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Luanda, 2017
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
Luanda, 2017
Epígrafe
Aos meus Pais Dr. Moniz Domingos e a Senhora Joana David, pelo sacrifício
incansável e incomensurável para a materialização deste grande objectivo.
As minhas irmãs pelo apoio e dedicação que têm exercido na minha vida.
Aos meus avós, João Carlos Panzo, Mariana Panda, Domingos Kassokissa e
Madelena André (estes dois últimos em memória) que de uma maneira substancial
constituem a razão que justifica a minha própria existência.
AGRADECIMENTOS
Aos meus Pais, Dr. Moniz Domingos e a Senhora Joana David por me terem
gerado e pelo cumprimento cabal da sua mais sagrada responsabilidade.
CS – Conselho de Segurança
et al – et aliae
M23 – Março 23
MC – Mecanismos de Cooperação
RI – Relações Internacionais
UA – União Africana
UE – União Europeia
RESUMO
O foco desta pesquisa recaiu sobre a avaliação do papel que Angola
desempenhou na Região dos Grandes Lagos, os objectivos deste na referida região
assim como os mecanismos que implementou para sua estabilização. Angola é um
dos Estados que integra a Região dos Grandes Lagos e as matérias que dizem
respeito a paz, segurança e desenvolvimento da região, recaem sobre todo e qualquer
membro da CIRGL. A determinação dos Estados – membros reside na transformação
da região num espaço de paz e segurança sustentada para estes e as suas populações,
estabilidade política e social, crescimento e desenvolvimento partilhado. Utilizou-se
como metodologia a perspectiva qualitativa e descritiva consubstanciada na recolha
de dado, na observação da evolução da situação da temática em causa e na selecção
de documentos bibliográficos, verbais, visuais tais como: livros, artigos, revistas,
jornais de diversa natureza com o objectivo de extrair conteúdos relacionados com o
tema. O estudo apresentado confirmou que a liderança de Angola tem exercido um
grande papel com vista a resolução de conflitos que afectam alguns Estados da
região, dado que o ambiente de instabilidade que se vive nesta zona tem
proporcionado efeitos negativos aos outros Estados membros desta parte da África
Central.
Abstract
The focus of this research falls on the assessment of the role that Angola
performed in the region of great lakes, the objectives of this referred region as well
as the mechanisms that implemented for its stabilization. Angola is one of the states
that integrate the great lakes region and the issues about peace, security and
development of the region, fall above all on any member of CIRGL. The
determination of states members resides in transformation of region in a space of
peace and security sustained for these and their populations, social and political
stability, growth and shared development. It was used as a methodology the
descriptive and qualitative perspective used in data collection, in observation of the
evolution of situation of the topic under discussion and in selection of bibliographical
documents, verbal, visuals such as: books, articles, magazines, newspapers of several
types with objective of taking contents related to the topic. The state presented
confirmed that Angola leadership has exerted a great role in the resolution of
conflicts that affect some states of the region, given the instability environment that
is experienced in this area that has provided negative effects to other states members
of this part of Central Africa.
To sum up, the present work has the topic: the political external of Angola for
region of great lakes (2014-2017). Angola while actor of international political
system, always cooperated in several issues, but with greater emphasis in the scope
of regional security in Africa which led us to define the great lakes regions as one of
the lines of forces of Angolan political external.
Epígrafe....................................................................................................................................I
DEDICATÓRIA.....................................................................................................................II
AGRADECIMENTOS...........................................................................................................III
SIGLAS E ABREVIATURAS..............................................................................................IV
RESUMO...............................................................................................................................VI
Abstract.................................................................................................................................VII
Introdução...............................................................................................................................1
Formulação das hipóteses........................................................................................................3
Objectivos de Pesquisa............................................................................................................3
Objectivos Gerais....................................................................................................................3
Delimitação e Limitação da investigação................................................................................4
Metodologia............................................................................................................................5
Estrutura do Trabalho..............................................................................................................5
CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO CONCEITUAL.........................................................6
1.1. Política........................................................................................................................6
1.2 Política Externa.................................................................................................................8
1.1.2. A Diplomacia..............................................................................................................12
1.1.3. Cooperação..................................................................................................................15
1.1.4.Revisão Teórica sobre a política externa......................................................................17
CAPÍTULO II – Enquadramento Geopolítico e Geoestratégico da Região dos Grandes Lagos
..............................................................................................................................................21
2.1. Caracterização geográfica da região dos Grandes Lagos................................................21
2.2. Mecanismos de Cooperação na Região..........................................................................22
2.3. Conjuntura internacional da região dos Grandes Lagos.................................................23
2.3.1- Factores de instabilidade.............................................................................................25
CAPÍTULO III – A POLÍTICA EXTERNA DE ANGOLA PARA A REGIÃO DOS
GRANDES LAGOS..............................................................................................................29
3.1. – Posição geopolítica de Angola na região.....................................................................29
3.2. Linhas de Forças da Política Externa Angolana.............................................................31
3.3. O Papel de Angola na Região dos Grandes Lagos..........................................................36
Conclusão..............................................................................................................................41
ANEXOS..............................................................................................................................47
Introdução
As grandes mudanças políticas que verificamos hoje na região dos Grandes
Lagos, muito embora registar algumas tensões como acontece na República
Democrática do Congo, devido a diferendos políticos que opõem os partidos
políticos na oposição e o partido no poder sobre questão de calendário para
realização das eleições gerais, foram fruto da política externa angolana na resolução
de conflitos.
1
Formulação do Problema
Falar da região dos Grandes Lagos hoje é ter em consideração naquilo que
Angola veio desenvolvendo ao longo da sua diplomacia. É bem claro que, algumas
mudanças vieram ocorrendo na região desde que a política angolana sentiu com
enorme preocupação a degradação da situação sociopolítica nos Grandes Lagos,
enfermando neste caso o prestígio de preservação da paz, da estabilidade e
retardando o próprio desenvolvimento em todos os domínios. Culpam-se diversas
situações que se traduzem em conflitos, pondo de fora o valor do homem e da
necessidade da sua interacção no campo social, fundamentalmente o de mantê-lo
estável sem perturbações.
Questão central:
Questão derivada
2
que isso aconteça é necessário que não se pode resolver conflitos por meio do
conflito esquecendo as boas atitudes políticas que passam pelas negociações,
passando a ter desta feita sociedades de ódio, violência entre outros procedimentos
que minam as boas relações entre as pessoas e suas comunidades.
Objectivos de Pesquisa
Objectivos Gerais
Justificativa
3
Delimitação e Limitação da investigação
Ao abordarmos a problemática dos conflitos na região dos Grandes Lagos,
podemos partir duma perspectiva histórica ou da perspectiva sociológica, tomamos a
obrigação de apresentarmos o período em que os mesmos começaram a surgir nesta
região, isto é, a partir de “1990 na sequência dos eventos relacionados com o
genocídio no Ruanda e a crise no Burundi, tendo aí nascida a ideia de uma
Conferência Internacional na Região africana dos Grandes Lagos,” como diz José
Paulino Cunha da Silva, Téte António e Isabel de Jesus da Costa Godinho:
2006:171.A questão leva-nos entender o exacto período que duram os mesmos
conflitos e que veriam tomando precauções para uma preocupação mundial.
Metodologia
Numa pesquisa qualitativa do tipo documental, procuramos reunir e explorar
esta fundamentação metodológica nos aspectos:
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Estrutura do Trabalho
Pela sua obrigação e necessidade vamos estruturá-lo em três capítulos
fundamentais: O primeiro capítulo aborda a fundamentação teórica, nela definimos
os termos e apresentamos alguns conceitos, o caso da política, política externa entre
outros; o segundo tratará de enquadramento geopolítico e geoestratégico da região
dos Grandes Lagos, cujos subtemas: Caracterização geográfica, mecanismos de
cooperação na região assim como a descrição da Conferência Internacional da
mesma região.
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CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO CONCEITUAL
Neste capítulo pretendemos apresentar alguns conceitos mais proveitosos a
nossa pesquisa de acordo o que preconizamos para tornar este corpus num
importante instrumento de análise e reflexão da questão política externa angolana
ligada a região dos Grandes Lagos do continente africano. Logo, será necessário
conhecer algumas definições na ordem científica de vários autores sobre a política
em si, a política externa, a diplomacia, a cooperação assim como as teorias da
política externa.
1.1. Política
O significado clássico e moderno de política deriva do adjectivo Polís,
segundo Norberto Bobbio no artigo postulado no Dicionário de Política que contou
com a colaboração de Nicolau Matteucci e Gianfranco Pasquino. Para Bobbio,
“Política significa tudo o que se refere a cidade e, naturalmente o que é urbano, civil,
público e até mesmo sociável e social.” Mas ainda assim, vale acrescentar que, o
termo política expandiu graças a influência da grande obra de Aristóteles A Política,
que é considerada como primeiro tratado sobre a natureza, funções, divisão do
Estado, e sobre as várias formas de Governo, com a significação mais usual de arte
ou ciência do governo, isto é, de reflexão, não importa se com intenções meramente
descritivas ou também normativas, dois aspectos dificilmente discrimináveis
relativamente as coisas da cidade.
Numa outra perspectiva a política tem sido definida como a arte de governar,
actividade governativa e luta pelo poder que caracteriza o comportamento político
dos actores políticos para a condução dos destinos de uma sociedade. Com efeito, a
política distingue-se em duas vertentes, a política interna ou estadual e a política
externa ou internacional.
É bem verdade que, nenhum homem pode assumir a sua humanidade fora de
uma estrutura social, independentemente da sua dimensão. E nenhuma estrutura
social pode existir sem alguma forma de processo político. Naturalmente, o homem é
um animal sociável por que foi feito para viver em sociedade, é impossível este
bastar-se por si em situação de isolamento, porém, há necessariamente a tendência
natural para associar-se numa vida em comum.
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efeitos, mesmo quando de maneira não intencional, potenciais efeitos, directos ou
indirectos sobre o plano de relacionamentos políticos internacionais.
Por sua vez Kegley e Wittkopf (1995 apud FREIRE 2012:23) definem a
política externa como “o sistema de actividades desenvolvido pelas comunidades
8
para modificar o comportamento de outros Estados e para ajustar as suas próprias
actividades ao ambiente internacional”.
Mais adiante a mesma autora define a política externa “como o conjunto das
decisões e acções de um Estado em relação ao domínio externo ( op. cit.) ”. Logo a
política externa projecta os interesses de um Estado junto da sociedade internacional
através de meios pacíficos ou violentos.
Por sua vez, (Holsti apud SANTOS 2012) define política externa como” o
conjunto de acções que o Estado traça para alcançar no meio externo e inclui um
conjunto de medidas e objectivos a serem alcançados no sistema internacional, em
busca de segurança, autonomia, bem-estar, estatuto e prestígio.”
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Por conseguinte a política externa pode dizer-se que é a actividade
desenvolvida pelo Estado em relação a outros Estados e entidades com relevância
internacional, com vista a realização de objectivos que lhe são próprios. Neste
entretanto, podemos considerar que o Estado tem dois objectivos básicos: um
defensivo e outro ofensivo. O primeiro seria a manutenção da soberania; o segundo
seria a realização dos seus interesses.
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“Na definição ou tomada de decisão em termos de política externa é
privilegiada a perspectiva regional, em detrimento da global na medida em que, regra
geral, quase todos os Estados têm interesses regionais, dando lugar, desta feita, a
fenómenos de cooperação e integração de âmbito regional” (SOUSA 2005:145).
Com efeito, de acordo com Victor Marques dos Santos (2012:167), “ o tipo
de regime político, a estrutura institucional e administrativa, o relacionamento entre
as elites decisórias e a população, a opinião pública e os grupos de interesse
nacionais, as pressões exercidas pelos actores exógenos, e pelas circunstâncias
externas e a dinâmica do binómio capacidade/vulnerabilidade constituem factores
ambientais determinantes na formulação da política externa”.
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Em suma, a política externa é uma área abrangente cujo enfoque inclui
questões diversas, como segurança, economia, ambiente, e cultura. A agenda é, por
isso, diversificada, e as burocracias e grupos que apoiam o processo de formulação e
decisão cruzam diferentes valências para poderem responder à
multidimensionalidade associada à política externa dos Estados. Paralelamente ao
quadro institucional, variáveis objectivas como localização geoestratégica, população
e recursos humanos, capacidade militar, económica e de inovação tecnológica, bem
como factores de cariz subjectivo (incluindo motivações, identidade, valores,
percepções) conjugam-se na formulação, decisão e implementação da política
externa.
1.1.2. A Diplomacia
As Relações Internacionais (RI) são uma disciplina relativamente recente e
têm por objecto de estudo uma realidade em permanente mutação. Mediante este
facto, isso faz com que surjam, de maneira frequente, reflexões distintas e até
contraditórias, no que concerne aos conceitos fundamentais deste ramo de saber,
como seja o da diplomacia.
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Na realidade, porém, o diplomata pode exercer outras funções.
Tal como refere a autora citada, são duas as funções que na prática se podem
confundir, mas que teoricamente são inteiramente distintas. Entendida numa
perspectiva mais clássica, a diplomacia pode ser definida como a condução de
relações entre os Estados e outras entidades, por agentes oficiais e meios pacíficos.
Mais adiante o referido autor define a diplomacia como “um processo que
apela a aplicação da inteligência e do tacto na condução de relações oficiais entre
governos de Estados soberanos, procurando resolver os seus antagonismos por meios
pacíficos”.
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Desta feita, na condução das relações externas por meio das representações e
das negociações, a diplomacia é sempre tida como um instrumento privilegiado dos
Estados.
1.1.3. Cooperação
Falar de cooperação é termos em conta todos os aspectos humanos
relacionados com bases de entendimento entre homens de uma determinada área,
região ou outro espaço social. O homem sendo um ser social e porque expressa os
seus sentimentos de unidade, uma consciência comum e uma participação de um
destino comum, deve preservar as suas obrigações em manter céleres as realizações
sociais no seu ambiente.
15
Victor Marques dos Santos (2009:145), este autor apresenta-nos o seguinte
pensamento: “a cooperação visa de interesses específicos dos Estados […]
representam o nível mais baixo das relações de colaboração interactiva, inclui planos
de expansão cooperativa para outras áreas, ou para além do objectivo específico
determinado”.
16
1.1.4.Revisão Teórica sobre a política externa
O Estado tem uma obrigação exclusiva do poder sobre a população, de um
plano no estabelecimento de relações da sua comunidade com o mundo. Isto implica
o controlo efectivo da sociedade relativamente a aquisição e distribuição dos recursos
que um desenvolvimento sustentável.
Victor Marques dos Santos (2012:144), para este autor “o exercício das
competências da soberania externa é que ao Estado uma participação interventiva no
plano dos relacionamentos internacionais”, apresenta-nos uma definição numa
perspectiva teórica, tal referimos nos parágrafos anteriores “a política externa pode
ser definida como o conjunto das decisões e acções de um Estado em relação ao
domínio externo” (citando Magalhães, 1982:19 Bessa, 2001:84).
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(internacional) que acompanham todo o processo tal como refere Maria Raquel
Freire (2012). A autora acrescenta ainda que, “o debate agente/estrutura é, neste
quadro, um referencial fundamental para os estudos de política externa, na medida
em que o posicionamento assumido perante o mesmo implica uma abordagem
diferenciada das questões em análise” (op.cit). De facto, na bibliografia fundamental
há discordância relativamente à superioridade da agência sobre a estrutura ou,
inversamente, da condicionalidade que a estrutura impõe ao agente. Neste contexto, a
proposta avançada por James Rosenau (1966, apud RAQUEL 2012:21) de que “a
política externa implica uma relação bidireccional entre as dimensões doméstica e
internacional, ultrapassando a convicção tradicional de que a política externa é
dirigida estruturalmente, foi generalizada nos estudos nesta área”.
Numa outra perspectiva, (Keohane e Joseph Nye, 2000; Waltz, 1979) citados
pela mesma autora, argumentam que a abordagem estruturalista, cujo enfoque centra-
se na forma como a estrutura esclarece as dinâmicas no contexto interno, vai
constituir o elemento referencialmente fundamental, sendo que a agência não pode
ser desviada da estrutura, onde recebe inputs para o processo relativo a formação e
tomada de decisão.
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mesmo alternativas, de ler os processos que lhe estão subjacentes. A inclusão de
elementos de análise de aspecto pessoal, de todo irrelevantes para uma análise
aprofunda relativo a complexidade associada aos processos de formulação e decisão
de política externa, tais como atitudes, crenças, valores e interesses, têm contribuído
de forma fundamental para a análise das motivações e da expressão destas na tomada
de decisão na visão da autora citada acima. Mais adiante a referida autora acresce
que este debate implica a discussão do papel e características individuais do decisor,
bem como a consideração dos quadros ideológicos em que as decisões são tomadas,
não se demarcando da questão agente/estrutura, apesar da abordagem mais
abrangente que sugere Maria R. Freire (2012:22 citando Houghton, 2007; Jørgensen,
2006; Carlsnaes, 2003; Hill, 2003; Snyder et al., 2002). Como resultado deste
desenvolvimento, estudos modernos introduziram novas métodos na análise de
política externa, como por exemplo a análise de discurso. Esta metodologia visa
estudar a linguagem da política externa, através da semântica, ou da identificação de
conceitos, expressões e outros elementos linguísticos que permitam clarificar
posicionamentos e tendências, bem como compreender dinâmicas associadas aos
processos de formulação e decisão em política externa, muitas vezes incorporados
nas entrelinhas da linguagem política. Desta feita, a análise de política externa
tornou-se, assim, uma área de estudo complexa implicando múltiplas variáveis
relativamente aos níveis de análise, atores, processos e resultados.
Victor Marques dos Santos (2012:144), para este autor “o exercício das
competências da soberania externa é dá que ao Estado uma participação interventiva
no plano dos relacionamentos internacionais”, apresenta-nos uma definição numa
perspectiva teórica, tal referimos nos parágrafos anteriores “a política externa pode
ser definida como o conjunto das decisões e acções de um Estado em relação ao
domínio externo” (citando Magalhães, 1982:19 Bessa, 2001:84).
19
Alden e Aran (2012 citadas em Maria Raquel Freira 2012) partem de uma
conceptualização mais abrangente na vertente teórica de política externa definindo-a
como o “estudo da conduta e prática de relações entre diferentes atores,
especialmente estados, no sistema internacional”. Os autores citados prosseguem tal
como evidencia a referida autora afirmando que a “análise de política externa refere-
se necessariamente não só aos atores envolvidos no aparelho formal de decisão do
estado, mas também à variedade de fontes de influência subnacionais sobre a política
externa do estado”, incluindo multinacionais, activistas ambientais e atores não-
estatais como ilustramos atrás.
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CAPÍTULO II – Enquadramento Geopolítico e
Geoestratégico da Região dos Grandes Lagos
Pretendemos com este capítulo abordar a situação geografia e estratégica
desta região, partindo de uma caracterização, isto é, procuramos conhecer de
concreto quais os Estados que fazem parte da mesma. Sendo uma região de tamanha
importância em África, daí a necessidade de saber a sua localização e o seu
enquadramento territorial. Logo, ficará fácil de percebermos como se encontram os
seus mecanismos de cooperação e a própria conjuntura internacional.
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política do país, hoje chamado RDC. No entanto, não tardou Kabila realizou uma
inflexão nacionalista rompendo com os seus antigos aliados, expulsando do país
tropas do Ruanda, Uganda e Burundi. De seguida, estes países realizaram uma
intervenção com a finalidade de ajudar o seu anterior rival Mobutu e que mal foram
sucedidos pela inflexão de Kabila segundo a Revista da Conjuntura Austral (2012-
2013:23) “os agressores não contavam com o bloqueio de defesa articulado por
Kabila composta por forças angolanas, zimbabwanas e namibianas da SADC, além
de contingentes do Chade, Sudão e Líbia.
Em suma, os países da região dos Grandes Lagos mantém até hoje uma
inteiração que procura preservar a estabilidade e o desenvolvimento da região,
ficando desta feita a ser considerada a região como um todo, como acontece com as
restantes unidades integradoras de África e do mundo.
De facto, para Chinguli o que assistimos nos Estados falhados na região dos
Grandes Lagos configura uma situação em que quer da parte de quem contesta o
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poder central quer da parte do contestado, a utilização da base étnica tem sido um
traço comum. Desta feita, podemos com base nesta característica considerar que é
um conflito étnico.
Salientar que a actual conjuntura na região dos Grandes Lagos aponta para
um conflito de diversa natureza, desde, a violação maciça dos direitos humanos, a
erosão do Estado, o aparecimento de actores privados e o incremento de uma
economia marginal que assegura os recursos para a guerra suja.
Para Elias Chinguli, a situação na região dos Grandes Lagos criou mitos que
devem ser ultrapassados: o primeiro, a ideia de que a rivalidade entre os Tutsis/Hutus
é uma criação do colonialismo belga (através das práticas de exclusão), que
procurava tirar vantagens; e o segundo é a ideai de que o que ocorre no Ruanda é
apenas inerente a esta sociedade em função daquela herança colonial, esquecendo-se
dos históricos massacres de 1972 no Burundi (2005:67).
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Estados africanos), consubstancia-se num Estado que é unicamente um poder que
comanda, e vota leis às quais não se submete. Esta constante violação das normas
constitucionais, passou a ser factor de conflitos nesses Estados nas últimas décadas
(TSHIYEMBE, 2016).
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Ausência do Estado de direito ou de um controlo de segurança eficaz,
especialmente no leste da RDC, onde nem sempre se confia no
governo central e onde as forças de segurança algumas vezes agiram
sem qualquer respeito pelas populações civis, cometendo mesmo em
alguns casos, graves abusos a coberto de uma cultura de impunidade;
Exploração ilícita e comercialização de recursos naturais no este da
RDC como factor de desencadeamento, sustentação e aumento da
violência, combinada com a má gestão do sector das indústrias
extractivas e elevados níveis de corrupção;
Pobreza endémica, baixo desenvolvimento humano, necessidades
básicas não satisfeitas, violação de direitos dos humanos e
desigualdade com base no género.
Estes factores são tidos como motivadores do conflito na região, tendo como
epicentro o leste da RDC ligados a coligações de interesses múltiplos. Os interesses
são simultaneamente económicos, políticos (que passam questão de
instrumentalização do factor etnicidade) e comportam dimensões locais e regionais.
Rica em recursos minerais, a RDC é um “um escândalo geológico” segundo Hugon.
O Estado congolês não tem controlo sobre uma boa parte do seu território e não
controla a troca de matérias-primas, atiçando a ambição dos Estados vizinhos e dos
grupos multinacionais, na região dos Grandes Lagos a economia informalizou-se e
criminalizou-se, visto que, o essencial das exportações faz-se clandestinamente.
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CAPÍTULO III – A POLÍTICA EXTERNA DE ANGOLA
PARA A REGIÃO DOS GRANDES LAGOS
Isto demonstra o papel que Angola ocupa na região, numa fronteira marítima,
segundo Veríssimo (op.cit) “Angola localiza-se na costa ocidental da África entre os
5 e 18 de latitude sul e os meridianos 12 e 24 de longitude (1650) a Oeste, a Norte
com a República do Congo e RDC, a Leste com a Zâmbia e a Sul com a República
da Namíbia”.
Para além da sua importância conferida pela sua localização geográfica e sua
dimensão geopolítica, aumenta a relevância do país pelo facto de possuir recursos
minerais que por um lado constituem um desafio a sua capacidade de transformar em
factores de desenvolvimento e, por outro, fonte de cobiça das entidades externas.
Desses recursos, o petróleo a principal fonte de desenvolvimento económico que se
associa os diamantes, a agro-pecuária, a pesca, entre outros.
29
alcançadas nos dois Congos, em 1997, Angola parece ter conseguido redesenhar uma
nova ordem sub-regional”.
Com efeito, o referido autor cita como factos que determinam as visões
estratégicas de Angola e dos quais destacamos e estamos de acordo relativamente a
problemática da localização de Angola nesta sub-região do continente, só para
enumerar alguns destes:
Tal como elencamos atrás, a região geoestratégica norte, que cobre a região
Norte e Nordeste de Angola, emana da consideração da existência de interesses
externos de países da região que se materializam nesta parte do território nacional.
30
Com efeito, a RDC, o Ruanda, e o Uganda localizam-se na região geopolítico
do Hertland Africano cujo acesso ao oceano Atlântico pode ser bloqueado pela
República de Angola (VERÍSSIMO op. cit.).
31
Desta feita, a evolução extensiva deste conteúdo inicial, torna-se
progressivamente verificável.
32
cooperam de forma interessada, isto, buscam antes de mais satisfazer os seus
interesses nacionais, a coberto de princípios gerais. No entanto, o Estado define o
interesse nacional, cujo princípio básico, dentro da anarquia internacional, é
sobreviver. O poder é o elemento central da sua teoria ao afirmar: “sejam quais
forem os fins da política internacional, o poder constitui sempre o objectivo
imediato” (MORGENTHAU, 2003:49).
Assim sendo, Angola definiu como uma das grandes linhas de força da sua
política externa a resolução dos conflitos na Região dos Grandes Lagos. Como cada
Estado tem definido os seus grandes objectivos políticos a nível internacional, com a
perspectiva de projectar a imagem e a capacidade do seu país, exercer influência em
regiões além das suas fronteiras e assegurar a sua integridade territorial.
2
O sistema Político Internacional é um conjunto de centros independentes de decisões políticas que
interactuam com uma certa frequência e regularidade.
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acrescida as suas responsabilidades no plano internacional. O apoio a solução dos
conflitos armados na República do Congo Brazzaville, na RDC e na região dos
Grandes Lagos justificavam o papel mais activo na procura de soluções para os
principais conflitos, nomeadamente no contexto do continente africano, oportunidade
que o governo de Luanda recusou.
Angola voltou a ser ainda ser membro não permanente do CS da ONU, onde
no período de 2015 a 2016, representou o continente africano, tendo sido eleita logo
à primeira volta, com 193 dos 196 votos possíveis (VERÍSSIMO 2016). Durante a
sua estadia no Conselho de Segurança, Angola sempre priorizou a questões relativas
a resolução dos conflitos no mundo, particularmente em África.
Com efeito, Angola enquanto actor do SPI 4 procura desenvolver acções que
permitem estabelecer relações com outros actores internacionais, a fim de concretizar
os seus objectivos e salvaguardar os interesses nacionais definidos como vitais.
3
Os países da CIRGL dividem-se em membros – Angola, Burundi, RCA, República do Congo, RDC,
Quénia, Ruanda, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia, Uganda, e Zâmbia; Associados – Botswana, Egipto,
Malawi, Moçambique, Namíbia e Zimbabwe; e países amigos – Austrália, Bélgica, Canadá, China,
Dinamarca, a União Europeia, Finlândia, França, Gabão, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Japão,
Kuwait, Luxemburgo, Holanda, Nigéria, Noruega, Portugal, Rússia, África do Sul, Espanha, Suécia,
Suíça, Reino Unido e Estados Unidos.
4
O sistema Político Internacional é um conjunto de centros independentes de decisões políticas que
interactuam com uma certa frequência e regularidade.
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3.3. O Papel de Angola na Região dos Grandes Lagos
A República de Angola, reconhecida pela Organização da Unidade Africana
(OUA) no dia 12 Fevereiro de 1976, e pela Organização das Nações Unidas (ONU),
no dia 1 de Dezembro do mesmo ano, é desde então um actor do SPI (Sistema
Político Internacional) e das relações internacionais.
Segundo Ana Paula Fernandes (2004:105) “Angola foi nomeada membro não
permanente do Conselho de Segurança da ONU pela primeira vez, em 1 de Janeiro
de 2003, por um período de dois anos. Este facto significou uma vitória diplomática
para o governo angolano, tendo reunido dois terços dos votos da Assembleia Geral
das Nações Unidas para sua eleição”.
36
entendessem que o governo de Luanda tinha uma grande importância na resolução
dos conflitos naquela região do globo.
37
prioridades da política externa do Governo de Luanda, que detém a presidência da
Conferência Internacional da Região dos Grande Lagos (CIRGL).
Tal como afirma Ana Paula Fernandes (2004:107), “os ministérios dos
negócios estrangeiros de Angola, do Ruanda, do Congo e do Uganda reuniram-se
frequentemente na capital angolana para preparar as conversações de paz”.
38
Mais adiante a autora citada acrescente que ao nível internacional, ”na
questão de resolução pacífica do conflito na região dos Grandes Lagos, sempre
existiram diversos pontos de convergência e de interesse entre os Estados Unidos e
Angola, no que diz respeito a crise nos Grandes Lagos”.
Por conseguinte, pode afirmar-se que o regime angolano assume, mesmo que
conjunturalmente, o papel de potência militar regional segundo Bembe. Mais adiante
o autor afirma que “não foi por acaso que Laurente-Désiré Kabila e Paul Kagame se
deslocaram a Luanda antes das malogradas negociações de Ponta Negra com o então
presidente do Zaire, Mobuto Sese Seko”. Ainda recentemente, a 28 Outubro de 2008,
na sequência da ofensiva, na parte leste da RDC, perpetrada pelo Congresso
Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), um grupo rebelde liderado pelo antigo
General Congolês Laurent Nkunda, contra as Forças Governamentais, Forças
Armadas da República Democrática do Congo, (FARDC); motivou o rápido envio
pelo presidente da República Democrática do Congo (RDC), Joseph Kabila, a
Lunada, do seu Ministro da Cooperação Internacional, Raymond Tshibanda, para
solicitar o apoio Angolano no território de Routchuru e nos arredores da vila de
Goma (região Leste daquele país), onde a situação «é bastante preocupante»
(BEMBE, 2013).
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general dissidente Laurent Nkunda. As forças rebeldes, estão a beneficiar a ajuda de
um País vizinho. O Presidente José Eduardo dos Santos é portador de uma sabedoria
reconhecida pelo continente e pelo mundo. Escutou atentamente a exposição que fiz.
Mostrou que está a par da situação que se vive na RDC e que se pode empenhar para
resolver a situação” (BEMBE 2013:438-439).
Assim sendo, temos vindo a sublinhar com alguma insistência durante a nossa
pesquisa a importância da presença que Angola procura nos países fronteiriços
nomeadamente, a RDC, a República do Congo, nos blocos regionais/sub-regionais e
internacionais. Isto demonstra a grande capacidade política dos seus filhos no
exercício de competências da sabedoria na análise da situação externa que tem como
finalidade a defesa e estabilidade regional.
Conclusão
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Após uma pesquisa aprofundada relativamente a temática da política externa
de Angola para a região do Grandes Lagos, chegamos as seguintes conclusões:
A região dos Grandes Lagos deve ser uma preocupação de todo o mundo
na preservação não só dos homens, mas também de toda vida política, económica,
pelo que esta mesma região é considerada uma das mais conturbadas regiões do
mundo nas últimas décadas. Logo, Angola e o mundo devem defender os objectivos
prioritários definidos pelos Estados membros da região, que visam transforma-la
num espaço de segurança para o bem dos Estados membros e dos seus povos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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43
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46
ANEXOS
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