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SOCIAIS
SESC I Serviço Social do Comércio
SOCIAIS
setem bro > dezem bro | 201 0
SESC | Serviço Social do Comércio
Administração Nacional
ISSN 1809-9815
SINAIS SOCIAIS I RIO DE JANEIRO | v.5 n°14 | p. 1-155 | SETEMBRO > DEZEMBRO 2010
SESC | Serviço Social do Comércio | Administração Nacional
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Gerência de Estudos e Pesquisas / Divisão de Planejamento e Desenvolvimento
Mauro Lopez Rego
CONSELHO EDITORIAL
Álvaro de Melo Salmito
Luis Fernando de Mello Costa
Mauricio Blanco
Raimundo Vóssio Brígido Filho
S EC R ET Á R IO EX EC U T IV O
EDIÇÃO
Assessoria de Divulgação e Promoção / Direção-Geral
Christiane Caetano
P R O JET O G R Á FIC O
Vinicius Borges
PR O D U Ç Ã O E D IT O R IA L
Clarissa Penna
Elaine Bayma
R EV IS Ã O DO IN G LÊ S
Susan Johnson
PR O D U Ç Ã O G R Á FIC A
Celso Clapp
v.; 30 cm.
Quadrimestral.
ISSN 1809-9815
1. Pensamento social. 2. Contemporaneidade.
3. Brasil. I. SESC. Departamento Nacional.
Eduardo R. Gomes
Larissa Morais
N os a p ro x im a d a m e n te q u a re n ta a n o s d e h istó ria da e d u c a ç ã o
a m b ie n ta l, o B rasil te v e d e sta c a d o p ro ta g o n ism o em seu p ro cesso
d e c o n so lid a ç ã o nos d ive rso s e sp a ço s p e d a g ó g ico s: e sc o la s, in stitu i
çõ e s p ú b lica s, m o v im e n to s so c ia is, á re a s p ro te g id a s, grupo s a fe ta d o s
p o r e m p re e n d im e n to s lic e n c ia d o s , c o m u n id a d e s e tc . N essa tra je tó
ria, em nosso p aís, p rin c ip a lm e n te a p a rtir d o s an o s d e 1 9 9 0 , as
d iscu ssõ e s so b re p re m issa s e c a m in h o s p ara sua u n iv e rs a liz a ç ã o se
a v o lu m a ra m e g an h aram d e n sid a d e co m a fo rte a ç ã o d e gestores
p ú b lico s, p ro fe sso re s, a m b ie n ta lista s e e d u c a d o re s p o p u la re s ( L O U
R E IR O , 2 0 0 6 ). O re su ltad o m ais v isív e l d esse m o v im e n to foi a p u b li
c a ç ã o d a P o lítica N a c io n a l d e E d u c a ç ã o A m b ie n ta l (P n e a ) - Lei F e
d e ra l n. 9 .7 9 5 / 1 9 9 9 - e seu d e c re to d e re g u la m e n ta ç ã o (D e c re to n.
4 .2 8 1 / 2 0 0 2 ), q u e a p re se n ta m d ire triz e s e p ressup o sto s v o lta d o s para
u m a p rá tica e d u c a tiv a p a rtic ip a tiv a , h is to ric iz a d a , d ia ló g ica e h u m a
nista e um a sp e cto o rg a n iza c io n a l d e g ran d e re le v â n c ia : o Ó rg ã o
G e sto r. Essa in stâ n cia in te rm in is te ria l in é d ita d e gestão p a ritá ria (M i
n isté rio d a E d u c a ç ã o (M E C ) e M in isté rio d o M e io A m b ie n te (M M A ))
assegu ra d ire triz e s c o m u n s e um d iá lo g o e n tre a esfe ra a m b ie n ta l e
a d e e d u c a ç ã o , co m base na a ç ã o p o lític a u n ific a d a e no re sp e ito às
c o m p e tê n c ia s d e c a d a ó rg ão .
A m a te ria liz a çã o do Ó rg ão G e sto r da Pn ea em ju n h o d e 2 0 0 3 , a p o ia
d a em um c o n te xto d e a d o çã o de p o líticas de d e m o c ra tiza ç ã o da área
am b ie n ta l e d e tra n sve rsa liza çã o do te m a na e d u c a ç ã o fo rm a l, sin a li
zo u para a co n so lid a çã o da e d u c a ç ã o a m b ie n ta l co m o p o lítica p ú b lica
nas três esferas d e p o d er (fe d e ra l, estadual e m u n ic ip a l). C o m isso, as
açõ e s d e fo rm a çã o , c o m u n ic a ç ã o , bem co m o a in stitu c io n a liza ç ã o de
fó ru n s de p a rticip a çã o , se d iv e rsifica ra m e a lc a n ç a ra m p ra tica m e n te
todos os esp aço s possíveis d e a tu a ção dos agentes so ciais p ú b lico s e
p rivad o s - sem e n tra r aq u i no m é rito da q u a lid a d e ou e fe tiv id a d e das
m esm as, ap en as d e stacan d o o fato h istó rico e sua va lid a d e para o q ue
interessa no esco p o do artigo.
Para ilustrar, p o d em o s afirm ar, co m base em p esq u isa n acio n a l e
em d ad o s do C e n so Esco lar (L O U R E IR O e C O S S ÍO , 2 0 0 7 ; T R A JB E R
e M E N D O N Ç A , 2 0 0 6 ; L O U R E IR O , A M O R IM , A Z E V E D O e C O S S ÍO ,
2 0 0 6 ), q u e no an o d e 2 0 0 6 m ais d e 9 6 % das esco las d e e n sin o funda-
m ental no B rasil, em um u n iverso a p ro x im a d o d e 1 8 6 m il in stitu içõ es,
re a liza v a m e d u c a ç ã o am b ie n ta l d e algum a fo rm a (n o rm a lm e n te por
in te rm é d io d e um a ou m ais d e u m a destas o p ç õ e s: p ro jeto s, in serção
tran sversal, p rojeto p o lítico pedagógico ou d isc ip lin a ). A a rtic u la çã o
la tin o -a m e rica n a e co m os países lu sófonos se c o n c re tiz o u , re fo rça n
do um e n fo q u e so cio a m b ie n ta l da e d u c a ç ã o a m b ie n ta l nestes países
(B R A S IL , 2 0 0 7 ).
N o q u e se refere ao processo de gestão a m b ie n ta l, a p re se n ça d a
e d u c a ç ã o am b ie n ta l ganhou n o to rie d a d e e re co n h e c im e n to q u an to à
sua im p o rtâ n cia estratég ica p ara a so c ia liza ç ã o de in fo rm açõ e s e c o
n h e c im e n to s, a a u to n o m ia dos grupos so cia is, a p a rticip a çã o p o p u la r
e a d e m o c ra tiza ç ã o d as d e cisõ e s. O d e staq u e se d eu em e sp e cia l nas
a tivid a d e s ju n to a u n id ad e s d e co n se rv a ç ã o (L O U R E IR O , A Z A Z IE L e
F R A N C A , 2 0 0 7 ; L O U R E IR O , 2 0 0 4 ), m ais g e n e ric a m e n te ju n to a áreas
protegidas (leg itim ad as co m a p u b lica ç ã o d o Sistem a N a cio n a l de U n i
d ad es d e C o n se rv a ç ã o (Sn uc) - Lei 9 .9 8 5 / 2 0 0 0 - e do Pro gram a Estra
tégico N a cio n a l d e Á re a s Protegidas (P n ap ) - D e c re to 5 .7 5 8 / 2 0 0 6 ), e
no lice n cia m e n to (A N E L L O , 2 0 0 6 ; U E M A , 2 0 0 6 ; Q U IN T A S , G O M E S
e U E M A , 2 0 0 6 ). C a b e lem b ra r q u e o lice n cia m e n to é o in stru m en to
por e x c e lê n c ia d e c o m a n d o e co n tro le q u e o Estado possui para regu
lar as ativid ad e s p ro d u tivas e e c o n ô m ica s em geral, e sta b e le ce n d o os
lim ites e n orm as na re la çã o p ú b lico -p riv a d o . A e d u c a ç ã o a m b ie n ta l,
nesse esco p o e e n q u a n to c o n d ic io n a n te d e lic e n ç a , torna-se um m eio
de e x e rc íc io d e p a rticip a çã o e c o n tro le so cial em ca d a e m p re e n d i
m ento lic e n c ia d o .
D e v e m o s ressaltar q u e esse d ad o d e re a lid a d e se c o n c re tizo u m u i
to por m e io d o a c ú m u lo o b tid o co m as açõ e s p ro m o vid a s, ao longo
da d é ca d a d e 1 9 9 0 até o an o d e 2 0 0 7 , p ela C o o rd e n a ç ã o G e ra l de
E d u c a ç ã o A m b ie n ta l do Ib am a (C g e am ), fo rm u la d o ra dos p re ssu p o s
tos te ó rico s e m eto d oló g ico s d a e d u c a ç ã o no pro cesso d e gestão a m
b iental (O L IV E IR A , 2 0 0 3 ; Q U IN T A S , 2 0 0 0 e 2 0 0 4 ), q u e se rve m de
re fe rê n c ia para as e x p e riê n c ia s e p ara a proposta te ó rica a p re se n ta d a
neste artigo.
M as nesse c e n á rio ra p id a m e n te a p re se n ta d o , q ual é a e s p e c ific id a
de d a e d u c a ç ã o am b ie n ta l no lice n cia m e n to ? O q u e há d e novo na
d iscussão aberta em vá rio s estados do país q u e a to rn a tão estratégica
para a gestão am b ie n tal?
A resposta pode ser d ad a de um m o d o bem d ire to . A e d u c a ç ã o a m
biental no lic e n c ia m e n to atua fu n d a m e n ta lm e n te na gestão dos c o n fli
tos d e uso e d istrib u tivo s o casio n ad o s por um e m p re e n d im e n to , o b je
tivan d o g arantir: (1) a a p ro p ria çã o p ú b lica d e in fo rm a çõ e s p e rtin e n te s;
(2) a p ro d u ção de c o n h e c im e n to s q u e p erm itam o p o sicio n a m e n to
respon sável e q u a lific a d o dos agentes so ciais e n v o lv id o s; (3) a a m p la
p a rticip a çã o e m o b iliza ç ã o dos grupos afetad o s em todas as etapas do
lic e n c ia m e n to e nas in stân cias p ú b lica s d e cisó ria s; (4) o ap o io a m o v i
m entos d e reversão dos processos assim étrico s no uso e na a p ro p ria çã o
da n atu re za , tan to em term o s m a te ria is q u an to sim b ó lico s.
O novo está, po rtan to , na a d o çã o d e u m a p e rsp e ctiva d e e d u c a ç ã o
am b ie n ta l co m forte im p acto nas p o líticas p ú b lica s e nas re laçõ e s de
p o d er e n tre os grupos so ciais q u e se situ am em te rritó rio s d e fin id o s
por processos p ro d u tivo s lic e n c ia d o s. O q u e exig e projetos para além
da re a liza ç ã o d e açõ e s p o n tu ais e de processos e d u ca tiv o s q u e não
ab o rd am os sen tid o s do e m p re e n d im e n to , fo co m o tiva d o r d a a ç ã o .
1 0 Q U E N Ã O É E D U C A Ç Ã O A M B I E N T A L NO L I C E N C I A M E N T O ?
2 Q U A L É A E D U C A Ç Ã O DA E D U C A Ç Ã O A M B I E N T A L ?
3 A S P E C T O S L E G A I S D A E D U C A Ç Ã O A M B I E N T A L NO L I C E N C I A M E N T O
CA PÍTU LO VI
D O M EIO AM BIEN TE
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi
librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1S - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;!...)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade poten
cialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a com ercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente (...).
D e v e m o s re co rd a r q u e o Program a N a cio n a l de E d u ca çã o A m b ie n
tal (P ro n e a), no p lan o da c o n c e p ç ã o ped agóg ica, a rticu la as m u d an ça s
in d ivid u a is d e p e rce p çã o e co g n ição às m u d a n ça s so cia is co m vistas
a um a tran sfo rm ação p ro fu n d a d o m o d o co m o nos re la cio n a m o s na
n atu re za . P ro p õ e c o m p re e n d e r as e sp e cificid a d e s dos grupos so cia is,
o m od o co m o p ro d u ze m seus m eio s d e v id a , co m o cria m co n d u ta s e
se situam na so c ie d a d e , para q u e se e sta b e le ça m processos p au tad o s
no d iálo g o, na p ro b le m a tiza ç ã o do m u n d o e na a çã o . Em sua e x p o si
ção d e p rin cíp io s n o rtead o res, em co n so n â n c ia co m a P n e a , alguns se
referem d ire ta m e n te a um e n te n d im e n to pedagógico c rític o da e d u
c a çã o a m b ie n ta l: (1) respeito à lib e rd a d e e a p re ço à to le râ n c ia ; (2)
v in c u la ç ã o e n tre é tic a , esté tica, e d u c a ç ã o , tra b a lh o e práticas so cia is;
(3) lib e rd a d e d e ap ren d er, en sin ar, p esq u isar e d ivu lg ar a c u ltu ra , o
p e n sam e n to , a arte e o sa b e r; (4) co m p ro m isso co m a c id a d a n ia a m
biental a tiv a ; (5) tra n sve rsa lid a d e a m b ie n ta l co n stru íd a a partir d e um a
p ersp ectiva in te rd iscip lin ar.
4 Q U A L E D U C A D O R E E D U C A D O R A A M B I E N T A L A T E N D E À PR OP OS TA ?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
This study shows that there has been a significant incorporation of ideas from
Social Responsibility by corporatist entities, but this appropriation varies in res
pect to the mission, objectives and actions of these corporatist organizations,
pointing out to an important renewing of the entrepreneurial view of social
issues, especially if compared to the one of the developmentalist phase, com
monly built from the industry.
Keywords: Social Responsibility, corporativism, S System, entrepreneurs
INTRO DU ÇÃO
1 O R I G E N S E E V O L U Ç Ã O D A R E S P O N S A B I L I D A D E S O C I A L NO B R A S I L
O q u e se co n fig u ro u d e fo rm a m in im a m e n te re c o n h e c id a co m o
R e sp o n sa b ilid a d e S o cial Em p re sa ria l no Brasil d e h o je co n stitu i-se
c o m o um novo tip o d e açõ e s e p ro je to s d e in te rv e n ç ã o so cial e a m
b ie n ta l, d e se n v o lv id o s por um se m -n ú m e ro d e e m p re sa s, e m p re s á
rios e o rg a n iza çõ e s p o r e le s c o n stitu íd a s. D ife re n te m e n te d as p rá ti
cas fila n tró p ic a s, q u e se ria m a q u e la s m a rca d a s p elo v o lu n ta rism o e
a ltru ísm o , essas açõ e s e p ro jeto s visam in te rv ir em p ro b le m a s so cia is
e a m b ie n ta is co m o p arte in teg ran te da p ró p ria a tiv id a d e e m p re sa ria l,
te n d o p o r base a id e ia d e q u e , em vista dos lu cro s q u e as e m p re sa s
a u fe re m co m a u tiliza ç ã o dos re cu rso s h u m a n o s e m a te ria is d a s o c ie
d a d e , ca b e a elas u m a re sp o n sa b ilid a d e e sp e cia l d e co m p e n sa r, de
alg u m a fo rm a , a p ró p ria so c ie d a d e .
D e n tre tod os os fato res q u e c o n d u z ira m ao su rg im ento da R e sp o n
sa b ilid a d e S o cial Em p resarial no B ra sil, p a re ce -n o s q u e a c rític a às d i
fic u ld a d e s do W elfare State d e m a n te r o e n fo q u e u n ive rsalista , o riu n d a
dos países d e se n vo lvid o s do H e m isfé rio N orte nos an o s 1 9 8 0 , fo rm o u
c o m o q u e o p ano d e fu n d o dessa m u d an ça e , p o rtan to , po d e se r o
p rim e iro item a ser c o n sid e ra d o . C o m isso, foi v a lo riza d a u m a fo rm a
d e assistên cia m ais seg m e n tad a, em q u e a so c ie d a d e estivesse m ais
d ire ta m e n te e n v o lv id a , in clu sive a rca n d o co m parte dos custos dos
program as so ciais (E S P IN G - A N D E R S E N , 1 9 9 5 ).
Tal revisão do W elfare State, q u e d e ita ra íze s na crise dos ano s 1 9 7 0 ,
q u e e n ce rro u o c ic lo d e p ro sp e rid a d e do pós-guerra do m u n d o o c i
d e n ta l, eco o u no Brasil nos anos 1 9 9 0 , ou se ja , e x a ta m e n te no m o
m ento em q u e se firm a v a a id eo lo g ia n e o lib e ra l. C o m base em um a
am p la c rític a ao m o d elo d e se n vo lvim e n tista q u e h avia guiad o o Brasil
por p ra tica m e n te c e rc a de c in q u e n ta ano s, fo rm o u -se e n tre as e li
tes b rasileiras n aq u e le m o m e n to um grand e co n se n so em to rn o do
id eário n e o lib e ra l, visto co m o ú n ica saíd a para se c o m b a te r d e v e z a
in fla çã o c rô n ic a q u e nos assolava e q u e h avia ch eg ad o à h ip e rin fla çã o
na d é ca d a a n te rio r (D IN IZ , 1 9 9 7 ).
D ife re n te m e n te das tentativas da seg und a m e tad e dos anos 1 9 8 0
de se c o m p a tib iliz a r cre scim e n to e c o n ô m ic o e re d istrib u içã o através
d e vário s planos e c o n ô m ico s h e te ro d o xo s, a n ova o rie n ta çã o p re
v a le ce n te nos ano s 1 9 9 0 p rio riza v a o co m b a te à in fla çã o através de
p o líticas o rto d o xas d e e sta b iliza ç ã o , in d e p e n d e n te m e n te d as c o n se
q u ê n cia s regressivas q u e d elas p u dessem advir. A ssim , além de um a
luta irrestrita co n tra a in fla çã o , a nova postura e n v o lv ia a im p le m e n ta
ção d e am p las refo rm as lib e ra liza n te s na e c o n o m ia e no Estado, co m o
a lib e ra liza ç ã o e a d e sre g u lam e n ta çã o e c o n ô m ic a , a p riv a tiz a çã o das
em p resas estatais e a refo rm a a d m in istra tiv a , e n tre outras m e d id as.
Esse d iag n ó stico ganhou esp a ço já nos p rim e iro s ano s da d é ca d a de
1 9 9 0 , com o g overn o C o llo r, e a m p lio u -se na a d m in istra ç ã o Fe rn a n d o
H e n riq u e , q u e tam b é m o b teve o p rim e iro sucesso de co m b a te d u ra
d o u ro à in fla çã o co m o P lan o R e a l, im p le m e n ta d o pelo seu a n te c e s
sor, Itam ar Fran co . D e n tro dessa re visão d o m o d elo d e se n v o lv im e n
tista, ataco u -se tam b é m o p aradigm a d o m o d e lo d e assistê n cia so cial
vig en te no país, p ra tica m e n te nos m esm o s term o s em q u e o W elfare
State tin h a sid o c ritic a d o d esd e o fin al dos ano s 1 9 7 0 no e xterio r. S e
g uin d o essa nova visão , o g overn o Fe rn a n d o H e n riq u e im p le m e n to u
u m a sé rie d e refo rm as do sistem a b rasileiro d e b em -estar so c ia l, a p a r
tir do q u e ganhou im p o rtâ n cia a fo rm a çã o d e p a rce ria s co m a so c ie
d ad e c iv il (A R R E T C H E , 1 9 9 9 ). Estas fo ram v ia b iliza d a s pelas c h a m a d a s
"L e i d o V o lu n ta ria d o ", d e 1 9 9 8 , e "L e i das O S C IP " (O rg a n iza ç õ e s da
S o cie d a d e C iv il d e Interesse P ú b lico ), d e 1 9 9 9 , im p le m e n ta d a s por
esse m esm o g overn o (S Z A Z I, 2 0 0 5 ).
D e q u a lq u e r fo rm a, estávam o s no m o m en to pó s-co n stitu in te e , do
lado da so cie d ad e c iv il, tam b ém se notava um a m o b iliza çã o no sen-
tido d e in stitu cio n alizar os esp aço s d e p a rticip a çã o co n q u istad o s com
as lutas dos anos an terio res, d esd e a re d e m o cra tiza çã o (D A G N IN O ,
2 0 0 2 ). N esse co n texto , o Instituto B rasileiro d e A n álise Social (Ibase) e
seu presidente H e rb e rt d e So uza (B etin ho ) tiveram um papel d in a m iz a
d o r m uito im p o rtante, ao c h a m a r a a te n ção para a e xistê n cia de fom e
no país, c o n cla m a n d o a todos, em 1 9 9 3 , para q u e co labo rassem para
saná-la através de d o açõ es. O Ibase, na v e rd a d e , já vin h a re alizan d o a l
gum as cam p an h as sociais desd e os anos 1 9 8 0 , m as esta c a m p a n h a em
esp ecial procurou ligar a so lução desse pro b lem a social básico - q u e é
a fo m e - à so cied ad e brasileira co m o um to d o , ao intitular-se "Ação da
C id a d a n ia co n tra a M iséria pela V id a ". Pode-se d ize r q u e , d e fin id a n es
ses m oldes, tal in iciativa foi e xtre m a m e n te b em -su ce d id a, tend o obtido
ap o io e xp líc ito d e vários setores sociais, in clu sive dos e m p resário s4.
T alvez não p o r c o in c id ê n c ia , este foi tam b é m o m o m e n to em q ue
em erg iu o m o vim e n to "R eag e R io ", q u e b u scava m o b iliza r so cie d a d e
e g overn o co n tra o q u e foi visto c o m o e sca la d a de v io lê n c ia por q ue
passava a c id a d e do Rio d e Ja n e iro , o q u e d e p o is e co o u em outras
g randes c id a d e s b rasileiras. L id e ra d o pelo an tro p ó lo go R ub em C é sa r
Fe rn a n d e s, o m o vim e n to se tra n sfo rm o u , no caso d o R io d e Ja n e iro ,
em outra im p o rtan te O rg a n iza ç ã o N ão G o v e rn a m e n ta l: o V iv a R io 5.
M ais tard e , no fin a l dos ano s 1 9 9 0 , o m e sm o B e tin h o , sin to n iza d o
co m essas m u d an ça s, in icio u u m a luta p ela a d o çã o d e um R elató rio
S o cial p elas e m p resas. Tal re la tó rio , na c o n c e p ç ã o de B e tin h o , seria
c o m o q u e um sinal p ú b lico da a tu a çã o so c ia lm e n te resp o n sável de
ca d a e m p re sa , v in d o a se ju n ta r a um c o n ju n to d e novas n o rm atiza-
çõ es in te rn a cio n a is do co m p o rta m e n to e m p re sa ria l so cia lm e n te res
p o n sável. E estas, p o r sua v e z , tam b ém e stim u lara m a d isse m in a çã o
dos p rin cíp io s d a R e sp o n sa b ilid a d e S o cial Em p re sarial e n tre nós.
A ssim , o c e n á rio do su rg im ento da R e sp o n sa b ilid a d e So cial E m p re
sarial no Brasil é bastante c o m p le x o , co m d iverso s d e te rm in a n te s e
d e sd o b ra m e n to s: por um lad o , a crise do tra d icio n a l m o d elo d e assis
tê n c ia so cial e p re v id ê n c ia u n ive rsalista do W elfare State, q u e e co o u
nas refo rm as d o m o d elo d e d e se n vo lvim e n to do país nos anos 1 9 9 0
vo ltad as para p rio riza r os d e te rm in a n te s d e m e rca d o . Por o u tro , a so-
2 0S IM P A C TO S D0 M O V IM E N T O EM T O R N O DA R E S P O N S A B I L I D A D E
S O C I A L N A S E N T I D A D E S C O R P O R A T IV A S
• se r tra n sp a re n te ;
• ter co m p ro m isso p ú b lic o ;
• envo lver-se co m instituiçõ es q u e representam interesses co le tivo s;
• ser c a p a z d e atrair e m a n te r c o la b o ra d o re s p a rticip a tivo s e v o
lu n tário s;
• d e se n v o lv e r um alto grau d e m o tiva çã o e c o m p ro m isso d os ato res
so ciais;
• ser ca p a z d e lid ar co m situ a çõ e s d e c o n flito s;
• e n v o lv e r toda a d ire ç ã o d a e m p re sa ;
• e sta b e le ce r m etas d e cu rto e longo p razo q u e vise m ao d e se n v o l
vim e n to h u m a n o .
• d im in u ir os c o n flito s;
• e stim u lar e re c o n h e c e r o cap ital h u m a n o e so c ia l;
• v a lo riz a r a m arca e a im agem in stitu c io n a l;
• c o n q u ista r a le ald ad e d o c o n su m id o r;
• agregar v a lo r aos p ro d u to s;
• a lc a n ç a r o d e se n v o lv im e n to su ste n tá ve l;
• p ro m o v e r a in clu são so cia l.
N o te-se, a q u i, a p re o cu p a ç ã o em e x p a n d ir o c o n c e ito d e R e sp o n sa
b ilid a d e S o cial q uase até seu lim ite lógico, pois m ais d o q u e u m a série
d e p ráticas d e negócios é ticas e so c ia lm e n te c o n scie n te s, o q u e se
busca aq u i é nad a m eno s do q u e in flu e n c ia r o p ró p rio ru m o das p o lí
ticas p ú b licas no estad o . B u sca essa q u e , re ce n te m e n te , ve m a tra in d o
a te n çã o até da m íd ia não e sp e c ia liz a d a , q u e em reportagens re ce n te s
d ivu lg ou o in ten so tra b a lh o d e p esq u isa c o n ju n tu ra l d e se n vo lvid o pela
Firjan sobre a crise no estad o do R io de Ja n e iro , e q u e in clu sive busca
sugerir p o líticas m ais a d e q u a d a s do q u e a q u e la s e m p re e n d id a s pelo
p ró p rio g overno.
A p e sa r d e o real sig n ificad o dessa fo rm a d e a tu a çã o da Firjan não te r
sid o m e n c io n a d o pela m íd ia , é im p o rtan te ressaltar o q u a n to de tra n s
fo rm a çã o no pap el da in d ú stria e da p ró p ria Firjan está pressuposto
nesse p ro cesso . A o c o n d u z ir suas pesquisas so b re as m ais im p o rtan tes
q uestõ es so cia is no estad o , e ao p ro p o r so lu çõ e s em term o s de p o líti
ca p ú b lica , a Firjan se c o lo c a , e x p lic ita m e n te , co m o apta a lid a r com
tais p ro b lem as so ciais, e co m o te n d o v o z ativa na d e fin iç ã o d e q u ais
p o líticas d e ve m ser ad o tad as para re so lve r q u ais p ro b le m as em q u ais
co n te xto s. O u seja, atrib u i-se à Firjan um pap el não de todo d e sse m e
lh an te ao papel do g overn o .
S eg u in d o um a m esm a lin h a , o C o n se lh o d e C id a d a n ia Em p resarial
e V o lu n tário s d as G e ra is da Fiem g nos in fo rm a q u e : "o Sistem a Fiem g
a c re d ita q u e a q u a lid a d e d e um a e m p re sa va i a lé m do seu d e se m p e
nho o p e ra c io n a l. E nas d ive rsas fo rm as d e e x e rc íc io da c id a d a n ia q ue
o m e io e m p re sa ria l se co m p ro m e te co m a g e ração d e riq u e za so cia l,
a ju d a n d o a d im in u ir as d e sig u ald ad e s d e nosso p aís" (F IE M G , 2 0 0 6 ).
E c o m p le m e n ta :
C O N S ID E R A Ç Õ E S F I N A I S
SZAZI, Eduardo. Terceiro setor: regulação no Brasil. São Paulo: Pierópolis, 2005.
S it e s consultados:
Federações:
Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC). Disponível em: < http://
ww w .sfiec.org.br> . Acesso em : ago. 2006.
Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA). Disponível em: < http://
w w w .fiepa.org.br> . Acesso em : ago. 2006.
Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEPB). Disponível em: < http://
w w w .fiepb.org.br> . Acesso em : 4 ago. 2006.
Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEPR). Disponível em: < http://
www.fiepr.org.br> . Acesso em : ago. 2006.
Federação das Indústrias do Estado do Piauí (FIEPI). Disponível em: < http://
w w w .fiepi.com .br> . Acesso em : 4 ago. 2006.
Outros s it e s :
This article discusses the modernization of São Paulo in the present text of João
Antônio ",Abraçado ao meu rancor", 7986, read in perspective with "Malague
ta, Perus e Bacanaço", 1963. The characters of both texts go through the same
streets o f São Paulo with two decades o f historical distance, which allows you
to map the emergence of new materials present in bars and restaurants moder
nized, as well as the deletion of the trickster and lounges billiard or pool, giving
rise to both the cleaning of new buildings as the prostitution business in broad
daylight in the city center. The analysis o f literary texts, thus, allows to read the
changes o f recent city and culture.
Keywords: city, culture, modernization, 80 years
INTRO DU ÇÃO
O u a b re v ia d o em fo rm a d e p e rg u n ta : " O n d e e n fia ra m os sa m b a s
d e G e rm a n o M a tia s ? " (p . 9 1 ). A c e rta a ltu ra , na e s q u in a d a São
Jo ão c o m a A v e n id a Ip ira n g a , o n a rra d o r v ê "u m m a lu c o d e ca p a
e s fia p a d a , b a te n d o -lh e nos p é s ", q u e " b e rra um p e d a ç o d e m a r
c h a c a rn a v a le s c a q u e n in g u é m o u v e , m as q u e o n a rra d o r p e rse g u e ,
te n ta n d o b u sc a r s e n tid o . Essa fra se su b stitu i p o r a lg u m a s p á g in a s o
re frã o d o G e rm a n o M a tia s e está g ra fa d a a o m o d o d o d isc u rso d i
reto liv re , c o m o se q u e m a d isse se in c o rp o ra s s e ao te x to e e x ib iss e
su a p re s e n ç a : V o c ê c o n h e c e o p e d re iro V a ld e m a r? " Ela a p a re c e ,
in sis te n te , três v e z e s na m e sm a p á g in a , p a ra d e p o is ir a c a lm a n d o
o ritm o , o g rito , e se fa z e r m a is e s p a ç a d a até q u e o p e d re iro V a l
d e m a r se ju n ta c o m G e rm a n o M a tia s : " C a d ê G e rm a n o , q u e fa z ia
b a tu c a d a na lata d e g ra xa e fa la v a na P ra ç a d a Sé?/ - V o c ê c o n h e c e
o p e d re iro V a ld e m a r? " (p . 1 1 9 ).
D u as im p lic a ç õ e s sérias dessa b u sca, tan to do sam bista q u a n to do
p e d re iro , estão dispostas assim no texto d e João A n tô n io :
Com pre em São Paulo o que o mundo tem de melhor (p. 86).
Preços do princípio do século com mensagens de paz inteiramente de
graça (p. 103).
Em São Paulo comer é um despotismo (p. 104).
Imaginamos que você é uma pessoa muito sofisticada, que deseja
realçar sua beleza ou dar a alguém um presente maravilhoso (p. 123).
A palavra vagão, proibida aos jornais pelos órgãos oficiais, só deve ser
usada para transporte de carga ou animais. Assim, que culpa terão os
jornalistas com uma ditadura no lombo, além dos patrões? Alguns,
mais afoitos ou rebeldes, estão comendo processos ou cadeia (p. 134).
A re fe rê n c ia à c id a d e d e M ala g u e ta , Perus e B a c a n a ç o , a q u i, é a in d a
m ais e v id e n te . Interessante p e rce b e r q u e o su rg im ento da luz e lé trica ,
o ato de a c e n d e r a lu z d o poste, tem um sen tid o p rim e iro d e ilu m in ar,
m as o su rg im ento da c id a d e q u e o n arra d o r v islu m b ra p o d e r a in d a v e r
não seria p ro p o rcio n a d o p ela luz q u e se a c e n d e e sim p ela n o ite, q u e
e sco n d e o q u e a p a re c e d u ran te o d ia . V er m eno s seria o n ecessário
para re ave r a c id a d e d e o u tro ra . T ro ca r a c la rid a d e do d ia e seus ho-
m ens ap ressad o s para a so b re v iv ê n cia no tra b a lh o pelo e scu ro e seus
o utros h o m en s q u e so b re vive m d a n o ite, m ais fam in to s, m as talvez
m ais alegres. A exp ressão "h o u v e sse te m p o e sp e ra ria o a p a re cim e n to
d as lu zes e lé trica s" re m e te a o u tro te m p o q u e não o c ro n o ló g ico , já
q u e o n arrad o r ap e n as a n d a , o lh a , re le m b ra , sem d estin o ce rto , sem
hora m a rc a d a , sem um "a o n d e ir" . C o m o se não h ou vesse m o d o de
re c u p e ra r o te m p o p e rd id o , a c id a d e q u e não m ais p e rte n ce a e le , o
h om em q u e já é o u tro . Por isso não é c o m p le ta - e n ão é para se m p re
a vo lta para casa - "p a re c e im p o ssível o re to rn o a q u e m já transpô s o
lim ia r da classe" (B O S I, 2 0 0 2 , p. 2 4 2 ).
A o m esm o te m p o em q u e ressoam as perguntas "o n d e a n d a rá G e r
m an o M atias?, "v o c ê c o n h e c e o p e d re iro V a ld e m a r? ", "q u e c id a d e
é essa q u e não re co n h e ç o m a is?", tam b é m ve m o u tra : "fo i ela q ue
m u d ou ou fui e u ? ".
C O N S ID E R A Ç Õ E S F I N A I S
A RISTÓ TELES. Poética. In: A RISTÓ TELES. Os pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 2000. p. 33-75.
GASPARI, Elio; H O LLAN D A, Heloisa Buarque de; VEN TURA, Zuenir. 70/80,
cultura em trânsito: da repressão à abertura. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.
N OVAES, Adauto (Org.). Anos 70: ainda sob a tempestade. Rio de Janeiro:
Aeroplano; Ed. Senac Rio, 2005.
PAES, José Paulo. Ilustração e defesa do rancor. In: PAES, José Paulo. A aven
tura literária: ensaios sobre a ficção e ficções. Rio de Janeiro: Cia. das Letras,
1990. p. 107-115.
What do the texts produced by readers o f a common internet news have to say
about that news other than what has already been mentioned by the media
that transmitted it? Up to what extent do readers reproduce, in their own wor
ds, the discourse of the medium they visited and up to what point do they exer
cise their critical thinking, thus establishing a relevant public debate and con
tributing to the renewal o f journalism in present times? And up to what degree
are they able to contribute to a broader understanding of the evening news?
That is what we examine in this essay which takes, as the object o f analysis, a
news published on The Globo website about the earthquake which hit Haiti on
January 13th 2010, and the more than 6 00 comments posted it triggered. The
main theoretical tool used for analysis is found on the French scholar Domini
que Maingueneau's Discourse Analysis (DA) methodology, presented here in a
dialogue with authors o f reference in the field o f Social Communication.
Keywords: online journalism, Haiti earthquake, Discourse Analysis
IN TR O D U Ç Ã O
2 A N Á LIS E
Eu nao sabia que o Haiti e um pais vizinho do Brasil. Acho que nao
estudei, direito, geografia. Caramba, como sou burro!!! ou e o repór
ter???? (Site de O Globo, 13 de janeiro de 2010. Comentário enviado
por "olivio pafuncio").
(...) O governo haitiano estima que até 50 mil pessoas morreram no país.
- Espero que isso não se confirme, porque espero que as pessoas te
nham tido tempo de se salvar - disse o primeiro-ministro Jean-Max
Bellerive.
A primeira-dama, Elisabeth Debrosse Delatour, relatou que "a maior
parte de Porto Príncipe está destruída" e que muitos prédios do gover
no desabaram (Site de O Globo, 13 de janeiro de 2010).
C O N S ID E R A Ç Õ E S F I N A I S
FO UCAULT, M ichel. A ordem do discurso. 13. ed. São Paulo: Loyola, 2006.
GOFFM AN, Erving. Les rites d'interaction. Paris: Les Editions De Minuit, 1974.
2 A ÍN T E G R A DA N O T ÍC IA A N A L IS A D A
TRAGÉDIA
O Brasil vai enviar até quinta-feira aviões com ajuda humanitária, carregados
de alimentos, roupas e medicamentos. O ministro da Defesa, Nelson Jobim,
embarcou nesta quarta-feira. As aeronaves deverão aterrissar na República
Dom inicana, já que as condições do aeroporto de Porto Príncipe são pés
simas, e seguir por terra ao Haiti. O governo haitiano estima que até 50 mil
pessoas morreram no país.
- Espero que isso não se confirme, porque espero que as pessoas tenham tido
tempo de se salvar - disse o primeiro-ministro Jean-Max Bellerive.
Leia também:
O arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, disse que sua
irmã "está no coração de Deus", segundo a secretária pessoal do arcebispo,
irmã Devanir.
Segundo o chanceler Celso Amorim disse que trata como desaparecido o bra
sileiro Luiz Carlos da Costa, que ocupa o segundo maior cargo da representa
ção da O N U (Minustah) no Haiti.
34 Uma importante iniciativa feita nesse sentido, ainda que restrita às obras
de Derrida, pelo lado francês, e Gadamer, pelo lado alemão, encontra-se em
M ichelfelder; Palmer, 1989.
35 A crítica humanista pode ser, aliás, por vezes feroz, como retrata John Johnston,
a propósito da reação de "marxistas e humanistas liberais", ao voltarem suas
baterias contra o chamado "pós-estruturalismo" - entenda-se, Nietzsche,
Heidegger, Barthes, Lacan, Foucault, Deleuze, Derrida, Lyotard etc.; enfim,
todo um universo de autores que, apesar de suas singularidades e de suas múl
tiplas diferenças, não teriam problema em aceitar o tema da "morte do autor"
e, por isso, se comprimem sob o selo de "pós-estruturalistas". Uma amostra
dessa crítica: "O pós-estruturalismo parece não fornecer, afinal, nenhuma crí
tica; em vez de articular novos pontos de resistência em torno dos quais, pos
sivelmente, um sujeito crítico possa emergir (...), o pós-estruturalismo dissolve
o sujeito ainda mais completamente nas aporias sem fim da textualidade (...),
e celebra essa dissolução com insolência e risada nietzscheanas como se fos
sem gestos de transgressão" (JO H N STO N , 1990, pp. 68-69).
D e a co rd o co m B arth es, essa situ a çã o va ria em cad a c u ltu ra . A ssim ,
por e x e m p lo , "n as so cie d a d e s etn o g ráficas, não há n u n ca u m a pessoa
en carre g ad a da n arra tiva, m as um m e d iad o r, x a m ã ou re citad o r, de
q u e p o d em o s em rigor a d m ira r a 'p re sta çã o ' [q u e r d izer, a d m ira r o
d o m ín io do código n arrativo ], m as n u n ca o 'gênio ' (,ib id ., é m eu o
a c ré sc im o e n tre co lch e te s). A in d a seg und o B arth e s, o a u to r é u m a
p ro d u ção d a nossa so c ie d a d e q u e , por m e io d e vá ria s d e te rm in a ç õ e s,
co m o o e m p irism o inglês, o ra cio n a lism o fra n cê s e a fé pessoal d a
R e fo rm a , a cab a p o r levar ao prestígio pessoal do in d iv íd u o o u , "c o m o
se d iz m ais n o b re m e n te , d a 'pesso a h u m a n a '". N esse se n tid o , é tão
so m en te através d e um n ão re co n h e c im e n to siste m á tico d e seu c a rá
ter d e co n stru ção q u e o au to r acab a por se a firm a r co m o figura d o m i
n an te e o rg an izad o ra q u e , no d iz e r d e B arth es,
(...) não sei a que conceito filosófico pode corresponder esta palavra
["liquidação" do sujeito] que eu compreendo melhor em outros códi
gos: finanças, banditismo, terrorismo, crim inalidade civil ou política;
e não se fala, portanto, em liquidação senão que se colocando na
posição da lei e mesmo da polícia (D ERRID A , 1992, p. 270, é meu o
acréscimo entre colchetes).
Se no curso dos últimos vinte e cinco anos, na França, as mais notórias des
tas estratégias37 procederam, de fato, a um tipo de explicação com "a ques
tão do sujeito", nenhuma delas procurou "liquidar" o quer que seja (ibid.).
Porque se fala contra o "hum anism o", teme-se que se defenda o inu
mano e se glorifique a brutalidade e a barbaridade. Pois, o que é "mais
lógico" do que isto: a quem nega o humanismo, não resta senão afir
mar a desumanidade?
Porque se fala contra a "lógica" crê-se que se pretenda renunciar ao
rigor do pensamento, para entronizar em seu lugar a arbitrariedade
dos impulsos e sentimentos, e, assim, proclamar, como o verdadeiro,
o "irracionalismo". Pois o que é "mais lógico" do que isto: quem fala
contra o lógico, defende o ilógico?
Porque se fala contra os "valores" surge uma indignação em face de
uma filosofia que - assim se pretende - se atreve a desprezar os bens
mais elevados da humanidade. Pois, o que é "mais lógico" do que
isto: um pensamento que nega os valores, terá necessariamente que
declarar tudo sem valor?
(...)
Porque, em tudo isso, sempre se fala contra o que é sagrado e elevado
para a humanidade, tal filosofia ensina um niilismo irresponsável e
destruidor. Pois, o que é "mais lógico" do que isto: quem, assim, sem
pre nega o ente verdadeiro, coloca-se do lado do não-ente e prega,
com isso, que o simples Nada é o sentido da realidade? (H EID EG G ER ,
1967, pp. 74-75).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não se trata de afirmar que o homem está morto (ou que vai desapare
cer, ou que será substituído pelo super-homem), trata-se, a partir deste
tema, que não é meu e que não cessou de ser repetido desde o final
do século XIX [i.e. desde M arx, Nietzsche e Freud, os grandes "mestres
da suspeita"], de ver de que maneira e segundo que regras se formou
e funcionou o conceito de homem. Fiz a mesma coisa para a noção
de autor. Contenhamos, pois, as lágrimas (FO UCAULT, 1992, p. 81, é
meu o acréscimo entre colchetes).
R E F E R E N C IA S
BARTH ES, Roland. A morte do autor. In: BARTH ES, Roland. O rumor da lin
gua. Lisboa: Edições 70, 1984.
BU RKE, Seán. Reconstructing the Author. In: BU RKE, Seán. Authorship: from
plato to the postmodern. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1995.
BU RKE, Seán. The death and return of the author: criticism and subjectiv
ity in Barthes, Foucault and Derrida. Edinburgh: Edinburgh University Press,
1998.
EDIÇÃO 10
EDIÇÃO 11
EDIÇÃO 12
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Uma análise de eficiência
Vivian Vicente de Almeida
EDIÇÃO 13
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corpo 10/9/8,5, e ITC Officina Sans, em corpo 26/16/9/8, e impressa
em papel off-set 90g/m2, na 52 Gráfica e Editora Ltda.
, 5 0 0 I B 6 „ 6 081-ZZ,
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