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Os duros últimos dias de Oscar Wilde, em romance


gráfico
O ilustrador Javier de Isusi recria o doloroso fim da vida do escritor irlandês,
que morreu há exatos 119 anos

EDUARDO BRAVO

Madri - 30 NOV 2019 - 12:49 BRT

Em 2017, o Governo britânico concedeu o


indulto póstumo a Oscar Wilde. Em 1895, o
escritor irlandês havia sido condenado a
dois anos de trabalhos forçados por
sodomia e corrupção da juventude –
acusação esta última que o equiparava ao
seu admirado Sócrates. “Wilde sempre
disse que era um grego nascido em outra
época. Além disso, como aconteceu com o
filósofo, quando foram detê-lo ele se negou
a fugir. Seu amigo Robert Ross havia
preparado um barco para que fosse à
França, mas ele não aceitou. Alguém como
Wilde, com um conceito da vida tão teatral,
assumiu que seu personagem tinha que
viver esse castigo, embora nunca
imaginasse até que ponto seria difícil”,
relata Javier de Isusi, ilustrador espanhol
Um desenho de 'La Divina Comedia de Oscar Wilde'. que acaba de publicar La Divina Comedia
de Oscar Wilde (A divina comédia de Oscar
Wilde), um trabalho de mais de 300 páginas ao qual dedicou cinco anos, entre tarefas de
pesquisa, roteiro e desenho. Neste sábado, 30 de novembro, a morte do gênio irlandês
completa 119 anos.

A origem da publicação remonta à infância do desenhista, quando sofrendo de caxumba, ele


recebeu de presente um livro de contos de Wilde. A partir de então, o autor de O Fantasma
de Canterville se tornou um de seus autores favoritos. Por mais que lesse, porém, o Isusi
adulto era incapaz de reconhecer nas obras de teatro, nos ensaios e no seu único romance
aquele escritor que o havia ajudado a suportar melhor a doença. “Tive que esperar até ler De
Profundis para entender muitas das coisas de Wilde que sempre me intrigaram. Só então
pude fazer a correspondência entre o autor dos contos e o das obras de teatro e de O
Retrato de Dorian Gray. No final compreendi que, como qualquer pessoa, em Wilde cabem
facetas muito diversas. Do escritor moralista de O Príncipe Feliz e de O Gigante Egoísta até o
personagem hedonista ou, se preferirmos o termo com o qual o qualificaram em seu tempo,
imoral.”

Apesar de toda essa riqueza e variedade de matizes, a obra de Wilde é


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surpreendentemente breve e foi escrita em apenas oito anos. Um corpus
literário que, em algumas ocasiões, foi eclipsado pela intensa e
escandalosa vida do autor, sobretudo a relativa a esses últimos anos
recriados em A divina comédia de Oscar Wilde e nos quais a prisão, a ruína
econômica, a censura social e o alcoolismo transformaram o escritor Uma biografia
em quadrinhos
numa sombra do que havia sido.
de Carolina de
Jesus
“Quando foi libertado e chegou a Paris, Oscar Wilde expressou sua
vontade de começar uma nova vida. Esse desejo foi justamente a origem
do meu trabalho. Ele sempre dissera que sua vida tinha sido como A Divina
Comédia, que havia passado pelo inferno que era a prisão e que, nesse
momento, estava no purgatório. Por isso, eu me perguntei se durante sua O brasileiro que
estada em Paris ele vivenciou realmente essa mudança pessoal que lhe venceu ‘Oscar’
dos quadrinhos
permitisse ter um pouco de paraíso.”
com história
sobre escravidão
Tudo indica que essa transformação nunca ocorreu, mas Isusi aproveita
sua privilegiada posição de autor para levar Wilde até o lugar desejado,
mesmo que apenas no plano simbólico. Desse modo, numa das cenas mais emotivas do
livro, o ilustrador situa o escritor e seu amigo Robert Ross numa carruagem que percorre
justamente os Campos Elíseos – nome que os gregos deram ao céu.
“Essa cena é real. Wilde e Ross realizaram esse trajeto parando em todos os cafés que
encontravam no caminho para beber absinto. Inventei somente a conversa, embora muitas
frases que incluo tenham sido do próprio Wilde. No fundo o livro inteiro é assim, uma
mistura de realidade e ficção. Ou melhor, de realidade e mentira, porque acredito que ele
teria preferido esse termo, já que o defendeu em seu ensaio ‘A Decadência da Mentira’.”

Esse jogo entre a verdade, a mentira, a ficção e os fatos documentados proposto por Isusi se
articula através de brilhantes soluções gráficas e narrativas. Por exemplo: alucinações,
passagens oníricas, o diálogo com o espectro de um juveníssimo e insolente Rimbaud e até
as entrevistas com diferentes personagens que, como André Gide, Reginald Turner e Lorde
Alfred Douglas, conheceram o escritor e dão testemunho sobre isso. “São entrevistas feitas
na época atual, mas nas quais os entrevistados aparecem com o aspecto físico que tinham
no momento em que conheceram Wilde. Pensei se devia fazê-lo assim ou não, mas percebi
que o romance gráfico permite coisas desse tipo, que eram muito frequentes nos primeiros
autores dos quadrinhos, como Winsor McCay e seu Little Nemo e que abandonamos pouco
a pouco. São recursos que, embora possam não ter sentido se analisados de uma
perspectiva racional, funcionam muito bem do ponto de vista narrativa.”

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ARQUIVADO EM:

Romance Gráfico Óscar Wilde Javier De Isusi Narrativa Histórias Em Quadrinhos Desenho
Ilustração Artes Plásticas Literatura Artes Gráficas Cultura Arte

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