Você está na página 1de 2

Ficha de

Português – 9º ano

Episódio do Adamastor (V, 37-60)

Estrutura Interna: Narração


Narrador: Vasco da Gama (narrador homodiegético) Narratário: Rei de Melinde
Plano narrativo: plano da Viagem

1ª parte: Circunstâncias que precedem o aparecimento do gigante (V, 37-38): a viagem


decorria calmamente, quando surge uma nuvem “que os ares escurece” (V, 37), pressagiando algo
terrível. O mar ficou também agitado, o que é expresso através da onomatopeia (“Bramindo o negro
mar, de longe brada” – V, 38). Esta alteração atmosférica desencadeou nos marinheiros um
sentimento de terror e levou Vasco da Gama a inquirir Deus sobre a natureza daquela região que
atravessavam.

2ª parte: Aparecimento e descrição do gigante (V, 39-40): surge um gigante, que é descrito
de forma negativa. O seu tamanho é de tal forma espantoso que é comparado ao Colosso de Rodes,
estátua gigantesca de Apolo, uma das sete maravilhas do mundo. O narrador destaca a sua barba
desgrenhada, os olhos encovados, os cabelos crespos e cheios de terra, a boca negra, os dentes
amarelos e o tom de voz "horrendo e grosso" (V, 40). A descrição do gigante assenta em sensações
visuais e auditivas e culmina no efeito de terror que provoca nos marinheiros: "Arrepiam-se as carnes
e o cabelo, / A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo" (V, 40). Refere-se a ira do Adamastor, justificada
pela ousadia dos portugueses que navegavam os mares do gigante, daí o seu "rosto carregado" e a
"postura medonha e má" (V, 39).

3a parte: Primeiro discurso do Adamastor (V, 41-48) – discurso profético:


 1º momento: o gigante elogia a ousadia dos portugueses, que apresenta como sendo um
povo de grandes feitos, incansável, disposto a quebrar os limites.
 2º momento: o gigante anuncia terríveis castigos (profecia) que serão infligidos aos
portugueses como consequência da sua ousadia: tormentas, naufrágios, "perdições de toda
a sorte" (V, 44). Começa por referir os destinatários dos castigos de forma generalista
("quantas naus fizerem esta viagem", V, 43) e, de seguida, aponta figuras portuguesas que
naquele local perderão a vida: Bartolomeu Dias, que dobrou pela primeira vez o cabo; D.
Francisco de Almeida, 1º vice-rei da Índia; Manuel de Sousa Sepúlveda e a sua família. O
episódio trágico da morte da família Sepúlveda é aquele que merece maior atenção. O
destaque dado a este acontecimento deve-se ao facto de se tratar de uma história de amor
trágica, realidade que se aproxima da experiência pessoal do gigante, que viveu, também
ele, uma história de amor infeliz.

4ª parte: Interpelação de vasco da Gama e 2º discurso do Adamastor (V, 49-59) – discurso


autobiográfico: Vasco da Gama interrompe o discurso do gigante, mostrando-se "maravilhado" (V, 49),
e pergunta-lhe "Quem és tu?" (V, 49). Esta questão obriga o Adamastor a desvendar a sua história
pessoal. Daí a inesperada mudança que se produz nele: abandona o tom de voz ameaçador para
passar a falar com mágoa e dor. O Adamastor passa então a relatar a sua história de amor triste:
apaixonou-se por Tétis, que um dia tinha visto "sair nua da praia". Este sentimento levou o gigante,
que estava envolvido com os seus irmãos numa luta contra Júpiter, a abandonar tudo. Como era muito
feio, decidiu conquistar a ninfa pela força. Esta, que nunca poderia amar um ser gigantesco e feio,
ainda assim, marcou com ele um encontro. Perdido de amor, julgando encontrar-se frente a T´tis,
Adamastor beijou um penedo. Quando reconheceu que tinha sido enganado, pois a ninfa não tinha
comparecido ao encontro, a dor sentida foi tão forte que ele acabou por se transformar num penedo,
que originou o cabo que ele é hoje. Todavia, o seu sofrimento persiste uma vez que continua rodeado
por Tétis, que se encontra nas águas.

5ª parte: O desaparecimento do gigante (V, 60): o gigante desaparece, soltando um profundo


grito de sofrimento. Vasco da Gama agradece a Deus e pede-lhe que retire os castigos que o
Adamastor tinha anunciado.

Simbologia do episódio
 O Adamastor surge como criação maravilhosa a corporizar, a simbolizar a quase intransponível
força do mar;
 Símbolo das forças cósmicas que o homem terá de vencer se quiser da lei da morte se libertar;
 A destruição do Adamastor surge como o completo domínio dos mares pelos Portugueses;
 No fim, o Adamastor surge como o anti-herói para dar lugar a heróis de carne e osso, a heróis
reais;
 Simbologia reforçada pelo facto de o episódio estar colocado no centro do canto V que também
é o centro de Os Lusíadas.

V, 57, v.4

Identifica-se com o
monte
Cabo das Tormentas

nuvem A nuvem desfaz-se

Adamastor

Está no imaginário dos


sonho homens

É o anti-herói, com a
nada vitória dos Portugueses
ao chegarem à Índia

A_Prova, Carla Marques e Inês Silva, ASA (adaptado)

Você também pode gostar