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Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume set., Série 05/09, 2010, p.01-05.
Entretanto, uma análise atenta sobre o debate historiográfico permita notar que em raras
ocasiões as três esferas (economia, sociedade e cultura) foram examinadas em um olhar
cruzado, mesclando aportes e perspectivas para entender a realidade contemporânea a
partir de sua gênese colonial.
Pesquisas que possuem seus méritos, mas que deixam de lado a erudição dominada
pelos historiadores brasileiros clássicos do passado, tal como Capristano de Abreu, Caio
Prado Junior e Sérgio Buarque de Holanda, entre outros.
O que, inclusive, tem gerado ferozes criticas aos não historiadores de oficio, entenda-se
ai aqueles não diretamente vinculados às universidades, produtores de trabalhos
relevantes dentro do âmbito historiográfico, muitos dos quais obtendo maior sucesso
editorial do que as teses e dissertações que conferem títulos.
Neste sentido, caberia perguntar até que ponto a tendência historiográfica acadêmica
não necessita ser repensada.
O que implica em tentar entender como e porque se chegou a esta situação e, por sua
vez, retomar alguns debates como forma de traçar novas perspectivas em torno da
historiografia sobre o período colonial.
A razão é óbvia, os autores que publicaram suas obras a partir de 1907, muitos dos quais
sem formação em história propriamente, iniciaram debates que continuam presentes na
produção historiográfica até hoje.
Apesar de nem sempre terem concluído suas hipóteses iniciais, levantaram dúvidas,
localizaram fontes e iniciaram orientações teóricas seguidas pelas pesquisas
monográficas contemporâneas.
A grande diferença entre estes clássicos e os estudos atuais, na sua imensa maioria, é o
fato dos pais da moderna historiografia colonial terem primado pela
interdisciplinaridade, a erudição e o caráter totalizante, inaugurando novas
problemáticas, debates e perspectivas.
Entre estes verdadeiros pais da moderna
historiografia colonial, dado a durabilidade dos resultados alcançados em suas pesquisas
e a repercussão de suas obras; João Capistrano de Abreu fornece um exemplo valioso de
erudito que buscou a interdisciplinaridade que foi se perdendo ao longo das décadas de
1980 e 1990, em beneficio do tecnicismo histórico.
Ele não passou pelo banco das Universidades, mas nem por isto deixou de buscar uma
formação autoditada que possibilitaria tornar-se um dos maiores historiadores
brasileiros.
Uma abordagem totalizante que iniciou múltiplas discussões que se tornariam objetos
centrais da historiografia, como, por exemplo, o papel dos povos indígenas.
Na obra, o autor propôs a tese de que o Brasil teria sido o quintal da colônia, a gênese
do subdesenvolvimento brasileiro.
Destarte, como esses homens teriam sido recebidos pelos meios acadêmicos se tivessem
vivido entre nós contemporaneamente?
Teriam se tornado referencias como foram em sua época e são ainda hoje?
É verdade que são fruto de seu tempo e que poderiam não ter se interessado pelos temas
que abordaram, mas, usando de um pouco de imaginação e recorrendo a um
anacronismo verossímil, certamente não teriam sido aprovados em um concurso para
professor em qualquer Universidade pública.
Em seu estudo clássico Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial, publicado
originalmente em 1979, a amplitude do recorte temporal já não é tão ambiciosa como
fora na época de Capistrano de Abreu ou de Gilberto Freire, Caio Prado Junior e Sérgio
Buarque de Holanda.
Entretanto, as gerações que tiveram contato com estes brilhantes historiadores, talvez
movidos por um zelo técnico excessivo, começaram a deixar de dialogar com outras
áreas do conhecimento humano.
Será que já não chegou o momento de ousar, arriscar, buscar novos diálogos, ampliar a
visão, alterar o ângulo ou popularizar a historia escrita por historiadores, obviamente
sem descuidar da erudição, contribuindo para educar a população brasileira.
Estamos em uma encruzilhada, qual caminho será escolhido: aquele que leva ao fim da
história, ao seu confinamento nos centros acadêmicos ou aquele em que história permite
entender de fato quem somos a partir de sua origem colonial, tal como pretenderam,
entre outros, Capistrano de Abreu, Gilberto Freire, Caio Prado Junior e Sérgio Buarque
de Holanda.
ABREU, Capistrano de. Capítulos de História Colonial. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
SKIDMORE, Thomas. Uma história do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.