Utilizando a escada de generalidade, os académicos por vezes evitavam este problema 
de “esticar” conceptual alternando/voltando‐se para a categoria mais vasta do autoritarismo. 
Um problema paralelo surgiu com os esforços recentes para aplicar a categoria “democracia” a 
novos  regimes  na  América  Central,  Europa  de  Leste,  e  na  antiga  União  Soviética.  Em  alguns 
destes  casos,  nos  quais  os  líderes  são  eleitos/seleccionados  em  eleições  competitivas  mas 
onde  muitas  das  instituições  e  práticas  associadas  à  democracia  se  encontram  ausentes,  o 
problema do “esticar” conceptual pode ser encarado fazendo uma afirmação, mais modesta, 
de que estas são, por exemplo, “democracias eleitorais”, abandonando assim a implicação de 
que são democracias “verdadeiras”. 
 
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O contraste que emerge neste caso deve ser relembrado, enquanto os académicos procuram 
evitar o “esticar” conceptual em pesquisa comparativa. No caso do autoritarismo burocrático, 
este  resultado  indesejado  é  evitado  subindo  a  escada  da  generalidade,  de  uma  categoria 
secundária para uma categoria primária. No caso da democracia, é evitado movendo‐nos para 
longe da categoria primária para aplicarmos uma categoria secundária. 
A Figura 6 sumariza o contraste entre as categorias clássicas e radiais na estrutura científica de 
um  diagrama  de  extensão  e  intensão  como  a  Figura  1.  Como  se  pode  ver  na  Figura  6,  com 
categorias clássicas, para evitar o “esticar” conceptual, movemo‐nos da categoria secundária, 
S, para a categoria primária, P, levantando uma linha de inclinação negativa como a da Figura 
1. Com categorias radiais, por contraste, para evitar o “esticar” conceptual subimos numa linha 
paralela, mas da categoria primária, P, para a categoria secundária, S. 
Outros  dois  contrastes  entre  categorias  radiais  e  clássicas  podem  ser  denotados.  Primeiro, 
uma importante diferença é evidente no modo como o rótulo formal é modificado enquanto 
vamos  de  um  nível/patamar/degrau  de  generalidade  para  outro.  Com  ambos  os  tipos  de 
categorias,  ocorre  normalmente  (ainda  que  nem  sempre)  que  as  categorias  primárias  são 
tornadas  categorias  secundárias  através  da  adição  de  um  adjectivo.  Deste  modo, 
“autoritarismo  burocrático”  é  uma  categoria  secundária  em  relação  a  “autoritarismo”,  e 
“democracia  eleitoral”  é  uma  categoria  secundária  em  relação  a  “democracia”.  Esta 
similaridade  ajuda  a  sublinhar  um  contraste  crucial  na  forma  como  nos  movemos/dirigimos 
para um conjunto mais vasto de casos com as categorias clássicas, em oposição às categorias 
radiais.  No  exemplo  da  categoria  clássica  “autoritarismo  burocrático”,  isto  é  levado  a  cabo 
através da eliminação de um adjectivo. Em contraste, com a categoria radial “democracia”, é 
levado a cabo através da colocação/adição de um adjectivo. Posto isto, o analista que procura 
evitar o “esticar” conceptual irá utilizar adjectivos de modos/formas opostas, dependendo do 
tipo de categoria em questão. 
Segundo,  no  caso  de  categorias  radiais,  a  possibilidade  de  englobar  mais  casos  através  da 
elaboração de categorias secundárias pode permitir uma flexibilidade considerável em relação 
ao significado e aplicação da categoria. Apesar de esta flexibilidade ser muitas vezes desejável, 
pode  ser  a  fonte  de  importantes  debates  académicos.  Por  exemplo,  à  medida  que  os 
académicos  procuram  identificar  novos  subtipos  de  democracia,  podem  facilmente  surgir 
disputas  sobre  se  é  apropriado  considerar  estes  casos  que  cabem  nestes  subtipos  enquanto 
“verdadeiramente” democráticos.15 Contrastando, nas análises de uma categoria clássica como 
“autoritarismo  burocrático”,  não  surgiu  nenhum  debate  paralelo  sobre  se  os  casos  de 
autoritarismo burocrático eram exemplos de “verdadeiro” autoritarismo.16 
 

 
Mais Ilustrações/Exemplos de Estrutura Radial em Discussões Recentes de Democracia 
 
As  recentes  análises  de  Terry  Karl  e  Philippe  Schmitter  ilustram  alguns  casos  correntes  da 
estrutura radial nesta categoria (Karl 1990, 2; Schmitter and Karl 1991, 76‐82; idem 1992, 52). 
Dos três atributos da democracia que discutimos, Karl e Schmitter colocam, deliberadamente, 
de  parte  as  questões  de  equidade  suscitadas  anteriormente,  focalizando‐se  nas  questões 
associadas  às  democracias  participativa  e  liberal.  Sumarizando,  de  forma  esquemática, 
podemos  dizer  que  estão  envolvidas  com  quatro  elementos:  “(1)  contestação  acerca  de 
políticas e competição política para cargos políticos; (2) participação da cidadania através de 
partidos,  associações  ou  outras  formas  de  acção  colectiva;  (3)  responsabilidade  dos 
governantes aos governados através de mecanismos de representação e do Estado de Direito” 
(Karl  1990,  2);  e  (4)  protecção  de  direitos  essencial  para  uma  contestação  com  significado, 
participação e responsabilização.17 
Karl  faz  notar,  de  forma  explícita,  aquilo  que  vemos  como  um  componente  essencial  da 
estrutura radial desta categoria. Numa discussão de subtipos de democracia (a que chamamos 
de categorias secundárias), ela observa que eles “são caracterizados por diferentes misturas e 
graus  variados  das  principais  dimensões  de  democracia:  contestação,  participação,  [e] 
responsabilidade/responsabilização”  (1990,  2).  Assim,  ela  reconhece  o  ponto  essencial 
evidente  nas  Figuras  4  e  5:  as  categorias  secundárias  tendem  a  dividir  os  elementos 
componentes  da  categoria  principal,  e  podem  variar  consideravelmente  no  quão 
proximamente se assemelham à subcategoria central. 
Este padrão também surge nos subtipos desenvolvidos por Schmitter e Karl (1992, 56‐58). Eles 
identificam  a  democracia  “corporativa”  e  a  democracia  “populista”  em  parte  pelo  atributo 
partilhado  que  é  o  facto  de  que  o  centro  de  poder  dominante  se  localizar  dentro  do  estado 
(*presumo que se trate do estado geográfico, como os estados federais do EUA). Claramente, 
este  atributo  ameniza  o  peso  de  outras  componentes  da  sua  compreensão  de  democracia, 
como a participação dos cidadãos e a responsabilização dos governantes. Desta forma, na sua 
estrutura/metodologia  científica,  estes  subtipos  são  menos  democráticos  do  que  aquilo  que 
poderiam  consideradas  democracias  “verdadeiras”.  O  facto  de  que  estes  subtipos  são  vistos 
como menos democráticos tem destaque na análise empírica que Schmitter e Karl fazem de 24 
casos recentes de democratização. 
 
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Dos oito países que atribuem aos subtipos de democracia “populista” e “eleitoralista”, tratam 
seis como casos marginais, seja porque ainda “não cruzaram o limiar mínimo da democracia” 
ou porque ainda “não estão consolidados num tipo reconhecível de democracia” (página 68). 
A  análise  de  Schmitter  e  Karl  traz‐nos  de  volta  ao  nosso  argumento  inicial  acerca  do  viajar 
conceptual.  Pareceria  que  um  dos  seus  objectivos  é  introduzir  um  vasto  leque  de  casos 
empíricos  no  debate  da  democratização,  mas  sem  esticar  o  conceito.  Na  mesma  linha  que  a 
nossa  discussão,  eles  tentam  fazê‐lo  através  da  criação  de  categorias  secundárias  (por 
exemplo,  democracia  “corporativa”  e  “populista”),  referindo‐se  a  casos  que  os 
observadores/investigadores  podem  hesitar  em  chamar  de  democracias  “verdadeiras”.  Estas 
categorias secundárias servem para aumentar a extensão da categoria geral, sem distorcê‐la. 
Desta forma, os autores trazem estes casos para a estrutura científica de uma discussão geral 
da democracia, sem ter de afirmar que são todos verdadeiramente democráticos. 
Esta  formulação  da  categoria  de  Schmitter  e  Karl  pode  ser  colocada  em  perspectiva  quando 
comparada com uma inovação proposta há algum tempo por Robert Dahl (1956, 1963, 1971). 
Dahl  defende  que,  para  a  análise  de  casos  concretos,  é  mais  produtivo  empregar  o  termo 
poliarquia,  ao  invés  de  democracia.  Ele  utiliza  democracia  para  se  referir  a  “um  ideal  não 
atingido  e  talvez  não  atingível”,  enquanto  que  poliarquia  se  refere  a  sistemas  políticos 
existentes  que  poderiam  ser  vistos  como  “relativamente  (mas  incompletamente) 
democratizados”  (Dahl  1963,  73;  idem  1973,  8).  Para  evitar  o  “esticar”  conceptual,  Dahl  usa 
rótulos  distintos  para  a  versão  idealizada  da  categoria  e  para  a  versão  que  se  refere  a  casos 
reais. A metodologia de Schmitter e Karl difere da de Dahl em dois aspectos: (1) na abordagem 
deles,  o  termo  democracia  refere‐se  a  pelo  menos  alguns  casos,  ao  invés  de  a  um  ideal 
hipotético, e (2) ao invés de utilizarem rótulos distintos para extender a categoria a mais casos, 
estes evitam o “esticar” conceptual atribuindo adjectivos a um rótulo existente. Porém, estas 
abordagens  são  semelhantes  na  medida  em  que  Dahl,  como  Schmitter  e  Karl,  cria  uma 
categoria secundária (por exemplo, um subcategoria não central), seguindo um padrão radial. 
O  termo  de  Dahl,  poliarquia,  pode  ser  visto  como  uma  categoria  secundária  abrangente  em 
comparação com a democracia de categoria primária; isto é o mesmo que dizer que, utilizando 
poliarquia  para  nos  referirmos  a  sistemas  relativamente  democratizados  é  o  equivalente 
funcional  a  adicionar  um  adjectivo  para  criar  a  categoria  secundária  “democracia  parcial”  ou 
“democracia incompleta” de modo a capturar um maior número de casos parciais. 
Para sumarizar, a categoria radial “democracia” tem uma estrutura que, através da elaboração 
de  categorias  secundárias,  permite  uma  variação  mais  alargada  em  significado  e  aplicação 
dentro  de  uma  área  de  discussão  estabilizada  (*na  qual  não  existe  muita  discórdia/debate). 
Ainda assim, se estas variações em significado e aplicação são aceites ou contestadas dentro 
da comunidade académica permanece uma questão duradoura. 
 
 
CONCLUSÃO 
 
O  objectivo  desta  discussão  foi  o  de  apresentar  novas  directrizes  para  os  analistas 
comparativos/analistas de comparação que se encontram preocupados com os problemas da 
viagem/viajar conceptual e do “esticar” conceptual. Concluímos que a estrutura/metodologia 
científica  de  Sartori  para  a  abordagem  destes  problemas  permanece  uma  referência  para  os 
académicos das políticas comparativas. Porém, são necessários cuidado e clarificação. 
A análise das semelhanças familiares lembra‐nos de que uma aplicação demasiado estrita dos 
princípios  clássicos  de  categorização  pode  levar  ao  abandono  prematuro  de  categorias 
potencialmente úteis. Este problema pode ser evitado através de um pensamento consciente 
em  termos  de  tipos  ideais,  pela  utilização  de  uma  abordagem  sistematicamente 
específica/específica  de  sistema  na  aplicação  de  categorias  em  contextos  peculiares,  ou 
adoptando  outras  técnicas  que  não  dependem  da  suposição  de  que  membros  de  uma 
categoria partilham um conjunto completo de atributos definidores. 
O esforço para evitar o “esticar” conceptual tem, igualmente, de assumir uma forma distinta 
quanto  estamos  a  lidar  com  categorias  radiais.  Assim  é  porque,  com  estas  categorias,  aquilo 
que chamámos de categoria secundária (por exemplo, “democracia eleitoral”) tende a dividir 
os  elementos  constituintes  da  categoria  primária  (“democracia”).  Em  contraste,  com  as 
categorias clássicas, a categoria secundária (por exemplo, “autoritarismo burocrático”) tende a 
conter  elementos  adicionais  para  além  daqueles  da  categoria  primária  (“autoritarismo”). 
Como  consequência,  com  as  categorias  radiais,  a  categoria  secundária  pode  ter  maior 
extensão, enquanto que com as categorias clássicas, a categoria primária tem maior extensão. 
Em  relação  com  o  anterior,  com  as  categorias  clássicas  podemos  normalmente  evitar  o 
“esticar”  conceptual  removendo  um  adjectivo,  enquanto  que,  com  categorias  radiais, 
podemos normalmente evitar o “esticar” conceptual adicionando um adjectivo. 
Argumentamos  também  que,  uma  vez  que  as  categorias  secundárias  tendem  a  dividir 
elementos de uma categoria radial como “democracia”, a formação de categorias secundárias 
cria,  tanto  uma  oportunidade,  quanto  um  problema.  Cria  uma  oportunidade  para  uma 
aplicação  mais  vasta  e  flexível  através  do  aumento  da  extensão  da  categoria.  Mas  esta 
flexibilidade pode levar a grandes disputas académicas sobre se a categoria se aplica aos casos 
em estudo. 
Uma  observação  final  poderá  ser  feita  acerca  desta  questão  central  da  aplicabilidade  entre 
categorias e casos. O conhecimento/noção da estrutura das categorias não nos diz tudo o que 
precisamos  de  saber  acerca  de  como  aplicá‐las  em  pesquisa.  Pelo  contrário,  esta  aplicação 
depende  de  um  conhecimento  substancial  em  relação  aos  casos  em  análise.  Sugerimos  o 
exemplo de um debate sobre se um determinado caso deveria ser chamado uma instância de 
autoridade patrimonial, em oposição a autoridade tradicional. Ainda que a nossa compreensão 
metodológica possa proporcionar tal debate, a sua resolução requer conhecimento dos casos. 
Neste  sentido,  os  argumentos  acerca  de  categorias,  que  foram  o  nosso  foco  aqui,  têm  o 
importante  papel  de  nos  trazer  de  volta  à  nossa  detalhada  compreensão  dos  contextos 
políticos que estudamos. 
 
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Olhando  para  lá  destas  directrizes,  reconhecemos  que  várias  das  questões  aqui  levantadas 
requerem  uma  examinação  mais  aprofundada.  É  necessária  mais  análise  relativamente  à 
relação  entre  as  categorias  clássicas  e  radiais.  Enquanto  algumas  categorias  correspondem, 
sem  ambiguidade,  a  um  destes  tipos,  outras  podem  conter  elementos  de  ambos.  Para  além 
disso,  na  demanda  de  objectivos  analíticos  específicos,  os  cientistas  sociais  modificam 
deliberadamente  as  categorias,  muitas  vezes  procurando  impor  uma  estrutura  clássica  a 
categorias radiais.17 
Estas tentativas de modificação de categorias levantam a questão de maior acerca da relação 
entre as linguagens comum/corrente e técnica. Quando os académicos criam uma linguagem 
técnica,  podem  conseguir  atingir  maior  clareza  e  consistência,  ou  sublinhar  aquilo  que 
percepcionam  enquanto  aspectos  importantes  do  fenómeno  que  estudam.  Por  outro  lado,  é 
possível  que  esta  nova  linguagem  não  se  encontre  ancorada  nos  protótipos  linguísticos 
familiares  que  têm  um  tão  importante  papel  em  tornar  as  categorias  interessantes  e 
fulgurantes. As categorias modificadas podem falhar na sua procura por se tornarem correntes 
(*nos meios científicos, etc.), talvez sendo desalojadas/deslocadas por usos mais comuns. 
Esta tensão entre as vantagens e armadilhas da modificação de categorias levanta a questão 
da  tarefa  efectiva  da  metodologia.  A  esse  respeito,  deve  um  conhecimento  acerca  de  como 
temos tendência em utilizar categorias informar a nossa consciência/discernimento acerca de 
como  deveríamos  utilizá‐las?  Deveria  a  análise  metodológica  das  categorias  dar  ênfase  à 
descrição  (que  poderia  encorajar  o  realismo  acerca  dos  constrangimentos  impostos  pela 
linguagem comum na actividade técnica) ou à prescrição; qual poderá recomendar um meio de 
ultrapassar estas restrições? Tentámos, neste âmbito, dar razões para atender a ambas. 

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