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COTEQ2013 – 162
CONTROLE DE QUALIDADE DO CONCRETO EM OBRAS HIDRÁULICAS ATRAVÉS DA
UTILIZAÇÃO DE ENSAIOS DE VELOCIDADE DO PULSO ULTRASSÔNICO
Alexandre Lorenzi2, Luciane Fonseca Caetano1, Josué Argenta Chies3, Alexandra Passuello², Luiz Carlos
Pinto da Silva Filho2, João Luiz Campagnolo1
Copyright 2013, ABENDI, ABRACO e IBP.
Trabalho apresentado durante a 12ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos
As informações e opiniões contidas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do(s)
autor(es).
Sinopse
O concreto constitui-se como parte fundamental na execução de obras hidráulicas, como por
exemplo, as Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCH), especialmente em estruturas do vertedouro e
da casa de máquinas. Durante a vida útil estes elementos estão constantemente submetidos à ação
da água, e consequentemente sujeitos a erosão e a cavitação. Sendo assim, é de relevante
importância que seja assegurada a qualidade do concreto e do lançamento do mesmo,
principalmente em termos da presença de vazios (chocos) próximos a superfície. Nos dias de hoje,
uma das ferramentas que tem demonstrado grande potencial para prospecção de falha de
concretagem é o ensaio de velocidade de propagação do pulso ultrassônico (VPU). Este método se
destaca por ser um método não destrutivo, não danificando assim, a estrutura a ser inspecionada,
além de possibilitar estimar as condições do concreto, em termos da presença de vazios. Desta
forma, pode-se concluir que através da aplicação de um controle de qualidade das PCH através da
utilização de VPU pode contribuir, com sucesso, na avaliação da qualidade das estruturas de
concreto e no controle da deterioração nas mesmas.
Introdução
O concreto, por ser o elemento estrutural mais utilizado no mundo e constituir-se como parte
fundamental dos mais variados projetos de engenharia, conduz à necessidade de ferramentas de
controle e análise de seu estado de deterioração e segurança. Muitas das construções em concreto
armado que formam a infraestrutura estão se aproximando do final de sua vida útil de projeto.
Conseqüentemente existe uma preocupação crescente sobre o estado de deterioração e segurança
das mesmas.
A aplicação de métodos de ensaios não destrutivos (END) torna-se uma estratégia de investigação
bastante atraente e viável para proceder um monitoramento das referidas estruturas. Por diversas
razões podem surgir dúvidas sobre a homogeneidade de uma estrutura de concreto durante sua
execução ou em certos momentos de sua vida útil. Nestes casos, a utilização de END se constitui
em uma estratégia de investigação atraente, pois permite que seja feita uma análise das condições da
estrutura sem danos à mesma.
Nas últimas décadas, a aplicação de END na engenharia civil vem se tornando um tema de interesse
em diversos países. Isto se dá, pois os END não só permitem a avaliação de estruturas envelhecidas
e deterioradas, mas também podem ser usados para o controle de qualidade de estruturas novas [1].
No caso da indústria da construção civil, porém, que utiliza vários tipos de materiais (metais,
madeira, concreto, alvenaria estrutural e outros compósitos), a utilização dos ENDs pode se tornar
mais complexa, devido à necessidade de maior conhecimento acerca das propriedades e
comportamento dos materiais [2]. A utilização de END para engenharia civil depende da
confiabilidade da aplicação dos métodos, do conhecimento sobre a aplicação e de seu aspecto
econômico [3].
O problema é que a deterioração do concreto em estruturas é freqüentemente resultado da ação
simultânea de vários mecanismos de degradação, que se manifestam em velocidades diferentes e
tem distintos efeitos. Diante desta realidade, o emprego de metodologias de inspeção e diagnóstico
se torna essencial para a avaliação do estado de conservação e para a identificação e entendimento
dos mecanismos de degradação atuantes [4]. O uso de métodos de END é uma maneira de viabilizar
a inspeção e a avaliação do estado de conservação de construções civis, de forma econômica e
eficiente [5].
O documento TCS-17, produzido pela Agência Internacional de Energia Atômica [6], aponta várias
situações específicas associadas à construção civil nas quais o emprego de métodos END pode ser
considerado atraente:
Controle tecnológico em pré-moldados ou construções in situ;
Aceitação ou rejeição, de materiais fornecidos;
Esclarecimento de dúvidas a respeito da mão de obra envolvida em mistura, lançamento,
compactação ou cura do concreto, transporte;
Monitoramento do desenvolvimento da resistência visando remoção de fôrmas, duração da
cura, aplicação de protensão ou de cargas, remoção de escoramento;
Localização e determinação da extensão de fissuras, vazios e falhas de concretagem;
Determinação da posição, diâmetro ou condições das armaduras;
Determinação da uniformidade do concreto;
Aumento do nível de confiança de um pequeno número de ensaios destrutivos;
Verificar a deterioração do concreto resultante de sobrecarga, fadiga, fogo, ataque do meio
ambiente;
Avaliação do potencial de durabilidade do concreto;
Monitoramento de mudanças das propriedades do concreto no decorrer do tempo;
Fornecimento de informações para mudanças de utilização da estrutura.
Verifica-se que a maioria das vezes as aplicações estão associadas à localização e avaliação da
importância de falhas e defeitos em estruturas de concreto endurecido. Este é hoje o objetivo
principal do emprego de técnicas de END na construção civil [7].
Desta forma pode-se trabalhar com o intuito de se controlar a sua qualidade, acompanhar a
deterioração e, em certas situações, até mesmo estimar a resistência do mesmo. Pode-se concluir
que os END podem contribuir com sucesso no controle da deterioração e qualidade das estruturas
de concreto. Dentre eles destaca-se o ensaio de VPU. Devido a sua facilidade de aplicação, por não
danificar a estrutura a ser inspecionada e por sua eficácia na estimativa das condições do concreto,
este método demonstra grande potencial na investigação de estruturas, incluindo-se a inspeção e
análise das PCH.
Ensaios Ultrassônicos
O método de ensaio de VPU tem sido um método de END cada vez mais utilizado para avaliação de
estruturas de concreto e pavimentos. Em decorrência de sua utilização consegue-se detectar regiões
heterogêneas, internas ao concreto, e será possível verificar-se a compacidade de uma estrutura
através da velocidade da onda ultrassônica, de forma que se tenha um acompanhamento das
características do material ao longo de sua vida útil. O uso de programas computacionais nos
permite ter uma análise estatística dos resultados do VPU e um mapeamento da homogeneidade das
estruturas de concreto, gerando, no segundo caso, uma imagem que permite a análise das condições
da estrutura e tendo indicativos da uniformidade do concreto.
O ensaio por pulso ultrassônico é um método de avaliação de materiais bastante difundido,
especialmente em peças metálicas. No caso do concreto, a NBR 8802 estabelece procedimentos
para a realização deste tipo de ensaio, que normalmente é efetuado com o objetivo de verificar a
uniformidade do concreto, detectar eventuais falhas internas de concretagem, avaliar a profundidade
de fissuras ou outras imperfeições, estimar o módulo de deformação e a resistência à compressão
e/ou monitorar as variações das características do concreto ao longo do tempo [8].
A metodologia de aplicação destes ensaios está baseada no monitoramento do tempo de propagação
de pulsos por uma seção do objeto moldado. Esta situação é possível graças ao retardo das ondas,
fator que ocorre, pela presença de vazios, em função da má condutibilidade do ar.
A VPU irá depender da densidade e propriedades elásticas do material em estudo. Como a
qualidade de muitos materiais de construção é relacionada com sua rigidez, a medida da VPU pode
ser usada tanto para medir a qualidade das estruturas de concreto, como para estimar suas
propriedades mecânicas, como a resistência à compressão e o módulo de elasticidade [9].
O ensaio se inicia quando um pulso de freqüência ultrassônica é gerado e transmitido para um
transdutor eletro-acústico, colocado em contato com a superfície do concreto a ser testado. Após
passar pelo concreto, as vibrações são recebidas e convertidas pelo segundo transdutor eletro-
acústico. O tempo decorrido entre a emissão da onda e sua recepção é medido com precisão de pelo
menos 0,1s [10].
O ensaio de VPU serve para caracterizar um determinado material, sua integridade e outras
propriedades físicas, tornando-se uma técnica bastante usada para o controle de qualidade, detecção
de defeitos, medição de espessuras ou caracterização dos materiais constituintes do concreto,
segundo explica a norma americana ASTM E 114-95 [11].
As ondas são transmitidas pelo transdutor emissor, que consiste em um cristal piezo-elétrico capaz
de converter a energia elétrica em onda mecânica (sonora). Quando esse transdutor está em contato
com o material a ser analisado, emite uma onda que atravessa o mesmo. Ao encontrar uma
descontinuidade esta onda é refletida, retardando o sinal que é captado pelo receptor [12]. Quanto
maior a velocidade de onda, maior será a compacidade do concreto. Os ensaios podem ser
realizados de forma indireta, quando se tem acesso a apenas uma das faces. Mas, para uma melhor
resposta, os transdutores devem preferencialmente ser colocados em faces opostas, pois se torna
menos provável que ocorra a perda ou perturbação do sinal.
Resultados Obtidos
O objetivo principal deste estudo consistiu em verificar a homogeneidade das PCE através do
mapeamento da distribuição da VPU ao longo das faces da estrutura analisada, de forma a
identificar as zonas de baixa velocidade, nas quais é provável a existência de vazios e falhas de
concretagem decorrentes de problemas de trabalhabilidade e/ou de adensamento do concreto.
A técnica de mapeamento da VPU tem sido amplamente utilizada, com grande sucesso, pela equipe
do LEME/UFRGS para esse tipo de análise, devido à sua facilidade de execução, excelente
capacidade de detecção de falhas e rapidez, fatores estes que permitem efetuar uma varredura
completa e adequada do concreto. A propagação dos pulsos ultrassônicos em um material é muito
sensível à presença de falhas, fissuras ou qualquer outra descontinuidade no material. Em elementos
de grandes dimensões o mapeamento é realizado através de medições indiretas, técnica que se
mostrou apropriada para mapear as superfícies dos pilares, permitindo detectar os vazios e defeitos
existentes no concreto, na massa de concreto localizada até a armadura, que tem um cobrimento que
varia entre 6 e 12 cm.
Os ensaios foram realizados com dois equipamentos de VPU portáteis, um V-METER MK II
(James Instruments) e um PUNDIT (PROCEQ). O método envolveu a determinação da VPU entre
pontos localizados em uma malha de medição criada sobre as superfícies das estruturas sob análise.
O mapeamento gráfico foi realizado a partir do processamento das leituras obtidas através da
utilização de um GRID de medida que variava conforme o tamanho da estrutura analisada, sendo
que o mesmo variava de 20x20cm até 100x100cm dependendo da estrutura que encontrava-se sob
análise.
Para a execução das leituras foi utilizada graxa como material acoplante, o que garantiu um
adequado contato entre os transdutores e a superfície ensaiada, evitando que a presença de
irregularidades superficiais interferisse nas leituras ou impedisse a propagação do pulso
ultrassônico.
Resultados da Estrutura A
Analisando-se graficamente os resultados obtidos a partir das leituras de VPU pode-se observar o
mapeamento das velocidades nos dois lados da estrutura A. Através da analise dos resultados
obtidos, constatou-se que a condição geral da estrutura é boa, sendo registradas poucas regiões com
valores de VPU menores que 2500 m/s. Todavia observam-se regiões na estrutura na qual são
observados valores baixos de VPU. Estes valores indicam regiões que necessitam ser reparadas
antes do início de operação da PCE.
A Figura 4 mostra a distribuição de velocidades nas duas faces da estrutura A.
9 7000
7000
8 6500
8 6500
6000
6000
7 5500
5500
6 5000 5000
6
4500 4500
4000 4000
5
3500 3500
4
4 3000 3000
2500 2500
3
2000 2000
2 1500 1500
2
1000 1000
1 500 500
0 0
0 0
0 2 4 6 8 10 120 2 4 6 8 10 12
Resultados da Estrutura B
Os resultados obtidos no mapeamento da estrutura B indicam que existe uma grande quantidade de
vazios e descontinuidades. O mapeamento da VPU nesta estrutura indicou várias regiões com
valores abaixo de 2500 m/s, indicando a necessidade de uma intervenção na estrutura. A Figura 6
mostra a distribuição de velocidades na estrutura B.
Na estrutura B decidiu-se executar a varredura completa de toda a estrutura, devido à existência de
registros que indicavam que havia problemas de homogeneidade na mesma. Foram registradas
dificuldades de adensamento durante a execução da estrutura B, o que ocasionou diversos defeitos
superficiais, que demandaram reparos. Além disso, uma posterior extração de testemunhos indicou
a existência de um grande número de vazios.
25
7000
20
6500
6000
5500
5000
15 4500
4000
3500
3000
10 2500
2000
1500
1000
500
5
0
0
0 5 10
Nota-se que, em geral, a condição das duas faces da estrutura C é bastante boa, sendo registradas,
entretanto, algumas regiões com VPU menor que 2000 m/s na faixa entre 10 e 12 m de altura, onde
possivelmente houve uma interrupção do ritmo de concretagem. Após a realização dos ensaios de
VPU, constatou-se que a condição geral do elemento é muito boa, não sendo necessário efetuar
intervenções significativas para reparo. Intervenções pontuais foram ser efetuadas para correção dos
problemas localizados detectados. A Figura 10 mostra a distribuição de velocidades nas duas faces
da estrutura C.
18 18
7 01 06 0 7000
16
6500 6500
6000 6000
14 14
5500 5500
5000 5000
12 12
4500 4500
4000 4000
10 10
3500 3500
3000 3000
8 8 2500
2500
2000 2000
6 1 5 06 0 1500
1000 1000
5 0 04 500
4
0 0
2
2
0
0 0 2 4 6 8 10 12
0 2 4 6 8 10 12
Conclusões
O uso de ensaios tipo END pode auxiliar na tomada de decisão e estabelecimento de estratégias de
intervenção, como demonstrado no estudo de caso descrito no presente artigo. A investigação a
respeito da condição do concreto nas estruturas evidenciou claramente a potencialidade de ensaios
tipo VPU para checagem das condições de estrutura de concreto. A análise dos dados de VPU
provêem informações sobre o concreto, indicando a posição de falhas e de vazios, com uma
estimativa de seu tamanho.
O estudo indica que ensaios de VPU são sensíveis a variações de homogeneidade e densidade,
podendo, portanto, fornecer dados importantes para a tomada de decisão a respeito das condições de
estruturas de concreto. Ou seja, pode-se concluir que, mediante a execução de ensaios de VPU é
possível contribuir com o controle da qualidade das estruturas de concreto.
Desta forma conclui-se que a investigação a respeito da condição do concreto nas estruturas
evidenciou claramente a potencialidade de ensaios tipo VPU para checagem das condições de
estrutura de concreto das PCE.
Referências
[1] NOGUEIRA, C. L., Análise Ultra-Sônica da Distribuição dos Agregados no Concreto através de
Wavelets. In: XXI CONGRESSSO NACIONAL DE ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS, 2002,
Salvador. Anais.... São Paulo: ABENDE, 2002. 1 CD-ROM.
[3] BEUTEL, R., REINHARDT, H., GROSSE, C. U., GLAUBITT, A., KRAUSE, M.,
MAIERHOFER, C., ALGERNON, D., WIGGENHAUSER, H., SCHICKERT, M., Performance
Demonstration of Non-Destructive Testing Methods. In: EUROPEAN NDT CONFERENCE
(ECNDT 2006), 9, 2006, Berlin. Proceedings.... Berlin: The German Society for Non-Destructive
Testing, 2006.
[4] SHAH, S. P., SUBRAMANIAM, K. V., Use of Nondestructive Ultrasonic Techniques for
Material Assessment and In-Service Monitoring of Concrete Structures. In: INTERNATIONAL
SYMPOSIUM ON NONDESTRUCTIVE TESTING CONTRIBUTION TO THE
INFRASTRUCTURE SAFETY SYSTEMS IN THE 21ST CENTURY(NDTISS 99), 1999, Torres.
Proceedings…. Santa Maria: UFSM, 1999. p. 107-114.
[5] CHO, Y. S., Non-destructive Testing of High Strength Concrete using Spectral Analysis of
Surface Waves. NDT&E International. [s.l.], n. 36, p. 229-235, 2003.
[7] KUMAR, S. A., SANTHANAM, M., Detection of Concrete Damage Using Ultrasonic Pulse
Velocity Method. In: NATIONAL SEMINAR ON NON-DESTRUCTIVE EVALUATION, 2006,
Hyderabad. Proceedings…. Hyderabad: Indian Society for Non-Destrctive Testing.
[8] NBR 8802: Concreto endurecido – determinação da velocidade de propagação da onda ultra-
sônica: método de ensaio. Rio de Janeiro, 1994.
[9] MENEGHETTI, L. C., PADARATZ, I. J., STEIL, R. O., 'Use of Ultrasound to Evaluate
Concrete Strength in the Early Ages'. Proceedings of International Symposium on Nondestructive
Testing Contribution to the Infrastructure Safety Systems in the 21st Century, pp 42-47, 1999.
[11] ANNUAL BOOK OF ASTM STANDARDS, Standard Practice for Ultrasonic Pulse-Echo
Straight-Beam Examination by the Contact Method. Vol. 03.03 Nondestructive Testing. West
Conshohocken: ASTM E 114-95, 1995, 920 p., p. 12-15.