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Setembro/2019
RD
Real - Possível - Ideal
IMPACTO
INTENSO
TENSO
Ouvi de estudantes:
“Não tenho ninguém”
“Aqui é o único lugar que posso existir.”
“- Vem para escola fazer o quê? Estudar? - Pra onde iria?”
E cá estamos nós, frente a estes olhares ouvindo essas vozes. Desenhando nosso
propósito de escola decodificando as leituras de mundo, de escola, decodificando as
leituras de mundo. Consciência de si e de estar no mundo.
E a lucidez?
Que Lucidez?
Ela circula, um pouco em cada um aqui.
A loucura? Também.
Tão sábios, tão sensatos alguns estudantes respondem a situações tão absurdas e loucas.
Estar aqui é de um reconstruir/se quebrar/perder o chão/desconstruir constante. Tanto que
às vezes paralisa e o mundinho de dentro custa para escrever, elaborar, situar.
Baita desafio.
ESTUDANTE: Substantivo comum de dois gêneros; pessoa que tenta, mas nem sempre
consegue estudar; na EPA, não é sinônimo de aluno, porque este não tem Luz; seres que
inicialmente têm vontade de estudar, mas são vencidos por uma série de adversidades;
indivíduos que entram e saem da sala de aula quando bem entendem; indivíduos que ficam
frequentemente no pátio da escola conversando; seres concretos, mas, muitas vezes; em
sua maioria pessoas em situação de rua, pessoas respeitadoras; dizem ser sujeitos do
processo ensino-aprendizagem, mas, em sua maioria, não sugerem nem fazem porra
nenhuma; indivíduos cordatos, simpáticos e com ótimo papo.
Professor da EPA: Profissional que deve trabalhar de forma criativa neste contexto instável
e inconstante.
Professor da EPA:
- Desafio pedagógico diário;
- Desconstruir-se e reconstruir-se diariamente;
- Aprender com os estudantes, valorizar os seus saberes;
- Defender a causa da escola.
Estudante da EPA:
- Desafio constante;
- Público heterogêneo;
- Indivíduos repletos de experiências e saberes;
- Retirado das desigualdades sociais;
- Indissociabilidade entre pedagógico e assistência social;
- Motivo de existência da Escola Porto Alegre.
Professor Francisco Filho (Chico) - Educação Física.
Abecedário da EPA
Residente na EPA
Zi
gui
zaa
gueiaaa
na
Ma mo cia.
me lêêên
Sempre em itinerância:
de ônibus, de trem, “de à pé”, de bicicleta, em autos ou motos...
não há um meio de transporte e existem diferentes caminhos.
Residente é nunca chegar ao mesmo fim.
Cada qual faz a sua caminhada, cada qual diariamente se constitui.
Ri muito, é verdade.
Bebe café com conhaque.
Pega sol, pega chuva.
A instituição não o encerra.
Residente tem turno do amor!!! Meu preferido!
Residente na EPA,
vestíbulo do impossível,
produz sem dicotomia pensamento-ação
nesta interface Saúde e Educação.
Faz um percurso de ensino em serviço
para além das concepções
e dos conceitos
desgastados pelo uso
oco ou excessivo.
Como pex:
- in-ter-dis-ci-pli-na-ri-da-de ou
- trans-dis-ci-pli-na-ri-da-de ou
- mul-ti-pro-fis-sio-na-li-da-de.
Residente na EPA,
como uma caixa de armazenar espanto,
guarda consigo histórias, muitas.
Estas que são confiadas,
pesam diferentes intensidades.
Tenta junto ao outro ainda sorrir,
mesmo frente às dores individuais sofridas
pelas brutalidades da sociedade.
A dor que o Residente na EPA sente
não é igual ao do poeta fingidor:
é dor mesmo!
Daquela que trava a língua e a escrita.
“Oh cirandeiro, oh cirandeiro ó, a pedra do seu anel brilha mais do que o sol!”
A EPA segue,
lama e caos,
barro e vida,
resiliente, aguenta.
Residente na EPA:
poesia que não se arrebenta.
Belchior P.A.
R1 RIS/ESP Vigilância em Saúde
Ser residente na EPA é ser resistente, ainda que a frase pareça clichê, estar aqui exige da
gente essa postura diferente.
Ser residente na EPA exige permanentemente desconstruir os valores que adquirimos na
sociedade burguesa, para poder entender como os estudantes sobrevivem, e não oferecer
a eles caridade, mas sim respeito pelo que são, pelo que fazem,e trocar relações
realmente humanas, diante da extrema pobreza.
Ser residente na EPA exige comprometimento, pois aqui o que se promete, tem que ser
cumprido. É estar sempre disponível, pois a necessidade dos estudantes é grande, mas o
retorno em cada pequeno ato vale muito a pena. É aprender a capacidade de sorrir com tão
pouco, de se realizar com pequenos mimos.
Porém nem tudo é tão florido, é como disse no início, necessário ser resistente, forte o
suficiente, para não titubear ao fazer uma intervenção diante da violência naturalizada, e
facilita muito o trabalho se entendermos que o sujeito mora na rua, por uma sociedade que
é falida, e não porque ele faliu.
Por último mas não menos importante, Residente na EPA, precisa respeitar e aprender
como se construiu com os trabalhadores essa escola, pois se ela ainda em pé, é porque
além de jornada de trabalho, há militância.
Priscila Prates
Ser professora(or) na EPA
Indivíduos que vivem e viveram situações limite e que, por vezes, não
consideram seus conhecimentos validados pela escola e pela sociedade. Mulheres
e homens que possuem baixa autoestima, que foram e são vítimas de diversas
formas de violências as quais acabam reproduzindo em seu convívio.