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INTRODUÇÃO
- Trata-se de um caso que pode constituir um poderoso precedente a nível de DIPenal, por
requerer uma tomada de posição quanto a duas questões essenciais para a configuração de
relações entre os estados:
- A partir do século XIX a ideia de soberania foi cedendo perante uma ideia de responsabilidade
internacional.
- A sua criação e sentenças têm por base uma ideia de supremacia do direito
internacional sobre os direitos internos.
- Assim, há um direito das gentes, que não depende do reconhecimento interno pelos estados;
que se impõe sempre que divirjam dos seus comandos.
- Legado de Nuremberga:
- MAS R.AGeral de 1946 — pr. de Nuremberga de que quem comete crimes contra a
Humanidade ➔ não pode invocar prerrogativas de imunidade.
- 1993 TPI para a ex-jugoslávia — aparece normalmente um embrião de tribunal que julgaria, em
caso de necessidade, CCaH.
➔ Qualquer um destes tribunais foi criado pelo CSNU — põe-se em causa a isenção e
independência pela preponderância assumida pelos países com direito de veto.
- Mas os estatutos do TPI saídos de Roma não são desejáveis — apenas os possíveis num
contexto em que é difícil (senão impossível) equilibrar o jogo de forças dos vários países
implicados.
- E convém não esquecer que houve 90 países a assinar o acordo final de Roma, mas ainda
estamos longe das 60 ratificações para constituir tribunal e iniciar a atividade.
- Só pode exercer nos Estados que tenham ratificado o acordo ou expressamente aceitem
a sua jurisdição; e
- Os primaciais crimes referidos nos estatutos já são de qualquer modo puníveis por
qualquer Estado — são erga omnes.
- Quanto à imunidade política quanto a RCr, houve uma lenta evolução até se
estabelecerem os contornos.
- A sua consagração moderna surge pela primeira vez na Cláusula Martens (Conv.Haia
1907): aprovada por todos os participantes, estabelece que os pr. gerais escolhidos nas
leis das nações civilizadas correspondem a uma consciência coletiva e prevalecem sobre
qualquer outra norma — Leis da Humanidade, que vêm dar lugar aos Crimes contra a
Humanidade, e só depois Genocídio.
- Este conceito não se pode confinar a esta definição. Uma resolução das NU de 1946
define-o como extermínio de um grupo por razões religiosas, políticas ou outras —
independência das características que motivem o extermínio. O que não acontece na
CdGen.
- Esta definição choca com o estabelecido na CdV sobre relações diplomáticas que
prevê imunidade de CdE quando em visita oficial — confornta-se o compromisso
perante outro Estado e a confiança nas relações inter-estaduais com o compromisso
era de perseguição de autores de CcaH.
- 1998 nov — Espanha apresenta um pedido de extradição de Augusto Pinochet, sob acusação
de crimes de genocídio, terrorismo e tortura, incluindo desaparecimentos, sequestros, e outros
atos contra a vida, liberdade e dignidade de pessoas identificas nos autos de 16 e 18 de
Outubro.
- Esses atos estão previstos no CP ES e terão sido cometidos por Pinochet de acordo com
um plano de eliminação sistemática de opositores políticos, a fim de suprimir
discrepâncias ideológicas.
- Essa imunidade deve ser entendida como garantia de determinadas funções e não
como um privilégio.
- Nos termos da CdV, Pinochet não goza de qualquer imunidade — 14.º — enumera quais
os agentes diplomáticos, não se incluindo Pnc em qualquer categoria (não estava no UK
em missão diplomática); não entrou no UK em missão diplomática.
- Pnc estava tão seguro da sua posição que nem pedira um visto diplomático para a sa
deslocação.
- Em conclusão, BG, nos seus autos, propõe ao governo ES que solicita ás autoridades do
UK competentes a extradição de Pinochet sob a fusão de crimes de genocídio, terrorismo
e toruras. Simultaneamente é feito um pedido de detenção com base em crime de
genocídio, elaborando-se uma lista de pessoas desaparecidas depois de presas.
- Em 1946 foi pela AssGerNU — “extermínio de um grupo por (…) outras [razões]” ➔
neste caso, o elemento de ligação esta serem todos indivíduos contrários ao regime
militar de 11/09, ao seu entendimento de nação e de nova ordem a implantar no país.
- Pronúncia favorável por 3v2, tendo cada lord fundamentado a sua decisão:
- Voto positivo:
- Lord Nicholls — existem dúvidas sobre se Pnc era verdadeiramente CdE durante os
atos — mas admite-se que tendo governado efetivamente de 1973-1990, gozará da
imunidade de CdE. NO ENTANTO, tratando-se de atos de tortura, que não são
função do Estado, e são crimes inadmissíveis, independentemente de quem os
pratique (por maioria de razão, CdE).
- Lord Steyn — os atos de tortura foram praticados por polícia secreta que dependia
de ordens de Pnc — deverá a imunidade prevalecer ante tortura? onde se traça a
fronteira? CcaH são crimes à luz do DI e merecem punição, nem podendo ser
considerados como executados em exº de funcões.
- Voto negativo:
- Lord Slynn — a imunidade abrange todas as entidades que tenham atuado no exº de
autoridade soberana, mas não abrange procedimentos criminais. Também as
disposições que se referem a CdE não se referem a “antigo CdE” — será que a CdE
estabelece as imunidades em virtude de o ato ser praticado durante exº de funções?
Afirma ainda que se vem a aceitar cada vez mais que há crimes que devem ser
sempre julgado — MAS não há ase legal que defende que fique anulada a imunidade
tradicionalmente reconhecida de um CdE.
- Lord Lloyd — manutenção da imunidade enquanto ex-CdE, de acordo com pr. int.
reconhecidos pelo UK.
- Com base na suspeição levantada pelo facto de Hoffman ter pertencido á Amnistia
Internacional — organização não-neutra perante o problema.
- Foi em 1999 (24/03) proferida nova solução por 7 lordes, idêntica à primeira — favorável, por
6v1.
- Lordes consideraram norma com valor de jus cogens ➔ anulação de qualquer tipo de
imunidade.
- Lord Millet — a infração de uma lei munida de jus cogens cria competência universal para
julgar.
- A Conv. sobre tortura, assinada pelos 3 países impõe que se julgue quando o agente seja
encontrado no território ou pede que se extradite para o Estado que pretende julgar.
- Fundamentação concedida pelo juiz que em out99 concluiu pela admissibilidade da extradição
de Pnc, transferindo a decisão para o Min. Interior.:
A vexata quaestio desta análise era saber qual o âmbito do jus puniendi dos Estado em matéria
de Crimes contra a Humanidade:
- Encontrou-se resposta no sentido de admitir que há crimes supra direito positivo, suja
punibilidade não depende das normas de direito interno, antes devendo ser
perseguidos por todos os Estados civilizados, por serem ofensivos de uma
consciência coletiva.
- Destaque para Lord Millet — “a forma como um Estado trata os seus cidadãos no seu
próprio território tornou-se objeto de legítimo interesse para a comunidade internacional”.
- ASSIM, o UK deveria extraditar Pnc pelos mesmos motivos que lhe permitiriam julgá-lo
em UK.
- Quanto á extradição — a L144/99 só limita a operação nos casos dos artigo 6.º, 7.º, 10.º e
32.º. Pnc não se enquadra nos preceitos e não há reserva quanto a Espanha. Nos termos
do 33.º só haveria extradição caso Espanha fizesse acompanhar o pedido pela prova
exigida no preceito — o Estado onde foram cometidos os crimes não reclamar o agente
da infração.
- Não se trata de PT se eximir de elaboração, mas sim de entender que não compete
ao nosso país o papel de polícia do mundo, pedindo a extradição de indivíduos cujo
crime não tenha qualquer conexão com território português e que nem aqui se
encontrem.
• Comparar o 5.º/1/b) com o 5.º/1/e) permite perceber que o CP cria um regime mais
abrangente para os crimes compreendidos no pr. da universalidade ➔ 5.º/1/e)
exige que o Estado onde a pessoa deveria ser julgada tenha pedido extradição e
esta não tenha podido ser concedida, exigência que não existe na alínea b), por
duas ordens de razões:
• com relativa frequência, por certo, a extradição não seria pedida pelos países
de origem, ou a sê-lo, obedeceria mais a imperativos vingativos do que de
justiça, não havendo motivo válido que fizesse prevalecer o princípio da
territorialidade, dando preferência ao estado em cujo território os crimes
tivessem sido cometidos.
- Quanto aos crimes de tortura — 243.º CP não está no elenco do 5.º/1/b) ➔ não se
plica o regime da jurisdição universal.
• Parece uma má opção ➔ demissão na luta que deve ser universalmente motiva
contra os autores de tortura ou crimes de guerra.
- A Conv. contra a Tortura apenas obriga à tomada de medidas para evitar tortura
e para previsão de penas para esses atos. Não há obrigação de julgar acima do
previsto no CP. Daí que também não se possa invocar o 5.º/2 CP.