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Seminário
Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85-
288-0061-6
Introdução
Mestranda em História Social das Relações Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo. Bolsista de
Pós-graduação do Programa de Bolsas da Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia do Espírito Santo
(FAPES).
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A objetividade almejada nas pesquisas históricas encetadas pelos positivistas foi sendo lapidada a partir do
desprezo pela história universal e pela elevação da história particularizada, como única possibilidade de verdade,
já que o universalismo era considerado um ideal inatingível. Esta história dita factual acabou por exaltar os
grandes acontecimentos e as grandes personalidades. A historiografia positivista tinha um domínio sem
precedentes sobre pequenos problemas e, “uma fraqueza sem precedentes no tratamento dos grandes
problemas”.
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Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário
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segundo plano, por estar disponível em sua integralidade nos acervos do Arquivo Público do
Estado do Espírito Santo (APEES) e da Biblioteca Estadual, nas versões impressa e
microfilmada. Por último, pela necessidade de abordar de forma problemática e mais detida
nos interesses da disciplina História, a defasagem de um campo intelectual e técnico que dê
prioridade aos estudos que se retenham na construção da história do Estado e de seus
municípios, os quais apresentam toda uma gama de possibilidades de inserção de pesquisas,
sejam elas inéditas ou revisoras do que já foi escrito. O importante é que isso ocorra na
confluência de uma melhoria nos recursos técnicos, já em andamento em algumas unidades
arquivísticas do Estado, como comprova a reforma realizada recentemente na Biblioteca
Estadual e aquela em vias de execução no APEES.
É sob este viés de análise que nos propomos perscrutar a revista Vida Capichaba, na
intenção de provocar uma aproximação não só entre os aspectos físicos e materiais da revista
com seus aspectos discursivos, como também na intenção de pensá-las como fonte em
potencial, vista como material integrante da história capixaba.
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Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário
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publicação dos atos oficiais até 1889, momento em que acontece, não só no Brasil, mas na
maioria dos Estados, a mudança no quadro de dirigentes no Executivo. 2
Com a nomeação de Affonso Cláudio de Freitas Rosa para governador, “é que ocorre
o nascimento da Imprensa Oficial no Espírito Santo” (FERREIRA. In: MARTINUZZO,
2005: 28), em 1890. O primeiro governador do Estado reclama então que, para a obtenção da
ordem pública, é necessário que seja criado um espaço de comunicação oficial do governo, o
qual publicaria ininterruptamente todos os atos oficiais expedidos pelo Estado – sabemos, no
entanto, que a trajetória do D.I.O, sofreu constantes interrupções, encerrando as atividades e
reabrindo-as várias vezes. Assim, no dia 23 de maio de 1890, data de comemoração da
colonização do solo espírito-santense, circulou o primeiro número do Diário Oficial. A
consolidação de uma imprensa mais organizada, com o surgimento de oficinas gráficas,
favoreceu o aparecimento não só de jornais, mas também de revistas. Segundo Bittencourt, da
última década do século XIX até meados da década de 1920, foram registrados 484 títulos, na
Capital e no interior. Dentre os mais relevantes, estão A Magnólia (1881), O Pirilampo
(1882), Gazeta Literária (1899), Revista Ilustrada (1910), Vitória Ilustrada (1914) e Vida
Capichaba (1923). 3 Daí por diante, Vida Capichaba imperaria como a revista mais lida no
Estado, circulando em praticamente todas as cidades do norte e do sul do Espírito Santo.
Esse momento na história da imprensa é visto por Nelson Werneck Sodré como o
marco de inauguração de uma imprensa mais profissional, que se movia num novo ritmo de
produção. A nova fase da imprensa foi substituindo, gradativamente, as oficinas artesanais
por modernas tipografias. De acordo com a opinião de Sodré, a imprensa, neste período,
adotou a estrutura de uma empresa capitalista, que longe das tímidas formas de folhetins,
pasquins e jornais de circulação irregular e efêmera, pretendiam organizar um mercado sólido
e lucrativo em torno dos periódicos e jornais, o que demonstrava a estreita relação entre as
novas expectativas da imprensa e o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Segundo suas
palavras:
2
Este parágrafo é uma síntese das informações contidas no livro de Gabriel Bittencourt e no artigo de Guilherme
Ferreira e Marcelo Rossi, para maiores detalhes, ler: BITTENCOURT, Gabriel. Historiografia capixaba e
imprensa. Vitória: EDIT, 1998 e FERREIRA, Guilherme; ROSSI, Marcelo Marconsini. “A história de um lugar
de história”. In: MARTINUZZO, José Antônio (org.). Diário Capixaba: 115 anos da Imprensa Oficial do
Espírito Santo. Vitória: Imprensa Oficial do Espírito Santo, 2005.
3
JORNALISMO Ufsc. Mídia e memória – Estudantes de jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo
escrevem a história da comunicação capixaba. [consultado em 30 de abril de 2008]. Disponível na World Wide
Web: <http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd3/jornal/joseantoniomartinuzzo.doc>
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governada, em suas operações, pelas regras gerais da ordem capitalista (...) tudo
conduz à uniformidade, pela universalização de valores éticos e culturais, como pela
padronização do comportamento.4
Iniciada em abril de 1923, Vida Capichaba tornou-se, logo após a sua inauguração, a
mais expressiva publicação do período, apresentando-se, de certo modo, como o principal
veículo divulgador das qualidades capixabas, buscando estimular dentro e fora o
reconhecimento da capacidade econômica, política e intelectual do Espírito Santo. Sob a
direção de Garcia de Rezende experimentou uma vida breve, sucedida por um hiato de dois
meses, findado quando os novos encarregados pela direção da revista assumiram suas
posições no editorial. Dentre estes destacamos Elpídio Pimentel, Manoel Pimentel, Aurino
Quintais, Teixeira Leite, Arnaldo Barcellos e Guilherme Santos Neves, grupo que
imediatamente, na edição de número 4, buscou esclarecer os objetivos que pautariam daí por
diante a sua publicação:
Dentre os motivos que nos levaram a tomar a direção deste quinzenário, dois devem
ser salientados aqui: 1º. A convicção de contribuirmos para o incentivamento das
letras e artes no Espírito Santo. (...) 2º. O empenho de provarmos que Victoria, capital
do Estado do Espírito Santo, já comporta a mantença de um periódico literário, máo
grado o costumeiro dar de hombros dos nossos systematicos pessimistas (VIDA
CAPICHABA, 1923, n.4: s/p).
4
SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 4ª ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999, p.1-2.
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Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário
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A Academia Espírito-Santense de Letras foi fundada em 4 de setembro de 1921, pelos escritores Elpídio
Pimentel (publicitário e educador), Garcia de Rezende (escritor e jornalista) e Alaríco de Freitas (advogado e
parlamentar). O principal objetivo desse grupo de intelectuais, homens públicos e educadores era o de congregar
e orientar o movimento artístico do Estado. O Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, por sua vez, foi
constituído em junho de 1916, com a finalidade de promover os aspectos culturais e científicos do Estado,
preservando a “exata situação geográfica do Espírito Santo, defendendo as nossas fronteiras (...) e difundindo a
nossa história”, que na verdade, “não é tão incolor”, como dizem. (INSTITUTO Histórico e Geográfico do
Espírito Santo. Uma síntese da história do IHGES: origem e evolução. [consultado em 30 de abril de 2008].
Disponível na World Wide Web: <http://www.ihges.com.br/historico.htm>). Para maiores detalhes, ver: VALLE,
Eurípedes Queiroz do. O Estado do Espírito Santo e os espírito-santenses: dados, fatos e curiosidades. 3ª ed.
Vitória, 1970.
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Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário
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seu percurso muito bem articulada e, por isso, duradoura, já que Vida Capichaba circulou
durante 47 anos, permanecendo corrente até 1970.
No ano de 1928, a revista se torna semanal, saindo das oficinas para os pontos de
venda todas às quintas-feiras, passando a se identificar como “Revista Moderna Illustrada”. O
seu grande sucesso fez com que fosse reconsiderada a possibilidade no aumento das tiragens,
modificando então a sua periodicidade, favorecida, da mesma forma, pela freqüência de seus
colaboradores, que enviavam vasto material para publicação.
Outro aspecto importante da Vida Capichaba é a singularidade da presença feminina
nas suas publicações. Nelas, as mulheres não só aparecem como símbolos de beleza,
fragilidade, delicadeza e altruísmo, como também são apreciadas e recebidas como detentoras
de uma intelectualidade. Vários são os escritos assinados por mulheres, dentre estes poesias,
artigos sobre política e cidadania, educação, etiqueta e outros temas. Tudo nos leva a crer que
algumas seções de moda eram escritas diretamente por mulheres para mulheres. Como a
seção Feminae que, embora tivesse sua autoria encoberta por um pseudônimo – Flor de
Sombra -, não escondia o seu sexo, colocando-se do mesmo lado das leitoras, como podemos
verificar na citação a seguir:
A moda. (...) Quando, porém, a essa despótica soberana occorre impôr-nos o uso de
algum adorno, pelo qual já sentíamos irresistível attracção, succede-nos o mesmo que
ás crianças traquinas, longamente privadas do folguedo favorito (VIDA CAPICHABA,
1927, n.95: s/p).
como um reflexo, no qual a sociedade é vista pelos olhos da imprensa ao mesmo tempo em
que se vê nela. Daí, a importância dessas publicações em contextos sociais tão semelhantes e
ao mesmo tempo tão distintos e que, mesmo recebendo as novidades do mundo moderno em
graus de intensidade diferentes, confluíam na necessidade de ver sustentadas mídias que lhes
oferecessem um pouco mais de inteligibilidade e ainda de orientação frente ao novo rumo da
sociedade do início do século XX.
unicidade de uma identidade própria e dos valores universalistas que preponderavam na esfera
ocidental do mundo. 6
De posse de um breve levantamento dos temas presentes em trabalhos acadêmicos que
utilizaram o periódico Vida Capichaba como fonte de pesquisa, observamos que preponderam
os relacionados às áreas da história da educação; da história de gênero e das mulheres e da
história da mídia. 7 Mesmo esses são trabalhos isolados que não geraram ainda a proximidade
entre os diferentes discursos teóricos abordados, necessária para se pensar, a partir de uma
visão menos fragmentada, os distintos pontos de atuação em que se manifestaram as
estratégias de educação no Estado, bem como as sociabilidades femininas e masculinas em
âmbito urbano e rural, de acordo com as várias camadas sociais que compõem a sociedade
capixaba.
Afora essas incursões temáticas, há muito que se produzir sobre a história regional e
local e para tanto há que se ampliar não só a noção de imprensa, com suas limitações e
horizontes, como também promover o conhecimento do material disponível nos acervos. De
acordo com Ruth Reis, professora do Departamento de Comunicação Social da UFES e
pesquisadora dos percursos do jornalismo no Espírito Santo, o último inventário organizado
com informações sobre a imprensa capixaba foi àquele publicado, em 1929, pelo Instituto
Histórico e Geográfico do Espírito Santo, de autoria de Heráclito Amâncio Pereira. O
inventariante partiu do marco temporal referente a chegada da primeira máquina tipográfica
no Estado e seguiu até o ano de 1926, contabilizando 484 publicações periódicos. Desde
então, “não houve quem se dispusesse a fazer o mesmo esforço, sendo, portanto, este
levantamento o de maior fôlego existente hoje sobre o conjunto que compõe a história da
imprensa capixaba” (REIS, 2003: 17).
Em face do que propomos discutir nesse trabalho, retemos ainda um instante a noção
de que uma escrita da história apoiada na imprensa como fonte documental não teria sido
6
É bastante provável que antes do surgimento da revista Vida Capichaba, em 1923, seus fundadores tenham
percebido uma demanda por parte de grupos sociais, especialmente de Vitória, que, não obstante, iniciando um
processo de habituação aos gestos modernos, não detinham ainda uma publicação que norteasse esses
movimentos e que funcionasse como catalisadora das tendências locais e das manifestações externas, como as
provenientes do Rio de Janeiro e da Europa. E, nesse sentido, essa publicação veio a preencher os propósitos
implícitos de produzir, na camada distinta da sociedade, uma sensação de pertencimento.
7
Ver: XAVIER, Kella Rivetria Lucena. Mulher e poder nas páginas da revista Vida Capichaba. Dissertação de
mestrado em História Social das Relações Políticas. Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências
Humanas e Naturais, 2008; BARRETO, Sônia Maria da Costa. A Imagem da normalista capixaba nos anos de
1920 retratada pela revista “Vida Capichaba”. Anais do III Congresso Brasileiro de História da Educação.
Curitiba/PR, 2004; RANGEL, Claudia. A fotografia de imprensa em Vitória: 1910 a 1979 – dos primórdios ao
reconhecimento da profissão de repórter-fotográfico, 1999; MALVERDES, André. No escurinho dos cinemas: a
história das salas de exibição na Grande Vitória. Vitória: A. Malverdes, 2008; BUSATTO, Luiz. O modernismo
antropofágico no Espírito Santo. Vitória: Secretaria Cultural, 1992, dentre outros.
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Bibliografia
CHARTIER, Roger. “O mundo como representação”. Estudos Avançados, vol. 5, nº 11, 1991.
LUCA, Tânia Regina de. “História dos, nos e por meio dos periódicos”. In: PINSKY, Carla
Bassanezi. (org.). Fontes Históricas. 2ª ed. São Paulo: Editora Contexto, 2006, v.1.
REIS, Ruth. “Percursos do Jornalismo no Espírito Santo: Correio da Victória, primeiro jornal
capixaba – reminiscências de um lugar”. In: I ENCONTRO NACIONAL DA REDE
ALFREDO DE CARVALHO, 2003, Rio de Janeiro. Anais Mídia Brasileira: dois séculos de
história.
ROSTOLDO, Jadir Peçanha. Vida Capichaba: o retrato de uma sociedade – 1930. Vitória:
IHGES, 2007.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 4ª ed. Rio de Janeiro: Mauad,
1999.
Documentos eletrônicos
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Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º. Seminário
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Fontes primárias
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