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PRIMEIRA SEMANA

Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

FILOSOFIA ANTIGA 1. ORIGEM DA FILOSOFIA


Na antiguidade a região conhecida como Grécia
Todos nós sabemos que os primeiros filósofos não era um estado unificado, com poder centralizado,
da humanidade foram gregos. Isso significa que embora governo único, e suas cidades-estados (póleis)
tenhamos referências de grandes homens na China obedecendo a esse poder. Era na verdade, uma região
(Confúcio, Lao Tsé), na Índia (Buda), na Pérsia que por suas peculiaridades históricas e geográficas
(Zaratustra), suas teorias ainda estão por demais abrigava povos de origem, costumes e crenças comuns,
vinculadas à religião para que se possa falar unidos por uma mesma língua.
propriamente em reflexão filosófica.
O que veremos agora é o processo pelo qual se A sua formação se dá pela união das civilizações
tornou possível a passagem da consciência mítica para Cretense e Micênica no período que ficou
a filosófica na civilização grega, constituída por diversas convencionado chamar de pré-homérico (Séc. XX a
regiões politicamente autônomas. XII a. C.), cujo fim ocorre com a invasão dórica que
A história desse povo na antiguidade é dividida ocasionou a primeira diáspora grega, quando eles
em quatro períodos. ocuparam todas as áreas banhadas pelo mar Egeu na
- Civilização micênica - desenvolve-se desde o início forma de pequenos núcleos rurais.
do segundo milênio a.C. e tem esse nome pela
Começa a partir de então o período homérico
importância da cidade de Micenas, de onde, no século
(Sécs. XII a VIII a. C.), que leva esse nome por causa
XII a.C., partem Agamemnon, Aquiles e Ulisses para
das obras costumeiramente atribuídas ao grande poeta
sitiar e conquistar Tróia.
Homero, que nos conta, por meio da Ilíada e Odisseia,
como foi essa época.
Os pequenos núcleos rurais deram origem aos
genos que, comandado por um pater, eram formados
por pessoas que acreditavam ser de uma mesma
descendência. Apesar de terem um líder, a terra era de
propriedade de todos.
Nesse período, houve um grande aumento
populacional que não foi acompanhado pela produção
de alimentos, pois haviam poucas terras férteis.
Muitos genos se dividiram, houve disputas e
distribuição desigual de terras que passaram a ser
propriedade privada. Foi um período de turbulência e
muitas pessoas ficaram marginalizadas.
- Tempos homéricos (séculos XII a VIII a.C.) - são
assim chamados porque nesse período teria vivido Essa instabilidade gerou a necessidade de alguns
Homero (século IX ou VIII). Na fase de transição de genos se aliarem. Dessas alianças resultaram as fratrias,
um mundo essencialmente rural, o enriquecimento dos e da união destas, as tribos. O poder do pater passou a
senhores faz surgir a aristocracia proprietária de terras ser exercido por grupos de latifundiários bem nascidos
e o desenvolvimento do sistema escravista. conhecidos como eupátridas. Até que finalmente
- Período arcaico (séculos VIII a VI a.C.) - grandes foram formados os demos que tinha como líder o
alterações sociais e políticas com o advento da pólis e basileu (rei), que era o mais fodão dos eupátridas.
desenvolvimento do comércio e consequente
Desse modo, a sociedade, que era
movimento de colonização grega.
essencialmente agrária e patriarcal, ficou estruturada da
- Período clássico (séculos V e IV a.C -) - apogeu da
seguinte forma:
civilização grega. Na política, expressão da democracia
ateniense; explosão das artes, literatura e filosofia. 1) Eupátridas = os paters e seus parentes mais
Época em que viveram os sofistas, Sócrates, Platão e próximos que detinham as maiores e melhores
Aristóteles. terras;
- Período helenístico (séculos III e II a.C.) - 2) Demiurgos = trabalhadores livres
decadência política da Grécia, com o domínio 3) Georgoi = pequenos proprietários de terras;
macedônico e conquista pelos romanos. Culturalmente 4) Thetas = homens livres, mas marginalizados por
se dá a influência das civilizações orientais. que sobraram na divisão e disputas por terras;
5) Escravos

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Para sobreviver, muitos gregos tiveram que Os mitos se sustentam apenas na autoridade de
buscar terras férteis para o cultivo de alimentos. Eles se quem os conta. O poeta-rapsodo, tem autoridade
lançaram ao mar à procura dessas regiões e se inquestionável, seja porque recebeu a narrativa de uma
estabeleceram, além do Mar Egeu, por quase toda tradição oral respeitada, seja porque é considerado
região europeia banhada pelo Mar Mediterrâneo alguém escolhido pelos deuses para receber uma
(principalmente no sul da península itálica e na região revelação e passá-la aos outros. Esses devem receber a
da Sicília, que ficou conhecida como Magna Grécia), informação como verdade inquestionável.
adentrando também na região do Mar Negro fundando
apoikias (novos demos - colônias) em todos esses Desse modo, os mitos não dão espaço para
territórios. Essa busca de novas terras foi Segunda questionamentos e nem reflexão, admitem
Diáspora grega. incoerências, contradições e são muito limitados
deixando vários questionamentos em aberto,
perpetuando a forma de ver e entender tanto o mundo
natural quanto o social.
Mito e estrutura social
O mito é também uma forma de justificação da
estrutura social da época. Dito de outro jeito, o mito é
uma forma de ver não só o mundo natural, como
também de entender e aceitar a divisão e
funcionamento da sociedade. Perceba que os grandes
reis (basileu) são protegidos ou escolhidos pelos
deuses e os grandes guerreiros, como Aquiles, possuem
vínculos com eles. Você se atreveria a discutir com eles,
ou questionar sua autoridade? Fica difícil, não é?
No entanto, as condições de vida social que
Foi basicamente nessa época que houve o eram fundamentadas pelos mitos, e que também os
ressurgimento da escrita entre os gregos, quando eles fundamentavam, mudaram muito e sucessivos
adaptaram o alfabeto fenício à sua língua. acontecimentos acabaram derrubando muitas dessas
explicações fabulosas sobre a realidade tanto natural
quanto social, e uma nova forma de ver o mundo
(incluindo a sociedade) precisava ser criada. É aí que
2. O MITO
entra em cena a Filosofia como veremos mais a diante.
Antes mesmo do advento da Filosofia o homem
Homero foi o poeta-
já possuía a curiosidade de saber sobre a origem das
rapsodo a quem costumeiramente
coisas, e mesmo sem ter a tecnologia de que dispomos
se atribui a autoria de dois poemas
hoje, eles tinham a imaginação trabalhando a todo
épicos (epopeias): Ilíada, que trata
vapor. Com ela criaram diversas histórias que foram
da guerra de Tróia (Tróia em grego
passadas de forma oral por várias gerações. A palavra
é Ilion), e Odisseia, que relata o
grega mythos significa contar, narrar, conversar.
retorno de Ulisses a Ítaca, após a
O mito é uma narrativa fantasiosa que visa dar guerra de Tróia (Odisseus é o nome
uma explicação para a origem de determinada coisa, grego de Ulisses). Por vários motivos, inclusive pelo
sejam ela o homem, o amor, a doença, o mundo, os estilo diferente dos dois poemas, alguns intérpretes
deuses, etc. acham que são obras de diversos autores.

Os primeiros modelos de construção do real são Ao descrever na Ilíada e na Odisseia vários


de natureza sobrenatural, isto é, o homem recorre aos aspectos da cultura e as diversas formas de
deuses para apaziguar sua aflição. relacionamento social dessa época, influencia muito as
Basicamente, existem dois tipos de mitos. As várias gerações gregas que tiveram o guerreiro bom e
narrativas que procuram explicar a origem do mundo belo como um ideal de formação a ser alcançado.
são as cosmogonias (cosmos = mundo ordenado +
Belo porque seu corpo era formado pela
gonia = gerar), já as histórias que narram a origem dos
ginástica, pela dança e pelos jogos de guerra, imitando
deuses são as teogonias (theos = seres divinos + gonia
os heróis da Guerra de Troia (Aquiles, Heitor, Ajax,
= gerar).
Ulisses). Bom porque seu espírito era formado
escutando poetas como Homero, Píndaro e Hesíodo,

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aprendendo com eles as virtudes admiradas pelos que se vai iniciar a seguir, com particularidades que
deuses e praticadas pelos heróis; a principal delas era a tendem a superar a poesia impessoal e coletiva das
coragem diante da morte, na guerra. A virtude era a epopeias.
aretê , própria dos melhores, ou, em grego, própria dos
aristoi. Mas mesmo assim, sua obra Teogonia reflete
As epopeias tiveram função didática importante ainda a preocupação com a crença nos mitos. Nela
na vida dos gregos porque descrevem o período da Hesíodo relata as origens do mundo e dos deuses, e as
civilização micênica e transmitem os valores da cultura forças que surgem não são a pura natureza, mas sim as
por meio das histórias dos deuses e antepassados, próprias divindades: Gaia é a Terra, Urano é o Céu,
expressando uma determinada concepção de vida. Por Cronos é o Tempo, surgindo ora por segregação, ora
isso desde cedo as crianças decoravam passagens dos pela intervenção de Eros, princípio que aproxima os
poemas de Homero. opostos.
As ações heroicas relatadas nas epopeias
mostram a constante intervenção dos deuses, ora para
auxiliar um protegido seu, ora para perseguir um
inimigo. O homem homérico é presa do Destino
(Moira), que é fixo, imutável, e não pode ser alterado.
Até distúrbios psíquicos como o desvario momentâneo
de Agamêmnon são atribuídos à ação divina. É nesse
sentido a fala de Heitor: "Ninguém me lançará ao Hades
contra as ordens do destino! Garanto-te que nunca
homem algum, bom ou mau, escapou ao seu destino,
desde que nasceu!"

Como o mito narra a origem do mundo e de


tudo o que nele existe? De três maneiras principais:
1º) Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos
seres. Isto é, tudo o que existe decorre de relações
sexuais entre forças divinas pessoais. Essas relações
geram os titãs (filhos da primeira mãe e do primeiro pai
e seus sucessores como governantes do Universo), os
deuses (filhos de um dos titãs e seus sucessores), os
heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma
deusa com um humano), os humanos, os metais, as
plantas, os animais, as qualidades (como quente e frio,
claro e escuro, bom e mau, belo e feio, etc.).
O herói vive, portanto, na dependência dos
Trata-se, assim, de uma genealogia, isto é, de
deuses e do destino, faltando a ele a nossa noção de
uma narrativa da geração dos seres, das coisas, das
vontade pessoal, de livre-arbítrio. Mas isto não o
qualidades por outros seres, que são seus pais ou
diminui diante dos homens comuns. Ao contrário, ter
antepassados.
sido escolhido pelos deuses é sinal de valor e em nada
2. Encontrando uma rivalidade ou uma aliança
tal ajuda desmerece a sua virtude.
entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo.
A virtude do herói se manifesta pela coragem e
Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre as forças
pela força, sobretudo no campo de batalha, mas
divinas ou uma aliança entre elas para provocar alguma
também na assembléia, no discurso, pelo poder de
coisa no mundo dos homens.
persuasão.
É assim, por exemplo, que o poeta Homero
O preceptor de Aquiles diz: "Para isso me
explica na Ilíada por que, em certas batalhas da Guerra
enviou, a fim de eu te ensinar tudo isto, a saber fazer
de Troia, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a
discursos e praticar nobres feitos". Nessa perspectiva, a
vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos.
noção de virtude não deve ser confundida com o
A cada vez, o rei dos deuses, Zeus, aliava-se a um grupo
conceito moral de virtude como o conhecemos
e fazia um dos lados vencer uma batalha.
posteriormente, mas como excelência, superioridade,
alvo supremo do herói. Trata –se da virtude do A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre
guerreiro belo e bom. as deusas. Elas apareceram em sonho para o príncipe
Hesíodo, outro poeta que teria vivido por volta troiano Páris, oferecendo-lhe seus dons, e ele escolheu
do final do século VIII e princípios do VII a.C., produz a deusa do amor, Afrodite. As outras deusas,
uma obra com características que apontam para a época enciumadas, o fizeram raptar Helena, esposa do general

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grego Menelau. Isso deu início à guerra entre os É um discurso de tal força, que se estende por
humanos. todas as dependências da realidade vivida, e não apenas
no campo sagrado (ou seja, da relação entre o homem
e o divino), mas existe em toda a atividade humana.
Como não existiam códigos morais
sistematizados que pudessem nortear a ação das
pessoas, podemos afirmar que uma outra função do
mito é fixar os modelos exemplares de todos os ritos e
de todas as atividades humanas significativas.
Dessa forma, o homem imita os gestos
exemplares dos deuses, repetindo nos ritos as ações
deles que atualizam os mitos primordiais, pois, caso
3. Encontrando as recompensas ou castigos que contrário, estão convencidos de que a semente não
os deuses dão a quem os obedece ou desobedece. brotará da terra, a mulher não será fecundada, a árvore
Como o mito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos não dará frutos, o dia não sucederá à noite.
homens, essencial para diferenciá-los dos animais? O A forma sobrenatural de descrever a realidade é
mito conta que um titã, Prometeu, mais amigo dos coerente com a maneira mágica pela qual o homem age
homens do que dos deuses, roubou uma centelha de sobre o mundo, como, por exemplo, com os inúmeros
fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu ritos de passagem do nascimento, do casamento, da
foi castigado, sendo amarrado num rochedo para que morte, da infância para a idade adulta. Sem os ritos, é
uma ave de rapina devorasse seu fígado eternamente. como se os fatos naturais descritos não pudessem se
concretizar de fato.

Os mitos estão apenas no passado?


Uma leitura apressada, na busca do sentido do
mito, pode nos levar a pensar que se trata apenas de
uma maneira fantasiosa de explicar a realidade ainda
não justificada pela razão. Essa compreensão do mito
não esconde o preconceito comum de identificá-lo com
as lendas ou fábulas, e, portanto, como uma forma
menor de explicação do mundo, prestes a ser superada
E qual foi o castigo dos homens? Os deuses por explicações mais racionais.
criaram a primeira mulher humana, Pandora, uma figura
encantadora a quem foi entregue uma caixa que conteria No entanto, a noção de mito é complexa e mais
coisas maravilhosas, mas que nunca deveria ser aberta. rica do que essa posição redutora. Mesmo porque o
Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de mito não é exclusividade de povos primitivos, nem de
curiosidade e de vontade de dar-lhes as maravilhas, civilizações nascentes, mas existe em todos os tempos e
abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças, doenças, culturas como componente indissociável da maneira
pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, assim, humana de compreender a realidade.
a origem dos males no mundo. O mito não é resultado de delírio, nem uma
simples mentira, ele ainda faz parte da nossa vida
cotidiana, como uma das formas indispensáveis do
existir humano.

3. A PÓLIS E O SURGIMENTO DA FILOSOFIA

“Advento da Polis, nascimento da filosofia: entre as


duas ordens de fenômenos os vínculos são demasiado
estreitos para que o pensamento racional não apareça,
Embora tenhamos nos referido ao mito em suas origens, solidário das estruturas sociais e
enquanto forma de compreensão, a sua função não é,
primordialmente, explicar a realidade, mas acomodar e
mentais próprias da cidade grega.”
tranquilizar o homem em um mundo assustador. (Jean-Pierre Vernant)

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Com a segunda diáspora, começa o período Apenas um parêntese esclarecedor: isso não
arcaico (Sécs. VIII a VI a. C.), quando tivemos a significa que a escrita tenha se tornado acessível a todos.
formação de vários demos espalhados por todo o Muito ao contrário, permanece ainda grande o número
mediterrâneo, intensificando as trocas de mercadorias e de analfabetos. O que está em questão, no entanto, é a
fazendo florescer novamente o comércio. É importante dessacralização da escrita, ou seja, seu desligamento da
destacar que nessa época surge a moeda como um religião.
meio de facilitar as transações comerciais. A escrita gera uma nova idade mental porque
exige de quem escreve uma postura diferente daquela
A partir daí, foi só questão de tempo para que de quem apenas fala. Como a escrita fixa a palavra, e
os demos se unissem e formassem as póleis (eram consequentemente o mundo, para além de quem a
mais de 1.000), que foram governadas por conselhos proferiu, necessita de mais rigor e clareza, o que
de eupátridas (proprietários de terras) dando início aos estimula o espírito crítico. Além disso, a retomada
regimes oligárquicos (governo de poucos). Eles posterior do que foi escrito e o exame pelos outros -
desenvolveram leis, distribuíam a justiça, e ditavam a não só de contemporâneos, mas de outras gerações -
divindade a ser cultuada. abrem os horizontes do pensamento, propiciando o
distanciamento do vivido, o confronto das ideias, a
Agora, com um número muito maior de póleis,
ampliação da crítica.
e várias delas sendo importantes centros comerciais e
Portanto, a escrita aparece como possibilidade
portos estratégicos para a navegação, a principal
maior de abstração, uma reflexão da palavra que tenderá
atividade econômica deixou de ser a agricultura, e o
a modificar a própria estrutura do pensamento.
comércio passa a ser o seu principal fator de
As navegações – Ao desbravarem os mares os
desenvolvimento econômico.
gregos iriam realmente descobrir se existiam os
Esse desenvolvimento econômico monstros e sereias que os mitos contavam.
proporcionou uma melhora significativa na qualidade
A invenção do calendário – uma forma de
de vida material da população. A partir daí os gregos
calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas
passaram a ter tempo para fazer algo além de
do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando,
comercializar, eles agora iriam pensar.
com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma
A consolidação das póleis seguido de uma percepção do tempo como algo natural, e não como
relativa estabilidade política e econômica, e um longo uma força divina incompreensível;
período de prosperidade foi o terreno fértil para o A moeda – Você certamente sabe quanto custa
nascimento da Filosofia. Algumas invenções e uma caneta, um caderno ou uma meia. Mas você sabe
atividades que se desenvolveram, ou foram criadas, quanto vale um real? Sabe porque um real vale um real,
juntamente com a polis foram cruciais para o seu e cem reais vale cem reais? Pois é, esse é um exercício
surgimento. São elas: de abstração que requerem cálculos complexo. Os
gregos deixaram de trocar as coisas e passaram a usar a
A escrita alfabética – Geralmente a moeda quando adquiriam essa capacidade de abstração.
consciência mítica predomina nas culturas de tradição
oral, onde ainda não há escrita. É interessante observar Por volta dos séculos VIII a VI a.C. houve o
que mythos significa "palavra", "o que se diz". A palavra desenvolvimento do comércio marítimo decorrente da
antes da escrita, ligada a um suporte vivo que a expansão do mundo grego mediante a colonização da
pronuncia, repete e fixa o evento por meio da memória Magna Grécia (atual sul da Itália) e Jônia (atual
pessoal. Aliás, etimologicamente, epopeia significa "o Turquia). O enriquecimento dos comerciantes
que se exprime pela palavra" e lenda é "o que se conta". promoveu profundas transformações decorrentes da
É bem verdade que, de início, a primeira escrita substituição dos valores aristocráticos pelos valores da
é mágica e reservada aos privilegiados, aos sacerdotes e nova classe em ascensão.
aos reis. Na época da predominância da aristocracia rural,
Entre os egípcios, por exemplo, hieróglifos cuja riqueza se baseava em terras e rebanhos, a
significa literalmente "sinais divinos". Na Grécia, a economia era pré-monetária e os objetos usados para
escrita surge por influência dos fenícios e já no século troca vinham carregados de simbologia afetiva e
VIII a.C. se acha suficientemente desligada de sagrada, decorrente da posição social ocupada por
preocupações esotéricas e religiosas. homens considerados superiores e do caráter
Enquanto os rituais religiosos são cheios de sobrenatural que impregnava as relações sociais.
fórmulas mágicas, termos fixos e inquestionados, os A fim de facilitar os negócios, a moeda, que tinha
escritos deixam de ser reservados apenas aos que detêm sido inventada na Lídia, aparece na Grécia por volta do
o poder e passam a ser divulgados em praça pública, século VII a.C. A moeda torna-se necessária porque,
sujeitos à discussão e à crítica. com o comércio, os produtos que antes eram feitos

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sobretudo com valor de uso passam a ter valor de troca, poeta) uma iluminação ou uma revelação sobrenatural
isto é, transformam-se em mercadoria, e, então, dizia aos homens quais eram as decisões dos
Daí a exigência de algo que funcionasse como valor deuses que eles deveriam obedecer.
equivalente universal das mercadorias. Agora, com a pólis, a palavra constitui-se como
A invenção da moeda desempenha papel direito de cada cidadão emitir em público sua opinião,
revolucionário, pois está vinculada ao nascimento do discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma
pensamento racional. decisão proposta por ele. Desse modo, surge o discurso
Isso porque passa a ser emitida e garantida pela político como palavra humana compartilhada, como
Cidade, revertendo benefícios para a própria diálogo, discussão e deliberação humana, isto é, como
comunidade. Além desse efeito político de decisão racional e exposição dos motivos ou das razões
democratização, a moeda sobrepõe aos símbolos para fazer ou não fazer alguma coisa.
sagrados e afetivos o caráter racional de sua concepção: Com a política, valorizou-se o pensamento
muito mais do que um metal precioso que se troca por racional, criando condições para que surgisse o discurso
qualquer mercadoria, a moeda é um artifício racional, ou a palavra filosófica.
uma convenção humana, uma noção abstrata de valor 3º) A noção de discussão pública das opiniões e
que estabelece a medida comum entre valores ideias, pois a política estimula um pensamento e um
diferentes. discurso públicos, ensinados, transmitidos,
A política – Esse ponto é bastante importante comunicados e discutidos, que não sejam formulados
porque marca uma ruptura no modo de encarar a por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados.
organização social. A pólis é um lugar onde os homens A ideia de um pensamento que todos podem
decidem o seu próprio destino, e não mais os deuses. compreender, discutir e transmitir é fundamental para a
filosofia.
E esse governo dos homens só era possível Para os gregos, a finalidade da vida política
porque eles eram livres para criarem suas próprias leis, era a justiça na comunidade. A noção de justiça fora,
que eram fruto do debate público, ou seja, da palavra inicialmente, elaborada em termos míticos com base em
que era posta sob questionamento. três figuras principais: thémis, a lei divina trazida pela
deusa Thémis, que institui a ordem do Universo;
E esse tipo de discurso proporcionado pela
kósmos, a ordem universal estabelecida pela lei divina;
atividade política foi fundamental para o surgimento do
diké, a justiça que a deusa Diké instituiu entre as coisas
discurso filosófico, que nasceu como diálogo. A palavra
e entre os homens, no respeito às leis divinas e à ordem
que sempre pode ser debatida e questionada. Lembre-
cósmica.
se que no mito, a palavra era inquestionável.
Pouco a pouco, a noção de diké identificou-se
A invenção da política, que introduz três com a regra natural para a ação das coisas e dos homens
aspectos novos e decisivos para o nascimento da e o critério para julgá-las. A ideia de justiça se refere,
filosofia: portanto, a uma ordem divina e natural, que regula,
1º) A ideia da lei como expressão da vontade de julga e pune as ações das coisas e dos seres humanos. A
uma coletividade humana que decide por si mesma o justiça é a lei e a ordem do mundo, isto é, da natureza
que é melhor para si e como ela definirá suas relações ou physis. Lei (nómos), natureza (physis) e ordem
internas. (kósmos) constituem assim o campo da ideia de justiça.
Drácon (séc. VII a.C.), Sólon e Clístenes (séc. A invenção da política exigiu que as explicações
VI a.C.) são os primeiros legisladores que marcam uma míticas fossem afastadas — thémis e diké deixaram de
nova era: a justiça, até então dependente da ser vistas como duas deusas que impunham ordem e leis
arbitrariedade dos reis ou da interpretação da vontade ao mundo e aos seres humanos, passando a significar as
divina, é codificada numa legislação escrita. causas que fazem haver ordem, lei e justiça na natureza
Regra comum a todos, norma racional, sujeita à e na pólis. Justo é o que segue a ordem natural e respeita
discussão e modificação, a lei escrita passa a encarnar a lei natural.
uma dimensão propriamente humana. Mas a pólis existe por natureza ou é instituída
Essa característica da pólis grega – um espaço por convenção entre os homens? A justiça e a lei
legislado e regulado – servirá de modelo para a filosofia política são naturais ou estabelecidas pelos humanos,
propor que também o mundo é racionalmente isto é, convencionais? Essas indagações colocam, de um
legislado, regulado e ordenado. lado, os sofistas, defensores do caráter convencional da
2º) O surgimento de um espaço público, que faz justiça e da lei, e, de outro, Platão e Aristóteles,
aparecer um novo tipo de discurso, diferente daquele defensores do caráter natural da justiça e da lei.
que era preferido pelo mito. Neste, um poeta-vidente O cidadão da pólis - Jean-Pierre Vernant,
recebia das deusas ligadas à memória (a deusa helenista e pensador francês, vê no nascimento da pólis
Mnemosyne, mãe das musas, entidades que guiavam o (por volta dos séculos VIII e VII a.C.) um
acontecimento decisivo que "marca um começo, uma
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verdadeira invenção", que provocou grandes alterações humanas, fruto de sua natureza. Cada cidadão era
na vida social e nas relações entre os homens. estimulado a exercitar as virtudes e reprimir os vícios. E
A originalidade da pólis grega é que ela está a justiça necessária para controlar esse lado ruim só
centralizada na ágora (praça pública), espaço onde se pode ser encontrada em uma comunidade bem
debatem os problemas de interesse comum. Separam- ordenada, de homens virtuosos, justos e livres, que
se na pólis o domínio público e o privado: isto governam a si mesmos, ou seja, na pólis.
significa que ao ideal de valor de sangue, restrito a
grupos privilegiados em função do nascimento ou Essa visão histórica da formação da sociedade
fortuna, se sobrepõe a justa distribuição dos direitos dos grega desde os núcleos rurais até a formação das póleis,
cidadãos enquanto representantes dos interesses da nos ajuda a entender não apenas o surgimento da
cidade. Está sendo elaborado o novo ideal de justiça, filosofia, mas o por que dela ter sido uma invenção
pelo qual todo cidadão tem direito ao poder. A nova grega.
noção de justiça assume caráter político, e não apenas
Ela também não foi uma cópia do pensamento
moral, ou seja, ela não diz respeito apenas ao indivíduo
das civilizações orientais, a filosofia foi criação do gênio
e aos interesses da tradição familiar, mas se refere a sua
helênico (os antigos gregos autodenominavam-
atuação na comunidade.
se helenos, e a seu país chamavam Hélade, nunca tendo
A pólis se faz pela autonomia da palavra, não
chamado a si mesmos de gregos nem à sua
mais a palavra mágica dos mitos, palavra dada pelos
civilização Grécia, essas palavras são latinas, pois era
deuses e, portanto, comum a todos, mas a palavra
assim que os romanos denominavam os gregos).
humana do conflito, da discussão, da argumentação. O
saber deixa de ser sagrado e passa a ser objeto de Além dessas condições históricas e
discussão. sociopolíticas, temos também a influência da poesia
A expressão da individualidade por meio do e da religião grega na criação da filosofia. A poesia
debate faz nascer a política, libertando o homem dos antecipou o gosto pela harmonia, pela proporção e pela
exclusivos desígnios divinos, e permitindo a ele tecer justa medida (Homero) e um modo particular de
seu destino na praça pública. A instauração da ordem fornecer explicações remontando às causas, mesmo que
humana dá origem ao cidadão da pólis, figura em nível fantástico-poético (Hesíodo e sua Teogonia).
inexistente no mundo coletivista da comunidade tribal. A religião grega se diferenciou em religião pública
Portanto, o cidadão da pólis participa dos (inspirada em Homero e Hesíodo) e em religião dos
destinos da cidade por meio do uso da palavra em praça mistérios, em particular a órfica.
pública. Mas para que isso fosse possível, desenvolveu-
se uma nova concepção a respeito das relações entre os A religião pública considera os deuses como
homens, não mais assentadas nas suas diferenças, na forças naturais ampliadas na dimensão do divino, ou
hierarquia típica das relações de submissão e domínio. como aspectos característicos do homem sublimado.
Ou seja, "os que compõem a cidade, por mais diferentes
que sejam por sua origem, sua classe, sua função, A religião órfica considera o homem de modo
aparecem de uma certa maneira "semelhantes" uns aos dualista: como alma imortal que por sua culpa originária
outros". foi condenada a viver em um corpo, entendido como
De início a igualdade existe apenas entre os tumba e prisão. Do Orfismo deriva a moral que põe
guerreiros, mas "essa imagem do mundo humano limites precisos a algumas tendências irracionais do
encontrará no século VI sua expressão rigorosa num homem.
conceito, o de isonomia: igual participação de todos os
O que agrupa essas duas formas de religião é a
cidadãos no exercício do poder".
ausência de dogmas fixos e vinculantes em sentido
absoluto, de textos sagrados revelados e de intérpretes
Nas póleis gregas não havia muita diferença de
e guardiões dessa revelação (sacerdotes preparados para
riqueza entre os cidadãos e a monarquia não era a forma
essas tarefas precisas). Por esse motivo, o pensamento
de governo predominante entre eles.
filosófico teve desde o início ampla liberdade de
Os gregos acreditavam que um homem livre expressão.
que vivia em pleno gozo de suas faculdades mentais e
No processo de construção do saber filosófico,
corporais deveria viver em uma comunidade política
é inegável o quanto que os gregos aprenderam com os
que se autodeterminava por leis que ela mesma criava
outros povos, tanto os que os antecederam, quanto os
por meio do debate, e não por um homem (rei) ou
que foram seus contemporâneos. Mas também é
alguma divindade.
inegável como eles souberam transformar esses
A vida na pólis era voltada para que eles conhecimentos adquiridos em alto totalmente novo e
desenvolvessem plenamente suas capacidades melhor.

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Do oriente eles aprenderam alguns Quando adulto, Édipo consulta o oráculo e ao


conhecimentos como a matemática e astronomia, e tomar conhecimento do destino que lhe fora reservado,
souberam dar a eles uma dimensão teórica, enquanto os foge da casa dos supostos pais a fim de evitar o
orientais os concebiam em sentido puramente prático. cumprimento daquela sina. No caminho desentende -se
Se os egípcios desenvolveram e transmitiram a arte do com um desconhecido e o mata. Esse desconhecido era,
cálculo, os gregos, particularmente a partir dos sem que Édipo soubesse, seu verdadeiro pai. Entrando
Pitagóricos, elaboraram uma teoria sistemática do em Tebas, casa com Jocasta, viúva de Laio, ignorando
número. Se os babilônios fizeram uso de observações ser ela sua mãe. E assim se cumpre o destino.
astronômicas particulares para traçar rotas para os Mesmo que Sófocles tenha tomado do mito o
navios, os gregos as transformaram em teoria enredo da história, as figuras lendárias apresentam -se
astronômica. com a face humanizada, agitam-se e questionam o
destino. A todo momento emerge a força nova da
Como podemos perceber, a Filosofia não foi vontade que se recusa a sucumbir aos desígnios divinos
um “milagre” repentino do povo grego, mas o resultado e tenta transcender o que lhe é dado com um ato de
de uma gestação que vinha acontecendo no seio das liberdade. E, mesmo quando a intuição de Édipo lhe
transformações ocorridas na sociedade grega durante indica ser ele próprio o assassino procurado em Tebas,
séculos. leva o inquérito até o fim, como se estivesse em busca
da própria identidade ("O dia de hoje te fará nascer e te
matará").
4. A TRAGÉDIA GREGA
Mas, se no final vence o irracional, Édipo não
foi um ser passivo. E a tragédia consiste justamente na
Uma das características da consciência mítica é
contradição entre determinismo e liberdade, na luta
a aceitação do destino: os costumes dos ancestrais têm
contra o destino levada a cabo pelo homem que surge
raízes no sobrenatural; as ações humanas são
como um ser de vontade. Quando no final Édipo se
determinadas pelos deuses; em consequência, não se
cega, diz: "Apolo me culminou com os mais horrorosos
pode falar propriamente em comportamento ético, uma
sofrimentos. Mas estes olhos vazios não são obra dele,
vez que falta a dimensão de subjetividade que
mas obra minha".
caracteriza o ato livre e autônomo.
A tentativa de reflexão retrata o logos nascente.
Ao analisarmos a passagem do mito à razão há
Daí em diante a filosofia representará o esforço da
um período intermediário caracterizado pela
razão em compreender o mundo e orientar a ação.
consciência trágica que representa o momento em que
o mito não foi totalmente superado e ainda não se
firmou a consciência filosófica. 5. PRÉ-SOCRÁTICOS – OS PRIMEIROS
A tragédia grega floresceu por curto período, e FILÓSOFOS
os autores mais famosos foram Ésquilo (525-456a.C.),
Sófocles (496-c.406a.C.) e Eurípedes (c.480-406a.C.).
O conteúdo das peças é retirado dos mitos, mas
há algo de novo no tratamento que os autores - Tendo Sócrates como a grande referência na
sobretudo Sófocles – dão ao relato das façanhas dos filosofia antiga, os historiadores consentiram em
heróis. chamar esse primeiro período filosófico de pré-
Tomemos por exemplo a tragédia Édipo-Rei socrático.
de Sófocles. Nela conta-se que Laio, senhor de Tebas,
É de se ressaltar que essa convenção tem como
soube pelo oráculo que seu filho recém-nascido haveria
critério não apenas uma ordem cronológica, mas a linha
um dia de assassiná-lo, casando-se em seguida com a
de investigação filosófica, pois ao tempo de Sócrates
própria mãe. Por isso, Laio antecipa-se ao destino e
ainda haviam pré-socráticos.
manda matá-lo, mas suas ordens não são cumpridas, e
a criança cresce em Lugar distante. Os principais filósofos pré-socráticos foram:
 Os da Escola Jônica: Tales de Mileto,
Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto
e Heráclito de Éfeso;
 Os da Escola Itálica: Pitágoras de Samos;
 Os da Escola Eleata: Parmênides de Eleia e
Zenão de Eleia;
 Os da Escola da Pluralidade: Empédocles de
Agrigento, Anaxágoras, Leucipo de Abdera e
Demócrito de Abdera.

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Esses primeiros filósofos se preocuparam em qualitativas e quantitativas, deve ser infinito


tentar explicar a physis (palavra grega que pode ser espacialmente e indefinido qualitativamente: conceitos
traduzida por natureza) por isso eles serem conhecidos estes que se expressam em grego com o único termo,
também como naturalistas, ou mesmo físicos, pois ápeiron (indeterminado).
estavam tentando entender o mundo físico de uma
forma racional (cosmologia), dando uma explicação O princípio - que pela primeira vez
diferente da dos mitos, que recorriam aos deuses. Anaximandro designa com o termo técnico de arché –
é, portanto, o ápeiron . Dele as coisas derivam por uma
Diferentemente da explicação mítica que dizia espécie de injustiça originária (o nascimento das coisas
que o universo havia sido criado do nada, para eles o está ligado com o nascimento dos contrários, que
universo havia sido gerado de um princípio universal. tendem a subjugar um no outro) e a ele retornar por
E descobrir essa arché seria a chave para entender todas uma espécie de expiação (a morte leva à dissolução e,
as coisas. portanto, à resolução dos contrários um no outro).
Os Pré-Socráticos acreditavam que a physis Para ele, o princípio criador, o ápeiron, não
apesar de estar em constante movimento (devir) possuía poderia ser conhecido pelos sentidos, mas somente
um elemento de permanência e que este seria o seu pelo intelecto.
princípio originador, seu fundamento, e explicaria a
causa da mudança. Anaxímenis (588-524 a.
C.), discípulo de Anaximandro,
O “princípio” é, propriamente, aquilo de que continua a discussão sobre o
derivam e em que se resolvem todas as coisas, e aquilo princípio, mas critica a solução
que permanece imutável mesmo nas várias formas que proposta pelo mestre: a arché é o
pouco a pouco assume. ar infinito, difuso por toda a parte,
perene em movimento.
Dentre esses filósofos haviam os que
acreditavam que a arché era um único elemento, estes O ar sustenta e governa o universo, e gera todas
eram os monistas. Mais tardiamente, outros pré- as coisas, transformando-se mediante a condensação
socráticos começaram a defender que eram vários, e em água e terra, e em fogo pela rarefação.
ficaram conhecidos como pluralistas.
Pitágoras de Samos
(570-490 a. C.) e os
Pitagóricos deslocam a
5.1 MONISTAS problemática do princípio a um
novo e mais elevado plano.
Tales de Mileto (640-546 a.
C.), que talvez tenha sido o O princípio da realidade
primeiro filósofo. Foi ele o é para os pitagóricos não um
criador, do ponto de vista elemento físico, mas o
conceitual, do problema “número”. Segundo eles, todos os fenômenos mais
concernente ao princípio (arché). significativos acontecem segundo regularidade
mensurável e exprimível com números. O número,
Tales identificou o princípio com a água, pois
portanto, é a causa de cada coisa e determina a sua
contatou que o elemento líquido está presente em todo
essência e a recíproca relação com as outras.
lugar em que há vida.
Para os Pitagóricos, não são os números
Anaximandro de
enquanto tais o fundamento último da realidade, mas os
Mileto (610-547 a. C.) foi
elementos do número, ou seja, o “limite” (princípio
provavelmente discípulo de Tales
determinado e determinante) e o “ilimitado” (princípio
e continuou a pesquisa sobre o
indeterminado).
princípio. Criticou a solução do
problema proposta pelo mestre, Se tudo é número, tudo é “ordem” e o universo
salientando sua incompletude pela inteiro aparece como um kósmos (termo que significa
falta de explicações das razões e justamente “ordem”) que deriva dos números, e
do modo pelo qual do princípio derivam todas as coisas. enquanto tal é perfeitamente cognoscível também nas
suas partes.
Se o princípio deve poder tornar-se todas as
coisas que são diversas tanto por quantidade quanto por Os Pitagóricos derivam do Orfismo o conceito
qualidade, deve em si ser privado de indeterminações de vida como expiação/purificação para poder retornar

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junto aos deuses, mas atribuem a virtude catártica não a Parmênides (510-470
ritos e práticas, como queriam os órficos, mas ao a. C.) de Eleia, rompe com os
conhecimento e à ciência, isto é, à “vida contemplativa” filósofos que o precederam na
em grau supremo, chamada “vida pitagórica”, a qual maneira de pensar o mundo. E
eleva o homem e o leva à contemplação da verdade. por isso não se adequa a
classificação de monista ou
Creditava aos números a origem de tudo, mas pluralista.
desde que entendidos como harmonia e proporção. Ou
seja, tudo na natureza é proporcional e harmônico. Ele se apresenta como
inovador radical e, em certo
Heráclito de Éfeso sentido, como pensador revolucionário. Efetivamente
(535-475 a. C.), um dos com ele a cosmologia recebe um profundo e benéfico
filósofos mais importantes abalo do ponto de vista conceitual, transformando-se
desse período, dizia que o em uma ontologia (teoria do ser).
universo está em constante
mudança, tudo flui, tudo está Segundo esse filósofo, o elemento de
em transformação constante. permanência, de origem, de fundamento, das
Ele é o autor da famosa frase coisas/mundo (physis) não pode ser encontrado na sua
que caracteriza bem o seu pensamento: “Um homem não mutabilidade constante.
pode se banhar duas vezes no mesmo rio, porque na segunda vez
o rio e o homem não serão os mesmos.” Melhor dizendo, não se pode encontrar o
princípio (arché) imutável do universo na sua própria
Para ele, o devir é uma característica estrutural mudança, ainda mais quando a investigação é
de toda a realidade. E isso é assim porque todas as conduzida pelos sentidos.
coisas possuem os opostos em constante guerra. O real
é a mudança e a permanência é ilusória. Para ele a mudança seria apenas uma ilusão dos
sentidos, e o que é essencial nas coisas só pode ser
Não se trata de um devir caótico, mas de captado pelo pensamento. Por esse motivo, é que
passagem dinâmica ordenada de um contrário ao outro, haviam tantas opiniões contrárias sobre o Ser das
é uma guerra de opostos que no conjunto se compõe coisas, porque os filósofos estavam trilhando um
em harmonia de contrários. O mundo é, portanto, caminho errado que só os levava à ilusão.
guerra nos particulares, mas paz e harmonia no
conjunto. Parmênides no seu poema Sobre a natureza
descreve três vias de pesquisa
Nesse contexto, o princípio para Heráclito é o
fogo, que é perfeita expressão do movimento perene, e 1) A da verdade absoluta;
justamente na dinâmica da guerra dos contrários, que 2) A das opiniões falazes;
tem esse elemento como sua causa. 3) A da opinião plausível

O fogo está estreitamente ligado ao conceito de A primeira via afirma que “o Ser existe e não
racionalidade (logos), razão de ser da harmonia do pode não existir”, e que “o não-ser não existe”, e disso
cosmo. tira toda uma série de consequências.

Portanto não há ser estático, e o dinamismo Primeiramente, fora do ser não existe nada e,
pode bem ser representado pela metáfora do fogo, portanto, também o pensamento é ser (não é possível
forma visível da instabilidade, símbolo da eterna para Parmênides pensar o nada). Em segundo lugar, o
agitação do devir, "o fogo eterno e vivo, que ora se ser é não gerado (porque de outro modo deveria derivar
acende e ora se apaga". do não-ser, mas o não-ser não existe). Em terceiro
Para Heráclito o ser é o múltiplo. Não no lugar, é incorruptível (porque de outro modo deveria
sentido apenas de que existe a multiplicidade das coisas, terminar no não-ser).
mas de que o ser é múltiplo por estar constituído de
Além disso não tem passado nem futuro (de
contrários, pois "a guerra é pai de todos, rei de todos".
outro modo, uma vez passado, não existiria mais, ou na
E é da luta que nasce a harmonia, como síntese dos
espera de ser no futuro, ainda não existiria), e, portanto,
contrários.
existe em um eterno presente, é imóvel, é homogêneo
Pode-se dizer que Heráclito teve a intuição da
(todo igual a si, porque não pode existir mais ou menos
lógica dialética, a ser elaborada por Hegel e depois
ser), é perfeito, é limitado e uno.
Marx, no século XIX.

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Portanto, aquilo que os sentidos atestam em nem por que mudar e não tem no que mudar, pois, se
como em devir e múltiplo, e consequentemente tudo mudasse, deixaria de ser o Ser, tornando-se contrário a
aquilo que eles testemunham, é falso. si mesmo, o Não-Ser. Como consequência, mostrou
que o pensamento verdadeiro não admite a
A segunda via é a do erro, a qual, confiando nos multiplicidade ou pluralidade de seres e que o Ser é uno
sentidos, admite que existia o devir, e cai, por e único.
conseguinte, no erro de admitir a existência do não-ser. Os argumentos da Escola Eleata eram
rigorosos:
A terceira via procura certa medição entre as
 admitamos que o Ser não seja uno, mas
duas primeiras, reconhecendo que também os opostos,
múltiplo. Nesse caso, cada ser é ele mesmo e não
como a “luz” e a “escuridão”, devam identificar-se no
é os outros seres; portanto, cada ser é e não é ao
ser (a luz “é”, a noite “é”, e, portanto, ambas são, ou
mesmo tempo, o que é impensável ou absurdo.
seja coincidem no ser). Os testemunhos dos sentidos
devem ser repensados em nível de razão. O Ser é uno e não pode ser múltiplo;
 admitamos que o Ser não seja eterno, mas teve
Em essência, para Parmênides, a mudança um começo e terá um fim. Antes dele, o que
(devir) não existe, é uma ilusão dos sentidos, Heráclito havia? Outro Ser? Não, pois o Ser é uno. O
estava errado. “O Ser é e o não ser não é”. O Ser é o Não-Ser? Não, pois o Não-Ser é o nada.
Logos (razão), a permanência, é imutável e sem Portanto, o Ser não pode ter tido um começo.
contradições. Terá um fim? Se tiver, o que virá depois dele?
Outro Ser? Não, pois o Ser é uno. O Não-Ser?
O surgimento da ontologia Não, pois o Não-Ser é o nada. Portanto, o Ser
não pode acabar. Sem começo e sem fim, o Ser
Foi Parmênides o primeiro filósofo a afirmar é eterno;
que o mundo percebido por nossos sentidos — o  admitamos que o Ser não seja imutável, mas
cosmo estudado pela cosmologia — é um mundo mutável. No que o Ser mudaria? Noutro Ser?
ilusório, feito de aparências, sobre as quais formulamos Não, pois o Ser é uno. No Não-Ser? Não, pois
nossas opiniões. Foi ele também o primeiro a contrapor o Não-Ser é o nada. Portanto, se o Ser mudasse,
a esse mundo mutável a ideia de um pensamento e de tornar-se-ia Não-Ser e desapareceria. O Ser é
um discurso verdadeiros referidos àquilo que é imutável e o devir é uma ilusão de nossos
realmente, ao Ser — tò on, on. sentidos.
O Ser é, diz Parmênides. Com isso, pretendeu O que Parmênides afirmava era a diferença entre
dizer que o Ser é sempre idêntico a si mesmo, imutável, pensar e perceber. Percebemos a natureza na
eterno, imperecível, invisível aos nossos sentidos e multiplicidade e na mutabilidade das coisas que se
visível apenas para o pensamento. Foi Parmênides o transformam umas nas outras. Mas pensamos o Ser,
primeiro a dizer que a aparência sensível das coisas da isto é, a identidade, a unidade, a imutabilidade e a
natureza não possui realidade, não existe real e eternidade daquilo que é em si mesmo. Perceber é ver
verdadeiramente, não é. Contrapôs, assim, o Ser (on) ao aparências. Pensar é contemplar a realidade como
Não-Ser (me on), declarando: “o Não-Ser não é”. A idêntica a si mesma. Pensar é contemplar o tò on, o Ser.
filosofia é chamada por Parmênides de “a Via da Multiplicidade, mudança, nascimento e
Verdade” (alétheia), que nega realidade e conhecimento perecimento são aparências, ilusões dos sentidos. Ao
à “Via de Opinião” (dóxa), pois esta se ocupa com as abandoná-las, a filosofia passou da cosmologia à
aparências, com o Não-Ser. ontologia.
Ora, a cosmologia ou física ocupava-se
justamente com o mundo que percebemos e no qual
vivemos com as demais coisas naturais. Ocupava-se 5.2 OS PLURALISTAS
com a natureza como um cosmo ou ordem regular e
constante de surgimento, transformação e Empédocles (490-430
desaparecimento das coisas. a. C.), o primeiro dos
A cosmologia buscava a explicação para o devir, pluralistas, herda de
isto é, para a passagem de uma coisa a um outro modo Parmênides o conceito da
de existir, contrário ao que possuía. impossibilidade do nascer
Parmênides tornou a cosmologia impossível ao como um derivar do ser a partir
afirmar que o pensamento verdadeiro exige a do não-ser e do perecer como
identidade, a não transformação e a não contradição do passagem do ser ao não-ser.
Ser. Considerando a mudança de uma coisa em outra Todavia procura superar a paradoxalidade desta tese,
contrária como o Não-Ser, Parmênides também que vai contra aquilo que a experiência atesta,
afirmava que o Ser não muda porque não tem como recorrendo a uma pluralidade de princípios, cada um

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dos quais mantém as características do ser de Escola Atomista e procuram dar também uma saída
Parmênides. para o impasse de Parmênides sobre a realidade, o Ser.
“Nascer” e “perecer”, como desejava Segundo eles, o ser
Parmênides, não consistem do “vir do” ou em “ir no” que não nasce, não morre e
não-ser, e sim no “agregar-se” e “compor-se” e no não entra em devir, não se
“desagregar-se” e “decompor-se” dos quatro elementos adapta à realidade sensível,
originários (raízes de todas as coisas), que são ar, água, isto é, aos átomos (partes
terra e fogo. Cada um desses elementos é incorruptível, indivisíveis da physis).
homogêneo, eterno, inalterável, ou seja, tem as
características fundamentais do ser de Parmênides. O átomo é uma realidade captável apenas com
Com a recíproca agregação e desagregação, esses o intelecto, não tem qualidade, mas apenas forma
elementos dão lugar a um mundo múltiplo e em devir. geométrica, e é naturalmente dotado de movimento.

Água, terra, ar e fogo são movidos e governados As coisas sensíveis nascem, morrem e sofrem
por duas forças cósmicas, o Amor e o Ódio: uma mutação, apenas em virtude da agregação e
agrega, a outra desagrega. Quando prevalece o Amor desagregação dos átomos e, portanto, toda a realidade
temos perfeita unidade (o Esfero); quando prevalece o pode ser explicada em sentido mecanicista a partir dos
ódio em sentido extremo, temos ao invés o máximo de átomos e do vazio.
desagregação (o Caos). Nas fases de relativo
Os atomistas explicaram o conhecimento
predomínio do Ódio, gera-se o cosmo.
recorrendo à teoria dos eflúvios, isto é, admitindo a
Empédocles procurou explicar também o existência de fluxos de átomos que, destacando-se das
conhecimento, sustentando que das coisas se coisas, se imprimem sobre os sentidos. Nesse contato,
desprendem eflúvios que atingem os sentidos. Como os átomos semelhantes que estão fora de nós
nossos sentidos são feitos dos mesmos elementos de impressionam os átomos semelhantes que estão em nó,
que é composto o mundo, o fogo que está em nós fundando – de modo não diferente d Empédocles – o
reconhece o fogo que está nas coisas, a terra reconhece conhecimento.
a terra, e assim por diante. Consequentemente, é válido
Ruptura entre mito e filosofia
o princípio geral que o semelhante conhece o
semelhante. Após estudarmos o mito e o surgimento da
filosofia temos de nos confrontarmos com a seguinte
Anaxágoras (499-428
questão: a filosofia nasceu realizando uma
a. C.), que foi mestre de
transformação gradual dos mitos gregos ou produzindo
Péricles, defendia que o
uma ruptura radical com eles?
princípio gerador de todas as
Vimos que o mito narra a origem das coisas por
coisas não é único, que a physis
meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças
era formada de várias partículas
sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos
(sementes – espermatas) que se
homens. E que basicamente temos as cosmogonias e
agregam e desagregam sendo
teogonias.
ordenadas por uma inteligência universal.
Ao surgir, a filosofia não é uma cosmogonia, e
Com agregar-se das sementes, nascem todas as sim uma cosmologia, uma explicação racional sobre a
coisas que existem. E em cada uma das coisas que assim origem do mundo e sobre as causas das transformações
se produzem estão presentes, em diversas proporções, e repetições das coisas.
todas as sementes, sendo que as que prevalecem Os estudiosos chegaram à conclusão de que as
determinam as diferenças específicas. contradições e limitações dos mitos para explicar a
realidade natural e humana levaram a filosofia a retomá-
Isso acontece de tal forma que em todas as los, porém reformulando e racionalizando as narrativas
coisas estão presentes todas as qualidades (“tudo está míticas, transformando-as numa explicação
em tudo”), e deste modo se explica a razão pela qual as inteiramente nova e diferente.
coisas podem se transformar uma na outra. Assim, podemos apontar as três diferenças mais
importantes entre mito e filosofia:
Demócrito (460-370 a. C.) e Leucipo (séc. V 1. O mito pretendia narrar como as coisas eram
a. C) eram contemporâneos de Sócrates, mas como o no passado imemorial, longínquo e fabuloso, voltando-
objeto de suas investigações ainda era a physis, eles são se para o que era antes que tudo existisse tal como no
considerados pré-socráticos. São os fundadores da presente. A filosofia, ao contrário, se preocupa em

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explicar como e por que, no passado, no presente e no c) origem dos deuses e dos homens.
futuro, as coisas são como são.
2. O mito narrava a origem por meio de d) origem do cosmo e das plantas.
genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas
sobrenaturais e personificadas. A filosofia, ao contrário,
03. (UNICENTRO 2010) “Os poemas homéricos
explica a produção natural das coisas por elementos
têm por fundamento uma visão de mundo clara e
naturais primordiais (água ou úmido, fogo ou quente, ar
coerente. Manifestam-na quase a cada verso, pois
ou frio, terra ou seco), por meio de causas naturais e
colocam em relação com ela tudo quanto cantam de
impessoais (pela combinação, composição e separação
importante – é, antes de mais nada, a partir dessa
entre os quatro elementos primordiais).
relação que se define seu caráter particular. Nós
Assim, por exemplo, o mito falava nos deuses
chamamos de religiosa essa cosmovisão, embora ela se
Urano, Ponto e Gaia; a filosofia fala em céu, mar e terra.
distancie muito da religião de outros povos e tempos.
O mito narrava a origem dos seres celestes, terrestres e
Essa cosmovisão da poesia homérica é clara e coerente.
marinhos pelos casamentos de Gaia (a terra) com
Em parte alguma ela enuncia fórmulas conceituais à
Urano (o céu) e Ponto (o mar). A filosofia explica o
maneira de um dogma; antes se exprime vivamente em
surgimento do céu, do mar e da terra e dos seres que
tudo que sucede, em tudo que é dito e pensado. E
neles vivem pelos movimentos e ações de composição,
embora no pormenor muitas coisas resultem ambíguas,
combinação e separação dos quatro elementos – úmido,
em termos amplos e no essencial, os testemunhos não
seco, quente e frio.
se contradizem. É possível, com rigoroso método,
3. O mito não se importava com contradições,
reuni-los, ordená-los, fazer lhes o cômputo, e assim eles
com o fabuloso e o incompreensível, não só porque
nos dão respostas explícitas às questões sobre a vida e
esses são traços próprios da narrativa mítica, como
a morte, o homem e Deus, a liberdade e o destino (...).”
também porque a confiança e a crença no mito vinham (OTTO. Os deuses da Grécia: a imagem do divino na visão do espírito
da autoridade religiosa do narrador. grego. 1ª Ed., trad. [e prefácio] de Ordep Serra. – São Paulo:
A filosofia, ao contrário, não admite Odysseus Editora, 2005 - p. 11.)
contradições, fabulação e coisas incompreensíveis, mas Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a
exige que a explicação seja coerente, lógica e racional. função dos mitos na Grécia arcaica, assinale a alternativa
Além disso, a autoridade da explicação não vem da correta.
pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em a) De acordo com os poemas homéricos, os deuses em
todos os seres humanos. nada poderiam interferir no destino dos humanos e,
assim, a determinação divina (ananque) se colocava em
segundo plano, uma vez que era o acaso (tykhe) quem
governava, isto é, possuía a função de ensinar ao
homem o que este deveria escolher no momento de sua
QUESTÕES
livre ação.
01. A construção de uma cosmologia que desse uma b) As poesias de Homero sempre mantiveram a função
explicação racional e sistemática das características do de educar o homem grego para o pleno exercício da
universo, em substituição à cosmogonia, que tentava atividade racional que surgiria no século VI a.C., uma
explicar a origem do universo baseada nos mitos, foi vez que, de acordo com historiadores e helenistas, não
uma preocupação da Filosofia houve uma ruptura na passagem do mito para o lógos,
mas sim um processo gradual e contínuo de
a) medieval. enraizamento histórico que culminou no advento da
filosofia.
b) antiga. c) Os mitos homéricos serviram de base para a
c) iluminista. educação, formação e visão de mundo que o homem
grego arcaico possuía. Em seus cânticos, Homero
d) contemporânea. justapõe conceitos importantes como harmonia,
proporção e questionamentos a respeito dos princípios,
02. No mundo grego, podemos encontrar uma série de das causas e do por quê das coisas. Embora todas essas
relatos mitológicos sobre diversos aspectos da vida instâncias apresentavam-se como tal, os mitos não
humana, da natureza, dos deuses e do universo. Dois deixaram de lado o caráter mágico, fictício e fabular em
tipos de relatos merecem destaque: as cosmogonias e que eram narrados.
teogonias. Os relatos citados tratam da d) O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos
de sua poesia, Homero inaugura uma modalidade
a) origem dos homens e das plantas. literária bem singular no ocidente. As ações dos deuses
b) origem do cosmo e dos deuses. e dos homens, por exemplo, sempre obedeceram a uma

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ordem pré-estabelecida, a qual sempre revelou uma ( ) Nas sociedades primitivas, o mito nasce do desejo
lógica racional em funcionamento. de dominação do mundo, para afugentar o medo e a
e) Os mitos tiveram função meramente ilustrativa na insegurança.
educação do homem grego, pois o caráter teórico e ( ) O homem, à mercê das forças naturais, que são
abstrato da cultura grega apagou em grande parte os assustadoras, passa a emprestar-lhes qualidades
aspectos que se revelariam relevantes na poesia grega. emocionais.
( ) É a primeira forma que o homem utiliza para dar
04. (UNICENTRO 2015) Sobre a Ética do período significado ao mundo.
homérico, considere as afirmativas a seguir. ( ) Fundado no desejo de segurança, o mito é uma
I. A não separação entre ética e estética era a narrativa que conta histórias que tranquilizam os seres.
característica do pensamento grego primitivo. ( ) Faz parte do desenvolvimento do pensamento
II. Nesse período não havia um pensamento ético reflexivo e do pensamento científico.
sistematizado, sendo o exemplo dos grandes homens o A alternativa que indica a sequência correta, de cima
guia para a ação. para baixo, é a
III. No período homérico, a compaixão era o elemento A) V F V F V
que guiava as ações humanas. B) F V F V F
IV. Era uma ética fundamentalmente racional. C) V F V F F
Assinale a alternativa correta. D) V V V V F
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. E) F V F V V
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 07. (UEM 2011) O mito é um modo de consciência que
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. predomina nas sociedades tribais e que, nas civilizações
da antiguidade, também exerceu significativa influência.
05. (UNICENTRO 2015) O homem arcaico se Ao contrário, porém, do que muitos supõem, o mito
reconhece como real na medida em que ele participa de não desapareceu com o tempo. Sobre os significados do
um arquétipo que confere ao mundo um sentido. mito, assinale o que for correto.
Todos os atos importantes da vida foram revelados, na 01) O mito, como as lendas, é pura fantasia, pois não
sua origem, por deuses e heróis, e os homens procuram possui nenhuma coerência lógica e, por ser dissociado
repetir esses gestos paradigmáticos e exemplares. Cada da realidade, não expressa nenhuma forma de verdade.
ritual resgata um início, um ato criador, um instante 02) O mistério é um dos componentes do mito:
eterno. Com isso ele busca superar o horror ao evento, apresenta um enigma a ser decifrado e expressa o
que traz a mudança e o novo: a memória primitiva é espanto do homem diante do mundo.
anti-histórica. 04) Uma das funções do mito é fixar os modelos
Sobre as funções do mito e sua relação com a exemplares de todos os ritos e de todas as atividades
posterioridade filosófica, considere as afirmativas a humanas significativas. Portanto, o mito é um meio de
seguir. orientação das sociedades humanas.
I. Na medida em que busca superar a evasão do tempo, 08) O mito é uma intuição compreensiva da realidade,
o mito é contraposto à metafísica filosófica. cujas raízes se fundam na emoção e na afetividade. O
II. A lembrança mítica é poética e não factual. mito expressa o que desejamos ou tememos, como
III. Através de rituais, o homem arcaico transforma as somos atraídos pelas coisas ou como delas nos
ações profanas – caça, pesca, agricultura, jogos, afastamos.
conflitos, sexualidade – em algo que participa de um 16) O mito é uma forma predominante de narrativa nas
sentido sagrado. culturas que não conhecem a escrita. Um de seus
IV. Os rituais periódicos são purificações: a cada ano se objetivos é contar a origem de um grupo humano.
recria o mundo, renova-se a esperança.
Assinale a alternativa correta. 08. (UEM 2015) “O nascimento da filosofia pode ser
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. entendido como o surgimento de uma nova ordem do
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. pensamento, complementar ao mito, que era a forma de
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. pensar dos gregos. Uma visão de mundo que se formou
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. de um conjunto de narrativas contadas de geração a
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. geração [...]. Os mitos apresentavam uma religião
politeísta, sem doutrina revelada, sem teoria escrita, isto
06. (UNICENTRO 2011) Em relação ao mito, é, um sistema religioso, sem corpo sacerdotal e sem
identifique com V as afirmativas verdadeiras e, com F, livro sagrado, apenas concentrada na tradição oral, é
as falsas. isso que se entende por teogonia”.
(Filosofia / vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2006. p. 18).

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16) Segundo a elaboração do mito, Édipo é o primeiro


Sobre o surgimento da filosofia, assinale o que for cidadão que defende o livre arbítrio e uma explicação
correto. racional para a permanência, a mudança e a
continuidade das coisas.
01) Na Grécia Antiga, o conhecimento dos mitos era
transmitido pelos padres da Igreja.
02) O livro do Gênesis repete o primeiro capítulo da 11. (UNICENTRO 2012) No período arcaico (séculos
Teogonia de Hesíodo, que trata da criação do mundo. VIII a VI a.C.), na Grécia antiga, alguns fatos
04) A teogonia visa explicar a genealogia dos deuses e contribuíram para o processo de ruptura com o
sua relação com os fenômenos do mundo. pensamento mítico e a emergência do pensamento
08) A oralidade constitui a forma privilegiada de filosófico.
transmissão do pensamento mítico. Com base nessa informação, a alternativa que contém
16) O mito representa uma forma de pensamento alguns desses fatos é a
religioso contrário à racionalidade filosófica de Platão e A) A invasão dórica; o apogeu do escravismo; as guerras
dos filósofos pré-socráticos. púnicas.
B) A invasão da Grécia pelos bárbaros; a lei escrita; a
09. (UEM 2010) A tragédia grega floresceu em um guerra de Troia.
período curto (525–406 a.C.). Seus autores mais C) Os pensamentos dos sofistas; a invenção da moeda;
famosos são Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Com base a conquista de Troia.
na afirmação acima, assinale o que for correto. D) A fundação da Pólis (cidade-estado); os poemas de
01) A tragédia tem por matéria-prima as fábulas de Homero; as guerras médicas.
Esopo e de La Fontaine, densas de personagens míticos E) A invenção da escrita e da moeda; a lei escrita; a
e ação dramática. fundação da Pólis (cidade-estado).
02) Platão, como se sabe, escreveu tragédias e
manifestou, na sua obra mais importante, A República, o
apreço pelos rapsodos e poetas. 12. (UNICENTRO 2011) Há [...] algo de
04) Ao assassinar Laio e se casar com Jocasta, Édipo, fundamentalmente novo na maneira como os gregos
na trilogia tebana, é acusado de três crimes: regicídio, puseram a serviço do seu problema último — da origem
patricídio e incesto. e essência das coisas — as observações empíricas que
08) A tragédia grega exprime um conflito insolúvel, receberam do Oriente e enriqueceram com as suas
levado a termo pela morte ou confinamento de suas próprias, bem como no modo de submeter ao
partes conflitantes. pensamento teórico e casual o reino dos mitos, fundado
16) A tragédia confronta, no personagem do herói, o na observação das realidades aparentes do mundo
destino e a liberdade, recorrendo ao mito e aos esboços sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.
(JAEGER, 1995, p. 197).
de um ser de vontade.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação
10. (UEM 2010) Ordem e desordem são princípios entre mito e filosofia na Grécia Antiga, é correto
presentes nos deuses olímpicos (forças medidas) e nos afirmar:
deuses titânicos (forças desmesuradas, fora de medida), A) A filosofia, em que pese ser considerada como
respectivamente, representantes da passagem do caos criação dos gregos, originou-se no Oriente, sob o
para a ordem, conforme a descrição mítica do mundo, influxo da religião e, apenas posteriormente, alcançou a
anterior ao surgimento da Filosofia. Sobre a herança Grécia.
mítica na Filosofia, assinale o que for correto. B) A filosofia representa uma ruptura radical em relação
aos mitos, tendo sido uma nova forma de pensamento
01) Sófocles, Aristófanes, Hesíodo e Homero são plenamente racional, desde a sua origem.
autores que legaram à Filosofia a compreensão mítica, C) A filosofia e o mito sempre mantiveram uma relação
não racionalizada, do pensamento grego arcaico. de interdependência, uma vez que o pensamento
02) O livro do Gênesis, na Bíblia Sagrada, contém o ato filosófico necessita do mito para se expressar.
divino da criação do mundo, presente no primeiro D) A filosofia, apesar de ser pensamento racional,
capítulo da Teogonia, de Hesíodo. desvinculou-se dos mitos de forma gradual.
04) O advento da pólis e a invenção da moeda e da E) O mito busca respostas para problemas que são
escrita colaboraram para a passagem do mito à razão objeto da pesquisa filosófica e, nesse aspecto, é
filosófica, que está direcionada para as questões do considerado parte integrante da filosofia.
tempo presente.
08) A finalidade dos concursos trágicos, no século V 13. (UNICENTRO 2011) A geração da ordem do
a.C., é a de fazer renascer, nos habitantes da polis, mundo, na Grécia Arcaica, é apresentada por mitos que
aspectos do mito, sob a forma do drama.
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narram a genealogia e a ação de seres sobrenaturais. A várias diferenças fundamentais entre o discurso racional
filosofia da escola jônica caracteriza-se por explicar a e o discurso arcaico ou mítico. A partir dele, é correto
origem do cosmos, recorrendo a elementos ou a dizer que no discurso
processos encontrados na natureza. Sobre esses
aspectos da cultura grega antiga, é correto afirmar: A) racional a verdade e a realidade estão subordinadas a
A) A transformação de uma representação seu enunciador.
dominantemente mítica do mundo, para uma
B) mítico a verdade impõe-se a partir da realidade das
concepção filosófica, expressa, entre os séculos VIII e
coisas, a despeito do mestre que o profere.
VI a.C., na antiga Grécia, uma mudança estrutural na
sociedade. C) racional a verdade depende de práticas rituais que
B) Homero foi o primeiro historiador grego e, nas suas instituem a própria realidade.
obras, a Ilíada e a Odisséia, ele descreve o
comportamento de homens heroicos, em cujas ações os D) racional a realidade é instituída performativamente
componentes mitológicos inexistem. pelo elocutor.
C) Os filósofos da escola jônica realizaram uma ruptura
definitiva entre a mitologia e a filosofia e, a partir de E) racional a verdade é subordinada à realidade das
então, é impossível encontrar, no pensamento coisas que se busca descrever.
filosófico, a presença de mitos.
D) O mito é incapaz de instituir uma realidade social, 17. (UFU) No início do século XX, estudiosos
pois seu caráter fantasioso não passa qualquer esforçaram-se em mostrar a continuidade, na Grécia
credibilidade para seus ouvintes. Antiga, entre mito e filosofia, opondo-se a teses
E) O mito consiste em uma história religiosa, revelada anteriores, que advogavam a descontinuidade entre
por autoridades supostamente indiscutíveis. ambos.
A continuidade entre mito e filosofia, no
14. (UNICENTRO 2012) A primeira escola filosófica entanto, não foi entendida univocamente. Alguns
grega é a de Mileto e seus principais representantes são estudiosos, como Cornford e Jaeger, consideraram que
Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Esses filósofos são as perguntas acerca da origem do mundo e das coisas
considerados monistas, pois propõem haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia
A) um único elemento como princípio original de tudo. nascente, dado que os primeiros filósofos haviam
B) dois elementos principais como princípio original de suprimido os aspectos antropomórficos e fantásticos
tudo. dos mitos.
C) três elementos como princípio original de tudo. Ainda no século XX, Vernant, mesmo
D) quatro elementos principais como princípio original aceitando certa continuidade entre mito e filosofia,
de tudo. criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia de que a
E) vários elementos como princípio original de tudo. filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo
que o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade
15. (UNICENTRO 2012) “O número é a essência de todo da filosofia em relação ao mito foi retomada.
o existente. Toda a harmonia do cosmo é justificada pelos Considerando o breve histórico acima, concernente à
números”. relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a
Essa frase está relacionada a opção que expressa, de forma mais adequada, essa
A) Leucipo. relação na Grécia Antiga.
B) Sócrates.
C) Pitágoras. A) O mito é a expressão mais acabada da religiosidade
D) Aristóteles. arcaica, e a filosofia corresponde ao advento da razão
E) Anaxímenes. liberada da religiosidade.
B) O mito é uma narrativa em que a origem do mundo
16. Nas práticas arcaicas, o discurso não constata o real, é apresentada imaginativamente, e a filosofia
ele performativamente o faz ser. (...) No discurso caracteriza-se como explicação racional que retoma
"racional" diz-se que as coisas são tais; logo, diz-se a questões presentes no mito.
verdade: subordina-se a verdade ao real que ela enuncia. C) O mito fundamenta-se no rito, é infantil, pré-lógico
(...) A passagem às práticas racionais de veridicidade e irracional, e a filosofia, também fundamentada no rito,
pode, portanto, ser descrita como uma inversão: da corresponde ao surgimento da razão na Grécia Antiga.
autoridade do mestre como abonador da realidade D) O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a
daquilo que ele fala à autoridade da realidade como origem do ser, e a filosofia descreve a origem do ser a
abonadora da veridicidade do que diz o locutor. partir do dilema insuperável entre caos e medida.
No texto supracitado, Francis Wolff aponta uma das

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18. (UFU) Advento da pólis, nascimento da filosofia: ( ) A tese mais aceita entre os estudiosos da Filosofia
entre as duas ordens de fenômenos, os vínculos são é, ainda hoje, aquela que a concebe como sendo um
demasiado estreitos para que o pensamento racional “milagre grego”, isto é, somente os gregos, povo
não apareça, em suas origens, solidário das estruturas excepcional, poderiam ter sido capazes de criar a
sociais e mentais próprias da cidade grega. Assim Filosofia, como foram os únicos a criar as ciências e a
recolocada na história, a filosofia despoja-se desse dar às artes uma elevação que nenhum outro povo
caráter de revelação absoluta, que, às vezes, lhe foi conseguiu, nem antes e nem depois deles.
atribuído, saudando, na jovem ciência dos jônios A) V – V – V – F.
[gregos], a razão intemporal que veio encarnar-se no B) F – F – V – F.
Tempo. A escola de Mileto não viu nascer a Razão; ela C) F – V – V – F.
constituiu uma Razão, uma primeira forma de D) V – V – F – V.
racionalidade. Essa razão grega não é a razão E) V – V – F – F.
experimental da ciência contemporânea, orientada para
a exploração do meio físico e cujos métodos, 20. De fato, é no plano político que a Razão, na Grécia,
instrumentos intelectuais e quadros mentais foram primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se.
elaborados, no curso dos últimos séculos, no esforço Essa frase de Vernant é uma síntese de sua tese,
laboriosamente continuado para conhecer e dominar a segundo a qual
Natureza. Quando define o homem como animal
político, Aristóteles sublinha o que separa a razão grega A) a racionalidade, da forma que a conhecemos, só
da de hoje. Se o homo sapiens é, a seus olhos, um homo existe a partir da filosofia política de Platão.
politicus, é que a própria Razão, em sua essência, é
B) o surgimento da filosofia tem profunda conexão
política.
com o desenvolvimento da vida pública das cidades
Jean-Pierre Vernant. As origens do pensamento grego. 9.ª ed., Rio
gregas.
de Janeiro: Betrand, 1996, p. 94 (com adaptações).
C) a preocupação com a ciência política é o ponto em
comum entre as doutrinas pré-socráticas.
Ao apresentar a distinção entre uma razão intemporal,
ou seja, uma razão “revelada” e uma razão D) a democracia ateniense surge como produto da ética
historicamente “constituída”, o autor do texto e da filosofia política dos séculos VII e VI a. C..
A) estabelece os limites da razão grega, que não chegou E) o desenvolvimento da Razão se deve ao intenso
a ser a razão experimental da ciência moderna. envolvimento político dos filósofos do período
B) postula que o advento da filosofia foi, antes de tudo, helenístico.
um acontecimento histórico ligado ao contexto geral da
criação das cidades gregas.
C) demonstra que a revelação filosófica grega permitiu 21. (UFU 2013) A atividade intelectual que se instalou
o advento de um homo politicus, o homem da polis na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente
grega. ancorada num exercício especulativo-racional. De fato,
D) separa a racionalidade concebida na Grécia Antiga “[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito
da racionalidade moderna, ao delimitar formas de ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma
atuação política. atividade regrada a partir de um comportamento
epistêmico de tipo próprio: empírico e racional”.
19. (UNICENTRO 2013) Informe se é verdadeiro (V) SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p.
ou falso (F) o que se afirma a seguir e assinale a 32.
alternativa com a sequência correta.
( ) Os historiadores da Filosofia dizem que ela possui Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica,
data e local de nascimento: final do século VI antes de na Grécia, assinale a alternativa correta.
Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica
(particularmente as que formavam uma região de um intelecto primitivo, próprio de sociedades
denominada de Jônia), na cidade de Mileto. E o selvagens.
primeiro filósofo foi Tales de Mileto.
( ) A Filosofia possui um conteúdo preciso ao nascer: b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como
é uma cosmologia, isto é, nasce como conhecimento base da sua especulação teórica e adotando a sua
racional da ordem do mundo ou da Natureza. metodologia.
( ) A origem oriental (egípcia, persa, caldéia e
babilônica) da Filosofia ainda é, atualmente, a tese mais
aceita entre os historiadores da filosofia.

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c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio percepções e dos anseios humanos, procura consolidar
importante de difusão e manutenção de um saber nossas crenças e opiniões.
prático fundamental para a vida cotidiana.
b) existe desde que existe o ser humano, não havendo
d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões um local ou uma época específica para seu nascimento,
culturais típicas de uma mentalidade filosófica o que nos autoriza a afirmar que mesmo a mentalidade
elaborada, crítica e radical, baseada no logos. mítica é também filosófica e exige o trabalho da razão.
22. (UEM) “Para referir-se à palavra e à linguagem, os c) inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas
gregos possuíam duas palavras: mythos e lógos. e as certezas cotidianas que nos são impostos pela
Diferentemente do mythos, lógos é uma síntese de três tradição e pela sociedade, visando educar o ser humano
ideias: fala/palavra, pensamento/ideia e realidade/ser. como cidadão.
Lógos é a palavra racional em que se exprime o
pensamento que conhece o real. É discurso (ou seja, d) surge quando o ser humano começa a exigir provas
argumento e prova), pensamento (ou seja, raciocínio e e justificações racionais que validam ou invalidam suas
demonstração) e realidade (ou seja, as coisas e os nexos crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento da
e as ligações universais e necessárias entre os seres). [...] verdade revelada pela codificação mítica.
Essa dupla dimensão da linguagem (como mythos e
24. (UFU) O surgimento da filosofia entre os gregos
lógos) explica por que, na sociedade ocidental,
(Séc. VII a.C.) é marcado por um crescente processo de
podemos comunicar-nos e interpretar o mundo sempre
racionalização da vida na cidade, em que o ser humano
em dois registros contrários e opostos: o da palavra
abandona a verdade revelada pela codificação mítica e
solene, mágica, religiosa, artística e o da palavra leiga,
passa a exigir uma explicação racional para a
científica, técnica, puramente racional e conceitual.”
compreensão do mundo humano e do mundo natural.
(CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2011, p. 187- 188).
Dentre os legados da filosofia grega para o Ocidente,
A partir do texto, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). destaca-se:
01) O mythos é uma linguagem que comunica saberes a) a concepção política expressa em A República, de
e conhecimentos. Platão, segundo a qual os mais fortes devem governar
sob um regime político oligárquico.
02) As coisas próprias do domínio religioso são
inefáveis, ou seja, não podem ser pronunciadas e ditas b) a criação de instituições universitárias como a
pela linguagem humana. Academia, de Platão, e o Liceu, de Aristóteles.
04) O mythos não possui o mesmo poder de c) a filosofia, tal como surgiu na Grécia, deixou-nos
convencimento e de persuasão que o lógos. como legado a recusa de uma fé inabalável na razão
humana e a crença de que sempre devemos acreditar
08) O lógos é, ao mesmo tempo, o exercício da razão e nos sentimentos.
sua enunciação para os seres humanos.
d) a recusa em apresentar explicações preestabelecidas
16) O lógos é muito mais do que a palavra, é a expressão mediante a exigência de que, para cada fato, ação ou
das qualidades essenciais do ser, a possibilidade de discurso, seja encontrado um fundamento racional.
conhecer as coisas nos seus fundamentos primeiros.
25. “Não é fácil definir se a ideia dos poemas
23. (UFU) O ser humano, desde sua origem, em sua homéricos, segundo a qual o Oceano é a origem de
existência cotidiana, faz afirmações, nega, deseja, recusa todas as coisas, difere da concepção de Tales, que
e aprova coisas e pessoas, elaborando juízos de fato e considera a água o princípio original do mundo; seja
de valor por meio dos quais procura orientar seu como for, é evidente que a representação do mar
comportamento teórico e prático. Entretanto, houve inesgotável colaborou para a sua expressão. Em todas
um momento em sua evolução histórico-social em que as partes da Teogonia, de Hesíodo, reina a vontade
o ser humano começa a conferir um caráter filosófico expressa de uma compreensão construtiva e uma
às suas indagações e perplexidades, questionando perfeita coerência na ordem racional e na formulação
racionalmente suas crenças, valores e escolhas. dos problemas. Por outro lado, a sua cosmologia ainda
Nesse sentido, pode-se afirmar que a filosofia apresenta uma irreprimível pujança de criação
mitológica, que, muito mais tarde, ainda age sobre as
a) é algo inerente ao ser humano desde sua origem e doutrinas dos “fisiólogos”, nos primórdios da filosofia
que, por meio da elaboração dos sentimentos, das “científica”, e sem a qual não se poderia conceber a
atividade prodigiosa que se expande na criação das

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concepções filosóficas do período mais antigo da a) os filósofos gregos ocupavam-se das matemáticas e
ciência” delas se serviam para constituir um ideal de pensamento
que deveria orientar a vida pública do homem grego.
Werner Jaeger.
b) a discussão racional dos Sábios que traduziu a ordem
Considerando o texto acima sobre o surgimento da humana em fórmulas acessíveis a inteligência causou o
filosofia na Grécia, seguem as afirmativas abaixo: abandono do mito e, com ele, o fim da religião e a
decorrente exclusividade do pensamento racional na
I. O surgimento da filosofia não coincide com o início
Grécia.
do uso do pensamento racional.
c) a atividade humana grega, desde a invenção da
II. O surgimento da filosofia não coincide com o fim
política, encontrava seu sentido principalmente na vida
do uso do pensamento mítico.
pública, na qual o debate de argumentos era orientado
III. Tales de Mileto, no século VI a.C., ao propor a água por princípios racionais, conceitos e vocabulário
como princípio original do mundo, rompe, próprios.
definitivamente, com o pensamento mítico.
d) a política, por valorizar o debate público de
IV. Mitos estão presentes ainda nos textos filosóficos argumentos que todos os cidadãos podem
de Platão (século IV a.C.), como, por exemplo, o mito compreender e discutir, comunicar e transmitir, se
do julgamento das almas. distancia dos discursos compreensíveis apenas pelos
iniciados em mistérios sagrados e contribui para a
V. Os primeiros filósofos gregos, chamados “pré- constituição do pensamento filosófico orientado pela
socráticos”, em sua reflexão, não se ocupavam da Razão.
natureza (Physis).
e) ainda que o pensamento filosófico prime pela
Das afirmativas feitas acima racionalidade, alguns filósofos, mesmo após o declínio
do pensamento mitológico, recorreram a narrativas
a) apenas a afirmação V está correta. mitológicas para expressar suas ideias; exemplo disso e
b) apenas as afirmações III e V estão corretas. o “Mito de Er” utilizado por Platão para encerrar sua
principal obra, A República.
c) apenas as afirmações II e IV estão corretas.
27. “A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados
d) apenas as afirmações I, II e IV estão corretas. e espantados com a realidade, insatisfeitos com as
explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer
e) apenas as afirmações I, III e V estão corretas. perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando
que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos
26. “É no plano político que a Razão, na Grécia, materiais e as ações dos seres humanos podem ser
primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. conhecidos pela razão humana”
A experiência social pode tornar-se entre os gregos o
objeto de uma reflexão positiva, porque se prestava, na (CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p.32).

cidade, a um debate público de argumentos. O declínio


Considerando o exposto, assinale o que for correto.
do mito data do dia em que os primeiros Sábios
puseram em discussão a ordem humana, procuraram 01) A filosofia surgiu na Grécia durante o séc. VI a.C..
defini-la em si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis Apesar de seu nascimento ser considerado o “milagre
a sua inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da grego”, é conhecida a frequentação de Atenas por
medida. Assim se destacou e se definiu um pensamento outros sábios que viveram no século VI a.C., como
propriamente político, exterior a religião, com seu Confúcio e Lao Tse (provenientes da China), Buda
vocabulário, seus conceitos, seus princípios, suas vistas (proveniente da Índia) e Zaratustra (proveniente da
teóricas. Este pensamento marcou profundamente a Pérsia), fazendo da filosofia grega uma espécie de
mentalidade do homem antigo; caracteriza uma comunhão dos saberes da antiguidade.
civilização que não deixou, enquanto permaneceu viva,
de considerar a vida pública como o coroamento da 02) O surgimento da filosofia é coetâneo ao advento da
atividade humana”. pólis (cidade). Novas estruturas sociais e políticas
permitiram o desenvolvimento de formas de
Considerando a citação acima, extraída do livro As racionalidade, modificadoras da prática do mito.
origens do pensamento grego, de Jean Pierre Vernant,
e os conhecimentos da relação entre mito e filosofia, é 04) Por serem os únicos filósofos a praticar a retórica,
incorreto afirmar que os sofistas representam, indiscutivelmente, o ponto

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mais alto da filosofia clássica grega (séculos V e IV a.C.), conviveram sem que se traçasse um corte temporal mais
ultrapassando Sócrates, Platão e Aristóteles. preciso. Com base nessa afirmativa, é correto afirmar:
08) Filósofo é aquele que busca certezas sem garantias a) O modo de vida fechado do povo grego facilitou a
de possuí-las efetivamente. Por essa razão, o filósofo passagem do Mito ao Logos.
deseja o conhecimento do mundo e das práticas
humanas por meio de critérios aproximativos e b) A passagem do Mito ao Logos, na Grécia, foi
compartilhados (de aceitação comum), através do responsabilidade dos tiranos de Siracusa.
debate.
c) A economia grega estava baseada na industrialização,
16) A atividade filosófica pode ser definida, entre outras e isso facilitou a passagem do Mito ao Logos.
habilidades, pela capacidade de generalização e
d) O povo grego antigo, nas viagens, se encontrava com
produção de conceitos, encontrando, sob a
outros povos com as mesmas preocupações e culturas,
multiplicidade de objetos do mundo, relações de
o que contribuiu para a passagem do Mito ao Logos.
semelhança e de identidade.
e) A atividade comercial e as constantes viagens
28. (UFU) No início do século XX, estudiosos
oportunizaram a troca de informações/conhecimentos,
esforçaram-se em mostrar a continuidade, na Grécia
a observação/assimilação dos modos de vida de outros
Antiga, entre mito e filosofia, opondo-se a teses
povos, contribuindo, assim, de modo decisivo, para a
anteriores, que advogavam a descontinuidade entre
construção da passagem do Mito ao Logos.
ambos. A continuidade entre mito e filosofia, no
entanto, não foi entendida univocamente. Alguns 30. (UNICENTRO 2014) Sobre as condições que
estudiosos, como Cornford e Jaeger, consideraram que permitiram, no final do século VII a.C. e no início do
as perguntas acerca da origem do mundo e das coisas século VI a.C., o surgimento da Filosofia, assinale a
haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia alternativa correta.
nascente, dado que os primeiros filósofos haviam a) A constituição da vida urbana entre os gregos, cuja
suprimido os aspectos antropomórficos e fantásticos principal inspiração se deve aos reconhecidos avanços
dos mitos. Ainda no século XX, Vernant, mesmo presentes nas construções do lado oriental do mundo
aceitando certa continuidade entre mito e filosofia, antigo.
criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia de que a b) A forma peculiar com que o homem grego lida com
filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo a compreensão das forças divinas, respeitando e
que o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade reconhecendo a importância de sua dimensão
da filosofia em relação ao mito foi retomada. sobrenatural.
c) A originalidade característica do homem grego que,
Considerando o breve histórico acima, concernente à
recebendo influências de outros povos, fez dessas
relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a
influências uma criação própria.
opção que expressa, de forma mais adequada, essa
d) As viagens no entorno do mar Egeu e Mediterrâneo
relação na Grécia Antiga.
que possibilitaram aos gregos reconhecer as verdades
a) O mito é a expressão mais acabada da religiosidade de que lhes falava Homero em seus relatos poéticos.
arcaica, e a filosofia corresponde ao advento da razão e) O incremento das atividades intelectuais que os
liberada da religiosidade. atenienses mantinham com outros povos, cujas
principais invenções foram as leis, a política e o
b) O mito é uma narrativa em que a origem do mundo estímulo do pensamento.
é apresentada imaginativamente, e a filosofia
caracteriza-se como explicação racional que retoma 31. A palavra não é mais o termo ritual, a fórmula justa,
questões presentes no mito. mas o debate contraditório, a discussão, a
argumentação. Supõe um público ao qual ela se dirige,
c) O mito fundamenta-se no rito, é infantil, pré-lógico como a um juiz que decide em última instância, de mãos
e irracional, e a filosofia, também fundamentada no rito, erguidas, entre os dois partidos que lhes são
corresponde ao surgimento da razão na Grécia Antiga. apresentados; é essa escolha puramente humana que
mede a força de persuasão respectiva dos dois
d) O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a
discursos, assegurando a vitória de um dos oradores
origem do ser, e a filosofia descreve a origem do ser a
sobre seus adversários.
partir do dilema insuperável entre caos e medida. VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. São Paulo:
Bertrand Brasil, 1992. p. 34-35.
29. A passagem do Mito ao Logos na Grécia antiga foi
fruto de um amadurecimento lento e processual. Por
O texto citado refere-se ao exercício da cidadania nas
muito tempo, essas duas maneiras de explicação do real
cidades gregas da Antiguidade clássica. Segundo Jean-
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Pierre Vernant, o “universo espiritual” das pólis gregas I. Ela foi revelada pela deusa Razão a Tales de Mileto
contribuiu decisivamente para o surgimento da quando este afirmou que o princípio de tudo é a água.
filosofia. Assinale a alternativa que relaciona
corretamente cidadania e filosofia na Grécia Antiga. II. Ela foi inventada pelos gregos e decorre do advento
da Polis, a cidade organizada por leis e instituições que,
a) Entre a filosofia e a prática da cidadania há uma por meio delas, eliminou todo tipo de disputa.
relação de necessidade causal, posto que a vida política
III. Ela rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes
das sociedades gregas foi gerada pela reflexão filosófica,
divinos na explicação dos fenômenos; problematiza,
que, ao criar um pensamento distinto das narrativas
discute e põe em questão até mesmo as teorias racionais
mitológicas, destituiu o poder monárquico de sua
elaboradas com rigor filosófico.
fundamentação teórica e lançou, assim, as condições
suficientes para a comunidade cívica. IV. Surgiu no século VI a.C. nas colônias gregas da
b) Nas cidades gregas, o desenvolvimento da atividade Magna Grécia e da Jônia, apenas no século seguinte
política dos cidadãos instaurou um pensamento exterior deslocou-se para Atenas.
à religiosidade, favorecendo a busca por explicações
exclusivamente racionais sobre os fenômenos V. Ocupa-se com os princípios, as causas e condições
cósmicos, naturais e humanos, ou seja, a substituição do conhecimento que pretenda ser racional e
das narrativas míticas pelas investigações filosóficas. verdadeiro; põe em questão e problematiza valores
c) A atividade política dos cidadãos gregos, orientada morais, políticos, religiosos, artísticos e culturais.
para os problemas práticos da vida, consistiu em
obstáculo para o desenvolvimento da reflexão Das afirmações feitas acima
filosófica, pois a filosofia, com sua natureza a) I, III e V são corretas.
estritamente contemplativa, afasta os homens de sua
realidade cotidiana, desvirtuando-os para temas b) I e II são incorretas.
cosmológicos irrelevantes.
d) A filosofia e a política são sinônimos entre os gregos c) II, IV e V são corretas.
antigos, pois a prática da cidadania nas assembleias era
tomada como pura especulação filosófica, ao mesmo d) todas são corretas.
tempo que a reflexão filosófica, desde suas origens, e) todas são incorretas.
concentra-se unicamente nos problemas políticos
atinentes à humanidade 33. (UFU 2011) Leia o texto e as assertivas abaixo a
e) O desenvolvimento da atividade política, com seus respeito das relações entre o nascimento da filosofia e a
intermináveis e desgastantes debates, fomentou a mitologia.
filosofia, à medida que os cidadãos procuravam nas O nascimento da filosofia na Grécia é marcado pela
teses filosóficas de procedência espiritualista um passagem da cosmogonia para a cosmologia. A cosmogonia,
consolo para suas aflições cotidianas, bem como nelas típica do pensamento mítico, é descritiva e explica
depositavam suas esperanças de recompensa pelos como do caos surge o cosmos, a partir da geração dos
infortúnios do mundo terreno na eternidade de um deuses, identificados às forças da natureza. Na
paraíso isento de conflitos. cosmologia, as explicações rompem com a
religiosidade: a arché (princípio) não se encontra mais na
32."Advento da Polis, nascimento da filosofia: entre as ordem do tempo mítico, mas significa princípio teórico,
duas ordens de fenômenos os vínculos são demasiado enquanto fundamento de todas as coisas. Daí a
estreitos para que o pensamento racional não apareça, diversidade de escolas filosóficas, dando origem a
em suas origens, solidário das estruturas sociais e fundamentações conceituais (e portanto abstratas)
mentais próprias da cidade grega. Assim recolocada na muito diferentes entre si.
história, a filosofia despoja-se desse caráter de revelação ARANHA, M. L. A; MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna,
1993, p. 93.
absoluta que às vezes lhe foi atribuído, saudando, na
I - Uma corrente de pensamento afirma que houve
jovem ciência dos jônios, a razão intemporal que veio
ruptura completa entre mito e filosofia, tal corrente é a
encarnar-se no Tempo. A escola de Mileto não viu
que defende a tese do milagre grego.
nascer a Razão; ela construiu uma razão, uma primeira
II - Outra corrente de pensamento afirma que não
forma de racionalidade".
houve ruptura completa entre mito e filosofia, mas certa
Jean Pierre Vernant. continuidade, é a que defende a tese do mito noético.

Sobre a Filosofia seguem as seguintes afirmações: Assinale a alternativa correta.

A) I é falsa e II verdadeira.

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B) I é verdadeira e II falsa. B) O movimento é princípio de mudança e a


C) I e II são verdadeiras. pressuposição de um não-ser.
D) I e II são falsas. C) Um Ser que jamais muda não existe e, portanto, é
fruto de imaginação especulativa.
34. (UFU 2014) Dentre as teorias que explicam o D) O Ser existe como gerador do mundo físico, por isso
nascimento da filosofia na Grécia Antiga, há uma que a realidade empírica é puro ser, ainda que em
enfatiza o seu surgimento político. Qual característica movimento.
da polis grega teria contribuído para o nascimento da
filosofia? 37. (UFU 2009) Leia o texto abaixo:
“Afasta o pensamento desse caminho de busca e que o
A) A proeminência, no espaço público, do pensamento hábito nascido de muitas experiências humanas não te
e da reflexão sobre a palavra. force, nesse caminho, a usar o olho que não vê, o
B) Com a polis advém uma revolução social na Grécia: ouvido que retumba e a língua: mas, com o
o surgimento da nova classe dirigente dos sábios ou pensamento, julga a prova que te foi fornecida com
Reis filósofos. múltiplas refutações. Um só caminho resta ao discurso:
C) A existência de um discurso público e dialogado, que o ser existe.”
baseado na troca de opiniões e no desenvolvimento de REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia pagã antiga.
argumentos persuasivos. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 35.

D) A fundação de um cosmo social laico, expulsando,


dos domínios da polis, a religião, o sagrado e os Com base no pensamento de Parmênides, assinale a
sacerdotes. alternativa correta.
A) Os sentidos atestam e conduzem à verdade absoluta
35. (UFU 2015) Em nós, manifesta-se sempre uma e a do ser.
mesma coisa, vida e morte, vigília e sono, juventude e B) O ser é o eterno devir, mas o devir é de alguma
velhice. Pois a mudança de um dá o outro e maneira regido pelo Logos.
reciprocamente. C) O discurso se move por teses e antíteses, pois essas
são representações exatas do devir.
Heráclito, fragmento 88. ln: BornHeim, g. a. (org.). Os filósofos D) Quem afirma que “o ser não existe” anda pelo
pré-socráticos. São Paulo: editora cultrix, 1998. P. 41. caminho do erro.
Assinale a alternativa que explica o fragmento de
Heráclito. 38. (UEM 2013) “Mesmo que Sófocles tenha tomado
do mito o enredo da história, as figuras lendárias
A) A oposição é a afirmação da força irracional que apresentam-se com a face humanizada, agitam-se e
sustenta o mundo e explica a constante mudança de questionam o destino. A todo momento emerge a força
tudo que existe. nova da vontade que se recusa a sucumbir aos desígnios
B) A oposição dos contrários nada mais é que o divinos e tenta transcender o que lhe é dado, por meio
equilíbrio das forças, pois no mundo tudo é “uno e de um ato de liberdade. [...] A tragédia consiste
constante, tudo mais é apenas ilusão. justamente em revelar a contradição entre
C) A mudança permiteafirmar que a constância do determinismo e liberdade, na luta contra o destino
mundo das ideias é a única realidade, na qual as levada a cabo pela pessoa que emerge como ser de
essências determinam tudo. vontade. [...] A tentativa de reflexão e de
D) A oposição é a confirmação de que a realidade é o autoconhecimento retrata o logos nascente. Daí em
eterno fluxo de mudanças, e da tensão dos contrários diante a filosofia representará o esforço da razão em
nasce a harmonia e a unidade do mundo. compreender o mundo e orientar a razão”
(ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando:
36. (UFU 2013) De um modo geral, o conceito de physis introdução à filosofia. 4.ª ed. revisada. São Paulo: Moderna, 2009,
p. 235).
no mundo pré-socrático expressa um princípio de
Com base no excerto acima, assinale o que for correto.
movimento por meio do qual tudo o que existe é gerado
e se corrompe. A doutrina de Parmênides, no entanto,
01) A reflexão filosófica reelabora elementos
tal como relatada pela tradição, aboliu esse princípio e
disponíveis na sabedoria trágica.
provocou, consequentemente, um sério conflito no
02) Ao tomar conhecimento da determinação divina, o
debate filosófico posterior, em relação ao modo como
herói trágico assume o destino e anula a sua liberdade.
conceber o ser.
04) A tragédia de Sófocles reflete o valor do
autoconhecimento do homem, a fim de orientar-se
Para Parmênides e seus discípulos:
como ser de vontade.
A) A imobilidade é o princípio do não-ser, na medida em
que o movimento está em tudo o que existe.

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08) A tragédia inspira-se na herança mítica, de onde 02) Investigar o que é o ser implica fazer um discurso
retira os nomes dos heróis e os acontecimentos de suas afirmativo sobre a natureza de algo.
vidas. 04) As experiências sensíveis não são suficientes para
16) Mitologia, tragédia e filosofia se confundem, pois provar a natureza do ser ou o que ele é.
são experiências do pensamento humano em vias de 08) Sobre o não ser, o que se pode afirmar é sua
explicar o mundo. impossibilidade, sendo vedado afirmar qualquer coisa.
16) O não ser é impossível de ser demonstrado
39. (UEM 2008) Os filósofos pré-socráticos tentaram racionalmente.
explicar a diversidade e a transitoriedade das coisas do
universo, reduzindo tudo a um ou mais princípios 41. (UEM 2014) “Ao contrário de seus
elementares, os quais seriam a verdadeira natureza ou contemporâneos – como Parmênides – Heráclito não
ser de todas as coisas. Assinale o que for correto. rejeitava as contradições e queria apreender a realidade
01) Tales de Mileto, o primeiro filósofo segundo na sua mudança, no seu devir. Todas as coisas mudam
Aristóteles, teria afirmado “tudo é água”, indicando, sem cessar, e o que temos diante de nós em dado
assim, um princípio material elementar, fundamento de momento é diferente do que foi há pouco e do que será
toda a realidade. depois: ‘Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo
02) Heráclito de Éfeso interessou-se pelo dinamismo rio’, pois, na segunda vez, não somos os mesmos, e
do universo. Afirmou que nada permanece o mesmo, também as águas mudaram. Para Heráclito, o ser é
tudo muda; que a mudança é a passagem de um múltiplo [...] por ele estar constituído de oposições
contrário ao outro e que a luta e a harmonia dos internas. O que mantém o fluxo do movimento não é o
contrários são o que gera e mantém todas as coisas. simples surgimento de novos seres, mas a luta dos
04) Parmênides de Eléia afirmou que o ser não muda. contrários [...]. É da luta que nasce a harmonia, como
Deduziu a imobilidade e a unidade do ser do princípio síntese dos contrários.”
de que “o ser é” e “o não-ser não é”, elaborando uma (ARANHA, M. L. de A. Filosofar com textos: temas e história da
primeira formulação dos princípios lógicos da filosofia. São Paulo: Moderna, 2012, p.287).
identidade e da não-contradição.
08) As teorias dos filósofos pré-socráticos foram pouco A partir desta afirmação sobre a filosofia de Heráclito,
significativas para o desenvolvimento da filosofia e da assinale o que for correto.
ciência, uma vez que os pré-socráticos sofreram
influência do pensamento mítico, e de suas obras 01) O princípio motor do movimento é a tensão de
apenas restaram fragmentos e comentários de autores forças contrárias entre si.
posteriores. 02) Na Grécia arcaica ou pré-socrática, o curso dos rios
16) Para Demócrito de Abdera, todo o cosmo se não estava estabelecido, razão pela qual eles mudavam
constitui de átomos, isto é, partículas indivisíveis e de lugar de um dia para outro.
invisíveis que, movendo-se e agregando-se no vácuo, 04) O princípio do devir ou da transformação contínua
formam todas as coisas; geração e corrupção visa compreender a ordenação cosmológica do mundo.
consistiriam, respectivamente, na agregação e na 08) O surgimento de novos seres é explicado pela
desagregação dos átomos. intermediação divina, criadora ex nihilo.
16) A multiplicidade do real é pensada a partir do
40. (UEM 2014) “Necessário é dizer e pensar que só o princípio lógico de não contradição entre o ser e o não
ser é; pois o ser é, e o nada, ao contrário, nada é: ser.
afirmação que bem deves considerar. [...] Jamais se
conseguirá provar que o não ser é; afasta, portanto, o
teu pensamento desta via de investigação, e nem te 42. (ENEM 2012)
deixes arrastar a ela pela múltipla experiência do hábito, TEXTO I
nem governar pelo olho sem visão, pelo ouvido Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o
ensurdecido ou pela língua; mas com a razão decide da elemento originário de tudo o que existe, existiu e
muito controvertida tese, que te revelou minha palavra. existirá, e que outras coisas provêm de sua
Resta-nos assim um único caminho: o ser é.” descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em
(PARMÊNIDES. Poema. In: MARCONDES, Danilo. Textos
básicos de Filosofia. RJ: Zahar, 2007, p. 13). fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As
nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda
A partir do trecho citado, assinale o que for correto. mais condensadas, transformam-se em água. A água,
quando mais condensada, transforma-se em terra, e
01) Afirmar o que o ser é implica uma impossibilidade quando condensada ao máximo possível, transforma-se
racional, visto ser impossível descobrir a natureza das em pedras.
BURNET, J. A a urora da filosofia g rega . Rio
coisas. de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).

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15. c
TEXTO II
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: 16. e
“Deus, como criador de todas as coisas, está no
17. b
princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de
conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, 18. b
as especulações contraditórias dos filósofos, para os
quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro 19. e
elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos,
como julga Demócrito. Na verdade, dão impressão de 20. b
quererem ancorar o mundo numa teia de aranha.” 21. c
GILSON, E.: BOEHNER, P. H istoria da
Filosofia Crista . São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
22. 1/8/16
Filósofos dos diversos tempos históricos
desenvolveram teses para explicar a origem do 23. d
universo, a partir de uma explicação racional. As teses 24. d
de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio,
filósofo medieval, têm em comum na sua 25. d
fundamentação teorias que
26. b
a) eram baseadas nas ciências da natureza.
27. 2/8/16
b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas. 28. b
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas. 29. e
30. c

GABARITO 31. b
32. b

QUESTÕES 33. c

1. b 34. c

2. b 35. d

3. c 36. b

4. a 37. d

5. e 38. 1/4/8

6. d 39. 1/2/4/16

7. 2/4/8/16 40. 2/4/8/16

8. 4/8 41. 1/4

9. 4/8/16 42. d

10. 1/4/8
11. e
12. d
13. a
14. a

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