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CONSIDERAÇÕES MÉDICAS BÁSICAS PARA COLAPSO

ESTRUTURAL

Um incidente com colapso estrutural pode causar que múltiplas vítimas possam
ter uma grande variedade de lesões em diversas partes do corpo e de diversas
formas. Utilizando alguns conceitos médicos básicos e procedimentos de
segurança durante as operações de salvamento providencia-se uma melhor
assistência com a maiores possibilidades de as vitimas recuperarem.

É imperativo que os Técnicos(1) não percam a noção dos seus objectivos


primários quando respondem a um incidente com colapso estrutural. Os
Técnicos têm de ter capacidade de estabilizar ou manter uma situação
existente e aceder, estabilizar e remover uma vítima sem lhe causar mais
danos.

Antes de iniciar as operações de salvamento, o Comando de Incidente deve


estabelecer uma localização para colocar as vítimas lesionadas. Esta
localização é normalmente conhecida como Posto de Triagem Avançado
(P.T.A.) ou área de tratamento. Se uma operação de salvamento se inicia antes
de ser estabelecido um P.T.A., as vitimas do incidente serão frequentemente
juntas e colocadas em múltiplos e separados locais, o que torna a triagem,
tratamento e transporte mais difíceis.

Usar procedimentos de triagem normalizados para caracterizar múltiplas


vítimas para fazer o melhor para a maior quantidade de pessoas dentro dos
limites dos recursos disponíveis.

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Determinação da Probabilidade de Sobrevivência

Outra consideração do Comando de Incidente é o potencial de sobrevivência


das vítimas, baseado no tipo de situação do colapso e no tempo o qual a vítima
esteve presa. Pesquisas feitas após diversos terramotos com vítimas presas
em escombros ilustraram que a sobrevivência é proporcional ao tempo que a
vitima permanece presa nos escombros.

A grande probabilidade de sobreviver ocorre nas primeiras 24 horas, e 80%


daqueles que podem ser salvos normalmente serão evacuados nesse período
de tempo.

Percentagens típicas de sobrevivência de vitimas presas em escombros:

• 30 Minutos 91 % sobrevivência
• 1 Dia 81 % sobrevivência
• 2 Dias 36.7 % sobrevivência
• 3 Dias 33.7 % sobrevivência
• 4 Dias 19 % sobrevivência
• 5 Dias 7.4 % sobrevivência

LESÕES ASSOCIADAS AO COLAPSO ESTRUTURAL

Um colapso estrutural aplica forças significativas no corpo de uma vítima e o


conteúdo de uma estrutura tem um potencial tremendo de causar lesões num
colapso.

Tipos de Lesões

A hora do dia em que colapsou a estrutura pode ser uma possível indicação do
tipo de lesões que os Técnicos(1) poderão encontrar. Uma grande possibilidade
de elevados traumas na cabeça, pescoço e costas pode ser esperado durante
o dia e até final da tarde onde as pessoas estão normalmente em posições de
sentado ou em pé.

Uma grande possibilidade de fracturas dos diversos ossos, lesões nos tecidos
moles e esmagamento pode ser esperado durante a noite ou de manhã cedo
quando as pessoas estão deitadas na cama ou tentam fugir com um vestuário
frágil e reduzido.

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Outras Preocupações Médicas

Hipotermia, ou decréscimo da temperatura corporal, é uma preocupação em


temperaturas frias quando a vitima esteve exposta ao ambiente por longos
períodos de tempo. Roupas molhadas, falta de alimentação normal, sistemas
de isolamento, componentes construídos de forma a absorver o calor,
incapacidade de se mexer e as condições meteorológicas existentes, tudo isto
aumenta a possibilidade de hipotermia.

Os Técnicos(1) devem proteger a vítima do ambiente durante os esforços de


salvamento.

Hipovolemia, ou perca de volume de sangue, pode ocorrer como resultado de


impactos e lesões no corpo quando uma estrutura colapsa. O Choque como
resultado de Hipovolemia é um problema que pode levar ao falecimento da
vítima. Os Técnicos deverão controlar qualquer tipo de hemorragia grave e
providenciar oxigénio e fluidos intra venosos para reposição, se possível.

Lesões por inalação podem resultar de derivadas situações num colapso


estrutural. Por norma grandes quantidades de pó são uma irritação significante
para o aparelho respiratório e podem até sufocar uma vítima. Os Técnicos(1)
devem estar preparados para se proteger a eles e á vítima do pó.

Outros problemas respiratórios podem derivar de atmosferas perigosas criadas


pela fuga de produtos normalmente contidos.

Alguns exemplos incluem gás natural e matérias perigosas pertencentes ao


local (lixívias, ácidos, detergentes, tintas e diluentes, etc.), de referenciar ainda
que um potencial incêndio na estrutura colapsada cria também uma atmosfera
mortal devido aos gases que produz. Torna-se de extrema importância proteger
quer os Técnicos(1) quer as vítimas destes ambientes perigosos ao longo de
todo o processo de salvamento. Ter pronto, sempre que possível, tratamento
adequado para diversos tipos de intoxicação respiratória, consoante o tipo de
estrutura colapsada.

Desidratação, ou inadequada ingestão de fluidos, torna-se uma preocupação


baseada no ambiente e no período de tempo que a vitima está presa nos
escombros.
Nestas situações, a melhor solução para o problema da hidratação talvez seja
uma linha intra venosa (I.V.) iniciada por técnicos de suporte avançado de vida
antes de remover a vítima da estrutura.

A Nutrição também se torna um a preocupação, especialmente de o espaço


de tempo do incidente aumenta. Deverá ser direccionada para o pessoal de
suporte avançado de vida, treinado em lidar com este tipo de situação.

Sindroma de Compartimentação pode ocorrer quando uma vítima ficou presa


entre escombros por mais de 4 horas. As extremidades expandem-se até a
pele ser alongada ao máximo. Estas vítimas necessitam de suporte avançado

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de vida e cirurgia agressiva para aliviar a pressão e salvar os membros e
possível amputação para salvar a vida da vítima.

Sindroma de Esmagamento corre como o resultado da pressão de


esmagamento de certas partes do corpo da vítima, tipicamente as
extremidades inferiores, O sangue fluí e a zona esmagada fica sem irrigação.
Depois os tecidos lesionados morrem e libertam toxinas. Uma libertação
repentina da pressão permite que as toxinas fluam para a circulação
sanguínea, onde poderão ter um efeito nefasto em órgãos vitais (rins,
coração…) do corpo e possivelmente causando a morte.

O Sindroma de Esmagamento tem sido chamado de “sindroma da morte


agradável” porque a vitima está agradável e a falar com os Técnicos(1)
enquanto presa e durante a extracção, mas, uma vez solta e de referir
novamente, as toxinas são libertadas das zonas esmagadas entrando no
sistema circulatório indo provocar disfunção de órgãos principais e a vitima
falece.

Mais importante, os Técnicos(1) devem estar capacitados para reconhecer o


sindroma de esmagamento como uma possibilidade e providenciar tratamento
antes de extrair a vítima.

De referenciar que todos os tipos de lesão referidos anteriormente, poderão


estar associados.

Contacto de Consulta dos Recurso Médicos

Se disponível, pessoal médico familiarizado com o Sindroma de Esmagamento


deverá providenciar tratamento á vítima. Grande volume de oxigénio por
mascara, grandes quantidades de fluidos intra venosos, monitorização cardíaca
e determinada medicação são apropriados para o tratamento antes de libertar o
peso da carga, da vítima.

Enquanto mais tempo a vitima está presa, maior será o efeito a longo prazo;
enquanto maior for o tempo presa nos escombros, menores as possibilidades
de sobrevivência. Sindromas de esmagamento e compartimentação tornam-se
preocupações após 4 horas e uma certeza após 6 horas.

Pessoal no teatro das operações deve contactar e consultar os recursos


médicos disponíveis. Os incidentes com estruturas colapsadas têm uma
duração prolongada (tipicamente superior a oito horas). As condições da vítima
podem ser instáveis e os Técnicos(1) poderão não as poder evacuar por
estarem presas.

Sindromas de compartimentação e esmagamento requerem tratamentos de


suporte avançado de vida específico. Este tratamento tem de ser administrado
ou supervisionado por pessoal treinado e familiarizado com lesões de colapso
de estruturas. A movimentação de uma vítima pode requerer um
manuseamento extremamente cuidado para minimizar agravar as lesões.

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Tratamento Potencial pelos Técnicos

• Administração de oxigénio por mascara com alto fluxo


• Imobilizar a coluna cervical
• Monitorizar a actividade cardíaca
• Administrar medicamentação de suporte avançado de vida
• Imobilizar e estabilizar a vítima para remoção
• Manter a temperatura corporal
• Proteger a vítima do ambiente. Considerar colocação de capacete,
protecção ocular, máscara de poeiras ou oxigénio na vítima
• Proteger a vítima das actividades de salvamento. Faíscas, entulho e
ferramentas caídas acidentalmente.

Movimentação da Vitima Sobre Escombros

Se possível, os Técnicos(1) não devem andar sobre superfícies irregulares,


instáveis ou escorregadias quando transportam vitimas. Os Técnicos(1) devem
estabilizar os pés, formar uma corrente humana e passar a vítima de elemento
em elemento. Colocar a vítima num plano duro ou noutro equipamento tipo
maca cesto providência uma plataforma segura com boas pegas para os
Técnicos.

SEGUARNÇA BÁSICA PARA DOENÇAS INFECCIOSAS

Se uma vítima não tiver nenhuma doença antes de se lesionar ou morrer, não
se torna infectada pela lesão ou morte. Os Técnicos(1) deverão tomar
precauções básicas de segurança para doenças infecciosas, que incluem
utilizar os mesmos EPI’s para se protegerem de outros tipos de perigos das
estruturas colapsadas.

E.P.I. para cortes, abrasão, olhos e protecção respiratória. EPI adicional é


necessário para potencial contacto com fluidos corporais. Luvas de látex
colocadas por debaixo das luvas de trabalho, previne que se danifiquem as
luvas látex durante as actividades de trabalho. Se é esperado um contacto

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significativo com fluidos corporais durante as operações de salvamento, o
Técnico(1) deve usar uma barreira de vapor por baixo da roupa de trabalho,
como por exemplo um fato Tyvec™ e cobertura para o calçado tal como usado
nos incidentes com matéria perigosas.
Regras Gerais de Segurança para Doenças Infecciosas

Se estiver quente, molhado e não é seu, remova-o o mais depressa possível.

• Em caso de contacto com fluidos corporais, lavar com sabão ou um


desinfectante suave tão cedo quanto possível.
• Lavar mão e cara antes de ingerir seja o que for.
• Remover e lavar com água e sabão assim que possível, as roupas que
tiveram contacto com fluidos corporais.
• Imunizações contra as Hepatites e Tétano devem estar em dia.

Se ocorreu um contacto significante com fluidos corporais, os Técnicos(1)


devem considerar descontaminar botas, luvas, roupa de trabalho e
equipamentos com água e sabão ou um desinfectante suave.

(1) Considerar como Técnico, um elemento formado em Busca e Salvamento em Estruturas Colapsadas.

Autor:
Alexandre Santos, EQUIPA RESGATE B.M. FIGUEIRA DA FOZ

Revisão Técnica:
Orlando Guerra, EQUIPA RESGATE B.M. FIGEIRA DA FOZ

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