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Sob o ponto de vista político, a visão tradicional dos PCs (PCB e PCdoB) no final da ditadura,
para além do extermínio por prisões e exílios, encontra-se enfraquecida também por não
posicionar-se na nova conjuntura, mantendo teses que não mais se sustentavam nas frentes
de luta e resistência popular à ditadura: (i) a tese do etapismo, isto é, de que existe uma etapa
‘preliminar’ na construção do socialismo, e essa etapa passa por fortalecer o modo de
produção capitalista, corrigindo certos anacronismos nas relações de produção; (ii) o modelo
nacionalista, que identificava, pelos preceitos do etapismo, a burguesia nacional como aliada,
tanto para desenvolver as forças produtivas quanto para enfrentar a ‘burguesia internacional’.
O Partido Comunista havia já realizado amplas e populares campanhas em defesa do solo e
sub-solo frente à internacionalização de recursos. A campanha “O petróleo é nosso” foi tão
intensa, que fez parte mesmo do “Ideal de Salvação Nacional”, colocado em prática pelos
militares durante a Ditadura.
Esse modelo do comunismo brasileiro foi chamado de “Nacional e Democrático” (Cf. p.ex.: a
resolução do PCB 1976; MORAES 2007; Rezende 2010; Santos 2011).
Por outo lado, tais setores acusam a ascensão do movimento camponês, na expressão do
confronto urbano aberto e na radicalização de determinados enfrentamentos de caráter
ideológico, a “influência do pensamento althusseriano”.
Mais um ponto a favor: estudar Althusser não como memória, mas sim como a construção
dela a partir de um apagamento.
Althusser nos coloca diante de um impasse. Não se pode abordar a ideologia de dentro, pois a
visão do observador, neste caso, já se acha comprometida; mas parece não haver lugar fora
dela que permita observá-la. Pascal, de forma metafórica perguntaria quem pode estabelecer
um ponto fixo dentro de um barco à deriva?
Ou seja, parece verdadeiro o fato de que nós não vivemos sem ideologias. E, segundo
Althusser, é também fato que elas são materiais. Mas não porque existam como objetos no
mundo, mas porque se EXPRESSAM e ORGANIZAM materialmente a vida das pessoas.
Sua conclusão vai em duas mãos: existe um condicionante de vai e vém do corpo na formação
de tais ideologias. e de tais ideologias na forma de vida.
Por exemplo frente ao seu conceito de ‘ideologia’, que não se dá por falsa consciência, mas
pela capacidade social de estabelecer rotinas e aparatos que controlem os corpos, aparatos
estes físicos ou simbólicos, ou mesmo no controle mais abstrato da linguagem. Pensadores
notáveis como o professor Safatle, por exemplo, em seu Cinismo e Falência da crítica bem
reconhece este valor, com o elogio complementar de nisso, pelo menos, estar em acordo com
Adorno (SAFATLE 2008)