SILVEIRA, J. R. C. da. O Modelo. In.: SILVEIRA, J. R. C. da. Pragmática e cognição: a
textualidade pela relevância e outros ensaios. 2. ed. Porto Alegre: EDIPURCS, 1999. p. 37-62.
O texto de Silveira (1999) trata da teoria da Relevância de Sperber e Wilson (1986,
1995), a qual toma como base o modelo inferencial de Grice (1975). Os autores desenvolveram uma teoria da comunicação voltada para a compreensão dos enunciados. A concepção de abordagem dos teóricos é, de ordem pragmático-cognitiva, embasada em uma característica inerente à cognição humana: os seres humanos atribuem atenção apenas aos fatos que lhes são relevantes. O termo relevância refere-se à relação de equilíbrio entre os efeitos cognitivos e o esforço de processamento, no intuito de esclarecer como os indivíduos interpretam as informações nos contextos comunicativos. Para Sperber e Wilson (1986, 1995) existem duas propriedades relativas à comunicação humana, a saber: uma propriedade ostensiva, inerente ao comunicador, e uma propriedade inferencial, inerente ao ouvinte. Essas propriedades intencionam alcançar efeitos cognitivos de acordo com as relações de efeitos contextuais e esforço de processamento, implicando diferentes graus de relevância, ou seja, quanto mais efeitos contextuais e menos esforço de processamento, maior será a relevância, e quanto menos efeitos contextuais e mais esforço de processamento, menor será a relevância. Os efeitos contextuais remetem à alteração de crenças do indivíduo, uma informação pode dar mais evidência para uma suposição já existente ou contradizê-la, tomando como base as suposições que o ouvinte já tem sobre o mundo, gerando uma nova suposição. Uma suposição é relevante quando ostenta efeitos contextuais, esses efeitos apresentam três tipos de ocorrências: implicações contextuais, força ou enfraquecimento das suposições e eliminação de suposições contraditórias. As implicações contextuais resultam da combinação de informações velhas e a adição de informações novas, a informação velha é proveniente de suposições pertencentes ao ambiente cognitivo do indivíduo e as informações novas são contextualizadas a partir das informações antigas. O segundo efeito contextual concerne ao fortalecimento ou enfraquecimento das suposições, tal efeito não apresenta uma informação nova derivada, ele é característico do reforço ou enfraquecimento de uma informação já existente. As suposições podem ser definidas apresentando vários graus de força, tais como o input perceptual, o input linguístico, a ativação de suposições estocadas na memória ou esquemas de suposições adicionados a informação contextual e as deduções derivadas de suposições adicionais. O terceiro efeito contextual ocorre através da eliminação entre duas suposições contraditórias, a suposição que apresenta menos evidências (a mais fraca) é eliminada. Os três fatores explanados compõem a categoria dos efeitos contextuais imbricados na caracterização da relevância, a seguir trataremos de outras noções que influenciam a relevância. O esforço de processamento é mais uma das características voltadas para a construção da relevância, esse processo implica o uso de energia mental em nível de atenção, memória e raciocínio. Nesse tipo de procedimento a mente humana opera de modo produtivo ou econômico, visando alcançar o máximo de efeitos com um mínimo de esforço. Quanto mais acessível a informação menor será a complexidade linguística e, consequentemente, menor será o esforço de processamento. Sperber e Wilson (1986; 1985) defendem que, o contexto é construído no curso da comunicação, a seleção do contexto é parte do processo de interpretação, dependendo das habilidades perceptivas e cognitivas de cada indivíduo. Os estudiosos, salientam ainda, que a seleção contextual é conduzida pela busca da relevância no processamento da informação. Além disso, a ostensão e o princípio da relevância podem ser caracterizados do seguinte modo: pela relevância de um fenômeno, presunção de relevância ótima e princípio da relevância. Silveira (1995) afirma que a comunicação solicita a atenção de um indivíduo por meio de um estímulo ostensivo, a comunicação implica que a informação comunicada seja relevante e garanta a presunção da relevância ótima. Nesse sentido, os autores da teoria da relevância, postulam que a representação semântica de uma sentença seja recuperada via processo automático de decodificação linguística acrescido de informação contextualmente acessível, realizado por meio de inferências e restringido pelo critério de consistência com o princípio da relevância. No que tange à abordagem teórica de compreensão do enunciado linguístico, Sperber e Wilson (1986; 1985) promovem a introdução da noção de explicatura, fazendo uma analogia a noção de implicatura instaurada por Grice. Nas explicaturas são realizadas várias operações pragmáticas, a saber: atribuição de referência, desambiguização, resolução de indeterminâncias, interpretação de linguagem metafórica e enriquecimentos devido a elipses. Com essa proposta, os autores intentam descrever e explicar os níveis de compreensão, perpassando a forma lógica, lexical, gramatical até a forma proposicional da implicatura. A forma lógica depende da codificação linguística, a explicatura depende da forma lógica desenvolvida por processos inferenciais de ordem pragmática e a implicatura parte da explicatura para construir as inferências pragmáticas. Nessa acepção, uma explicatura é a combinação de traços codificados linguisticamente e de traços conceituais inferidos contextualmente. A base para construir a representação proposicional completa provém da forma lógica, alcançada pelo processo dedutivo e pela informação contextual. Com isso, compreende-se que, as características conceituais inferidas na construção do contexto e pelo processo de decodificação linguística formam a explicatura do enunciado, tal explicatura pode ser inferida pelo contexto, pela forma proposicional do enunciado e pela atitude proposicional do falante.