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O Véu Rasgado

Sermão nº 2015

Por Charles H. Spurgeon (1834-1892)

Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra

Ago/2018
S772
Spurgeon, Charles H.- 1834-1892
O véu rasgado / Charles H. Spurgeon
Tradução e adaptação Silvio Dutra Alves – Rio
de Janeiro, 2018.
41p.; 14,8 x21cm

1. Teologia. 2. Pregação. 3. Alves, Silvio Dutra.


I. Título.

CDD 252

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“E Jesus, clamando outra vez com grande voz,
entregou o espírito. Eis que o véu do santuário se
rasgou em duas partes de alto a baixo; tremeu a
terra, fenderam-se as rochas.” (Mateus
27.50,51).

“Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no


Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo
novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo
véu, isto é, pela sua carne.” (Hebreus 10.19,20).

A morte de nosso Senhor Jesus Cristo foi


legitimamente cercada por milagres; mas ela
mesma é uma maravilha maior do que tudo o
que aconteceu, e supera todos esses milagres da
mesma forma que o sol brilha mais do que os
planetas que o rodeiam. É muito natural que a
terra tenha tremido, e que os túmulos tenham
sido abertos e que o véu do templo tenha sido
rasgado, quando Aquele que unicamente tem
imortalidade, entrega o seu espírito. Quanto
mais você pensa sobre a morte do Filho de Deus,
mais você ficará surpreso com isso. Da mesma
forma que um milagre ultrapassa um fato
comum, assim, esta maravilha de maravilhas,
ergue-se acima de todos os milagres de poder.

O Senhor divino, embora coberto com o véu da


carne mortal, condescendeu em ser sujeito ao
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poder da morte, a ponto de inclinar a cabeça
sobre a cruz, e submeter-se a ser colocado na
sepultura, é o maior dos mistérios. A morte de
Jesus é a maravilha do tempo e da eternidade e,
assim como a vara de Arão devorou todas as
outras, essa morte absorve todas as maravilhas
menores.

Contudo, o rasgar do véu do templo não é um


milagre que deva ser considerado
superficialmente. Ele era feita de "linho
retorcido, com querubins de obra
excelente". Isso nos dá a ideia de um tecido
durável, um peça de tapeçaria durável, capaz de
suportar a tensão mais severa. Nenhuma mão
humana teria sido capaz de rasgar essa
cobertura sagrada; e não poderia ter sido
dividido em dois por alguma causa acidental; no
entanto, e é estranho dizer, no momento em que
a pessoa santa de Jesus foi rasgada pela morte, o
grande véu que ocultava o Santo dos Santos "foi
rasgado em dois, de cima para baixo". O que isso
significa? Significou muito mais do que posso
dizer agora.

Não é algo caprichoso considerá-lo como um ato


solene de luto por parte da casa de Deus. No
Oriente, os homens expressam sua dor
rasgando suas vestes; e o templo, quando viu o
seu Senhor morrer, pareceu aterrorizado e
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rasgou o véu. Abalado pelo pecado do homem,
indignado com a morte de seu Senhor, em sua
simpatia por aquele que é o verdadeiro templo
de Deus, o símbolo exterior rasgou suas vestes
sagradas de cima a baixo. Esse milagre não
significa também que, a partir daquela hora,
todo o sistema de tipos, sombras e cerimônias
chegou ao fim? As ordenanças de um
sacerdócio terreno foram rasgadas com esse
véu. Como um sinal da morte da lei cerimonial,
sua alma abandonou o santuário sagrado e
deixou seu tabernáculo corporal como algo
morto. A dispensação legal acabou.

O véu rasgado parecia dizer. "A partir deste


momento, Deus não habita mais na escuridão
do Santo dos Santos, não brilha em meio à
querubins. O recinto especial foi aberto, e já não
há mais um santuário interior ao qual o
sacerdote terreno pode entrar: as expiações e os
sacrifícios que serviram como um tipo
chegaram ao fim ".

De acordo com a explicação dada em nosso


segundo texto, o rasgar do véu significava
principalmente que o caminho para o Santo dos
Santos, que não havia sido manifestado antes,
estava agora aberto a todos os crentes. Uma vez
por ano, o sumo sacerdote levantava
solenemente um canto do véu, com temor e
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tremor, e com sangue e incenso santo passava à
presença imediata de Jeová; mas a lágrima do
véu abriu o lugar secreto. O rasgar de cima para
baixo fornece amplo espaço para todos que são
chamados pela graça de Deus para entrar e
chegar ao trono e ter comunhão com o Eterno.

Sobre este tópico vou tentar falar hoje, orando


nas profundezas da minha alma que você e eu,
juntamente com todos os outros crentes,
tenhamos a coragem de realmente entrar no
lugar por trás do véu, neste momento que temos
nos congregado para adorar. Oh, que o Espírito
de Deus queira nos conduzir à mais íntima
comunhão que os homens mortais podem ter
com o Infinito Jeová!

Primeiro de tudo, esta manhã, peço-lhes que


considerem o que foi feito. O véu foi
rasgado. Segundo, recordaremos do que temos
para essa causa: temos "liberdade para entrar no
Santo dos Santos pelo sangue de Jesus
Cristo". Então, em terceiro lugar, vamos
considerar como exercemos essa graça:
"Entramos através do sangue de Jesus Cristo,
através do novo e vivo caminho que ele abriu
para nós através do véu, isto é, de sua carne."

I. Primeiro, reflitam sobre O QUE SE FEZ. É um


fato histórico real que o véu glorioso do templo
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foi rasgado em dois de cima para baixo: como
um fato espiritual, que ainda é muito mais
importante para nós, é abolida a ordenação legal
que separa. Havia essa ordenação sob a lei: que
ninguém jamais poderia entrar no Santo dos
Santos, com a única exceção do sumo sacerdote,
e ele somente poderia fazê-lo uma vez por ano, e
não sem sangue.

Se alguém tivesse intentado entrar ali, ele teria


que morrer, como culpado de grande
arrogância e intromissão sacrílega no lugar
secreto do Altíssimo. Quem poderia estar na
presença daquele que é um fogo
consumidor? Esta ordenança para manter a
distância percorre toda a lei; pois até mesmo o
lugar santo, que era o vestíbulo do Santo dos
Santos, era apenas para os sacerdotes. O lugar
do povo estava a uma distância. Na instituição
inicial da lei, quando Deus desceu ao Sinai, a
ordenança foi: "Você deve marcar um limite
para as pessoas ao redor". Não houve convite
para se aproximar. Não que as pessoas
quisessem fazê-lo, porque a montanha inteira
estava fumegando e até "Moisés disse: Estou
com medo e tremendo". "E o Senhor disse a
Moisés: Desça, ordena ao povo que não
traspasse os limites para ver a Jeová, para que
não os fira” Um simples animal que tocasse o
monte deveria ser apedrejado ou morto por
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lança. O espírito da lei antiga era de distância
reverente.

Moisés, e aqui e ali outro homem escolhido por


Deus, poderia se aproximar de Jeová; mas
quanto ao grosso do povo, o mandamento era:
"Não se aproxime". Quando o Senhor revelou
Sua glória ao promulgar a lei, lemos: "Quando as
pessoas viram, tremeram e ficaram de
longe". Tudo isso acabou. O preceito de ficar
longe é anulado, e o convite é: "Venha a mim
todos que estais cansados e
sobrecarregados". "Vamos nos aproximar" é
agora o espírito filial do Evangelho. Como sou
grato por isso! Que alegria isso provê para
minha alma! Alguns membros do povo de Deus
ainda não experimentaram isso, pois adoram de
longe.

Muitas orações deveriam ser altamente


admiradas por sua reverência, mas falta-lhes a
confiança de uma criança. Eu posso admirar a
solene e majestosa linguagem de adoração que
reconhece a grandeza de Deus; mas não
animará meu coração nem expressará minha
alma, até que eu tenha misturado com ela a
proximidade alegre daquele amor perfeito que
expulsa o medo e se aventura a conversar com
seu Pai celestial como a criança fala com seu pai
terreno.
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Meu irmão, nenhum véu permanece mais. Por
que você está tão longe e tremula como um
escravo? Aproxime-se com total certeza de fé. O
véu está rasgado: o acesso é livre. Venha com
liberdade ao trono da graça. Jesus te trouxe para
perto, tão perto de Deus quanto Ele está perto de
você. Embora falemos do Santo dos Santos, do
lugar secreto do Altíssimo, é deste lugar
imponente, deste santuário de Jeová, que o véu
se rasgou; portanto, não deixe nada impedir sua
entrada. Certamente nenhuma lei te
proíbe; antes, o amor infinito convida você a se
aproximar de Deus.

Este rasgar do véu também significou a


extirpação do pecado que separa. O pecado é,
afinal, o grande separador entre Deus e o
homem. Aquele véu de linho azul, púrpura e
retorcido não podia realmente separar o
homem de Deus, pois Ele não está longe de
nenhum de nós em relação à Sua onipresença. O
pecado é um muro de separação muito mais
eficaz: abre um abismo entre o pecador e seu
Juiz. O pecado bloqueia a oração, o louvor e todas
as formas de exercício religioso. O pecado faz
com que Deus ande na direção oposta a nós,
porque andamos na direção oposta a Ele. O
pecado, separando a alma de Deus, causa a
morte espiritual, que é tanto o efeito quanto a
punição da transgressão.
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Andarão dois juntos, se eles não
concordarem? Como pode um Deus santo ter
comunhão com criaturas ímpias? A justiça
viverá com a injustiça? A pureza perfeita
habitará com as abominações do mal? Não, isso
não pode ser. Nosso Senhor Jesus Cristo
removeu o pecado pelo sacrifício de Si
mesmo. Ele tira o pecado do mundo e é por isso
que o véu foi rasgado. Pelo derramamento de
Seu mais precioso sangue, somos purificados de
todo pecado, e essa promessa de graça é
cumprida: "Nunca mais vou lembrar de seus
pecados e transgressões". Quando o pecado se
tem ido, a barreira é derrubada e o abismo
insondável é preenchido.

O perdão que remove o pecado e a justificação


que provê justiça, elaboram uma certificação de
limpeza tão real e tão completa que nada separa
o pecador de seu Deus reconciliado. O Juiz é
agora o Pai: aquele, que deveria uma vez
necessariamente ter sido condenado, é
encontrado absolvido e aceito com justiça. O véu
está rasgado neste duplo sentido: a ordenação
separadora é revogada, e o pecado separador é
perdoado.

Então deve ser lembrado que a corrupção que


separa também é removida através de nosso
Senhor Jesus. Não é só o que fizemos, mas o que
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somos que nos mantém separados de Deus. O
pecado está enraizado em nós, mesmo aqueles
que possuem graça que habita neles, eles se
queixam, "querendo fazer o bem, acho então
esta lei: que o mal está em mim."

Como podemos ter comunhão com Deus, se


nossos olhos estão vendados, nossos ouvidos
tapados, nossos corações endurecidos e nossos
sentidos extinguidos pelo pecado? Toda a nossa
natureza está corrompida, envenenada e
pervertida pelo mal; como podemos conhecer o
Senhor? Amados, pela morte de nosso Senhor
Jesus, o pacto da graça é estabelecido conosco, e
as suas disposições graciosas são neste sentido:
"Esta é a aliança que farei com a casa de Israel
depois daqueles dias, diz o Senhor; colocarei
minhas leis em suas mentes e escrevê-las-ei em
seus corações ".

Quando este é o caso, quando a vontade de Deus


está gravada no coração e a natureza é
completamente mudada, então o véu divisor
que nos oculta de Deus é retirado: "Bem-
aventurados os limpos de coração, porque eles
verão a Deus". Bem-aventurados todos os que
amam a justiça e a procuram, pois se encontram
em uma caminho no qual o Justo pode caminhar
em comunhão com eles.
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Espíritos semelhantes a Deus não estão
separados de Deus. A diferença da natureza
coloca o véu; mas o novo nascimento e a
santificação que o segue, através da preciosa
morte de Jesus, removem esse véu. Quem odeia
o pecado, busca a santidade e se esforça para
aperfeiçoá-la no temor de Deus e está em
comunhão com Deus. É algo abençoado quando
amamos o que Deus ama, quando buscamos o
que Deus procura, quando concordamos com os
objetivos divinos, e somos obedientes aos
mandamentos divinos: pois com essas pessoas o
Senhor habitará. Quando a graça nos faz
participantes da natureza divina, então somos
um com o Senhor e o véu é removido.

"Sim", alguém dirá, "agora vejo como o véu é


removido, de três maneiras diferentes, mas
ainda assim, Deus é Deus, e nós somos apenas
homens pobres e insignificantes: entre Deus e o
homem deve haver necessariamente um véu de
separação, posto pela grande disparidade entre
o Criador e a criatura. Como pode o finito ter
comunhão com o infinito? Deus é tudo em
todos, e acima de tudo, nós somos nada, e
menos ainda, como podemos nos unir?

Quando o Senhor se aproxima de Seus


favorecidos, eles reconhecem como são
incapazes de suportar a glória excessiva. Até o
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amado João disse: "Quando o vi, caí como um
homem morto a seus pés". Tudo isso é
verdade; pois o Senhor diz: "Você não verá meu
rosto, pois o homem não me verá e
viverá". Embora este seja um véu muito mais
fino do que aqueles que já mencionei, ainda é
um véu; e é difícil para um homem se sentir
confortável com Deus.

Mas o Senhor Jesus coloca uma ponte sobre a


distância que separa. Vejam, o abençoado Filho
de Deus veio ao mundo e assumiu a nossa
natureza! "Porque os filhos participaram de
carne e osso, ele também participou do
mesmo." Embora Ele seja Deus, como Deus é
Deus, ele é verdadeiramente homem, assim
como o homem é homem. Observe com atenção
como, na pessoa do Senhor Jesus, vemos Deus e
o homem na mais próxima aliança possível; eles
estão unidos em uma pessoa para sempre. O
abismo é preenchido com plenitude pelo fato de
que Jesus completou tudo para nós até o amargo
fim, a morte e a morte na cruz. Ele seguiu a
carreira da humanidade até o túmulo; e assim
vemos que o véu, colocado entre a natureza de
Deus e a natureza do homem, é rasgado na
pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Nós
entramos no lugar mais santo através de Sua
carne, que vincula a humanidade com a
Deidade.
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Agora vocês veem o que significa que o véu foi
removido. Observem com solenidade que isso é
válido apenas para os crentes: aqueles que
rejeitam a Jesus rejeitam o único meio de acesso
a Deus. Nós não podemos nos aproximar de
Deus, exceto através do rasgar do véu pela morte
de Jesus. Havia um tipo de caminho para o
propiciatório de antes, e desse modo consistia
em pôr de lado o véu; não havia outro. E agora
não há outro caminho para nenhum de vocês ir
à comunhão com Deus, exceto através do véu
rasgado, a morte de Jesus Cristo, a quem Deus
estabeleceu para ser a propiciação pelo
pecado. Se você vier por este caminho, você
pode vir de graça. Se você se recusar a vir por
este caminho, então um véu intransponível
paira entre você e Deus. Sem Cristo você se
encontra sem Deus e sem esperança. O próprio
Jesus assegura-lhes: "Se você não acredita que
eu sou, você vai morrer em seus pecados." Que
Deus conceda que isso não aconteça com
nenhum de vocês!

Para os crentes, o véu não está enrolado, mas


rasgado. O véu não se soltou, dobrou-se
cuidadosamente e retirou-se, para ser colocado
de volta em seu lugar no futuro. Oh não! Mas a
mão divina pegou-o e rasgou-o de cima para
baixo. Não pode ser pendurado novamente; isso
é impossível. Entre aqueles que estão em Cristo
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Jesus e no grande Deus, nunca haverá outra
separação. "Quem nos separará do amor de
Cristo?" Apenas um véu foi feito, e como isso foi
rasgado, o único e único separador foi
destruído. Eu me delicio em pensar sobre isso. O
próprio diabo nunca poderá me separar agora
de Deus. Ele pode tentar impedir que eu tenha
acesso a Deus e, de fato, ele o fará; mas o que
pode fazer é pendurar um véu rasgado. Que bem
isso faria senão mostrar sua impotência? Deus
rasgou o véu e o diabo não pode remendá-
lo. Existe acesso entre um crente e seu Deus; e
deve haver tal livre acesso para sempre, pois o
véu não está enrolado, nem foi posto de lado
para ser novamente pendurado nos dias por
vir; está rasgado e já não serve para nada.

O rasgo não está em um dos cantos, mas no


próprio centro, como Lucas nos informa. Não é
um leve rasgo através do qual podemos ver
algo; é uma rasgo de cima abaixo. Uma entrada
foi aberta para os piores pecadores. Se apenas
um pequeno buraco tivesse sido aberto no véu,
os infratores menores poderiam ter rastejado
através dele; mas o ato de grande misericórdia,
é este, que o véu foi rasgado no meio, e rasgado
de cima para baixo, de modo que o principal dos
pecadores podem encontrar amplo espaço! Isso
também mostra que, para os crentes, não há
impedimento para o acesso mais completo e
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gratuito a Deus. Oh, vamos nos armar, hoje, para
chegar ao lugar onde Deus não apenas abriu a
porta, mas tirou a porta de suas dobradiças; sim,
ele a removeu.

Eu quero que você note que este véu, quando foi


rasgado, foi rasgado por Deus, não pelo
homem. Não foi o ato de uma turba
irreverente; não foi o ultraje da meia-noite de
um grupo de sacerdotes sacrílegos: era apenas o
ato de Deus. Ninguém estava atrás do véu; e do
lado de fora, os sacerdotes cumpriam apenas
sua vocação ordinária de oferecer
sacrifícios. Eles devem ter ficado surpresos
quando viram que o lugar sagrado foi
descoberto em um momento. Como eles devem
ter fugido, quando viram o véu sólido dividido
sem qualquer mão humana, num segundo de
tempo!

Quem o rasgou? Quem senão o próprio Deus? Se


outro o tivesse feito, poderia ter havido um erro,
e o erro talvez precisasse ser corrigido,
substituindo a cortina; mas se o Senhor fez isso,
foi feito corretamente, foi feito definitivamente,
foi feito de forma irreversível. É o próprio Deus
que colocou o pecado em Cristo, e em Cristo Ele
tirou o pecado. O próprio Deus abriu a porta do
céu para os crentes e projetou uma ampla
avenida na qual as almas dos homens podem
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transitar em direção a Ele. O próprio Deus
colocou a escada entre a terra e o céu. Venha a
Ele agora, você que é humilde. Olhe, Ele abriu
uma porta diante de você!

II. E agora, em segundo lugar, peço-lhes que


procedam comigo, queridos amigos, a uma
verificação experimental do meu
assunto. Agora percebemos O QUE TEMOS:
"Então, irmãos, tendo liberdade para entrar no
Santo dos Santos". Observe o triplo "tendo" no
parágrafo diante de nossa consideração, e não
fique contente se você não tiver todos os
três. "Ter a liberdade para entrar." Existem graus
de liberdade; mas este é um dos mais
altos. Quando o véu foi rasgado, foi necessária
alguma liberdade para olhar dentro. Eu me
pergunto se os sacerdotes ao pé do altar
realmente tiveram a coragem de olhar para o
propiciatório. Eu suspeito que eles estavam
admirados, que eles fugiram do altar, temendo
uma morte súbita. É preciso coragem para
encarar o mistério de Deus: "Coisas as quais os
anjos anseiam por olhar".

É bom que não olhemos para as profundezas de


Deus, com um olho meramente
curioso. Pergunto se alguém é capaz de espiar o
mistério da Trindade, sem se expor a grandes
riscos. Alguns, querendo olhar para lá com os
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olhos de seu intelecto natural, foram cegados
pela luz daquele sol e de lá vagaram nas
trevas. Você precisa de liberdade para ver os
esplendores do amor redentor que escolhe.

Se alguém olhou para o Santo dos Santos


quando o véu estava sendo rasgado, ele seria
contado entre os homens mais corajosos; pois
outros podem ter temido correr o mesmo
destino que os homens de Bete-Semes. Amados,
o Espírito Santo lhes convida a olharem para o
lugar santo e vê-lo com um olhar reverente; pois
está cheio de ensinamentos para
vocês. Entendam o mistério do propiciatório, e
da arca da aliança coberta de ouro, e do vaso de
maná e das tábuas de pedra, e da vara de Arão
que floresceu. Olhem, olhem livremente por
Jesus Cristo: mas não se contentem em olhar
apenas! Ouçam o que o texto diz: "Ter a
liberdade de entrar." Bendito seja Deus porque
nos tem ensinado esta maneira doce de não
mais olhar de longe, mas para entrar nas
profundezas do santuário com confiança!"
Liberdade para entrar", é o que devemos ter.

Vamos seguir o exemplo do sumo sacerdote, e,


tendo entrado, executar as funções da pessoa
que entra. Liberdade para entrar" sugere que
atuamos como homens que estão no
devido lugar. Estar detrás do véu enchia o servo
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de Deus de uma esmagador sentido da presença
divina. Se nunca em sua vida esteve perto de
Deus, foi certamente estava perto de Deus
naquele momento, quando sozinho, trancado, e
excluído do resto do mundo, não tinha ninguém
ao seu lado, exceto o glorioso Jeová.

Oh, meus amados, que possamos entrar no


Santo dos Santos nesse sentido
hoje! Desconectado do mundo, tanto ímpio
quanto cristão, deixe-nos saber que o Senhor
está aqui, muito próximo e manifesto. Oh,
podemos agora clamar com Agar: "Eu não tenho
visto também aqui ao que me vê?" Oh, quão doce
é experimentar a presença de Jeová por meio da
alegria pessoal! Quão encorajador é sentir que o
Senhor dos Exércitos está conosco! Sabemos
que nosso Senhor é uma ajuda muito real na
tribulação. Uma das maiores alegrias do céu é
poder cantar: Jeová Samá: o Deus que está
presente.

A princípio, trememos na presença divina; mas


quando sentimos mais o espírito de adoção, nos
aproximamos com deleite sagrado, e nos
sentimos tão à vontade com nosso Deus, que
cantamos com Moisés: "Senhor, você tem sido
um refúgio para nós de geração em
geração". Não viva como se Deus estivesse tão
longe de você como o leste é do oeste. Não viva
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perto da terra; mas viva no alto, como se
estivesse no céu. No céu eles estarão com
Deus; mas na terra Ele estará com você: há muita
diferença? "Ele nos ressuscitou com ele, e
também nos sentou nos lugares celestiais com
Cristo Jesus". Jesus nos tem aproximado pelo
Seu precioso sangue. Tente todos os dias viver
na maior proximidade de Deus, como sentia o
sumo sacerdote quando estava por um
momento dentro do secreto do tabernáculo de
Jeová.

O sumo sacerdote tinha um senso de comunhão


com Deus; não somente ele estava perto, mas
ele estava falando com Deus. Eu não posso saber
o que ele estava dizendo, mas eu acho que nesse
dia especial, o sumo sacerdote se livrava do
fardo do pecado e da opressão de Israel, e
apresentava suas petições para o Senhor. Aarão,
sozinho ali, deve ter sido cheio de lembranças
de sua própria culpa e das idolatrias e apostasias
do povo. Deus brilhou sobre ele e ele se
inclinava diante de Deus. Talvez ele tenha
escutado coisas que ele não tinha permissão
para expressar, e outras coisas que ele não
poderia ter expressado, mesmo que tivesse
permissão para fazê-lo.

Amados, vocês sabem o que é ter comunhão


com Deus? As palavras são veículos pobres para
20
esse companheirismo; porém, quão abençoado
é isso! As provas da existência de Deus são
totalmente supérfluas para quem tem o hábito
de conversar com o Eterno. Se alguém
escrevesse um ensaio para provar a existência
da minha esposa, ou do meu filho, eu realmente
não o leria, exceto para apreciá-lo; e as provas da
existência de Deus para o homem que tem
comunhão com Deus são mais ou menos o
mesmo. Muitos de vocês andam com Deus: que
bênção! A comunhão com o Todo-Poderoso
eleva, purifica e fortalece. Vamos entrar com
liberdade. Vamos entrar em Seus pensamentos
revelados, da maneira que Ele entra nos seus,
cheio de graça: elevem-se a Seus planos, como
Ele condescende com os Seus; peçam para
serem elevados Ele, como Ele se digna habita
com vocês.

É isso que o rasgo do véu nos traz quando temos


liberdade para entrar; mas, observe bem, o
rasgar do véu não nos traz nada enquanto não
tivermos coragem de entrar. Por que estamos
ficando de fora? Jesus nos aproxima, e
verdadeiramente nossa comunhão é com o Pai e
com Seu Filho Jesus Cristo. Não nos demoremos
a receber essa liberdade e vamos nos aproximar
do trono com coragem.
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O sumo sacerdote atravessava o véu de linho
azul, púrpura, carmesim e retorcido, com
sangue e incenso, para que ele pudesse orar por
Israel; e lá ele ficou diante do Altíssimo,
implorando-lhe para abençoar o povo. Ó
amados, a oração é uma instituição divina e
pertence a nós. Mas existem muitos tipos de
oração. Há a oração que parece ter o
impedimento de entrar no templo sagrado de
Deus; há a oração de outro que está no átrio dos
gentios, muito distantes, olhando para o
Templo; há a oração que se aproxima de Israel e
implora ao Deus dos eleitos; há a oração que é
feita no átrio dos sacerdotes, quando o homem
santificado de Deus faz intercessão; mas a
melhor oração de todas é aquela oferecida no
Santo dos Santos. Não há temor de que a oração
não seja ouvida quando é oferecida no Santo dos
Santos. A própria posição do homem mostra que
ele é aceito por Deus. Está em pé no lugar mais
seguro de aceitação, e ele está tão perto de Deus
que cada um de seus desejos é ouvido. Ali o
homem é visto pelo avesso; porque ele está
muito perto de Deus. Seus pensamentos são
lidos, suas lágrimas são vistas, seus suspiros são
ouvidos; porque ele tem liberdade de
entrar. Você pode pedir o que quiser e será
concedido.

Assim como o altar santifica a oferta, assim o


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Santo dos Santos, aberto pelo sangue de Jesus,
assegura uma resposta certa à oração que é
oferecida ali. Que Deus nos dê poder para orar! É
maravilhoso que o Senhor ouça a voz de um
homem; no entanto, esses homens
existem. Lutero, saindo de seu confinamento,
exclamou Vici : "tenho vencido". Ainda não havia
enfrentado seus inimigos; mas tendo
prevalecido diante de Deus pelos homens, ele
sentiu que deveria prevalecer perante os
homens por Deus.

Mas o sumo sacerdote, se você se lembra,


depois de ter comunhão e ter orado a Deus, saiu
e abençoou o povo. Vestiu suas vestes de glória
e beleza, que colocara de lado para entrar no
Santo dos Santos, e entrou simplesmente
vestido de branco e nada mais; e agora ele saiu
usando o peitoral e todos os seus ornamentos
preciosos, e abençoou o povo. Isso é o que você
fará, se tiver a liberdade de entrar no Santo dos
Santos pelo sangue de Jesus: abençoará as
pessoas que o cercam. O Senhor te abençoou e
te fará uma bênção. Sua conduta e conversa
comuns serão um exemplo abençoado; as
palavras que você fala por Jesus serão como um
orvalho do Senhor: os doentes serão consolados
por suas palavras; os desanimados serão
encorajados pela sua fé; o fraco será recuperado
por seu amor. Eles estarão dizendo,
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praticamente, a todos que conhecem: "O Senhor
te abençoe e te guarde; Jeová faça resplandecer
seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti.”
Vocês se converterão em um canal de bênção:
“de seu interior correrão rios de água viva.” Que
cada um de nós tenha a liberdade de entrar, para
que saiamos carregados de bênçãos!

Peço gentilmente que olhem para o texto, e


notarão algo que eu simplesmente vou sugerir:
que essa liberdade está bem
fundamentada. Adoro ver quando o apóstolo usa
um "assim que": "Assim que, irmãos, tendo
liberdade". Paulo é muitas vezes um verdadeiro
poeta, mas ele sempre usa a lógica
corretamente; é tão lógico quanto se ele
estivesse lidando com matemática em vez de
teologia. Aqui ele escreve um de seus "assim
que".

Por que é que temos liberdade? Acaso não é por


causa do nosso relacionamento com Cristo que
nos converte em "irmãos"? "Assim que, irmãos,
tendo liberdade." O crente mais fraco tem tanto
direito de entrar no Santo dos Santos quanto
Paulo, porque ele é um membro da irmandade,
eu me lembro de uma rima de John Ryland, na
qual ele diz do céu:

"Todos eles estarão lá,


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os grandes e os pequenos.

Pobre, eu vou apertar

a mão do bendito Paulo."

Não tenho dúvidas de que teremos uma posição


e uma comunhão assim. Enquanto apertamos a
mão dele e ele nos chama de irmãos. Somos
irmãos uns dos outros, porque somos irmãos de
Jesus. Onde nós vemos o apóstolo indo, nós
iremos para lá; sim, melhor, onde vemos que o
Grande Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa
profissão entra, nós o seguiremos até lá. "Assim
que, irmãos, tendo liberdade."

Amados, agora não temos nenhum temor de


morrer no Santo dos Santos. O sumo sacerdote,
quem quer que fosse, deve sempre ter temido
aquele solene dia da expiação, quando teve que
ir para o lugar silencioso e isolado. Eu não posso
dizer se é verdade, mas eu li que há uma tradição
entre os judeus que uma corda estava amarrada
ao pé do sumo sacerdote, para que pudessem
puxar o corpo se ele morresse na presença do
Senhor. Eu não ficaria surpreso se sua
superstição tivesse inventado tal coisa, pois é
uma posição terrível a de um homem entrar na
habitação secreta de Jeová. Mas nós não
podemos morrer no Santo dos Santos agora, já
25
que Jesus morreu por nós. A morte de Jesus é a
garantia da vida eterna para todos aqueles por
quem ele morreu. Somos livres para entrar
porque não pereceremos.

Nossa liberdade deriva da perfeição de Seu


sacrifício. Leia o versículo catorze: "Ele os fez os
santificados perfeitos para sempre". Confiamos
no sacrifício de Cristo, acreditando que Ele era
nosso substituto perfeito, que não é possível
morrermos depois que nosso substituto
morreu; e devemos ser aceitos, porque Ele é
aceito. Cremos que o precioso sangue levou o
nosso pecado de maneira tão eficaz e eterna que
não somos mais detestáveis para a ira de
Deus. Podemos ter certeza de onde o pecado
deve ser atingido, se existe algum pecado em
nós; pois somos tão lavados, tão purificados e tão
plenamente justificados que somos aceitos no
Amado. O pecado é tão completamente
removido de nós pelo sacrifício vicário de
Cristo, que temos liberdade para entrar onde o
próprio Jeová habita.

Além disso, temos isto por certo, que como


sacerdote tinha o direito de morar perto de
Deus, também possuímos esse
privilégio; porque Jesus nos fez reis e sacerdotes
para Deus, e todos os privilégios do ofício nos
são outorgados conjuntamente com o próprio
26
ofício. Nós temos uma missão dentro do lugar
santo; somos chamados a entrar para um
negócio divino, e é por isso que não temos o
medo de sermos intrusos. Um ladrão pode
entrar numa casa, mas não entra livremente; ele
está sempre com medo de ser
surpreendido. Você poderia entrar na casa de
um estranho, sem ser convidado, mas não
sentiria nenhuma liberdade ali.

Nós não entramos no Santo dos Santos como


ladrões que violam uma casa, nem como
estranhos; nós obedecemos a um chamado,
para cumprir um ofício. Uma vez que aceitamos
o sacrifício de Cristo, estamos em casa com
Deus. Onde um filho estará livre, exceto na casa
de seu pai? Onde está o sacerdote, se não no
templo do seu Deus, para cujo serviço ele está
separado? Onde viverá o pecador lavado com o
sangue, senão com o seu Deus, com quem ele foi
reconciliado?

Sentir essa liberdade constitui uma alegria


celestial! Agora temos tal amor por Deus e
alegria nele, que nunca passa pela nossa mente
que somos transgressores quando nos
aproximamos dele. nunca dizemos: "Deus, meu
medo", mas "Deus da minha alegria e meu
gozo." Seu nome é a música com a qual nossas
vidas estão sintonizadas: embora Deus seja um
27
fogo consumidor, nós o amamos como tal, pois
Ele consumirá nossa escória e desejaremos nos
livrar dela. Deus não é um enfado para nós de
maneira alguma. Nós nos deleitamos nele, seja
o que for. Então vocês podem ver, amados, que
temos uma boa base de liberdade, quando
entramos no Santo dos Santos pelo sangue de
Jesus.

Eu não posso deixar este ponto até que eu tenha


lembrado que podemos ter essa liberdade para
entrar a qualquer momento porque o véu está
sempre rasgado e nunca é restaurado ao seu
lugar antigo. "E o Senhor disse a Moisés: Dize a
Arão, teu irmão, e não entre em todos os
momentos no lugar santo, para dentro do véu,
diante do propiciatório que está sobre a arca,
para que não morra;" mas o Senhor não diz isso
para nós. Amado filho de Deus, você pode ter em
todos os momentos "liberdade para entrar". O
véu está rasgado dia e noite. Sim, deixe-me dizer
que, mesmo que seu olho de fé seja diminuído,
em qualquer caso, entra; quando as evidências
são obscuras, ainda assim tens "liberdade para
entrar"; e mesmo se tens infelizmente pecado,
lembre-se de que o acesso está aberto à tua
oração penitente. Atravesse o véu rasgado,
pecador como você é. O que importa que você
tenha recaído no pecado, o que importa que
você seja afligido pelo sentido de seus desvios,
28
venha ainda assim! "Se ouvirdes sua voz hoje,
não endureçais vossos corações", mas entre
imediatamente; pois o véu não está mais lá para
excluí-lo, embora a dúvida e a incredulidade te
façam pensar o contrário. O véu não pode estar
lá, pois foi rasgado em dois de cima para baixo.

III. Meu tempo tem fugido, e não terei espaço


para falar como gostaria de fazer sobre o último
ponto: COMO EXERCEMOS ESSA
GRAÇA? Deixe-me dar-lhe as notas do que eu
teria dito.

Vamos entrar neste momento no Santíssimo


Lugar. Olhem o caminho! Nós viemos por meio
da expiação: "Assim que, irmãos, tendo
liberdadepara entrar no Santo dos Santos pelo
sangue de Jesus Cristo." Têm me feito sentir muito
mal ultimamente, as palavras selvagens e
blasfemas que certos cavaleiros da escola
moderna usaram, sobre o precioso sangue. Eu
não vou sujar meus lábios repetindo as três
malditas coisas que eles ousaram expressar
enquanto pisoteavam o sangue de Jesus. Em
todo lugar, ao longo deste Livro divino, você
pode encontrar o precioso sangue. Como ê pode
chamar a si mesmo de cristão, alguém que, com
linguagem profana e impertinente, fala do
sangue da expiação?
29
Meus irmãos, não há caminho para o Santo dos
Santos, mesmo que o véu esteja rasgado, sem
sangue. Você pode supor que o sumo sacerdote
costumava carregar o sangue porque o véu
estava lá; você tem que trazê-lo com você,
mesmo que o véu não esteja mais lá. O caminho
está aberto e você tem liberdade para
entrar; mas não sem o sangue de Jesus. Seria
uma liberdade profana se pensássemos em nos
aproximar de Deus sem o sangue do grande
sacrifício. Devemos sempre usar o argumento
da expiação. Já que sem o derramamento de
sangue não há remissão de pecados, da mesma
forma, sem esse sangue, não há acesso a Deus.

Em seguida, o caminho que percorremos é um


caminho indefectivel. Por favor, observe essa
palavra: "Pelo novo caminho"; isso significa um
caminho sempre fresco. O grego original sugere
a ideia de "recentemente sacrificado". Jesus
morreu há muito tempo, mas a morte dele é a
mesma agora que na época de sua
ocorrência. Nós nos aproximamos de Deus,
queridos amigos, em um caminho que é sempre
eficaz com Deus. Nunca perde, nunca, nem um
pouquinho de seu poder e frescor.

"Amado Cordeiro agonizante,


30
Teu precioso sangue

nunca perderá seu poder."

O caminho não é gasto pelo tráfego pesado: é


sempre um caminho novo. Se Jesus Cristo
tivesse morrido ontem, você não acha que
poderia argumentar Seu mérito hoje? Muito
bem, você pode argumentar que o mérito após
esses vinte séculos, com a mesma confiança que
você faria na primeira hora. O caminho para
Deus está sempre aberto novamente. De fato, as
feridas de Jesus sangram incessantemente
nossa expiação. A cruz é tão gloriosa como se Ele
ainda estivesse nela. Em relação ao frescor,
vigor e força da morte expiatória, estamos em
um novo caminho. Que seja sempre novo em
nossos corações. Que a doutrina da expiação
nunca se torne rançosa, mas tenha orvalho
sobre ela para nossas almas.

Então o apóstolo acrescenta que é um "caminho


vivo". Uma palavra maravilhosa! O caminho que
o sumo sacerdote seguia em direção ao lugar
santo era naturalmente um caminho material e,
portanto, um caminho morto. Nós chegamos
por um caminho espiritual, adequado ao nosso
espírito. O caminho não poderia ajudar o sumo
sacerdote, mas o nosso caminho nos ajuda em
abundância. Jesus diz: "Eu sou o caminho, a
31
verdade e a vida". Quando chegamos a Deus
neste caminho, o caminho em si guia, conduz,
apoia e aproxima. Esse caminho nos dá a vida
com a qual podemos vir.

É um caminho dedicado: "Que ele nos


abriu." Quando uma nova estrada é aberta, ela é
reservada e dedicada ao uso público. Às vezes,
um edifício público é aberto por um rei ou um
príncipe e, portanto, é dedicado para o seu
propósito. Amados, o caminho para Deus
através de Jesus Cristo é dedicado por Cristo e
ordenado por Cristo para o uso de pecadores
crentes pobres, como nós. Ele consagrou o
caminho a Deus e dedicou-o a nós, para que
possamos usá-lo livremente. Certamente, se um
caminho foi separado para mim, posso usá-lo
sem medo algum; e o caminho para Deus e para
o céu através de Jesus Cristo é dedicado pelo
Salvador aos pecadores; é a estrada real do rei
para os viajantes que vão à cidade de
Deus; portanto, vamos usá-lo. "Que ele nos
abriu!" Palavras abençoadas!

Por último, é um caminho cheio de


Cristo; porque quando chegamos a Deus,
chegamos por meio de Sua carne. Não podemos
ir a Jeová, exceto pelo Deus encarnado. Deus em
carne humana é o nosso caminho para Deus; a
morte substitutiva do Verbo feito carne é
32
também o caminho para o Pai. Nós não podemos
ir a Deus, exceto por representação. Jesus nos
representa diante de Deus, e nós vimos a Deus
através dEle, que é nossa cabeça da aliança,
nosso representante e precursor diante do
trono do Altíssimo. Nunca tentemos orar sem
Cristo; nunca tentemos cantar sem Cristo; não
vamos tentar pregar jamais sem Cristo. Não
façamos qualquer função santa, nem
pretendamos ter comunhão com Deus de
qualquer tipo, exceto através daquele rasgo que
Ele fez no véu com Sua carne, santificada por
nós e oferecida na cruz em nosso favor.

Amados, terei terminado quando tiver


destacado dois versículos, necessários para
completar o sentido, mas que me vi obrigado a
omitir hoje, pois não haveria tempo para
considerá-los. Somos chamados a tomar
liberdades santas com Deus. "Aproximemo-nos"
imediatamente "com um coração sincero, na
plena certeza de fé". Vamos fazê-lo livremente,
porque temos um grande Sumo Sacerdote. O
versículo 21 nos lembra disso. Jesus é o grande
Sacerdote, e nós somos sub sacerdotes sob Ele,
e desde que Ele nos ordena a nos aproximar de
Deus, e Ele mesmo nos mostra o caminho,
vamos segui-lo até as profundezas do
santuário. Porque Ele vive, nós também
viveremos. Nós não morreremos no lugar santo,
33
a menos que morra. Deus não nos golpeará a
menos que ele o golpeie. Assim, "tendo um
grande sacerdote sobre a casa de Deus,
aproximemo-nos com coração sincero em plena
certeza de fé.”

E então o apóstolo nos diz que não somente


podemos vir com liberdade, porque nosso Sumo
Sacerdote segue adiante no caminho, mas
porque nós mesmos estamos preparados para
entrar. O sumo sacerdote tinha que fazer duas
coisas antes que ele pudesse entrar: uma era ser
aspergido com sangue, e isso nós temos; porque
"purificamos os corações da má consciência".

O outro requisito para os sacerdotes era que eles


tivessem "lavados os corpos com água pura". Nós
recebemos isso simbolicamente em nosso
batismo e, na realidade, na lavagem espiritual
da regeneração. Para nós, a oração foi cumprida:

"Que a água e o sangue

Que brotaram do lado dilacerado

Sejam do pecado a dupla cura,

E me purifiquem da sua culpa e seu poder."


34
Temos conhecido a lavagem da água pela
Palavra e temos sido santificados pelo Espírito
de Sua graça; portanto, vamos entrar no Santo
dos Santos. Por que devemos ficar
longe? Corações aspergidos com sangue,
corpos lavados com água pura: estas são as
preparações ordenadas para uma entrada
aceitável. Aproximem-se, amados! Que o
Espírito Santo seja o espírito de acesso para
vocês agora. Venham para o seu Deus e então
habitem com Ele! Ele é seu pai, seu tudo em
todos. Sentem-se e regozijem-se nEle; tome sua
parte de amor e não permitam que sua
comunhão seja interrompida daqui para o
céu. Por que deveria ser interrompida? Por que
não começar hoje essa doce alegria da perfeita
reconciliação e deleite em Deus, que aumentará
em intensidade até que possam ver o Senhor em
uma visão aberta, e já não saiam mais dali? O céu
trará uma grande mudança de condição, mas
não em nossa posição, se mesmo agora estamos
detrás do véu. Será apenas uma mudança como
aquela entre o dia perfeito e a aurora; pois temos
o mesmo sol e a mesma luz proveniente do sol e
o mesmo privilégio de caminhar na luz. "Antes
que refresque o dia e fujam as sombras, volta,
amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao
filho das gazelas sobre os montes
escabrosos." Amém e Amém.

35
Parte da Escritura lida antes do sermão:
Hebreus 10.

Hebreus– 10

1 Ora, visto que a lei tem sombra dos bens


vindouros, não a imagem real das coisas, nunca
jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com
os mesmos sacrifícios que, ano após ano,
perpetuamente, eles oferecem.

2 Doutra sorte, não teriam cessado de ser


oferecidos, porquanto os que prestam culto,
tendo sido purificados uma vez por todas, não
mais teriam consciência de pecados?

3 Entretanto, nesses sacrifícios faz-se


recordação de pecados todos os anos,

4 porque é impossível que o sangue de touros e


de bodes remova pecados.

5 Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e


oferta não quiseste; antes, um corpo me
formaste;

6 não te deleitaste com holocaustos e ofertas


pelo pecado.
36
7 Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro
está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus,
a tua vontade.

8 Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e


ofertas não quiseste, nem holocaustos e
oblações pelo pecado, nem com isto te
deleitaste (coisas que se oferecem segundo a
lei),

9 então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó


Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para
estabelecer o segundo.

10 Nessa vontade é que temos sido santificados,


mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma
vez por todas.

11 Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia,


a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas
vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais
podem remover pecados;

12 Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre,


um único sacrifício pelos pecados, assentou-se
à destra de Deus,

13 aguardando, daí em diante, até que os seus


inimigos sejam postos por estrado dos seus pés.
37
14 Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou
para sempre quantos estão sendo santificados.

15 E disto nos dá testemunho também o Espírito


Santo; porquanto, após ter dito:

16 Esta é a aliança que farei com eles, depois


daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu
coração as minhas leis e sobre a sua mente as
inscreverei,

17 acrescenta: Também de nenhum modo me


lembrarei dos seus pecados e das suas
iniquidades, para sempre.

18 Ora, onde há remissão destes, já não há oferta


pelo pecado.

19 Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no


Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus,

20 pelo novo e vivo caminho que ele nos


consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne,

21 e tendo grande sacerdote sobre a casa de


Deus,

22 aproximemo-nos, com sincero coração, em


plena certeza de fé, tendo o coração purificado
de má consciência e lavado o corpo com água
pura.
38
23 Guardemos firme a confissão da esperança,
sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel.

24 Consideremo-nos também uns aos outros,


para nos estimularmos ao amor e às boas obras.

25 Não deixemos de congregar-nos, como é


costume de alguns; antes, façamos
admoestações e tanto mais quanto vedes que o
Dia se aproxima.

26 Porque, se vivermos deliberadamente em


pecado, depois de termos recebido o pleno
conhecimento da verdade, já não resta sacrifício
pelos pecados;

27 pelo contrário, certa expectação horrível de


juízo e fogo vingador prestes a consumir os
adversários.

28 Sem misericórdia morre pelo depoimento de


duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a
lei de Moisés.

29 De quanto mais severo castigo julgais vós


será considerado digno aquele que calcou aos
pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da
aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o
Espírito da graça?
39
30 Ora, nós conhecemos aquele que disse: A
mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra
vez: O Senhor julgará o seu povo.

31 Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.

32 Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores, em


que, depois de iluminados, sustentastes grande
luta e sofrimentos;

33 ora expostos como em espetáculo, tanto de


opróbrio quanto de tribulações, ora tornando-
vos coparticipantes com aqueles que desse
modo foram tratados.

34 Porque não somente vos compadecestes dos


encarcerados, como também aceitastes com
alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência
de possuirdes vós mesmos patrimônio superior
e durável.

35 Não abandoneis, portanto, a vossa confiança;


ela tem grande galardão.

36 Com efeito, tendes necessidade de


perseverança, para que, havendo feito a vontade
de Deus, alcanceis a promessa.

37 Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele


que vem virá e não tardará;
40
38 todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se
retroceder, nele não se compraz a minha alma.

39 Nós, porém, não somos dos que retrocedem


para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a
conservação da alma.

41

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