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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

A POLÍTICA EXTERNA DE ANGOLA PARA REGIÃO


DOS GRANDES LAGOS (2014-2017)

David Bengui Panda Domingos

Orientador: Professor Doutor David Leão Faria

Trabalho de fim de curso apresentado para obtenção do grau de


Licenciado em Ciência Política.

Luanda, 2017
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

A POLÍTICA EXTERNA DE ANGOLA PARA REGIÃO


DOS GRANDES LAGOS (2014-2017)

David Bengui Panda Domingos

Orientador: Professor Doutor David Leão Faria

Trabalho de Fim de Curso apresentado à


Faculdade de Ciências Sociais da UAN como
requisito para obtenção do grau de Licenciado
em Ciência Política, orientado Pelo Professor
Doutor David Leão Faria

Luanda, 2017
Epígrafe

«Aquele que pretende enfrentar as ameaças provenientes do exterior deve controlar


os perigos internos».

Mwayila Tshiyembe e Mayele Bukasa.

In A África Face aos Seus Problemas de Segurança e de Defesa, p.15


DEDICATÓRIA

Aos meus Pais Dr. Moniz Domingos e a Senhora Joana David, pelo sacrifício
incansável e incomensurável para a materialização deste grande objectivo.

As minhas irmãs pelo apoio e dedicação que têm exercido na minha vida.

Aos meus avós, João Carlos Panzo, Mariana Panda, Domingos Kassokissa e
Madelena André (estes dois últimos em memória) que de uma maneira substancial
constituem a razão que justifica a minha própria existência.
AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor David Leão Faria pela paciência e atenção na orientação


e correcção deste magnífico trabalho.

Aos meus Pais, Dr. Moniz Domingos e a Senhora Joana David por me terem
gerado e pelo cumprimento cabal da sua mais sagrada responsabilidade.

Aos meus avós, pelo papel fundamental que sempre desempenharam na


minha vida e por constituírem figuras proeminentes na existência desta núcleo
familiar.

Ao colectivo de professores que passam neste magnífico curso pelo empenho


apresentado no cumprimento da sua mais digna missão, e por me ter ensinado tanta
coisa no âmbito de Ciência Política e não só.

Aos meus colegas de grande batalha, David Sambongo Nauia, Clementina


Souko Satuala, Miguel Jamba Henriques, Orlando Sapalo, ao Hitler Samussuku,
António Pedro Quirir, em especial, a toda a turma de Ciência Política do 4º ano de
2016, pelo apoio prestado durante os longos e difíceis quatros de formação.

A todos que de uma forma directa ou indirecta contribuíram para o alcance


deste grandioso êxito.

A minha profunda gratidão...


SIGLAS E ABREVIATURAS

Apud – Citado por

CEEAC – Comunidade Económica dos Estados da África Central

CEEA - Centro de Estudos Estratégicos de Angola

CNDP – Congresso Nacional para a Defesa do Povo

CGG – Comissão do Golfo da Guiné

CIRGL – Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos

CS – Conselho de Segurança

et al – et aliae

EUA – Estados Unidos da América

FCS – Faculdade de Ciências Sociais

FAR – Forças Armadas do Ruanda

FARDC – Forças Armadas da República Democrática do Congo

FDLR – Forças Democráticas de Libertação do Ruanda

FPR – Forças Patrióticas do Ruanda

M23 – Março 23

MC – Mecanismos de Cooperação

MLC – Movimento para Libertação do Congo

MONUC – Missão da Organização das Nações Unidas no Congo


OMP – Operação de Manutenção de Paz

ONU – Organização das Nações Unidas

OUA – Organização da Unidade Africana

RCA – República Centro-Africana

RCD/Goma – Reagrupamento Congolês para a Democracia

RDC – República Democrática do Congo

RI – Relações Internacionais

SADC – Comunidade de Desenvolvimento da África Austral

SIP – Sistema Político Internacional

UA – União Africana

UE – União Europeia
RESUMO
O foco desta pesquisa recaiu sobre a avaliação do papel que Angola
desempenhou na Região dos Grandes Lagos, os objectivos deste na referida região
assim como os mecanismos que implementou para sua estabilização. Angola é um
dos Estados que integra a Região dos Grandes Lagos e as matérias que dizem
respeito a paz, segurança e desenvolvimento da região, recaem sobre todo e qualquer
membro da CIRGL. A determinação dos Estados – membros reside na transformação
da região num espaço de paz e segurança sustentada para estes e as suas populações,
estabilidade política e social, crescimento e desenvolvimento partilhado. Utilizou-se
como metodologia a perspectiva qualitativa e descritiva consubstanciada na recolha
de dado, na observação da evolução da situação da temática em causa e na selecção
de documentos bibliográficos, verbais, visuais tais como: livros, artigos, revistas,
jornais de diversa natureza com o objectivo de extrair conteúdos relacionados com o
tema. O estudo apresentado confirmou que a liderança de Angola tem exercido um
grande papel com vista a resolução de conflitos que afectam alguns Estados da
região, dado que o ambiente de instabilidade que se vive nesta zona tem
proporcionado efeitos negativos aos outros Estados membros desta parte da África
Central.

Portanto, o presente trabalho está submetido ao tema: A Política Externa de


Angola para a Região dos Grandes Lagos (2014-2017). Angola em quanto actor
do sistema político internacional, sempre cooperou em diversas matérias, mas com
grande realce no âmbito da segurança regional em África o que levou-nos a
definirmos a região dos Grandes Lagos como uma das linhas de força da política
externa angolana.
Palavras-chave: Política, Política Externa, Diplomacia, Cooperação e CIRGL.

Abstract
The focus of this research falls on the assessment of the role that Angola
performed in the region of great lakes, the objectives of this referred region as well
as the mechanisms that implemented for its stabilization. Angola is one of the states
that integrate the great lakes region and the issues about peace, security and
development of the region, fall above all on any member of CIRGL. The
determination of states members resides in transformation of region in a space of
peace and security sustained for these and their populations, social and political
stability, growth and shared development. It was used as a methodology the
descriptive and qualitative perspective used in data collection, in observation of the
evolution of situation of the topic under discussion and in selection of bibliographical
documents, verbal, visuals such as: books, articles, magazines, newspapers of several
types with objective of taking contents related to the topic. The state presented
confirmed that Angola leadership has exerted a great role in the resolution of
conflicts that affect some states of the region, given the instability environment that
is experienced in this area that has provided negative effects to other states members
of this part of Central Africa.

To sum up, the present work has the topic: the political external of Angola for
region of great lakes (2014-2017). Angola while actor of international political
system, always cooperated in several issues, but with greater emphasis in the scope
of regional security in Africa which led us to define the great lakes regions as one of
the lines of forces of Angolan political external.

Key-words: Political, political external, diplomacy, Cooperation and CIRGL.


ÍNDICE

Epígrafe....................................................................................................................................I
DEDICATÓRIA.....................................................................................................................II
AGRADECIMENTOS...........................................................................................................III
SIGLAS E ABREVIATURAS..............................................................................................IV
RESUMO...............................................................................................................................VI
Abstract.................................................................................................................................VII
Introdução...............................................................................................................................1
Formulação das hipóteses........................................................................................................3
Objectivos de Pesquisa............................................................................................................3
Objectivos Gerais....................................................................................................................3
Delimitação e Limitação da investigação................................................................................4
Metodologia............................................................................................................................5
Estrutura do Trabalho..............................................................................................................5
CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO CONCEITUAL.........................................................6
1.1. Política........................................................................................................................6
1.2 Política Externa.................................................................................................................8
1.1.2. A Diplomacia..............................................................................................................12
1.1.3. Cooperação..................................................................................................................15
1.1.4.Revisão Teórica sobre a política externa......................................................................17
CAPÍTULO II – Enquadramento Geopolítico e Geoestratégico da Região dos Grandes Lagos
..............................................................................................................................................21
2.1. Caracterização geográfica da região dos Grandes Lagos................................................21
2.2. Mecanismos de Cooperação na Região..........................................................................22
2.3. Conjuntura internacional da região dos Grandes Lagos.................................................23
2.3.1- Factores de instabilidade.............................................................................................25
CAPÍTULO III – A POLÍTICA EXTERNA DE ANGOLA PARA A REGIÃO DOS
GRANDES LAGOS..............................................................................................................29
3.1. – Posição geopolítica de Angola na região.....................................................................29
3.2. Linhas de Forças da Política Externa Angolana.............................................................31
3.3. O Papel de Angola na Região dos Grandes Lagos..........................................................36
Conclusão..............................................................................................................................41
ANEXOS..............................................................................................................................47
Introdução
As grandes mudanças políticas que verificamos hoje na região dos Grandes
Lagos, muito embora registar algumas tensões como acontece na República
Democrática do Congo, devido a diferendos políticos que opõem os partidos
políticos na oposição e o partido no poder sobre questão de calendário para
realização das eleições gerais, foram fruto da política externa angolana na resolução
de conflitos.

Desde os primórdios os Estados tenderam a cooperar uns com os outros por


que a manutenção das relações com outros Estados ou entidades internacionais
constitui uma necessidade. Portanto, Angola em quanto actor do sistema político
internacional, tem cooperado em diversas matérias, mas com grande realce no âmbito
da segurança regional em África dali a razão de definirmos a região dos Grandes
Lagos como uma das linhas de força da política externa angolana.

Assim, no âmbito da política externa, o Estado angolano tem desempenhado


um grande papel no estabelecimento de paz e segurança nesta região, uma vez que a
questão de segurança coloca problemas de viabilidade que só se resolve com
contactos directos com as unidades políticas (Estados) internacionais.

No entanto, Angola tem desenvolvido um conjunto de acções, relativamente


a política externa, estabelecendo relações de cooperação em vários domínios, quer no
âmbito da saúde, intercâmbio comercial e cultural, financeira e económica,
emigração, científica e técnica, quer como o estabelecimento de alianças militares,
desportivas, a questão relativamente a protecção de marcas e da propriedade
intelectual. Evidentemente, para além da cooperação de carácter político e militar,
mais ou menos intensas, consoante a participação em agrupamentos dos Estados,
Angola procura relacionar-se também com Estados com quem partilha a proximidade
geográfica e ao nível da afinidade ideológica.

Assim, o presente trabalho está subordinado ao tema: A Política Externa


de Angola para a Região dos Grandes Lagos (2014-2017).

1
Formulação do Problema

Falar da região dos Grandes Lagos hoje é ter em consideração naquilo que
Angola veio desenvolvendo ao longo da sua diplomacia. É bem claro que, algumas
mudanças vieram ocorrendo na região desde que a política angolana sentiu com
enorme preocupação a degradação da situação sociopolítica nos Grandes Lagos,
enfermando neste caso o prestígio de preservação da paz, da estabilidade e
retardando o próprio desenvolvimento em todos os domínios. Culpam-se diversas
situações que se traduzem em conflitos, pondo de fora o valor do homem e da
necessidade da sua interacção no campo social, fundamentalmente o de mantê-lo
estável sem perturbações.

O problema que justificou a investigação foi apresentado em forma de


questões, sendo duas, uma central e outra derivada.

Questão central:

- Será que a diplomacia angolana resolveu com êxito os anteriores conflitos


da região dos Grandes Lagos?

Questão derivada

- Será que a estabilidade na região dos Grandes Lagos pode permanecer


mesmo se Angola não continuar a intervir diplomaticamente na mesma região?
Sobretudo a questão da República Democrática do Congo (RDC). Ou seja, se a não
consolidação dos mecanismos diplomáticos de Angola pode pôr em causa a
estabilidade da região?

Estas questões poderão encontrar a resposta ao longo da nossa pesquisa.

Formulação das hipóteses


Este estudo vai servir como contributo capaz de ajudar os países membros
desta região procurarem e a preservarem a paz, aproveitando o esforço angolano,
evitar conflitos que degradam o tecido social, político e económico dos seus povos.

Se esses Estados interessarem-se a manter uma política que visa estabilizar a


região, claro, vão promover desenvolvimento gradual dos povos e nações mas, para

2
que isso aconteça é necessário que não se pode resolver conflitos por meio do
conflito esquecendo as boas atitudes políticas que passam pelas negociações,
passando a ter desta feita sociedades de ódio, violência entre outros procedimentos
que minam as boas relações entre as pessoas e suas comunidades.

A diplomacia angolana tem desempenhado um papel importante na


estabilidade da região dos Grandes Lagos e em particular na República Democrática
do Congo (RDC). Este posicionamento político do nosso país tem merecido do ponto
de vista da política externa uma grande consideração em África e no Mundo.

Objectivos de Pesquisa

Objectivos Gerais

A investigação teve como Objectivo Geral: é estudar o papel da política externa


angolana na região dos Grandes Lagos, de modo a compreender o desempenho
angolano na resolução de conflitos na região, enquanto actor reitor da região .

E no Específico ela buscou:

- Apresentar o empenho ou o papel da diplomacia angolana na resolução dos


conflitos na região dos Grandes Lagos;

- Identificar a origem dos conflitos que assolam esta mesma região.

Justificativa

A política externa, no ponto de vista prático, é designada como sendo o


sector da actividade do Estado que se destina a obter um ganho em relação a outro
Estado ou grupo de Estados. Neste âmbito o presente trabalho justifica-se pela
necessidade de entendermos acima de tudo o verdadeiro objectivo de Angola na
região dos Grandes Lagos, procurar entender o enquadramento científico para
contextualizar o presente tema nas diversas teorias, principalmente no campo da
Política Externa e trazer um elemento que vai despertar a atenção da comunidade
estudantil no âmbito da política externa e das outras áreas do saber.

3
Delimitação e Limitação da investigação
Ao abordarmos a problemática dos conflitos na região dos Grandes Lagos,
podemos partir duma perspectiva histórica ou da perspectiva sociológica, tomamos a
obrigação de apresentarmos o período em que os mesmos começaram a surgir nesta
região, isto é, a partir de “1990 na sequência dos eventos relacionados com o
genocídio no Ruanda e a crise no Burundi, tendo aí nascida a ideia de uma
Conferência Internacional na Região africana dos Grandes Lagos,” como diz José
Paulino Cunha da Silva, Téte António e Isabel de Jesus da Costa Godinho:
2006:171.A questão leva-nos entender o exacto período que duram os mesmos
conflitos e que veriam tomando precauções para uma preocupação mundial.

Logo, a determinação de Angola em atacar o problema (resolução de conflitos


naquela região) despertou o nosso interesse para estudo deste problema que
direccionamos a nossa pesquisa na abordagem da política externa angolana,
pretendemos concretamente a região dos Grandes Lagos de que Angola também faz
parte por suscitar nosso grande interesse devido as tensões políticas registadas nos
últimos momentos e que tanto fazem preocupar a comunidade internacional e dela
onde Angola demonstrou-se grande capacidade político-diplomática. Desta feita, a
nossa pesquisa está delimitada no período 2014-2017, momento em que Angola
exerceu a presidência rotativa da Conferência Internacional para a Região dos
Grandes Lagos.

Metodologia
Numa pesquisa qualitativa do tipo documental, procuramos reunir e explorar
esta fundamentação metodológica nos aspectos:

- Consulta de obras literárias, isto é, lendo livros de vários autores que


escreveram sobre a geopolítica e a geoestratégia na região dos Grandes Lagos,
consubstanciada na observação de dados neles colocados para termos em conta o
grau do problema. Não esquecendo os quadros e figura relacionados com o tema, a
fim de munir o próprio trabalho com os mais elevados padrões científicos
recomendados.

4
Estrutura do Trabalho
Pela sua obrigação e necessidade vamos estruturá-lo em três capítulos
fundamentais: O primeiro capítulo aborda a fundamentação teórica, nela definimos
os termos e apresentamos alguns conceitos, o caso da política, política externa entre
outros; o segundo tratará de enquadramento geopolítico e geoestratégico da região
dos Grandes Lagos, cujos subtemas: Caracterização geográfica, mecanismos de
cooperação na região assim como a descrição da Conferência Internacional da
mesma região.

O terceiro e último capítulo, vai apresentar a política externa de Angola para


a região dos Grandes Lagos, integrando a posição geopolítica de Angola na região
dos Grandes Lagos e as linhas de forças da política externa de Angola, juntando
neste caso a bibliografia e os anexos.

5
CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO CONCEITUAL
Neste capítulo pretendemos apresentar alguns conceitos mais proveitosos a
nossa pesquisa de acordo o que preconizamos para tornar este corpus num
importante instrumento de análise e reflexão da questão política externa angolana
ligada a região dos Grandes Lagos do continente africano. Logo, será necessário
conhecer algumas definições na ordem científica de vários autores sobre a política
em si, a política externa, a diplomacia, a cooperação assim como as teorias da
política externa.

1.1. Política
O significado clássico e moderno de política deriva do adjectivo Polís,
segundo Norberto Bobbio no artigo postulado no Dicionário de Política que contou
com a colaboração de Nicolau Matteucci e Gianfranco Pasquino. Para Bobbio,
“Política significa tudo o que se refere a cidade e, naturalmente o que é urbano, civil,
público e até mesmo sociável e social.” Mas ainda assim, vale acrescentar que, o
termo política expandiu graças a influência da grande obra de Aristóteles A Política,
que é considerada como primeiro tratado sobre a natureza, funções, divisão do
Estado, e sobre as várias formas de Governo, com a significação mais usual de arte
ou ciência do governo, isto é, de reflexão, não importa se com intenções meramente
descritivas ou também normativas, dois aspectos dificilmente discrimináveis
relativamente as coisas da cidade.

Com o passar do tempo, a palavra política tomou outra acepção em função da


modernidade, é assim que Maquiavel, na sua obra O Príncipe (1513), definiu a
Política como «a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo». Enquanto,
o sociólogo Max Weber definia a política como “a luta para compartilhar o Poder ou
influenciar a distribuição do Poder, quer entre Estados, quer entre grupos dentro do
Estado”.

Freitas do Amaral na sua obra «Uma Introdução à Política» define a Política


«como uma actividade humana, em parte do tipo competitivo, tendo por objecto a
conquista e a manutenção do poder, e em parte do tipo directivo, por objecto a
governação de uma comunidade humana, com vista a realização do seu bem comum»
(2014).
6
O autor citado define ainda a política como sendo a “actividade desenvolvida
pelos políticos, com vista à aquisição, conservação ou exercício do poder”.

O verbete Política no Dicionário de Relações Internacionais aparece definido


como “ meios através dos quais o poder é utilizado, de modo a influenciar a natureza
e os conteúdos da actividade governamental” (SOUSA, 2005:151).

Hans Morgenthau (1945 apud CRAVINHO 2002:113) “define a política


como uma luta pelo poder sobre os outros e, qualquer que seja o seu propósito final,
o poder é o seu objectivo imediato, e os métodos de o adquirir, manter e demonstrar
determinam a técnica da acção política […]”.

A política foi ainda definida por Marcelo Caetano (1906-1980 apud


VERÍSSIMO, 2013:38) como «actividade dos órgãos do Estado» cujo objecto
directo e imediato é «a conservação da sociedade política e a prossecução do
interesse geral na consubstanciação da segurança e do bem-estar como fins
teleológicos».

Numa outra perspectiva a política tem sido definida como a arte de governar,
actividade governativa e luta pelo poder que caracteriza o comportamento político
dos actores políticos para a condução dos destinos de uma sociedade. Com efeito, a
política distingue-se em duas vertentes, a política interna ou estadual e a política
externa ou internacional.

É bem verdade que, nenhum homem pode assumir a sua humanidade fora de
uma estrutura social, independentemente da sua dimensão. E nenhuma estrutura
social pode existir sem alguma forma de processo político. Naturalmente, o homem é
um animal sociável por que foi feito para viver em sociedade, é impossível este
bastar-se por si em situação de isolamento, porém, há necessariamente a tendência
natural para associar-se numa vida em comum.

Assim, devemos acentuar, no entanto, que, designadamente, sob forma de


Estado, os indivíduos deverão ser sempre considerados como potenciais agentes de
mudança no plano analítico das Relações Internacionais incluindo, mas não estando
limitados, relativamente aos relacionamentos políticos. Neste contexto, a acção
social, independentemente, das suas origens, motivações e causas, produz sempre

7
efeitos, mesmo quando de maneira não intencional, potenciais efeitos, directos ou
indirectos sobre o plano de relacionamentos políticos internacionais.

1.2 Política Externa


Num ambiente relacional tendencialmente globalizado, a política externa não
se limita às relações formais que baseiam na lógica de Estado a Estado,
tradicionalmente estabelecidas a partir dos respectivos centros de formulação da
política externa (ministérios dos negócios estrangeiros), mas que actualmente
verificam-se também em dimensões transgovernamentais, transdepartamentais e
transinstitucionais. Do outro lado, a progressiva transnacionalização dos
relacionamentos o facto de que a política externa constitui apenas um dos sectores
em que desenvolvem as relações externas dos Estados.

Não existe uma definição de política externa, mas as várias definições


contém atributos e pressupostos semelhantes, pese embora os estudos referentes a
política externa tenham desenvolvido, as diferentes abordagens citadas acima
demonstram que a política externa não é um processo simplista e linear, como
analisado nos diferentes autores que debruçaram relativamente a temática e na
necessidade de conjugação para um entendimento mais claro do processo, uma vez
que nenhum Estado consegue desenvolver economicamente de forma isolada.

Numa perspectiva teórica, segundo José Clavet de Magalhães (1982 apud


SANTOS, 2012:114) a política externa pode ser definida como “o conjunto das
decisões e acções de um Estado em relação ao domínio externo”.

O autor acrescenta ainda que a expressão política externa designa, geralmente


“o conjunto de linhas de acção política desenvolvidas fora das fronteiras territoriais
de um Estado, e que têm como finalidade a defesa e a realização dos seus interesses,
através da concretização dos objectivos definidos num programa de governo”.

A política externa é caracterizada pela parte da actividade estadual que está


voltada para «fora», quer isto dizer, que trata, por oposição a política interna, dos
problemas que colocam para além das fronteiras (MARLE 1964:7).

Por sua vez Kegley e Wittkopf (1995 apud FREIRE 2012:23) definem a
política externa como “o sistema de actividades desenvolvido pelas comunidades
8
para modificar o comportamento de outros Estados e para ajustar as suas próprias
actividades ao ambiente internacional”.

Segundo Zorgbibe (1990 apud FREIRE 2012:24), política externa é ainda


caracterizada como sendo “o esforço de uma sociedade nacional para controlar o seu
ambiente externo pela preservação das situações favoráveis e a modificação das
situações desfavoráveis”.

Na perspectiva de Rosati (1994 apud Freire 2012), a política Externa é “o


conjunto de objectivos, estratégias e instrumentos escolhidos pelos responsáveis
governamentais pela formulação de políticas para responder o ambiente actual e
futuro”.

Na visão de Ana Paula Fernandes (2004:21), “a expressão «política externa»


pode ser utilizada para designar o sector de actividade do Estado, que se destina a
obter um determinado resultado em relação a outro Estado ou grupo de Estados.
Deste modo a política externa constitui um aspecto da política internacional”. Em
outras palavras, a política externa diz respeito a actividade exercida por um Estado
além das suas fronteiras políticas.

Mais adiante a mesma autora define a política externa “como o conjunto das
decisões e acções de um Estado em relação ao domínio externo ( op. cit.) ”. Logo a
política externa projecta os interesses de um Estado junto da sociedade internacional
através de meios pacíficos ou violentos.

Por sua vez, (Holsti apud SANTOS 2012) define política externa como” o
conjunto de acções que o Estado traça para alcançar no meio externo e inclui um
conjunto de medidas e objectivos a serem alcançados no sistema internacional, em
busca de segurança, autonomia, bem-estar, estatuto e prestígio.”

A política externa de um Estado se notabiliza com a participação deste em


grandes conferências internacionais, criando mecanismos para o desenvolvimento
dos seus interesses. Mediante esta participação, procura influenciar outros actores
políticos relativamente aos objectivos traçados por este. Dito de outro modo, um
Estado procura, através da política externa, manter ou ampliar o seu peso e influência
além das suas fronteiras.

9
Por conseguinte a política externa pode dizer-se que é a actividade
desenvolvida pelo Estado em relação a outros Estados e entidades com relevância
internacional, com vista a realização de objectivos que lhe são próprios. Neste
entretanto, podemos considerar que o Estado tem dois objectivos básicos: um
defensivo e outro ofensivo. O primeiro seria a manutenção da soberania; o segundo
seria a realização dos seus interesses.

Fernando de Sousa (In Dicionário de Relações Internacionais 2005:144),


define a política externa como sendo “a actividade através da qual os Estados agem,
reagem e interagem”.

Mais adiante considera-a como uma actividade de fronteira, cruzando dois


ambientes – o interno e o externo. A acção dos decisores políticos situa-se, por isso,
na junção destes dois meios devendo, por isso, gerir os interesses e oportunidades de
ambos.

O ambiente interno constitui o elemento fundamental, com base neste as


directrizes da política externa são traçadas. Desta feita, importa considerar alguns
factores do meio interno tais como – os recursos do Estado, a sua posição
geopolítica, o nível de desenvolvimento da sua economia, a estrutura demográfica, os
valores fundamentais da sua população (no nosso entender enquadra-se aqui a
Cultura Política da população de Estado), assim como a ideologia dominante.

Relativamente ao meio externa/internacional, constitui o ambiente onde a


política externa irá ser implementada. A implementação da política externa de um
Estado envolve outros actores internacionais, implicando reacções os mesmos.
Tornando assim, se necessário que os decisores políticos tenham em conta os
interesses do meio interno, bem como ao analisar o ambiente externo, tenham a
capacidade de antever as reacções dos outros Estados – definição da situação.

Neste entretanto, a apreciação da situação internacional identifica o que há no


ambiente, tendo em vista dar uma explicação da situação político-estratégica externa
do momento e caracterizar os factores de evolução externos, contribuindo, assim,
para identificar o que o Estado poderá escolher para fazer.

10
“Na definição ou tomada de decisão em termos de política externa é
privilegiada a perspectiva regional, em detrimento da global na medida em que, regra
geral, quase todos os Estados têm interesses regionais, dando lugar, desta feita, a
fenómenos de cooperação e integração de âmbito regional” (SOUSA 2005:145).

Os Estados têm de agir e reagir relativamente aos Estados vizinhos em todas


as dimensões – políticas, económica, militar, enfim. Tornando a dimensão regional
crucial na tomada de decisões em termos da política externa. Vale salientar que na
formulação da política externa de um Estado, são tidos em consideração os interesses
vitais (high politics) – como a paz, segurança e bem-estar, quer as questões de rotina
(low politics) – no relacionamento entre os Estados atribuída à diplomacia. Uma
categoria intermédia, geralmente abrangida por políticas sectoriais, cobre certas áreas
de interesses de alguns grupos sociais, económicos ou outros mas que não têm
importância suficiente para serem interesses nacionais (ou high politics).

Angola em quanto actor do sistema político internacional, define mecanismos


para a implementação da sua política externa, razão pela qual, urge toda uma
necessidade de apresentarmos o conceito da política externa angolana.

Tal como refere Veríssimo, na sua obra Geopolítica do Golfo da Guiné – A


posição Estratégica de Angola. “A determinação do conceito estratégico de relações
exteriores fundou-se na análise do ambiente estratégico nacional e externo”.

Com efeito, de acordo com Victor Marques dos Santos (2012:167), “ o tipo
de regime político, a estrutura institucional e administrativa, o relacionamento entre
as elites decisórias e a população, a opinião pública e os grupos de interesse
nacionais, as pressões exercidas pelos actores exógenos, e pelas circunstâncias
externas e a dinâmica do binómio capacidade/vulnerabilidade constituem factores
ambientais determinantes na formulação da política externa”.

Neste âmbito, partindo do conceito de Política Externa Angolana


desenvolvido pelo autor, e referido como “o conjunto de objectivos, estratégias e
instrumentos que o governo de Angola adopta e aplica a entidades externas a sua
jurisdição política, para garantir a defesa e a realização dos interesses nacionais”
(VERÍSSIMO 2016:354).

11
Em suma, a política externa é uma área abrangente cujo enfoque inclui
questões diversas, como segurança, economia, ambiente, e cultura. A agenda é, por
isso, diversificada, e as burocracias e grupos que apoiam o processo de formulação e
decisão cruzam diferentes valências para poderem responder à
multidimensionalidade associada à política externa dos Estados. Paralelamente ao
quadro institucional, variáveis objectivas como localização geoestratégica, população
e recursos humanos, capacidade militar, económica e de inovação tecnológica, bem
como factores de cariz subjectivo (incluindo motivações, identidade, valores,
percepções) conjugam-se na formulação, decisão e implementação da política
externa.

Dito doutro modo, os objectivos que o Estado angolano se propõe a alcançar


constituem critérios fundamentais, preservando sempre o interesse nacional, na
demarcação, formulação e materialização do conceito de Política Externa deste
Estado.

É preciso ter-se em conta que a prossecução dos interesses dos Estados, na


sua política externa, depende igualmente da qualidade, preparação, capacidade de
negociação e determinação dos seus diplomatas na condução da diplomacia na
política externa. Uma vez apresentado, o conceito de política externa, em seguida
apresentaremos o conceito de diplomacia, dado que são, erradamente entendidas
como sinónimos.

1.1.2. A Diplomacia
As Relações Internacionais (RI) são uma disciplina relativamente recente e
têm por objecto de estudo uma realidade em permanente mutação. Mediante este
facto, isso faz com que surjam, de maneira frequente, reflexões distintas e até
contraditórias, no que concerne aos conceitos fundamentais deste ramo de saber,
como seja o da diplomacia.

Têm sido várias as interpretações no que concerne ao conceito de diplomacia


ao longo da história das RI. Frequentemente a palavra diplomacia é sem qualquer
rigor teórico, para designar conceitos distintos. Nalgumas vezes é apresentada como
sinónimo de política externa, outras como qualquer forma de negociação, ou ainda
como instrumento pacífico de resolução de conflitos (FERNANDES, 2004:17).
12
Assim, o principal objectivo deste estudo não é fazer uma abordagem
profunda relativamente ao conceito histórico, antes diferenciá-lo da “ expressão
Política Externa”.

Tal como afirma a autora citada a utilização de intermediários, entre s


detentores do poder político de duas nações ou grupos políticos diferentes, existe
desde que as sociedades se organizaram politicamente e as organizações políticas
sentiram necessidade de estabelecer contactos. Esta prática ocorreu em todas as
civilizações da antiguidade, desde a Grécia a Roma, da Idade Média a Idade
Moderna, com o estabelecimento das representações diplomáticas permanentes, caso
que não é diferente na era Contemporânea, onde a diplomacia adquiriu um
verdadeiro estatuto internacional, principal com início da Diplomacia multilateral.

Assim, no que tange a conceptualização da diplomacia, há uma diversidade


de definições empregues pelos diversos autores que, de uma ou de outra forma,
ocuparam-se do estudo da diplomacia. Do ponto de vista da teoria política, do direito
internacional assim como das RI, a diplomacia é geralmente considerada um
instrumento da política externa. Sendo esta um instrumento que põe em contacto os
governos de dois ou mais Estados, pode influenciar a formulação de uma política
externa. É neste sentido que o embaixador José Calvet de Magalhães (1996, apud
FERNANDES 2004:18) afirmou:” (…) a Diplomacia é a arte da negociação (…)”.

A negociação é aqui entendida como preparação, discussão e conclusão de


um acordo entre dois governos, utilizando-se o termo contacto para designar todo
tipo de comunicação ou diálogo entre dois poderes políticos diferenciados. Assim
sendo, no primeiro momento a diplomacia é definida como um instrumento de que se
serve a política externa para estabelecer contactos pacíficos entre os detentores do
poder político dos Estados. Numa outra visão a diplomacia é definida como sendo
um instrumento da política externa que serve para o estabelecimento e
desenvolvimento de contactos pacíficos, em diversas áreas, entre governos de
diferentes Estados, através de intermediários reconhecidos pelas respectivas partes.

Definida nestes moldes, traduz-se a ideia de que o diplomata é um agente da


administração, que actua exclusivamente como um instrumento de uma determinada
política externa.

13
Na realidade, porém, o diplomata pode exercer outras funções.

Tal como refere a autora citada, são duas as funções que na prática se podem
confundir, mas que teoricamente são inteiramente distintas. Entendida numa
perspectiva mais clássica, a diplomacia pode ser definida como a condução de
relações entre os Estados e outras entidades, por agentes oficiais e meios pacíficos.

Na visão de Hans Morgenthau, a diplomacia é tido como “instrumento da


promoção do interesse nacional por meio de métodos pacíficos” (1948).

Na perspectiva mais moderna, a diplomacia é definida como a gestão de


relações entre Estados e outros actores das RI.

Na perspectiva de Adriano Moreira (2002, apud SANTOS 2009:226) a


diplomacia é definida como “uma arte da negociação, ou o conjunto de técnicas e
processos de conduzir as relações entre os Estados”.

Como salienta Silva “a diplomacia é de longe o instrumento privilegiado –


embora não o único – de relacionamento entre os Estados com o objectivo mútuo de
concretizarem os respectivos interesses nacionais” (2012:12).

Mais adiante o referido autor define a diplomacia como “um processo que
apela a aplicação da inteligência e do tacto na condução de relações oficiais entre
governos de Estados soberanos, procurando resolver os seus antagonismos por meios
pacíficos”.

Ao abordar a generalidade dos contactos plurilaterais, chega-se a conclusão


de que a diplomacia não pode ser vista nem abordada como um simples instrumento
da política externa, pois os conteúdos relativos a diplomacia moderna evoluíram e
coloca-la como um instrumento pacífico da política externa é uma decisão
escolástica e anacrónica (VAN-DÚNEM 2014:196).

Assim sendo, no actual contexto a diplomacia transformou-se num meio por


excelência através do qual os actores das relações internacionais procuram manter e
estabelecer contactos, com a finalidade de verem resolvidos ou alcançados os seus
objectivos.

14
Desta feita, na condução das relações externas por meio das representações e
das negociações, a diplomacia é sempre tida como um instrumento privilegiado dos
Estados.

O Diplomata angolano, Joaquim Marques de Oliveira (2008, apud VAN-


DÚNEM, 2014:198), partilha a definição do Embaixador Carlos Trigo Gandarillas,
segundo o qual, “a diplomacia moderna é a arte de negociar entre Estados, exercer a
sua representação de acordo com as finalidades da política externa de cada país,
buscando permanentemente a paz, que permita aliar esforços para lograr esse grande
objectivo que os Estados procuram.”

Na definição do Embaixador Calvect de Magalhães, a diplomacia é ainda tida


como “um instrumento da política externa para o estabelecimento e desenvolvimento
dos contactos pacíficos entre os governos de diferentes Estados, pelo emprego de
intermediários mutuamente reconhecidos pelas respectivas partes” (1982:88).
O respeitado investigador sul-africano, Christoper Landsberg citado por
Belarmino Van-Dúnem (2014), dá a seguinte definição: “a diplomacia é, em suma, a
gestão das relações internacionais e da política através da negociação”.

1.1.3. Cooperação
Falar de cooperação é termos em conta todos os aspectos humanos
relacionados com bases de entendimento entre homens de uma determinada área,
região ou outro espaço social. O homem sendo um ser social e porque expressa os
seus sentimentos de unidade, uma consciência comum e uma participação de um
destino comum, deve preservar as suas obrigações em manter céleres as realizações
sociais no seu ambiente.

As acções de cooperação objectivam em primeira mão o bem-estar da


população em geral, de forma mais organizada, equilibrada e sistematizada, cuja
intenção é proporcionar justiça, igualdade para todos, dentro das políticas sociais dos
Estados ou governos para seus povos.

Para várias definições precisas a palavra cooperação, nos apegamos as


seguintes:

15
Victor Marques dos Santos (2009:145), este autor apresenta-nos o seguinte
pensamento: “a cooperação visa de interesses específicos dos Estados […]
representam o nível mais baixo das relações de colaboração interactiva, inclui planos
de expansão cooperativa para outras áreas, ou para além do objectivo específico
determinado”.

Querer dizer que um determinado país tem por necessidade identificar os


sectores de interesse nacional para a realização de uma cooperação, necessariamente
de uma interdependência, por que “a interdependência caracteriza um contexto de
interacção relacional decorrente da inevitabilidade” (SANTOS 2012).

A cooperação apresenta-se como uma das modalidades da política externa,


facto que dela, parte a condução de mecanismos que decorre da dinâmica da
interacção estabelecida nos processos políticos, económicos, sociais, entre outros.
Essa interacção garante o entendimento entre povos. Colocando em evidência os
padrões e as regras da interdependência.

Como já foi dito nos parágrafos anteriores, deve o Estado cooperante


identificar necessariamente as acções de sectores diferentes, mas que devem ser
concretizadas dentro das políticas específicas estabelecidas pelo Estado, de acordo
com a política externa, visando a participação no desenvolvimento de projectos
inseridos nos objectivos políticos dos sectores que se pretende cooperar.

Para Lakatos e Marconi (2009:88) “a cooperação é o tipo particular de


processo social entre dois ou mais indivíduos ou entre grupos que actuam em
conjunto para a consecução de um objectivo comum”. Continuando afirmaram “é
requisito especial e indispensável para a manutenção e continuidade dos grupos e
sociedades”.

A cooperação é inevitável, porque não existe Estados, indivíduos ou grupos


que possuem tudo, no entanto, cada um precisa aquilo que lhe faz falta para seu
benefício, e por outros a numerosidade de interesses que cada tem para resolver.
Logo, “podemos dizer que a cooperação é solidariedade social” (op.cit).

16
1.1.4.Revisão Teórica sobre a política externa
O Estado tem uma obrigação exclusiva do poder sobre a população, de um
plano no estabelecimento de relações da sua comunidade com o mundo. Isto implica
o controlo efectivo da sociedade relativamente a aquisição e distribuição dos recursos
que um desenvolvimento sustentável.

Victor Marques dos Santos (2012:144), para este autor “o exercício das
competências da soberania externa é que ao Estado uma participação interventiva no
plano dos relacionamentos internacionais”, apresenta-nos uma definição numa
perspectiva teórica, tal referimos nos parágrafos anteriores “a política externa pode
ser definida como o conjunto das decisões e acções de um Estado em relação ao
domínio externo” (citando Magalhães, 1982:19 Bessa, 2001:84).

Na mesma perspectiva o autor mostra-nos a expressão política externa


designa, geralmente, “o conjunto de linhas de acção política desenvolvida fora das
fronteiras territoriais de um Estado, e que têm como finalidade a defesa e a realização
dos seus interesses através da concretização dos objectivos definidos num programa
de governo” (SANTOS 2012:93).

A política externa é uma componente extremamente importante da política


pública, fazendo, fazendo, no entanto, parte do corpo político da política geral do
Estado, com características próprias das políticas de cada Estado.

A política externa, tradicionalmente associada aos estados, tem


crescentemente vindo a ser associada a outros atores ou departamentos
governamentais, ou então ainda a organismos não governamentais, multinacionais,
entre outros, traduzindo-se em motivações, princípios e objectivos definidos num
ambiente interno, acautelando a sua envolvência mais ampla, e expressando-se
concretamente a nível externo. A política externa é assim entendida como uma
ferramenta essencial relativamente ao posicionamento dos Estados no sistema
político internacional. No entanto, tal como referimos atrás o desenho, formulação e
implementação da política externa não é um processo simplista e linear, como tem
sido analisado nos diferentes modelos teóricos e na necessidade de conjugação destes
para um entendimento mais claro do processo, e não tem lugar de forma isolada,
revelando o carácter co-constitutivo das dimensões interna (doméstica) e externa

17
(internacional) que acompanham todo o processo tal como refere Maria Raquel
Freire (2012). A autora acrescenta ainda que, “o debate agente/estrutura é, neste
quadro, um referencial fundamental para os estudos de política externa, na medida
em que o posicionamento assumido perante o mesmo implica uma abordagem
diferenciada das questões em análise” (op.cit). De facto, na bibliografia fundamental
há discordância relativamente à superioridade da agência sobre a estrutura ou,
inversamente, da condicionalidade que a estrutura impõe ao agente. Neste contexto, a
proposta avançada por James Rosenau (1966, apud RAQUEL 2012:21) de que “a
política externa implica uma relação bidireccional entre as dimensões doméstica e
internacional, ultrapassando a convicção tradicional de que a política externa é
dirigida estruturalmente, foi generalizada nos estudos nesta área”.

No entanto, a discussão é permanente relativamente ao peso de cada uma das


dimensões referidas atrás no que tange ao processo de formulação e decisão em
política externa. Na visão de alguns autores, o ambiente interno constitui a variável
relevante na definição e priorização da agenda da política externa, com a
identificação relativamente a centralização da agência nos processos, por exemplo
através de líderes na qualidade de decisores ou no âmbito da actuação de burocracias
ou grupos de pressão, tal como observam (Neack e tal., 1995; Saideman e Ayeres
2007, citados por Maria Raquel Freire 2012).

Numa outra perspectiva, (Keohane e Joseph Nye, 2000; Waltz, 1979) citados
pela mesma autora, argumentam que a abordagem estruturalista, cujo enfoque centra-
se na forma como a estrutura esclarece as dinâmicas no contexto interno, vai
constituir o elemento referencialmente fundamental, sendo que a agência não pode
ser desviada da estrutura, onde recebe inputs para o processo relativo a formação e
tomada de decisão.

No binómio agente/estrutura, o aspecto co-constitutivo de ambos, donde


inter-relação, mesmo que assimétrica, é assumida, permitindo uma leitura
diferenciada ao implicar a ligação constante entre os dois níveis atrás descritos.

Para além da tradução do debate agência/estrutura na teorização sobre política


externa, outras dimensões de análise têm sido implementadas em alguns estudos,
procurando acrescentar a visões mais tradicionalistas, formas complementares e

18
mesmo alternativas, de ler os processos que lhe estão subjacentes. A inclusão de
elementos de análise de aspecto pessoal, de todo irrelevantes para uma análise
aprofunda relativo a complexidade associada aos processos de formulação e decisão
de política externa, tais como atitudes, crenças, valores e interesses, têm contribuído
de forma fundamental para a análise das motivações e da expressão destas na tomada
de decisão na visão da autora citada acima. Mais adiante a referida autora acresce
que este debate implica a discussão do papel e características individuais do decisor,
bem como a consideração dos quadros ideológicos em que as decisões são tomadas,
não se demarcando da questão agente/estrutura, apesar da abordagem mais
abrangente que sugere Maria R. Freire (2012:22 citando Houghton, 2007; Jørgensen,
2006; Carlsnaes, 2003; Hill, 2003; Snyder et al., 2002). Como resultado deste
desenvolvimento, estudos modernos introduziram novas métodos na análise de
política externa, como por exemplo a análise de discurso. Esta metodologia visa
estudar a linguagem da política externa, através da semântica, ou da identificação de
conceitos, expressões e outros elementos linguísticos que permitam clarificar
posicionamentos e tendências, bem como compreender dinâmicas associadas aos
processos de formulação e decisão em política externa, muitas vezes incorporados
nas entrelinhas da linguagem política. Desta feita, a análise de política externa
tornou-se, assim, uma área de estudo complexa implicando múltiplas variáveis
relativamente aos níveis de análise, atores, processos e resultados.

Victor Marques dos Santos (2012:144), para este autor “o exercício das
competências da soberania externa é dá que ao Estado uma participação interventiva
no plano dos relacionamentos internacionais”, apresenta-nos uma definição numa
perspectiva teórica, tal referimos nos parágrafos anteriores “a política externa pode
ser definida como o conjunto das decisões e acções de um Estado em relação ao
domínio externo” (citando Magalhães, 1982:19 Bessa, 2001:84).

Na mesma perspectiva o autor mostra-nos que a expressão política externa


designa, geralmente, “o conjunto de linhas de acção política desenvolvida fora das
fronteiras territoriais de um Estado, e que têm como finalidade a defesa e a realização
dos seus interesses através da concretização dos objectivos definidos num programa
de governo” (SANTOS 2012:93).

19
Alden e Aran (2012 citadas em Maria Raquel Freira 2012) partem de uma
conceptualização mais abrangente na vertente teórica de política externa definindo-a
como o “estudo da conduta e prática de relações entre diferentes atores,
especialmente estados, no sistema internacional”. Os autores citados prosseguem tal
como evidencia a referida autora afirmando que a “análise de política externa refere-
se necessariamente não só aos atores envolvidos no aparelho formal de decisão do
estado, mas também à variedade de fontes de influência subnacionais sobre a política
externa do estado”, incluindo multinacionais, activistas ambientais e atores não-
estatais como ilustramos atrás.

A política externa é uma componente extremamente importante da política


pública, fazendo, no entanto, parte do corpo político da política geral do Estado, com
características próprias das políticas de cada Estado.

Em suma, a política externa articula as boas relações de Estado e de governo,


porque nela se desdobra a monitorização dos planos, gestão e controlo das
estratégicas a serem implementadas pelo Estado na área de jurisdição e no objectivos
que pretende alcançar no plano internacional.

20
CAPÍTULO II – Enquadramento Geopolítico e
Geoestratégico da Região dos Grandes Lagos
Pretendemos com este capítulo abordar a situação geografia e estratégica
desta região, partindo de uma caracterização, isto é, procuramos conhecer de
concreto quais os Estados que fazem parte da mesma. Sendo uma região de tamanha
importância em África, daí a necessidade de saber a sua localização e o seu
enquadramento territorial. Logo, ficará fácil de percebermos como se encontram os
seus mecanismos de cooperação e a própria conjuntura internacional.

2.1. Caracterização geográfica da região dos Grandes Lagos


Uma caracterização extremamente complexa, reúne um conjunto de povos,
com certa similaridade cultural, mas com interesses diversificados, muito embora
com a noção do espírito colectivo da conjuntura africana, o mesmo continente.

Esta região, localizada na África Oriental, encontram-se nela alguns dos


maiores lagos do mundo e que vivem a milhares de anos, abrangendo países
africanos como a Etiópia, Quénia, Tanzânia, Uganda, Ruanda, Burundi, República
Democrática do Congo, Malawi e Moçambique; São conhecidos por Lago Niassa,
Lago Tanganica, Kivu, Eduardo ou Alberto, Victória (o maior de todos) e o Lago
Turkano.

Um estudo disponível em Wilkipédia livre (acesso em 20-08-2017:1 e 2),


mostra-nos o seguinte enquadramento: Moçambique, Malawi e Tanzânia partilham o
mesmo lago, o Lago Niassa; O maior lago de África, Victória, atende o oriente e a
parte ocidental de África (vale Rift, partilhado pelo Quénia, Uganda e Tanzânia); O
Lago Tanganica limita a RDC, a Tanzânia e o Ruanda; Por sua vez Ruanda e a RDC,
são separados pelo Lago Kivu; O Lago Eduardo e Alberto, limitam o Uganda da
RDC, por último 90% do Quénia e o restante da Etiópia, reparte o Lago Turkano.

Embora a definição da «Região dos Grandes Lagos» possa abranger


realidades geográficas relativamente diferentes, para fins deste quadro estratégico,
refere-se aos territórios do Ruanda, Burundi, Uganda, e às províncias orientais da
RDC, e num sentido mais amplo o oeste da Tanzânia e o Quénia ocidental, bem
como parte do Sudão do Sul. Trata-se de uma região fértil e potencialmente rica mas
21
povoada de forma desequilibrada e sem acesso ao litoral cujos países estão definidos
pelas fronteiras da era colonial. Compreende cerca de 100 milhões de habitantes,
essencialmente concentrados nas zonas urbanas costeira ao longo dos rios, segundo
Philippe Hugon num artigo postulado no Atlas das Relações Internacionais, sob
direcção de Pascal Boniface. O seu PIB está calculado em 50 milhares de milhões de
dólares, ou seja, 500 dólares por habitante. Caracterizada como uma região
essencialmente florestal, compreende a segunda reserva mundial de poços de
carbono, segundo previsões sofrerá pouco os efeitos de mudança climática, mas
tornar-se-á uma zona de acolhimento de migrantes, com as várias tensões
habitacionais, sociais e políticas que ali podem resultar.

Segundo Mbokolo (2004:33) afirma “ as terras altas situadas entre os Grandes


Lagos da África Oriental experimentaram em condições especiais o processo de
formação de grandes Estados a partir de um núcleo mais ou menos antigo”. Quer
dizer que os povos anteriormente citados são associados por uma ideologia social e
cultural, que pelo menos até aos dias de hoje, a acumulação de conquistas territoriais
tem posto às equipas dirigentes exigências que cultivam o espírito de exclusão que
veio a desembocando estes povos em conflitos armados.

2.2. Mecanismos de Cooperação na Região


A cooperação entre os povos é uma das necessidades de inteiração
sociocultural, histórico, político, etc., tendo como obrigação a reciprocidade e o
intercâmbio em vários domínios para o progresso e o desenvolvimento de ambos os
povos ou nações, quer seja de forma uni ou multilateral.

A região em estudo é limitado pela restrita dimensão do Estado das suas


subdivisões territoriais nele exercem o real poder a cargo de chefes sobre a
comunidade humana cujo mosaico cultural atende um conjunto de normas e critérios
para a sobrevivência de todos em benefício de interesse comum.

No entanto, tal como se organizam os povos do mundo em regiões


económicas, políticas, mais estreitas, beneficiando assim, uma integração de
tendência global, os países da região dos Grandes Lagos, no espírito africano nascido
da Organização da Unidade Africano (OUA) em 1963, Adis Abeba, Etiópia,
procuram remover barreiras no campo de cooperação, identificando mecanismos
22
apropriados para sua integração e atender aos desequilíbrios regionais entre Estados
membros.

Destacamos logo, a Comunidade Económica dos Estados da África Central


(CEEAC), como um dos instrumentos do entendimento regional, já que grande parte
destes povos pertence o centro de África. Criada em 1983 em Libreville, República
do Gabão, entrando em vigor um ano depois de assinatura do Tratado! (cf. BEMBE
2013:432). A SADC como uma organização internacional com implantação regional
“criada em 17 de Outubro de 1992, em Windhoek, República da Namíbia”
(VERÍSSIMO, 2014:156), é um dos mecanismos de integração regional para garantir
a paz, a segurança e estabilidade na região Austral, é vital a região dos Grandes
Lagos pela sua composição e sua condição geográfica.

A Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, estabelecida no


ano 2002, para resolução de conflitos na região é um dos principais instrumentos da
garantia da paz regional, conforme citado por Veríssimo (2014:141) “é importante
realçar que a CIRGL nasceu em consequência do ambiente de instabilidade que vive
a região, gerado pelo genocídio no Ruanda e a situação de guerra na República
Democrática do Congo (RDC) ”.

2.3. Conjuntura internacional da região dos Grandes Lagos


Falar da região do Grandes Lagos no que concerne a situação geográfica é
ter em consideração a abrangência de diferentes realidades geográficas dos seus
povos que, estrategicamente vamos referir: os povos do Ruanda, Burundi e Uganda,
assim como a parte oriental da RDC: Kivu Norte e Kivu Sul, sem esquecer no
entanto o Oeste da Tanzânia, a parte ocidental do Quénia, e uma parte do Sudão do
Sul. Uma região com probabilidades de desenvolvimento potenciado pela produção
agrícola e presença de alguns recursos mineiras, aí a fertilidade da terra. Localiza-se
fora do litoral, obedecendo as fronteiras nascidas da Conferência de Berlim (1884-
1885).

Nesta região, a instabilidade começou desde 1960 (ano da África Negra),


conquista das independências de maioria de países, seguido do período de regime
militar que enfrentaram graves dificuldades para conseguir o desenvolvimento e o
progresso estável da vida dos seus povos. A instabilidade a que nos referimos ter
23
nascido mais cedo ou mais tarde, faz-se recordar o genocídio de Ruanda, as guerras
entre irmãos no Burundi (guerra civil de 1972) e a MPR do Mobutu Sesse Seko em
1997, mostra os conflitos nesses países e na região em si, patenteado pela ambição
do poder político, com assassinato de milhões de pessoas, deslocados e
empobrecidos outros tantos.

É bem verdade que o desenvolvimento económico não tardou a manifestar-se


na região como afirma a Comunicação Conjunta ao Conselho na Cimeira de
Bruxelas (2013:3), “alguns países da região, particularmente o Uganda e Ruanda,
alcançaram bons níveis de crescimento económico nas últimos anos e realizaram
progressos satisfatórios no sentido de atingirem os seus objectivos de
desenvolvimento do milénio enquanto outros países ficaram para trás”.

A conjuntura dessa região passa pela caracterização da situação política,


social, económico, etc., num dado momento da convivência de cada povo,
reflectindo os factos que ocorreram num determinado período ou vão ocorrendo
depois, assim quando são analisados e enquadrados num determinado tempo,
contribuindo desta maneira para o seu esclarecimento e compreensão, como citado
por Sousa (2005:60) “a análise da conjuntura faz parte das agendas dos governos,
dos partidos políticos, das organizações internacionais e das próprias empresas”.
Continuando, “desta feita a compreensão da conjuntura política é considerada
fundamental para definição de estratégia e para prossecução de qualquer tipo de
objectivo”.

A abordagem dessa conjuntura, coloca-nos num campo bastante complexo


atendendo a questão dos conflitos étnicos que ocorreram ou tenham ocorrido na
região com principal destaque do genocídio de Tutsi em Ruanda (1994), um conflito
tribal motivado pelo grupo revanchista de Paul Kagame, aquando da sua ascensão ao
poder, uma das medidas de conquista do poder político com ajuda dos Estados
Unidos da América (EUA), Uganda e Burundi. O agravamento da situação que
envolveu numerosos soldados ruandeses hutu que contaram com apoio de forças
militares burundianas e ugandesas.

O derrube de Mobutu Sesse Seko no ex-Zaire (1997), teve influências de


Angola, cujo apoio colocou Laurent Desiré Kabila no poder, alterando a situação

24
política do país, hoje chamado RDC. No entanto, não tardou Kabila realizou uma
inflexão nacionalista rompendo com os seus antigos aliados, expulsando do país
tropas do Ruanda, Uganda e Burundi. De seguida, estes países realizaram uma
intervenção com a finalidade de ajudar o seu anterior rival Mobutu e que mal foram
sucedidos pela inflexão de Kabila segundo a Revista da Conjuntura Austral (2012-
2013:23) “os agressores não contavam com o bloqueio de defesa articulado por
Kabila composta por forças angolanas, zimbabwanas e namibianas da SADC, além
de contingentes do Chade, Sudão e Líbia.

Em suma, os países da região dos Grandes Lagos mantém até hoje uma
inteiração que procura preservar a estabilidade e o desenvolvimento da região,
ficando desta feita a ser considerada a região como um todo, como acontece com as
restantes unidades integradoras de África e do mundo.

2.3.1- Factores de instabilidade


A situação dos conflitos armados em África é dominada pela sublevação de
grupos étnicos, contra instituições dos Estados pós-coloniais. Estes Estados foram
construídos a partir do mosaico de povos, em que muitos, comportam grupos étnicos
que são transnacionais. Por essa razão, as consequências facilmente atravessam as
frágeis fronteiras.

Mwayila Thsiyembe (2000 apud Chinguli 2005:29), num artigo publicado


pelo jornal Monde Diplomatique, afirma que “as relações entre os vários grupos
dentro dos Estados africanos pós-coloniais são combalidas pelos mitos criados pelos
líderes nacionalistas africanos”.

Para o autor citado, os sonhos de co-habitação das diferentes nações (grupos


étnicos) num único espaço desembocou numa crise com consequências que apontam
para o aprofundamento das diferenças entre essas nações, cidadãos e os valores
colectivos fundamentais. Esse aprofundamento do fosso não contribui, segundo
Tshiyembe, para a definição de uma sociedade de liberdade, onde o poder é
consentido e partilhado.

De facto, para Chinguli o que assistimos nos Estados falhados na região dos
Grandes Lagos configura uma situação em que quer da parte de quem contesta o

25
poder central quer da parte do contestado, a utilização da base étnica tem sido um
traço comum. Desta feita, podemos com base nesta característica considerar que é
um conflito étnico.

Salientar que a actual conjuntura na região dos Grandes Lagos aponta para
um conflito de diversa natureza, desde, a violação maciça dos direitos humanos, a
erosão do Estado, o aparecimento de actores privados e o incremento de uma
economia marginal que assegura os recursos para a guerra suja.

No entanto, a dialéctica do conflito étnico na região é contrariada por parte de


alguns actores. Para Miguel Plana (apud Chinguli 2005:65), “o conflito nos Grandes
Lago não é étnico, o que se passa na região deve ser entendido como a soma de
conflitos sociais, políticos, económicos entre grupos que procuram legitimar as suas
aspirações com a utilização de forma meramente instrumental do factor étnico”.

Para Elias Chinguli, a situação na região dos Grandes Lagos criou mitos que
devem ser ultrapassados: o primeiro, a ideia de que a rivalidade entre os Tutsis/Hutus
é uma criação do colonialismo belga (através das práticas de exclusão), que
procurava tirar vantagens; e o segundo é a ideai de que o que ocorre no Ruanda é
apenas inerente a esta sociedade em função daquela herança colonial, esquecendo-se
dos históricos massacres de 1972 no Burundi (2005:67).

Os académicos olham para o factor étnico no dizer do autor, como um


obstáculo que esconde motivações, interesses de classe e poder político, como testam
todas as análises feitas a voltas das relações tumultuosas entre Hutus e Tutsis no
Ruanda ou entre os Bakongo, Lunda e os Tutsis no Congo. Na verdade, a etnicidade
é efectivamente um factor determinante do conflito com características dinâmicas
como o da região dos Grandes Lagos.

Os conflitos na região dos Grandes Lagos, no actual contexto devem-se as


constantes violações dos mandatos constitucionais por parte de alguns Chefes de
Estados da região.

A persistente cultural de dominação por parte de quem governa no dizer de


Mwayila Tshiyembe, constitui o grande obstáculo do Estado pós colonial em África.
Para o autor refere que a cultura de dominação (que é característica de muitos

26
Estados africanos), consubstancia-se num Estado que é unicamente um poder que
comanda, e vota leis às quais não se submete. Esta constante violação das normas
constitucionais, passou a ser factor de conflitos nesses Estados nas últimas décadas
(TSHIYEMBE, 2016).

Mais adiante o autor citado, na sua obra «O Estado pós-colonial: factor de


insegurança em África» salienta que “a grande questão que o continente vive, é
relativamente a violação dos princípios que norteiam um Estado. O Estado pós-
colonial resulta da ruptura entre a herança cultural europeia e africana, o que suscitou
a conflitualidade da sua dupla historicidade e inextricabilidade […] o que evidencia a
corrupção do poder político”. No entender do autor, em vez de ser a vontade do povo
a gerar o poder e legitimá-lo, é a força que cria o poder, legitimando-o e engendrando
a vontade do povo (1990). Estas e outras realidades políticas têm sido motivos de
crispações políticas em África, em particular na região dos Grandes Lagos.

Em termos de caracterização da situação que vive a região, e dada a


conjuntura internacional que esta parte do continente africano vive, descrevemos
como principais factores de conflitualidade que afectam a região dos Grandes Lagos
os seguintes:

 Uma população grande e crescente, distribuída de forma desigual: de


muita alta densidade no Ruanda, Burundi e algumas das terras altas
nos Kivu Norte e Sul até à baixa densidade e grandes reservas de
terras cultiváveis noutras partes da RDC;
 Fragmentação política e défices democráticos;
 As diferenças étnicas exacerbadas são, por vezes instrumentalizadas
por partidos políticos concorrentes. No caso da RDC, a migração de
ruandeses para os Kivu Norte e Sul perturbou o equilíbrio político,
enquanto a competição pelos recursos e pelo controlo continua entre
países;
 Estados frágeis e fraca capacidade administrativa em que alguns
países vêem a sua legitimidade contestada e as liberdades políticas e
dos meios de comunicação limitadas;

27
 Ausência do Estado de direito ou de um controlo de segurança eficaz,
especialmente no leste da RDC, onde nem sempre se confia no
governo central e onde as forças de segurança algumas vezes agiram
sem qualquer respeito pelas populações civis, cometendo mesmo em
alguns casos, graves abusos a coberto de uma cultura de impunidade;
 Exploração ilícita e comercialização de recursos naturais no este da
RDC como factor de desencadeamento, sustentação e aumento da
violência, combinada com a má gestão do sector das indústrias
extractivas e elevados níveis de corrupção;
 Pobreza endémica, baixo desenvolvimento humano, necessidades
básicas não satisfeitas, violação de direitos dos humanos e
desigualdade com base no género.

Estes factores são tidos como motivadores do conflito na região, tendo como
epicentro o leste da RDC ligados a coligações de interesses múltiplos. Os interesses
são simultaneamente económicos, políticos (que passam questão de
instrumentalização do factor etnicidade) e comportam dimensões locais e regionais.
Rica em recursos minerais, a RDC é um “um escândalo geológico” segundo Hugon.
O Estado congolês não tem controlo sobre uma boa parte do seu território e não
controla a troca de matérias-primas, atiçando a ambição dos Estados vizinhos e dos
grupos multinacionais, na região dos Grandes Lagos a economia informalizou-se e
criminalizou-se, visto que, o essencial das exportações faz-se clandestinamente.

Por sua Veríssimo (2016:234), saliente que “os conflitos no Hertland


Africano, designadamente na região dos Grandes Lagos, incluindo a parte da RDC
que também é parte da Região do Golfo da Guiné e na República Centro-Africana
têm uma forte influência de questão da vizinhança”.

Como referimos atrás a conflitualidade na região dos Grandes Lagos, que


tem como ponto fulcral a região Leste da RDC, com um carácter cíclico, tem origem
no interesse pelas riquezas da região, especialmente o coltan. Ele é alimentado
essencialmente a partir dos países vizinhos, o Uganda, o Ruanda e o Burundi, de
onde parte o coltan para o exterior do continente, que apoia o contexto em que ele é
explorado.

28
CAPÍTULO III – A POLÍTICA EXTERNA DE ANGOLA
PARA A REGIÃO DOS GRANDES LAGOS

3.1. – Posição geopolítica de Angola na região


O posicionamento geopolítico de Angola resulta da sua posição geográfica,
tendo em conta a sua localização, configuração, e seus limites fronteiriços sem pôr de
parte a grande capacidade dos seus quadros no tratamento da política externa com as
regiões próximas ou afastadas do seu perímetro geográfico.

Isto demonstra o papel que Angola ocupa na região, numa fronteira marítima,
segundo Veríssimo (op.cit) “Angola localiza-se na costa ocidental da África entre os
5 e 18 de latitude sul e os meridianos 12 e 24 de longitude (1650) a Oeste, a Norte
com a República do Congo e RDC, a Leste com a Zâmbia e a Sul com a República
da Namíbia”.

Este posicionamento coloca Angola na condição de um país de ligação


intermédia entre a região Austral e a região Central da África, configurando-se como
uma potência regional no contexto de outras potências do globo, ficando integrado
dentre várias organizações regionais que ali se estabelecem neste perímetro
geográfico que inclui a Comissão Golfo da Guiné (CGG), a Comunidade Económica
dos Estados de África Central (CEEAC), a Comunidade de Desenvolvimento da
África Austral (SADC) e por último a Conferência Internacional sobre a Região dos
Grandes Lagos (CIRGL).

Para além da sua importância conferida pela sua localização geográfica e sua
dimensão geopolítica, aumenta a relevância do país pelo facto de possuir recursos
minerais que por um lado constituem um desafio a sua capacidade de transformar em
factores de desenvolvimento e, por outro, fonte de cobiça das entidades externas.
Desses recursos, o petróleo a principal fonte de desenvolvimento económico que se
associa os diamantes, a agro-pecuária, a pesca, entre outros.

Tal como observa Bembe (2013:431) “de facto, o reposicionamento sub-


regional e as mudanças político-ideológicas injectadas nos finais dos anos 1990
permitiram Angola posicionar-se como potência regional. Com as vitórias militares

29
alcançadas nos dois Congos, em 1997, Angola parece ter conseguido redesenhar uma
nova ordem sub-regional”.

Desde então, segundo o autor citado, o centro de gravidade da nova


geopolítica tende a mover-se gradualmente para Luanda, tanto mais que o próprio
país e a sua liderança, não lhes falta de activos e intenções para garantir o seu papel
como uma potência regional, em termos de integração económica.

Por sua vez, Veríssimo (2016:246) afirma “a importância dos factores


geográficos enquanto activo estratégico de um Estado foi claramente definida por
Napoleão que, apoiada na sua experiência política afirmou «a política de um Estado
repousa na sua geografia», e por Ratzel que declarou «da posição geográfica e
política nasce a política geográfica de um Estado» ”. Logo torna-se pertinente
evidenciar o elemento geográfico de Angola relativamente a sua posição nos Grandes
Lagos.

Com efeito, o referido autor cita como factos que determinam as visões
estratégicas de Angola e dos quais destacamos e estamos de acordo relativamente a
problemática da localização de Angola nesta sub-região do continente, só para
enumerar alguns destes:

(i) Angola localiza-se no continente africano, mais


especificamente na sua parte subsaariana;
(ii) Possui uma costa extensa (1650 Km) aberta ao mar;
(iii) Angola localiza-se na transição entre a parte austral e central
do continente;
(iv) Angola ainda serve, tal como descreve o autor, de barreira ao
acesso ao mar (oceano Atlântico) de territórios importantes em
dimensão e organização (RDC, Zâmbia, Ruanda, Uganda),
países que fazem parte da região dos Grandes Lagos;
(v) As fronteiras étnicas dos Estados vizinhos estendem-se ao seu
interior.

Tal como elencamos atrás, a região geoestratégica norte, que cobre a região
Norte e Nordeste de Angola, emana da consideração da existência de interesses
externos de países da região que se materializam nesta parte do território nacional.
30
Com efeito, a RDC, o Ruanda, e o Uganda localizam-se na região geopolítico
do Hertland Africano cujo acesso ao oceano Atlântico pode ser bloqueado pela
República de Angola (VERÍSSIMO op. cit.).

3.2. Linhas de Forças da Política Externa Angolana


A política externa pode ser entendida partindo da sua concretização e através
de linhas de acção política originadas nos vários sectores governamentais dos
Estados, mas convergentes numa perspectiva de materialização do interesse nacional,
como afirma Joseph Frankel na sua obra Relações Internacionais (1969, apud
SANTOS 2012:152) como “conceito chave em política externa”. É bem verdade que,
o conteúdo operatório do conceito de interesse nacional é de difícil asserção. Com
efeito, tal como referimos atrás, num ambiente tendencialmente globalizado,
verifica-se a crescente relevância a factores de indução exógena da mudança,
componentes actuantes e incontornáveis na formação do conceito de interesse
nacional e na dinâmica evolutiva do respectivo conteúdo. A relevância nominal que
se atribui aos seus factores decorre da influência efectiva por eles exercida sobre o
referido processo de formulação da política externa que varia no tempo e no espaço,
alternando os resultados do binómio capacidade / vulnerabilidades a que cada Estado
está submetido, induzindo, em consequência, uma diversidade acentuado entre os
conteúdos casuísticos e específicos, atribuídos ao conceito operatório de interesse
nacional.

De facto, superando complexidade aos conceitos de “Soberania, Estado,


Nação, Nacional e Internacional”, tal como afere Victor Marques Santos (2012), o
conceito de interesse nacional adquire expressão intrínseca através da convergência
de outros conceitos cujos conteúdos variam no tempo e no espaço, induzindo
alterações nas modalidades de relacionamentos entre actores, relativamente a
perspectivas, dinâmicas, sinergias interactivas próprias, referidas a circunstâncias,
conjunturas e enquadramentos específicos, aos quais o conceito de interesse nacional
procura corresponder.

Segundo Henry Kissinger (1994) “os Tratados de Westphalia consagraram


como fundamento da política dos grandes monarcas europeus e, o que se acentuou
foi a necessidade de garantir por todos os modos a segurança do organismo estatal”.

31
Desta feita, a evolução extensiva deste conteúdo inicial, torna-se
progressivamente verificável.

Assim sendo, a noção de interesse nacional é baseada em valores da


comunidade nacional que podem ser considerados como o produto da sua cultura e a
expressão do seu sentido de coesão, valores que definem para os homens aquilo que
eles crêem estar certo ou justo, segundo Joseph Frankel (1994).

Em democracia, e numa visão prospectiva sobre as capacidades de realização


através da projecção externa do Estado, o interesse nacional pode ser considerado
como um conjunto de prioridades partilhadas sobre as relações com o resto do
mundo.

Assim, os objectivos políticos constituem as metas que uma unidade política


independente se propõe alcançar, isto é, no curto, médio e longo, considerando o
respectivo enquadramento histórico-político. Consubstancia-se na concretização do
que se designa por interesse nacional.

Definido como razão do Estado pelo Cardeal Richelieu (1585-1642) e


«vontade geral» por Jean Jacques Rousseau (1712-1778). Quer isto dizer, para
Rousseau, o vínculo da sociedade são os interesses que todos, enquanto membros de
uma sociedade sentimos que a compõem.

No entanto, na ausência destes interesses nenhuma sociedade seria possível.


O interesse comum é a base a qual a sociedade deve ser governada no entender dos
autores. Pois só a vontade geral pode dirigir os poderes do Estado de tal maneira que
o propósito para que foi instituído, que não é outro que o bem comum possa a ser
alcançado. O interesse nacional surge neste quadro como fundamental no sentido em
que a política externa é entendida como prosseguimento do interesse nacional que se
traduz essencialmente em poder, ou seja, no aumento (ou manutenção) de
capacidades na melhor forma de obter vantagens no sistema internacional através de
acções com alcance a nível externo.

A perspectiva teórica, no presente procura explicar a actual realidade


internacional em que os Estados, influenciados por factores geopolíticos que,
relativamente complexos e variáveis são geradores de percepções e interpretações,

32
cooperam de forma interessada, isto, buscam antes de mais satisfazer os seus
interesses nacionais, a coberto de princípios gerais. No entanto, o Estado define o
interesse nacional, cujo princípio básico, dentro da anarquia internacional, é
sobreviver. O poder é o elemento central da sua teoria ao afirmar: “sejam quais
forem os fins da política internacional, o poder constitui sempre o objectivo
imediato” (MORGENTHAU, 2003:49).

Definido neste termos, o interesse nacional não pressupõe a um mundo


naturalmente harmonioso e pacífico onde inexiste a guerra como consequência da
procura por todos os Estados do seu interesse próprio. Pelo contrário, o ambiente
anárquico que caracteriza o sistema internacional, é minimizado pelo ajustamento
contínuo de conflitos de interesse, através de alguns instrumentos pacíficos da
política externa como o caso da diplomacia.

Nestes moldes, considerou-se a política externa como o conjunto de linhas de


acção política desenvolvidas fora das fronteiras territoriais de um Estado e que têm
como finalidade a defesa e a realização dos seus interesses, através da materialização
dos objectivos políticos preconizados como interesse nacional.

É neste âmbito que se analisou a materialização do conceito estratégico da


política externa de Angola para as regiões que integra, resultante da inteiração e
conjugação de factores diversos, designadamente os interesses nacionais e os
obstáculos que se opõem a sua materialização e que terá que vencer utilizando as
bases do poder matizadas pela cultura estratégica nacional explorando as
oportunidades que gera o ambiente estratégico nacional e internacional.

No quadro da presente investigação, torna-se pertinente em nosso entender


abordarmos aqui a questão relativamente ao conceito da política externa da
República de Angola, que segundo Veríssimo, “ […] enquanto manifestação dos seus
interesse nacionais, a política externa de Angola alicerça-se segundo Jean Paul
Charney (1990 apud VERÍSSIMO 2016:271), na sua arquitectura filosófica ou
religiosa, ética ou normativa o que, por sua vez, «(…) deriva da sua história,
geografia e cultura política, representando o conjunto de atitudes e padrões de
comportamento das vozes mais influentes (…)» ”. (Ken Boot, 1990 apud
VERÍSSIMO 2016)1.
1
VERÍSSIMO, 2016, loc. cit.
33
Com efeito, Angola enquanto actor do Sistema Político Internacional (SPI) 2
procura desenvolver acções que permitem estabelecer relações com outros actores
internacionais, a fim de concretizar os seus objectivos e salvaguardar os interesses
nacionais definidos como vitais. Importa-se-nos salientar que o Estado angolano
integra ou mantém relações com várias organizações regionais, sub-regionais,
continentais e internacionais, como sublinhamos atrás. Para adequar esta
problemática ao nosso objecto de estudo, importa referir que a República de Angola,
a par dos outros organismos com que mantém relações, é por excelência membro da
Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), desde a sua
instituição, tendo exercido a presidência rotativa da Organização, no período 2014-
2015, e tendo sido reconhecido o empenho de Angola na região e a indisponibilidade
por parte dos Estados membros, o mandato foi prorrogado até ao ano de 2016.

Assim sendo, Angola definiu como uma das grandes linhas de força da sua
política externa a resolução dos conflitos na Região dos Grandes Lagos. Como cada
Estado tem definido os seus grandes objectivos políticos a nível internacional, com a
perspectiva de projectar a imagem e a capacidade do seu país, exercer influência em
regiões além das suas fronteiras e assegurar a sua integridade territorial.

“A República de Angola, reconhecida pela Organização da Unidade Africana


(OUA) no dia 12 Fevereiro de 1976, e pela Organização das Nações Unidas (ONU),
no dia 1 de Dezembro do mesmo ano, é desde então um actor do SPI (Sistema
Político Internacional) e das relações internacionais (VERÍSSIMO 2016: 286) ”.

O autor citado salienta ainda que, entre as relações políticas estabelecidas


pela República de Angola destacam-se as que desenvolve no seio da União Africana
(UA) e da Organização das Nações Unidas (ONU) ”.

Segundo Ramos (2014:402), “em Setembro de 2002, depois de uma intensa


campanha diplomática, Angola era eleita membro não permanente do Conselho de
Segurança da ONU no período referente a 2003-2004”. O autor citado acrescente
ainda que, a eleição de Angola, com 2/3 dos votos necessários da Assembleia Geral
da ONU, deveu-se a participação activa na resolução de problemas que afectavam os
Estados. Assumido o lugar, em 1 de Janeiro de 2003, o governo de Luanda via

2
O sistema Político Internacional é um conjunto de centros independentes de decisões políticas que
interactuam com uma certa frequência e regularidade.
34
acrescida as suas responsabilidades no plano internacional. O apoio a solução dos
conflitos armados na República do Congo Brazzaville, na RDC e na região dos
Grandes Lagos justificavam o papel mais activo na procura de soluções para os
principais conflitos, nomeadamente no contexto do continente africano, oportunidade
que o governo de Luanda recusou.

Angola voltou a ser ainda ser membro não permanente do CS da ONU, onde
no período de 2015 a 2016, representou o continente africano, tendo sido eleita logo
à primeira volta, com 193 dos 196 votos possíveis (VERÍSSIMO 2016). Durante a
sua estadia no Conselho de Segurança, Angola sempre priorizou a questões relativas
a resolução dos conflitos no mundo, particularmente em África.

Segundo Silva, António e Godinho (2006:173), “Angola inscreveu o tema da


Conferência dos Grandes Lagos na agenda da sua presidência do Conselho de
Segurança em Novembro de 2003, com vista a chamar atenção da comunidade
internacional para a importância da materialização da referida conferência”.

A CIRGL é uma organização intergovernamental constituída essencialmente


por países africanos da região dos Grandes Lagos3. Ela foi estabelecida partindo do
reconhecimento de que a instabilidade política e os conflitos nestes países têm uma
dimensão regional considerável o que requer o esforço concertado dos Estados
membros para promover a paz e o desenvolvimento sustentado (VERÍSSIMO
2016:287-288).

Com efeito, Angola enquanto actor do SPI 4 procura desenvolver acções que
permitem estabelecer relações com outros actores internacionais, a fim de concretizar
os seus objectivos e salvaguardar os interesses nacionais definidos como vitais.

3
Os países da CIRGL dividem-se em membros – Angola, Burundi, RCA, República do Congo, RDC,
Quénia, Ruanda, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia, Uganda, e Zâmbia; Associados – Botswana, Egipto,
Malawi, Moçambique, Namíbia e Zimbabwe; e países amigos – Austrália, Bélgica, Canadá, China,
Dinamarca, a União Europeia, Finlândia, França, Gabão, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Japão,
Kuwait, Luxemburgo, Holanda, Nigéria, Noruega, Portugal, Rússia, África do Sul, Espanha, Suécia,
Suíça, Reino Unido e Estados Unidos.
4
O sistema Político Internacional é um conjunto de centros independentes de decisões políticas que
interactuam com uma certa frequência e regularidade.
35
3.3. O Papel de Angola na Região dos Grandes Lagos
A República de Angola, reconhecida pela Organização da Unidade Africana
(OUA) no dia 12 Fevereiro de 1976, e pela Organização das Nações Unidas (ONU),
no dia 1 de Dezembro do mesmo ano, é desde então um actor do SPI (Sistema
Político Internacional) e das relações internacionais.

De acordo com Pereira (2015:209) “ O Exercício de uma política no cenário


internacional é strictu sensu uma prerrogativa dos Estados. Assim, a política externa
de Angola passa a existir como tal a partir da formação do novo Estado, da aquisição
da Soberania, isto é, a partir da independência do país, em 11 de Novembro de 1975.

Segundo Ana Paula Fernandes (2004:105) “Angola foi nomeada membro não
permanente do Conselho de Segurança da ONU pela primeira vez, em 1 de Janeiro
de 2003, por um período de dois anos. Este facto significou uma vitória diplomática
para o governo angolano, tendo reunido dois terços dos votos da Assembleia Geral
das Nações Unidas para sua eleição”.

Desde que assumiu a presidência da Conferência, a 15 de Janeiro de 2014, a


diplomacia angolana conseguiu dinamizar a organização e incrementar várias
iniciativas que têm contribuído para a paz na região. Ainda não é a paz desejada, mas
registaram-se avanços significativos, lembrando que em Março de 2014, Angola –
juntamente com a ONU e as autoridades da RDC – conseguiu desmantelar o grupo
rebelde M23”. Mas ainda há muito trabalho por se fazer, infelizmente renasceram as
Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), que continuam a ser
combatidas tanto do ponto de vista diplomático tanto localmente, para que sejam
desarmadas e deixarem as populações que ali residem em paz. Com a dinamização
incrementada pelo governo de Luanda, os conflitos na região passaram a ter maior
atenção por parte da comunidade internacional, embora de haver necessidades de
tornar mais proactiva a diplomacia relativamente a paz na região, utilizando as
representações diplomáticas nos Estados membros.

A presença de Angola nos Grandes Lagos tem uma grande importância


geoestratégica quando integramos a CEEAC e fundamentalmente a CIRGL, fê-lo na
perspectiva de preservar a segurança na sua fronteira a Norte e a Leste. Angola não
era parte do conflito, todavia que fez com os Estados membros da região

36
entendessem que o governo de Luanda tinha uma grande importância na resolução
dos conflitos naquela região do globo.

Angola durante os seus dois mandatos consecutivos, como presidente da


Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos, desempenhou o papel
de Estado director relativamente a estabilização da região. Foi Angola que durante os
quatros anos do seu mandato, pude colocar o debate na comunidade internacional
sobre a Região dos Grandes Lagos (uma zona potencialmente que pode ser celero do
desenvolvimento do continente africano tendo em conta os recursos que tem quer
minerais, quer agrícolas).

Angola elevou o debate relativamente a esta região não somente a nível de


África, mas sobretudo a nível do Conselho de Paz e Segurança da ONU, uma vez que
a presidência angolana na CIRGL, coincidiu com a eleição desta como membro não
permanente do Conselho de Segurança da ONU, esta questão passou a ser
considerada fundamental. Nas 245 reuniões públicas e privadas realizadas, aquando
da estadia de Angola no Conselho de Segurança da ONU e 151 reuniões de consulta,
Angola conseguiu levar a mesa da ONU as questões atinentes a Conferência
Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos, facto que fez com Angola passasse
a ser visto como um actor incontornável na resolução de conflitos no nosso
continente, apesar da permanência conflitualidade na RDC. Embora seja um conflito
internacional, mas também interno, cuja solução não depende somente dos Estados
membros da CIRGL, mas depende essencialmente do governo daquele país e de
alguns Estados vizinhos a RDC e que durante os dois mandatos consecutivos do
governo de Luanda, tentaram inviabilizar ou dificultar a actuação de Angola na
região, como é o caso do Ruanda e Uganda que têm viabilizado ou facilitado a
materialização de fortes interesses dos EUA no leste daquele país relativamente a
exploração ilícita dos recursos naturais.

A partilha de uma extensa fronteira com a República Democrática do Congo


(Angola e a RDC partilham a 13ª maior fronteira do mundo com cerca de 2500 km) é
uma das razões que explicam o empenho da diplomacia angolana na resolução
pacífica do conflito na Região dos Grandes Lagos. Além da crise na República
Centro Africana, a pacificação na RDC é fundamental e assumida como uma das

37
prioridades da política externa do Governo de Luanda, que detém a presidência da
Conferência Internacional da Região dos Grande Lagos (CIRGL).

O papel de Angola tem sido reconhecido não somente a nível do continente


africano, mas sobretudo a nível das próprias organizações internacionais tais como a
ONU, a EU e por parte dos outros Estados, como é o caso dos EUA que elogiaram o
papel central político-diplomático que Angola estava a desempenhar para tentar
encontrar soluções para estabilizar a região dos Grandes Lagos. Nas suas diversas
missões diplomáticas, estas organizações, reconheceram o papel de Angola o que fez
com que os outros Estados membros da região dessem mais um voto de confiança
para que Angola fizesse um segundo mandato a frente da conferência, onde os
estatutos prescrevem um único mandato.

No que concerne ainda ao papel de Angola na região, vale salientar que o


governo angolano, em termos de envolvimento sempre esteve, sem dúvida engajado
na resolução dos conflitos nesta sub-região africana. Angola potenciou uma aliança
estratégica com os outros países da região, nomeadamente entre o Ruanda, Uganda e
Burundi para a resolução dos conflitos na RDC.

Para Angola, a resolução dos conflitos na região dos Grandes Lagos


(considerada como uma das regiões mais conturbadas do mundo nas últimas
décadas), é uma questão de preservação, não somente da sua própria soberania, da
sua integridade territorial, mas sobretudo da materialização dos grandes objectivos
definidos como prioritários pelos Estados membros, que é de transformar a região
num espaço de paz e segurança, para o bem-estar dos Estados membros e seus povos.

A título de ilustração do empenho de Angola, relativamente a harmonização


desta parte do continente africano, na sua visão estratégica o governo de Luanda
realizou várias reuniões a mais alto nível entre chefes de Estados da Zâmbia,
Namíbia e de Angola. Durante o conflito na RDC, no Burundi, na República Centro
Africana, Luanda sempre liderou o processo de pacificação regional.

Tal como afirma Ana Paula Fernandes (2004:107), “os ministérios dos
negócios estrangeiros de Angola, do Ruanda, do Congo e do Uganda reuniram-se
frequentemente na capital angolana para preparar as conversações de paz”.

38
Mais adiante a autora citada acrescente que ao nível internacional, ”na
questão de resolução pacífica do conflito na região dos Grandes Lagos, sempre
existiram diversos pontos de convergência e de interesse entre os Estados Unidos e
Angola, no que diz respeito a crise nos Grandes Lagos”.

Em Janeiro de 2001, os presidentes das Repúblicas da Namíbia, de Angola e


do Zimbabwe juntaram-se em Luanda, cerca de uma semana após Laurent-Désiré
Kabila ter sido assassinado, para discutir a continuação do apoio ao regime da RDC.
A 10 de Fevereiro do mesmo ano, os chefes de Estado dos mesmos países voltaram a
encontrar-se, apesar de, as relações entre Angola e a Zâmbia eram ainda bastante
tensas, mas a reunião visava a tomada de medidas conjuntas relativamente a
segurança de fronteiras comuns (FERNANDES, 2004).

Por conseguinte, pode afirmar-se que o regime angolano assume, mesmo que
conjunturalmente, o papel de potência militar regional segundo Bembe. Mais adiante
o autor afirma que “não foi por acaso que Laurente-Désiré Kabila e Paul Kagame se
deslocaram a Luanda antes das malogradas negociações de Ponta Negra com o então
presidente do Zaire, Mobuto Sese Seko”. Ainda recentemente, a 28 Outubro de 2008,
na sequência da ofensiva, na parte leste da RDC, perpetrada pelo Congresso
Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), um grupo rebelde liderado pelo antigo
General Congolês Laurent Nkunda, contra as Forças Governamentais, Forças
Armadas da República Democrática do Congo, (FARDC); motivou o rápido envio
pelo presidente da República Democrática do Congo (RDC), Joseph Kabila, a
Lunada, do seu Ministro da Cooperação Internacional, Raymond Tshibanda, para
solicitar o apoio Angolano no território de Routchuru e nos arredores da vila de
Goma (região Leste daquele país), onde a situação «é bastante preocupante»
(BEMBE, 2013).

Segundo proferiu Raymond Tshibanda, no final de uma audiência de cerca de


uma hora no Palácio Presidencial da Cidade Alta, em Luanda (28 Outubro de 2008):

“ (…) Foi possível consultar o Chefe de Estado Angolano no sentido de obter


contribuições para que se encontre uma solução rápida para a situação que se vive na
parte Leste do País (RDC). Milhares de congoleses na região Leste foram
desalojados das suas vilas e aldeias por grupos residuais de tropas dirigidas pelo

39
general dissidente Laurent Nkunda. As forças rebeldes, estão a beneficiar a ajuda de
um País vizinho. O Presidente José Eduardo dos Santos é portador de uma sabedoria
reconhecida pelo continente e pelo mundo. Escutou atentamente a exposição que fiz.
Mostrou que está a par da situação que se vive na RDC e que se pode empenhar para
resolver a situação” (BEMBE 2013:438-439).

Nesse processo, sempre incompleto, os contributos da liderança Angolana,


para a resolução pacífica da crise política no Congo-Kinshasa, foram reconhecidos,
em Luanda, pelo enviado Especial da Organização das Nações Unidas para a Região
dos Grandes Lagos, o antigo presidente nigeriano, Olosegun Obasanjo. Num
encontro decorrido a 10 Fevereiro 2009 com Eduardo dos Santos, Obasanjo,
apresentou o Relatório sobre os progressos alcançados na região, nomeadamente, o
fim dos combates entre as tropas governamentais e os rebeldes do dissidente Laurent
Nkunda5, capturado em Janeiro do ano 2009 (BEMBE 2013).

O papel de Angola na região tem sido reconhecido por outros Estados


membros, uma vez que o país tem reforçado o seu papel com vista a manter a
estabilidade, a paz e a segurança da região. A nível internacional, Angola tem
demonstrado a sua determinação relativamente a busca de soluções pacíficas para
estabilizar a região dos Grandes Lagos, a título de exemplo, aquando da realização da
Cimeira dos chefes de Estado da UA, o Ministro de Defesa Nacional em
representação do Chefe de Estado Angolano, afirmou que, Angola reafirma o
compromisso de continuar a trabalhar para a resolução da crise política que está a
assolar alguns Estados da Região dos Grandes Lagos e que a resolução da crise na
região passa pela solução diplomática.

Angola continua empenhada na busca constante de soluções pacíficas com


vista a pôr termo a todas as hostilidades que vive a região. Um dos objectivos da
Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos é a instauração e
consolidação de um clima de paz, segurança e de estabilidade nesta sub-região. A par
de manifestar o compromisso dos Estados membros da CIRGL, em transformar a
sub-região numa zona de desenvolvimento económico que atrai investimento privado
externo, o país sempre apresentou a completa disponibilidade em continuar a
5
Segundo Bembe, o generla Laurent Nkunda, foi responsável de uma sangrenta rebelião de etnia
tutsi do Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), aquém as organizações de defesa dos
direitos humanos atribuem várias atrocidades contra civis na região.
40
trabalhar com mais o elevado engajamento, para a busca da paz e da estabilidade na
região dos Grandes Lagos.

Assim sendo, temos vindo a sublinhar com alguma insistência durante a nossa
pesquisa a importância da presença que Angola procura nos países fronteiriços
nomeadamente, a RDC, a República do Congo, nos blocos regionais/sub-regionais e
internacionais. Isto demonstra a grande capacidade política dos seus filhos no
exercício de competências da sabedoria na análise da situação externa que tem como
finalidade a defesa e estabilidade regional.

Em suma, a consolidação da imagem de Angola, enquanto Estado


direccionado para a paz e segurança na região, tem tido efeitos positivos e avanços
significativos tal como sublinhas atrás, onde outros Estados continuam a perpetrar
acções que nada contribuem para a estabilização da região.

Conclusão

41
Após uma pesquisa aprofundada relativamente a temática da política externa
de Angola para a região do Grandes Lagos, chegamos as seguintes conclusões:

- A presença de Angola nos Grandes Lagos tem uma grande importância


geoestratégica quando integramos a CEEAC e fundamentalmente a CIRGL, fê-lo na
perspectiva de preservar a segurança na sua fronteira a Norte e a Leste. Angola não
era parte do conflito, todavia, o que fez com que os Estados membros da região
entendessem que o governo de Luanda tinha uma grande importância na resolução
dos conflitos naquela região do globo.

- Angola durante os seus dois mandatos consecutivos, como presidente da


Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos, desempenhou o papel
de Estado director relativamente a estabilização da região. Foi Angola que durante os
quatros anos do seu mandato, pude colocar o debate na comunidade internacional
sobre a Região dos Grandes Lagos (uma zona potencialmente rica que pode ser
celeiro do desenvolvimento do continente africano tendo em conta os recursos que
tem quer minerais, quer agrícolas).

- Angola elevou o debate relativamente a esta região não somente a nível de


África, mas sobretudo a nível do Conselho de Paz e Segurança da ONU, uma vez que
a presidência angolana na CIRGL, coincidiu com a eleição desta como membro não
permanente do Conselho de Segurança da ONU, esta questão passou a ser
considerada fundamental. Nas 245 reuniões públicas e privadas realizadas, aquando
da estadia de Angola no Conselho de Segurança da ONU e 151 reuniões de consulta,
Angola conseguiu levar a mesa da ONU as questões atinentes a Conferência
Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos, facto que fez com Angola passasse
a ser visto como um actor incontornável na resolução de conflitos no nosso
continente, apesar da permanência conflitualidade na RDC. Embora seja um conflito
internacional, mas também interno, cuja solução não depende somente dos Estados
membros da CIRGL, mas depende essencialmente do governo daquele país e de
alguns Estados vizinhos a RDC e que durante os dois mandatos consecutivos do
governo de Luanda, tentaram inviabilizar ou dificultar a actuação de Angola na
região, como é o caso do Ruanda e Uganda que têm viabilizado ou facilitado a
materialização de fortes interesses dos EUA no leste daquele país relativamente a
exploração ilícita dos recursos naturais.
42
- Angola sendo um país geoestrategicamente posicional e bem enquadrado
entre o centro e sul de África, não deixa de ser uma potência regional na resolução
dos conflitos dum lado, e do outro, o facto do seu desempenho resultante das linhas
de força tem demonstrado capacidades na resolução de conflitos e garantias de
segurança nacional.

- Desde que assumiu a presidência da Conferencia dos Grandes Lagos,


Angola Conseguiu dinamizar esta mesma organização, ao incrementar iniciativas
políticas que têm contribuído para a paz na região, muito embora, uma paz ainda não
definitiva, mas regista-se alguma estabilidade entre os Estados membros e a sua
aproximação.

- Esta mesma presença angolana removeu as anteriores barreiras que bastante


influência tiveram na região, tornando o conflito uma preocupação internacional,
fazendo com que o mundo prestasse maior atenção sobre a questão dos Grandes
Lagos.

O papel de Angola para os Grandes Lagos teve influências positivas. Logo, é


necessário que haja mais espírito de trabalho para todos os países membros na
resolução de conflitos regionais, tornando eficaz e eficiente a diplomacia
relativamente a paz na região, uma missão importante das representações
diplomáticas desses Estados membros.

A região dos Grandes Lagos deve ser uma preocupação de todo o mundo
na preservação não só dos homens, mas também de toda vida política, económica,
pelo que esta mesma região é considerada uma das mais conturbadas regiões do
mundo nas últimas décadas. Logo, Angola e o mundo devem defender os objectivos
prioritários definidos pelos Estados membros da região, que visam transforma-la
num espaço de segurança para o bem dos Estados membros e dos seus povos.

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ANEXOS

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