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A GRAÇA DIVINA

Carlos Kleber Maia1

Deus é o Autor da salvação para todos os homens, e Aquele que provê todos os meios
necessários para que isto ocorra. Somos salvos porque Deus nos alcançou com Sua graça,
e providenciou a remissão mediante a obra expiatória de Cristo. Somos salvos porque
depositamos em Cristo a nossa fé, que foi gerada em nós pelo Espírito Santo.

A graça de Deus

É um favor imerecido, livremente dado aos homens por Deus. É a disposição divina de
“transmitir o seu próprio bem, e a amar as criaturas, não por mérito ou dívida, nem que isso
possa acrescentar qualquer coisa ao próprio Deus, mas para que possa ir bem àquele a
quem o bem é concedido, e que é amado. ” Jacó Armínio (2015, v1, p. 415).
A graça de Deus sempre visa a salvação de todo homem, e possui muitas operações
distintas: “A graça é uma só em essência, mas varia em seu modo; uma no princípio e no
fim, mas variada em seu progresso. ” Armínio (v3, p. 142).

A graça de Deus é necessária

A graça é absolutamente necessária para que o homem seja salvo (Ef 2.8,9; Tt 2.11; Rm
11.6).
“O livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou aperfeiçoar qualquer bem verdadeiro ou espiritual,
sem a graça. Esta graça é simples e absolutamente necessária [...]” Armínio (v2, p. 406).
Armínio classifica as operações da graça divina em preveniente (precedente, capacitadora)
e subsequente (cooperante, salvadora).
Esta doutrina era comum na igreja medieval, sendo defendida por Agostinho e pelo Concílio
de Orange, em 529 d.C. (STANGLIN, 2016, p. 198,199).

A graça preveniente

A graça preveniente habilita o homem a crer em Cristo. Ela é a única causa de todo bem
espiritual e é preparatória para outras manifestações da mesma graça (Jo 1.16).
“Esta graça vai antes, acompanha e segue; instiga, auxilia, opera o que queremos, e
coopera, para que não queiramos em vão”. Armínio (v2, p. 406).
Esta graça é uma obra do Espírito Santo que vence a incapacidade do homem caído de
crer em Cristo ou desejar qualquer bem espiritual.
O Espírito Santo convence (Jo 16.8) e “abre o coração” do pecador (At 16.14; 2 Co 4.4-6).
Deus pode requerer fé do homem decaído, pois “decidiu conceder aos homens graça
suficiente, pela qual os homens podem crer. ” Armínio (v1, p. 348).
O Espírito Santo torna a fé salvadora possível, “iluminando e esclarecendo a mente, e
afetando o coração, para que seja dada séria atenção àquelas coisas que são faladas, e
para que seja dada fé ou crédito à palavra. ” Armínio (v1, p. 512).
Quando o pecador ouve a pregação do evangelho e o Espírito Santo age em seu coração,
a fé é possibilitada a ele (Rm 10.17).
“O ato de fé não está no poder de um homem natural, carnal, sensitivo e pecador e [...]
ninguém consegue realizar esse ato exceto pela graça de Deus” Armínio (v2, p. 94).

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Mestrando em Teologia (FABAPAR) e Pós-graduado em Teologia do Novo Testamento Aplicada (FTBP), pastor da
Igreja Assembleia de Deus no RN. E-mail: ckmaia@hotmail.com.
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A graça preveniente possibilita a fé

“O autor da fé é o Espírito Santo [...] o instrumento é o Evangelho, ou a palavra de fé, que


contém o significado a respeito de Deus e de Cristo que o precioso Espírito propõe ao
entendimento, e do qual Ele persuade aqui. ” Armínio (v3, p. 320).
“Digo, então, que é muito claro, com base nas Escrituras, que o arrependimento e a fé não
podem ser exercidos, exceto pelo dom de Deus. Mas as mesmas Escrituras e a natureza
dos dois dons ensinam, de maneira muito clara, que esta concessão se dá pelo modo de
persuasão. Isto acontece pela palavra de Deus. ” Armínio (v3, p. 320).
Deus pode requerer fé do homem decaído porque Ele “decidiu conceder aos homens graça
suficiente, pela qual os homens podem crer.” Armínio (v1, p. 348).
Esta graça é suficiente para todos os que a experimentam, e eficaz em todo aquele que
não resiste a ela. Se o homem não resiste à operação do Espírito Santo, Ele o levará à
salvação.
Salvação pela fé e salvação pela graça são complementares (Rm 4.2-5, 16; 10.3). A fé
salvadora não concede mérito ao crente, pois ela vem pela graça. Ter fé é estender uma
mão vazia.

A graça é resistível

A Bíblia mostra diversas ocasiões onde homens resistem à ação do Espírito Santo (At 7.51)
e rejeitam sua operação (Lc 7.30; Ne 9.30; Is 63.10; Ef 4.30).
A Bíblia é cheia de exemplos de pessoas desprezando a graça e se rebelando contra Deus
(Jr 32.35;Is 5.1-4; Hb 3.12-15; 12.15).
A Palavra exorta os homens a crer e que não rejeitem a graça de Deus (2 Co 6.1; Rm 8.13).

A salvação é pela fé

Os homens são salvos porque creem, e são condenados por sua incredulidade (Jo 3.18,
36; 5.24, 38).
Alguns ouvem a pregação do Evangelho e creem; outros, mesmo tendo ouvido, não creem
(At 13.46; 17.2-5; 28.23,24; Sl 81.11,12).
A fé não é causa meritória da salvação, mas é causa instrumental. A fé é impossível sem a
graça; a salvação pela graça é impossível sem a fé: “A fé é uma condição exigida por Deus
daquele que será salvo, antes que seja o meio de obter a salvação”. Armínio (v1, p. 264).

A graça subsequente

Se o homem não resiste à graça preveniente, e abre a porta do coração, receberá os


benefícios da salvação.
Depois de salvo, a graça continua agindo para que ele continue firme na fé: “Desta maneira,
atribuo à graça o início, a continuidade e a consumação de todo o bem, de tal forma que,
sem a sua influência, um homem, mesmo já estando regenerado, não pode conceber, nem
fazer bem algum, nem resistir a qualquer tentação do mal, sem esta graça emocionante e
preventiva, que coopera com o homem. ” Armínio (v1, p. 232).

A graça alcança a todos

“Não há desculpas para aqueles que continuam em pecado, ... pois não há nenhuma
pessoa que esteja em um mero estado natural; não há ser humano, a menos que haja
apagado o Espírito, que esteja completamente privado da graça de Deus [...] Nenhum ser
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humano peca porque não tem graça, mas porque não usa a graça que tem”. John Wesley
(citado por WYNKOOP, 2012, p. 158,159).
Deus chama a todos a crerem (Mt 11.28; 22.4; Ap 22.17; 21.6) e serem salvos. O chamado
é universal, pois a graça salvadora é oferecida a todos (Tt 2.11; 1 Tm 2.4; 2 Pe 3.9).

Conclusão

Somos salvos pela graça (e não por obras ou mérito pessoal) e pela fé em Cristo (decisão
pessoal capacitada pela graça). Deus nos dá a graça e capacita a crermos, mas não crê
pelo homem. Ele ordena que este creia.
A capacidade de crer vem de Deus. O conteúdo da fé vem de Deus. A persuasão para crer
vem de Deus. O crer, contudo, é um ato do homem.
“Pela fé” complementa “pela graça” e contradiz “pelas obras”. A fé é uma condição não
meritória.

Soli Deo Gloria!

REFERÊNCIAS

ARMINIO, Jacó. As Obras de Armínio. 3 volumes. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.


COUTO, Vinicius. Em Favor do Arminianismo-Wesleyano: Um estudo bíblico, teológico e exegético de sua
relevância na contemporaneidade. São Paulo: Reflexão, 2016.
NASCIMENTO, Valmir. Graça Preveniente: Um estudo sobre o gracioso agir de Deus para a salvação
humana. São Paulo: Reflexão, 2016.
OLSON, Roger E. Teologia Arminiana – mitos e realidades. São Paulo: Reflexão, 2013.
PICIRILLI, Robert R. Graça, Fé e Livre Arbítrio – visões contrastantes da salvação: calvinismo e arminianismo.
São Paulo: Reflexão, 2017.
PINNOCK, Clark H.; WAGNER, John D. Graça para Todos: a dinâmica arminiana da salvação. São Paulo:
Reflexão, 2016.
RODRIGUES, Zwínglio. Graça Resistível. Coleção Arminianismo. São Paulo: Reflexão, 2016.
STANGLIN, Keith D.; MCCALL, Thomas H. Jacó Armínio – teólogo da graça. São Paulo: Reflexão, 2016.
WYNKOOP, Mildred Bangs. Uma Teología Del Amor. Casa Nazarena de Publicaciones, 2012.

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