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Formação Redução de Danos EMEF EPA

Setembro/2019

Atividade: Verbetes do Possível

RD
Real - Possível - Ideal

​IMPACTO
​INTENSO
TENSO

Trabalho que faz diferença no micro, talvez no macro.


Trabalho que é dinâmico, comprometido e que inspira.

Quem INS PIRA?


Penso que meu corpo sofre por tantas horas aqui…

Como ins pirar, respirar, expirar?


Trabalhar aqui necessitaria pausas, reduções de tempo…
///
Já ouvi de uma trabalhadora: “A rua tem um tempo.”
Tempo de não ficar endurecido, tempo de ver onde colam no corpo as tristezas e
impotências que perpassam nossos dias.

Ouvi de estudantes:
“Não tenho ninguém”
“Aqui é o único lugar que posso existir.”
“- Vem para escola fazer o quê? Estudar? - Pra onde iria?”

E cá estamos nós, frente a estes olhares ouvindo essas vozes. Desenhando nosso
propósito de escola decodificando as leituras de mundo, de escola, decodificando as
leituras de mundo. Consciência de si e de estar no mundo.
E a lucidez?
Que Lucidez?
Ela circula, um pouco em cada um aqui.
A loucura? Também.
Tão sábios, tão sensatos alguns estudantes respondem a situações tão absurdas e loucas.
Estar aqui é de um reconstruir/se quebrar/perder o chão/desconstruir constante. Tanto que
às vezes paralisa e o mundinho de dentro custa para escrever, elaborar, situar.
Baita desafio.

Professora Carla Pfeiffer - Serviço de Acolhimento, Integração e Acompanhamento.


PROFESSOR​: Substantivo concreto, às vezes abstrato; uniforme quanto ao gênero. Deverá
ser aquele que professa uma verdade científica, filosófica ou uma arte. Na EPA trata-se de
indivíduo com traços de bipolaridade uma vez que oscila entre a euforia e o desânimo, entre
a euforia e o desânimo, entre a alegria e a tristeza profunda; bombeiro; conselheiro;
distribuidor de lápis, canetas, borrachas e cadernos; adestrador frustrado; dizem ser
sinônimo de educador, o que convém muito a sociedade e ao sistema; preenchedor de
chamadas; indivíduo preguiçoso e indolente que vive às custas do erário público; saco de
pancadaria, atualmente o responsável por boa parte das mazelas sociais; grevista,
manipulador de mentes indefesas, defensor da homossexualidade e da perversão;
frequentador assíduo de reuniões e, ocasionalmente de assembleias e atos públicos.

ESTUDANTE​: Substantivo comum de dois gêneros; pessoa que tenta, mas nem sempre
consegue estudar; na EPA, não é sinônimo de aluno, porque este não tem Luz; seres que
inicialmente têm vontade de estudar, mas são vencidos por uma série de adversidades;
indivíduos que entram e saem da sala de aula quando bem entendem; indivíduos que ficam
frequentemente no pátio da escola conversando; seres concretos, mas, muitas vezes; em
sua maioria pessoas em situação de rua, pessoas respeitadoras; dizem ser sujeitos do
processo ensino-aprendizagem, mas, em sua maioria, não sugerem nem fazem porra
nenhuma; indivíduos cordatos, simpáticos e com ótimo papo.

Professor Everson Pereira - Português.

Estudante da EPA​: Indivíduo com dificuldades de se adequar em outros contextos


escolares devido a sua trajetória de vida e escolar.

Professor da EPA: ​Profissional que deve trabalhar de forma criativa neste contexto instável
e inconstante.

Professor Dante Guazzelli - História.

Professor da EPA:
- Desafio pedagógico diário;
- Desconstruir-se e reconstruir-se diariamente;
- Aprender com os estudantes, valorizar os seus saberes;
- Defender a causa da escola.
Estudante da EPA:
- Desafio constante;
- Público heterogêneo;
- Indivíduos repletos de experiências e saberes;
- Retirado das desigualdades sociais;
- Indissociabilidade entre pedagógico e assistência social;
- Motivo de existência da Escola Porto Alegre.
Professor Francisco Filho (Chico) - Educação Física.

Abecedário da EPA

Tema Livre Real Dialeto da Rua*

Amor Atenção Arrastão: Assalto

Brincadeira Boca Fechada Brasa: Fogo

Carinho Corrigir Chinelo: Ladrão

Diversão Divisão Duque: Duzentos reais.

Espontâneo Enquadrar Embolamento: Grupo de Pessoas

Festa Fuga Fica Gel: Fica calmo

Gostosura Glossário Goma: Casa

Humanidade Histeria Herói: Polícia

Incrível Impensável Imocozar: Esconder

Justiça Já não aguento mais Jéga: Cama

Liberdade Loucura Ladaia: Arrumar confusão

Mar Manipulação Mulão: Turma

Natividade Não No trecho: Na rua

Outro Mundo é Possível Organização Ouro: Dinheiro

Paquera Posição Pinote: Fugir

Querido Questão Quebrada: Boca de Fumo

Risco Resposta Rapiar: Roubar

Solução Sacríficio Suave: Tranquilo

Trivial Trabalho Téco: Cheirar pó

União Urgência Usa muita: Se droga muito

Vida Visceral Vibe: Clima da pessoa.

Xô Tristeza Xô Preguiça X9: Delator

Zarpar Zorra Total Z: Fim


Professora Cláudia Machado - Totalidade 1 e Biblioteca.
* ​Pesquisa da professora Maristela Rabaioli com os estudantes da EPA - Inglês.

Residente na EPA

Residente pode ser aquele/a que reside,


sem morar,
múltiplas realidades.
Faz desse residir algo experimental.
Vive um lugar de limiaridade…
Afim aos inéditos viáveis, rompe binarismos.
Namora intersecções em intertemporalidades.

Residente é ser móvel, muitas vezes movediço...

Zi
gui
zaa
gueiaaa
na

Ma mo cia.
me lêêên

Sempre em itinerância:
de ônibus, de trem, “de à pé”, de bicicleta, em autos ou motos...
não há um meio de transporte e existem diferentes caminhos.
Residente é nunca chegar ao mesmo fim.
Cada qual faz a sua caminhada, cada qual diariamente se constitui.

Residente é um/a trabalhador/a-estudante,


com carga-horária de 60 horas semanais e
uma bolsa financiada pelas Políticas de Saúde e Educação.

Residente invariavelmente se insere


em instituições voltadas às políticas públicas,
em especial a da Saúde.
Trabalha!
Trabalha e estuda!
Se frustra, se cansa.
A bolsa atrasa.
As contas vencem.
Se desespera.
E por vezes ainda não almoça.

Ri muito, é verdade.
Bebe café com conhaque.
Pega sol, pega chuva.
A instituição não o encerra.
Residente tem turno do amor!!! Meu preferido!

Como bom/a estrangeiro/a que é,


Residente acaba por ser antropofágico/a.
São questionadores/as…
simples questionadores/as,
o que é bem difícil nos dias de hoje.
Perguntam o óbvio,
o básico,
para aqueles que muitas vezes
já se cansaram de pensar e falar sobre o simples,
o que convenhamos:
é bem difícil mesmo.

Residente na EPA,
vestíbulo do impossível,
produz sem dicotomia pensamento-ação
nesta interface Saúde e Educação.
Faz um percurso de ensino em serviço
para além das concepções
e dos conceitos
desgastados pelo uso
oco ou excessivo.

Como pex:

- in-ter-dis-ci-pli-na-ri-da-de ou
- trans-dis-ci-pli-na-ri-da-de ou
- mul-ti-pro-fis-sio-na-li-da-de.

Residente na EPA,
como uma caixa de armazenar espanto,
guarda consigo histórias, muitas.
Estas que são confiadas,
pesam diferentes intensidades.
Tenta junto ao outro ainda sorrir,
mesmo frente às dores individuais sofridas
pelas brutalidades da sociedade.
A dor que o Residente na EPA sente
não é igual ao do poeta fingidor:
é dor mesmo!
Daquela que trava a língua e a escrita.

Dores e delícias, EPA: força da dobra. Suporta ventania.

Residente na EPA ajuda a produzir redes


mesmo quando estas insistem em falhar.
Residente na EPA acolhe.
A EPA acolhe!
Residente na EPA,
inventor/a de rede,
tecelã/o,
sabe que o melhor manicômio é pior do que a pior rede.
Residente na EPA vive o paradoxal dos processos
e dos resultados.
Mas Residente na EPA vive a Redução de Danos.
Residente na EPA respira Saúde Mental Coletiva.
Residente na EPA faz ciranda de Educação Popular…

“Oh cirandeiro, oh cirandeiro ó, a pedra do seu anel brilha mais do que o sol!”

Quando sai da EPA,


Residente sai apegado, querendo voltar.
Talvez por querer sentir os resultados,
ou volver aos processos e desafios do dia a dia…
De se juntar a EPA para resistir.
Ou talvez ainda pela sensação instigante
de reviver tantas possibilidades de criação,
condição permanente na EPA.

A EPA segue,
lama e caos,
barro e vida,
resiliente, aguenta.

Residente na EPA:
poesia que não se arrebenta.

Belchior P.A.
R1 RIS/ESP Vigilância em Saúde

O que é ser residente na EPA?


- Ser mais escuta do que saber(não que essa perspectiva não esteja sobre um saber)
- No tempo do agora
- Espaço da saúde fora da “saúde” -cidadania
- expectativa/frustração
- Busca incessante de construir possibilidade
- Risada com alunos
- Abrir portão/legitimidade sobre nosso lugar/de deslocar também
- questionar o tempo todo sobre o trabalho que se faz
- vibrar nas mínimas conquistas
- sofrer também
- ver beleza/vida/inspiração onde acha que não se tem
- construir algo com o barro
- sentar na calçada, abraçar
- lidar com avalanches
- lidar com a violência /mais distintos modos de opressão, se perguntar como/quanto
contribuimos a isso
- não tem respostas

Ser residente na EPA é ser resistente, ainda que a frase pareça clichê, estar aqui exige da
gente essa postura diferente.
Ser residente na EPA exige permanentemente desconstruir os valores que adquirimos na
sociedade burguesa, para poder entender como os estudantes sobrevivem, e não oferecer
a eles caridade, mas sim respeito pelo que são, pelo que fazem,e trocar relações
realmente humanas, diante da extrema pobreza.
Ser residente na EPA exige comprometimento, pois aqui o que se promete, tem que ser
cumprido. É estar sempre disponível, pois a necessidade dos estudantes é grande, mas o
retorno em cada pequeno ato vale muito a pena. É aprender a capacidade de sorrir com tão
pouco, de se realizar com pequenos mimos.
Porém nem tudo é tão florido, é como disse no início, necessário ser resistente, forte o
suficiente, para não titubear ao fazer uma intervenção diante da violência naturalizada, e
facilita muito o trabalho se entendermos que o sujeito mora na rua, por uma sociedade que
é falida, e não porque ele faliu.
Por último mas não menos importante, Residente na EPA, precisa respeitar e aprender
como se construiu com os trabalhadores essa escola, pois se ela ainda em pé, é porque
além de jornada de trabalho, há militância.

Priscila Prates
Ser professora(or) na EPA

Ser professora(or) na EPA implica disposição para aproximações que circulam


entre os saberes legitimados no campo das ciências e os saberes vivenciais
trazidos pelas(os) estudantes que podem ser legitimados na escola. É ter
comprometimento com a promoção da justiça educacional, possibilitando o direito à
inclusão de pessoas com diferentes necessidades educativas. É fazer o exercício de
se despir de pré-conceitos e propiciar a construção de outras aprendizagens a
alunas(os) com históricos de vidas, de exclusões e de violências diversas. É
repensar constantemente seus referenciais epistemológicos e sua prática,
constatando que as exigências desse universo ultrapassam o repertório de
conhecimentos até então consubstanciados. É apostar, investir em vidas que não
possuem reconhecimento, valor social, proporcionando a elas a produção de
sentidos.

Janaína Bueno Bady

Ser estudante da EPA

Considera-se que a EPA atende um universo de pessoas jovens e adultas


com vivências escolares prévias, movidas por diferentes interesses.

Algumas(uns) chegam de outras escolas, outras(os) estão há tempos sem


estudar e retornam à instituição de ensino, várias(os) permanecem períodos
significativos de suas vidas neste espaço.

Indivíduos que vivem e viveram situações limite e que, por vezes, não
consideram seus conhecimentos validados pela escola e pela sociedade. Mulheres
e homens que possuem baixa autoestima, que foram e são vítimas de diversas
formas de violências as quais acabam reproduzindo em seu convívio.

Há diversidade de estudantes na escola no que se refere às identidades de


gêneros, apesar da maioria declarar-se pertencer ao gênero masculino. Há
diversidade étnica, sendo a maior parte das(os) estudantes composta por pessoas
negras e pardas.

Existem portadoras(es) de necessidades especiais e alunas(os) com


habilidades artísticas, oratórias e matemáticas cotidianas notáveis.
O público alvo são pessoas em situação de vulnerabilidades sociais, em
situação de rua, que fazem uso problemático de substâncias psicoativas.

Estudantes que veem na escola possibilidade de resgate do “tempo perdido”


e que começam a se reconhecer como cidadãs(ãos) a partir da convivência com
colegas, funcionárias(os) e professoras(es) da escola.

Janaína Bueno Bady

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