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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FERNANDO GABRIEL DA COSTA LIMA SIDON

ANÁLISE OBRA DE ARTE – COMUNICAÇÃO E ARTES

Recife
2021
Com a chegada da modernidade, diversas concepções que, antes, no passado estavam
firmadas passaram por mudanças diante deste motivo. A modernidade enquanto época, trouxe
consigo elementos que a distingue: avanço da tecnologia, a vida cada mais fixada nas cidades,
hiperestímulos, capitalismo, novos meios de comunicação e de reproduções. A obra de arte na
época da sua reprodutibilidade técnica é ensaio que busca refletir sobre as mudanças de como
um a obra de arte é percebida enquanto experiência do espectador em um momento em que
meios de reprodução técnica da arte estão sendo aperfeiçoados.

Em um contexto capitalista, podemos tomar como exemplo, no meio industrial, os


sistemas de produção taylorista e fordista, aonde existia dentro desses modelos produtos feitos
baseado na massificação, feitos em enorme quantidade. A arte, assim como o homem, foi
inserida no meio capitalista, e sendo absorvida e absorvendo suas características. Assim,
como artigos produzidos em massa pelas fabricas, a arte não escapa, torna-se também
repetitiva, massificada e mercadoria. A reprodução técnica causada pelo avanço da tecnologia
é referente a capacidade de copiar, produzir repetições, que antes não era possível, de obras
como por exemplo: a Monalisa. Na idade média na Europa tinha-se um pensamento e uma
percepção de tempo, quando se trata de transcrição, diferente, antes da prensa móvel de
Gutemberg e após o seu advento. O acesso à uma nova forma de copiar livros diminuiu o
tempo em quanto se copia e aumentou a quantidade exemplares naquele naquela época. O
mesmo acontece com meios de reprodutibilidade técnica na modernidade, os quais
reformaram a forma como enxergamos tais aspectos do mundo, incluindo obras de arte.

A arte antes do tempo moderno era vista como imaculada e sagrada, requeria tempo,
dedicação, esforço para atingir o objetivo almejado do artista enquanto produtor de uma obra.
As esculturas da Grécia e Roma antiga, talhadas em marfim, pensadas para serem produzidas
de uma forma que não haveria possibilidade para a ocorrência do erro, sabendo-se que todo o
processo de criação estaria ocorrendo risco de voltar para o ponto inicial, por um pequeno
deslize. Há, uma questão de extrema importância na falta de uma reprodução técnica: A aura e
o aqui e agora de uma obra de arte. A aura de uma obra de arte é referente a sua autenticidade,
originalidade dada a partir do próprio autor e a experiencia causada por ela no espectador. A
partir da criação da reprodução técnica e, consequentemente, a massificação, a obra de arte
perde parte sua aura por deixar de ser única e original, sendo conhecida através de cópias e
repetições, p.ex.: conhecer a Monalisa por uma foto sem ter visitado o museu do Louvre. Por
não ter sido exposto a obra original a experiência de ver/vivenciar não estará completa. A
obra vista em um meio que não foi pensado para ser vista primeiramente, ocorre com que
parte de sua aura se perca também. A transformação da arte em mercadoria é fator que a faz
perder sua aura, em uma sociedade que o ter é tornou-se mais importante que o ser, passa a
deixar a contemplação, por conseguinte deixando de lado também a experiência.

Voltando ao esforço que é empregado dentro da criação de uma obra em décadas atrás,
como o ato de não realizar erros durante a execução, se perdeu com o tempo. Os novos meios
de produção artísticas deixam como legado a possibilidade para errar, não propositalmente,
mas de forma com a gravação de uma cena, ela sendo bem executado ou não, existe a chance
de se regravar a mesma cena até a exaustão para se escolher a melhor dentro da gravação de
um filme para o cinema. O mesmo ocorre como a fotografia, podendo ser repetida diversas
vezes e até desvincular-se da ideia original por meio de uma segunda, a qual não surtiria
efeito negativo como a perda total da obra. Interessante que as novas maneiras de fazer artes
são, ao mesmo tempo, tanto meio para realizar a arte quanto a forma de reprodutibilidade
técnica.
Como um todo, a reprodutibilidade técnica não é o problema. Este assunto está mais
relacionado com a reprodução de obras de arte é utilizada, muito mais ligada ao mercado,
fazendo-a ser desvinculada do seu propósito. Porém por meio da reprodutibilidade técnica
podemos conhecer obras que jamais poderiam ser conhecidas pelo empecilho da distância, ou
até mesmo da falta de conhecimento de tal obra.

Análise da obra da artista digital Lua Melo (@luamelox) 

        A colagem nos remete a dois ambientes totalmente diferentes, uma foto tirada na
Avenida Dantas Barreto no centro da cidade do Recife e um recorte da obra ‘’os retirantes’’
do artista que fez parte do movimento modernista, Candido Portinari.

         A obra ‘’os retirantes’’ nos é apresentada uma família que sai de sua terra natal para
fugir da miséria que os assola. Quadro pintado em 1944, e ainda muito atual no ano de 2021.
Diante da realocação da família para a cidade do Recife, dentro do atualmente cenário
pandêmico, a obra de Portinari é ressignificada, desvinculando-se do contexto original, o
assunto da pintura conversa com a pobreza, fome, o êxodo rural, etc. e em um momento em
que a economia brasileira estava voltada para a vida urbana. A troca plano de fundo ou adesão
da obra de Portinari na foto, muda a ideia original. Não é uma reflexão sobre contexto social
vivido por algumas famílias no interior do país, mas uma reflexão e crítica sobre a forma
como as famílias mais necessitadas, com menos ou quase nenhum poder de consumo estão
vivendo à beira da miséria durante a pandemia do Covid-19, atravessados pela falta e
dificuldade de conseguir emprego, fome e pobreza.

Tal obra só poderia ser realizada a partir da reprodução técnica, ‘’os retirantes’’ antes
em quadro, agora digitalizado em uma fotografia, a qual foi recortada e colocada em ambiente
desvinculado de sua ideia original. A partir da reprodução da obra, a mesma foi utilizada
como referência para criar algo novo e servir de reflexão. Não se tornou massificada, porém,
foi altamente difundida dentro das redes sociais. Existe aura nesta colagem, foi feita no meio
digital para ser difundida dentro do meio digital, redes sociais e compartilhamentos. Há
experiência ao se ver esta obra, ela leva a pensar e questionar relações sociais e a condições
vividas por milhares de pessoas, consequentemente, a situação econômica do Brasil. A arte
digital além de desprender do quadro de Portinari, também conversa, de forma paradoxal, por
não modificar totalmente como é trabalhado o contexto de uma família com pouca condição
econômica lutando para sobreviver.
Referências

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica. Organização e


apresentação, Márcio Seligmann-Silva. Tradução Gabriel Valladão Silva. -1. ed. -
PortoAlegre, RS: L&PM, 2015

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