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Esse sistema não foi bem sucedido. Surgiu a chamada dispensa obstativa. O
empregado que chegava a 9 anos, por exemplo, sendo uma mão de obra substituível,
era mandado embora e outro era contratado para afastar essa estabilidade.
Empregados qualificados chegavam a essa estabilidade, mas os demais não. O Direito
do Trabalho funcionava quando menos necessário era. Não pode ser desprezado o
papel da economia, com empregos e empresas perecendo, sem que o crescimento
seja linear e constante. Os empresários não gostavam desse cenário. Com o Golpe
Militar nos anos 60, nasce o FGTS (Lei nº 5.107/1966), dentro da lógica que se optasse
por ele (na época era facultativo), o empregado jamais seria estável decenal. Se fosse
optante pelo FGTS, o empregado sempre seria passível de ser dispensado sem justa
causa pelo empregador (que, por sua vez, contribuiria mensalmente para o Fundo, que
poderia ser sacadopelo empregado quando fosse dispensado, acrescido de 10% sobre
o que havia depositado). Se não fosse optante pelo FGTS (não teria o amparo do
Fundo), teria a estabilidade decenal. Na prática, o empregador só contratava quem era
optante, tornando essa estabilidade ainda mais rara. O FGTS virou regra geral em
função disso, com o art. 7º, III da CF virando seu fundamento legal.
FGTS
Hoje a Lei nº 8.036/1990 é quem trata do FGTS. Quando a lei complementar vier vai
poder prever uma indenização menor que 40%? Há quem diga que essa indenização só
poderá permanecer igual ou superior (condição mais benéfica). Professor entende que
é um pensamento errado, já que dá eficácia permanente a uma norma provisória. Esse
pensamento só seria válido se constasse no art. 7º da CF. A lei complementar poderia
prever um percentual menor que 40% mas deveria haver um mecanismo
compensatório, como exigir sempre a dispensa motivada em grandes empresas
(quanto menor a empresa, maior a proximidade e os vínculos pessoais, podendo gerar
um clima de animosidade com mais facilidade) ou aumentar casos de estabilidade
provisória (grávida e membro da CIPA são estáveis provisórios). Isso pode repercutir na
autonomia das vontades. Em grandes estruturas a impessoalidade é maior, sendo a
estabilidade mais provável nesses casos.
Casos de Extinção
Os casos de extinção dos contratos de trabalho são os seguintes (qual razão leva o
contrato a acabar, se o empregado pode sacar o FGTS e se cabe ao empregador
indenizar ou não):
As normas da CLT têm a marca da cogência, mas o art. 479 e o 480 são normas
dispositivas, podendo serem afastadas pelas partes, por força do art. 481. Pode
constar a cláusula assecuratória do direito recíproco de rescisão, permitindo a elas a
rescisão do contrato antes da hora. Usar o art. 481 afasta os art. 479 e 480. Torna-se
equivalente a um contrato de trabalho por prazo indeterminado para esses fins, então
a lógica será a mesma. Empregado e empregador rompem antes da hora sem pagarem
pelas indenizações estipuladas nos artigos supracitados, desde que deem aviso prévio.
O art. 482 da CLT trata das faltas que o empregado pode cometer que levam à
sua dispensa por justa causa. Ele não saca o FGTS e nem é indenizado.
◦ A alínea “h” trata do ato de indisciplina ou de insubordinação. O
empregado é um trabalhador subordinado e descumpre uma ordem.
Professor não entende a distinção entre indisciplina e insubordinação como
algo relevante já que produz os mesmos efeitos, tem as mesmas
consequências e grau de gravidade (na essência é descumprida uma ordem
legítima em ambos os casos). O empregado é indisciplinado quando o
comando que ele descumpre é genérico, é uma regra erga omnes, como um
memorando, uma norma de regulamento interno. O empregador institui
uma regra legítima para empregados todos cumprirem. Por exemplo, se só
os motoristas da empresa podem dirigir os veículos da mesma, o
empregado da empresa que não for motorista e o fizer estará incorrendo
em uma indisciplina. O uso de EPI é uma obrigação legal, então também
deve ser entendida como uma regra genérica. É um comportamento
adotado pelo empregado que viola uma regra genérica. É considerada
indisciplina se a ordem foi dada a um determinado setor também. Na
insubordinação o empregado que descumpre a ordem é destinatário
específico dela. O empregado descumpre uma ordem na qual era o
destinatário específico. É uma falta que fere a ideia fundamental do vínculo
de emprego que é a subordinação.
◦ A alínea “i” trata do abandono de emprego. O direito tem que ser vivido
pelas pessoas, mas muitas pessoas não o conhecem tão bem assim. O
entendimento do leigo é a de que o abandono de emprego configura-se
como tal se o empregado deixa de ir trabalhar por 30 dias, mas não é assim
que a lei trata do assunto. No direito administrativo há o abandono de
cargo podendo se dar em um período de 30 dias ou de 60 dias, ou seja,
pressupõe um certo tempo. Porém, na CLT não se exige um número de dias
para o abandono ser configurado. Se o ânimo de abandonar é manifestado
expressamente pelo empregado já se configura o abandono de emprego,
ainda que depois ele queira voltar (o empregador não será obrigado a
aceitá-lo de volta). Em razão da tecnologia as pessoas são virtualmente
encontráveis hoje em dia, mas nem sempre foi assim. No passado o
empregado sumia e o empregador nada sabia do que aconteceu com ele. A
jurisprudência dizia que passados 30 dias presumia-se o abandono. É uma
presunção relativa, decorrente de criação jurisprudencial, não da lei. Se o
empregado foi sequestrado, por exemplo, ele não tinha o ânimo de
abandonar o emprego. O abandono só está claramente configurado quando
o empregado manifesta expressamente a sua vontade para o empregador,
mas não havendo essa manifestação há a presunção de abandono após 30
dias. Antigamente os empregadores anunciavam nos jornais pedindo aos
empregados que voltassem a trabalhar, mas isso não se verifica mais. Incide
aqui também a primazia da realidade.
◦ As alíneas “j” e “k” não podem ser compreendidas em sua literalidade.
Comparando a literalidade entre as duas alíneas, verifica-se que na “j” a
agressão, para ser configurada como tal, tem que se dar no serviço, mas a
“k” mostra que pode se dar em qualquer contexto. É uma concepção falsa.
Os fatores espaço e tempo aqui não têm esse peso todo. A agressão física
ou moral pode ser praticada contra qualquer pessoa (empregador, chefe,
empregado da mesma hierarquia, cliente, fornecedor, etc.), desde que o
liame seja o contrato de trabalho ou o motivo da agressão. Deve-se buscar
essa conexão. O elemento pode ser o local de trabalho ou o motivo da
agressão. O empregado pode perseguir um cliente fora do local de trabalho
em razão de um desentendimento e agredi-lo. Não foi no local do trabalho,
mas foi em razão do vínculo de trabalho. Uma briga entre dois empregados
no local de trabalho decorrente de um desentendimento amoroso também
serão considerada falta grave por ter se dado no local de trabalho. Se não
ocorrer no local de trabalho e nem por motivo dele, não ocorrerá violação
ao contrato de trabalho, mesmo que a agressão se dê em face do
empregador (poderá dispensar o empregado, mas não com esse
argumento). Professor entende que essas alíneas deveriam estar juntas,
caracterizando a agressão para fins de falta grave na forma supracitada. O
afastamento da literalidade protege o mais fraco, pois a conclusão da
literalidade pode ser ilógica ou deixar o mais fraco ainda mais desprotegido.
◦ A alínea “l” trata da prática constante de jogos de azar. A CLT está
ultrapassada nesse aspecto. Isso tem relação com um outro Brasil. É uma
falta que não foi recepcionada pela Constituição de 1988, na opinião do
professor. Se o empregado é viciado em jogo, inevitavelmente contrairá
dívida de jogo, que é uma obrigação natural, então tem sua exigibilidade
reduzida (não pode ser cobrada em juízo). Como não pode ser cobrada de
forma judicial, pode ser que o empregado, ameaçado pela dívida de jogo,
subtraia bens da empresa para tanto. É punir alguém em função de algo
que você acha que a pessoa vai fazer, violando a presunção de inocência.
Não se pode punir alguém preventivamente, podendo apenas ter medidas
cautelares preventivas. Se um agiota entra na empresa armado cobrando o
empregado que o deve pode haver dispensa sem justa causa (isso
contamina o local de trabalho, então o empregador pode dispensar, mas
não por justa causa, já que é fato de terceiro). A agiotagem pode ser
incluída aqui por uma interpretação extensiva, se considerar a alínea
constitucional.
◦ A Reforma Trabalhista acrescentou uma falta grave nova. Professor tem
algumas incertezas em relação à alínea “m”. Ao ser feita às pressas, a
Reforma teve alguns problemas na sua literalidade. É uma falta por
equiparação. Trata da perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos
em lei para o exercício da profissão, em decorrência de conduta dolosa do
empregado. Os conselhos profissionais existem em função da ética exigida
em determinadas profissões. O art. 21, XXIV da CF explica a existência da
fiscalização do trabalho (poder de polícia do auditor fiscal do trabalho que
deve verificar se as empresas pagam o FGTS, fazem uso dos EPIs, pagam os
salários em dia, etc.). A inspeção do trabalho deve assegurar que as
profissões tenham sua ética respeitada, mas é necessário criar essas
normas éticas. Os próprios profissionais que integram os conselhos
profissionais é que deverão criar essas normas, pois conhecem melhor a
profissão que exercem. Os conselhos profissionais são entidades
autárquicas de inspeção de trabalho que realização a fiscalização em prol
da ética da profissão, portanto. Por se tratar de uma autarquia, deverá ser
aberto um processo administrativo quando houver uma falta ética do
empregado. O empregador punirá o empregado muito antes do conselho
profissional, em função da punição imediata.O cenário verificado por essa
alínea trata do empregado que nada fez de errado na empresa onde
trabalha, mas pratica infrações éticas em lugar outro onde exerce sua
profissão também. Se a sua licença é cassada (cassação administrativa) por
conta dessas infrações cometidas, não poderá mais trabalhar em qualquer
lugar que seja se tiver sido contratado em função daquela profissão. Será
dispensado por justa causa sendo uma falta por equiparação. Algumas
negligências, imprudências, etc. podem levar à cassação também, mas a
alínea trata apenas da conduta dolosa, o que faz a culpa ser equiparada ao
dolo. A cassação é para casos extremos e, em regra, para algo doloso, mas
nem sempre. Para professor, deve haver uma interpretação extensiva em
nome da lógica (tratar dolo e culpa como a mesma coisa). O empregador
deverá ter esse tratamento assegurado pelo fato objetivo. Ele não deveria
ter que indenizar pelo fato da conduta do empregado ter sido culposa já
que dela decorreu a cassação da mesma forma. Onera-se o empregador,
sem que ele mereça.
O empregador também pode cometer falta grave. Quando o contrato acaba
por falta grave do empregador diz-se que foi uma dispensa por despedida
indireta. O empregador pode dispensar o empregado sem justa causa, mas se
ele ofende o empregado de forma física ou moral ou tem conduta que
inviabilize a continuidade do contrato, está indiretamente mandando o
empregado embora. É inviabilizado que o contrato continue já que fica
insuportável para o empregado trabalhar. Será devida a indenização, cabendo,
por vezes, danos morais também. Quando se trata de falta do empregado sabe-
se que um dos traços do empregado é a pessoalidade, devendo haver uma
ação ou omissão, dolosa ou culposa, dele próprio para caracterizar a falta
(responde por si e não por outros). O empregador responde por ato próprio ou
de seus prepostos. A falta grave decorre de uma ação ou omissão do
empregador ou de quem agir em seu nome (um chefe, por exemplo). Decorre
do poder de direção do empregador, já que ele é delegável, podendo esse
poder ser pulverizado na empresa a depender de seu tamanho. Será preposto
quem agir em seu nome na estrutura da empresa. No caso de falta grave do
preposto haverá uma falta grave como empregado e como empregador, como
no caso do assédio sexual. A empregada assediada poderá ter seu contrato
rescindido por despedida indireta por conta da falta grave do empregador, mas
o empregador que perde a empregada pode dispensar o preposto por justa
causa em função da sua falta grave como empregado.
◦ O art. 483 da CLT trata das faltas graves que o empregador pode cometer. A
alínea “a” prestigia a ideia de que o empregado está obrigado a fazer o que
o contrato contempla. Tem coisas que o empregador não pode cobrar do
empregado: o que for fisicamente impossível (pode caracterizar assédio
moral se for uma prática reincidente, com o intuito de levar o empregado a
errar, seja pelo peso a carregar, pelo prazo dado, não podendo ser uma
meta fisicamente irrealizável), questões que o contrato não alberga (fazer
com que o empregado realize algo que não está amparado pela lei, como
adulterar a contabilidade, não podendo cobrar ao empregado um ato
ilícito), o que for contra os bons costumes (pedir que uma secretária flerte
com um cliente, por exemplo, devendo ser observada a contextualização) e
o que for externo ao contrato (se contrato um empregado como advogado
mas passo ordens para que ele faça trabalhos meramente burocráticos, isso
não poderá ser feito já que não é sua função, mas podedesenvolver funções
outras se forem casos pontuais em nome do dever de colaboração do
empregado para com o empregador, devendo haver algum grau de
envolvimento). A subordinação tem, aqui, sua base enfatizada nos limites
do contrato (o empregado tem que fazer o que o contrato estipula,
contempla).
◦ A alínea “b” diz que é falta grave quando o empregado for tratado pelo
empregador ou por superior hierárquico com rigor excessivo. Isso deveria
constar para as faltas todas do art. 483, então deveria constar no seu caput.
Traz uma questão de medida. O empregador pode ser rigoroso, podendo os
empregadores que atuam na mesma área terem condutas internas
diversas, com uns mais rigorosos e outros mais flexíveis. É um caso de ius
variandi. O direito pune apenas os excessos aqui. O empregador pode ser
rigoroso (cobrar pontualidade, produtividade, que cumpra a vestimenta
estipulada, etc.), mas esse rigor não pode passar do que a sensatez permite.
Não pode haver estipulação de horário para que os empregados vão ao
banheiro ou o tempo que lá levarão. Se o empregado vai ao banheiro de
forma recorrente e lá passa muito tempo poderá acarretar em falta grave
se for provada tal conduta pelo empregador. Não pode haver proibição que
os empregados conversem entre si sobre assuntos pessoais ou que os
empregados olhem seu celular (deve haver razoabilidade, já que na
construção civil é recomendável que o empregado não o faça mesmo)
também.
A falta grave do empregador tem a ver com comportamento que ele mesmo pratica ou
que alguém na empresa em seu nome age (prepostos), decorrente do poder de
direção do empregador, já que ele não ter a marca da pessoalidade. É mais comum
que essas faltas ocorram partindo de cargos de chefia, que representam o
empregador.
O art. 484 da CLT trata da culpa recíproca. Ela não leva em questão o aspecto temporal
(não precisam ser simultâneas). Tem relação de causalidade, não de simultaneidade.
Certo empregado desvia dinheiro da empresa e o empregador, ao descobrir, retalia
dando uma surra no empregado. O empregador atrasa o salário de forma significativa
durante um tempo e, em resposta, o empregado furta um bem da empresa para
compensar o valor devido a título de salário. Ambos exemplos se tratam de casos de
culpa recíproca. Ambos praticam atos que inviabilizam o contrato. Não importa de
quem parte a conduta culposa, porque depende da resposta revidando-a. O
inadimplemento de um correspondeu ao inadimplemento de outro. Há, aqui, a relação
de causalidade. Se as partes revidam é porque entre elas não há mais confiança, então
o vínculo se extingue.
O empregado pode sacar o FGTS na sua integralidade (não foi só ele que causou o fim
do vínculo), mas a indenização de 40% devida pelo empregador cai pela metade (20%).
Para o empregador é melhor não revidar para evitar pagar a indenização e impedir o
empregado de sacar o FGTS, dispensando-o por justa causa. O mesmo valeria para o
empregado aproveitando-se da dispensa indireta.
As faltas devem ter um nível de equilíbrio. Se o empregado está subtraindo uma
quantidade razoável de dinheiro durante bastante tempo e o empregador, ao
descobrir, xinga o empregado como forma de reação emocional. Não há como
configurar culpa recíproca aqui pois a reação do empregador não foi tão grave quanto
a conduta do empregado. Os livros não tratam disso, mas para professor deve ser feita
essa avaliação de desproporcionalidade nesses casos. Pode ocorrer o inverso, com a
resposta sendo muito mais grave que a falta inicial (um porteiro subtrai valores e o
síndico descobre, dando uma surra nele, ocasionando a perda da sua visão, por
exemplo).
Há ainda a extinção do contrato de trabalho por força maior em sentido amplo. Ela é
impositiva e insuperável. Uma chuva torrencial pode acabar com o local onde se
situava uma pousada, por exemplo, impossibilitando, obviamente, que a atividade
continue a ser exercida. A força maior impede a continuidade da atividade. Tem
consequência no art. 20 da Lei 8.036/1990. Se força maior há, descumprir a obrigação
se torna escusável, tendo uma eficácia liberatória, mas em alguns temas trabalhistas
ela terá apenas eficácia atenuativa, baseada no risco assumido pelo empregador. O
empregador deverá indenizar o empregado em 20%, por força do art. 18 da lei
supracitada. A força maior nada tem a ver com a culpa recíproca, mas ambas
produzem os mesmos efeitos (o FGTS pode ser sacado e a indenização devida pelo
empregador é de 20%). A
carga de proteção ao empregado aqui, para professor, é excessiva, devendo comportar
flexibilização. Quando a força maior leva a maiores extremos (a economia para, então,
não havendo seguro, não haveria como o empregado pagar a indenização), deveria ser
dada a possibilidade de negociação coletiva. A proteção seria relativizada nesses casos
extremos.
O factum principis, previsto no art. 486 da CLT, é mais uma causa de extinção do
contrato. Ele pode impedir momentaneamente que o trabalho aconteça, mas pode ser
que o inviabilize por completo. Ele pode extinguir a atividade empresarial por força da
lei ou de algum ato legítimo do poder público. Pode ser que um terreno desabrigado
seja utilizado como estacionamento, mas pode vir uma lei estipulando que a rua onde
ele está situado não terá mais a circulação de carros, inviabilizando que a atividade
continue sendo exercida. No fundo, o factum principis é um outro caso de força maior,
mas aqui o evento ocorrido decorre de um ato legítimo do poder público.
Haverá saque do FGTS, mas o pagamento da indenização ficará a cargo do governo
responsável pelo factum principis. Na força maior o empregador não causa o dano,
então por isso paga apenas 20%, mas aqui o verdadeiro responsável pela extinção do
contrato, ainda que de forma lícita, é quem está pagando, então serão devidos os 40%
de indenização, ainda que isso não esteja expresso no artigo supracitado. É um caso
específico de força maior, justificando esse tratamento diferenciado. Entretanto, as
demais verbas rescisórias (13º proporcional, saldo de salário, comissões, férias
adquiridas e não usufruídas, férias proporcionais, etc.) serão devidas pelo empregador,
pois têm relação com o tempo que o empregado trabalhou para ele.
O factum principis não pode ser uma resposta a um ilícito cometido pelo empregador.
Se a atividade do empregador for ilícita e ela for encerrada pelo poder público quando
a descobre, isso não poderá ser considerado factum principis. Deve decorrer de uma
ação legítima do poder público, não de uma reação dele a um ilícito. O empregador
pode pagar os 40%, mas se depois entender que havia uma concepção errônea da lei
que ocasionou a extinção da atividade, caberá ação de regresso em face da
Administração Pública.
No Brasil, uma lei para autorizar o funcionamento de bingos deve partir da União, por
força do art. 22, XX da Constituição Federal. Somente lei complementar poderia
delegar essa competência para os Estados e para o Distrito Federal. Há algum tempo
atrás foi feito um lobby para aprovação do funcionamento de bingos. Foi aprovada a
lei no Congresso, mas não passou no Senado. Outros entes tentaram burlar a
competência dizendo ser uma competência residual deles, emitindo leis municipais,
estaduais e do DF autorizando a abertura de bingos. Essas leis foram consideradas
flagrantemente inconstitucionais por serem um tema de competência da União. Isso
foi reiterado pela Súmula Vinculante 10. Os donos dos bingos alegaram que essa
súmula seria considerada factum principis, dizendo que somente exerciam a atividade
porque havia lei que versava a respeito de seu funcionamento (a lei presumia-se
constitucional, então o empregador exercia a sua atividade de boa-fé). A presunção de
constitucionalidade é uma presunção relativa. Quanto mais óbvia for a
inconstitucionalidade, mais frágil é a presunção. A presunção relativa nem sempre terá
a mesma força. Para professor aqui não havia boa-fé, até
mesmo porque os donos dos bingos foram diretamente no Congresso para aprovação
da lei, que era o caminho correto, por saberem que era deles a competência legítima
para tal coisa. Quando não conseguiram, buscaram a aprovação através dessas leis
inconstitucionais. A primazia da realidade deve prevalecer em relação à presunção
nesse caso. Os bingos acabaram pagando os 40% a título de indenização nessa
situação. Não foi um factum principis. A súmula vinculante foi uma resposta a um
ilícito cometido.
A lei 8.213/1991 é a lei que regra a atividade do INSS. Ela foi a primeira lei ao falar de
aposentadorias voluntárias, dizendo que o funcionário poderia se aposentar sem se
desligar do emprego, não quebrando o liame e continuando o contrato. Se não é
desligado, o vínculo ainda existe. Houve uma sintonia da norma com o que estava
sendo verificado na prática. Na Justiça do Trabalho isso foi constar na norma o que
ocorria na prática, sendo esse vínculo novo. Se aposenta voluntariamente e saca o
FGTS indicava que o vínculo havia se encerrado. Para professor isso não estava correto.
Existe saque que não é relacionado ao vínculo do trabalho, bem como existe saque
que não depende da extinção do contrato do trabalho, como no caso da aposentadoria
por invalidez (o contrato está apenas suspenso).
Era uma discussão que tinha ver com dinheiro. Se o empregado sacasse o FGTS quando
se aposentasse voluntariamente, o que fosse depositado em sua conta
posteriormente, por força do novo vínculo, implicaria na indefinição em relação à
incidência da indenização de 40%. O empregador defendia que os 40% só incidiriam
em relação ao suposto segundo vínculo de trabalho (o empregado trabalhou mais dez
anos, então os 40% incidiriam apenas em relação a esse período), após a
aposentadoria voluntária, mas o empregado defendia que a lei 8.213/1991 o amparava
em relação à continuidade do vínculo mesmo que se aposentasse (o empregado
trabalhou durante 30 anos corridos para o empregador, então os 40% incidiriam em
relação a todo esse período). Logo, os 40% deveriam incidir em relação a todo o
período que trabalhou. Aposentar-se é exercer direito perante a Previdência, não
perante o empregador. O empregado poderia sacar o que fosse depositado nesses dois
momentos (o da aposentadoria voluntária e o da dispensa sem justa causa), mas os
40% incidiriam na totalidade do que havia sido depositado (saldo para fins rescisórios
leva em consideração o valor que teria se o saque não tivesse sido realizado).
O TST, utilizando-se dos conceitos antigos de que a aposentadoria implicava na
extinção do vínculo, se posicionou na OJ 177 da SDI-1, que dizia que quando o
empregado se aposentava seu contrato estava extinto, formando um novo vínculo
caso continuasse trabalhando para o empregador, devendo os 40% incidirem apenas
em relação ao novo vínculo. Para a orientação jurisprudencial existiam dois vínculos de
emprego nessa situação, mas essa discussão não se esgotou no TST, já que tem relação
com a base de cálculo dos 40%, que consta no art. 10 do ADCT. É uma norma
constitucional, razão pela qual o STF é a última instância para resolver a discussão.
Deveria manter o que o TST disse ou mudar. O STF não tem uma tradição trabalhista,
diferente do que ocorre no TST, então o jogo virou quando a matéria chegou até ele.
Ele disse quando se aposenta voluntariamente exerce-se um direito perante o INSS,
não perante o empregador, então a aposentadoria voluntária não extingue o vínculo
de emprego. Se a pessoa
se aposenta porque requer e permanece trabalhando, o vínculo de emprego
permanece. O valor sobre o qual incide os 40% é o do saldo que constaria na conta do
empregado caso nenhum saque houvesse sido realizado durante todo o período em
que ele estava trabalhando para o empregador. A OJ 177, em função da decisão do
STF, foi cancelada.
Havia uma discussão em relação às empresas públicas e às sociedades de economia
mista. O empregador que fosse Administração Pública não poderia considerar o
contrato posterior à aposentadoria voluntária como um segundo contrato, já que isso
implicaria na realização de um novo concurso. Era um problema que havia sido criado
pela OJ 177, mas foi resolvido com a decisão do STF.