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os índios cheyennes e sua vida

MUITAS são as estórias escritas sobre os índios da América do Norte. Algumas


são verdadeiras, outras são fantasiosas, muitas são exageradas, e outras
patentemente falsas. A imagem criada foi a de um jovem guerreiro quase nu sobre
seu cavalo, ornado de penas e besuntado de tinta de guerra. Ao passo que isso foi
verdade no passado, a maioria das pessoas reconhecem que a vinda do homem
branco logo fez grande diferença para o índio. Talvez se quede imaginando como é
a vida hoje para o índio em sua reserva.
Suponhamos que visitemos uma reserva dos índios cheyennes do norte, no
sudoeste de Montana, EUA. A área é de cerca de 180.000 hectares, e foi reservada
pelo governo dos Estados Unidos como propriedade e para o uso desta tribo. A
maioria dos 3.000 membros da tribo vivem aqui de forma permanente. Pode ver
porque se contentam em permanecer aqui. A beleza aqui é um tributo à majestade
do grande Criador. Veja só aquelas colinas altaneiras cobertas de majestosos
pinheiros e fragrantes cedros! Regale os olhos nos borbulhantes riachos e nos vales
em que a grama silvestre cresce em abundância — é bem aquilo que faz vicejar o
gado.
Devia estar aqui na primavera. Nessa época do ano, flores silvestres lançam
cores vívidas por toda a parte da reserva. E, em fins do verão, os arbustos se
curvam de tantas frutinhas silvestres tais como a ameixa e a cereja brava. A vida
selvagem se acha em toda a parte — veados, coelhos, porcos-espinhos, linces
baios, tâmias, e assim por diante. Talvez chegue até a ver uma aldeia típica de
marmotas.
O Lar Indígena
Como seu guia, devo contar-lhe como vim a saber tanto sobre os índios
cheyennes. Nasei, com efeito, em um dos três povoados desta reserva, uma
cidadezinha chamada Lame Deer (Veado Manco). Meus pais não tinham ancestrais
dentre os cheyennes do norte, de modo que não sou um puro-sangue cheyenne.
Mas, sou um membro alistado na tribo.
Nos meus anos de infância, os índios viviam em pequenas barracas de um ou
dois quartos usualmente construídas de toras de madeira e taipa. A mobília principal
seria algumas camas, uma mesa, algumas cadeiras e um fogão de ferro gusa, a
lenha. Era o segundo filho mais velho da família, dentre dez filhos, e provavelmente
pensará que nossa casa de dois cômodos deve ter ficado bem superlotada. Ficava,
sim, às vezes, quando o mau tempo nos mantinha dentro de casa. Mas, para um
povo cujos ancestrais viviam em lugares bem amplos e usavam suas tendas cônicas
feitas de pele de animal principalmente como abrigo, nossa casa não era tão
limitadora como poderia pensar.
A eletricidade começava a ser usada em nosso distrito no início da década de
1940, e os únicos encanamentos eram os de um ocasional poço comunitário com
uma bomba manual, com a qual enchíamos nossos baldes de água diversas vezes
por dia. Também cortávamos e transportávamos lenha para os fogões em que
cozíamos nossas refeições.
Nós, moças, ajudávamos a mamãe a fazer as tarefas domésticas e aprendemos
a cuidar de bebês e a zelar pelas crianças mais velhas. Isto certamente mantinha a
família em íntima unidade. Nosso quintal de folguedos eram as colinas cheias de
árvores e o regato bem perto de casa. Não raro levávamos nossas bonecas e
supostos brinquedos para uma pequena clareira entre as árvores, para brincar ali
de casa. De vez em quando, em nossas andanças pelas colinas, avistávamos uma
cascável. Éramos o suficientemente sábias para guardar distância.
Para os da reserva, não era fácil conseguir empregos, mas meu pai sempre
parecia estar ocupado. Usando seu utilitário, ia para a floresta com sua serra de
cadeia e cortava lenha. A venda deste item muito necessário jamais trouxe grandes
lucros, mas, pelo menos, sempre estivemos bem agasalhados e jamais passamos
fome.
Embora o automóvel já estivesse em uso por um bom tempo, nos meus dias de
jovem não era de jeito nenhum incomum ver uma parelha de cavalos puxar uma
carroça chata pela cidade, levando a família toda, e com alguns cachorros correndo
atrás. Muitas das senhoras mais jovens trajavam cobertores coloridos e mocasins
naquela ocasião. Agora só as mais idosas o fazem. Vestidos de pele de gamo
cheios de contas, penas e sinos são vistos apenas nas danças indígenas realizadas
em ocasiões especiais.
A Comida não É Problema
Visto que os índios podem caçar na reserva, o principal item alimentar ainda é a
carne de veado. E é conservada da mesma forma antiga. As mulheres a cortam em
tiras bem fininhas, lavam-na em água salgada e a penduram em postes para secar.
Pode então ser guardada meses a fio ou usada logo em seguida. Usualmente é
cozida com batatas e legumes ou macarrão. Outra forma de preparar carne seca é
por triturá-la em pedacinhos e misturá-la com cerejas bravas ressecadas que foram
moídas, com banha de porco e açúcar. Este prato é chamado “um”.
Dois tipos principais de pão são usados. O favorito é “pão frito”. Para fazer este
pão, estira-se a massa, que é cortada em pedaços e fritada em gordura de porco.
O resultado é um delicioso pãozinho fofo marrom-dourado. O outro tipo é conhecido
como “pão fantasma”. É cozido em formas arredondadas e chatas. Afirma-se que
derivou seu nome do fato que na antiga vida nômade, quando o índio não raro tinha
de sair às pressas e bem quietamente, este tipo de pão poderia ser preparado de
forma conveniente, tão quieto como o suposto “fantasma”. Embora o conhecimento
a seu respeito esteja desaparecendo, muitas raízes e ervas valiosas costumavam
figurar em nosso livro de cozinha.
Educação
Os cheyennes do norte têm uma distinta língua tribal deles próprios. É difícil de
aprender, poucas pessoas de fora tendo sido capazes de dominá-la por completo.
Todavia, é uma língua bonita, em que uma única expressão pode ser representada
por uma figura. Mas, tivemos de aprender inglês quando foi aberta a escola pública
em Lame Deer. Meus pais eram católicos-romanos, de modo que, no meu segundo
ano escolar, fui enviada para escola da missão católica, a uns trinta e dois
quilômetros de distância. Todo domingo, um grupo de nós, crianças cheyennes,
costumávamos viajar para a escola e ficar ali até a seguinte sexta-feira de tarde.
Isto acontecia nove meses no ano.
A vida numa escola interna é bem atarefada. No entanto, muitas vezes me sentia
com saudade de casa. Os dias eram repletos de repetições de orações
padronizadas, de frequência à missa, de deveres escolares, de algum folguedo, de
serviço na cozinha ou na lavanderia e mais recitação de orações. Seis de meus oito
anos escolares foram gastos ali.
Muitas igrejas da cristandade acham-se representadas na reserva. Temos até
membros da Igreja Nativa Estadunidense cujos membros participam em tomar o
alucinatório cacto peiote como parte de seu ritual. E a antiga religião indígena se
mescla em muitas vidas, ainda. As estórias da Medicina Doce, que, segundo a
lenda, trouxe organização e outras boas dádivas para a tribo, da parte dos deuses,
ainda são contadas. Há todo tipo de sinais, contudo, de que o clima espiritual aqui,
como em todas as partes do mundo, acha-se seriamente abalado.
Relíquias Pitorescas
Os nomes de lugares e de famílias são não raro muitíssimo descritivos. Deveras,
muitas das famílias conservaram o nome completo de seus ancestrais como seus
sobrenomes. Assim, encontra-se tais nomes bonitos e pitorescos como Manto
Amarelo, Caixa de Areia, Urso Que Sai, Suporte de Madeira, Urso Solitário e Corvo
de Fogo.
A Dança do Sol é uma das antigas celebrações que ainda é realizada
anualmente. Em cada verão, eu costumava sentar-me do lado de fora da nossa
casa e observar os homens índios mais velhos pela planície fincarem postes
especialmente escolhidos como arcabouço da tenda cônica da Dança do Sol. Muito
ritual se achava envolvido. Os participantes, todos varões, exceto um, trajam lindos
xales que vão da cintura aos pés. São pintados no peito e no rosto, ao passo que
ao redor do pescoço fica pendurado um apito feito de salgueiro com uma pena de
águia ligada a ele.
Os dançarinos formam um círculo dentro da tenda, e, ao ser tocado o tambor em
intervalos, permanecem cada um em seu próprio lugar, mas se movem para cima e
para baixo de acordo com o ritmo, soprando o assobio a certas horas. Os lados da
tenda são erguidos de modo que os observadores possam apreciar a cena. Os
homens jejuam durante os três dias. As mulheres têm canções especiais que
entoam. Tal Dança do Sol chega a atrair índios de outros grupos cheyennes e de
quaisquer outras tribos, e, durante elas se forma um acampamento de tendas.
Acontecimentos Modernos
Naturalmente, o progresso chegou. Novos lares modernos, encanamentos em
quase toda casa, energia elétrica para muitos fins — estes são alguns dos sinais
exteriores. Bons empregos e o materialismo se tornaram comuns. Os problemas,
também, se tornaram muitos e o arranjo familiar se desmantela, como o faz em
todas as demais partes.
Embora jamais tenha voltado, desde aquele dia, há muitos anos, quando disse
adeus à reserva, ainda a visito com freqüência. Por quê? Porque me associo agora
com as pessoas que me auxiliaram a encontrar a verdadeira felicidade por fazer a
vontade de Deus — as testemunhas de Jeová. E que prazer é levar a este bom
povo indígena a confortadora mensagem da Palavra de Deus. Os cheyennes do
norte são muito calorosos e considerados por natureza. A maioria deles têm
profunda crença no fato de que a Bíblia contém a verdadeira mensagem de Deus.
Muitos deles estão escutando com ardor à mensagem, e muitos mais sem dúvida
se tornarão louvadores do verdadeiro Deus, Jeová e fazedores de sua vontade. —
Contribuído.

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