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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Departamento de Psicologia

Mestrado em Terapia Familiar e Comunitária

RELATÓRIO DE ESTÁGIO-Coaching 1

Supervisores: Estagiário
Dra. Ana Ibanez RuiMbatsana

Dra.LucenaMuianga

Maputo, Dezembro de 2013


ÍNDICE Pág.
1. Introdução3
1.1. Motivação e Justificação da àrea de intervenção e do local do estágio3
1.2. Objectivo do estágio e sua relevância3
1.3. Metodologia do estágio3
2. Metodologia 4
2.1. Descrição do local do estágio 4
2.1.1. AMODEFA 4
2.1.2. Estrutura da AMODEFA6
2.1.3. CÁ-PAZ7
2.1.4. Estrutra da CÁ-PAZ8
2.2. Plano Geral de actividades a realizar durante o estágio9
2.3. Actividades realizadas no estágio e sua avaliação 9
3. Apresentação do Caso10
3.1. Processo Diagnóstico11
3.1.1. Psicodiagnóstico (identificação do problema) e prognóstico11
3.1.2. Instrumentos psicodiagnósticos utilizados 12
3.1.3. Teorias utilizadas para a interpretação do problema12
3.1.4. Hipótese sistémica13
3.1.5. Contrato e aliança terapêitica13
3.2. Plano de Intervenção 13
3.2.1. Finalidades13
3.2.2. Metas/Objectivos 13
3.2.3. Estratégias14
3.2.3.1. Terapia cognitiva comportamental14
3.2.3.2. Terapia de casal14
4. Considerações finais15
5. Referências Bibliográficas17
6. ANEXOS
6.1. Genograma da Família Emeldina e Muzila
6.2. Plano de estágio
6.3. Seminário para orientadores de estágio

1. Introdução

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1.1. A motivação da escolha da área de intervenção e do localdo estágio surge das
exigências impostas pela natureza do próprio curso. Este requer o desenvolvimento de
habilidades com base na realização de actividades práticas nos domínios de terapia
familiar e comunitária.
Assim, a selecção dos locais de estágio, quer na AMODEFA, quer na CÁ-PAZ, o maior
interesse dos estudantes foi de poder lidar com Casos de terapia de família e também
ao nível comunitário. Assim, sendo a AMODEFA uma Associação dedicada ao
desenvolvimento da família, a maior esperança foi de encontrar pacientes na esfera da
família e de casal. Na CÁ-PAZ, porque lida-se com a problemática da violência
doméstica e desenvolve muito trabalho com a comunidade, a esperança foi também
de encontrar condições favoráveis para o desenvolvimento de habilidades nos campos
de terapia familiar e comunitária.

1.2. No quadro do Plano curricular do curso de Mestrado em Terapia Familiar e


Comunitária está em curso o Estágio, Supervisão e Coaching I, com objectivo de
capacitar os mestrandos na aplicação de conhecimentos de natureza teórica que
possuem, à prática terapêutica, nas actividades desenvolvidas nas instituições
especializadas.
É nestes termos que o estágio tem grande relevância para o futuro do terapeuta
porque ganha capacidade de traduzir os conhecimentos teóricos adquiridos no
processo de ensino e aprendizagem, no atendimento de Casos terapêuticos nas
diferentes dimensões em que surgem. Para isso, é importante desenvolver habilidades
práticas no tratamento de pacientes.

1.3. Foi adoptado como metodologia de estágio a constituição de grupos de dois


estagiários, os quais em cada caso, quando um actua como terapeuta, o outro
desempenha o papel de co-terapeuta, o que facilita a interajuda que é necessária nas
sessões de terapia.
Em cada local de estágio, os estagiários foram apesentados pelos supervisores, aos
responsáveis das instituições seleccionadas para o estágio.
Assim, na AMODEFA o Estágio iniciou no dia 30 de Agosto de 2013, com a
apresentação dos estagiários à Directora Executiva da organização. A justificação da
escolha deste local prende-se com a necessidade que os estudantes têm de
desenvolver actividades práticas na área de terapia familiar e comunitária.

Foram apresentados alguns casos por algumas enfermeiras que no final da primeira
sessão não tiveram mais continuidade porque os pacientes não retornavam às
consultas.

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Por esse motivo os estagiários, num acordo com as supervisoras e autorizados pela direcção do
curso decidiram pela mudança do local de estágio.

Assim, os estagiários foram subdivididos em dois subgrupo, tendo o nosso subgrupos sido
enviado à CAPAZ, onde iniciou o estágio no dia 01 de Outubrode 2013, com a apresentação à
Directora Executiva.

Os estudantes passaram por um período de acompanhamento dos Casos sob direcção da


orientadora, que mais tarde passou alguns, à responsabilidade destes.

A CÁ-PAZ pelos objectivos que persegue, granjeou muita simpatia nas comunidades e na
população em geral, tendo assim, se tornado numa referência nos campos de violência
doméstica, empoderamento da mulher e no apoio psico-social das famílias e comunidade.

2. Metodologia

2.1. Descrição do local de estágio

Conforme o relatado na rubrica mais acima sobre as actividades realizadas no estágio, o


nossosubgrupo começou o seu estágio na AMODEFA, tendo depois passado para CAPAZ por
razões acima referidas.

AMODEFA-Associação Moçambicana para o Desenvolvimento da Família


Foi criada a 15 de Junho de 1989 e, conta hoje mais de 600 voluntários em todo o país. A
partir de 2003 adquiriu o estatuto de uma instituição de utilidade pública.

A AMODEFA tem como objectivo “Contribuirpara estabilidade da família através de acções


de informação, educação e comunicação, de modo a promover uma relação mais coesa
entre os vários membros da família e desta para com a sociedade”.

Visão

“Por uma Sociedade moçambicana onde todas as pessoas tenham acesso a serviços de
saúde e gozem dos seus direitos sexuais e reprodutivos e vivam livres do HIV/SIDA e de
qualquer discriminação”.

Missão

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“Promover e defender os direitos sexuais e reprodutivos das pessoas, através da informação,
educação e prestação de serviços de qualidade em parceria com os sectores público e
privado e a sociedade civil”.

Para sua correcta gestão a AMODEFA possui Órgãos sociais eleitos em Assembleia Geral,
nomeadamente, Assembleia Geral, Conselho de Direcção, Conselho Fiscal.

São alvos de atenção da AMODEFA os adolescentes, jovens, Homens e Mulheres.

A AMODEFA desenvolve vários programas, podendo se mencionar alguns tais como:

 Programas de apoio à comunidade, como é o caso do de implementação do


projecto de cuidados domiciliários em apoio às pessoas vivendo com HIV/SIDA;
 Formação de parlamentares em matéria de saúde sexual e reprodutiva;
 Programas da juventude na AMODEFA desenvolvidos nas escolas e na comunidade.

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ESTRUTURA ORGÂNICA DA AMODEFA

ASSEMBLEIA GERAL

1o. Nível CONSELHO FISCAL

CONSELHO DE DIRECÇÃO

DIRECÇÃO EXECUTIVA

2o. Nível

DIRECÇÃO DE PROGRAMAS DIRECÇÃO DA CLINICA DIRECÇÃO DE ADM. FINANÇAS

GELEGAÇÃO PROVINCIAL SECTORES

Coord.deProgramas

ÁreaProgramas

ÁreaFinanceira

CÁ-PAZ-Associação Moçambicana de Assistência Psicossocial e Empoderamento às


Vítimas de Violência Doméstica

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Localiza-se no Posto Administrativo da Machava e foi criada sob o despachoNo.133 de
30 de Outubro 2007. Este criou um Centro de atendimento das vítimas de violência, composto
por diferentes instituições Públicas (Acção Social, polícia, Saúde), estruturas locais (Secretários
dos bairros e chefes dos quarteirões, régulos e AMETRAMO) e pelos "Bons Vizinhos" (agentes
da comunidade).
OBJECTIVO GERAL:
Dar apoio psicossocial às vítimas de violência doméstica.
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS:
 Aconselhar e organizar a assistência psicológica, social, médica e legal das vítimas de
violência doméstica;
 Realização de visitas domiciliárias pelos ”Bons Vizinhos” para a promoção da saúde
e informação a comunidade sobre as actividades do Centro;
 Aconselhamento dos parceiros, perpetradores e membros das famílias sobre as
consequências de violência, direitos básicos, legislação aplicável à violência
doméstica;
 Criar Fóruns de protecção de crianças nas comunidades;
 Criar e organizar actividades do grupo de auto-ajuda;
 Fortalecer o papel das estruturas locais e líderes comunitários na gestão dos
problemas de violência doméstica nas comunidades;
 Iniciar e participar em campanhas locais e nacionais contra a violência doméstica.
 Criar e capacitar as redes dos ”Bons Vizinhos”,
 Criar fórunsde protecção da criança em cada comunidade (bairro);
 Prover as estruturas da comunidade de capacidades e habilidades básicas de apoio
psicossocial e a identificação de sintomas e sinais das vítimas de violências
domésticas;
 Estabelecer ligação com instituições governamentais e organizações não
governamentais que trabalham com vítimas de violência doméstica;
 Desenhar e assinar memorandos de entendimento ou contratos-programa sobre a
colaboração com as instituições governamentais e organizações não governamentais,
interessadas em colaborar no modelo psicossocial.

ESTRUTURA ORGÂNICA DA CÁ-PAZ

Mesa da Assembleia

7
0

Conselho de Direcção Executiva

Comissão Multisectorial: Monitoria


(Saúde,Educação, Polícia, Acção Social,
estruturas e autoridades locais)

Resp. Administração e Resp. de Programas Resp. Formação e Pesquisas


Finanças

Secretariado Violência e Gênero Cood. Dos


BonsVizinhos

Gestora de Casos:
RecursosHumanos LizeteTembe Coord.eesquis
a e Estágio

Financeiros Coord. de Direitos


Sexuais e HIV/SIDA

Pessoal de apoio
Cood. Projecto de
Crianças

Coord projecto Homem


Estrela”(HOPEM

2.2. Plano geral das actividades a realizar durante o estágio

Cada estudante elaborou o seu plano de actividades a realizar durante o estágio. O meu plano
em ANEXO 2, apresenta-se preenchido de actividades realizadas a partir do dia 30 de Agosto de
2013, com a frequência de duas sessões semanais das 8 as 12 horas, com pequenas variações
na prática, tendo como conteúdos o acompanhamento e a condução de casos de terapia
familiar.

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A passagem para CÁ-PAZ produziu uma pequena alteração no plano quanto aos dias de semana.
Ou seja, no lugar das 3ª’s e 5ª’s feiras, passou a ser nas 2ª’s e 5ª’s feiras, com início as 8h30,
mantendo o mesmo tempo de duração da jornada de 4 horas.

2.3. Actividades realizadas no estágio e sua avaliação

Na AMODEFA reunimo-nos com a Directora Executiva no dia da nossa apresentação e de


seguida tivemos um encontro com Dr. Marcelo responsável pela orientação dos estagiários e
com o qual foram programadas actividades para dias subsequentes. Foi feita visita às
instalações e tomamos contacto com os diferentes responsáveis dos vários sectores da
AMODEFA. No dia 12 de Setembro os estagiários acompanhados pelos supervisores reuniram-
se com Enfermeira Albertina, coordenadora dos cuidados domiciliários nas comunidades, a qual
nos falou das actividades que aí se realizam, bem como da história do surgimento desta área de
actividade. Por sua orientação foram programadas deslocações às comunidades e, foi nesse
âmbito que nos deslocamos à comunidade de Laulane onde visitamos uma família que sofre de
HIV. Também na AMODEFA, em colaboração com as enfermeiras, estabelecemos alguns
contactos com pacientes com vista à realização de sessões de terapia familiar, contudo não
chegaram a acontecer por falta de interesse destes.

A falta de casos terapêuticos que permitissem a realização de sessões de terapia levou-nos a


procurar outros locais para efectivação do estágio, razão pela qual tivemos que passar para
CAPAZ. Porque identificamos que o problema da falta de casos de terapia na AMODEFA devia-se
a alguns factores, sendo o principal, a falta de capacidade de identificar casos por parte do
pessoal que trabalha nos diferentes sectores, por instrução das Supervisoras, preparamos um
seminário de capacitação do pessoal- ANEXO 3. O seminário foi marcado e adiado sucessivas
vezes por falta de participantes devido à falta de tempo e da natureza de ocupações.

Terminado o estágio na sua primeira fase “Coaching 1”, podemos afirmar que os resultados
foram positivo e satisfeitas as expectativas.

3. Apresentação do Caso

História do Caso Emeldina e Muzila

EmeldinaWakakwambe de 41 anos de idade e MuzilaMalungate 45anos de idade vivem


maritalmente juntos a 17 anos. Segundo a esposa, quando se conheceram ela acabava de
perder o seu primeiro marido com o qual teve dois filhos que actualmente têm 20 e 22 anos

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respectivamente. Nessa altura ela vivia numa casa alugada no Bairro de Chamanculo, onde o
Senhor Muzila quando se conheceram passou a viver na companhia dela. A Emeldina,
recordando desse tempo afirmou que o marido lhe batia muito e, numa dessas vezeslhe
mandou embora de casa, tendo se refugiado na casa do avô em Boquisso em 2005, o qual deu
lhe um terreno onde ela construiu uma casa de 7 chapas de zinco. Passado algum tempo o
Senhor Muzila apareceu por lá e apresentou um pedido de desculpas à família dela que foram
aceites facto que lhe permitiu retomar a vida conjugal. Depois disso os dois adquiriram um
terreno, onde em conjunto organizaram material (blocos), e o filho dela construiu uma casa de
blocos onde actualmente vivem os dois. Entretanto, e segundo a esposa, durante estes anos
todos o marido continua a tratar-lhe mal, expulsa muitas vezes de casa e dormindo no mato até
ao dia seguinte.

Em relação a este problema a versão do Senhor Muzila, seu marido, é de que o


desentendimento surge na sequência de a esposa ter ido à Africa do Sul onde integrou-se a
Igreja Pentecostal, sem lhe dizer nada, mas que para ele não existem problemas entre os dois, e
ele definiu que ela pode continuar a rezar naquela Igreja, mas apenas de dia. Só que na sua
intervenção a esposa deixou claro que ele na verdade não está satisfeito porque quando ela
volta da Igreja verifica que ele nunca está à vontade, presumindo daí que ele não quer que ela
vá àquela Igreja.

Face ao impasse sobre este assunto, porque para deixar de frequentar aquela Igreja é preciso
deslocar-se à África do Sul para entregar as roupas daquela congregação, a esposa propõe que
viajassem juntos,o que foi rejeitado pelo marido.Sobre esta polémica à volta da Igreja a esposa
explicou que ela tem espíritos da família, mas que na família dela não existe ninguém para trata-
los, e esta a Igreja Pentecostal é a única que pode os afugentar, mas porque gosta do marido
prefere deixar de rezar nela.

A esposa acrescentou outros factos que geram desentendimentos entre o casal,


nomeadamente, o abuso de álcool e o amantismo, em que algumas vezes chegou a abandonar
a casa.

Outro facto por ela revelado, é o maridonum certo dia, estando todos sentados na sala, ele ter
mantido relações sexuais com sua sobrinha, que na altura tinha 17 anos, na presença dela e das
crianças que ai estavam. Quando ele lhe pediu explicações sobre o que pretendia fazer com ela,
o marido afirmou que queria casar-se com ela. A seguir questionou-lhe como queria casar com
a sobrinha se mesmo a ela não consegue LOBOLAR.

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A esposa ao referenciar o Lobolo, e porque muitas vezes disse que o marido não lhe respeita e
não lhe valoriza, deixou claro que para ela seria importante que fosse lobolada como forma de
valorizá-la perante a sociedade.

Ela acrescentou que neste momento vivem com dois sobrinhos de 18 e 20 anos de idade, que o
marido foi traze-los de Gaza, numa casa de um quarto e uma sala, com agravante de não ter
nenhuma porta que separe os dois compartimentos, e ele lhe obriga a manterem relações
sexuais no momento em que os jovens estão acordados e a assistir programas de televisão.

Segundo a esposa, para além dos episódios acima mencionados, o que ela sente é que o marido
já não lhe quer ver, e julga que ele está fazendo esforço para que ela se vá embora para ficar
sozinho com a casa. Concluiu dizendo que, é a razão porque frequentemente briga com ela, de
tal modo que ao nível da estrutura local não se consegue resolver o problema e, é dai que o
chefe de quarteirão lhes remeteu à CAPAZ (Sede clínica).

3.1. Processo Diagnóstico

3.1.1. Psicodiagnóstico (identificação do problema) e o prognóstico

O problema identificado e apresentado à Sede Clínica relaciona-se com a Igreja Pentecostes


onde a Sra. Emeldina reza. Tudo começa na altura da sua adesão a esta ceita, que teve que ir à
África do Sul, na Sede da Igreja, onde recebeu instruções e fardamento dos fiéis. Nessaaltura,
devido às contradições que vinham tendo, a senhora Emeldina não informou o marido sobre a
viagem.Senhor Muzila, mais tarde veio a saber por terceiras pessoas, e porque não concorda
com essa ceita religiosa, proibiu a mulher de fazer parte da congregação.

Entretanto, tendo em consideração a história desta família pode se constatar que o problema
reside no comportamento problemático do Senhor Muzila, que se manifesta na prática de
violência doméstica (física e psicológica) e falta de respeito e consideraçãopara com a esposa.

Na avaliação diagnóstica neste caso em análise, encontramos o Muzila como Paciente


Identificado (PI). A razão que leva a esta conclusão fundamenta-se na prática frequente de
agressão contra a esposa, alcoolismo, amantismo e comportamento sexual perverso. Pelo que o
diagnóstico resume-se em alcoolismo e sexualidade perversa.

Segundo a OMS, o alcoolismo é uma doença progressiva, que se manifesta lentamente ao longo
dos anos até atingir o seu auge. É também considerada reflexiva por se reflectir nas pessoas que
convivem com um alcoólatra.

Pirlot, G. Pedinielli, J-L (2006), definem sexualidade perversa como sendo “um comportamento
sexual que se caracteriza em ser:

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a) Inabitual, por romper com práticas sexuais socialmente aceites;
b) Parcial, por se limitar à satisfação parcial sem se importar com o parceiro;
c) Exclusivo, porque só daquele jeito consegue atingir o prazer sexual;
d) Instrumentalização, reduzindo o parceiro a um objecto”.

Tendo como fundamento o histórico do PI e as teorias alicerçadas pelos conceitos acima, a


expectativa daí subjacente é de que o Prognóstico é MAU, ou seja, nada sugere mudanças
significativa no comportamento do PI.

Abona ainda mais para este prognósticos alguns sinais de natureza física e comportamental que
caracterizam o PI, nomeadamente, a aparência de degradação física devido ao abuso de álcool e
prática de relações sexuais com a esposa, sem se importar com a sua protecção, sabendo que
ela é seropositiva, ignorando a chamada de atenção desta.

Estes aspectos afectam a dinâmica familiar, provocando a falta de harmonia conjugal no casal,
bem como a disfunção nas redes de relações já estabelecidas.

3.1.2. Instrumentos psicodiagnósticos utilizados

Foram utilizados como instrumentos de intervenção a Anamnese para recolha de dados


sobre os pacientes e outras informações relevantes para melhor compreensão do problema
e a observação que permitiu avaliar aspectos de natureza físico-comportamental (gestos,
indumentária etc.) e de natureza psicológica (pensament o lógico, raciocínio, capacidade verbal
etc.).

3.1.3. Teorias usadas para a interpretação do problema

Feita a avaliação após diagnóstico do caso em estudo, julgamos ser adequada a aplicação das
seguintes teorias:

a) Terapia Cognitiva Comportamental, considerando a necessidade de mudança


de comportamento manifestado pelo Senhor Muzilaconforme o indicado no
diagnóstico;
b) Terapia de casal, como forma de recuperar a confiança entre o casal dado que se
constata a existência de amor profundo entre os dois.
3.1.4. Hipótese Sistémica

O comportamento do marido gera conflitos no seio do casal originando desconfiança e


sofrimento em ambos. E noutras pessoas com quem vivem.

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Dado ao facto de o PI pertencer a uma família de 8 irmãos, dois dos quais são homens (ele e
o irmão falecido), seria importante aprofundar a história da família, para melhor conhecer a
origem da violência contra as mulheres e do comportamento com relação à sexualidade.

Possível existência duma triangulação entre o marido e sobrinhos contra a esposa.

3.1.5. Contrato e Aliança Terapêutica

No estabelecimento da aliança terapêutica apenas a esposa declarou interessada na solução


do problema.

3.2. Plano de Intervenção

Segundo o prognóstico apurado no processo de avaliação do caso em análise apresenta-se a


seguir o plano de intervenção, devendo considerar a finalidade, metas e estratégias de
intervenção.

3.2.1. Finalidades:
 Modificaro comportamento negativo do Senhor Muzila e restabelecer a
confiança mútua entre o casal;
 Apelar à consciência do Muzila com vista a abandonar os maus hábitos,
nomeadamente, o alcoolismo, o amantismo e agressão à sua esposa;
 Empoderar a esposa com vista a conseguir resgatar a auto-estima,
desenvolvendo actividades que permitem o seu auto sustento.

3.2.2. Meta/Objectivo

Meta 1:Restabelecer as relações conjugais que garantam confiança e proporciona uma boa
convivência e harmonia na vida casal;

Meta 2:Implantar uma forma de estar que se identifica com respeito mútuo entre os cônjuges,
favorecendo um bom clima na família;

Meta 3:Incentivar o Muzila a fazer o LOBOLO da Emeldina junto à família dela, como forma
de cumprir com as normas sociais estabelecidas, valorizando desse modo, a sua esposa perante a
sociedade.O Lobolo para os moçambicanos da zona Sul é uma forma de reconhecimento pela
sociedade de que os dois constituem uma família.

3.2.3.Estratégias:

Como estratégias de intervenção propõe-se a aplicação de dois modelos terapêuticos,


nomeadamente, a Terapia Cognitiva Comportamental e a Terapia de Casal. Em função dos
modelos aqui seleccionados serão aplicadas as técnicas adequadas a cada situação.

3.2.3.1. Terapia Cognitiva Comportamental

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Segundo Morris, C.G. &Maisto, A.A. (2004), “as terapias cognitivas se baseiam na crença de
que, se as pessoas conseguirem mudar ideias distorcidas sobre si mesmas e sobre o mundo,
poderão mudar também os seus comportamentos-problema e tornar suas vidas mais agradáveis.
A tarefa que os terapeutas cognitivistas enfrentam é identificar essas maneiras incorrectas de
pensar e corrigi-las”.

Feita a avaliação após diagnóstico do caso em estudo, julgamos ser adequada a aplicação do
modelo de Terapia Cognitiva Comportamental, tendo em consideração a finalidade e as duas
primeiras metas definidas e a serem alcançadas.

Para o efeito, foram seleccionadas as seguintes técnicas e procedimentos a serem aplicadas:

a) Técnicas para Terapia Cognitiva e Comportamental

 EMPATIA, o terapeuta coloca-se na situação do Muzila, com simpatia e respeito


procurando mudar o seu comportamento;
 ESCUTA ACTIVA, de modo a compreender e aprofundar as razões que levam o
casal Muzila e Emeldina a ter uma vida problemática,tendo em conta as
dimensões desta técnica quanto:
- Ao CONTEÚDO que está sendo apresentado;
- Ao APELO que é feito sobre o problema e,
- Á RELAÇÃO estabelecida com o terapeuta na procura da solução.
Nesta técnica de Escuta Activa vai se aplicar também alguns elementos
importantes na intervenção, nomeadamente, a Paráfrase que ajuda na
reformulação sintética daquilo que se diz; a Interrogação que permite obter
informações relevantes e a Verbalização, como forma de reformular o
comportamento do Muzila.

3.2.3.2. Terapia de Casal

Verificando-se que para além do aspecto cognitivo comportamental evidenciado neste caso em
análise, é notória a existência da falta de cumprimento de deveres sociais por parte do Muzila,
facto que resulta na falta de reconhecimento da sociedade de que eles constituem uma família.
Este aspecto leva a esposa a um sentimento de falta de prestígio, bem como também não se sente
valorizada pelo próprio marido.

SegundoDunn e Schwebel, citados porMorris, C. G. (2004), “a terapia de casal para ambos os


parceiros em geral é mais efectiva que a terapia para apenas um deles”.

Na aplicação deste modelo terapêutico, o terapeuta vai concentrar-se no aprimoramento dos


padrões de comunicação criando expectativas mútuas. Para isso vai servir-se das seguintes
técnicas:

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a) Técnicas para terapia de casal
 Técnicas de Empatia, treinar os parceiros para cada um saber partilhar os sentimentos
íntimos com outro, bem como ouvir e compreender os sentimentos do outro antes de
reagir;
 Técnicas comportamentais, que consistem em ajudar o casal a desenvolver um esquema
para troca de acções específicas e de interesse comum, por exemplo, como ajudar nos
afazeres de casa; organizar uma refeição especial juntos; lembrar ocasiões especiais com
um presente etc.

Entretanto, tendo em consideração o último cenário de violência praticado pelo Muzila contra
sua esposa (Domingo 24/11/13), facto que levou a mulher a apresentar queixa à esquadra da
polícia local, o grupo de terapeutas decidiu encaminhar o presente caso, para área jurídica que
funciona na Sede Clínica.

Por esse facto,a fase do processo terapêutica não foi executada. O Plano de Intervenção aqui
proposto, poderá ser executado logo que o PI reconhecer a necessidade e manifeste interesse de
estabelecer uma Aliança Terapêutica que permite dar continuidade ao processo.

4. Considerações Finais

Segundo Witter (1992), estágio é “o conjunto de actividades supervisionadas, de cunho


profissionalizante, que legalmente o aluno deve cumprir para complementar seu currículo
académico”.

Reconhecendo a importância e o papel do estágio na consolidação de conhecimentos adquiridos


no processo de ensino-aprendizagem, inseriu-se no curso de Terapia Familiar e Comunitária o
Estágio supervisionado “Coaching I e II.

Ao longo da primeira fase de estágio “Coaching I” foram colocados em prática os conhecimentos


teóricos aprendidos em sala e aulas, em casos de terapia familiar com pessoas envolvidas.

Como é lógico, as dificuldades não tardaramsurgir sobretudo na condução dos casos, derivados
de alguns aspectos de natureza prática, nomeadamente:

a) Como encarar e confortar o paciente em momento de emoção derivada da lembrança dos


factos aflitivos que lhe perturbam;
b) Satisfazer expectativas do paciente sobre a solução que espera de forma imediata;
c) Conseguir a colaboração do paciente e fazer com que ele assuma que a solução deverá
ser encontrada num trabalho conjunto “paciente- terapeuta ”;
d) Flexibilidade na escolha das teorias e técnicas condicentes com o rumo que o problema
vai tomando, ao longo processo terapêutico.

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Ao longo do estágio sentimos algumas limitações técnicas e teóricas, nomeadamente:

a) Elaboração, com precisão do diagnóstico, nomeadamente a identificação do problema e a


definição exacta do prognóstico;
b) Descrição da hipótese sistémica.

Pela importância que o estágio assume no processo de formação técnico-prático dos futuros
terapeutas, recomendamos o seguinte:

1. Às instituições acolhedoras, deverão ser receptivas à recepção dos estagiários,


considerando a “obrigação” que têm de contribuir na formação de futuros profissionais da
área terapêutica. Para o efeito, devem criar o mínimo de condições que permitam aos
estagiários colocarem em prática os seus conhecimentos;
2. À UEM, na qualidade de entidade formadora e promotora do estágios, deve desenvolver
acções de sensibilização das instituições que acolhem os estagiários, sobre a importância
desta actividade na formação de futuros profissionais. Deve promover seminários
internos de formação de todo o pessoal envolvido. A exemplo da AMODEFA, os
estagiários constataram que o pessoal directamente envolvidono atendimentodas pessoas
que recorrem àqueles serviços, não possuía bases para identificação de casos
terapêuticos.
É de sugerir também que a UEM, porque tem sempre estudantes de psicologiaao nível de
licenciatura, devia criar uma assistência permanente às instituições acolhedoras de
estágio, no âmbito de problemas psicológicos.

Em conclusão, importa dizer que a equipa regente do Mestrado em Terapia Familiar e


Comunitária tem feito um grande esforço que resulta numa sólida formação técnica, em
particular na aliança da teoria e prática. Como estagiário, senti que existe uma grande aceitação
dos pacientes sobretudo quanto á metodologia aplicada no tratamento dos casos terapêuticos.

ANEXOS: 1.Genograma da Família Emeldina e Muzila; 2. Plano de Estágio; 3. Seminário para


Orientadores de Estágio.

5. Referências Bibliográficas

AMODEFA: Associação Moçambicana para o Desenvolvimento da Família

CÁ-PAZ – Associação Moçambicana de Assistência Psicossocial e Empodramento às


Vítimas de Violência Doméstica : Apresentação da Associação CÁ-PAZ. Machava, 2012;

16
Morris, C.G. &Maisto, A.A. (2004),. Introdução à Psicologia. São Paulo, prentice Hall, 6ª
edição;

Pirlot, G. Pedinielli, J-L.As perversões sexuais e narcísicas.Climepsi Editores: Psicológica de


bolso, vol. 17. Lisboa, 2006;

Witter, G. Witter, Y. – Mitsu& Napolitano, (1992, p. 182);

17

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