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O Corpo

A complexidade de entender e saber em como trabalhar com o corpo, começa pela difícil
tarefa de explicar o que é o corpo, pois cada ciência tem a sua própria definição. Na física
o corpo é massa, não é algo necessariamente vivo, já na biologia o corpo é formado por
vários sistemas que tem funções vitais, fazendo desse corpo um organismo vivo. Na
anatomia estudamos o corpo como um conjunto de partes e no senso comum, o corpo é
definido como um “organismo material, abstraído da sua função psíquica”. Pesquisando
por corporeidade dentro da filosofia, encontrei a resposta de que corpo “é a maneira pela
qual o cérebro reconhece e utiliza o corpo como instrumento relacional com o mundo” e o
dicionário me trouxe a seguinte definição: “Qualquer substância material, orgânica ou
inorgânica: corpo sólido.”.

Nas aulas pude tomar o conhecimento de que dentro desse tema, ainda temos uma
grande carga cultural que influência o nosso entendimento e a maneira com a qual nos
relacionamos com o corpo. Pois essa questão cultural e a maneira de lidarmos com o
corpo ao longo da história, é uma herança que carregamos nos dias atuais.

A nossa concepção de corpo é muito influenciado pelo cristianismo, o exemplo disso é o


pudor exacerbado que temos com ele, pois no cristianismo aconteceu a junção do
pensamento estoico, de que era errado não controlar os seus desejos sexuais, deixando
ele te dominar, com a ideia dos judeus, de que sexo era algo errado. Com o cristianismo
tornando-se cultura dominante, isso ficou muito enraizado na nossa concepção, pois
dentro do cristianismo todos os pecados vem do corpo. Por isso que o corpo é moralizado
e falar sobre sexualidade é um grande tabu.

Outro grande responsável pela nossa ideia de corpo é René Descartes, muito da nossa
forma de pensar vem da influencia de Descarte e a forma de pensarmos no corpo, não
foge disso. René Descartes, ao partir do ponto de “Penso, logo existo.” separou a mente
do corpo, por isso que na sociedade moderna é muito forte o entendimento de que o
corpo é separado da mente. René também criou o método analítico, que é dividir o todo
em pequenas partes e no processo final promover uma síntese. Com isso vem a
associação de que o corpo é uma máquina, porque segundo René tudo é uma maquina e
como o corpo é composto de pequenas partes, isso também faz dele uma maquina. E a
maquina é insubordinada ao pensamento, o pensamento é algo elevado e o corpo como
está separado da mente, faz dele inferior ao pensamento.

Não é toda parte do mundo que pensa da mesma maneira em relação ao corpo,
sociedades que sofreram influencias de outras religiões ou ideias de pensamentos, tem a
sua própria maneira de enxergar o corpo. Como, por exemplo, os índios, que não
possuem o mesmo pudor que temos em relação ao corpo, para eles o corpo nu é uma
coisa normal.

Ainda temos a visão do corpo como estética. É um conceito que para a sociedade é
inferior aos outros, porem hoje o corpo movimenta todo um mercado que visa a estética
do corpo, seja com atividades físicas e alimentos visando o corpo “fit” ou com produtos e
tratamentos para fins estéticos.

Com essas informações formamos os pilares da concepção da construção do corpo para


a sociedade moderna, que são: corpo moral, corpo maquina e corpo estético. Quando
alguém pensa sobre o corpo, dificilmente consegue pensar em algo que não tenha
relação com esses conceitos.

Partindo desse pressuposto fiz algumas entrevistas, uma das entrevistadas foi Renata, 29
anos e atua como engenheira bioquímica. Achei interessante o fato de que toda a ideia
que ela tinha sobre o corpo, partia do pensamento que herdamos de René Descartes, do
corpo maquina, que se divide em partes.

- O corpo humano eh uma maquina complexa, é como uma engrenagem que precisa
estar perfeita para funcionar corretamente. Pode ser muito frágil e muito forte ao mesmo
tempo.

Entrevistei também a Cristina, 53 anos, professora de história. E o que me chamou


atenção na entrevista foi que ela não fez uma separação clara entre o corpo e o
pensamento, o corpo é quem ela é, quando falou sobre saúde, ligou a saúde física com a
mental, mais uma vez reforçando a ideia de conjunto. Outra curiosidade que das pessoas
entrevistadas foi a única que falou no corpo como forma de expressão.
- Meu corpo é minha casca, minha casa, sou eu. É através dele que me apresento ao
mundo, me expresso, me manifesto.
O corpo significa vida, e para vivermos bem com o nosso corpo, devemos tratá-lo com
muito carinho e muito cuidado. Cuidar da nossa saúde física e mental e ter uma boa
alimentação.
Muitas pessoas têm consciência da importância dos cuidados que devemos ter com o
nosso corpo, mas por diversos fatores acabam deixando esses cuidados de lado e como
resultado disso vem as doenças. Podemos prevenir muitas doenças cuidando melhor do
nosso corpo. Prevenir é sempre melhor que remediar.

O corpo como forma de se expressar, como movimento, como linguagem, foge dos
pilares da concepção do corpo. E é nesse ponto que a Educação Física tem uma grande
atuação, pois através do corpo em movimento melhoramos a capacidade física do
indivíduo, também podemos trabalhar o lado estético, mas não ficamos limitados a isso.

A cultura corporal também é um ponto importante na atuação da Educação Física, pois


também somos produtores de cultura, não apenas receptores culturais, agimos sobre o
mundo, como ele também age sobre nós. E cultura corporal pode ser definida como toda
forma de linguagem que o corpo em movimento produz, com efeitos históricos e
sociólogos. E cada cultura produz a sua própria cultura corporal, diferentes povos tem as
suas danças típicas, esportes, formas de brincar, lutas, gestos e uma infinidade de
movimentos expressos com o corpo.

Existem 5 categorias da cultura corporal, que são: daças, lutas, esportes, ginasticas e
brincadeiras. Todas podem ser trabalhadas na Educação Física e com essas ferramentas
devemos proporcionar aos alunos a vivência dessas manifestações de cultura corporal,
fazendo com que eles percebam diferentes nuances dessas manifestações na sociedade
e que possam adquirir uma fluência em várias dessas culturas corporais, adquirindo
assim, mais maneiras de se manifestar como pessoa.

Dentro da nossa área de atuação o corpo não é o nosso objeto principal, o corpo é a
ferramenta que usamos para atuar dentro do corpo em movimento e na cultura corporal.

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