Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ÍNDICE
CONAN DOYLE, cujo nome repercute por todo o mundo, é um dos escritores mais
lidos da moderna literatura inglesa. O poder extraordinário de sua imaginação, a
comunicabilidade natural do seu estilo, a espontaneidade de suas criações, fizeram dele um
escritor universal, admirado e amado por todos os povos. No Brasil, nossa gente o incluiu,
há muito, entre os seus ídolos literários. É tanto assim, que ainda agora a Melhoramentos
está lançando as obras de Conan Doyle em edições sucessivas, divididas em três linhas de
lançamentos: a Série Sherlock Holmes, a
Série Ficção Histórica e a Série Contos e Novelas Fantásticas.
Não se precisaria de mais nada para demonstrar o interêsse do público brasileiro pelas
obras de Conan Doyle. Nem de mais nada para se demonstrar a grandeza literária dêsse
verdadeiro gigante das letras inglêsas. Não obstante, as três séries acima não abrangem tôda
a obra de Conan Doyle. O famoso precursor dos métodos científicos de pesquisa policial
foi também um historiador, tendo escrito obras como “The Great Boer War” e “History of
the British Campaign in France and Flanders”. Foi ainda um dos maiores e mais lúcidos
escritores espíritas dos últimos tempos, em todo o mundo, revelando admirável
compreensão do problema espírita em seu aspecto global, como ciência, filosofia e religião.
Vemos, assim, que há mais duas series de obras — a de história e a de espiritismo —
que podem ser consideradas como os afluentes diretos dêste verdadeiro delta literário da
vida de Conan Doyle, que é a “História do Espiritismo”.
UMA CHAVE-DE-ABÓBADA
Neste livro, realmente, tôdas as qualidades do escritor e do homem estão presentes. Nêle
confinem os resultados de todos os seus estudos, de tôdas as suas experiências. Trata-se,
pois, de um livro de interêsse fundamental, para o estudo da vida e da obra do grande
escritor. E só não o chamaremos básico, porque êle não está no alicerce, mas na cúpula. Ë
aquilo a que os engenheiros chamam “chave-de-abóbada”. Para que o leitor não pense que
estamos exagerando, vamos tentar uma rápida explicação dêsse fenómeno de convergência.
Conan Doyle aplica neste livro as suas qualidades de escritors estilo direto, vivo, objetivo,
extraordinária capacidade de síntese, precisão descritiva e narrativa, agilidade quase
nervosa no encadeamento do enrêdo, brilho e colorido nas expressões. Aplica ainda a
capacidade de análise e a perspicácia sherloquianas, o rigor do método histórico, a
capacidade de visão panorâmica dos acontecimentos. Ao lado disso tudo, temos a grande
compreensão humana dos numerosos episódios e problemas enfrentados, essa compreensão
que o leva a explicar as quedas mediúnicas de alguns personagens e a perdoar
generosamente os que não souberam explicá-las. O escritor e o homem, depois de uma vida
e uma obra, se fundem neste livro, que é feito ao mesmo tempo de papel e tinta, músculos e
sangue, cérebro e nervos.
O historiador está presente neste livro, que é sobretudo uma obra de história, O romancista
e o novelista aqui estão, na múltipla tessitura das narrativas que se sucedem, capítulo por
capítulo. O autor policial, na perspicácia de apreensão dos fatos, na maneira segura com
que vai conduzindo o leitor através dos enigmas do enrêdo. O criador de ficção histórica,
no aproveitamento dos fatos reais para a construção da grande trama do livro, O autor de
histórias fantásticas, na capacidade de penetrar o mistério, de invadir o reino do invisível,
de enxergar o que apenas se entremostra nos lampejos das manifestações mediúnicas. O
espírita se manifesta no interêsse pelos fatos e pela sua interpretação, na compreensão da
grandeza e da importância do movimento espiritista mundial, O médico Arthur Conan
Doyle, o homem voltado para os problemas científicos, o pensador, debruçado sôbre as
questões filosóficas, e o religioso, que percebe o verdadeiro sentido da palavra religião —
todos êles estão presentes nesta obra gigantesca, suficiente para imortalizar um escritor que
já não se houvesse imortalizado.
Esta, pois, é uma obra de confluência. Um delta literário, no qual o fenômeno Conan Doyle
se consuma, e pelo qual, afinal, se transcende a si mesmo, para se expandir na
universalidade do movimento espírita, como revelação divina.
CRITÉRIO HISTÓRICO
Ao sair a primeira edição desta obra, a revista inglêsa “Light” comentou o equilíbrio e a
imparcialidade com que o autor se portou no trato do assunto - Uma extensa nota, assinada
por D. N. G., acentuou que os críticos haviam sido “agradàvelmente surpreendidos”, pois
Conan Doyle, conhecido então como ardoroso propagandista espírita, não a colorira “com
os mais carregados preconceitos a favor do assunto e dos seus corifeus” E acrescentava o
articulista: “Uma obra de história, escrita com prejuízos favoráveis ou contrários, seria,
pelo menos, anti-artística, pecado jamais cometido pelo autor de “The White Company”,
em nenhum dos seus trabalhos”.
Essa opinião confirma plenamente o que dissemos acima, quanto ao critério histórico
seguido por Conan Doyle na elaboração dêste livro. Aliás, êle mesmo acentua êsse critério,
ao falar do seu desejo de contribuir para que o Espiritismo tivesse a sua história, apontando
inclusive as deficiências de tentativas anteriores, como vemos no prefácio. Seu intuito, ao
elaborar êste livro, não era o de fazer propaganda de suas convicções, mas o de historiar o
movimento espírita. Para tanto, coloca-se numa posição serena e imparcial, como
observador dos fatos que se desenrolam aos seus olhos, através do tempo e do espaço.
Reconhece a amplitude do trabalho a realizar e pede auxílio a outros. Encontra em Mrs.
Lesiie Curnow uma colaboradora eficiente e dedicada, e com a sua ajuda prossegue nas
investigações necessárias, até completar a obra. Ë o primeiro a reconhecer que não fêz um
trabalho completo, pois não dispunha de tempo e recursos para tanto. Mas tem a satisfação
de verificar que fêz o que lhe era possível, e mais do que isso, o que era possível no
momento, diante da extensão e complexidade do assunto e das condições do próprio
movimento espírita de então.
A NOVA REVELAÇÃO
O PROBLEMA DA REENCARNAÇÃO
A INVASÃO ORGANIZADA
Conan Doyle se defronta, nesse capítulo, com a dificuldade de fixar uma data para o
aparecimento do Espiritismo. Lembra que Os fatos espíritas existiram desde todos os
tempos, e que os espíritas inglêses e americanos costumam indicar como data inicial do
movimento moderno a de 31 de março de 1848, que assinala o episódio mediúnico de
Hydesville.
Prefere, entretanto, começar a sua história por Swendenborg, considerando que “uma
invasão pode ser precedida pelos exploradores de vanguarda”. Reconhece, assim, a
existência de uma época a que podemos chamar a pré-história do Espiritismo, com os fatos
da Antigüidade e da Idade Média, e uma época de preparação do advento do Espiritismo, já
nos tempos modernos.
Nessa época aparecem os patrulheiros, os elementos que exercem a função de pontas-de-
lança, os que efetuam uma espécie de reconhecimento do terreno e de preparação da
“invasão organizada”, que virá logo mais. Essa concepção de Conan Doyle está de pleno
acôrdo com as explicações que os Espíritos deram a Kardec, a respeito do assunto. Só
faltou a Conan Doyle, portanto, para bem colocar o problema, o conhecimento completo da
codificação. Com êsse conhecimento, o grande escritor não teria dúvidas em admitir que o
Espiritismo, como doutrina, só apareceu no mundo a 18 de abril de 1857 — numa data
exata — aquela em que surgiram nas livrarias de Paris os primeiros volumes de “O Livro
dos Espíritos”.
Fazendo justiça a Swendenborg, a Eduardo Irving, a André Jackson Davis, “o profeta da
nova revelação”, às irmãs Fox, cuja dolorosa história é contada nestas páginas de maneira
compreensiva e ampla, Conan Doyle historia, a seguir, a propagação do movimento espírita
nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, na Alemanha, na Itália e nos demais países,
dedicando várias páginas a médiuns notáveis como Home, os irmãos Davenport, Eddy e
Holmes, Slade, Eusapia Palladino e outros.
Acompanha o desenvolvimento do interêsse pelos fatos espíritas nos meios científicos, a
realização das grandes experiências de repercussão mundial, como as de Crookes, e trata,
por fim, do papel do Espiritismo em face da guerra, do seu aspecto religioso e das
descrições do Além pelos Espíritos. Temos, assim, uma obra monumental sôbre o
Espiritismo e o movimento espírita, escrita por um dos mais notáveis autores do nosso
tempo. A publicação desta obra em português virá contribuir grandemente para maior
compreensão do Espiritismo em nosso país, inclusive nos meios espíritas.
O “PRECONCEITO CULTURAL”
NOTA DO TRADUTOR
Os estudiosos dêsses problemas não têm projetado a atenção sôbre essa diferenciação do
desenvolvimento do Espiritismo entre neolatinos e anglo-saxões, para lhe penetrar as
causas e oferecer elementos para a compreensão do interessante fenômeno.
O assunto merece atenção.
Na França, o Doutor Gustave Geley, a quem tanto deve a Medicina, fêz notáveis
estudos sôbre o ectoplasma — êsse novo elemento cuja importância cresce dia a dia e que
vem correndo parelha com o proto plasma na explicação dos fenômenos da vida; que fêz
demonstrações insofismáveis das materializações parciais, através das moldagens em cêra
fervente, impossível de obter-se por qualquer outro processo que não o da materialização de
mãos; que convidou cem cientistas para assistirem às suas experiências — muitas das quais
em plena luz e tôdas sob o mais rigoroso contrôle científico; que foi presidente do Instituto
de Metapsíquica de Paris, onde se afirmou um legítimo pioneiro; que fêz avançar
enormemente os conhecimentos da Psicologia com o seu “Do Inconsciente ao Consciente”;
o Doutor Geley, íamos dizendo, assiste ao terrível drama íntimo do Doutor Paul Gibier,
essa outra figura de cientista, a quem tanto devem a Microbiologia e os trabalhos iniciados
pelo ilustre Pasteur, dada a intolerância da chamada ciência oficial. Gibier teve que
abandonar os laboratórios e a própria pátria, onde o seu trabalho se havia tornado
impossível, e foi abrigar-se nos grandes centros norte-americanoS, deixando uma triste
advertência a outra figura ainda mais notável — Charles Richet.
Com efeito, êsse grande mestre, talvez o maior de seu tempo, que investigou tanto os
fenômenos espíritas, que, além da sua obra clássica sôbre Metapsiquica, legou—nos “Trinta
Anos de Pesquisas Psíquicas”; que assistiu aos testes de Geley com Kluski e com Eusapia
Palladino; que teve as mais notáveis provas através da correspondência cruzada; que
cunhou o vocábulo ectoplasma, por fôrça de tanto estudar essa substância, que é um
verdadeiro proteu e um novo estado da matéria a responder pelos fenômenos físicos, ou
melhor, hiperfísicos, que se passam através dos médiuns; êsse homem, que desfrutava do
respeito de seus pares como um legítimo mestre e uma das glórias da cultura francesa,
convenceu-se da legitimidade dos pontos de vista espíritas, mas temeu aquelas fôrças
negativas que haviam sacrificado o Doutor Gibier. Não teve a coragem de o confessar. Fê-
lo apenas em carta reservada ao seu amigo e opositor Ernesto Bozzano, depois de ter tido a
franqueza de erigir dezenas de hipóteses que jamais se prestariam a uma generalização
amplíssima, como a hipótese espírita.
Do outro lado, vemos na Inglaterra homens de ciência do melhor quilate organizando uma
Sociedade de Pesquisas Psíquicas que, desde 1882, vem fazendo estudos rigorosos, com
muita circunspecção e que toma, por vêzes, uma atitude hostil aos princípios espíritas, mas
acaba dando o testemunho dos fatos supra-normais, embora fuja sistemàticamente das
generalizações filosóficas.
Quem são êsses homens?
Dos mais categorizados: físicos, químicos, fisiologistas, matemáticos, Membros da
Sociedade Real, honraria raríssima concedida na Inglaterra a um homem de ciência.
Daí a atitude de Lord Dowding. Marechal do Ar da Inglaterra, primo do último rei, Lord
Dowding comandou a RAF (Royal Air Forces) durante a última guerra. Protestante, os
fatos o convenceram das verdades espíritas. Tanto bastou para que tomasse atitude pública.
Como bom inglês, não compreendia que na comunidade britânica alguém sofresse
restrições na sua liberdade, da qual uma faceta importante é a liberdade de crença.
Em conseqüência, e liderados por êle, os Espíritas inglêses conseguiram que o Parlamento
Inglês, o mais respeitável do mundo, votasse uma lei, reconhecendo o direito ao exercício
da mediunidade, com o que os sensitivos ficavam subtraidos as perseguições religiosas,
exercitadas nos têrmos de duas leis obsoletas, mas não prescritas: o Vagrancy Act e o
Witchcraft Act, através das quais mais de 50.000 médiuns já haviam sido multados ou
condenados à pena de prisão. Continuando a sua campanha, isto é, procurando levar por
diante as conseqüências da nova lei, foi obtido pelos espíritas que o Estado Maior das
Fôrças Armadas da Inglaterra determinasse que em todos os corpos de tropa onde houvesse
instalações para o serviço religioso, também as houvesse para oficiais e soldados espíritas.
A obra não poderia ser minuciosa e completa. Passa, porém, em revista os maiores médiuns
da Europa e dos Estados Unidos, desde o século passado até o comêço dêste século. É,
assim, um roteiro magnífico.
A fenomenologia espírita aí aparece bem dividida, por capítulos; os maiores médiuns são
apresentados divididos em grupos, conforme as suas peculiaridades. É feita uma crítica
muito equilibrada a médiuns e pesquisadores. O leitor atento verá que o autor não sai de
uma linha de centro, de um perfil de equilíbrio, de modo que não será nunca confundido
com um crente fanático, de vez que é, em tôdas as circunstâncias, o observador percuciente,
o filósofo sereno e o cientista que está convencido da lei do progresso, do sentido
amplíssimo da evolução geral da Vida. Êle não teme aquelas coisas que se apresentam na
zona de penumbra do pesquisador, porque usa aquilo que sabe, a fim de avaliar aquilo que
lhe falta saber.
Sir Arthur Conan Doyle não nos apresenta uma história puramente descritiva do
Espiritismo, mas, na verdade, uma história filosófica do Espiritismo.
A sua obra — unica no gênero — preenche uma lacuna na estante dos espíritas estudiosos;
mostra-lhes um mundo de coisas importantes — direi mesmo, indispensáveis — que
ignoravam. E, nessa fase do nosso desenvolvimento intelectual, é de súbito valor para os
estudantes das nossas Faculdades de Filosofia.
Achamo-la, sobretudo, inestimável para os dirigentes de sociedades espíritas. Mais
esclarecidos por ela, certamente darão novo rumo aos trabalhos ditos de efeitos físicos, já
selecionando os médiuns, já excluindo essa prejudicial assistência de curiosos, já — e nisto
reside a sua melhor lição — colocando a pesquisa psíquica num plano isento de fanatismo
religioso, de intolerância pseudo-cientí fica, sem o que tão cedo êsses fenômenos não
entrarão nos ambientes universitários, onde nem o professor Richet serve de exemplo,
porque a atitude acadêmica continua sendo a do avestruz: enterrar a cabeça na areia e negar
a tempestade.
Êste é um livro que nos faz pensar.
Que o leiam os nossos homens de ciência; que o leiam os nossos pensadores; que o leiam
aquêles que pensam que pensam. Os frutos não se farão esperar.
O AUTOR da obra que se vai ler era muito conhecido da juventude de uns cinqüenta anos
passados, como o criador de Sherlock Holmes. Naquele tempo líamos literatura neolatina
no original e anglo-saxônica através de boas traduções francesas ou em nossa língua.
Hoje a mocidade lê histórias em quadrinhos, onde o vocabulário representa apenas um
décimo do que manejávamos.
O nível baixou. Se, então, eram as biografias um aspecto pouco explorado em
literatura, hoje pouco se conhece das vidas grandes e nobres. Tanto que, quando o autor
destas linhas disse que estava traduzindo uma HISTÓRIA DO ESPIRITISMO de Sir
Arthur Conan Doyle, despertou atenção por estas coisas: que o criador de Sherlock Holmes
tivesse sido “knighted”, como se diz em inglês; que fôsse algo mais que um escritor de
contos policiais; que tivesse tido a cachimônia de levar a sério o Espiritismo e fazer, com
aquela proverbial seriedade dos escritores inglêses, uma História do Espiritismo.
Estavam certos — relativamente certos — os interlocutores de quem traça estas linhas. Por
dois motivos: o primeiro é que o nível dos contos policiais baixou; o segundo é que em
geral se ignora, nos países latinos, que os inglêses de cultura universitária não tomam
cursos de técnica superior — como em geral os latinos e particularmente os brasileiros —a
fim de serem chamados doutôres, ou como um meio fácil de fazer dinheiro. É uma questão
de educação, há muito ali resolvida e na qual andamos tateando, sem coragem de modificar
o nosso figurino. Sôbre o assunto bastaria recomendar três livros de um único escritor
inglês, representativo de brilhante período da cultura inglesa - o período vitoriano — Sir
John Ruskin — a saber: Sesame and Lulies, The Seven Lamps of Architecture e The Stone
of Venice. Na verdade o inglês de certa classe, mesmo de qualquer classe, que houvesse
atingido mais alto grau de cultura através da universidade, não tinha apenas um verniz: os
conhecimentos e o ambiente lhe haviam lapidado o espírito, transformado a compreensão
da Vida e criado novos rumos para o seu comportamento social.
Por isso o inglês dêsses níveis mais altos exercia a profissão, parcialmente, para ganhar dos
que podiam pagar sem serem explorados, parcialmente, para servir aos que não podiam
pagar, mas deviam sentir que a solidariedade humana não era mero tema para discursos
políticos de campanhas eleitorais. Paralelamente, êsses homens de padrão universitário
exercem uma atividade extra que, se por um lado contribui para o seu próprio progresso
espiritual, por outro ajuda o levantamento da cultura do povo.
Isto é, sem dúvida, um dos mais belos efeitos da concepção inglêsa de religião; esta não se
separa da vida e a vida é considerada como que vascular, segundo a expressão do
Reverendo Stanley Jones, que assim explica: “onde quer que a firamos, ela sangrará”.
Dêste jeito tem o inglês um sentido prático de religião, — que deixa de ser uma fuga para
os planos abstratos, que ficam depois dos túmulos, do mesmo passo que tem umj noção
mais objetiva de humanismo — que deixa de ser uma verbiagem excitante para ser uma
soma de conhecimentos de imprescindível aplicação à Humanidade.
Assim, não é de admirar que um Churchill cultive a pintura ainda aos oitenta anos; que um
John Ruskin vá para o campo com os universitários trabalhar na reparação de estradas que
se haviam tornado intransitáveis; que Frederic Myers, Lord Balfour, Sir William Crookes,
Sir Oliver Lodge e tantos outros, que se encontram no tôpo das graduações científicas de
várias especialidades, se apliquem, paralelamente, a outras atividades monetàriamente
improdutivas, mas que contribuem largamente para o bem-estar espiritual do povo.
Ora, todos êstes nomes do último grupo deram exemplo de compreensão de quanto o
conhecimento do porquê da vida, do porquê da diversificação das existências pode
contribuir para o bem-estar geral, depois de ter criado aquela serenidade espiritual que nos
torna altamente conscientes e nos subtrai daquele fatalismo da massa muçulmânica, que
amesquinha a criatura. Mas não quiseram basear-se em sermões mais ou menos sonoros
nem nas citações mais ou menos papagaiadas de textos bíblicos: basearam-se nos fatos. E
se o fenômeno espírita era um fato da natureza, até então pouco estudado, estudaram-no;
buscaram apreender a lei que os rege. E nisso nada viram daquele ridículo que pseudo
sábios ou pseudo religiosos procuram lançar sôbre coisas que ignoram. Para êles,
verdadeiros sábios, não existe ridículo nem imoralidade nas leis da Natureza, que são as
mesmas leis de Deus. Ridículo e imoralidade estão em nós, na nossa maneira de ver a vida;
constituem, por assim dizer, os óculos da nossa observação.
Mas voltemos a Sir Arthur Conan Doyle.
Estamos dizendo que o nível do conto policial havia baixado. Baixou, pelo menos daquela
cota em que Conan Doyle havia elevado a produção do suposto criador dêsse gênero
literário — o escritor francês Gaboriau. Mostra-nos a cronologia que o iniciador dêsse tipo
de literatura foi um escritor americano, também espírita e certamente um médium
inconsciente de suas faculdades cripto-psíquicas — o grande poeta americano Edgard Allan
Poe, autor do Mary Roger Case e outros contos policiais. Mas não desgarremos; frizemos
um contraste essencial: enquanto o policial atual é violento, Sherlock é suave; aquêle usa a
fôrça muscular, êste o vigor do raciocínio. Dir-se-ia que, mesmo antes de se tornar espírita,
Sir Arthur marcava, na sua obra popularíssima, a superioridade do Espírito sôbre a Matéria,
da Inteligência sôbre a Fôrça Física, do Conhecimento sôbre a Pistola Colt.
E já que entramos por êste raciocínio, seja-nos permitido admitir que as cidades, como as
famílias, parece que têm um certo poder atrativo para determinados tipos de Espíritos.
Dirse-ia que elas possuem aquilo que os orientais chamam de karma coletivo, como o
possuem as famílias, e que nos indivíduos é uma espécie de magnetismo espiritual. Não
será isso que cerca de encanto a vida de certas universidades e de certas cidades, como, por
exemplo, Florença?
Não estará no mesmo caso a cidade escocesa de Edimburgo? De onde o seu nome? De um
certo rei Edwin, de Northumber. land, que a fundou no século VII? Edimburgo que foi
elevada a cidade por Carlos 3º em 1633, é considerada mais uma cidade intelectual do que
industrial, pôsto que seja um importante centro de tecidos de lã, algodão e sêda; tinha
fábricas de cristais, destilarias e fundições, além de importante indústria livreira. Mas os
seus estabelecimentos de ensino entre os quais se destacam a universidade, a escola de
medicina, o conservatório de belas artes e a escola de artes e ofícios, lhe valeram o epíteto
de Nova Atenas.
Entre os filhos notáveis que a honram — e dos quais Sir Arthur Conan Doyle não é dos
menos celebrados — contam-se John Ogilby, nascido em 1600, tradutor e editor das obras
de Virgílio e de Homero e das Fábulas de Esopo; a família Blair, entre cujos membros
sobressaem John Blair, ligado à história de sua independência e Hugh Blair (1718, 1800),
notável orador e professor na universidade de Saint Andrews, onde seu nome foi ligado à
cadeira de retórica e belas letras; a célebre família Napier ou Neper, segundo a grafia latina,
onde aparecem destacados vultos na Marinha e no Exército, mas cujo tronco ilustre foi
John Napier ou Joannis Neper, grande matemático e inventor dos logaritmos ditos
neperianos, cuja publicação apareceu com êste longo título, ao gôsto da época:
Logarithmorum canonis descripto seu Arithmeticorum supáginasutatwnum marabilis
abbreviatio, ejusque usus in utraque trigonometria, ut etiam in omni logistica matematica
amplissimi, jacilimi et expeditissimi explicatio, auctore ac inventore Joanne Nepero, barone
Merchistonii, Scoto (1614).
Não esqueçamos David Hume, filósofo e historiador (1711. 1776), que nos deixou um
Tratado sôbre a Natureza Humana, Ensaios Morais e Políticos, História Natural da
Religião, Ensaios Sôbre a Imortalidade da Alma, além de vários outros trabalhos sôbre
moral e religião e, de parceria com outros advogados, uma História da Inglaterra. Por fim
destaquemos um típico escritor escocês — Sir Walter Scott (1771 - 1832). Iniciando-se em
1802, com o Canto da Fronteira Escocesa, escreveu mais trinta obras, entre as quais são
mundialmente conhecidas e apreciadas A Dama do Lago, que inspirou a Rossini a ópera do
mesmo nome, Guy Mannering; A Prisão de Edimburgo; A Noiva de Lammermoor, de onde
foi extraído o libreto da ópera de Donizetti, Lucia de Lanrmermoor; A Formosa Donzela de
Penh e Ivanhoe, talvez, de suas obras a mais conhecida e que conta maior número de
traduções.
Tôda essa tradição magnífica de sua cidade deve ter influído poderosamente na formação
espiritual de Sir Arthur. Sabe-se que seu avô era o caricaturista de nomeada — John Doyle,
sôbre o qual, entretanto, temos poucas indicações. Os traços genealógicos de que dispomos
dizem que seu pai, Charles Doyle, era um artista. Quem seria êsse artista? Certamente era
Sir Francis Hastings Charles Doyle, poeta nascido no Condado de York, em 1810 e morto
em 1888. Foi funcionário da administração e publicou várias obras, entre as quais Poemas
Diversos; Dois Destinos; Édipo, Rei de Tebas; Os Firnerais do Duque; A volta dos
Guardas, etc. Foi professor de poética na Universidade de Oxford, entre 1867 e 1872.
Teve, assim, o jovem Arthur um ambiente propício, quer em sua casa e em sua pátria, quer
no estrangeiro, onde seu pai estêve a serviço do govêrno, pois se sabe que o nosso
biografado fêz parte de sua educação na Alemanha. Nascido a 22 de maio de 1859, sua
educação foi feita sucessivamente no Stonyhurst College, na Alemanha e na Universidade
de Edimburgo, onde, em 1881, terminou o curso de medicina (M.B.) e quatro anos mais
tarde o doutorado em medicina (M.D.)
Sabe-se que viajou muito pelas regiões árticas e pela costa ocidental da África.
Escreveu algumas obras na juventude, que devem ter passado inadvertidas ou que êle
próprio teria retirado da circulação, pois a primeira citada cronolôgicamente é “A Study in
Scarlet”, publicada em 1887, quando já estava clinicando em Southsea. No ano seguinte
publicou outro romance — Micah Clarck. A história da rebelião de Monmouth. “The sign
of Four”, em 1889 e em 1891 “The White Company”, que obteve grande sucesso, e que foi
seguida por um romance da época de Du Guesclin.
Nesse ano de 1891 Sir Arthur Conan Doyle conquistou imensa popularidade com as
“Aventuras de Sherlock Holmes”, que apareciam em The Strend Magazine. Como
indicamos pouco antes, dizem que o seu inspirador foi Emile Gaboriau, escritor francês que
havia fracassado no gênero romance e que em 1866 publicara, com estrondoso sucesso, em
folhetim em Le Pays, um romance judiciário policial intitulado l’Affaire Levou ge, que lhe
valera grande nomeada e o sucesso para mais dez outras obras no gênero.
É possível. Mas é mais provável que, dadas as inclinações artísticas e literárias de Sir
Arthur, tivesse êle conhecido tôda a obra de Edgard Allan Poe, que é, ao nosso ver, o
verdadeiro criador do conto e do romance policial, quer quanto às características literárias,
quer quanto à precedência histórica. Em nossa opinião, o criador de Sherlock está mais
próximo dos métodos de raciocínio de Poe, que dos de Gaboriau.
Com a importância literária e a popularidade de Sherlock, cujas aventuras se iniciam em “A
Study in Scarlet”, a prática da medicina de Sir Arthur Conan Doyle passa para segundo
plano, à medida que cresce o escritor. Em 1893 reaparece o herói nas “Memórias de
Sherlock Holmes”, seguidas de “O Cão dos Baskervill.es”, em 1902 e de “A Volta de
Sherlock Holmes” em 1905.
Enganam-se, porém, os que pensam que Sir Arthur haja cultivado apenas êste gênero
literário. Já em 1896 publicava êle estudos históricos em “As Explorações do General
Gerard” e em “As Aventuras de Gerard”. Antes, porém, em 1894, havia publicado “A
História de Waterloo”, na qual Sir Henry Irving havia tomado parte tão saliente. Em 1909
lançou “The Fires oj Fate” e “The House of Tem periey” e em 1913 outro volume
interessante — “The Poison Belt”.
A pena de Sir Arthur Conan Doyle estêve, entretanto, ao serviço da pátria, nos momentos
críticos. Sem ser um político, na acepção limitada do vocábulo, soube êle prestar valiosos
serviços políticos ao seu país. Pode a gente discordar de seu ponto de vista particular, em
relação à tese por êle defendida; mas há que reconhecer-se que êle não procurou servir a um
partido, mas à comunidade britânica. E o fêz com honestidade e com elegância. É assim
que, em defesa do Exército Britânico na África do Sul, publicou em 1900 “The Great Boer
War” e, dois anos depois, um estudo mais minucioso dessa guerra, intitulado “The War in
South Africa; its Causes and Conduct”.
Durante a primeira Grande Guerra sua pena estêve ao serviço dos Aliados. Escreveu
abundantemente. Entre outros trabalhos, largamente traduzidos, podemos citar “Cause and
Conduct of the World War”, que logrou traduções em doze línguas.
Suas preocupações pelas colônias inglesas não eram do tipo das de um agente do govêrno,
mas das de um pensador de raça. Iniciando-se nesse gênero com a guerra dos boers, pode a
rigor dizer-se que aquêles dois livros pouco antes citados foram precedidos por “The
Tragedy of the Korosko”, em 1898, que é uma pequena história do Sudão anglo-egípcio e
“The Green Flag”, que versa ainda assuntos africanos.
Neste grupo se inclui uma obra lançada em 1906, considerada a sua obra-prima — “Sir
Nigel.”
Como obras menores e de temas variados — tôdas, porém, defendendo uma tese de subido
interêsse, podem citar-se, cronolôgicamente, a partir de 1894, até 1912, as seguintes:
“Round the Red Lamp”, The Stark Mumro Letters”, “A Duet with an Occasional Chorus”,
“Tlironglt the Magic Door”, “A Modern Morality Plity”, “The Crime oJ the Congo”,
“Songs of tire Rüad” e “Tire Last World”.
Entre as suas últimas obras uma se conta, de grande importância e que alcança seis
volumes, publicados entre 1915 e 1920: “History of the Britislr Compaign in France and
Flanders” e que representa a sua última contribuição para a sua terra e para a sua gente no
setor político propriamente dito.
É que, a essa altura, grandes médiuns inglêses, americanos e da Europa continental haviam
chamado a atenção de conspícuas figuras do mundo científico inglês. Os fenômenos que em
inglês se diziam do neo-espiritismo provocavam estudos e polêmicas, entusiasmos e
revoltas. Em 1882, fundara-se, em razão disto, a Society for Psychical Research; os nomes
mais brilhantes dos céus da ciência se haviam ligado a essa criteriosa organização que, se
críticas merece, certamente é por sua teimosia em não querer reconhecer numa
fenomenologia amplíssima e constatada sob os mais rigorosos métodos de ensaio, que a
geratriz de tantos fenômenos eram os Espíritos dos mortos e, por vêzes também, os
Espíritos dos vivos.
— Que nomes prestigiavam a SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH?
— Os mais brilhantes, com efeito, entre outras notabilidades, o Professor Sidgwick, Sir
William Crookes, F. W. H. Myers, Frank Podmore, Professor Jomes H. Hyslop, Doutor R.
Hodgson, Professor Charks Richet, Sir Oliver Lodge, Professor C. G. Jung, Sir William
Barrett, Doutor Gustave Geley, Doutor Edmund Gurney, Professor Von Schrenck-Notzing,
Professor Henry Bergson e tantos outros, muitos dos quais eram membros da Sociedade
Real e da Academia Francesa, vale dizer, portadores das mais altas distinções honoríficas.
Sir Arthur Conan Doyle ingressou na Sociedade de Pesquisas Psíquicas. Convencido do
fenômeno da manifestação do Espírito dos mortos, aderiu à causa do Espiritismo. Fêz
pesquisas, por conta própria, com os maiores médiuns da Europa. Lobrigando o alcance
religioso e filosófico de tais fenômenos, a êles se dedicou e procurou servir com a
honestidade e com a segurança que lhe permitiam um caráter inteiriço e uma enorme
bagagem de conhecimentos científicos.
Não se limitou a ver e ouvir. Viajou, fazendo conferências de propaganda. Estêve mais de
uma vez nos Estados Unidos, na África, na Europa continental e no Oriente, até a Austrália
e a Nova Zelândia.
Entre outros escritos sôbre o assunto publicou em 1918 “A New Revelation”, dois volumes
de recordações dessas viagens, dos quais o último, saído em 1924, tem por título “My
Memories and Adventures”.
Em 1926 lançou em dois volumes “History o! the Spiritualism”, que tivemos o ensejo de
traduzir agora para a editôra “O Pensamento”, precedendo-a destas ligeiras notas
biográficas e de um prefácio à edição brasileira.
Pode dizer-se que é a única História do Espiritismo surgida até agora. Fora dela o que
apareceu até aqui não passa de estudo limitado no tempo e no espaço e que, de forma
alguma pode emparelhar-se com o presente volume onde, além da história descritiva, se
encontra, realmente, muito de filosofia da história do Espiritismo.
Estas notas foram escritas para mostrar ao leitor menos familiarizado com as letras inglêsas
que Sir Arthur Conan Doyle não é apenas o criador de Sherlock e o escritor de contos
policiais:
é uma figura expressiva nas letras inglêsas e uma das figuras a que o Espiritismo —
inclusive o Espiritismo de feição religiosa — muito deve. Em plano internacional a sua
obra se inscreve logo depois da de Allan Kardec e se alinha com a dêsses luminares que se
chamaram Ernesto Bozzano, Léon Denis, Camille Flammarion, Alexander Aksakof, Vale
Owen e Stainton Moses.
Os espíritas de fala portuguêsa estão de parabéns com a apresentação em nossa língua, da
obra magnífica de Sir Arthur Conan Doyle.
ESTA obra surgiu de pequenos capítulos sem conexão, terminando numa narrativa que
abrange, de certo modo, a história completa do movimento espírita (1). Sua gênese requer
uma ligeira explicação. Eu havia escrito alguns estudos sem qualquer objetivo ulterior a não
ser o de me proporcionar, e a outras pessoas, uma visão clara do que se me afigurava
episódios importantes no moderno desenvolvimento espiritual do gênero humano.
Compreendiam estudos sôbre Swendenborg, Irving, A. I. Davis, sôbre o incidente de
Hydesville, sôbre a história das irmãs Fox, sôbre os Eddys e sôbre a• vida de D.D. Home.
Êstes já se achavam prontos, quando me ocorreu a idéia de ir mais adiante, dando uma
história mais completa do movimento espírita, mais completa do que as até então
publicadas — uma história que tivesse a vantagem de ser escrita de dentro e com um
pessoal conhecimento íntimo dos fatôres característicos dêsse moderno desenvolvimento.
É realmente curioso que êsse movimento, que muitos de nós consideramos como o mais
importante na história do mundo desde o episódio de Jesus Cristo, jamais tenha tido um
historiador, entre os que a êle estavam ligados, e que possuisse uma larga experiência
pessoal de seu desenvolvimento. Mr. Frank Podmore reuniu um grande número de fatos e,
desprezando os que não se ajustavam aos seus propósitos, esforçou-se por sugerir a desvalia
dos restantes, especialmente os fenómenos físicos que, no seu modo de ver, eram
principalmente tidos como produto da fraude. Há uma história do Espiritismo por Mr.
McCabe, que reduz tudo a fraude e que é, ela mesma, uma fraude, desde que o público
compraria um livro com êsse título certo de que era um registro ao invés de uma
mistificação. Há também uma história por J. Arthur Hill, escrita do ponto de vista
estritamente da pesquisa psíquica e que se acha muito longe dos fatos reais prováveis. A
seguir temos: “Moderno Espiritismo Americano: um Registro de Vinte anos” e “Milagres
do Século XIX”, pela grande e esplêndida propagandista que é a Senhora Emma Hardinge
Britten, mas êstes livros apenas se ocupam de fases, embora sejam muito valiosos.
Finalmente — e o melhor de todos — há a “Sobrevivência do Homem após a Morte”, pelo
Reverendo Charles L. Tweedale. Mas se trata, antes, de uma bela exposição relacionada
com a verdade do culto do que uma história continuada. Há histórias gerais do Misticismo,
como as de Ennetnoser e Howitt, mas não há nenhuma história clara e compreensiva dos
desenvolvimentos sucessivos dêsse movimento universal. Quando êste entrava para o prelo
apareceu um ittilíssimo compêndio de fatos psíquicos, por Campbell-Holms. O seu título
“Os Fatos da Ciência Psíquica e a Filosofia” indica, entretanto, que não pode ser
apresentado como uma história metódica.
É claro que semelhante trabalho necessitava muito de investigação — muito mais do que
lhe poderia dedicar em minha vida ocupadíssima. É verdade que, de qualquer modo, o meu
tempo era dedicado a êle, mas a literatura é vasta e havia muitos aspectos do movimento
que me atraíam a atenção. Em tais circunstâncias solicitei e obtive a leal cooperação de Mr.
W. Leslie Curnow, cujos conhecimentos do assunto e cuja habilidade demonstravam ser
inapreciáveis. Êle trabalhou assiduamente nessa vasta mina; separou minérios e escória e
deu-me enorme assistência em todos os sentidos. Inicialmente eu não esperava mais que
matéria-prima, mas ocasionalmente êle me apresentava metal puro, do qual me servi,
apenas alterando-o de maneira a ter o meu ponto de vista pessoal. Não posso exprimir a leal
assistência que me foi dada; e se não inclui o seu nome com o meu no tôpo dêste livro, foi
por motivos que êle compreende e com os quais concorda.
É impossível fixar uma data para as primeiras aparições de uma fôrça inteligente
exterior, de maior ou menor elevação, influindo nas relações humanas. Os espíritas
tomaram oficialmente a data de 31 de março de 1848 como o comêço das coisas psíquicas,
porque o movimento foi iniciado naquela data. Entretanto não há época na história do
mundo em que não se encontrem traços de interferências preternaturais e o seu tardio
reconhecimento pela humanidade. A única diferença entre êsses episódios e o moderno
movimento é que aquêles podem ser apresentados como casos esporádicos de extraviados
de uma esfera qualquer, enquanto os últimos têm as características de uma invasão
organizada. Como, porém, uma invasão poderia ser precedida por pioneiros em busca da
Terra, também o influxo espírita dos últimos anos poderia ser anunciado por certo número
de incidentes, susceptíveis de verificação desde a Idade Média e até mais para trás. Uma
data deve ser fixada para início da narrativa e, talvez, nenhuma melhor que a da história do
grande vidente sueco Emmanuel Swedenborg, que possui bons títulos para ser considerado
o pai do nosso novo conhecimento dos fenômenos supra normais.
Quando os primeiros raios do sol nascente do conhecimento espiritual caíram sôbre a
Terra, iluminaram a maior e a mais alta inteligência humana, antes que a sua luz atingisse
homens inferiores. O cume da mentalidade foi o grande reformador e médium clarividente,
tão pouco conhecido por seus prosélitos, qual foi o Cristo.
Para compreender completamente um Swedenborg é preciso possuir-se um cérebro de
Swedenborg; e isto não se encontra em cada século. E ainda, pela nossa fôrça de
comparação e por nossa experiência dos fatos desconhecidos para Swedenborg, podemos
compreender, mais claramente do que êle, certas passagens de sua vida. O objeto do
presente estudo não é tratar o homem como um todo, mas procurar situá-lo no esquema
geral do desdobramento psíquico aqui abordado, do qual a sua própria Igreja, na sua
estreiteza, o impediria.
Swedenborg era, sob certos aspectos, uma viva contradição para as nossas generalizações
psíquicas, porque se costuma dizer que as grandes inteligências esbarram no caminho da
experiência psíquica pessoal. Uma lousa limpa é, por certo, mais apta para nela escrever-se
uma mensagem. O cérebro de Swedenborg não era uma lousa limpa, mas um emaranhado
de conhecimentos exatos de susceptível aquisição naquele tempo. Nunca se viu tamanho
amontoado de conhecimentos. Êle era, antes de mais nada, um grande engenheiro de minas
e uma autoridade em metalurgia. Foi o engenheiro militar que mudou a sorte de uma das
muitas campanhas de Carlos 12, da Suécia. Era uma grande autoridade em Física e em
Astronomia, autor de importantes trabalhos sôbre as marés e sõbre a determinação das
latitudes. Era zoologista e anatomista. Financista e político, antecipou-se as conclusões de
Adam Smith. Finalmente, era um profundo estudioso da Bíblia, que se alimentara de
teologia com o leite materno e viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de vida.
Seu desenvolvimento psíquico, ocorrido aos vinte e cinco anos, não influiu sôbre a sua
atividade mental e muitos de seus trabalhos científicos foram publicados após essa data.
Com uma tal mentalidade, é muito natural que fôsse chocado pela evidência das fôrças
supranormais, que surgem no caminho de todo pensador, mas o que não é natural é que
devesse êle ser o médium para tais fôrças. Em certo sentido a sua mentalidade lhe foi
prejudicial e lhe adulterou os resultados, pôsto que, de outro lado, lhe tivesse sido de grande
utilidade. Para o demonstrar basta considerar os dois aspectos sob os quais o seu trabalho
pode ser encarado.
O primeiro é o teológico. Á maioria das pessoas que não pertencem ao rebanho
escolhido afigura-se o lado inútil e perigoso de seu trabalho. Por um lado, aceita a Bíblia
como sendo, de modo muito particular, uma obra de Deus; por outro lado, sustenta que a
sua verdadeira significação é inteiramente diferente de seu óbvio sentido e que êle — e só
êle — ajudado pelos anjos, é capaz de transmitir aquêle verdadeiro sentido. Essa pretensão
é intolerável. A infalibilidade do Papa seria uma insignificância comparada com a
infalibilidade de Swedenborg, se tal fôsse admitido. Pelo menos o Papa é infalível quando
profere um veredito em matéria de doutrina ex-cátedra, acolitado por seus cardeais. A
infalibilidade de Swedenborg seria universal e irrestrita. Além disso suas explicações nem
ao menos se acomodam à razão. Quando, visando apreender o verdadeiro sentido de uma
mensagem de Deus, temos que admitir que um cavalo simboliza uma verdade intelectual,
que um burro significa uma verdade científica, uma chama quer dizer melhoramento, e
assim por diante com uma infinidade de símbolos, parece que nos encontramos no reino da
imaginação, que apenas pode ser comparado com as cifras que alguns críticos engenhosos
pretendem ter descoberto nas peças de Shakespeare. Não é assim que Deus manda a Sua
verdade a êste mundo. Se tal ponto de vista fôsse aceito, o credo de Swedenborg seria
apenas a matriz de mil heresias; regrediríamos e iríamos encontrar-nos novamente entre as
discussões e os silogismos dos escolásticos medievais. As coisas grandes e verdadeiras são
simples e compreensíveis. A teologia de Swedenborg nem é simples nem inteligível. E isto
representa a sua condenação.
Entretanto, quando entramos na sua fatigante exegese das Escrituras, onde cada coisa
significa algo diferente daquilo que óbviamente significa, e quando chegamos a alguns dos
resultados gerais de seu ensino, êles não se acham em desarmonia com o moderno
pensamento liberal, nem com o ensino recebido do Outro Lado, desde que se iniciaram as
comunicações. Assim, a proposição geral de que êste mundo é um laboratório de almas, um
campo de experiências, no qual o material refina o espiritual, não sofre contestação. Ele
repele a Trindade no seu sentido comum, mas a reconstitui de maneira extraordinária, que
também seria impugnada por um Unitário. Admite que cada sistema tem a sua finalidade e
que a virtude não é privativa do Cristianismo. Concorda com o ensino espírita em procurar
o verdadeiro sentido da vida de Jesus Cristo no seu poder como exemplo e repele a
expiação e o pecado original. Vê no egoísmo a raiz de todo o mal e admite como essencial
um egoísmo sadio, na expressão de Hegel. Quanto aos problemas sexuais, suas idéias são
liberais até ao relaxamento. Considera a Igreja de absoluta necessidade, sem o que ninguém
se entenderia com o Criador. Em tamanha confusão de idéias, espalhadas a torto e a direito
em grandes volumes, escritos num latim obscuro, cada intérprete independente seria capaz
de encontrar sua nova religião particular. Mas não é aí que reside o mérito de Swedenborg.
Êsse mérito realmente seria encontrado em suas fôrças psíquicas e nas suas informações
psíquicas, que teriam sido muito valiosas se jamais de sua pena houvesse brotado uma
palavra sôbre Teologia. É para essas fôrças e para essas informações que nos voltamos
agora.
Ainda menino, Swedenborg teve as suas visões. Mas êsse delicado aspecto de sua natureza
foi abafado pela extraordinária-mente prática e enérgica idade viril. Entretanto, por vêzes
veio ela à tona, em tôda a sua vida e muitos exemplos foram registrados, para mostrar que
possuía poderes geralmente chamados vidência a distância”, no qual parece que a alma
deixa o corpo e vai buscar uma informação a distância, voltando com notícias do que se
passa alhures. Não é uma peculiaridade rara nos médiuns e pode ser comprovada por
milhares de exemplos entre os sensitivos espíritas; mas é rara nos intelectuais e também
rara quando acompanhada por um estado aparentemente normal do corpo quando ocorre o
fenômeno.
Assim, no conhecidíssimo caso de Gothenburg, onde o vidente observou e descreveu um
incêndio em Estocolmo, a trezentas milhas de distância, com perfeita exatidão, estava êle
num jantar com dezesseis convidados, o que e um valioso testemunho, O caso foi
investigado nada menos que pelo filósofo Kant, que era seu contemporâneo.
Não obstante, êsses episódios ocasionais eram meros indícios de fôrças latentes, que
desabrocharam sübitamente em Londres, em abril de 1744. É de notar-se que, conquanto o
vidente fôsse de boa família sueca e educado entre a nobreza sueca, foi nada menos que em
Londres que os seus melhores livros foram publicados, que a sua iluminação se iniciou e,
finalmente, que morreu e foi sepultado. Desde o dia de sua primeira visão até a sua morte,
vinte e sete anos depois, estêve êle em contínuo contato com o outro mundo. “Na mesma
noite — diz de — o mundo dos Espíritos, do céu. e do inferno, abriu-se convincentemente
para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de tôdas as condições.
Desde então diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente
desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com
anjos e Espíritos”.
Em sua primeira visão Swedenborg fala de “uma espécie de vapor que se exalava dos poros
de meu corpo. Era um vapor aquoso muito visível e caia no chão, sôbre o tapête. É uma
perfeita descrição daqueles ectoplasmas que consideramos a base dos fenômenos físicos. A
substância foi chamada, também, ideoplasma, porque instantâneamente toma a forma que
lhe dá o Espírito. No seu caso, conforme a sua descrição, ela se transformava em vermes, o
que representava um sinal de que os seus Guias lhe desaprovavam o regime alimentar e era
acompanhada por um aviso pela clarividência, de que devia ser mais cuidadoso a êsse
respeito.
Que é que pode fazer o mundo com essa narrativa? Dizer que tal homem era um louco;
mas, nos anos que se seguiram, sua vida não deu sinais de fraqueza mental. Ou podiam
dizer que êle mentia. Mas êste era famoso por sua estrita vivacidade. Seu amigo Cuno,
banqueiro em Amsterdam, assim dizia dêle: “Quando me olhava, com os sorridentes olhos
azuis, era como se êles estivessem falando a própria verdade”. Seria então auto-
sugestionado e honestamente enganado? Temos que enfrentar a circunstância de que, em
geral, as observações que fazia eram confirmadas desde então por numerosos observadores
dos fenômenos psíquicos. A verdade é que foi o primeiro e, sob vários aspectos, o maior
médium, de um modo geral; que estava sujeito a erros tanto quanto aos privilégios
decorrentes da mediunidade; que só pelo estudo da mediunidade seus poderes serão
compreendidos e que, no esfôrço de o separar do Espiritismo, a sua Nova Igreja mostrou
absoluta incompreensão de seus dons e da posição que a ela cabia no esquema geral da
Natureza. Como um grande pioneiro do movimento espírita, sua posição tanto é
compreensível quanto gloriosa. Como uma figura isolada com poderes incompreensíveis,
não há lugar para êle em qualquer esquema do pensamento religioso, por mais largamente
compreensivo que seja.
É interessante notar que êle considerava os seus poderes intimamente relacionados com o
sistema respiratório. Como o ar e o éter nos envolvem, é possível que alguns respirem mais
éter do que ar e, assim, alcancem um estado mais etéreo. Sem a menor dúvida é esta uma
maneira elementar e grosseira de considerar as coisas. Mas essa idéia se derrama no
trabalho de muitas escolas de psiquismo. Lourence Oliphant, que aliás não tinha ligação
com Swedenborg, escreveu um livro, Sympneumata, para o provar, O sistema indiano de
Ioga, repousa sôbre a mesma idéia. Entretanto, quem quer que tenha visto um médium cair
em transe, deve ter notado a característica inspiração de ar com que se inicia o processo e as
profundas expirações com que termina. Para a Ciência do futuro aqui está um promissor
campo de estudos. Nisto, como em qualquer outro assunto psíquico, é necessário cautela. O
autor conheceu muitos casos em que ocorreram lamentáveis resultados que foram a
conseqüência de um desavisado emprêgo da respiração profunda nos exercícios psíquicos.
Como a fôrça elétrica, os poderes espirituais têm um emprêgo variado, mas o seu manejo
requer conhecimentos e precauções.
Swedenborg resume o assunto dizendo que quando se comunicava com os Espíritos,
durante uma hora respirava profundamente, “tomando apenas a quantidade de ar necessária
para alimentar os seus pensamentos”. De lado essa peculiaridade, Swedenborg era normal
durante as suas visões, conquanto preferisse, na ocasião, estar só. Parece que teve o
privilégio de examinar várias esferas do outro mundo e, conquanto as suas idéias sôbre
teologia tivessem marcado as suas descrições, por outro lado a sua imensa cultura lhe
permitiu excepcional poder de observação e de comparação. Vejamos quais os principais
fatos que suas jornadas nos trouxeram e até onde êles coincidem com os que, desde então,
têm sido obtidos pelos métodos psíquicos.
Verificou que o outro mundo, para onde vamos após a morte, consiste de várias esferas,
representando outros tantos graus de Luminosidade e de felicidade; cada um de nós irá para
aquela a que se adapta a nossa condição espiritual. Somos julgados automàticamente, por
uma lei espiritual das similitudes; o resultado é determinado pelo resultado global de nossa
vida, de modo que a absolvição ou o arrependimento no leito de morte têm pouco proveito.
Nessas esferas verificou que o cenário e as condições dêste mundo eram reproduzidas
fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade. Viu casas onde viviam famílias,
templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais, palácios
onde deviam morar os chefes.
A morte era suave, dada a presença de sêres celestiais que ajudavam os recém-chegados na
sua nova existência. Êsses recém-vindos passavam imediatamente por um período de
absoluto repouso. Reconquistavam a consciência em poucos dias, segundo a nossa
contagem.
Havia anjos e demônios, mas não eram de ordem diversa da nossa: eram sêres humanos,
que tinham vivido na Terra e que ou eram almas retardatárias, como demônios, ou
altamente desenvolvidas, como anjos.
De modo algum mudamos com a morte. O homem nada perde pela morte: sob todos os
pontos de vista é ainda um homem, conquanto mais perfeito do que quando na matéria.
Levou consigo não só as suas fôrças, mas os seus hábitos mentais adquiridos, as suas
preocupações, os seus preconceitos.
Tôdas as crianças eram recebidas igualmente, fôssem ou não batizadas. Cresciam no outro
mundo; jovens lhes serviam de mães, até que chegassem as mães verdadeiras.
Não havia penas eternas. Os que se achavam nos infernos podiam trabalhar para a sua
saída, desde que sentissem vontade. Os que se achavam no céu não tinham lugar
permanente:
trabalhavam por uma posição mais elevada.
Havia o casamento sob a forma de união espiritual no mundo próximo, onde um homem e
uma mulher constituíam uma unidade completa. É de notar-se que Swedenborg jamais se
casou.
Não havia detalhes insignificantes para a sua observação no mundo espiritual. Fala de
arquitetura, do artesanato, das flôres, dos frutos, dos bordados, da arte, da música, da
literatura, da ciência, das escolas, dos museus, das academias, das bibliotecas e dos
esportes. Tudo isso pode chocar as inteligências convencionais, conquanto se possa
perguntar por que toleramos coroas e tronos e negamos outras coisas menos materiais.
Os que saíram dêste mundo velhos, decrépitos, doentes, ou deformados, recuperavam a
mocidade e, gradativamente, o completo vigor. Os casais continuavam juntos, se os seus
sentimentos recíprocos os atraíam. Caso contrário, era desfeita a união. “Dois amantes
verdadeiros não são separados pela morte, de vez que o Espírito do morto habita com o do
sobrevivente, até à morte dêste último, quando se encontram e se unem, amando-se mais
ternamente do que antes”.
Eis algumas amostras tiradas da massa enorme de informações mandadas por Deus através
de Swedenborg. Elas têm sido reiteradas pela bôca e pela pena dos nossos iluminados
espíritas. O mundo as desprezou, taxando-as de concepções insensatas. Contudo, êstes
novos conhecimentos vão abrindo caminho; quando forem aceitos inteiramente, a
verdadeira grandeza da missão de Swedenborg será reconhecida, desde que se ponha de
lado a sua exegese bíblica.
A Nova Igreja, fundada para divulgar os ensinos do mestre sueco, converteu-se em
elemento negativo, em vez de ocupar o seu verdadeiro lugar, como fonte e origem do
conhecimento psíquico. Quando, em 1848, desabrochou o movimento espírita; quando
homens como Andrew Jackson Davss o sustentavam através de escritos filosóficos e de
poderes psíquicos, que dificilmente se distinguem dos de Swedenborg, a Nova Igreja teria
feito bem em saudar êsse desenvolvimento, que coincidia com as indicações de seu chefe.
Em vez disso preferiram, por motivos difíceis de compreender, exagerar cada ponto
divergente e desconhecer todos os pontos coincidentes, até que os dois corpos fôssem
impelidos para o franco antagonismo. Na verdade, todos os espíritas deveriam homenagear
Swedenborg, cujo busto era para encontrar-se em cada templo espírita, por ser o primeiro e
o maior dos modernos médiuns. Por outro lado, a Nova Igreja deveria afogar as pequenas
diferenças e integrar-se de coração no novo movimento, contribuindo as suas igrejas e as
suas organizações para a causa comum.
Examinando a vida de Swedenborg é difícil descobrir as causas que levaram os seus atuais
sectários a encarar com receio as outras organizações psíquicas. Aquêle fêz então aquilo
que estas fazem agora. Falando da morte de Polhem, diz o vidente:
“Ele morreu segunda-feira e falou comigo quinta-feira. Eu tinha sido convidado para o
entêrro. Ele viu o coche fúnebre e presenciou quando o féretro baixou á sepultura.
Entretanto, conversando comigo, perguntou porque o haviam enterrado, se estava vivo.
Quando o sacerdote disse que êle se ergueria no Dia do Juízo, perguntou por que isso, se
êle já estava de pé. Admirou-se de uma tal coisa, ao considerar que, mesmo agora, estava
vivo -
Isto está perfeitamente concorde com a experiência de um médium atual. Se Swedenborg
estava certo, também os médiuns estão.
De novo: Brahe foi decapitado ás 10 da manhã e falou comigo ás 10 da noite. Estêve
comigo, quase que ininterruptamente, durante alguns dias”.
Tais exemplos mostram que Swedenborg não tinha mais escrúpulos em conversar com os
mortos do que o Cristo, quando no monte falou a Moisés e Elias.
Swedenborg havia exposto as suas idéias com muita clareza. Considerando-as, entretanto,
há que levar-se em conta a época em que viveu e a sua falta de experiência na direção e nos
objetivos da nova revelação. Êsse ponto de vista é que Deus, por bons e sábios propósitos,
tinha separado o mundo dos Espíritos do nosso, e que a comunicação não era permitida,
salvo razões poderosas
— entre as quais não se poderia contar a mera curiosidade. Cada estudante zeloso do
psiquismo concordará com isto e cada espírita zeloso opõe-se a que a coisa mais séria do
mundo seja transformada numa espécie de passatempo. Sob o império de poderosas razões,
nossa razão principal é que numa época de materialismo como Swedenborg jamais
imaginou, estamos nos esforçando por provar a existência e a supremacia do Espírito de
maneira tão objetiva que os materialistas sejam encontrados e batidos no seu próprio
terreno. Seria difícil imaginar uma razão mais forte que esta; entretanto temos o direito de
proclamar que, se Swedenborg vivesse agora, seria o chefe do nosso moderno movimento
psíquico.
Alguns de seus prosélitos, entre os quais o Doutor Garth Wilkinson, fizeram a seguinte
objeção: “O perigo para o homem de falar com os Espíritos é que nós todos estamos ligados
aos nossos semelhantes e, estando cheios de maldades, teríamos que enfrentar êsses
Espíritos semelhantes, e êles apenas confirmariam o nosso ponto de vista.”
A isto responderemos apenas que, conquanto especioso, está provado pela experiência que
é falso. O homem não é naturalmente mau. O homem médio é bom. O simples ato da
comunicação espírita, na sua solenidade, desperta o lado religioso. Assim, via de regra, não
é a má influência, mas a boa, que é encontrada, como o provam os belos e moralizados
registros das sessões. O autor pode dar o testemunho de que em cêrca de quarenta anos de
trabalho psíquico, durante os quais assistiu a inúmeras sessões em muitos lugares, jamais,
numa única ocasião, ouviu uma palavra obcena ou qualquer mensagem que pudesse ferir os
ouvidos da mais delicada mocinha. Outros veteranos espíritas dão o mesmo testemunho.
Assim, enquanto é absolutamente certo que os maus Espíritos sejam atraídos para um
ambiente mau, na prática atual é muito raro que alguém seja por êles incomodado. Se tais
Espíritos aparecerem, o procedimento correto não é repeli-los; é antes conversar
razoàvelmente com êles, esforçando-se por que compreendam sua própria condição e o que
devem fazer por seu melhoramento. Isto ocorreu muitas vêzes na experiência pessoal do
autor, e com os mais felizes resultados.
Algumas informações pessoais sôbre Swedenborg cabem como têrmo a êste ligeiro relato
de suas doutrinas. Visa-se, assim, antes de mais nada, indicar a sua posição no esquema
geral.
Deve êle ter sido muito frugal, prático e trabalhador; um rapaz enérgico e um velho muito
amável. Parece que a vida o converteu numa criatura muito bondosa e venerável. Era
plácido, sereno e sempre disposto à conversação, que não descambava para o psiquismo
senão quando queria o seu interlocutor. O tema dessas conversas era sempre notável, mas
êle se afligia com a gagueira que lhe dificultava a pronunciação. Era alto, delgado, de rosto
espiritual, olhos azuis, peruca até os ombros, roupas escuras, calções curtos, fivelas nos
sapatos e bengala.
Sustentava Swedenborg que uma densa nuvem se havia formado em redor da Terra, devido
à grosseria psíquica da humanidade e que de tempos em tempos havia um julgamento e
uma limpeza, assim como a trovoada aclara a atmosfera material. Via que o mundo, já em
seus dias, entrava numa situação perigosa, devido à sem-razão das Igrejas por um lado, e a
reação contra a absoluta falta de religião, causada por isto. As modernas autoridades em
psiquismo, especialmente Vale Owen, falaram dessa nuvem crescente e há uma sensação
geral de que o necessário processo de limpeza geral não tardará.
Uma notícia sôbre Swedenborg, do ponto de vista espírita, não pode ser melhor conduzida
do que por estas palavras, extraídas de seu diário: “Tôdas as afirmações em matéria de
tecilogia são, como sempre foram, arraigadas no cérebro e dificilmente podem ser
removidas; e enquanto aí estiverem, a verdade genuína não encontrará lugar.” Era êle um
grande vidente, um grande pioneiro do conhecimento psíquico e sua fraqueza reside
naquelas mesmas palavras que escreveu.
A generalidade dos leitores que quiserem ir mais adiante encontrará os mais característicos
ensinos de Swedenborg em suas obras: “Céu e Inferno”, “A Nova Jerusalém” e “Arcana
Coelestia”. Sua vida foi admiravelmente descrita por Garth Wilkinson, Trobridge e Brayley
Hodgetts, atual presidente da Sociedade Inglêsa Swedenborg. A despeito de todo o seu
simbolismo teológico, seu nome deve viver eternamente como o primeiro de todos os
homens modernos que descreveram o processo da morte e o mundo do além, o que não se
baseia no vago extático e nas visões impossíveis das velhas Igrejas, mas corresponde
atualmente às descrições que nós mesmos obtemos daqueles que se esforçam por nos trazer
uma idéia clara de sua nova existência.
2
Edward Irving: os «shakers»
4
O Episódio de Hydesville
Êsses arranhões também são registrados por Melancthon, como tendo sido verificados em
Opáginasenheim, na Alemanha, em 1520. Também foram ouvidos em Epworth Vicarage,
em 1716. Aqui o foram uma vez mais e, por fim, tiveram a sorte de ver a porta abrir-se.
Parece que êsses ruídos não incomodaram a família Fox até meados de março de 1848.
Dessa data em diante cresceram continuamente de intensidade. As vêzes eram simples
batidas; outras vezes soavam como o arrastar de móveis. As meninas ficavam tão alarmadas
que se recusavam a dormir separadas e iam para o quarto dos pais. Tão vibrantes eram os
sons que as camas tremiam e se moviam. Foram feitas tôdas as investigações possíveis: o
marido esperava de um lado da porta e a mulher do outro, mas os arranhões ainda
continuavam. Logo se espalhou que a luz do dia era inimiga dos fenômenos, o que reforçou
a idéia de fraude; mas tôda solução possível foi experimentada e falhou. Finalmente, na
noite de 31 de março houve uma irrupção de inexplicáveis sons muito altos e continuados.
Foi nessa noite que um dos grandes pontos da evolução psíquica foi alcançado, desde que
foi nessa noite que a jovem Kate Fox desafiou a fôrça invisível a repetir as batidas que ela
dava com os dedos. Aquêle quarto rústico, com aquela gente ansiosa, expectante, em
mangas de camisa, com os rostos alterados, num círculo iluminado por velas e suas grandes
sombras se projetando nos cantos, bem podia ser assunto para um grande quadro histórico.
Procure-se por todos os palácios e chancelarias de 1848: onde será encontrada uma sala que
se tenha notabilizado na história como aquêle pequeno quarto de uma cabana?
Conquanto o desafio da mocinha tivesse sido feito em palavras brandas, foi imediatamente
respondido. Cada pedido era respondido por um golpe. Pôsto que humildes os operadores
de ambos os lados, a telegrafia espiritual estava funcionando. Deixavam à paciência e à
dedicação da raça humana determinar as alturas do emprêgo que dela faria no futuro. Havia
muitas fôrças inexplicadas no mundo; mas aqui estava uma fôrça que pretendia ter às suas
costas uma inteligência independente. Isto era a suprema significação de um novo ponto de
partida.
Mrs. Fox ficou admirada daquele resultado e da posterior descoberta de que aquela
fôrça, ao que parecia, era capaz de ver e ouvir, pois quando Kate dobrava o dedo sem
barulho, o arranhão respondia. A mãe fêz uma série de perguntas, cujas respostas, dadas em
números, mostravam maior conhecimento de seus próprios negócios do que ela mesma o
possuía, pois os arranhões insistiam em que ela tinha tido sete filhos, enquanto ela
protestava que só tinha tido seis, até que veio à sua mente um que havia morrido em tenra
idade. Uma vizinha, Mrs. Redfield, foi chamada e sua distração se transformou em
maravilha e, por fim, pavor, quando teve respostas corretas a questões íntimas.
À medida que se espalhavam as notícias dessas maravilhas, os vizinhos chegavam em
bandos, um dos quais levou as duas meninas, enquanto Mrs. Fox foi passar a noite em casa
de Mrs. Redfield. Em sua ausência os fenômenos continuaram exatamente como antes, o
que afasta de uma vez por tôdas aquelas hipóteses de estalos de dedos e de deslocamentos
de joelhos, tão freqüentemente admitidas por pessoas ignorantes da verdade dos fatos.
Tendo-se formado uma espécie de comissão de investigação, aquela gente, na maliciosa
feição ianque, levou parte da noite de 31 de março num jôgo de perguntas e respostas com a
inteligência invisível. Conforme sua própria declaração, êle era um Espírito; tinha sido
assassinado naquela casa; indicou o nome do antigo inquilino que o matara; tinha então —
há cinco anos passados — trinta e um anos de idade; fôra assassinado por causa de
dinheiro; tinha sido enterrado numa adega, a dez pés de profundidade. Descendo à adega,
golpes pesados e brutais soaram, aparentemente vindos de dentro da terra, enquanto o
investigador estava no meio da peça. Não houve sons em outras ocasiões. Aquêle era, pois,
o lugar da sepultura! Foi um vizinho, chamado Duesler, quem, pela primeira vez, usou o
alfabeto para obter respostas por meio de arranhões nas letras. Assim foi obtido o nome do
morto — Charles B. Rosma. A idéia de coordenar as mensagens só se desenvolveu quatro
meses mais tarde, quando Isaac Post, um quaker de Rochester, tomou a direção. Em poucas
palavras, êstes foram os acontecimentos de 31 de março, que se continuaram e se
confirmaram na noite seguinte, quando não menos de duzentas pessoas se haviam reunido
em volta da casa. No dia 2 de abril foi constatado que os arranhões tanto se produziam de
dia quanto de noite.
Eis a sinopse dos acontecimentos da noite de 31 de março de 1848, à pequena raiz da qual
se desenvolveu uma árvore tão grande. E como êste volume pode ser chamado um
monumento em sua memória, parece adequado que a história seja contada nas mesmas
palavras das duas primeiras testemunhas adultas. Suas declarações foram feitas quatro dias
após a ocorrência, e fazem parte daquela peça admirável de pesquisa psíquica, escrita pela
comissão local, que será descrita e comentada posteriormente.
Eis o depoimento de Mrs. Fox:
“Na noite da primeira perturbação, todos nos levantamos, acendemos uma vela e
procuramos pela casa inteira, enquanto o barulho continuava e era ouvido quase que no
mesmo lugar. Conquanto não muito alto, produzia um certo movimento nas camas e
cadeiras a ponto de notarmos quando deitadas. Era um movimento em trêmulo, mais que
um abalo súbito. Podíamos perceber o abalo quando de pé no solo. Nessa noite continuou
até que dormimos. Eu não dormi até quase meia-noite. Os rumores eram ouvidos por quase
tõda a casa. Meu marido ficou à espera, fora da porta, enquanto eu me achava do lado de
dentro, e as batidas vieram da porta que estava entre nós. Ouvimos passos na copa, e
descendo a escada; não podíamos repousar, então conclui que a casa deveria estar
assombrada por um Espírito infeliz e sem repouso. Muitas vêzes tinha ouvido falar dêsses
casos, mas nunca tinha testemunhado qualquer coisa no gênero, que não levasse para o
mesmo terreno.
Na noite de sexta-feira, 31 de março de 1848, resolvemos ir para a cama um pouco
mais cedo e não nos deixamos perturbar pelos barulhos: íamos ter uma noite de repouso.
Meu marido aqui estava em tôdas as ocasiões, ouviu os ruídos e ajudou a pesquisa. Naquela
noite fomos cedo para a cama — apenas escurecera. Achava-me tão quebrada e falta de
repouso que quase me sentia doente. Meu marido não tinha ido para a cama quando
ouvimos o primeiro ruído naquela noite. Eu apenas me havia deitado. A coisa começou
como de costume. Eu o distinguia de quaisquer outros ruídos jamais ouvidos. As meninas,
que dormiam em outra cama no quarto, ouviram as batidas e procuraram fazer ruídos
semelhantes, estalando os dedos.
Minha filha menor, Kate, disse, batendo palmas: “Senhor Pérocluido, faça o que eu
faço”. Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número de palmadas. Quando ela
parou, o som logo parou. Então Margareth disse brincando: “Agora faça exatamente como
eu. Conte um, dois, três, quatro” e bateu palmas. Então os ruídos se produziram como
antes. Ela teve mêdo de repetir o ensaio. Então Kate disse, na sua simplicidade infantil:
“Oh! mamãe! eu já sei o que é. Amanhã é primeiro de abril e alguém quer nos pregar uma
mentira”.
Então pensei em fazer um teste de que ninguém seria capaz de responder. Pedi que
fôssem indicadas as idades de meus filhos, sucessivamente. Instantâneamente foi dada a
exata idade de cada um, fazendo uma pausa de um para o outro, a fim de os separar até o
sétimo, depois do que se fêz uma pausa maior e três batidas mais fortes foram dadas,
correspondendo à idade do menor, que havia morrido.
Então perguntei: “É um ser humano que me responde tão corretamente?” Não houve
resposta. Perguntei: “É um Espírito? Se fôr dê duas batidas.” Duas batidas foram ouvidas
assim que fiz o pedido. Então eu disse: “Se foi um Espírito assassinado dê duas batidas”.
Estas foram dadas instantânea-mente, produzindo um tremor na casa. Perguntei: “Foi
assassinado nesta casa?” A resposta foi como a precedente. “A pessoa que o assassinou
ainda vive?” Resposta idêntica, por duas batidas. Pelo mesmo processo verifiquei que fôra
um homem que o assassinara nesta casa e os seus despojos enterrados na adega; que a sua
família era constituída de espôsa e cinco filhos, dois rapazes e três meninas, todos vivos ao
tempo de sua morte, mas que depois a espôsa morrera. Então perguntei: “Continuará a bater
se chamar os vizinhos para que também escutem?” A resposta afirmativa foi alta.
Meu marido foi chamar Mrs. Redfield, nossa vizinha mais próxima. É uma senhora muito
delicada. As meninas estavam sentadas na cama, unidas uma à outra e tremendo de mêdo.
Penso que estava tão calma como estou agora. Mrs. Red. field veio imediatamente seriam
cêrca de sete e meia pensando que faria rir às meninas. Mas quando as viu pálidas de terror
e quase sem fala, admirou-se e pensou que havia algo mais sério do que esperava. Fiz
algumas perguntas por ela e as respostas foram como antes. Deram-lhe a idade exata. Então
ela chamou o marido e as mesmas perguntas foram feitas e respondidas.
Então, Mrs. Redfield chamou Mr. Duesler e a espôsa e várias outras pessoas. Depois, Mr.
Duesler chamou o casal Hyde e o casal Jewell. Mr. Duesler fêz muitas perguntas e obteve
as respostas. Em seguida, indiquei vários vizinhos nos quais pude pensar, e perguntei se
havia sido morto por algum dêles, mas não tive resposta. Após isso, Mr. Duesler fêz
perguntas e obteve as respostas: Perguntou: “Foi assassinado?” Resposta afirmativa. “Seu
assassino pode ser levado ao tribunal?” Nenhuma resposta. “Pode ser punido pela lei?”
Nenhuma resposta. A seguir, disse: “Se seu assassino não pode ser punido pela lei dê
sinais.” As batidas foram ouvidas claramente. Pelo mesmo processo Mr. Duesler verificou
que êle tinha sido assassinado no quarto de leste, há cinco anos passados, e que o assassínio
fôra cometido à meia-noite de uma têrça-feira, por Mr. que fôra morto com um golpe de
faca de açougueiro na garganta; que o corpo tinha sido levado para a adega; que só na noite
seguinte é que havia sido enterrado; tinha passado pela despensa, descido a escada, e
enterrado a dez pés abaixo do solo. Também foi constatado que o móvel fôra o dinheiro.
“Qual a quantia: cem dólares?” Nenhuma resposta. “Duzentos? Trezentos?” etc. Quando
mencionou quinhentos dólares as batidas confirmaram.
Foram chamados muitos dos vizinhos que estavam pescando no ribeirão. Êstes ouviram as
mesmas perguntas e respostas. Alguns permaneceram em casa naquela noite. Eu e as
meninas saímos. Meu marido ficou tôda a noite com Mr. Redfield. No sábado seguinte a
casa ficou superlotada. Durante o dia não se ouviram os sons; mas ao anoitecer
recomeçaram.
Diziam que mais de trezentas pessoas achavam-se presentes. No domingo pela manhã os
ruídos foram ouvidos o dia inteiro por todos quantos se achavam em casa.
Na noite de sábado, 1º de abril, começaram a cavar na adega; cavaram até dar nágua; então
pararam. Os sons não foram ouvidos nem na tarde nem na noite de domingo. Stephen B.
Smith e sua espôsa, minha filha Marie, bem como meu filho David S. Fox e sua espôsa
dormiram no quarto aquela noite.
Nada mais ouvi desde então até ontem. Antes de meio-dia, ontem, várias perguntas foram
respondidas da maneira usual. Hoje ouvi os sons várias vêzes.
Não acredito em casas assombradas nem em aparições sobrenaturais. Lamento que tenha
havido tanta curiosidade neste caso. Isto nos causou muitos aborrecimentos. Foi uma
infelicidade morarmos aqui neste momento. Mas estou ansiosa para que a verdade seja
conhecida e uma verificação correta seja procedida. Ouvi as batidas novamente esta manhã,
terça-feira, 4 de abril. As meninas também ouviram.
Garanto que o depoimento acima me foi lido e que é a verdade; e que, se fôsse necessário,
prestaria juramento de que é verdadeiro.”
11 de abril de 1848.
Depoimento de John D. Fox
“Ouvi o depoimento acima, de minha espõsa, Margaret Fox, li-o e por isso certifico que o
mesmo é verdadeiro em todos os seus detalhes. Ouvi as mesmas batidas das quais ela falou,
em resposta a perguntas, conforme disse. Houve muitas outras perguntas, além daquelas,
tôdas respondidas do mesmo modo. Algumas foram repetidas muitas vêzes, e a resposta foi
sempre a mesma. Assim, jamais houve qualquer contradição.
Não sei de nenhuma causa a que atribuir aquêles ruídos caso tenham sido produzidos por
meios naturais. Procuramos em cada canto da casa, e por diversas vêzes, para verificar, se
possível, se alguma coisa ou alguém aí estivesse escondido e pudesse fazer aquêle ruído;
não nos foi possível achar coisa alguma que pudesse explicar o mistério. Isto causou muito
aborrecimento e ansiedade.
Centenas de pessoas visitaram a casa, de modo que nos era impossível atender às nossas
ocupações diárias. Espero que, quer causados por meios naturais, quer sobrenaturais, em
breve seja esclarecida a matéria. A escavação na adega será continuada, assim que as águas
secarem; então serão constatados os vestígios de um cadáver aí enterrado. Então, se os
houver, não terei dúvida de que a origem é sobrenatural.”
11 de abril de 1848.
Espontâneamente os vizinhos se haviam constituído em comissão de investigação que, por
segurança e eficiência, pudesse ser um ensinamento para muitos subseqüentes
pesquisadores. Não começaram impondo condições; iniciaram, sem prevenções, o registro
dos fatos, exatamente como os colhiam. Não só coligiram e registraram as impressões de
cada interessado, como tomaram depoimentos escritos durante um mês. Em vão tentou o
autor obter uma cópia do folheto original “Relatório dos Ruídos Misteriosos, Ouvidos na
Casa de Mr. John D. Fox”, publicado em Canandaigua, New York: apenas recebeu de
presente um fac-simile do original; e é sua opinião que o fato da sobrevivência humana e o
poder de comunicação ficou provado definitivamente para qualquer inteligência capaz de
examinar um testemunho, desde a ocasião do aparecimento daquele documento.
A declaração feita por Mr. Duesler, presidente da comissão, é um importante testemunho da
ocorrência de ruídos verificados na ausência das meninas Fox e afasta em definitivo a
suspeita de sua cumplicidade nesses acontecimentos. Como vimos, Mrs. Fox, referindo-se à
noite de sexta-feira, 31 de março, disse: “Eu e as meninas saímos”. Parte do depoimento de
Mr. Duesler está assim concebida:
“Eu moro a poucas varas da casa em que êsses ruídos têm sido ouvidos. A primeira vez que
ouvi algo a respeito foi há uma semana, na noite de sexta-feira, 31 de março. Mrs. Redfield
veio à minha casa convidar minha senhora para ir à casa de Mrs. Fox. Mrs. Redfield parecia
muito agitada. Minha senhora quis que eu a acompanhasse e eu acedi. Seriam cêrca de nove
horas da noite. Havia umas doze ou catorze pessoas presentes, quando as deixei. Algumas
estavam tão assustadas que não queriam entrar no quarto. Entrei e sentei-me na cama. Mr.
Fox fêz uma pergunta e ouvi distintamente a batida de que tinham falado. Notei que a cama
tremeu quando se produziram os sons.
O Hon. Robert Dale Owen (2),
2. Autor de “Footfalls on the Boundary of Another World” (1860) e “The Debatable Land”
(1871).
mostrando com satisfação que os ruídos verificados em presença das Irmãs Fox eram
causados por estalos das juntas dos joelhos. Isto provocou uma resposta característica na
imprensa, assinada por Mrs. Fish e Margaret Fox, assim dirigida aos três autores:
“Como não desejamos ficar sob a imputação de impostoras, estamos dispostas a submeter-
nos a uma adequada e decente investigação, desde que possamos escolher três senhores e
três senhoras de nossa amizade, que estejam presentes aos trabalhos. Podemos assegurar ao
público que ninguém está mais interessado do que nós na descoberta da origem dessas
misteriosas manifestações. Se elas podem ser explicadas pelos princípios de anatomia ou de
fisiologia, cabe ao mundo fazer a sua investigação e que seja descoberta a mistificação.
Como parece haver muito interêsse manifestado pelo público sôbre êsse assunto, quanto
mais cedo fôr convenientemente esclarecido, mais depressa a investigação será aceita pelas
abaixo-assinadas.
ANN L. FISH
MARGARET FOX”
A investigação foi feita, mas os resultados foram negativos. Numa nota em apêndice ao
relatório do doutor, publicado no New York Tribune, o editor Horace Greeley observa:
“Como foi noticiado em nossas colunas, os doutôres começaram admitindo que a origem
das batidas deveria ser física e sua causa primeira uma volição das senhoras referidas ou em
duas palavras, que essas senhoras eram “as impostoras de Rochester”. Assim, êles
aparecem neste caso como perseguidores numa acusação e devem ter escolhido outras
pessoas como jurados e repórteres de um crime... É muito provável que tenhamos uma
outra versão da história”.
Muitos testemunhos logo apareceram em favor das Irmãs Fox, de modo que o único efeito
da “exposição” do professor foi redobrar o interêsse público pelas manifestações.
Houve também a suposta confissão de Mrs. Norman Culver, que depôs a 17 de abril de
1851, dizendo que Kate Fox lhe havia revelado todo o segrêdo de como eram praticadas as
batidas. Era uma pura invenção e Mr. Capron publicou uma esmagadora resposta,
mostrando que na data em que Catherine Fox havia supostamente feito aquela confissão a
Mrs. Culver, estava em sua casa, a setenta milhas de distância.
Mrs. Fox e suas três filhas iniciaram as sessões públicas em New York na primavera de
1850, no Hotel Barnum, e atraíram muitos curiosos. A imprensa foi quase unânime em as
denunciar. Uma brilhante exceção foi constituída pelo já citado Horace Greeley, que
escreveu um artigo em seu jornal, com as próprias iniciais, parte do qual se acha adiante, no
Apêndice.
Depois de sua volta a Rochester, a família Fox fêz um giro pelos Estados do Oeste e, então,
fizeram uma segunda visita a New York, onde despertaram o mesmo interêsse público.
Tinham obedecido às ordens dos Espíritos para a propagação dessas verdades no mundo, e
a nova era que tinha sido anunciada estava aberta oficialmente. Quando se lêem os
minuciosos relatos dessas sessões americanas e se considera a fôrça mental dos seus
assistentes, é interessante pensar quanto o povo, enriquecido pelos preconceitos, é tão
crédulo que imagina que tudo aquilo não passa de mistificação. Naqueles dias foi
demonstrada uma coragem moral muito conspícua e que vem faltando desde que as fôrças
reacionárias da ciência e da religião se combinaram para sufocar o novo conhecimento e
apresentá-lo como perigoso para os seus professôres. Assim, numa única sessão em New
York, em 1850, encontramos reunidos em tôrno da mesma o Reverendo Doutor Griswold,
o novelista Fenimore Cooper, o historiador Bancroft, o Reverendo Doutor Hawks, o Doutor
J. W. Francis, o dr - Marcy, o poeta quaker Willis, o poeta Bryant, Bigelow, redator do
Evening Post, e o General Lyman. Todos êstes ficaram satisfeitos com os fatos, cujo relato
diz:
“As maneiras e a conduta das senhoras (isto é, das Irmãs Fox) são tais que criam uma
predisposição em seu favor”. Desde então o mundo cavou e inventou terríveis engenhos de
guerra. Mas poderíamos dizer que tenha avançado no conhecimento espiritual ou no
respeito ao invisível? Sob a orientação do materialismo, tem seguido um caminho errado e
cada vez se torna mais claro que o povo se encontra no dilema de voltar ou morrer.
5
A Carreira das Irmãs Fox
POR amor à continuidade, a história subseqüente das Irmãs Fox agora será dada após
os acontecimentos de Hydesville. É uma história notável, embora dolorosa para os
Espíritas; mas encerram êsses fatos uma lição, pelo que devem ser registrados fielmente.
Quando os homens aspiram a verdade honestamente e de todo o coração, não há
acontecimentos que os envergonhem ou que não encontrem um lugar no seu programa.
Durante alguns anos as duas irmãs mais novas, Kate e Margaret, fizeram sessões em New
York e em outros lugares, triunfando em cada ensaio a que eram submetidas. Horace
Greeley, posteriormente candidato à presidência dos Estados Unidos, conforme já o
demonstramos, achava-se profundamente interessado por elas e convencido de sua
honestidade. Diz-se que forneceu elementos para que a mais nova completasse a sua
educação muito imperfeita.
Durante êsses atos de mediunidade pública, quando as moças faziam furor, tanto entre as
pessoas que não tinham a menor idéia do significado religioso dessa nova revelação, quanto
entre aquêles cujo interêsse estava na esperança de vantagens materiais, as irmãs estiveram
expostas às enervantes influências das sessões promíscuas e de tal maneira que nenhum
espírita avisado justificaria. Então os perigos de tais práticas não eram tão notados quanto
agora, nem ao povo ocorria que não era possível que Espíritos elevados baixassem à Terra
para dar conselhos acêrca das ações das estradas de ferro ou soluções para os casos
amorosos. A ignorância era universal e não havia mentores à testa dêsses pobres pioneiros
para lhes indicar um caminho mais elevado e mais seguro. O pior de tudo é que as suas
energias esgotadas eram renovadas com a oferta de vinho, num momento em que, pelo
menos uma delas, era pouco mais do que uma criança. Dizia-se que havia uma certa
predisposição hereditária para o alcoolismo; mas, mesmo sem essa marca, o seu
procedimento e modo de vida era ousado ao extremo. Contra sua formação moral jamais
houve qualquer suspeita, mas elas tinham enveredado por um caminho que conduz à
degeneração da mente e do caráter, muito embora só muitos anos mais tarde se tivessem
manifestado os mais sérios efeitos.
Pode-se fazer uma idéia da pressão exercida então sôbre as Irmãs Fox pela descrição que
Mrs. Hardinge Britten (1)
nos faz de suas próprias observações. Ela fala de uma “parada no primeiro andar, para ouvir
a pobre e paciente Kate Fox, em meio a uma multidão de investigadores curiosos e
murmurantes, a repetir, hora após hora, as letras do alfabeto, enquanto que Espíritos não
menos pobres e pacientes batiam nomes, idades e datas adequadas a cada visitante”. Será
para admirar que as môças, com a vitalidade gasta, sem a bela e vigilante influência
materna, solicitadas por inimigos, sucumbissem a uma crescente tentação no sentido dos
estimulantes?
Uma luz notável se faz para Margaret, durante êsse período, num curioso livrinho — “As
Cartas de Amor, do Doutor Elisha Kane”. Foi em 1852 que o Doutor Kane, mais tarde
famoso explorador do Oceano Glacial Ártico, encontrou Margaret Fox, então uma jovem
muito bonita e atraente. A ela Kane escreveu aquelas cartas de amor, que representam um
dos mais curiosos amôres na literatura. Elisha Kane, como o seu prenome indica, era de
origem puritana; e os Puritanos, com o seu ponto de vista que a Bíblia representa
absolutamente a última palavra como inspiração espiritual, e que êles entendem o que essa
última palavra significa, são por instinto antagonistas do novo culto que se propõe mostrar
que novas fontes e novas interpretações ainda são possíveis.
Era, também, médico. E a profissão de médico é, simultâneamente, a mais nobre e a mais
cinicamente incrédula do mundo. Para começar, Kane se convenceu de que a jovem estava
envolvida em fraude e criou a teoria de que sua irmã mais velha, Leah, visando fins
lucrativos, estava explorando a fraude. O fato de, pouco depois, Leah haver-se casado com
um homem rico, chamado Underhill, magnata de seguros em Wall Street, parece que não
modificou o ponto de vista de Kane, quanto à sua avidez por lucros ilícitos. O médico
tomou-se de estreita amizade por Margaret, colocou-a sob as vistas de sua própria tia, a fim
de a educar, enquanto se ausentava para o Oceano Ártico, e finalmente casou-se com ela
sob uma espécie de casamento muito curioso, que era a lei Gretna Green, ao que parece,
então vigente. Morreu pouco depois, em 1857, e a viuva, então se assinando Mrs. Fox-
Kane, abjurou os fenômenos por algum tempo e foi recebida na Igreja Católica Romana.
Nessas cartas Kane censura continuamente a Margaret por viver em êrro e hipocrisia.
Restam poucas cartas de Margaret, de modo que não é possível saber até onde se defendeu.
Conquanto não espírita, diz o compilador do livro: “Pobre moças! Com a sua simplicidade,
timidez e ingenuidade, não poderia, ainda que tivesse inclinação, ter praticado a menor
falcatrua com qualquer possibilidade de sucesso”. É um testemunho de valor, de vez que o
compilador naturalmente estêve em estreitas ligações com pessoas relacionadas com o
assunto. O próprio Kane, escrevendo à mais môça, Kate, diz: “Tome o meu conselho e
jamais fale de Espíritos, quer aos íntimos, quer aos estranhos. Você sabe que com tôda a
intimidade com Maggie, depois de um mês inteiro de tentativas, dêles nada pude obter.
Assim, êles constituem um grande mistério.”
Considerando suas íntimas relações e que Margaret claramente ofereceu a Kane tôdas as
provas de sua fôrça, é inconcebível que um médico experiente admitisse que depois de um
mês nada teria podido fazer, caso o fenômeno fôsse um simples estalo de uma articulação.
Nessas cartas não se podem encontrar indícios de fraude, mas amplas provas de que as duas
môças, Margaret e Kate, não tinham a mais leve idéia de ligação religiosa com essas fôrças,
ou das graves responsabilidades da mediunidade e de que faziam mau uso de seus dons no
sentido de dar indicações a todo o mundo, receber uma assistência promíscua e responder a
perguntas frívolas ou jocosas. Não era surprêsa para nenhum espírita experimentado que,
em tais circunstâncias, tanto o seu caráter quanto as suas fôrças estivessem tão estragados.
Não podiam dar coisa melhor. E tanto a sua idade quanto a sua ignorância as escusam.
Para compreender a sua situação, é preciso lembrar que eram pouco mais que crianças,
pouco educadas e quase ignorantes da filosofia do assunto. Quando um homem como o
Doutor Kane assegurava a Margaret que aquilo era um grave êrro, apenas repetia o que lhe
entrava pelos ouvidos em tôda a parte, inclusive de metade dos púlpitos de New York.
Provavelmente tinha ela uma sensação desagradável de estar errada, sem ao menos saber
por que, e isto, possivelmente, depõe em seu favor, por não se mostrar magoada por suas
suspeitas. Na verdade podemos admitir que, no fundo, Kane estivesse certo e que os
processos fõssem, por certo modo, injustificáveis. Naquela época elas próprias eram
incorruptíveis; e se tivessem usado os seus dons como D. D. Home, sem relação com as
coisas mundanas, e apenas com o propósito de provar a imortalidade da alma e consolar os
aflitos, então, sim, elas se teriam colocado acima da crítica. Ele estava errado quando
duvidava de seus dons, mas certo quando encarava como suspeitas certas maneiras de os
utilizar.
Como quer que seja, a posição de Kane é irremediàvelmente ilógica. Êle desfrutava da
maior intimidade e afeição da mãe e das duas môças, muito embora, se as palavras têm
algum sentido, êle as julgasse embusteiras, que viviam da credulidade pública. “Beije a
Katie por mim”, diz êle; e continuamente manda saudades a mãe.
Moças como eram, já havia da parte dêle a suspeita do perigo do alcoolismo, a que se
achariam expostas mais tarde e naquela promiscuidade. “Diga a Katie que não tome
champanha e você siga o mesmo conselho”, dizia de. Era um conselho bom, e teria sido
melhor para elas e para o movimento espírita se ambas o tivessem seguido. Novamente,
porém, há que recordar a sua mocidade inexperiente e as constantes tentações.
Kane era uma curiosa mistura de herói e de bôbo. As batidas dos Espíritos, não apoiadas
por qualquer sanção religiosa ou científica, vinda posteriormente, era uma baixeza, uma
superstição de ignorantes e êle, um homem de reputação, iria cassar-se com um espírito-
batedor? Nisto êle vacilou extraordinàriamente, começando uma carta pedindo para ser o
seu irmão e terminando por lhe recordar os mais cálidos beijos. “Agora que você me deu o
seu coração, eu serei o seu irmão”, diz êle. Tinha uma veia de superstição, que o percorria
todo e que estava muito abaixo da credulidade que atribui aos outros. Freqüentemente alude
ao fato de possuir um poder divinatório pelo simples levantar da mão direita, coisa que
havia aprendido “de um feiticeiro nas Índias”. Por vêzes tanto é pretensioso. quanto tolo.
“Até á mesa de jantar do presidente eu pensava em você”. E mais adiante: “Você nunca
poderia atingir os meus pensamentos e o meu objetivo. Eu nunca poderia descer até os
seus”. Na verdade, as poucas citações de suas cartas mostram uma mente inteligente e
simpática.
Ao menos em uma ocasião encontramos Kane procurando decepcioná-la e ela
combatendo a idéia.
Quatro pontos fixos podem ser estabelecidos nessas cartas:
1. Que Kane pensava de modo vago que houvesse falcatrua.
2. Que nos anos de sua maior intimidade ela jamais o admitiu.
3. Que êle jamais pôde sugerir em que consistia a falcatrua.
4. Que ela empregou as suas fôrças de maneira que os espíritas sérios deploram.
Na verdade não sabia ela mais sôbre a natureza dessas fôrças do que os que a rodeavam.
Diz o escritor: “Ela dizia sempre que nunca tinha realmente acreditado que as batidas
fôssem obra de Espíritos, mas pensava que nisso havia uma relação com certas leis ocultas
da natureza”. Esta foi a sua atitude posterior na vida, pois em sua ficha profissional dizia
que o povo devia por si mesmo julgar da natureza de suas fôrças.
É natural que aquêles que falam do perigo da mediunidade e, particularmente, da
mediunidade de efeitos físicos, deveriam apontar como exemplo as Irmãs Fox. Mas o seu
caso não deve ser exagerado. Em 1871, depois de mais de vinte anos de trabalho exaustivo,
ainda as encontramos recebendo entusiástico apoio e admiração de muitos homens e
senhoras importantes da época. Só depois de quarenta anos de trabalhos públicos é que se
manifestaram condições adversas em suas vidas. Assim, sem entrar na apreciação do que há
de censurável, proclamamos que dificilmente o seu comportamento justificaria aqueles que
consideram a mediunidade como uma profissão que degrada a alma.
Foi em 1871 que, graças à generosidade de Mr. Charles
F. Livermore, eminente banqueiro de New York, Kate Fox visitou a Inglaterra. Era um
sinal da gratidão do banqueiro pela consolação que havia recebido de sua fôrça maravilhosa
e um apoio para o progresso do Espiritismo. Êle proveu tõdas as suas necessidades e assim
evitou que ela tivesse de recorrer ao trabalho remunerado. Também providenciou para que
ela viesse acompanhada por uma senhora com quem tinha afinidade.
Numa carta a Mr. Benjamin Coleman (2),
Verificou-se que era uma luz fria. Miss Rosamund Dale Owen, relatando o fenômeno (4),
descreve os objetos como “cristais iluminados” e diz que não tinha visto uma
materialização que desse uma sensação tão real da proximidade de um Espírito quanto
essas luzes graciosas. O autor pode corroborar o fato de que essas luzes são geralmente
frias, pois, em certa ocasião, com outro médium, uma luz semelhante lhe tocou a face. Miss
Owen também fala de livros e outros pequenos objetos transportados e de uma pesada caixa
de música de cêrca de vinte e cinco libras, que foi retirada de um console. A peculiaridade
dêsse instrumento é que estava desarranjado há meses e não pôde ser tocado enquanto as
fôrças invisíveis não o consertaram e o puseram em movimento.
A mediunidade de Mrs. Jencken se mesclava em todos os atos de sua vida diária. Diz o
Professor Butlerof que, quando fêz uma visita matinal ao casal, em companhia de Mr.
Aksakof, ouviu batidas no soalho. Passando uma tarde em casa dos Jencken, diz que as
batidas foram numerosas durante o chá. Também conta Miss Rosamund Dale Owen (5)
que certa vez, estando a médium na rua, com duas senhoras, em frente a uma vitrina, as
batidas se misturaram na conversa e o chão vibrava a seus pés. Diz até que as batidas eram
tão altas que atraíam a atenção dos transeuntes. Mr. Jencken relata muitos casos de
fenômenos espontâneos, em sua vida doméstica.
Os detalhes das sessões do médium poderiam encher um volume. Mas, com exceção de um
último caso, devemos contentar-nos com a opinião do Professor Butlerof, da Universidade
de São Petersburgo que, depois de investigar os seus poderes em Londres, escreveu em The
Spiritualist, de 4 de fevereiro de 1876:
“De tudo quanto me foi possível observar em presença de Mrs. Jencken, sou levado à
conclusão de que os fenômenos peculiares a êsse médium são de natureza fortemente
objetiva e convincente e que, penso, seriam suficientes para levar o mais pronunciado
céptico, desde que honesto, a rejeitar a ventriloquia, a ação muscular e semelhantes
explicações dos fenômenos”.
Mr. H. D. Jencken morreu em 1881 e sua viúva ficou com dois filhos. Êsses mostraram
maravilhosa mediunidade em tenra idade, cujo registro se encontra em escritos da época
(6).
6. Tire Spiritualist, Volume 4º, página 138; volume 7º, página 66.
uma sessão em sua casa, em Kensington, no dia de seu aniversário, a 9 de maio de 1882, na
qual a sua defunta espôsa se manifestou:
“Muitas mensagens interessantes e comoventes me chegaram através da escrita normal de
Mrs. Jencken. Tinham pedido que apagássemos as luzes. Então começou uma porção de
manifestações, como raramente tenho visto e mais raramente ultrapassadas... Tomei uma
campainha de sôbre uma mesa e fiquei com ela na mão. Senti que outra mão a tomava e a
tocava por tôda parte na sala, durante cerca de cinco minutos. Então coloquei um acordeon
debaixo da mesa, de onde foi retirado e, a uma distância de três ou quatro pés da mesa à
qual estávamos sentados, tocaram umas canções. O acordeon estava sendo tocado e a
campainha agitada em diversas partes da sala quando duas velas foram acesas à mesa.
Assim, não era aquilo que se chama uma sessão às escuras, embora ocasionalmente as luzes
fossem apagadas. Durante todo o tempo Mr. Stack segurava uma das mãos de Mrs. Jencken
e eu segurava a outra — cada um dizendo de vez em quando: “Tenho em minha mão a mão
de Mrs. Jencken”.
“Cerca de cinqüenta amores-perfeitos foram colocados a minha frente, numa fôlha de
papel. Pela manhã eu havia recebido de uma amiga alguns amores-perfeitos, mas o vaso
onde tinham sido colocados não se achava na sala da sessão. Mandei examiná-lo e estava
intacto. Naquilo que se denomina “escrita direta” encontrei as seguintes palavras, escritas a
lápis com letra miudinha, numa fôlha de papel que estava á minha frente: “Eu lhe trouxe
minha prova de amor. Numa sessão, dias antes. já com Mrs. Jencken, eu tinha recebido a
seguinte mensagem:
“Pelo seu aniversário trarei uma prova de amor
Acrescenta Mr. Hall que havia marcado a fôlha de papel com as suas iniciais e, como uma
preocupação a mais, tinha dobrado um dos cantos de certa maneira que pudesse reconhecê-
la.
É evidente que Mr. Hall ficou muito impressionado com o que viu. Escreve êle:
“Testemunhei e registrei muitas manifestações maravilhosas. Duvido que tenha assistido a
alguma mais convincente do que esta e, certamente, nenhuma mais refinada; nenhuma que
desse mais conclusiva demonstração de que só Espíritos puros, bons e santos se
manifestavam”. Confessa que consentiu em ser o “banqueiro” de Mrs. Jencken,
possivelmente para prover a educação de seus dois filhos. Em vista do que aconteceu
posteriormente a êsse tão dotado médium, há um triste interêsse em suas palavras finais:
“Tenho uma confiança, uma quase certeza de que em todos os sentidos, ela agirá de
maneira a aumentar e não a diminuir, a sua fôrça como médium, enquanto retiver a amizade
e a confiança de muitos que a consideram do mesmo modo — de vez que a causa é a
mesma — por que a Nova Igreja considera a Emmanuel Swedenborg, e os Metodistas
consideram a John Wesley. Sem a menor dúvida os Espíritos devem a essa senhora um
grande reconhecimento pelas confortadoras revelações de que, em grande parte, foi ela o
instrumento escolhido pela Providência.
Fizemos êste relato com certa minúcia porque mostra que os dons da médium eram então
de uma ordem muito elevada e poderosa. Poucos anos antes, numa sessão em sua casa, a 14
de dezembro de 1873, primeiro aniversário de seu casamento, uma mensagem espírita por
batidas dizia assim: Quando as sombras caírem sôbre você, pense no lado mais luminoso”.
Era uma mensagem profética, pois o fim de sua vida foi apenas de sombras.
Margaret (Mrs. Fox-Kane) tinha se juntado à irmã Kate na Inglaterra em 1876 e
permaneceram juntas por alguns anos, até que ocorreu o lamentável incidente que deve ser
analisado agora. Parece que houve uma discussão amarga entre a irmã mais velha, Leah
(então Mrs. Underhill) e as duas mais moças. É provável que Leah tivesse sabido que havia
então uma tendência para o alcoolismo e tivesse feito uma intervenção com mais fõrça do
que tato... Alguns espíritas também interferiram e deixaram as duas irmãs meio furiosas,
pois tinha sido sugerido que os dois filhos de Kate fôssem separados dela.
Procurando uma arma — uma arma qualquer — com a qual pudessem ferir aquêles a
quem tanto odiavam, parece que lhes ocorreu — ou, de acôrdo com seu depoimento
posterior, que lhes foi sugerido sob promessa de vantagens pecuniárias — que se elas
injuriassem todo o culto, confessando que fraudavam, iriam ferir a Leah e a todos os
confrades no que tinham de mais sensível. Ao paroxismo da excitação alcoólica e da raiva
juntou-se o fanatismo religioso, pois Margaret tinha sido instruída por alguns dos principais
Espíritos da Igreja de Roma, e convencida — como também ocorreu conforme durante
algum tempo — que suas próprias fôrças eram maléficas. Ela se refere ao Cardeal Manning
como tendo-a influenciado neste sentido, mas tal declaração não pode ser levada muito a
sério. De qualquer modo, tôdas essas causas combinadas a reduziram a um estado vizinho
da loucura.
Antes de deixar Londres escreveu ao New York Herald denunciando o culto, mas
sustentando numa frase que as batidas “eram a única parte dos fenômenos digna de
registro”. Chegando a New York onde, conforme sua subseqüente informação, deveria
receber certa quantia pela sensacional declaração prometida ao jornal, teve uma verdadeira
explosão de ódio contra sua irmã mais velha.
É um curioso estudo psicológico e, também, curiosa a atitude mental do povo, imaginar
que as declarações de uma mulher descontrolada, agindo sob o império do ódio, mas,
também — como ela própria o confessou — na esperança de recompensa em dinheiro,
pudesse prejudicar uma investigação criteriosa de uma geração de observadores.
Não obstante, temos que considerar o fato de que então ela produz batidas ou dá lugar a
que estas se produzam, numa sessão subseqüente na Academia de Música de New York.
Deve ser levado em conta que em tão grande auditório seria impossível qualquer ruído
antecipadamente preparado para ser atribuído ao médium. Mais importante é a prova dada a
um redator do Herald, em sessão particular, que êle assim relata:
“Primeiro ouvi uma batida no solo, perto de meus pés, depois debaixo da mesa, ante a qual
estava sentado. Eki me levou á porta e ouvi o mesmo som se produzir do outro lado. Então,
quando ela se sentou ao piano, o instrumento vibrou mais alto e as batidas ressoaram em
sua caixa.
Este relato deixa claro que os ruidos eram produzidos pelo contrôle, embora o jornalista
deva ter sido menos céptico do que outros do meu conhecimento, para pensar que os sons,
variando de qualidade e de posição, procedessem de um truque do pé do médium. É claro
que êle não sabia como se produziam os sons e o autor é de opinião que Margaret também o
ignorava. Está provado que realmente tinha ela algo que podia exigir, e não só pela
verificação do jornalista, como pela de Mr. Wedg. wood, um espírita londrino, ao qual fêz
ela uma demonstração antes de voltar para a América. Assim, pois, é em vão que negam
base às manifestações de Margaret. O que era essa base e o que procuramos saber.
O escândalo de Margaret Fox-Kane foi em agôsto e setembro de 1888 — aproveitado pelo
jornal que a havia explorado. Em outubro ela veio unir-se à sua irmã. Era preciso explicar
que a disputa, até onde se pode saber, era entre Kate e Leah, porque esta última tinha
tentado separar Kate dos filhos, alegando que a influência materna não era boa. Portanto,
embora Kate não se irritasse e deliberadamente não desse demonstrações públicas ou
particulares, se havia aliado à irmã com o objetivo comum de derrubar Leah a qualquer
preço.
“Foi ela a causadora de minha prisão na última primavera”, declarou Kate, “originando a
posterior acusação de que eu era cruel para com os meus filhos. Não sei por que sempre
teve inveja de Maggie e de mim; talvez porque nós pudéssemos fazer coisas no Espiritismo
de que ela era incapaz.”
Ela se achava presente na Sala de Música, na sessão de 21 de outubro, na qual Margaret
firmou a sua reputação, produzindo batidas. Ficou calada na ocasião, mas o silêncio pode
ser tomado como uma aprovação àquilo que então ouvia.
Se assim o foi, se disse aquilo que o repórter publicou, seu arrependimento deve ter vindo
muito rapidamente. A 17 de novembro, menos de um mês após a famosa sessão, escreveu
ela a uma senhora de Londres, Mrs. Cottell, que residia na velha casa de Carlyle, esta
admirável carta de New York e publicada no Light, em 1888, página 619:
“Eu lhe deveria ter escrito antes, mas minha surprêsa foi tão grande, ao chegar e saber das
declarações de Maggie sôbre o Espiritismo, que não tive ânimo de escrever a ninguém -
“O empresário da exibição arranjou a Academia de Música, o maior auditório da cidade de
New York; ficou superlotado.
“Fizeram uma renda de mil e quinhentos dólares. Muitas vêzes desejei ter ficado com você
e se tivesse meios agora voltaria para me livrar de tudo isso.
“Agora penso que podia fazer dinheiro, provando que as batidas não são produzidas pelos
dedos dos pés. Tanta gente me procura por causa da declaração de Maggie que me recuso a
recebê-los.
“Insistem em desmascarar a coisa, se puderem; mas certamente não o conseguirão.
“Maggie está realizando sessões públicas nas grandes cidades americanas, mas só a vi uma
vez desde que cheguei.”
Esta carta de Kate denuncia a tentação do dinheiro representando um grande papel na
história. Entretanto parece que cedo Maggie verificou que rendia pouco e que não havia
vantagem em dizer mentiras pelas quais não era paga e que apenas provavam que o
movimento espírita se achava tão firmemente estabelecido que não chegava a ser abalado
pôr sua traição. Por esta ou por outras razões — esperamos que com algum remordimento
de consciência pela parte que havia tomado, agora admitia ela que estivera dizendo
falsidades pelos mais baixos motivos. A entrevista foi publicada na imprensa de New York
a 20 de novembro de 1889, cêrca de um ano depois do escândalo.
“Praza a Deus”, — disse ela com voz trêmula de intensa excitação — “que eu possa
desfazer a injustiça que fiz à causa do Espiritismo quando, sob intensa influência
psicológica de pessoas inimigas dêle, fiz declarações que não se baseiam nos fatos. Esta
retratação e negação não parte apenas do meu próprio senso daquilo que é direito, como
também do silencioso impulso dos Espíritos que usam o meu organismo, a des peito da
hostilidade da horda traidora que prometeu riqueza e felicidade em troca de um ataque ao
Espiritismo, e cujas esperançosas promessas foram tão falazes...
“Muito antes que falasse a quem quer que fôsse sôbre êste assunto, estava sendo
incessantemente advertida por meu Espírito-Guia daquilo que devia fazer; por fim cheguei
à conclusão de que era inútil contrariar as suas recomendações.
— “Não houve qualquer consideração de ordem monetária nesta declaração?”
— “Não, por mínima que fôsse; absolutamente.”
— “Então a senhora não visa vantagens pecuniárias?”
— “Indiretamente, sim. O Senhor sabe que embora governado pelos espíritos, um
instrumento mortal deve zelar pela manutenção da vida. Isto pretendo conseguir de minhas
conferências. Nem um centavo me veio ás mãos em conseqüência da atitude que tomei”.
— “Por que motivo denunciou as batidas dos Espíritos?” “Naquela ocasião necessitava
muito de dinheiro, e criaturas, cujo nome prefiro não citar, se aproveitaram da situação. Daí
a embrulhada. Também a excitação ajudou a perturbar o meu equilíbrio mental”.
— “Qual o objetivo das pessoas que a induziram a fazer a confissão que a senhora e
todos os outros médiuns traficavam com a credulidade do povo?”
— “Visavam diversos objetivos, O primeiro e mais importante era a idéia de esmagar o
Espiritismo, fazer dinheiro para si mesmos e provocar uma grande excitação, por lhes ser
um elemento favorável”.
— “Havia alguma verdade nas acusações que a senhora fêz do Espiritismo?”
— “Aquelas acusações eram falsas em tôdas as minúcias. Não hesito em dizê-lo... Não.
Minha crença no Espiritismo não sofreu mudanças. Quando fiz aquelas terríveis
declarações não era responsável por minhas palavras. Sua autenticidade é um fato
incontroverso. Nem todos os Hermans vivos serão capazes de reproduzir as maravilhas que
se produzem através de alguns médiuns. Pela habilidade manual e por meio de espertezas
podem escrever em papéis e lousas, mas mesmo assim não resistem a uma investigação
acurada. A produção da materialização está acima de seu calibre mental e desafio a quem
quer que seja a produzir batidas nas condições em que as produzo. Não há ser humano na
Terra que possa produzir as batidas do mesmo modo que elas o são por meu intermédio.”
— “Propõe-se fazer sessões?”
— “Não. Dedicar-me-ei inteiramente ao trabalho de propaganda, pois êste me dará
melhores oportunidades para refutar as calúnias que eu mesma lancei contra o Espiritismo.”
— “Que diz sua irmã Kate de sua presente atitude?”
— “Está de pleno acôrdo. Ela não concordou com a minha atitude no passado”.
— “Terá um empresário para o seu ciclo de conferências?”
— “Não, senhor. Eu lhes tenho horror. Também êles me ultrajaram muito. Frank
Stehen tratou-me ver gonhosamente. Fêz muito dinheiro à minha custa e deixou-me em
Boston sem um centavo. Tudo quanto recebi dele foram quinhentos e cinqüenta dólares,
dados no comêço do contrato.”
Para dar maior autenticidade à entrevista, por sugestão dela foi escrita a seguinte carta
aberta, à qual ela apôs a sua assinatura:
TENDO tratado da Família Fox e dos problemas que essa história levanta, teremos que
voltar à América e observar os primeiros efeitos desta invasão de sêres de uma outra esfera.
Esses efeitos não foram inteiramente excelentes. Houve loucuras de uns indivíduos e
extravagâncias de agrupamentos humanos.
Uma destas, baseada em comunicações recebidas através da mediunidade de Mrs. Benedict,
foi o Círculo Apostólico. Começou com um pequeno grupo de homens muito crentes num
segundo advento e que, através das comunicações espíritas, procuravam confirmar aquela
crença.
Obtiveram aquilo que proclamavam como comunicação dos Apóstolos e profetas da Bíblia.
Em 1849 James L. Scott, ministro batista do Sétimo Dia em Brooklyn, reuniu o centro em
Auburn, o qual se tornou conhecido como o Movimento Apostólico, cujo chefe espiritual
era supostamente o Apóstolo Paulo. A Scott uniu-se o Reverendo Thomas Lake Harris, e
estabeleceram em Mountain Cove a comunidade religiosa que atraiu muitos adeptos até
que, alguns anos depois, suas mistificações desiludiram e levaram à deserção os seus chefes
autocráticos.
Esse Thomas Lake Harris é, certamente, uma das mais curiosas personalidades de que
temos notícia e é difícil dizer quem predominava em seu caráter: se Mr. Jekill ou o Doutor
Hyde. Era feito de extremos, de modo que tudo quanto fazia era decididamente para o bem
ou para o mal. Originàriamente fôra um ministro universalista, de onde lhe vinha o prefixo
“Reverendo”, que usou por muito tempo. Separou-se de seus companheiros, adotou os
ensinos de Andrew Jackson Davis, tornou-se um espírita fanático e, finalmente, como
vimos, tornou-se um dos dirigentes autocráticos das almas e das bôlsas dos colonos de
Mountain Cove. Chegou, porém, o momento em que aquêles colonos verificaram que eram
bastante capazes de tratar de seus próprios negócios, quer espirituais, quer materiais. Assim
Harris verificou que tinha perdido tempo. Então voltou para New York e atirou-se
violentamente no movimento espírita, pregando no Dodworth Hall, o quartel-general do
culto, conquistando uma grande e merecida reputação por sua notável eloqüência. Sua
megalomania — possivelmente uma obsessão — arrebentou uma vez mais e fêz
extravagantes exigências que os espíritas sãos e equilibrados que se achavam em seu redor
não podiam tolerar.
Havia, entretanto, uma coisa que pretendia fazer bem — era a inspiração de uma entidade
muito elevada e veraz, muito embora não se soubesse quando nem como atuava. Nessa fase
de sua carreira, êle ou alguma entidade por seu intermédio, produziu uma série de poemas,
como “Um lírico da Idade de Ouro”, “A Terra ao amanhecer”, e outros, que,
ocasionalmente, tocam as estrêlas. Ferido pela recusa dos espíritas de New York em admitir
as suas faculdades supranormais, Harris foi então (1859) para a Inglaterra, onde ganhou
fama por sua eloqüência, demonstrada em conferências cujo principal tema era a denúncia
de seus antigos companheiros de New York. Cada nova etapa na vida dêsse homem era
acompanhada por um desfile da etapa anterior.
Em 1860, em Londres, a vida de Harris despertou sübitamente um maior interêsse para os
britânicos, principalmente para os que tinham afinidades literárias. Harris fêz conferências
no Steinway Hall, onde foi ouvido por Lady Oliphant que, tocada por sua selvagem
eloqüência, pôs o pregador americano em contacto com seu filho, Laurence Oliphant, um
dos homens mais brilhantes de sua geração. É difícil determinar o ponto de atração, pois o
ensino de Harris nessa etapa nada tinha de incomum no assunto, salvo que êle havia
adotado o Deus-Pai e a Mãe-Natureza, idéia que tinha sido lançada por Davis. Oliphant
considerava Harris um grande poeta, a êle se referindo como o maior poeta da época ainda
desconhecido pela glória”. Oliphant não era um crítico vulgar; mesmo assim, num período
que contava um Tennyson, um Longfellow, um Browning e tantos outros, a frase parece
extravagante. O fim de todo êsse episódio foi que, depois de adiamentos e vacilações, tanto
a mãe quanto o filho se entregaram inteiramente a Harris e se aplicaram a trabalhos
manuais numa nova colônia em Brocton, em New York, onde ficaram numa condição tal
que, se não fôra voluntária, era virtualmente de escravidão. Se uma tal abnegação era santa
ou idiota é um problema para os anjos. Certamente parece idiota quando se sabe que
Laurence Oliphant teve a maior dificuldade em tomar férias para se casar e que exprimiu
humildemente o seu agradecimento ao tirano quando, finalmente, a licença lhe foi
concedida. Êle foi deixado livre para fazer as reportagens da Guerra franco-alemã de 1870,
o que fêz na brilhante maneira que dêle se podia esperar; depois voltou à servidão uma vez
mais, e na qual um de seus deveres era vender morangos aos passageiros dos trens,
enquanto era arbitrariamente separado de sua jovem espôsa, mandada para o sul da
Califórnia, enquanto êle ficava em Broeton. Assim foi até 1882, vinte anos após o seu
primeiro embaraço, quando Oliphant, ao morrer a sua mãe, rompeu com essa situação
extraordinária e, depois de uma luta tremenda, no correr da qual Harris pretendeu
encarcerá-lo num asilo, conseguiu unir-se à sua espôsa, recuperar algumas de suas
propriedades e voltar à sua vida normal. Pintou o profeta Harris em seu livro “Masollam”,
escrito nos seus últimos anos de vida, e o resultado é tão característico, tanto para a
brilhante descrição de Oliphant quanto para o homem extraordinário que êle pintou, que o
leitor talvez fique satisfeito em encontrar uma referência no Apêndice.
Tais acontecimentos, como Harris e outros, foram meras excrescências na linha-tronco do
movimento espírita que, de um modo geral, foi sadio e progressista. Entretanto ficaram na
sua história as marcas das idéias de amor livre e de sentimentos comunistas, professados
por algumas seitas mais rudes, as quais foram inescrupulosamente exploradas pelos
adversários, como se fôssem características do todo.
Vimos que, muito embora as manifestações espíritas tivessem tido larga divulgação através
das Irmãs Fox, já anteriormente eram conhecidas. A êsses testemunhos precedentes
devemos ajuntar o que diz o Juiz Edmonds (1);
1. “Spiritualism”, by Jobn W. Edmonds and George T. Dexter, M. D., New York, 1853,
página 36.
“Foi mais ou menos há cinco anos que o assunto atraiu a atenção pública, muito embora se
verifique que uns dez ou doze anos antes houve algo no gênero em diferentes lugares no
país, mas que havia sido ocultado, tanto por mêdo do ridículo quanto pela ignorância do
que isso fôsse.” Isto explica o surpreendente número de médiuns dos quais se começou a
ouvir falar tão logo houve publicidade do caso da família Fox. Não era um novo dom que
exibiam, mas apenas uma ação corajosa em torná-lo largamente conhecido que Levava
outros a se adiantarem e confessar que tinham o mesmo poder. Também êsse dom universal
da mediunidade pela primeira vez começou a ser livremente desenvolvido, O resultado é
que cada vez mais se ouvia falar de médiuns. Em abril de 1849 houve manifestações na
família do Reverendo A. H. Jervis, ministro metodista de Rochester, e na casa do Diácono
Hale, nas vizinhanças da cidade de Greece. Assim, também, seis famílias na vizinha cidade
de Auburn começaram a desenvolver a mediunidade.
Em nenhum dêsses casos a família Fox tinha algo que ver com o que acontecia. De modo
que êstes pioneiros apenas abriram o caminho que os outros seguiram.
Fatos dignos de nota dos próximos anos foram o rápido crescimento do número de médiuns
por tôda a parte e a conversão ao Ëspiritismo de grande número de homens públicos, como
o Juiz Edmonds, o ex-governador Tallmadge, o Professor Roberto Hare e o Professor
Mapes. A adesão pública de homens tão notórios deu enorme publicidade ao assunto, ao
mesmo tempo que aumentou a virulência da oposição, que então percebia que estava
lidando com algo mais do que um bando de beócios iludidos. Homens como aquêles
podiam fazer-se ouvir na imprensa diária. Houve também a mudança no caráter dos
fenômenos. Em 1851 e 1852 Mrs. Hayden e D. D. Home foram instrumentos de muitas
conversões. Teremos muito que dizer dêstes médiuns nos capítulos seguintes.
Numa comunicação dirigida “Ao público”, aparecida no New York Courier e datada
em New York de 1º de agôsto de 1853, o Juiz Edmonds, um grande caráter e uma
inteligência brilhante, fêz um relato convincente de suas experiências. É curioso notar como
os Estados Unidos, que então deram uma prova conspícua da coragem moral de seus
chefes, parece que caíram, neste particular, em anos mais próximos de nós, pois o autor, em
suas recentes viagens ali encontrou muitos que tinham conhecimento da verdade psíquica,
mas ainda se encolhiam ante uma imprensa hostil, temerosos de confessar as suas
convicções.
No citado artigo, o Juiz Edmonds começou descrevendo minuciosamente os fatos que o
levaram a formar a sua opinião. Transcrevemos aqui as suas palavras com alguns detalhes,
por que é muito importante mostrar a base sôbre a qual um homem altamente educado
recebeu o novo ensino.
“Foi em janeiro de 1851 que a minha atenção foi inicialmente chamada para as
“manifestações espíritas”. Era um período em que me havia subtraído às relações sociais e
trabalhava sob grande depressão de espírito. Dedicava todo o meu tempo livre a leituras
sôbre a morte e a sobrevivência do homem. No curso de minha vida eu tinha ouvido do
púlpito, a êsse respeito, tão contraditórias e chocantes doutrinas, que dificilmente saberia
em que acreditar. Não podia, mesmo que o quisesse, crer naquilo que não entendia, e
ansiosamente buscava saber se, depois da morte, poderíamos encontrar aquêles a quem
tínhamos amado e em que circunstâncias. Fôra convidado por uma amiga a assistir as
“Batidas de Rochester”. Aceitei mais para lhe ser atencioso e para matar uma hora de tédio.
Pensei bastante naquilo que assisti e resolvi investigar o assunto e descobrir o que era
aquilo. Se fôsse uma mistificação, uma desilusão, eu supunha poder averiguar. Durante
cêrca de quatro meses dediquei pelo menos duas noites por semana e, às vêzes, mais, em
testemunhar os fenômenos em tôdas as suas fases. Fiz um cuidadoso registro de tudo
quanto assisti e, de vez em quando, comparava os resultados, a fim de apreender as
inconsistências e as contradições. Li tudo quanto me vinha às mãos sôbre o assunto e
especialmente as supostas “descobertas de charlatães”. Andei aqui e ali, à procura de
diversos médiuns, assistindo a diferentes sessões, — freqüentemente com pessoas das quais
jamais ouvira falar e muitas vêzes no escuro e algumas no claro — por vêzes com
descrentes inveterados e mais freqüentemente com crentes muito zelosos.
“Finalmente, aproveitei tôdas as oportunidades que se me ofereciam para esgotar o assunto
desde a sua raiz. Durante todo êsse tempo eu era um descrente e pus à prova a paciência
dos crentes por meu cepticismo, minha capciosidade e minha dura recusa em modificar as
minhas idéias. vi em redor de mim algumas pessoas que passaram a crer em uma ou duas
sessões; outras, nas mesmas condições, persistiam na mesma descrença; e algumas que
recusavam o testemunho de todos e continuavam terminantemente incrédulas. Eu não podia
tomar nenhum dêsses partidos e me recusava a crer, enquanto não tivesse a mais
irrefragável das provas. Por fim a prova veio e com tal poder que nenhum homem
equilibrado lhe poderia negar fé”.
Como se vê, um dos primeiros entre os notáveis conversos ànova revelação, tomou as
maiores precauções antes de aceitar a evidência que o convenceria da autenticidade das
manifestações espíritas. A experiência geral mostra que uma aceitação fácil de tais
manifestações é muito rara entre pensadores sérios e que dificilmente se encontra um
espírita eminente, cujo curso de estudos e de meditação não tenha consumido muitos anos.
Isto forma um notável contraste com aquêles cuj a opinião negativa é devida a um
preconceito inicial e a relatos tendenciosos ou escandalosos de autores fanáticos.
No excelente resumo de suas investigações, dado no artigo citado, um artigo capaz de
converter todo o povo americano, se êle estivesse preparado para a assimilação, o Juiz
Edmonds mostra a sólida base de sua crença. Destaca que nunca estava só quando essas
manifestações ocorreram e que teve muitas testemunhas. Também mostra as minuciosas
precauções que tomou:
“Depois de confiar nos meus próprios sentidos, nas diversas fases do fenômeno, invoquei o
auxílio da ciência e, com a assistência de um hábil eletricista e seus mecanismos, e oito ou
dez pessoas inteligentes, educadas e sérias, examinei o assunto. Continuamos a nossa
investigação durante vários dias e, para nossa satisfação, constatamos duas coisas: primeiro,
que os sons não eram produzidos por qualquer pessoa presente ou perto de nós; segundo,
que êles não se produziam à nossa vontade.”
Ocupa-se finalmente com as supostas “charlatanices”, segundo a expressão dos jornais,
algumas das quais de vez em quando são verdadeiras expressões contra um ou outro vilão,
mas que, em geral causam maiores decepções, conscientes ou inconscientes ao público do
que os males que pretendem evitar.
Assim:
“Quando as coisas se encontravam neste pé, apareceram nos jornais várias explicações de
“fraudes e charlatanices”, como costumavam dizer. Li-as com cuidado, na esperança de que
me ajudassem em minhas pesquisas e apenas pude sorrir ante a ousa-dia e a futilidade de
tais explicações. Por exemplo, quando certos professores ilustres de Buffalo se
congratulavam por haverem localizado no artelho e no joelho do médium a causa das
manifestações, estas se transformaram num toque de campainha colocada debaixo da mesa.
Era como a solução dada posteriormente por um ilustre professor na Inglaterra, que atribui
as batidas na mesa a uma fôrça especial das mãos colocadas sôbre ela, pondo de lado o fato
de que muito freqüentemente as mesas se movem quando não há mãos sôbre elas”.
Depois de focalizar a objetividade do fenômeno, o Juiz aborda a questão mais importante
da sua fonte. Comenta o fato de ter tido respostas a perguntas mentais e verifica que mesmo
os seus mais secretos pensamentos foram revelados e que idéias que êle propositadamente
havia mantido em segrêdo tinham sido manifestadas. Também observa que os médiuns
tinham usado grego, latim, espanhol e francês, mesmo ignorando essas línguas.
Isto o leva a considerar se as coisas não podem ser explicadas como um reflexo da mente
de alguma outra criatura viva. Essas considerações foram exaustivamente examinadas por
todos os pesquisadores, pois os Espíritas não aceitam a doutrina de um fato, mas passo a
passo, examinando cuidadosamente cada etapa. A tarefa empreendida pelo Juiz Edmonds é
a mesma empreendida por outros. Êle dá a seguinte explicação para a recusa da influência
de outras mentes:
“Fatos então completamente desconhecidos, foram verificados posteriormente. Como êste,
por exemplo: Quando, durante o último inverno eu me achava ausente, na América Central,
os meus amigos da cidade tiveram noticia de minhas excursões e da minha saúde, sete
vêzes através de um médium; quando voltei, comparando essas informações com os
registros em meu diário, foi verificado que tudo estava invariàvelmente correto. Assim,
também, em minha recente visita ao Oeste o meu giro e as minhas condições de saúde
foram ditos a um médium dessa cidade, enquanto eu viajava por estrada de ferro entre
Cleveland e Toledo. Assim muitas idéias me foram comunicadas sôbre coisas que não
estavam em minha mente e que eram absolutamente distintas de minha opinião. Isto me
aconteceu muitas vêzes, bem como a outras pessoas, de modo a confirmar seguramente o
fato de que não eram as nossas mentes que davam origem á comunicação ou a
influenciavam”.
Trata, então, dêsse maravilhoso desenvolvimento, chamando a atenção para o seu tremendo
significado religioso, em linhas gerais, assunto que é focalizado no capítulo seguinte desta
obra. O cérebro do Juiz Edmonds era realmente notável, e seu julgamento claro, pois muito
pouco nos é possível acrescentar ao que verificou êle, e talvez ninguém tenha dito tanto em
tão pouco espaço. Como frizamos, o Espiritismo mostrou-se consistente desde o início e os
mestres e os guias não confundiram as suas mensagens. É estranho e até divertido que a
ciência arrogante, que tentou, com simples palavras e deslumbramento, esmagar êsse
conhecimento inicial em 1850, tivesse demonstrado estar essencialmente errado em seu
próprio terreno. São raros os axiomas científicos daquela época que não tenham sido
controvertidos, como a finalidade do elemento, a indivisibilidade do átomo, a origem
distinta das espécies, enquanto os conhecimentos psíquicos, tão menosprezados, se
mantiveram firmes, aduzindo novos fatos, mas nunca contradizendo os que haviam sido
anteriormente estabelecidos.
Escrevendo sôbre os benéficos efeitos de tal conhecimento, diz o Juiz:
“É isto o que consola o triste e anima os desanimados; que suaviza a passagem pelo túmulo
e anula os terrores da morte; que ilumina o ateu e encoraja o virtuoso entre tôdas as provas
e vicissitudes da vida; e que demonstra ao homem o seu dever e o seu destino, tirando-o
imediatamente do vago e do incerto.”
Jamais o assunto foi melhor sintetizado.
Há, entretanto, uma passagem final nesse documento notável que causa uma certa tristeza.
Falando do progresso que o movimento tinha feito em quatro anos, nos Estados Unidos, diz
êle:
“Há dez ou doze jornais e periódicos dedicados à causa, e a bibliografia espírita abarca
mais de cem publicações diversas, algumas das quais já atingiram a circulação de mais de
10.000 exemplares. Além da multidão indistinta, há muitos homens de alta posição e de
talento alinhados entre êles — doutôres, advogados, grande número de clérigos, um bispo
protestante, o ilustre e reverendo presidente de uma universidade, juizes de nossas mais
altas côrtes, membros do Congresso, embaixadores estrangeiros e ex-membros do Senado
dos Estados Unidos.”
Em quatro anos a fôrça do Espírito fêz tanto assim. Como estão as coisas hoje? A multidão
indistinta avançou valentemente e a centena de publicações tornou-se muito mais; mas onde
se acham os homens esclarecidos e dirigentes para apontar o caminho? Desde a morte do
Professor Hyslop é difícil apontar nos Estados Unidos um homem eminente com a coragem
de jogar a sua carreira e a sua reputação proclamando essas idéias. Aquêles que nunca
temeram a tirania do homem encolheram-se ante as caretas da imprensa. A máquina
impressora triunfou onde a roda de tortura teria fracassado, O prejuízo geral em sua
reputação e nos seus interêsses, sofrido pelo Juiz Edmonds, que foi obrigado a resignar a
sua cadeira na Suprema Côrte de New York, bem como muitos outros que deram
testemunho da verdade, estabeleceu o reinado do terror, que afasta do assunto as classes
intelectuais. Assim estão as coisas presentemente.
Mas a imprensa no momento se achava bem disposta e o famoso relato do Juiz Edmonds,
talvez o mais belo e o mais momentoso jamais produzido por um juiz, foi acolhido com
respeito, senão com admiração. Eis o que disse o New York Courier:
“A carta do Juiz Edmonds, por nós publicada sábado, em relação às chamadas
manifestações espíritas, vinda, como veio, de um eminente jurista, um homem notável por
seu claro bom senso nas coisas da vida prática, e um cavalheiro de um caráter
irreprochável, atraiu a atenção da comunidade e é por muita gente considerada como um
dos mais notáveis documentos da atualidade.”
Disse o Evening Mirror, de New York:
“John W. Edmonds, Presidente da Suprema Côrte dêste distrito, é um jurista hábil, um juiz
ativo e um bom cidadão. Ocupando durante os últimos oito anos, ininterruptamente, as
mais altas posições na magistratura, sejam quais forem as suas faltas, ninguém poderá
acusá-lo justamente por falta de habilidade, de atividade, de honestidade e de destemor.
Ninguém poderá pôr em dúvida a sua sanidade geral ou por um momento pensar que a sua
atividade mental não seja tão rápida, precisa e correta como sempre. Tanto pelos advogados
como pelos solicitadores no seu Tribunal êle é reconhecido como a cabeça, de fato e de
mérito, da Suprema Côrte dêste Distrito.”
Também é interessante a experiência do Doutor Robert Hare, professor de Química na
Universidade de Pensilvânia, porque êle foi um dos primeiros eminentes homens de ciência
que, disposto a desmascarar as ilusões do Espiritismo, tornou-se, por fim, um crente
decidido.
Foi em 1853 que, segundo suas próprias palavras, sentiu-se “chamado, por um ato de dever
para com a humanidade, a trazer tôda a influência que possuía no sentido de estacar a maré
de loucura popular que, desafiando a razão e a ciência, estava se alastrando rapidamente em
favor da grande ilusão chamada Espiritismo.” Uma carta denunciadora sua, publicada nos
jornais da Filadélfia, onde vivia, foi transcrita por outros jornais do país e serviu de texto a
numerosos sermões. Mas, como no caso de Sir William Crookes, muitos anos mais tarde, o
júbilo foi prematuro. Conquanto um grande céptico, o Professor Hare foi induzido a fazer
experiências, êle próprio, e após um período de ensaios cuidadosos tornou-se inteiramente
convencido da origem espírita das manifestações. Como Crookes, criou aparelhos para
controlar os médiuns. Mr. S. B. Brittan (2)
com treze mil assinaturas, pedindo um inquérito ao Congresso dos Estados Unidos.
Encabeçava a lista o nome do Governador Tallmadge. Depois de uma discussão frívola, na
qual Mr. Shield, o apresentante, se referiu à crença dos signatários como devida a uma
ilusão, filha de uma educação defeituosa ou a desarranjos das faculdades mentais, foi
decidido que o requerimento ficasse sôbre a mesa, O fato foi assim comentado por Mr. E.
W. Capron (5):
“Não é provável que os signatários esperem melhor tratamento do que o que lhes foi dado.
Cabe aos carpinteiros e pescadores do mundo investigar as novas verdades e fazer que
Senados e Tronos creiam e as respeitem. É em vão esperar aceitação e respeito a novas
verdades por homens tão altamente colocados.”
A primeira organização espírita regular foi constituída em New York, a 10 de junho de
1854. Denominava-se “Sociedade para a difusão do Conhecimento Espírita”, e entre os
seus membros contava gente preeminente, como o Juiz Edmonds e o Governador
Tallmadge, de Wisconssn.
Entre as atividades da sociedade se incluía a fundação de um jornal chamado “The
Christian Spiritualist” (6)
6. “O Espírita Cristão”. — N. do T.
e o contrato de Miss Kate Fox para sessões diárias, franqueadas ao público, desde as dez da
manhã até uma da tarde.
Escrevendo em 1855, diz Capron (7):
“Tendo ultimamente adquirido faculdades mediúnicas em grau suficiente para trocar idéias
com Espíritos amigos, não mais necessito defender os médiuns da acusação de falsidade e
de mistificação. Agora é apenas o meu caráter que está em jôgo.”
Assim, retirando do cenário as irmãs Fox, temos a mediunidade particular do Reverendo A.
H. Jervis, do Diácono Hale, de Lyman Granger, do Juiz Edmonds, do Professor Hare, de
Mrs. Mapes, de Miss Mapes e a mediunidade pública de Mrs. Tamlin, de Mrs. Benedict, de
Mrs. Hayden, de D. D. Home e de dezenas de outros.
Escapa ao objetivo desta obra tratar de grande número de casos individuais de
mediunidade, alguns dos quais muito dramáticos e interessantes, ocorridos durante o
primeiro período de demonstração. O leitor poderá recorrer às duas importantes
compilações de Mrs. Hardinge Britten — “Modern American Spiritualism” e “Nineteenth
Century Mira cles” (9),
livros que serão sempre o mais valioso registro dos primeiros dias. A série de casos
fenomenais era tão grande que Mrs. Britten contou mais de quinhentos exemplos
registrados na imprensa nos primeiros anos, o que representa provàvelmente algumas
centenas de milhares não registrados. A suposta religião uniu-se à suposta ciência, de uma
vez, para desacreditar e perseguir a nova verdade e os seus partidários, enquanto a
imprensa, infelizmente, achou que o seu interêsse estava em sustentar os preconceitos da
maioria dos assinantes. Foi difícil proceder assim, porque naturalmente num movimento tão
vital e convincente, houve alguns que se tornaram fanáticos, alguns que, por suas ações,
atraíram o descrédito sôbre as suas opiniões, e alguns que tiraram partido do interêsse geral
de imitar, com maior ou menor sucesso, os reais dons do Espírito. Êsses tratantes
fraudulentos por vêzes agiam com inteiro sangue frio, embora por vêzes dessem a
impressão de que eram médiuns que haviam temporariamente perdido a mediunidade.
Houve escândalos e denúncias, fatos autênticos e imitações. Como agora, tais denúncias
partiam, às vêzes, dos próprios Espíritas, que se opunham tenazmente que as suas
cerimônias sagradas se transformassem em espetáculo para a hipocrisia e para a blasfêmia
de vilãos que, como hienas humanas, procuravam viver fraudulentamente à custa dos
mortos. O resultado geral foi um arrefecimento do grande entusiasmo inicial, um abandono
daquilo que era verdadeiro e o incensamento daquilo que era falso.
O corajoso relatório do Professor Hare provocou uma desgraçada perseguição a êsse
venerável cientista, que era então, com exceção de Agassiz, o mais conhecido homem de
ciência da América. Os professôres de Harvard — a universidade que tem o menos
invejável registro em assuntos psíquicos — toma uma resolução de o denunciar e a sua
“insana adesão à gigantesca mistificação”. Êle não podia perder a sua cátedra na
Universidade da Pennsylvania, por isso que a ela havia renunciado, mas sofreu muito na
sua reputação.
O coroamento e o mais absurdo exemplo de intolerância científica — uma intolerância que
foi sempre tão violenta e desarrazoada quanto a da Igreja Medieval — foi dado pela
Associação Científica Americana. esse corpo científico berrou contra o Professor Hare,
quando àquele se dirigiu, e estabeleceu que o assunto era indigno de sua atenção. Entretanto
os Espíritos registraram que aquela sociedade, na mesmíssima sessão, teve um animado
debate para saber por que os galos cantavam entre meia-noite e uma da manhã e que,
finalmente, haviam chegado à conclusão de que, especialmente naquela hora, passa pela
Terra uma onda de eletricidade, na direção norte-sul, e que as aves, despertas de seu sono e
“tendo uma natural disposição para cantar”, registram o acontecimento dessa maneira.
Ainda não se havia aprendido — e dificilmente terá sido aprendido — que um homem, ou
uma sociedade, podem ser muito sábios em assuntos de sua especialidade e, entretanto,
mostrar uma extraordinária falta de senso comum ao defrontarem uma nova proposição,
que requer um completo reajustamento de idéias. A ciência inglêsa e, na verdade, a ciência
do mundo inteiro, mostrou a mesma intolerância e falta de elasticidade que marcou aquêles
primeiros dias na América.
Êsses dias foram tão bem descritos por Mrs. Harding Britten, a qual nêles desempenhou
importante papel, que todos os interessados podem acompanhá-los em suas páginas.
Algumas notas relativamente a Mrs. Britten podem adequadamente ser aí introduzidas, de
vez que nenhuma história do Espiritismo seria completa sem referências a essa notável
senhora, que foi chamada o São Paulo feminino do movimento espírita. Era ela uma
pequena inglêsa que tinha ido para New York com uma emprêsa de teatro e tinha
permanecido na América com sua mãe. Sendo estritamente evangélica, repelia fortemente
aquilo que considerava um ponto de vista ortodoxo dos Espíritas e fugiu horrorizada de sua
primeira sessão. Depois, em 1856, foi novamente posta em contacto com o assunto e teve
provas cuja veracidade lhe foi impossível pôr em dúvida. Logo descobriu que era, também
ela, um poderoso médium; e um dos melhores documentados e dos mais sensacionais casos
no início do movimento foi aquêle no qual ela recebeu a informação de que o navio
“Pacific” tinha naufragado no Atlântico médio, perecendo todos os passageiros, e foi
perseguida pela companhia proprietária do navio, por haver repetido o que lhe havia dito o
Espírito de uma das vítimas da catástrofe. Verificou-se que a informação era exata e o
navio jamais foi encontrado.
Mrs. Emma Hardinge — que, por um segundo casamento, tornou-se Mrs. Hardinge Britten
trouxe todo o seu temperamento entusiástico para o novo movimento e deixou nêle um
rastro ainda visível. Foi uma propagandista ideal, pois reunia todos os dons. Era uma
médium forte, oradora, escritora, pensadora equilibrada e trabalhadora infatigável. Ano
após ano viajou de leste a oeste e de norte a sul dos Estados Unidos, proclamando a nova
doutrina em meio a muita oposição, dado o seu caráter de militante e anti-protestante de
seus pontos de vista, que confessava receber diretamente de seus guias espirituais.
Entretanto, como êsses pontos de vista eram que a moral das Igrejas estava
demasiadamente relaxada e que se aspiravam mais altos padrões, não é de supor que o
fundador do Cristianismo fôsse atingido por sua crítica. Essas opiniões de Mrs. Hardinge
Britten diziam mais com o largo ponto de vista unitário dos corpos espiritualistas oficiais,
que ainda existem, do que com qualquer outra causa.
Em 1866 voltou ela para a Inglaterra, onde trabalhou infatigàvelmente, produzindo as suas
idéias duas grandes obras “Modern Americctn Spiritualism” e, mais tarde, “Nineteenth
Century Miracles”, ambas demonstrando interessante e volumosa pesquisa unida a um
raciocínio claro e lógico. Em 1870 casou-se com o Doutor Britten, tão forte espírita quanto
ela. Parece que foi uma união realmente feliz. Em 1878 foram à Austrália e Nova Zelândia,
como missionários do Espiritismo, aí demorando muitos anos, fundando várias igrejas e
sociedades, que o autor encontrou ainda de pé, quando, quarenta anos mais tarde, visitou os
Antípodas com o mesmo objetivo. Quando na Austrália, escreveu ela “Faiths, Facts and
Frauds of Religions History” (10),
livro que ainda exerce muita influência. Houve então, indubitàvelmente, estreita conexão
entre o movimento do livre pensamento e a nova revelação espírita. O Hon. Robert Stout,
Procurador Geral da Nova Zelândia, era, ao mesmo tempo, Presidente da Associação dos
Livre Pensadores e Espiritista ardente. Entretanto, agora se compreende mais claramente
que as manifestações espíritas e seu ensino são demasiadamente largos, para se ajustarem a
qualquer sistema, negativo ou positivo, e que é possível a um Espiritista professar qualquer
credo, enquanto tiver o respeito essencial ao invisível e desprendimento por aquêles que o
cercam.
Entre outros monumentos de sua energia, Mrs. Hardinge Britten fundou “The Two Worlds”
(11)
de Manchester, que ainda, tem tão grande circulação quanto qualquer jornal espírita no
mundo. Transpôs os umbrais em 1889, tendo deixado suas pegadas indeléveis sôbre a vida
religiosa de três continentes.
Essa digressão sôbre os primeiros dias do progresso na América foi longa mas necessária.
Aquêles primeiros dias foram marcados por grande entusiasmo, muito sucesso, mas,
também, por considerável perseguição. Todos os dirigentes que tinham algo a perder,
perderam-no. Diz Mrs. Hardinge:
“O Juiz Edmonds era apontado nas ruas como um espírita maluco. Ricos negociantes eram
com pelidos a fazer declarações, a fim de serem considerados sãos e poderem manter os
seus direitos comerciais pela mais firme e determinada atitude. Profissionais e comerciantes
foram quase reduzidos á ruína e uma perseguição perseverante, originada na imprensa e
mantida pelo púlpito, descarregava tôda sorte de impropérios contra a causa e os seus
prosélitos. Muitas das casas onde se reuniam os grupos espÍritas eram perturbadas por
multidões, reunidas ao cair da noite, aos urros, aos gritos, aos assovios, quando não
quebrando as vidraças e procurando molestar os quietos investigadores no seu insano
trabalho de “despertar os mortos”, como piedosamente um dos jornais denominava o ato de
invocar os “Mistérios dos Anjos”.
De lado os altos e baixos do movimento, o aparecimento de novos médiuns, a ocasional
denúncia dos falsos médiuns, as comissões de inquérito — quase sempre negativas pela
falta de percepção dos investigadores de que o êxito de um grupo psíquico depende das
condições psíquicas de todos os seus membros — o desenvolvimento de novos fenômenos
e a conversão de novos iniciados, há alguns incidentes marcantes dessa primeira fase que
deve ser particularmente frisada. Notável entre êstes é a mediunidade de D. D. Home, e a
dos dois rapazes de Davenport, que constituem episódios tão importantes e atraem a
atenção de tal maneira e por tanto tempo que são tratados em capítulos especiais. Há,
entretanto, certas mediunidades menores, que reclamam uma breve referência.
Uma destas é a de Linton, o ferreiro, um homem quase analfabeto, pôsto que, como A. J.
Davis, tivesse escrito um livro notável e, ao que parece, ditado por um Espírito. Êsse livro
de 530 páginas, intitulado “The Healing o! the Nations” (12)
é, certamente, uma notável produção, seja qual fôr a sua fonte, e é óbvio que não poderia
ter sido produzido normalmente por tal autor. Está ornado de um prefácio longo, da pena do
Governador Tallmadge, que mostra quanto o digno senador conhecia a antiguidade
clássica. Do ponto de vista clássico e da Igreja Primitiva, poucas vêzes se tem escrito
melhor.
Em 1857 a Universidade de Harvard mais uma vez se notabilizou pela perseguição e
expulsão de um estudante, chamado Fred Willis, pela prática da mediunidade. Dir-se-ia que
o Espírito de Cotton Mather e dos perseguidores das feiticeiras de Salém haviam caído em
Boston, sôbre aquêle grande centro de saber, pois naqueles primeiros tempos estava sempre
em luta com aquelas fôrças invisíveis, que ninguém pensa em dominar. A coisa começou
por uma intempestiva ação da parte de um certo Professor Eustis, para provar que Willis
fraudava, quando tôdas as experiências provam que era um verdadeiro sensitivo, que fugia
de tôda demonstração pública de sua fôrça. O assunto produziu grande excitação e
escândalo.
Êste e outros casos de violência podem ser citados. Não obstante, é preciso reconhecer que
a esperança de êxito de um lado, e a efervescência mental causada por tão terrível revelação
do outro, arrastaram, neste período, os supostos médiuns a um tal grau de desonestidade e a
tão fanáticos excessos e grotescas afirmações, que comprometeram o sucesso imediato que
os espíritas mais sãos e corretos podiam esperar.
Uma curiosa fase de mediunidade, que atraiu muita atenção, foi a de um fazendeiro,
Jonathan Koons e sua família, que viviam num distrito rural de Ohio. Os fenômenos
obtidos pelos irmãos Eddy são discutidos mais amplamente no capítulo seguinte e, como os
dos Koons eram no mesmo sentido, não necessitam ser tratados minuciosamente. Os
instrumentos musicais foram largamente empregados em demonstrações da fôrça dos
Espíritos, e a cabana dos Koons tornou-se célebre em todos os Estados vizinhos — tão
célebre que vivia cheia de gente, pôsto que situada a setenta milhas da cidade mais
próxima.
Parece que se tratava de um verdadeiro caso de mediunidade de efeitos físicos, de natureza
vulgar, como era de esperar onde o centro era um fazendeiro bronco. Muitas investigações
foram feitas, mas os fatos ficaram sempre inatingidos pela crítica. Contudo, eventualmente,
Koons e sua família eram conduzidos de casa, pela perseguição da gente ignorante, em cujo
meio viviam. A vida rude, ao ar Livre, do fazendeiro parece especialmente adequada ao
desenvolvimento da forte mediunidade de efeitos físicos. Foi no lar de um fazendeiro
americano que ela primeiro se manifestou, e os Koons em Ohio, os Eddy em Vermont, Foss
em Massachusetts e muitos outros mostraram sempre a mesma fôrça.
Podemos fechar êste relato dos primeiros dias com muita propriedade, citando em fato onde
a intervenção dos Espíritos provou a sua importância para a história do mundo. Foi um
exemplo das inspiradas mensagens que determinaram a ação de Abrahan Lincoln no
momento supremo da guerra civil. Os fatos estão fora de discussão e são citados com
provas corroborantes do livro de Mrs. Maynard sôbre Abrahan Líncoln. O nome de solteira
de Mrs. Maynard era Nettia Colburn e ela foi a heroína da história.
A môça era poderosa médium de transe e visitou Washington no inverno de 1862, para ver
seu irmão que se achava no Hospital do Exército Federal. Mrs. Lincoln, espôsa do
Presidente, que se interessava pelo Espiritismo, fêz uma sessão com Miss Colburn, ficou
muito impressionada com o resultado e, no dia seguinte, mandou a carruagem buscar a
médium para ver o Presidente. Ela descreve a bondosa maneira com que o grande homem a
recebeu à entrada da Casa Branca e cita o nome das pessoas presentes. Sentou-se, caiu no
transe costumeiro e não se recorda de mais nada. E assim continua:
“Durante mais de uma hora fizeram falar com êle e, pelos amigos, soube mais tarde que a
conversa girava sôbre coisas que êle parecia entender muito bem, ao passo que êles pouco
entendiam, inclusive a parte relacionada com a próxima Proclamação da Emancipação. Foi-
lhe ordenado com a maior solenidade e fôrça de expressão que não modificasse os têrmos
da sua proposição e não adiasse a sua trans formação em lei até o comêço do ano; foi-lhe
assegurado que isto seria o coroamento de sua administração e de sua vida; e que, enquanto
êle estava sendo aconselhado por fortes elementos para adiar aquela medida, substituindo-a
por outras medidas e por uma dilação, não deveria dar atenção a tais conselhos, mas firmar-
se nas suas convicções e destemerosamente realizar o trabalho e cumprir a missão para a
qual tinha sido elevado pela Providência. Os presentes declararam que esqueceram a
presença da jovem timida, em face da majestade de sua advertência, a fôrça e o poder de
suas linguagens e a importância da sua mensagem, que dava a impressão de que uma
poderosa fôrça espiritual masculina falava sob um comando divino.
Jamais esquecerei a cena em meu redor, quando recuperei a consciência. Achava-me de pé
em frente a Mr. Lincoln, o qual se achava afundado em sua cadeira, com os braços
cruzados sobre o peito, olhando-me intensamente. Recuei, naturalmente confusa com a
situação — sem me lembrar de momento onde me achava; relanceei o olhar sôbre o grupo
no qual reinava absoluto silêncio. Durante um momento procurei recordar-me das coisas.
Um cavalheiro presente disse então, em voz baixa: “Senhor Presidente, notou algo de
peculiar na maneira da mensagem?” Mr. Lincoln levantou-se, como que abalado. Pousou o
olhar sôbre o retrato de corpo inteiro de Daniel Webster, acima do piano, e com muita
ênfase, respondeu: “Sim, e é muito singular, muito!”
Mr. Somes disse: “Senhor Presidente, seria impróprio que eu perguntasse se houve
qualquer pressão sôbre Vossa Excelência no sentido de adiar a aplicação da Proclamação?”
Ao que o Presidente respondeu: “Nestas circunstâncias a pergunta tem tôda propriedade,
pois somos todos amigos.” E, sorrindo para o grupo, acrescentou: “Essa pressão abala-me
os nervos e as fôrças.” A essa altura os cavalheiros o rodearam falando em voz baixa, sendo
Mr. Lincoln o que menos falava. Por fim êle virou-se para mim e, pondo a mão sôbre
minha cabeça, pronunciou as seguintes palavras que jamais esquecerei: “Minha filha, você
possui um dom singular; e não tenho dúvidas que vem de Deus. Agradeço-lhe por ter vindo
aqui esta noite. Isto é mais importante, talvez, do que a gente inimiga. Devo deixar vocês
todos agora, mas espero vê-la novamente.” Sacudiu bondosamente a mão, curvou-se ante o
resto do grupo e se foi. Ficamos ainda uma hora, a conversar com Mrs. Lincoln e seus
amigos e então voltei a Georgetown. Essa foi a minha primeira entrevista com Abraham
Lincoln e a sua lembrança me ficou tão viva como na noite em que ela se deu”.
Foi êste um dos mais importantes exemplos na história do Espiritismo e também deve tê-lo
sido na história dos Estados Unidos, não só porque animou o Presidente a dar um passo que
levantou enormemente o moral do Exército do Norte e pôs nos homens algo do espírito de
cruzada; mas uma mensagem que se seguiu apressou Lincoln a visitar os campos, o que êle
fêz com o melhor efeito sôbre o moral das tropas. Entretanto, em vão procurará o leitor
qualquer referência nos livros de história da grande luta e da vida do Presidente a êsse
episódio vital. Tudo isto devido ao incorreto tratamento tanto tempo suportado pelo
Espiritismo.
É impossível que se os Estados Unidos apreciassem a verdade, permitissem que o culto,
cujo valor ficou provado no mais sombrio momento de sua história, seja perseguido e
reprimido por uma polícia ignorante e por magistrados fanáticos, na maneira agora tão
comum, ou que a imprensa continue a mofar de um movimento que produziu a Joanna
DArc de seu país.
7
A Aurora na Inglaterra
OS PRIMEIROS espíritas freqüentemente têm sido comparados aos primeiros cristãos
e, na verdade, há muitos pontos de semelhança. Num ponto, entretanto, os espÍritas levam
uma vantagem. As mulheres da antiga dispensação representaram nobremente o seu papel,
vivendo como santas e morrendo como mártires; mas não aparecem como pregadoras e
missionárias. A fôrça psíquica e o conhecimento espírita, entretanto, são tão grandes num
sexo quanto no outro; daí muitos dos grandes pioneiros da revelação espírita terem sido
mulheres. Isto deve ser reclamado especialmente em relação a Emma Hardinge Britten,
criatura cujo nome cresce à medida que o tempo passa. Contudo, houve várias outras
missionárias destacadas; e a mais importante destas, do ponto de vista inglês, é Mrs.
Hayden, a primeira a trazer os novos fenômenos a estas plagas, no ano de 1852. Tínhamos
dos velhos apóstolos a fé religiosa. Finalmente aqui estava um apóstolo do fato religioso.
Mrs. Hayden era uma senhora notável tanto quanto excelente médium. Era espôsa de
um respeitável jornalista da Nova Inglaterra, que a acompanhava em sua missão,
organizada por um tal senhor Stone, o qual tinha alguma experiência das faculdades dela na
América. Por ocasião de sua visita foi descrita como “môça, inteligente e, ao mesmo tempo,
de maneiras simples e cándidas”. Acrescenta o seu crítico britânico:
“Ele desarmava a suspeita por uma atitude de naturalidade sem afetação e muitos que
vinham procurar divertir-se à sua custa eram forçados ao respeito e, até, à cordialidade pela
paciência e bom humor que ela demonstrava. A invariável impressão deixada por uma
entrevista com ela era que, conforme a observação de Mr. Dickens, se os fenômenos
produzidos por ela fossem atribuidos a artifícios, era ela, até onde a arte poderia chegar, a
mais perfeita artista, jamais apresentada ao público.
A ignorante imprensa britânica tratou Mrs. Hayden como simples aventureira americana.
Seu verdadeiro calibre mental, entretanto, pode ser avaliado pelo fato de que, alguns anos
mais tarde, depois de seu regresso aos Estados Unidos, Mrs. Hayden formou-se em
medicina e exerceu a profissão durante quinze anos, O Doutor James Rodes Buchanan,
famoso pioneiro da psicometria, a ela se refere como “um dos mais hábeis e bem sucedidos
médicos que jamais conheceu.” Foi-lhe oferecida uma cadeira de professor de medicina
numa faculdade americana e ela foi empregada pela Globe Insurance Com pany, no serviço
de proteção da companhia contra os prejuízos nos seguros de vida. Um dos aspectos de seu
sucesso era aquilo que Buchanan descreve como o seu gênio psicométrico. E acrescenta um
único tributo ao fato de seu nome ter sido quase esquecido pela Junta de Saúde, porque,
durante muitos anos, ela não deu nenhum atestado de óbito.
Tudo isto, entretanto, estava acima do conhecimento dos cépticos de 1852, que não podem
ser censurados por insistirem para que essas estranhas manifestações de além-túmulo
fôssem examinadas com o máximo rigor, antes de serem admitidas. Ninguém poderia opor-
se a essa atitude da crítica. Mas o que parece estranho é que uma proposição que, se
verdadeira, envolveria tão boas novas quanto a transposição das barreiras da morte e a
verdadeira comunicação dos santos, provoque não uma crítica serena, conquanto rigorosa,
mas uma tempestade de insultos e de abusos, inescusáveis em qualquer momento, mas
principalmente quando dirigidos a uma senhora que visitava os nossos meios. Diz Mrs.
Hardinge Britten que Mrs. Hayden não apareceu em cena antes que os chefes da imprensa,
do púlpito e das academias não tivessem contra ela levantado uma tempestade de
obscenidades, de perseguições e de insultos, tão deprimentes para os autores quanto
humilhantes para o decantado liberalismo e para a acuidade científica de sua época.
Acrescenta que o seu delicado espírito feminino deve ter sido profundamente ferido e que a
harmonia mental, tão essencial à produção de bons resultados psicológicos, constantemente
foi destruída, pelo cruel e insultuoso tratamento daqueles que se apresentaram como
investigadores, mas na verdade ardendo de desejo de destrui-la e armando ciladas para
falsearem as verdades de que Mrs. Hayden se tornara instrumento. Extremamente sensível
ao ânimo de seus visitantes, ela podia sentir, e por vêzes se abateu sob a esmagadora fôrça
do antagonismo despejada sôbre ela — sem que, então, soubesse como repelir ou resistir.
Ao mesmo tempo não se achava a nação inteira envolvida nessa hostilidade irracional que,
de forma diluída, ainda vemos em tôrno de nós. Levantaram-se homens corajosos, que não
temeram comprometer a sua carreira profissional ou a sua reputação de equilíbrio, como
campeões contra uma causa impopular: eram tangidos pelo simples apêgo à verdade e por
aquêle espírito cavalheiresco, revoltado contra a perseguição a uma senhora. O Doutor
Ashburner, um dos médicos do rei e Sir Charles Isham eram contados entre os que
defenderam o médium pela imprensa.
Julgada pelos modernos padrões, a mediunidade de Mrs. Hayden parece ter sido
estritamente limitada. A não ser para as batidas, pouco se fala de fenômenos físicos, do
mesmo modo que não se alude a luzes, a materializações, ou Vozes Diretas. Entretanto, em
harmoniosa companhia, as respostas obtidas pelas batidas eram exatas e convincentes.
Como todo verdadeiro médium, era sensitivo às discórdias em seu redor. E o resultado
disso era que a multidão desprezível de zombadores e pesquisadores de maus instintos que
a visitavam tinham nela uma vítima fácil. Decepção é paga com a decepção e o louco
recebe resposta conforme a sua Loucura, embora a inteligência que está por detrás das
palavras aparentemente não se preocupe muito com o fato de que o instrumento empregado
possa ser tomado como responsável pela resposta. Êsses pseudopesquisadores enchem a
imprensa com seus relatos humorísticos de como enganaram aos Espíritos quando, na
realidade, êles é que foram enganados. George Henry Lewes, posteriormente espôso de
George Eliot (1)
1. George Eliot é o nome literário de Mary Ann Evans, nascida em 1819 e morta em 1880.
Enviuvou em 1878; casou-se pouco antes de morrer, com J. W. Cros. — N. do T.
era um dêsses cínicos investigadores. Conta êle com ironia que, tendo perguntado por
escrito ao Espírito manifestante: “Mrs. Hayden é uma impostora?”, êste respondeu:
“Sim”. Lewes era suficientemente desonesto para citar isto como se fôsse uma confissão de
culpa de Mrs. Hayden. Qualquer um daí deduziria que as batidas eram inteiramente
independentes do médium e, ainda, que perguntas feitas com puro espírito de frivolidade
não merecem resposta séria.
Entretanto, é pela forma positiva e não pela negativa que perguntas como esta devem ser
julgadas; e o autor deve aqui usar citações mais do que normalmente é seu hábito, pois não
há outra maneira de mostrar como aquelas sementes foram inicialmente lançadas na
Inglaterra e destinadas a atingir tão grandes alturas. Já aludiu ao testemunho do Doutor
Ashburner, o famoso médico e talvez seja bom acrescentar algumas palavras suas. Diz êle
(2)
“O sexo deveria tê-la protegido contra as injúrias, se. êsses rapazes da imprensa não têm
consideração pelos sentimentos de hospitalidade para com alguém de nossa classe, pois
Mrs. Hayden é espôsa de um antigo editor e proprietário de jornal em Boston, o qual tem a
maior circulação na Nova Inglaterra. Eu lhes declaro que Mrs. Hayden não é uma
impostora; e quem quer que se aventure a uma conclusão oposta fá-lo-á sacrificando a
verdade.”
Novamente, em longa carta a The Reasoner (3)
3. 1º e 8 de junho de 1853.
depois de confessar que tinha visitado a médium numa disposição de espírito de absoluta
incredulidade, esperando testemunhar “a mesma classe de aparentes absurdos”, que tinha
encontrado em outros supostos médiuns, escreve Ashburner: “Em relação a Mrs. Hayden
tenho tão forte convicção de sua perfeita honestidade que me admiro de que alguém possa
deliberadamente acusá-la de fraude”. Ao mesmo tempo fornece detalhes de comunicações
verazes que recebeu.
Entre os investigadores estava o célebre matemático e filósofo Professor De Morgan. Êle
relata suas experiências e conclusões no longo e magistral prefácio ao livro de sua espôsa
“From Matter lo Spirit”, publicado em 1863, dizendo:
“Há dez anos passados Mrs. Hayden, a conhecidíssima médium americana, veio sozinha à
minha casa. A sessão começou imediatamente após a sua chegada. Oito ou nove pessoas de
todos os graus de crença e de descrença de que a coisa fôsse impostura se achavam
presentes. As batidas começavam como de costume. Para mim eram limpas, claras, fracos
sons que, se tivessem durado, dir-se-iam de uma campainha. Então os comparei ao ruido
feito pelas pontas de agulhas de tricô, se largadas de uma certa altura sôbre o mármore de
uma mesa e que instantâneamente fôsse abafado por um processo qualquer. E a seguir a
prova que fizemos mostrou que minha descrição era razoàvelmente aceitável... No último
período naquela noite, depois de cêrca de três horas de experiência, Mrs. Hayden levantou-
se e falando a uma outra mesa, enquanto tomava um refresco, sübitamente uma criança
disse: “Quererão todos os Espíritos que estiveram aqui esta noite bater ao mesmo tempo?”
Nem bem haviam sido pronunciadas aquelas palavras e uma saraivada de batidas de
agulhas de tricô foi ouvida durante cêrca de dois segundos, ouvindo-se distintamente o
ruído forte das dos homens e mais fraco das mulheres e crianças, embora em perfeita
desordem na sua produção”.
Depois de uma observação no sentido de assentar que admite as batidas como produzidas
pelos Espíritos, continua o Professor De Morgan:
“Solicitado a fazer uma pergunta ao primeiro Espírito, perguntei se poderia fazer tal
pergunta mentalmente, isto é, sem a pronunciar, ou a escrever, ou apontar as letras
componentes, e se Mrs. Hayden poderia ficar com os braços estendidos enquanto estivesse
sendo dada a resposta. Os pedidos foram imediatamente garantidos por duas batidas. Fiz a
pergunta e desejei que a resposta fôsse dada numa só palavra que escolhi; tudo
mentalmente.
Então, tomei o alfabeto impresso, pus o livro de pé à sua frente e, olhando para aquêle,
comecei a apontar as letras como de costume. Foi dada a palavra “chass” (4);
4. Xadrez (o jogo). — N. do T.
foi dada por meio de batidas a cada letra. Eu tinha agora uma raciocinada certeza da
seguinte alternativa: ou uma leitura do pensamento de caráter inteiramente inexplicável, ou
uma acuidade sobrehumana da parte de Mrs. Hayden, que lhe permitia perceber a letra que
eu fixava, muito embora, sentada a cêrca de dois metros do livro que escondia o meu
alfabeto, nem pudesse ver a minha mão nem os meus olhos nem, de modo algum, como
estava apontando as letras. Antes que a sessão terminasse eu tinha sido obrigado a afastar a
segunda hipótese.”
Outro episódio da sessão, que êle relata, é dado com muitos detalhes, numa carta dirigida
ao Reverendo W. Heald dez anos antes, que fosse publicada no livro de sua espôsa
“Memoir of Agostous De Morgan”, páginas 221 e 222:
“Então veio meu pai (ob. 1816) e, depois de uma ligeira conversa, o seguinte diálogo foi
estabelecido:
-“Lembra-se de um periódico que tenho em mente?” —“Sim.” — “Lembra-se das
expressões que se referem a você?”
— “Sim.” — “Pode dar-me pelas cartas as iniciais daquelas expressões?” — “Sim.”
“Então comecei a apontar o alfabeto, tendo um livro a tapar as cartas. Mrs. H. se achava do
outro lado de uma grande mesa redonda e uma lâmpada forte estava entre nós. Apontei letra
por letra até que cheguei a F, que supunha fôsse a primeira inicial. Nenhuma batida.
Alguém perto de mim disse: “Você passou; houve uma batida no comêço.” Recomecei e
ouvi uma batida distinta no C. Isto me intrigou, mas logo vi o que era. A sentença havia
começado por uma batida mais cedo do que eu esperava. Eu tinha deixado passar o “C” e
registrado o “D” “T” “E” “O” “C”, iniciais das palavras consecutivas de referência a meu
pai, numa velha revista publicada em 1817, das quais ninguém na sala jamais ouvira falar,
exceto eu. “C” “D” “T” “E” “O” “C” estava certo e, assim que o constatei, parei,
perfeitamente satisfeito que alguma forsa, ou alguém, ou algum Espírito, estivesse lendo os
meus pensamentos. Estas e outras coisas se continuaram por cêrca de três horas, durante
grande parte das quais Mrs. H. estivera lendo a “Key to Uncle Tom’s Cabin” (5),
que nunca tinha visto antes e lhe asseguro que o fazia com tanta avidez quanto você pode
imaginar numa americana que o vê pela primeira vez. Enquanto isto, nós nos distraíamos
por outro lado com as batidas. Declaro que tudo isto é absolutamente verdadeiro. Desde
então tenho visto isto com freqüência em minha casa, sob o testemunho de várias pessoas.
A maior parte das respostas é dada pela mesa, na qual são colocadas de leve uma ou duas
mãos, para apontar as letras. Há muita coisa confusa nas respostas, mas de vez em quando
vem algo que nos surpreende. Não tenho idéia formada a respeito, mas em um ou dois anos
pode acontecer algo de curioso. Entretanto estou satisfeito com a realidade do fenômeno.
Como eu, muitas outras pessoas conhecem êstes fenômenos, experimentando em suas
próprias casas. Se você é um filósofo, pense o que quiser.”
Quando o Professor De Morgan diz que algum Espírito estava lendo seus pensamentos,
deixa de observar que o incidente da primeira letra era prova de qualquer coisa que não
estava em sua mente. Assim, da atitude de Mrs. Hayden durante a sessão, é claro que se
tratava de sua atmosfera e não de sua atual personalidade consciente. Outras provas
importantes do De Morgans vão para o Apêndice.
Mrs. Fitzgerald, a conhecida figura dos primeiros tempos do Espiritismo em Londres,
publica no The Spiritualist de 22 de novembro de 1878, a notável experiência feita com
Mrs. Hayden, que damos a seguir:
“Meu primeiro contacto com o Espiritismo se deu há trinta anos, quando da primeira visita
a êste país feita pela conhecida médium, Mrs. Hayden. Fui convidada a vê-la numa reunião
dada por uma amiga em Wimpole Street, em Londres. Tendo antes assumido para aquela
tarde um compromisso que não podia cancelar, cheguei atrasada, depois de uma cena
extraordinária, da qual todos falavam animadamente. Meu olhar de desapontamento foi
notado e Mrs. Hayden, que então encontrava pela primeira vez, adiantou-se muito bondosa,
exprimindo o seu pesar e sugerindo que me sentasse a uma mesinha, separada das Outras
pessoas, e que iria pedir aos Espíritos que se comunicassem comigo. Tudo isso era tão novo
e surpreendente que eu quase não compreendia o que ela estava dizendo ou o que eu devia
esperar. Ela colocou um alfabeto impresso à minha frente, um lápis e uma fôlha de papel.
Enquanto isto fazia, senti extraordinariamente as batidas sôbre a mesa, cujas vibrações me
atingiam a planta do pé, apoiado sôbre o pé da mesa. Então ela me ensinou a anotar cada
letra indicada por uma batida distinta e, com essa simples explicação, deixou-me entregue a
mim mesma. Indiquei, como desejava, e uma batida distinta marcou a letra E; outras se
seguiram até formarem um nome que eu não podia ignorar. Foi dada a data da morte, que
eu ignorava e acrescendo uma mensagem que trouxe á minha memória as últimas fracas
palavras de uma velha amiga, a saber: “Velarei por ti!” Então se desenhou vivamente em
minha memória a lembrança de tôda a cena. Confesso que fiquei estupefata e algo aterrada.
Levei o papel no qual tudo isso fôra escrito e ditado pelo Espírito de minha amiga ao seu
último procurador e êle me garantiu que as datas, etc. , estavam perfeitamente corretas. Não
tinham ficado em minha mente porque eu não me tinha preocupado com elas.”
É interessante notar que Mrs. Fitzgerald declara que supunha que a primeira sessão de Mrs.
Hayden em Londres tinha sido feita com Lady Cambermere, seu filho, o Major Cotton, e
Mr. Henry Thompson, de York.
No mesmo volume de The Spiritualist, à página 264, aparece o relato de uma sessão com
Mrs. Hayden, realizada em vida de Charles Young, o conhecido ator trágico, escrito por seu
filho, o Reverendo Julian Young:
“19 de Abril de 1853. Neste dia fui a Londres com o propósito de consultar meus
advogados sôbre assunto de importância para mim e, tendo ouvido falar muito de uma Mrs.
Hayden, senhora americana e médium espírita, desde que me achava na cidade resolvi
descobri-la e avaliar os seus dons por mim mesmo. Acidentalmente encontrei um velho
amigo, Mr. H., a quem pedi o enderêço dela. Disse-me êle que era em 22, Queen Street,
Cavendish Square. Como êle jamais a tinha visto e desejava vê-la, mas não queria gastar
um guinéu para isto, convidei-o para ir comigo. Aceitou com satisfação. As batidas de
espíritos tornaram-se tão comuns em 1853 que eu abusaria da paciéncia do leitor se fôsse
descrever a maneira convencional de comunicação entre vivos e mortos. Desde a data
acima tenho assistido muito a batidas de Espíritos; e, con quanto meus órgãos da
imaginação sejam muito desenvolvidos, e eu tenha um fraco pelo místico e pelo
sobrenatural, ainda não posso dizer que haja testemunhado qualquer fenômeno espírita que
não possa ser explicado por meios naturais, exceto o caso que vou relatar, no qual qualquer
conluio parece afastado, pois o amigo que me acompanhava jamais tinha visto Mrs. Hayden
e ela nem sabia o seu nome nem o meu. Entre mim e Mrs. Hayden travou-se o seguinte
diálogo:
Mrs. H.: — O senhor deseja comunicar-se com algum amigo já falecido?
J. C. Y.: — Sim.
Mrs. H.: — Então tenha a bondade de fazer perguntas na maneira indicada na fórmula e eu
lhe digo que obterá respostas satisfatórias.
J. C. Y. (Dirigindo-se a um invisível que admitia estivesse presente): — Diga-me o
nome da pessoa com quem desejo comunicar-me.
As letras foram marcadas por batidas à medida que eram pronunciadas e formaram o nome
de George William Young.
— Em quem estão fixados os meus pensamentos?
— Frederick William Young.
— De que sofre êle?
— Tic doloroso.
— Pode indicar alguma coisa para êle?
— Enérgico mesmerismo.
- Quem lho poderia administrar?
— Alguém que tivesse grande simpatia com o paciente.
— Eu teria êxito?
— Não.
— Quem teria?
— Joseph Ries.
Era um rapaz a quem meu tio respeitava.
— Perdi algum amigo recentemente?
— Sim.
— Quem?
Eu estava pensando em Miss Young, uma prima longe.
— Christiana Lane.
— Pode dizer onde dormirei esta noite?
— Em casa de James B, 9, Clarges Street.
— Onde dormirei amanhã?
— Na casa do Coronel Weymonth, em Upáginaser Grosvenor Street.
Eu estava tão assombrado com a exatidão das respostas dadas as minhas perguntas que
disse ao senhor que estava comigo que desejava fazer algumas perguntas íntimas, que
ninguém deveria ouvir e, assim, me via obrigado a lhe pedir que passasse á sala vizinha por
alguns minutos. Isto pôsto, retomei o diálogo com Mrs. Hayden.
— Levei o meu amigo a afastar-se porque não desejo que êle saiba da pergunta que
desejo fazer; mas, também, estou ansioso por que a senhora também não a saiba e, se bem
compreendo, nenhuma resposta me pode ser dada senão por intermédio da senhora. Em tais
circunstâncias, como deveremos proceder?
— Faça a sua pergunta de maneira que a resposta possa ser dada por uma palavra que
focalize a idéia que o senhor tem em mente.
— Tentarei. Realizar-se-á aquilo que me ameaça?
- Não.
— Isto não satisfaz. É fácil dizer sim ou não, mas o valor da afirmação ou da negação
dependerá da convicção que tenho de que a senhora saiba em que estou pensando. Dê-me
uma palavra que mostre que a senhora tem a pista dos meus pensamentos.
— Testamento.
— Na verdade, um testamento pelo qual eu seria beneficiado estava ameaçado de
contestação. Eu desejava saber se a ameaça seria levada a efeito. A resposta recebida era
correta”.
Deve notar-se que Mr. Young, antes ou depois da sessão, não acreditava na manifestação
dos Espíritos e que, certamente, depois dessa experiência, a assimilação de novos
conhecimentos não depõe muito em favor de sua inteligência ou de sua capacidade.
A seguinte carta de Mr. John Malcolm, de Clifton, Bristol, publicada em The Spiritualist,
menciona como são os assistentes pessoais muito conhecidos. Discutindo a questão
levantada: onde teria sido realizada a primeira sessão na Inglaterra e quem a teria assistido,
diz êle:
“Não me lembro da data; mas, visitando a minha amiga Mrs. Crowe, autora de “The Night
Side of Natitre” (6)
esta me convidou para acompanhá-la a uma sessão espírita em casa de Mrs. Hayden, em
Queen Anne Street, Cavendish Square. Informou-me que Mrs. Hayden acabava de chegar
da América para exibir os fenômenos espíritas ao povo da Inglaterra, que deveria
interessar-se pelo assunto. Estavam presentes Mrs. Crowe, Mrs. Milner Gibson, Mr. Collej
Grattan, autor de “High Ways and Bye Ways” (7),
Mr. Robert Chambers, Doutor Daniel, Doutor Samuel Dickson e muitos outros cujos nomes
não ouvi.
Algumas manifestações notabilíssimas ocorreram nessa ocasião. Posteriormente tive
oportunidade de visitar Mrs. Hayden e, con quanto de início inclinado a duvidar da
autenticidade dos fenômenos, tive prova tão evidente da comunicação dos Espíritos que me
tornei um firme crente nessa verdade”.
Na imprensa inglêsa desencadeou-se furiosa luta. Pelas colunas do jornal londrino Critic,
Mr. Henry Spicer, autor de “Sights and Sounds” (8),
8. “Visões e ruídos”. — N. do T.
8
Progressos Contínuos na Inglaterra
O RELATO feito por Mrs. De Morgan sôbre dez anos de experiência de Espiritismo
cobre um período de 1853 a 1863. O aparecimento dêsse livro com o prestigioso prefácio
do Professor De Morgan, foi um dos primeiros sinais de que o novo movimento tanto se
espalhava nas altas camadas quanto nas massas. Então surgiu o trabalho de D. D. Home e o
dos Davenport, que são tratados alhures minuciosamente. O exame pela Sociedade
Dialética começou em 1869 e a êle nos referimos mais adiante. O ano de 1870 foi a data
das primeiras pesquisas de William Crookes, empreendidas depois do escândalo produzido
pela recusa dos homens de ciência “de investigar a existência e a natureza de fatos
constatados por muitas testemunhas honestas e fidedignas.”
No mesmo periódico — o Quarterly Jour. nal of Science — refere-se êle à crença
compartilhada por milhões, e acrescenta: “Quero verificar as leis que regem a manifestação
de tão notáveis fenômenos que, presentemente, ocorrem numa amplitude quase incrível.”
A história dessa pesquisa foi publicada in extenso em 1874 e causou tamanho tumulto
entre os mais fossilizados homens de ciência — dêsses de quem se pode dizer que ficaram
com a mente dominada por aquilo em que trabalham — que chegaram a propalar que êle
seria expulso da Sociedade Real. A tempestade desabou, mas Crookes foi chocado por sua
violência e verificou-se que, durante muitos anos, até que a sua posição fôsse consolidada,
tornou-se muito cauteloso em exprimir publicamente as suas opiniões. Em 1872-73
apareceu o Reverendo Stainton Moses como um novo fator e sua escrita automática
levantou o assunto para um plano mais espiritual, na opinião de muita gente. O lado
fenomênico pode atrair a curiosidade, mas quando muito repetido como que choca as
mentes judiciosas.
Então ficaram em moda as conferências e os transes. Mrs. Emma Hardinge Britten, Mrs.
Cora L. V. Tapáginasan e Mr. J. J. Morse fizeram orações eloqüentes, supostamente sob a
ação de Espíritos, influenciando largamente enormes auditórios. Mr. Gerald Massey, o
conhecido poeta e escritor e o Doutor George Sexton também fizeram conferências
públicas. De um modo geral o Espiritismo teve grande publicidade.
O estabelecimento da “British National Association of Spiritualists” (1)
em 1873 deu impulso ao movimento, porque muitos homens públicos bem conhecidos e
senhoras da alta sociedade a ela se associaram. Entre estas devem ser mencionadas a
Condessa de Caithness, Mrs. Makdougall Gregory (viúva do Professor Gregory, de
Edimburgo), o Doutor Stanhope Speer, o Doutor Gully, Sir Charles Isham, o Doutor
Maurice Davies, Mr. H. D. Jencken, o Doutor George Sexton, Mrs. Ross Church (Florence
Marryat), Mr. Newton Crosland e Mr. Benjamin Coleman.
A mediunidade de uma alta qualidade, no setor dos fenômenos físicos foi fornecida por
Mrs. Jencken (Kate Fox) e Miss Florence Cook. O Doutor J. R. Newton, famoso médium
curador da América, chegou em 1870, e numerosas curas gratuitas foram registradas. Desde
1870 Mrs. Everitt exercitou uma mediunidade maravilhosa, como a de D. D. Home,
gratuitamente, convencendo a muita gente. Herne e Williams, Mrs. Grupáginasy,
Eglington, Slade, Lottie Fowler e outros fizeram muitas conversões através de sua
mediunidade. Em 1872 as fotografias do Espírito de Hudson despertaram enorme interêsse
e em 1875 o Doutor Alfred Russel Wallace publicou o seu famoso livro “On Miracles and
Modern Spiritualism”. (2)
“Desde o aparecimento de Mr. Jlome, o número de médiuns aumenta dia a dia, como
aumenta a loucura e a impostura. Aos olhos dos tolos cada farsante se converteu numa
figura angélica; e não só cada farçante, mas cada trapaceiro, metido numa mortalha, é
chamado ou quer se chamar um “Espírito materializado”. Uma suposta religião foi assim
estabelecida e nela a honra dos mais sagrados nomes foi transferida para Espíritos de
batedores de carteiras. Não farei aos leitores o insulto de falar do caráter dessas divindades,
nem das doutrinas que as mesmas ensinam. Assim é sempre quando a loucura e a
ignorância tomam em suas mãos a arma da realidade eterna para abusos, distorsões e até
crimes. É o mesmo que crianças a brincarem com ferramentas aliadas; e quem, senão um
ignorante, iria gritar: faca malvada! Pouco a pouco o movimento se vai libertando dessas
excrescências; gradativamente se vai tornando mais moderado, mais puro e mais forte; e
como homens sensíveis e educados, estudam, oram e trabalham, empenhando-se em fazer
bom uso de seus conhecimentos, nesse sentido o movimento crescerá.
O segundo aspecto foi o aparente crescimento daquilo que pode denominar-se
Espiritismo anticristão, embora não anti-religioso. Isto levou William Howitt e outros
destacados mantenedores do movimento a se afastarem dêste. Howitt e outros escreveram
fortes artigos contra essa tendência no Spiritual Magazine.
Uma sugestão, quanto à necessidade de cautelas e equilíbrio apareceu nas observações de
Mr. William Stainton Moses que, numa comunicação lida perante a Associação Nacional
Britânica dos Espiritistas, a 26 de janeiro de 1880 diz (5)
De um modo geral pode dizer-se que a atitude da ciência organizada, durante êsses trinta
anos, foi tão irracional e anticientífica quanto a dos Cardeais para com Galileu e que, se
tivesse havido uma Inquisição Científica, esta teria lançado o terror sôbre o novo
conhecimento. Nenhuma tentativa séria, de qualquer espécie, até a formação da SOCIETY
FOR PSYCHICAL RESEARCH foi feita no sentido de compreender e explicar um assunto
que estava atraindo a atenção de milhões de criaturas. Em 1853 Faraday lançou a teoria de
que o movimento das mesas era produzido por uma pressão muscular, que pode realmente
ser verdadeira nalguns casos, mas nenhuma relação tem com a levitação de mesas e, em
todo o caso, só se aplica a uma classe de fenômenos psíquicos. A costumeira “objeção”
científica era que nada ocorria, mas isto desprezava o testemunho de milhares de pessoas
fidedignas. Outros sustentavam que aquilo que se passava era susceptível de ser repetido
por um feiticeiro, e qualquer imitação grosseira, como a paródia dos Davenport, feita por
Maskelyne, era calorosamente saudada como uma mistificação, sem referência ao fato de
que todo o aspecto mental da questão, com a sua prova esmagadora, ficava inatingido.
A gente “religiosa” ficava irritada por se ver sacudida nas suas práticas tradicionais e, como
selvagem, se dispunha a admitir que tudo aquilo era obra do diabo. Assim Católicos
Romanos e seitas Evangélicas se encontraram unidos na sua oposição. É fora de dúvida que
podemos chamar Espíritos baixos, desde que em redor de nós existem Espíritos de tôdas as
classes e que o semelhante atrai o semelhante. Mas os ensinamentos elevados, consistentes
e filosóficos que são dados aos investigadores sérios e de mentalidade honesta mostram que
não é o diabolismo, mas o Angelismo que está dentro do nosso alcance. O Doutor
Carpenter sustentou uma teoria complexa, mas parece que ficou só na sua aceitação e
mesmo na sua compreensão. Os cientistas tiveram uma explicação: era o estado das juntas,
o que é ridículo para quem quer que tenha tido experiência pessoal daqueles sons
percutidos, que variam desde o tic-tac de um relógio até a pancada de um martelete.
Outras explicações, vez por outra, incluíam a doutrina teosófica, que admitia os fatos mas
desprezava os Espíritos, descrevendo-os como cascões astrais, com uma espécie de semi-
consciência sonhadora, ou possivelmente uma consciência atenuada, que os reduzia a
criaturas sub-humanas pela inteligência e pela moralidade. Certamente a qualidade das
manifestações espíritas varia enormemente, mas o mais alto se acha tão elevado que
dificilmente podemos imaginar que apenas nos achamos em contacto com uma fração do
ser pensante. Entretanto, como é certo que, mesmo neste mundo, nosso ser subliminal é
muitíssimo superior à nossa individualidade normal, é muito natural que o mundo dos
Espíritos deve confrontar-nos com algo inferior aos seus mais altos poderes.
Uma outra teoria sustenta a Anima Mundi, vasto reservatório ou banco central da
inteligência, com uma câmara de compensação, na qual tôdas as consultas são atendidas.
Os rigorosos pormenores que recebemos do Outro Lado são incompatíveis com qualquer
idéia, tão vaga quão grandiosa, do destino. Finalmente, há uma alternativa realmente
formidável, que o homem tem um corpo etérico com muitos dons desconhecidos, entre os
quais deve ser incluído um poder de manifestação exterior em formas curiosas. É a esta
teoria da Criptestesia que Richet e outros se agarraram e até um certo ponto há um
argumento em seu favor. O autor se convenceu de que há uma etapa preliminar e elementar
em todo trabalho psíquico que depende de um poder inato e possivelmente inconsciente do
médium. A leitura em invólucro fechado, a produção de batidas a pedido, a descrição de
cenas distantes, os notáveis efeitos da psicometria, as primeiras vibrações da Voz Direta —
cada um e todos em diversas ocasiões parecem emanações do próprio médium. Assim, em
muitos casos deveria aparecer uma inteligência exterior capaz de se apropriar daquela fôrça
e utilizá-la para seus próprios objetivos. Temos uma ilustração nas experiências de Bisson e
de Schrenk Notzing com Eva, nas quais as formas ectoplásmicas a princípio eram sem
dúvida reflexo de ilustrações dos jornais, de certo modo modeladas pela passagem através
da mente do médium. Mais tarde veio um período mais profundo, no qual a forma
ectoplásmica evoluiu a ponto de se mover e falar. O grande cérebro de Richet e o seu
enorme poder de observação se concentraram muito sobre os fenômenos físicos e parece
que não teve muito contacto com as experiências pessoais mentais e espirituais que
possivelmente lhe teriam modificado os pontos de vista. Cabe, entretanto, acrescentar que
tais pontos de vista se desenvolveram continuamente na direção da explicação espírita.
Resta apenas a hipótese da personalidade complexa, que bem pode influenciar certos casos,
pôsto pareça ao autor que tais casos também possam ser explicados pela obsessão.
Entretanto êsses exemplos apenas tocam a superfície do assunto e ignoram completamente
o aspecto fenomênico, de modo que o assunto não deve ser levado muito a sério. Contudo
nunca será por demais repetido que o investigador deveria esgotar cada explicação normal
possível para sua completa satisfação, antes de adotar o ponto de vista espírita. Se assim
tiver procedido, sua plataforma será estável; se assim não tiver feito, jamais estará seguro
de sua estabilidade. Na verdade pode o autor dizer que, ano após ano, agarrou-se a cada
linha de defesa até que, finalmente, foi compelido, desde que tinha de guardar a
honestidade mental, a abandonar a posição materialista.
9
A Carreira de D. D. Home
DANIEL Dunglas Home nasceu em 1833 em Currie, uma aldeia perto de Edimburgo.
Havia um mistério relativamente à sua ascendência: tanto se afirmava, quanto se
negava que fôsse, de certo modo, da família do Conde de Home. Na verdade foi um homem
que herdou um tipo elegante, maneiras delicadas, disposição sensível e um gôsto para o
luxo, fôsse de que fonte fôsse. Mas pela sua fôrça psíquica e pelo entusiasmo que esta
comunicou ao seu caráter complexo, êle podia ser realmente tomado como o tipo exato de
um caçula aristocrata, que herda as tendências, mas não a riqueza dos pais.
Home saiu da Escócia para a Nova Inglaterra aos nove anos de idade, com uma tia que
o havia adotado, outro mistério que lhe cercava a existência. Aos treze anos de idade
começou a mostrar as faculdades psíquicas herdadas de sua mãe, descendente de velha
família de Highland e que possuía a faculdade de previsão característica de sua raça- Sua
tendência mística revelou-se numa conversa com um colega, chamado Edwin, acêrca de
uma história, na qual fôra feito um pacto em conseqüência do qual a criatura amada
mostrar-se-ia à outra depois da morte. Do mesmo modo os dois rapazes fizeram o pacto de
se mostrar um ao outro, Home mudou-se para outro distrito, a algumas milhas de distância
e, um mês mais tarde, certa noite, assim que foi para a cama, teve a visão de Edwin e
anunciou à sua tia a morte do rapaz, do que tiveram informação um ou dois dias depois.
Uma segunda visão, em 1850, referia-se à morte de sua mãe, que tinha ido com o marido
viver na América. Nessa ocasião o rapaz se achava acamado e sua mãe se achava fora, em
visita a amigos distantes.
Uma noite êle gritou por socorro e quando a tia chegou encontrou-o muito abatido.
Disse que a mãe havia morrido naquele dia às doze horas; que ela lhe havia aparecido e
dado aviso. Em breve batidas fortes começaram a perturbar aquêle lar quieto e os móveis a
serem arrastados por fôrças invisíveis. Sua tia, criatura de estreita visão religiosa, disse que
o rapaz havia trazido o Diabo para casa e jogou-o na rua.
Êle refugiou-se com os amigos e nos anos seguintes passava na casa de um para a de outro,
de cidade em cidade. Sua mediunidade se havia desenvolvido poderosamente e nas casas
em que se hospedava realizava freqüentes sessões, às vêzes seis ou sete por dia, pois as
limitações da fôrça e as reações entre o físico e o psíquico eram então mal compreendidas.
Isto lhe produzia grande perda de fôrças, e freqüentemente o levava para a cama.
Multidões acorriam de todos os lados para presenciar as maravilhas que se produziam na
presença de Home. Entre os que então investigaram com êle estava o poeta americano
Bryant, que era acompanhado pelo Professor Wells, da Universidade de Harvard. Em New
York encontrou muitos americanos distintos, dos quais três fizeram sessões com êle: o
Professor Hare, o Professor Mapes e o Juiz Edmonds, da Suprema Côrte de New York.
Êstes três, como ficou dito, tornaram-se espiritistas convictos.
Nesses primeiros anos o encanto da personalidade de Home e a profunda impressão criada
por sua fôrça permitiram que recebesse muitas ofertas. O Professor George Bush convidou-
o para sua companhia, a fim de estudar para ministro swedenborgiano; Mr. e Mrs. Elmer,
um rico casal sem filhos, que lhe haviam tomado grande afeição, ofereceram-se para adotá-
lo e fazê-lo seu herdeiro, com a condição de trocar o nome pelo de Elmer.
Seu notável poder curador tinha excitado a admiração e, persuadido pelos amigos, começou
a estudar medicina. Mas a sua saúde delicada, complicada com uma afecção pulmonar,
forçou-o a abandonar os seus planos e, a conselho médico, deixou New York e foi para a
Inglaterra.
Chegou a Liverpool a 9 de abril de 1855, e foi descrito como um jovem alto, esguio, de
marcada elegância e exagerada limpeza do vestir, mas com um olhar típico e uma
expressão que traía a devastação feita pela moléstia. Tinha os olhos azuis e os cabelos
castanhos; era dêsse tipo facilmente sujeito a tuberculose e a extrema emaciação mostrava
quanto era insignificante a sua capacidade de resistência. Um médico, bom observador,
certamente lhe faria um prognóstico de apenas uns meses de vida, num clima úmido como
o nosso e de tôdas as maravilhas que Home realizava, o prolongamento da sua vida
certamente não foi das menores. Seu caráter já havia tomado aquêles traços emocionais e
religiosos que o distinguiam e êle recordou como, antes de desembarcar, correu para o seu
camarote e ajoelhou-se em prece. Quando a gente considera a admirável carreira que se
abre à sua frente e o grande papel que êle desempenhou no estabelecimento das bases
materiais que diferenciam êsse movimento religioso de qualquer outro, pode proclamar-se
que êsse visitante estava entre os mais notáveis missionários que jamais apareceram por
estas plagas.
No momento a sua posição era muito singular. Tinha uma relação difícil com o mundo.
Seu pulmão esquerdo estava parcialmente destruído. Seus recursos eram modestos, embora
suficientes. Não tinha negócios nem profissão e sua educação havia sido interrompida pela
doença. De caráter desconfiado, gentil, sentimental, artístico, afetuoso e profundamente
religioso, tinha uma profunda tendência para a Arte e para o Drama. Assim, a sua
capacidade para a escultura era considerável e como declamador provou mais tarde que
pouca gente o igualava. Mas acima de tudo isto, de uma honestidade inflexível e tão
rigorosa que por vêzes chegava a ofender aos seus aliados, havia um dom tão admirável que
apagava todos os demais. Êste repousa naquelas fôrças, muito independentes de sua
vontade, que iam e vinham com desconcertante subitaneidade, mas demonstrando a todos
que examinassem a prova, que havia algo na atmosfera dêsse homem que permitia que as
fôrças a êle exteriores, como exteriores à nossa percepção, se manifestassem neste plano da
matéria. Por outras palavras, êle era um médium — o maior que o mundo moderno já viu,
no campo das manifestações físicas.
Um homem inferior teria usado os seus poderes extraordinários para fundar uma seita
especial, da qual teria sido o sumo sacerdote inconteste, ou para se rodear de uma auréolà
de poder e de mistério. Certamente muita gente na sua posição teria sido tentada a usar
aquêles dons para fazer dinheiro. Em relação a êste ponto seja dito antes de mais nada que
no curso de seus trinta anos de estranho ministério, jamais êle tocou num tostão como paga
de seus dons. É absolutamente certo que lhe foram oferecidas duas mil libras pelo Clube
União, em Paris, no ano de 1857, por uma única sessão, e que êle, pobre e inválido, as
recusou terminantemente. “Fui mandado em missão”, disse êle. “Essa missão é demonstrar
a imortalidade. Nunca recebi dinheiro por isso e jamais o receberei”. Houve certos
presentes da Realeza que não podiam ser recusados sem grosseria: anéis, alfinêtes de
gravatas e outros, que mais eram sinais de amizade do que recompensa; porque, antes de
sua morte prematura, poucos eram os monarcas da Europa com os quais êsse môço
desconfiado de um subúrbio de Liverpool não estivesse em afetuosa intimidade. Napoleão
3º cuidou de sua única irmã; o Imperador da Rússia foi testemunha de seu casamento. Qual
o novelista que seria capaz de inventar uma tal carreira?
Há, porém, tentações mais sutis do que as da riqueza. A inquestionável honestidade de
Home foi a melhor salvaguarda contra aquelas. Jamais êle perdeu, por um só instante, a sua
humildade e o seu senso de proporção. “Tenho êsses poderes”, teria êle dito, serei feliz até
o limite de minhas fôrças, eu vô-los demonstrar, se vos aproximardes de mim, do mesmo
modo que um cavalheiro se aproximaria de outro. Alegrar-me-ei se lançardes um pouco
mais de luz sôbre elas. Prestar-me-ei a qualquer experiência razoável. Eu não exerço
controle sôbre elas. Elas me usam, mas eu não as uso. Elas me abandonam durante meses e
voltam com redobrada energia. Eu sou um instrumento passivo — nada mais.” Tal era a sua
atitude invariável. Êle era sempre o homem mundano fácil e amigo, que nem tinha o manto
do profeta nem o turbante do mágico. Como os homens realmente grandes, não havia em
sua natureza o mínimo de pose. Um indício de sua elegância é que, sempre que devia
confirmar os seus resultados, jamais citava nomes, a menos que estivesse absolutamente
certo de que as pessoas citadas de modo algum se incomodariam em ser referidas a um
culto impopular. Por vêzes, ainda quando estas lhe houvessem autorizado a citá-las, evitava
fazê-lo, com receio de ofender a um amigo. Quando publicou as primeiras séries dos
“Incidentes em minha Vida”, o Saturday Review cobriu de sarcasmos o anônimo
“testemunho da Condessa O... do Conde B... do Conde de K... da Princesa de B... e de Mrs.
E... que eram apontados como tendo assistido às manifestações. Em seu segundo volume,
tendo-se assegurado do apoio de seus amigos, Home preencheu os claros com os nomes da
Condêssa Orsini, do Conde de Beaumont, do Conde de Komar, da Princesa de Beauveau e
a conhecida dama americana Mrs. Henry Senior. Jamais citou os seus amigos reais, embora
fôsse muito sabido que o Imperador Napoleão e Imperatriz Eugênia, o Tzar Alexandre, o
Imperador Guilherme 1º da Alemanha e os Reis da Baviera e do Wurtemberg também
haviam sido convencidos por suas fôrças extraordinárias. Nem uma só vez Home foi
condenado por qualquer mistificação, quer por palavras, quer por atos.
Por ocasião de sua primeira viagem à Inglaterra, hospedou-se no Cox’s Hotel, em Jermyn
Street, e é provável que tenha escolhido essa hospedaria por ter sabido, através de Mrs.
Hayden, que o seu proprietário era simpático à causa. Como quer que seja, Mr. Cox logo
descobriu que o seu jovem hóspede era o mais notável médium e, a seu convite, os mais
notáveis intelectuais do momento foram convidados a examinar os fenômenos que Home
lhes poderia exibir. Entre outros, Lord Brougham veio à sessão e trouxe um cientista seu
amigo, Sir David Brewster. Em plena luz do dia investigaram os fenômenos e na sua
satisfação pelo que se havia passado, ao que se conta, teria dito Brewster: “Isto derrota a
filosofia de cinqüenta anos”. Se êle tivesse dito “mil e quinhentos” ter-se-ia aproximado da
marca - Êle descreve o que aconteceu numa carta à sua irmã, só muito mais tarde publicada
(1).
1. “Home Life of Sir David Brewster”, por Mrs. Gordon, sua filha.
Estavam presentes Lord Brougham, Sir David Brewster, Mr. Cox e o médium.
“Nós quatro”, disse Brewster, “sentamo-nos a uma mesa de tamanho regular, e cuja
estrutura nos tinham convidado a examinar. Em pouco tempo a mesa fêz esforços e um
tremor percorreu os nossos braços; êsses movimentos cessavam e recomeçavam ao nosso
comando. As mais incontáveis batidas se produziram em várias partes da mesa e esta se
ergueu do chão quando não havia mãos sôbre ela. Outra mesa maior foi utilizada e produziu
os mesmos movimentos..
“Uma pequena sineta foi posta no chão, sôbre o tapête, de bôca para baixo; depois de
algum tempo ela soou sem que ninguém a tivesse tocado.” Acrescenta êle que a sinêta veio
para êle e se colocou em suas mãos; depois fêz o mesmo com Lord Brougham - E conclui:
“Estas foram as principais experiências. Não poderíamos explicá-las nem imaginar por que
espécie de mecanismo poderiam ter sido produzidas.”
Declara o Conde de Dunraven que foi levado a investigar os fenômenos pelo que Brewster
lhe havia contado. Descreve o encontro com êste último, que dizia serem as manifestações
inexplicáveis pela fraude, ou por quaisquer leis de física de nosso conhecimento. Home
remeteu uma descrição dessa sessão a um amigo na América, onde a mesma foi publicada e
comentada. Quando os comentários foram reproduzidos na imprensa inglêsa, Brewster
ficou muito alarmado. Uma coisa é sustentar certas idéias na intimidade e outra enfrentar a
inevitável perda de prestígio, que ocorreria nos meios científicos em que se achava. Sir
David não era daquele estôfo de que são feitos os mártires e os pioneiros.
Escreveu ao Morning Advertiser, declarando que, embora tivesse visto vários efeitos
mecânicos que não poderia explicar, ainda era de opinião que os mesmos poderiam ser
produzidos por pés e mãos humanos. Aliás jamais lhe ocorrera que a carta escrita à sua
irmã, a que acima nos referimos, um dia fôsse publicada.
Quando tôda a correspondência foi publicada, o Spectator observou, em relação a Sir David
Brewster:
“Parece estabelecido pela mais clara prova que êle sentiu e descreveu, logo depois de suas
sessões com Mr. Ijome, uma maravilha e quase terror, que depois desejou explicar. O herói
da ciência não se absolve como a gente desejaria, ou como era de esperar.”
quando em Ashley House, em estado de transe, Home flutuou do quarto para a sala de
estar, passando pela janela, a setenta pés acima da rua. Depois de chegar à sala, voltou para
o quarto com Lord Adare e, depois que este observou que não compreendia como Home
poderia ter passado pela janela, apenas parcialmente levantada, “êle me disse que se
afastasse um pouco. Então passou pelo espaço aberto, primeiro a cabeça, muito
rapidamente, estando o seu corpo aparentemente rígido e quase na horizontal. Voltou
novamente, com os pés para a frente”. Tal a informação dada por Lord Adare e Lord
Lindsay. Diante de sua publicação, o Doutor Carpenter, que gozava de uma reputação nada
invejável por uma perversa oposição a tudo quanto se relacionava com êste assunto,
escreveu exultante indicando que havia uma terceira testemunha que não tinha sido ouvida,
admitindo sem o menor fundamento que o depoimento do Capitão Wynne seria em sentido
contrário. Por fim disse que “um simples céptico honesto declara que Mr. Home estêve
sentado todo o tempo em sua cadeira” afirmação que apenas pode ser tomada como falsa.
Então o Capitão Wynne escreveu corroborando os outros depoimentos e acrescentando:
“Se o senhor não acredita na prova corroborante de três testemunhas insuspeitas, então
será o fim de tôda a justiça e das côrtes da lei”.
Para ver quanto a crítica procurou uma saída para escapar ao inevitável, basta dizer que ela
se agarrou ao que Lord Lindsay escreveu algum tempo depois, dizendo que a coisa tinha
sido Vista à luz da Lua. Entretanto o calendário mostra que naquele dia a Lua era invisível.
Observa Mr. Andrew Lang:
“Entretanto, mesmo com cerração, a gente numa sala pode ver um homem entrar por
uma janela e sair novamente, com a cabeça para a frente, com o corpo rígido”. (3)
A todos nós parece que se víssemos uma coisa tão maravilhosa, não nos preocuparíamos
em determinar se a víamos à luz da Lua ou de lâmpadas da rua. Contudo deve admitir-se
que a descrição de Lord Lindsay é redigida grosseiramente — tão grosseiramente que a
gente quase desculpa Mr. Joseph Mc Cabe, quando diz numa conferência que os
observadores não olhavam a coisa diretamente e a sua sombra no peitoril da janela, mas que
se achavam de costas para a janela e apenas viam a sombra da coisa na parede. Entretanto,
quando a gente considera a segurança das três testemunhas de vista que depuseram sôbre o
caso, tem o direito de perguntar se, quer no passado, quer no presente, qualquer fato
extraordinário já foi mais claramente provado.
Tantos são os outros casos de levitação de Home que facilmente seria escrito um longo
artigo sôbre êste particular aspecto de sua mediunidade. O Professor Crookes foi outras
tantas vêzes testemunha do fenômeno e se refere a cinqüenta exemplos que haviam
chegado ao seu conhecimento. Haverá porém alguém de cérebro equilibrado que, tendo lido
o incidente aqui referido, não diga, com o Professor Challis: “Ou os fatos devem ser
admitidos tais quais são relatados, ou devemos dizer adeus à possibilidade de nos
certificarmos de fatos através do testemunho humano”
“Voltamos, então, à era dos milagres?”, perguntará o leitor. Não há milagres. Nada neste
plano é sobrenatural. Aquilo que vemos agora e o que lemos de tempos passados é apenas a
operação da lei que ainda não foi bem estudada e definida. Já imaginamos algo de suas
possibilidades e de suas limitações, que são tão exatas na sua maneira quanto as de
qualquer fôrça puramente física. Devemos fazer um balanço entre os que em nada
acreditam e os que acreditam demais. Gradativamente a bruma se vai clarificando e
poderemos definir os contornos da costa sombria. Quando pela primeira vez uma agulha foi
movida pelo magneto, não houve infração às leis da gravidade. É que houve a intervenção
local de outra fôrça mais poderosa. Esse é também o caso quando as fôrças psíquicas atuam
no plano da matéria. Se a fé que Home tinha em sua fôrça tivesse faltado, ou se o seu
círculo tivesse sido perturbado indevidamente, êle teria falhado. Quando Pedro perdeu a fé
afundou-se nas ondas. Através dos séculos a mesma causa ainda produziu o mesmo efeito.
A fôrça espiritual ainda está conosco se não lhe voltamos a face e nada foi concedido à
Judéia que fôsse negado à Inglaterra.
A êsse respeito é como uma confirmação do poder do invisível e como uma resposta
final ao materialismo, tal qual o entendemos, que a carreira pública de Home é de suprema
importância. Êle foi uma testemunha a afirmar a verdade daqueles chamados “milagres”
que foram o pesadelo para tantas mentes espertas e agora se destinam a ser a prova sólida e
forte da exatidão das narrativas primitivas. Milhões de almas em dúvida, na agonia dos
conflitos espirituais reclamavam provas definitivas de que nem tudo era um vazio em redor
de nós, de que havia fôrças fora do nosso alcance, de que o ego não era uma mera secreção
do tecido nervoso e de que os mortos realmente levavam sua indestrutível existência
pessoal.
Tudo isso foi provado pelo maior dêsses grandes missionários modernos, a qualquer
um capaz de observar ou de raciocinar. É possível achar graça em mesas dançantes e em
muros que tremem, mas êstes foram os mais próximos e os mais naturais objetos que
podiam, em têrmos materiais, registrar aquela fôrça que estava acima do alcance humano.
Um cérebro que fôsse imobilizado por uma sentença inspirada seria levado à humildade e a
novos caminhos de pesquisa em presença até do mais caseiro dêsses inexplicáveis
fenômenos. É fácil chamá-los de pueris, mas realizaram o objetivo para que foram
destinados, sacudindo em seus fundamentos a complacência daqueles materialistas homens
de ciência que eram postos em contacto com êles. Êles não devem ser achados como um
fim em si, mas como um meio elementar pelo qual a mente deveria ser conduzida a novos
canais do pensamento. E êsses canais do pensamento levaram ao reconhecimento da
sobrevivência do Espírito.
“Trouxestes incalculável alegria e consolo ao coração de muita gente”, disse o Bispo
Clark, de Rhode Island. “Iluminastes lugares habitados que antes eram trevas”.
“Mademoiselle”, disse Home à môça que ia ser sua espôsa, “há uma missão a mim
confiada.
Ela é grande e santa”. O famoso Doutor Elliotson, imortalizado por Thackeray sob o
nome de Doutor Goodenough, era um dos chefes do materialismo britânico. Encontrou
Home, viu os seus poderes e teve a coragem de dizer imediatamente que tinha vivido tôda a
sua vida em trevas e pensava que nada havia na vida que não fôsse material; mas que agora
tinha a firme esperança que, assim pensava, haveria de alimentar enquanto vivesse.
Poderiam citar-se inúmeros exemplos do valor espiritual do trabalho de Home; mas êle
jamais foi melhor sintetizado do que num período escrito por Mrs. Webster, de Florença,
que viu muito da sua atuação. “Êle é o mais maravilhoso missionário dos tempos modernos
e da maior de tôdas as causas, e o bem que êle tem feito não pode ser avaliado. Quando Mr.
Home passa, derrama em seu redor a maior de tôdas as bênçãos — a certeza da vida
futura”.
Agora que é possível conhecer detalhes de sua vida, pode dizer-se que é para o mundo
inteiro que se dirige a mais vital de tôdas as mensagens. Sua atitude, em relação à sua
própria missão, foi expressa numa conferência feita em Londres, na Sala Willis, a 15 de
fevereiro de 1866. Disse êle: “Sinceramente penso que essa força aumentará cada vez mais
para nos aproximar de Deus. Perguntareis se ela nos torna mais puros. Minha única resposta
é que somos mortais apenas e, como tal, sujeitos ao erro. Mas ela ensina que aquêles de
coração puro verão a Deus. Ela nos ensina que Deus é amor e que não há morte. Aos velhos
ela vem como uma consolação, quando se aproximam as tempestades da vida e quando
vem o descanso. Aos moços ela fala do dever que temos uns para com os outros e diz que
colheremos o que houvermos semeado. A todos ensina resignação. Vem desfazer as nuvens
do êrro e trazer a manhã radiosa de um dia interminável”.
É curioso notar como a sua mensagem afetou os de sua geração. Lendo o relato de sua vida,
escrita por sua espôsa — um documento muito convincente, de vez que foi ela, de tôdas as
criaturas, a que mais deveria ter conhecido o homem real — ressalta que o mais cordial
apoio e o maior aprêço lhe veio dos aristocratas da França e da Rússia, com os quais tinha
tomado contacto. O caloroso brilho de admiração pessoal e até a reverência em suas cartas
é tal, que dificilmente pode ser igualada em qualquer outra biografia. Na Inglaterra tinha êle
um círculo íntimo de ardentes defensores, alguns das altas camadas sociais, como os Halts,
os Howitts, Robert Chambers, Mrs. Milner Gibson, o Professor Crookes e outros. Mas
havia uma lamentável falta de coragem entre êstes, que admitiam os fatos na intimidade e
se mantinham alheios em público. Lord Brougham e Bulwer Lytton eram do tipo de
Nicodemos, principalmente o novelista. De um modo geral a “inteligência” saiu-se muito
mal neste assunto e muitos nomes festejados sofreram com a história. Tyndall e Faraday
foram fantasticamente anticientíficos nos seus métodos de prejulgar a questão, logo de
saída, e posteriormente se ofereceram para a examinar, sob a condição de que fôsse aceita a
sua opinião. Sir David Brewster, como ficou dito, disse algo de honesto, e depois, em
pânico, negou que o houvesse dito, esquecendo-se de que a prova já estava feita. Browning
escreveu um longo poema — se é que aquilo se pode chamar poesia — descrevendo uma
manifestação que jamais ocorreu. Carpenter conquistou uma notoriedade pouco invejável
como opositor sem escrúpulos, ao proclamar uma singularíssima tese espírita de sua
invenção. Os secretários da Sociedade Real recusaram o convite para assistirem às
demonstrações de Crookes sôbre os fenômenos físicos, enquanto se manifestavam
terminantemente contra os mesmos. Lord Giffard despejou da Tribuna contra um súdito os
primeiros elementos daquilo que ignorava.
Quanto ao clero nenhuma ordem deve ter sido dada, durante os trinta anos em que a mais
maravilhosa dispensação espiritual desde muitos séculos foi dada ao público. Não é
possível recordar o nome de um único clérigo britânico que tivesse mostrado um interêsse
inteligente.
E em 1872, quando começou a aparecer em The Times uma descrição minuciosa das
sessões de São Petersburgo, a coisa foi cortada logo, segundo Mr. H. T. Humphreys,
“devido ás fortes queixas feitas a Mr. Delane, seu diretor, por algumas figuras da alta
direção da Igreja da Inglaterra.” Tal foi a contribuição dos nossos dirigentes espirituais. O
Doutor Elliotson, o nacionalista, era muito mais vivo do que êles. Eis o amargo comentário
da senhora Home: “O veredito de sua própria geração foi o do cego e do surdo contra quem
vê e ouve.
A caridade era uma das mais belas características de Home. Como tôda verdadeira
caridade, era secreta e só se tornava conhecida indiretamente, e por acaso. Um de seus
numerosos caluniadores declarou que lhe havia endossado uma letra de cinqüenta libras em
favor de seu amigo Mr. Rymer. Em legítima defesa apurou-se que não era uma letra, mas
um cheque, enviado muito generosamente por Mr. Home para tirar aquêle amigo de um
apuro.
Considerando a sua constante pobreza, cinqüenta libras talvez representassem uma boa
parte de suas reservas bancárias. Sua viúva se detém com perdoável orgulho sôbre muitas
provas encontradas em suas cartas, após a sua morte. “Agora é um artista desconhecido,
para cujo pincel o generoso esfôrço de Home havia encontrado emprêgo; depois, é um
trabalhador infeliz que escreve sôbre a sua espôsa doente, cuja vida foi salva pelo confôrto
proporcionado por Mr. Home; ou uma mãe que agradece o seu apoio para a iniciação de
seu filho na vida. Quanto tempo e quanta atenção devotou êle aos outros quando as
circunstâncias de sua vida levariam muitos homens a pensar apenas em si próprios e em
suas necessidades.”
“Mande-me uma palavra do coração que tantas vêzes soube consolar um amigo!”
exclamava um de seus protegidos.
“Poderei um dia mostrar-me digno de todo o bem que você me fêz?” pergunta outro numa
carta.
Encontramo-lo vagando pelos campos de batalha, perto de Paris, às vêzes debaixo de fogo,
com os bolsos cheios de cigarros para os feridos. Um oficial alemão escreve afetuosamente
para lhe lembrar como o salvou de morrer de hemorragia, carregando-o em seus fracos
ombros para fora da zona de fogo. Certamente Mrs. Browning era um melhor juiz do
caráter do que seu espõso e Sir Galahad um nome melhor do que Lama.
Ao mesmo tempo seria absurdo pintar Home como um caráter sem jaça. Tinha êle a
fraqueza de seu temperamento e algo de feminino em sua disposição que se mostrava de
muitas maneiras. Estando na Austrália, o autor teve oportunidade de ler uma
correspondência datada de 1856, entre Home e o filho mais velho dos Rymer. Tinham
viajado juntos pela Itália e Home tinha abandonado o amigo em circunstâncias que
demonstravam inconstância e ingratidão. Mas é justo dizer que sua saúde era então tão
precária que dificilmente poderíamos considerá-lo normal. “Tinha êle os defeitos de um
caráter emotivo”, disse Lord Dunraven, “como a vaidade altamente desenvolvida, talvez
sâbiamente lhe permitindo subtrair-se ao ridículo que então era despejado sôbre o
Espiritismo e tudo quanto a êste se ligava. Era sujeito a grandes depressões e crises
nervosas dificilmente compreensíveis, mas era, também, simples, bondoso, de bom humor,
de disposição amorável, que me atraía... Minha amizade ficou inalterável e sem diminuição
até o fim.”
Há poucos daqueles variados dons, que chamamos “mediúnicos” e que São Paulo chama
“do Espírito”, que Home não possuísse. Na verdade, a característica de sua fõrça psíquica
era uma invulgar versatilidade. Geralmente falamos de um médium de Voz Direta, de um
que fala em transe, de um clarividente ou de um de efeitos físicos, quando Home era os
quatro.
Tanto quanto podemos verificar, tinha êle pouca experiência quanto àfôrça de outros
médiuns e não estava isento daquele ciúme psíquico, que é um traço comum dêsses
sensitivos. Mrs. Jencken, antes Miss Kate Fox, foi o único médium a quem teve amizade.
Sentia amargamente qualquer mistificação, e denotou sempre êsse excelente fraco do
caráter, qual o de guardar suspeitas de tôdas as formas de manifestações que não
correspondessem exatamente às suas. Essa opinião, expressa de modo não comprometedor
em seu último livro “Lights and Shadows of Spiritualism” (4)
naturalmente magoaram outros médiuns, que pretendiam ser tão honestos quanto êle. Um
mais largo e profundo contacto com os fenômenos o teriam tornado mais caridoso. Assim,
êle protestou fortemente contra tôda sessão feita no escuro, o que é um conselho de
perfeição, de vez que as experiências sôbre o ectoplasma, que é a base física de tõdas as
materializações, mostram, em geral, que aquêle é afetado pela luz, exceto pela vermelha.
Home não tinha grande experiência das materializações completas, tais como foram obtidas
naqueles dias por Miss Florence Cook ou por Madame d’Esperance, ou em nossos dias pela
mediunidade de Madame Bisson. Assim, podia êle dispensar a obscuridade completa em
seu trabalho. Por isso sua opinião foi injusta para com os outros. Por outro lado, Home
declarou enfàticamente que a matéria não podia passar através da matéria, porque os seus
fenômenos não tomavam êsse aspecto. Ainda a prova de que, em certos casos, a matéria
podia passar através da matéria era esmagadora. Até pássaros de variedades raras foram
trazidos para as salas de sessões, em circunstâncias que excluem qualquer fraude e as
experiências de madeira que atravessa a madeira, como as que foram apresentadas a Zõllner
e outros professores em Leipzig, foram tão concludentes que se acham relatadas pelo
famoso físico na Física Transcendental, de suas experiências com Slade. Dêste modo, deve
levar-se como uma pequena fraqueza do caráter de Home o fato de gritar e duvidar das
fôrças que porventura êle não possuísse.
Podem alguns acusá-lo de dirigir sua mensagem antes aos dirigentes da sociedade do que às
massas trabalhadoras. É provável que, de fato, Home tivesse a fraqueza, assim como as
graças de sua natureza artística, que o faziam sentir-se mais feliz numa atmosfera de
elegância e de finura e uma repulsa visceral por tudo quanto fôsse sórdido e desfavorecido.
Se outras razões não existissem, o precário estado de saúde o tornava inapto para qualquer
tarefa pesada; as contínuas hemorragias o levaram a preferir a agradável e refinada vida na
Itália, na Suíça e na Riviera. Mas, em relação ao desenvolvimento de sua missão, de lado o
auto-sacrifício pessoal, não há a menor dúvida de que a sua mensagem, levada ao
laboratório de um Crookes ou à Côrte de um Napoleão, foi mais útil do que se tivesse sido
levada à multidão. A aprovação da ciência e do caráter era necessária antes que o público
ficasse seguro de que essas coisas eram verdadeiras. Se isso não foi inteiramente
conseguido a falta cabe certamente aos encapuçados homens de ciência e aos pensadores da
época e de modo algum Home, que representou o seu papel de demonstrador com
perfeição, deixando a outros homens menos dotados a análise e a publicidade do que lhes
havia mostrado. Não era êle um homem de ciência, mas a matéria-prima da ciência,
desejando ansioso que os outros dêle pudessem aprender tudo quanto pudesse trazer ao
mundo, de modo que a própria ciência pudesse dar testemunho da religião, enquanto se
apoiasse sôbre a ciência. Quando a mensagem de Home tiver sido aprendida
completamente, um homem sem fé não será acusado de impiedade, mas de ignorância.
Havia algo de patético no esfôrço de Home para descobrir alguma crença na qual pudesse
satisfazer o seu próprio instinto gregário — porque êle não era tido como um individualista
cabeçudo — e ao mesmo tempo achar um nicho no qual pudesse depositar seu próprio
volume de autênticas verdades. Sua peregrinação reivindica a afirmação de alguns espíritas
de que um homem pode pertencer a qualquer crença e possuir conhecimentos espíritas, mas
também apóia os que replicam que a perfeita harmonia com aquêles conhecimentos
espíritas só pode ser encontrada, tal qual a coisa se encontra agora, numa comunidade
espírita especial. Ah! se pudesse ser assim, pois é ele demasiado grande para afogar-se
numa seita, por maior que seja ela. Na mocidade Home seguiu a Wesley, mas logo se
passou para a mais liberal atmosfera do Congregacionalismo. Na Itália a atmosfera artística
da Igreja Católica Romana e, possivelmente o registro de tantos fenômenos semelhantes
aos seus próprios, levaram-no a se converter com a intenção de entrar para uma ordem
monástica — intenção que o seu bom senso o levou a abandonar. A sua mudança de
religião se deu num período em que as fôrças psíquicas o haviam abandonado durante um
ano e seu confessor lhe garantiu que elas eram de origem perversa e que jamais lhe
voltariam, agora que se transformara num filho da verdadeira Igreja. Não obstante, no
próprio dia em que se completava um ano, elas voltaram com renovado vigor. Desde então
parece que Home foi católico apenas de nome, se é que o foi, e depois de seu segundo
casamento —ambos com senhoras russas — foi êle fortemente atraído para a Igreja Grega e
foi no seu ritual que o seu corpo foi encomendado em St. Germain, em 1886. “A outro o
discernimento dos Espíritos” (1 Epístola aos Coríntios, capítulo 12º versículo 10) é a curta
inscrição sôbre aquêle túmulo, do qual o mundo ainda não ouviu a última palavra.
Se fôssem necessárias provas da vida inatacável de Home, estas não poderiam ser melhor
apresentadas do que pelo fato de que seus numerosos inimigos, sempre à espera de uma
oportunidade para o ataque, jamais puderam encontrar algo em tôda a sua carreira para um
comentário, a não ser o caso absolutamente inocente, e que se tornou conhecido como o
caso Home-Lyon. Qualquer juiz imparcial, lendo os depoimentos nesse caso, — e êstes se
encontram verbum ad verbum na segunda série dos “Incidents in My Life” (5)
5. “Incidentes em minha Vida”. — N. do T.
— conviria que não há censura mas comiseração devida a Home. Não se poderia desejar
maior nobreza de caráter do que a sua em relação àquela mulher desagradável e caprichosa,
que inicialmente lhe havia doado boa soma de dinheiro e depois, mudando de idéia, ao ver
frustrada a esperança de ser apresentada na alta sociedade, nada levou em consideração
com intuito de reaver aquêle dinheiro. Se ela apenas tivesse pedido a sua devolução, não há
dúvida de que os delicados sentimentos de Home o teriam levado a devolvê-lo, ainda que
lhe tivesse custado muito trabalho e despesas, pois se tratava de mudar o seu nome para
Home-Lyon, a fim de satisfazer a vontade daquela mulher que queria adotá-lo como filho.
Suas exigências, entretanto, eram tais, que êle não as poderia aceitar honrosamente, pois
implicava o reconhecimento de que procedera mal aceitando o presente. Consultando as
cartas originais — o que, parece, não foi feito pelos poucos que comentaram o caso —
verifica-se que Home, o seu procurador S. C. Hall e seu advogado Mr. Wilkinson
imploraram àquela senhora que moderasse a sua desarrazoada benevolência que se havia
transformado tão ràpidamente numa malevolência ainda mais desarrazoada. Ela estava
absolutamente determinada a que Home ficasse com o dinheiro e se constituísse seu
herdeiro. Jamais houve um homem menos mercenário: êle lhe pediu repetidamente que
pensasse em seus parentes, ao que ela respondia que o dinheiro lhe pertencia e que ela
poderia fazer com êle o que bem quisesse e que nenhum parente dependia dela. Desde o
momento em que aceitou a situação, agiu e escreveu como um filho devotado e não é falta
de caridade supor que essa atitude inteiramente filial não tivesse sido aquela que a velhota
havia planejado. De qualquer modo, cedo ela se cansou de esperar e exigiu o dinheiro sob a
escusa — escusa monstruosa para quem quer que leia as cartas e considere as datas — de
que mensagens espíritas é que a tinham levado a tomar aquela resolução.
O caso correu na Côrte de Chancery e o juiz aludiu a “inúmeras falsidades de Mrs.
Lyon, em tão importantes detalhes —falsidades declaradas sob juramento e tão perversas
que causavam um grande embaraço à Côrte e desacreditavam o testemunho da queixosa”.
A despeito dêsse comentário cáustico e da elementar justiça, o veredito foi contra Home,
por isso que, de um modo geral, é taxada como falha de provas a defesa em tais casos e
uma completa falta de provas é impossível quando a ação é contestada. Sem dúvida Lord
Giffard se teria mostrado superior à simples letra da lei, se não fôsse tão profundamente
contrário a qualquer referência às fôrças psíquicas, que, no seu modo de ver, eram
manifestamente absurdas e ainda eram sustentadas pela defesa em sua cara, na sua própria
Côrte de Chancery. Até os piores inimigos de Home foram forçados a admitir que o fato de
haver êle retido o dinheiro na Inglaterra, em vez de o depositar em lugar onde não pudesse
ser requisitado, prova as suas intenções honestas no mais infortunado episódio de sua vida.
Não há notícia de que tenha êle perdido a amizade de um só dos homens de honra, que o
tinham como amigos, por causa das maquinações de Mrs. Lyon. Os próprios motivos dessa
senhora eram óbvios. Como todos os documentos estavam em ordem, seu único caminho
para recuperar o dinheiro foi acusar Home de extorsão por meio de simulação; e ela era
bastante esperta para saber que chance teria um médium — mesmo um médium amador e
que não se fazia pagar — na ignorante e material atmosfera de uma côrte de justiça do
período médio-vitoriano. Ah! omitamos êsse médio-vitoriano e a verificação é a mesma.
As faculdades de Home foram atestadas por tantos e tão famosos observadores e foram
mostradas sob condições tão francas que nenhum homem razoável poderá pô-las em
dúvida.
Só a prova de Crookes é conclusiva (6).
10
Os Irmãos Davenport
A FIM de apresentar uma história contínua foi necessário descrever tôda a vida de D.
D. Home. Agora é preciso voltar aos primeiros dias na América, e considerar o
desenvolvimento dos dois Davenports. Home e os Davenports tiveram um papel
internacional e sua história cobre o movimento na Inglaterra e nos Estados Unidos. Os
Davenports trabalharam num nível muito mais baixo do que Home, fazendo profissão de
seus notáveis dons e ainda pelos rudes métodos através dos quais tiveram resultado no meio
da multidão, de maneira que não teria sido usada por um médium mais fino. Se
considerarmos todo êsse trem de eventos como tendo sido produzidos por uma fôrça sábia
— mas não infalível ou onipotente — situada no Além, observaremos como cada ocasião é
utilizada por um instrumento adequado, e como, ao falhar uma demonstração, outra a
substitui.
Os Davenports tiveram sorte com os seus cronistas. Dois escritores publicaram livros (1),
1. “A Biography of the Brothers Davenport”, by T. L. Nichols, M. D., London, 1864.
“Supranrundane Facts in the Life of Reverendo J. B. Ferguson, LL. D.” by T. L. Nichols,
M. D. London, 1865. “Spiritual Experiences: Including Seven Months with tire Brothers
Davenport» by Robert Cooper, London, 1867.
“Os professores demonstraram ingenuidade, pro pondo testes. Seriam êles capazes de se
submeterem a ser algemados? Sim. Permitiriam que fôssem agarrados? Sim. Fizeram uma
dúzia de propostas, que foram aceitas e logo rejeitadas por seus próprios autores. Se algum
teste fosse adotado pelos irmãos, isto bastava para o pôr de lado. Admitiam que estivessem
preparados para isso, de modo que qualquer outro devia ser encontrado.”
Finalmente os professôres trouxeram cento e cinqüenta metros de corda, encheram de
buracos o gabinete preparado numa de suas salas e ai amarraram brutalmente os rapazes.
Todos os laços da corda foram amarrados com fio de linho e um dêles, o Professor Pierce,
isolou-se dentro do gabinete, entre os dois rapazes. Imediatamente mostrou-se a mão de um
fantasma, moveram-se instrumentos, que eram notados pelo professor junto à sua cabeça ou
ao seu rosto. A cada instante, êle procurava os rapazes com as mãos, sempre constatando
que estavam imobilizados. Por fim os operadores invisíveis libertaram os rapazes das suas
amarras e quando o gabinete foi aberto, as cordas foram encontradas enroladas no pescoço
do professor! Depois de tudo isso os professôres não fizeram nenhum relatório. É
interessante ler a descrição de um aparelho de contrôle realmente interessante, consistindo
do que se pode chamar de mangas e calças de madeira, muito bem pregadas, inventado por
um homem chamado Darling, em Bangor, nos Estados Unidos. Como outros aparelhos, foi
incapaz de evitar as manifestações. Devemos lembrar que muitos dêsses testes foram
aplicados quando aquêles irmãos eram garotos, demasiado moços para terem aprendido
complicados meios de mistificar.
Não é estranho ler-se que os fenômenos levantaram violenta oposição mais ou menos por
tôda a parte; e freqüentemente os rapazes eram denunciados como trapaceiros e
mistificadores. Foi depois de dez anos de trabalho público nas maiores cidades americanas
que os irmãos Davenport vieram para a Inglaterra. Êles se haviam submetido com êxito a
tôdas as provas que o engenho humano podia inventar e nenhuma foi capaz de explicar
como eram obtidos os resultados. Por seu próprio comportamento haviam conquistado uma
grande reputação. Agora iriam recomeçar tudo.
Os irmãos Ira e William tinham, então, vinte e cinco e vinte e três anos, respectivamente. O
World, de New York, assim os descreve:
“Eram notàvelmente parecidos em quase tudo, muito bonitos, com a cabeleira grande,
crespa e preta, tinham a testa larga mas não alta, olhos pretos e vivos, sobrancelhas grossas,
bigode e cavanhaque, lábios acentuados e corpos musculosos e bem proporcionados.
Vestiam fraque prêto e um deles usava relógio com corrente.”
O seu biógrafo, Doutor Nichols, dêles nos dá essa primeira impressão:
“Os jovens, com os quais tive um ligeiro contacto, e que jamais tinha visto antes de sua
chegada a Londres, se me afiguraram, tanto no intelecto, quanto no caráter, acima da média
de seus companheiros camponeses; não são notáveis pela inteligência, pôsto que
razoàvelmente habilidosos e Ira possui algum talento artístico. Os moços parecem
absolutamente honestos e singularmente desinteressados e não mercenários — muito mais
satisfeitos de que a gente fique contente com a sua integridade e com a realidade das
manifestações, do que preocupados em ganhar dinheiro. Sem dúvida têm uma ambição, que
é gratificada por terem sido escolhidos como instrumentos daquilo que consideram um
grande bem para a humanidade.”
Foram à Inglaterra acompanhados pelo Reverendo Doutor Ferguson, antigo pastor de uma
grande igreja em Nashville, no Tennessee, que era freqüentada por Abraham Lincoln, por
Mr. D. Paimer, conhecido maestro, que exercia as funções de secretário, e por Mr. William
M. Fay, que também era médium.
Em sua biografia dos Davenports, publicada anônimamente em Boston, em 1869, Mr.
PÁGINA B. Randall indica que a sua missão na Inglaterra era “encontrar-Se, no seu
próprio campo, conquistando-o por meios adequados, com o materialismo duro e o
cepticismo da Inglaterra”. O primeiro passo no reconhecimento, diz êle, é convencer-se da
ignorância. E acrescenta:
“Se as manifestações obtidas por intermédio dos irmãos Davenport podem provar às classes
intelectuais e científicas que há forças e forças inteligentes ou poderes inteligentes — acima
da faixa de suas filosofias, e que aquilo que elas consideram impossibilidades físicas é
rapidamente realizado pelo invisível, para elas desconhecido, mas que são inteligências, um
novo universo abrir-se-á para o pensamento humano e para a investigação.”
Há uma pequena dúvida sôbre se os médiuns exerceram tal efeito sôbre muitas mentes.
As manifestações da mediunidade de Mrs. Hayden eram calmas e sossegadas, enquanto as
de D. D. Home eram mais notáveis, se limitavam, entretanto, a pessoas que não pagavam
entrada. Mas êsses dois rapazes alugavam salões e desafiavam todo o mundo a vir assistir
os fenômenos que ultrapassavam os limites da crença ordinária. Não era preciso ser arguto
para prever uma forte oposição: assim aconteceu. Mas êles atingiram o objetivo que
certamente tinham em vista os dirigentes invisíveis. Chamaram a atenção do público como
nunca na Inglaterra para um tal assunto. Melhor testemunho não poderia ser dado do que o
de seu maior oponente, Mr. N. N. Maskelyne, o célebre mago, que escreve (3):
“É verdade, a Inglaterra foi inteiramente dominada, por algum tempo, pelas maravilhas
apresentadas por êsses charlatães”. Depois acrescenta:
“Os irmãos fizeram mais que ninguém para familiarizar a Inglaterra com o chamado
Espiritismo; ante imenso auditório e sob várias condições, na verdade produziram fatos
maravilhosos. As sessões dos outros médiuns eram feitas no escuro ou na semi-
obscuridade, ante uma assistência simpática ou, freqüentemente, devota; aí parece que
ocorriam manifestações, que não podem ser comparadas com as exibições dos Davenport,
pelo seu efeito sôbre a opinião pública.”
Sua primeira sessão em Londres, de caráter privado, foi a 28 de setembro de 1864, na
residência de Mr. Dion Bouci. cault, em Regent Street. No salão dêsse famoso ator e autor
encontravam-se as principais figuras da imprensa e distintos homens de ciência, O
noticiário da imprensa foi notàvelmente completo e — o que é uma maravilha — correto.
A descrição do Morning Post, no dia seguinte, diz que aos convidados tinham pedido uma
crítica severa e que tôdas as necessárias precauções fôssem tomadas contra a fraude e a
mistificação, e continua:
“As pessoas convidadas a assistir as manifestações da noite passada eram em número de
doze ou catorze, tôdas tidas como de considerável distinção nas respectivas profissões que
exercem. Em sua maioria jamais haviam assistido a qualquer coisa no gênero. Tôdas,
entretanto, estavam determinadas a descobrir e, se possível, denunciar, qualquer tentativa
de mistificação. Os irmãos Davenport são de pequena estatura, de aparência distinta, e as
últimas pessoas no mundo de quem se poderia esperar uma grande demonstração de fôrça.
Mr. Fay aparenta alguns anos mais e é de constituição mais robusta.”
Depois de descrever as ocorrências, continua o articulista:
“Tudo quanto pode ser garantido é que as demonstrações que descrevemos ocorreram, na
presente ocasião, em circunstâncias que excluem tôda presunção de fraude”.
The Times, o Daily Telegraph e outros jornais publicaram notícias longas e honestas.
Omitiram as suas citações porque o seguinte depoimento de Mr. Dion Boucicault,
publicado no Daily News, bem como em muitos outros jornais londrinos, cobre todos os
fatos. Descreve êle uma sessão posterior, em sua própria casa, a 1º de outubro de 1864, a
que estiveram presentes, entre outras pessoas, o Visconde Bury, deputado, Sir Charles
Wike, Sir Nicholson, o Chanceler da Universidade de Sidney, Mr. Robert Chambers,
Charles Reade, escritor, e o Capitão Inglefield, explorador do Ártico.
“Senhor.
Ontem realizou-se em minha casa uma sessão com os Irmãos Davenport e Mr. W. Fay, à
qual estiveram presentes... (Aqui menciona vinte e quatro nomes, entre os quais os acima
referidos).
À três horas todos se achavam reunidos. Mandamos buscar numa casa de música próxima
seis violões e dois tamborins, de modo que o material usado não fôsse aquêle com que os
operadores estavam familiarizados.
As três e meia chegaram os Irmãos Davenport e Mr. Fay, e verificaram que nós tínhamos
alterado os seus planos, trocando a sala previamente escolhida por êles para as
manifestações.
A sessão começou pelo exame das roupas dos Irmãos Davenport, tendo sido verificado que
nenhum dispositivo ou quaisquer artifícios se achavam em suas pessoas ou nas
proximidades. Entraram na cabine e sentaram-se de frente um para o outro. Então o Capitão
Inglefiekl, com uma corda nova, que ele próprio trouxera, amarrou Mr. W. Davenport de
pés e mãos, com as mãos para as costas. Do mesmo modo Lord Bury amarrou Mr. I.
Davenport. Os laços foram amarrados e selados com lacre e carimbados. Um violão, um
violino, um tamborim, dois sinos e uma trombeta de latão foram colocados no piso da
cabine. Então as portas foram fechadas e se fêz luz bastante na sala para que pudéssemos
ver o que acontecia.
Omitirei a descrição minuciosa da babel de sons que se produziram na cabine e a violência
com que as portas se abriam continuamente e os instrumentos eram jogados para fora; as
mãos aparecendo geralmente por um orifício em forma de losango ao centro da porta da
cabine. Os incidentes que se seguem pareceram-nos particularmente dignos de menção:
Quando Lord Bury estava inclinado dentro da cabine, estando a porta aberta e os dois
operadores amarrados e lacrados, foi vista uma mão destacada descer sôbre êle; êle recuou,
observando que uma mão lhe havia batido. De noite, em plena luz do candelabro de gás e
durante um intervalo da sessão, estando abertas as portas da cabine e quando as ligaduras
dos irmãos Davenport estavam sendo examinadas, uma mão feminina, muito branca e fina
e o punho tremeram por alguns segundos no espaço -Essa aparição provocou uma
exclamação geral.
Então Sir Charles Wyke entrou na cabine e sentou-se entre os dois moços, pondo cada uma
das mãos sôbre êles e os segurando. Depois, as portas foram fechadas e recomeçou a babel
de sons. Várias mãos apareceram no orifício — entre as quais a de uma criança. Depois de
algum tempo Sir Charles voltou para o nosso meio e informou que enquanto segurava os
dois irmãos diversas mãos lhe tocaram o rosto e puxaram os seus cabelos; em seu redor os
instrumentos se ergueram e foram tocados em volta de seu corpo e da cabeça, enquanto um
dêles se apoiou sôbre o seu ombro. Durante os seguintes incidentes as mãos que
apareceram foram tocadas e seguradas pelo Capitão Inglefield o qual verificou, pelo tato,
que eram aparentemente humanas, embora escapassem de suas mãos.
Deixo de mencionar outros fenômenos já descritos em outra parte.
“A parte seguinte da sessão foi realizada no escuro. Um dos Davenport e Mr. Fray ficaram
sentados entre nós. Duas cordas foram atiradas a seus pés e em dois minutos e meio
estavam êles amarrados de pés e mãos, com as mãos para trás, fortemente atadas às
cadeiras e estas amarradas a uma mesa próxima. Enquanto esta operação se realizava o
violão foi erguido da mesa e tocou e flutuou em volta da sala e por cima da cabeça de
todos, tocando de leve um ao outro. Então uma luz fosforescente foi atirada de um para
outro lado, por cima de todos; o peito, as mãos ou as costas de vários dos presentes foram
simultaneamente tocados, batidos ou arranhados por mãos, enquanto o violão flutuava no
ar, agora próximo do teto e batia na cabeça e nos ombros dos menos felizes. As campainhas
soavam aqui e ali, e uma leve vibração era mantida no violino. Os dois tamborins pareciam
rolar para lá e para cá pelo chão, ora sacudidos violentamente, ora tocando nas mãos e nos
joelhos dos circunstantes — sendo que tôdas essas coisas eram sentidas ou ouvidas
simultâneamente. Segurando um tamborim, Mr. Rideout perguntou se o mesmo poderia ser
tirado de suas mãos; quase que instantâneamente o instrumento foi arrebatado. Ao mesmo
tempo Lord Bury fêz a mesma pergunta e houve uma tentativa de arrebatamento do
tamborim que êle segurava fortemente. Então Mr. Fay perguntou se lhe poderiam tirar o
paletó. Imediatamente ouvimos um puxão violento e aconteceu a coisa mais notável. Uma
luz foi acesa antes que o paletó saisse de Mr. Fay, tirado por cima. Voou para o candelabro
onde ficou pendurado por um instante e depois caiu no chão. Enquanto isto Mr. Fay era
visto como antes, de pés e mãos atados. Um do grupo tirou então o próprio casaco, que foi
colocado sôbre a mesa. A luz foi apagada e êsse casaco foi levado para as costas de Mr. Fay
com a mesma rapidezembro Durante as ocorrências acima no escuro, culocamos uma fôllia
de papel debaixo dos pés dos dois operadores e com um lápis fizemos o seu contôrno, a fim
de verificar se êles os tinham movido. Por iniciativa própria êles quiseram ficar com as
mãos cheias de farinha ou substância similar, a fim de provarem que não as tinham usado,
mas essa precaução foi julgada desnecessária. Contudo, nós lhes pedimos que contassem de
um a doze continuamente, para que suas vozes fôssem ouvidas ininterruptamente e
pudéssemos saber que vinham do lugar onde estavam amarrados. Cada um de nós segurou
firmemente o vizinho, de modo que ninguém podia mover-se sem que duas pessoas
adjacentes o percebessem.
No fim da sessão estabeleceu-se uma conversa geral, a respeito do que tínhamos visto e
ouvido. Lord Bury sugeriu que a opinião parecia ser que deveríamos assegurar aos Irmãos
Davenport e a Mr. Fay que, depois de rigoroso julgamento e rigorosa investigação de seus
procedimentos, os senhores presentes não podiam chegar a outra conclusão senão de que
não havia qualquer indicio de truque e, certamente, nem havia com parsas nem
maquinismos, e que todos aquêles que haviam testemunhado os resultados declaravam
livremente, na sociedade em que se achavam, até onde as investigações lhes permitiam
formar opinião, que os fenômenos ocorridos em sua presença não eram produto de
malabarismo. Esta sugestão foi aceita por todos imediatamente.”
Êsse maravilhosamente completo e lúcido relato é dado sem abreviações, porque responde
a muitas objeções e porque o caráter do narrador e testemunha não pode ser pôsto em
dúvida. Certamente deve ser aceito como conclusivo, no que respeita a honestidade. Tôda
obsessão subseqüente é mera ignorância dos fatos.
Em outubro de 1864 os Davenport começaram a realizar sessões públicas no Queen’s
Concert Rooms, em Hanover Square. Eram escolhidas comissões entre os assistentes e
eram feitos esforços visando descobrir como as coisas eram feitas, mas tudo sem resultado.
Essas sessões, entremeadas por sessões particulares, continuaram tõdas as noites, até o fim
do ano. A imprensa diária estava repleta de seus relatos e o nome dos irmãos estava em
tôdas as bôcas. No comêço de 1865 fizeram uma excursão pelas províncias inglêsas, e em
Liverpool, Hudderfield e Leeds sofreram violências físicas da multidão. Em fevereiro, em
Liverpool, dois dos assistentes lhes ataram as mãos tão brutalmente que sangraram e Mr.
Ferguson cortou as cordas e os soltou. Os Davenports recusaram-se a continuar e a
multidão invadiu o palco e destruiu a cabine. As mesmas táticas foram seguidas em
Hadderfield a 21 de fevereiro e depois em Leeds, com crescente violência, organizada pelos
opositores. Essas desordens levaram os Davenports a cancelar quaisquer outros
compromissos na Inglaterra. Depois disso foram a Paris, onde receberam o conselho de ir
ao Palácio de St. Cloud, onde o Imperador e a Imperatriz, com um séquito de cêrca de
quarenta pessoas, testemunharam a sessão. Quando em Paris, Hamilton, sucessor do célebre
mágico Robert Houdin, os visitou e numa carta a um jornal parisiense, diz: “Os fenômenos
ultrapassaram a minha expectativa e foram cheios de interêsse para mim. Considero um
dever declarar que são inexplicáveis.” Depois de breve visita à Inglaterra, a Irlanda foi
visitada em começos de 1866. Em Dublin tiveram muitos assistentes da alta sociedade,
inclusive o redator do Irish Tines e o Reverendo Doutor Tisdal, que proclamava
publicamente sua crença nas manifestações.
Em abril do mesmo ano êles foram a Hamburgo e depois a Berlim, mas, como esperavam
uma guerra (desde que os guias a tinham previsto), a excursão não foi lucrativa. Gerentes
de teatro lhes ofereceram elevadas somas para umas exibições mas, seguindo o conselho de
seu sempre presente Espírito monitor, que disse que as suas manifestações deviam ser
conservadas acima do nível dos divertimentos teatrais, desde que eram supernaturais, êles
recusaram o convite com o que muito se contrariou o seu empresário. Durante o mês que
passaram em Berlim foram visitados por membros da Família Real. Depois de três semanas
em Hamburgo seguiram para a Bélgica, onde alcançaram notável sucesso em Bruxelas,
bem como nas principais cidades. A seguir foram à Rússia, chegando a São Petersburgo a
27 de dezembro de 1866. A 7 de janeiro de 1867 deram a primeira sessão pública a um
auditório de mil pessoas. A sessão seguinte foi na residência do Embaixador da França, a
uma assistência de cinqüenta pessoas, inclusive figuras da Côrte Imperial, e a 9 de janeiro
deram outra sessão no Palácio de Inverno para o Tzar e para a Família Imperial. Depois
disso visitaram Polônia e Suécia. A 11 de abril de 1868 reapareceram em Londres no
Hanover Square Rooms e receberam entusiástica recepção de uma grande multidão. Mr.
Benjamin Coleman, eminente espírita, que lhes proporcionou a primeira sessão pública em
Londres, escrevendo a êsse tempo sôbre a sua estada de quatro anos na Europa (4)
diz:
“Desejo exprimir aos meus amigos da América, que mos apresentaram, a segurança de
minha convicção de que a missão dos irmãos na Europa foi um grande serviço ao
Espiritismo; que a sua conduta pública como médiuns — e só nessas condições eu os
conheço — tem sido correta e excepcional.”
Acrescenta que desconhece qualquer forma de mediunidade mais adequada a grandes
auditórios do que a dêles. Depois de sua visita a Londres os Davenport voltaram para a
América. Visitaram a Austrália em 1876 e em 24 de agôsto deram a primeira sessão pública
em Melbourne. William morreu em Sidney em julho de 1877.
Durante sua carreira os Irmãos Davenport excitaram profunda inveja e malícia da confraria
dos mágicos. Maskeline, com um cínico desembaraço, pretendeu os haver desmascarado na
Inglaterra. Sua alegação nesse particular foi muito bem respondida pelo Doutor George
Sexton, antigo redator do Spiritual Magazine, que descreveu em público, em presença do
próprio Maskeline, como eram feitos os seus truques, comparando-os com. os resultados
obtidos pelos Davenport, e disse: “Há tanta semelhança entre um lado e o outro quanto
entre as produções do poeta Close e os sublimes e gloriosos dramas do imortal bardo de
Ávon” (5).
Os mágicos fizeram ainda mais barulho em público do que os Espíritas e, com a imprensa
que os sustentava, fizeram o público, em geral, pensar que os Irmãos Davenport tinham
sido desmascarados.
Anunciando a morte de Ira Davenport na América, em 1911, Light comenta as
demonstrações de ignorância que essa morte ensejou. Cita o Daily News por haver dito o
seguinte: “Êles cometeram o êrro de aparecer como feiticeiros, em vez de como honestos
mágicos. Se, como seu vencedor Maskelyne, tivessem pensado em dizer “Isto é muito
fácil”, os irmãos não só teriam ganho uma fortuna como consideração”. Respondendo a
isto, Light pergunta por que, se êles fôssem simples mágicos e não crentes honestos em sua
mediunidade, iriam suportar ataques, injúrias e insultos e sofrer as indignidades que lhes
atiravam quando, se renunciassem a mediunidade, poderiam tornar-se considerados e ricos?
Uma observação inevitável por parte daqueles que não são capazes de descobrir truques é
perguntar que elevado objetivo pode encontrar-se em fenômenos semelhantes aos
observados com os Davenport. O conhecido autor e arrojado espírita William Howitt deu
uma boa resposta:
Esses que fazem truques e tocam instrumentos são Espíritos do céu? Na verdade Deus os
pode mandar? Sim; Deus os envia para que nos ensinem, pelo menos, isto: que Êle tem
servos de todos os graus e todos os gostos para fazerem tôda sorte de trabalhos; e aqui Êle
mandou aquêles que chamais Espíritos atrasados e palhaços a uma época degradada e muito
sensual. Se Êle tivesse mandado algo mais elevado, teria passado por cima da assistência.
Assim, nove décimos não acreditam no que veem.
É triste verificar que os Davenport — talvez os maiores médiuns de seu gênero que o
mundo já viu — sofressem tôda a vida uma oposição e uma perseguição brutais. Em muitas
ocasiões suas vidas estiveram até em perigo.
A gente é forçada a pensar que não haveria mais clara prova da influência das sombrias
fôrças do mal do que essa permanente hostilidade a tôdas as manifestações espíritas.
A êsse propósito diz Mr. Randall (6).
“Parece que há uma espécie de má-vontade crônica, quase ódio, na mente de algumas
pessoas contra tôda e qualquer coisa espiritual. Parece que há um vapor flutuando no ar —
uma espécie de esporo mental, fluindo pelo espaço, respirado pela grande maioria da
humanidade, que acende um contínuo fogo letal em seus corações contra todos aquêles cuja
missão é trazer a paz na terra e a boa vontade entre os homens. Os homens e as mulheres do
futuro ficarão muito admirados dos que vivem atualmente, quando lerem que os Davenport
e todos os outros médiuns foram forçados a enfrentar a mais inveterada hostilidade; que
êles, e o autor destas linhas, foram obrigados a suportar horrores indescritíveis, por nenhum
outro motivo senão porque buscavam convencer a multidão de que não eram animais que
morrem sem deixar sinais, mas almas imortais, que sobrevivem aos túmulos.
Só os médiuns são capazes de demonstrar que a existência do homem continua após a
morte. E ainda — estranha incoerência da natureza humana! — as próprias pessoas que
perseguem a êstes, que são os seus mais verdadeiros e melhores amigos, que os atiram no
desespêro ou lhes dão morte prematura, são as mesmas que prodigalizam tudo quanto a
fortuna pode dar àqueles cujo ofício é apenas admitir que a humanidade é imortal.”
Discutindo as alegações de vários mágicos profissionais de que haviam desmascarado ou
imitado os Davenport, disse Sir Richard Burton:
“Passei a maior parte de minha vida no Oriente, e vi muitos de seus mágicos. Finalmente
tive a oportunidade de presenciar os trabalhos dos senhores Anderson e Tolmaque. O
último mostrou, como dizem, notáveis mágicas, mas nem se aproximam do que fazem os
irmãos Davenport e Mr. Fay: por exemplo, o bonito manejo de instrumentos de música.
Finalmente li e ouvi tôdas as explicações dos chamados truques dos Davenport perante o
público inglês e — acreditem-me — se alguma coisa me faria dar um pulo tremendo “da
matéria para o Espírito” é a inteira e completa sem-razão das razões pelas quais são
explicadas as manifestações.”
É de notar-se que os próprios Davenport, contrastando com amigos e companheiros de
viagem, jamais pretenderam qualquer origem sobrenatural para os seus efeitos. A razão
disso deve ter sido que, como um entretenimento, era mais picante e menos provocante
quando cada assistente podia formar a sua própria opinião. Escrevendo ao mágico
americano Houdini, disse Ira Davenport, em sua velhice: “Nós nunca afirmamos de público
a nossa crença no Espiritismo. Não considerávamos isso de interêsse para o público, nem
oferecemos nosso entretenimento como o resultado de habilidade manual nem, por outro
lado, como Espiritismo. Deixávamos que os amigos e os mortos resolvessem isso lá entre
êles, como melhor pudessem, mas, infelizmente, fomos por vêzes vítimas de sua
discordância”.
Posteriormente Houdini alegou que Davenport admitia que seus resultados eram
conseguidos normalmente; mas Houdini de fato encheu tanto de erros o seu livro “A
Magician Among the Spirits” (7)
e mostrou tanto preconceito em todo o assunto que o seu depoimento não tem valor. A carta
que exibe não lhe dá razão. Uma declaração posterior, citada como tendo sido feita por Ira
Davenport, é demonstràvelmente falsa. É a de que os movimentos jamais saíram da cabine.
Na verdade o representante do The Times foi severamente batido no rosto por um violão
que andava no ar, a sobrancelha ficou ferida e em diversas ocasiões, quando se acendia a
luz, os instrumentos caíam por tôda a sala. Se Houdini não entendeu êsse último
depoimento, não é de supor que esteja tão bem informado quanto aos primeiros.
Objetam-me — e tenho recebido essa objeção tanto de Espíritas quanto de cépticos, que
todo êsse amontoado de exibições é indigno e sem valor. Muitos de nós assim pensam e
muitos outros fazem eco às seguintes palavras de Mr. PÁGINA B. Randall:
“A falha não é dos imortais, mas nossa. Porque, conforme o pedido, assim é a entrega.
Se não podemos ser alcançados de um modo, devemos e somos alcançados de outro. E
a sabedoria do mundo eterno dá aos cegos aquilo que êles podem suportar e não mais. Se
somos crianças intelectuais devemos alimentar-nos com sopinhas mentais, até que a nossa
capacidade digestiva suporte e exija alimentação mais forte. E, se o povo pode ser melhor
convencido da imortalidade por processos grosseiros, os fins justificam os meios. A visão
do braço de um espectro num auditório de três mil pessoas falará a mais corações, causará
mais profunda impressão e converterá mais gente à crença no post-mortem, em dez
minutos, do que todo um regimento de pregadores, por mais eloqüentes que sejam, em
cinco anos.
11
As pesquisas de Sir William Crookes – de 1870 até o ano de 1874
escreve êle:
“Não posso deixar de recordar esta data no ano passado. Nelly (2)
2. Sua espôsa. — N. do T.
3. “A Bandeira de Luz” — N. do T.
4. “O Espírita” — N. do T.
Admitindo que uma forma temporária foi construída com o ectoplasma de Florence
Cook, e que essa forma foi então utilizada como um ser independente, que se dizia “Katie
King”, ainda enfrentamos a questão: “Quem foi Katie King?” A isto só se pode dar a
resposta que ela deu, quando reconhecia que não tínhamos provas. Declarou-se filha de
John King, que desde muito era conhecido entre os Espíritas como um Espírito que presidia
a sessões de fenômenos materiais. Sua personalidade e adiante discutida, num capítulo
sôbre os Irmãos Eddy e Mrs. Holmes, que recomendamos ao leitor. Seu nome era Morgan e
King era antes um título comum a certa classe de Espíritos, do que um nome familiar. Sua
vida decorrera duzentos anos antes, no reinado de Carlos 2º, na Ilha da Jamaica. Se isto
éverdade ou não, certamente ela se adaptou ao papel e sua conversação era em geral
concorde com a informação. Uma das filhas do Professor Crookes escreveu ao autor e
aludiu a uma vivida lembrança das histórias da Espanha, contadas por êsse gentil Espírito
às crianças da família.
Ela mesma se fêz amada por todos. Mrs. Crookes escreveu:
“Numa sessão em nossa casa, com Miss Coolc, quando um dos nossos filhos tinha
apenas três anos, Katie King, um Espírito materializado, demonstrou por êle o mais vivo
interêsse e pediu para ver a criança. Então o menino foi trazido para a sala da sessão, pôsto
nos braços de Katie que, segurando-o por algum tempo muito naturalmente, o devolveu
tôda risonha.”
O Professor Crookes deixou registrado que a sua beleza e o seu encanto eram únicos
em sua experiência.
O leitor pode muito bem pensar que a luz reduzida empregada pelo Professor Crookes
comprometa o resultado da experiência. Contudo o Professor nos assegurou que na série de
sessões foi verificada a tolerância e que a imagem era capaz de suportar uma luz muito
mais intensa. Essa tolerância tinha os seus limites, que aliás nunca foram ultrapassados pelo
Professor Crookes, mas que foram verificados numa ousada experiência descrita por Miss
Florence Marryat (Mrs. Ross-Curch). É preciso dizer que o Professor Crookes não se
achava presente, nem Miss Marryat jamais o afirmou. Entretanto ela cita o nome de Mr.
Carter Hall, como um dos presentes. Katie havia consentido com muito bom humor que
examinassem qual o efeito que seria produzido sôbre a sua imagem por uma luz intensa.
“Ficou de pé junto à parede da sala de visttas, com os braços abertos como se estivesse
crucificada. Então foram acesos três bicos de gás em todo o seu poder, num espaço de cêrca
de dezesseis pés quadrados. O efeito sôbre Katie King foi maravilhoso. Ela manteve o seu
próprio aspecto durante um segundo, no máximo, e depois começou a fundir-se
gradualmente. Não posso comparar a sua desmaterialização senão a uma boneca de cera
que se fundisse junto a um fogo intenso. Primeiro as formas se tornaram alteradas e
indistintas; parecia que se interpenetravam. Os olhos desapareceram nas órbitas, o nariz
desapareceu, o osso frontal sumiu. Depois os membros como que desapareciam debaixo
dela, que se tornava cada vez menor, como um edifício que ruisse. Por fim havia apenas a
cabeça no chão — depois apenas um pedaço de pano, que desapareceu de súbito, como se
uma mão o tivesse puxado — e nós ficamos admirados, a olhar os bicos de gás, no lugar
onde Katie King havia estado”. (6)
Miss Marryat acrescenta o interessante detalhe de que nalgumas dessas sessões o cabelo de
Miss Cook ficou prêso ao solo, o que de modo algum atrapalhou o aparecimento
subseqüente de Katie fora da cabine.
Os resultados obtidos em sua própria casa foram honesta e destemerosamente relatados
pelo Professor Crookes em seu Journal e produziram a maior impressão no mundo
científico.
Alguns dos maiores espíritas, como Russel Wallace, Lord Rayleigh, o jovem e brilhante
físico William Barrett, Cromwell Varley e outros tiveram confirmados os seus pontos de
vista anteriores ou foram encorajados a avançarem por um novo caminho do conhecimento.
Houve, entretanto, um grupo ferozmente intolerante, chefiado pelo fisiologista Carpenter,
que zombou do assunto e fàcilmente imputou tudo desde a maluquice até a fraude de seu
ilustre colega. A ciência oficial pôs-se de fora da questão. Publicando o seu relatório,
Crookes anexou as cartas nas quais pedia a Stokes, Secretário da Sociedade Real, que
viesse ver as coisas com os próprios olhos. Recusando-o, Stokes colocou-se exatamente na
mesma posição daqueles cardeais que não quiseram ver as luas de Júpiter pelo telescópio de
Galileu.
Defrontando um fato novo, a ciência material se mostrou tão fanática quanto a teologia
medieval.
Antes de deixar o assunto Katie King, algumas palavras devem ser ditas quanto ao futuro
do grande médium, do qual aquela extraia o seu invólucro físico. Miss Cook tornou-se Mrs.
Comer, mas continuou a exibir os seus admiráveis poderes. O autor conhece apenas um
caso em que a honestidade de sua mediunidade foi posta em dúvida; foi quando ela foi
pegada por Sir George Sitwell e acusada de fingir-se de Espírito. O autor é de opinião que
um médium de materializações deveria ser manietado, de modo que não pudesse vagar pela
sala — e isto com o objetivo de proteger o próprio médium. É pouco provável que o
médium se mova em transe profundo, mas em semitranse nada impede que inconsciente ou
semiconscientemente, ou ainda obedecendo a uma sugestão dos assistentes, passeie fora da
cabine. É um reflexo de nossa própria ignorância admitir que uma infinidade de provas
pudessem ser comprometidas por um único episódio dessa natureza. É digno de nota,
entretanto, a circunstância de que, nessa ocasião, os observadores concordaram que a figura
estava de branco, enquanto que, ao ser agarrada, Mrs. Comer não estava de branco. Um
investigador experimentado teria concluído que isso não era uma materialização, mas uma
transfiguração, o que significa que o ectoplasma, sendo insuficiente para construir uma
figura completa, foi usado para revestir o médium de modo que êste pudesse carregar o
simulacro. Estudando casos semelhantes, o grande investigador alemão Doutor Schrenck
Notzing (7)
O mais notável dêsses resultados foi a alteração no pêso dos objetos, posteriormente
confirmada completamente pelo Doutor Crawford, trabalhando com o grupo Goligher, e
também no curso da investigação Margery, em Boston. Objetos pesados tornavam-se leves
e os leves tornavam-se pesados, pela ação de uma fôrça invisível que parecia estar sob a
influência de uma inteligência independente. Os controles por meio dos quais era eliminada
tôda possibilidade de fraude foram sempre usados nas experiências e devem convencer
qualquer leitor liberto de preconceitos. O Doutor Huggins, muito conhecida autoridade em
espectroscopia, e Serjeant Cox, o eminente jurista, reunidos com diversos outros
assistentes, testemunharam as experiências. Entretanto, como já ficou dito, foi impossível a
Crookes levar alguns dos mais eminentes homens de ciência a dar ao assunto ao menos
uma hora de atenção.
O manejo de instrumentos de música, especialmente um acordeon, em condições que
era impossível atingir as teclas, foi um outro fenômeno perfeitamente examinado e
constatado por Crookes e seus distintos assistentes. Admitindo que o próprio médium fôsse
capaz de tocar o instrumento, o autor não se acha em condições de admitir que o fenômeno
seja uma prova de uma inteligência independente. Uma vez garantida a existência de um
corpo etérico, com membros correspondentes aos nossos, não há uma razão plausível por
que não se realizasse um desdobramento parcial e por que os dedos etéricos não se
aplicassem sôbre as teclas enquanto os dedos materiais repousassem sôbre os joelhos do
médium. O problema se resolve simplesmente, então, admitindo-se que o cérebro do
médium pode comandar os seus dedos etéricos e êsses dedos podem adquirir a fôrça
suficiente para fazer pressão sôbre as teclas. Muitos fenômenos psíquicos, como a leitura
com os olhos vendados, o toque em objetos distantes, etc. podem, na opinião do autor, ser
referidos ao corpo etérico e ser classificados antes como um materialismo elevado e sutil do
que como Espiritualismo.
Acham-se numa classe muito distinta da dos fenômenos mentais, tais como as evidentes
mensagens dos mortos, que constituem verdadeiramente o centro do movimento espírita.
Falando de Miss Kate Fox, diz o Professor Crookes: “Observei muitos casos em que,
parece, a inteligência do médium participa largamente dos fenômenos.” E acrescenta que
isto não ocorre de maneira consciente e desonesta, e continua: “Observei alguns casos que
parecem indicar seguramente a ação de uma inteligência exterior, não pertencente a quem
quer que seja presente na sala”. (9)
Eis o ponto a que chegou o autor, e que é expresso por uma autoridade maior que a sua
própria.
Os fenômenos que melhor ficaram estabelecidos na investigação de Miss Kate Fox foram o
movimento de objetos a distância e a produção de sons percutidos ou batidas. Estas últimas
cobriam uma larga escala: “leves batidas, sons agudos como os de uma bobina de indução
em trabalho, detonações no ar, agudas pancadas metálicas, estalos como os de uma
máquina de fricção, sons como de arranhaduras, chilrear de pássaros, etc.” (10)
Todos quanto tivemos experiência com êsses sons fomos obrigados a nos perguntar até
onde estariam êles sob o contrôle do médium. O autor chegou à conclusão, como já ficou
dito, de que até certo ponto estão sob o contrôle do médium e, dai por diante, não. Êle não
pode esquecer o mal-estar e o embaraço de um grande médium camponês do norte quando,
em presença do autor, batidas fortes e sons como os estalos dos dedos se fizeram ouvir em
tôrno de sua cabeça na sala do café de um hotel em Doncaster. Se êle tivesse dúvidas de
que as batidas eram independentes do médium, estas não teriam prevalecido naquela
ocasião. A respeito da objetividade dêsses ruídos, diz Crookes de Miss Kate Fox:
“Parece que lhe basta pôr a mão sôbre uma coisa para que se ouçam ruidos altos, como uma
tríplice pulsação, por vêzes tão altos que são ouvidos de outras salas. Assim os ouvi numa
árvore, num pano de vidraça, num pedaço de fio de ferro, num pedaço de membrana, num
tamborim, no fôrro de um tilbori, no piso de um teatro. Além disso não é necessária a
permanência do contacto. Ourri tais sons provenientes do chão, das paredes, etc., quando as
mãos do médium e os pés eram seguros — quando ela estava de pé numa cadeira —
quando ela estava num gancho presa do teto — quando presa numa jaula de ferro — e
quando caía desmaiada num sofá. Ouvi-os numa caixa harmônica e os senti em meus
ombros e debaixo das próprias mãos. Ouvi-os numa folha de papel, segura entre os dedos
por um fio atravessado numa das pontas. Conhecendo tôdas as hipóteses aventadas,
principalmente na América, para explicar tais sons, experimentei-as de todos os modos
possíveis, até que não houve meio de fugir a convicção de que eram ocorrências reais, não
produzidas por truques ou por meios mecânicos.
Assim ficam liquidadas as lendas do estalo dos artelhos, da queda das maçãs e de outras
explicações absurdas que têm sido aventadas para se compreenderem os fatos. Apenas é
preciso dizer que os lamentáveis incidentes ligados aos últimos dias das Irmãs Fox de certo
modo justificam aquêles que, sem conhecimento real dos fatos, tiveram a sua atenção
voltada para aquêle único episódio — que é abordado alhures.
Pensou-se por vêzes que Crookes houvesse modificado as suas opiniões a respeito dos
fenômenos psíquicos, segundo expressou em 1874. Pode, ao menos, dizer-se que a
violência da oposição e a timidez dos que deviam tê-lo sustentado o alarmaram e o levaram
a considerar em perigo a sua posição do ponto de vista científico. Sem buscar subterfúgios,
êle esquivou-se. Recusou reeditar os seus artigos sôbre o assunto e não quis que
circulassem as fotografias maravilhosas nas quais o Espírito materializado de Kate King
aparecia de braço com êle. Tornou-se excessivamente cauteloso em definir a sua posição.
Numa carta citada pelo Professor Brofferio (11)
diz êle:
“Tudo quanto me interessa é que sêres invisíveis e inteligentes dizem que são Espíritos de
pessoas mortas. Mas nunca tive provas de que sejam realmente as pessoas que dizem ser,
como as exigia, para que pudesse acreditá-lo. Entretanto inclino-me a acreditar que muitos
dos meus amigos tenham recebido, como declaram, as provas desejadas e eu próprio
freqüentemente me tenho inclinado para essa convicção”.
Á medida que envelhecia, essa convicção se arraigou ou, talvez, se tornou mais consciente
das responsabilidades que essas excepcionais experiências podem determinar.
Em seu relatório presidencial perante a Associação Britânica em 1898, em Bristol, Sir
William se refere ligeiramente às suas primeiras pesquisas. E diz:
“Ainda não toquei num outro interêsse — para mim o mais sério e o de maior alcance.
Nenhum incidente em minha carreira científica é mais conhecido do que a parte que tomei
durante anos em certas pesquisas psíquicas. Já se passaram trinta anos desde que publiquei
um relatório das experiências tendentes a mostrar que fora do nosso conhecimento
científico existe uma fôrça utilizada por inteligências que diferem da comum inteligência
dos mortais... Nada tenho de que me retratar. Confirmo minhas declarações já publicadas.
Na verdade, muito teria que acrescentar a isto.”
Cêrca de vinte anos mais tarde sua crença era ainda mais forte. Durante uma entrevista (12)
disse êle:
“Jamais tive que mudar de idéia a tal respeito. Estou perfeitamente satisfeito do que disse
nos primeiros dias. É muito certo que um contacto foi estabelecido entre êste mundo e o
outro.”
Em resposta à pergunta se o Espiritismo não havia liquidado o velho materialismo dos
cientistas, acrescentou:
“Penso que sim. Pelo menos êle convenceu a maioria do povo, que sabe alguma coisa
relativa à existência do outro mundo”.
Por gentileza de Mr. Thomas Blyton, tive ultimamente a oportunidade de ver a carta de
pêsames escrita por Sir William Crookes, por ocasião da morte de Mrs. Comer. É datada de
24 de abril de 1904, e nela diz: “Transmita a mais sincera simpatia de Lady Crookes e
minha própria, à família, por essa perda irreparável. Acreditamos, como verdadeira crença,
que os nossos entes queridos, ao passarem para o Além, ainda nos observam — e essa
crença que deve muito de sua certeza à mediunidade de Mrs. Comer (ou Florence Cooh,
como aparecerá ela por vêzes à nossa lembrança) — fortificará e consolará aquêles. que
aqui ficaram”. Anunciando a sua morte, disse a filha: “Ela morreu em grande paz e
felicidade”.
12
Os Irmãos Eddy e os Holmes
sem sentir respeito por aquêle homem tão leal, desinteressado, e com uma rara coragem
moral de seguir a verdade e aceitar os resultados, mesmo quando opostos à nossa
expectativa e aos nossos desejos. Não era um sonhador místico, mas um homem de
negócios muito prático e algumas de suas observações psíquicas despertaram menos
atenção do que mereciam.
Olcott ficou dez semanas na atmosfera de Vermont, o que demonstrou uma considerável
fôrça de vontade em suportar o meio primitivo e a vida dura daquela gente. Voltou com
algo próximo do aborrecimento pessoal pela morosidade de entendimento com os seus
hóspedes, mas, por outro lado, com absoluta confiança em seus poderes psíquicos. Como
todo investigador sensato, recusa-se a dar atestados em branco sôbre o caráter e não
responde pelas ocasiões em que não se achava presente, nem pela futura conduta daqueles a
quem julga. Limita-se à sua experiência do momento e, em quinze notáveis artigos
publicados no New York Daily Graphic, em outubro e novembro de 1874, deu os
resultados completos e as medidas que havia tomado para os controlar. Lendo-os, é difícil
lembrar uma precaução que não tenha sido tomada.
Seu primeiro cuidado foi examinar a história dos Eddy. Foi um bom registro, a que não
faltaram manchas. Nunca será demais insistir em que o médium é um mero instrumento e
que o seu dom nenhuma relação tem com o seu caráter. Isto se aplica aos fenômenos
físicos, mas não aos mentais, porque jamais um alto ensino poderia chegar através de um
canal inferior.
Nada havia de mau na investigação daqueles irmãos, mas admite-se que certa vez deram
uma falsa exibição de mediunidade, anunciando-a como tal, mas praticando truques. É
provável que tal tivesse sido feito para dar o que falar e ainda para conciliar os vizinhos
fanáticos, que viviam enfurecidos contra os legítimos fenômenos. Seja qual fôr a causa ou
motivo, Olcott foi naturalmente levado a tornar-se muito circunspecto em seus contactos,
desde que mostrava um bom conhecimento dos truques.
A ancestralidade era muito importante, porque, não só havia uma ininterrupta cadeia de
poderes psíquicos, que se estendia sôbre várias gerações, como, também, a avó dêles, que
fôra processada quatro vêzes como feiticeira, fôra queimada como tal ou, pelo menos,
sentenciada, no famoso processo de Salém, em 1692. Muitos de nossos contemporâneos
gostosamente fariam o mesmo com os nossos médiuns, como foi o caso de Cotton Mather.
Mas as perseguições policiais constituem o seu equivalente moderno, O pai dos Eddy foi,
infelizmente, um dêsses fanáticos perseguidores. Olcott declara que os meninos foram
marcados para tôda a vida pelos golpes que o pai lhes havia dado, visando desencorajar
aquilo que chamava de poderes diabólicos. A mãe, que era possuidora de grande fôrça
psíquica, ficou sabendo como êsse bruto “religioso” agia injustamente: seu lar tornou-se um
inferno na terra. Não havia refúgio para as crianças em parte alguma, pois os fenômenos
psíquicos geralmente as acompanhavam, até mesmo à escola e excitava a grita dos jovens
bárbaros ignorantes em seu redor. Em casa, quando o jovem Eddy caía em transe o pai e
um vizinho despejavam água fervente sôbre êle e punham brasas vermelhas sôbre a cabeça,
deixando-lhe marcas indeléveis. Felizmente o rapaz estava adormecido. É de admirar que
depois de uma tal infância as crianças se tivessem tornado homens sombrios e
desconfiados?
Depois que cresceram, o infeliz pai tentou fazer dinheiro por meio dos poderes que tão
brutalmente havia desencorajado e alugava os rapazes como médiuns. Ninguém jamais
descreveu adequadamente os sofrimentos a que se sujeitam os médiuns públicos nas mãos
de investigadores idiotas e cépticos cruéis. Olcott testemunhou que as mãos e os braços das
irmãs, bem como dos irmãos, estavam cheios de marcas das ligaduras e de escaras
produzidas por lacre quente para selar os nós, enquanto que duas das meninas tinham
pedaços de pele e carne esgarçadas pelas algemas. Eram enjauladas, batidas, queimadas,
apedrejadas, enquanto as cabines eram destroçadas. O sangue escorria dos cantos das
unhas, devido à compressão das artérias. Assim foram os primeiros dias na América, mas a
Grã-Bretanha não ficou atrás, se recordarmos os irmãos Davenport e a violência brutal da
massa em Liverpool.
Parece que os Eddy eram possuidores de tôdas as mediunidades. Olcott dá esta lista:
batidas, movimento de objetos, pintura a óleo e aquarela sob influência de Espíritos,
profecia, fala de línguas estranhas, poder de cura, discernimento dos Espíritos, Levitação,
escrita de mensagens, psicometria, clarividência, e, finalmente, a produção de formas
materializadas.
Desde que São Paulo enumerou os dons do Espírito, jamais se organizou uma lista mais
extensa.
O método das sessões era o seguinte: o médium ficava sentado numa cabine de um lado da
sala, e a assistência em bancos, enfileirados à sua frente. Perguntar-se-á por que uma
cabine. E a experiência continuada mostrou que, de fato, esta pode ser dispensada, salvo no
fenômeno de materialização. Home jamais usou a cabine e atualmente os principais
médiuns inglêses raramente a empregam. Há, contudo, uma razão muito aceitável para a
sua presença.
Sem querer ser muito didata num assunto que ainda se acha na fase de exame, pode ser
admitido, como hipótese muito aceitável, que os vapôres ectoplásmicos, que se solidificam
numa substância plástica, da qual surgem as formas, podem condensar-se mais fàcilmente
num espaço limitado. Entretanto, achou-se que a presença do médium não era necessária
dentro dêsse espaço. Na maior sessão de materialização a que o autor estêve presente, na
qual cêrca de vinte formas de várias idades e tamanhos apareceram numa noite, o médium
estava sentado fora da porta da cabine, da qual saíam as formas. É de presumir que, de
acôrdo com a hipótese, seu vapor ectoplásmico fôsse levado para aquêle espaço confinado,
independentemente da posição de seu corpo físico. Isso não tinha sido reconhecido ao
tempo da investigação, de modo que a cabine foi utilizada.
É óbvio, entretanto, que a cabine oferecia um meio para fraudes e disfarces, com o que era
cuidadosamente examinada. Ficava num segundo andar, e tinha uma janelinha. Olcott tinha
a janela tapada com tela antimosquito, pregada por fora, O resto da cabine era de madeira
sólida e só atingível pela sala onde se achavam os espectadores. Parece que não havia
possibilidades de fraudes. Olcott a tinha feito examinar por um perito, cujo certificado
aparece no livro.
Em tais circunstâncias Olcott contou em seus artigos e, depois, no seu notável livro “People
fron the Other World” (2)
que, certamente, durante dez semanas, viu nada menos de quatrocentas aparições saindo da
cabine, de tôdas as formas, tamanhos, sexos e raças, vestidos maravilhosamente, crianças
de colo, guerreiros índios, cavalheiros em trajes de rigor, um curdo com uma lança de nove
pés, uma índia pele vermelha fumando, senhoras com vestidos elegantes, etc. Tal o
testemunho de Olcott.
E não havia um caso que êle não fôsse capaz de dar as mais seguras provas. Seu relato foi
recebido com incredulidade, mas agora já produz menor descrença. Mas Olcott dominava o
assunto e, tomando suas precauções, preveniu, assim como prevenimos, a crítica daqueles
que, não tendo estado presentes, preferem dizer que os que estavam ou foram enganados ou
eram malucos. Diz êle: “Se alguém lhes fala de crianças carregadas por senhoras que saem
da cabine, ou de môças de formas flexíveis, cabelos dourados e pequena estatura, de velhas
e velhos apresentando-se em corpo inteiro e falando conosco, de criançolas, vistas aos
pares, simultaneamente com outras formas e roupas diferentes, de cabeças calvas, de
cabelos grisalhos, de feias cabeças negras de cabelos encarapinhados, de fantasmas
imediatamente reconhecidos como amigos, e fantasmas que falam de modo audível línguas
estranhas que o médium desconhece — sua indiferença não se altera... A credulidade de
alguns homens de ciência, também, seria ilimitada — antes prefeririam acreditar que uma
criança possa levantar uma montanha sem uma alavanca do que um Espírito possa levantar
um pêso.”
Mas, de lado o céptico irredutível, que ninguém convence, e que, no último dia classificará
o Anjo Gabriel como uma ilusão de ótica, há algumas objeções muito naturais que um
novato pode fazer honestamente e um pensador honesto pode responder. Podemos aceitar
uma lança de nove pés como sendo um objeto espiritual? Que dizer dessas roupagens?
De onde vêm elas? A resposta se encontra, até onde podemos entender as coisas, nas
admiráveis propriedades do ectoplasma. É a mais protéica substância, capaz de ser moldada
instantaneamente em qualquer forma, e o poder de moldagem é a vontade do Espírito,
dentro ou fora de um corpo. Tudo pode ser instantâneamente feito com êle, desde que assim
o decida a inteligência predominante. Em tôdas as sessões dessa natureza parece que se
acha presente um ser espiritual controlador, que comanda as figuras e confecciona o
programa. Ás vêzes fala e dirige abertamente. Outras vêzes fica calado e se manifesta
apenas por atos. Como ficou dito, muitas vêzes os contrôles são Índios Peles-Vermelhas,
que parecem ter em sua vida espiritual uma afinidade especial com os fenômenos físicos.
William Eddy, o médium principal dêsses fenômenos, parece nada haver sofrido quanto à
saúde e à fôrça, naquilo que em geral é um processo de exaustão. Crookes constatou como
ficava Home “como que desfalecido no chão, pálido e sem fala.” Entretanto Home não era
um rude camponês, mas um inválido sensitivo e artista. Parece que Eddy comia pouco, mas
fumava continuamente. Nas sessões eram empregados a música e o canto, porque de longa
data foi observado que há uma íntima conexão entre as vibrações musicais e os resultados
psíquicos. Também se verificou que a luz branca é prejudicial aos resultados, o que agora é
explicado pelo efeito dissociativo que a luz exerce sôbre o ectoplasma. Muitas côres têm
sido examinadas com o fito de evitar a completa escuridão. Mas, se se pode confiar no
médium a escuridão é mais favorável, especialmente aos fenômenos de fosforescência e de
jatos de luz, que se contam entre os mais belos fenômenos. Se se empregar luz, a mais
tolerada é a vermelha. Nas sessões de Eddy havia uma luz atenuada de uma lâmpada
velada.
Seria cansativo para o leitor entrar em detalhes sôbre os vários tipos que apareceram nessas
interessantes reuniões. Madame Blavatsky, então uma criatura desconhecida em New York,
tinha vindo observar as coisas. Naquela época ainda não havia ela desenvolvido a linha
teosófica do seu pensamento e era uma espiritista ardorosa. O Coronel Olcott e ela se
encontravam pela primeira vez na casa da fazenda de Vermont, onde começou uma
amizade que produziria no futuro estranhos desenvolvimentos. Em sua homenagem, ao que
parece, apareceu um séquito de imagens russas, mantendo com ela uma conversação nessa
língua. A principal figura, entretanto, era um chefe índio, chamado Santum, e uma índia de
nome Honto, que se materializaram tão completamente e tantas vêzes que a assistência
seria desculpada por esquecer que estava tratando com Espíritos. Tão grande foi o contacto,
que Olcott mediu Honto numa escala pintada ao lado da porta da cabine. Tinha um metro e
sessenta centímetros. Certa vez expôs o seio e pediu a uma senhora presente que observasse
as batidas do coração. Honto era leviana, gostava de dançar, de cantar, de fumar e exibir
sua rica cabeleira negra aos assistentes. Santum, por outro lado, era um guerreiro taciturno,
de um metro e noventa centímetros. O médium tinha apenas um metro e setenta e cinco
centímetros.
Digno de menção é o fato de o índio usar sempre um polvarinho de chifre, que lhe fôra
dado então por um dos assistentes. Estava pendurado na cabine e lhe fôra dado quando
estava materializado. Alguns dos Espíritos de Eddy falavam, outros não, e a fluência
variava muito.
Isto concordava com a experiência do autor em sessões semelhantes. Parece que a alma que
volta tem muito que aprender quando maneja êsse simulacro de si própria e que aqui, como
alhures, a prática vale muito. Ao falar, essas figuras movem os lábios exatamente como
faziam em vida. Também foi mostrado que a sua respiração em água de cal produz a reação
característica de dióxido de carbono. Diz Olcott: “Os próprios Espíritos dizem que têm de
aprender a arte de se materializar, como a gente procederia com qualquer outra arte.
A princípio apenas podem moldar mãos, como no caso dos Davenport, das Fox e
outros. Muitos médiuns jamais vão além dêsse estágio.
Entre os numerosos visitantes da casa de Vermont naturalmente alguns havia que
assumiam uma atitude hostil. Nenhum dêstes, entretanto, parece ter dominado inteiramente
o assunto. Um dos que mais chamavam a atenção foi um tal Doutor Beard, médico de New
York, que, apenas com uma sessão, sustentava que tôdas as figuras eram disfarces do
próprio William Eddy. Para sustentar êsse ponto de vista nenhuma prova foi produzida,
mas apenas a sua opinião pessoal; e êle declarava ser capaz de produzir os mesmos
resultados com aparelhos de teatro do custo de três dólares. Tal opinião bem podia ser
formulada honestamente numa única sessão, especialmente se esta tivesse sido mais ou
menos bem sucedida. Mas é perfeitamente insustentável quando comparada com as das
pessoas que assistiram a várias sessões. Assim, o Doutor Hodgson, de Stoneham, em
Massachussetts, com mais quatro outras testemunhas, assinam um documento que diz:
“Atestamos que... Santum estava do lado de fora, na plataforma, quando um Outro índio
mais ou menos da mesma estatura saiu e os dois passavam e repassavam um pelo outro,
andando para cima e para baixo. Ao mesmo tempo era mantida uma conversa entre George
Dix, Mayflower, o velho Mr. Morse e Mrs. Eaton, dentro da cabine. Nós reconhecemos a
voz familiar de cada um”.
Há muitas testemunhas de fatos semelhantes, além de Olcott; e todos põem a teoria dos
disfarces está fora de cogitação. É preciso acrescentar que muitas das formas eram crianças
e até crianças de colo. Olcott mediu uma criança cuja altura era de setenta e um
centímetros.
Poderia acrescentar-se honestamente que uma coisa que preocupa ocasionalmente o
leitor é a hesitação de Olcott, além de sua reserva. A coisa era nova para êle e de vez em
quando uma onda de receio e de dúvida passava por sua mente e êle pensava que tivesse
ido muito longe e que devia contorná-la, caso, de algum modo, mostrassem que êle estava
errado.
Assim, diz êle: “As formas que vi em Chittenden, enquanto aparentemente desafiando
qualquer outra explicação que nEïo a de uma origem supra-sensível, permanecem, do ponto
de vista científico como ainda “não provadas”. Noutra passagem refere-se a falta de
“condições para testes”.
Esta expressão tornou-se uma espécie de advertência que perde tôda significação.
Assim, quando se diz ter visto, fora de qualquer dúvida ou engano, o rosto da própria mãe
falecida, o oponente replica: “Ah! mas foi sob condições para teste?” O teste repousa no
próprio fenômeno. Quando se pensa que durante dez semanas Olcott pôde examinar a
pequena cabine, vigiar o médium, medir e pesar as formas ectoplásmicas, fica-se a pensar o
que é que se poderia exigir para fazer prova completa. O fato é que enquanto Olcott
escrevia o seu relato veio o suposto desmascaramento de Mrs. Holmes e a parcial retratação
de Mr. Dale Owen, o que o levou a tomar essas precauções.
Foi a mediunidade de William Eddy que tomou a forma de materializações. Horace
Eddy fêz sessões de caráter bem diverso. Em seu caso foi usada uma espécie de tela, em
cuja frente êle se sentava com um dos assistentes, ao seu lado, sob boa luz e segurando a
sua mão. Do outro lado da tela era colocado um violão ou outro instrumento, que então
começava a ser tocado, aparentemente sem executante, enquanto mãos materializadas eram
vistas às bordas da cortina, O efeito geral era muito semelhante ao produzido pelos irmãos
Davenport, mas era mais impressionante, uma vez que o médium era visto inteiramente e se
achava sob contrôle de um espectador. A hipótese da moderna ciência psíquica, baseada em
muitas experiências, é que faixas invisíveis de ectoplasma, que são antes condutoras de
fôrça do que fôrças elas próprias, são emitidas do corpo do médium e aplicadas sôbre o
objeto que deve ser manipulado, sendo empregadas para o levantar, para o tocar, conforme
um poder invisível o deseje — poder invisível que, conforme pretende o Professor Charles
Richet, é um prolongamento da personalidade do médium e, conforme a mais avançada
escola, uma entidade independente. Nada disso era conhecido ao tempo dos Eddys e os
fenômenos apresentavam uma indubitável aparência de tôda uma série de efeitos sem
causa. Quanto à realidade do fato, é impossível ler a minuciosa descrição de Olcott sem
ficar convencido de que não poderia haver êrro nisso. Êsse movimento de objetos a
distância do médium, ou telecinésia, para usar a expressão moderna, é um raro fenômeno à
luz; mas certa ocasião, numa reunião de amadores, que eram espíritas experimentados, o
autor viu uma espécie de bandeja de madeira, à luz de uma vela, ser levantada pela borda e
responder a perguntas por meio de batidas, quando se achava a menos de dois metros de
distância.
Nas sessões em escuridão de Horatio Eddy, onde a completa ausência de luz dava todo
vigor à fôrça psíquica, Olcott verificou que havia uma louca dança guerreira de índios, com
o sapateado de uma dúzia de pés e, simultâneamente, o som de um instrumento selvagem,
acompanhado por guinchos e gritos. “Como pura exibição de fôrça bruta”, diz êle, “essa
dança índia provavelmente é insuperável nos anais de tais manifestações”. Uma luz
produzida instantaneamente encontraria os instrumentos cobertos no chão, e Horatio em
profundo sono, sem uma gôta de suor, inconsciente em sua cadeira. Assegura-nos Olcott
que tanto êle quanto outros cavalheiros presentes, cujo nome declina, tiveram a permissão
de se sentarem sôbre o médium, mas que em um ou dois minutos todos os instrumentos
estavam sendo tocados novamente. Depois dessa experiência — e as houve muitíssimas —
qualquer verificação posterior parece desnecessária. A menos que houvesse uma absoluta
falta de senso da parte de Olcott e de outros espectadores, não há dúvida que Horatio Eddy
exercitava poderes de que a ciência tinha, e ainda tem, um conhecimento imperfeito.
Algumas das experiências de Olcott são tão definitivas e narradas tão franca e claramente
que merecem respeitosa consideração e se adiantam aos trabalhos de muitos dos nossos
modernos pesquisadores. Por exemplo, êle trouxe de New York uma balança, que foi
devidamente aferida e dada como exata num certificado publicado para êsse efeito. Então
persuadiu a uma das formas materializadas, a índia Honto, a ficar de pé sôbre ela, enquanto
o seu pêso era verificado por uma terceira pessoa, Mr. Pritchard, cavalheiro respeitável e
não interessado no assunto. Olcott faz um relato dos resultados e adiciona um certificado de
Pritchard, como jurado perante um juiz. Honto foi pesada quatro vêzes, de pé sôbre a
plataforma, de modo que não podia de modo algum aliviar o seu pêso. Era uma mulher de
um metro e sessenta centímetros de altura e era de esperar que registrasse um pêso de cêrca
de sessenta e um quilos. Os quatro resultados foram, respectivamente, de 39,9; 26,3; 26,3 e
29,5 quilos — todos tomados na mesma noite. Isso parece mostrar que seu corpo era um
mero simulacro, cuja densidade podia variar de momento a momento. Também demonstrou
aquilo que mais tarde foi verificado por Crawford, que todo o pêso do simulacro não
poderia derivar do médium. É inconcebível que Eddy, cujo pêso era de cêrca de 82 quilos,
fôsse capaz de dar quase 40. Tôda a assistência, conforme a sua capacidade, que varia
enormemente, é chamada a contribuir; e outros elementos podem muito provavelmente ser
trazidos da atmosfera. Atualmente a maior perda de pêso demonstrada por Miss Goligher,
nas experiências de Crawford, foi de 23,7 quilos; mas cada um dos assistentes sofreu uma
perda de pêso, conforme registrou o mostrador das cadeiras-balanças: era a contribuição
individual para a formação do ectoplasma.
Também preparou o Coronel Olcott duas balanças de mola e fêz testes da capacidade de
tração das mãos dos Espíritos, enquanto as do médium eram seguradas por alguém da
assistência. Uma mão esquerda puxou com uma fôrça de 18 quilos e a direita, de 23,6
quilos, a uma luz tão boa que Olcott pôde ver que na mão direita faltava um dedo. Êle
estava familiarizado com o caso, pois se tratava do Espírito de um marinheiro que havia
perdido um dedo em vida. Quando a gente lê tais coisas, o aviso de Olcott de que seus
resultados não eram definitivos e de que não tinha êle as perfeitas condições de
experimentação, nos torna mais difícil a compreensão. Entretanto, fecha as suas conclusões
com estas palavras: “Não obstante o número de cépticos se batendo contra esses fatos
graníticos; não obstante o disfarce que possam vestir os “desmascaradores”, a trombetear
cornetinhas de brinquedo, essa Jericó resistirá”.
Uma observação feita por Olcott foi que essas formas ectoplásmicas obedeciam facilmente
a um comando mental de um assistente de mente forte, pois iam e vinham aonde êstes
quisessem. Outros observadores em várias sessões notaram o mesmo fato, o que pode ser
tomado como um dos pontos verificados nesse problema crucial.
Há um outro ponto curioso que possivelmente Olcott deixou de noticiar. Os médiuns e os
Espíritos que tinham sido muito seus amigos durante a sua longa visita, sübitamente se
tornaram azedos e esquivos. Parece que essa mudança se operou logo depois da chegada de
Madame Blavatsky, com quem Olcott havia estabelecido íntimas relações. Como se sabe,
aquela senhora era uma espírita convicta na ocasião, mas é possível que os Espíritos
tenham previsto e pressentido o perigo oferecido pela dama russa. Os seus ensinos
teosóficos, apresentados um ou dois anos mais tarde, eram tais que, embora os fenômenos
fôssem reais, os Espíritos eram meros cascões astrais e não tinham vida própria. Seja qual
fôr a verdadeira explicação, a mudança nos Espíritos foi notável. “Muito embora a
importância de meu trabalho tenha sido reconhecida e tôdas as facilidades razoáveis me
tenham sido concedidas, eu era constantemente mantido a distância, como se fôsse um
inimigo, em vez de um observador sem preconceitos”.
O Coronel Olcott narra muitos casos onde os assistentes reconheceram Espíritos, mas nêles
não se pode confiar muito, porque com uma luz fraca e as condições emocionais é fácil de
ser enganado um observador honesto. O autor tem tido a oportunidade de demorar o olhar
sôbre rostos de cêrca de cem dessas imagens e apenas se lembra de dois casos nos quais
estava absolutamente certo de sua identidade. Em ambos êsses casos os rostos tinham sua
própria luz e o autor não dependia de lâmpada vermelha. Houve duas outras ocasiões em
que, com a lâmpada vermelha, êle estava moralmente certo; mas, na maioria dos casos, era
possível, se se admitir o trabalho da imaginação, ver o que se quisesse na vaga moldagem
que se defrontava. Foi talvez o que ocorreu no grupo de Eddy: realmente C. C. Massey, um
juiz muito competente, em sessão com Eddy em 1875, queixava-se dêsse fato. O verdadeiro
milagre não era a identidade, mas a simples presença do ser.
Não há dúvida que o interêsse despertado pela imprensa, ao relatar os fenômenos de Eddy
deveria ter produzido um mais sério tratamento da ciência psíquica e, possivelmente,
adiantado de uma geração a causa da verdade. Infelizmente, no momento exato em que a
atenção do público era atraída para o assunto, sobreveio real ou imaginário — o escândalo
dos Holmes em Filadélfia, o qual foi rigorosamente explorado pelos materialistas, ajudados
pela exagerada honestidade de Robert Dale Owen. Os fatos foram os seguintes:
Dois médiuns em Filadélfia Mr. e Mrs. Nelson Holmes, tinham feito uma série de sessões,
nas quais supostamente aparecia, de contínuo, um Espírito que havia tomado o nome de
Katie King, declarando-se a mesma com que o Professor William Crookes havia feito
experiências em Londres. Em face disto a afirmação tornou-se duvidosa, desde que a
original Katie King havia dito que a sua missão estava concluída. Entretanto, de lado a
identidade do Espírito, parece que havia fortes indícios de que o fenômeno fôsse genuíno e
não fraudulento, por ser geralmente endossado por Mr. Dale Owen, pelo General
Lipáginasitt e por vários outros observadores, que citaram experiências pessoais acima de
qualquer suspeita.
Havia então em Filadélfia um certo Doutor Child, que representou um papel muito ambíguo
nos fatos obscuros que se seguiram. Child tinha sustentado a autenticidade dos fenômenos
de maneira pronunciada. Chegara a ponto de declarar, num folheto que publicou em 1874,
que o próprio James, como Katie King, que êle vira na sala das sessões, tinham vindo ao
seu próprio consultório e aí haviam ditado particularidades de sua vida terrena, o que
também foi publicado. Tais declarações, naturalmente, levantam dúvidas no espírito de
qualquer estudante de psiquismo, porque uma forma espiritual só se manifesta através de
um médium, e não há indício de que Child o fôsse. De qualquer modo pode imaginar-se
que, depois de uma tal asserção, Child seria a última criatura no mundo com autoridade
para dizer que as sessões eram fraudulentas.
Um grande interêsse público tinha sido despertado por um artigo do General Lipáginasitt,
em Galaxy de dezembro de 1874 e por um outro de Dale Owen no Atlantic Monthly, de
janeiro de 1875. Subitamente a coisa estourou. Foi prenunciada por uma notícia publicada
por Dale Owen a 5 de janeiro, dizendo que lhe tinham sido apresentadas provas que o
obrigavam a retirar as expressões de confiança nos Holmes. Coisa semelhante fêz o Doutor
Child.
Escrevendo a Olcott, o qual, depois de sua investigação com Eddy, era considerado uma
autoridade, disse Dale Owen:
“Penso que ultimamente êles nos mistificaram, talvez apenas misturando o bom e o falso, o
que levanta dúvidas sôbre as manifestações do último verão. Assim, provàvelmente não as
empregarei em meu próximo livro sôbre Espiritismo. É uma perda, mas você e Mr. Crookes
têm contribuído o bastante para o Espiritismo.
A posição de Dale Owen é bastante clara, desde que era um homem de honra muito
sensível, horrorizado com a idéia de que, por um instante, pudesse ter atestado que uma
impostura era uma verdade. Parece que o seu êrro repousa na circunstância de ter agido ao
primeiro cicio de suspeita, em vez de esperar que os fatos se esclarecessem. A posição do
Doutor Child, entretanto, émais discutível, pois se as manifestações realmente fôssem
fraudulentas, como poderia êle ter tido entrevistas sozinho com os mesmos Espíritos em seu
consultório?
Foi então verificado que uma senhora, cujo nome não foi dado, tinha estado representando
Katie King nas sessões; que havia consentido que seu retrato fôsse tirado e vendido como
Katie King, que podia mostrar os vestidos e enfeites usados por Katie King nas sessões e
que estava pronta para fazer uma confissão plena. Nada parecia mais desesperador e mais
completo. Foi nessa altura que Olcott tomou a investigação e parece que estava preparado
para verificar que a opinião geral era certa.
Logo as suas investigações revelaram alguns fatos que, entretanto lançaram uma luz nova
sôbre a questão, provando que, a fim de ser minuciosa e exata, a pesquisa psíquica deve
examinar as “imposturas” com o mesmo senso crítico que aplica aos fenômenos. O nome
da pessoa que tinha confessado haver representado o papel de Katie King foi declinado: era
Elisa White. Numa declaração que ela publicou, sem dar o nome, disse haver nascido em
1851, o que lhe dava então vinte e três anos de idade. Tinha-se casado aos quinze e tinha
um filho de oito anos. Seu marido havia morrido em 1872 e ela devia sustentar-se e ao
filho. Desde março de 1874 os Holmes moravam na mesma casa que ela. Em maio a
contrataram para representar o Espírito. A cabine tinha uma parede falsa na parte posterior,
por onde ela podia insinuar-se vestida de musselina. Mr. Dale Owen tinha sido convidado
para as sessões e ficara inteiramente empolgado. Tudo isto resultou-lhe num drama de
consciência, que, todavia, não a impediu de arriscar-se a maiores cometimentos, tais como
os de aprender a desvanecer-se ou mudar de forma, por meio de panos pretos ou fazer-se
fotografar como Katie King.
Um dia, de acôrdo com o seu relato, veio à sua sessão um homem chamado Leslie,
empreiteiro de estrada de ferro. Êsse cavalheiro mostrou suspeitas e na sessão seguinte
revelou-lhe a sua fraude, e lhe ofereceu auxílio em dinheiro se ela o confessasse. Aceitou e
mostrou a Leslie os seus métodos de mistificação. A 5 de dezembro foi realizada uma
sessão fraudulenta, na qual ela representou seu papel como nas sessões reais. Isto
impressionou de tal modo a Dale Owen e ao Doutor Child, que se achavam presentes, que
publicaram aquelas notícias nas quais reconsideravam a sua crença — e essa
reconsideração foi um golpe naqueles que acreditavam nas primeiras declarações de Dale
Owen e que agora entendiam que êle deveria ter feito uma investigação mais completa,
antes de sustentar tais coisas. A coisa era tanto mais penosa quanto Dale Owen contava
setenta e três anos de idade e tinha sido um dos mais eloqüentes e corajosos discípulos da
nova dispensação.
A primeira tarefa de Olcott foi examinar cuidadosamente as declarações já feitas e destruir
o anonimato de sua autora. Logo descobriu, como foi dito, que era Elisa White e que,
conquanto em Filadélfia, recusou-se a recebê-lo. Por outro lado os Holmes agiram muito
abertamente e se ofereceram para criar tôdas as facilidades de examinar os seus fenômenos
em quaisquer condições que lhes aprouvesse. Uma investigação sôbre o passado de Elisa
White mostrou que seu depoimento, no que diz respeito à sua pessoa, era uma teia de
mentiras. Ela era muito mais velha do que dissera — não tinha menos de trinta e cinco anos
— e não é certo de que um dia se tivesse casado com White. Durante anos tinha sido
vocalista numa companhia ambulante. White ainda era vivo, de modo que não havia a
questão da viuvez. Olcott publicou um atestado do Chefe de Polícia a tal respeito.
Entre outros documentos fornecidos pelo Coronel Olcott estava um de Mr. Allen, Juiz de
Paz de New Jersey, dado sob juramento. Elisa White, conforme essa testemunha, era “tao
indigna de crédito que aqueles a quem falava nunca sabiam se deviam acreditar, e sua
reputação moral era tão ruim quanto possivel.” Contudo o Juiz Allen pôde dar um
depoimento mais diretamente referido ao assunto em discussão. Declarou que havia
visitado os Holmes em Filadélfia e tinha visto o Doutor Child preparar a cabine, que era
sôlidamente construída e que não havia possibilidade de qualquer entrada pelos fundos,
como dissera Mrs. White. Além disso, que estivera na sessão em que aparecera Katie King
e que os trabalhos haviam sido interrompidos pelo canto de Mrs. White num outro quarto,
de modo que era impossível que Mrs. White pudesse, como dizia, ter feito o papel de um
Espírito. Sendo êste um depoimento jurado de um Juiz de Paz, parece uma peça de pêso
como prova.
Parece que a cabine foi feita em junho, pois o General Lipáginasitt, excelente testemunha,
descreveu um dispositivo bem diferente quando assistiu às experiências. Diz êle que duas
portas se dobravam em harmônica, de modo que se tocavam; a cabine era apenas o recanto
formado por elas e um quadro por cima. “Nas primeiras duas ou três sessões fiz um exame
minucioso, e uma vez com um mágico profissional, que ficou perfeitamente satisfeito por
não haver possibilidade de truques”. Isto foi em maio, de modo que as duas descrições não
são contraditórias — salvo quanto à declaração de Elisa White de que podia deslizar para
dentro da cabine.
Além dessas razões para precauções ao formar opinião, os Holmes foram capazes de exibir
cartas que lhes foram escritas por Mrs. White, em agôsto de 1874, onde se vê a
incompatibilidade para a existência entre êles de qualquer segrêdo criminoso. Por outro
lado, uma dessas cartas disse que haviam sido feitos esforços para que ela forjasse uma
confissão de que tinha sido Katie King. Mais tarde no mesmo ano, parece que Mrs. White
assumiu um tom mais ameaçador, conforme um depoimento escrito e formal dos Holmes,
quando ela declarou que, a menos que lhe pagassem uma pensão determinada, havia um
bom número de cavalheiros ricos, inclusive membros da Associação Cristã de Moços, que
estavam prontos para lhe pagar uma larga soma e que ela não mais incomodaria os Holmes.
Mil dólares era a soma exata que Elisa White iria receber se concordasse em admitir que
tinha representado Katie King. Certamente há que convir que tal verificação, em conjunto
com as declarações da mulher, exige que se peçam provas de tudo quanto ela diz.
Resta um fato culminante. Na hora exata em que a falsa sessão foi realizada e na qual Mrs.
White estava mostrando como Katie King era representada, os Holmes realizavam uma
sessão real, assistida por vinte pessoas e na qual o Espírito apareceu da maneira de sempre.
O Coronel Olcott recolheu várias declarações de pessoas então presentes e não há dúvida a
respeito do fato. A do Doutor Adolphus Fellger é curta e pode ser dada quase que por
inteiro.
Diz êle sob juramento que “viu o Espírito conhecido como Katie King, ao todo, cêrca de
oito vêzes; é perfeitamente familiar com os seus modos e não se sente enganado em relação
á identidade de Katie King, que apareceu na tarde de 5 de dezembro, pois enquanto o dito
Espírito aparecia exatamente da mesma altura e com os mesmos gestos, em duas sessões
seguidas, sua voz era sempre a mesma e a expressão de seus olhos e os tópicos da conversa
lhe davam maior certeza de tratar-se da mesma pessoa”. Esse Fellger era muito conhecido e
respeitado em Filadélfia como médico, cuja palavra simples, no dizer de Olcott, vale mais
que “vinte juramentos escritos da vossa Elisa White”.
Também ficou demonstrado que Katie King aparecia constantemente quando Mrs. Holmes
estava em Blissfield e Mrs. White em Filadélfia e que Mrs. Holmes havia escrito a Mrs.
White descrevendo suas aparições reais, o que parece uma prova final de que a última não
era uma parceira.
Por êsse tempo deve admitir-se que a confissão anônima de Mrs. White é um tiro numa
coisa furada e com tantos buracos que a coisa se afunda. Há, porém, um detalhe que, na
opinião do autor, ainda flutua. É o caso da fotografia. Foi confessado pelos Holmes, numa
entrevista com o General Lipáginasitt, — cuja palavra é um pedaço sólido naquele charco
— que Elisa White foi contratada pelo Doutor Child para posar num retrato como Katie
King. Parece que Child representou um papel dúplice em todo êsse negócio, fazendo, em
diferentes ocasiões, afirmações muito contraditórias e tendo, ao que parece, um interêsse
pecuniário no caso. Por isso a gente se inclina a considerar seriamente essa acusação, e
pensar se os Holmes teriam participado da fraude. Garantindo que a imagem de Katie King
era real, talvez tivessem duvidado se ela seria ou não fotografável, de vez que sua produção
exigia que a luz fôsse fraca. Por outro lado, havia uma clara fonte de lucro, desde que os
retratos eram vendidos aos numerosos assistentes por meio dólar. Em seu livro, o Coronel
Olcott reproduz a fotografia de Mrs. White ao lado de outra supostamente de Katie King, e
chama a atenção para a falta de semelhança. É claro, entretanto, que tivessem solicitado ao
fotógrafo que a retocasse, para disfarçar a semelhança, pois do contrário a fraude seria
notada. O autor tem a impressão, que não é certeza, de que os dois rostos são os mesmos,
apenas com algumas alterações obtidas pela manipulação. Assim, admite que a fotografia
seja fraudulenta, mas isto de modo algum corrobora o resto da narrativa de Mrs. White,
muito embora abale a nossa fé a respeito do caráter de Mr. e Mrs. Holmes, do mesmo modo
que do Doutor Child. Mas o caráter dos médiuns de efeitos físicos tem apenas uma
influência indireta na questão da realidade de sua fôrça psíquica, que deveria ser apreciada
através de sua própria natureza, pouco importando se o indivíduo é santo ou pecador.
A sábia conclusão do Coronel Olcott foi que, à vista do conflito de provas, deveria pôr
tudo de lado e controlar os médiuns à sua maneira, sem se importar com o que havia
passado.
E o fêz de maneira convincente, de modo que, quem quer que leia a sua investigação
— “People From the Other World” (3),
página 460 e seguintes, — não poderá negar que êle tomou tôdas as precauções possíveis
contra as fraudes. A cabine era revestida de tela pelos lados, de modo que ninguém poderia
entrar, como Mrs. White disse haver feito. Mrs. Holmes era posta num saco, atado ao
pescoço e, como o marido se achava ausente, ficava reduzida aos seus próprios recursos.
Em tais circunstâncias numerosas cabeças se formaram, algumas das quais semi-
materializadas, apresentando uma aparência horrível. Isto deve ter sido feito como um teste
ou, possivelmente, a longa contenção deve ter prejudicado os poderes do médium. Os
rostos costumavam aparecer a uma altura que o médium não podia alcançar. Dale Owen
achava-se presente a essa demonstração e já deveria ter lamentado a sua declaração
prematura.
Sessões posteriores e com os mesmos resultados foram realizadas por Olcott em seus
próprios aposentos, de modo a eliminar a possibilidade de qualquer mecanismo sob o
contrôle do médium. Numa ocasião, quando a cabeça de John King, o Espírito dirigente,
apareceu no ar, Olcott, lembrando-se da declaração de Elisa White, de que êsses rostos
eram apenas máscaras de dez centavos, pediu e obteve permissão para passar a sua bengala
em redor dêle, e assim ficou satisfeito de verificar que não era sustentado por ninguém.
Essa experiência parece tão conclusiva que o leitor que pretender mais provas deve ser
remetido ao livro onde encontrará muito mais. Era claro que, qualquer que fôsse o papel
representado por Elisa White na fotografia, não havia sombra de dúvida de que Mrs.
Holmes era um médium genuíno e poderoso para fenômenos de materializações. Deveria
acrescentar-se que a cabeça de Katíe King foi vista repetidas vêzes pelos investigadores,
conquanto a forma inteira, ao que parece, só se materializou uma vez. O General
Lipáginasitt estava presente a essa reunião e associou-se püblicamente, pela Banner of
Light de 6 de fevereiro de 1875, às conclusões de Olcott.
O autor demorou-se um pouco sôbre êsse caso porque o mesmo representa a maneira
típica pela qual o povo é desviado do Espiritismo. Os jornais estão cheios de
“desmascaramentos”. A coisa é investigada e tanto se mostra o que é falso, quanto o que é
parcialmente verdadeiro. Isto não é publicado e o público fica com a primeira impressão
incorreta. Mesmo agora, quando se menciona Katie King, é freqüente essa crítica: “Foi
provado que era uma fraude, em Filadélfia”, e, por uma natural confusão de idéias, isto foi
até usado como argumento contra as experiências clássicas de Crookes. A questão —
especialmente a momentânea fraqueza de Dale Owen — atrasou de muitos anos o
Espiritismo na América.
Foi feita uma referência a Jehn King, o Espírito dirigente das sessões dos Holmes. Essa
estranha entidade parece ter sido o principal controlador de todos os fenômenos físicos nos
primeiros dias do movimento e ainda é visto e ouvido ocasionalmente. Seu nome está
ligado com o salão de música de Koons, com os irmãos Davenport, com Williams em
Londres, com Mrs. Holmes e muitos outros. Pessoalmente, quando materializado, tem
aparência de um homem alto, moreno, uma cabeça nobre e grande barba negra. Sua voz é
alta e profunda, enquanto as suas batidas têm um caráter peculiar. É senhor de tôdas as
línguas, tendo sido experimentado nas línguas mais originais, como o georgiano, e nunca
foi pilhado em êrro.
Essa criatura formidável controla bandos de Espíritos inferiores, índios Peles-Vermelhas e
outros, que assistem a tais fenômenos. Afirma que Katie King é sua filha e que em vida,
como Henry Morgan, fôra pirata, perdoado e armado cavaleiro por Carlos 2º e que
terminara como Governador da Jamaica. Se assim foi, teria sido um rufião crudelíssimo,
que muito terá que expiar. Contudo, o autor deve declarar que possui um retrato de Henry
Morgan, feito na época — e que se encontra na obra de Howard Pyles “Buccaneers”, à
página 178, e que, se controlada, nenhuma semelhança apresenta com John King. Tôdas
estas questões de identificação material são muito obscuras. (4)
4. Como o autor deu uma deixa contra a identidade de John King como Morgan, é justo que
dê outra que a comprove — e esta lhe vem quase que em primeira mão e de fonte
fidedigna. A filha de um recente Governador da Jamaica achava-se ültimamente numa
sessão em Londres e se defrontou com John King. O Espírito King lhe disse:
— “Você trouxe da Jamaica algo que me pertencia.”
— “O que foi?” perguntou ela.
— “Meu testamento”, respondeu êle. Era um fato, absolutamente desconhecido dos
presentes, que seu pai havia trazido tal documento.
Antes de encerrar o relato das experiências de Olcott, nessa etapa de sua evolução, deve ser
feita uma referência ao caso da chamada transfiguração de Compton, que mostra em que
águas profundas nos encontramos quando tentamos pesquisas psíquicas. Essas profundezas
ainda não foram avaliadas, nem delineadas. Nada pode ser mais claro do que os fatos, nem
mais satisfatório do que as provas. A médium Mrs. Compton se achava fechada em sua
cabine, com um fio passado pelos furos de suas orelhas e amarrado ao encôsto de sua
cadeira. Então uma esguia figura branca emergiu da cabine. Olcott tinha providenciado uma
balança de plataforma, na qual o Espírito ficou de pé. Foi pesado duas vêzes, registrando
35,7 quilos e 27,3 quilos respectivamente. Então, conforme as disposições prévias, Olcott
foi à cabine, deixando o espectro do lado de fora. A médium tinha desaparecido. A cadeira
lá estava, mas nem sinal da senhora. Então Olcott voltou e pesou novamente a aparição, que
então apresentava 23,5 quilos. Depois disso o Espírito voltou à cabine, da qual surgiam
outras figuras. Finalmente, diz Olcott:
“Eu ali entrei com uma lâmpada e encontrei a médium exatamente como havia deixado no
comêço da sessão, com os fios intactos e cada nó perfeito! Estava sentada, com a cabeça
apoiada na parede, pálida e fria como mármore, os olhos revirados, a testa coberta de uma
umidade de morte, sem respiração pulmonar nem batidas do pulso. Quando todos acabaram
de examinar os fios e os nós frágeis eu os cortei com uma tesoura e, levantando a cadeira
pelo encôsto e pelo assento, transportei a senhora em catalepsia para um lugar arejado fora
da câmara.
Ela ficou inanimada durante dezoito minutos. Gradativamente a vida foi voltando, até que a
respiração, o pulso e a temperatura se tornaram normais... Então a levei para a balança...
Pesava 55 quilos!”
Que fazer de tais resultados? Havia onze testemunhas além de Olcott. Os fatos parecem
acima de dúvidas. Mas, que deduzir dêles? O autor viu uma fotografia, tomada em presença
de um médium amador, na qual todos os detalhes da sala tinham sido apanhados, mas a
médium havia desaparecido. O desaparecimento da médium tem alguma analogia com êsse
caso? Se a figura ectoplásmica só pesava 35 quilos e a médium 55, torna-se claro que
apenas 20 quilos lhe eram deixados, quando o fantasma estava fora. Se 20 quilos não
bastavam para continuar o processo de vida, não poderiam os seus guias ter usado a sua
química oculta sutil a fim de a desmaterializar e assim salvá-la do perigo ate que a volta do
fantasma permitisse a reabsorção? É uma estranha suposição, mas parece que atende aos
fatos — o que pode ser feito por mero palpite ou por uma incredulidade não raciocinada.
13
Henry Slade e o Doutor Monck
A primeira sessão de Slade na Inglaterra foi realizada a 15 de julho de 1876, para Mr.
Charles Blackburn, eminente espiritista, e Mr. W. II. Harrison, redator de The Spiritualist.
Em plena luz do dia o médium e os dois assistentes ocuparam os três lados de uma mesa
comum de cêrca de três pés de lado. Slade pôs um pedacinho de lápis, mais ou menos do
tamanho de um grão de trigo, sôbre uma ardósia e segurou esta por um canto, com uma
mão, encostando-a no tampo por baixo da mesa. Ou. via-se a escrita na lousa e, examinada,
verificou-se que uma curta mensagem fôra escrita. Enquanto isso acontecia, as quatro mãos
dos assistentes e a mão livre de Slade eram agarradas no centro da mesa. A cadeira de Mr.
Blackburn foi arrastada umas quatro ou cinco polegadas, estando êle sentado, e ninguém
senão êle a tocava. A cadeira vazia no quarto lado da mesa uma vez pulou no ar, batendo o
assento na borda inferior da mesa. Duas vêzes uma mão com a aparência de vida passou em
frente a Mr. Blackburn, enquanto ambas as mãos de Slade eram observadas. O médium
segurou um acordeon debaixo da mesa e, enquanto se via claramente a outra mão sôbre a
mesa, foi tocada a “Home, Sweet Home”. Então Mr. Blaekburn segurou o acordeom da
mesma maneira, quando o instrumento foi empurrado violentamente e tocada uma nota.
Enquanto isto ocorria, as mãos de Slade estavam sôbre a mesa. Finalmente os três presentes
levantaram as mãos cêrca de trinta centímetros acima da mesa e esta ergueu-se até tocar as
suas mãos. Em outra sessão no mesmo dia uma cadeira ergueu-se cêrca de um metro e
vinte, quando ninguém a tocava e, quando Slade tinha uma mão no espaldar da cadeira de
Mr. Blackburn, a cadeira elevou-se cêrca de meio metro acima do solo.
Assim descreve Mr. Stainton Moses uma das primeiras sessões com Slade:
“Um sol de meio-dia, bastante quente para torrar a gente, derramava-se na sala; a mesa
estava descoberta; o médium estava sentado e visto inteiramente; nenhum ser humano se
achava presente, além de mim e êle. Que melhores condições poderia haver? As batidas
foram instantâneas e fortes, como se dadas por um homem forte. A escrita na lousa ocorreu
conforme a sugestão feita, sôbre uma lousa sustentada por mim e pelo Doutor Slade; sôbre
outra sustentada por mim e que eu mesmo trouxera; e sobre uma terceira sustentada apenas
por mim, no canto da mesa mais distanciado do médium. A última escrita demorou algum
tempo e o ruído característico do lápis ao formar as palavras era ouvido distintamente. Uma
cadeira em minha frente foi levantada cêrca de meio metro do solo; a lousa foi arrancada de
minha mão e levada para o outro lado da mesa, onde nem eu nem o Doutor Slade
poderíamos alcançá-la; o acordeon, tocava em redor de mim, enquanto o doutor o segurava
pela parte inferior e, finalmente, tendo êle tocado no encôsto de minha cadeira, fomos
levitados com cadeira e tudo, algumas polegadas”.
O próprio Mr. Stainton Moses era um médium poderoso e sem dúvida êsse fato
auxíliou as condições. Acrescenta êle:
“Tenho visto todos êsses fenômenos e muitos outros várias vêzes antes desta, mas
nunca tão rapidamente, tão consecutivamente em plena luz do dia. Tôda a sessão não durou
mais que meia hora e, do comêço ao fim, não houve interrupção dos fenômenos.” (2)
Tudo foi bem durante seis semanas, e Londres estava cheia de curiosidade pelos dons
de Slade, quando se deu, infelizmente, uma interrupção.
No comêço de setembro de 1876 o Professor Ray Lankester, com o Doutor Donkin,
tiveram duas sessões com Slade e, na segunda, tomando uma lousa, encontraram-na escrita,
quando se pensava que nada tivesse sido produzido. Ele era absolutamente inexperiente em
pesquisas psíquicas, do contrário saberia que é impossível dizer o momento exato em que
se dá a escrita nessas sessões. Ocasionalmente uma fôlha inteira parecia precipitada num
instante, enquanto de outras vêzes o autor ouvia claramente o ruido do lápis, linha por
linha. Para Ray Lankester, entretanto, pareceu um caso típico de fraude e êle escreveu uma
carta ao The Times (3),
3. 16 de setembro de 1876.
Como uma amostra dessas impetuosas declarações dos oponentes do Espiritismo, deve
mencionar-se que Mr. Joseph Mc Cabe, que é ultrapassado apenas pelo americano Houdini
pelas grosseiras imprecisões, fala de Zôllner (6)
como “um professor decrépito e míope”, quando na verdade êle faleceu em 1882 aos
quarenta e oito anos de idade e suas experiências com Slade haviam sido feitas entre 1877 e
1878, quando êsse cientista se achava no vigor de sua vida intelectual.
Os oponentes levaram tão adiante a sua inimizade que chegaram a declarar que Zõllner
estava desequilibrado e que a sua morte, poucos anos depois, foi acompanhada de fraqueza
cerebral. Um inquérito feito pelo Doutor Funk os remeteu ao silêncio, embora e
infelizmente seja fácil encontrar libelos como êsse em circulação, mas seja difícil encontrar
as contraditas.
Eis o documento: (7)
Em sua desesperada tentativa para explicar êsse incidente Mr. McCabe diz que
provavelmente o bastidor já estava quebrado e repregado com um parafuso. Na verdade não
há limites para a credulidade dos incrédulos.
Depois de uma série de êxitos nas sessões de São Petersburgo, Slade voltou a Londres por
alguns dias, em 1878, e então se dirigiu à Austrália. Um interessante relato de seu trabalho
ali é o livro de James Curtis “Rustlings in the Golden City” (9).
declara que viu Slade efetuar um movimento de objetos com o pé, e pede aos leitores que
acreditem que o médium lhe fêz uma completa confissão de como eram produzidas as suas
manifestações. Se realmente Slade o fêz, deve levar-se à conta de manifestação de doentia
leviandade, procurando enganar um certo tipo de investigador, dizendo-lhe exatamente
aquilo que êle queria que fôsse dito. A tais exemplos podemos aplicar o julgamento do
Professor Zõllner, no incidente Lankester: “Os fenômenos físicos por nós observados em
tão admirável variedade em sua presença negam em tôda a linha a suposição de que êle,
num caso único, tenha recorrido à voluntária impostura”. E acrescenta — o que certamente
ocorreu naquela circunstância especial — que Slade foi vítima dos limitados
conhecimentos de seu acusador e de seu juiz.
Ao mesmo tempo, há muitos indícios de que no fim da vida o caráter de Slade degenerou.
Sessões promíscuas, com finalidade comercial, esgotamentos conseqüentes e o estimulo
alcoólico, que produz um estimulo passageiro, tudo aquilo agindo sôbre uma organização
muito sensível, teve um efeito deletério. Êsse enfraquecimento do caráter, com a
correspondente perda da saúde, deve ter conduzido a uma diminuição de suas fôrças
psíquicas e aumentado a tentação para usar os truques. Concordando com a dificuldade de
distinguir o que é fraude daquilo que é de pura origem psíquica, uma impressão
desagradável fica em nossa mente pela prova dada pela Comissão Seybert e pelo fato de
espíritas locais haverem condenado o seu procedimento. A fragilidade humana, entretanto,
é uma coisa e a fôrça psíquica, outra. Os que buscam provas desta última encontrá-las-ão
abundantes naqueles anos em que o homem e os seus dons estavam no zênite.
Slade morreu em 1905 num sanatório em Michigan, para onde havia sido mandado pelos
Espíritas Americanos, e a notícia foi acompanhada pela costumeira espécie de comentários
na imprensa londrina. O Star, que tem uma triste tradição em matéria de psiquismo,
publicou um artigo sensacional, sob o título de “Spook Swindles” (11)
diz Light:
“Aliás tudo isso é um amontoado de ignorância, de malevolência e de preconceitos. Não
nos interessa discutir ou contraditar. Seria inútil fazê-lo por amor aos malévolos, aos
ignorantes e aos preconcebidos; e é desnecessário aos que o sabem. Basta dizer que o Star
só um exemplo mais acrescenta sôbre a dificuldade de captar todos os fatos perante o
público. Mas os jornais prevenidos têm, êles próprios, de censurar-se por sua ignorância e
por sua impressão.
É, novamente, a história dos Irmãos Davenport e de Mashelyne”.
Se é difícil avaliar a carreira de Slade, sendo-se forçado a admitir que houve uma
esmagadora preponderância de resultados psíquicos, também houve um resíduo que deixou
uma desagradável impressão que o médium suplementava a verdade com a fraude, o
mesmo deve ser admitido em relação ao médium Monck, que representou um considerável
papel na era dos setenta. De todos os médiuns nenhum é mais difícil de julgar, porque, de
um lado muitos de seus resultados estão acima de qualquer discussão, enquanto alguns
outros parecem absolutamente desonestos. Em seu caso, como no de Slade, houve causas
físicas que puderam responder por uma degeneração das fôrças morais e psíquicas.
Monck era um clérigo não conformista, discípulo favorito do famoso Spurgeon. De acôrdo
com o seu próprio relato, desde a infância tinha sido sujeito a influências psíquicas, que
aumentaram com a idade. Em 1873 anunciou sua adesão ao Espiritismo e fêz uma palestra
em Cavendish Rooms. Pouco depois começou a fazer demonstrações, aparentemente
gratuitas e em plena luz. Em 1875 fêz um giro pela Inglaterra e pela Escócia, onde suas
demonstrações excitaram muita atenção e debates e, em 1876 visitou a Irlanda, onde seus
dons foram aplicados em curas. Assim, ficou geralmente conhecido como o “Doutor
Monck”, fato que levantou gerais protestos da classe médica.
O Doutor Alfred Russel Wallace, muito competente e honesto observador, descreveu
uma sessão de materialização com Monck, a qual parece uma pedra de toque tanto quanto
possível. Nenhuma suspeita ou convicção posterior poderá jamais eliminar tão
incontestável exemplo de fôrça psíquica. Deve notar-se quanto os efeitos concordaram com
as posteriores demonstrações da expansão ectoplásmica no caso de Eva e de outros
médiuns modernos. Os companheiros do Doutor Wallace nessa ocasião eram Mr. Stainton
Moses e Mr. Hensleigh Wedgewood. Escreve o Doutor Wallace:
“Era uma brilhante tarde de verão e tudo aconteceu em plena luz do dia. Depois de uma
curta conversa, Monck, que estava vestido com o costumeiro hábito clerical negro, pareceu
cair em transe; então ficou de pé a alguns passos à nossa frente e, depois de uns instantes,
apontou para o lado e disse: “Olhem!”
“Vimos aí uma tênue mancha em seu casaco, ao lado esquerdo. Essa tornou-se mais
brilhante; então pareceu ondular e estender-se para cima e para baixo, até que,
gradualmente, tomou a forma de uma coluna de névoa, que ia de seu ombro até os pés e
junto ao seu corpo.
O Doutor Wallace continua descrevendo como a figura nevoenta por fim tomou a forma de
uma mulher envôlta em panos grossos que, depois de uns instantes, pareceu absorvida no
corpo do médium.
E acrescenta: “Todo o processo de formação de uma figura amortalhada era visto em plena
luz do dia.”
Mr. Wedgewood assegurou-lhe que tinha tido outras manifestações dessa espécie ainda
mais notáveis com Monck, quando o médium estava em transe profundo e todo à vista.
Depois de tal demonstração é quase impossível duvidar ao mesmo tempo dos dons do
médium, O arquidiácono Colley, que tinha visto semelhantes exibições, ofereceu um
prêmio de mil libras a Mr. J. N. Maskelyne, o famoso ilusionista, para repetir a façanha. O
desafio foi aceito por Maskelyne, mas as provas foram que a imitação nenhuma relação
tinha com o original. Êle tentou conquistar uma decisão do tribunal, mas a sentença lhe foi
desfavorável.
É interessante comparar o relato feito por Russel Wallace e a experiência posterior de um
americano muito conhecido, o Juiz Dailey. Escreveu êle: (3)
“Lançando o olhar para o Lado do Doutor Monck, notamos algo semelhante a uma massa
opalescente de vapor compacto, emergindo justamente debaixo do coração, ao lado
esquerdo. Aumentou de volume, subindo e crescendo para baixo, enquanto a porção
superior tomava a forma da cabeça de uma criança, e a face se distinguia como a de um
filho que eu havia perdido há cêrca de vinte anos. Ficou assim apenas por uns instantes e
subitamente desapareceu, parecendo ter sido instantaneamente absorvida pelo lado do
doutor. Êsse notável fenômeno repetiu-se quatro ou cinco vêzes, em cada uma das quais a
materialização se tornava mais distinta do que nas anteriores. Isto foi testemunhado por
todos na sala, com o gás bastante claro para que todos os objetos fôssem bem visíveis.
Era um fenômeno visto raramente e permitiu que todos quantos o viram não só atestassem
o notável dom do Doutor Monck, como médium de materializações, mas a maravilhosa
maneira por que um Espírito muda de posição quando nossas mãos jamais se moveram
enquanto eu não desatei as lousas para verificar o resultado.”
Certamente, depois de um tal testemunho, seria vão negar que o Doutor Monck possuísse
uma grande fôrça psíquica. Além das materializações, o Doutor era um notável médium
para escrita em lousas. Numa carta ao Spectator (14)
diz o Doutor Russel Wallace que com Monck numa casa particular em Richmond, limpou
duas lousas e, depois de colocar entre elas um fragmento de lápis, amarrou-as bem com um
cordão forte, cruzando-os de maneira a lhes evitar qualquer movimento.
“Então as coloquei sôbre a mesa, sem as perder de vista nem por um instante. O Doutor
Monck colocou os dedos de ambas as mãos sôbre elas, enquanto eu e uma senhora sentada
do lado oposto púnhamos as suas mãos sobre os cantos das lousas. Nessa posição nossas
mãos não se moveram enquanto eu não desatei as lousas para examinar os resultados.”
Monck pediu a Wallace que dissesse uma palavra para ser escrita na lousa. Êle escolheu a
palavra Deus e em resposta a um pedido decidiu que a mesma deveria ser escrita
longitudinalmente na lousa. Ouviu-se o ruído da escrita e quando as mãos do médium
foram retiradas, Wallace abriu as lousas e achou na inferior a palavra que tinha pedido e
escrita da maneira indicada.
Diz o Doutor Wallace:
“Ás precauções essenciais dessa experiência são que eu mesmo limpei e amarrei as lousas;
mantive as mãos sôbre elas todo o tempo; elas nem por um instante saíram de minhas
vistas; e que eu escolhi a palavra a ser escrita e a maneira de escrevê-la, depois que elas
foram amarradas e fixadas por mim.
Mr. Edward T. Benett, secretário-assistente da Sociedade de Pesquisas Psíquicas acrescenta
a êsse relato:
“Eu me achava presente nessa ocasião e certifico que o relato de Mr. Walkwe daquilo que
ocorreu está correto.”
Outro bom teste é descrito por M. W. PÁGINA Adshead, de Belper, investigador muito
conhecido, que diz de uma sessão em Derby, a 18 de setembro de 1876:
“Havia oito pessoas presentes, sendo três senhoras e cinco cavalheiros. Uma senhora a
quem o Doutor Monck nunca tinha visto tinha uma lousa que lhe fôra entregue por um dos
presentes; examinou-a e achou-a limpa. O lápis que se achava sôbre a mesa poucos minutos
antes que nos sentássemos não foi encontrado. Um investigador sugeriu que seria um bom
teste se fôsse usado um lápis comum.
Assim, um lápis de grafite foi pôsto sôbre a lousa, e a senhora segurou ambos por baixo da
mesa. Instantaneamente ouviu-se o ruído da escrita e em poucos segundos a comunicação
tinha sido escrita, enchendo um lado da ardósia. A escrita fôra feita com o lápis, era muito
miúda e legível e tratava de assunto estritamente particular.
Eis três testes simultâneos: 1 — a escrita foi obtida sem que o médium tocasse na lousa, do
começo ao fim, e nenhuma outra pessoa, a não ser a senhora; 2º — a escrita foi feita com
um lápis de grafite, por uma sugestão espontânea de um outro estranho; 3º — foi dada
como testemunho importante uma comunicação sôbre assunto estritamente particular. O
Doutor Monck não fêz mais do que tocar na ardósia do comêço ao fim.”
Mr. Adshead também fala dos fenômenos físicos que ocorreram com êsse médium, quando
suas mãos estavam bem presas no aparelho chamado “stocks”, que não permitia o menor
movimento em qualquer direção.
Em 1876 Slade estava sendo processado em Londres, como ja ficou dito, e os
desmascaramentos estavam no ar. Considerando o caso seguinte antes como de
perplexidade e certamente suspeito, deve lembrar-se que, quando um homem que se exibe
publicamente, que é um ilusionista ou um mesmerista, pode proclamar que desmascarou
um médium, ganha enorme publicidade e atrai aquela numerosa parte do público que deseja
ver o desmascaramento, Mas é preciso ter isto em mente e guardar uma certa média onde
existe apenas um conflito de evidência.
Neste caso o ilusionista e o mesmerista era um Lodge, e a ocasião uma sessão realizada a 3
de novembro de 1876, em Huddersfield. Subitamente Mr. Lodge pediu que o médium fôsse
examinado. Temendo uma agressão ou uma denúncia de fraude, Monck correu para cima e
trancou-se no quarto. Então pulou pela janela e procurou a delegacia de polícia, onde
apresentou queixa. A porta de seu quarto foi forçada, as coisas rebuscadas, sendo
encontrado um par de luvas de lã. Monck declarou que essas luvas tinham sido feitas para
uma conferência na qual havia exposto a diferença entre prestidigitação e mediunidade.
Ainda, conforme observa um jornal espírita da época:
“Os fenômenOS de sua mediunidade não repousam apenas na sua probidade. Se êle fôsse o
maior trapaceiro e o mais hábil prestidigitador, simultaneamente, isto não iria explicar as
suas manifestações, que têm sido referidas”.
Monck foi condenado a três meses de prisão e diz-se que fêz uma confissão a Mr. Lodge
Depois de solto, Monck realizou um certo número de sessões com Stainton Moses, nas
quais ocorreram notáveis fenômenos.
“Aquêles cujos nomes referimos como testemunhas da autenticidade dos fenômenos
mediúnicos do Doutor Monck, são velhos conhecidos dos Espíritas como argutos
experimentadores, escrupulosamente cautelosoS e Mr. Hensleigh Wedgwood é um nome de
muita responsabilidade, pois é conhecido como um homem de ciência e era cunhado de
Charles Darwin.”
Há um elemento de dúvida quanto ao caso de Huddersfield, sôbre se o acusador era
realmente criatura imparcial; mas Sir William Barrett dá o testemunho de que por vêzes
Monck descia com sangue frio à trapaça deliberada. Assim escreve Sir William:
Assim comenta Light:
“Apanhei o “Doutor” numa fraude grosseira: um pedaço de musselina branca numa
instalação de arame, ligada a um parafuso prêto, sendo empregada pelo médium para
simular a materialização parcial”. (15)
15. SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH Proceedings, Volume 4º, página 58.
(rodapé).
Tal desmascaramento, vindo de fonte tão segura, produz um sentimento de mal-estar, que
nos induz a abandonar toda evidência a respeito dêle na cesta de papéis. Contudo, a gente
deve ter paciência e ser razoável em tais assuntos. As primeiras sessões de Monck, como
ficou claramente demonstrado, foram em plena luz e qualquer mecanismo estava fora de
cogitação. Não se deve argumentar que, pelo fato de um homem forjar uma vez, jamais
tenha assinado um cheque honesto. Mas devemos admitir claramente que Monck foi capaz
de fraudes, que êle seguia o caminho mais fácil, quando as coisas se tornavam difíceis, e
que cada uma de suas manifestações deveria ser controlada cuidadosamente.
14
Investigações Coletivas sobre o Espiritismo
1. A expressão do A. é “with one accord” e se refere aos Atos dos Apóstolos, Capítulo 1º,
versículo 14. Traduzimo-la por “unânimemente” por ser esta a expressão usada na versão
portuguêsa de Figueiredo, e que, posto não seja literal, bem traduz o pensamento original.
Com efeito o texto grego é cutol návtes. — N. do T.
Se uma pequena peça de metal pode perturbar tôda uma instalação magnética, também uma
poderosa corrente psíquica adversa pode estragar um círculo psíquico. É por esta razão, e
não por qualquer credulidade superior, que os praticantes espíritas freqüentemente
alcançam resultados jamais obtidos por simples pesquisadores. Também esta deve ser a
razão por que uma comissão na qual os espíritas se achavam bem representados foi a única
a obter certos resultados positivos. Esta foi a comissão escolhida pela Sociedade Dialética
de Londres, a qual iniciou as suas investigações no comêço de 1869 e apresentou o seu
relatório em 1871. Se o bom senso e as leis comuns da evidência tivessem sido respeitados
na recepção dêsse relatório, o progresso da verdade psíquica teria sido acelerado de
cinqüenta anos.
Trinta e quatro cavalheiros de posição tinham sido nomeados para essa comissão, cujos
têrmos de referência eram investigar os fenômenos tidos como manifestações espíritas”. A
maioria dos membros certamente tinha disposição para desmascarar qualquer impostura,
mas eles defrontaram uma porção de provas que não podiam ser desprezadas e terminaram
convindo que “o assunto era digno de maior atenção e cuidadosa investigação do que tinha
recebido até então”. Essa conclusão de tal maneira pasmou a sociedade que êles
representavam, que não foi possível dela obter a publicação das observações. Então a
comissão resolveu publicá-la à sua própria custa, oferecendo assim um permanente registro
da mais importante investigação.
Os membros da comissão tinham sido escolhidos das mais variadas profissões, inclusive
um doutor em teologia, dois médicos, dois cirurgiões, dois engenheiros civis, dois membros
de sociedades científicas, dois advogados e outros de alta reputação. Charles Bradlaugh, o
Racionalista, dela fazia parte. O Professor Huxley e G. H. Lewes, marido de George Eliot
(2)
2. George Eliot é o pseudônimo da notável escritora inglesa Mary Ann Evans — nasceu em
1819 e morreu em 1880. — N. Do T
tinham sido convidados a cooperar, mas ambos recusaram. Huxley, em resposta ao convite,
disse que “supondo que os fenômenos sejam verdadeiros, êles não me interessam”,
expressão que mostra que êsse grande homem iluminado tinha suas limitações.
As seis subcomissões se reuniram quarenta vêzes para experiências, por vêzes sem o
auxílio de um médium profissional e com absoluto senso de responsabilidade concordaram
que os seguintes pontos aparentemente tinham sido estabelecidos:
1. “Que sons de um caráter muito variado, aparentemente vindos de móveis, do soalho
e das paredes da sala — as vibrações acompanhadas de sons são muitas vêzes distintamente
perceptíveis ao tato - ocorrem sem serem produzidos por ação muscular ou dispositivo
mecânico.”
2. “Que movimentos de corpos pesados se dão sem dispositivo mecânico de qualquer
espécie ou adequada aplicação de fôrça muscular pelas pessoas presentes, e freqüentemente
sem contacto ou conexão com qualquer pessoa.”
3. “Que êsses sons e êsses movimentos muitas vêzes ocorrem em ocasiões e da
maneira pedida pelas pessoas presentes e, por meio de um simples código de sinais,
respondem a perguntas e deletreiam comunicações coerentes.”
4. “Que as respostas e comunicações assim obtidas são, em sua maioria, constituidas
de fatos comuns; mas por vêzes são contados corretamente fatos conhecidos apenas de uma
das pessoas presentes”.
5. “Que as circunstâncias sob as quais ocorrem os fenômenos são variáveis e o fato
mais importante é que a presença de certas pessoas parece necessária à sua ocorrência e que
a de outras, geralmente, é adversa; mas essa diferença não parece depender de nenhuma
crença ou descrença relativa ao fenômeno.”
6. “Que, não obstante, a ocorrência dos fenômenos não égarantida pela presença ou
ausência de tais pessoas, respectivamente.”
O relatório resume em poucas palavras, como se vê adiante, as provas orais ou escritas
recebidas, e que não só testemunham fenômenos da mesma natureza dos observados pelas
sub-comissões, mas outros do mais variado e extraordinário caráter:
1. “Treze testemunhas declaram que viram corpos pesados —nalguns casos homens —
erguerem-se lentamente no ar e aí ficarem por algum tempo, sem apoio visível ou tangível”.
2. “Catorze testemunhas atestam terem visto mãos ou rostos, não pertencentes a
nenhum ser humano, mas com aparência de vida e cem mobilidade, que por vêzes tocaram
ou roçaram e, assim, estão convencidos que não eram o resultado de impostura, nem de
ilusão.”
3. “Cinco testemunhas sustentam que foram tocadas por algum agente invisível, em
várias partes do corpo, e onde pediam que o fôssem, quando as mãos de todos eram
visíveis.”
4. “Treze testemunhas declaram que ouviram peças de música bem tocadas em
instrumentos não manipulados por qualquer agente visível.”
5. “Cinco testemunhas sustentam que viram carvões incandescentes postos nas mãos e
na cabeça de várias pessoas, sem produzir dor ou queimadura, e três testemunhas sustentam
que fizeram a mesma experiência em si mesmas, com os mesmos resultados.”
6. “Oito testemunhas declaram que receberam informações precisas através de batidas,
de escrita e por outros meios, e cuja exatidão era então desconhecida por elas próprias ou
por qualquer dos presentes e que, em investigação posterior, verificaram ser exatas.”
7. “Uma testemunha declara que recebeu uma informação precisa e minuciosa que,
não obstante, ficou provado ser inteiramente inverídica.”
8. “Três testemunhas declaram que se achavam presentes quando, em pouco tempo,
foram feitos desenhos a lápis e aquarela e em tais condições que a ação humana era
impossível.”
9. “Seis testemunhas declaram ter recebido informações de acontecimentos futuros e
que, nalguns casos, a hora exata foi predita com precisão, com alguns dias e até com
semanas de antecedência.”
Além disso, foram dadas provas de conversa em transe, de curas, de escrita automática, de
transporte de flôres e de frutos para recintos fechados, de vozes no ar, de visões em cristais
e em espelhos e de alongamento do corpo humano.
O relatório termina com estas observações:
“Apresentando o seu relatório, vossa comissão, levando em consideração o elevado caráter
e a grande inteligência de muitas das testemunhas dos mais extraordinários fatos, a
extensão que êsse testemunho alcança pelos relatórios das subcomissões, e a ausencia de
qualquer prova de impostura ou fraude, no que respeita a grande parte dos fenômenos; e,
além disso, considerando o caráter excepcional dos fenômenos, o grande número de
pessoas de várias camadas sociais e acima de tudo o mundo civilizado, que é mais ou
menos influenciado pela crença em sua origem sobrenatural, e o fato de que até agora não
se chegou à sua explicação filosófica, ela é de opinião que lhe cumpre declarar a sua
convicção de que o assunto é digno de mais séria atenção e cuidadosa investigação do que
tem tido até agora.”
Entre os que deram provas ou leram trabalhos perante a comissão, estavam: o Doutor
Alfred Russel Wallace, Mrs. Emma Hardinge, Mr. H. D. Jencken, Mr. Benjamim Coleman,
Mr. Cromwell F. Varley, Mr. D. D. Home, e o governador de Lindsay. Foi recebida
correspondência de Lord Lytton, Mr. Robert Chambers, Doutor Garth Wilkinson, Mr.
William Howitt, M. Camille Flammarion e outros.
A comissão teve a felicidade de obter provas dos que acreditavam nos fenômenos, mas
quase que falhou por completo, como se vê do relatório, quando as quis daqueles que os
atribuíam à fraude ou à prestidigitação.
No registro de provas de mais de cinqüenta testemunhas, há um volumoso testemunho da
existência de fatos trazidos por cavalheiros e senhoras de alta reputação. Uma testemunha
(3)
3. Grattan Geary
achou que o mais admirável fenômeno revelado pelos trabalhadores da comissão foi o
extraordinário número de homens eminentes que se mostraram crentes firmes na hipótese
espírita. E uma outra (4)
4. E. L. Blanchard.
declarou que, fôssem quais fôssem as fôrças empregadas em tais manifestações, elas não
podiam ser explicadas pelo recurso à impostura, de um lado, e à alucinação, do outro.
Um aspecto interessante do desenvolvimento do movimento é aquêle observado por Mrs.
Emma Hardinge de que, ao tempo (1869) apenas conhecia dois médiuns profissionais em
Londres, ao passo que conhecia muitos não profissionais. Como ela própria era médium,
certamente tinha razão ao se exprimir assim.
Mr. Cromwell Varley constatou que provavelmente não haveria mais que cem médiuns
conhecidos em todo o império e acrescentou que muito poucos dêsses eram bem
desenvolvidos. Temos aqui um testemunho conclusivo para o grande trabalho realizado na
Inglaterra por D. D. Home, pois a maioria dos conversos o tinha sido através de sua
mediunidade. Outra médium que desempenhou um papel importante foi Mrs. Marshall.
Muitas testemunhas falam das sessões convincentes que fizeram em sua casa. Mr. William
Howitt, o conhecido escritor, era de opinião que tinha então recebido a consagração de
cêrca de vinte milhões de criaturas em tôda a parte, após um exame pessoal.
O que pode ser chamado a prova para a oposição não foi absolutamente formidável.
Lord Lytton disse que em sua experiência os fenômenos constavam de influências
materiais, de cuja natureza nós éramos ignorantes; o Doutor Carpenter defendeu a sua tecla
da “cerebração inconsciente”. O Doutor Kidd pensava que em sua maioria os fenômenos
eram subjetivos e três testemunhas, conquanto convencidas da autenticidade dos fatos, os
tomavam por ações demoníacas. Essas objeções foram bem respondidas por Mr. Thomas
Shoster, autor das “Confessions of a Truth Seeker” (5),
É digno de nota que, ao ser publicado êsse relatório tão importante quanto ponderado,
tivesse sido ridicularizado por uma boa parte da imprensa de Londres. Uma honrosa
exceção foi o Spectator.
O noticiarista de The Times considerou-o “nada mais que uma mixórdia de conclusões
inconsistentes, adornada por uma porção de monstruosidades sem valor que, para
infelicidade nossa, jamais se reuniram para um julgamento.”
O Morning Post disse: “O relatório que foi publicado não vale nada.”
O Saturday Review esperava que aquêle relatório “desacreditasse um pouco mais uma
das mais inequivocamente degradantes superstições que jamais circularam entre gente que
raciocina.
O Standard fêz uma crítica sólida, que merece ser lembrada. Objetando à observação
dos que não acreditam no Espiritismo, embora digam que “existe algo novo” o jornal
observou sábia-mente: “Se nisto existe algo além de impostura e imbecilidade, há todo um
outro mundo aí”.
O Daily News considera o relatório como “uma importante contribuição para a literatura de
um assunto que, mais dia menos dia, pelo próprio número de seus adeptos, exigirá mais
longa investigação”.
O Spectator, depois de descrever o livro como extremamente curioso, acrescenta: “Poucos,
entretanto, lerão a massa de provas coligidas nesse volume, mostrando a sólida fé na
realidade dos supostos fenômenos espíritas, ocorridos com um bom número de individuos
de caráter respeitável e sólido, sem concordar, também, com a opinião de Mr. Jeffrey de
que os notáveis fenômenos testemunhados, alguns dos quais não tinham sido inquinados de
impostura ou de fraude e o testemunho coletivo de pessoas respeitáveis “justificam a
recomendação do assunto a investigações posteriores cautelosas”.
São êstes ligeiros extratos de um noticiário mais longo nalguns poucos jornais de Londres
— pois houve muitos outros — e, ruins como são, não deixam de indicar que nenhuma
mudança de atitude houve por parte da imprensa, que habitualmente ignorava o assunto.
É preciso lembrar que o relatório apenas tratava do aspecto fenomênico do Espiritismo e
êste, na opinião dos dirigentes espíritas, constitui, decididamente, o seu lado menos
importante. Apenas no relatório de uma subcomissão se registra que, de um modo geral, o
tema central das mensagens era que a morte física não passava de trivial assunto
retrospectivo, mas que para o Espírito havia um renascimento em novas experiências de
existências, que a vida do Espírito era, sob todos os pontos, humana; que as relações
amigáveis eram tão comuns e agradáveis quanto em vida; que, não obstante os Espíritos
demonstrassem grande interêsse pelas coisas mundanas, não desejavam retornar à anterior
condição de vida; que a comunicação com os amigos da Terra era agradável e desejada
pelos Espíritos, devendo ser por aquêles tomada como uma prova da continuidade da vida,
a despeito da dissolução do corpo, e que os Espíritos não pretendiam ter o poder seguro de
profetizar. Eis os principais pontos das informações recebidas.
No futuro será reconhecido, de um modo geral, que em seus dias e naquela geração, a
Comissão da Sociedade Dialética realizou um trabalho excelente. A grande maioria de seus
membros se opunha às alegações psíquicas, mas, em face da evidência, com poucas
exceções, tais como o Doutor Edmunds, êstes reforçaram o testemunho dos sentidos.
Houve poucos exemplos de intolerância, como a infeliz declaração de Huxley e a de
Charles Bradlaugh de que nem mesmo examinaria certas coisas, porque se situavam na
região do impossível; mas, em conjunto, o trabalho das subcomissões foi excelente.
No relatório da Comissão da Sociedade Dialética há um longo artigo do Doutor Edmunds,
adversário do Espiritismo, e das constatações dos colegas. Merece leitura, como típico de
uma certa classe de mentalidade. O digno doutor, imaginando-se imparcial, étão
absolutamente prevenido que jamais pôde entrar em sua cachola a concebível possibilidade
de que os fenômenos fôssem supra-normais. Quando assiste a um dêles com os próprios
olhos, pergunta: “Como foi o truque?” Se não consegue responder àpergunta, não o
considera digno de qualquer outra explicação, e apenas registra que não lhe foi possível
descobrir o truque. Assim seu testemunho, que é perfeitamente honesto em relação ao fato,
registra que algumas flôres e frutas ainda úmidas, caíram sôbre a mesa — fenômeno de
transporte, tantas vêzes verificado com Mrs. Gupáginasy. O único comentário do doutor é
que elas devem ter sido tiradas do aparador, embora se possa imaginar que uma cesta de
frutas sôbre o aparador deveria ter chamado a atenção e êle não se arrisque a dizer que tinha
visto tal objeto. De novo foi fechado na cabine com Davenport e admite que êste nada
podia fazer, mas, em todo caso, deve haver um truque de mágica. Então, quando verifica
que os médiuns que percebem que a sua atitude mental é de irremediável recusa de
examinar novamente o caso, toma a observação como um reconhecimento de culpa. Há um
certo tipo de mentalidade científica que é muito aguda dentro de sua especialidade; mas,
fora dela, é a coisa mais maluca e ilógica do mundo.
Para a Comissão Seybert, que estudaremos agora, foi uma infelicidade ter sido composta
inteiramente de gente tal, com a exceção de um espírita, um certo Mr. Hazard, que fôra
convocado por êles e que tinha pouca possibilidade de influenciar a sua atmosfera geral de
obstrução. As circunstâncias em que foi nomeada a Comissão foram as seguintes: um tal
Henry Seybert, cidadão de Filadélfia havia deixado a soma de sessenta mil dólares com o
objetivo de ser criada uma Cadeira de Filosofia na Universidade de Pensilvânia, com a
condição que a mesma Universidade nomeasse uma comissão para fazer uma completa e
imparcial investigação sôbre todos os sistemas morais, religiosos ou filosóficos que
pretendem representar a verdade e, particularmente, o Espiritismo”. O pessoal da comissão
escolhida é indiferente, não obstante ser intimamente ligado à Universidade, ao Doutor
Pepáginaser, deão da Universidade, como presidente honorário, ao Doutor Furnnes, como
presidente efetivo e ao Professor Fullerton, como secretário. A respeito de que o dever da
Comissão era “fazer uma completa e imparcial investigação” do moderno Espiritismo, o
relatório preliminar diz friamente:
“A Comissão é com posta de homens cujos dias já se acham cheios de obrigações, que não
podem ser postas de lado e que assim, apenas podem dedicar uma pequena parte de seu
tempo a essas investigações”.
O fato de estarem os membros satisfeitos de principiar com essa restrição, mostra quão
pouco entendiam a natureza do trabalho que defrontavam. Em tais circunstâncias o fracasso
era inevitável. As reuniões começaram em março de 1884 e um relatório preliminar, ou
coisa que o valha, foi publicado em 1887. Pelo que se viu o relatório ficou sendo final, por
isso que, reimpresso em 1920, nada lhe foi acrescentado, a não ser um prefácio incolor em
três períodos, por um descendente do primeiro presidente. O motivo central dêsse relatório
é que a fraude de um lado e a credulidade do outro constituem tudo no Espiritismo e que
realmente nada havia de sério que merecesse referência. O documento merece uma leitura
completa por todo estudioso de psiquismo. A impressão que fica na mente éque os vários
membros da Comissão se achavam em seus campos limitados, esforçando-se honestamente
para apreender os fatos, mas que as suas mentes, como a do Doutor Edmunds, eram
formadas de tal modo que quando, a despeito de sua atitude repelente e impossível, algum
acontecimento psíquico tentava romper as suas barreiras, nem por um instante
consideravam a possibilidade de que fôsse genuíno, mas simplesmente passavam adiante
como se não existisse. Assim, com Mrs. Fox-Kane obtiveram acentuadissimas batidas mas
se satisfazem com a suposição, milhares de vêzes desmentida, de que viessem de dentro de
seu próprio corpo e passaram sem comentários sôbre o fato de que por seu intermédio
receberam longas mensagens, escritas rapidamente pelo avêsso, de modo que só podiam ser
lidas através do espelho. Essa escrita rapidíssima, continha um latim abstruso, uma
sentença que aparentemente estava muito acima da capacidade do médium. Tudo isto ou foi
ignorado ou ficou sem explicação.
Novamente, observando Mrs. Lord, a Comissão obteve a Voz Direta e luzes fosforescentes,
depois de ter examinado a médium. Temos informações de que a médium produziu “um
quase contínuo bater de palmas”, além de que, pessoas mais afastadas parecem ter sido
tocadas. O preconceito que presidiu o inquérito pode ser caracterizado pela observação do
presidente efetivo W. M. Kewler, que era tido como um fotógrafo de Espíritos, pois
“não ficaria satisfeito senão com um querubim em minha cabeça, um em cada membro e
um anjo batendo asas na minha frente...” Um Espírita ficaria muito surpreendido se
realmente um investigador de maneiras tão frívolas conseguisse resultados. Em tudo, a
explicação de que o médium produzia alguma coisa como um mágico. Nunca, por um
momento sequer êles admitiram que a simpatia e o consentimento de agentes invisíveis
pudesse ser essencial — agentes que se podem curvar ante mentes simples, encolher-se ou
fazer o jôgo de quem sabe se divertir.
Enquanto houve alguns resultados que podem ser genuínos, mas que são postos de lado no
relatório, houve alguns episódios penosos para os espíritas, mas que nem por isso podem
ser esquecidos. A Comissão descobriu fraudes óbvias no caso da médium da lousa, Mrs.
Patterson e é impossível negar que o caso de Slade seja substancial. Os últimos dias dêsse
médium foram certamente sombrios e as fôrças que outrora tinham sido tão notáveis devem
ter sido substituidas pelos truques. O Doutor Eurness chega mesmo a asseverar que êsses
truques eram admitidos, mas a anedota, como é dada no relatório, antes sugere uma
leviandade da parte do médium. Que o Doutor Slade pudesse divertir-se com o Doutor
através de sua janela aberta e imediatamente respondesse a uma frase faceta, admitindo que
tôda a sua vida tinha sido uma fraude, é absolutamente inacreditável.
Há alguns aspectos nos quais a Comissão — ou pelo menos alguns de seus membros —
não procedeu com ingenuidade. Assim, declaram de início que apóiam o seu relatório em
seu próprio trabalho e desprezam a massa de material aproveitável. A despeito disso,
incorporam um longo relatório adverso, escrito por seu secretário sôbre as declarações de
Zöllner, dado no capítulo que trata das experiências de Slade em Leipzig. Ele teve o
cuidado de eliminar o fato de que o maior ilusionista da Alemanha, após considerável
investigação, deu um atestado de que os fenômenos de Slade não eram truques. Por outro
lado, quando o testemunho de um mágico é contra a explicação espírita, como nos
comentários de Kellar, esta vem na íntegra, aparentemente sem conhecimento de que no
caso de um outro médium, Eglinton, êsse mesmo Kellar havia declarado que os resultados
estavam acima de sua arte.
Na entrada do relatório diz a Comissão: “Sentimo-nos felizes por têr-nos contado, desde o
início, com Mr. Thomas R. Hazard, amigo pessoal de Mr. Seybert, como conselheiro, desde
que é muito conhecido na região como um espírita convicto”. Evidentemente Mr. Hazard
conhecia a importância de garantir as condições adequadas e o exato tipo de assistentes
para um trabalho experimental como aquêle. Descrevendo uma entrevista com Mr. Seybert,
poucos dias antes de sua morte, quando aceitou ser seu representante, diz Mr. Hazard que o
fêz apenas “com inteira e clara compreensão de que me fôsse permitido indicar os métodos
a seguir na investigação, designar os médiuns que deveriam ser consultados e recusar a
presença de pessoas que julgasse em conflito com a harmonia e a boa ordem dos grupos
espíritas”. Mas êsse representante de Mr. Seybert parece que ficou inteiramente esquecido
pela Universidade. Depois de haver a Comissão realizado algumas sessões, Mr. Hazard
ficou descontente com alguns de seus membros e com os seus métodos. Encontramo-lo
publicando o que se segue em Filadélfia no North American de 18 de maio de 1885,
possivelmente depois de vãos contactos com os diretores da Universidade:
“Sem querer atingir, no mínimo que seja, o inatacável caráter moral de cada um dos
membros da Faculdade, inclusive a Comissão na estima pública ou no alto padrão social e
literário que êles ocupam na sociedade, devo dizer que, com uma estranha convicção, um
julgamento vesgo ou uma perversão intelectual as Autoridades da Universidade colocaram
na Comissão de Investigação do Espiritismo uma maioria de membros cuja educação,
hábitos mentais e preconceitos os inabilitam singularmente para uma investigação completa
e imparcial do assunto que as Autoridades Universitárias por uma questão legal e por uma
questão de honra, são obrigadas a fazer; que o objetivo foi diminuir, desacreditar e atrair o
desprêzo e a animadiversão geral para a causa que eu sei que o finado Henry Seybert tinha
no coração e amava acima de qualquer coisa no mundo. As Autoridades dificilmente
poderiam escolher instrumentos mais adequados para o seu objetivo, entre os cidadãos de
Filadélfia do que os cavalheiros que constituem a maioria da Comissão Seybert. E isto eu
repito, não por motivos que lhes afete o padrão moral, social ou literário na sociedade, mas
simplesmente devido aos seus preconceitos contra a causa do Espiritismo.”
Posteriormente avisou as Autoridades que deveriam ser excluídos da Comissão os senhores
Fullerton, Thompson e Koenig.
Mr. Hazard informou que, numa conferência feita a 3 de março de 1885, no Clube da
Universidade de Harvard, o Professor Fullerton havia dito:
“É possível que o meio pelo qual os médiuns contam a vida de uma pessoa seja o processo
de transmissão de pensamento, pois cada um que tem noticia dessas coisas vai a um
médium pensando exatamente naqueles pontos que o médium aborda.
... Quando alguém tem um resfriado, sente um zumbido nos ouvidos, e um louco,
constantemente, ouve sons que jamais ouvira. Então é possível que uma doença mental ou
dos ouvidos, ou uma forte emoção, sejam a causa de um grande número de fenômenos
espíritas.”
Estas palavras foram ditas depois que o Professor tinha servido na Comissão por mais de
doze meses.
Mr. Hazard também cita o Doutor George A. Koenig, cujo ponto de vista foi publicado em
Philadelphia Press, cêrca de um ano depois de sua nomeação para a Comissão:
“Devo admitir francamente que estou preparado para negar a verdade do Espiritismo, tal
qual é agora popularmente entendido. É minha convicção que, sem exceção, todos os
chamados médiuns são charlatães. Jamais vi Slade realizar algum de seus truques; mas,
pelas descrições publicadas, convenci-me de que é um impostor, e o mais esperto da turma.
Não penso que a Comissão veja com muito agrado o exame dos chamados médiuns
espíritas. Os homens mais sábios são capazes de ser enganados. Numa hora um charlatão
pode inventar tantos truques que um homem honesto levará um ano para descobri-los.
Mr. Hazard soube, de fonte que considerava segura, que o Professor Robert E. Thompson
era responsável por êsse tópico que apareceu em fevereiro de 1880 no Penn’s Monthly:
“Ainda que o Espiritismo fôsse tudo quanto pretendem os seus campeões, êle nenhuma
importância tem para os que prof essam a fé cristã. A consideração e a discussão do assunto
são comprometedoras de suas noções e arrastam a discussões com as quais nada tem que
ver um crente cristão.”
Temos nestas expressões o meio de julgar como estavam capacitados os membros da
Comissão para fazer aquilo que pedira Mr. Seybert — “uma completa e imparcial”
investigação do assunto.
Um periódico espírita americano, o Banner ai Light, comentando o comunicado de Mr.
Hazard, escreveu:
“Tanto quanto estamos informados, não se tomou conhecimento do apelo de Mr. Hazard —
certamente nenhuma medida, pois os membros citados continuam na Comissão até agora e
seus nomes aparecem no relatório preliminar. De fato o Professor Fullerton foi e é ainda o
secretário; cento e vinte das cento e cinqüenta páginas do volume que temos sob os nossos
olhos são escritos por êle e exibem essa falta excessiva de percepção espiritual e de
conhecimento do oculto e, podemos ainda dizer, das leis naturais, o que o levou a informar
o auditório de estudantes de Harvard que “quando alguém tem um resfriado sente um
zumbido nos ouvidos”; que “um louco constantemente ouve sons que jamais ouvira”; e
sugere que os fenômenos espíritas devem proceder de tais causas.
E continua o Banner of Light:
“Consideramos que a falta da Comissão Seybert, desatendendo o conselho de Mr. Hazard,
como era de sua inteira obrigação, é a chave do fracasso completo de todos os seus
subseqüentes esforços. A insignificância dos resultados fenomênicos, aproximando-se
daquele que seria desejável, até por um céptico, e que são registrados nesse livro,
certamente é notável. É um relatório do que não foi feito, mais do que daquilo que foi. Nos
memorandos dos registros de cada sessão, redigidos pelo Professor Fullerton, está mais do
que visto o esforço para realçar tudo quanto uma mentalidade superficial pode considerar
como prova de trapaça do médium e subtrair tudo quanto possa tornar evidente a verdade
das alegações... É mencionado que, quando certos membros da Comissão se achavam
presentes, os fenômenos cessavam. Isto prestigia a correta posição de Mr. Hazard. E não há
ninguém que, tendo experiências com médiuns, bastante para que sua opinião seja tida
como valiosa, não a endosse. Os Espíritos sabiam com que elementos se iam encontrar;
esforçaram-se por afastar aquêles que reduziriam as suas experiências; falharam devido à
ignorância, à teimosia e aos preconceitos da Comissão, e as experiências falharam. Assim a
Comissão, muito “cônscia de si mesma”, decidiu que tudo era fraude.”
Referindo-se ao relatório, diz Light (7)
Baseia-se êle no fato que os resultados verificados, por vêzes, confirmam notàvelmente os
obtidos em seu próprio Instituto Metapsíquico, com Kluski, Guzik e outros médiuns. As
diferenças, diz êle, são de detalhes: nunca essenciais, O contrôle das mãos foi o mesmo em
ambos os casos, onde ambas as mãos eram prêsas. Isto foi mais fácil no caso dos últimos
médiuns, especialmente com Kluski em transe, enquanto Eusapia era geralmente muito
irrequieta. Parece que o meio têrmo era a condição característica de Eusapia e o que foi
observado pelo autor no caso do Frau Silbert, Evan Powell e outros médiuns, onde a
personalidade parece normal, e ainda peculiarmente susceptível de sugestão ou outras
impressões mentais. A suspeita de fraude pode ser levantada muito facilmente em tais
condições, porque o desejo geral da parte da assistência de que aconteça alguma coisa reage
fortemente sobre a mente do médium, que no momento não raciocina. Um amador que
tinha alguma fôrça psíquica garantiu ao autor que necessita de considerável inibição para
manter tais impulsos latentes e aguardar de fora a verdadeira fôrça. Nesse relatório lemos:
“Estando controladas as mãos, os joelhos e os pés de Eusápia, a mesa ergueu-se
subitamente, pelos quatro pés, que ficaram acima do chão. Eusapia cerra os punhos e os
apóia na mesa, que então se ergue completamente do chão, cinco vêzes seguidas, ao mesmo
tempo que eram dadas cinco batidas. É de novo levantada completamente, enquanto cada
uma das mãos de Eusapia se apóia na cabeça de um assistente. É levantada de cêrca de
trinta centímetros do solo e suspensa no ar durante sete segundos, enquanto mantém a mão
sôbre a mesa e uma vela acesa é colocada debaixo”, e assim por diante, com provas mais
conclusivas com a mesa e outros fenômenos.
A timidez do relatório foi satirizada pelo grande espírita francês Gabriel Delanne. Disse êle:
“O relatório insiste em dizer “parece” e “dá a impressão”, de um homem que não está
seguro daquilo que descreve. Os que realizaram quarenta e três sessões, com bons olhos e
aparelhos de verificação devem ter uma opinião firmada — ou, pelo menos, ser capazes de
dizer, se consideram determinado fenômeno como fraudulento; que numa determinada
sessão tinham visto o médium em ato de fraude. Mas não há nada disso. O leitor é deixado
na incerteza — uma vaga suspeita pairando sôbre tudo, muito embora sem qualquer base
séria.
Comentando isto, diz Light (9):
9. 1909, página 356.
“Mostra Delanne, pelos resumos do próprio Relatório, que algumas experiências tiveram
êxito, ainda quando as maiores precauções foram tomadas, tais como usar lâmpada escura
para verificar-se realmente Eusapia tocara os objetos que se moviam.
Deliberadamente o Relatório ainda desconta essas observações diretas e positivas, com
exemplos de casos “ocorridos em outras ocasiões e outros lugares”, nos quais “se dizia” ou
se pensava” que Eusapia tivesse indevidamente influenciado o fenômeno.
“O relatório Courtier provará cada vez mais ser aquilo que já dissemos ser — “um
monumento de inépcia” e a realidade dos fenómenos de Eusapia não pode honestamente ser
posta em dúvida por frases sem sentido, con as quais o relatório foi enfeitado com
liberalidade.”
Aquilo que pode ser chamado uma investigação coletiva de um médium, foi empreendido
nos anos de 1923 a 1925, com Mrs. Crandon, senhora de um médico de Boston, por uma
comissão escolhida pelo Scientific Ámerican e depois por uma pequena comissão de
homens de Harvard, tendo como chefe o conhecido astrônomo Doutor Shapley. A
controvérsia sôbre êste inquérito ainda ruge e o assunto foi referido no capítulo que trata
dos grandes médiuns modernos. Em resumo, pode dizer-se que dos investigadores do
Scientif ia American, o secretário, Mr. Malcolm Bird e o Doutor Hereward Carrington
proclamaram a sua completa conversão, Os outros fizeram declarações imprecisas, que
envolvem a humilhante confissão de que, após numerosas sessões, feitas sob suas próprias
condições e em presença de constantes fenômenos, não poderiam dizer se tinham sido
enganados ou não.
O defeito da comissão era não contar com um espírita experimentado e familiar com as
condições psíquicas. O Doutor Prince era muito surdo, enquanto o Doutor McDougall
estava numa situação em que tôda a sua carreira acadêmica se achava ameaçada pela
aceitação de uma explicação impopular. A mesma observação se aplica à comissão do
Doutor Shapley, tôda composta de rebentos científicos. Sem imputar consciente
desonestidade mental, há uma saída subconsciente em busca da segurança. Lendo o
relatório dêsses cavalheiros, com sua concordância com tôdas as sessões e seus resultados,
e seu veredicto final de fraude, não é possível descobrir nenhum caminho normal para que
tivessem chegado às suas conclusões.
Por outro lado, o endôsso da mediunidade por gente que não tinha razões pessoais para
extrema precaução era freqüente e entusiástico. O Doutor Mark Richardson, de Boston,
referiu que tinha estado em mais de trezentas sessões e não tinha a menor dúvida quanto
aos resultados.
O autor viu numerosas fotografias do fluxo ectoplásmico de “Margery” e, comparando-
as com fotografias semelhantes, tiradas na Europa, não hesita em dizer que são
inquestionavelmente genuínas, e que o futuro justificará o médium contra os seus críticos
insensatos.
15
Na sessão em que Sir Oliver Lodge leu o seu relatório, Sir William Crookes chamou a
atenção para a semelhança entre os fenômenos que ocorriam com Eusapia e os que se
davam em presença de D. D. Home.
O relatório de Sir Oliver Lodge foi combatido pelo Doutor Richard Hodgson, então ausente
nos Estados Unidos, e, como conseqüência, Eusapia Palladino e o Doutor Hodgson foram
convidados para uma série de sessões na Inglaterra, em Cambridge, as quais se realizaram
em agôsto e setembro de 1895, em casa de Mr. F. W. II. Myers. Essas “Experiências de
Cambridge”, como foram chamadas, na sua maioria foram mal sucedidas e alegou-se que a
médium foi seguidamente pilhada em fraude. Escreveu-se muito pró e contra, na acesa
controvérsia que se seguiu. Basta dizer que observadores competentes recusaram êsse
veredicto contra Eusapia, e condenaram formalmente os métodos empregados em
Cambridge pelo grupo de experimentadores.
É interessante lembrar que um repórter americano, por ocasião da visita de Eusapia aos
Estados Unidos em 1910, lhe perguntou à queima-roupa se alguma vez havia sido
surpreendida em fraude. Eusapia respondeu francamente: “Muitas vêzes dizem-me que sim.
O senhor vê, é assim. Alguns dos que estão à mesa esperam truques; na verdade os
desejam.
Eu estou em transe. Nada acontece. Eles ficam impacientes; pensam em truques, e eu — Eu
— automàticamente respondo. Mas não é freqüente. Apenas querem que eu os pratique. Eis
tudo”. Isso parece uma engenhosa adaptação de uma defesa, que Eusapia ouviu outros
fazerem a favor dela. Ao mesmo tempo há nisso, inquestionàvelmente, um elemento de
verdade, que é o aspecto psicológico da mediunidade ainda pouco compreendido.
Em relação ao caso podem ainda fazer-se duas observações importantes. Primeiro, como
bem indicou o Doutor Hereward Carrington, várias experiências conduzidas com o fito de
repetir os fenômenos por meios fraudulentos resultaram em completo fracasso em quase
todos os casos. Em segundo lugar, ao que parece, os assistentes das sessões de Cambridge
eram completamente ignorantes da existência e do modo de agir daquilo que pode ser
chamado de “alavanca ectoplásmica”, fenômeno observado no caso de Slade e de outros
médiuns. Diz Carrington:
“Tôdas as objeções de Mrs. Sidgwick podem ser resolvidas se admitirmos, em certas
ocasiões, um terceiro braço, que produz êsses fenômenos e que se recolhe ao seu próprio
corpo quando êsses se realizaram”. Agora, por mais estranho que pareça, é justamente essa
a conclusão a que conduzem abundantes indicações. Já em 1884 Sir Oliver Lodge viu
aquilo que descreve como uma aparência de membros extra”, em continuação do corpo de
Eusapia ou muito junto a êste. Com essa segurança que muitas vêzes a ignorância se
permite, o comentário editorial no Jornal da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, no qual foi
publicado o relato de Sir Oliver, diz: “É absolutamente necessário observar que a
continuidade dos membros do “Espírito” com o corpo do médium é, prima facie, uma
circunstância altamente sugestiva de fraude”.
Mas, posteriores cientistas investigadores confirmam amplamente a suposição de Sir Oliver
Lodge. Declara o Professor Botazzi:
“De outra feita, mais tarde, a mesma mão se colocou sôbre o meu antebraço direito, sem
fazer pressão. Nessa ocasião não só levei a mão esquerda para o lugar, como olhei, de
modo que podia ver e sentir ao mesmo tempo: e vi uma mão humana, de côr natural, e com
os meus dedos senti os dedos e as costas de uma mão tépida nervosa e áspera. A mão se
dissolveu — eu vi com os próprios olhos — retraindo-se como se para dentro do corpo da
senhora Palladino, descrevendo uma curva. Confesso que tive dúvidas se a mão esquerda
da senhora Palladino se tinha libertado da minha direita, para alcançar o meu ante braço,
mas no mesmo instante fui capaz de provar a mim mesmo que essa dúvida não tinha
fundamento, porque nossas duas mãos permaneciam em contacto, como de costume. Se
todos os fenômenos observados nessas sete sessões desaparecessem da minha memória, eu
jamais esqueceria êste.”
Em 1907 o Professor Galeotti viu aquilo a que chamou o duplo do braço esquerdo do
médium. E exclamou: “Olhem! eu vejo dois braços esquerdos, de idêntica aparência! Um
está sôbre a mesinha e é tocado pelo senhor Bottazzi e o outro parece que sai de seu ombro
— para se aproximar dela, tocá-la e voltar a fundir-se novamente em seu corpo. Isto não é
uma alucinação”. Numa sessão em julho de 1905, em casa do senhor Berisso, quando as
mãos de Eusapia eram inteiramente controladas e visíveis a todos, o Doutor Venzano e
outros presentes “viram distintamente uma mão e um antebraço, coberto por uma manga
escura que saia da frente e da parte superior do ombro direito da médium”. Um testemunho
muito semelhante poderia ser dado.
Como contribuição para o estudo das complexidades da mediunidade, principalmente de
Eusapia, o caso seguinte merece séria atenção. Numa sessão com o Professor Morselli,
Eusapia tinha sido apanhada libertando-se da mão do professor e tentando apanhar uma
cameta que se achava sõbre a mesa. Foi obstada de o fazer. Então, diz o relatório:
“Neste momento, quando certamente mais rigoroso era o contrôle, a cameta foi erguida da
mesa e desapareceu dentro da cabine, passando entre a médium e o Doutor Morselli.
Evidentemente a médium tinha tentado fazer com a mão o que a seguir fêz
mediunicamente. Um esfôrço tão fútil e tão inútil para fraudar é inexplicável. Não há
dúvidas a respeito; desta vez a médium não tocou, nem podia tocar na cameta; e, mesmo
que a tivesse alcançado, não a teria levado para a cabine, que fica às suas costas.”
Deve ser lembrado que o canto da sala tinha uma cortina, que formava a chamada cabine,
isto é, um recinto fechado para reunir fôrça, e que Eusapia, ao contrário dos outros
médiuns, sentava-se do lado de fora, a cêrca de trinta centímetros, ficando a cortina as suas
costas.
Em 1895, a Sociedade de Pesquisas Psíquicas tinha decidido que todos os fenômenos de
Eusapia eram fraudulentos e não queria mais contacto com ela. Mas no continente europeu
grupo após grupo de cientistas investigadores, tomando as mais rigorosas precauções,
atestaram os dons de Eusapia. Então em 1908 a Sociedade de Pesquisas Psíquicas decidiu
examinar a médium mais uma vez. Nomeou três de seus cépticos mais capacitados. Um
dêles, Mr. W. W. Baggally, membro do Conselho, tinha investigado os fenômenos
psíquicos por mais de trinta e cinco anos e, durante êsse tempo — com exceção, talvez, de
uns poucos incidentes numa sessão com Eusapia, poucos anos antes — jamais havia
testemunhado um único fenômeno físico legítimo. “Em tôdas as suas investigações sempre
tinha verificado fraudes e nada mais que fraudes”. Ainda mais, era um hábil ilusionista. Mr.
Everard Fielding, secretário honorário da Sociedade, tinha feito investigações por alguns
anos, mas “durante todo êsse tempo jamais tinha visto um fenômeno físico que lhe
parecesse conclusivamente provado” a não ser, talvez, um caso em sessão com Eusapia. O
Doutor Hereward Carrington, o terceiro nomeado, conquanto tivesse assistido a inúmeras
sessões, podia dizer que até assistir a uma sessão com Eusapia, “jamais tinha visto uma
única manifestação de ordem física que pudesse considerar autêntica”.
À primeira vista êsse registro dos três investigadores parece esmagador para o que
pensavam os Espíritas. Mas nas investigações de Eusapia Palladino êsse trio de cépticos
teve o seu Waterloo. A história completa de sua longa e paciente pesquisa desse médium
em Nápoles encontra-se no livro do Doutor Hereward Carrington “Eusapia Palladino and
Her Phenomena” (1909) (2).
Como prova da cuidadosa investigação dos cientistas do continente, devemos lembrar que o
Professor Morselli observou nada menos que trinta e nove tipos diversos de fenômenos que
se passavam com Eusapia Palladino.
Os incidentes que se seguem devem ser lembrados porque bem podem ser classificados sob
o título de “Provas malucas”. De uma sessão em Roma, em 1894, em presença do Professor
Richet, do Doutor Schrenck Notzing, do Professor Lombroso e de outros, o relatório diz o
seguinte:
“Esperando obter o movimento de um objeto sem contacto, colocamos um pedacinho de
papel dobrado em forma de “A” sob um copo em cima de um disco de papelão fino... Nada
se tendo verificado, não quisemos fatigar a médium e deixamos as coisas em cima de uma
grande mesa. Então tomamos os nossos lugares em redor da mesinha, depois de havermos
fechado cuidadosamente tôdas as portas, cujas chaves pedimos aos convidados que
guardassem nos bolsos, para que não nos acusassem de não havermos tomado tôdas as
precauções.
A luz foi apagada. Logo ouvimos soar o copo sôbre a nossa mesa e, tendo acendido uma
luz, encontramo-lo em nosso meio e na mesma posição, emborcado e cobrindo o pedacinho
de papel. Só que o papelão estava faltando. Em vão o procuramos. Terminada a sessão
conduzi os convidados mais uma vez para a antecâmara. O Senhor Richet foi o primeiro a
abrir a porta, bem aferrolhada por dentro. Qual não foi a sua surprêsa quando percebeu,
perto da soleira da porta e do outro lado, na caixa da escada, o disco que tanto
procuráramos! Apanhou-o e todos reconheceram o papelão que fôra pôsto debaixo do
copo.”
Uma forte prova digna de registro é a de que o Senhor de Fontenay fotografou várias mãos
que apareciam sôbre a cabeça de Eusapia e numa das fotografias as mãos da médium
aparecem bem seguras pelos investigadores. Essas fotografias são reproduzidas nos
“Annais of Psychical Science”, de abril de 1908, página 181 e seguintes.
Na sexta e última sessão dessa série em Gênova, com o Professor Morselli, em 1906 e
1907, foi obtida uma prova decisiva. A médium estava amarrada no divã com uma larga
faixa, como as camisas de fôrça usadas nos asilos. Morselli, com a experiência de um
alienista, realizou a operação e ainda amarrou-lhe os punhos e os tornozelos. Depois foi
acêsa uma lâmpada vermelha de dez velas. A mesa, que estava livre de qualquer contacto,
movia-se de vez em quando, foram vistas pequenas luzes e uma mão. Num dado momento,
abriu-se uma cortina em frente à cabine, deixando ver a médium estirada e bem amarrada.
Diz o relatório: “Os fenômenos eram inexplicáveis, de vez que, dada a sua posição,
qualquer movimento era impossível.
Em conclusão, aqui estão os relatos de dois casos, entre muitos, de materializações
convincentes. O primeiro é descrito pelo Doutor Joseph Venzano, nos “Annais of Psychical
Science”, volume 6º, página 164, de setembro de 1907. Havia a luz de uma vela, que
permitia se visse a figura da médium:
“A despeito da pouca luz, eu podia ver distintamente a Senhora Palladino e meus
companheiros. De súbito, percebi que detrás de mim havia uma forma, bastante alta, que
estava inclinando a cabeça sôbre o meu ombro esquerdo e soluçando violentamente, tanto
que os presentes ouviam os soluços: beijava-me repetídas vêzes. Percebi claramente os
traços fisionómicos, que me tocavam o rosto e senti os seus cabelos finos e abundantes em
contacto com a minha face esquerda, de modo que eu tinha certeza que era uma mulher.
Então a mesa começou a mover-se e pela tiptologia deu o nome de uma ligação de família,
de todos desconhecida, exceto por mim. Tinha morrido algum tempo antes e, devido a uma
incompatibilidade temperamental houve sérios desacordos com ela. Eu estava tão longe de
esperar essa resposta tiptológica que a princípio pensei que fôsse mera coincidência de
nome; mas enquanto mentalmente eu fazia tal reflexão, senti uma bôca, com o sôpro
quente, tocar-me a orelha esquerda e sussurrar, em voz baixa, em dialeto genovês, uma
porção de frases que os assistentes podiam ouvir. Essas sentenças foram interrompidas por
um soluço e o tema era, repetidamente, o pedido de perdão de injúrias feitas a mim, com
uma riqueza de detalhes ligados a assuntos familiares que só poderiam ser conhecidos da
pessoa em questão. O fenômeno parecia tão real que me vi obrigado a responder aos
pedidos de desculpas com frases afetuosas e, por meu turno, pedir perdão se qualquer
ressentimento pelos mal-entendidos tinham sido excessivos. Mal eu tinha pronunciado as
primeiras sílabas e duas mãos, com excessiva delicadeza, se aplicaram sôbre os meus
lábios, evitando que eu continuasse. Então a forma me disse obrigado, abraçou-me, beijou-
me e desapareceu.”
Com outros médiuns têm havido melhores materializações do que esta e com melhor luz;
mas no caso havia uma prova interior e mental de identidade.
O último exemplo que daremos ocorreu em Paris, em 1898, numa sessão em que se achava
presente Flammarion, quando o Senhor Le Bocain se dirigiu em árabe a um Espírito
materializado e disse: Rosália, se és tu que te encontras entre nós, puxa-me três vêzes o
cabelo na parte posterior da cabeça”. Cêrca de dez minutos depois e quando o Senhor Le
Bocain quase havia esquecido o pedido, sentiu que lhe puxavam o cabelo três vêzes,
exatamente como havia pedido. E disse: “Certifico êste fato que, além disso, constituiu para
mim a mais convincente prova da presença de um Espírito familiar junto a mim”. E
acrescenta que é desnecessário dizer que Eusapia não sabe árabe.
Os adversários e uma parte dos pesquisadores de psiquismo acham que os fenômenos que
ocorrem numa sessão têm pouco valor probante, porque os observadores comuns não
conhecem os recursos dos mágicos. Em 1910, em New York, o Doutor Hereward
Carrington levou a uma sessão de Eusapia Mr. Howard Thurston, que descreve como o
mais notável mágico da América. Mr. Thurston que, com o seu assistente, controlava as
mãos e os pés da médium em boa luz, descreve:
“Fui testemunha pessoal das levitações da mesa da Senhora Paladino... e estou.
absolutamente convencido de que os fenômenos que vi não eram devidos à fraude e não
foram executados nem por seus pés, nem por seus joelhos ou mãos.”
Ele se prontificou a dar mil dólares a uma instituição de caridade se provassem que essa
médium não era capaz de levitar uma mesa sem um dispositivo para truque ou fraude.
Perguntar-se-á qual o resultado de tantos anos de investigação com essa médium. Certo
número de cientistas, sustentando com Sir David Brewster que o Espírito seria a última
hipótese que admitiriam, inventaram hipóteses engenhosas para explicar os fenômenos, de
cuja autenticidade estavam convencidos. O Coronel de Rochas procurou explicá-los pelo
que chamou “exteriorização da motricidade”. O Senhor Le Bocain falava de uma teoria
dinâmica da matéria; outros pensavam numa “fôrça endêmica” e numa “consciência
coletiva” ou na ação da mente subconsciente; mas aquêles casos, bem autenticados, onde a
operação de uma inteligência independente se mostrava claramente, tornou insustentáveis
essas tentativas de explicação. Vários experimentadores foram forçados a aceitar a hipótese
espírita como a única que explicava todos os fatos de maneira razoável. Diz o Doutor
Venzano:
“No maior número das formas materializadas por nós percebidas, quer pela vista, quer
pelo tato, ou pela audição, foi-nos possível reconhecer pontos de semelhança com pessoas
mortas, geralmente nossos parentes, desconhecidos da médium e apenas conhecidos dos
presentes relacionados com os fenômenos.”
O Doutor Hereward Carrington vacila. Considerando a opinião de Mrs. Sidgwick de que é
inútil especular se os fenômenos são de caráter espírita ou se representam “alguma lei
biológica desconhecida”, até que os fatos se hajam estabelecido por si mesmos, diz: “Devo
dizer que, antes de eu mesmo realizar sessões, também concordava com o ponto de vista de
Mr. Sidgwick”. E acrescenta: “Minhas próprias sessões me convenceram finalmente e de
modo conclusivo de que os fenômenos verdadeiros devem ocorrer, e que, neste caso, a
questão de sua interpretação se esclarece á minha frente... Penso que não só a hipótese
espírita se justifica como uma teoria aceitável, mas que é, de fato, a única capaz de uma
explicação racional dos fatos.” (3)
16
Grandes Médiuns de 1870 a 1900: Charles H. Foster, Madame d’Esperamce, William
Eglinton, Stainton Moses
HOUVE muitos médiuns notáveis e alguns notórios, no período que vai de 1870 a
1900. Dêstes D. D. Home, Slade e Monck já foram mencionados. Quatro outros, cujos
nomes viverão na história do movimento, são o americano C. H. Foster, Madame
d’Esperance, Eglinton e o Reverendo W. Stainton Moses. Daremos agora um ligeiro
histórico de cada um dêles.
Charles H. Foster teve a sorte de ter um biógrafo que o admirava tanto a ponto de o
chamar “o maior médium espírita desde Swedenborg”. Há uma tendência da parte dos
escritores de exagerar o valor de um dado sensitivo com que se põem em contacto. Nada
obstante, Mr. George C. Bartlett, no seu “The Salem Seer” (1)
1. “O Vidente de Salém”. — N. do T.
mostra que tinha estreita ligação pessoal com Foster, e que êste era realmente um médium
muito notável. Sua fama não se limitava à América, pois êle viajou muito e tanto visitou a
Austrália quanto a Grã-Bretanha. Neste último país fêz amizade com Bulwer Lytton,
visitou Knebworth e foi o modêlo de Margrave em “A Strange Story” (2).
Parece que Foster foi um clarividente de grande poder, e tinha a faculdade peculiar de
dar o nome ou as iniciais do Espírito que descrevia, exibindo nome ou letras sôbre a própria
pele, geralmente no antebraço. Êsse fenômeno era tão freqüentemente repetido e tão
severamente examinado que o fato não pôde ser pôsto em dúvida, O que seria a causa do
fato é uma outra questão. Havia muitos outros pontos na mediunidade de Foster que
sugeriam uma projeção da personalidade antes que uma inteligência exterior. Por exemplo,
é francamente incrível que Espíritos dos grandes que se foram, como Virgílio, Camões e
Cervantes, tivessem estado à espera dêsse iletrado da Nova Inglaterra, e contudo, para
confirmar o fato, temos a autoridade de Bartlett, ilustrada com muitas citações, de que
manteve conversas com tais entidades, e que lhe eram capazes de citar passagens e
qualquer estrofe escolhida de suas copiosas obras poéticas.
Tais exemplos de familiaridade com a literatura, muito acima da capacidade do médium,
tem alguma analogia com testes de livros empregados nos últimos anos, onde uma linha de
uma obra numa biblioteca é prontamente localizada. Isto não necessita a sugestão da
presença do autor de tal volume; deve antes depender de algum poder indefinido do eu
etérico liberto do médium, ou possivelmente de alguma outra entidade de natureza de um
guia, que pudesse rapidamente colhêr a informação de maneira supranormal. Os espíritas
extremaram tanto o caso que não é possível emprestar a todos os fenômenos psíquicos o
valor que lhes atribuem; e o autor confessa ter observado com freqüência que algures, em
data anterior, o médium consultou impressos ou escritos que nos são trazidos depois fora
das condições normais.
O dom peculiar de Foster, pelo qual as iniciais eram estampadas em sua carne, tinha
resultados cômicos. Bartlett conta como um certo Mr. Adams consultou a Foster. “Quando
ia saindo, Mr. Foster lhe disse que em tôda a sua experiência jamais tinha visto um
indivíduo trazer tantos Espíritos... A sala estava literalmente cheia dêles, indo e vindo. Às
duas da manhã seguinte Mr. Foster me chamou.. - dizendo: “George, quer fazer o favor de
acender o gás? Eu não posso dormir: o quarto está cheio da família Adams e parece que
estão escrevendo seus nomes em mim.” E com grande admiração minha, a lista de nome da
família de Adams estava gravada em seu corpo. Contei onze nomes diferentes: um estava
escrito na testa, outros nas costas. Tais anedotas certamente contribuem para as piadas dos
trocistas, mas nós temos aqui uma prova de que o senso de humor, será maior do Outro
Lado.
O dom das letras escarlates sôbre a pele de Foster parece bem comparável ao
conhecido fenômeno dos estigmas que aparecem nas mãos e nos pés das beatas. Num caso,
a concentração do pensamento do indivíduo sôbre um assunto teve um resultado. No outro,
pode ser que a concentração de uma entidade invisível tenha um efeito semelhante.
Devemos lembrar-nos que somos todos Espíritos, dentro ou fora do corpo, e temos os
mesmos poderes, em graus variáveis.
A opinião de Foster sôbre sua própria condição parece ter sido muito contraditória, pois
freqüentemente declarava, como Margaret Fox-Kane e os Davenport, que não se arriscava a
dizer que seus fenômenos eram devidos a sêres espirituais, quando, por outro lado, tôdas as
suas sessões eram conduzidas na clara suposição de que o eram. Assim, descrevia êle
minuciosamente a aparência do Espírito e dava mensagens em seu nome para os parentes
vivos. Como D. D. Home, era excessivamente crítico dos outros médiuns, e não acreditava
no poder fotográfico de Mumler, embora tal poder fôsse bem atestado em si próprio. Parece
que possuía, em grau exagerado, o espírito volátil do médium típico, facilmente
influenciável para o bem e para o mal. Seu amigo, que era claramente um observador
atento, dêle diz:
“Era extravagantemente dúplice. Não era apenas Doutor Jekyll e Mr. Hyde, mas
representava meia dúzia de diferentes Jekylls e Hydes. Era estranhamente dotado e, por
outro lado, lamentàvelmente deficiente. Era um gênio desequilibrado e, por vêzes, eu o
diria insano. Tinha um coração realmente tão grande que abarcava o mundo: lágrimas pelos
aflitos; dinheiro para os pobres; e as fibras de seu coração eram tocadas pelas alheias
misérias. Outras vêzes seu coração se encolhia como se desaparecesse. Tornava-se
desalmado e petulante como uma criança, até abusar dos melhores amigos. Atirou fora
muitos amigos, como um bagual indomável. Não havia freios que lhe servissem. Foster não
era vicioso, mas era absolutamente incontrolável. Tinha que seguir o seu caminho, muitas
vêzes um caminho errado. Como uma criança, parecia nada prever. Dava a impressão de
viver para o dia, despreocupado com o amanhã. Se fôsse possível, fazia exatamente o que
queria, sem olhar as conseqüências. Não ouvia conselhos de ninguém, apenas porque não
podia. Parecia impermeável ás opiniões alheias e aparentemente cedia aos desejos alheios;
mas apesar de tudo não se estragou muito e continuou em perfeita saúde até o fim. Quando
se lhe perguntava “Como vai a saúde?” sua resposta favorita era “Excelente. Estou apenas
vendendo saúde”. A mesma natureza dúplice mostrou em seu trabalho. Por vêzes era capaz
de sentar-se a uma mesa o dia inteiro e entrar pela noite, sob um tremendo esfôrço mental.
E o fazia dia após dia, noite após noite. Então vinham dias e semanas em que não fazia
absolutamente nada — jogando centenas de dólares e agastando as pessoas sem razão
aparente, a não ser que se encontrasse em disposição folgazã.”
Madame d’Esperance, cujo verdadeiro nome era Mrs. Hope, nasceu em 1849 e sua carreira
se estendeu por mais de trinta anos, numa atividade que alcançou o continente e a Grã-
Bretanha. Apareceu em público graças a T. P. Barkas, cidadão muito conhecido em New
Castle. A médium era então uma mocinha de educação da classe média. Entretanto, quando
em semitranse, demonstrava em grau notável aquêle dom de sabedoria e conhecimento que
São Paulo coloca no tôpo de sua categoria espiritual. Barkas descreve como preparava
extensas listas de perguntas que cobriam quase todos os setores da ciência e como as
respostas eram escritas ràpidamente pela médium, geralmente em inglês, mas por vêzes em
alemão ou mesmo em latim. Resumindo essas sessões, diz Mr. Barkas (3)
“Deve ser geralmente admitido que ninguém pode, por um esfôrço normal, responder com
detalhes a perguntas críticas ou obscuras, em muitos setores difíceis da ciência com que se
não é familiarizado. Além disso deve admitir-se que ninguém pode ver normalmente e
desenhar com minuciosa precisão em completa obscuridade; que ninguém pode, por meios
normais da visão ler o conteúdo de uma carta fechada no escuro; que ninguém que ignore a
língua alemã possa escrever com rapidez e exatidão longas comunicações em alemão.
Entretanto todos êsses fenômenos foram verificados com êsse médium e são tão acreditados
quanto as ocorrências normais da vida diária”.
Deve admitir-se, entretanto, que enquanto não conhecermos os limites a que pode chegar a
fôrça produzida pela libertação parcial ou total do corpo etérico, não podemos com
segurança atribuir tais manifestações à intervenção dos Espíritos. Eles mostraram uma
notável individualidade psíquica muito pessoal e, possivelmente, nada mais que isso.
Mas a fama de Madame d’Esperance como médium depende de muitos dons que eram, sem
dúvida, mais espirituais. Temos um relato muito completo dêsses dons, pela sua própria
pena, pois ela escreveu um livro intitulado “Shadow Land” (4),
5. “Comando Mágico” — N. do T.
de Turvey, assim como entre as mais notáveis autobiografias psíquicas de nossa literatura.
Não épossível lê-lo sem se ficar impressionado pelos bons sentimentos e pela honestidade
da escritora.
Como outros sensitivos o fizeram, ela narra como em sua infância brincava com Espíritos
de crianças, que lhe eram tão reais quanto as vivas. Essa fôrça de clarividência permaneceu
em tôda a sua vida, mas o dom mais raro da materialização lhe foi adicionado. O citado
livro contém fotografias de Yolanda, uma bonita môça árabe, que era para essa médium o
que Kate King foi para Florence Cook. Não era raro que se materializasse quando Madame
d’Esperance estava sentada fora da cabine, sendo vista inteiramente pelos assistentes.
Assim, a médium podia ver a sua própria emanação estranha, tão íntima e, contudo, tão
distinta. Eis a sua própria descrição:
“Sua roupagem leve permitia que se visse muito bem a bela cor azeitonada de seu pescoço,
dos ombros, dos braços e dos tornozelos. Os longos cabelos negros e ondulados desciam
pelos seus ombros até abaixo do peito e eram atados por uma espécie de turbante
pequenino. Suas feições eram miúdas, corretas e graciosas; os olhos eram negros, grandes e
vivos; todos os seus movimentos eram cheios daquelas graças infantis ou como os de uma
jovem gazela, quando a vi, entre tímida e decidida, por entre as cortinas.
Descrevendo as suas impressões durante uma sessão. Madame d’Esperance fala da
sensação de uma como que teia de aranha, que estivesse em tôrno de seu rosto e de suas
mãos. Quando uma fraca luz penetrou por entre as cortinas da cabine, ela viu uma massa
vaporosa esbranquiçada, flutuando em seu redor, como o vapor de uma locomotiva e, além
disso, evoluindo para uma forma humana. Uma sensação de vazio começou, assim que
aquilo que ela chamou de teia de aranha se apresentou. Então perdeu o contrôle de seus
membros.
O Hon. Alexander Aksakof, de São Petersburgo, conhecido pesquisador do psiquismo e
redator do Psychische Studien, descreveu em seu livro “Um Caso de Desmaterialização
Parcial”, uma sessão extraordinária, na qual o corpo dessa médium dissolveu-se
parcialmente. Comentando o fato, observa êle: “O fato freqüentemente notado, da
semelhança da forma materializada com a médium, tem aqui a sua explicação natural.
Como a forma é apenas um duplo da médium, é natural que lhe tenha todos os aspectos
E, diz Aksakoff, isto deve ser natural; mas é igualmente natural que provoque o ridículo
dos cépticos. Uma experiência mais ampla, entretanto, os convenceria de que o cientista
russo está certo. O autor assistiu a sessões de materialização onde viu os duplos do rosto da
médium tão claramente à sua frente que estava pronto para denunciar um procedimento
fraudulento; mas, com paciência e um acúmulo maior de fôrça, viu mais tarde que outros
rostos se formavam e que nenhum esfôrço mental poderia identificar ao da médium. Em
alguns casos pareceu-lhe que fôrças invisíveis, dessas que produzem os seus efeitos sem se
importarem com os equívocos daí resultantes, usaram a atual face física da médium
inconsciente e a enfeitaram com apêndices ectoplásmicos, a fim de o transformarço
Noutros casos podia-se pensar que o duplo etérico da médium tivesse sido a base para uma
nova criação. Assim acontecia algumas vêzes com Katie King, que ocasionalmente se
parecia com Florence Cook quanto às feições, ainda quando diferisse profundamente na
estatura e na coloração. Em outras ocasiões a figura materializada é absolutamente
diferente. O autor observou as três fases da construção do Espírito, no caso da médium
americana, Miss Ada Besinnet, cuja figura ectoplásmica por vêzes tomava a forma de um
índio musculoso e bem desenvolvido. A história de Madame d’Esperance corresponde
muito exatamente a essas variedades de poder.
Mr. William Oxley, compilador e editor de um notável trabalho em cinco volumes,
intitulado “Angelic Revelations”, descreveu vinte e sete rosas produzidas numa sessão por
Yolanda, a figura materializada, e a materialização de uma planta rara em flor. Diz Mr.
Oxley:
“Eu tinha fotografado a planta — Ixora crocata — na manhã seguinte, depois do que trouxe
para casa e a coloquei na minha estufa, aos cuidados do jardineiro. Ela viveu três meses,
depois murchou. Tomei as fôlhas, muitas das quais abandonei, exceto a flor e três brotos
que o jardineiro cortou, quando cuidava da planta”.
Na sessão de 28 de julho de 1890, na presença do Senhor Aksakoff e do Professor Butlerof,
de São Petersburgo, um lírio dourado, de sete pés de altura, ao que se diz, foi materializado.
Foi conservado durante uma semana, durante a qual foram tiradas seis fotografias, depois
do que dissolveu-se e desapareceu. Uma dessas fotografias aparece em “Shadow Land”,
após a página 328.
Uma forma feminina, um pouco mais alta que a médium, e conhecida pelo nome de Y-Ay-
Ali, provocava a maior admiração. Diz Mr. Oxley: “Vi muitas formas de Espíritos
materializados; mas a perfeição de simetria no rosto e a beleza da atitude jamais igualava a
dêste”. A figura lhe deu a planta que havia materializado; então jogou para trás o véu; deu-
lhe um beijo na mão e estendeu a sua, que êle beijou.
“Como estava exposta à luz, eu via perfeitamente a sua face e as mãos. O rosto era belo e as
mãos macias, quentes e perfeitamente naturais, e, a não ser pelo que se seguiu, eu teria
pensado estar segurando a mão de uma senhora permanentemente encarnada, perfeitamente
natural, pôsto que exquisitamente bela e pura.
Prossegue descrevendo como ela se afastou dois pés da médium, na cabine e, à vista de
todos, “desmaterializou-se gradativamente, fundindo-se de cima para baixo, até que só a
cabeça fôsse vista no soalho; então essa diminuiu até que ficou um ponto branco, que
desapareceu depois de alguns momentos -
Na mesma sessão materializou-se uma forma de criança e pôs três dedos de sua mãozinha
na de Mr. Oxley. Depois êste a segurou e beijou-a. Foi em agôsto de 1880.
Mr. Oxley registra um fato muito interessante e de grande valor probante. Quando Yolanda,
a môça árabe, estava falando com uma senhora na assistência, “a parte superior de seu
vestido caiu e mostrou as suas formas. Verifiquei que as formas eram imperfeitas, pois o
busto não era desenvolvido e o peito não era acentuado, o que constitui uma prova de que a
forma não era uma figura preparada.” Ele poderia ter acrescentado que também não era a da
médium.
Escrevendo sôbre “Como um médium se sente numa materialização”, Madame
d’Esperance lança alguma luz sôbre a curiosa simpatia que constantemente se nota entre o
médium e a forma espiritual. Descrevendo uma sessão na qual estava sentada fora da
cabine (7)
diz ela:
“E agora aparece outra pequena forma delicada, com os bracinhos estendidos. Alguém
colocado do outro lado do grupo levanta-se, aproximam-se e abraçam-se. Ouço sons
inarticulados:
“Anna, oh! Anna, minha filha, querida filhinha!” Então outra pessoa se ergue e cerca o
Espírito com os braços; nessa ocasião ouço soluços e exclamações, de mistura com
bênçãos.
Sinto meu corpo mover-se de um para outro lado; tudo se torna escuro aos meus olhos.
Sinto o braço de alguém em tôrno aos meus ombros; o coração de alguém bate contra o
meu peito. Parece que algo acontece. Ninguém está junto a mim; ninguém me presta a
menor atenção. Todos os olhares estão lixados naquela figurinha branca e esguia, nos
braços das duas mulheres em pranto.
Deve ser o meu coração que ouço batendo tão distintamente e, certamente, o braço de
alguém ainda em meu redor. Jamais senti mais completamente um abraço. Começo a
pensar. Quem sou eu? Sou aquela branca aparição, ou sou eu quem permanece sentada na
poltrona? Aquêles são os meus braços em tôrno do pescoço da senhora mais idosa? Ou os
meus são os que estão em minha frente, em meu vestido? Sou eu o fantasma? Se sou, como
chamarei o ser que jaz na poltrona?
“Certo é que meus lábios são beijados; minhas faces estão orvalhadas de pranto, derramado
abundantemente pelas duas senhoras. Mas como pode ser isto? Essa sensação de dúvida
relativamente à nossa própria identidade é horrível. Desejo estender uma das mãos que se
acham no vestido, mas não posso. Desejo tocar alguém para ter absoluta certeza de que eu
sou a mesma ou se isto é apenas um sonho; se Anna sou eu ou se eu estou, de certo modo,
nela dissolvida”.
Enquanto a médium se acha nesse estado de dúvida, outro pequenino Espírito de criança,
que se havia materializado, vem e põe as mãozinhas nas de Madame d’Esperance.
“Como me sinto feliz ao sentir êsse toque, ainda que de uma criancinha! Minhas dúvidas a
respeito de quem sou eu e onde me acho se vão. E enquanto experimento tudo isto, a branca
forma de Anna desaparece na cabine e as duas senhoras voltam aos seus lugares, chorosas,
sacudidas de emoção, mas intensamente felizes.”
Não é para admirar que um assistente das sessões de Madame d’Esperance, segurando a
figura materializada, houvesse declarado que era a própria médium. A propósito, o ponto de
vista de Aksakoff de um modo geral (8),
é o seguinte:
“Alguém pode agarrar a forma materializada, segurá-la e ter a certeza de que não segura
senão o médium, em carne e osso. E isto ainda não é uma prova de fraude da parte do
médium. De fato, de acôrdo com a nossa hipótese, que é o que poderia acontecer se
segurássemos o duplo da médium, quando se achasse de tal modo materializado, que não
restasse senão o seu simulacro invisível, sentado por detrás da cortina? É óbvio que o
simulacro — aquela pequena porção fluida e etérea — seria imediatamente absorvida na
forma já completamente materializada, à qual, para ser a médium apenas faltaria aquêle
resto invisível.”
Na introdução escrita para o livro “Shadow Land, de Madame d’Esperance, Aksakof rende
um alto tributo a ela como mulher e como médium. Diz que tanto quanto êle, ela se achava
interessada em achar a verdade. Submetia-se de boa vontade a todos os testes que lhe
impusesse.
Um interessante incidente na carreira de Madame d’Esperance foi o seu êxito em
reconciliar o Professor Friese, de Breslau, com o Professor Zõllner, de Leipzig. O
rompimento dêsses dois amigos ocorrera por fôrça da profissão de fé espírita de Zõllner.
Mas o médium inglês foi capaz de dar tais provas a Friese que êle não mais contestou as
conclusões de seu amigo.
Devemos salientar que, no curso das experiências de M. Oxley com Madame d’Esperance,
foram feitos moldes de mãos e de pés de figuras materializadas, com punhos e tornozelos,
cujas aberturas eram demasiado estreitas para permitir a saída dos membros, salvo por
desmaterialização. Em vista do grande interesse tomado pelas moldagens em parafina,
feitas em Paris, em 1922, através do médium Kluski, é curioso observar que a mesma
experiência tinha sido feita com sucesso, e apenas noticiada pela imprensa psíquica, por
êsse estudante de Manchester já em 1876.
A última parte da vida de Madame d’Esperance, passada principalmente na Escandinávia,
foi amargurada pela doença adquirida no choque que sofreu no chamado
“desmascaramento”, quando Yolanda foi agarrada por um pesquisador desavisado de
Helsingfors, em 1893. Ninguém mais do que ela demonstrou mais claramente quanto os
sensitivos sofrem a ignorância do mundo que os rodeia. No último capítulo de seu notável
livro o assunto é abordado. Conclui ela: “Os que vierem depois de mim talvez venham a
sofrer quanto eu tenho sofrido pela ignorância das leis de Deus. Quando o mundo fôr mais
sábio do que no passado, é possível que os que tomarem as tarefas na nova geração não
tenham que lutar, como lutei, contra o fanatismo estreito e os julgamentos duros dos
adversários.”
Cada um dos médiuns focalizados neste capítulo teve um ou mais livros dedicados à sua
carreira. No caso de William Eglinton há um notável volume — Twist Two Worlds por J.
E. Farmer (9),
que encerra quase tôda a sua atividade. Quando rapazinho, era muito imaginoso, sonhador e
sensitivo mas, como tantos outros grandes médiuns na adolescência, não deu sinais de
possuir qualquer dom psíquico. Em 1874, portanto aos dezessete anos de idade, Eglinton
entrou no grupo da família em cujo meio seu pai investigava os supostos fenômenos
espíritas. Até então o grupo não havia obtido resultados; quando, porém, o rapaz a êle se
ligou, a mesa ergueu-se ràpidamente do chão a ponto dos assistentes terem que se pôr de pé
a fim de manter as mãos sôbre ela. Para satisfação dos presentes as perguntas eram
respondidas. Na sessão seguinte, logo na noite imediata, o rapaz caiu em transe e foram
recebidas comunicações evidentes de sua falecida mãe. Em poucos meses sua mediunidade
se havia desenvolvido, e ocorriam manifestações mais fortes. Sua fama de médium
espalhou-se e êle recebeu numerosos convites para sessões, mas resistiu a todos os esforços
para o transformar em médium profissional. Finalmente cedeu em 1875.
Assim descreve Eglinton as suas sensações antes de entrar pela primeira vez na sala das
sessões e a mudança que nele se operou:
“Minhas maneiras, antes de entrar nisto, eram as de um rapaz alegre; mas assim que me vi
em presença dos investigadores, uma sensação estranha e misteriosa se apoderou de mim e
eu não a podia superar. Sentei-me à mesa, resolvido a impedir qualquer manifestação, caso
algo acontecesse. Êsse algo aconteceu mas eu não tinha fôrças para o evitar. A mesa
começou a dar sinais de vida e de vigor; subitamente ergueu-se do solo e pairou no ar, tanto
que tínhamos de ficar de pé para ter as mãos sôbre ela. Isto se deu em plena luz do gás.
Depois respondeu inteligentemente às perguntas que lhe eram feitas e deu várias provas às
pessoas presentes.
A noite seguinte nos encontrou ansiosos por novas manifestações e com um grupo maior,
pois a notícia se havia espalhado de que “tínhamos visto fantasmas e falado com êles”, e
outras coisas parecidas.
Depois de havermos lido a prece costumeira, em breve me pareceu que não era dêste
mundo. Veio-me uma sensação de êxtase e logo passei ao transe - Todos os meus amigos
eram novatos no assunto e procuraram vários meios de me despertar, mas sem resultado.
No fim de meia hora voltei ao estado consciente, sentindo um forte desejo de voltar àquele
estado. Tivemos comunicações que, em minha opinião, provaram conclusivamente que o
Espírito de minha mãe realmente tinha voltado ao nosso meio... Então comecei a verificar
quanto estivera enganado — quão terrivelmente vazia e material tinha sido a minha vida até
então e senti um prazer inacreditável em saber, sem sombra de dúvida, que aquêles que
deixaram a Terra poderiam voltar novamente e provar a imortalidade da alma. Na quietude
de nosso grupo familiar... gozamos ao máximo a nossa comunicação com os trespassados e
muitas foram as horas felizes que assim passei.”
Sob dois aspectos, os seus trabalhos se assemelham aos de D. D. Home. Suas sessões
geralmente eram feitas em plena luz e êle sempre se submetia de boa mente aos testes
propostos. Posteriormente, um forte ponto de semelhança se estabeleceu: é que os
fenômenos eram observados e registrados por muitos homens eminentes e por boas
testemunhas críticas.
Como Home, Eglinton viajou muito e sua mediunidade foi observada em muitos lugares.
Em 1878 viajou para a África do Sul. No ano seguinte visitou a Suécia, a Dinamarca e a
Alemanha. Em fevereiro de 1880 foi à Universidade de Cambridge e realizou sessões sob
os auspícios da Sociedade de Psicologia. Em março viajou para a Holanda, de onde seguiu
para Leipzig, onde realizou sessões com o Professor Zõllner e outros ligados à
Universidade. Seguiram-se Dresden e Praga, e em Viena, em abril, foram realizadas mais
de trinta sessões, assistidas por muitos membros da aristocracia. Em Viena foi hóspede do
Barão de Hellenbach, conhecido escritor, que, em sua obra “Preconceitos da Humanidade”
descreveu os fenômenos então verificados. Voltando à Inglaterra viajou para os Estados
Unidos a 12 de fevereiro de 1881, demorando-se então três meses. Em novembro do
mesmo ano foi à Índia e, depois de realizar numerosas sessões em Calcutá, regressou em
abril de 1882. Em 1883 visitou novamente Paris, e em 1885 estêve ainda em Viena e em
Paris. A seguir foi a Veneza, que descreve como um “verdadeiro viveiro do Espiritism o.”
Em 1885 Eglinton encontrou em Paris M. Tissot o famoso artista que assistiu às suas
sessões e a seguir o visitou na Inglaterra. Uma notável sessão de materialização, em que
duas figuras foram vistas completamente, uma das quais, uma senhora, reconhecida como
uma parenta, foi imortalizada por Tissot numa tela intitulada “Aparição Medianímica”.
Esse belo e artístico trabalho de que há uma cópia na Aliança Espírita de Londres, mostra
as duas figuras iluminadas por luzes espirituais, que carregam nas mãos. Tissot também fêz
uma água-forte do médium, que é reproduzida no frontispício de livro de Farmer, “Entre
Dois Mundos”.
Um exemplo típico de sua iniciação mediúnica é dado por Miss Kingsbury e pelo Doutor
Carter Blake, Docente de Anatomia no Westminster Hospital, nestes têrmos (10).
“As mangas do casaco de Mr. Eglinton tinham sido costuradas às suas costas, perto dos
punhos, com um cordão branco de algodão; os encarregados dêsse trabalho o amarraram
depois à cadeira, passando a fita perto do pescoço e o colocaram junto a cortina da cabine e
por detrás desta, defrontando a assistência, tendo os joelhos e os pés à vista. Uma mesinha
redonda com vários objetos foi posta em frente ao médium, fora da cabine e à vista dos
assistentes; um pequeno instrumento de cordas, conhecido como Oxford Chimes (11),
foi pôsto emborcado sôbre as suas pernas, sôbre êle um livro e sôbre êste uma campainha.
Em poucos momentos as cordas foram tocadas, sem que mão alguma visível as tocasse; o
livro, cuja lombada se voltava para os assistentes foi invertido, aberto e fechado repetidas
vêzes, de modo que os presentes viram a experiência com tôda segurança; e a campainha
foi tocada de dentro, isto é, sem serem levantadas as suas bordas. A caixa de música
colocada perto da cortina, mas inteiramente à vista, foi parada e depois dada a marcha,
enquanto a tampa continuava fechada; de vez em quando dedos e, algumas vêzes mãos se
introduziam pelas cortinas. Depois que uma destas apareceu, pediram ao Capitão Rolleston
que passasse o braço pela cortina e verificasse se a amarração e a costura estavam como de
início. Êle verificou que estavam e o mesmo testemunho foi dado por outro cavalheiro,
pouco depois.”
Esta foi uma, de uma série de sessões excepcionais, realizadas sob os auspícios da British
National Association of Spiritualists, em sua sede em Londres, 38 Great Russel Street.
Referindo-se a elas diz lhe Spiritualist (12).
“O ensaio de manifestações por Mr. Eglinton tem grande valor, não porque outros médiuns
não possam, igualmente, obter resultados conclusivos, mas porque em seu caso tinham sido
observadas e controladas por um bom número de testemunhas críticas, cujo depoimento
pesará diante do público”.
A princípio as materializações de Eglinton eram obtidas àluz da Lua, enquanto os presentes
se sentavam a uma mesa e não havia cabine. Também o médium ficava, em geral,
consciente. Foi induzido a fazer sessões no escuro, a fim de obter manifestações, por um
amigo que havia assistido a sessões de um médium profissional. Tendo começado assim,
sentia-se obrigado a continuar, mas verificou que os resultados alcançados eram menos
espirituais. Uma característica dessas sessões de materialização era o fato de sentar-se entre
os presentes e de serem as suas mãos seguradas. Nessas condições, materializações
completas foram vistas à luz apenas suficiente para o reconhecimento das aparições.
Em janeiro de 1877 Eglinton fêz uma série de sessões não profissionais, em casa de Mrs.
Macdougall Gregory, viúva do Professor Gregory, de Edimburgo, perto do Park Lane.
Foram assistidas por Sir Patrick e Lady Colquhoun, Lord Borthwick, Lady Jenkinson,
Reverendo Maurice Davies, D.D., Lady Archibald Camphell, Sir William Fairfax, Lord e
Lady Mount-Temple, General Brewster, Sir Garnet e lady Wolseley, Lord e Lady
Avonmore, Professor Blackie e muitos outros. Mr. W. Harrison, redator de The Spiritualist
(13)
no qual, depois de transcrever descrições feitas por outros, relativas a mais de quarenta
sessões para escrita na ardósia com êsse médium, diz: “Para mim, agora não hesito em
atribuir tais realizações a truques hóbeis”.
Ela não tinha qualquer experiência pessoal com Eglinton, mas baseou a sua opinião na
impossibilidade de manter uma observação contínua durante as manifestações. Pelas
colunas de Light (15)
17. “Médium and Daybreak”, 1878, páginas 698-730. The Spiritualist. 1879, Volume
14º, páginas 83, 135.
que em casa de Mr. Owen Harries, onde Eglinton fazia uma sessão, havia descoberto no
sobretudo do médium pedaços de musselina e uma barba, que correspondiam a pedaços e
cabelos cortados de supostas formas materializadas. Mrs. Sidgwick em seu artigo no
SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH Journal, reproduziu as acusações do
Arquidiácono Colley, e Eglinton, em sua resposta geral a ela, se limita a uma negação
simples, fazendo notar que ela se achava ausente na África do Sul, quando as acusações
foram publicadas e que não as viu senão anos depois.
Discutindo o incidente, diz Light num artigo de fundo, que as acusações em questão foram
minuciosamente investigadas pelo Conselho da British National Association of Spiritualists
e abandonadas, sob o fundamento de que o Conselho não podia de modo algum obter
provas diretas dos acusadores. E assim continua (18).
o finado Serjeant Cox registra o seguinte incidente, ocorrido com Stainton Moses:
“Têrça-feira, 2 de junho de 1873, um amigo pessoal, cavalheiro de alta posição social,
formado em Oxford, veio à minha residência em Russel Square, vestir-se para um jantar a
que tínhamos sido convidados. Êle havia demonstrado antes notável fôrça psíquica. Como
tínhamos meia hora de espera, fomos à sala de jantar. Eram exatamente seis horas e, aliás,
estava claro. Eu abria cartas e êle lia The Times. Minha mesa de jantar é de mogno, muito
pesada, antiga, e tem um metro e oitenta por dois e setenta. Está sôbre um tapête turco, o
que aumenta a dificuldade de a mover. Uma tentativa mais tarde mostrou que os esforços
combinados de dois homens fortes apenas a moviam uma polegada. Estava sem toalha e a
luz caía em cheio sôbre ela. Ninguém se achava na sala, exceto eu e meu amigo.
Subitamente, enquanto estávamos sentados, ocorreram batidas altas e freqüentes sôbre a
mesa. Meu amigo estava sentado e segurava o jornal com ambas as mãos, tendo um braço
apoiado na mesa e o outro no espaldar da cadeira; sentava-se de lado, de modo que as
pernas e os pés não se achavam debaixo da mesa, mas de lado. Então a mesa estremeceu,
como se estivesse com sezões; depois oscilou para um lado e para o outro tão
violentamente, quase deslocando as pesadas colunas, em número de oito, que lhe serviam
de pernas. Em seguida, moveu-se para a frente cêrca de três polegadas. Olhei para baixo
dela, para me assegurar de que não era tocada; mas ainda se moveu e continuaram as
batidas no seu tampo.
Êsse súbito acesso de tal fôrça, àquela hora e naquele lugar, sem ninguém mais, além de
mim e de meu amigo, e sem qualquer idéia de a invocar, causou-nos a maior admiração.
Meu amigo disse que jamais lhe acontecera algo no gênero. Então sugeri que talvez fôsse
uma rara oportunidade, com tamanha fôrça em ação, para fazer uma tentativa de
movimento sem contacto, quando a presença de apenas duas pessoas, a luz do dia, o lugar,
o tamanho e o pêso da mesa tornavam a experiência de suma importância. Em
conseqüência ficamos de pé, êle de um lado da mesa, eu, do outro. Estávamos afastados
dela cêrca de sessenta centímetros e mantínhamos as mãos cêrca de vinte centímetros acima
dela. Em um minuto ela se abalou violentamente; depois moveu-se sôbre o tapête a uma
distância de uns dezoito centímetros. Depois levantou-se cêrca de sete centímetros, do lado
em que se achava o meu amigo; a seguir ergueu-se igualmente do meu lado. Finalmente,
meu amigo baixou a mão até dez centímetros acima da ponta da mesa, e pediu que ela se
erguesse e tocasse em sua mão. Assim se fêz. E então, conforme o pedido, ela se ergueu até
a minha mão, que do outro lado se achava à mesma altura e da mesma maneira.
Em Douglas, na Ilha de Man, num domingo de agôsto de 1872, foi feita notável exibição de
fôrça de um Espírito. Os fatos descritos por Stainton Moses são confirmados pelo Doutor
Speer e sua senhora, em cuja residência ocorreram os fenômenos, que duraram desde o
almôço até às dez da noite. Batidas acompanhavam o médium para onde quer que êle fosse,
até mesmo na igreja e o Doutor Speer e a senhora as ouviam quando sentados em seus
lugares. Ao regressar da igreja, Stainton Moses verificou em seu quarto que os objetos
tinham sido tirados da penteadeira para a cama, onde tinham sido dispostos em forma de
cruz. Foi avisar o Doutor Speer, para que testemunhasse o que tinha acontecido e ao voltar
ao quarto verificou que o seu cabeção, que tinha tirado poucos instantes antes, havia sido
colocado, na sua ausência, em redor do tôpo da cruz. Ele e o Doutor Speer trancaram a
porta do quarto e desceram para o lanche, mas durante a refeição batidas fortes se
produziram e a pesada mesa de jantar foi movida três ou quatro vêzes. Num exame
posterior no quarto acharam que dois outros objetos tirados das gavetas tinham sido
adicionados à cruz, O quarto foi trancado novamente e em três visitas subseqüentes novos
objetos tinham ampliado a cruz. Disseram-nos que, na primeira ocasião, em casa não estava
ninguém que fôsse capaz de fazer tais brincadeiras e que depois precauções adequadas
haviam sido tomadas para evitar essas coisas.
Assim Mrs. Speer descreveu a série de acontecimentos:
“Enquanto estávamos na igreja foram ouvidas pancadas por todos os membros do grupo,
em diversas partes do banco onde estávamos sentados, De volta Mr. S. M. encontrou em
sua cama três coisas tiradas de sua penteadeira e colocadas sôbre a sua cama em forma de
cruz. Chamou o Doutor S. ao seu quarto, para que visse o que havia acontecido em sua
ausencia. O Doutor S. ouviu batidas fortes no pé da cama. Então trancou a porta, meteu a
chave no bôlso e deixou o quarto vazio por algum tempo. Fomos jantar e, durante a
refeição, a grande mesa de jantar, cheia de cristais, porcelanas, etc., moveu-se várias vêzes,
trepidou e deu batidas. Parecia cheia de vida e movimento.
Batidas acompanharam o hino que nossa filhinha estava cantando, e batidas inteligentes
acompanhavam a nossa conversa. Várias visitas foram feitas ao quarto fechado e de cada
vez verificávamos que algo tinha sido adicionado à cruz. O Doutor S. tomou a chave, abriu
a porta e saiu por último. Finalmente tudo cessou. A cruz foi colocada abaixo do centro da
cama; todos os objetos de uso tinham sido tirados da valise do nosso amigo. Cada vez que
iam os ao quarto ouviam-se as batidas. Em nossa última visita foi lembrado deixar uMa
fôlha de papel e um lápis na cama e, quando voltamos novamente, encontramos as iniciais
de três amigos de Mr. S. M., todos mortos, e desconhecidos de quem quer que fôsse na
casa, exceto ele próprio. A cruz era perfeitamente simétrica e tinha sido feita num quarto
fechado, onde ninguém poderia ter entrado e era, realmente, uma notável manifestação da
fôrça do Espírito”.
Um desenho mostrando os vários objetos de toucador e sua disposição é dado à página 72
do livro de Arthur Lillie “Modern Mystics and Modern Magic” (20).
Stainton Moses contribuiu para a formação da Society for Psychical Research em 1882,
mas se demitiu em 1886, desgostoso com a maneira por que foi tratado o médium William
Eglinton. Foi o primeiro presidente da London Spiritualist Alliance, formada em 1884,
posição que ocupou até à morte.
Além das obras “Spirit Identity” (1879) ; “Higer Aspects of Spiritualism” (1880) ;
“Psycography” 2ª ed. (1882) ; e “Spirit Teachings” (1883) (22),
22. “identidade dos Espíritos” (1879); “Aspectos mais elevados do Espiritismo” (1880);
“Psicografia” (2ª ed. 1882); e “Ensinos Espiritistas” 1883. — N. do T.
contribuiu freqüentemente para a imprensa espírita, bem como para o Saturday Review,
para o Punch e vários outros jornais de valor.
Um magistral resumo de sua mediunidade foi escrito por Mr.
F. W. H. Myers (23)
23. Volume 9º, páginas 245 e 353 e Volume 11º, páginas 24 e 113.
e publicado pela Society for Psychical Research. Na notícia de sua morte disse Mr. Myers:
“Eu pessoalmente considero a sua vida como uma das mais notáveis de nossa geração e de
poucos homens ouvi, em primeira mão, fatos mais notáveis do que os que dêle ouvi.”
Os vários médiuns referidos neste capítulo — pode dizer-se — cobrem diversos tipos de
mediunidade, predominantes durante êsse período. Mas houve muitos que foram quase tão
conhecidos quanto os aqui citados. Assim, Mrs. Marshall trouxe ensinamentos a muitos;
Mrs. Gupáginasy mostrou poderes que, em certas direções, jamais haviam sido atingidos;
Mrs. Everitt, uma amadora, continuou por tôda a sua vida, que foi longa, a ser um centro de
energia psíquica; e Mrs. Mellon, tanto na Inglaterra quanto na Austrália, foi extraordinária
em materializações e em fenômenos físicos.
17
A Sociedade de Pesquisas Psíquicas
Essas vassouradas na Sociedade são feitas por uma crítica amiga. Vejamos como os
Espíritas contemporâneos viam as suas atividades. Para começar, logo no início, já em
1883, encontramos — justamente um ano depois de fundada — um correspondente a
escrever à Light, perguntando: “Qual a diferença entre a “Sociedade de Pesquisas
Psíquicas” e a “Associação Central dos Espíritas?” E quer saber se existe algum
antagonismo entre as duas organizações. A resposta foi dada num artigo de fundo (2),
do qual fazemos êste extrato. Com o nosso retrospecto de quarenta anos, é êle de interêsse
histórico:
“Os Espíritas não podem duvidar qual será o objetivo —não podem duvidar de que, com o
tempo, a Sociedade de Pesquisas Psíquicas dará provas tão claras e insofismáveis de
clarividência, de escrita mediúnica, de aparições de Espíritos e de várias formas de
fenômenos físicos do mesmo modo que vitoriosamente as deu de transmissão de
pensamento.
Há, porém, uma clara linha de separação entre a Sociedade de Pesquisas Psíquicas e a
Associação Central dos Espíritas. Os Espíritas têm uma fé estabelecida — ainda mais, um
certo conhecimento — em relação aos fatos, a respeito dos quais a Sociedade de Pesquisas
Psíquicas ainda não pode confessar possuir qualquer conhecimento. A Sociedade de
Pesquisas Psíquicas está preocupada apenas com os fenômenos, buscando provas de sua
realidade... Para êles, a idéia da comunicação dos Espíritos, de uma suave conversa com os
mortos queridos — tão preciosas para os Espíritas, não apresenta interêsse atual. Falamos
dêles, como uma Sociedade — e não como membros individuais. Como Sociedade estão
estudando ossos e músculos: ainda não chegaram ao coração e a alma”.
Continuando, o articulista dá um mergulho no futuro, embora não pudesse ver quando a
prova iria ser feita:
“Como Sociedade, ainda não se podem dizer espíritas. Como Sociedade, e à medida que as
provas se acumularem, provavelmente êles se dirão, primeiro, “Espíritos sem Espíritos”;
por fim — exatamente como os outros Espíritos, com o acréscimo de satisfação de, ao
chegar a essa posição, terem feito bem cada etapa de seu caminho, á medida que
avançavam e, por sua conduta cautelosa, terem induzido muitas criaturas nobres e lúcidas a
palmilhar o mesmo caminho.”
Em conclusão, o correspondente é informado de que não há antagonismo entre as duas
Sociedades e de que os Espíritas confiam que a Sociedade de Pesquisas Psíquicas esteja
fazendo um trabalho muito útil.
O extrato é instrutivo, pois mostra os delicados sentimentos do principal órgão dos
Espíritas para com a nova sociedade. A profecia que o acompanha, entretanto, está longe de
se realizar. Numa exagerada aspiração pelo que era considerado uma atitude científica
imparcial, um pequeno grupo dentro da sociedade continuou, durante muitos anos, a manter
uma posição, senão de hostilidade, ao menos de negação da realidade das manifestações
físicas observadas com médiuns particulares. Ela não sopesou a importância do testemunho
que viria de homens fidedignos, cujos títulos e cuja experiência os tornou dignos de crédito.
Assim que a Sociedade de Pesquisas Psíquicas passou a considerar êsse testemunho ou,
mais raramente, a conduzir ela própria as investigações, ou foram feitas abertamente
acusações de fraude contra os médiuns, ou foi admitido que os resultados deveriam ter sido
obtidos por outros meios que não os supranormais sugeridos. Assim, temos Mrs. Sidgwick,
que é um dos piores ofensores a êsse respeito, dizendo de uma sessão com Mrs. Jencken
(Kate Fox), realizada em plena luz, que foi julgada bastante para se lerem impressos, e na
qual foi obtida a escrita direta numa fôlha de papel fornecida pelos assistentes e colocada
debaixo da mesa, escreveu: “Pensamos que Mrs. Jencken deve ter escrito com o pé. De
Henry Slade disse: “A impressão que tenho, depois de dez sessões com o Doutor Slade... é
que os fenômenos são produzidos por truques”. Da escrita na lousa, por William Eglinton,
escreveu:
Por mim não hesito em atribuir as realizações a finas mágicas”. Uma senhora médium, filha
de conhecido professor, descreveu ao autor como era impossível e, na verdade, como era
inconscientemente insultuosa, a atitude de Mrs. Sidgwick em tais ocasiões.
Muitas outras citações do mesmo tipo poderiam ser dadas em relação a outros médiuns
famosos. Mr. Sidgwick contribuiu com um trabalho intitulado “Mr. Eglinton”, publicado no
Jornal, órgão da Sociedade, em 1886, e que provocou uma tempestade de críticas acerbas e
um suplemento especial de Light, dedicado a cartas de protesto. Num comentário editorial,
da pena de Mr. Stainton Moses, êste jornal, que antes havia mostrado uma simpatia igual à
novel sociedade, assim se expressa:
“A Sociedade de Pesquisas Psíquicas em mais de um aspecto colocou-se numa posição
falsa e quando sua atenção era chamada para o fato permitiu-se considerá-lo fraudulento.
Na verdade, a história secreta da “Pesquisa Psíquica” na Inglaterra, se fôr escrita, provará
uma descrição muito instrutiva e sugestiva. Além disso — pesa-nos dizê-lo e o fazemos
com inteiro senso de gravidade de nossas palavras — até onde toca a discussão livre e
completa, sua política tem sido obstrucionista... Nestas circunstâncias, pois, cabe à
Sociedade de Pesquisas Psíquicas decidir se o atrito atualmente existente será aumentado
ou se um “modus vivendi” entre ela e a Sociedade Espírita poderá ser estabelecido.
Nenhuma desaprovação oficial foi feita do ponto de vista da sociedade. Entretanto êste
seria o primeiro passo.
A situação aqui indicada no quarto ano de vida da sociedade continuou com pequenas
alterações até agora. Podemos vê-la bem descrita por Sir Oliver Lodge (3),
que diz da Sociedade, embora não concordando com o que se diz: “Ela tem sido chamada
de sociedade para a supressão dos fatos, para a imputação geral de impostura, para o
desencorajamento dos sensitivos e para o repúdio de tôda revelação daquela espécie que
desce das regiões da luz e do conhecimento sôbre a humanidade”.
Uma das primeiras atividades públicas da SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH foi a
viagem à Índia de seu representante Doutor Richard Hodgson, com o fito de investigar os
supostos milagres que se davam em Adyar, quartel general de Madame Blavatsky, que
havia desempenhado papel tão preeminente na ressurreição da antiga sabedoria do Oriente,
sistematizando-a sob o nome de Teosofia, num sistema filosófico inteligível e aceitável
pelo Ocidente. Não é aqui o lugar para discutir o caráter misto dessa notável senhora: basta
dizer que o Doutor Hodgson formou opinião absolutamente contrária a ela e aos seus
supostos milagres. Por algum tempo parecia que essa conclusão era definitiva; mas,
posteriormente, certas razões forçaram a sua reconsideração, de que temos o melhor resumo
na defesa feita pela Senhora Besant (4).
4. “H. PÁGINA Blavatsky and the Masters of Wisdom” (Theosophical Publishing House).
disse:
“Nos últimos dias deu-se um pequeno fato que, segundo pensam alguns, reclama algumas
palavras minhas. Como muitos sabem, nossos amigos da Sociedade de Pesquisas Psíquicas
— ou alguns dêles — passaram para o nosso lado. Isto não quer dizer que aderiram à
Aliança Espírita de Londres — quero dizer que alguns se riam e zombavam de nós há
alguns anos, agora se dizem adesos ao nosso credo, isto é, aderentes à hipótese ou teoria de
que o homem continua a viver depois da morte e que, sob certas condições, lhe é possível
comunicar-se com os que aqui ficaram.
Bem, agora tenho uma dolorosa recordação dos primeiros tempos da Sociedade de
Pesquisas Psíquicas. Felizmente, ou infelizmente, fui membro do seu primeiro Conselho,
em companhia do nosso saudoso amigo W. Stainton Moses. Reuníamo-nos e ficávamos
tristes pela maneira com que o Conselho da Sociedade de Pesquisas Psíquicas recebia
qualquer sugestão relativa à possibilidade de demonstrar a continuação da existência do
homem após a chamada morte. O resultado foi que, não podendo sofrer isto por mais
tempo, Mr. Stainton Moses e eu resignamos os nossos cargos no Conselho. Entretanto o
tempo exerceu a sua vingança. Naquela época os nossos amigos se diziam ansiosos por
descobrir a verdade; mas esperavam e esperavam ansiosamente — que a verdade fôsse que
o Espiritismo era uma fraude...
Passaram, felizmente, aquêle tempo e aquela atitude; agora podemos considerar a
Sociedade de Pesquisas Psíquicas como uma excelente amiga. Ela se pôs ao trabalho
assídua e intensamente e provou a nossa tese — se e que provas eram necessárias — à
sociedade. Em primeiro lugar temos o nosso amigo Mr. F. W. H. Myers, cuja memória
todos veneramos, e não esquecemos que Mr. Myers declarou plenamente que havia
chegado à conclusão de que a hipótese espírita era a única admissível para explicar os
fenômenos que havia testemunhado. Depois vem o Doutor Hodgson. Todos quantos
conhecem o assunto de longa data se lembram quanto êle perseguia tenazmente os que
professavam o Espiritismo. Era um autêntico Saulo a perseguir os cristãos. E êle próprio,
por fôrça da investigação dos fenômenos que se davam em presença de Mrs. Leonora Piper,
veio para o nosso lado e, honestamente, destemerosamente, declarou-se convertido à
hipótese espírita. E agora, nestes últimos dias, tivemos um notável volume de autoria do
Professor Hyslop, da Universidade de Colúmbia, New York, publicado pela Sociedade de
Pesquisas Psíquicas — um livro de 650 páginas, que mostra que, também êle, um Vice-
Presidente da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, está convencido de que a hipótese espírita
é a única capaz de explicar os fenômenos de que foi testemunha. Todos estão rindo; e eu
estou começando a ter esperanças em nosso bom amigo Mr. Podmore”.
Da nossa posição privilegiada dêstes últimos vinte anos singulares, vemos que o vaticínio
era muito otimista. Mas o trabalho de Mrs. Piper está acima de contestação.
O Professor James tomou contacto com Mrs. Piper em 1885, ao saber da visita de um seu
parente, que obtivera resultados muito interessantes. Conquanto fôsse antes céptico,
resolveu-se a investigar diretamente. Conseguiu bom número de mensagens probantes. Por
exemplo, sua sogra havia perdido seu talão de cheques, mas o Doutor Phinuit, guia de Mrs.
Piper, a quem haviam pedido que ajudasse a encontrá-Lo, disse onde estava e a informação
estava certa. Em outra ocasião êsse guia disse ao Professor James: “Sua filha tem um rapaz,
chamado Robert F., como companheiro em nosso mundo”. Os Fs. eram primos de Mrs.
James e viviam em outra cidade. O professor James contou a sua senhora que o Doutor
Phinuit tinha cometido um engano quanto ao sexo da criança morta dos Fs, pois havia dito
que era um rapaz. Mas o Professor James estava enganado: a criança era um rapaz e a
informação dada estava certa. Aqui, pois, não podia ser uma questão de leitura do
pensamento dos assistentes. Muitos outros exemplos de comunicações verídicas podiam ser
aduzidos. O Professor James descreve Mrs. Piper como uma criatura absolutamente simples
e honesta e diz de sua investigação: “O resultado é fazer-me sentir, tão absolutamente certo
quanto estou de qualquer fato pessoal no mundo, que em seus transes ela sabe de coisas que
não seria possível ter ouvido quando desperta.”
Depois da morte do Doutor Richard Hodgson, em 1905, o Professor Hyslop obteve, por
intermédio de Mrs. Piper, uma série de comunicações probantes, que o convenceram de que
realmente se achava em contacto com seu amigo e companheiro de trabalho. Por exemplo,
Hodgson lhe lembrou um médium particular, a respeito de cujos dons os dois homens
haviam discordado. Disse que o tinha visitado e acrescentou: “Achei as coisas melhor do
que pensava”. Falou de um ensaio com água corada, que êle e Hyslop tinham usado para
experimentar um médium a quinhentas milhas de Boston, e acêrca do qual Mrs. Piper nada
sabia. Houve também referência a uma discussão que êle tinha tido com Uyslop a respeito
de certo manuscrito de um dos livros de Hyslop. O céptico poderá objetar que êsses fatos
estavam dentro do conhecimento do Professor Hyslop, de quem Mrs. Piper os teria obtido
por meio da telepatia. Mas, acompanhando as comunicações, havia muitas provas de
peculiaridades pessoais do Doutor Hodgson, que foram reconhecidas pelo Professor
Hyslop.
A fim de permitir que o leitor julgue a consistência de algumas das provas dadas por
intermédio de Mrs. Piper, sob a ação do guia Phinuit, citamos o seguinte caso (6).
que tornaram a sua mente receptiva e simpática até que as provas finais lhe vieram durante
a Grande Guerra.
Pelham preferia escrever pela mão de Mrs. Piper. E não era raro que enquanto Phinuit
falava, Pelham estivesse escrevendo. Pelham estabeleceu sua identidade encontrando trinta
velhos amigos, desconhecidos da médium; reconheceu-os a todos e a cada um se dirigiu no
tom costumeiro de quando era vivo. Nunca tomou um estranho por um amigo. É difícil
imaginar como a continuidade de identidade e o poder de comunicabilidade — duas coisas
essenciais no Espiritismo poderiam ser melhor estabelecidos do que em tais registros. É
instrutivo que o ato de se comunicar era muito agradável a Pelham. “Sinto-me feliz aqui, e
mais ainda desde que me posso comunicar com você. Lamento os que não podem falar.”
Por vêzes mostrava ignorância do passado. Comentando isto, diz M. Sage: “Se há um outro
mundo, os Espíritos não vão para lá a fim de ruminar o que aconteceu em nossa vida
incompleta: vão para serem arrastados no vórtice de uma atividade maior e mais alta. Se,
por vêzes se esquecem, não é de admirar. Não obstante, parece que esquecem menos do que
nós”. (8)
8. M. Sage “Mrs. Ptper and SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH, página 98.
É claro que se Pelham estabeleceu a sua identidade, tudo quanto nos possa dizer de sua
experiência atual no outro mundo é da mais alta importância. É aqui que o lado fenomênico
do Espiritismo dá lugar ao lado religioso, pois, que segurança dos mais veneráveis mestres,
ou dos escritos, pode dar-nos a mesma convicção que um relato de primeira mão, de
alguém que conhecemos e que vive atualmente a vida que descreve? Êste assunto é tratado
mais completamente em outro lugar. Assim, basta dizer aqui que a descrição de Pelham, de
um modo geral, é a mesma que tantas vêzes temos recebido, e que pinta uma vida de
evolução gradativa, que é a continuação da vida terrena e apresenta, de muito, os mesmos
aspectos, pôsto que, em geral, de forma mais agradável. Não é uma vida de mero prazer e
de preguiça egoística, mas uma vida na qual tôdas as nossas faculdades pessoais têm um
imenso campo de ação.
Em 1898, James Hervey Hyslop, Professor de Lógica e Êtica na Universidade de Colúmbia,
substituiu o Doutor Hodgson como chefe experimentador. Começando na mesma posição
de cepticismo, aos poucos foi levado pelas próprias experiências à mesma conclusão.
É impossível ler os seus relatórios, publicados em vários livros e, também, no Volume 16º
dos “Proceedings” da SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH sem sentir que talvez êle
não suportasse a evidência. Seu pai e muitos parentes voltaram e mantiveram palestras que
estavam muito acima da alternativa de personalidade secundária ou de telepatia. Ele não
discute o obscuro em sua conversação, mas diz: “Estive conversando com meu pai, meu
irmão, meus tios” e quem quer que leia a sua descrição será forçado a concordar com êle.
Como essa Sociedade pode ter tais provas em seus próprios “Proceedings” e ainda, até onde
a maioria de seu Conselho é responsável, continuar não convertida ao ponto de vista
Espírita, é um mistério. Isto apenas pode ser explicado pelo fato de haver um tipo de mente
egocêntrica e limitada - embora possivelmente aguda — que absolutamente não recebe
impressões do que acontece aos outros e, ainda, é constituída de tal modo que é o último
tipo de mente a convencer-se por si mesma, devido ao seu efeito sôbre o material de que
depende a prova. Nisto está a razão por que de outro modo seria inexplicável.
As lembranças do velho Hyslop não eram muito minuciosas nem muito definitivas
para alcançar o seu filho. Muitos fatos haviam sido esquecidos e alguns jamais tinham
chegado ao conhecimento dêste. Dois vidros em sua escrivaninha, seu canivete castanho,
sua caneta com pena de pato, o nome de seu piquira, seu boné prêto a gente pode considerar
estas coisas triviais, mas elas são essenciais à comprovação da personalidade. Êle tinha sido
membro ativo de uma pequena seita. Apenas nisto parece que havia mudado. “A ortodoxía
nada tem com isto. Eu podia ter mudado de idéia em muitas coisas, se as tivesse
conhecido.”
É interessante notar que quando, em sua décima sexta sessão, o Professor Hyslop adotou os
métodos dos Espíritas, conversando livremente e sem testes, obteve uma corroboração mais
efetiva do que nas quinze sessões em que havia tomado precauções. O fato confirma a
observação de que quanto menor o constrangimento em tais entrevistas, mais positivos são
os resultados, e que o pesquisador meticuloso muitas vêzes estraga a própria sessão. Hyslop
registrou que em 205 incidentes mencionados nessas conversas foi-lhe possível verificar a
exatidão de nada menos que 152.
Talvez a mais interessante e dramática conversação jamais obtida através de Mrs. Piper seja
a que se deu entre seus dois investigadores, após a morte de Richard Hodgson, em 1905.
Temos aqui dois cérebros de primeira classe — Hodgson e Hyslop — um “morto” e o outro
na plenitude de suas faculdades, mantendo uma palestra no seu nível habitual, pela bôca e
pela mão dessa mulher meio deseducada e em transe. É uma situação maravilhosa e quase
que inconcebível que êle, que durante tanto tempo estivera estudando o Espírito através
dessa mulher, deveria agora ser o Espírito que usasse a mesma mulher e, por seu turno,
fôsse examinado por seu velho colega. O episódio merece um estudo cuidadoso (9).
10. SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH Proceedings, Volume 21º, página 375.
o que não é o caso, pois centenas de casos contrários podem ser citados — o seguinte:
“O ponto fraco de todos os casos bem autenticados de aparente telepatia dos mortos é, aliás,
que êles podem ser explicados pela telepatia entre os vivos.
E acrescenta:
“Nessas correspondências cruzadas, entretanto, encontramos, aparentemente, telepatia
referente ao presente — isto é, as informações correspondentes são mais ou menos
contemporâneas e sôbre fatos do presente que, de qualquer modo, são desconhecidos de
qualquer pessoa viva, desde que a significação e a passagem da mensagem muitas vêzes
não é compreendida para cada médium automático até que a solução seja encontrada
quando se juntam os dois escritos.”
O estudioso que tomar a peito o imenso trabalho de examinar cuidadosamente essas
mensagens — que se estendem por centenas de páginas — talvez se satisfaça com a prova
apresentada.
Mas, na verdade, verificamos que muitos pesquisadores de psiquismo, experimentados e
capazes, as consideram insuficientes. Eis algumas opiniões a respeito.
Diz Richet: (11)
12. SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH Proceedings, Volume 25º, página 54.
18
Ectoplasma
DESDE os primeiros dias, os Espírítas têm sustentado que há uma base física material
para os fenômenos. Na incipiente literatura espírita encontram-se centenas de vêzes as
descrições de um denso vapor semiluminoso, que flui do lado ou da bôca do médium e é
fracamente visível no escuro. Tinham ido mais longe: observaram como êsse vapor às
vêzes se solidifica numa substância plástica, de que são feitas as várias estruturas na sala da
sessão.
Uma observação científica mais rigorosa apenas confirmou o que êsses pioneiros
haviam verificado.
Para citar alguns exemplos: o Juiz Peterson declara que em 1877 viu com o médium
W. Lawrence “uma nuvem floculenta”, que parecia sair do lado do médium e que,
gradativamente, formava um corpo sólido (1).
Também fala de uma figura surgindo de “uma bola de luz”. James Curtis viu com Slade, na
Austrália, em 1878, “uma como que nuvem de vapor branco-acinzentado” se formando e
aumentando, antes do aparecimento de uma figura inteiramente materializada. Alfred
Russel Wallace descreve ter visto com o Doutor Monck, primeiro “uma mancha branca”
que gradativamente se transformou numa “coluna nevoenta”. Essa mesma expressão é
usada por Mr. Alfred Smedley, em relação a uma aparição com o médium Williams,
quando John King se manifestou; fala também de “uma nuvem fracamente iluminada”.
Com o médium D. D. Home, Sir William Crookes viu “uma nuvem luminosa”, que se
condensou numa mão perfeita. Mr. E. A. Brackett viu com a médium Helen Barry, em
1885, nos Estados Unidos, “uma pequena substância branca, como uma nuvem”, que se
expandiu até ficar com quatro a cinco pés de altura “quando de súbito dela saiu a forma
total, sólida, como uma sílfide, de Berthri” (2).
Mr. Edmund Dawson Rogers, descrevendo uma sessão com Eglinton, em 1885, diz ter
visto surgir do lado do médium “uma substância esbranquiçada e fumacenta”, que oscilava
e pulsava. Mr. Vincent Turvey, o conhecido sensitivo de Bournemouth, fala de uma
“substância vermelha, viscosa”, (3),
saindo do médium. Um particular interêsse é ligado a uma descrição dada pela maravilhosa
médium de materializações, Madame d’Esperance, que diz: “Parecia-me sentir que fios
muito finos me saíam pelos poros da pele.” (4).
Isto tem um importante contacto com as pesquisas do Doutor Crawford e suas observações
sôbre os “bastões psíquicos” e a matéria como esporos. Também encontramos em The
Spiritualist que, quando o Espírito materializado de Katie King se manifestava através de
Miss Florence Cook era ligado à médium por meio de fios nevoentos e fracamente
luminosos”. (5)
Para contrabalançar essas referências abreviadas, vamos dar em detalhe três experiências da
formação de ectoplasma. Um dos assistentes do grupo de Madame d’Esperance, deu a
seguinte descrição:
“Primeiro foi observada no chão, em frente à cabine, uma mancha como uma fita nevoenta
e esbranquiçada. Aumentou gradualmente, estendendo-se visivelmente como se fôsse uma
mancha animada de musselina, jazendo camada sôbre camada no chão, até se estender por
cêrca de três pés e com uma profundidade de algumas polegadas — talvez seis ou mais.
Então começou a se erguer lentamente, mais ou menos ao centro, como se uma cabeça
estivesse por baixo, ao passo que a fita nevoenta no chão começou a parecer mais com
musselina caindo em dobras junto da porção que se erguia misteriosamente. Depois atingiu
dois pés ou um pouco mais e parecia que uma criança estava debaixo dela, movendo os
braços em tôdas as direções, como se por baixo estivesse manipulando alguma coisa.
Continuava a se erguer, por vêzes mergulhando um pouco para novamente se erguer mais,
até atingir uma altura de cinco pés, quando sua forma pôde ser vista como se arranjando as
dobras do panejamento em redor de sua forma. Então os braços se ergueram
consideravelmente acima da cabeça e se abriram através de uma massa nebulosa de um
panejamento espiritual, e Yolanda se apresentou desvelada, graciosa e bela, com cêrca de
cinco pés de altura, com uma espécie de turbante na cabeça, do qual caíam sôbre os ombros
e as costas seus longos cabelos negros... O excesso de panejamento esbranquiçado se
compôs em redor dela ou projetou-se no tapête, até ser utilizado novamente. Tudo isto se
realizou em cerca de quinze minutos”. (6)
Diz que na sessão exclusiva de Mr. Eglinton, havia catorze pessoas presentes, tôdas bem
conhecidas e que havia luz suficiente para permitir que o escrevente do relatório
“observasse bem a todos e a tudo na sala” e quando a “forma” ficou à sua frente êle era
“perfeitamente capaz de notar todos os detalhes”. Em estado de transe Mr. Eglinton
passeou pela sala, entre os assistentes, durante cinco minutos, e então...
“Começou delicadamente a tirar de seu lado e a atirar em ângulo reto uma substância
fumacenta e esbranquiçada, que caía á sua esquerda. A massa de matéria branca no chão ia
aumentando de largura, começou a pulsar e a se mover para cima e para baixo, oscilando
para um lado e para o outro, como se a fôrça motora estivesse por baixo. A massa cresceu
até três pés de altura e logo depois a forma cresceu ràpidamente, silenciosa-mente até a
plena estatura. Por um rápido movimento das mãos Mr. Eglinton separou o material branco
que cobria a cabeça da forma e aquêle caiu para trás, sôbre os ombros, tornando parte da
indumentária do visitante, O laço de ligação — o fio esbranquiçado que saía do lado do
médium — foi cortado ou se tornou invisível, e a forma avançou para Mr. Everitt, deu-lhe
um apêrto de mão e correu todo o círculo, tratando cada um da mesma maneira”.
Isto aconteceu em Londres, em 1885.
A última descrição é de uma sessão em Argel, em 1905, com Eva C., então conhecida como
Marthe Béraud. Assim descreve Madame 10º (8):
“Marthe estava só na cabine, nessa ocasião. Depois de esperar cerca de vinte minutos, ela
mesma abriu completamente a cortina e sentou-se em sua cadeira. Quase imediatamente —
estando Marthe bem à vista dos assistentes, suas mãos, a cabeça e o corpo bem visíveis —
vimos uma coisa branca, de aparência disforme, se formando junto a ela. A princípio
parecia uma grande mancha nevoenta perto do cotovelo direito de Marthe e parecia ligada a
seu corpo. Era muito móvel e crescia rapidamente para cima e para baixo, assumindo
finalmente uma aparência de certo modo amorfa de uma coluna nevoenta, que ia desde
cêrca de dois pés acima da cabeça de Marthe até os seus pés. Não me era possível distinguir
nem as mãos nem a cabeça; o que eu via era semelhante a nuvens brancas e floculentas, de
brilho variável, que se iam condensando gradualmente, e se concentrando como que em
redor de um corpo para mim invisível”.
Eis um relato que se pode comparar de modo maravilhoso com os que foram citados, de
sessões realizadas há muitos anos.
Quando examinamos as descrições do aparecimento de ectoplasma em grupos espíritas há
quarenta ou cinqüenta anos, e as comparamos com o que ocorre em nossos dias, vemos
como os primeiros resultados eram mais ricos. Os métodos não científicos estavam em
voga, conforme o ponto de vista de muitos modernos investigadores do psiquismo.
Contudo, os primeiros investigadores pelo menos observaram uma regra de ouro. Cercavam
o médium de uma atmosfera de amor e simpatia. Discutindo as primeiras manifestações
ocorridas na Inglaterra, diz The Spiritualist, num artigo de fundo (9):
“A influência do estado espiritual dos observadores encontra uma expressão ótica nas
sessões de materializações. A gente mundana e suspeitosa consegue as manifestações mais
fracas; então os Espíritos por vêzes têm apenas uma expressão, como de costume, quando a
fôrça é pouca.
Isto é síngularmente exato como descrição de muitos rostos em sessões com Eva C.
A gente espírita, em cuja presença os médiuns se sentem muito felizes, vêm muito mais e
melhores manifestações... Con quanto os fenômenos espíritas sejam regidos por leis fixas,
aquelas leis funcionam de certa maneira na prática que, inquestionàvelmente, o Espiritismo
assume mais o caráter de uma relação especial para gente escolhida”.
Mr. E. A. Brackett, autor daquele notável livro que é“Materialized Apáginasaritions” (10),
exprime a mesma verdade por outras palavras. Aliás o seu ponto de vista excita a ironia dos
chamados círculos científicos, mas encerra uma verdade profunda. É antes o espírito de
suas palavras do que a sua significação literal que êle quer exprimir:
“A chave que abre as portas de uma outra vida é pura afeição, simples e confiada como
aquela que leva a criança a atirar os braços em redor do pescoço de sua mãe. Para aquêles
que se prezam acima de seu alcance espiritual, isto pode parecer uma submissão àquilo a
que chamam faculdades mais altas. Neste caso posso dizer verdadeiramente que enquanto
adotei essa atitude, sinceramente ou sem reservas, nada aprendi a respeito dessas coisas.
Em vez de obumbrar a minha razão e o meu raciocínio, isso abriu a minha mente a uma
percepção mais clara e mais inteligente do que ocorria à minha frente. Êsse espírito de
delicadeza, de bondade amorosa que, mais do que qualquer outra coisa, coroa de eterna
beleza os ensinos do Cristo, deveria encontrar completa expressão em nosso contacto com
aqueles seres.”
Se alguém, ao ler esta passagem, pensasse que o autor era um pobre maluco fanático, sôbre
o qual qualquer médium desonesto pudesse impor-se fàcilmente, um relance sôbre o seu
excelente livro provaria o contrário imediatamente.
Além disso o seu método deu resultados. Estava êle lutando com a dúvida e a perplexidade
quando, a um terno conselho de um Espírito materializado, decidiu pôr de lado tôda a
reserva “e saudar essas formas como queridos amigos mortos, que tinham vindo de longe e
tinham lutado para chegar a mim”. A mudança foi instantânea.
“Desde aquêle instante as formas, ás quais parecia faltar vitalidade, tornaram-se animadas
de uma fôrça maravilhosa. Êles avançaram para me cumprimentar; braços delicados me
enlaçaram; formas que tinham sido quase mudas durante a minha investigação agora
falavam livremente; rostos que tinham revestido mais o aspecto de máscara, do que de vida
real, agora irradiavam, beleza. Aquilo que se dizia minha sobrinha... cumulou-me de
demonstrações de carinho. Lançando os braços em redor de mim e debruçando a cabeça
sôbre o meu ombro, olhou para cima e disse: “Agora podemos vir tão perto do senhor!”
Foi uma pena que Eva C. não tivesse tido uma oportunidade de exibir seus dons numa
atmosfera amorosa, numa sessão a velha moda espírita. É muito provável que o resultado
tivesse sido muito diverso quanto às materializações. Como prova disso, Madame Bisson,
numa íntima sessão particular com ela, obteve maravilhosos resultados, jamais alcançados
através dos métodos desconfiados dos investigadores científicos.
O primeiro médium de materializações que se pode dizer que tenha sido investigado com
cuidados científicos foi essa môça Eva, ou Eva C., como é geralmente chamada, pois seu
nome era Carriere. Em 1903 foi examinada numa série de sessões em Villa Carmen, em
Argel, pelo Professor Charles Richet; e foi a sua observação dêsse material esbranquiçado,
que parecia sair do médium, que o levou a cunhar o vocábulo “ectoplasma”. Eva tinha
então dezenove anos e estava no auge de suas fôrças, que foram gradativamente minadas
por longos anos de investigação sob constrangimento. Tentaram pôr em dúvida os
resultados constatados por Charles Richet, pretendendo que as figuras materializadas eram,
na verdade, um disfarce doméstico; mas a resposta final foi que as experiências tinham sido
realizadas a portas fechadas e que semelhantes resultados tinham sido obtidos muitas vêzes.
É uma justiça poética pensar que o Professor Richet tenha sido submetido a essa crítica
deselegante e deprimente, porque em seu grande livro “Trinta Anos de Pesquisas
Psíquicas”, é êle ainda mais deselegante para com os médiuns, acreditando em cada história
para seu descrédito e agindo continuamente de acôrdo com o princípio de que ser acusado é
o mesmo que ser condenado.
Em seu primeiro relatório, publicado em “Anais da Ciência Psíquica”, Richet descreve
minuciosamente a aparência com o médium Eva C., da forma materializada de um homem
que dizia chamar-se “Bien Boa”. Diz o Professor que essa forma possuía todos os atributos
de vida. “Anda, fala, move-se e respira como um ser humano. O corpo é resistente e tem
uma certa fôrça muscular. Nem é uma figura de gesso, nem uma boneca ou uma imagem
refletida num espelho; é um ser vivo; é um homem vivo; e há razões para resolutamente pôr
de lado qualquer outra suposição que uma ou outra dessas hipóteses — de que seja um
fantasma com atributos de vida; ou de que seja uma pessoa viva, fazendo o papel de um
fantasma”. (11)
Ele discute minuciosamente as suas razões para afastar a possibilidade de ser um caso de
desdobramento da personalidade.
Descrevendo o desaparecimento da forma, diz êle:
“Bien Boa procura, segundo me parece, vir ao nosso meio, mas anda coxeando e hesitante.
Não poderia dizer se êle anda ou desliza. Em certa ocasião escorrega e quase cai, mancando
como se a perna não pudesse suportá-lo. (Dou a minha própria impressão). Então se
encaminha para a abertura da cortina e subitamente mergulha, desaparecendo no chão; ao
mesmo tempo ouve-se um “clac! clac!” como o ruido de um corpo atirado no chão.”
Enquanto isto acontecia, a médium era vista perfeitamente na cabine por um outro
assistente, Gabriel Delanne, editor da Revue du Spiritisme.
Continua Richet:
“Pouco tempo depois, — dois ou três minutos — bem aos pés do General, à abertura da
cortina, vemos novamente a mesma bola branca — a sua cabeça? — no chão. Sobe rápida-
mente, quase vertical, atinge a altura de um homem, então de súbito cai no chão, com o
mesmo barulho de “clac! clac!” de um corpo que cai no chão. O General sentiu o choque
dos membros que, caindo, bateram violentamente em suas pernas.
O súbito aparecimento e desaparecimento parecia tanto uma ação através de uma porta
falsa que no dia seguinte Richet fêz minuciosa observação nos ladrilhos do piso, bem como
no teto da garage que ficava embaixo, mas não encontrou o mais leve indício de uma porta
falsa. Para afastar os rumores de sua existência obteve posteriormente um certificado do
arquiteto.
O interêsse dêsses registros das primeiras manifestações aumentou pelo fato de que, ao
tempo, a médium obtinha materializações completas, enquanto posteriormente, em Paris,
estas eram extremamente raras em suas sessões.
Uma curiosa experiência com Bien Boa foi tentar que êle soprasse num frasco contendo
uma solução de barita, para ver se a respiração mostrava óxido de carbono. Com
dificuldade a forma fêz o que lhe pediam e o líquido mostrou a reação esperada. Durante
essa experiencia as formas da médium e de uma nativa que se sentava com ela na cabine
foram vistas claramente.
Richet registra um incidente divertido durante essa experiência. Quando a solução de barita
se tornou branca, os assistentes gritaram “Bravo! “, com o que a forma de Bien Boa
apareceu três vêzes à abertura da cortina, curvou-se como um ator no teatro, ao ser
chamado a cena.
Richet e Delanne tomaram muitas fotografias de Bien Boa, as quais são descritas por Sir
Oliver Lodge como as melhores que êle tinha visto no gênero. Uma particularidade
interessante a êsse respeito é que um braço da médium se apresenta achatado, indicando um
processo de desmaterialização tão bem observado com outra médium, Madame
d’Esperance. Richet observa com muita finura (12)
“Não receio dizer que o vazio da manga, longe de demonstrar a presença de uma fraude, ao
contrário estabelece que não houve fraude; também que isto parece depor em favor de uma
espécie de desagregação material da médium, que ela própria era incapaz de suspeitar.”
Em seu último livro, já referido, Richet publica pela primeira vez a história de uma
esplêndida materialização a que êle próprio assistiu em Villa Carmen.
“Quase no mesmo momento em que as cortinas foram baixadas, foram reabertas e entre
elas apareceu o rosto de uma mulher jovem e bonita, com uma espécie de fita dourada ou
diadema, cobrindo seu bonito cabelo e o alto da cabeça. Ria gostosamente e parecia muito
satisfeita; ainda me recordo perfeitamente de seu riso e das pérolas que eram os seus dentes.
Apareceu duas ou três vêzes, mostrando a cabeça e escondendo-a, como uma criança
brincando de esconde-esconde”.
Pediram-lhe que trouxesse uma tesoura no dia seguinte, quando lhe permitiriam cortar uma
mecha de cabelos dessa rainha egípcia, como era ela chamada. E assim aconteceu.
“A rainha egípcia voltou mas só mostrou a coroa de sua cabeça com cabelos muito bonitos
e abundantes; estava ansiosa por saber se eu tinha trazido a tesoura. Então tomei uma mão-
cheia de seus longos cabelos, mas dificilmente lhe podia ver o rosto, que ela escondia por
detrás da cortina. Quando eu ia cortar uma longa mecha, uma mão firme, por detrás da
cortina, baixou a minha, de modo que apenas cortei uma ponta de quinze centímetros. Mas
como eu demorasse para fazer isso, ela disse em voz baixa: “Depressa, depressa!” e
desapareceu. Eu havia tomado a mécha; o cabelo é muito fino, sedoso e vivo, O exame
microscópico mostrou que era cabelo autêntico; e me informam que um postiço daqueles
custaria uns mil francos. O cabelo de Marthe é muito escuro e ela os corta bem curtos”.
(13)
Cabe aqui uma referência àquilo a que o Professor Richet denomina “histórias de jornais
ignóbeis”, de uma suposta confissão de fraude pela médium e ainda a informação de um
cocheiro árabe, empregado pelo General Noel, que teria representado o papel de Espírito
em Vila Carmen. Em relação a êste último, a verdade é que jamais foi êle admitido na sala
das sessões; e quanto a ela, negou públicamente a acusação. Observa Richet que, ainda
quando verdadeira a acusação, os pesquisadores psíquicos estavam advertidos do valor que
deviam emprestar a tais revelações, que apenas mostram a instabilidade dos médiuns.
Assim resume Richet:
As materializações produzidas por Marthe Béraud têm a mais alta importância.
Apresentaram numerosos fatos que ilustrem o processo geral das materializações, e
forneceram à ciência metapsíquica dados inteiramente novos e imprevistos.”
Eis o seu raciocinado julgamento final.
A primeira investigação sistemática e prolongada do ectoplasma foi empreendida por uma
senhora francesa, Madame Bisson, viúva de Adolphe Bisson, conhecido homem público.
É possível que Madame Bisson venha a ocupar um lugar ao lado de sua compatriota
Madame Curie nos anais da ciência. Madame Bisson adquiriu considerável influência sôbre
Eva que, após as experiências de Argel, tinha sido vítima das costumeiras perseguições.
Tomou-a aos seus cuidados e proveu-a de tudo. Então começou uma série de experiências
que duraram cinco anos e que produziram resultados tão sólidos que no futuro, não uma
ciência, mas várias, marcarão daí a sua origem. Nessas experiências associou-se com o
Doutor Schrenck Notzing, um cientista alemão de Munique, cujo nome também será
imperecível, no que se relaciona com a original investigação do ectoplasma. Seus estudos
se realizaram entre 1908 e 1913 e se acham registrados em seu livro “Os Chamados
Fenômenos de Materialização” e em “Fenômenos de Materialização”, de Schrenck
Notzing, ambos em francês, e êste último vertido para o inglês.
Seu método consistia em fazer Eva C. mudar tôda a roupa, sob contrôle, e vestir uma
espécie de camisola sem botões, e fechada pelas costas. Apenas as mãos e os pés ficavam
livres. Assim era levada para a sala de experiências, onde não entrava senão nessa ocasião.
Numa das extremidades da sala havia um recanto fechado por cortinas, por detrás, pelos
lados e por cima, mas aberto pela frente. Isto era chamado a cabine e a sua finalidade era
concentrar os vapôres de ectoplasma.
Descrevendo os seus resultados conjugados, diz o cientista alemão: “Muitas vêzes fomos
capazes de verificar que, por um processo biológico desconhecido, vem do corpo da
médium um material, a princípio semifluído, que possui algumas das propriedades da
substância viva, principalmente a do poder de transformação, de movimento e de aquisição
de formas definidas”. E acrescenta: “Poderia duvidar-se da verdade desses fatos, se os
mesmos não tivessem sido verificados centenas de vêzes no curso de laboriosos ensaios sob
variadas e estritas condições”. Poderia haver, no que diz respeito a essa substância, mais
completa vingança para os Espíritas que, durante duas gerações suportaram o ridículo do
mundo? Schrenck Notzing termina o seu digno prefácio exortando os seus companheiros de
trabalho a tomarem coragem. “Não permitais o desencorajamento nos vossos esforços para
abrir um novo domínio à ciência, nem pelos ataques malucos, nem pelas calúnias covardes,
nem pela falsificação dos fatos, nem pela violência dos malévolos ou por qualquer espécie
de intimidação. Avançai sempre pelo caminho que abristes, tendo em mente aquelas
palavras de Faraday: “Nada é demasiado maravilhoso para ser verdadeiro.
Os resultados estão entre os mais notáveis de tôdas as investigações de que temos notícia.
Foi verificado por numerosas testemunhas competentes e confirmado por fotógrafos que da
bôca, dos ouvidos, do nariz, dos olhos e da pele dos médiuns fluía êsse extraordinário
material gelatinoso. As figuras são estranhas e repulsivas; mas muitos dos processos da
Natureza assim se apresentam aos nossos olhos. A gente pode ver essa coisa como
filamentos viscosos, como água de súbito congelada, pendente do queixo, caindo pelo
corpo, formando um avental branco ou se projetando sem forma pelos orifícios da face.
Quando tocada, ou quando uma luz inadequada a atinge, ela se recolhe tão ràpidamente e
tão maravilhosamente quanto os tentáculos de um polvo invisível. Se agarrada e apertada, o
médium gritará. Ela sai pelas roupas e some-se de novo, quase sem deixar traços. Com o
consentimento do médium foi cortada uma pequena porção. Dissolveu-se na caixa em que
foi colocada, como se fôsse neve, deixando umidade e algumas células que poderiam provir
de um fungo. O microscópio demonstrou células epiteliais da membrana mucosa, das quais
a coisa parecia originar-se.
A produção dêsse estranho ectoplasma basta, por si só, para tornar essas experiências
revolucionárias e marcantes de uma época, mas o que se segue é demasiado estranho e
responderá à pergunta que se ergue na mente do leitor: “Que tem tudo isso que ver com os
Espíritos?“ Por mais incrível que isto possa parecer, depois de se formar, essa substância
começa, nalguns médiuns — Eva entre êstes — a tomar formas definidas e essas formas
são membros humanos, são rostos, a princípio vistos em duas dimensões, mas depois se
modelando nos contornos até se tornarem destacados e completos. Muitíssimas fotografias
mostram esses estranhos fantasmas, por vêzes muito menores do que na vida real. Algumas
dessas faces talvez representem pensamentos — formas do cérebro de Eva, tornando-se
visíveis e uma clara semelhança foi notada entre algumas delas e retratos que ela deve ter
visto e cujos traços teria conservado na memória. Uma, por exemplo, parece um Presidente
Wilson muito janota, de bigodes, enquanto outra parece uma reprodução feroz de Mr.
Poincaré. Uma delas mostra a palavra “Miroir” (Espelho) impressa na cabeça da médium,
que alguns críticos pretendem que ela tivesse surrupiado do jornal daquele nome, a fim de o
exibir, muito embora não expliquem qual teria sido o objetivo. Sua própria explicação é
que, de algum modo os guias fizeram o transporte daquela legenda, possivelmente para
despertar a idéia de que aquêles rostos e aquelas figuras não são os seus sêres reais, mas
como se fôssem vistos através de um espelho.
Mesmo assim o leitor não descobre uma óbvia conexão com o Espiritismo; mas na etapa
seguinte todos vemos o caminho. Quando Eva se acha em sua melhor disposição — o que
só se verifica em longos intervalos e à custa de sua saúde — formam-se figuras completas;
estas são modeladas à semelhanças de pessoas mortas; o cordão que as liga à médium
parte-se; a personalidade que é ou pretende ser a de um morto toma posse da figura e um
sôpro de vida passa pela imagem de tal maneira que ela se move, fala e exprime as emoções
do Espírito. As últimas palavras de Mr. Bisson dizem isto: “Desde que se iniciaram estas
sessões — e em numerosas ocasiões — o fantasma se mostrou todo inteiro, saiu da cabine,
começou a falar e aproximou-se de Madame Bisson, que beijou no rosto, O som dêsse beijo
foi audível”.
Porventura já houve mais estranho desfecho de uma investigação científica? Ela pode
ilustrar como é impossível, mesmo para o mais esperto materialista, encontrar qualquer
explicação para tais fatos de acôrdo com as suas teorias. A única que Mr. Joseph Mc Cabe,
em seu recente debate público, pôde apresentar, foi a de um caso de vômitos dos alimentos.
Parece que êle não se apercebeu de que um véu cobria o rosto do médium nalgumas
experiências, sem obstar no mínimo o fluxo do ectoplasma.
Conquanto controlados de todos os modos possíveis, êsses resultados são tão
admiráveis que o investigador tinha o direito de manter o seu julgamento em suspenso até
que os mesmos fôssem confirmados. Mas isto já o foi inteiramente. O Doutor Schrenck
Notzing voltou a Munique e aí teve a grande sorte de encontrar outra médium, uma senhora
polonesa, que possuía a faculdade de materializações. Com ela fêz uma série de
experiências que relatou no já mencionado livro. Trabalhando com Stanislawa, a médium
polonesa, e adotando os mesmos rigorosos métodos que nas de Eva, conseguiu exatamente
os mesmos resultados.
Seu livro supera o de Madame Bisson, por isso que, relatando as experiências de Paris,
dá uma parte mais importante, que é a sua confirmação fornecida pelas experiências de
contrôle, feitas no verão de 1912, em Munique. As várias fotografias do ectoplasma
dificilmente se distinguem das já obtidas. Assim, a hipótese de uma fraude preparada por
Eva, conduz à mesma fraude por parte de Stanislawa. Muitos observadores alemães
controlaram essas sessões.
Seguindo os métodos alemães, Schrenck Notzing foi mais a fundo no assunto do que
Madame Bisson. Obteve cabelos de uma forma materializada e os comparou
microscôpicamente com os cabelos de Eva (ocorrência verificada na série de ensaios na
França) mostrando que não podiam ser da mesma pessoa. Também deu os resultados do
exame químico de uma certa porção de ectoplasma, que foi reduzida a cinzas, com o cheiro
de chifre queimado. Entre os seus elementos constituintes foram encontrados cloreto de
sódio (sal de cozinha) e fosfato de cálcio. Finalmente obteve a filmagem do ectoplasma
fluindo da bôca da médium. Parte de tudo isto é reproduzida em seu livro.
Deve explicar-se que, enquanto a médium estivesse em transe durante essas experiências,
de modo algum ficava inanimada: uma outra personalidade parecia empolgá-la, e que
poderia ser tomada como uma de suas individualidades secundárias, ou uma momentânea
obsessão externa. Essa personalidade costumava referir-se à médium com severidade,
dizendo a Madame Bisson que era preciso disciplina e que ela devia mantê-la em trabalho.
Ocasionalmente essa personalidade dava sinais de clarividência, explicando corretamente,
por exemplo, o que tinha ocorrido com um aparelho elétrico que havia deixado de
funcionar. Um contínuo acompanhamento de gemidos e protestos do corpo de Eva parece
que eram puramente animais e independentes de sua inteligência.
Os resultados foram corroborados uma vez mais pelo Doutor Gustave Geley, cujo nome
viverá para sempre nos anais das pesquisas psíquicas. O Doutor Geley era um pesquisador
geral em Annecy, onde cumpria as elevadas promessas que havia feito em sua vida
acadêmica em Lyon. Foi atraído pela ciência nascente e foi sàbiamente nomeado por Mr.
Jean Meyer diretor do Instituto de Metapsíquica. Seu trabalho e os seus métodos serão
sempre um exemplo para os continuadores, pois cedo mostrou que não só era um
experimentador genial e um observador rigoroso, como um profundo pensador e filósofo.
Seu grande livro “Do Inconsciente ao Consciente” certamente resistirá ao teste do tempo.
Foi assaltado pelos costumeiros mosquitos humanos, que aborrecem os primeiros pioneiros
que avançam pela floresta virgem do pensamento. Mas os enfrentou com bravura e bom
humor.
Sua morte foi súbita e trágica. Tinha estado em Varsóvia e conseguido algumas novas
moldagens ectoplásmicas com o médium Kluski. Infelizmente o aeroplano em que viajava
espatifou-se e Geley morreu. Foi uma perda irreparável para a ciência psíquica.
A comissão do Instituto de Metapsíquica, que era reconhecida pelo Govêrno Francês como
de utilidade pública, incluía o Professor Charles Richet; o Professor Santolíquido, ministro
da Saúde Pública da Itália; o Conde de Grammont, do Instituto de França; o Doutor
Calmette, Inspetor-Geral médico; o Senhor Camille Flammarion, o Senhor Jules Roche, ex-
ministro de Estado; o Doutor Treissier, do Hospital de Lyon; tendo o Doutor Gustave Geley
como diretor. Entre êstes posteriormente tinham sido incorporados a comissão: Sir Oliver
Lodge, o Professor Bozzano, e o Professor Leclainche, membro do Instituto de França e
Inspetor Geral dos Serviços Sanitários do Ministério da Agricultura. O Instituto está
equipado com um bom laboratório para pesquisas psíquicas e tem uma biblioteca, uma sala
de leitura, e salões de recepção e de conferências. Os trabalhos realizados são publicados na
sua revista, denominada La Revue Métapsychique.
Um aspecto importante da atividade do Instituto tem sido o convite a eminentes homens
públicos em ciência e em literatura para testemunharem as investigações metapsíquicas que
se realizam. Mais de cem dêstes homens têm tido provas em primeira mão e, em 1923,
trinta dêles, inclusive dezoito médicos de destaque, assinaram e permitiram que fôsse
publicada uma declaração de sua crença na autenticidade das manifestações assistidas sob
rigoroso contrôle.
Certa vez o Doutor Geley realizou uma série de sessões com Eva, convidando cem homens
de ciência para que testemunhassem uma ou outra sessão. Tão rigorosos eram os seus testes
que êle pôde proclamar: “Não direi apenas que não há fraudes. Direi que não há
possibilidade de fraudes”. Novamente percorreu o antigo caminho e obteve os mesmos
resultados, a não ser que em suas experiências o fantasma tomava formas femininas, por
vêzes belas e, como êle próprio garantiu ao autor, para êle desconhecidas. Podem ser
pensamentos-formas de Eva, pois em nenhum de seus resultados registados conseguiu um
Espírito absolutamente vívido. Havia, porém, o suficiente para que o Dr. Geley dissesse:
“Aquilo que vimos mata o materialismo. Já não há mais lugar para ele no mundo”.
Refere-se êle, assim, ao velho materialismo clássico do período vitoriano, para o qual o
pensamento era uma secreção da matéria. Tôdas as novas provas apontam a matéria como
uma resultante do pensamento. E’ sómente quando se pergunta de quem é o pensamento
que se cai num terreno de debate.
Depois de suas experiências com Eva, o Dr. Geley conseguiu resultados ainda mais
maravilhosos com Frank Kluski, um polonês, com o qual as formas ectoplásmicas eram tão
sólidas que era possível tirar moldagens de suas mãos em parafina. Essas luvas de parafina,
que são exibidas em Londres (14),
são tão pequenas no pulso que a mão não poderia passar pela abertura sem romper o molde.
Só poderia ter sido feita por desmaterialização — qualquer outro meio seria impossível.
Essas experiências foram dirigidas por Geley, Richet e o Conde de Graminont, três homens
competentíssimos. Uma descrição mais detalhada destas e de outras moldagens, tiradas de
figuras ectoplásmicas, se acha adiante, no Capítulo XX. São muito importantes, por serem
as mais permanentes e inegáveis provas, jamais obtidas dessas estruturas. Até agora
nenhuma crítica racional lhes foi feita.
Outro médium polonês, chamado Jean Guzik, foi examinado em Paris, no Instituto, pelo
Dr. Geley. As manifestações consistiam em luzes, mãos e rostos ectoplásmicos. Sob o mais
severo contrôle, trinta e quatro pessoas distintas de Paris, muitas das quais inteiramente
cépticas, afirmaram, depois de longa e minuciosa investigação, a sua crença na
autenticidade dos fenômenos observados com êsse médium. Entre elas se achavam
membros da Academia Francesa, da Academia de Ciências, da Academia de Medicina,
doutôres em medicina e em direito e técnicos de polícia.
O ectoplasma é a mais protéica das substâncias e pode manifestar-se de muitas maneiras e
com propriedades variadas. Isso foi demonstrado pelo Doutor W. J. Crawford, Professor de
Engenharia Mecânica na Queen’s University, de Belfast. Dirigiu uma importante série de
experiências de 1914 a 1920, com a médium Kathleen Goligher. Fêz o seu relato em três
livros, que são: “lhe Reality of Psychic Phenomena” (1917), “Experiments in Psychical
Science”, em 1910 e “lhe Psychic Structures at Lhe Goligher Circle” em 1921. (15)
O Doutor Crawford morreu em 1920, mas deixou um monumento imperecível nesses três
livros de original pesquisa experimental que, provavelmente, fizeram tanto para colocar a
ciência psíquica numa base sólida quanto quaisquer outros trabalhos no gênero.
Para entendermos completamente as conclusões a que chegou, seus livros devem ser lidos;
mas aqui diremos resumidamente que êle demonstrou que a levitação da mesa, as batidas
no chão e o movimento dos objetos na sala das sessões eram devidos à ação das “alavancas
psíquicas”, ou, conforme passou a designá-las em seu último livro, às “estruturas
psíquicas”, que emanavam do corpo da médium. Quando a mesa é levitada, essas alavancas
são operadas em dois sentidos. Se a mesa fôr leve, a alavanca ou estrutura não toca no solo,
mas é “um modilhão fixado firmemente no corpo da médium por uma extremidade e
suspendendo a superfície inferior ou as pernas da mesa, pela extremidade livre”. No caso de
uma mesa pesada, a reação, em vez de ser aplicada na médium, o é no piso da sala,
formando uma espécie de suporte entre a face inferior da mesa levitada e o piso. A médium
foi colocada numa balança e, quando a mesa era levitada, observava que ela aumentava de
pêso.
O Doutor Crawford apresenta esta interessante hipótese para o processo de formação
de ectoplasma no grupo. É preciso entender-se que o que êle chama “operadores” são os.
Espíritos que trabalham controlando os fenômenos.
“Os operadores atuam no cérebro dos assistentes e, pois, em seu sistema nervoso.
Pequenas partículas, mesmo moléculas, são expelidas do sistema nervoso dos corpos
dos assistentes, pelos punhos, pelas mãos, pelos dedos ou por outras partes. Essas pequenas
partículas, agora livres, têm uma enorme quantidade de fôrça latente, que lhes é inerente,
uma energia que pode reagir em qualquer sistema nervoso humano com o qual se ponham
em contacto. Essa corrente de partículas energizadas flui em tôrno do grupo, talvez pela
periferia de seus corpos. Pelo aumento gradativo produzido pelos assistentes, a corrente
alcança o médium num alto grau de tensão, energiza o médium, de quem recebe
incremento, atravessa novamente o círculo e assim por diante. Finalmente quando a tensão
é bastante grande, cessa o processo circulatório e as partículas energizadas se reúnem, ou
são ligadas ao sistema nervoso do médium, que então dispõe de um reservatório onde a
buscar. Tendo assim um bom suprimento de energia adequada ao seu dispor, como, por
exemplo, energia nervosa, podem atuar sôbre o corpo do médium, que é de tal modo
constituído que enorme quantidade de matéria de seu corpo, por meio da tensão nervosa
que lhe é aplicada, pode ser então destacada temporàriamente da sua posição normal e
projetada na sala da sessão.” (16)
Esta será, provàvelmente, a primeira tentativa de uma explicação clara do que ocorre numa
sessão de fenômenos físicos, e épossível que descreva com muita precisão aquilo que
realmente ocorre. No seguinte resumo o Doutor Crawford faz uma importante comparação
entre as primeiras e as últimas manifestações psíquicas e ainda enuncia uma audaciosa mas
compreensível teoria para todos os fenômenos psíquicos:
“Comparei aquela matéria esbranquiçada e semelhante a uma nuvem, quanto a estrutura,
com fotografias de fenômenos de materialização em vários estágios e obtidos com muitos
médiuns, diferentes em todo o mundo. Cheguei á conclusão de que êsse material é muito
semelhante, senão idêntico ao material usado em tais fenômenos de materializações.
De fato, não é fora de propósito considerar êsse material esbranquiçado, translúcido e
nebuloso como a base de todos os fenômenos psíquicos de ordem física. Sem êle, até certo
ponto não é possível qualquer fenômeno físico. É êle que dá consistência ás estruturas de
tôda sorte erigidas pelos operadores nas câmaras de sessões; é êle que, quando
convenientemente manipulado e aplicado, permite que as estruturas se ponham em contacto
com as formas ordinárias da matéria que nos são familiares, ainda que tais estruturas, sejam
semelhantes àquelas a que me refiro particularmente, ou quando sejam materializações de
formas corpóreas, como mãos ou rostos. Além disso, parece-me que essa matéria será,
eventualmente, a base de estruturas aparentemente construídas para a manifestação daquela
forma particular de fenômeno, conhecido como Voz Direta, enquanto que os fenômenos
ditos Fotografia de Espíritos também parecem ter a mesma base”. (17)
18. SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH Proceedings, volume 32º, páginas. 209
e 343.
Foi numa sessão com Eva C., sob a direção de Madame Bisson.
Naquela ocasião essa estranha e variável substância apareceu como um pedaço de matéria
de quinze centímetros, não muito diverso de um segmento de cordão umbilical, aderente às
roupas na região inferior do estômagosto Era visível em boa luz e o autor teve licença de o
examinar entre os dedos, quando lhe foi dada a impressão de substância viva, que se
encolhia e pulsava sob o toque. Nessa ocasião não havia a menor possibilidade de fraude.
É impossível contemplar os fatos conhecidos acêrca do ectoplasma sem ver como se
apresentam na fotografia psíquica. As figuras fotografadas junto a Eva, com a sua vaporosa
aparência de lã, são muitas vêzes absolutamente como as fotografias obtidas por Mr. Hope
e outros. A mais racional opinião parece ser que, uma vez formado, o ectoplasma pode ser
modelado pelo pensamento e que êsse pensamento, nos casos mais simples, será apenas a
mente inconsciente do médium. Por vêzes nós mesmos nos esquecemos de que somos
Espíritos e de que um Espírito num corpo possivelmente tem poderes semelhantes ao de um
Espírito fora do corpo. Nos casos mais complexos, e especialmente na fotografia psíquica, é
demasiadamente claro que não é o espírito da médium que está operando, mas sim, alguma
fôrça mais poderosa e propositada que intervém.
Pessoalmente o autor é de opinião que muitas formas diferentes de plasma, com atividades
diversas serão descobertas, tudo isto constituindo uma especial ciência no futuro, e que bem
pode ser chamada Plasmologia. Pensa êle também que todos os fenômenos psíquicos
externos ao médium, inclusive a clarividência, podem ser referidos a essa fonte.
Assim, o médium clarividente pode muito bem ser quem emite essa ou outra substância
análoga, que constrói em redor dêle uma atmosfera especial que possibilita que o Espírito
se manifeste àqueles que têm poder de recepção. Assim como ao passar pela atmosfera da
Terra um aerólito é visível por um momento entre duas eternidades de invisibilidade,
também pode ser que o Espírito, ao passar pela atmosfera psíquica do médium de
ectoplasma, pode por momentos indicar a sua presença. Tais especulações estão acima das
provas atuais, mas Tyndall mostrou como tais hipóteses exploratórias podem tornar-se
pontas de lança da verdade. A razão por que umas pessoas vêem um fantasma e outras não,
talvez seja porque algumas forneçam bastante ectoplasma para uma manifestação e outras
não, enquanto a sensação de frio, o tremor e o subseqüente desmaio, talvez sejam devidos
não a um simples terror, mas parcialmente a uma súbita descarga de elementos psíquicos.
De lado essas especulações, o sólido conhecimento do ectoplasma, que já foi adquirido, dá-
nos, finalmente, uma sólida base material para a pesquisa psíquica. Quando o Espírito desce
a matéria, necessita dessa base material, sem o que lhe é impossível impressionar os nossos
sentidos materiais. Já em 1891 Stainton Moses, pioneiro do psiquismo em seus dias, foi
forçado a dizer:
“Não sei mais nada, a res peito do método ou métodos pelos quais são produzidas as formas
materializadas, do que sabia quando as vi pela primeira vez”. Se ainda estivesse vivo,
dificilmente diria isso agora.
Êsse conhecimento novo e preciso teve a utilidade de nos dar uma explicação racional
daquelas batidas, que foram os primeiros fenômenos a chamar a atenção. Seria prematuro
dizer que elas só por uma maneira podem ser produzidas; mas, ao menos, pode dizer-se que
o seu processo usual de produção é o da extensão de uma alavanca de ectoplasma, que pode
ser visível ou não, e pela sua percussão nalgum objeto sólido. É provável que essas
alavancas sejam os condutores de fôrça e não fôrças prôpriamente ditas, do mesmo modo
que um fio de cobre pode levar uma descarga elétrica, que desintegra um navio de guerra.
Numa de suas admiráveis experiências, Crawford, verificando que as alavancas vinham do
peito da médium, molhou a sua blusa com um líquido carmesim e depois pediu que
batessem na parede fronteira. Então foi verificado que o muro estava com alguns pontos
vermelhos, pois a projeção ectoplásmica havia carregado consigo a tinta através, da qual
havia passado. Do mesmo modo, quando autênticas, as batidas na mesa parecem devidas a
uma acumulação de ectoplasma em sua superfície, retirada dos vários assistentes e depois
utilizada pela inteligência que preside. Crawford admitia que as projeções por vezes
deveriam possuir ventosas ou garras nas extremidades, de modo a mover ou levantar
objetos; e o autor, posteriormente, obteve várias fotografias dessas formações, que mostram
claramente que terminam com o tôpo plano, que se presta a tal objetivo.
Crawford deu grande importância à correspondência entre o pêso do ectoplasma emitido e a
perda de pêso do médium. Suas experiências parecem mostrar que todos são médiuns; que
cada um perde pêso numa sessão de materialização, e que o médium principal apenas difere
dos outros pela circunstância de poder desprender muito maior quantidade de ectoplasma.
Se perguntarmos por que um ser humano terá que ser diferente de outro a êsse respeito,
chegamos à eterna controvérsia do por que êste tem um ótimo ouvido para a música,
enquanto aquêle é uma negação. Devemos considerar êsses atributos pessoais. tais quais os
encontramos. Nas experiências de Crawford, habitualmente a médium perdia de 10 a 15
libras numa sessão — pêso que se restaurava assim que o ectoplasma era reabsorvido.
Numa ocasião foi registrada a enorme perda de cinqüenta e duas libras. Poder-se-ia pensar
que as balanças então estivessem descalibradas, se se não tivessem registrado perdas ainda
maiores, com outros médiuns, como foi o caso descrito nas experiências de Olcott com os
Eddys.
Há outras propriedades das projeções ectoplásmicas que deveriam ser notadas. Não só a luz
lhes é destrutiva, a menos que sejam gradativamente alimentadas e especialmente
preparadas com antecedência pelos guias, mas o efeito de um súbito jato de luz faz a
substância recuar para o médium, com á fôrça de um elástico. Isto não é absolutamente uma
alegação falsa, visando proteger o médium contra uma surprêsa: é um fato certo, que tem
sido verificado por muitos observadores. Qualquer esperteza com ectoplasma, a menos que
se tenha certeza de que haja fraude na sua produção, deve ser evitada, e agarrar à fôrça uma
trombeta ou qualquer outro objeto sustentado pelas alavancas ectoplásmicas é quase tão
perigoso quanto a sua exposição à luz. O autor se lembra de um caso onde um assistente
ignorante arrancou a trombeta, que flutuava no ar, a sua frente, dentro do círculo. Fê-lo em
silêncio; ninguém sofreu com isto senão o médium, que se queixou de dores e prostrou-se
durante alguns dias. Outro médium sentiu uma irritação superficial, do peito ao ombro,
causada pela retração da faixa ectoplásmica, quando um pretenso investigador acendeu uma
lanterna elétrica. Quando o ectoplasma se retrai sôbre uma superfície mucosa, pode
determinar uma forte hemorragia, como tem notícia o autor de numerosos casos
semelhantes. Num dêles, o de Susanna Harris, em Melbourne, a médium ficou de cama
uma semana depois de tal experiência.
É impossível, num simples capítulo de um trabalho que cobre tão vasto assunto, dar pontos
de vista minuciosos de uma seção dêsse assunto, que se pode desenvolver num volume.
Nosso conhecimento dessa substância enganadora, protéica, onímoda, aumenta de ano para
ano e pode profetizar-se que se a última geração se preocupou com o protoplasma, a futura
geração será aumentada com o seu equivalente psíquico que, assim o esperamos, reterá o
nome de ectoplasma, dado por Charles Richet, embora vários outros vocábulos, como
plasma, teleplasma e ideoplasma infelizmente tenham entrado em circulação.
Depois que êste capítulo foi escrito, novas demonstrações do ectoplasma foram realizadas
em diversas partes do mundo. A mais notável, entretanto, foi a de “Margery” ou de Mrs.
Crandon, de Boston, cujos dons foram tratados no livro de Mr. Malcolm Bird, que traz
aquêle nome.
19
Fotografia Espírita
Alfred Russel Wallace viu essas chapas mostradas por Mr. Slater, e escreve (2).
“O seu primeiro êxito consistiu em dois rostos obtidos ao lado do retrato de sua irmã.
Uma dessas cabeças, sem sombra de dúvida, é de Lord Brougham; a outra, muito menos
distinta, é reconhecida por Mr. Slater como a de Robert Owen, que êle conhecia
intimamente. até o momento de sua morte.”
Depois de descrever outras fotografias de Espíritos, obtidos por Mr. Slater, continua o
Doutor Wallace:
“Agora, se essas figuras estão ou não identificadas corretamente não é ponto essencial.
O fato de que algumas figuras, tão claras e indiscutivelmente humanas como essas,
aparecem em chapas batidas no estúdio particular de um óptico experimentado e fotógrafo
amador que fabrica os seus próprios aparelhos, e sem ninguém presente a não ser a sua
própria família, — constitui verdadeira maravilha. Num caso, um segundo rosto apareceu
numa chapa com êle, tomada por Mr. Slater quando se achava absolutamente só, pelo
simples processo de ocupar a cadeira de um assistente depois de preparada a máquina...
O próprio Mr. Slater mostrou-me tôdas essas fotografias e explicou as condições em que
foram obtidas. É certo que não se trata de uma impostura e como primeiras confirmações
independentes do que antes havia sido obtido por fotógrafos profissionais, seu valor é
inestimável”.
De Mumler, em 1861 a William Hope, em nossos dias, apareceram de vinte a trinta
médiuns reconhecidos para fotografia espírita que, ao todo, produziram centenas de
resultados supranormais, que chegaram a ser considerados “extras”. O mais conhecido
dêsses sensitivos, além de Hope e de Mrs. Deane, são Hudsou, Parkes, Willie, Buguet,
Boursnell e Duguid.
Mumler, que trabalhava como gravador numa das principais joalherias de Boston, não era
espírita nem fotógrafo profissional. Em horas de folga, quando tentava tirar fotografias de
si mesmo, no atelier de um amigo, obteve numa chapa o contôrno de uma outra figura. O
método que empregava era focalizar uma cadeira vazia e, depois de descobrir a objetiva,
alcançar a cadeira escolhida e aí ficar durante o tempo necessário à exposição. Nas costas
da fotografia Mr. Mumler tinha escrito:
“Esta fotografia foi feita por mim mesmo, de mim mesmo, num domingo, quando não
havia viva alma na sala — por assim dizer. A forma à minha direita reconheço como minha
prima, morta há doze anos. - W. H. MUMLER”
A forma é de uma mocinha, que aparece sentada na cadeira. A cadeira é vista com nitidez
através do corpo e dos braços, como também a mesa na qual ela apóia o braço. Abaixo do
peito, diz um relato contemporâneo, a forma (que parece usar um vestido decotado e sem
mangas) se desagrega num tênue vapor, como simples nuvens na parte inferior do retrato. É
interessante notar pormenores nessa primeira fotografia espírita, que se repetiram muitas
vêzes nas que foram obtidas posteriormente por outros operadores.
Logo correu a notícia do que havia acontecido a Mumler e êle foi assediado por pedidos de
sessões. A princípio recusou-se, mas finalmente concordou e quando, posteriormente,
outros extras” foram obtidos, e sua fama se espalhou, foi então compelido a abandonar o
seu negócio e a dedicar-se a êsse novo trabalho. Como, de um modo geral, as suas
experiências foram como as de todos os fotógrafos psíquicos que o sucederam, podemos
considerá-las rapidamente.
Investigadores particulares de boa reputação obtiveram retratos absolutamente
reconhecíveis de amigos e parentes e ficaram inteiramente satisfeitos porque os resultados
eram genuínos. Então vieram os fotógrafos profissionais, convencidos de que havia truques
e que se lhes dessem oportunidade de fazer experiências, sob suas próprias condições,
seriam capazes de descobrir como a coisa era feita. Vieram, um após outro, nalguns casos
com as suas próprias chapas, máquinas, reveladores e fixadores, mas depois de dirigirem e
fiscalizarem tôdas as operações, foram incapazes de descobrir qualquer truque. Mumler
também foi aos seus ateliers e lhes permitiu fazer todo o manejo bem como a revelação das
chapas, com os mesmos resultados. Andrew Jackson, que era então redator-chefe do Herald
of Progress, em New York, mandou um fotógrafo profissional, Mr. William Guay, fazer
uma investigação completa. Êste contou que, depois de lhe haver sido permitido o inteiro
contrôle de todo o processo fotográfico, apareceu na chapa o retrato do Espírito.
Experimentou com êsse médium em várias outras ocasiões e ficou convencido de sua
autenticidade.
Outro fotógrafo, Mr. Horace Weston, foi mandado a investigar por Mr. Black, famoso
fotógrafo retratista de Boston. Quando voltou, depois de haver obtido uma fotografia de
Espírito, disse que não tinha verificado coisa alguma nas operações que fôsse diferente dos
que se fazia no trabalho ordinário dos fotógrafos. Então Black foi em pessoa e fêz tôdas as
manipulações das chapas, bem como a sua revelação. Quando examinava a revelação de
uma delas, viu aparecer uma forma além da sua e, finalmente, viu que era um homem que
apoiava o braço sôbre o seu ombro e exclamou, entusiasmado: “Meu Deus! é possível?”
Mumler teve mais convites para sessões do que lhe era possível atender e os compromissos
eram marcados com semanas de antecedência. Vinham de tôdas as classes: ministros,
doutôres, advogados, juizes, prefeitos, professôres e homens de negócio eram contados
entre as pessoas interessadas. Um relatório extenso dos vários resultados positivos obtidos
por Mumler se encontra na imprensa da época (3).
Em 1863 Mumler, como tantos outros médiuns para fotografia espírita desde a sua época,
encontrou nas suas chapas “extras” de pessoas vivas. Seus maiores defensores foram
incapazes de aceitar esse novo e estranho fenômeno e, conquanto mantivessem a crença em
seus dons, ficaram convencidos de que êle recorria aos truques. Numa carta ao Banner of
Light, de Boston, de 20 de fevereiro de 1863, referindo-se a êsse novo desenvolvimento,
escreve o Doutor Gardner:
“Conquanto eu esteja inteiramente convencido de que, através de sua mediunidade, foram
tomados retratos de Espíritos, pelo menos em dois casos me foram dadas provas de fraude,
o que é perfeitamente conclusivo... Mr. Mumler, ou alguém em contato na sala de Mrs.
Stuart, é responsável pela trapaça contra as autênticas fotografias de Espíritos, substituidas
pelas de pessoas vivas desta cidade.”
O que tornou o caso ainda mais convincente para os acusadores foi o fato de o mesmo
“extra” de uma pessoa viva aparecer em duas chapas. Esta falcatrua ultrapassou as medidas
da opinião pública contra êle e em 1868 Mumler partiu para New York. Aí o seu negócio
prosperou durante algum tempo, até que foi prêso por ordem do prefeito de New York, a
pedido do repórter de um jornal, que havia recebido uma fotografia com um “extra”
irreconhecível. Depois de um processo moroso foi absolvido, sem mancha no seu caráter.
As provas dos fotógrafos profissionais, que não eram espíritas, eram fortemente favoráveis
a Mumler.
Assim testemunhou Mr. Jeremiah Gurney:
“Sou fotógrafo há vinte e oito anos; testemunhei os processos de Mumler; e, con quanto
tivesse ido preparado para examinar a coisa, nada achei que cheirasse a fraude ou truque...
A única coisa fora da nossa rotina foi o fato do operador manter a mão sôbre a máquina.”
Mumler, que morreu pobre em 1884, deixou uma narrativa interessante e convincente de
sua carreira, em seu livro “Personal Experiences of William H. Muinler in Spirit
Photography” (4)
6. “Miracles and Modern Spiritualism”. (Revised Edition 1901), páginas 196 e 197.
diz êle:
“Estive em três sessões, em tôdas escolhendo o meu próprio lugar. De cada vez uma
segunda figura apareceu no negativo comigo. A primeira era uma figura masculina, com
um punhal; a segunda era um corpo inteiro, aparentemente a alguns pés para o lado e por
trás de mim, olhando para baixo para mim e sustentando um ramo de flôres. Numa terceira
sessão, depois de me colocar e depois que a chapa fôra colocada na máquina, pedi que a
figura viesse para junto de mim. A terceira chapa mostrou uma figura feminina, de pé, junto
e em frente a mim, de modo que o panejamento cobriu a parte inferior de meu corpo.
Assisti à revelação de tôdas as chapas e em cada caso a figura “extra” começou a aparecer
no momento em que o revelador era despejado, enquanto o meu retrato só se tornava visível
cêrca de vinte segundos depois. Não reconheci nenhuma das figuras nos negativos; mas no
momento em que tirei as provas, ao primeiro relance a terceira chapa mostrou um
inconfundível retrato de minha mãe — como era, na atitude e na expressão; não aquela
semelhança de um retrato feito em vida, mas algo pensativa, uma semelhança ideal —
ainda assim, para mim, uma semelhança inconfundível”.
Conquanto indistinto, o segundo retrato foi reconhecido pelo Doutor Wallace como sendo
de sua mãe. O primeiro “extra” de um homem não foi reconhecido.
Mr. J. Traill Taylor, então redator do British Journal oJ photography, testemunhou (7)
que tinha obtido resultados supra-normais com êsse médium, usando as suas próprias
chapas “e que em nenhuma ocasião, durante a preparação, a exposição ou a revelação dos
retratos, Mr. Hudson se achava a menos de três metros da máquina ou da câmara escura -
Por certo isto deve ser aceito como prova.
Mr. F. M. Parkes, residente em Grove Road, Bow, no East End de Londres, era um médium
natural, que tinha visões verídicas desde a infância. Nada sabia de Espiritismo até 1871 e
no comêço do ano seguinte fêz experiências de fotografia com seu amigo, Doutor Reeves,
proprietário de um restaurante perto de King’s Cross. Tinha então trinta e nove anos de
idade. A princípio apenas marcas irregulares e manchas de luz apareciam nas chapas; mas
depois de três meses foi obtido um Espírito, logo reconhecido, estando presentes o Doutor
Sexton e o Doutor Clarke, de Edimburgo. O Doutor Sexton convidou Mr. Bowman, de
Glasgow, fotógrafo experimentado, o qual fêz um minucioso exame da máquina, da câmara
escura e do material usado. Feito isso, foi declarada impossível qualquer fraude da parte de
Parkes. Durante alguns anos êsse médium não recebeu remuneração por seus serviços. Mr.
Stainton Moses, que dedicou um capítulo a Mr. Parkes (8),
assim escreve:
“Folheando o álbum de Mr. Parkes, o mais notável ponto é a enorme variedade das figuras;
o seguinte é a dissemelhança entre todos êles e a forma convencional dos fantasmas.
Em cento e dez retratos que tenho diante dos olhos, começados em abril de 1872 e, com
ligeiros intervalos, obtidos até agora, não há dois parecidos — raramente dois apresentam
alguma semelhança entre si. Cada desenho é peculiar e tem no rosto uma individualidade
diferente”.
Afirma que um bom número dessas fotografias, foi identificado pelos assistentes.
Mr. Ed. Buguet, fotógrafo de Espíritos, era francês e visitou Londres em junho de 1874; em
seu estúdio, situado em Baker Street 33, houve muitas sessões notáveis. Mr. Harrison,
redator de The Spiritualist, fala de um teste empregado por êsse fotógrafo, que consistia em
quebrar um canto da chapa e ajustar o pedaço, depois que aquela era revelada. Mr. Stainton
Moses descreve Buguet como um homem magro e alto, de rosto inteligente e feições bem
marcadas, com abundante cabeleira negra. Diz-se que durante a exposição da chapa êle
ficava em semitranse. Os resultados psíquicos obtidos eram de mais alta qualidade artística
e de maior distinção que os obtidos por outros médiuns. Também uma grande percentagem
de Espíritos era reconhecida. Um curioso aspecto com Buguet era que de conseguia
numerosos retratos do “duplo” dos assistentes, tanto quanto de pessoas vivas mas não
presentes, aparecendo com êle no estúdio. Assim, enquanto se achava em Londres no
estado de transe, o retrato de Stainton Moses apareceu em Paris quando Mr. Gledstones
fazia uma experiência (9).
9. Human Natura, Volume 9º, página 97.
Em abril de 1875 Buguet foi prêso e acusado pelo govêrno francês de produzir fraudulentas
fotografias de Espíritos. Para salvar-se confessou que todos os resultados obtidos eram
truques. Foi condenado a pagar quinhentos francos de multa e a um ano de prisão. Durante
o processo um certo número de conhecidos homens públicos sustentaram a sua opinião
quanto à autenticidade dos “extras” que haviam obtido, a despeíto de se dizer que Buguet
havia usado comparsas para fingirem de Espíritos. A verdade sôbre fotografias espíritas não
pára aí: os que têm interêsse em ler tôda a história de sua prisão e seu processo (10)
10. The Spiritualist, Volumes 6º e 7º (1875) and Humau Nature, Volume 9º, página 334.
podem assim formar a própria opinião. Escrevendo depois do processo, diz Mr. Stainton
Moses: “Não só acredito — mas sei, tão certo como sei outras coisas, que algumas das
fotografias de Buguet eram autênticas”.
Entretanto diz Coates que Buguet era um tipo sem valor. Certamente a posição de um
homem que apenas pode provar que não é um patife pelo fato de haver feito uma falsa
confissão por mêdo é um tanto fraca. O caso para a fotografia espírita, sem êle, ficaria mais
valorizado. Quanto à sua confissão, foi ela arrancada criminosamente pelo Arcebispo da
Igreja Católica de Toulouse, numa ação contra a Revue Spirite, quando seu redator,
Leymarie, foi acusado e condenado. Disseram a Buguet que a sua salvação estava em
confessar.
Assim constrangido, fêz o que antes haviam feito tantas vítimas da Inquisição: uma
confissão forçada que, entretanto, não o salvou de doze meses de cadeia.
Richard Boursnell (1832-1900) ocupou uma posição preeminente no período médio da
história da fotografia espírita. Formava uma parceria com um fotógrafo profissional em
Fleet Street e dizem que tinha faculdades psíquicas e que eventualmente mãos e rostos
apareciam em suas chapas, já em 1851. Seu companheiro o acusou de não lavar
convenientemente as chapas, ao tempo do processo coloidal e, após uma discussão violenta,
Boursnell disse que não mais continuaria com êsse negócio. Só quarenta anos mais tarde é
que novamente apareceram figuras psíquicas e, então, com formas extras, em suas
fotografias, para seu desapontamento, porque prejudicaram o seu negócio e ocasionaram a
destruição de muitas chapas. Foi com muita dificuldade que Mr. W. F. Stead o persuadiu a
realizar algumas sessões. Nas suas próprias condições, Mr. Stead obteve repetidamente
aquilo que o velho fotógrafo chamava “retratos de sombras”. A princípio não eram
reconhecidas, mas, por fim, foram obtidas algumas bem identificadas. Mr. Stead forneceu
detalhes das precauções observadas no preparo das chapas, etc., mas diz que liga pouca
importância a estas, considerando que o aparecimento numa chapa de uma semelhança de
um parente desconhecido ou de um assistente desconhecido é um teste muito superior às
precauções que um mágico hábil ou um fotógrafo de truques pode ludibriar. E diz:
“De vez em quando eu enviava amigos a Mr. Boursnell, sem o informar quem eram êles,
nem lhes dizer coisa alguma acêrca da identidade de pessoas mortas parentas ou amigas dos
recomendados, cujo retrato queriam obter; e, ao revelar as chapas, os retratos apareciam,
por vezes atrás, outras vezes em frente ao interessado. Isso acontecia com tanta freqüência
que estou convencido de que qualquer fraude era impossível. Uma vez aconteceu que um
editor francês descobrisse o retrato de sua falecida espôsa num negativo que fôra revelado;
e ficou tão encantado que insistiu em beijar o velho fotógrafo, com o que o deixou muito
embaraçado. De outra feita foi um engenheiro do Lancashire, também fotógrafo, que
marcou as chapas e tomou outras precauções. Obteve retratos de dois parentes e um outro
de eminente personagem com quem havia mantido estreitas relações. Ainda de outra foi um
vizinho próximo que, indo como um desconhecido, obteve o retrato de sua filha morta”.
Em 1903 os espíritas de Londres presentearam êsse médium com uma bôlsa de ouro e um
documento assinado por mais de cem espíritas notáveis. Nessa ocasião as paredes das salas
da Sociedade de Psicologia, em George Street, Portman Square, estavam cobertas por
trezentas fotografias escolhidas de Espíritos, feitas por Boursnell.
Em relação à opinião de Mr. Stead quanto à “reconhecida semelhança”, declaram os
críticos que os assistentes muitas vêzes imaginam a semelhança, e que por vêzes dois
assistentes alegam que o mesmo extra” é o seu parente. Em resposta a isto deve dizer-se
que o Doutor Alfred Russel Wallace, por exemplo, deve ser o melhor juiz se a figura era ou
não parecida com sua mãe, O Doutor Cushman, de quem falaremos adiante, submeteu o
“extra” de sua filha Agnes a um certo número de parentes e amigos e todos estavam
convencidos da semelhança. Mas, fora de qualquer certeza quanto à semelhança, resta a
esmagadora prova de que essas fotografias supranormais realmente acontecem e, em
milhares de casos, foram identificadas.
Mr. Edward Wyllie, nascido em 1848 e falecido em 1911, tinha genuínos dons mediúnicos,
que foram verificados por inúmeros investigadores, qualificados. Nascera em Calcuttá, pois
o seu pai, Coronel Robert Wyllie, fôra secretário militar do Governador da Índia. Wyllie,
que servira como capitão na guerra Maori, na Nova Zelândia, depois fêz fotografias ali. Em
1886 foi para a Califórnia. Depois de algum tempo começaram a aparecer pontos luminosos
em seus negativos e como aumentavam sempre, ameaçavam destruir o seu negócio. Jamais
tinha ouvido falar de fotografia de Espíritos, até que uma senhora lhe sugeriu isto como
possível explicação. Experimentando com ela apareceram rostos nas chapas nos pontos
iluminados. Daí por diante êsses rostos apareciam com tanta freqüência com outros
assistentes que êle se viu obrigado a deixar o negócio comum e devotar-se à fotografia de
Espíritos. Mas então defrontou novas dificuldades. Foi acusado de obter fraudulentamente
êsses resultados e isso o feriu tanto que tentou ganhar a vida de outra maneira, mas sem
resultado. Teve que voltar àquêle trabalho como médium-fotógrafo, como era chamado. A
27 de novembro de 1900 uma comissão da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Pasadena
fêz uma investigação com êle em Los Angeles. Foram respondidas as seguintes perguntas
por Wyllie. Aqui as transcrevemos por serem de interêsse histórico.
Pergunta: — O Senhor anuncia ou promete fotografar rostos de Espíritos ou alguma coisa
parecida e fora do comum aos seus fregueses?
Resposta: — Absolutamente. Não garanto nem prometo coisa alguma. Não tenho contrôle
sôbre isto. Apenas cobro o meu tempo e o material, como podem ver pelo quadro que está
ali na parede. Cobro um dólar por sessão. E se a primeira não fôr satisfatória, faço uma
segunda tentativa sem mais despesas.
Pergunta: — Por vêzes deixa de obter algo de extraordinário?
Resposta: — Oh! sim, muitas vêzes. Sábado passado, trabalhando à noite, fiz cinco sessões
e nada obtive.
Pergunta: — Em que proporção são essas falhas?
Resposta: — Diria que num dia comum de trabalho a média éde três a quatro falhas — dias
mais, dias menos.
Pergunta: — Em que proporção avalia que os rostos “extras” que aparecem são
reconhecidos pelos assistentes ou por seus amigos?
Resposta: - Durante alguns meses do ano passado eu fazia um registro dêsse ponto e achei
que em cêrca de dois têrços um ou mais rostos extras eram reconhecidos. Às vêzes havia
apenas uma face extra; outras vêzes cinco ou seis, ou mesmo oito e eu não podia fazer um
registro delas, mas apenas do número total de sessões, como se vê em meu livro de notas.
Pergunta: — Quando uma sessão é feita o senhor conhece, como sensitivo, se há ou não
extras na chapa?
Resposta: — Às vêzes eu vejo luzes em volta do assistente e então tenho certeza de que
haverá algo para êle ou para ela; mas não sei exatamente o que será, assim como os
senhores não sabem. Não sei o que é enquanto não o vejo na chapa revelada, fixada e
examinada à luz.
Pergunta: — Quando um assistente deseja fortemente que um determinado amigo
desencarnado apareça na chapa é mais provável obter resultado?
Resposta: — Não. Um forte estado de tensão mental, ou de desejo,
quer seja de ansiedade ou de antagonismo, torna mais difícil para
o Espírito o emprêgo do magnetismo do assistente a fim de produzir a manifestação; de
modo que é menos provável que, então, apareça um extra na chapa. Uma condição
repousante, passiva e à vontade é mais favorável aos bons resultados.
Pergunta: — Os Espíritas conseguem melhores resultados que os descrentes?
Resposta: — Não. Alguns dos melhores resultados que jamais obtive ocorreram quando a
cadeira era ocupada por gente muito céptica.
Com essa comissão não foram obtidos os extras. Antes, em 1899, outra comissão havia
submetido o médium a testes rigorosos e quatro chapas em oito “mostraram resultados que
a comissão foi incapaz de explicar.” Depois de minucioso relato das precauções tomadas,
conclui o relatório:
“Como comissão não temos uma teoria: apenas testemunhamos “aquilo que sabemos”.
Individualmente discordamos quanto às causas prováveis, mas sem prevenção concordamos
no que respeita aos fatos prováveis... Daremos vinte e cinco dólares a qualquer fotógrafo de
Los Angeles que, por meio de truque ou de habilidade, produzir resultados semelhantes, em
condições similares.”
(assinado)
Julian Mc Crae, P. C. Campbell, I. W. Mackie, W. N. Slocum, John Henley.
David Duguid (nasceu em 1832 e morreu em 1907), conhecido médium de escrita
automática e de pintura, foi beneficiado por uma cuidadosa investigação sôbre as suas
fotografias de Espíritos, por Mr. J. Traiu Taylor, redator do British Journal of Plzotography,
o qual numa conferência lida perante a London and Provincial Photographic Association
em 9 de março de 1893, descreveu as recentes pesquisas com esse médium. Diz êle:
“Minhas condições eram muito simples... Admitindo tratar com trapaceiros e para me
guardar contra êles, exigi que fôsse usada a minha própria máquina e caixas de chapas
compradas em casas de confiança, não permitindo que tais chapas saissem de minhas mãos
enquanto não fôssem reveladas, caso não resolvesse o contrário. Mas, assim como eu os
tinha em suspeita, êles suspeitavam de mim. De modo que todos os atos que eu praticasse
deviam sê-lo em presença de duas testemunhas, isto é, que eu devia marcar o tempo na
minha própria máquina, obter, por assim dizer, uma duplicata com o mesmo foco — por
outras palavras, usar uma binocular estereoscó pica e ditar tôdas as condições da operação.”
Depois. de entrar em detalhes quanto ao processo adotado, registra o aparecimento de
figuras extras nas chapas e continua:
“Algunws estavam em foco, outras não; umas eram iluminadas pela direita, enquanto o
assistente recebia a luz pela esquerda... algumas ocupavam a maior parte da chapa, quase
que cobrindo o assistente material; outras eram como retratos em vinhetas horrorosas, ou
em ovais como que cortados com um abridor de latas e pregadas por detrás do assistente.
Mas aqui é que bate o ponto: nenhuma só dessas figuras que apareciam tão fortemente nos
negativos era de qualquer modo visível para mim durante o tempo de exposição da máquina
e eu declaro peremptoriamente que ninguém manipulou uma chapa antes que ela fosse
posta no caixilho ou antes que fôsse revelada. Do ponto de vista fotográfico eram de mau
gôsto. Mas como apareceram?”
Outros assistentes bem conhecidos descreveram resultados, notáveis obtidos com Duguid
(11).
11. James Coates, “Photographing the Invisible” (1921) and Andrew Glendinning. “The
Veil Lifted” (1894).
Mr. Stainton Moses, na conclusão de seu valioso trabalho sobre a Fotografia de Espíritos
(12),
discute a teoria de que as formas extras fotografadas são moldadas de ectoplasma (êle fala
de uma “substância fluídica”) pelos operadores invisíveis e faz importantes comparações
entre os resultados obtidos por diferentes médiuns fotógrafos.
As “valiosas e conclusivas experiências” de Mr. John Beattie, segundo a expressão do
Doutor Alfred Russel Wallace, só rápidamente serão tratadas. Mr. Beattie, de Clifton,
Bristol, fotógrafo aposentado de vinte anos de atividade, teve dúvidas sôbre a autenticidade
de muitas fotografias de Espíritos que lhe foram mostradas, pelo que resolveu êle próprio
examinar o assunto. Sem nenhum médium profissional, mas em presença de um amigo
íntimo, que era um sensitivo de transe, êle e o seu amigo Doutor G. S. Thomson, de
Edimburgo, realizaram uma série de experiências em 1872 e obtiveram, inicialmente,
manchas nas chapas e, depois, completas figuras extras. Verificaram que êsses extras e as
manchas na chapa apareciam muito antes que o assistente material, durante a revelação —
peculiaridade frequentemente notada por outros experimentadores. A honestidade de Mr.
Beattie é absolutamente endossada pelo redator do British Journal of Photography. Mr.
Stainton Moses (13)
Nos últimos anos a história das fotografias de Espíritos concentrou-se muito em tôrno do
que é conhecido por Crewe Cirde, agora constituído por Mr. William Ilope e Mrs. Buxton,
ambos de Crewe. O grupo se constituiu mais ou menos em 1905, mas só atraiu a atenção
em 1908. Descrevendo suas primeiras experiências, Mr. Hope diz que, quando trabalhava
numa fábrica perto de Manchester, num sábado à tarde fêz uma fotografia de um operário,
numa pôse junto a um muro de tijolos. Quando a chapa foi revelada via-se, além do retrato
de seu amigo, a forma de uma mulher ao seu lado, vendo-se o muro por transparência. O
homem perguntou a Hope como tinha êle pôsto ali o outro retrato, no qual reconhecia uma
irmã falecida havia alguns anos. Diz Mr. Hope:
“Então eu nada sabia a respeito de Espiritismo. Levamos a fotografia aos trabalhadores na
segunda-feira, e um deles, espírita, disse que era o que se chamava uma fotografia de
Espírito. Sugeriu que no sábado seguinte, no mesmo lugar e com a mesma máquina,
tentássemos novamente. Concordamos. E não só a mesma senhora apareceu na chapa, mas
uma criancinha com ela. Achei isto muito estranho, fiquei interessado e continuei as
experiências.
Durante muito tempo Hope destruia tôdas as chapas de Espíritos, até que o Arquidiácono
Colley travou conhecimento com êle e o aconselhou a conservá-las.
O arquidiácono Colley fêz a primeira sessão com o Crewe Circle em 16 de março de 1908.
Trouxe a sua própria máquina — uma Lancaster de um quarto de chapa, que Mr. Hope
ainda usa — seus caixilhos e suas chapas marcadas a diamante e revelou as chapas com.
seus próprios produtos químicos. A única coisa que Mr. Hope fêz foi apertar o botão para a
exposição. Numa das chapas apareceram dois Espíritos.
Desde êsse dia Mr. Hope e Mrs. Buxton fizeram milhares de fotografias de Espíritos sob
todos os testes imagináveis e se orgulham de poderem dizer que jamais ganharam um tostão
por seus trabalhos; apenas cobravam o material usado e o seu tempo.
Mr. M. J. Vearncombe, fotógrafo profissional em Bridgewater, Somerset, teve a mesma
perturbadora experiência de Wyllie, Boursnell e outros, ao descobrir inúmeras manchas
luminosas nas suas chapas e, como aquêles, chegando a fazer fotografias de Espíritos. Em
1920 Mr. Fred Barlow, de Birmingham, conhecido investigador, obteve com êsse médium
rostos extras e mensagens escritas, em condições de testes, em chapas que não haviam sido
expostas na máquina (15).
Desde essa data Mr. Vearn. combe obteve muitos resultados probantes.
A mediunidade de Mrs. Deane é de data recente — sua primeira fotografia de Espírito data
de junho de 1920. Foram obtidos muitos extras reconhecíveis em condições de testes e seu
trabalho por vêzes é igual aos melhores dos seus predecessores no gênero. Recentemente
conseguiu ela dois magníficos resultados, O Doutor Allerton Cushman, conhecido cientista
americano, Diretor dos National Laboratories, em Washington, fêz uma visita inesperada ao
British College of Psychic Science, em Holland Park, em julho de 1921 e obteve através de
Mrs. Deane, uma bela fotografia extra, reconhecida como de sua filha morta. Detalhes
completos dessa sessão se acham com as fotografias, no Jornal da American Society for
Psychical Research (16).
O outro grande resultado foi a 11 de novembro de 1922, por ocasião do Grande Silêncio, no
Dia do Armistício, em Whitehall, quando uma fotografia foi tomada da multidão imensa
em tôrno no Cenotáfio e na qual aparecem, visíveis, rostos de Espíritos, alguns dos quais
foram reconhecidos. Isto se repetiu durante três anos.
As pesquisas modernas provaram que êsses resultados psíquicos não são obtidos, pelo
menos em alguns casos, através das lentes da máquina. Em muitas ocasiões, em condições
de testes, êsses retratos supra-normais têm sido conseguidos em caixas fechadas de placas
fotográficas, mantidas nas mãos de um ou mais assistentes. Também quando tentada a
experiência com mais de uma máquina, quando o extra aparece numa máquina, não aparece
na outra. A teoria sustentada é de que a imagem é precipitada na placa fotográfica ou que
uma tela psíquica é aplicada à chapa.
Talvez possa o autor dizer algumas palavras de sua experiência pessoal, que foi
principalmente com o Crewe Circle e com Mrs. Deane. Neste último caso sempre houve
resultados, mas em nenhum os extras foram reconhecidos. O autor está perfeitamente certo
da fôrça psíquica de Mrs. Deane, que foi magnificamente demonstrada durante uma longa
série de experiências feitas por Mr. Warrick, sob tôdas as possíveis condições de teste e que
são minuciosamente descritas em Psychic Science (17).
Entretanto a sua experiência pessoal nunca foi evidente e, atendo-se a ela, não se pode falar
com segurança. Ele empregou as próprias chapas de Mrs. Deane e tem uma forte impressão
de que os rostos podem ter sido precipitados nas chapas nos dias de preparação, quando ela
as levava em pacotes. Ela tem a impressão de que facilitava assim os resultados obtidos;
mas talvez se enganasse, pois o caso Cushman foi uma surprêsa. Também há a consignar
que uma vez ela foi vítima de um truque no Psychic College: seu pacote de chapas foi
substituido por outro. Não obstante os extras foram obtidos. Bem que podia ser avisada,
pois se abandonasse o método que lhe dá resultados, embora legítimos, seriam êles
passíveis de ataque (18).
18. Desde que escreveu esta observação, o autor tem experimentado a médium com as
suas próprias chapas, fazendo êle próprio a revelação. Obteve seis resultados psíquicos em
oito experiências.
Já o caso é diferente com Mr. Hope. Nas várias oportunidades em que o autor experimentou
com êle, fê-lo com as suas próprias chapas, prêviamente marcadas na câmara escura e
manejadas e reveladas por êle próprio. Em quase todos os casos um extra foi conseguido; e
êsse extra — conquanto não tenha sido claramente reconhecido — certamente foi uma
produção anormal. Mr. Hope suportou os costumeiros ataques da ignorância e da malícia, a
que se acham expostos todos os médiuns, mas sempre dêles saiu com a honra inatingida.
Uma referência deve ser feita aos notáveis resultados de Mr. Staveley Bulford, talentoso
estudante de psiquismo, que produziu os melhores e mais autênticos retratos psíquicos.
Ninguém poderá olhar o seu livro de recortes e notar o gradual desenvolvimento de seus
dons, desde as simples manchas de luz até os rostos perfeitos, sem ficar convencido da
realidade do processo.
O assunto é ainda obscuro e tôda a experiência pessoal do autor é no sentido de defender o
ponto de vista de que num certo número de casos nada de externo foi realizado: o efeito é
produzido por uma espécie de raio, que carrega a figura, penetra os sólidos, como a parede
do caixilho, e a imprime na placa. A experiência já citada, na qual duas máquinas foram
usadas simultâneamente, com o médium entre elas, parece conclusiva, de vez que mostra
um resultado numa chapa e não na outra. O autor obteve resultados em chapas que jamais
saíram do caixilho e tão bons quanto os das que haviam sido expostas à luz. É provável que
se Hope jamais tivesse tirado a tampa da objetiva, por vêzes os seus resultados teriam sido
os mesmos.
Seja qual fôr a eventual explicação, a única hipótese que atualmente abarca os fatos é a de
uma sábia e invisível Inteligência presidindo à operação e trabalhando a sua maneira, e que
mostra diferentes resultados em grupos diferentes. Tão padronizados são os métodos de
cada um que o autor é capaz de dizer, à primeira vista, qual o fotógrafo que fêz a chapa que
lhe apresentarem. Supondo que tal Inteligência tenha os poderes que lhe são atribuidos,
podemos então ver imediatamente por que cada lei normal de fotografia é violada, por que
sombras e luzes não mais concordam e, por fim, por que uma série de armadilhas são
preparadas para a generalidade dos críticos convencionais. Também podemos entender por
que, desde que a figura seja simplesmente constituída pela Inteligência e posta na chapa,
encontramos resultados que são reproduções de velhos quadros e de fotografias, e porque
também é possível que apareça o rosto de uma pessoa viva na chapa do mesmo modo que o
de um Espírito desencarnado. Num exemplo, citado pelo Doutor Henslow, a reprodução de
um raro escrito grego do Museu Britânico apareceu numa das chapas de Hope, com uma
ligeira alteração no grego, o que provava que não era uma cópia (19).
Aqui, ao que parece, a Inteligência tinha notado a inscrição, tinha-a gravado na chapa, mas
tinha feito um ligeiro lapso de memória na transcrição. Esta explicação tem o
desconcertante corolário que o mero fato de têrmos o retrato psíquico de um amigo morto
absolutamente não constitui prova de que o mesmo se ache presente. Sómente quando o
fato éconfirmado independentemente numa sessão, antes ou depois, é que temos algo da
natureza de prova.
Em suas experiências com Hope, o autor teve a impressão de lobrigar o processo pelo qual
as fotografias objetivas são construídas — tanto que pôde êle arranjar uma série de dísticos
que mostraram os vários estágios. O primeiro dêsses dísticos, —tomado com Mr. William
Jeffrey, de Glasgow, como assistente, — mostra uma espécie de casulo de veios finos, um
material como fita, que poderemos chamar de ectoplasma, desde que os vários plasmas
ainda não foram subdivididos. É tão tênue quanto uma bôlha de sabão e nada contém: isto
poderia parecer o envoltório dentro do qual o processo é transportado, estando aí reunidas
as fôrças, como se na cabine de um médium. No dístico seguinte vê-se que a face se formou
dentro do casulo e que o casulo se abre debaixo do centro. São vistos vários estágios dessa
abertura. Finalmente, a face aparece por fora, com o casulo festonado, para trás, e formando
um arco sõbre o rosto e um véu pendurado de ambos os lados. Êsse véu é muito
característico nas fotografias de Hope e quando falta em uma podemos sustentar que não
houve presença objetiva e que é um puro efeito psicográfico. O véu ou mantilha, de várias
formas, podem ser encontrados numa longa série de fotografias anteriores, e e
especialmente observável numa tomada de um amador na Costa Ocidental Africana, onde o
Espírito escuro tem densas dobras sôbre a cabeça e no chão. Quando semelhantes
resultados são alcançados em Crewe, ou em Lagos, é simples questão de bom senso convir
que se trata de uma lei comum.
Apontando a prova do casulo psíquico, espera o autor haver dado uma pequena
contribuição para uma melhor compreensão do mecanismo da fotografia psíquica. É um
verdadeiro departamento da ciência psíquica, como verá qualquer investigador sério.
Contudo não se pode negar que tenha sido transformado em objeto para patifarias, como
não podemos garantir que, por serem genuínos alguns resultados conseguidos por médiuns,
tenhamos que aceitar de olhos fechados tudo quanto nos mostrem, venha de onde vier.
20
Vozes Mediúnicas e Moldagens
e as constatações psíquicas dos tempos modernos mostram que aqui, como em outras
manifestações supra-normais, o que aconteceu na aurora do mundo acontece ainda.
Os exemplos históricos de mensagens faladas são os de Sócrates e de Joana DArc, embora
não seja claro que em ambos os casos as vozes tivessem sido audíveis para os outros.
É à luz do inteiro conhecimento que chegamos a concluir, com alguma probabilidade, que
as vozes ouvidas eram do mesmo caráter supranormal daquelas com que hoje estamos
familiarizados.
Mr. F. W. H. Myers (2)
faz-nos pensar que o Demônio de Sócrates era “um mais profundo extrato do próprio
sábio”, a comunicar-se com “o extrato superficial e consciente”. E do mesmo modo
explicaria as vozes que vieram a Joana. Falando assim, entretanto, êle nada explica.
Que devemos pensar da história de que as estátuas antigas falavam? O ilustre autor
anónimo, — que se supõe tenha sido o Doutor Leornard Marsh, da Universidade de
Vermont, — daquele curioso livro “Apocatastasis”, ou “Progresso Regressivo”, cita as
seguintes palavras de Nonnus:
“No que respeita a essa estátua (de Apolo), onde se achava, e como ela falava, eu nada
disse. Deve, entretanto, entender-se que havia uma estátua em Delfos, que emitia uma voz
inarticulada. Porque deveis saber que os Espíritos falam, com vozes inarticuladas, de vez
que não possuem órgãos pelos quais possam falar articuladamente”.
Assim o comenta o Doutor Marsh:
“Parece que o autor não estava bem informado relativamente ao poder de falar dos
Espíritos, desde que tôda a história antiga declara que muitas vêzes a sua voz era ouvida no
ar, falando articuladamente e repetindo as mesmas palavras em diversos lugares; e essa voz
era chamada, e universalmente conhecida, pelo nome de “Vox Divina”.
E prossegue dizendo que com a mencionada estátua o Espírito evidentemente estaria
experimentando com o grosseiro material de que era feita — provavelmente de pedra — a
ver se poderia produzir sons articulados, mas não o conseguia, pois que a estátua “não
possuia laringe ou outros órgãos da voz, como os modernos médiuns”. Em seu livro o
Doutor Marsh procura demonstrar que então (1854) os fenômenos espíritas eram crus e
imaturos, em comparação com as manifestações espíritas da antigüidade. Os antigos, diz
êle, falavam disso como de uma ciência, e declaravam que os, conhecimentos obtidos por
seu intermédio eram exatos e controláveis “a despeito de todos os demônios fraudulentos”.
Garantindo que o sacerdote era um médium de vozes, facilmente se explicam os oráculos
falantes.
É digno de nota que a Voz, que foi uma das primeiras formas de mediunidade associada ao
moderno Espiritismo, é ainda preeminente, ao passo que outros aspectos da mediunidade
inicial se tenham tornado raros.
Mas como há um bom número de investigadores competentes que consideram o fenômeno
da voz entre as, mais convincentes das manifestações psíquicas, lancemos um olhar sôbre o
que há a respeito.
Jonathan Koons, fazendeiro em Ohio, parece ter sido o primeiro dos modernos médiuns
com quem isto se verificou. Na choupana já mencionada, chamada a sua “Casa do Espírito”
teve êle em 1852, e durante muitos anos, uma porção de fenômenos surpreendentes, entre
os quais havia vozes de Espíritos, que falavam através de um pequeno megafone ou
trombeta, Mr. Charles Partridge, conhecido homem público, que foi um dos investigadores
dos primeiros dias, assim descreve como ouviu o Espírito conhecido como John King,
falando numa sessão em casa de Koon, em 1855:
“Ao terminar a sessão, como de costume, o Espírito de John King tomou da trombeta e fêz
uma pequena palestra através dela — falando clara e distintamente — mostrando o
benefício que se colheria no tempo e na eternidade, da conversa com os Espíritos, e nos
exortando a sermos discretos e firmes no falar, aplicados em nossas investigações, fiéis às
responsabilidades que tais privilégios impunham, caridosos para com os que estão no êrro e
na ignorância, temperando o nosso zêlo com a sabedoria, etc.”.
O Professor Mapes, conhecido químico americano, disse que em presença dos Davenport
havia conversado durante meia hora com John King, cuja voz era alta e distinta. Mr. Robert
Cooper, um dos biógrafos dos Irmãos Davenport, ouviu muitas vêzes a voz de John King à
luz do dia, e à luz da lua, quando passeando pela rua com os Davenport.
Atualmente chegamos a formar uma idéia de como tais vozes se produzem nas sessões.
Aliás êsse conhecimento foi corroborado pelas, comunicações recebidas dos próprios
Espíritos.
Parece que o ectoplasma procedente do médium, mas também, em menor proporção, dos
assistentes, é usado pelos Espíritos operadores na moldagem de uma espécie de laringe
humana. E a utilizam para a produção da voz.
Na explicação dada aos Koons pelos Espíritos, êstes, falavam do emprêgo combinado de
elementos do corpo espiritual, e o que corresponde ao nosso atual ectoplasma, “uma aura
física que emana do médium”. Compare-se isto com a explicação dada através de Mis.
Bassett, a conhecida inglêsa médium de vozes, aos setenta anos: “Dizem êles que tomam as
emanações do médium e de outros membros da assistência, com o que fazem um aparelho
para falar e que o empregam” (3).
Mrs. Mary Marshall, falecida em 1875, e que foi a primeira dos médiuns públicos inglêses,
era canal para vozes vindas de John King e outros. Em 1809, em Londres, Mr. W.
Harrisson, redator de The Spiritualist, fêz exaustivos ensaios com ela. Como os espíritas
eram tidos como gente facilmente impressionável, é interessante notar a sua cuidadosa
investigação. Falando de Mrs. Mary Marshall, (4)
diz êle:
“Mesas e cadeiras moviam-se à luz do dia e por vêzes se erguiam do chão, enquanto que
nas sessões ás escuras ouviam-se vozes e viam-se manifestações luminosas. Tôdas estas
coisas pareciam vir dos Espíritos. Então resolvi ser um visitante constante das sessões e
permanecer no trabalho até verificar se as asserções eram verdadeiras ou descobrir a
impostura com bastante precisão e segurança para o denunciar em presença de testemunhas
e poder publicar os fatos com desenhos completos dos aparelhos usados.
A voz de John King é inspirada por uma inteligência, ao que parece, inteiramente diferente
da maneira da de Mr. e Mrs. Marshall. Entretanto, admiti que Mr. Marshall produziu a voz
e, assistindo a algumas sessões, verifiquei que era comum que Mr. Marshall e John King
falassem ao mesmo tempo. Assim, fui obrigado a abandonar a minha teoria.
Então admiti que era Mrs. Marshall quem falava, até que uma noite fiquei junto a ela; ela
estava à minha direita e eu lhe segurava a mão e o braço e John King veio e falou ao meu
ouvido esquerdo, quando Mrs. Marshall estava absolutamente imóvel. Assim se foi minha
nova teoria.
Diante disso admiti que um parceiro entre os visitantes do grupo fazia a voz de John King.
De modo que fiz uma sessão apenas com Mr. Marshall e sua senhora. John compareceu e
falou durante uma hora.
Por fim estabeleci que um parceiro escondido produzia a voz. Então fiz duas sessões nas
quais Mrs. Marshall se achava entre estranhos, numa casa estranha, e novamente John King
estava mais vivo do que nunca. Finalmente na noite de quinta-feira, 30 de dezembro de
1869, John King veio e falou a onze pessoas, no grupo de Mrs. C. Berry, na ausência de
Mr. Marshall e de sua senhora, sendo médium Mrs. Perzin”.
Enquanto Mr. llarrison se satisfez, dêsse modo, de que nenhuma criatura humana presente
produzia as vozes, não mencionou — o que era o caso — que as vozes freqüentemente
davam provas de identidade tais que nem o médium nem um comparsa poderiam ter dado.
O senhor Damiani, conhecido investigador, em sua prova perante a Sociedade Dialética de
Londres declarou (5)
que as vozes lhe tinham falado em presença de médiuns não estipendiados, depois haviam
conversado com êle em sessões particulares com Mrs. Marshall e aí “haviam demonstrado
as mesmas peculiaridades quanto ao tom, a expressão, o andamento, o volume, a pronúncia,
que nas vêzes anteriores”. Essas vozes lhe falavam sôbre assuntos de natureza tão particular
que ninguém, além dêle, podia ter conhecimento. Por vêzes também predisseram
acontecimentos que se verificaram em tempo certo.
É natural que aquêLes que tiveram contacto pela primeira vez com o fenômeno das vozes
deveriam suspeitar de ventriloquia, como uma possível explicação. D. D. Home, com quem
essas vozes ocorriam tantas vêzes, tinha cuidado ao encontrar essa objeção. Descrevendo a
sessão quando Home o visitou em Cupar, em Fife, em 1870, assim escreve o General
Boldero (6).
“Então as vozes foram ouvidas, falando simultaneamente na sala — duas pessoas diversas,
a julgar pela entonação. Não nos foi possível guardar as palavras pro feridas, desde que
Home persistia em falar conosco todo o tempo. Reclamamos contra a sua conversa, mas êle
replicou: “Falo de propósito, para que possa convencer-se de que as vozes não são devidas
a qualquer ventriloquia de minha parte, desde que isto é impossível quando alguém está
falando com a sua voz natural”. A voz de Home era muito diferente das que se ouviam no
ar.
O autor pode corroborar isto com a sua experiência pessoal, pois muitas vêzes ouviu
vozes falando ao mesmo tempo. Há exemplos no capítulo sõbre os grandes médiuns
modernos.
O almirante Usborne Moore dá o testemunho de ter ouvido simultâneamente, com
Mrs. Wriedt, de Detroit, as vozes de três ou quatro Espíritos. Em seu livro “lhe Voices”, de
1913, cita o testemunho da conhecida escritora Miss Edith K. Harper, antes secretária
particular de Mr. W. T. Stead. Escreve ela (7):
“Depois de examinar um relato de cêrca de duzentas sessões com Mrs. Etta Wriedt, durante
as suas três visitas à Inglaterra, cujas notas de sessões gerais bastariam para encher um
grosso volume se fôssem escritas in extenso, procurarei relatar, resumidamente, algumas
das mais notáveis experiências que eu e minha mãe tivemos o privilégio de assistir pela
mediunidade de Mrs. Wriedt. Examinando as minhas notas de sua primeira visita em 1911,
sobressaem os seguintes detalhes entre os principais aspectos das sessões:
1. Jamais Mrs. Wriedt caia em transe; conversava livremente com os assistentes; nós a
ouvíamos falar também, até mesmo argumentando com Espíritos, com, cujas opiniões não
concordava. Lembro-me de uma vez em que Mr. Stend sacudia-se em gargalhadas, ou ouvir
a reprimenda de Mrs. Wriedt ao editor do Progressive Thinker por sua atitude contra os
médiuns e da evidente confusão de Mr. Francis que, depois de uma tentativa de explicação,
derrubou a trombeta e retirou-se aborrecido.
2. Duas, três e até quatro vozes de Espíritos falando simultaneamente a diversos
assistentes.
3. Mensagens dadas em língua estranha — francês, alemão, italiano, espanhol,
norueguês, holandês, árabe e outras, com as quais a médium não estava familiarizada. Uma
senhora norueguesa, muito conhecida no mundo das letras e da política, foi abordada em
norueguês, por uma voz masculina, dizendo-se seu irmão e dando o nome de “P.” Ela
conversou com êle e deu mostras de satisfação ante as provas dadas de sua identidade... De
outra vez uma voz falou em espanhol fluente, dirigindo-se determinadamente a uma
senhora no grupo, que ninguém sabia tivesse ligações com essa língua. Então a senhora
estabeleceu uma conversa fluente com o Espírito, em espanhol, com evidente satisfação
para êste”.
Mrs. Mary Hollis, depois Mrs. Hollis-Billings, era uma notável médium. Esta americana
visitou a Inglaterra em 1874 e também em 1880, quando foi apresentada à sociedade de
Londres por destacados Espíritas. Um belo relato de sua variada mediunidade é feito pelo
Doutor N. B. Wolfe em seu livro “Startling Facts in Modern Spiritualism” (8).
Mrs. Hollis era uma senhora fina e milhares de pessoas tiveram provas e consolações
através de seus dons. Seus dois guias Jomes Nolan e um índio chamado Ski falavam
livremente em voz direta. Numa de suas sessões, realizada em casa de Mrs. Makdougall
Gregory, em Grosvenor Square, a 21 de janeiro de 1880, um clérigo da Igreja da Inglaterra
(9)
“sustentava o fio de uma conversa com um Espírito, a qual havia sido interrompida há sete
anos e se confessou muito satisfeito com a autenticidade da voz, que era muito peculiar e
perfeitamente audível para todos os assistentes, de ambos os lados do clérigo a quem o
Espírito se dirigia”.
Mr. Edward C. Randall conta de uma outra boa médium americana para vozes diretas, Mrs.
Emily S. French, em seu livro “The Dead Have Never Died (10).
Ela faleceu em sua casa em Rochester, New York, a 24 de junho de 1912. Mr. Randall
investigou as suas faculdades durante vinte anos e se convenceu de que a sua mediunidade
era de um altíssimo padrão.
Mrs. Mercia M. Swain, que faleceu em 1900, era uma médium de voz direta cuja
instrumentalidade foi aproveitada por um grupo da Califórnia, o Rescue Circle, para ajudar
os Espíritos atrasados. Um relato dessas extraordinárias sessões, que eram dirigidas por Mr.
Leander Ficher, de Buffalo, New York, e que se estenderam de 1875 a 1900, se acha no
livro do Almirante Usborne Moore “Glimpses of the Next State” (11).
11. “Relances sôbre o novo estado”. — N. do T.
Mrs. Everitt, senhora finíssima e médium não profissional, produziu vozes diretas na
Inglaterra em 1867 e por muitos anos depois.
Muitos dos grandes médiuns de efeitos físicos, especialmente os de materializações,
produziram os fenômenos de vozes diretas. Estas ocorriam, por exemplo, com Eglinton,
Spriggs, Husk, Duguid, Herne, Mrs. Gupsy e Florence Cook.
Mrs. Elizabeth Blake, de Ohio, que faleceu em 1920, era um dos mais maravilhosos
médiuns de voz direta de que temos notícia e, talvez, o de maior valor probante, porque em
sua presença as vozes se produziam com regularidade em plena luz do dia. Era pobre,
iletrada, vivendo na pequena aldeia de Bradrick, a margem do rio Ohio, do outro lado da
cidade de Húntingdon, em West Virginia. Era médium desde criança. Era muito religiosa e
pertencia à Igreja Metodista, da qual, como alguns outros, entretanto, foi expulsa devido à
sua mediunidade.
Pouco se tem escrito a seu respeito: um único relato minucioso é a valiosa monografia do
Professor Hyslop (12).
Dizem que foi sucessivamente submetida a testes por “cientistas, médicos e outros” e que o
fazia de boa vontade. Entretanto, como êsses homens não foram capazes de a pilhar em
fraude, não se preocuparam em oferecer ao mundo os resultados obtidos. Hysiop teve a sua
atenção atraida para ela por ouvir dizer que um muito conhecido mágico americano, com
uma experiência de muitos anos, se havia convencido da autenticidade de seus fenômenos e
em 1906 foi a Ohio examinar a sua mediunidade.
O volumoso relatório de Hyslop descreve legítimas comunicações que ocorreram.
Ele faz essa rara confissão de ignorância do processo do ectoplasma na produção dos
fenômenos das vozes:
“A altura dos sons, nalguns casos, exclui a suposição de que as vozes sejam conduzidas das
cordas vocais à trombeta. Ouvi sons a seis metros de distância e os poderia ter ouvido a
doze ou quinze metros — e os lábios de Mrs. Blake não se moviam.
Resta estabelecer uma hipótese possível para explicar êste aspecto dos fenômenos.
Mesmo que chamemos a isto “Espíritos”, a explicação não satisfaz ao homem comum de
ciência. Ele quer saber do processo mecânico que o envolve, assim como nós explicamos o
falar comum.
Talvez sejam os Espíritos a causa primeira no caso, mas há degraus no processo que vão
desde a iniciativa até o último resultado. É isto que cria a perplexidade muito mais que a
suposição de que, de certo modo, estejam Espíritos por detrás de tudo isto... e o homem de
ciência não pode ver como os Espíritos podem instituir um fato mecânico sem o emprêgo
de aparelhos mecânicos.
Também ninguém o pode. Mas neste caso a explicação tem sido dada uma ou outra vez
pelo Outro Lado. O desejo do Professor Hyslop de conhecer o elo que existe entre os sons e
sua fonte seria menos surpreendente se não fôsse um fato que os próprios Espíritos
reiteradamente responderam à pergunta que êle faz. Através de muitos médiuns deram êles
explicações mais ou menos idênticas.
O Doutor L. V. Guthrie, superintendente do Asilo de West Virginia, em Huntingdon,
conselheiro médico de Mrs. Blake, estava convicto de seus dons. Escreve êle (13):
“Fiz sessões com ela em meu próprio escritório e no alpendre, ao ar livre e, numa ocasião,
dentro de uma carruagem numa esarada. Constantemente se me oferecia para fazer sessões
e usar uma manga de candeeiro em vez de uma pequena corneta e muitas vêzes a vi
produzir vozes tendo a mão numa das extremidades da trombeta.”
O Doutor Guthrie relata os dois casos seguintes com Mrs. Blake, nos quais a
informação dada era desconhecida dos assistentes e não podia ter sido também da médium.
“Uma de minhas empregadas, uma senhora môça, cujo irmão tinha entrado para o exército
e seguido para as Filipinas, estava ansiosa para receber notícias suas e lhe havia escrito
cartas sôbre cartas, dirigidas aos cuidados da companhia nas Filipinas. Mas não obtinha
resposta. Ela visitou Mrs. Blake e soube pelo “Espírito” de sua mãe, morta há vários anos,
que deveria mandar uma carta ao irmão para C... a fim de obter resposta. Assim fêz:
recebeu resposta em dois ou três dias, pois que êle havia regressado das Filipinas, sem que
ninguém da família o soubesse.”
O caso seguinte é ainda mais interessante.
“Uma parenta minha, de importante família nesta região do Estado, cujo avô tinha sido
encontrado morto ao pé de uma grande ponte, com o crânio esmagado, visitou Mrs. Blake
há poucos anos e não estava pensando no avô na ocasião. Ficou muito surpreendida porque
o Espírito do avô lhe disse que não havia caído da ponte quando embriagado, como ao
tempo haviam pensado. Tinha sido assassinado por dois homens que o haviam encontrado
num carrinho e tinham conseguido pegá-lo, despojá-lo de seus valores e atirá-lo de cima da
ponte. O Espírito descreveu minuciosamente os dois homens que o haviam assassinado e
deu tais informações que foi possível prendê-los e obter a confissão de um ou de ambos”.
Numerosos assistentes notaram que enquanto Mrs. Blake falava ouviam-se as vozes dos
Espíritos, e, ainda, que os mesmos Espíritos apresentavam a mesma personalidade, bem
como a mesma inflexão de voz durante anos. Hyslop dá detalhes de um caso com essa
médium, na qual as vozes comunicantes deram a solução correta para abrir um cadeado de
segrêdo, que era desconhecida do assistente.
Entre os modernos médiuns de voz direta da Inglaterra estão Mm. Roberts1 Johnson, Mrs.
Blanche Cooper, John C. Sloan, William Phoenix, as Misses Dunsmore, Evan Powell,
médium Welsh, e Mr. Potter.
Mr. H. Dennis Bradley fêz um minucioso relato da mediunidade de voz direta de George
Valiantine, o conhecido médium americano. Mr. Bradley conseguiu vozes no seu próprio
Grupo Doméstico, sem médiuns profissionais. É impossível exagerar os serviços que o
trabalho dedicado e de auto-sacrifício de Mr. Bradley prestou à ciência psíquica. Se todo o
nosso conhecimento dependesse das provas dadas nesses dois livros - “Towards the Stars”
e “The Wisdom of the Gods” (14)
***
Algumas páginas devem ser dedicadas a um resumo da prova objetiva e muito
convincente das moldagens tomadas de corpos de ectoplasma — por outras palavras, de
formas materializadas. Quem primeiro explorou essa linha de pesquisa parece ter sido
William Denton, autor de “NaturÉs Secrets” (15),
de uma série de onze sessões bem sucedidas com tal objetivo. Em luz muito fraca a mão
direita do médium foi segurada pelo Professor Charles Richet e a esquerda pelo Conde
Pctocki. Uma vasilha com cêra, mantida em ponto de fusão por meio de água fervente, foi
colocada a sessenta centímetros em frente a Kluski e, para efeito de teste — o que era
ignorado pelo médium — a cêra estava impregnada de colesterina, a fim de evitar a sua
substituição. Diz o Doutor Geley:
“A luz muito fraca não permitia que se assistisse ao fenômeno; éramos advertidos do
momento de mergulhar a mão, pelo ruído no liquido. A operação exigira duas ou três
imersões. A mão que estava agindo era mergulhada no vaso, retirada coberta de parafina
quente, tocava as mãos dos controladores da experiência e então era mergulhada novamente
na cêra. Depois da operação a luva de parafina, ainda quente mas solidificada, era colocada
de novo junto à mão de um dos controladores”.
Desta maneira nove moldes foram tirados. Sete de mãos, um de pé e outro de um queixo
com os lábios. Examinada a cêra de que eram feitos, deu a reação característica da
colesterina. O Doutor Geley mostrou vinte e três -fotografias de moldes e de cópias em
gêsso que dêles foram feitas. Ë preciso dizer que as moldagens mostram as dobras da pele,
as unhas e as veias, as quais de modo algum se parecem com as do médium. Os esforços
para obter moldagens semelhantes de mãos de criaturas vivas foram apenas parcialmente
realizados, e as diferenças entre uns e outros são marcantes. Escultores e reputados
modeladores declararam que não conhecem nenhum método de produção de moldagens
semelhantes às obtidas nas sessões com Kluski.
Assim resume Geley os resultados (17).
17. “L’Ectoplasmie”, etc., página 278.
21
Espiritismo francês, alemão e italiano
que se reunia semanalmente em sua casa, para obter comunicações através da psicografia.
Também criou a Revue Spirite, jornal mensal que ainda existe e que editou até 1869. Pouco
antes traçou um plano de uma organização para continuar o seu trabalho. “A Sociedade
para a Continuação dos trabalhos de Allan Kardec”, com poder para compra e venda,
recebimento de dádivas e legados e para continuar a publicação da Revue Spirite. Depois
de sua morte os planos foram fielmente prosseguidos.
Kardec achava que os vocábulos espiritual e espiritualista, como espiritualismo já possuíam
uma significação definida. Assim os substituiu por espiritismo e espírita ou espiritista.
A filosofia espírita se distingue por sua crença em nosso progresso espiritual, que é
realizado através de uma série de reencarnações.
“Devendo o Espírito passar por várias encarnações, resulta que todos nós temos tido várias
existências e teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, na Terra ou em outros
mundos.
“A encarnação dos Espíritos ocorre sempre na espécie humana. Seria êrro pensar que a
alma ou Espírito possa reencarnar no corpo de um animal.
“As várias existências corporais do Espírito são sempre progressivas e nunca retrógradas;
mas a velocidade de progresso depende dos nossos esforços por atingirmos à perfeição.
“As qualidades da alma são as do Espírito em nós encarnado; assim, o homem de bem é
encarnação de um bom Espírito, como o perverso a de um impuro.
“Tinha a alma a sua individualidade antes da encarnação e a conserva depois de separar-se
do corpo.
“Voltando ao mundo dos Espíritos, a alma aí reencontra aquêles que conheceu na Terra e
tôdas as suas anteriores existências se avivam em sua memória, com a lembrança de todo o
bem e de todo o mal que haja feito.
“Encarnado, o Espírito se acha sob a influência da matéria; o homem que supera essa
influência pela elevação e pela depuração de sua alma aproxima-se dos bons Espíritos, com
os quais estará um dia. Aquêle que se deixa empolgar pelas paixões inferiores e põe tôdas
as alegrias na satisfação dos apetites grosseiros aproxima-se dos Espíritos impuros e dá
preponderância à natureza animal.
“Os Espíritos encarnados habitam os vários globos do universo.”. (2)
dá os nomes dos médiuns do grupo de Allan Kardec, com uma descrição dêles. E também
indica que a idéia da reencarnação era fortemente aprovada na França naquele tempo, como
se pode ver do trabalho de M. Pezzani — “A Pluralidade das Existências”, bem como de
outros. Escreve Aksakof:
“É claro que a propagação desta doutrina por Kardec foi matéria de forte predileção.
De início a reencarnação não foi apresentada como objeto de estudo, mas como um dogma.
Para o sustentar, recorreu com freqüência a escritos de médiuns, que, como bem sabemos,
facilmente se submetem á influência de idéias preconcebidas. E o Espiritismo as produziu
em profusão. Enquanto que através de médiuns de efeitos físicos não só as comunicações
são mais objetivas, mas sempre contrárias à doutrina da reencarnação. Kardec seguiu o
rumo de sempre desprezar êsse tipo de mediunidade, tomando como pretexto a sua
inferioridade moral. Assim, o método experimental é, de modo geral, desconhecido no
Espiritismo.
Durante vinte anos êle não fêz o menor progresso intrínseco e ficou em completa
ignorância do Espiritismo anglo-americano. Os poucos médiuns franceses de fenômenos
físicos que desenvolveram seus dons a des peito de Kardec, jamais foram mencionados na
“Revue”; ficaram quase que desconhecidos dos Espíritas e apenas porque os seus guias não
sustentavam a doutrina da reencarnação.”
Acrescenta Aksakof que as suas observações não afetam a questão da reencarnação no
abstrato, mas apenas no que respeita à sua propagação sob os auspícios do Espiritismo.
Comentando o artigo de Aksakof, D. D. Home deu um impulso a uma fase da crença na
reencarnação. Diz êle (6).
“Encontro muita gente que é reencarnacionista e tive o prazer de encontrar pelo menos doze
que tinham sido Maria Antonieta, seis ou sete que tinham sido Mary, Rainha da Escócia;
um bando, de Luiz e outros reis; cerca de vinte Alexandre, o Grande. Mas ainda não
encontrei ninguém que tivesse sido um simples John Smith. E vos peço que, se o
encontrardes, guardai-o como uma Curiosidade”
Miss Anna Blackwell resume o conteúdo dos principais livros de Kardec do seguinte modo:
“O Livro dos Espíritos” demonstra a existência e os atributos do Poder Causal, e a natureza
das relações entre aquêle Poder e o Universo, pondo-nos no caminho da Operação Divina.
“O Livro dos Médiuns” descreve os vários métodos de comunicação entre êste mundo e o
outro.
“O Céu e o Inferno” reivindica a justiça do Govêrno Divino, explicando a natureza do Mal,
como fruto da ignorância e mostrando o processo pelo qual os homens tornar-se-ão
iluminados e purificados.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo” é um comentário dos preceitos morais de Cristo,
com um exame de sua vida e uma comparação de seus incidentes com as atuais
manifestações do poder do Espírito.
“A Gênese” mostra a concordância da Filosofia Espírita com as descobertas da Ciência
Moderna e com o ponto de vista geral dos escritos mosaicos, conforme a explicação dos
Espíritos.
“Essas obras”, diz ela, “são consideradas pela maioria dos Espíritas do Continente como
constituindo a base da filosofia religiosa do futuro — uma filosofia em harmonia com o
avanço das descobertas científicas nos vários Outros ramos do conhecimento humano;
promulgada pela falange de Espíritos iluminados que agiam sob a direção do próprio
Cristo”.
De um modo geral, ao autor se afigura que o balanço das provas mostra que a reencarnação
é um fato, mas não necessariamente universal. Quanto à ignorância dos nossos amigos
Espíritas sôbre o assunto, concerne ao seu próprio futuro; e se não somos esclarecidos
quanto ao nosso, é possível que eles sofram as mesmas limitações. Quando se apresenta a
questão: “Onde estávamos nós antes do nosso nascimento?” temos uma resposta definitiva
no sistema do lento desenvolvimento pela reencarnação, com longos intervalos de repouso
espiritual; enquanto de outra maneira não temos resposta, embora tenhamos que admitir
que é inconcebível que tenhamos nascido em tempo para a eternidade. Existência posterior
parece postular existência anterior. Quanto à pergunta natural: “Por que, então, não nos
recordamos de tais existências?” podemos indicar que tais lembranças poderiam complicar
enormemente a vida presente e que tais existências bem podem formar um ciclo que se nos
torna muito claro, quando pudermos ver completo o rosário de nossas vidas enfiadas numa
personalidade.
A convergência de tantas linhas do pensamento teosófico e oriental para esta conclusão e a
explicação que ela oferece na doutrina suplementar do Karma, de uma aparente injustiça de
uma vida única, são argumentos em seu favor, como devem sê-lo, talvez, aquêles vagos
reconhecimentos e lembranças, ocasionalmente muito definidos para serem explicados
como impressões atávicas. Certas experiências de hipnotismo, das quais as mais famosas
foram as do investigador francês Coronel De Rochas, parece que constituíram uma
evidência segura, pois quando o sensitivo em transe era levado para o passado, em supostas
reencarnações, as mais remotas eram mais difíceis de descrever, enquanto as mais próximas
eram suspeitas de ser influenciadas pelo conhecimento normal do médium. Pelo menos
pode admitir-se que onde uma tarefa especial deve ser concluída, ou onde alguma falta
deve ser remediada, a possibilidade de reencarnação pode ser uma coisa bem-vinda para o
Espírito a quem isto concerne.
Antes de voltar à história do Espiritismo Francês não se pode deixar de atentar para o
esplêndido grupo de escritores que o exornam. Fora de Allan Kardec e do trabalho
científico de pesquisas de Geley, Maxwell, Flammarion e Richet, houve puros espíritas, tais
como Gabriel Delanne, Henri Regnault e Leon Denis, que deixaram pegadas.
Especialmente o último teria sido considerado como um grande prosador francês, fôsse
qual fôsse o seu tema.
Êste trabalho, que se limita às grandes correntes da história psíquica, dificilmente
comportaria referências a regatos e meandros de cada região do globo. Tais manifestações
seriam, invariàvelmente, repetições ou variantes daquilo que já foi descrito, e pode
rapidamente ser verificado que o culto é católico, numa acepção larga, pois não há país em
que êle não ocorra. Desde a Argentina até a Islândia, os mesmos resultados se têm
espalhado da mesma maneira e devido às mesmas causas. Essa história exigiria, ela só, um
volume. Algumas páginas especiais, entretanto, devem ser dedicadas à Alemanha.
Pôsto que moroso até seguir um movimento organizado, pois só em 1865 é que apareceu
um jornal espírita — Psyche — e se estabeleceu no país, mais do que em qualquer outra
parte, teve aí o Espiritismo uma tradição de especulação mística e de experiência mágica,
que deveria ser considerada uma preparação para a revelação definitiva. Paracelsus,
Cornelius Agripsa, van Helmont e Jacob Boehme se acham entre os pioneiros do
Espiritismo, sentindo o seu caminho fora da matéria, embora vago o objetivo que tivessem
atingido. Algo mais definitivo foi alcançado por Mesmer, que realizou seu maior trabalho
em Viena, no último quartel do século dezoito. Conquanto enganado quanto a algumas de
suas inferências, foi êle quem deu o primeiro impulso para a dissociação entre alma e
corpo, antes do atual modo de sentir da humanidade; e um natural de Strasbourg, M. de
Puységur, levou seu trabalho um passo mais adiante, abrindo as maravilhas da
clarividência. Jung Stilling e o Doutor Justinus Kerner são nomes para sempre ligados ao
desenvolvimento do saber humano, através dêsse caminho nevoento, O atual anúncio das
comunicações espíritas foi recebido com um misto de interêsse e de cepticismo, e custou
para que vozes autorizadas se erguessem em sua defesa. Finalmente o assunto foi trazido
magnificamente ao tablado quando Slade fêz a sua histórica visita em 1877. Depois de
assistir e verificar as suas realizações, obteve em Leipzig o endôsso de seis professôres, que
reconheciam o seu caráter de autenticidade. Foram êles Zõllner, Fechner e Scheibner, de
Leipzig; Weber, de Gõttingen; Fichte, de Stuttgard e Ulrici, de Halle. Como êsses
testemunhos tinham sido reforçados por um depoimento de Bellachini, o maior mágico da
Alemanha, de que não havia possibilidade de fraude, produziu-se um efeito considerável
sôbre a opinião pública, que foi engrossada pela subseqüente adesão de dois russos
eminentes. Aksakof, homem de Estado e o Professor Butlerof, da Universidade de São
Petersburgo. Entretanto, parece que o culto não encontrou um terreno adequado nesse país
da burocracia e do militarismo. Excetuado o nome de Carl Du Prel, nenhum outro se
encontra associado com as mais altas fases do movimento.
O Barão Carl Du Prel, de Munich, começou a carreira de estudioso do misticismo e, em seu
primeiro trabalho (7),
não trata do Espiritismo, mas antes das fôrças latentes do homem, os fenômenos do sonho,
do transe e do sono hipnótico. Em outro tratado, entretanto, “Um Problema para Mágicos”,
faz um relato minucioso e raciocinado das etapas que o levaram à completa crença no
Espiritismo. Nesse livro, enquanto admite que os filósofos e os homens de ciência não são
os mais classificados para descobrir as fraudes, lembra ao leitor que Bosco, Houdini e
Bellachini e outros hábeis ilusionistas declararam que os médiuns por êles examinados
estavam acima de qualquer suspeita de impostura. Du Prel não estava contente, como
muitos outros, de ter provas de segunda mão. Assim, fêz um certo número de sessões com
Eglinton e, mais tarde, com Eusapia Palladino. Deu especial atenção ao fenômeno da
psicografia — escrita nas lousas, e assim se exprime:
“Uma coisa é clara — é que a psicografia deve ser aceita como de origem transcendente.
Verificaremos: (1) Que é inadmissível a hipótese de lousas preparadas. (2) Que o lugar
onde se encontra a escrita é inacessível às mãos do médium. Nalguns casos a dupla lousa é
seguramente trancada e deixa internamente um pequeno espaço para um pedacinho de
lápis. (3) Que a escrita é feita no momento. (4) Que o médium não está escrevendo. (5) Que
a escrita deve ser feita no momento com um pedaço de lousa ou um lápis comum. (6) A
escrita é feita por um ser inteligente, de vez que as respostas são exatamente concordes com
as perguntas. (7) Êsse ser pode ler, escrever e entender a linguagem dos sêres humanos,
frequentemente uma língua desconhecida do médium. (8) Êle se parece muito com um ser
humano, tanto no grau de inteligência quanto nos enganos que comete. Assim, êsses sêres
são, embora invisíveis, de natureza ou espécie humana. É inútil lutar contra essa
proposição. (9) Se se lhes pergunta quem são, respondem que são seres que deixaram êste
mundo. (10) Quando essas aparências se tornam visíveis parcialmente — talvez apenas as
mãos — estas têm forma humana. (11) Quando se tornam inteiramente visíveis mostram a
forma e a atitude humanas”... O Espiritismo deve ser investigado como uma ciência. Eu me
consideraria um covarde se não exprimisse abertamente as minhas convicções.”
Du Prel chama a atenção para o fato de que as suas convicções não se baseiam em
resultados conseguidos com médiuns profissionais. Declara que conhece três médiuns
particulares “em cuja presença não só se verifica a escrita direta no lado interno de duas
lousas, mas que é feita em lugares inacessíveis.”
“Nessas circunstâncias”, diz êle duramente, “a pergunta “Médium ou Mágico?” ao que me
parece, levanta mais poeira do que deve”. Isto é uma observação que os pesquisadores
psíquicos deviam saber de cór.
É interessante notar que Du Prel proclama a asserção que as mensagens são estúpidas e
triviais apenas para serem inteiramente injustificadas peLa experiência, quando ao mesmo
tempo afirma que não encontrou traços de inteligência sôbre-humana, mas, naturalmente,
antes de se pronunciar sôbre êsse ponto fôra preciso determinar como uma inteligência
sôbre-humana poderia ser distinguida e até onde seria compreendida pelo nosso cérebro.
Falando das materializações, diz êle:
“Quando essas coisas se tornam inteiramente visíveis na sala escura, caso em que o
médium se senta no meio do círculo formado pelos assistentes, mostram a forma e a atitude
humanos. Diz-se muito facilmente que neste caso é o próprio médium que se disfarça. Mas
quando o médium fala de seu lugar; quando os vizinhos que o ladeiam declaram que
seguraram as suas mãos e ao mesmo tempo eu vejo a figura de pé junto a mim, quando essa
figura ilumina o seu rosto na lâmpada de vácuo que se acha sôbre a mesa e cuja luz não é
obstáculo aos fenômenos, de modo que eu posso ver distintamente, então a prova coletiva
dos fatos que descrevi me impõe a necessidade da existência de um ser transcendente, ainda
quando tôdas as conclusões a que cheguei durante vinte anos de trabalho e estudo tenham
que ser derrubadas. Mas, por outro lado, desde que meus pontos de vista, fixados na minha
Filosofia do Misticismo, tomaram um outro rumo, e são justificados por estas experiências,
encontro pouca base subjetiva para combater êstes fatos objetivos!”
E acrescenta:
“Tenho agora a experiência empírica da existência dêsses seres transcendentes, da qual
estou convencido pela evidência de meus sentidos da vista, do ouvido, do tato, tão bem
quanto de suas próprias comunicações inteligentes. Em tais circunstâncias, levado ao
mesmo desfecho por dois métodos diversos de investigação, eu devo ser abandonado pelos
deuses se não reconhecer o fato da imortalidade — ou, melhor dito, desde que as provas
não vão mais longe — a continuidade da existência após a morte.
Carl Du Prel faleceu em 1899. Sua contribuição para o assunto é, talvez, a maior oferecida
na Alemanha. Por outro lado lá surgiu um formidável adversário — Eduard von Hartmann,
autor da “Filosofia do Inconsciente, que em 1885 escreveu uma brochura chamada
“Espiritismo”. Comentando-a, escreveu C. C. Massey (8).
8. Light, 1885, página 404. É de notar-se que Charles Carlton Massey, advogado, e Gerard
Massey, poeta, são criaturas distintas, nada tendo em comum a não ser que eram espíritas.
“Agora, pela primeira vez, um homem de eminente posição intelectual se nos defronta
como adversário. Deu-se êle ao trabalho de considerar os fatos, senão inteiramente, ao
menos na medida em que inquestionàvelmente êle se qualifica para um exame crítico. E se,
declinando formalmente de uma aceitação sem reserva, da evidência dos fatos, chegou à
conclusão que a existência no organismo humano de mais forças e capacidade do que a
ciência exata investiga, é suficientemente acreditada pelos testemunhos históricos e
contemporâneos. Também insiste pela pesquisa feita por comissões nomeadas e pagas pelo
Estado. Repudia, com tôda a autoridade de um filósofo e como homem de ciência, a
suposição de que a priori os fatos são incríveis ou “contrários às leis da natureza”. Expõe a
inaceitabilidade das “denúncias” e dá um golpe de misericórdia no estúpido paralelo entre
médiuns e mágicos. E se sua aplicação do sonambulismo aos fenômenos, no seu ponto de
vista, serve de contrôle dos Espíritos por outro lado contém informações para o público que
são de grande importância para a proteção dos médiuns.”
Diz ainda Massey que do ponto de vista da filosofia de Hartmann a ação dos Espíritos é
inadmissível e a imortalidade pessoal é uma ilusão.
“A saída da filosofia psicológica agora se acha entre a sua escola e a de Du Prel e
Hellenbach”.
Alexandre Aksakof respondeu a von Hartmann na revista mensal Psychische Studien.
Aksakof mostra que Hartmann não tinha nenhuma experiência, que prestou insuficiente
atenção aos fenômenos que não se adaptavam ao seu modo de interpretar e que havia
muitos fenômenos que lhe eram quase desconhecidos..
Por exemplo, Hartmann não acreditou na objetividade dos fenômenos de materialização.
Com muita habilidade Aksakof cita com muitos detalhes bom número de casos que,
decididamente, infirmam as conclusões de Hartmann.
Refere-se Aksakof ao Barão Lazar Hellenbach, que era espírita e foi o primeiro
investigador filosófico dos fenômenos na Alemanha e diz: “A afirmação de Zõllner da
realidade dos fenômenos mediúnicos produziu enorme sensação na Alemanha”. De vários
modos parecia que von Hartmann tivesse escrito com um imperfeito conhecimento do
assunto.
A Alemanha produziu poucos grandes médiuns, a menos que Frau Anna Rothe, seja como
tal classificada. É possível que ela tivesse recorrido a fraude, quando lhe faleciam as fôrças,
mas que ela possuía tais fôrças em alto grau é claramente mostrado pelas provas no
processo conseqüente à sua suposta “fraude” em 1902.
Depois de doze meses e três semanas de prisão antes de ser levada ao tribunal, a médium
foi condenada a oito meses de prisão e a uma multa de quinhentos marcos. No processo
muita gente de posição depôs em seu favor; entre estas pessoas se achavam Herr Stõcker,
antigo Capelão da Côrte, e o Juiz Sulzers, presidente da Suprema Côrte de Apelação de
Zürich. Sob juramento o juiz declarou que Frau Rothe o havia pôsto em comunicação com
os Espíritos de sua espôsa e de seu pai que disseram coisas que à médium era impossível ter
inventado, porque diziam com assunto desconhecido de qualquer mortal. Também declarou
que tinham sido trazidas flôres de rara qualidade para um salão inundado de luz. Seu
depoimento causou sensação.
É claro que o resultado do processo era uma conclusão prévia. Foi uma repetição da atitude
do juiz Howers, no caso Slade. O procurador alemão começou assim o seu discurso:
“A Côrte não se permite criticar a teoria espírita, porque deve ser reconhecido que a
ciência, com a genialidade dos homens de cultura, declara que são impossíveis as
manifestações sobrenaturais.”
Diante disso nenhuma prova teria valor.
Em data recente dois nomes sobressaem em conexão com a matéria em aprêço. É um o
Doutor Schrenck Notzing, de Munique, cujo esplêndido trabalho de laboratório já foi
tratado no capítulo sôbre o ectoplasma. O outro é o famoso Doutor Hans Driesch, Professor
de Filosofia na Universidade de Leipzig. Recentemente êle declarou que “a atualidade dos
fenômenos psíquicos só é posta em dúvida pelo incorrigível dogmatismo”. Fêz essa
declaração numa conferência na Universidade de Londres, em 1924, a qual foi
posteriormente publicada em The Quest (9).
9. Julho, 1924.
Prosseguindo disse:
“Êsses fenômenos tiveram, entretanto, uma luta árdua a fim de serem reconhecidos. E a
principal razão por que tiveram de lutar tão estrenuamente foi porque foram redondamente
negados pela psicologia ortodoxa e pela ciência cultural, tais quais eram estas pelo menos
até o fim do século passado.”
Diz o Professor Driesch que a ciência natural e a psicologia sofreram uma radical mudança
desde o comêço dêste século e continua mostrando como os fenômenos psíquicos. se ligam
com as ciências naturais “normais”. Observa que se estas últimas se recusam a reconhecer a
sua relação com aquelas, isto nada afeta os fenômenos psíquicos. Mostra, através de
diversas ilustrações biológicas, como a teoria mecanicista foi derrubada. Expõe a sua teoria
vitalista “para estabelecer um mais íntimo contacto entre os fenômenos da biologia normal
e os fenômenos físicos no domínio da pesquisa psíquica”.
Sob determinados pontos a Itália foi superior a outros países europeus no tratamento do
Espiritismo — isto a despeito da constante oposição da Igreja Católica Romana, que sem
muita lógica estigmatizou como diabolismo os casos que não receberam a marca especial
de santidade. Os Acta Sanctorum constituem uma longa crônica de fenômenos psíquicos
com levitações, transportes, profecias, e todos os outros sinais de mediunidade. Entretanto
essa Igreja sempre perseguiu o Espiritismo. Poderosa como é, verificará, a seu tempo, que
enfrentou algo ainda mais forte que ela.
Dos modernos italianos o grande Mazzini foi um espírita, naqueles dias em que o
Espiritismo mal se esboçava e seu companheiro Garibaldi foi presidente de uma sociedade
psíquica. Em carta a um amigo em 1849, Mazzini esboça o seu sistema filosófico-religioso,
que curiosamente ampara o mais recente ponto de vista espírita. Êle substitui por um
purgatório temporário o inferno eterno, que passa a ser uma triagem entre êste mundo e o
outro, definiu uma hierarquia de sêres espirituais, e anteviu um progresso contínuo para a
suprema perfeição.
A Itália foi rica em médiuns, mas foi ainda mais afortunada com a posse de homens de
ciência bastante sábios para acompanhar os fatos, onde quer que êles conduzissem. Entre
êstes numerosos investigadores — todos êles convictos da realidade dos fenômenos
psíquicos, muito embora não se possa dizer que todos aceitassem o ponto de vista do
Espiritismo — encontram-se nomes como Ermacora, Schiaparelli, Lombroso, Bozzano,
Morselli, Chiaia, Pictet, Foa, Porro, Brofferio, Bottazzi e muitos outros. Eles tiveram a
vantagem de um maravilhoso sensitivo em Eusapia Palladino, como já foi descrito, mas
houve uma série de outros médiuns poderosos, entre cujos nomes se podem citar Politi,
Caranci, Zuccarini, Lucia Sordi, e especialmente Linda Gazzera. Entretanto, aqui, como em
outros campos, o primeiro impulso veio de países de língua inglêsa. Foi a visita de D. D.
Home a Florença, em 1855 e a subseqüente visita de Mrs. Gupsy em 1868 que abriu
caminho. O Senhor Damiani foi o primeiro grande investigador e foi êle quem, em 1872,
descobriu os dons da Palladino.
O manto de Damiani caiu nos ombros do Doutor G. B. Ermacora, que foi o fundador e
coeditor, com o Doutor Finzi, da Rivista di Studi Psichici. Morreu em Rovigo aos quarenta
anos de idade, assassinado — uma grande perda para a causa. Sua adesão e o seu
entusiasmo provocaram os de outros do mesmo porte. Assim, em seu necrológio, escreve
Porro:
“Lombroso encontrou-se em Milão com três jovens físicos, inteiramente libertos de
preconceitos — Ermacora, Finzi e Gerosa — com dois pensadores profundos, que havia
esgotado o lado filosófico da questão — o alemão Du Prel e o russo Aksakof — e com um
outro filósofo de mente penetrante e de vasto saber, Brofferio; e, finalmente, com o grande
astrônomo Schiaparelli e com o fisiologista Richet.”
E acrescenta:
“Seria difícil reunir um melhor grupo de homens de ciência, que oferecesse as necessárias
garantias de seriedade, de variada Competência, de habilidade técnica na experimentação,
de sagacidade e prudência no desfecho das conclusões.”
E continua:
“Enquanto Brofferio, com o seu livro de pêso “Per lo Spiritismo”, (Milão, 1892) destrói um
a um os argumentos dos opositores, coligindo, coordenando, e classificando com
incomparável habilidade dialética as provas em favor de sua tese, Ermacora aplicou na sua
demonstração todos os recursos de cérebro robusto e treinado no emprêgo do método
experimental; e sentiu tanto prazer nesse estudo fértil e novo, que abandonou inteiramente
as pesquisas sôbre eletricidade, que já o tinham colocado entre os sucessores de Faraday e
de Maxwell.”
O Doutor Ercole Chiaia, que faleceu em 1905, era também um devotado trabalhador e
propagandista, a quem muitos homens notáveis da Europa devem seus primeiros
conhecimentos sôbre fenômenos psíquicos. Entre outros citam-se Lombroso. o Professor
Bianchi, da Universidade de Nápoles, Schiaparelli, Fournoy, o Professor Porro, da
Universidade de Gênova e o Coronel De Rochas. Dêle escreveu Lombroso:
“Tendes razão para venerar profundamente a memória de Ercole Chiaia. Num país onde há
tamanho horror ao que é novo, é necessária uma grande coragem e uma nobre alma para se
tornar apóstolo de uma teoria que defronta o ridículo; e o fazer com aquela tenacidade,
aquela energia que sempre caracterizaram Chiaia. É a êle que muitos devem — inclusive eu
— o privilégio de ver um mundo novo, aberto à investigação psíquica — e isto pelo único
meio que existe para convencer homens de cultura, isto é, pela observação direta.”
Sardou, Richet e Morselli renderam tributo ao trabalho de Chiaia (10).
as referências inconscientes de Mr. Podmore a Mr. Stainton Moses. Seu título é “Uma
Defesa de William Stainton Moses”. Bozzano, em companhia dos Professôres Morselli e
Porro, fêz uma longa série de experiências com Eusapia Palladino. Depois de analisar os
fenômenos objetivos e subjetivos, foi conduzido à “necessidade lógica” de aderir
completamente à hipótese espírita.
Enrico Morselli, Professor de Psiquiatria em Gênova, foi durante muitos anos, como êle
próprio o confessa, um duro céptico em relação à realidade objetiva dos fenômenos
psíquicos. De 1901 em diante fêz trinta sessões com Eusapia Palladino, e ficou inteiramente
convencido dos fatos, senão da teoria espírita. Publicou as suas observações num livro que
o Professor Richet descreve como um modêlo de erudição” — “Psicologia e Spiritismo”,
Turim, 1908. Numa análise muito generosa dêste livro (12),
13. Helene Smith, médium, no livro de Fournoy “Da Índia ao Planeta Marte”.
torturando a sua própria e enorme ingenuidade para achar que não são verdades, nem
críveis, coisas que êle mesmo declara ter visto. Por exemplo, durante os primeiros dias
depois da aparição de sua própria mãe, admitia comigo que a tinha visto e tivera um
entendimento por gestos com ela, nos quais ela apontava quase que com amargura para os
seus óculos e a sua calva parcial e lhe lembrou como o havia deixado ainda um belo rapaz.”
Quando Morselli pediu à sua mãe uma prova de identidade, ela tocou com a mão em sua
testa procurando um caroço; mas como tocasse primeiro no lado direito e depois no lado
esquerdo, onde realmente estava o lobinho, Morselli não queria aceitar isto como prova da
presença de sua mãe. Com mais experiência, Lombroso lhe mostra a dificuldade dos
Espíritos em usar a instrumentalidade de um médium pela primeira vez. A verdade éque
Morselli tinha, por estranho que pareça, a maior repugnância pelo aparecimento de sua mãe
através de uma médium contra a sua vontade. Lombroso não põde compreender êste
sentimento. E diz:
“Confesso que não só não concordo, mas que, ao contrário, quando novamente vi minha
mãe, senti uma das mais agradáveis sensações íntimas de minha vida, um prazer que era
quase um espasmo, que despertou uma sensação, não de ressentimento, mas de gratidão à
médium que novamente lançou minha mãe em meus braços depois de tantos anos. E êsse
acontecimento me fêz es quecer não uma vez, mas muitas vêzes, a humilde postura de
Eusapia, que tinha feito para mim, ainda que de maneira puramente automática, aquilo que
nenhum gigante em fôrça ou em pensamento jamais teria podido fazer.”
Em muitas coisas a posição de Morselli é a mesma do Professor Richet, no que diz respeito
à pesquisa psíquica, mas como êste último distinto cientista, tem sido êle o instrumento de
influenciação da opinião pública para um maior esclarecimento do assunto.
É de notar-se que a maioria dos professôres italianos, enquanto aderiam aos fatos psíquicos,
declinavam das conclusões daqueles a quem chamavam de espíritas. Di Vesme bem o
esdarece quando diz:
“É mais importante salientar que a revivescência do interêsse por estas questões, que foi
exibido pelo público italiano, não se teria produzido tão facilmente se os homens de ciência
que proclamaram a objetividade e a autenticidade dêsses fenômenos mediúnicos não
tivessem tido o cuidado de acrescentar que o reconhecimento dos fatos de modo algum
implicava a aceitação da hipótese espírita.”
Houve, entretanto, uma forte minoria que viu o inteiro significado da revelação.
22
Grandes Médiuns Modernos
pôsto sua mediunidade seja também tratada muito minuciosamente pelo Almirante Usborne
Moore (2).
O almirante, que se achava entre os grandes investigadores psíquicos, fêz muitas sessões
com Jonson e obteve a cooperação de um ex-chefe do Serviço Secreto dos Estados Unidos,
que estabeleceu a vigilância e nada encontrou contra o médium. Quando a gente recorda
que Toledo era, então, uma cidade limitada, e que às vêzes umas vinte personalidades
diferentes se manifestavam na mesma sessão, pode-se imaginar que a personificação
apresenta insuperáveis dificuldades. Por ocasião de uma sessão em que se achava o autor,
ocorreu um longo desfile de figuras, cada uma por sua vez, vindo da pequena cabine. Eram
velhos e moços, homens, mulheres e crianças. A luz de uma lâmpada vermelha era bastante
para que se vissem as figuras claramente, mas não para distinguir os detalhes das feições.
Algumas das figuras ficaram fora nada menos que vinte minutos e conversaram
livremente com o grupo, respondendo às perguntas que lhes eram feitas. Nenhum homem
dará a outro um cheque em branco pela honestidade, nem declarará que êle é honesto e o
será sempre. O autor apenas dirá que naquela ocasião particular estava perfeitamente
convencido da genuína natureza dos fenômenos, e que não tem razões para duvidar disso
em qualquer outra ocasião.
Jonson é um homem de compleição forte e, pôsto esteja agora velho, seus poderes
psíquicos ainda não são igualados. É o centro de um grupo em Pasadena, perto de Los
Angeles, que se reúne semanalmente, para aproveitar de seus notáveis poderes. O finado
Professor Larkin, astrônomo, era freqüentador do grupo e garantiu ao autor que acreditava
completamente na sua honestidade como médium.
As materializações podem ter sido mais comuns no passado do que no presente. Os que
leram livros como o de Brackett, “Materialised Apáginasaritions” ou o “There is No
Death”, de Miss Marriat, que o digam. Mas nestes dias as materializações completas são
muito raras.
O autor estava presente a uma suposta materialização por um tal Thompson, em New York,
mas as coisas. não geraram convicção. Pouco depois o homem foi prêso por trapaças, em
circunstâncias que não deixam dúvida quanto à sua culpabilidade.
Há médiuns que, sem se especializarem de nenhuma forma, podem mostrar uma grande
variedade de manifestações super-naturais. De todos que o autor encontrou daria
precedência pela variedade e pela consistência a Miss Ada Besinnet, de Toledo, nos
Estados Unidos, e a Eva Powell, outrora chamada Merthyr Tydvil, em Gales. Ambas são
admiráveis médiuns, e pessoalmente dignas dos maravilhosos dons com que foram dotadas.
No caso de Miss Besinnet as manifestações incluem a voz direta, por vêzes duas ou três ao
mesmo tempo. Um guia masculino, chamado Dan, tem uma notável voz de barítono e quem
quer que o tenha ouvido não duvidará de que seja independente do organismo daquela
senhora. Ocasionalmente se junta uma voz feminina, para fazer com Dan um dueto
afinadíssimo. Notável assovio, no qual parece que não há pausa para respirar, é outra feição
de sua mediunidade. Assim também a produção de luzes muito brilhantes. Estas parecem
pequenos sólidos luminosos, pois. o autor, em certa ocasião, fêz a curiosa experiência de ter
um em seus bigodes. Tivesse aí pousado um grande vagalume e o efeito teria sido o
mesmo. As Vozes Diretas de Miss Besinnet, ao tomarem a forma de mensagens, separadas
do trabalho dos guias, não são fortes e, muitas vêzes, são difíceis de ouvir. O mais notável
de todos os seus poderes, entretanto, é o aparecimento de rostos de fantasmas, que surgem
numa faixa iluminada, em frente ao assistente. Pareceriam antes máscaras, de vez que não
apresentam relêvo. Em muitos casos apresentam faces finas, que ocasionalmente se
assemelham à do médium, quando a saúde da senhora ou a fôrça do círculo decaem.
Quando as condições são boas, são perfeitamente diferentes. Em duas ocasiões o autor viu
faces nas quais poderia absolutamente jurar que uma era de sua mãe e outra de seu
sobrinho, Oscar Hornung, jovem oficial morto na guerra. Por outro lado houve noites em
que nenhum reconhecimento claro foi possível obter, embora entre os rostos alguns
pudessem ser chamados de angélicos, tal a sua beleza e a sua pureza (3).
3. Vários julgamentos e experiências com esta médium se acham na obra do autor “Our
American Adventure”, páginas 124 a 132; no “Glimpses of the Next State”, do Almirante
Moore, páginas 216 e 312; e finalmente no relatório de Mr. Hewat McKenzle, no Psychic
Science de abril de 1922.
No nível de Miss Besinnet está Mr. Evan Powell, com a mesma variedade, mas nem sempre
com o mesmo tipo de poderes. Os fenômenos luminosos de Powell são igualmente bons.
Sua produção de voz é melhor. O autor ouviu vozes de Espíritos tão altas quanto as
humanas comuns e se recorda de uma ocasião em que três falavam ao mesmo tempo —
uma a Lady Cowan, outra a Sir James Marchant e uma terceira a Sir Robert McAlpine. Os
movimentos de objetos são comuns nas sessões de Powell e numa ocasião uma estante de
60 libras foi suspensa durante algum tempo, sôbre a cabeça do autor. Evan Powell sempre
insiste para ser amarrado fortemente durante a sessão, o que é feito, conforme êle reclama,
para a sua mesma proteção, de vez que êle não pode ser responsável por seus próprios
movimentos, quando se acha em transe. Isto lança um interessante esclarecimento sôbre a
natureza de algumas mistificações. Há muita evidência, não só de que, inconscientemente,
ou sob a influência da sugestão da assistência, pode o médium colocar-se numa posição
falsa, mas que fôrças do mal, sempre perturbadoras ou ativamente opostas ao bom trabalho
feito pelos Espíritas, possam atuar sôbre o corpo em transe e levá-lo a fazer uma coisa
suspeita, visando desacreditar o médium. Algumas notáveis observações a êsse respeito,
baseadas na experiência pessoal, foram feitas pelo Professor Haraldur Nielson, da Islândia,
ao comentar um caso em que um do grupo cometeu uma fraude insensata e, posteriormente,
um Espírito disse que ela tinha sido praticada por sua ação e instigação (4).
De um modo geral Evan Powell pode ser considerado como o mais largamente dotado de
fõrças mediúnicas de todos os médiuns na Inglaterra. Êle prega as doutrinas espíritas em
pessoa e pelo seu guia e êle próprio pode demonstrar quase tôdas as mediunidades. É pena
que o seu negócio como vendedor de carvão no Devonshire não lhe permita uma presença
constante em Londres.
A mediunidade da escrita nas lousas é uma manifestação notável. Tem-na em alto grau
Mrs. Pruden, de Cincinnati, que recentemente visitou a Grã-Bretanha, exibindo suas
maravilhosas faculdades a muita gente. O autor fêz várias sessões com ela e explicou os
métodos minuciosamente. Como a passagem é curta e pode tornar o assunto claro para os
não iniciados, eis a sua transcrição:
“Tivemos a sorte agora de nos pormos em contacto com um médium realmente grande —
Mrs. Pruden, de Cincinnati, —que veio a Chicago assistir às minhas conferências.
Realizamos uma sessão no Blackstone Hotel, devida á cortesia de seu hóspede, Mr.
Holmyard, e os resultados foram esplêndidos. É uma senhora idosa, boa e de maneiras
naturais. Seu dom especial é a escrita nas lousas, que jamais eu havia examinado.
Eu ouvira dizer que havia truques no caso, mas ela estava ansiosa para usar as minhas
lousas e permitir que examinasse as suas. Ela prepara uma câmara escura, cobrindo a mesa
com um pano e sustenta a lousa debaixo da mesa, enquanto a gente pode segurar a lousa
pelo outro lado. Sua outra mão fica livre e àvista. A lousa é dupla, tendo entre as duas um
pedacinho de lápis.
Após uma demora de meia hora começou a escrita. Foi a mais estranha sensação segurar a
ardósia e sentir o rumor e a vibração do lápis a riscar dentro delas. Cada um havia escrito
uma pergunta num pedaço de papel e o tínhamos pôsto no chão, cuidadosamente dobrado,
debaixo dos panos, para que a fôrça psíquica pudesse ter as adequadas condições para o seu
trabalho, que sempre sofre a interferência da luz.
Então cada um de nós recebeu uma, resposta dada na lousa à pergunta que havia feito e teve
licença para apanhar os papéis e verificar que não haviam sido abertos. A sala naturalmente
estava inundada de luz e a médium não podia abaixar-se sem que
a víssemos.
Nessa manhã eu tinha um negócio, em parte espiritual, em parte material, com o Doutor
Gelbert, um inventor francês. Em minha pergunta indaguei se êle era perito. A resposta na
ardósia dizia: “Acredite no Doutor Gelbert, Kingsley”. Eu não havia mencionado na
pergunta o nome do Doutor Gelbert, nem havia dito nada a respeito a Mrs. Pruden. Minha
senhora recebeu uma longa mensagem assinada por uma amiga querida. O nome era a sua
verdadeira assinatura. Em conjunto era uma demonstração absolutamente convincente.
Batidas agudas e claras sôbre os móveis acompanharam continuamente a nossa conversa.”
(5)
O método geral e o resultado é o mesmo que é usado por Mr. Pierre Keeler, dos
Estados Unidos. O autor não conseguiu uma sessão com êsse médium; mas um amigo que a
obteve conseguiu resultados que põem a verdade dos fenômenos acima de qualquer
questão. Em seu caso recebeu resposta a perguntas postas dentro de envelopes, de modo
que a explicação favorita de que, de certo modo, o médium vê as tiras de papel, fica
eliminada. Quem quer que tenha assistido a Mrs. Pruden saberá, pois, que ela jamais se
abaixa e que os pedaços de papel ficam aos pés do assistente.
Uma notável forma de mediunidade é a da bola de cristal, na qual as figuras se tornam
visíveis aos olhos do assistente. O autor só encontrou esta uma vez, através da mediunidade
de uma senhora do Yorkshire. As figuras eram nítidas, bem definidas e separadas por
intervalos de uma névoa. Não pareciam revelar qualquer acontecimento passado ou futuro:
consistiam de vistas, pequenos rostos, e outros objetos semelhantes.
Eis algumas das variadas formas das fôrças do Espírito, que nos foram dadas como um
antídoto ao materialismo. As mais altas formas não são as físicas, mas as que se encontram
em inspirados escritos de homens como Davis, Stainton Moses. ou Dale Owen. Nunca é
por demais repetido que o mero fato de que a mensagem nos vem de maneira pré natural
seja uma garantia de elevação e de verdade. A criatura ensimesmada e convencida, de
raciocínio vulgar, e o mistificador consciente também existem no lado invisível da vida, e
todos êles podem transmitir as suas valiosas comunicações através de agentes invigilantes.
Tudo deve ser medido e pesado e muita coisa deve ser posta de lado, enquanto o que restar
deve ser digno de nossa mais respeitosa atenção. Mas mesmo o melhor não pode ser a
última palavra: deve ser muitas vêzes emendado, como no caso de Stainton Moses, quando
atingiu o Outro Lado. Aquêle grande mestre admitiu, através de Mrs. Piper, que havia
pontos sôbre os quais êle tinha sido mal informado.
Os médiuns mencionados foram escolhidos como tipos de suas várias classes, mas há
muitos outros que mereceriam um registro minucioso, se houvesse espaço. O autor fêz
diversas sessões com Sloan e com Phoenix, de Glasgow, ambos com notáveis poderes, que
cobrem quase tôda a escala dos dons espirituais e são, ou foram, homens de fora do mundo,
com uma santa despreocupação pelas coisas desta vida. Mrs. Falconer, de Edimburgo, é
também uma médium de transe de fõrça considerável. Da geração anterior o autor
experimentou a mediunidade de Husk e de Craddock, os quais tiveram horas intensas e
horas de fraqueza. Mrs. Susanna Harris também deu boas provas no setor físico, bem como
Mrs. Wagner, de Los Angeles, enquanto entre os amadores John Ticknor, de New York, e
Mr. Nugent, de Belfast, estão nos primeiros vôos do transe mediúnico.
Em conexão com John Ticknor o autor pode citar uma experiência feita e referida nos
“Proceedings” da American Society for Psychical Research, um organismo que no passado
foi dirigido quase que por opositores, como o seu parente da Inglaterra. Neste exemplo, o
autor fêz um registro cuidadoso da pulsação, quando Mr. Tickenor estava em estado
normal, quando manifestava o Coronel Lee, um de seus guias espirituais, e quando se
achava sob a influência de “Black Hawk” (6)
6. “Gavião Preto”. — N. do T.
que imediatamente antes da experiência de Grenoble êle havia suportado uma longa série
de testes em Milão, no curso dos quais os investigadores tomaram a extrema e injustificável
medida de vigiar o médium secretamente, quando no seu próprio quarto de dormir. A
comissão composta de nove homens de negócio e de doutôres, não achou nenhuma falha
em dezessete sessões, mesmo quando o médium foi pôsto num saco. Essas sessões duraram
de fevereiro a abril de 1904, e foram minuciosamente discutidas pelo Professor Marzorati.
Á vista de seu sucesso, muito mais foi feito na acusação na França. Se a mesma análise e o
mesmo cepticismo fôssem mostrados contra as mistificações como são mostrados contra os
fenômenos, a opinião pública seria dirigida mais justamente.
O fenômeno de transporte parece tão incompreensível às nossas mentes que certa vez
o autor perguntou a um Espírito guia se êle podia dizer algo que lançasse luz sôbre o
assunto. A resposta foi: “Isto envolve alguns fatôres que estão acima da ciência humana e
que não podem ser esclarecidos. Ao mesmo tempo vocês devem tomar como grosseira
analogia o caso da água que se transforma em vapor. Então êsse vapor, que é invisível,
pode ser conduzido para qualquer lugar, para ser apresentado na forma visível da água”.
Isto é, como se vê, antes uma analogia do que uma explicação, mas pelo menos parece apta.
Deveria acrescentar-se, como foi referido na explicação, que não só Mr. Stanford, de
Melbourne, como também o Doutor Mac Carthy, um dos primeiros médicos de Sydney,
realizaram uma série de experiências com Bailey e ficaram convencidos da legitimidade de
seus poderes.
De modo algum os médiuns citados esgotam a lista daqueles com que o autor teve
oportunidade de fazer experiências; e êle não deve deixar o assunto sem aludir ao
ectoplasma de Eva, que êle teve entre os dedos, ou às brilhantes luminosidades de Frau
Silbert, que êle viu sair como uma coroa cintilante de sua cabeça. Ele espera que já tenha
sido dito bastante para mostrar que a série de grandes médiuns não se acaba para quem quer
que diligencie a sua procura seriamente e também para assegurar ao leitor que estas páginas
são escritas por alguém que não mediu sacrifícios para ganhar o conhecimento prático
daquilo que estuda.
Quanto àacusação de credulidade invariavelmente dirigida pelos não receptivos contra
quem quer que tenha uma opinião positiva sôbre êste assunto, o autor pode solenemente
confessar que, no curso de sua longa carreira como investigador, não pode recordar um
único caso em que tenha sido mostrado claramente que êle se havia enganado sôbre
qualquer ponto sério, ou tenha dado um atestado de honestidade a uma realização que
posteriormente ficasse provado que era desonesta. Um homem crédulo não passa vinte anos
lendo e fazendo experiências antes de chegar a conclusões fixas.
Nenhum relato de mediunidade de efeitos físicos seria completo se não aludisse aos
notáveis resultados obtidos por “Margery”, nome adotado para efeito público por Mrs.
Crandon, a bela e dotada espôsa de um dos primeiros cirurgiões de Boston. Esta senhora
mostrava poderes psíquicos há alguns anos e o autor teve a oportunidade de chamar para o
seu caso a atenção da Comissão do Scientific American. Assim fazendo, sem o quereis
expôs a muitos aborrecimentos, que eram suportados com extraordinária paciência por ela e
pelo marido. É difícil dizer o que era mais aborrecido: se Houdini, o mágico, com as suas
intempestivas e ignorantes teorias de fraude, ou os tais “cientistas” assistentes, como o
Professor McDougall, de Harvard, que, depois de cinqüenta sessões e de assinar outras
tantas atas, no fim de cada sessão, endossando as maravilhas registradas, ainda se sentia
incapaz de fazer um julgamento, contentando-se com vagas deduções. O negócio não foi
salvo pela interferência de Mr. E. J. Ding. wall, da SOCIETY FOR PSYCHICAL
RESEARCH de Londres, que proclamava a verdade da mediunidade em cartas particulares
cheias de entusiasmo, mas negava a sua convicção em reuniões públicas. Êsses supostos
especialistas saíram da história com pouco crédito; em compensação mais de duzentos
assistentes de bom senso tiveram bastante sabedoria e honestidade para exprimir realmente
em depoimento aquilo que aos seus olhos se passara. Deve o autor declarar que
pessoalmente experimentou com Mrs. Crandon e ficou satisfeito tanto quanto o podia numa
sessão, quanto à verdade e a variedade de suas faculdades.
Neste caso o guia se diz Walter, irmão falecido daquela senhora e mostra uma
personalidade muito marcada, com um grande senso de humor e considerável domínio de
linguagem irônica. A produção da voz é direta, uma voz máscula, que parece atuar a poucas
polegadas em frente ao rosto do médium. As fôrças têm sido progressivas, aumentando
continuamente, até que agora alcançaram quase tôdas as variedades de mediunidade. O
toque de campainhas elétricas sem contacto tem sido feito ad nauseam, de tal maneira que
se poderia pensar que ninguém, a não ser um surdo como uma pedra ou um especialista,
não tivesse mais dúvidas. Movimento de objetos a distância, luzes espirituais, soerguimento
de mesas, transportes, e, finalmente, a clara produção de ectoplasma em boa luz vermelha
têm ocorrido freqüentemente. O paciente trabalho do Doutor Crandon e de sua senhora
certamente será recompensado e seus nomes viverão na história da ciência psíquica, bem
como, numa categoria diferente os de seus detratores.
De tôdas as formas de mediunidade a mais alta e valiosa, quando pode ser controlada, é a
da escrita automática, de vez que nesta, quando na forma pura, se nos afigura um método
direto de obtenção de ensinos do Além. Infelizmente é um método que se presta muito
facilmente para decepções, de vez que é certo que o subconsciente do homem tem muitos
poderes com os quais ainda estamos pouco acostumados. É impossível também aceitar
qualquer escrita automática com absoluta confiança como uma informação cem por cento
de verdade do Além. O vidro opaco ainda coa a luz que o atravessa; e o organismo humano
jamais será um cristal transparente. A veracidade de qualquer comunicação particular dessa
escrita deve depender não de meras afirmações, mas de detalhes corroborantes, da
dissemelhança geral da mente do escritor e de sua semelhança com a do suposto inspirador.
Por exemplo, se no caso do finado Oscar Wilde, obtivemos longas comunicações que não
só são características de seu estilo, mas que contêm freqüentes alusões a obscuros episódios
de sua própria vida e que, finalmente, são escritas com a sua própria caligrafia, deve
admtir-se que a evidência é superiormente forte. Há um grande derrame de tais escritos
presentemente em todos os países de língua inglêsa. São bons, maus, indiferentes, mas os
bons contêm muita matéria que encerra os traços da inspiração. O cristão e o judeu bem
podem se perguntar por que partes do Velho Testamento, ao que se pensa, assim teriam
sido escritas, enquanto os modernos exemplos devam ser tratados com desprêzo. “E foi-lhe
trazida uma carta do profeta Elias, em que estava escrito:
Eis aqui o que diz o Senhor Deus de David, teu pai”: etc. (9)
Isto é uma das muitas alusões que mostram o antigo uso, neste particular, da comunicação
de Espíritos.
De todos os exemplos de data recente nenhum se compara em grandeza e dignidade
com os escritos do Reverendo George Vale Owen, cuja grande obra “A Vida Além do Véu”
deve ter uma influência tão permanente quanto a de Swedenborg. Um ponto interessante,
focalizado pelo Doutor A. J. Wood, é que nos mais sutis e complexos pontos há uma
grande semelhança no trabalho dêstes dois videntes e tanto mais quanto se sabe que Vale
Owen é muito familiarizado com os escritos do grande mestre sueco. George Vale Owen é
uma figura tão destacada no moderno espiritismo que algumas notas a seu respeito não
estariam fora de propósito. Nasceu em Birmingham em 1869 e foi educado no Midland
Institute e no Queen’s College, em Birmingham. Depois dos curatos de Seaforth, Fairfield e
da baixa Scotland Road, divisão de Liverpool, onde teve uma grande experiência entre os
pobres, tornou-se vigário de Orford, perto de Warrington, onde a sua energia conseguiu
erguer uma nova igreja.
Aí ficou vinte anos, trabalhando em sua paróquia, que muito apreciava o seu
ministério.
Surgiram então algumas manifestações psíquicas e, finalmente, foi êle compelido a
exercer as suas próprias fôrças latentes na escrita inspirada, inicialmente como se viesse de
sua própria mãe, depois continuada por alguns Espíritos elevados ou anjos, que tinham
vindo em seu cortejo. No todo elas constituem uma descrição da Vida após a morte e um
corpo filosófico e de conselhos das fontes invisíveis, que ao autor se afigura possuir todos
os sinais íntimos de uma origem elevada. A descrição é digna e amena, feita num inglês
ligeiramente arcaico, que lhe dá um sabor muito característico.
Alguns extratos dêsses escritos apareceram em vários jornais, atraindo mais atenção por
serem da pena do Vigário de uma Igreja Estabelecida. Finalmente a Lord Northcliffe
chegou notícia do manuscrito; êle ficou muito impressionado com o assunto e com a recusa
do autor em receber qualquer remuneração por sua publicação. Esta foi feita semanalmente
no jornal de Lord Northcliffe, o Weekly Dispatch, e nenhuma outra coisa contribuiu, mais
que esta, para o mais alto ensino espírita diretamente às massas. Incidentalmente foi
demonstrado que a política da Imprensa no passado tinha sido não só ignorante e injusta,
mas redondamente equivocada do baixo ponto de vista do interêsse material, pois a
circulação do Dispatch cresceu enormemente durante a publicação daqueles escritos. Tais
coisas, entretanto, ofenderam muito a um bispo muito conservador, e Mr. Vale Owen
achou-se, como todos os reformadores religiosos, como objeto de desagrado e sofreu uma
velada perseguição dos superiores de sua Igreja. Com essa fôrça a impulsioná-lo e com o
impulso perante tõda a comunidade espírita, êle abandonou a Igreja e entregou-se, com a
família, a mercê do que a Providência lhe reservasse; sua corajosa espôsa concordou
inteiramente com êle num passo que não era fácil para um casal que passara da mocidade.
Depois de um giro de conferências na América e um outro na Inglaterra, Mr. Vale Owen
está atualmente presidindo uma congregação espírita em Londres, onde o magnetismo de
sua presença atrai uma assistência considerável. Num excelente retrato, assim Mr. David
Gow pinta Vale Owen:
“A figura alta e fina do ministro, sua face pálida e ascética, iluminada por grandes olhos,
luminosos de ternura e de humor, sua atitude modesta, suas palavras calmas carregadas de
magnetismo e de simpatia, tudo isto dava a justa medida da espécie de homem que é êle.
Revelavam uma alma de rara devoção, que se mantinha sã e doce por um bondoso senso de
humor e por uma visão prática do mundo. Parecia mais carregado pelo Espírito de Erasmo
ou de Melanchton do que pelo áspero Lutero. Talvez hoje a Igreja não precise de Lutero.”
Se o autor incluiu esta pequena notícia ante a sua existência pessoal, é porque foi honrado
por uma estreita amizade de Mr. Vale Owen e ficou em condições de poder estudar e
garantir a realidade de seus dotes psíquicos.
O autor acrescentaria que teve a sorte de ouvir a Voz Direta numa sessão com sua
esposa.
A voz era profunda, máscula, vinda de alguns pés acima de nossas cabeças e murmurando
apenas um curto mas bem audível cumprimento. É de esperar que com um ulterior
desenvolvimento melhores resultados sejam obtidos. Durante anos o autor, em seu grupo
doméstico, tem obtido mensagens inspiradas, através da mão e da voz de sua esposa as
quais têm sido da maior elevação e, muitas vêzes, da mais evidente natureza. São,
entretanto, muito pessoais e íntimas para serem discutidas num exame geral do assunto.
23
O Espiritismo e a Guerra
MUITA gente jamais tinha ouvido falar de Espiritismo antes do período que se iniciou
em 1914, quando de súbito o Anjo da Morte penetrou em muitos lares. Os adversários do
Espiritismo acharam mais conveniente considerar o cataclismo mundial como a causa
principal do crescente interêsse na pesquisa psíquica. Êsses oponentes inescrupulosos
também disseram que a defesa do assunto, feita pelo autor, bem como por seu ilustre
amigo, Sir Oliver Lodge, era devida ao fato de cada um ter perdido um filho na guerra, daí
deduzindo que o pesar lhes havia reduzido a capacidade de crítica e os levado a pensar em
coisas que não aceitariam em períodos normais. O autor já refutou muitas vêzes essa
grosseira mentira e mostrou o fato de suas investigações datarem de 1886. Por sua vez,
assim se exprime Sir Oliver Lodge (1):
“Não se deve pensar que meu ponto de vista tenha mudado aprecíávelmente desde êsse
acontecimento e com as experiências particulares relatadas nas páginas que se seguem;
minha conclusão foi sendo formada gradativamente, durante anos, pôsto que, sem dúvida,
baseada em experiências da mesma espécie. Mas o acontecimento fortaleceu e liberou o
meu testemunho. Agora posso ligar-me com minha experiência pessoal, e não com a alheia
experiência. Enquanto a gente depende de provas relacionadas, ainda que indiretamente,
com a desolação da morte dos outros, tem que ser reticente e cauteloso e, nalguns casos,
silenciar. Somente por permissão especial certos fatos poderiam ser mencionados; e essa
permissão, nalguns casos importantes, não poderia ser obtida. Então as minhas deduções
foram as mesmas de agora. Mas agora os fatos me pertencem.”
Se é verdade que, antes da guerra, os Espíritos se contavam por milhões, não há dúvida que
o assunto não era compreendido pelo mundo em geral, nem mesmo reconhecido como um
fato. A guerra mudou tudo isto. As mortes ocorreram em quase tôdas as famílias, assim
despertando um súbito interêsse concentrado na vida após a morte. A gente não só
perguntava: “Se um homem morrer viverá de novo?” Procurava, ansiosa, saber se era
possível a comunicação com os entes queridos que haviam perdido. Procurava-se “o toque
da mão destruida e o som da voz que emudecera”. Não só milhares de pessoas investigaram
diretamente, mas, como no início do movimento, a primeira tentativa era feita pelos que
haviam partido. A Imprensa era incapaz de resistir à pressão da opinião pública e muita
publicidade foi feita de casos de soldados que voltavam e, em geral, da vida após a morte.
Neste capítulo apenas uma ligeira referência será feita às diferentes maneiras por que o
mundo espiritual se manifestou nas várias fases da guerra. O próprio conflito fôra predito
muitas vêzes; soldados mortos se mostravam em casa e davam avisos de perigo aos seus
camaradas no campo de batalha; deixavam as suas imagens em chapas fotográficas; figuras
solitárias e hóspedes legendários, não dêste mundo, eram vistos na área da luta; na verdade,
sôbre tôda a cena pairava, de vez em quando, uma forte atmosfera da presença e da
atividade do outro mundo.
Se, por um momento, o autor pode dar uma nota pessoal, dirá que, enquanto a sua própria
perda não tivesse tido efeito sôbre os seus pontos de vista, o espetáculo de um mundo
esmagado pela dor e que ansiosamente pedia auxílio e conhecimento, certamente afetou a
sua mente e o levou a compreender que êsses estudos psíquicos, que durante tanto tempo
êle vinha fazendo, eram de uma enorme importância prática e não mais poderiam ser
considerados como mero passatempo intelectual ou fascinante busca a nova pesquisa. A
prova da presença de mortos se fêz em sua própria casa e o confôrto trazido por mensagens
póstumas lhe ensinou que grande consolação seria para um mundo torturado se êle pudesse
compartilhar do conhecimento que se havia tornado claro para o autor. Foi tal realização
que, desde 1916, o levou, e à sua espôsa, a se dedicarem largamente ao assunto, a fazer
conferências em muitos países, a viajar para a Austrália, Nova Zelândia, e Canadá, em
missões de instrução. Na verdade, esta história, pode dizer-se, obedece ao mesmo impulso
que, de início, o atirou de corpo e alma na causa. Êste assunto se presta para algumas linhas
numa história geral, mas se torna parte de um capítulo que trata da guerra, desde que foi a
atmosfera da guerra que o engendrou e desenvolveu.
A profecia é um dom espiritual e qualquer prova clara de sua existência indica fôrças
psíquicas, fora de nosso conhecimento normal. No caso da guerra, aliás, muitos podiam,
por meios normais, como pelo uso da própria razão, predizer que a situação no mundo tinha
se tornado tão intolerável por causa do militarismo, que o equilíbrio não podia ser mantido.
Mas algumas dessas profecias parecem tão distintas e minuciosas que se colocam acima no
poder da mera razão e da previsão (2).
2. Algumas referéncias a essas profecias podem ser encontradas nas seguintes publlcações:
“Prophecies and Omens o! the Great War”, by Ralph Shirley; “ The War and the Prophets”,
by Herbert Thurston; and “War Pra phec~es”, by F. O. S. Schiller (SOCIETY FOR
PSYCHICAL RESEARCH - Jornal, Junho, 1916).
O fato geral de uma grande catástrofe mundial e a parte nela tomada pela Inglaterra, é
assim referida numa comunicação espírita recebida pelo Grupo Oxley, em Manchester, e
publicado em 1885 (3):
“Por duas vezes em sete anos — a partir da data que vos foi indicada — as influências que
agem contra a Inglaterra serão vitoriosas; e depois daquele tempo, virá uma terrível luta,
uma tremenda guerra, um terrível derramamento de sangue — conforme a maneira humana
de falar, um destronamento de reis, uma derrubada de Poderes, grandes revoluções e
perturbações; e ainda maior comoção entre as massas, produzidas pela riqueza e por sua
posse. Usando essas palavras, falo de acôrdo com a linguagem humana.
A mais importante questão é: “A Inglaterra ficará perdida para sempre?” Vemos as
profecias de muitos e a atitude de muitos representantes no plano externo e vemos mais
claramente do que muitos na Terra nos julgam capazes; vemos que entre os ultimos
indicados há os que mais amam o ouro do que aquêle princípio inteiro que aquêle ouro
representa.
A não ser que no começo da crise não intervenha o Grande Poder, isto é, que a Grande
Fôrça operadora de que vos falei antes, e em calma dignidade passe à frente e destitua o
mandado — impondo a Paz — a profecia de alguns, que para sempre a Inglaterra
mergulhará nas profundezas, será cumprida. Como os específicos átomos da vida, que
compõem o Estado chamado Inglaterra, que deve mergulhar um tempo a fim de que possa
vir à tona, assim deve a Nação mergulhar e mergulhar profundamente durante uma estação;
porque se acha imersa no amor do que é falso e ainda não adquiriu a inteligência que agirá
como poderosa alavanca para a erguer para a sua própria dignidade. Irá ela, como o homem
afogado que se afunda pela terceira e última vez, mergulhar e perder-se para sempre? Uma
vez no grande todo do Todo Poderoso, deverá continuar como parte integrante. Haverá uma
mão bondosa que se estenderá para a salvar e a livrar dos vagalhões dos próprios jeitos que
ameaçam tragada. Com uma energia inexprimível, diz aquêle Poder: Primeiro a inglaterra!
inglaterra para sempre! Mas a continuação não será no mesmo estado de coisas. Ela deve e
mergulhará ainda mais, para mais ainda se erguer. O como, o porquê e a maneira por que
fará a sua salvação e a sua serenidade, eu vos direi em outra ocasião; mas, aqui afirmo que,
a fim de se salvar, a Inglaterra deve sofrer um derrame do seu melhor sangue.”
Sôbre detalhes da famosa profecia de M. Sonrel, em 1868, sôbre a guerra de 1870 e sua
profecia menos direta sôbre a de 1914, deve o leitor consultar o livro do Professor Richet
“Trinta Anos de Pesquisas Psíquicas”, das páginas 387, até 389. A parte essencial desta
última é assim concebida:
“Espere agora, espere... passam-se anos. É uma vasta guerra. Que sangria! Meu Deus! que
sangria! Oh! França, oh! minha terra, está salva! Estás no Reino!”
A profecia foi dada em 1868, mas só registrada pelo Doutor Tardieu em abril de 1914.
O autor se referia antes (4)
à profecia dada em Sydney, Austrália, pela conhecida médium Mrs. Foster Turner, mas ela
suporta a repetição. Numa reunião em fevereiro de 1914, no Little Theatre, Castlereagh
Street, perante uma assistência de cêrca de mil pessoas, numa mensagem de transe, na qual
se supunha que a influência fôsse de Mr. W. I. Stead, disse ela, conforme notas tomadas na
ocasião em que falava:
“Agora, não obstante não haja rumores de uma próxima Guerra Européia, desejo ainda vos
prevenir que, antes de terminado êste ano de 1914, a Europa será afogada em sangue. A
Grã-Bretanha, nossa querida pátria, será arrastada à mais horrorosa guerra que o mundo já
conheceu. A Alemanha será a grande antagonista e arrastará outras nações ao seu lado. A
Áustria será arrastada para a ruína. Cairão reis e reinos. Milhões de vidas preciosas serão
sacrificadas, mas a Inglaterra triunfará por fim e surgirá vitoriosa.”
A data do término da Grande Guerra foi dada com exatidão em “Private Dowding”, pelo
Major W. Tudor Pole, que denomina o seu livro “Um Simples Registro de Experiências
com
o Depois da Morte de um Soldado morto em Campo de Batalha”. Nêsse livro,
aparecido em
Londres em 1917, encontramos, à página 99, a seguinte comunicação:
Mensageiro: Na Europa haverá três grandes federações de estados. Estas surgirão
naturalmente e sem derramamento de sangue; mas antes dar-se-á a batalha de A
Armageddon.
W. T. Pergunta: Quanto tempo demorará isto?
Mensageiro: Não sou um ser bastante elevado; a mim não são revelados os detalhes de
todos êsses maravilhosos acontecimentos. Até onde me é permitido ver, a paz será
restabelecida durante 1919 e as federações mundiais surgirão dentro dos sete anos
seguintes. Entretanto a luta atual deve terminar em 1918 e muitos anos passarão antes de se
estabelecer a tranqüilidade e a paz de maneira permanente.”
Na lista das profecias ocupa um lugar a de Mrs. Piper, famosa médium de transe de Boston,
E. U. A., conquanto alguns a considerem um tanto vaga. Foi dada em 1898, numa sessão
com o Doutor Richard Hodgson, membro preeminente da Sociedade de Pesquisas Psíquicas
de Londres e de sua congênere americana.
“Jamais, desde os dias de Melchizedek, foi o mundo terreno tão sensível à influência dos
Espíritos. No próximo século ela será admiravelmente perceptível à mente humana. Farei
uma declaração que com certeza ireis verificar. Ante a clara revelação do Espírito em
comunicação, haverá uma terrível guerra em várias partes do mundo. Isto será precedido
por comunicações claras. O mundo inteiro deve ser purificado e limpo, antes que o homem
mortal possa ver, numa visão espiritual, seus amigos dêste lado; e ele tomará exatamente
linha de ação para chegar ao estado de perfeição. Amigo, tenha a bondade de pensar nisto
(5).
fala, enfim, das predições de guerra, contidas em várias escritas automáticas, especialmente
nas de Mrs. Alfred Lyttelton. Em resumo, diz êle:
“Em têrmos gerais êsses escritos predizem a guerra. Assim foi com muitos. Cêrca de meia
dúzia, escritos entre 9 e 21 de julho de 1914, prediziam que a guerra estava às portas.
Assim também uma anterior, foi recebida por Sir Cecil Spring-Ríce. As mensagens
predizem que a guerra eventualmente conduzirá a um grande avanço nas relações
internacionais e nas condições sociais. Por outro lado, dezenas de milhares de cidadãos
comuns em todo o Império Britânico, pensaram e esperaram que a Grande Guerra fôsse,
como dizia a frase, “uma guerra para acabar com a guerra.
Mas êsse último paralelo entre as predições nas mensagens e as crenças ou aspirações que
se declaravam por tôda a parte e tão intensamente quando rebentou a guerra, é apenas
superficial. Porque, enquanto a onda de idealismo que varreu o Império continuou ou
pelomenos se sincronizou, com o começo da guerra, durante muitos anos antes de 1914, as
mensagens reiteradamente combinavam as predições de uma Utopia com predições de
guerra, e as tinham combinado de tal maneira que uma coisa implicava o surgimento da
outra. Não vejo paralelo nisto. Os escritores, soldados, diplomatas e políticos que nos
previram a guerra, pregaram os seus perigos e os seus horríveis efeitos, mas não nos
disseram que essa horrível tragédia seria a gestação de um mundo melhor. Também os
propagandistas de Haya e de outras conferências para o aplainamento de rivalidades
internacionais não nos avisaram que a guerra mundial deveria preceder a realização
daqueles desejos. Tudo era predição ou temor de um próximo caos. Só as mensagens
espíritas, ao que saibamos, falam de uma esperança no após-guerra e saúdam a
aproximação do caos, como prelúdio de um novo cosmos.
As predições da Guerra nas mensagens não se podem se parar das de uma eventual Utopia.
As mensagens não dizem “Haverá guerra”, ponto, e mudando de assunto, “Haverá uma
Utopia”. Insinuam claramente que Utopia será conseqüência da Guerra. Contudo, não será
possível dizer-se que os dois elementos componentes da profecia permanecerão ou cairão
juntos, porque as predições de Guerra se realizaram; mas realizações ou a morte das
predições utópicas eventualmente influenciarão a opinião pública, como fonte de predições
de guerra. Se a Utopia prevista nessas mensagens se traduzisse em fato, seria muito difícil
atribuir a predição dêsse fato como resultado da Guerra à presciência humana comum.
Então surgiria um caso, por admitir-se a pretensão das mensagens e por se dar crédito á
predição dos sêres desencarnados. E se as predições utó picas fôssem recebidas como
trabalho das mentes desencarnadas, com tôda probabilidade as predições da Guerra, que a
elas se acham intimamente ligadas, seriam atribuidas à mesma fonte.
Há muitíssimas outras profecias que foram mais ou menos bem sucedidas. Seu exame,
entretanto, não deixará de impressionar o estudioso com a convicção de que o sentido de
tempo é menos apurado nos detalhes espirituais. Muito freqüentemente, onde os fatos são
certos, as datas são lamentavelmente erradas.
A mais exata de tõdas as profecias concernentes à Guerra parece que foi a de Sophia, uma
jovem grega que, hipnotizada pelo Doutor Antoniou de Atenas, forneceu em transe
oráculos falados. A data foi 6 de junho de 1914. Não só predisse a Grande Guerra, e quem
seriam as partes, mas deu uma porção de detalhes, tais como a neutralidade da Itália no
comêço, sua subseqüente aliança com a Entente, a ação da Grécia, o lugar da batalha final
de Vardar, etc. É interessante, entretanto, notar que ela cometeu certos erros que tendem a
mostrar que a posição do Fatalista não é segura e que, pelo menos, há uma Larga margem
que pode ser afetada pela vontade e pela ação humanas (7).
Há muitos testemunhos relativos à ocorrência daquilo que pode ser chamado intervenção
dos Espíritos durante a guerra.
O Capitão W. E. Newcome contou o seguinte (8):
“Foi em setembro de 1916 que o 2º Suffolks deixou Loos para ir para o setor Norte de
Albert. Acompanhei-os e quando nas trincheiras da linha de frente daquele setor, eu, com
outros, testemunhei uma das mais notáveis ocorrências da guerra.
“Entre o fim de outubro e 5 de novembro estávamos guarnecendo aquela parte com muito
pouca tropa. A 1º de novembro os alemães fizeram um ataque cerrado, com enorme esfôrço
para romper a linha. Tive ocasião de descer às linhas de reserva e, durante a minha
ausência, começou o ataque alemão.
“Apressei-me em voltar para a minha companhia e cheguei a tempo de dar uma mão,
fazendo o inimigo recuar para as suas linhas. Êle jamais ganhou um palmo de nossas
trincheiras. O assalto foi duro e curto e nós estávamos à espera de um outro assalto.
“Não tivemos que esperar muito, pois logo vimos alemães vindos pela Terra de Ninguém
em ondas maciças. Antes, porém, que atingissem as nossas rêdes de arame farpado, uma
figura branca, espiritual, de um soldado ergueu-se de uma cratera ou do chão, mais ou
menos a cem jardas à nossa esquerda, bem em frente os nossos fios e entre a primeira linha
de alemães e nós. A figura espectral caminhou então lentamente em frente às nossas linhas,
cêrca de mil jardas. Sua silhueta sugeria à minha mente a de um velho oficial de antes da
guerra, pois parecia usar capote da campanha, com capacete de serviço de campo. Primeiro
olhou para os alemães que se aproximavam, depois virou a cabeça e começou a andar do
lado de fora de nossas rêdes, ao longo do setor que guarnecíamos.
“Nosso sinal de S.O.S. tinha sido respondido por nossa artilharia e as balas assobiavam
através da Terra de Ninguém... mas nenhuma impedia que o espectro progredisse.
Rapidamente marchou da nossa esquerda até a extrema direita do setor e então virou-se
bem de frente para nós. Parecia olhar para cima e para baixo de nossas trincheiras e quando
cada “very light” subia, êle ficava ainda mais destacado.
“Depois de um rápido exame sôbre nós, voltou-se bruscamente para a direita, e avançou em
normal para as trincheiras alemãs. Os alemães retrocederam para não mais aparecer naquela
noite.
“Parece que o primeiro pensamento dos homens foram os Anjos de Mons; depois alguns
disseram que parecia Lorcl Kitchner e outros disseram que quando se voltara para nós o
rosto parecia o de Lord Roberts. Sei que pessoalmente me causou um grande abalo e que
durante algum tempo foi o assunto da companhia.
“Seu aparecimento pôde ser testemunhado por sargentos e homens de minha companhia.”
No mesmo artigo do Pearson’s Magazine é contada a história de Mr. William M. Speight,
que tinha perdido um irmão oficial e seu melhor amigo no ângulo saliente de Ypres, em
dezembro de 1915. Viu o oficial ir ao seu refúgio na mesma noite. Na manhã seguinte Mr.
Speight convidou outro oficial a vir ao refúgio a fim de confirmar, se a visão reaparecesse.
O oficial morto voltou mais uma vez e, depois de apontar um lugar no chão do refúgio,
desapareceu. Foi feito um buraco no lugar apontado e à profundidade de três pés foi
encontrado um pequeno túnel cavado pelos alemães, com tubos de inflamáveis e bombas de
tempo, que deveriam explodir treze horas mais tarde. A descoberta das minas poupou
muitas vidas.
Mrs. E. A. Cannock, conhecida clarividente londrina, descreve (9)
numa reunião espírita como muitos soldados mortos adotaram um método novo e
convincente para se identificarem. Os soldados, na visão da clarividente, avançaram em fila
indiana pela nave de uma igreja comandados por um tenente. Cada homem tinha uma
espécie de placa no peito, na qual estavam escritos o nome e o lugar onde tinham vivido na
Terra. Mrs. Cannock foi capaz de ler os nomes e a descrição, e todos foram identificados
por vários membros da assistência. Circunstância curiosa era que, quando um era
reconhecido, desaparecia para dar lugar ao seguinte na fila.
Como tipo de outras histórias da mesma natureza podemos citar o caso descrito em
“Telepathy from the Battle.front” (10).
O caso coincide com experiências verificadas em muitos sensitivos que, por uma
desconhecida lei de simpatia, sofreram choques simultaneamente com acidentes ocorridos
em amigos, e até em estranhos, que estavam distantes.
Em muitos casos, soldados mortos têm-se manifestado na fotografia espírita. Um dos mais
notáveis exemplos ocorreu em Londres, no Dia do Armistício, a 11 de novembro de 1922,
quando a médium, Mrs. Deane, em presença de Miss Estelle Stead, tirou uma fotografia da
multidão em Whitehall, nas proximidades do Cenotáfio. Foi durante os dois minutos de
silêncio, e na fotografia vê-se um grande círculo de luz, no meio do qual estão duas ou três
dúzias de cabeças, muitas das quais foram repetidas nos anos seguintes e, a despeito dos
incessantes e maliciosos ataques à médium e ao seu trabalho, os que tiveram a melhor
oportunidade de a controlar, não têm dúvidas do caráter supranormal das fotografias.
Devemos contentar-nos com mais um caso típico de centenas de resultados. Mr. R. S.
Hipwood, 174, Cleveland Road, Sunderland, escreve (12).
12. “The Case for Spirit Photography”, by Sir A. Conan Doyle, página 108.
“Perdemos nosso único filho na França a 27 de agôsto de 1918. Sendo um bom fotógrafo
amador, tinha curiosidade pelas fotografias tiradas no Crewe Circle. Tomamos nossa
própria chapa, meti-a eu mesmo no caixilho e escrevi o meu nome. Fiz duas exposições na
máquina e obtivemos uma fotografia bem reconhecível. Até meu neto de nove anos pôde
dizer quem era o extra, sem que ninguém lhe houvesse falado. Tendo um conhecimento
completo de fotografia, posso garantir a veracidade da fotografia em todos os seus detalhes.
Declaro que a fotografia que vos remeto é um retrato comum meu e de Mrs. Hipwood, com
um extra de meu filho, R. W. Hipwood, 13º Regimento Welsh, morto na França, no grande
avanço de agosto de 1918. Apresento aos nossos amigos em Crewe a nossa ilimitada
confiança em seu trabalho.”
Nos inúmeros casos registrados de volta de soldados mortos, o seguinte se destaca porque
os detalhes foram recebidos de duas fontes diversas. É contado por M. W. T. Waters (13),
registra essa comunicação probante, que foi recebida em Dublin, através da prancheta, com
Mrs. Travers Smith, filha do falecido Professor Edward Dowden. Sua amiga, Miss C., que
é mencionada, era filha de um médico. Sir William chama a êste “O Caso do Alfinête de
Pérola”.
Miss C., assistente, tinha um primo, oficial do nosso exército na França, o qual fôra morto
numa batalha, um mês antes da sessão. Ela o sabia. Um dia em que o nome de seu primo
tinha sido deletreado inesperadamente numa sessão de prancheta e o nome dela dado em
resposta à pergunta “Sabe quem sou eu?”, veio a seguinte mensagem.
“Diga a mamãe que dê um alfinete de pérola à môça com quem eu ia casar-me. Penso que
ela deve ficar com êle.” Quando perguntaram o nome e o endereço da môça, êstes foram
dados. O nome deletreado compreendia o seu nome de batismo, o sobrenome, que era
muito pouco comum e desconhecido de ambos os assistentes. O enderêço dado em Londres
era fictício ou captado incorretamente, pois uma carta para lá enviada foi devolvida. Então
pensou-se que tôda a mensagem fôsse fictícia.
Seis meses depois, entretanto, foi descoberto que o oficial tinha ficado noivo, pouco antes
de ir para a frente, exatamente da môça cujo nome fôra dado. Entretanto não tinha dito isso
a ninguém. Nem sua prima, nem sua família na Irlanda sabiam do fato, nem tinham jamais
visto a môça ou ouvido falar em seu nome até que o Ministério da Guerra mandou os
objetos do morto. Então verificaram que êle havia pôsto o nome da? môça com seu
testamento, como sua parenta mais próxima — e tanto o prenome quanto o nome eram
precisamente aquêles dados na sessão; e o que é igualmente notável, é que o alfinête de
pérola foi achado entre os seus objetos.
Ambas as senhoras assinaram um documento que me enviaram, afirmando a exatidão do
relato. A mensagem foi gravada na ocasião e não escrita de memória depois de obtida a
confirmação. Aqui não poderia haver a explicação da memória subliminal, telepatia ou
coincidência e a evidência indica, sem sombra de dúvida, como mensagem telepática do
oficial morto.”
Descreve o Reverendo G. Owen (15)
Não podemos aqui entrar no assunto, salvo para dizer que há provas de muitas fontes a
indicar que Mr. Sinnet fala de coisas que se baseiam em fatos.
Um considerável número de livros e um muito maior de manuscritos registram as supostas
experiências dos que morreram na guerra, que, aliás, não diferem de modo algum da dos
que morreram em outras ocasiões, mas se tornam mais dramáticas, dada a ocasião histórica.
O maior dêsses livros é “Raymond”. Sir Oliver Lodge é um cientista tão famoso e um
pensador tão profundo que a sua corajosa e franca confissão produziu uma grande
impressão sobre o público. O livro apareceu últimamente em forma condensada, e parece
que fica por muitos anos como um clássico do assunto. Outros livros da mesma classe,
todos corroborativos dos principais detalhes são “The Case of Lester Coltman”, “ClaudÉs
Book”, “Rupert Lives”, “Grenadier Rolf”, “Private Dowding” e outros. Todos pintam a
sorte da vida do além, que é descrita no capítulo seguinte.
24
Aspecto Religioso do Espiritismo
Tudo indica uma religião simples. O Cristianismo era melhor quando se achava nas mãos
dos humildes. Foram os ricos, os poderosos, os instruídos que o degradaram, que o
complicaram, que o arruinaram.
Não é possível, entretanto, tirar nenhuma inferência psíquica das inscrições e desenhos das
Catacumbas. Para isto devemos voltar aos Pais pré-nicenos, onde encontramos tantas
referências que seria fácil compilar um pequeno livro que não contivesse mais que isso.
Temos, porém, que afinar os nossos pensamentos e as nossas palavras pelas suas, a fim de
lhes aprendermos a inteira significação. Profecia, por exemplo, chamamos mediunidade, e
um Anjo se transforma num Espírito elevado ou Guia. Tomemos a esmo alguns exemplos.
Na sua “De cura pro Mortuis”, diz Santo Agostinho: “Os Espíritos dos mortos podem ser
mandados aos vivos, aos quais podem desvendar o futuro, que ficaram conhecendo por
outros Espíritos ou pelos Anjos” (isto é, pelos guias espirituais) “ou pela revelação divina”.
Isto é puro Espiritismo, exatamente como o conhecemos e definimos. Agostinho não teria
falado nisso com tanta segurança nem com tanta justeza de definições se não tivesse tido o
seu conhecimento familiar. Não há o menor indício de que isso fôsse ilícito.
Ele volta ao assunto na sua “A Cidade de Deus”, onde se refere a práticas que permitem
que o corpo etéreo de uma pessoa se comunique com os Espíritos e com os guias mais
elevados e tenha visões. Aliás, essas pessoas eram médiuns — nome que apenas significa
intermediário entre organismos encarnados e desencarnados.
São Clemente de Alexandria faz semelhantes alusões, como também São Jerônimo, em sua
controvérsia com o gaulês Vigilantius (2).
2. Vigilantius foi o fundador de uma seita que proscrevia as relíquias, bem como a vida
monástica, o celibato dos sacerdotes.
É do século 4 e representa a primeira reação do espírito gaulês, contra os abusos da Igreja
Romana. —N. do T.
7. Jornal, American SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH, Janeiro 1923, página 323.
10. “The Identity of Primitive Christianlty and Modern Spiritualiam”, volumes 2º. Edition,
New York, 1875.
Aqui há que deixar o assunto. Esta história procurou mostrar como especiais signos
materiais têm sido dados pelos regentes invisíveis da Terra, a fim de satisfazer a
necessidade de provas materiais, que vêm da crescente mentalidade do homem. Também
foi mostrado como êsses sinais materiais foram acompanhados de mensagens espirituais, e
como essas mensagens se voltam para as grandes fôrças religiosas primitivas do mundo, o
fogo central da inspiração, que foi extinto pelas cinzas mortas daquilo que outrora fôra
crença viva. O homem perdeu o contacto com as vastas fôrças que o rodeiam e seu saber e
inspiração ficaram amarrados por penosas vibrações que constituem o seu espectro, bem
como às oitavas elementares que limitam a faixa de suas percepções auditivas. O
Espiritismo, o maior movimento produzido em 2000 anos, colhe-o desta condição, enxuga
o orvalho que o encharcou e lhe mostra novas fôrças e ilimitados horizontes em seu redor e
mais acima. Já os picos das montanhas se iluminam. Em breve até os vales estarão
inundados pelo sol da verdade.
25
O Depois-da-Morte Visto pelos Espíritas
LEVA o Espírita uma grande vantagem sôbre os das velhas dispensações. Quando
entra em comunicação com inteligências do Outro Lado e que já viveram em corpos
terrenos, naturalmente as interroga, curioso, sôbre suas atuais condições, bem como sôbre
os efeitos de suas ações terrenas sôbre a sua sorte posterior. As respostas a estas últimas
perguntas, de um modo geral, justificam os pontos de vista sustentados em muitas religiões,
e mostram que o caminho da virtude também é a estrada para a felicidade final. Entretanto
um sistema definido é apresentado à nossa consideração, o qual elucida a vacuidade das
velhas cosmogonias. Êsse sistema apareceu em vários livros que descrevem a experiência
dos que viveram a nova vida. Devemos lembrar que tais livros não são produzidos por
escritores profissionais. Dêste lado está o chamado escritor “automático”, que recebe a
inspiração; do outro lado, a inteligência que o transmite. Mas nem foi dotado pela Natureza
com a menor capacidade literária, nem jamais fêz a experiência de reunir narrativas.
Também devemos ter em mente que o que quer que venha é resultado de um processo
complicado, que em muitos casos deve ser incômodo para o compositor. Se pudéssemos
imaginar um escritor terreno que tivesse de usar uma ligação interurbana em vez da pena,
poderíamos estabelecer uma grosseira analogia com as dificuldades do operador. E ainda, a
despeito dessas grandes inconveniências, em muitos casos as narrativas são claras,
dramáticas, intensamente interessantes. Raramente deixam de o ser, desde que o caminho
que descrevem hoje é o que teremos que palmilhar amanhã.
Tem-se dito que essas narrativas variam enormemente e são contraditórias. O autor não
achou tal. Num longo período de leitura, no qual examinou muitos volumes de supostas
experiências póstumas, e também num grande número de mensagens obtidas
particularmente em famílias e sem público, êle ficou chocado com a sua concordância
geral. Aqui e ali aparece alguma história contendo êrros claros e, ocasionalmente há lapsos
no sensacionalismo; mas em geral as descrições são elevadas, razoáveis e concordantes,
entre si, mesmo quando diferem nas minúcias. As descrições de nossas próprias vidas
naturalmente seriam diferentes nos detalhes e um crítico de Marte que recebesse histórias
de um camponês hindu, de um caçador esquimó ou de um professor de Oxford bem poderia
recusar-se a crer que tão divergentes experiências se encontrassem no mesmo planêta. Essa
dificuldade não existe no Outro Lado; e não há, tanto quanto o saibamos, tão extremos
contrastes na mesma esfera de vida — na verdade deve dizer-se que a característica da vida
presente é a mistura de tipos diversos e dos graus de experiência, enquanto que a da outra
vida é a subdivisão e a separação dos elementos humanos. O céu é diverso do inferno.
Neste mundo e atualmente o homem devia fazer — e por vêzes o consegue por algum
tempo — o céu. Mas há longos períodos que são muito intoleráveis imitações do inferno,
enquanto purgatório deve ser o nome dado à condição normal.
No Outro Lado as condições devem ser, esquemàticamente, divididas em três. Há os que se
acham presos à Terra e que trocaram os seus corpos mortais por corpos etéricos, mas que
são mantidos na superfície dêste mundo, ou próximos dela, pela grosseria de sua natureza
ou pela intensidade de seu interêsse mundano. Tão áspera deve ser a contextura de sua
forma extra-terrena, que devem ser reconhecidos mesmo por aquêles que não possuem o
dom especial da clarividência. Nessa infeliz classe errante está a explicação de todos
aquêles fantasmas, espectros e aparições, as casas assombradas que têm chamado a atenção
da humanidade em tôdas as épocas. Essa gente, até onde podemos compreender a sua
situação, ainda não começou a sua vida espiritual, nem boa, nem má. Sômente quando se
rompem os fortes laços da Terra é que se inicia uma vida nova.
Os que realmente começaram aquela existência encontram-se naquela faixa da vida que
corresponde à sua própria condição espiritual. É o castigo do cruel, do egoísta, do fanático,
do frívolo, que se encontram em companhia de seu semelhante e em mundos de luz que,
variando do nevoeiro à escuridão, tipifica o seu próprio desenvolvimento espiritual. Êsse
ambiente, entretanto, não é permanente. Os que não fizeram um esfôrço ascensional,
entretanto, ficarão aí indefinidamente, enquanto outros que dão ouvidos ao ensino de
Espíritos auxiliadores, mesmo de baixos círculos da Terra, cedo aprendem a lutar para subir
a zonas mais brilhantes. Em comunicações dadas na própria família do autor, êle aprendeu
o que era ter contacto com êsses sêres das trevas exteriores e teve a satisfação de receber os
seus agradecimentos por uma visão mais clara de sua situação, as suas causas e os meios de
cura (1).
1. Em “Trinta Anos Entre os Mortos”, do Senhor Wickland, e no Apêndice de “Glimpses of
the Next State”, do Almirante lis-borne Moore, temos um relato completo da situação dos
que se acham presos à Terra.
Tais Espíritos pareceriam uma ameaça constante à humanidade porque se a aura protetora
do indivíduo fôsse de certo modo defeituosa, aquêles poderiam tornar-se parasitas,
estabelecendo-se nela e influenciando as ações de seu hospedeiro. É possível que a ciência
do futuro possa verificar que muitos casos de inexplicável mania, de insensata violência, de
súbita inclinação para hábitos viciosos tenham essa causa, o que oferece um argumento
contra a pena capital, de vez que o resultado deve ser dar mais fõrças para o mal do
criminoso. Deve admitir-se que o assunto ainda é obscuro, que é complicado pela
existência de pensamentos-forma e de formas de memória, e que, em todo caso, todos os
Espíritos presos à Terra não são necessàriamente maus. Parece, por exemplo, que os
monges devotos de qualquer venerável Glastonbury deveriam estar presos às suas ruínas
assombradas pela simples fôrça de sua devoção.
Se o nosso conhecimento das exatas condições dos que estão presos à Terra é defeituoso,
maior ainda é o dos Círculos de punição. Há uma história de certo modo sensacional em
“Gone West”, de Mr. Ward; há outra mais temperada e crível na “Vida Além do Véu”, do
Reverendo Vale Owen; e há muitas corroborações nas visões de Swedenborg, no
“Espiritismo”, do Juiz Edmonds e em outros volumes. Nossa falta de informações de
primeira mão é devida ao fato de que não somos Hamlets e que não temos contacto direto
com os que vivem nessas esferas inferiores. Delas temos notícias indiretamente, através dos
mais altos Espíritos que nelas realizam trabalhos missionários, trabalhos que parecem ser
realizados com tamanhas dificuldades e perigos quanto os que rodeariam o homem que
tentasse evangelizar as mais selvagens raças da Terra. Lemos histórias da descida de
Espíritos elevados às mais baixas esferas, de seus combates com as fõrças do mal, de
grandes príncipes do mal que são formidáveis em seus próprios reinos e de tôda uma
imensa cloaca de almas nas quais os esgotos psíquicos do mundo são derramados
incessantemente. Entretanto tudo isto deve ser considerado antes do ponto de vista do
remédio do que do castigo. Essas esferas são as salas de espera — hospitais para almas
doentes — onde a experiência punitiva é intentada para trazer o sofredor à saúde e à
felicidade.
Nossa informação é mais completa quando nos voltamos para regiões mais felizes, nas
quais parece que a beleza e a felicidade são graduadas conforme o desenvolvimento
espiritual dos seus habitantes. A coisa se torna mais clara se substituirmos a bondade e o
altruísmo pela expressão “desenvolvimento espiritual”, pois nessa direção se encontra todo
o crescimento da alma. Por certo que é um assunto muito diverso do intelecto, embora a
união das qualidades intelectuais com as espirituais naturalmente produzam efeitos mais
perfeitos.
As condições de vida no além normal — e seria um reflexo da justiça e da misericórdia da
Inteligência Central se o além normal não fôsse também o feliz além — são descritos como
extraordinariamente felizes. O ar, as vistas, as casas, o ambiente, as ocupações, tudo tem
sido descrito com tantos detalhes e geralmente com o comentário de que as palavras não
são capazes de lhes pintar a gloriosa realidade. Pode ser que haja algo de parábola e de
analogia nessas descrições, mas o autor se inclina a lhes dar inteiro valor e acredita que a
“Summerland”, como Davis a chamou, é tão real e objetiva aos seus habitantes quanto o
nosso mundo para nós. Fácil é levantar uma objeção: “Por que, então, não a vemos?” Mas
devemos imaginar que uma vida etérica se exprime em têrmos etéricos e que, exatamente
como nós, com cinco sentidos materiais, nos afinamos com o mundo material, êles com
seus corpos etéricos, se afinam com as vistas e os sons do mundo etérico. Aliás o vocábulo
“éter” só é usado por conveniência, para exprimir algo muito mais sutil que a nossa
atmosfera.
Absolutamente não temos prova de que o éter dos físicos seja também o meio no mundo
espiritual. Pode haver outras essências finas, muito mais delicadas que o éter, como é o éter
em comparação com o ar.
O céu espiritual, pois, pareceria uma sublimada e etérica reprodução da Terra e da vida
terrena, em condições melhores e mais elevadas. “Embaixo — como em cima, dizia
Paracelso, e fêz soar a nota fundamental do universo, quando o proclamou. O corpo leva,
consigo, suas qualidades espirituais e intelectuais, imutáveis pela transição de uma sala da
grande mansão universal para a vizinha. É inalterado na forma, salvo que o jovem e o velho
tendem para uma expressão normal de completa maturidade. Garantindo que assim é,
devemos admitir a racionalidade da dedução de que tudo o mais deve ser do mesmo modo e
que as ocupações e o sistema geral de vida deve ser tal que permita oportunidades para os
talentos especiais do indivíduo. O artista sem arte e o músico sem música seriam figuras
trágicas e o que se aplica a tipos extremos deve estender-se a tôda a humanidade. Há, de
fato, uma sociedade muito complexa, na qual cada um encontra o trabalho a que mais se
adapta e que lhe causa maior satisfação. Por vêzes há uma escolha. Assim, em “O Caso de
Lester Coltman”, escreve o estudante morto: “Algum tempo depois que eu tinha passado,
tinha dúvidas sôbre qual seria o meu trabalho: se música ou se ciência. Depois de muito
pensar determinei que a música deveria ser um passatempo e minha maior atividade deveria
dirigir-se para a ciência em todos os aspectos”.
Depois de uma tal declaração naturalmente a gente deseja detalhes de como um trabalho
científico era feito e em que condições. Lester Coltman é claro em todos os pontos.
“O laboratório sob a minha direção é inicialmente ligado ao estudo dos vapores e fluídos
que formam a barreira que, penso, por meio de profundo estudo e experiência, somos
capazes de atravessar. O resultado dessa pesquisa, pensamos nós, provará o “Abre-te
Sésamo” da porta de comunicação entre a Terra e essas esferas.” (2)
Lester Coltman dá outra descrição de seu trabalho e do ambiente, que bem pode ser citada
como um modêlo de muitas outras. Diz ele (3)
“O interêsse mostrado por seres terrenos em relação ao caráter de nossas casas e dos
estabelecimentos onde se realiza o nosso trabalho é, aliás, natural, mas a descrição não é
muito fácil de ser feita em têrmos terrenos. Meu estudo servirá como um exemplo, do qual
deduzirei o modo de vida de outros, conforme o temperamento e o tipo de mente.
Meu trabalho continuou aqui como tinha começado na Terra, por canais científicos e a fim
de prosseguir meus estudos, visitei com freqüência um laboratório que possuía
extraordinárias e completas facilidades para a realização de experiências. Tenho a minha
casa, extremamente agradável, completada por uma biblioteca com livros de referência —
histórica, científica e médica — e, de fato, com todos os tipos de literatura. Para nós tais
livros são tão substanciais, quanto os usados na Terra. Tenho uma sala de música, contendo
todos os modos de expressão dos sons. Tenho pinturas de rara beleza e móveis de desenho
esquisito. Atualmente vivo só, mas freqüentemente os amigos me visitam, assim como os
visito, e se um pouco de tristeza por vêzes se apodera de mim, visito aos que mais amei na
Terra.
Da minha janela se avista um campo ondulante de grande beleza e a pouca distância da casa
existe uma comunidade, onde boas almas que trabalham em meu laboratório vivem em feliz
concórdia... Um velho chinês, meu assistente-chefe, de grande valor nas pesquisas
químicas, é o diretor, como o era, da comunidade. É uma alma admirável, de grande
simpatia e dotado de enorme filosofia.”
Eis outra descrição que trata do mesmo assunto (4):
Êsse cavalheiro, que tinha sido, e talvez ainda seja, um céptico, leu uma história do autor,
sôbre como são as condições além da morte; e foi rebuscar um trabalho que havia escrito há
anos, mas que recebera com incredulidade. E escreveu: “Depois de ler o vosso artigo fiquei
chocado, quase estatelado, pelas circunstâncias de que as coisas imaginadas por mim e
relativas às condições da vida de alémtúmulo — penso que até nos menores detalhes —
coincidem com as que descreveis como resultado de vossa coleção de materiais obtidos de
várias fontes.” O resto das conclusões de Mr. Wales se acham no Apêndice.
Tivesse essa filosofia girado sôbre os grandes altares recebendo uma adoração perpétua,
poderiam dizer que era um reflexo daquilo que nos ensinaram na infância. Mas é muito
diferente — e, certamente, muito mais razoável. Um campo aberto éapresentado para o
desenvolvimento de tõdas as capacidades com que fomos dotados. A ortodoxia permitiu a
continuada existência de tronos, de coroas, de harpas e de outros objetos celestes. Não será
mais sensato admitir que se algumas coisas podem sobreviver, tôdas o poderão, em formas
tais que se adaptem ao ambiente? Como examinamos tôdas as especulações da
humanidade, talvez os Campos Elísios dos Antigos e as felizes regiões de caça dos Peles-
Vernelhas estejam mais próximas dos fatos atuais do que essas fantásticas representações
do céu e do inferno, descritas nas visões extáticas dos teólogos.
Um céu tão vulgar e caseiro pode parecer material a muitas mentes, mas devemos lembrar
que a evolução foi muito lenta no plano terreno e ainda o é no espiritual. Em nossa presente
baixa condição, não podemos atingir o que é celestial. Será trabalho de séculos —
possivelmente de anos. Ainda não estamos preparados para uma vida puramente espiritual.
Como, porém, nós mesmos nos tornamos mais finos, também se transformará o nosso
ambiente e nós evoluiremos de céu a céu, até que o destino da alma se perca no fogo da
glória, onde não pode ser acompanhada pelos olhos da imaginação.
APÊNDICE 1
NOTAS AO CAPÍTULO 4 - PROVA DA ASSOMBRAÇÃO DA CASA DE
HYDESVILLE ANTES DE SER HABITADA PELA FAMÍLIA FOX
Ouvi falar nos ruídos misteriosos que eram ouvidos na casa agora ocupada pelo Senhor
Fox. Nós moramos na mesma casa cêrca de um ano e meio, daí nos mudando para onde
agora estamos. Há cêrca de um ano, quando lá habitávamos, ouvimos alguém, conforme
pensamos, batendo de leve na porta de entrada. Eu acabara de me deitar, mas meu marido
ainda não. Assim, ele abriu a porta e disse que não havia ninguém. Voltou e já estava para
se deitar quando novamente ouvimos bater à porta. Ele foi então abri-la e disse que não via
ninguém; não obstante esperou um pouco. Então voltou e deitou-se. Veio muito zangado,
pois supunha fôsse algum garôto da vizinhança querendo aborrecer-nos. Assim, disse que
“eles podiam bater, mas não o levariam na brincadeira”, ou coisa semelhante.
As batidas foram ouvidas novamente; depois de algum tempo êle se levantou e saiu. Eu lhe
disse que não saísse, pois temia que alguém quisesse pegá-lo fora e o agredisse. Ele voltou
e disse que nada tinha visto. Ouvimos muito barulho durante a noite; dificilmente
poderíamos dizer onde era produzido; por vêzes parecia que alguém andasse na adega. Mas
a casa era velha e pensamos que fôssem estalos da madeira ou coisa semelhante.
Algumas noites depois uma de nossas meninas, que dormia no quarto onde agora são
ouvidas as batidas acordou-nos a todos soluçando. Meu marido, eu e a empregada nos
levantamos imediatamente para ver o que se passava. Ela sentou-se na cama em pranto e
nós custamos a verificar o que se passava. Disse ela que algo se movimentava acima de sua
cabeça e que ela sentia um frio sem saber o que era. Disse havê-lo sentido sôbre ela tôda,
mas que ficara mais alarmada ao senti-lo sôbre o rosto. Estava muito assustada. Isto se
passou entre meia-noite e uma hora. Ela se levantou e foi para a nossa cama, mas custou
muito a adormecer. Só depois de muitos dias conseguimos que fôsse dormir em sua cama.
Tinha ela então oito anos.
Nada mais me aconteceu durante o tempo em que lá moramos. Mas meu marido me disse
que uma noite o chamaram pelo nome, de algum lugar na casa — não sabia de onde —mas
jamais pôde saber de onde e quem era. Naquela noite eu não estava em casa: estava
assistindo uma pessoa doente.
Então não pensávamos que a casa fôsse assombrada...
11 de abril, de 1848.
A senhora Fox e suas três filhas deixaram ontem a nossa cidade, de regresso a
Rochester, depois de uma estada de algumas semanas, durante as quais se submeteram a
misteriosa influência, pela qual parecem acompanhadas, a todos os testes razoáveis e a uma
investigação sagaz e crítica de centenas de pessoas que quiseram visitá-las ou que as
convidaram a uma visita. Os aposentos que ocupavam no hotel foram constantemente
rebuscados e revistos; elas foram levadas, sem aviso prévio de ao menos uma hora, para
casas onde jamais haviam estado; foram inconscientemente colocadas sôbre uma superfície
de vidro, disforçado debaixo do tapete, a fim de interromper vibrações elétricas; foram
despidas por uma comissão de senhoras nomeadas sem aviso e insistiu-se para que
nenhuma delas deixasse o aposento antes que a investigação fôsse feita, etc., etc., e, apesar
disso, pensamos que, até êste momento, ninguém pretende ter pilhado qualquer delas
produzindo ou sendo a causa de batidas, nem pensamos que qualquer de seus detratores
tenha inventado uma teoria plausível para explicar a produção dêsses sons, nem a singular
inteligência que, ao menos por vêzes parece manifestar-se por intermédio delas.
Há uns dez ou doze dias elas deixaram os aposentos do hotel e dedicaram os restantes dias
de sua estada aqui a visitas a diversas famílias que as haviam convidado através de pessoas
interessadas no assunto, submetendo a singular influência a um exame mais atento e mais
calmo do que o que podia ser feito no hotel, e perante estranhos ocasionais, reunidos por
uma vaga curiosidade, mais do que por um interêsse racional, ou por uma hostilidade
invencível e predeterminada. Nossa própria residência se achava entre as que assim foram
visitadas; não só a submetendo a um exame, mas à mais completa e acirrada investigação
relativamente às supostas “manifestações” do mundo espiritual, pelo qual elas eram
assistidas.
Dedicamos a maior parte do tempo que nos foi possível subtrair dos nossos deveres, com
exceção de três dias, a êsse assunto e seria enorme covardia não declarar que, fora de
qualquer dúvida, estamos convencidos de sua perfeita integridade e boa fé quanto ás
premissas. Seja qual fôr a origem ou causa das batidas, as senhoras a cuja presença elas
ocorrem não as produzem. Verificamos isto rigorosamente e com inteira satisfação.
Sua conduta e atitudes é tão diversa da dos trapaceiros quanto possível e pensamos que
ninguém que as conheça seria capaz de admitir que elas estivessem comprometidas em tão
atrevida, ímpia e descarada trapaça, qual seria se elas produzissem os ruídos. E não é
possível que uma tal trapaça fôsse durante tanto tempo praticada em público. Um jogral
pratica um truque ràpidamente e logo passa a outro; ele não dedica semanas e semanas
sempre à mesma coisa, deliberadamente, em frente a centenas de pessoas que se assentam
ao lado ou à sua frente em plena luz, não para uma diversão, mas para descobrir o truque.
Um trapaceiro naturalmente evita conversar sôbre o assunto de sua velhacaria, mas essas
senhoras conversam livre e desembaraçadamente sôbre a origem dessas batidas, desde
alguns anos, em sua casa, sôbre as variadas impressões que elas causaram, a excitação
criada pela vizinhança, o progresso de seu desenvolvimento — aquilo que elas viram,
ouviram ou sentiram desde o princípio até agora. Se tudo fôsse falso, não poderiam deixar
de se ter embaraçado num labirinto de terríveis contradições, desde que cada uma dá
separadamente, um relato dos mais interessantes acontecimentos nesta ou naquela ocasião.
Criaturas suficientemente insensatas para se entregarem a isto sem reservas e precauções
não teriam resistido a uma tal exposição nem por uma semana.
Aliás, a variedade de opiniões sôbre um assunto tão estranho naturalmente teria sido
formada pelas várias pessoas que as visitaram, e presumimos que aquêles que apenas
acorreram aos seus aposentos por cêrca de uma hora e escutaram, num borborinho de
estranhos, uma mistura de perguntas — das quais muitas não comportavam respostas
proveitosas — tivessem certeza de inteligências invisíveis que respondessem por batidas ou
ruídos originais no soalho, na mesa, etc., ou pelas letras do alfabeto ou qualquer outro meio
e naturalmente saíssem intrigadas, talvez aborrecidas e raramente convencidas. Ë difícil
admitir que um assunto, ostensivamente tão grave, pudesse ser apresentado sob as mais
desfavoráveis condições para convencer. Mas daqueles que tiveram oportunidades felizes
para uma investigação completa pensamos que três quartas partes estão convencidos, assim
como nós, de que êsses ruídos singulares e aparentes manifestações não são produzidos
pela senhora Fox e suas filhas, nem por qualquer ser humano de parceria com elas.
Como são causados e de onde procedem são questões que abrem um mais amplo campo de
investigações e com cujos indícios não estamos familiarizados. Aquêle que se julga
dogmaticamente apto para decidir se essas manifestações são naturais ou sobrenaturais
deve achar-se muito familiarizado com os arcanos do universo. Dizem as senhoras que
estão informadas de que apenas isto representa o início de uma nova era, ou economia, na
qual os Espíritos vestidos na carne são mais próximos e em contacto com os que atingiram
a imortalidade; que as manifestações já se deram em muitas outras famílias e se destinam à
difusão e se tornarão mais claras, até que todos possam comunicar-se livremente com os
seus amigos, que se libertaram dessa prisão mortal. Nada sabemos nem fazemos a menor
idéia de tudo isso.
Mas se tivéssemos apenas de imprimir (o que não faremos) as perguntas que fizemos e as
respostas que recebemos, durante uma conferência ininterrupta de duas horas com as
batidas, logo seríamos acusados de o havermos feito com o propósito deliberado de reforçar
a teoria que considera essas manifestações como provindas do Espírito dos mortos”.
H.G.
APÊNDICE 2
NOTAS AO CAPÍTULO 6 - BICO DE PENA DO LAGO HARRIS POR LAURENCE
OLIPHANT
APÊNDICE 3
NOTAS AO CAPÍTULO 7 - TESTEMUNHO ADICIONAL DO PROFESSOR E DA
SENHORA DE MORGAN
APÊNDICE 4
NOTAS AO CAPÍTULO 10 - OS DAVENPORTS ERAM JOGRAIS OU ESPÍRITAS?
Como parece que Mr. Houdini duvidava de que os Davenports jamais se tivessem dito
espíritas, o assunto se esclarece com a seguinte passagem de uma carta por êles escrita em
1868, a Banner of Light, vanguardeiro jornal espírita dos Estados Unidos. Referindo-se à
afirmação de que não eram espíritas, assim escreveram:
“É original que uma pessoa, céptica ou espírita, pudesse aceitar uma tal afirmação, após
catorze anos das mais amargas perseguições e violenta oposição, culminando com as
agressões de Liverpool, de Hudders fiel e de Leeds, onde nossas vidas se encontraram em
perigo pela fúria da massa brutal, nossos bens foram destruidos e onde sofremos uma perda
de setenta e cinco mil dólares — e tudo porque não renunciávamos ao Espiritismo —
acusando-nos de jograis, quando maltratados pela massa, para isso estimulada. Em
conclusão, devemos apenas dizer que denunciamos tais acusações como falsidades.
APÊNDICE 5
NOTAS AO CAPÍTULO 16 - A MEDIUNIDADE DO REVERENDO STAINTON
MOSES
(1) Espécie de “grapefruit”, que deve o seu nome ao oficial de marinha que o trouxe do
Oriente. N. do T.
APÊNDICE 6
NOTAS AO CAPÍTULO 25 - ESCRITA AUTOMÁTICA DE MR. WALES
Fim