Toda a narração da peregrinação pelo deserto em que o processo de
aumento e de combinação de vários séculos atingiu a sua forma definitiva, é um hino épico em que a epopéia e a geografia, as tradições tribais e os esforços para conseguir a unidade de culto, o orgulho nacional e a gratidão para com Javé fundem-se numa unidade indivisível. Não se trata duma enumeração de acontecimentos históricos, mas duma confissão profundamente religiosa de Javé, o Senhor da história e o Deus da aliança. Todos os acontecimentos por que passaram as tribos israelitas são registrados como graça ou como castigo. Passando por cima das cusas segundas naturais, o pensamento e a oração dirigem-se continuamente a Deus, cusa primeira de todo o ser e de todo o dom. tudo o que de miraculoso, maravilhoso, incompreensível sucedeu no deserto, - a água de Mara (Ex 15, 22 – ss), as codornizes (Ex 16, 11-13), o maná (Ex 16, 13 – ss), - deve ser considerado em relação com a história da salvação: Javé é verdadeiramente o Presente, o Agente e o Operante e manifesta a sua presença e poder tanto nas leis da natureza como na ultrapassagem e violação delas. Será interessante conhecer o que escreve acerca dos prodígios que acompanharam a peregrinação pelo deserto G. Ernest Wright, um conhecido estudioso de arqueologia bíblica, baseando-se na sua longa experiência no Próximo Oriente. Assim, por exemplo, a propósito do maná, este autor refere “que é ainda hoje produzido pela tamargueira no centro da península sinaítica. No fim da “estação” pode-se apanhar até um quilo por dia. Trata-se duma substância adocicada de grandeza variável desde a cabeça dum alfinete até ua ervilha. É produzido por duas espécie de cochinilha, que devem sugar grandes quantidades de linfa para buscarem o azoto de que precisam para viver e depois deitam fora o supérfluo sob forma de secreção adocicada. A rápida evaporação solidifica as gotas em bolinhas viscosas, que podem ser apanhadas. É evidente que os israelitas não se deviam só alimentar de maná, mas este fornecia-lhes o açúcar necessário e, encontrá-lo no deserto, deveria ser uma experiência excitante”. Acerca do milagre das codornizes (Ex 16,13; Nm 11,31), escreve o mesmo autor: Todos anos em setembro e em outubro, grandes bandos de codornizes provenientes a Europa sobrevoam o Mar Vermelho para hibernarem na Arábia e na África. Depois de voarem sobre o mar chegam de tal modo exausta às costas da península sinaítica que é fácil apanhá-las”. A propósito da água brotada da rocha (Ex 17,6; Nm 20,11) G. Ernest Wright refere: “O major C. S. Jarvis, ex governante da península do Sinai, conta ter visto coisa parecida. Durante uma paragem o grupo dos cameleiros do Sinai procurava água, escavando as encostas rochosas dum vale, onde saía apenas um fio de água. Durante as escavações um golpe, destinado ao granito, caiu sobre a superfície lisa e dura do calcário que se quebrou e da pedra mole, porosa, brotou com grande maravilha de todos um forte jorro de água pura. Antes do êxodo, Moisés tinha vivido muito tempo na península sinaítica e, portanto, é provável que conhecesse a qualidade das formações calcárias dalgumas partes delas...
BIBLIOGRAFIA:
Mensagem Bíblica para o nosso Tempo: Alfred Laple, Edições Pulistas, págs 260-261