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ENSINO MÉDIO1
Introdução
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Este texto foi tema do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, da ‘Especialização em Educação para
Diversidade e Cidadania’, na Faculdade de Direito da UFG.
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Mestre em História (PUC/GO), Especialista em Educação para Diversidade e Cidadania (UFG), Especialista no
Ensino de História (FIV/IVE), Graduado em História (UNIVAR). Docente nas Faculdades Unidas do Vale do
Araguaia – UNIVAR.
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populações indígenas no Brasil. De maneira que o livro didático passe a valorizar a
abordagem da diversidade étnica indígena brasileira.
Em Chartier (1990) buscamos o suporte teórico necessário sobre a categoria de
representação, vista como a maneira como os grupos criam suas concepções e identificam os
outros. Em Fernandes (1993) observamos a discussão sobre a diversidade étnica dos grupos
indígenas brasileiros com suas particularidades. Nas discussões de Zamboni (1998),
ressaltamos as representações acerca do ensino de História, e a maneira como esse contribui
para a formação da sociedade. O que contribui para o desenvolvimento da pesquisa e
observação das orientações do MEC para Educação Básica. Libâneo (2002) possibilitou
pensarmos o papel do professor como mediador do conhecimento. Na abordagem de Grupioni
(2004) observamos a relação entre a função do professor e a problemática da produção dos
manuais didáticos no Brasil.
Já na análise da alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB/96
procuramos compreender as orientações que determinam a regulamentação do ensino
brasileiro sobre a abordagem da questão indígena na educação básica, e em especial, com
relação à inserção obrigatória de conteúdos referentes à História indígena nas escolas de
ensino fundamental e médio. A Lei 11.645, de 10 de março de 2008:
A relevância dessa pesquisa está alicerçada na análise da implementação das leis que
regem a educação básica no país, bem como nas orientações propostas pelo MEC, sobre o
ensino de História (na educação básica) em consonância com o material didático utilizado.
Dessa forma, torna-se essencial a discussão sobre a ausência ou a maneira como são
retratados os povos indígenas nos manuais didáticos de História, buscando alternativas de
mudança.
Em sua grande maioria, os conteúdos abordados falam dos/as índios/as no passado,
como se esses não mais existissem e/ou fossem desprovidos de uma História. Fernandes
(1993: 143) assinala que:
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Pesquisas feitas por alunos do curso de História, da Universidade Federal de Mato
Grosso, para a disciplina de Antropologia, revelam dados preocupantes. A grande
maioria dos livros, aplicados em salas de aula da capital de Mato Grosso, coloca o
índio no passado – eles “eram”, “moravam”, “viviam” – e mostram um índio
genérico e uniformizado - “moravam em ocas”, “viviam da caça e pesca”,
“adoravam o sol e a lua”, “o feiticeiro era o pajé”. Sistematicamente, os livros
desconsideram a diversidade cultural e étnica no Brasil, dando uma visão muito
pobre de nosso país.
Assim, é possível identificar alguns livros didáticos como reprodutores de uma visão
equivocada e transmissores de estereótipos e preconceitos, que passam a representar uma
pseudo verdade absoluta. Nesse sentido, buscamos compreender as imagens difundidas pelo
livro didático de História e de que forma esse contribui para uma generalização das
populações indígenas, reduzindo-as à categoria de índios/as, sem levar em consideração as
particularidades de cada etnia. Segundo Chartier (1990: 17) “representações do mundo social,
embora aspirem à universalidade fundada na razão, são sempre determinadas pelo interesse do
grupo que as forjam.” Sendo assim, é importante observar como foram cristalizadas as
imagens produzidas pelo livro didático de História do ensino médio sobre as populações
indígenas brasileiras, e se essas imagens propõem rupturas nas abordagens com relação às
visões equivocadas sobre as populações indígenas no seu contexto histórico e cotidiano de
praticas e vivências.
Segundo Fernandes (1993: 15)
Para alguns, o índio é selvagem, cruel, traiçoeiro. Para outros, ele é um ser puro,
impregnado da inocência das crianças. Os que acreditam na sua pureza, idealizam-
no, enquanto os que acreditam na selvageria, os temem índios. Em ambos os casos,
a imagem construída a respeitos dos povos indígenas é baseada em estereótipos, ou
seja, idéias falsas que igualam e colocam sob um mesmo rótulo um sem número de
situações diversas.
O índio “ideal” deve ser forte, bonito, deve andar nu, não pode falar português, não
deve gostar de óculos escuros, nem beber Coca-Cola. Deve, ainda ter lindos dentes,
andar com o corpo pintado e enfeitar-se com penas. Esse é o “índio de verdade”.
Saindo desse padrão imaginário, criado muito distante de toda a complexidade de
inúmeras situações a que são submetidos os povos indígenas brasileiros, os índios
conhecidos não são “índios de verdade”, ou então são “índios civilizados”, “índios
aculturados”.
Aquele que tem o poder simbólico de dizer e fazer crer sobre o mundo tem o
controle da vida social e expressa a supremacia conquistada em uma relação
histórica de forças. Implica que esse grupo vai impor a sua maneira de dar a ver o
mundo, de estabelecer classificações e divisões, de propor valores e normas, que
orientam o gosto e a percepção, que definem limites e autorizam os comportamentos
e papéis sociais.
Os autores destes manuais didáticos precisam rever suas fontes e as teorias que
seguem, balizando seus livros em pesquisas mais contemporâneas. As editoras, por
sua vez, precisam ser mais cuidadosas no controle de materiais que elas publicam. E
o Governo Federal deve incentivar avaliações sistemáticas dos livros didáticos
beneficiados nos programas de compra e distribuição de material didático para todo
o país. Por fim, cabe aos próprios índios, e muitos representantes indígenas já estão
em condições de manter um diálogo mais efetivo com a sociedade nacional,
“pacificar” e “civilizar” os não-índios.
O “ser” Bororo é distinto do “ser” Cinta Larga, do “ser” Xavante, do “ser” branco e
assim por diante. Na verdade, não existe um ser índio. Esse nome índio, essa
categoria social é uma invenção dos europeus colonizadores. Os povos indígenas são
muito diferentes uns dos outros. Nós que, com nossos conhecimentos
fragmentários, tendemos a igualá-los sob um único rótulo. Se são, no Brasil, 200
povos indígenas, com 174 línguas distintas, são também tantos costumes, tantos
sistemas religiosos, econômicos, tantas ideologias.
O que está em questão, portanto, é uma formação que ajude o aluno a transformar-se num
sujeito pensante, de modo que aprenda a utilizar seu potencial de pensamento por meio de
meios cognitivos de construção e reconstrução de conceitos, habilidades, atitudes, valores.
Trata-se de investir numa combinação bem sucedida da assimilação consciente e ativa
desses conteúdos com o desenvolvimento das capacidades cognitivas e afetivas pelos
alunos visando a formação de estruturas próprias de pensamento, ou seja, instrumentos
conceituais de apreensão dos objetos do conhecimento, mediante a condução pedagógica do
professor que disporá de práticas de ensino intencionais e sistemáticas de promover o
“ensinar a aprender a pensar”.
Enfim, quando o livro didático for omisso em relação ao conteúdo abordado e/ou
apresentar determinadas limitações, é necessário que o/a professor/a faça as devidas
considerações de forma que possa contribuir para o desenvolvimento crítico do/a aluno/a em
relação à forma de obtenção do conhecimento na reconstrução de conceitos.
Considerações finais
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O livro didático de História como instrumento de apoio no processo de
desenvolvimento do ensino/aprendizagem tem sido alvo de inúmeras discussões sobre a
forma como a História é abordada. Nesse estudo analisamos um livro didático de História
aprovado pelo PNELM 2009, buscando compreender como são retratadas as populações
indígenas nesse manual.
Na análise feita, observamos que a expansão marítima européia e a chegada do
colonizador é o marco utilizado para trabalhar com a “ocupação” da América pelos europeus.
A população indígena não é retratada antes da chegada do colonizador, sendo evidenciada sua
presença a partir do contato e com o consequente “choque cultural”.
Nesse sentido, é evidente a invisibilidade indígena no livro didático de História, que
ainda traz o/a índio/a no passado, sem fazer relações com a atual situação desses grupos com
variadas culturas e formas de vida diferenciadas. Essa ausência da discussão sobre o/a índio/a
na atualidade contribui para a criação de estereótipos e preconceitos em torno das
comunidades indígenas.
O livro didático é um produto de construção social. E como tal reflete uma visão de
um grupo e serve para atender determinados interesses. Assim, é essencial ao/à professor/a,
enquanto mediador/a do conhecimento histórico, esclarecer aos/as alunos/as que aquelas
ideias representam uma visão particular de determinado fato, e que há outras possibilidades de
interpretação e leituras diversas.
As discussões envolvendo a problemática da terra são de fundamental importância
para a compreensão da atual situação das populações indígenas no Brasil. É essencial que
sejam discutidos os equívocos cometidos pela historiografia brasileira tradicional que
influenciaram de forma direta na produção do conhecimento histórico brasileiro e, de certa
forma, privilegiaram a construção de feitos e fatos heróicos.
Os equívocos e preconceitos construídos ao longo da História brasileira em relação
aos/as índios/as ainda continuam presentes em nossa sociedade, em grande parte tendo o livro
didático de História como principal veiculador de ideias pejorativas. Assim, é necessário que
de fato ocorram mudanças significativas no livro didático de História na abordagem em
relação às populações indígenas.
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Mesmo com a implantação da lei 11.645/2008 percebemos que ainda há poucas
rupturas na forma como essas abordagens se dão. As continuidades são fatos marcantes, as
imagens e os textos reproduzidos continuam a trabalhar com um/a índio/a genérico/a, ou seja,
a diversidade étnico/cultural indígena não é discutida. Sendo assim, enquanto essas mudanças
não ocorrerem no livro didático, cabe ao professor apontá-las em suas práticas cotidianas
junto aos alunos.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Lei Nº 11. 645, de 10 de março de 2008. Que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da
temática “Historia e Cultura Afro-Brasileira e indígena”. República Federativa do Brasil.
Brasília, 2008, CNE.
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral. Volume único, 8ª edição, 9ª tiragem. São
Paulo: Saraiva, 2009.
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? : novas exigências educativas e
profissão docente. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. 2ª Ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2004.
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