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Foi na passagem do século XIX para o século XX que o meio rural se

tornou objeto do estudo, existia uma concepção binária, que a dividia o campo
e a cidade grande, e o meio rural era visto como atrasado, selvagem e
resistente à mudanças (MOREIRA, 2005). De acordo com Wanderley (2011),
quando falamos do meio rural precisamos ter consciência que não estamos
citando um universo isolado, mas sim um lugar que possui suas histórias
próprias, um meio social, cultural e ecológico.

De acordo com Silva e Macedo (2017) a atuação do psicólogo no


contexto rural se dá através das políticas que o inserem, como o NASF, o
CRAS e Equipe Volante, além de intervenções escolares. No NASF, as
atividades realizadas são individuais e coletivas com grupos específicos de
mulheres, gestantes, etc, nas unidades de saúde, palestras, como também
reuniões nas escolas, visitas domiciliares e encaminhamentos. No CRAS e
equipe volante, são realizadas as atividades nos serviços de convivência e
fortalecimento de vínculos (SCFV) com crianças, adolescentes e idosos como
também de visitas domiciliares, encaminhamentos, atendimentos familiares
para o acompanhamento de condicionalidades, como por exemplo o programa
Bolsa família, busca ativa, reuniões nas escolas, ações conjuntas com agentes
comunitários de saúde e atividades em comunidades mais distantes, como
exemplo de assentamentos rurais. Os psicólogos consideram algumas
atividades realizadas no território aquelas que sobressaem as intervenções no
ambiente escolar as mais viáveis, em função da carga horária que
disponibilizam no serviço, além de nas escolas já contarem com um público
reunido e pronto para realizarem as atividades que foram programadas.

Porém, as práticas dos profissionais da psicologia não se adéquam ao


ambiente rural, sendo muitas vezes encarada com preconceito por parte dos
profissionais que ainda tendem a entender o meio rural como o oposto do meio
urbano, impossibilitando o profissional de enxergar as múltiplas representações
e a subjetividade existente na população que ali reside (SILVA; MACEDO,
2017)

De acordo com Delgado (2012, apud CIRILO NETO; DIMENSTEIN,


2017) as famílias que vivem no contexto rural, como por exemplo os
assentamentos rurais, sofrem com dificuldades relacionadas a adversidades
socioambientais e pobreza, que os colocam em situação de vulnerabilidade
psicossocial, e segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores da
Agricultura (2013) esses fatores dificultam a permanência e a vida no campo, e
também se associa ao uso excessivo do álcool, e ao aparecimento de
transtornos mentais. Dentro desse contexto os TMC (Transtornos mentais
comuns) se destacam, pois estão inteiramente ligados à vulnerabilidade
psicossocial e ambiental, esse termo refere-se a sintomas não psicóticos como
fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, esquecimento, insônia e
queixas somáticas, sintomas que de acordo com a OMS em 2001 já atingia
entre 20% e 56% da população brasileira. Olhar para esses transtornos nos dá
um visão ampliada sobre as condições de vida e trabalho desses indivíduos. As
pesquisas nessa área ainda são escassas, de acordo com a Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (2013) os principais agravos na
saúde nos moradores de assentamentos rurais são queixas que sugerem um
sofrimento de base psicossocial, sendo associado às condições de vida e
trabalho no campo. Essa população se encontra em situação vulnerável e são
negligenciadas pelas políticas públicas, pois enfrentam dificuldade no acesso
aos serviços (CIRILO NETO; DIMENSTEIN, 2017).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

WANDERLEY, M. N. B. Um saber necessário: os estudos rurais no Brasil.


Campinas: Editora da Unicamp, 2011.

MOREIRA, R. J. Identidades sociais em territórios rurais fluminenses. In: R. J.


Moreira (Org.), Identidades sociais: ruralidades no Brasil contemporâneo (pp.
65-88). Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

SILVA, Kátya de Brito e; MACEDO, João Paulo. INSERÇÃO E TRABALHO DE


PSICÓLOGAS/OS EM CONTEXTOS RURAIS: INTERPELAÇÕES À PSICOLOGIA.
Revista de Psicologia, Fortaleza, v.8 n2, p. 146-154, jul./dez. 2017.

CIRILO NETO, Maurício; DIMENSTEIN, Magda. Saúde Mental em Contextos


Rurais: o Trabalho Psicossocial em Análise. Psicol. cienc. prof. , Brasília, v. 37,
n. 2, p. 461-474, junho de 2017. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932017000200461&lng=en&nrm=iso>. acesso em 21 de novembro de 2019.
http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703002542016.

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