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O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: breves delineamentos em matéria de

apelação, agravo de instrumento e a nova roupagem da admissibilidade


recursal

Danila Carvalho Santana1

SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO. 2 O PROCESSO CONSTITUCIONAL. 3.


DELINEAMENTOS SOBRE O JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE NO NOVO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. 4 O RECURSO DE APELAÇÃO NO SISTEMA
PROCESSUAL CIVIL 5 O AGRAVO DE INSTRUMENTO DIANTE DAS DECISÕES
SOBRE ALEGAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO: um viés constitucionalizado
do instituto recursal. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Resumo: O presente trabalho teve por escopo clarear algumas das mudanças
ocorridas em determinados institutos recursais cíveis, quais sejam, os recursos de
apelação e agravo de instrumento e o juízo de admissibilidade recursal no Novo
Código de Processo Civil. Trata-se de um artigo predominantemente expositivo, uma
vez que ainda há pouco material consolidando todo o novo sistema processual. Não
obstante, pode-se trazer à baila os traços mais significativos de cada reforma sobre
os institutos mencionados de forma a acender o debate para futuras reflexões e
tecer, ainda que muito breves, algumas críticas e indagações. O sistema recursal
está com uma linguagem clara e mais racional, de modo a acompanhar as
complexas relações sociais que estão cada vez mais aumentando e de forma a
garantir aos anseios de justiça da sociedade tanto quanto possível uma prestação
jurisdicional justa e efetiva tendo como corolário a primazia das decisões de mérito,
este sendo norma fundamental expressa na Nova Lei processual.

Palavras-chave: apelação; agravo de instrumento; admissibilidade; decisões de


mérito.

1 INTRODUÇÃO

É de se pensar que, desde a emergência do diploma constitucional de 1988,


poucas foram as mudanças no ordenamento jurídico mais importantes do que a vista
com o surgimento do Novo Código de Processo Civil, no ano de 2015.
Pautado em necessárias atualizações que norteavam há mais de treze anos a
sistemática do código civil, quando este veio a se constitucionalizar e se atualizar

1
Pós-Graduanda lato sensu em Direito Processual pelo Instituto de Educação Continuada da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – IEC PUC Minas. Bacharel em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas. Advogada. Orientadora: Profa. Ms.
Camilla Mattos Paolinelli. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2532984344080424.
com as modificações do diploma no ano de 2002, a aplicação processual da matéria
civil precisava caminhar em caminho similar.
Nesse entremeio, o CPC atual pode ser identificado como uma
sistematização processual dos movimentos de constitucionalização do ordenamento
que foram vistos durante a maioria do século XXI. A retirada do campo de discussão
do antigo código, o de 1973, respeita a tentativa democrática de afastar do campo
da aplicabilidade do direito civil, os ditames da ditadura militar, momento no qual a
vigência das limitações à autoridade captadas tanto no diploma constitucional,
quanto em uma exigência processual, eram afastadas da normatividade Estatal.
Dessa forma, pensar qualquer instituto do código processual vigente, precisa
perpassar, objetivamente, e de maneira sintomática, nesse fundamental marco do
ordenamento brasileiro: Não tão somente a constituição e suas garantias e direitos
fundamentais, mas as atualizações constitucionais que passam a trazer princípios
fundantes da carta magna ao “solo” das demais veias do ordenamento jurídico do
país.
E, se esses braços do sistema jurídico se constitucionalizam, seus institutos,
além de serem atualizados, foram permeados desse processo de
constitucionalização, ainda que na esfera doutrinária. E, sobre o instituto dos
recursos, em matéria processual, isso não seria diferente, principalmente se
pensada a apelação e o agravo de instrumento. E será em um espaço em que o “[...]
Estado Democrático de Direito determinaram uma intimidade da Constituição com o
processo que vai muito além da existência de um ramo processual dentro do
ordenamento supremo da República” (THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 30) que será
visualizada a análise sobre esses dois institutos, em uma visão constitucionalizada
do processo.
De tal maneira, tendo em vista esse caminho e essa base da pesquisa, tende-
se a presente abordagem traçar o seguinte problema: As inovações trazidas pelo
CPC atual em termos de Apelação e Agravo de Instrumento são compatíveis com
todo o modelo democrático que busca permear a criação, fixação e aplicabilidade
dos institutos processuais?
Assim, baseando-se em uma metodologia qualitativa com método descritivo
bibliográfico, a presente análise tem por hipótese que as atualizações constitucionais
do processo civil conseguiram trazer aos inúmeros dispositivos recursais, tendo os
dois descritos como principal foco, a humanização necessária e aberta para a
aplicação de um processo civil capaz de respeitar seus princípios e os princípios dos
direitos humanos e fundamentais, desde que utilizados seguindo uma coerência e
uma integridade, não apenas da decisão judicial, como prescreve o artigo 926 do
CPC/15, mas de todo o sistema processual, o que Ronald Dworkin (2002), refletiria
como algo que se coaduna com “levar os direitos à sério”.

2 O PROCESSO CONSTITUCIONAL

Para se pensar a atualização dos institutos processuais que serão objeto de


análise no decorrer da pesquisa, é preciso identificar como o processo (aqui
pensado em sua modalidade civil, mas sem o gênero excluir as espécies como o
processo penal, quanto a essa teoria) tornou-se constitucionalizado. Sem essa
abordagem, não se formaria o campo cultivável suficientemente frutífero para as
mutabilidades trazidas com o CPC/2015 nas matérias recursais. Portanto, de
maneira rápida, é preciso adentrar-se nesse assunto por meio da teoria do processo
constitucional.
Estabelecida inicialmente pela doutrina italiana com o processualista
conhecido como Ítalo Andolina, a teoria do processo constitucional bebeu de teorias
anteriores e contemporâneas a si como a teoria de Elio Fazzalari denominada como
Teoria do Processo como um procedimento em contraditório, esta que buscava uma
perspectiva diversa da majoritária de Bulow na análise processual da teoria do
processo como relação jurídica. (GONÇALVES, 2012).
A última, tinha como panorama a forma como o processo dava-se como um
procedimento, cujo meio de desenvolvimento era pautado no contraditório.
Ou seja, o gênero do processo fazzalariano era o procedimento cuja espécie
era o processo, e entre eles, a principal diferença era que o “[...] procedimento em
geral, que pode ou não desenvolver como processo, e o procedimento que é o
processo, é a presença neste do elemento que o especifica: o contraditório”
(GONÇALVES, 2012, p. 265).
Com tal base, o processo constitucional perpassa em um período histórico em
que a importância do Estado Democrático de Direito transmitia ao diploma
constitucional uma crucial importância para a dinâmica do ordenamento interno dos
países e, assim, a constituição passa a influenciar a totalidade do ordenamento.
O Processo constitucional se forma como mecanismo garantido de “[...]
concretização e exercício de direitos fundamentais só foi possível a partir do
momento em que a Constituição Brasileira de 1988 elegeu o Estado Democrático de
Direito [...]” (PAOLINELLI, 2016, p. 33), como a base principiológica do ordenamento.
De tal maneira, se consegue perceber que a Constituição, ou “[...] a Constituição
Democrática passou a ser fundamento de validade de todo o ordenamento jurídico,
de modo que, hodiernamente, é impossível conceber-se um direito processual que
não seja constitucional” (PAOLINELLI, 2016, p. 33).
Por tal motivo, a teoria que se iniciou na Itália e em seguida foi difundida no
México e no Brasil por Hector Fix Samúdio e José Alfredo de Oliveira Baracho
(GONÇALVES, 2012), embora tenha observado o contraditório e a importância do
mesmo, captou de tal período que o processo e seu desenvolvimento, antes de tudo,
necessitava de uma dinâmica constitucional para se efetivar.
De tal maneira, essa forma imprescindível de se pensar o processo, para
além do procedimento e sim como um modelo de validade dinâmica da constituição
federal, ou, mais crucial, da impossibilidade de se pensar o processo e o direito
processual fora do modelo constitucional que norteia o ordenamento, se concretiza
as bases para se formar a “[...] instituição constitucionalizada procedimentalizada”
(PAOLINELLI, 2016, p. 52), representada nessa teoria processual.
O processo assim reforça-se – como a princípios que estão em si -, como um
direito constitucional e, pode-se dizer, como direito fundamental.

Os Direitos Fundamentais são, a um só tempo, direitos subjetivos e


elementos fundamentais da ordem constitucional objetiva. Enquanto direitos
subjetivos, os direitos fundamentais outorgam aos titulares a possibilidade
de impor os seus interesses em face dos órgãos obrigados. Na sua
dimensão como elemento fundamental da ordem constitucional objetiva, os
direitos fundamentais – tanto aqueles que na asseguram, primariamente,
um direito subjetivo, quanto aqueloutros, concebidos como garantias
individuais – formam a base do ordenamento jurídico de um Estado de
Direito Democrático (MENDES apud PAOLINELLI, 2016, p. 42).

Assim, com esse compromisso constitucional, nos direitos fundamentais e de


como somente se pode pensar mecanismos constitucionais em ambientes
democráticos (BRETAS, 2012), o processo constitucional recebe um patamar
diferenciado: Este não é mais considerado tão somente como um instrumento
particular e fomentado entre particulares “[...] que se satisfazem com composições
judiciais, que não ultrapassam interesses de minorias ou grupos” (BARACHO, 1984,
p. 354).
O processo constitucional, como dispõe Theodoro (2009, p. 235) citado por
Paolinelli, (2016, p. 49) é “[...] comandado por princípios e regras da Constituição.
Normas procedimentais traçadas pela legislação ordinária teriam de conviver, [...]
com a supremacia dos preceitos [...] da ordem constitucional”. Nessa esteira, como
dito anteriormente, pensar o processo como uma instituição, e, além disso, uma
instituição constitucionalizada, é forma fundamental de se analisar como este será
regido por um “procedimento como garantia fundamental, em contraditório, ampla
defesa, isonomia (devido processo constitucional” (THEODORO, 2009, p. 235 apud
(PAOLINELLI, 2016, p. 49).
Ou seja, o processo constitucional, em síntese, pode ser conceituado,

[...] primordialmente, nos preceitos fundamentais que, por seu conteúdo,


distinguem-se das demais normas. Ao consagrar os valores supremos da
comunidade política e a organização do Estado, a Constituição traça todas
as formas de controles dos poderes. Declara e cria os instrumentos de
defesa das liberdades fundamentais e, no Estado Social contemporâneo,
eleva as necessidades essenciais à vida humana, a nível constitucional.
Como disposições de princípios os normas programáticas, ou ainda,
disposições preceptivas, as últimas dirigidas diretamente aos órgãos do
poder, elas conduzem, também, à formulação de um Processo
Constitucional propício à realização da ordem jurídica. (BARACHO, 1984, p.
356).

3. DELINEAMENTOS SOBRE O JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE NO NOVO


CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Como dito, o processo constitucional reforçou o compromisso com o


paradigma do estado Democrático de Direito e verteu para a lógica processualista
princípios e garantias constitucionais para o efetivo desenvolvimento democrático
dessa área crucial para a estrutura prática do direito.
De tal forma, o Novo Código de Processo Civil foi abraçado com esses
preceitos e, aqui, de maneira mais importante, é preciso identificar que seus
institutos foram atualizados com esses preceitos. Na análise recursal, e em especial
aos recursos de apelação e agravo de instrumento, trazer a forma como o NCPC
transformou sua abordagem em relação ao código anterior (inclusive à Constituição)
é basilar. (THEODORO JÚNIOR, 2016).
Para chegar ao juízo de admissibilidade, é preciso identificar conceitos
básicos do campo recursal, e de como a perspectiva do processo constitucional
atualizou esse campo, com a emergência do NCPC 2015.
Para se pensar o processo nessa nova sistemática, é preciso conceber como
esse reforma, invalida e estabelece os preceitos para que determinada decisão
judicial seja devidamente modificada.
Moreira (2012) ressalta como o recurso é uma forma única para manter a
constitucionalidade, regularidade democrática e principiologia dos ditames de um
real estado democrático.

[...] recurso é o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo


processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração judicial
que se impugna. Desta forma, o recurso impede que a decisão judicial
impugnada se torne preclusa, prolongando o estado de litispendência. ecto,
elemento, modalidade ou extensão do próprio direito de ação exercido no
processo, refutando a tese de que o recurso seria uma ação autônoma, a
qual se sustenta com base no argumento de que o que recurso é fundado
em fato verificado dentro do processo, ao passo que a ação originária se
funda em fato extraprocessual. Há no direito processual pátrio ações
autônomas originárias de fatos intraprocessuais, como a ação rescisória
fundada em error in procedendo, o que enfraquece o fundamento utilizado
pela corrente minoritária. (NERY JR, 2014, p. 54).

Perpassado pelo mesmo ditames principiológicos como a legalidade e a


taxatividade, bem como a efetividade e a fungibilidade e a singularidade
(CARNEIRO DA CUNHA; DIDIER, 2016), se pensa nessa perspectiva que o recurso
é “[...]o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma,
a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial que se impugna”
(MOREIRA, 2002, p. 232) que reflete-se “[...] na mesma relação jurídica processual
em que foi proferida a decisão recorrida, vale dizer, sem que se instaure um novo
processo”. (NERY JR, 2014, p. 2014).
Previstos na Constituição e principalmente no novo código de processo civil,
os processos:

[...] se inserem na mesma relação processual, ou no mesmo processo,


prolongando-o e objetivando ver decididas novamente as matérias
constantes da sentença e também decisões interlocutórias, por isso mesmo
obstando que haja coisa julgada ou impedido que ocorra preclusão: vale
dizer, alongam a litispendência formada com a citação, ou resolvem
questões menores. Os recursos podem objetivar a reforma, a invalidação, a
integração ou o esclarecimento da decisão impugnada. (ARRUDA ALVIM,
2013, p. 746).
No caso em tela, será analisada a apelação e o agravo de instrumento, que,
nesse caso, terão especial visualização no presente trabalho. Contudo, é preciso
antes discernir como se perpassa para a analise recursal o chamado juízo de
admissibilidade, fundamento preciso para se analisar os recursos demonstrados.
Em uma perspectiva constitucionalizada dos ditames e preceitos do NCPC, se
pensa o juízo de admissibilidade como o atual sistema do processo civil temos o
procedimento comum dos recursos (NERY JR, 2014). Uma vez que procedimento
pode ser observado como um conjunto de atos ordenados e coordenados em que é
dado às partes iguais oportunidades de manifestarem seus interesses e produzirem
suas provas em contraditório e com ampla defesa assegurada para, juntos,
construírem um provimento final (MARINONI, 2010), pensar o juízo de
admissibilidade é fundamental para o respeito a esse mesmo procedimento.
Nesse caminho, é preciso conceituar os ditames desse juízo para se perceber
a sua importância para o interesse recursal.

O juízo de admissibilidade tem por objetivo averiguar o cumprimento de


pressupostos necessários à apreciação do mérito recursal, de maneira que
a pretensão só será analisada (juízo de mérito), caso estejam preenchidos
todos os requisitos de admissibilidade do recurso. Essa condição faz com
que exista uma relação de dependência lógica e antecedente entre os juízos
de admissibilidade e de mérito. (FRANCO, 2017, p. 20).

Como se pensa o processo, analisa-se a forma que ocorrerá a cognição do


juízo e como esse interpelará, até a percepção da participação integral das partes,
protegidas pelos princípios jurídicos necessários. Assim, necessário é perpassar o
processo de conhecimento, o cautelar, os especiais e os voluntários, e, quando
necessário, observar a admissibilidade recursal para a defesa do estado
democrático processual, com a possibilidade do recurso contra referida decisão
judicial.
Ainda, convém lembrar que no bojo dessas espécies de processo são
exaradas decisões do magistrado que são ou decisões interlocutórias, desafiando
agravo de instrumento, ou sentenças e acórdãos. Os despachos não desafiam
recursos. As sentenças extinguirão o processo com ou sem o exame do mérito
(ASSIS, 2015).
Assentadas essas premissas pode-se começar a construir linhas mais
incisivas a respeito do juízo de admissibilidade.
O referido juízo de admissibilidade dependerá do recurso para se analisar seu
procedimento. Na sistemática do código processual anterior, alguns juízos de
admissibilidade recursal eram observados no Juízo a quo e em outros no juízo ad
quem, respectivamente o primeiro é o que proferiu a decisão impugnável pelo
recurso devido ou ao que irá julgar o referido recurso. No entanto, para se pensar a
nova sistemática, é preciso trazer a tona a importância do juízo ad quem do juízo de
admissibilidade recursal, que recebeu uma importância fundamental na atualidade
processual
Decerto, pode-se dizer que alguns recursos serão analisado quanto ao juízo
de serem admitidos ou não na origem e não por aqueles que analisarão
propriamente o recurso (ARRUDA ALVIM, 2013). O juízo ad quem, que irá de forma
definitiva resolver sobre a admissibilidade recursal, de tal maneira demonstrada,
acaba por constituir uma diferenciação crucial para com o juízo a quo. O primeiro
não se vincula diretamente à admissibilidade que se demonstrou positiva em sede
de primeiro grau. Embora em primeiro momento o juízo de admissibilidade pode ter
sido feito pelo primeiro grau, o juízo ad quem não se vincula a essa jurisdição
automaticamente.
Tal preceito pode tornar a reforma do juízo de admissibilidade no assunto
recursal. Inclusive, nem negativamente o juízo ad quem se vincula, “[...] pois a
decisão de indeferimento do recurso (juízo negativo de admissibilidade), prolatada
pelo órgão a quo está sujeita a impugnação para que o Tribunal ad quem decida a
respeito” (NERY JR, 2014, p. 241).
Um exemplo do mesmo sentido se encontra no juízo de admissibilidade da
apelação, no artigo 1010 § 3, no NCPC no qual se observa:

Art. 1010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro


grau, conterá: (...) § 3o Após as formalidades previstas nos §§ 1o e 2o, os
autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de
admissibilidade. (BRASIL, 2015).

Dessa forma, observasse que a principal modificação trazida sobre a


perspectiva no código de 2015 é justamente que esse juízo de admissibilidade será
realizado pelo juízo ad quem, sem necessariamente uma vinculação com o juízo a
quo.
Prolator da decisão recursal, embora não o seja prolator da sentença, o juízo
ad quem pode inclusive ultrapassar, como no artigo demonstrado, os ditames da
admissibilidade, remetendo os autos. Dessa forma, o juízo de admissibilidade irá ser
um procedimento judicial em que se analisará a forma como determinados requisitos
e condições foram supridas para que retire-se de sua inatividade principiológica de
julgados imparcial. (ARENHART, MARINONI, MITIERO, 2015).
A nova sistemática do juízo de admissibilidade recursal abrange todos eles,
sem exceção, ou seja, para além da apelação e do agravo de instrumento, por
óbvio. Como forma de assegurar o equilíbrio do sistema e evitar uma “festa” judicial
faz-se necessário um juízo prévio de admissibilidade recursal. Esse mecanismo
funciona como uma forma de filtrar as demandas “[...] propostas diariamente perante
o Judiciário, a fim que somente aqueles que preencham os requisitos exigidos sejam
admitidos e ultrapassem a barreira para que a análise do mérito seja
realizada.” (CÂMARA, 2011, p. 132).

Com efeito, pensamos que os pressupostos processuais são sempre


extraídos da relação processual a ser formada ou já constituída, porquanto
sempre intrínsecos a esta relação, enquanto as condições da ação são
absolutamente extrínsecas à relação processual, sendo aferidas em função
da relação hipotética de direito material ou substancial afirmada na petição
inicial. (ARRUDA ALVIM, 2016, p. 60-61).

Visto nesse sentido, “[...] pretender incorporar aos pressupostos processuais a


categoria das “condições da ação” só poderá ser admitida a partir do momento em
que se parar de distinguir os próprios fenômenos da ação e do processo” (CÂMARA,
2011, 261).
O recurso, entendido como “[...] o meio ou remédio impugnativo apto para
provocar, dentro da relação processual ainda em curso, o reexame de decisão
judicial” (THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 606) deve passar por essa filtragem para
que demonstre como consegue preencher requisitos prévios para seu conhecimento
e exame e eventual provimento ou não.
Portanto, no Novo CPC inovou no sistema processual brasileiro. Agora os
juízos de admissibilidade de recursos na origem findaram-se. Significa dizer que
caberá ao juízo ad quem decidir se admite ou não o recurso. Didier Jr. (2016) explica
que deverá o juiz, mesmo ciente de sua intempestividade, não se retratar, quando
for o caso de juízo de retratação, e mandar subir os autos do processo.
Nessa análise, se observa como se está diante de algo que pode ser
considerado como a extinção do duplo juízo de admissibilidade no sistema
processual civil brasileiro. No momento da análise do recurso de apelação trabalhar-
se-á o impacto disso sobre esse recurso o que produzirá uma melhor visualização
do impacto desse novo sistema e suas consequências. (VILLAR, 2015).
A “[...] admissibilidade deve ser analisada sob dois ângulos: requisitos para o
exercício do direito de Ação e requisitos para que o Processo seja constituído e se
desenvolva regular e validamente” (WAMBIER, 2014, p. 44).
Pensar as condições de admissibilidade perpassa sobre a necessidade de se
ver tal admissibilidade processual recursal como uma matéria de cunho preliminar à
análise do recurso em si. Essa analise perpassa a uma sentido anterior ao mesmo.
No entanto, não se pode confundir as condições da ação os pressupostos
processuais e o juízo de admissibilidade. Todos são fundamentos cruciais para a
validade da decisão final e para a análise meritória da demanda levada ao plano
recursal.

Na verdade, se era essa a vontade do legislador, considerar a


impossibilidade jurídica do pedido como questão de mérito, pensamos que
perdeu ele uma grande oportunidade de assim determinar expressamente.
O que restou, de fato, foi um problema. Isto porque, se o rol do artigo 332,
que trata da improcedência liminar, for tido por taxativo, o juiz, ao se deparar
com um caso de impossibilidade jurídica do pedido, não poderá decretá-la
de plano e terá que encaminhar o procedimento até que possa decretar a
improcedência quando do julgamento antecipado de mérito (AURELLI,
2018, p. 87).

Em suma, sobre essa mesma relação, deve-se sintetizar a seguinte questão,


que coloca em pauta o juízo de admissibilidade e leva a presente analise
especificamente para seu objetivo maior: a análise da importância atual da apelação
e do agravo de instrumento constitucionalizados no Novo Código de Processo Civil:

Assim, as condições da ação e pressupostos processuais pertencem à


mesma categoria referente à admissibilidade e que devem ser analisados
antes de discutir o mérito propriamente dito, mas isso não impede que se
possa verificar que são requisitos diferenciados porquanto se referem a
institutos também distintos. As condições da ação não constituem matéria
de mérito. Essa foi a opção do legislador no novo CPC, em que se verifica
que entre as matérias a serem alegadas em preliminar de contestação, o
CPC substituiu o termo “carência de ação” por ausência de legitimidade ou
de interesse processual (art. 337, XI, CPC). Então, se o legislador fez a
opção de encartar tais requisitos como preliminares a serem tratadas antes
de discutir o mérito, é porque de mérito não se trata (AURELLI, 2018, p. 88).
4. O RECURSO DE APELAÇÃO NO SISTEMA PROCESSUAL CIVIL

A transformação da ciência jurídica e o movimento de constitucionalização


dos direitos pós-segunda guerra deslocam a Constituição para assumir o
papel central do ordenamento jurídico como fonte de direito e também como
núcleo hermenêutico do intérprete, exigindo desenvolvimento de uma
atividade interpretativa constitucionalizada do Direito, que deve guardar
estreita relação com os princípios fundamentais (DURO, 2017, p. 88)

De fato, essa sistemática demorou a aportar na sistemática processual,


contudo, apareceu no Código de Processo Civil de 2015, como visto anteriormente,
bem como instaurou-se em seus dispositivos, como os recursais. Nesse caso, é
importante observar as mudanças trazidas no quesito da apelação e como essa
perpassou em uma maneira legiferante a constituir eivada de fundamentos
baseados na constitucionalização do processo civil brasileiro, desde a
admissibilidade2 até fase executória.
Como se dispõe, da decisão que “põe fim à fase cognitiva do procedimento
comum, bem como extingue a execução”, comumente conhecida como sentença,
cabe a apelação. Apresentava-se dessa maneira no código processual de 1973 e
continua sendo na forma dos artigos 724 e 1.009 do Código de 2015. Se a sentença,
o ato jurisdicional que coloca fim à fase cognitiva do processo e extingue a
execução, possuir características que uma ou ambas as partes envolvidas no litígio
observem a necessidade de reformulação, a elas será cabível a apelação como
mecanismo recursal.
É o que se extrai do seguinte artigo do Novo CPC:

Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões


interlocutórias e despachos. [...]
§ 1o Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais,
sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento
nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem
como extingue a execução. (BRASIL, 2015).

2
“Por estes elementos propõe-se a analise do regramento para admissibilidade do recurso de
apelação no Código de Processo Civil de 2015. O recurso de apelação é cabível contra i) sentença,
ato judicial que coloca fim à fase cognitiva do procedimento, resolvendo ou não o mérito – conforme
critério finalístico adotado pelo art. 203, §1º –, ou extingue a execução, sendo irrelevante o
procedimento no qual foi a sentença proferida, mesmo que estejam incluídas também matérias que,
apesar de reservadas ao Agravo de Instrumento, tenham sido decididas na sentença, compondo seus
capítulos; e/ou ii) decisões interlocutórias de recorribilidade mediata, diferida ou postecipada,
proferidas no curso do procedimento de conhecimento, mas não elencadas no art. 1.015 do
CPC/2015.” (DURO, 2017, p. 87).
Assim, conceituando, pode-se indicar que a apelação é,

[...] o recurso tratado pelo disposto nos arts. 1.009 a 1.014 do Código de
Processo Civil. Segundo o art. 1.009 é cabível contra a sentença, que é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e
487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue
a execução (CPC, art. 203, § 1º). 1 É decisão emanada do juiz de primeiro
grau de jurisdição. Por intermédio da apelação, se busca obter a reforma
total ou parcial da decisão impugnada, ou até sua invalidação. A regra
contida no caput do citado art. 1.009 comporta complementação, uma vez
que o Código de Processo Civil dispõe que se contra decisões proferidas na
fase de conhecimento não comportarem o agravo de instrumento é cabível
o recurso de apelação, devendo a parte insatisfeita suscitar as questões já
resolvidas em preliminar de apelação, ou em contrarrazões (§ 1º). Portanto,
nosso ordenamento processual estabeleceu que decisões interlocutórias
também podem ser objeto de apelação, não se limitando às sentenças.
(CARVALHO FILHO, 2018).

Conhecida também como o recurso por excelência, provavelmente por atacar


a decisão mais importante do magistrado, a apelação é fundamental para a
sistemática recursal do ordenamento jurídico, e, observar a sua mutabilidade
constitucional é objeto crucial para se pensar como o processo civil foi iluminado por
essa constitucionalização.
Mas o que se propõe aqui é algo simples e singelo, não se trata de assentar
inúmeras premissas e esclarecimentos sobre a sentença em face do CPC vigente.
Pretende-se apontar a ampliação conferida às hipóteses de cabimento de apelação
com efeito regressivo encampada pelo CPC de 2015.
Importante perceber que as decisões interlocutórias que não são
agraváveis, são passível de apelação (CARNEIRO DA CUNHA; DIDIER, 2016). O
chamado “[...] sistema da taxatividade das decisões interlocutórias agraváveis, tais
decisões resolvidas na fase de conhecimento só estarão sujeitas a impugnação por
meio de agravo de instrumento quando houver na disposição legal (CPC, art. 1.015)
autorização para tanto. (CARVALHO FILHO, 2018, p. 64).
De tal forma, percebe-se, analisando essa relação entre espécies recursais,
que, se uma decisão que for interlocutória e não uma sentença não for impugnável
por agravo, “[...] poderá ser por intermédio de apelação. Tem-se, portanto, as
decisões interlocutórias apeláveis, em virtude da extinção da regra da recorribilidade
em separado das decisões interlocutórias.” (CARVALHO FILHO, 2017, p. 65).
Aqui, é necessário trazer à tona os ditames da formação dessa peça
processual que é apelação.
No que concerne aos elementos formais da petição por meio da qual se
apela, o legislador realizou algumas pequenas alterações na regência da
matéria, Dispôs, no artigo 1.010, sobre o endereçamento da irresignação
ao juízo de primeiro grau (e não ao juiz, como o fazia o CPC/73 no art.
514), com os nomes e qualificação das partes, sendo certo que, no que
concerne á qualificação, continuará a prevalecer a invocação por
remissão à que já houver sido feita na petição inicial ou na contestação,
conforme o caso. Será de mister a qualificação efetiva apenas naqueles
casos em que o apelo seja aviado por terceiro prejudicado, na forma do
art. 996 do CPC/15. Além disso, o apelante deverá indicar, na petição: a
exposição do fato e do direito; as razões do pedido de reforma ou de
decretação de nulidade; além do pedido de nova decisão. O Código de
1973, mais singelamente, impunha ao autor que indicasse os
fundamentos de fato e de direito; e o pedido de nova decisão. (NUNES,
2016, p. 65).

Uma importante atualização constitucional sobre esse instituto recursal


também recaiu sobre a sua tempestividade, ou, em geral, na tempestividade recursal
de uma gama variada de recursos. O ato de uniformização temporal eleva a
interposição recursal do processo civil a uma necessária vinculação a padrões
constitucionais de relevância.
Nessa matriz, “[...] não pode o processo democrático se curvar a elementos
utilitaristas de custo/benefício ou mesmo à inatingível celeridade, que certamente
não pode se sobrepor aos princípios processuais constitucionalizados” (DURO,
2017, p. 89).
E esse padrão de tempestividade funciona como arcabouço máximo para que
se institua no princípio da duração razoável do processo desde a sua matriz; é dizer,
o prazo concreto para a interposição recursal (DIDIER JR, 2016). O objetivo nesse
campo é visível: a simplificação e as subtramas dos sistemas recursais do código de
1973, que criavam os chamados tempos mortos do processo civil. (WAMBIER,
2014).
A uniformização de prazos para que os recursos fossem respondidos, bem
como para a sua interposição buscam a simplificação e a resoluções menos
complexas dos trâmites recursais, o que amplia a capacidade da parte interessada
em manter a litigiosidade, pois inconformada com a decisão proferida na sentença, a
título de exemplo, consegue de maneira concreta, alcançar esse exercício de defesa
constitucionalmente defendido. A eficiência processual representa a observância, no
espaço discursivo-procedimental, da obtenção da tutela jurisdicional de forma
efetiva, dentro de uma duração razoável do processo (BRETAS, 2005).
De tal maneira, é preciso pensar a forma como a apelação e os recursos com
essa tempestividade uniformizada conseguiram ampliar a capacidade dos litigantes
em possuir o acesso à justiça e assim manter questões relativas e conectivas ao
mesmo como a razoável duração do processo e tentar, faltando nesse caso a
participação do judiciário, evitar os chamados tempos mortos refletidos
anteriormente. “Tempo e processo são conceitos antitéticos e vinculados pelo
princípio da duração razoável do processo” (DURO, 2017, p. 89).
Nessa esteira, impossível pensar a forma como essa duração razoável se
fomenta no “horizonte de expectativa de implementação do direito (concreção da
pretensão), distanciados pelo tempo. A busca pelo ponto ótimo desta tensão situa-se
no princípio constitucional da duração razoável do processo.” (DURO, 2017, p. 89).
Sobre esse fator, importante ligar outros que são cruciais para a
fundamentação da apelação e de suas diferenciações contidas no código anterior.
São mudanças diretas e voltadas para a busca inconstante seja da razoável
duração, do completo acesso à justiça, bem como a vinculação constante aos
princípios mais sensíveis do processo constitucional que emerge no pós 88. São
sintomas de uma constitucionalização dos institutos processuais.

Ocorreu a uniformização dos prazos para interposição e resposta dos


recursos; a exclusão do juízo de admissibilidade em 1º grau de jurisdição
para se evitar um novo recurso; estabeleceu-se a taxatividade das hipóteses
de cabimento do agravo de instrumento; foram suprimidos os embargos
infringentes, instituindo-se a regra do julgamento estendido; no campo dos
recursos excepcionais foram criadas regras de aproveitamento do processo,
de forma plena, devendo ser decididas todas as razões que podem levar ao
provimento ou improvimento do recurso; criou-se regra de que não há mais
extinção do processo por decisão de inadmissão de recurso, caso o tribunal
destinatário entenda que a competência seria de outro tribunal; há ainda
novo dispositivo determinando que, se os embargos de declaração são
opostos com o objetivo de prequestionar a matéria objeto do recurso
principal, e não são admitidos, considera-se havido o prequestionamento.
(CARVALHO FILHO, 2018).

Além disso, o CPC atual ampliou as hipóteses de retratação na apelação e a


razão é muito simples: estimular a decisão de mérito. O estímulo à decisão de mérito
é norma fundamental neste CPC, isto é, deve se lastrear por todos os atos e
decisões em qualquer tipo de processo e procedimento possíveis. Sua previsão está
no art. 4º e reforça que: “As partes têm o direito de obter em prazo razoável a
solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa” (BRASIL, 2015).
Tal princípio consiste sobre ponto crucial da resolução recursal que é a
solução de mérito. Isso, é claro, ao longo de todo o CPC. Observa-se, por exemplo,
o art. 139, IX que prioriza a decisão de mérito ao determinar que o juiz cuide da
garantia dos pressupostos processuais e da expurgação de seus vícios.
Consolida-se, aí, um princípio fundamental: a visualização da primazia à
resolução do mérito (e à produção do resultado satisfativo do direito) sobre o
reconhecimento de nulidades ou de outros obstáculos à produção do resultado
normal do processo civil. Observa-se, portanto, o princípio da primazia da resolução
do mérito. (DIDIER JR, 2016).
Por força deste princípio, combate-se a jurisprudência defensiva, sendo
portanto equivocado identificar obstáculos superáveis (à resolução do mérito) e não
envidar esforços para superá-los. A decretação de uma nulidade, o não
conhecimento de um recurso ou a extinção de um processo sem resolução do mérito
só serão legítimos, então, naqueles excepcionais casos em que se encontre vício
verdadeiramente insanável ou que, havendo necessidade de atividade da parte para
que seja sanado o vício, esta permaneça inerte e não o corrija, inviabilizando a
superação do obstáculo. (DIDIER JR, 2016).
Reforça-se o referido princípio com uma nova roupagem da apelação. Contra
qualquer sentença que extinga o processo sem exame do mérito será permitido juízo
de retratação, isto é uma novidade. O art. 485 do CPC vigente, correspondente ao
art. 267 do CPC/73, elenca as hipóteses de extinção do processo sem exame do
mérito e traz em um de seus parágrafos a grande novidade sobre o vetor. Seu
parágrafo 7º ressalta que: “interposta a apelação em qualquer dos casos de que
tratam os incisos deste artigo, o juiz terá 5 (cinco) dias para retratar-se.” (BRASIL,
2015).
Assim, doravante, não se limita mais o juízo de retratação da apelação à
apenas aquelas duas hipóteses mencionadas alhures, mas também a todo e
qualquer caso de extinção do processo sem exame do mérito, sendo:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


I - indeferir a petição inicial;
II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das
partes;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa
julgada;
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou
quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;
VIII - homologar a desistência da ação;
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por
disposição legal; e
X - nos demais casos prescritos neste Código (BRASIL, 2015).

Para efetiva aplicação deste princípio, o CPC de 2015 permite a identificação


de uma série de regras destinadas a permitir que sejam removidos obstáculos à
resolução do mérito, facilitando a produção dos resultados a que o processo civil se
dirige.
Por fim, sobre os pontos cruciais de mudança constitucional da apelação
enquanto instituto do processo constitucional que se busca e se almeja efetivar na
esfera legislativa e judiciária brasileira, tal instituto recursal levou a cabo as
mudanças ao regime das preclusões.

A alteração relevante, no entanto, relaciona-se ao tema em questão. Foi


modificado o regime das preclusões. A exposição de motivos do CPC
salienta que todas as decisões anteriores à sentença podem ser
impugnadas na apelação, observando que, na verdade, o que se alterou foi
exclusivamente o momento da impugnação, pois tais decisões, de que se
recorria, no sistema anterior, por meio de agravo retido, só eram mesmo
modificadas ou mantidas quando o agravo era julgado, como preliminar de
apelação. Com o novo regime, o momento de julgamento será o mesmo,
não o da impugnação. As modificações apontadas no sistema recursal
proporcionaram a sua simplificação e conduzirão ao maior rendimento
possível de cada processo (CARVALHO FILHO, 2018).

5. O AGRAVO DE INSTRUMENTO DIANTE DAS DECISÕES SOBRE ALEGAÇÃO


DE INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO: um viés constitucionalizado do instituto
recursal

Nessa esfera recursal, e para refletir sobre as suas principais mudanças, é


preciso analisar a forma como o agravo de instrumento, importante instituto recursal
da sistemática processual, se coloca diante das decisões interlocutórias, bem como
sobre as chamadas decisões sobre a alegação de incompetência do juízo, para
ressaltar se o mesmo, como a apelação, recebeu uma nova roupagem constitucional
com a emergência do código de processo civil de 2015.
Buscando deveras uma economia processual, o que poderia colocar em
cheque inclusive o respeito e a procura de um processo constitucional, o novo
código elencou uma mudança sobre o sistema de recursos no agravo de
instrumento. Os recursos, que poderiam versar em morosidade, foram diminuídos,
na retirada, por exemplo, do agravo retido; se suprimiu o uso excessivo dos recursos
e as alterações concernentes ao agravo de instrumento seguiram esse exemplo.
Ou seja, a economia processual nesse caso buscou na verdade evitar os
tempos mortos do processo refletidos no tópico anterior, bem como rechaçar a
obscura fundamentação inflada de recursos que não possuíam razão de ser no
código anterior.
O agravo de instrumento é instituto recursal cabível contra decisões
interlocutórias. Uma decisão interlocutória pode ser definida como o “[...]
pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no conceito de
sentença (pronunciamento por meio do qual o juiz, julgando o mérito ou não, põe fim
à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução).”
(LOPES, 2017, p. 2).
Contudo, baseado nos ditames observados durante toda a análise, o
cabimento do agravo foi “filtrado” na dinâmica do novo código de processo civil.
Esse prevê o chamado “numerus clausus”, ou seja, casos em que a decisão
interlocutória pode ser impugnada.
Amparadas no princípio da taxatividade, as decisões interlocutórias que são
agraváveis se encontram dispostas no artigo 1.015 do NCPC/15:

Art. 1015 - Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que


versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único - Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário. (BRASIL, 2015).

Na forma do artigo referido, vê-se como para além das interlocutórias contidas
no cumprimento de sentença, bem como no processo de inventário e de execução,
que não se vê a possibilidade de aplicação recursal na forma de apelação, se
poderá observar o agravo de instrumento, pelo qual, ainda que taxativo quanto ao
seu rol, delimita os campos em que o litigante que almeja o conteúdo recursal,
deverá caminhar. Ou seja, iluminou as bases de manter um recurso “com razão de
ser”, não sendo utilizado meramente como recurso protelatório e diminuindo a
capacidade de interposição errônea do instituto.
Ressalte-se, nesse caso, que as interlocutórias que não se encontram no rol
do artigo 1.015 não são recorríveis pelo agravo, mas sim como preliminar de razões
ou contrarrazões de apelação. (DIDIER JR, 2016).

E, nesse contexto, a admissão de qualquer interpretação extensiva violará o


princípio da taxatividade ou da reserva legal, segundo o qual são
considerados recursos apenas aqueles assim dispostos em lei federal. O
ordenamento jurídico não deixou ao alvedrio das partes a possibilidade de
criar recursos ou definir as hipóteses de seu cabimento para exercitar o seu
inconformismo. Do contrário, o sistema recursal seria desprovido de
qualquer segurança jurídica, já que sempre seria possível, por qualquer
forma que se bem entendesse, impugnar as decisões judiciais (BUENO,
2016, p. 327).

Como observado, o rol de hipóteses de cabimento é taxativo e impede a


aplicação extensiva. A outro método recursal serão aplicadas às interlocutórias que
escapem a esse rol. “O CPC/2015, para tanto, valorizou, com mais ênfase do que o
CPC/73, o princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, retomando,
assim, a dinâmica do CPC/1939.” (MOZELLI, 2017). E sobre esse caminho manteve
um aspecto sobre o que é considerado como efeito suspensivo do agravo: no rol das
interlocutórias impugnáveis por agravo, em regra não vão possuir efeito suspensivo
(DIDIER JR, 2016).
Além de remover o agravo retido, que serão resolvidas por eventual apelação,
como disposto no artigo 1.009, parágrafo primeiro do CPC/15, o atual código possui
uma visualização e objetivo fixo do legislador: A pretensão do mesmo, em
consonância, como apresenta a análise, com o processo constitucional, foi
determinar a capacidade de recurso a quaisquer decisões interlocutórias.

[O legislador] com as referidas alterações não foi tornar irrecorríveis


algumas decisões interlocutórias. Não há decisões irrecorríveis no sistema
do CPC/2015. O que há são decisões imediatamente recorríveis, por agravo
de instrumento, e decisões de recorribilidade diferida, por apelação. Assim,
tem-se que todas as decisões interlocutórias são recorríveis, ora por meio
de agravo de instrumento, ora por meio de apelação (MOZELLI, 2017, p.
43).

De tal forma, é preciso pensar a seguinte indagação: não se poderia, em


critério analógico e em respeito ao processo constitucional, haver a decisão que
declinar ou não a competência do juízo ser agravável por instrumento como se dá na
hipótese de “rejeição da alegação de convenção de arbitragem”?
Ou melhor formulada: cabe ou não agravo de instrumento em sede de
decisão que declina a competência em casos de alegação de incompetência do
juízo?
Observa-se que essa é uma das hipóteses de cabimento do agravo de
instrumento, expressamente prevista no inciso III do art. 1.015 do CPC. Ora, a
essência dos fenômenos é a mesma, não há diferença alguma.
Assim, embora ocorra a taxatividade, a sistemática atual da dinâmica recursal
do agravo é clara: a sua taxatividade não retira a capacidade de recorrer perante
outras questões interlocutórias, tão somente leva para outros instrumentos recursais
(como a apelação), a capacidade de impugnação.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro da sistemática analisada, é possível identificar que na atual forma que


se coloca o CPC, com sua clareza e com seu objetivo inclusive de celeridade no
campo recursal, o processo constitucional pode ser visualizado, bem como pode-se
dizer que a apelação e o agravo de instrumento no novo código, ganharam uma
capacidade mais estável quanto a sua instauração, cabimento e necessidade, o que
mantém uma segurança jurídica capaz de respeitar a verdadeira
constitucionalização dos instrumentos dos ramos do ordenamento jurídico.
Constata-se que as modificações em sede de recurso, embora não foram
substanciais, são significativas. Ressalta-se que a presente análise não abordou
diretamente a totalidade das mudanças incorridas, contudo se mostrou aquelas mais
dignas de nota para demonstrar como ambos os recursos migram para uma
perspectiva baseada no processo constitucional.
Observou-se que na atual sistemática não há o que se falar em duplo grau de
juízo de admissibilidade dos recursos, e aqui reforça-se a crítica de um possível
encarecimento e retardamento do processo quando mesmo diante de interposições
absurdas o juízo de primeira instância ainda assim mandar subir os autos.
A apelação, por sua vez, foi expandida no que tange às hipóteses de
cabimento do juízo de retratação o que prioriza uma jurisdição mais efetiva com a
primazia das decisões de mérito.
O agravo retido foi extinto da nova ordem processual civil e o agravo de
instrumento encontra-se mais restrito, já que não serão mais todas as decisões
interlocutórias passíveis de recurso imediato.
Certamente esse é o ponto que mais gerará estudos doutrinários e
jurisprudenciais para que o sistema fique completo, pois, como salientado em linhas
supra, pode-se admitir a analogia em casos não expressos como impugnáveis pelo
agravo, mas que por sua substância permitam tal aplicação.
Em suma, baseando-se no cerne absoluto da dignidade da pessoa humana,
inclusive sobre pessoas litigantes e dotadas de capacidade jurídica para tal, se
observar que essa importância fase processual, que se desloca na condição e no
direito das partes poderem recorrer para uma reformulação decisória do judiciário,
em muito recebeu com a atualização de 2015, com a emergência do novo código de
processo civil, principalmente por angariar passos importantes rumo ao efetivo e
aplicável processo constitucional.
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