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Universidade Federal de Pernambuco

Departamento de Arqueologia

Mestrado em Arqueologia

Disciplina: Arqueologia Funerária

Docente: Allan Leonardo Silva

Referência: BINFORD, L. Las prácticas funerárias: su estúdio y su potencial.


Journal of Western Mediterranean Prehistory and antiquity,1997, p.11-47

Resenha Crítica

O autor se propõe em mostrar, apesar de não ser exatamente sua principal


área de estudo no processualismo, as potencialidades dos estudos das
práticas funerárias como práticas não só ‘’técnicas’’, isto é, com os objetivo de
dar um fim ao corpo, mas como prática social, o que até então, para a época,
não se tinha tanta abordagem, pelo menos não na arqueologia. Assim, é feito
um apanhado com as principais ideias que cercavam a arqueologia sobre esse
tema, desde as leituras pelos antropólogos, abordando perspectivas mais
filosóficas, históricas, entre outras, com o intuito de refutá-las.

Assim, após apresentar seus argumentos refutando as ideias anteriormente


trabalhadas, o autor apresenta as potencialidades do estudo como uma
abordagem processualista. Uma das bases desses estudos era que, através da
teoria dos sistemas, os diversos subsistemas estariam interligados. Assim, a
partir de um subsistema poder-se-ia chegar em outro, assim, nesse caso, por
meio das práticas funerárias, alcançar a economia, estrutura social, religiosa,
etc.

Essa visão de práticas funerárias por meio da teoria dos sistemas é utilizada
ainda hoje por muitos pesquisadores, ainda que utilizem um discurso pós-
processulista, usam em suas metodologias de pesquisa, as práticas funerárias
para chegar em outros subsistemas, o que, vale apontar, não deixa de estar
certo ou errado, desde que apresente resultados confiáveis e interpretações
condizentes, isto é, que não seja contraditórias.

Na apresentação da potencialidade desses estudos são introduzidos conceitos


importantes, que por sinal, ainda utilizados até hoje como o de persona social,
status, entre outros, apesar de terem passado por evoluções e adaptações, a
depender do contexto, época e corrente teórica. Conceitos esses que buscam
associar o contexto funerário como um reflexo da vida dos vivos, assim, na
busca das estruturas sociais.
Para comprovar as proposições, Bindord apresenta estudos nos quais enfoca
na possibilidade de que a variabilidade do contexto funerário poder contribuir
em interpretações acerca das estruturas sociais, seguindo a lógica do
evolucionismo cultural, o qual foi alvo de críticas para com o histórico-
culturalismo, que por fim, não tiveram êxito em se desvincular dessa ideia.

Assim, como um bom estudo processualista, foi elencado diversas variáveis,


com diversos grupos de sociedades ao redor do mundo (40 ao total) para
explicar como essas práticas (por meio da sua variabilidade) explicava os tipos
de sociedades que as elaboraram (caçadores coletores, agricultores
itinerantes, agricultores sedentários e pastores). Nota-se, que mesmo que para
um estudo com abordagem nova, foram utilizadas classificações muito
limitadas e preconceituosas, ainda mais quando se trata que a arqueologia
passou a ter uma aproximação ainda maior com a antropologia.

Outras questões são a escolha por se trabalhar com esses grupos, optando por
grupos de todo o mundo (talvez na busca por uma aplicação geral desse
estudo – por meio das leis e padrões – que valessem para todos os grupos
humanos) torna-se bastante questionável, onde todos as sociedades deveriam
se refletir nos resultados nos quais chegou Binford.

Além disso, por mais que se fale em como a variabilidade possa responder
sobre as estruturas sociais e apesar de não estar claro pelo autor, trata-se na
quantidade de variáveis disponíveis no contexto, e não em como as
variabilidades enquanto diferenças dos dados possam contribuir nas
interpretações, uma vez que no estudo é focado apenas nas semelhanças que
as variáveis podem apresentar como marcadores para se alcançar as
estruturas sociais.

Por fim, o artigo apresenta-se com um texto que por vezes torna-se repetitivo,
isso pois, o autor, apresenta suas ideias e fica sempre retomando-as numa
tentativa não só de corroborar mas quase de convencimento.

É certo que essas contribuições, para a época, foram inovadoras, e não se


pode tirar o mérito delas, além disso, é um dos artigos mais citados nessa área
de estudo. Entretanto, assim como outros estudo pioneiros da arqueologia,
como ‘’Cerâmica Guarani’’ de Brochado, é um texto demasiado antigo, e que
muitos outros que sucederam tiveram contribuições tão importantes quanto.
Com interpretações mais atualizadas e ainda mais focadas na arqueologia
contemporânea, ainda que se trabalhando com a arqueologia processual.

Assim, é preciso analisar não só os estudos a partir da sua gênese, para um


melhor entendimento de como e porque se esta escolhendo aquele tipo de
argumentação, mas também de ficar atento para não se perder, como se fazia
a arqueologia de outrora, estando atrasado nas discussões das pesquisas.

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