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TEXTO

Hélas, não foi isto que aconteceu nos últimos trinta anos. É


verdade que certas tribos urbanas, como os "góticos" ou os
"emos", dão alguns sinais de ter consciência da falta de alguma
coisa essencial na herança que nos preparamos para lhes deixar;
mas não sabem que coisa é essa, e muito menos lhes passa pela
cabeça que possa ter alguma coisa a ver com o ensino da História
ou do Latim.Mais grave ainda: o populismo anti-elitista e anti-
intelectual que Burgess temia acima de tudo veio-nos, não pela
mão dos sindicatos, mas pela mão daqueles de quem ele
esperava protecção. O apelo à rebeldia, ao individualismo, à
mudança rápida, à ruptura com o passado, vem-nos hoje, como
mostra Thomas Frank em One Market under God, já não da
contra-cultura dos anos sessenta, mas sim da publicidade com
que as grandes empresas inundam os media. Os bilionários já
não são uma elite gananciosa e exploradora: usam jeans,
comem hamburgers e são vítimas, como qualquer pessoa vulgar,
da perseguição que lhes move uma casta privilegiada, snob,
elitista, intelectual e académica que tem a veleidade de "saber
mais que os mercados" e não aceita submeter-se a eles com a
mesma confiança simples e cega com que um bom muçulmano
se submete a Allah.E assim se restaura a luta de classes: do lado
dos oprimidos vemos Bill Gates, de braço dado com o nosso
vizinho do lado: se não os une a condição económica, une-os a
condição de "homens simples" a fé comum num catecismo
(orwelliano que baste) que afirma, entre outras coisas, que a
verdadeira prosperidade está em trabalhar cada vez mais por
cada vez menos dinheiro e que a verdadeira igualdade é a
desigualdade extrema. Do lado dos opressores estão todos os que
se atrevem a pôr em dúvida estas verdades sagradas; e em
representação destes "privilegiados" surgem, em primeiro plano,
os professores e os académicos.

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