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A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA
EM EDUCAÇÃO NO BRASIL
Série Pesquisa v. 1
3ª Edição
Brasília, 201 O
Copyright© 201 O Liber Livro Editora Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação,
por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito, da editora.
Conselho editorial
SUMÁRIO
Bemardete A. Gatti, Iria Brzezinski, Maria Celia de Abreu, Osmar Favero,
Pedro Demo, Rogério de Andrade Córdova, Sofia Lerche Vieira.
Coordenação da Série 7
APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . .. .. . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Bernardete Angelina Gatti
INTRODUÇÃO . .. . .. .. .. .. . . .. .. .. . .. . .. .. .. . .. .. .. .. . .. .. .. .. . .. . .. .. .. . .. . 9
Revisor
Pesquisa ............. .................................................. 9
Jair Santana Moraes
Pesquisa Educacional .............................................. 12
Revisão
Marluce Moreira Salgado
Norma lização bibliográfi ca
CAPÍTULO 1 - A PRODUÇÃO DA P ESQUISA
Regina Helena Azevedo de Mello EM E DUCAÇÃO NO BRASIL
Capa 15
E SUAS IMPLICAÇÕES ... ................... .. .
Patríca M. Garcia Teoria e método .. ............................................... 21
Im pressão e acaba mento Dominâncias, pesquisa e ação ................... ......... 22
LGE Editora Ltda./Brasíl ia-DF As instituições .... ................ ........................ ........ 24
Contrapontos importantes .................................. 25
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CI P) Os procedimentos na investigação ...................... 28
Pesquisa em educação e seu impacto social ........ 33
Gatti, Bernardete Angelina
G263c A construção da pesquisa em educação no Brasil. Bernardetc Há um papel social para a consistência
Angelina Gatti. - Bras ília : Liber Livro Editora, 201 O. 3ª ed. metodológica? ..................... .......................... 37
87 p. (Série Pesquisa, 1) Referências bibliográficas ................................... 38
ISBN 85-85946-3 1-8 (Plano Editora)
ISBN 978-85-98843-46-9 (Liber Livro Editora) CAPÍTULO 2- QUESTÕES DE MÉTODO
1. Pesquisa em educação. 2. Métodos de pesquisa. 1. Título. NAS P ESQUISAS EM EDUCAÇÃO .... ...... 43
li. Série. Ciência una, método uno? ................................... 45
CDU 301.175 As posições crític&s e seus problemas ................. 49
Instrumentos e métodos .. ....................... .......... ... 52
Teorizações e métodos ........... ............................ 53
Problematizações e formas de agir:
Liber Livro Edi tora Lida.
SHC /Norte· CL Qd. 315 · Bloco D· Sala 15 limitações do conhecimento ............................ 57
Asa Norte· CEP: 70774-520 · Brasília-DF
Fone: (61) 3965-9667 · Fax: (6 1) 3965-9668
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O específico do campo de pesquisa
na educação ................... .............................. 60
Condições das ações investigativas ..................... 62
Pesquisa
- uma maior -
ei1toqu~ern que nos situamos. E percorremos para buscar
-
- compreensão dos atos de educar e ser educado,
suas funções, seu contexto, suas conseqüências.
A P RODUÇÃO DA P ESQUISA EM EDUCAÇÃO NO B RASIL
E SUAS I MPLICAÇÕES
No contexto dessa trajetória, e tendo durante ser definida num contexto de macroplanejarnento,
al~as décadas uma produção bem pequena em grupos direcionando os esforços e financiamentos no conjunto
l~c!li~ados, a pesquisa em educação no Brasil passou por da política desenvolvi mentista, não fugindo a pesquisa
VIS1ve1s convergências temáticas e metodológicas. Segundo educacional em sua maior parte desse cenário e
estudos_de Aparecida Jo! L_Gouveia (1271.J 1976)_ interesses. --
~~isas em~ duca_ç! o no Brasil, tiverapi inicialm~ ~mbora a tônica nas pesquisas ~a_essa durante _
l.!f!! enfoque predominantemente p~gógico, em_que alguns anos , especialm~nte_as financiadas por órgãos
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p.!;Íblicos, as instituições de ensino superior, ou outras ligadas_ Todo esse processo da década de 70 e início dos
à produção da pesquisa em educação, mantêm um_a anos 80 se faz num contexto político e social em que, num
formação diversificada de gl!_adros. Com a necessária ex- primeiro momento a sociedade é cerceada em sua
pansão do ensino superior e o trabalho em alguns cursos liberdade de manifestação, na vigência da censura, em que
de mestrado e doutorado, que começam a se consolidar, se impõe uma política econômica de acúmulo de capital
em meados da década de 70, deparamo-nos não só C0..!!1 para uma elite, e em que as tecnologias de diferentes
uma ampliação das temáticas de estudo, mas também naturezas passam a ser valorizadas com prioridade.
com um aprimoramento metodológlco,especialmente _ Em um segundo momento, deparamo-nos com movimentos
~ m algumas sY.b.áI:eas- sociais diversos que começam a emergir, vêm num
Levantamentos disporyíveis nos mostram que os crescendo, c1iando espaços mais abertos para mani-
estudos começam a se distribuir mais eqilitativamente entre festações socioculturais e a clitica social, inaugurando-se
diferentes problemáticas: currículos, caracte1izações de um período de transição, de lutas sociais e políticas, que
redes e recursos educativos, avaliação de programas, constroem a lenta volta à dem9cracia. A pesquisa
relações entre educação e profissionalização, caracte- educacional, em boa parte, vai estar integrada a essa clitica
rísticas de alunos, famílias e ambiente de que provêm, social, e, na década de 80 encontramos nas 12ro.d.uções..
nutrição e aprendizagem, validação e crítica de instru- institucionais. es~ente nas disse@Çõ~ de mestrado _
mentos de diagnóstico e avaliação, estratégias de ensino,
entre outros. Não só houve aumento de trabalhos em
e teses de doutorado - as quai_s passam a ser a grande
fonte da produção da pesquisa educacional -, ~gro)Q.:.
t~nas divers ~ m b é m q-~to aos modos nia do tratamento.das questões educacionafa1s .o.m_b.as..e_
~ - Passou-se a utilizar tanto métodos quan- e-m teorias de inspiração marxista. Do ponto de vista
titativos mais sofisticados de análise, como também, metodológic9, no entanto, é um peliodo onde encontramos
qualitativos e, no final da década, um referencial teórico alguns problemas de base na construção das próprias
mais crítico, cuja utilização estende-se a muitos estudos. pesquisas. Voltaremos a essa questão mais adiant~.
Mas, nesse período, ainda, predominaram os enfoques Sendo a expansão intensa do ensino superior e da
tecnicistas, o apego a taxonomias e à operacionalização de pós-graduação necessária e inevitável, a formação de qua-
variáveis e sua mensw-ação. Com algumas c1íticas aos~ dros no exterior também é grandemente expandida na
~ e tipo de investigasão, com a propa~ão do emprego-- segunda metade dos anos 80 e início dos anos 90. O retor-
.935 metõdologias da pesquisa-ação e das teorias do conflito. no desses quadros traz para as universidades, no final da
~anos 70 e começo dos anos 8(2,_ao.lado de_um década de 80 e durante a década de 90, contribuições
ç_ertg__descrédito de que soluções técnicas resolveriam que começam a produzir grandes diversificações nos
moblemas de base na educação brasileira, o perfil da ~uisa trabalhos, tanto em relação às temáticas como às foanas
~ucacional se enriquece com essas novas pe r s ~ de abordagem. Ao lado disso, alguns pesquisadores
~do espaço a abordagens cdticas experientes alimentam a comunidade acadêmica com
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análises contundentes quanto à consistência e significado No entanto, com essa expansão, também se
do que vem sendo produzido sob o rótulo de "pesquisa evidenciaram problemas de fundo na própria produção
educacional". É também nesses ano que se consolidam das pesquisas, os quais merecem alguma consideração.
grupos de pesquisa em algumas subáreas, quer por
necessidades institucionais à luz das avaliações de órgãos
de fomento à pesquisa, quer pela maturação própria de Teoria e método
grupos que durante as duas décadas anteriores vi nham
desenvolvendo trabalhos integrados. As novas perspectivas com que se trabalhou na
Descortina-se, no final desse pe1íodo, grupos sólidos pesquisa educacional nas décadas de 80 até meados dos
de investigação, por exemplo, em alfabetização e lingua- anos 90 , a sentaram-se em críticas-- relativas a questões
gem, aprendizagem escolar, formação de professores, de teoria e método, que não estão resolvidas, mas deram
ensino e currículos, educação infantil, fundamental e média, ~ ulso aos trabalhos~ a~ mentaram alguns grupos
educação de jovens e adultos, ensino superior, gestão de ponta na pesquisa. Assim, a qualidade da produção
escolar, avaliação educacional, história da educação, vai se revelar muito desigual quanto ao seu embasamento
políticas educacionais, trabalho e educação. Esse movimento ou elaboração teórica e quanto à utilização de certos
pode ser acompanhado tanto pelas Conferências Brasileiras procedimentos de coleta de dados e de anáJi se.
de Educação dos anos 80, como pelo desenvolvimento a Estudos dão conta da clificuldade de se construir na
- Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Grac:luação em ~_egorias teóricas mais consistentes, que não sejru11
Êducãção (ÃNPEd), por suas reuniões anuais:-&'tã a aplica ão ingênua de categorias usadas em outras áreas
associ~ teve, a partir do final da décadãde 70, papel de es~do, e que abarque~mplexidade das questões
marcado na integração e intercâmbio de pesquisadores e educacionais em seu instituído contexto social._Preocupa
°!-diss~ção da pesq!,lisa educacionãl e questões a ela a c . ensão das condições determinantes dos fatos
~gad~ Contando com mais de 20 grupos de tra~alho, educacionais, como também os mecanismos internos às
que se concentram em temas específicos dos estuc;los escolas.
de questões educacionais, a ANPEd sinali za bem a . Essa dificuldade fez com que a investigação em ,
expansão d~ pesquisa educacional nas instituições de educação mostrasse adesões a sgc iologismos ou_
ensino superior ou em centros independentes, públicos economicismos_de diferentes inspirações, de um lado,
ou privados. Essa expansão se traduz em números ; u a_psicologismos ou psicopedagogismos deoutro,
expressivos. Em suas reuniões anuais tem contado com esQ_ecialmente as chamadas teo1ias SQÇioconstruti.Yislas.
a participação de aproximadamente dois mil especialistas, A consciência do problema a enfrentar, ou seja o do
entre pesquisadores e alunos dos mestrados e doutorados, entendimento mais claro da natureza do próprio
com aumento sistemático de trabalhos que são submetidos fenômeno educacional, ou pelo menos das concepções .
à apreciação de suas comissões científicas. de educação que inspiram as práticas de pesquisa, não
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foi suficiente para o enfrentamento dessas questões de geral se completam nos trabalhos por "recomendações".
base. A captação da estrutura desse fenômeno, bem Embora esta tendência tenha se atenuado nos últimos anos,
como de sua dinâmica, não enquanto idéias que delas ela é presença constante. O sentido pragmático e de um
fazemos, mas sua captação em sua concretude histó1ico- imediatismo específico, observável nos estudos feitos na
social, como parece ser a exigência que se coloca para a área educacional reflete-se na escolha e na forma de
pesquisa educacional, traz desafios teóricos e metodológicos tratamento dos problemas. Estes problemas, oriundos de
que permanecem em aberto. práticas profissionais, são tratados, em geral, nos limites
de um recoite acadernicista discutível em seus alcances.
Além disso, a relação pesquisa-ação-mudança parece ser
Dominâncias, pesquisa e ação encarada de maneira um tanto simplista.
Embora reconhecendo a necessária origem social
Se a pesquisa em educação tendeu a desenvolver- dos temas e problemas na pesquisa em educação e a
se com certas convergências históricas, ve1ifica-se também necessidade de trabalhos que estejam vinculados mais
que ela refletiu, nas décadas assinaladas, modelos de especificamente a questões que no imediato são carentes
investigação que vinham sendo propostos nos Estados de análise e proposições, uma certa cautela quanto a essa
Unidos, Inglaterra ou França, tendo impacto aqui com certo tendência deveria ser tomada porque esse tipo de
retardo, muitas vezes com uma apropriação simplificada abordagem na maioria das vezes, na medida em que facilita
quanto a seus fundamentos. Embora nem toda a produção a prevalência do aparente e do excessivamente limitado,
assim se caracterize, boa parte dela reflete o que pode- acaba deixando de lado questões que são as realmente
ríamos chamar de modismos periódicos, provavelmente, fundamentais. As perguntas mais de fundo e de espectro
reflexo da pouca institucionalização e da pequena tradição mais amplo deixam de ser trabalbadas. Esse imediatismo
que tínhamos de produção científica nessa área de estudos. traz também consigo um ~ande empobrecimento teórico.
Isto pode estar associado também, a certas características Isso não quer dizer que riao devamos nos voltar para
de desenvolvimento de estruturas de poder na academia, os problemas concretos que emergem no cotidiano da história
e, portanto, das lutas por hegemonias, da aceitação por vivida da educação por nós - é aí que os problemas tornam
grupos e manutenção de posições nas instituições onde a corpo- , mas a pesquisa não pode estar a serviço de solucionar
pesquisa educacional tem seu curso. pequenos impasses do cotidiano, porque ela, por sua natureza
Além desses modismos, que evidentemente se e processo de constrnção, parece não se prestar a isso, vez
associam a determinadas condições histórico-conjuntw-ais, que o tempo da investigação científica, em geral, não se
outra tendência que parece clara em muitos dos trabalhos coaduna com as necessidades de decisões mais rápidas.
é_~ do imediatismo quanto à escolha dos problemas de A busca da pergunta adequada, da questão que não tem
pesquisa. Parece dominar a preocupação quanto à resposta evidente, é que constitui o ponto de origem de uma
aplicabilidade direta e imediata das conclusões, que em investigação científica. Nem sempre esse esforço de busca
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de hipóteses mais consistentes, de colocação de perguntas tendências de trabalho- poderíamos dizer, começavam
mais densas, é encontrado na produçã.o das pesquisas na a formar tradição - enfrentando, todavia, condições
área educacional, e não só em nosso País. institucionais internas ainda não tão favoráveis. As uni-
Nesse ponto, a relatividade do impacto dos res - versidades brasileiras, com raras exceções, não nasce-
tados de investigações;-C:ujas dimensões são sempre difíceis ram conjugando pesquisa e ensino; voltavam-se só para
~ ~ latar, é um aspecto que deve ser lembrado. Ac~ o ensino, para dar um diploma profissionalizante, tanto
se ainda que o levantamento de questões mais de fundo e as de natureza confessional, como as leigas privadas e
ãcãp~cidade de antecipar hoje problemas que estão se . algumas das públicas. Elas não foram estruturadas para
aescortinando, mas cuk eclosão_não_está vjsiYel, são incorporar a produção de conhecimento de modo
p o n t o ~ s na colocação de proplemas para_ sistemático, como parte de sua função, sequer para a
~sq~.J~é_possível à ~dida qué:h_a.ia uma certa discussão do conhecimento. Elas mostravam-se volta-
constân~ e continuidade no trabalho de,P-.esq.uisador..e..s.. das para a reprodução de um conhecimento que não
~ icados a temas preferenciais QOr períodos maislongos, produziu, com o qual não trabalhou investigativamente,
carãcterizando uma certa especificidade em_sua contri- mas que absorveu e transfere.
~ção a um conhecimento mais sistematizado. Esta con- O espírito das "horas-aula" das instituições isola-
~ ação de grupos em algumas especialidades-ou temas das de ensino superior igualmente mostra-se nas univer-
-é. uma das dificuldades que encontramos n a áre;da sidades, especialmente as recém-criadas. Muito pouco
produção da_Qe$quisa~.rn~u~ª-º · espaço abria-se para a pesquisa nessas instituições a
não ser a partir de pouco tempo para cá, quando outras
perspectivas sociopolíticas colocam novos referenciais
As instituições para a constituição de universidades. O grande desen-
volvimento no final da década de 80 e nos anos 90 de
Há que considerar que, de modo geral, nas uni- programas de mestrado e doutorado , com estímulos
~ rsidades onde a pesquisa veio a se desenvolver, nem específicos à pesquisa e com avaliações periódicas,
~ pre encontramos condições institucionais de apoio_. a redefinição das exigências para as carreiras docentes
~squisa educacional, e neste quadro a pesqu isa na universitárias, trazem mudanças substantivas, nesse
área veio revestida de características de iniciativa indi~i- quadro institucional.
Jual. E~ condições atingiram os programas de pós-
graduação stricto.sensu, decorrendo em parte daí suas
dificuldades em consolidar até recentemente, de modo-- Contrapontos importantes
fecundo, grupos de pesquisa, com produção continuada.
Verificamos que, em alguns poucos programas de Os anos 80 foram fecundos: palco de contrapontos
mestrado e doutorado, no final dos anos 80, se solidificam importantes, decisivos mesmo para o cenário atual da
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pesquisa em educação. Doís artigos publicados no final Ao discutir as idéias de Luna, Maria Laura Franco
desse período tipificam essas discussões. Refletindo o ( 1988) adota o ponto de vista de que não há como separar
embate quanto aos encaminhamentos das questões aquele que conhece do objeto a ser conhecido, ou seja,
teórico-metodológicas entre os pesquisadores em educa- da parte da perspectiva de que o homem não é um ser
ção no período, Luna ( 1988) trabalha a idéia de um falso meramente especulativo que precisa controlar sua
conflito entre tendências metodológicas e Franco ( 1988) subjetividade e "saír de si mesmo" para gerar conhecimento
contrapõe-se argumentando por que o conflito entre científico. O pensamento humano mantém uma relação
tendências metodológicas não é falso. A argumentação de dialética naooi1strução das teorias vincu lada à prática
Luna leva-o a afirmar que a questão das diferenças social de seus construtores e dos que as utilizam. Não
metodológicas tem sido formulada em termos imprecísos ~e, pois, dicotomizar sujeito e objeto, nem teoria e
e que mesmo o sentido da palavra metodologia tem variado prática. Considera essa autora que, a fonnalização dos
no tempo, ora aproximando-se do âmbito das técnicas requisitos que Luna coloca como básicos em qualquer
estatísticas, ora filosofia ou socíologia da ciência. pesqui a, qualquer que seja a metodologia, não é suficiente
No entanto, para esse autor, se o pesquisador explicita para expressar tendências metodológicas e nem explicitar
sua pergunta/problema com clareza, elabora os passos que a abordagem teórica, muito menos expor o fio condutor
o levam a obter a informação necessária para respondê-la(o) que dá significado aos procedimentos que adota, qu~squer
e indica o grau de confiabilidade na resposta obtida, é possível que sejam, e mesmo à investigação como um todo. E nesse
avaliar seu produto dentro do referencial próprio desse nível que os conflitos se instalam, ou seja, no processo em
pesquisador. Supõe-se, com isso que os conflitos metodo- que homens concretos, historicizados, pesquisam uma
lógicos seriam falsos, pois só poderiam se estabelecer no realidade conct'eta, dinâmica. Enfoque do real, metodo-
âmbito de crenças de confrarias restritas. Outros viéses sobre looia e teoria são interdetenninantes. Como há enfoques
o . ,
~questão adviriam da consideração das diferentes técnicas conflitantes, há posturas metodológicas tarnbem
como explicitadoras de diferenças metodológicas, bem como conflitantes.
pela teõ.tati va de "confrontar diferentes tendências teórico- Parte desses confrontos tem a ver com a chamada
metodológicas como se a verdade de cada uma pudesse ser pesquisa qual itativa, cujo uso se expandiu pela busca de
atestada pela fragilidade de outra". métodos alternativos aos modelos experimentais e aos
A base de suas análises é dada pela sua concepção estudos empiricistas, cujo poder explicativo sobre os
de que a "realidade empfrica é comp]exa, mas objetiva. fenômenos educacionais vinha sendo posto em questão,
Não traz nela mesma ambigüidades". Já o indivíduo é como se pôs em questão os conceitos de objetividade e
subjetivo, não sendo capaz de separar o objeto de sua neutralidade embutidos nesses rnodelos.t-s alternativas
representação. Daí o papel da teoria, que é por onde existe ,apresentadas pelas análises chamadas qualitativas
a possibílidade de se integrar os recortes que o homem compõem um universo heterogêneo de métodos e
faz dos fenômenos. Jécnicas, que vão desde a análise de conteúdo com toda
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s~ersidade de propostas, passando pelos estudos, pouco fundamentado em conhecimentos consistentes sobre
Jk__caso, pesqu isa participante, estudos etnográficos, o outro modelo, no caso o quantitativo, e também, porque
antropológicos, etc. ~ não ousar dizer, sobre as alternativas apresentadas como
O confronto salutar, explicitado em todos estes solução, tipo panacéia, para a pesquisa em educação.
trabalhos, foi o caldo de cultura no qual se avançou Mui se enquadra a questão das opções pelo uso
nos anos 90, nas produções e preocupações com a de ~odelos quantitativos de coleta e análise de dados ou
pesquisa em educação. Conflitos entre posturas episte- pelos chamados modelos qualitativos, ou seja, aquelas
mológicas, diferenciais de métodos e formas específicas metodologias que não se apóiam em medidas operacionais
de utilização de técnicas, avanços na explicitação do cuja intensidade é traduzida em números. $ preciso
-
objeto, problemas de natureza institucional, fazem parte considerar gue os conceitos de guantidade e.9ualida.9e_
do vivido !:lªS lides dos que trabalham com a inves- não são totalmente dissociados, na medida em qu_e de
tigação científica. -
.um lãao a quantidade é -uma interpretação, uma
tradução, um significado que é atribuído à grandeza com
que um fenômeno se manifesta (portanto é uma qua-
Os procedimentos na investigação lificação dessa grandeza), ~ de outro ela precisa ser
interpretada qualitativamente pois, sem relação a algum
Alguns problemas ligados ao uso de certos méto- referencial não tem significação em si.
dos são comuns aqui como na produção de outros paí- De qualquer forma,~ conjunto de procedimentos
ses, na área educacional, inclusive nos considerados ~ pesquisa que envolve a quantif~ão strictu sensu e~
como matriz dessa produção. sua anál ise está atrelado às propriedades do conjunto
Ques~ão que não se acha suficientemente discutida numérico associado às variáveis em estudo, bortanto, à
e trabalhada pelos pesquisadores é a tendência à não çlefinição destas e à garantia de que gozam de certas carac-
discussão em profundidade das implicações do uso de terísticas. Isto impõe um tipo de lógica no tratamento do
certas técnicas, e mesmo da prop1iedade e adequação problema em exame e o uso de delineamentos específicos
desse uso e de sua apropriação de forma consistente. para a coleta e análise dos dados, que nem sempre os
Observamos que, de pesquisas extremamente pesquisadores dominaram, nem dominam, para utilização
instrumentalizadas e de medidas aparentemente bem adequada e enriquecedora.
definidas, com o uso de modelos estatísticos mais ou menos Críticas de diferentes naturezas foram feitas entre
sofisticados, nós saltamos para o lado oposto, onde nós a esses modelos quantificadores, sem uma análise mais
passamos a fazer a crítica acirrada à inoperância desse profunda das suas implicações e as análises com dados
modelo. Mas, devemos reconhecer que se caiu no absoluto quantitativos foram praticamente banidas de nossos
de uma crítica que nem sempre explicitou seus princípios estudos.~ s últimos anos vimos proliferar em nosso meio,
e ficou num discurso na maioria das vezes vago, porque bem corno em muitos outros países, pesquisas em educação
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~ se revestem de caracteiisticas bem diferenciadas do escolhida. Sob esse ponto há também alguns problemas
12_onto de vista dos procedimentos em face das desen.- nos trâOalhos de pesquisa na área educacional, tanto
_yolvidas com predominância em décadas aI}teriores. ,Yma nos que usaram quantificação quanto nos que usaram
dessas características é o uso de técnicas não quantitativas metodologias alternativas. Nas abordagens quantitativas
~ obtenção de dados, tipo observação cursiva ou parti- verificamos hipóteses mal-colocadas, variáveis pouEO
- cipante, análise de conteúdo, análise documental, histórias
-
de vidª-, depQ_imentos, etc. Essas abordagens colocam-se
operacionalizadas ou operacionalizadas de modo ina-
.deq_uado, quase nenhuma preocupação com a validade
como alternativas novas para o trato de problemas e pro- e a fidedignidade dos instrumentos de medida, variáveis
cessos escolares, mas, sobretudo, trazem uma salutar tomadas corno independentes sem o serem, modelos
revisão dos parâmetros mais comumente utilizados para estatísticos a,elicados a medidas que não suportam sua~
definir o que é fazer ciência. Seus fundamentos são outros exigências básicas, por exemplo, de continuidade,
e manifestam-se pelo questionamento da neutralidade do intervalaridade,. propor.cionaLidade, •forma <!_e distr!.=_
pesquisador e dos instrumentos de pesquisa, do conceito buiç!<? dos valores,_entre outros. Constata-se, ainda,
de causalidade determinística, da objetividade baseada na ausência de consciência dos limites impostos pelos da-
idéia da imutabilidade dos fenômenos em si, da repetição dos, pelo modo de coleta, às possíveis interpretações.
estática. T~azem também um grau de exigência alto para o E, ainda, interpretações empobrecidas pelo não-dotn0io
trato com a realidade e a sua reconstrução, justamente dos fundamentos do método de análise empregado.
por postularem o envolvimento historicizado do pesqui- De outro lado, encontra-se observações casuísticas,
sador, assim como em outros modelos, por exemplo, nos s~m parâmetros teóricos, a descrição do óbvio, a elaboração
experimentais ou quase experimentais, coloca-se a neces- pobre de observações de campo conduzidas com
sidade de um domínio de técnicas de construção de instru- ~ cariedade, análises de conteúdo realizadas sem meto-
mentos sofisticadas e compreensão das análises estatísticas dolÕgia clara, incapacidade de reconstrução do dado e de
complexas em seus fundamentos. Os estudos de natureza percepção crítica de viéses situacionais, desconhecimento no
... dita "qualitativa" não podem significar uma banalização. trato da história e de estórias, precariedade na documentação
A pergunta que nos colocamos ao examinarmos e na análise documental. 'os problemas não são poucos, tanto
atentamente essas vertentes de pesquisa, a partir do que está de um lado como de outro, o que nos leva a pensar na precária
produzido na pesquisa educacional no Brasil, é se há um formação que tivemos e ternos, para uso e crítica tanto dos
domínio consistente de métodos e técnicas de investigação, métodos ditos quantitativos como dos qualitativos. Nessa
qualquer que seja a abordagem em que o pesquisador se direção, Warde (1990) S2!!1e.!!...ta, em estudo detalhado sobre
situa. No exame dos trabalhos, constatamos algumas dissertações e teses nâ área da educação, que, "muitas indicam
fragilid,ades sob essa ótica que merecem ser apontadas.
~ fu ndamental o conhecimento dos meandros filo-
s~ficos, teóricos, técnicos e metodológicos da abordagem
--
Õmãnejo amadorístico dos complexos prõcedimentos nelas
- -- / ..
!ffiplicados com a derivação de resultados científicos e sociais
.pouco relevantes".
30
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_Erecisa-se considerar o alto grau de maturidade e Pesquisa em educação e seu impacto social
!"efinamento subjetivo exigido pelas chamadas metodologias
qualitativas (André, Ludke, 1986), e pQQemos concluir que Realizamos dois trabalhos cujos objetivos eram os
~s não estejam_ sendo adequada e oportunamente mesmos: analisar como e em que magnitude pesquisas
gianipuladas, não só, como em geral se quer fazer crer, pelas realizadas nas instituições de ensino superior contribuíram
~ ndições ac!_versas·em que se realizam as pesquisas, mas para o desenvolvimento das reformas e inovações
vorq_ue a formação que está sendo dada não é adequada realizadas ou em realização no sistema educacional, nos
qem suficientee jAcrescenta Warde (1990) que há de se níveis fundamental e médio (1986 e 1994). Na medida
destacar que em que entrevistamos tanto o pessoal das universidades
como o pessoal das Secretarias de Educação, em diversos
da utilização crescente das novas metodologias exploratórias/ pontos do País, e em diferentes níveis da administração,
qualitativas decorre a composição de amostras intencionais
é-nos possível fazer uma reflexão quanto a essa relação,
ou arbitrárias, muito reduzidas e predominantemente
constituídas de alguns sujeitos; no caso das descritivas- a partir das falas dos entrevistados.
narr:ativas, a "amostra" é o próprio autor que expõe sua Os fatores aos quais se atribui, no g~r~l, à insufi-
"experiência" ou "vivência". Mesmo utilizadas nas ciente paiticiQª-ção das ins~ções de ensino superior nos
dissertações/teses que abordam diferentes assuntos _erojetos de desenvolvimento ou inovações do sist~~
(educação popular, educação e movimentos sociais e outros),
educacional, bem como a pouca utilização das pesgmsas
as novas metodologias preponderam entre os estudos
relativos aos processos e práticas intra-escolares, com
particular ênfase aos pedagógicos. Nestes estudos, são
- - - - -'- ----:--:-:--:- -
~ucacionais são: desvinculação das universidades
~
brasileiras com os níveis básicos de ensino; distanciainento
produzidos, em regra, propostas de ação (administrativas e/ das universidades em relaçª9 aos problemas prático,§;_
ou pedagógicas) para instituições ou redes de ensino. visão idealizada e teórica da universidade sobr~o ensino;
tãfta de maior procura por parte dos órgãos gover-
Qual a real validade disso? namentais em rela ão a universidade· o cai·áter teórico
É preciso reconhecer que não temos nos omitido • as pesquisas; a inexistência quase total de trabalhos
no enfrentamento desses problemas, mas que, por outro ~onjuntos; ~ a de comunica~ dos Lesultados ~ªL ,
lado, nem tudo o que se faz sob o rótulo de pesquisa gesquisas; as dificuldades d~s adrnirus~a_dor.es ~~nsmo_
educacional pode ser realmente considerado como ~m fazer a passagen:uia teroa,12ara a m:.<!!.~;.~1dez do_
fundado em princípios da investigação científica, traduzindo
com suficiente clareza suas condições de oeneralidade e
b
simultaneamente, de especialização, de capacidade de
'
..;,_____
sistema educacional na absorção d~propostas inovadoras;
~___ oucaimportânc'íã atribuída_à pes_guisa em alguns _,
segmentos governamentais-
teorização, de crítica e de geração de uma problemática ~pesquisadores entrevistados levantam problemas
própria, transcendendo pelo método não só o senso para essa colaboração, como: falta de hábito dos admi-
comum, como as racionalizações primárias. nistradores escolares de recorrer a pesqui sas para o
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des~nvolvimento de seus projetos, falta de mecanismos "em tempo real" da docência e da gestão educacional.
eficien~es de integração ~ntre órgãos produtores e órgãos Os estudos, as pesquisas têm um tempo de maturação e o
potencialmente consumidores de pesquisa educacional professor não pode suspender sua ação, nem os gestores
projetos de pesquisa excessivamente individualizados 00~ de sistemas em seus diferentes níveis de responsabilidade.
d~con_:inuidade na produção, problemas de comuni~ação Respostas imediatas e continuadas são exigidas destes e
edifusao. não dos pesquisadores. Enquanto a pesquisa questiona e
Todas essas considerações são extremamente rele- tenta compreender cada vez melhor as questões educa-
vantes e ,mere~em reflexão por parte dos pesquisadores. cionais, os administradores, técnicos e professores estão
~orém, e preciso lembr~r que, na visão do pessoal que atuando a partir dos conceitos e informações que lhes
tr ~balha nas redes ~e ensmo, bem como nas colocações foram disponibilizados em outro espaço temporal.
feitas ~elos pesquisadores de universidades também O que se produz enquanto conhecimento nas
entrevistados, observa-se uma perspectiva linear, reve- reflexões e pesquisas na academia socializa-se não de
lando _uma co~~epção muito idealista quanto à relação imediato, mas em uma temporalidade histórica, e essa
pesqmsas-poht1cas-ações educacionais. Isto não condiz história construída nas relàções sociais concretas seleciona
co~1 as perspecti ~as de produção histórica de relações, aspectos dessa produção no seu processo peculiar de
Seja quanto a Objetos da cultura, seja quanto a movi- disseminação e apropriação. Exemplo disso foi o impacto
mentos político-sociais. Há inegavelmente uma porosidade dos estudos sobre fracasso escolar e qualidade do ensino
entre o que se pr?duz na~ instâncias acadêmicas e o que em políticas nos anos 90, a partir de pesquisas e dis-
se passa nas gestoes e açoes nos sistemas de ensino cussões no final dos anos 70 e dos anos 80. É evidente
ninh . ,mas
os cru _os qu_emede1am essa inter-relação não são sim- que o enfoque que atualmente se dá nas políticas públicas
p_les, nem imediatos. Fazem parte desse processo de poro- e nas discussões de jornais e revistas, ou seminários de
sidade tod~s a~ nuances e ruídos relativos aos processos setores do trabalho em educação, assenta-se em uma
d~ comumcaçao humana, de disseminação dos conhe- construção lenta de conhecimento que se acumula em
Cimen:os, de decodificação de informação e sua inter- muitos anos.
retaçao: num ?ado co~texto de forças sociais em conflito. Mesmo quando se atualizam dados de demografia
~tas:ªº muitas. A leitura do produzido, como dizemos educacional, as perspectivas de análise fundam-se em
no jargao aca?êrnico, é polissêmica e feita no âmbito do outros dados e algumas reflexões consolidadas em um
pr?~esso de alienação histórico-social a que todos estamos tempo anterior. Para os conhecedores da questão que
sujeitos. · utilizamos como exemplo, esses problemas começaram a
. Agreg~do a ~sto há o fator tempo. Os tempos dos ser contundentemente revelados e abordados, com a
c~nhos da mvesttgação científica e da disseminação de conotação específica dada a ele hoje publicamente,
srnteses que, por meio e a partir dessas investioações se justamente em pesquisas de po1te realizadas e publicadas
produzem, é bem diferente dos tempos do :xercício no final dos anos 70 e começo dos anos 80. Depois
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destes trabalhos o que se fez foi desenvolver a mesma para dentro deste exercício, e suas marcas fazem-se sentir
trilha e mostrar que o problema só aumentava de mag- numa temporalidade diferente daquela em que se formou
nitude. Entre lá e cá alguns reflexos existiram em ini- uma base de conhecimentos e formas de pensar deter-
ciativas políticas, algumas mais locais, em instituições minadas. Por outro lado, não deixam de receber novas
específicas, outras mais amplas em Estados ou muni- informações que se confrontam ou se integram às que já
cípios, como por exemplo a implantação do ciclo básico têm. Então, este processo tem aspectos de sucessividade
no Estado de São Paulo, aí também , as "escolas pa- e de simultaneidade, num contexto institucional que é.
drão", as diferentes iniciativas de diversos governos para histórico, histórico pessoal e social. Alguns permanecem
renovação dos processos de alfabetização, desenvol- ;a escola ensi nando, outros vão desempenhar outras
vimento da leitura e escrita; os ciclos de ensino nos funções, técnicas ou ádministrativas, ou n01mativas, mas
municípios de São Paulo e Belo Horizonte, as "classes ~01tando consigo a ba_se, mesmo que transforrna~a, com
de aceleração" em muitos Estados, entre outros. 3UIUal adentraram na seara da educação. Aí, m~1fest~
Esse impacto assume as características do possível ~ -á em suas ações aquil o que construíram como
historicamentedetenninado, portanto, não assume uma feição conhecimento, a partir de seu próprio processo educativQ~
do idealizado nas reflexões e nos desejos dos pesquisadores, e de sua prática social e pro~ssio~al_:
mas a feição do factível, no confronto dos interesses e poderes ---"',___ ---- - -
que atuam no social numa dada conjuntura.
A porosidade entre pesquisa e suas aplicações Há um papel social para a consistência metodológica?
possíveis nas políticas educacionais também é deter-
minada pela formação dos quadros componentes dos Os resultados de pesquisa, na sua disseminação pelo
sistemas de ensino. Estes quadros receberam sua for- social, parece também ter alguma relação com os métodos
mação básica em um determinado tempo e lugar, tendo de trabalho dos pesquisadores em sua _possibilidade de gerar
acesso e lendo uma determinada bibliografia, ou sendo alguma credibilidade dentro e depois fora dos ambientes
por estas orientados pelas exposições de seus profes- acadêmicos. Algo ligado à plausibilidade dos resultados e de
sores. Ensinou-se a eles alguma coisa em um certo pe- sua generalização ou transformação em ações e práticas. Claro
ríodo histórico no qual formaram idéias, ideais e valores. que esta disseminação é seletiva, desigual e dependente dos
Estas aprendizagens, feitas pelas mediações de cada jogos de forças sociais em determinado momento. Este
um, transformadas pois, terão ressonância nos lugares aspecto mereceria maiores estudos.
em que suas aç(>es profissionais irão se desenvolver. É como se houvesse uma sensibilidade social ao
As idéias que se formulam pelas pesquisas, estudos, que é mais rigoroso, ou confiável, ao menos frágil
reflexões, ensaios, e que passam para as gerações em metodologicamente, não facilmente demoHvel pelos
formação num dado tempo, bem como no contínuo de furos nas coletas de dados ou análises, não facilmente
seu exercício profissional, são levadas de alguma forma contra-argumen tável. Há também, neste processo de
36 37
impacto social, os conseqüentes da aplicação de resul- CAMPOS, Maria M. M. Pesquisa participante: possi-
tados da investigação científica nos sistemas escolares bilidades para o estudo da escola. Cadernos de
-efetivos, não-efetivos - que servem de avaliação para Pesquisa, São Paulo, n. 49, p. 63-66, maio 1984.
a consistência de seus resultados.
Historicamente, além das associações com deter- DEMO, Pedro. Qualidade e represen tati vidade de
minados tipos de poder e conjuntura, para ser tomado_ pesquisa em educação. Cademos de Pesquisa, São
c~conhecimento ~ levante llenetrar..!!_o S<2fial,_o_ Paulo, n. 55, p. 76-80, nov. l 985.
~ nhecimento advindo dãs pesquisas parece necessita{_
tam bém carregar em si um certo tipo de abrangênciâ , FRANCO, Maria Laura P. B. Porque o conflito entre
nível de consistência e foco de im_p_acto, aderência ao tendência metodológica não é falso. Cadernos de
-real~ cãiido em ~ntos críticÕs con~re.!.0., fiá p;;_ Pesquisa, São Paulo, n. 66, p. 75-80, ago. 1988.
_gui sas "p.Q!i!_icamente interessantes" ante certos grupos,
mas gue mostram fôlego curto ante o ex perimentad.9 GATII, Bernardete Angelina. Pós-graduação e pesquisa
s ocialmente. Suas inconsistências metodolóoicas dão- em educação no Brasil, 1978-1981. Cadernos de
- - - o
lhes fôlego curt9. Há muítos exemplos históricos distÕ Pesquisa, São Paulo, n. 44, p. 3-17, fev. 1983.
em pesquisas de diferentes áreas.
Como se vê, muitos são os fato res presentes nesta ___ _Participação do pessoal da educação superior
tensão e na porosidade entre as pesquisas e as políticas nas refonnas ou inovações do sistema educacional.
educacionais, entendidas estas tanto como expressas Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 59, 1986.
nos aspectos de sua gestão mais ampla, como também
naquilo que se concretiza nos cotid ianos das escolas. _ __ . Pesquisa em educação: tendências e poten-
cialidades da pesquisa educacion al no Brasil. ln:
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38 39
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1994. (Textos FCC). Número Especial. n. 73, p. 67-75, maio 1990.
41
40
CAPÍTUL02
orientação de base necessária à garantia de consistência e m nenhuma ~tiva pessoal interpretaavo-cnllca sobre
vali?ade, m~s ele não po~e virar uma "camisa de força". ~ t u r a s , confronto 9e autores, dúvidas sobre
Por isso precisa ser apropnado pelo pesquisador que pelas ~ é s ou modelos econc~s~ de _gesquis~, ~eJ,tões
suas mediações cria alternativas, novas saídas, novas dos limites impostos por conceitos, no contraponto com o
soluções para o emergir dos dados e sua compreensão. » rógriocontato vivência -:- do pe~guisador cJ)m.a.~ea, e, _
O método é viY.QJ2_aí porque o pesquisador deve ter um no caso de áreas mais aplicadasjjgadas a profissoes, no
~nhecimento teórico sólido e ter experiência no trato das ·contr~nto da experiência cotidiana do trabalh~ no_g_ual se _
_guestões de sua área de investigação (um conheciment; gera umrormêclineÍÍto específico e insubsti~ve1_é gue se
de dentro, de imersão). ciiam as condições que permitem o desenvolvimento de uma
É importante, assim, não só o registro das reoula- perspectiva c1ítica dos autores,,ªº mesm~ temp..9 u_e
:idades: do visando, mas também o registro dos ev:ntos consistente com os problemas da area usubareª. A part_2.r
imprevistos,_ das surpresas, do inesperado, dos impasses -dessa base e que o pesquisador tem condições de,
e dos e~carrunhamentos e soluções adotados em campo, desencadear análises e inferências, ca!_Ocontr~_!is_a-se _..
um registro dos equívocos eventualmente cometidos das ';;o óbvio ou no senso superficial. ,
decisões ~ue redundaram em problema, dos preconc;itos - E_esquisa só se aprende fazendo. As caracteósticas "
d~ pesqu1s~dor. :an:bém, são úteis anotações das impres- do ato de pesquisar constroem-se socialmente, num ver@.:s
s?es sobre mfluencia pessoal do pesquisador nas entre- deiro processo de socialização, até de forma ão artes
vistas ou depoimentos,julgamentos que fez no processo Essa construção demanda interlocução dos menQS..e.X.p,e-
de; ~oleta, ab;orr~cimentos, etc. Tudo isso ajuda à auto- ~ s com os mais experientes. E esse é um dos nós da
cntica do propn~ pesquis~dor, dos seus modos de agir, questão em algumas áreas onde a tradição da investigação
?em como penrute defirur os limites de validade das científica vem sendo pobre, e essa pobreza reproduz-se
mformações e conclusões. Abre-se com isso uma entrada pela rarefação de interlocutores maduros no trato direto e
para a co~p~e~são da "não-neutralidade", seus coloridos, continuado com a pesquisa. Vale pensar porque nas áreas
suas const.Itmçoes e possíveis viéses. exatas ou biológicas não encontramos a disciplina
Outra questão no desenvolvimento d~q,y.isas_é., "metodologia de pesquisa". Nas áreas mais solid~ficadas
o tr~tamento ~ e dá à fundamentação e intefJ)retação as questões de método estão intimamente relacionadas
~ -De modo geral observa-se uma certa Qobr~ª-lliL com o próprio domínjo dos conhecimentos e destes_ e:as
.fo~a pela qual os autores tratam..as..informaçG~bihlie- não se separam. Nas ciências humanas uma ou ·
gráf1cas disponíveis. Qu se faz relato do que já se tem é verdade, fragmentou-se a ~ o rmP<::t- dO m~Q .em :>
~o acervo, ou seja, cópia do que está nos ]iyros e..p.ru:: · ·d d
disciplina, daí, talvez a ng1 ez o apeo-o
o
aos·
m~rnua,s e
_glnto é acessível a qualquer um.::.9uantas e quantas vezes regras de modo pouco crítico._.
64 65
~ s s a tradição de ensino na área educacional
~a-se ensinar o método "de fora" e não "de dentro".
~r exemplo, a anáJise da cons.tru_ç_ão de uma_obra..RQ!'
-9.Ê.terminado autor é uma boa via 12ara comP-reender-se 0
.... étodo. Como criou seu problema, que críticas fez e CAPÍTUL03
como, de que forma propôs novas hipóteses, em qu~
contexto, por quê?t quais seus interlocutores, de que
maneira foi aos fatos, como os levantqu e trabalhou que
dificuldades enfrentou, como contornou problem~s de P ESQUlSA EM EDUCAÇÃO: UM TEMA EM DEBATE
percurso no plano ç)e seu trabalho - tudo isto põe realidade EM REVISTA CIENTÍFICA
-
?f OUIO:) 'g SOpOJyUI sgssgp ogg1dwg g og5BµdoJdB
em Educação
gp BUUOJ Bll gpr,p!SJgA!P gpuBJg BUin UI?qUIBl gs-B!::>OSSB
sgpr,pq!q rssod gp gpBpg!JBA v ":)Jg 'so::,rg91odo11uu -
são categorias teóricas que dão conta da com lexidade
'SO:)!J?JgOU}d sopn1sg B 'g1uBd!::,\1-rnd BS!nbsgd 'OSB:) gp
~1creta do nosso enômeno e que nos eermitam tomar
sopmsg sorgd opuussBd 'sB1sodo1d gp gpBp)SJgA!P ms upo1
_çomo um Único bloco de problemas tanto as condições
UIO:) 'oppg1uo::, gp dSff?UB Bgpsgp ogA gnb 'SB:)fU::>yl g sop ~ _illle determinam o acesso, a permanência, e a _
-OJyUI gp ogu~gOJgJgq OSJgAfUll urn wggdwo::, SBA!:)1:?Wg1yu exclusão nas instiU!içõcs educacionais. como os meca-
SBJS3' ºSBpBJUgUl!Jgdxg Jgs BlJJB.m::,gwoJ SBA!lBl!JBnb s°Bp ~os inte;.nos Re~ uais esse acesso, permanência e .
-BUIBQ:) sgS![?UBSBygd SBpB1ugsg.1dB SBAfll?illd}{B sv exclusão se concretizam.
'--
73
Demo traz a discussão sobre os limites da quan- ou seja, como "desencadeados e provocadores das
tificação para aquilatar qualidade, partindo do pressu- dissertações e teses".
posto que qualidade é uma dimensão histórico-cultural e Por outro lado, essa setorização da pesquisa na
que raramente o "mais relevante" coincide com o "mais pós-graduação tem se mostrado problemática e a autora
mensurável". Por outro lado, quando se fala em qualidade "coloca em dúvida as condições de a universidade, com
científica, em geral sua atual estrutura, chamar a si toda a responsabilidade
da pesquisa e de circunscrevê-la à pós-graduação". Ainda,
restringimo-nos ao campo aludido dos estereótipos, agrava-se a questão quando se verifica que, na verdade,
a gosto do grupo social de pesquisadores que, com ele,
produz muito mais uma forma de autodefesa do que
os programas de pós-graduação em Educação não
conhecimento compro-missado com mudanças sociais. definiram com maior clareza com qual setor estão
comprometidos, o que traz indefinições sérias quanto à
Levanta, a partir da discussão sobre o que é uma "boa sua finalidade, portanto a seu modelo. Ao analisar a
educação" (que para ele é arte), que a questão da produção discente dos programas, constata que
qualidade- em uma concepção histórica - mostra que "tendencialmente, as dissertações não são produtos de
não sabemos tratar de modo adequado a questão da pesquisas" e, além disso, pelo trabalho de análise que
educação. A pesquisa educacional vem fazendo, a autora verifica um estreitamento dos
recortes temáticos e lassidão nos métodos. Longe se
passa ao largo da vida social, ~..que...tenha dotes está do encontro da especificidade da Educação como
acadêmicos em profusãQ..: Não é tão inocente, quanto objeto de conhecimento, perto se está da dissolução
interessada nos controles sociais vigentes. Por isto, em de marcos teóricos, do abandono do método e sem
parte inútil, na malor parte compe-tentemente reprodutiva. descobrir, ainda, como funciona a interdisciplinaridade.
Estar-se-ia, como se expressa Cunha (n. 77,
Em face das colocações altamente críticas de Pedro 1991), no limiar de um "ponto de inflexão"? Ou se
Demo, Warde não deixa a dever em artigo publicado no estava gerando a indefinição e o descomprornisso
número 73, em 1990. Discute, sob outro ângulo, o papel da metodológico-teórico tão confortável ao status quo,
pesquisa especificamente na pós-graduação em Educação, num processo de laissez-Jaire? Notemos que Cunha
pontuando também um cenário de crise. Faz uma revisão da (1991) declara-se mais otimista que Warde, pon-
literatura sobre a questão, levantando nela pontos críticos sobre derando que foi de dissertações e teses dos programas
os quais polemiza. Pondera que se atribui à pós-graduação de pós-graduação que saiu a quase totalidade dos livros
stricto sensu a função de ser foco produtor de pesquisa, que constituíam a bibliografia de Educação, que vinha
mas sua estrutura é de foco produtor de dissertações e teses, incorporando dezenas de novos títulos a cada ano.
e há indicações de que boa parte das pesquisas dos docentes É delas também que se originavam grande parte dos
não se mostram como eixos referenciais para os discentes, artigos publicados por revistas de bom nível da área.
78 79
O artigo de Brito e Leonardos (2001) sugere que
Mas é contundente ao afirmar que "nem tudo são flores" ainda é cedo para a proposição de um novo paradigma
e que, "apesar do tamanho da pós-graduação e do para o campo das ciências sociais e humanas, porque a
prestígio que con seguiu alcançar, muitas pesquisas emergência histórica desse paradigma virá não por im-
c hamadas por esse nome nos programas não pode m posição ou escolha, mas por maturação histórico-
reivindicar cidadania acadêm ica". Busca as raízes dos sociocultural. Sinalizam que as tentativas nos últimos anos
problemas dessa produção acadêmica na maneira como de proclamar um novo paradigma mostram na verdade
historicamente os programas de mestrado foram um embate pelo poder no meio científico, calando muito
implantados, cujas condições iniciais parecem não ter cedo os ricos debates sobre pressupostos e princípios de
sido superadas ainda no princípio dos anos 90, impe- investigação em um campo em pleno desenvolvimento.
rando a lógica de improvisação de professores e de Propõem um quadro descritivo, tentando contribuir com
alunos. Sugere como alternativas, de um lado, a trans- a discussão sobre a "q ualid ade" nas abordagens
formação de alguns cursos de mestrado em especia- qualitativas.
lização ou aperfeiçoamento de professores, com o que Alves (2001) procura mostrar a importância da
poderiam melhor cumprir seus obj etivos por meio da teorização sobre os resultados de pesqu isa para favo-
seleção de temas específicos para abordar. De outro, recer uma contribuição ampliada e melhor disseminação
a especialização dos programas de pós-graduação dos trabalhos e sua avaliação pela comunidade científica
stricto sensu, pela escolha de uma temática. uma linha mais ampla. Mostra como é importante a construção
de trabalho por programa, agrupando profissionais de modelos explicativos como etapa fundamental para
competentes na questão, "contrariando toda a tendência a construção da teoria e para a aplicação em outros
de improvisação de currículos e de professores". contextos.
~c~s artigos na rev ista discutiram a_guestão André (2001) aborda questões sobre a natureza
dl.J.@!!!_e a década de 90 . .E.ilil_década.mostra-se como dos conhecimentos produzidos à luz de mudanças em
um período ~onsolidação de ~upos de pesg!!isa..em referenciais, contextos e metodologias adotadas, discutindo
~ a r t e s do País, e como uma busca de ~tida- o rigor necessário à essa produção. Discute as condições
de no 9_!,le se refere à pesguisa ;,,- Etl~ã'o:..Emjul ho reais de produção da pesquisa em Educação e os desafios
de 2001 , o número 11 3 dos Cadernos de Pesquisa que colocam aos pesquisadores.
tem como tema em destaque a pesquisa educacional Gatti (2001) faz um ba.lanço das formas e
em algumas de suas especificidades. A preocupação cond ições de produção da pesquisa em Educação, no
dos artigos, neste início de década, volta-se para o signi- tempo, associando-as a conjunturas histórico-sociais,
ficado, o sentido, dos processos de pesqui sa educacio- questionando sobre o papel da consistência meto-
nal utilizados, a relevância e aplicabilidade de seus dológica no impacto que essas pesq uisas possam causar
resultantes, a identidade das pesquisas qualitativas, em políticas e ações educaciona is. Todos os artigos
o rigor e a qualidade do produzido.
81
80
mostram discussões de°:sas das questões levantadas, ANDRÉ, Marli E. D. A. de. Estudo de caso: seu potencial
procurando trazer uma contribuição à consolidação dos na educação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.
processos de investigação científica na área. Sinalizam 49, p. 51-54, maio 1984.
assim, uma nova postura no conjunto das produções
que, no tempo, vieram refletindo sobre a pesquisa em _ __ Texto, contexto a significado: algumas sugestões
educação e seus problemas. na análise de dados qualitativos. Cadernos de
O confronto salutar explicitado em tcx:ios esses artigos Pesquisa, São Paulo, n. 45, p. 66-70, maio 1983.
nessas três décadas foi o caldo de cultura no qual se tem
avançado nas preocupações com a pesquisa em Educação. - - - · Pesquisa em educação: buscando rigor e
Conflitos entre posturas epistemológicas, diferenciais de qualidade. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.
métcx:ios e utilização de técnicas, avanços na explicitação do 113, p. 51-64,jul. 2001.
objeto, problemas de natureza institucional fazem parte do
vivido naslidesdosquetrabalhamcom a investigação científica. BRITO, Angela X. de; LEONARDOS, Ana C. A
~ preciso reconhecer que não temos nos omitidQ...ruL identidade das pesquisas qualitativas: construção de
enfrentamenta dess_es problemas, mas que, por outro lado, um quadro analítico. Cadernos de Pesquisa, São
nem tudo o que se faz sob a égide da pesquisa educacional Paulo, n. 113, p. 7-38,jul. 2001.
P§cte ser realmente considerado como fundado em princípios
~a inves,!iga~o científica, traduzindo com suficiente.clam-za- CAMPOS, Maria M. M . Pesquisa participante:
suas condições de generalidad.e,...e.-simultaReamente_cte_ possibilidades para o estudo da escola. Cadernos
~ ~ a 1 2 a cida'!e de teorização,_d_e_críti_ca_e de de Pesquisa, São Paulo, n. 49, p. 63-66, maio
____
geração de uma problemátic~rópria, transcendendo pelQ
..... métcx:io não só o superficial, como as racionalizações primárias.
1984.
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86