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Frei Luís de Sousa (Manuel de Sousa Coutinho, cerca de 1555-1632) sofreu vida
acidentada na Ásia e em África, onde prestou serviços a Filipe II de Espanha. Regressando a
Portugal, casou, por 1584-86, com D. Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal,
desaparecido na Batalha de Alcácer Quibir, a 4 de Agosto de 1578.
E, 1599 muda-se para Almada, nomeado capitão-mor dessa localidade. No ano
seguinte, devido à peste que assolou Lisboa, os governadores do reino pretenderam abrigar-se
em Almada, numa casa de Manuel que, por questões pessoais, lhe lançou fogo para não lhes
ceder abrigo.
Em 1613, após o falecimento da filha única do casal, D. Manuel e D. Madalena seguem
o exemplo dos condes de Vimioso, dando entrada ele no Convento de S. Domingos de Benfica
e ela no convento do Sacramento
D. Manuel, então Frei Luís de Sousa, desenvolveu alguns projectos literários até à sua
morte como A Vida de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, A História de S. Domingos Particular
do Reino e Conquistas do Reino, a partir de materiais deixados por Frei Luís Cácegas, num estilo
fluente, cheio de naturalidade e poder expressivo que marcou a prosa clássica portuguesa.
Correram diversas versões acerca da causa da morte para o mundo de D. Manuel e D.
Madalena, partindo uma delas de um biógrafo daquele, segundo o qual um peregrino trouxera
a notícia de que D. João de Portugal ainda estaria vivo na Terra Santa, 35 anos após o seu
desaparecimento, sendo o casamento de D. Manuel e D. Madalena impossível. Foi este facto
que deu origem a Frei Luís de Sousa, de Garrett.
Almeida Garrett criou a acção de Frei Luís de Sousa à luz da tragédia grega,
concretizando os vários elementos trágicos numa acção repleta de ansiedade, de presságios na
qual cada membro da família protagonista vive o drama colectivo. Assim, D. Madalena
cometeu um crime de amor, ao amar Manuel de Sousa Coutinho enquanto casada com D. João
de Portugal, desafiou a ordem existente que seria guardar fidelidade ao marido (hybris); o
conflito (ágon) parte desta situação, desenvolvendo-se com a mudança de cenário – incêndio
do palácio de Manuel e mudança para o palácio de D. João de Portugal (peripécia) – e adensa-
se com o regresso e reconhecimento do primeiro marido julgado morto, na figura de um
Romeiro (anagnórise), imprevisto que provoca o desfecho com a morte de várias personagens
(catástrofe). O desenrolar dos acontecimentos dá-nos conta do sofrimento (pathos),
principalmente de Madalena com os seus profundos estados de melancolia e terror,
alimentados pelos presságios de Telmo (coro) que se intensificam através da fatalidade das
datas, destruição do retrato de Manuel e mudança de habitação (clímax), conduzindo ao
desenlace. O sofrimento age sobre os espectadores, despertando neles os sentimentos de
terror e piedade para os purificar (catarse).
Tal como na tragédia clássica, o fatalismo é uma presença constante. O destino
apresenta-se como a força que move os acontecimentos e o futuro das personagens, tornando
a obra na sua concepção essencialmente trágica – a família de Manuel não se pode furtar à
inexorabilidade do destino apesar da sua nobreza e integridade.
O drama em Frei Luís de Sousa
Sete – Pode ser encarado positiva ou negativamente; pode ser encarado como
expansão de uma totalidade (7 igrejas; livros de 7 selos; 7 céus, etc.); também pode vir
associado ao mal (7 cabeças da besta do Apocalipse; 7 taças da ira divina; 7 demónios, etc.)
Na obra, o número 7 aparece isolado, ou associado a outros números (2 e 3), podendo
ter valor positivo ou negativo.
7 anos – após o desaparecimento de D. João de Portugal, em Alcácer Quibir, Madalena
procurou exaustivamente notícias sobre ele durante sete anos;
14 anos (7X2) – Manuel e Madalena estiveram casados 14 anos. Foram 14 anos de
uma relação amorosa perfeita (aparentemente); foi uma união tão perfeita, tão bem
conseguida, que até gerou um fruto (Maria);
21 anos (7X3) – D. João de Portugal esteve ausente 21 anos. Aqui o número 7 já tem
uma carga negativa. Sendo o 3 o número da totalização, este transmite a ideia do fim de um
ciclo: era necessário que se fechasse o ciclo aberto com o desaparecimento do 1º marido de
Madalena. O povo costuma dizer que «à terceira é de vez»: D. João de Portugal não voltou ao
fim de 7 anos, não voltou ao fim de 14 anos (7X2), pelo que necessariamente teria que voltar
ao fim de 21 anos (7X3) – o prazo tinha terminado. Aqui o 7 já adquire conotação negativa,
porque surge associado à ideia de acontecimento trágico.
3 = perfeição
7 = tragédia
21 (7X3) – tragédia perfeita
ESTRUTURA EXTERNA:
Acto I – 12 cenas
• Cenas I – IV – informação sobre o passado das personagens;
• Cenas V – VIII – preparação da acção: decisão dos governadores e decisão
de incendiar o palácio;
• Cenas IX – XII – acção: incêndio do palácio.
•
Acto II – 15 cenas
• Cenas I – IV – informações sobre o que se passou depois do incêndio;
• Cenas IV – VIII – preparação da acção: ida de Manuel de Sousa Coutinho a
Lisboa;
• Cenas IX – XV – acção: chegada do romeiro.
•
Acto III – 12 cenas
• Cena I – informações sobre solução adoptada;
• Cenas II – IX – preparação do desenlace;
• Cenas X – XII – desenlace
Entre Garrett e Madalena existem muitas afinidades, quer ao nível do percurso de vida
de ambos, quer ao nível do carácter amoroso.
Garrett foi um romântico, tal como Madalena.
Madalena parece ser uma personagem perseguida pelo infortúnio, marcada pelo
destino para o sofrimento. Deixa-se dominar por agouros, crenças, presságios e profecias que
vão no fundo agudizar os seus terrores quanto a um possível regresso de D. João.
Curiosamente, Madalena é capaz de assumir atitudes contraditórias. Por exemplo, quando o
romeiro está diante dela, Madalena não consegue perceber que este é o seu primeiro marido.
Só quando as circunstâncias são irrefutáveis é que ela consegue alcançar o sentido das
palavras do Romeiro. Mesmo assim, Madalena vai tentar resistir até ao fim. No último
encontro que tem com Manuel, antes de tomar o hábito, Madalena tenta demover Manuel,
adiantando a possibilidade do Romeiro ser um impostor e estar a mentir. Até ao final, ela
recusa-se a aceitar as evidências e só se conforma com a solução do sacerdócio, porque
Manuel não recua, mantendo-se firme na sua nobre decisão.
Em Madalena encontra-se ausente o amor à pátria. Não se nota qualquer preocupação
relativamente à ocupação de Portugal pelos espanhóis. Quando Madalena se insurge é porque
os governadores espanhóis lhe querem ocupar o palácio: esta reage por amor próprio e não
porque no seu íntimo exista algum sentimento nacionalista, ou patriótico. É o orgulho ferido
que faz com que Madalena se revolte contra a «ocupação».
MARIA
D. Maria de Noronha também é nobre. Conhecemo-la quando está com 13 anos, o que
é já um mau presságio.
Na história real, a filha de Madalena e Manuel chamava-se Ana de Noronha. Garrett
preferiu substituir-lhe o nome e denominou-a Maria, numa homenagem provável à sua filha
(Maria Adelaide). Além disso, o nome Maria serve para imprimir à personagem uma maior
pureza, porque se pode associar `Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo.
Maria é uma personagem estranha. Menina-mulher, tem atitudes que não são
próprias da sua idade. Preocupa-se igualmente com assuntos pouco adequados a uma menina
de 13 anos. Maria é uma patriota, que defende a identidade e a liberdade do povo português e
de Portugal. O seu sebastianismo tem a ver com o nacionalismo, não perdendo ela uma
oportunidade para «atacar» os espanhóis. Maria é uma idealista, que gostava de poder
combater pela pátria. No entanto, ela tem consciência das suas limitações (condição de
mulher, doença, etc.); quase que adivinha as condições pouco nobres do seu nascimento («O
que sou… só eu sei, minha mãe… E não sei, não, não seu nada, senão que o que devia ser não
sou…»).
Maria está doente. Percebemo-lo logo no início, não apenas através dos indícios
apresentados na obra, mas também através das constantes preocupações de todos os
membros da família e de Telmo. Maria tem acessos de febre ao entardecer, sintoma típico dos
doentes com tuberculose. Tem igualmente uma audição apuradíssima, ouvindo aquilo que
mais ninguém consegue ouvir. Aos tísicos (doentes com tuberculose), era costume atribuir-se
uma capacidade auditiva invulgar. Era habitual dizer-se que «tinha ouvidos de tísico» a
propósito de alguém que ouvia muito bem.
Tem também um espírito sonhador e fantasioso, que a faz sonhar de olhos abertos e,
outras vezes, a dormir. Percebemos também que Maria sofre de insónias (claro, é uma heroína
romântica), porque coloca dormideiras (variedade de papoila) debaixo da almofada para
dormir. Ao dormir, Maria tem frequentemente pesadelos, que são como que «relâmpagos»
que surgem na sua mente e que pressagiam a desgraça. Quando vê o Romeiro pela 1ª vez,
Maria diz que já o conhecia dos seus pesadelos. Com os seus sonhos, as suas fantasias, o seu
sebastianismo, Maria acaba por atormentar inconscientemente a mãe. Contudo, se faz mal à
mãe, é sem querer e sem o perceber, porque quando vê a mãe triste, ela evita tocar nos
assuntos que costumam melindrar a mãe.
Maria é-nos apresentada como a vítima inocente, que é «sacrificada», sem ter
cometido pecado algum, quase como se a sua morte servisse para expiar os pecados dos
outros.
Demasiado pura, inocente, perfeita, transcendente (é uma mulher-anjo), Maria não
«suporta» viver num mundo carregado de defeitos e acaba por sucumbir. Antes a morte a ter
que continuar a viver numa situação tão vergonhosa e tão pouco digna. Maria estava doente,
pelo que poderia perfeitamente ter morrido devido a causas naturais (o seu estado de saúde
agravou-se vertiginosamente: as febres foram aumentando, acompanhadas por tosse e
golfadas de sangue), mas Garrett preferiu que Maria morresse de «vergonha», por estar mais
de acordo com o espírito da tragédia. A tragédia implica que a morte ocorra em circunstâncias
anormais. Não é o punhal que se crava no peito de Maria, cobrindo-lhe o peito de sangue, mas
é a vergonha que a faz desistir de viver.
A morte em palco de Maria serve para provocar o terror no espectador, mas também
se poder ver na sua morte uma forma de salvação. Salva-se a sua alma, que foi para o céu, a
quem sempre pertenceu. Maria foi um «anjo» que, durante algum tempo, viveu na terra, mas
depois «ganhou asas» e subiu aos céus.
Em relação a esta personagem, é de destacar o importante papel desempenhado por
ela no final da peça. Curiosamente, é através da sua boca que surgem as críticas mais sérias e
agressivas à sociedade de então. Maria critica a instituição religiosa, o sagrado laço do
matrimónio: «Que Deus é esse que está nesse altar, e quer roubar o pai e a mãe a sua filha…
Vós não sois marido e mulher». Maria critica a inflexibilidade dos princípios religiosos que
impedem que os seus pais lhe possam dar um nome digno e critica igualmente os preconceitos
sociais, que recriminam uma relação não abençoada pelos laços sagrados do casamento e que
estigmatiza os filhos nascidos dessas relações. É a voz de Garrett que se faz ouvir através dos
lábios de Maria; é o seu grito de revolta contra a situação injusta da sua própria filha, Maria
Adelaide. A escolha de Maria para tecer as críticas mais severas e também mais perigosas não
terá sido arbitrária. Quem poderia apontar o dedo acusador a uma menina que sempre
mostrou qualidades louváveis? Além do mais, tudo se perdoa a quem está à beira da morte!
Ainda por cima, Maria fala debaixo da dor da descoberta da sua real situação. É pois uma
Maria enlouquecida, dominada pela dor, que levanta a sua voz pelo que, atendendo ao seu
estado psicológico, é de desculpar o facto dela ter cometido alguns excessos.
D. JOÃO DE PORTUGAL
É igualmente nobre (nobre conde de Vimioso) e evoca o nome bíblico de João (grande
apóstolo).
O aparecimento do 1º marido de Madalena processa-se em três fases. Embora
fisicamente ausente, durante mais de metade da obra, D. João de Portugal está sempre
presente.
A 1ª fase corresponde aos terrores de Madalena, aos agoiros de Telmo e ao
sebastianismo de Maria. A «presença» de D. João paira no ar, como se de um «fantasma»
incómodo e assustador se tratasse. Madalena não consegue esquecer o seu 1º marido e vive
atormentada com a ideia de que este possa regressar a todo o momento. Telmo,
propositadamente, «alimenta» os terrores de Madalena, como se sentisse um prazer mórbido
em fazer sofrer Madalena. Fiel ao seu único e verdadeiro amo, (D. João), sentindo os ciúmes
que este nunca sentiu, Telmo não vai permitir que Madalena seja plenamente feliz com
Manuel, invocando constantemente o seu 1º marido. Maria, inconscientemente, acaba por
desempenhar uma função semelhante. O seu sebastianismo leva-a a desejar que ainda esteja
vivo o jovem rei português e que este volte para tirar o povo do jugo espanhol. Para Madalena,
este sebastianismo é perturbante porque, partindo da crença de que D. Sebastião estava vivo
e havia de voltar, também se poderia pensar que D. João estava vivo e, também ele, poderia
regressar. Esta fase observa-se no Acto I.
A 2ª fase observa-se no Acto II e corresponde ao retrato. Quando a família se desloca
para o palácio que foi de D. João de Portugal, assiste-se a uma semi-materialização. D. João
não está presente fisicamente, mas deixou de ser apenas um «fantasma», para se
«materializar» no retrato. Não é o seu corpo, mas é uma reprodução dele. Esta é a fase
preparatória para o surgimento físico de D. João Este vai ocorrer no final do Acto II, embora só
no Acto III o Romeiro se assuma como D. João de Portugal, utilizando sempre a 3ª pessoa
gramatical. É como se não falasse de si mesmo, mas de outra pessoa. Só no acto III, quando
está diante de Telmo, este é reconhecido como D. João. De salientar ainda que a primeira vez
em D. João/ Romeiro entra em cena, no Acto II, tal ocorre na cena XIII, aparecendo novamente
o número treze como um mau presságio: é como se anunciasse a entrada de uma
personagem, que iria ser responsável pela tragédia que se abaterá sobre a família.
O que se pode observar de D. João de Portugal é que este é um homem austero, de
princípios rígidos: um português dos antigos, como dizia Telmo.
Célebre e carregada de significado é a expressão usada pelo Romeiro, quando Frei
Jorge e Telmo lhe perguntam quem ele é: Ninguém. Este «ninguém» está implicitamente
ligado com o facto de todas as pessoas, em especial Madalena, terem partindo do princípio de
que D. João de Portugal morrera no norte de África. Assim sendo, era como se ele já não
existisse no coração e na memória dessas pessoas. O ninguém» também poderá estar
relacionado com o progressivo esvaziamento da personagem. No passado, quando casado com
Madalena, D. João apresentava um conjunto riquíssimo de características: era nobre, tinha um
nome reconhecido e digno, tinha os seus bens materiais (por exemplo: o palácio de Almada),
tinha uma mulher que amava, tinha uma família, tinha um rei, tinha uma Pátria. Agora, D. João
de Portugal já nada tem: perdeu o nome (já só o conhecem como o Romeiro), perdeu os bens
materiais (o palácio em Almada está «ocupado» por outro «dono»), perdeu a mulher (que está
«casada» com outro homem), perdeu a família (que o julgou morto) e regressou a um lugar
que já não tem rei, nem identidade própria (pertence a Espanha). Por todas estas razões fácil é
perceber que o «ninguém» remete também para este progressivo «empobrecimento» da
personagem.
O «ninguém» poderá ainda ter outro valor: como Telmo afirmava «já não há daquela
gente». D. João de Portugal não funcionaria somente como uma personagem individual, mas
sim como uma personagem colectiva, um símbolo do verdadeiro povo português, do
português do passado glorioso como, aliás, se pode verificar através do nome «Portugal». Sem
rei, sem Pátria, sem directrizes, sem esperança no futuro, o povo português despersonalizara-
se, perdera a garra e o brio, perdera a raça e o orgulho. Este «ninguém» pode quase transmitir
esta ideia.
Para terminar esta questão, não esquecer que, em relação à história real de Manuel e
Madalena, nunca se apurou qual a razão que levou à separação e entrada num convento dos
dois, tendo circulado o boato de que o facto teria ficado a dever-se ao aparecimento do 1º
marido de Madalena. Contudo, nunca se conseguiu chegar a uma conclusão e, talvez por isso,
Garrett tenha também optado por manter um certo mistério à vota da personagem Romeiro.
Nem Madalena «vê» naquele homem envelhecido e amargurado o seu marido. No final, o
próprio Romeiro recusa-se a assumir a sua verdadeira identidade.
TELMO PAIS
CARACTERÍSTICAS CLÁSSICAS
- O conteúdo é de tragédia; é Garrett que o afirma na «Memória ao Conservatório
Real»;
- Número reduzido de personagens e de origem nobre;
- Felicidade ilusória; Madalena vive uma felicidade aparente;
- Os sentimentos de remorso (Manuel);
- O fatalismo; tudo se conjuga para que as personagens se precipitem para um fim
trágico:
* Os medos/terrores de Madalena deixam prever uma tragédia;
* O sebastianismo de Maria faz Madalena viver amargurada com o regresso de
D. João;
* O 2º casamento de Madalena, sem que o corpo do 1º marido tenha
aparecido, lança Madalena para um fim necessariamente trágico. Madalena é, em parte,
responsável pelo seu destino;
*A carta escrita por D. João, na véspera da batalha de Alcácer Quibir,
prometendo que regressaria é uma ameaça que paira sobre a cabeça de Madalena;
* A constante reprovação de Telmo, os seus agoiros, o seu sebastianismo
perseguem igualmente Madalena;
* A referência a Inês de Castro deixa no ar uma ameaça de tragédia (Acto I,
Cena I – monólogo de Madalena);
* A mudança do palácio de Manuel para o de D. João parece prender/
empurrar Madalena;
* Manuel, ao incendiar o seu próprio palácio, empurra Madalena para os
«braços» de D João. Manuel é, em parte, responsável pelo seu próprio destino;
* É o próprio Manuel que, ao incendiar o seu palácio, lembra a morte
desastrosa de seu pai, adivinhando quase que ele próprio está a ajudar o destino a conduzi-los
para um fim trágico;
* O fechamento do espaço: o espaço mais reduzido (cela), sem janelas e
austero «prende» as personagens numa «teia» invisível;
* A concentração do tempo (21 anos, 14 anos, 7 anos, 8 dias, um dia, hoje,
sexta-feira) tem igual função. Associado à 6ª feira (dia considerado aziago por Madalena –
celebrava-se 21 anos da batalha de Alcácer Quibir), temos o fatalismo do número sete,
associado ao número três; mais uma vez deixa adivinhar que aquele será o dia fatal, o dia em
que a tragédia se abaterá sobre a família;
* A própria Maria, diante do retrato do pai quando moço, sente pena por o pai
ter deixado a ordem de Malta, considerando que o hábito lhe ficava muito bem, deixa
antecipar quase a «morte» psicológica de Manuel e a reentrada na vida religiosa;
* O exemplo de soror Joana (tia de Maria) e do marido (acto incompreensível
para Madalena), mais uma vez, é um indício do destino final das duas personagens – convento;
- A unidade de acção; a tragédia grega exigia unidade de acção e aqui temos uma
acção única envolvendo uma família nobre portuguesa;
- A Hybris – desafio: Manuel desafia as autoridades espanholas ao incendiar o seu
palácio;
- O Pathos – sofrimento (de Manuel, de Madalena, etc.;
- A Agnórise – reconhecimento: a revelação da verdadeira identidade do Romeiro;
- O terror, a compaixão e a piedade: a tragédia deveria provocar sentimentos de terror
e de piedade no público. Quem ficará indiferente ao conflito interior de Manuel, à morte de
Maria, Manuel e Madalena?;
- Sobrevivência do coro, através de Telmo e dos salmos encontrados no Acto III;
- As personalidades de Manuel (até certo ponto), de Frei Jorge e de D. João de
Portugal.
CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
O TEMPO
Julho Agosto
1599 6ª Sáb. Dom. 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª
28 29 30 31 1 2 3 4