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TEXTOS E

NOTAS TESE
DOUTORADO
(Arnaud, 2009, page 55)

{verde e roxa, amarela e azul), por serem cromaticamente mais vivas, equilibram a atenção. O
resultado é uma imagem bastante balanceada, apesar da complexidade, mas que, como as
obras de artes plásticas, convida a leituras múltiplas.

As estampas para roupas punham um problema ainda diferente. Surgem de um convite da


Rhodia, dirigido a vários artistas brasileiros, para desenvolver projetos para os novos tecidos
sintéticos que a empresa estava introduzindo no mercado. O artista desenhava apenas a pa­
drão da estampa, não o vestido. Não era possível, portanto, estabelecer previamente as con­
dições em que cada área de cor se encontraria na roupa pronta. A maior parte dos desenhos
elaborados por Willys é baseada em motivos florais, talvez por sugestão da empresa, acom­
panhando um revival do Art Nouveau típico daquele período {1966-1967; não por acaso, as
fotos do serviço de moda foram tiradas em prédios de Gaudí e de Guimard). As cores, em ge­
ral, são muito delicadas e finamente matizadas (carmim, malva, turquesa, azul-cobalto), mas,
contrariamente aos hábitos do artista, graduadas de maneira que alguns elementos se desta­
quem por maior luminosidade. Na roupa pronta, esses elementos servem de guia, marcam a
repetição do p�drão e, ao mesmo tempo, permitem traçar desenhos contínuos, que "girem"
em volta do corpo. Em outras palavras, Willys resolve, por uma vez, a composição em termos
de batida rítmica, tempos forte e fraco, e não de equilíbrio entre equivalências.

Quando abrimos um jornal diagramado por Amílcar, a plenitude de uma experiência de leitu­
ra se comunica antes mesmo que leiamos uma linha. A página faz sentido porque ali tudo é
significativo, inclusive os espaços brancos, e isso nos proporciona a impressão de que, atra­
vés daquele bombardeio de notícias, nós possamos interpretar o mundo. Se recebermos um
convite diagramado por Willys, a experiência estética já começou, porque o cartão que temos
em mãos nos leva a uma série de escolhas perceptivas mais complexas e intensas do que na
vida comum. Na frente de um convite de Willys, como na frente de uma obra sua, nos senti­
mos um pouco mais inteligentes.

Pelo caráter afirmativo de sua presença, o jornal de Amílcar já é um fato, e não a imagem ou a
descrição de um fato. Pela maneira dubitativa com que se insere no mundo, a peça gráfica de
Willys não é apenas produto de um pensamento, mas pensamento em ato, tanto nosso quan­
to dele. Nos dois casos, não se trata de conferir à peça gráfica um estatuto de obra de arte
(isso ainda seria uma maneira de escamotear o problema), mas de conferir ao objeto de uso,
além de uma perfeita funcionalidade, a espessura e a abertura estética que uma fruição sem­
pre mais acelerada tende a cancelar.

Lorenzo Mamml

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