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Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP

Departamento de Engenharia de Construção Civil

ISSN 0103-9830
BT/PCC/285

DESCOLAMENTOS DOS REVESTIMENTOS


CERÂMICOS DE FACHADA NA CIDADE DO
RECIFE
Angelo Just
Luiz Sérgio Franco
São Paulo – 2001
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Departamento de Engenharia de Construção Civil
Boletim Técnico – Série BT/PCC

Diretor: Prof. Dr. Antônio Marcos de Aguirra Massola


Vice-Diretor: Prof. Dr. Vahan Agopyan

Chefe do Departamento: Prof. Dr. Alex Kenya Abiko


Suplente do Chefe do Departamento: Prof. Dr. João da Rocha Lima Junior

Conselho Editorial
Prof. Dr. Alex Abiko
Prof. Dr. Francisco Cardoso
Prof. Dr. João da Rocha Lima Jr.
Prof. Dr. Orestes Marraccini Gonçalves
Prof. Dr. Antônio Domingues de Figueiredo
Prof. Dr. Cheng Liang Yee

Coordenador Técnico
Prof. Dr. Alex Abiko

O Boletim Técnico é uma publicação da Escola Politécnica da USP/Departamento de Engenharia de


Construção Civil, fruto de pesquisas realizadas por docentes e pesquisadores desta Universidade.

Este texto faz parte da dissertação de mestrado de mesmo título, que se encontra à disposição com
os autores ou na biblioteca da Engenharia Civil.

FICHA CATALOGRÁFICA
Just, Angelo
Descolamentos dos revestimentos cerâmicos de fachada na
cidade do Recife / A. Just, L.S. Franco. – São Paulo : EPUSP,
2001.
25 p. – (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, De-
partamento de Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/285)

1. Construção civil - Defeitos 2. Revestimento cerâmico


(Construção civil) – Descolamentos I. Franco, Luiz Sérgio II.
Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento
de Engenharia de Construção Civil III. Título IV. Série

ISSN 0103-9830 CDU 69.059.22


693.6


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As edificações situadas em regiões litorâneas apresentam um grande número


de patologias, motivadas pela agressividade do meio em que se encontram. Na
cidade do Recife, o descolamento em revestimentos cerâmicos de fachada é
um dos principais problemas encontrados, sobretudo em face da complexidade
envolvida na sua produção e a falta de conhecimento generalizada observada
naqueles que se propõem a executá-los.

O presente trabalho trata da análise dessa patologia através da discussão de


10 casos reais encontrados na cidade, precedido por uma descrição dos
aspectos mais importantes relacionados com o fenômeno.

Através dessa pesquisa, conclui-se que o descolamento de que se trata pode


ser evitado a partir da observância das suas três origens principais: os
materiais utilizados, os procedimentos adotados para a produção e os aspectos
relacionados com o projeto.

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Buildings placed in littoral areas present a great number of pathologies, due to


the inherent aggressiveness of the environment in those areas. In the city of
Recife, where this research is being developed, the detachment of facade
ceramic tiling is one of the greatest found problems, mainly because of the
complexity involved in its production and the lack of technical expertise
observed in those who execute the tiling.

The present work analyzes that specific pathology by discussing of 10 real


cases found in the city. The study is preceded by a characterization of the most
important aspects.


In those conditions, one concludes that the detachment can be avoided by


observing in three main origins: the used materials, the procedure adopted for
the production and the aspects related to the project.

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Durante a concepção de uma edificação, cabe ao projetista analisar as


etapas envolvidas nesse complexo sistema, ou seja, a fundação, a super-
estrutura, as vedações, os revestimentos, as instalações, entre outras. Nesta
fase, devem ser previstos todos os condicionantes envolvidos na sua produção
e, sobretudo, o comportamento futuro dos seus elementos e componentes,
objetivando um desempenho adequado à finalidade a que se destina.

Entretanto, após concluída a construção, apenas a camada de


revestimento permanece exposta, de modo a proporcionar conforto funcional e
estético ao seu usuário. Os revestimentos das superfícies externas, em
especial as fachadas, são verdadeiros formadores da imagem do imóvel,
indicativo do que se deve encontrar no seu interior.

Segundo AMBROSE (1992), a principal impressão causada pelos


edifícios nas pessoas consiste no que é visto pelo seu exterior. Para cada
oportunidade de análise dos aspectos internos de uma edificação, a pessoa,
seja caminhando, ou até de dentro do seu automóvel, faz centenas e milhares
de “inspeções” acerca do visual externo dos imóveis, conforme um critério
particular de julgamento. Assim, ainda segundo esse autor, os materiais devem
ser cuidadosamente selecionados para atender tanto aos aspectos estéticos
como também aos de durabilidade.

Para CAPOZZI (1996), a fachada, maior forma de expressão de uma


obra, pode-se tornar um diferencial de mercado na venda do imóvel, uma vez
que o usuário potencial, cercado por tantas opções, acaba decidindo por
aquele que mais se aproxime das suas expectativas e seus sonhos.

DORFMAN; PETRUCCI (1989) afirmam que, à queda do desempenho


funcional de uma fachada, provocado pelo surgimento de uma patologia, deve-
se somar um prejuízo de natureza estética e simbólica, representado pela
deterioração visual da edificação. Eles afirmam, ainda, que as partes


constituintes dessa envoltória apresentam, pela sua própria natureza, uma


grande incidência de manifestações patológicas.
O revestimento cerâmico de fachada, quando bem executado, pode
proporcionar proteção à edificação, devido à sua durabilidade, leveza,
chegando a 18 kg/m2, contra 43 kg/m2 das pedras naturais (REVESTIMENTO,
1999), e flexibilidade na escolha das opções decorativas. Os usuários podem
também desfrutar de um imóvel mais valorizado, sob o ponto de vista estético,
além de várias outras vantagens, como conforto térmico, por exemplo, uma vez
que as peças cerâmicas são boas refletoras da radiação solar1, sobretudo as
de cores claras.
Para PEIXOTO (1992), não há outro material utilizado em fachadas que
possa apresentar a riqueza de composições e durabilidade do revestimento
cerâmico, com um custo tão acessível.
Conforme a ANFACER (1994), os fatores que levam os arquitetos a
optarem pela utilização do revestimento cerâmico na fachada são: durabilidade,
facilidade de manutenção e limpeza, beleza e possibilidade de combinação das
peças e cores.
Um aspecto importante inerente ao sistema de revestimento cerâmico de
fachada é o grande número de insumos envolvidos na sua produção. Nesse
processo, todos os componentes podem, de alguma forma, alterar ou
comprometer o desempenho global, através das características da base, das
argamassas de emboço e de assentamento, da placa cerâmica, do rejunte e
das juntas. Como se pode observar, com um número de variáveis tão grande, o
controle da produção fica dificultado, uma vez que envolve desde os projetos,
os materiais, a produção e até mesmo as atividades de operação (uso e
manutenção).
A falta de cultura de manutenção preventiva nas edificações, sobretudo
na fachada, é uma consideração importante para as patologias dos
revestimentos externos. De uma maneira geral, o condomínio espera tal

1
A cerâmica apresenta uma condutibilidade térmica (λ), em W/mºC, em torno de 0.46, bastante
inferior a outros materiais mais condutores também utilizados como revestimento externo,
como, por exemplo, o concreto armado e as argamassas de cimento e cal, que chegam a
valores de λ iguais a 1.75 e 1.05, respectivamente (FROTA, A.B.; SCHIFFER, S.R.; 1995).


procedimento, pelo menos nos primeiros anos, por parte da construtora, que,
na maioria das vezes, transfere a responsabilidade de volta para os moradores.
As atividades de manutenção preventiva2, além de exigirem recursos
bem inferiores aos necessários para recuperação, proporcionam ao imóvel uma
valorização comercial, além de melhorar a estética e incrementar segurança
aos moradores e vizinhos (CIÊNCIA, 1993).
Segundo SARAIVA (1998), a importância do estudo das patologias nos
revestimentos cerâmicos de fachada de uma edificação decorre do fato de que
todos os seus requisitos de desempenho dependem fundamentalmente da
estabilidade da fachada.
No Nordeste, há uma grande incidência de utilização desse tipo de
revestimento na fachada. GOMES et al. (1997) afirmam que cerca de 39% dos
revestimentos externos observados em edifícios com mais de cinco pavimentos
localizados na orla marítima de Maceió/AL são constituídos por placas
cerâmicas, sem considerar os casos de revestimentos mistos, onde são
observadas combinações entre dois ou mais materiais diferentes (cerâmica e
pintura, pedras e concreto aparente, etc.). De uma maneira geral, essa
tendência é observada também em outras cidades da região, especialmente
nas capitais dos estados.
Por outro lado, as condições climáticas da região são bastante
favoráveis ao aparecimento de patologias. Isso pode ser observado na figura
1.1, obtida do INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET), na qual
são mostrados os índices de temperatura, umidade relativa e insolação, em
todo o território nacional. Na figura 1.2 se apresentam curvas esquemáticas da
velocidade do vento na região Nordeste, obtida no CENTRO BRASILEIRO DE
ENERGIA EÓLICA (CBEE).
A temperatura anual média em praticamente todo o Nordeste e Norte é
superior à verificada nas demais regiões do país. Nas épocas de verão e
inverno, observam-se diferenças de 3o C e 15o C, respectivamente, entre as
temperaturas dessas regiões.

2
Segundo PEREZ (1989), atividades de manutenção corretiva visam recuperar ou corrigir
falhas apresentadas no edifício ou parte dele, e a manutenção preventiva tem a finalidade de
prever, detectar ou corrigir defeitos, evitando o aparecimento de falhas.


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A insolação na maior parte do ano no Nordeste é também superior ao


observado nas outras regiões, estando próximo apenas dos valores
encontrados no Centro Oeste e Rio Grande do Sul.
Com relação à umidade relativa do ar anual, há pouca diferença entre as
principais capitais do país. São encontrados valores mais altos nas áreas
próximas ao litoral e em toda a região Norte, em face do maior índice de
precipitação anual verificado nesses locais.


As altas temperaturas e a insolação direta durante praticamente todo o


ano no Nordeste proporcionam uma maior facilidade para secagem rápida das
argamassas de emboço e de assentamento, maior dilatação térmica das peças
cerâmicas, etc. Além desses, a alta velocidade constante do vento verificada
na região, especialmente nas cidades litorâneas (como se observa na figura
1.2), também provoca uma secagem prematura, podendo até, nos casos das
fachadas voltadas para a orla marítima, haver possibilidade de ocorrer, em
situações extremas, problemas quanto à névoa salina que eventualmente
penetre pelo rejunte (RODRIGUES, 1997a).
Por outro lado, a umidade do ar relativamente alta contribui no sentido
de reduzir a perda de água das argamassas de emboço e de assentamento
para o ambiente, o que é benéfico para o processo de produção. Esses são
apenas alguns exemplos de como as condições climáticas da região, em
especial, interferem no surgimento de patologias.

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Dentre todas as patologias observadas nos revestimentos cerâmicos de


fachada (RCF), sem dúvidas aquela que apresenta o maior grau de incidência
é o descolamento ou perda de aderência entre a peça cerâmica e o suporte.


Além de ser a mais encontrada, essa é a manifestação mais perigosa e que


exige maior atenção, devido aos riscos causados aos usuários.
Nos prédios de alto e médio porte, onde é mais comum esse tipo de
revestimento, normalmente são projetadas lajes com mezanino para áreas
comuns (salão de festas, playground), ou garagem para automóveis, as quais
permanecem diretamente expostas a todo tipo de problema nas fachadas.
Assim, a queda de uma peça cerâmica, de alturas de 3,0 a 40 ou 50 metros,
pode causar enormes danos materiais e, principalmente, riscos à segurança
das pessoas.
Segundo CAMPANTE; SABBATINI (1999), a perda de aderência é um
fenômeno causado por falhas ou rupturas na interface da cerâmica com a
argamassa adesiva, ou mesmo desta com o substrato, devido a tensões
surgidas que ultrapassam a capacidade resistente das ligações.
Os problemas patológicos observados nas edificações, independente
das suas formas de manifestação, podem ter origem em uma enorme gama de
fatores, em função da grande complexidade dos vários sistemas envolvidos,
inerente aos processos construtivos. Geralmente, as falhas não ocorrem devido
a uma única razão, mas provavelmente decorre de uma combinação delas
(CASIMIR, 1994).
Como enfatiza ARANHA (1994), a causa de uma patologia pode ser
entendida como o procedimento inadequado, adotado durante o processo
construtivo, que provocou alteração no desempenho esperado de um elemento
ou componente da edificação. Esse conceito está em conformidade com a
terminologia adotada pelo W86 (CIB, 1993), apesar dessa definição não se
apresentar descrita no seu apêndice F, onde estão relatados os principais
termos empregados no estudo de patologias.
Entendidas as causas para o surgimento do problema, é importante se
determinar as suas origens, o que pode ser difícil em algumas situações.
Quando, por exemplo, o descolamento do revestimento cerâmico ocorre na
camada de argamassa colante, a origem dessa deficiência pode ser atribuída à
produção, por conta de falhas de aplicação do operário (devido à abertura de
panos de argamassa muito extensos), ou ao próprio material, em decorrência
da sua capacidade de aderência insuficiente.


Especialmente para os revestimentos de fachada, COZZA (1996) afirma


que é preciso conhecer as características dos materiais e sua adequação ao
local, projetar juntas, dosar adequadamente a argamassa, e dispor de uma
excelente mão-de-obra e controle do produto que chega ao canteiro para se
previnir quanto ao surgimento de patologias.

RODRIGUES (1997b) apresenta as causas mais comuns para o


descolamento nos RCF: a inexistência de juntas de movimentação, a
deficiência no assentamento da cerâmica e, ainda, a inadequação do material
empregado.

GOMES et al. (1997), em pesquisa realizada na cidade de Maceió,


citaram como causas para o problema o uso inadequado da argamassa
industrializada para o assentamento, emprego de cerâmica com elevados
índices de absorção de água e dilatação térmica, infiltração de água por falta
de impermeabilização de jardineiras e varandas, e saliências presentes nas
fachadas. Assim, segundo eles, a origem para grande parte desses problemas
é proveniente da falta de planejamento, na etapa de projeto, seguido por uma
parcela decorrente dos materiais, e também por fatores ligados à execução.

MEDEIROS (2000), com base em cerca de 17 casos estudados,


apresenta três causas consideradas mais importantes e encontradas em
problemas de descolamento nos RCF: ausência de juntas de dilatação,
preenchimento deficiente do tardoz da cerâmica com argamassa adesiva e
inadequada especificação desse material. Para ele, a origem dessas causas
está ligada a aspectos de projeto, técnicas de aplicação, e definição de
materiais e procedimentos de controle.

Para BAUER (1996), os decolamentos podem ser causados por erros de


execução, uso de materiais inadequados ou desconhecimento acerca das suas
características, deficiências na etapa de projeto, além da falta de manutenção.

PRÖPSTER (1980) apresenta casos de problemas de descolamento em


revestimentos cerâmicos, decorrentes da ausência de juntas de dilatação
(agravada pela utilização de placas de cor escura e ocorrência de choque
térmico), colocação de juntas “fictícias”, as quais não penetram em todas as
camadas (apenas aplicação de selante superficial), além de diversas outras


patologias em revestimentos, de uma maneira geral, como manchamentos,


eflorescência, etc.
Em trabalho apresentado por CAMPANTE; SABBATINI (2000), foram
analisados 4 casos patológicos em RCF, os quais tiveram como origens
principais deficiências relacionadas com projeto (ausência de juntas), materiais
(especificação inadequada da placa cerâmica e argamassa adesiva) e
processo de produção (falha de preenchimento).
Para CASIMIR (1994), as origens para o surgimento de problemas em
RCF podem ser sintetizadas em falhas no projeto e deficiências do construtor.
Assim, de acordo com o observado, pode-se sintetizar as origens para o
aparecimento de manifestações patológicas nas edificações, salientando os
aspectos relacionados aos RCF, da seguinte forma:

• 0DWHULDLV Utilização de componentes (cerâmica, juntas, rejuntes,


argamassa de assentamento, cimento, cal, areia e suas misturas) em
desacordo com as especificações e recomendações da normalização
brasileira, ou, quando da sua inexistência, de normas internacionais e
pesquisas já realizadas;
• 3URMHWR Todos os aspectos ligados à concepção da edificação, desde a
falta de coordenação entre projetos, escolha de materiais inadequados, até
a negligência quanto a aspectos básicos como o posicionamento de juntas
de dilatação e telas metálicas;
• 3URGXomR Envolve o controle de recebimento dos materiais, preparação
das misturas, obediência aos prazos mínimos para a liberação dos serviços
e, principalmente, o acompanhamento da execução de todas as camadas
dos RCF, sobretudo o assentamento das cerâmicas;
• 8VR Trata dos fatores ligados à operação durante a vida do componente e,
fundamentalmente, às atividades de manutenção requeridas para um
desempenho adequado do conjunto com o decorrer dos anos.

Em decorrência da grande incidência de problemas relacionados com o


assentamento da cerâmica, é muito importante analisar o grau de vazios de
preenchimento da argamassa colante no tardoz, tanto para as peças ensaiadas


como aquelas que se tenham descolado da fachada. Em função da redução da


extensão de aderência gerada pela existência de vazios, verifica-se uma
relação direta entre o percentual de vazios e a queda de resistência de
aderência do sistema.
Segundo CAMPANTE; SABBATINI (1999), as deficiências de mão-de-
obra refletem-se, entre outros, em: técnicas de colocação impróprias,
colocação sobre suporte não devidamente preparado, aplicação em condições
climáticas desfavoráveis, falta de ferramentas apropriadas e controle ineficiente
do assentamento pelo responsável técnico.
Em função da ainda recente publicação pela ABNT das principais
normas (inclusive revisões) que ora norteiam as características dos materiais,
produção e projeto para os RCF, cabe aos especialistas tentar divulgar os seus
preceitos o quanto antes a todos os segmentos da construção.

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Dentro do propósito do trabalho de analisar os problemas de


descolamento em RCF na cidade do Recife, foram escolhidos 10 casos reais
que representassem os fatores intervenientes mais comumente encontrados
para surgimento da patologia, levando-se em conta os condicionantes
envolvidos nas etapas de projeto, produção e especificação dos materiais, na
região.
A análise geral dos casos apresentados tem o objetivo de agrupar, de
uma forma ordenada, as características presentes na maioria das
manifestações patológicas encontradas, não apenas nesses como também em
diversos outros casos na cidade.
Levando-se em conta, ainda, a semelhança entre as condições de
exposição, os tipos de materiais utilizados, e até o nível de desenvolvimento
tecnológico, é possível considerar que muitos dos fatores observados nesse
trabalho podem ser estendidos para os demais edifícios do Recife e
possivelmente até dos outros estados do Nordeste, região onde certamente há
também grande incidência do uso de RCF.


A fim de orientar as considerações feitas a respeito dos casos


estudados, são apresentadas as tabelas 3.1, 3.2, 3.3 e 3.4. Elas apresentam,
respectivamente, a descrição dos edifícios analisados, histórico dos problemas,
diagnóstico dos fatores influentes e quadro sintético das causas, de forma
conjunta agrupando todos os casos.

Pode ser observado que não há um fator preponderante para o


surgimento do descolamento nos RCF, assim como acontece na maioria das
manifestações patológicas nas edificações. Em geral, contribuem
simultaneamente aspectos relacionados com os materiais empregados, o
processo de produção e o projeto, com intensidades diferentes, caso a caso.

De uma maneira geral, conforme tabela 3.2, os primeiros sinais de


descolamento começam a aparecer logo após o término da construção,
iniciando a partir dos pontos considerados mais críticos, tais como a fachada
poente, trechos em curva, placas cerâmicas escuras, etc. Essa ocorrência
praticamente imediata foi observada em 7 dos 10 casos analisados.

Nas fachadas poente devem ser tomados cuidados especiais com


relação à efetiva aplicação dos procedimentos recomendados, especialmente
durante a produção no período da tarde, uma vez que a base (tanto a alvenaria
como o próprio emboço) para o assentamento já se apresenta bastante
aquecida, devido à incidência solar indireta, por toda a manhã, e direta, no
momento da aplicação.

Assim que as placas cerâmicas começam a descolar e cair, é muito


comum na região as empresas construtoras realizarem serviços de remoção e
substituição das peças soltas e estufadas, conforme verificado em 8 dos 10
casos. Além disso, quando não há juntas de dilatação, observa-se com
freqüência a tentativa de simular tais juntas horizontais a cada pavimento, em
geral apenas substituindo-se o rejunte original por mastique elástico,
comprometendo, com isso, o seu desempenho. Em 4 casos analisados foi
adotado esse procedimento, que, na maioria das vezes, torna-se apenas um
paliativo, postergando por mais alguns meses a ocorrência inevitável do
descolamento.


Para uma descrição mais detalhada das causas verificadas no presente


estudo, será feita, a seguir, uma distinção entre os aspectos relacionados com
os materiais e componentes, com o processo de produção e com o projeto.


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'HVFULomR &$62$ &$62% &$62& &$62' &$62( &$62) &$62* &$62+ &$62, &$62-

DATA CONST 1980 1992 1997 1998 1995 1996 1992 1997 1993 1990

No.PAVTOS 19 13 10 17 9 / 10 (2 blc) 18 20 (2 blocos) 7 11 (2 blocos) 12

2
ÁREA EST (m ) 4.700 2.800 2.400 1.500 1.750 7.650 4.400 1.300 3.000 2.800

PANO PRINC. Norte Leste Leste / oeste Leste Leste Leste Leste Norte Norte Leste

ABERTURAS

Leste PCO MTO MED MTO MTO MTO MTO PCO PCO MTO

Oeste PCO PCO MED NÃO PCO PCO PCO PCO PCO PCO

Norte MTO MED MED MED MED PCO PCO MTO MTO PCO

Sul PCO MED PCO MED MED PCO PCO MTO PCO PCO

CAIXA DE Pano sul - Pano oeste - Pano sul - Pano oeste - Pano oeste - Pano oeste - Pano sul - Pano sul - Pano oeste -
Pano interno
ESCADA Vermelho Azul escuro Azul escuro Branco Cinza escuro Bege Branco Cinza claro Azul

EMBOÇO Saibro Cal Cal Cal Cal Saibro Cal Cal Saibro Saibro

PROCESSO
Dupla colagem Dupla colagem Desempeno Desempeno Dupla colagem Desempeno Desempeno Dupla colagem Dupla colagem Dupla colagem
ASSENTAM
10 x 20 cm 10 x 20 cm
DIM CERÂMICAS 6 x 23 cm 10 x 20 cm 10 x 20 cm 10 x 10 cm 20 x 20 cm 10 x 20 cm 10 x 10 cm 10 x 20 cm
10 x 10 cm 10 x 10 cm
Azul escuro Cinza escuro Preto Azul escuro
Vermelho Azul escuro Azul escuro Vermelho Vermelho Azul escuro
CORES Azul claro Vermelho Vermelho Cinza claro
branco Azul claro Verde claro Branco Bege Cinza claro
Branco Branco Branco Vermelho
Ausência de Gretamento Curva Espessura 2 Blocos Curva
Observações Junta falsa Gretamento
rejunte Junta falsa Gretamento cerâmica Gretamento 2 Blocos

&5,7e5,2 &Ï' HVWLP

POUCO PCO 0 - 15
MÉDIO MED 15 - 30
MUITO MTO > 30


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'HVFULomR &$62$ &$62% &$62& &$62' &$62( &$62) &$62* &$62+ &$62, &$62-
PERÍODO DE
1990 (10 anos) 1997 (5 anos) 1997 (0 ano) 1998 (0 ano) 1995 (0 ano) 1996 (0 ano) 1992 (0 ano) 1997 (0 ano) 1993 (0 ano) 1992 (2 anos)
OCORRÊNCIA.

INCIDÊNCIA

Leste MTO NÃO MED NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO PCO NÃO

Oeste PCO MTO (CE) MTO MTO MTO (CE) MTO (CE) MED MTO MTO MTO (CE)

Norte NÃO MED MED MED MED PCO MED MTO MTO PCO

Sul MTO MED MTO (CE) NÃO MED PCO MED NÃO MED PCO

AC / CER AC/CER
TIPO RUPTURA AC AC AC AC AC
(descolamento) AC/EMBOÇO AC/EMBOÇO
EMBOÇO EMBOÇO EMBOÇO EMBOÇO

Substituição Substituição Substituição Substituição Substituição


RECUPERAÇÃO Substituição Substituição Remoção Substituição
Mastique Mastique Mastique Execução laje Mastique

&5,7e5,2 &Ï' HVWLP


POUCO PCO 0 - 15
MÉDIO MED 15 - 30
MUITO MTO > 30


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0$7(5,$,6

Absorção 2,06%  5,70% 5,98%  2,93% 4,57% 5,83% 6,15% 11,30%

EPU 0,13 ,03 ,03 0,38 ,03 0,02 0,39 0,03 0,27 ,03

Gretamento IMP (esmaltada) 6,0 6,0 6,0 / 2 NÃO 6,0 NÃO NÃO 6,0

TOTAL: 27 TOTAL: 12 TOTAL: 12 TOTAL: 12 TOTAL: 11 TOTAL: 6 TOTAL: 12 TOTAL: 12 TOTAL: 18 TOTAL: 12
ENSAIO AP: 13 AP: 3 AP: 7 AP: 8 AP: 3 AP: 6 AP: 2 AP: 2 AP: 1 AP: 8
ADERÊNCIA AC: 6 AC: 3 AC: 1 AC: 3 AC: 5 AC: 0 AC: 3 AC: 2 AC: 2 AC: 1
RP: 8 RP: 6 RP: 4 RP: 1 RP: 3 RP: 0 RP: 7 RP: 8 RP: 15 RP: 3

A Colante NC & & & NC NC C NC NC &

EMBOÇO & NC NC NC NC & NC NC & &

352-(72

JUNTAS NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO

CONC. CELULAR
OUTROS AUS. REJUNTE COR ESCURA COR ESCURA COR ESCURA COR ESCURA
JANELAS

352'8d­2

PREENCH TOTAL TOTAL TOTAL


TOTAL 9$=,26 TOTAL 9$=,26 TOTAL TOTAL 9$=,26
TARDOZ (10% vazios) (10% vazios) (10% vazios)

&5,7e5,2 &Ï' 5DGHUrQFLD 03D


APROVADO AP > 0,30 C - Contribui
ACEITÁVEL AC 0,20 - 0,30 NC - Não contribui
REPROVADO RP < 0,20


7DEHOD$1È/,6(&203$5$7,9$'26(678'26'(&$626 4XDGURVLQWpWLFR&DXVDV
'HVFULomR &$62$ &$62% &$62& &$62' &$62( &$62) &$62* &$62+ &$62, &$62-

CERÂMICA CERÂMICA CERÂMICA CERÂMICA CERÂMICA


(Abs / Gret) (Gret) (Gret) (Abs / Gret) (Abs / Gret)

0$7(5,$,6 ARG. COLANTE ARG. COLANTE ARG. COLANTE ARG. COLANTE ARG. COLANTE

EMBOÇO EMBOÇO

JUNTA JUNTA JUNTA JUNTA JUNTA JUNTA JUNTA JUNTA JUNTA JUNTA

352-(72
JUNTA CEGA FISSURAS

VAZIOS VAZIOS VAZIOS

352'8d­2
EMBOÇO EMBOÇO EMBOÇO EMBOÇO
(ruptura (ruptura (ruptura (ruptura
superficial) superficial) superficial) superficial)


 0DWHULDLV

Com relação às placas cerâmicas utilizadas, é importante salientar a


correlação existente entre a expansão por umidade e o gretamento. A
ocorrência visível de gretamento da placa cerâmica (chegando, em 3 dos casos
estudados, a “desprender” o vidrado) é um indicativo de uma elevada expansão
por umidade, a qual pode ser representativa de uma falha do material que
contribui para o surgimento do problema.
A maior dificuldade em se analisar esse fato é a impossibilidade de
ensaiar placas já “gretadas” com relação ao seu grau de expansão por
umidade, conforme determinação contida na NBR 13.818 (ABNT, 1997), sob
pena de comprometer a confiabilidade do resultado.
Outro aspecto muito importante referente à placa cerâmica é o grau de
absorção de água. Foram encontrados, em 3 casos, valores médios entre 11%
e 15%, bem acima da faixa de 3% a 6% recomendada pela ANFACER. Esse
comportamento pode comprometer tanto a ancoragem física entre a cerâmica e
a argamassa de assentamento, como também o desempenho dessa própria
argamassa, em face da sucção excessiva da água presente na sua mistura.
Ainda com relação à absorção de água, observa-se uma correlação
entre o aumento do seu valor e o crescimento da expansão por umidade das
placas, o que foi verificado nos casos onde não houve gretamento.
No caso D salienta-se a influência da espessura da cerâmica no seu
descolamento. É interessante notar que não há relatos conhecidos, a menos
em algum eventual caso específico pouco representativo, de problemas de
descolamento em placas cerâmicas com espessura superior a 10 mm, na
região. Porém, a sua aplicação também não é muito usual, em função do alto
custo. Seria importante a realização de estudos para verificação do
desempenho satisfatório dessa cerâmica.
A análise da tabela 3.3 quanto à argamassa colante mostra que essa
camada também interfere bastante no problema de descolamento, sendo
observada essa tendência em 5 dos 10 casos analisados.
As argamassas de emboço encontradas nos casos estudados
apresentaram comportamentos bastante distintos. As misturas de cimento, cal

e areia, em geral, atendem às exigências de aderência exigidas para o uso em
revestimento de fachada, apesar de, em alguns pontos ensaiados, não estarem
rigorosamente de acordo com os critérios mínimos de resistência de aderência
exigidos pela NBR 13.749 (ABNT, 1996a).
Já as argamassas de emboço com saibro, além dos problemas
relacionados com a produção, apresentam ainda uma grande variabilidade no
fornecimento do próprio saibro, caracterizado pela diferença de tonalidade, a
qual pode gerar tensões de resistência de aderência bastante distintas em um
mesmo pano de fachada, como foi observado nos casos A e I.
Assim, no que se refere aos materiais como origem do descolamento,
observa-se como principais causas as características da cerâmica (absorção
de água, expansão por umidade e gretamento), deficiências na argamassa
colante, ambos verificados em 5 dos 10 casos analisados, e problemas de
baixa capacidade de aderência em algumas regiões das argamassas de
emboço com saibro, decorrentes de falhas de controle de recebimento e
dosagem motivadas pela variabilidade no fornecimento desse material.

 3URGXomR

No que diz respeito ao processo de produção, é importante enfatizar que


o seu item de controle mais efetivo é o grau de preenchimento do tardoz da
cerâmica com argamassa de assentamento. Outro aspecto também
significativo é o controle da execução de elevada espessura de emboço,
através da aplicação de cheias sucessivas e colocação de telas metálicas.
O processo empregado no assentamento da cerâmica tem uma
correlação direta com o grau de preenchimento do tardoz. No processo antigo
de execução, conhecido como dupla colagem, o tardoz da placa recebe uma
aplicação da argamassa antes de sua colocação na parede, privilegiando o seu
completo preenchimento.
A partir do surgimento das argamassas colantes industrializadas,
providas, entre outros, de aditivos retentores de água, tornou-se possível o uso
de desempenadeira dentada para confecção dos sulcos de argamassa,
gerando uma maior produtividade e caracterizando o processo normalmente
empregado na atualidade.

Esse processo, entretanto, exige uma atenção bastante especial durante
o assentamento, sob pena de comprometer o desempenho do sistema por
conta de uma possível redução da extensão de aderência entre a placa
cerâmica e a argamassa colante, gerada pelo não preenchimento completo do
tardoz da placa.
Fazendo uma correspondência entre esse grau de preenchimento
(tabela 3.3) e o processo de assentamento empregado (tabela 3.1), verifica-se
correlação em praticamente todos os casos. No total foram constatados vazios
de preenchimento considerados significativos em 3 dos 10 casos analisados,
além de outros 2 casos onde foi também observado esse problema, em menor
grau de extensão.
Outro aspecto observado ligado à produção foi a falha de preenchimento
nos casos onde as placas cerâmicas utilizadas apresentam reentrâncias de
elevada espessura. Nesses casos, a própria NBR 13.755 (ABNT, 1996b)
recomenda preencher tais vazios previamente com argamassa colante, antes
da aplicação na parede, o que, na maioria das vezes, acaba não acontecendo
devido ao desconhecimento, tanto dos aplicadores como dos próprios
engenheiros, acerca desse cuidado.
No que se refere à argamassa de emboço com saibro, nos 4 casos
analisados em que se utilizou esse material, a ruptura das placas descoladas
ocorre sistematicamente na camada superficial do emboço, o que não é
constatado no ensaio de aderência.
Esse comportamento pode ser decorrente de uma falha na etapa de
acabamento ou desempeno da argamassa, pois o saibro tende a acumular
água demasiadamente por entre os seus grãos na superfície, comprometendo,
com isso, a sua resistência nessa fina camada. Esse problema também pode
estar relacionado com a falta de cuidados quanto ao tempo de sarrafeamento
adequado da argamassa.
Considerando, porém, que a camada superficial do emboço é
naturalmente removida quando ocorre a queda das placas cerâmicas, a
resistência de aderência determinada no ensaio acaba por ser apenas da
região interna da argamassa, a qual, muitas vezes, apresenta resultados
satisfatórios.

Desta feita, com relação aos problemas de descolamento originados por
deficiências na produção, verifica-se como causas principais as falhas de
preenchimento do tardoz da cerâmica com argamassa colante, bastante
relacionadas com o processo de assentamento adotado, e a falta de cuidados
durante a etapa de acabamento da argamassa de emboço com saibro. Outros
aspectos também podem ser citados, como a espessura excessiva da camada
de emboço, muitas vezes sem a colocação de telas metálicas e a aplicação de
cheias sucessivas, ambos pouco facilmente detectados, e a dosagem
inadequada da argamassa.

 3URMHWR

Conforme se verifica na tabela 3.3, em nenhum dos casos estudados há


juntas de dilatação. É interessante notar que a aplicação posterior do mastique
elástico em substituição ao rejunte, em alguns casos estudados e tantos outros
já encontrados na cidade, mostra que o construtor sabe da importância e
necessidade das juntas no sentido de evitar o problema. Porém, o
desconhecimento das suas propriedades impossibilita a sua aplicação
adequada, comprometendo inteiramente o seu desempenho.
Um fator interessante que mostra a importância das juntas de dilatação é
a correlação entre a incidência do problema (tabela 3.2) e o grau de abertura
(tabela 3.1) numa mesma fachada. Nos panos mais fechados, o descolamento
ocorre com mais freqüência do que nas fachadas com aberturas.
Na tabela 3.1 verifica-se, em 7 dos 10 casos, uma tendência muito
comum nas construções residenciais da cidade, com os cômodos de conforto
(salas, varanda, quartos principais) voltados para a fachada leste, nascente, e
os cômodos de serviço (cozinha, área de serviço) para o lado oeste, poente.
Essa configuração decorre de uma preocupação com o conforto, sobretudo
térmico, além do aproveitamento da visão privilegiada do mar, a partir da sala e
quartos principais, especialmente nos edifícios situados junto à orla marítima.
Em decorrência disso, com bastante freqüência se observa o
posicionamento das caixas de escada no pano oeste, muitas vezes, ainda, com
detalhes em curva e coloração escura. Esse opção de cor ocorre
principalmente quando o prédio é predominantemente claro, com realces em

tons mais escuros espalhados sob as varandas, janelas e caixa de escada. Em
6 dos casos analisados a caixa de escada é revestida com cerâmica de cor
escura, e em 5 deles ela se localiza na fachada oeste.
Considerando também que essa região é normalmente composta por um
pano praticamente fechado, com apenas pequenas aberturas para janelas, fica
configurado um quadro bastante propício para a ocorrência do descolamento.
Ainda com relação ao projeto, o caso H apresenta uma série de
problemas relacionados à concepção da edificação, motivados pela
implantação de uma tecnologia inovadora para a região sem o devido
conhecimento acerca do seu desempenho ou comportamento em uso.
Por fim, é interessante notar que a colocação posterior do mastique em
substituição ao rejunte original, observado em 4 dos 10 casos analisados, não
resultou satisfatória em nenhum deles. Ao contrário, observa-se até uma maior
tendência para a ocorrência do descolamento exatamente nas placas que
receberam intervenção, certamente por conta do desequilíbrio de tensões
gerado nelas.
Assim, com respeito ao projeto como origem para o surgimento do
descolamento, observa-se como causa principal a ausência das juntas de
dilatação verticais e horizontais. Além disso, contribui ainda a configuração
arquitetônica adotada na região, com a caixa de escada normalmente situada
na fachada oeste, com poucas aberturas e revestida com cerâmicas de cor
escura.

 &216,'(5$d®(6),1$,6

Para um profissional de qualquer ramo de atividade, a análise de falhas


ou defeitos encontrados em trabalhos desenvolvidos por outros profissionais
nunca é motivo de orgulho ou satisfação. No entanto, o importante nesses
casos é compreender a necessidade de se estudar as manifestações
patológicas no sentido de evitar a sua ocorrência no presente, precavendo
também, com isso, problemas futuros.
Desta forma, o presente trabalho enfoca os condicionantes envolvidos
no descolamento de placas cerâmicas utilizadas em revestimentos de fachada,
abordando, entre outros, aspectos relacionados com os materiais envolvidos,

projeto, processo de produção, normalização e a apresentação de estudo de
10 casos reais encontrados na região.
Algumas das conclusões específicas obtidas, relacionadas com
descolamentos em RCF, estão a seguir descritas:

Œ Na grande maioria das situações não há uma única origem para o


surgimento da patologia, ocorrendo uma combinação de fatores cujas
influências são variáveis caso a caso;
ΠDe uma maneira geral, o descolamento decorrente de falhas ligadas a
aspectos como especificação dos materiais, projeto e produção começa a
ocorrer pouco tempo após o término da execução do revestimento, chegando
no máximo a 5 anos;
Œ As situações de projeto consideradas mais críticas, e portanto mais sujeitas
ao descolamento numa edificação são os panos fechados, ou seja, sem
aberturas para janelas ou varandas, trechos em curva, panos situados no
lado poente (oeste) e cerâmicas de cor escura;
Œ Deficiências como a ausência de juntas de dilatação e falha de
preenchimento do tardoz da cerâmica com a argamassa de assentamento
têm influência significativa no surgimento do problema;
Œ Observa-se uma correspondência clara entre o processo de assentamento
das placas cerâmicas e o grau de preenchimento do seu tardoz com
argamassa.

Como se pode verificar, a origem dos problemas encontrados decorre,


sobretudo nos RCF, de várias pequenas deficiências que, exatamente por se
tratarem de detalhes, em muitos casos são pouco conhecidos ou não são
tratados com a devida relevância. É o “desconhecimento tecnológico” no qual
se insere boa parte da construção civil tradicional no Brasil, inclusive em
Pernambuco.
Na maioria dos problemas encontrados, observa-se uma certa
negligência por parte dos envolvidos, normalmente não intencional, que
decorre exatamente da falta de conhecimento específico acerca das
características que cercam os materiais e componentes envolvidos, os
procedimentos para a produção e as diretrizes para a elaboração do projeto.

Isso pode ser considerado também como um reflexo da pouca
importância dada para a produção dos revestimentos de fachada, a qual, em
geral, não é tratada como um assunto estritamente técnico, ao contrário dos
projetos estruturais e acompanhamento tecnológico de concreto, por exemplo.
Considerando, porém, os possíveis danos materiais e, principalmente, à
integridade de pessoas, fica clara a necessidade de se tratar o assunto com a
sua devida relevância.

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HP VLVWHPDV GH UHYHVWLPHQWR FHUkPLFR GH IDFKDGD Brasília, 1998.
Dissertação (Mestrado). Faculdade de Tecnologia, Universidade de
Brasília.
BOLETINS TÉCNICOS PUBLICADOS

BT/PCC/266 Análise Econômica de Empreendimentos de Longo Horizonte de Maturação: Taxa de


Retorno Compensada. JOÃO DA ROCHA LIMA JR. 15p.
BT/PCC/267 Arbitragem de Valor de Hotéis. JOÃO DA ROCHA LIMA JR. 55p.
BT/PCC/268 Diretrizes para Produção de Contrapisos Estanques. EDUARDO HENRIQUE PINHEIRO
DE GODOY, MERCIA M. S. BOTTURA DE BARROS. 36p.
BT/PCC/269 Produtividade da mão-de-obra na execução de alvenaria: detecção e quantificação de fatores
influenciadores. LUÍS OTÁVIO COCITO DE ARAÚJO, UBIRACI ESPINELLI LEMES
DE SOUZA. 24p
BT/PCC/270 Influência do volume de pasta na zona de transição pasta/agregado com relação às
propriedades mecânicas e de durabilidade do concreto. ELIANE PEREIRA DE LIMA,
PAULO R. L. HELENE. 13p.
BT/PCC/271 Análise Econômica de Empreendimentos de Longo Horizonte de Maturação - Indicadores
Avançados para Análise da Qualidade do Investimento. JOÃO DA ROCHA LIMA JR. 24p.
BT/PCC/272 Resistência à corrosão no concreto dos tipos de armaduras brasileiras para concreto armado.
OSWALDO CASCUDO, PAULO ROBERTO DO LAGO HELENE. 20p.
BT/PCC/273 A provisão habitacional e a análise de seu produto. LEANDRO DE OLIVEIRA COELHO.
EDMUNDO DE WERNA MAGALHÃES. 32p.
BT/PCC/274 Estudo da fluência do concreto de elevado desempenho. CASSIANA APARECIDA
AUGUSTO KALINTZIS. SELMO CHAPIRA KUPERMAN. 24p.
BT/PCC/275 Avaliação da sensibilidade do ensaio de penetração de água sob pressão e de um índice de
permeabilidade para o concreto. CRISTIANO AUGUSTO GUIMARÃES FEITOSA. JOÃO
GASPAR DJANIKIAN. 17p.
BT/PCC/276 Contribuição ao estudo da fadiga do concreto. AVELINO APARECIDO DE PÁDUA
CREPALDI. JOÃO GASPAR DJANIKIAN. 15p.
BT/PCC/277 Desempenho de revestimentos de argamassa com entulho reciclado. LEONARDO
FAGUNDES ROSEMBACK MIRANDA. SÍLVIA MARIA DE SOUZA SELMO. 12p.
BT/PCC/278 O tratamento da expansão urbana na proteção aos mananciais – O Caso da Região
Metropolitana de São Paulo. RENATO ARNALDO TAGNIN, EDMUNDO DE WERNA
MAGALHÃES. 25p.
BT/PCC/279 Variabilidade de agregados graúdos de resíduos de construção e demolição reciclados.
SÉRGIO CIRELLI ANGULO, VANDERLEY MOACYR JOHN. 16p.
BT/PCC/280 Gestão de materiais em empresas construtoras de edifícios: gestão dos fluxos de informações.
SOFÍA LILIANNE VILLAGARCÍA ZEGARRA, FRANCISCO FERREIRA CARDOSO.
22p.
BT/PCC/281 Características geométricas relevantes para controle da qualidade dos produtos moldados de
concreto armado. SASQUIA HIZURO OBATA, UBIRACI ESPINELLI LEMES DE
SOUZA. 16p
BT/PCC/282 Avaliação da eficiência de inibidores de corrosão em reparo de estruturas de concreto.
ROSELE CORREIA DE LIMA , PAULO ROBERTO DO LAGO HELENE,
MARYANGELA GEIMBA LIMA. 12p.
BT/PCC/283 Despassivação das Armaduras de Concreto por Ação da Carbonatação. ANA CARIA
QUINTAS DA CUNHA, PAULO R.L.HELENE. 39p.
BT/PCC/284 A Expressão Gráfica em Cursos de Engenharia: Estado da Arte e Principais Tendências.
ANDRÉA BENÍCIO DE MORAES, LIANG-YEE CHENG. 14p.
BT/PCC/285 Descolamentos dos Revestimentos Cerâmicos de Fachada na Cidade do Recife. ANGELO
JUST,LUIZ SÉRGIO FRANCO. 25p.
Escola Politécnica da USP - Deptº de Engenharia de Construção Civil
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