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19/11/2019 Contribuição sindical patronal dos condomínios de edifícios residenciais e comerciais - Jus.com.

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Contribuição sindical patronal dos condomínios de


edifícios residenciais e comerciais
Contribuição sindical patronal dos condomínios de edifícios
residenciais e comerciais

Ivam Jacintho da Silva

Publicado em 09/2015. Elaborado em 09/2015.

CONTRIBUIÇÃO INDEVIDA.

O artigo 580 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), item II, prevê que a
contribuição sindical será recolhida, de uma só vez, anualmente, e consistirá
para os empregadores, numa proporção ao capital da firma ou
empresa, registrado nas respectivas Juntas Comerciais ou órgãos equivalentes,
conforme tabela progressiva que menciona.

Nos termos do artigo 579 da CLT a contribuição sindical é devida por todos
aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou
profissional ou de uma profissão liberal, em favor do Sindicato
representativo da mesma categoria ou profissão, ou, inexistindo este, na
conformidade do disposto no artigo 591 (trata da redistribuição do arrecadado na
falta de sindicato).

SUBLINHE-SE O FATO DE A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL PATRONAL ser


devida apenas quando há atividade econômica objetivando lucro.

Os condomínios de edifícios residenciais não têm personalidade jurídica nem


visam qualquer lucro. Os condôminos pagam as cotas condominiais ordinárias,
extraordinárias e o Fundo de Reserva visando apenas cobrir os gastos comuns e
manter uma reserva financeira para eventuais gastos extras de alta monta.

Mesmo que exista sindicato (patronal) dos condomínios de edifícios residenciais


em qualquer cidade, sua existência é ilegal considerando que seus “associados” (os
condomínios) não exercem qualquer atividade econômica. Outro sindicato
estranho existente não tem a legitimidade de querer se arvorar no direito de

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cobrar a contribuição sindical (indevida) dos condomínios residenciais, por não


exercerem qualquer atividade econômica visando lucro nem ter personalidade
jurídica como já acentuado.

Vale transcrever parte do artigo publicado no site Ius Navigandi e de autoria do


advogado Rodrigo Karpat, verbis:

“Os condomínios, em tese não estão obrigados ao recolhimento da contribuição


sindical por não terem fins econômicos, não desenvolverem atividades produtivas
nem buscarem lucro. E a representatividade do Sindicato das Empresas de
Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis, Residenciais e Comerciais
(Secovi) não abrange os condomínios, pelo menos os residenciais, dada a
diversidade entre as atividades destes e as exercidas pelos demais
empregadores constantes do rol de representados por aquela entidade
classista patronal. (grifei)”.

Os condomínios de edifícios residenciais não podem ser comparados sequer às


entidades ou instituições que não estejam obrigadas ao registro de capital social,
visto que estas são registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e aqueles
podem ter sua convenção, em vigor entre os condôminos, mesmo sem o registro
previsto na Lei dos Registros Públicos, que é feito somente objetivando validade
perante terceiros, no Registro de Imóveis (Lei 6.015/73 – art. 167 II n.º 17, (final),
o que não lhe atribui personalidade jurídica).

A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho é firme no sentido de


descabida a cobrança em se tratando de condomínios residenciais, valendo
mencionar dois julgamentos cujas ementas abaixo são colacionadas:

“RECURSO DE REVISTA. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. CONDOMÍNIO


RESIDENCIAL. Nos termos do art. 579 da CLT, a contribuição sindical é devida
por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou
profissional. Por sua vez, o art. 511, § 1.º, da legislação celetista estabelece que uma
categoria patronal se configura quando há solidariedade de interesses econômicos
dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas. No caso dos
condomínios residenciais, estes, em regra, não atuam perseguindo fim econômico
algum, não desenvolvem atividade produtiva e tampouco buscam lucro, logo, não
podem ser considerados integrantes de categoria econômica e, por conseguinte,
não estão obrigados ao recolhimento da contribuição sindical. Recurso de revista
não conhecido.”

RR - 182300-73.2006.5.07.0009, Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes.


Data de Julgamento: 28/03/2012, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT
03/04/2012).”

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. CONDOMÍNIO


RESIDENCIAL. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. INDEVIDA. ART. 580, § 6º, CLT.
DECISÃO DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO. A contribuição sindical celetista

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patronal não é devida por entidades que não tenham objetivos econômicos, não
desenvolvam atividade produtiva ou não visem a lucros, por força da lógica do
instituto (-categoria econômica-) e da exclusão expressa feita pelo art. 580, § 6º,
da CLT. Dessa maneira, o condomínio do tipo residencial não está jungido ao
recolhimento da contribuição sindical obrigatória da CLT, relativa à categoria
econômica. Não há como assegurar o processamento do recurso de revista quando
o agravo de instrumento interposto não desconstitui os termos da decisão
denegatória que, assim, subsiste por seus próprios fundamentos. Agravo de
instrumento desprovido.

(AIRR - 1005-22.2012.5.15.0090, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado,


Data de Julgamento: 03/12/2014, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT
05/12/2014).”

Verifica-se também do Informativo n.º 2 da IOB, Informações Objetivas, ano


2014, item 8.1.1 tratando dos Condomínios de Proprietários de Imóveis
Residenciais ou Comerciais que não distribuam lucro a qualquer título
e que apliquem seus recursos integralmente em sua manutenção e
funcionamento, como entidade ou instituição sem fins lucrativos, orienta no
sentido de fazer constar na Relação Anual de Informações Sociais – RAIS que não
exerce atividade econômica com fins lucrativos e apresentar, quando solicitado, à
fiscalização do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), os seguintes
documentos:

}a) Convenção inicial e alterações averbadas no registro de imóveis:

b) Atas de assembleias relativas à reeleição de síndico e do conselho


consultivo na forma prevista na convenção; e

c) Livro ou ficha de controle de caixa contendo toda a movimentação


financeira.

Tal como exposto e decidido pelo Tribunal Superior do Trabalho, 3.ª e 7.ª Turmas,
gizando, ainda mais, a clareza dos textos legais no sentido da não incidência da
malfadada “contribuição” sindical patronal dos Condomínios Residenciais, vale
ainda ressaltar, mais uma vez, que o “SECOVI-RJ – O Sindicato da Habitação”,
como também se intitula, trata-se apenas do Sindicato das Empresas de
Compra e Venda, Locação e Administração de Imóveis do Estado do Rio de
Janeiro, não tendo legitimidade de exigir o pagamento de qualquer valor dos
Condomínios nem acrescer à sua categoria econômica os condomínios
residenciais.

O SECOVI-RJ, ao que tudo indica, conforme recibo de pedido de busca no


Registro Civil das Pessoas Jurídicas da cidade do Rio de Janeiro, situado na Rua
México, dele constou: NOME DA SOCIEDADE: Sindicato das Empresas de
compra venda locação e administração de imóveis, e o acréscimo de: E DOS
CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS EM TODO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

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Os condomínios não têm nenhuma relação jurídica com o SECOVI-RJ, que


representa tão somente as ADMINISTRADORAS e empresas de compra, venda e
locação de imóveis. Não faz parte de sua atribuição cobrar a contribuição sindical
ou qualquer outro penduricalho dos condomínios sejam residenciais ou
comerciais formados apenas para administrar os respectivos prédios não visando
lucro. O que pode acontecer nas suas contas é déficit ou superávit que será
transferido para outra conta credora ou cobrado dos condôminos,
respectivamente.

O artigo 511 da CLT permite a associação de empregadores que exerçam a mesma


atividade ou similares e conexas. Já seu § 1.º normatiza que a solidariedade de
interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou
conexas, constitui o vinculo social básico que se denomina categoria econômica.
No § 4.º, por sua vez, dispõe que os limites de identidade, similaridade ou
conexidade fixam as dimensões dentro das quais a categoria econômica ou
profissional é homogênea e a associação é natural.

Da simples leitura do artigo 511 e §§ 1.º e 4.º resta indubitável que a pretensão do
SECOVI-RJ de inserir os condomínios residenciais sob suas asas é esdrúxula,
absurda, estapafúrdia, e SOBRETUDO ILEGAL. Os condomínios residenciais são
apenas clientes das administradoras obrigadas à contribuição, e não exercem a
mesma atividade delas nem mesmo similares e conexas. O acréscimo perpetrado
pelo SECOVI-RJ é um nada jurídico, um ato inexistente, sequer nulo, buscando
levar a erro terceiros desavisados em parceria com as ADMINISTRADORAS DE
CONDOMÍNIOS.

E o próprio SECOVI-RJ sabe disso. Verificando em seu sítio na internet,


parcialmente, ele mesmo, o SECOVI, informa que em Niterói, São Gonçalo e
Petrópolis “representa apenas as empresas do ramo de administração imobiliária e
não os condomínios.” Repita-se que o SECOVI-RJ está cobrando aquilo que não
tem direito e de forma a induzir os incautos em erro. É grave tal procedimento a
merecer correção pelos meios judiciais pertinentes.

Para alicerçar ainda mais os argumentos expendidos traz-se à baila os


ensinamentos do renomado jurista Sérgio Pinto Martins, na sua obra Direito do
Trabalho, 30.ª edição, verbis: “Nossa legislação, quando trata de categoria, usa as
expressões categoria econômica e categoria profissional. A categoria econômica
é a que ocorre quando há solidariedade de interesses econômicos dos que
empreendem atividades idênticas, similares ou conexas, constituindo vínculo
social básico entre essas pessoas (§ 1º do art. 511 da CLT). É também chamada
de categoria dos empregadores.” (Ed. Atlas, pág. 804, negritei).

O SECOVI também não tem poderes para representar os condomínios em


qualquer negociação coletiva, mesmo com procuração dos síndicos, no caso tida
como inexistente, em virtude de não haver, validamente, SINDICATO DOS
CONDOMÍNIOS DE EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO e, no entendimento do escriba, nem pode ser constituído, legalmente,

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por não se tratar de atividade sindicalizável, ou seja, inexiste qualquer interesse


econômico nem objetivo de lucro. O condomínio residencial registra apenas suas
receitas e despesas, não tem contabilidade e balanço assinado por contador, não
visa lucro, existindo apenas em função do gerenciamento das coisas comuns e os
seus registros são mais simples possíveis.

As contribuições sindicais pagas nos últimos dez anos devem ser devolvidas, em
solidariedade ou não, tanto pelo SECOVI quanto pelas ADMINISTRADORAS, que
foram intermediárias da cobrança ilegal e injusta, tudo corrigido monetariamente
pela inflação e juros de 1% ao mês a contar de cada pagamento ilícito.

Assim, primeiramente, não há hipótese de incidência de contribuição sindical


patronal e, secundariamente, o SECOVI-RJ não é legitimado a recebê-la, cabendo,
como já expendido, a cobrança de tudo que foi ilegalmente recolhido pelas
Administradoras e recebido pelo SECOVI-RJ nos últimos dez anos, de um só deles
ou em solidariedade, com os acréscimos de atualização monetária pelo IPC-A e
juros de mora de 1% ao mês a contar de cada pagamento.

Autor
Ivam Jacintho da Silva

Advogado desde 1974 e Juiz de Direito por seis


anos.Magistrado aposentado RJ

Informações sobre o texto

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