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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.

Thereza de Barros Camargo

LEVA-ME À
VERDADE
DESFAZENDO O EGO

O Amor Ativo é perdão.


Perdão é Amor em ação.
Perdão é Amor, é Verdade.
A Verdade é o Amor em ação.
Desfazer o ego = Libertar o Amor
Leva-me à Verdade = Leva-me ao Amor, ao Perdão.

1
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

NOUK SANCHEZ
E TOMAS VIEIRA

LEVA-ME
À VERDADE
D E S F A Z E N D O O E G O

Tradução de
M;Thereza de Barros Camargo

Ibis Libris Editora

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Copyright© Maria Thereza de Barros Camargo, 2008

Tradução do original em inglês


TAKE ME TO TRUTH,
UNDOING THE EGO
de
Nouk Sanchez e Tomas Vieira
1ª edição

por
Maria Thereza de Barros Camargo

Editado e publicado por


IBIS LIBRIS EDITORA, 2008
Rio de Janeiro, Brasil.

Ilustração:

ISBN: 000 0 00000 000 0

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permissão escrita da tradutora. As citações de outros livros recebem aprovação e
autorização de uso, de acordo com legislação vigente.
Impresso no Brasil por Stamppa Editores e Gráfica,
Rio de Janeiro, Brasil.

“O maior de todos os possíveis desafios em que toda nossa liberação se apóia, é


a renúncia ao ser-ego. Essa é, de todas outras, a conquista humana mais
poderosa, e importante, e por meio dela nos tornamos – outra vez – o magnífico
co-criador, vitorioso em nossa capacidade de transformações milagrosas.”

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

A P R E S E N T A Ç Ã O
LEVA-ME À VERDADE – Desfazendo o Ego

“Leva-me à Verdade não é apenas um livro – é uma revelação. Nouk Sanchez é


uma bem dotada professora espiritual que sabe o que e do que está falando e
tem uma boa idéia de como comunicar seu conhecimento. Os escritos de Nouk e
Tomas são intransigentes, estimulantes e estritamente consistentes.” Gary
R.Renard, do Prefácio. Autor de O Desaparecimento do Universo e Sua
Realidade Imortal, Como Quebrar o Ciclo de Nascimento e Morte.

“É raro encontrar um livro que, realmente, acompanhe a profundidade de Um


Curso em Milagres e proveja verdadeira ajuda no caminho do Despertar. Leva-
me à Verdade é, ao mesmo tempo, profundo bem como prático. Iluminador,
inspirador e estimulador do pensamento.” Michael Dawson, Diretor e fundador
do Centro Australiano de Paz Interior, autor de Curando a Causa e Um
Caminho de Perdão, O Livro de Perdão Findhorn.

“Este é um livro seminal, inspirador, pleno de sabedoria de como a integração


do ego tem de preceder sua transcendência. A Sra. Sanchez e o Sr. Vieira nos
levam à fonte do ser-ego, ajudam-nos a entender, e aceitar, seu legítimo
propósito, e com isso rasgam uma verdadeira estrada para nossa libertação, em
direção ao Amor.” Jacquelyn Small, Diretora e fundadora do Instituto
Eupsychia, autora de Despertando no Tempo; O Propósito Sagrado de Ser
Humano; Uma Jornada de Cura através dos 12 Princípios da Integridade.

“Um bom mapa mostrará a você como alcançar seu destino, irá alertá-lo quanto
aos caminhos sem saída, e outros perigos, enquanto destaca maravilhosas vistas,
e panoramas, ao longo do percurso. Os autores fizeram esse mapa; um caminho
preciso através dos vales soturnos do ego, para a terra santa iluminada do Ser
Unificado. É um excelente guia e manual, de alguém que, em campo, testou
cada página.” Robert Rabbin, palestrante, escritor, fundador do Falar em
Tempo Real, autor de O Eixo Sagrado: Vivendo em seu Ser Real; Ecos do
Silêncio: Despertando o Espírito Meditativo; Acendendo a Alma em
Trabalho: Comando aos Místicos.

“Leva-me à Verdade, Desfazendo o Ego, se apresenta como um Advaita


Vedanta ocidental; mais oriental e relevante que as versões tradicionais. Isto é
um não-dualismo entregue de maneira prática e simples, sem tolice.” John
Hunt, autor de Trazendo Deus de volta à Terra.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

“A mistura plena da intuição provocativa de Um Curso em Milagres, do


Eneagrama, e da sabedoria da unicidade claramente reflete a profunda
investigação, e experiência, pessoal dos autores sobre a natureza da Verdade.”
Stephen Bodian, autor de Meditação para Bonecos; Budismo para Bonecos;
Vivendo Yoga.

“O maior bloqueio à sabedoria é o conhecer...Trata-se de ultrapassar nosso


conhecimento a respeito de nós mesmos, como a nossa identidade aparente,
para descobrirmos a Identidade que já tínhamos... Este livro é sobre como
deixar de sermos espertos, redescobrindo a nós mesmos como um boneco, para
daí nos tornarmos um boneco esperto!” Dr. Brad Blanton, autor de
Honestidade Radical: Como Transformar sua vida por Contar a Verdade.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

CONTEÚDO

Apresentação
Prólogo
Reconhecimentos
Prefácio
A respeito de Um Curso em Milagres
A respeito dos autores
A respeito da tradutora
Lista de Termos
Ilustrações
Capítulo 1 Uma iniciativa infinita
Por que agora?
A Evolução da Espiritualidade como começamos?
Capítulo 2 O Ser-ego: feito através de projeções
Que é o Ser-ego?
Pensamento e Projeção
Livre Arbítrio
Medo e Agora
Julgamento
Um equivocado sentido de perda do Ser, nossa Identidade, para “Eu”, “Me”,
“Mim” e “Meu”
A Teoria do Bracelete
Capítulo 3 O Ser Unificado: Criado através da Extensão
Eu não sei meus melhores interesses
A Ilusão do Ataque
Dar Inconsciente
O Poder da Humildade
A Certeza
O Estado Infinito de Céu
A “a Ínfima Idéia maluca” expande
A Verdade é Verdadeira e Nada Mais é Verdade
Aceitando a Realidade do Ego: Amando O Que É
A Grande Escapada: Compromisso com a Libertação
O Medidor de Culpa

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Poderosa ferramenta de Auto descoberta: O Eneagrama


Capítulo 4 Relacionamentos de Amor
Especialismo: Pseudo valorização
Amor consciente
A Criança não visível
Busca do Amor
Que é um Relacionamento Especial?
Barganhas Especiais
Apaixonando-se
O Amor Real não é perdido
Uma Meta Unificada: O Relacionamento Unificado
Janela para o Amor
Decisão de Transformar Nosso Relacionamento
Intimidade
Resolução do Conflito
Compromisso em Avançar para a Verdade
Confusão entre Corpo e Verdade
Perdão Quântico
A Fórmula PIQ de Desfazer o Ego
Visualização Útil
Meta mútua: Relacionamento Unificado
O maior Dom Imaginável
Capítulo 5 O Desenvolvimento de Confiança. Desfazimento do Ego
Estágios de Desenvolvimento de Confiança em Desfazer o Ego
Visão geral dos seis estágios do Desenvolvimento da Confiança
Desfazendo o Ego
Possíveis sintomas do Desfazer do Ego
Isolamento Social: Causa e Efeito
Emprego, Carreira e Interesses
O Corpo
Quais são nossos maiores professores?
A estima do ser-ego: a ilusão
O cultivo da dúvida ser-ego
Capítulo 6 Os Seis Estágios de Desapego ao Ego
Estágio 1 Desfazendo

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O primeiro passo
O veneno da projeção
A ausência de culpa
Dar é receber: Desfazendo o conceito “conseguir”
Reforma do relacionamento
Soltar o ego: Necessidades e Desejos
Estágio 2 Dando a partida
Que as condições que causam meu medo sejam removidas
Tempo, pensamento e emoção
Tempo
Pensamento
Emoção
Uma visão impessoal
Tentação de negar e evitar
Saindo do Estágio 2: “Você verá quando crer nele.”
Contemplação e Meditação
Estágio 3 Um período de desapego
A árvore do julgamento
Perdão e responsabilidade
O Ser Unificado
Abrindo caminho
O que em verdade queremos
A Decisão
Estágio 4 Assentando
Reunindo companheiros poderosos
Busca espiritual e Verdade
Estágio 5 Certeza Absoluta via um período de instabilidade
Da preferência à Confiança total
Vigilância
Possíveis Mudanças
Estágio 6 Um período de Conquistas
Capítulo 7 Orientação no caminho
Nós temos cada um propósito específico
A Vontade Unificada
O que tememos na soltura do ego?
Oração

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Quando orações parecem ficar sem resposta


O momento do AGORA
Liberdade é aprender a suspender pensamentos
Amor, alegria e paz
Chaves poderosas para a Liberdade
Problemas e Agora
Nossa Vontade Unificada
A futilidade de Planos
Capítulo 8 Verdade
Um Guia para a tomada de decisões
O começo

Apêndice I: O Trabalho: Formulário, Byron Katie


Apêndice II: Recursos de Leitura Recomendados e Lista de sites na Net
Bibliografia

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

PRÓLOGO

GARY RENARD é o autor dos livros que estão como dos mais vendidos em
todo o mundo, O Desaparecimento do Universo, Conversa direta sobre ilusões,
vidas passadas, religião, sexo, política, os segredos do universo e os milagres
do perdão (Ibis Libris Editora, 2008) e Sua Realidade Imortal – Como romper
do círculo vicioso de nascimento e morte de uma vez por todas (Ibis Libris
Editora, em preparação).
LEVA-ME À VERDADE não é apenas um livro, mas uma revelação.
Quando me pediram pela primeira vez para escrever um Prólogo para esse livro,
fiquei interessado porque, pela correspondência com um dos autores, Nouk
Sanchez, se tornara claro que ela era uma professora espiritualmente bem
dotada que sabia do que estava falando, e tinha uma boa idéia de como
comunicar seu conhecimento. Estou sempre interessado em excelentes
professores espirituais. Mas foi unicamente lendo esse livro que me tornei
entusiasmado. O texto de Nouk Sanchez e Tomas Vieira é intransigente,
interessante e tremendamente consistente.
Se você pensa que consistência não seja importante, então você deveria
perguntar-se, quão consistente é o mundo? A resposta é claramente que ele não
é muito consistente. Isso é porque lhe falta um canal genuinamente claro para
um sistema de pensamento que unicamente consiga provir de uma Fonte mais
alta.
Como se reconhece isso? Unicamente através de observação e, o que é
mais importante, por experiência espiritual. Os ensinamentos do Divino Espírito
Santo, como o revelado através da obra prima espiritual como Um Curso em
Milagres,1que é brilhantemente discutido neste livro, no final revelará o fato de
que, a despeito de milhares de coisas que aparentemos ter de escolher neste
mundo, há apenas realmente duas coisas a escolher, e só uma delas é real. Isso
pode, à primeira vista, parecer simples, e, mesmo assim, é simples. Mas, em
verdade, em termos de mundo, escolher essa única coisa real, não é fácil. De
fato, torna-se difícil, e apenas por meio de prática, e disciplina, que a única
escolha significativa consegue ser feita, consistentemente. Quanto mais você lê
e entende as observações de grandes professores, como Nouk e Tomas, mais
fácil essa decisão mais importante se tornará.

1
Wapnick, Ken., Absence from Felicity: The Story of Helen Schucman and Her Writing
of A Course in Miracles, N.T. – Ausente da felicidade: A história de Helen Schucman e
sua escrita de Um Curso em Milagres, livro sem publicação em português, até esta
data.
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Há temas discutidos neste livro que, à primeira vista, podem parecer


divergir de meus escritos recentes, mas eu não creio que seja assim. O Divino
Espírito Santo nos conduz, a todos, ao longo do caminho, falando conosco de
uma maneira que conseguimos aceitar e entender. Assim, há coisas fascinantes,
que aparecerão ao longo do percurso, que aparentemente possam não
representar a verdade absoluta, mas estão lá para nos apresentar o fato revelador
de que há mais na vida do que consegue ser percebido pelos cinco sentidos do
corpo.
Um bom exemplo é o do Eneagrama.2 Nouk e Tomas falam
eloquentemente a respeito desse fascinante instrumento de auto-avaliação. Há
momentos quando as descobertas de uma ferramenta como essa serão muito
úteis às pessoas. Esse é um bom exemplo da verdade das palavras de
Shakespeare: “Há mais coisas entre o Céu e a terra do que são sonhadas em tua
filosofia.”3 Tais assuntos fascinantes podem ser o recheio dos sonhos, mais do
que a verdade absoluta, mas, mesmo assim, são coisas que, claramente, nos
ajudam no caminho para a verdade absoluta.
Se você for como eu, você encontrará muitas coisas neste livro
maravilhoso que irão ajudar você. E, realmente, pensando a esse respeito, o que
mais se pode pedir de um livro? E há ainda mais do que isso aqui. Penso que há
a sabedoria de grandes verdades espirituais apresentadas de maneira
apaixonada, que representam o conhecimento mais elevado de duas pessoas
devotadas em busca da Verdade.
Sei que a minha experiência de vida ficou melhor por ter lido este livro.
Minha prece é que todos terão essa mesma experiência.
Com amor e união,
Gary Renard

2
Riso, Don Richard, e Russ Hudson, The Wisdom of the Enneagram. N.T.- A Sabedoria
do Eneagrama, 3ª edição, São Paulo, Brasil: Cultriz, 2005.
3
Shakespeare, William, Hamlet, Ato I, Cena 5.
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RECONHECIMENTOS

Este livro é um projeto colaborativo trazido a lume pela dedicação de um grupo


de pessoas que embarcou em “Estágios do Desenvolvimento da Confiança,” 4
de Um Curso em Milagres, dentro dos intergeminados Relacionamentos
Unificados. A família original que começou sua jornada, há mais de dezesseis
anos atrás, era constituída de Nouk Sanchez, Tomas Vieira e Rikki Vieira. A
eles se juntaram, mais tarde, Janine McFarlane, Lana Scott, Nick Sanchez,
Jannifer Sanchez, Sparo Arika Vigil, e Evelyn Tayler, mãe de Nouk Sanchez,
cuja presença espiritual foi essencial para completar o livro. Nouk Sanchez e
Tomas Vieira reconhecem a assistência desses indivíduos que foram, e
continuam sendo, seus maiores professores; sem eles, nada deste livro
conseguiria ter sido escrito. Muito obrigado.
Queremos também agradecer aos seguintes professores de Sabedoria da
data presente por seu generoso fluxo caudal de Amor e Verdade:
Adyashanti, Dr. Brad Blanton, Stephan Bodian, Andrew Cohen, Michael
Dawson, Dr. Wayne Dyer, Frank Fools Crow (Homem santo de Lakota,
falecido), Lynn Grabhorn, Russ Hudson, Byron Katie, Jed McKenna, Robert
Rabbin, Gary R. Renard, Don Riso, Jacquelyn Small, Eckhart Tolle, Neale
Donald Walsch e Kenneth Wapnick.
Agradecimento também às seguintes pessoas:
Sparo Arika Vigil, que até tarde da noite datilografou o manuscrito.
Debbie e Jack Funfer e Terry Favour, pela leitura de revisão da primeira prova,
consulta e ajuda em definir nossos tipos no Eneagrama.
Ben Malley, pela abertura ao Espírito e oferta generosa de valiosas
interpretações interiores.
Hal Kahn, na assistência com a editoração gramatical.
Benita Romero, pela apresentação de O Trabalho, de Byron Katie a nós.
Jan Cook, pela ajuda em promoção.
Gloria Webb, editor final, pela afinação do manuscrito.
Damian Codotto, pelas ilustrações e site na Internet.
Russ Edward, pela arte final da primeira e última capas.
Rikki Vieira, pelas fotografias da primeira e última capas.

4
Fundação para Paz Interior, Um Curso em Milagres, UCEM, M-4.I.A.h;10-11
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

PREFÁCIO

Nem tudo do ego precisa estar aniquilado para chegar à iluminação. Enquanto
ainda, aparentemente, usamos o corpo, precisamos de uma nesga de ego
restante, para operar nesta realidade, a que chamamos vida. O que é
dramaticamente diferente a respeito dessa nesga remanescente, entretanto, é que
isso, mesmo restante, já está totalmente entregue ao comando da Inspiração
Universal. Nenhuma parte da vontade da pessoa alguma vez se porá em conflito
com a realidade, em algum momento que seja. Há confiança absoluta de que,
não importa o que, a Sabedoria existe e prevalece todo o tempo.
A parte do ego que necessita eliminação é, basicamente, uma
mixórdia intrincada de apegos emocionais antigos. Quando pensamos a respeito
disso, que todo sofrimento e perda é derivado de alguma forma de apego
emocional, por exemplo, relacionamentos, carreiras, valores, opiniões e objetos,
nos abismamos. Essas coisas, quando ameaçadas, conseguem ocasionar dor
emocional de todo tipo, desde aborrecimentos ínfimos até completa devastação.
Nossos desejos também são nascidos desse fundamento disfuncional. O que
pensamos precisar, e sentir, emerge de uma ilusão. O ego é, realmente, uma
central emocional que, equivocadamente, cremos ser o “Eu” a quem chamamos
“eu mesmo.” Conseguimos perguntar a nós mesmos o que, ou quem, restaria se
conseguíssemos retirar de nós e entregar todos nossos apegos emocionais?
Imaginemos que nós, de boa vontade, destacássemos de nós mesmos todas
nossas crenças, e nos lançássemos numa queda livre, de confiança total no
processo de Desfazimento, qual seria o resultado?
Somos emocionalmente apegados a tantas coisas de que nem temos
conhecimento. Um exemplo é o apego à crença de que conhecemos nossos
maiores interesses. Quando olhamos para ela de uma perspectiva mais elevada,
a idéia fica toda absurda. Se o “eu,” que aceitamos como nossa identidade, é
feito puramente de apegos emocionais, então tudo que ele deseja, ou evita, será,
absolutamente, dominado, influenciado por esses apegos. Nessa identidade
chamada “eu”, não há lugar para a Inspiração Universal trabalhar seus milagres,
nenhuma confiança para convidar o amor consciente se manifestar e,
certamente, nenhuma graça pela qual receber seus dons. A coleção de apegos
emocionais chamada “eu” sempre faz o que faz melhor protegendo
obsessivamente seu status, a qualquer preço, mesmo se isso signifique morte
física. Esse “eu”, a despeito de sua aparente necessidade de amor, é,
secretamente, conservado vivo por uma semente fundamental: a separação.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

O ego tem de manter um estado separado para ficar vivo. Se você


descobrir quem você não é, você descobrirá o miraculoso estado que restará em
seu âmago.
Como funciona nossa identidade equivocada? A massa de apegos
emocionais, a que chamamos de “mim,” crê que ele esteja por conta própria; é
por isso que precisa tanto e porque ele teme tanto. No seu âmago secreto ele
sabe que é outro, e não Deus, que sua verdadeira subsistência e sustento
dependem de quão bem ele consiga, sob o radar Divino, ficar nos enganando e
driblando que estamos no trilho certo.
Quando perguntamos ao ego, “Como pôde um Deus tão amoroso criar
um mundo tão sem amor?”, ele responde com uma resposta padrão: “É injusto,
mas acho que, se Deus o criou, temos de dar o melhor de nós para nos proteger
e aos que amamos, manter o controle sobre nossas vidas, no melhor possível, e
buscar a felicidade, enquanto evitamos a dor.”
Uma vez comecemos a clarear o caminho, retirando os destroços
durante o processo de desfazimento do ego, chegamos a reconhecer uma
incongruência monumental. Se o ego chamado “mim” é uma massa de apegos
emocionais, então como ele consegue, com sucesso, navegar nesse mundo de
aparente caos randômico? Se passamos a vida lutando por proteção, controle, e
a busca constante de felicidade, enquanto tentamos evitar a dor, então o que
resta a Deus fazer? Qual é o propósito de ter um Deus, se estamos
desempenhando esse papel continuamente?
Você já pensou a respeito de nosso propósito individual, e coletivo, aqui
na terra? Nosso propósito não é correr em círculos, existência após existência,
interpretando os dramas de nossas identidades equivocadas. E o que acontece
quando o corpo morre? Somos todos tirados do laço, retornando para um
temporário estado de enlevo, unicamente para reentrar, ainda, para outra
existência no corpo, de aparente drama randômico?
O significado daquilo a que chamamos vida, enquanto permanecermos
sob o bruxedo do ego, continuará um mistério, desde que repousemos em nossas
crenças inquestionadas. Não há Deus fora de nós, o que quer que seja que
chamemos essa Presença Universal. Ela é parte de nós; Ela jamais, nem alguma
vez nos deixa. Por certo, por vezes nós A sentimos ausente, mas isso é porque
“nós”, também, não estamos presentes nesse instante preciso. Sendo um ego,
com um pacote de medos e apegos não investigados debaixo do braço, estamos
ocupados demais fazendo malabarismos em nosso controle diário de temas, a
perguntar o significado da vida, sem mencionar a indagação de nossa verdadeira
identidade.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Se supomos que Deus seja todo amor, porque então somos capazes de
ser tão sem amor? A resposta é que Deus não criou essa realidade que temos
diante de nossos olhos; nós a criamos! Nós viemos do estado original de todo
amor, que é nenhuma dor, nenhuma perda, nenhum medo e nenhuma
separação. Éramos um, e ainda somos, além da vida ilusória que escolhemos
viver. Não tínhamos necessidade de tempo, de espaço ou matéria, porque esses
foram manifestados na separação. Estávamos enlevadamente contentes como
um que é, até que decidimos experienciar algo mais. A experiência que
convocamos é “dualidade,” significando dois-cidade ou outro-cidade, em vez de
uni-cidade. Nessa realidade temos o conceito de bom vs. mau, acima vs. abaixo,
grande vs. pequeno, muito vs. pouco, e assim por diante, numa relação
infindável. O “eu” se concebe separado de todos, e de tudo. No estado de ego
verdadeiramente cremos que temos necessidades que podem vir a ser satisfeitas,
ou não, e que somos vulneráveis à perda.
Essas crenças são responsáveis por algumas idéias bem absurdas,
incluindo a popular interpretação equivocada de que o amor consegue tornar-se
ódio. Se isso, alguma vez, for verdade para nós temos de nos perguntar “quem”
teve a experiência? Quem percebeu que o amor desintegrou e se tornou ódio?
Se alguma vez tivermos essa experiência então conseguiríamos estar
absolutamente certos que somos perfeitos candidatos ao processo de
“desfazimento do ego.” Unicamente o ego crê que amor consiga diminuir, ou
ser transformado em ódio. O amor é desconhecido através do ego. Amor não é
um sentimento, não é uma experiência, e não consegue ser buscado. Tentar
chegar a conhecer o amor, enquanto ainda se crê convencido de que somos
quem pensamos ser, é como pular de um edifício de sessenta andares
convencido de que iremos voar. Até que estejamos preparados a tomar o
caminho para desfazer a percepção do ego, não saberemos quem realmente
somos, ou qual é nosso verdadeiro propósito, nesta vida.
LEVA-ME À VERDADE não é um livro religioso, nem ele aponta para
qualquer religião, como sendo o meio para liberação. Seus ensinamentos não
têm qualquer filiação com qualquer sistema de crença particular. Encorajamos
você a se decidir em sua mente quanto à Verdade contida nas páginas que se
seguem. A Verdade vai repercutir dentro de você. Ela nem sempre se apresenta
a si mesma como paz; algumas vezes se exprime a si mesma como resistência e
muitas vezes como algo que parece um desafio mas, bem no fundo, soa sempre
correta. Todos nós conhecemos a Verdade. Bem profundo dentro de nós
mesmos, todos a reconhecemos porque, em nosso âmago, somos Verdade,
Amor, Alegria e Paz.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

A Verdade transcende todos os sistemas de linguagem, e de crença. Ela


existe na Eternidade, além dos confins do tempo, espaço e matéria. Ela irradia
uma carga que, literalmente, ultrapassa o intelecto, e gentilmente remove os
antigos bloqueios, que já não mais nos impedem de reconhecer, e viver, a
Presença do Amor.
LEVA-ME À VERDADE é um livro simples que chama quem somos, por
trás de nossa limitada auto-imagem. Ele busca nos desapegar do medo, e da
limitação, e restaurar nossa memória de nossa herança por direito, como co-
criadores. Este livro pede a você para avançar além da interpretação no nível
intelectual, porque isso é fácil e requer nenhuma mudança real em sua
percepção. Ele pede a você, em lugar disso, para traduzir seus princípios em
forma experiencial e, de maneira cônscia, aplicar esses mesmos princípios em
sua vida diária.
LEVA-ME À VERDADE foi escrito com um intento de misericórdia e amor,
para ajudar a todos que deixaram de buscar, e agora estão prontos a encontrar
Amor, Alegria e Paz.
Você encontrará que muitos dos princípios discutidos neste livro são
derivados de Um Curso em Milagres,5 com referências contidas nas notas de
rodapé. As idéias representadas dentro de LEVA-ME À VERDADE são a
experiência, a interpretação e o entendimento pessoais dos autores e não são,
necessariamente, endossados pelos detentores dos direitos autorais de Um Curso
em Milagres.

5
Foundation for Inner Peace, A Course in Miracles, ed. rev. Nova York: Viking, 1996;
Fundação para Paz Interior, Um Curso em Milagres, ed. rev. São Paulo: Abalone, 2006.
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

A respeito de UM CURSO EM MILAGRES

O Curso é um documento espiritual, de auto-estudo, composto de três livros em


um, que inclui, no 1º livro, o Prefácio, com o relato do registro desse livro e o
Texto, com toda a teoria do que ensina, em 31 capítulos; no 2º livro, o Livro de
Exercícios para Estudantes, com o programa de um ano de estudo de 365
lições, que muitas vezes as pessoas levam mais do que um ano para fazer, que
treina o estudante a aplicar o Curso para a vida do dia-a-dia; no 3º livro, o
Manual para Professores, com reforço e detalhamento do que foi ensinado e o
Esclarecimento de Termos, com definição e explicação de palavras,
expressões e sentido dos termos empregados no livro.
O Curso foi dado pela mente de Cristo Jesus, durante um período de
sete anos e meio – de 1965 a 1971 – por canalização direta para uma médica
psiquiatra, pesquisadora e professora, Dra.Helen Schucman, na cidade de Nova
York. Ela anotou tudo que Jesus mentalmente disse a ela, em seu caderno de
notas de taquigrafia, ditando-o depois, paulatinamente, dia a dia, ao seu colega e
chefe, médico psiquiatra, pesquisador e professor, Dr.Bill Thetford, na
Universidade de Columbia, onde trabalhavam juntos, que o datilografou
integralmente, como uma amorosa tarefa compartilhada de ambos.
O volume autêntico editado de Um Curso em Milagres, que em
português do Brasil tem 1327 páginas, traduzido por um grupo de brasileiros no
Rio de Janeiro e depois, durante 10 anos aperfeiçoado, consolidado, arrematado
e terminado, nos EUA, por Lillian Salles de Oliveira Paes, que assina sua
tradução, integraliza, como o original, os três tomos em um só volume,
Prefácio, Texto, Livro de Exercícios para Estudantes, Manual para Professores
e Esclarecimento de Termos, especialmente escrito por Helen, datilografado por
Bill, revisado e editado por Helen e Bill, em conjunto, e novamente revisado e
montado para publicação por Kenneth Wapnick, Ph. D, junto com Helen e Bill,
publicado pela primeira vez, em inglês, em 1976, pela Foundation for Inner
Peace, criada especialmente por Judy Skutch para isso, hoje auxiliada pela
Foundation for A Course in Miracles, presidida por Kenneth Wapnick, PhD.,
gerencia e dirige as traduções que estão sendo feitas em todos os idiomas
falados no mundo, assim como auxilia estudantes e praticantes do Curso a
aprenderem, com exatidão e pureza, a autêntica mensagem de Jesus, por seu
intermédio.
De acordo com Um Curso em Milagres, nossa casa é, na realidade, o
Céu, o Reino de Deus; um reino espiritual de pura unidade e alegria ilimitada,
que nunca consegue ser danificado. Nós tentamos mentalmente atacar a

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

realidade, nos separar dela, fazer uma identidade separada – o ego, o mundo e o
universo cósmico material do espaço e do tempo. Mas a separação é uma
impossibilidade total que só aparenta ter acontecido em nossas mentes; com a
nossa Realidade verdadeira nada aconteceu.
Ainda assim nós piamente cremos que realmente fizemos isto, nos
separamos do Pai perfeito. Nós pensamos que jogamos fora a nossa felicidade
para sempre. Então, para reduzir nossa responsabilidade, projetamos a causa de
nosso sofrimento sobre o mundo, as pessoas e Deus, produzindo as ilusões de
que alguém, ou algo, nos roubou a nossa felicidade, parecendo que eles sejam
os culpados de nossas perdas, dores, sofrimento, dificuldades, tropeços e
problemas. Isso sustenta, nutre e estimula nossa solução ilusória: mudar o
mundo, mudar as pessoas, pegar de volta o que foi nos roubado. Mas essa nossa
"solução", é um ataque, que só faz repetir e manter o problema original que, na
Realidade não existe.
Nós – ilusoriamente – perdemos contato com a Realidade e, assim,
precisamos da ajuda do Divino Espírito Santo para que a nossa sanidade mental
seja restabelecida. A mensagem do Curso é que nunca pecamos, nunca
mudamos coisa alguma da Verdade de Deus. Nós precisamos somente mudar
esse entendimento em nossas mentes. Para mudar essa nossa percepção
equivocada, e torná-la verdadeira, temos que entregar nossas ilusões à Verdade
do Espírito Santo. Sua solução é:
perdoe o mundo e as pessoas pelo que não fizeram.
Estendendo o perdão para outros, nós também somos perdoados. Esta se torna
nossa única função. O perdão também desfaz os muros que nos separam das
pessoas, permitindo-nos vivenciar o fato de que nós somos todos só Um.
Tendo o perdão como nossa ferramenta, e o Divino Espírito Santo como
nosso Guia, viajamos para a verdadeira percepção, que é a nossa meta. Quando
nós e o mundo inteiro atingirmos a verdadeira percepção, que o Curso chama de
mundo real, o próprio Deus dará o passo final e nos levará de volta para casa, de
onde, em verdade, jamais saímos.
A nossa única função neste mundo é, então, ajudar a cura da mente dos
outros, coisa que conseguimos ao curar as nossas próprias mentes, com as quais
curamos a dos outros. Cuidar de algo – negócio, carreira, nossa vida, ou o que
quer que seja, significa primeiro ouvir e responder à Vontade do Pai,
transmitida a nós pelo Divino Espírito Santo – a Voz por Deus – por nossa
sensação intuitiva, depois atender o que Ele nos diz, sem jamais duvidar, daí
manter em tudo e com todos, o tempo todo, Amor, Alegria e Paz pelo perdão, e

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

aí, então, ir cuidar de qualquer outro assunto prático, que requeira atenção na
ilusão do mundo. A prioridade é nessa ordem.
Vendido em livrarias especializadas, é disponível no Brasil, em capa
dura, pode ser encomendado nos seguintes locais:

1 – grupos de estudo de UCEM, com seus professores, facilitadores e


dirigentes, como a tradutora deste livro: mtbcamargo@terra.com.br, 21
2521.6444 e 21 9965.2115;
2 – livrarias especializadas em temas espiritualistas e de auto-ajuda;
3 – livrarias de livros usados, especializadas ou não.
4 – Editora Abalone, em São Paulo, capital, sua publicadora autorizada no
Brasil, editora@editora-abalone.com.br, 11 3085.6578;

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

A respeito dos AUTORES

Nouk Sanchez, nascida na Austrália, sempre foi levada a buscar a Verdade, a


expô-la e a simplificar o caminho para outros a seguirem. Inicialmente esse
ímpeto a levou a se tornar internacionalmente reconhecida dentro da indústria
de cosméticos. Nouk foi a pioneira de um conceito revolucionário da utilização
do cosmético como um “estímulo à estima”. Numa técnica holística de
“focalização da essência”, de sua autoria, dirigida a dar a todas as mulheres, de
mais de vinte e cinco anos, a oportunidade de destacar o que cada uma tem de
melhor, sua criação conduziu à publicação de um livro sobre o assunto, e à
formação de sua companhia de cosméticos.
Tendo feito resplandecer um caminho em cosméticos, Nouk retirou-se
da indústria de cosméticos para viver em New México, onde passou, a seguir, a
se dedicar e ensinar o desfazimento do ego. Em 1990, depois de ser introduzida
a Um Curso em Milagres, Nouk, e sua pequena família espiritual, rumou para
aprender os Seis Estágios do Desenvolvimento da Confiança, contida no Curso.
A jornada de dezessete anos de despertar a levou a experienciar e a entender o
mecanismo do ego em como, por que, quando e onde nos sabotamos a nós
mesmos. Nouk aprendeu a como entrar no vazio, agarrar a fé e ver a face da
Verdade. Para remover os obstáculos que obscurecem a presença do Amor em
nossas vidas do dia-a-dia, suas descobertas a levaram a empregar a fórmula
milagrosa de Um Curso em Milagres para esse fim. A culminação de seu
trabalho é a preparação, neste livro, da rota de seis estágios de uma navegação
espiritual transformadora, como um simples e despretensioso guia.

Tomas Vieira, co-autor, de herança portuguesa, nasceu em Hong Kong e viveu


no Canadá e nos Estados Unidos da América, antes de se estabelecer na
Austrália. Um típico “pau para toda obra”, sua carreira se alternou entre os
setores privado e sem fins lucrativos. Sempre um interessado em
desenvolvimento pessoal, Tomas ministra cursos de habilidades de vida e
desenvolvimento pessoal em comunidades, há cerca de vinte anos.
Seu forte compromisso e desejo de crescer com sua família espiritual
levou-o a quase total desconstrução de sua vida e sistemas de crença. Tudo
havia se posto de ponta cabeça e no avesso, para ele. Quando ele finalmente
emergiu desse processo, deu-se conta de que sua jornada tinha um paralelo com
a de Nouk Sanchez, em termos dos estágios bem claros, envolvidos com o
despertar. Como Nouk, compreendeu que não havia nenhum guia simples
disponível para explicar o processo de desfazimento do ego e descoberta da
22
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Verdade para despertar. Como resultado, ele embarca na colaboração de


escrever este livro.

MANTENHA CONTATO

Nouk Sanchez e Tomas Vieira oferecem seminários, oficinas de estudo e


apresentação a grupos de “LEVA-ME À VERDADE, Desfazimento do Ego” ao
redor do mundo. Se você gostaria de ajudar a hospedar um desses encontros em
sua cidade, por favor faça contato conosco.
Para maiores informações sobre nossos encontros de Desfazimento do Ego, com
programação e outras fontes de recursos valiosos, inclusive, visite nosso site na
Internet,

www.takemetotruth.com

Se você sente que gostaria de compartilhar sua própria experiência de liberação


do ego, ou se gostaria de oferecer retro alimentação sobre este livro LEVA-ME
À VERDADE, ficamos muito felizes de ouvir você.

e-mail info@takemetotruth.com

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

A respeito da TRADUTORA

Maria Thereza de Barros Camargo, (Limeira, SP. 13/05/1928), tradutora de


O Desaparecimento do Universo, e de Sua Realidade Imortal, ambos de Gary
R. Renard, é arquiteta graduada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade
Mackenzie, São Paulo, SP, em 1953. Passou a residir no Rio de Janeiro, RJ,
depois de casada. Especializou-se em habitação popular nos mais de 44 anos em
que trabalha na COHAB-GB, hoje CEHAB-RJ, bem como na COHAB-SP, por
18 meses.
Desde menina buscou incansável o sentido espiritual para entendimento
da vida, nas mais variadas opções filosóficas, teosóficas, teológicas e
espiritualistas que encontrou no mundo, até que, na primavera de 1993, foi
convidada a participar de um grupo de estudo de Um Curso em Milagres, em
casa de Anna Sharp, no Rio de Janeiro, RJ. Fez sua opção definitiva. Nenhuma
das religiões, igrejas, templos e seitas correntes – ocidentais ou orientais –
conseguiu preenchê-la, ensiná-la e responder-lhe mais do que fez Um Curso em
Milagres, que a partir de 1993 se constituiu no seu re-ligare a Deus, hoje sua
natureza. O conhecimento do sistema de pensamento do Divino Espírito Santo,
ensinado no Curso, lhe trouxe todas as respostas que sempre pediu, e toda
compreensão do sentido da vida buscado por toda sua existência. Nunca mais se
apartou do estudo e da prática estrita, intransigente, constante e permanente do
Curso, que considera a coroação de sua busca de Deus. Hoje garante que não
mais busca por Deus, pois já O encontrou, com a ajuda do Curso. Agora cuida
de seu despertar deste sonho de pesadelo em que vivemos.
Criou em 2006, com auxílio do poeta, escritor e professor de grego,
João José de Melo Franco, o nome psicortosofia para o sistema de pensamento
do Divino Espírito Santo, base e fundamento de ensino do Curso.
Depois de traduzir O Desaparecimento do Universo e Sua Realidade
Imortal, segue-se – em conseqüência necessária e imperiosa – a tradução deste
livro. Seus autores – Renard, Sanchez e Vieira – não são integrantes das duas
Fundações que velam e zelam por Um Curso em Milagres. Mas seus três livros
compõem os textos que, até o momento, melhor completam, detalham, explicam
e suplementam o estudo do Curso em minúcias, nuances, e linguagem popular,
para seus estudantes, o que o Curso, erudito para a maioria, mantém em
diapasão elevado.
Maria Thereza não é uma genérica tradutora de livros, pois só traduz, ou
escreve livros sobre psicortosofia, o sistema de pensamento de Um Curso em
Milagres, por estudar e se dedicar só, e exclusivamente, a isso, atualmente, bem

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

como atender a necessidade de estudantes do Curso, que, em sua maioria, não


lêem senão em português.
Em março/2007 lançou OREMAS– Orações em poemas, pela Íbis
Libris Editora, do Rio de Janeiro, para difusão da psicortosofia sem didatismo.
Considerado um oráculo bibliomântico por seu prefaciador, poeta e compositor
Tavinho Paes, definido, na orelha do livro, pelo poeta maior João José de Melo
Franco, como “sem máximas canônicas ou dogmáticas,.... um simples e direto
retorno à condição natural do homem, filho de Deus “Só Deus basta!” através
da abdicação às imposições do ego,” e por seus leitores, que muitos fizeram
dele seu livro de cabeceira.
Diz-se apenas psicortósofa. É seguidora e praticante intransigente e
enfática de Um Curso em Milagres. Convidada a ler seus OREMAS em muitos
lugares, tanto em grupos de leitura de poesia como de estudo do Curso, adota-o
como uma maneira de ensinar e divulgar o Curso de forma poética, não
didática, mas sem tergiversações nem concessões deformantes da mensagem de
unicidade de Um Curso em Milagres: “Nada real consegue ser ameaçado. Nada
irreal existe.”

MANTENHA CONTATO

Maria Thereza de Barros Camargo participa de grupos de estudo presenciais


de Um Curso em Milagres no Rio de Janeiro e Niterói, realiza palestras a
convite, em qualquer parte do Brasil, combinando os eventos solicitados e
respondendo consultas nos telefones
21 2521.6444, 21 9965.2115,
pela Internet em e-mail mtbcamargo@terra.com.br e
grupo a-cura-da-mente-e-o-retorno-a-deus@googlegroups.com

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

LISTA DE TERMOS

Termos de Significado Geral


Leva-me à Verdade
Co-criador Criar é estender o Amor que somos,
eternamente. Uma vez íntegro, compreendemos
nossa capacidade e propósito de criar com a
Fonte, donde co-criador.
Conceito Uma idéia, crença ou pensamento; noção
abstrata
Conceito de projeção O que pensamos, e cremos, se torna o que
percebemos e o que percebemos se torna, e
reforça o que cremos. Projeção faz a percepção
Conceito de separação Insanidade e adormecimento; negação da
(dualidade) Unicidade, negação da Fonte, medo da Fonte,
base da dualidade
Consciência Suprema Mente Uma
Desfazimento O processo de desfazer o ego
Estado Infinito Céu
Fonte Deus, o Criador
Fórmula ‘PIPQ’ Ferramenta útil de ‘Desfazer o Ego’.
P=Presença; I=inquirição; P=perdão, Q=
quântico
Inspiração Universal Divino Espírito Santo (UCEM)
Momento Agora Instante Santo (UCEM); uma suspensão do
tempo no qual escolhemos acessar a orientação
da Inspiração Universal, em vez da orientação
do ego
“O Trabalho” “Quatro perguntas e a Inversão” de Byron
Katie, de seus livros Amando o que É e Preciso
de seu Amor – Isso é Verdade? (ver apêndice I:
“O Trabalho” e seu Formulário)

Princípio Uma verdade fundamental, ou lei, sobre a


qual outras são baseadas

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Princípio da extensão Todo dar, estender e compartilhar é receber;


mantemos o que damos; os outros são reflexos
de nós mesmos
Realidade Ideal Estado de mentalidade certa; não-dualidade
pura, Amor, Alegria Abundância e Paz; visão
da Unicidade, Ser Unificado e Vontade
Unificada
Realidade ego Estado de mentalidade errada; culpa, caos,
separação, sofrimento, ser-ego e vontade-ego
Relacionamento especial Um relacionamento condicional de amor-ódio
(UCEM)
Relacionamento Unificado Relacionamento Santo (UCEM)
Renúncia do ego Desfazimento ou Morte do ego
Ser Unificado Ser Infinito/Autêntico
Ser-ego Ser-falso, feito para substituir o Ser Unificado
Tempo, Pensamento e O ego ganha o controle através do tempo,
Conceito de Emoção pensamento e emoção, baseado em culpa
Toda defesa, ataque e Ataque
julgamento
UCEM Um Curso em Milagres
Verdade Liberação da mentalidade errada; Amor,
Alegria e Paz; Unicidade com tudo
Vontade do ego Vontade do ser-falso
Vontade Unificada Vontade Infinita/Autêntica

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

ILUSTRAÇÕES

1.1 A seqüência da separação


2.1 Percepção alternativa
2.2 Como nós criamos nossa realidade: Projeção
2.3 Identidade equivocada
4.1 A criança não vista
4.2 Apaixonar-se
4.3 Desfazimento do ego
5.1 Seis Estágios do Desfazimento do ego
6.1 Necessidades e desejos
6.2 O Ciclo do ego
6.3 Tentação de circular e desviar

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LEVA-ME À VERDADE N.Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

CAPÍTULO 1

UMA INICIATIVA INFINITA

O que é aquele algo esquivo, que estamos sempre buscando, mas que, de
alguma maneira, nunca encontramos? Será felicidade? Se pensarmos a seu
respeito, muito do que nos trouxe felicidade no passado, também nos causou
dor, por sua perda, ou mudança. E, o que seja que esteja nos fazendo feliz está,
continuamente, sob risco de possível perda, ou mudança. Então, o que você
pensa que fará você feliz? Para sempre?
O que nos traria permanente felicidade, que também não fosse
suscetível de risco de perda, destruição ou mudança, e daí nos causasse dor, ou
sofrimento? Dinheiro? Relacionamentos e romance? Filhos? Família?
Descendência? Amigos? Um lar? Local ou cidade onde mora? Carreira? Status?
Causa? Cargo? Condecorações? Fama? Prêmios? Nossos valores? Crenças?
Opiniões? Reconhecimento? Ou aprovação?
Tudo isso, mesmo gratificante, consegue nos causar dor e sofrimento;
mesmo assim cegamente os perseguimos em nossa busca de felicidade
duradoura. A verdade é que o que seja que nos traga felicidade, satisfação e
contentamento, cedo ou tarde nos causa dor. Esse é o universalmente chamado
”fato da vida.’
Se a felicidade, uma vez tida como também a causa de dor, é
reconhecida como a qualidade caprichosa e frágil que é, então porque
existimos? O que vem a ser esse algo enganador que, desesperadamente,
buscamos, sem jamais encontrar? O que é esse vazio, que ainda consegue ser
sentido, até mesmo após a conquista de uma meta? O que essa assombrada
sensação de incompletude tenta nos dizer?
Isso está em todos nós, todo o tempo; entretanto, nos mantemos tão
distraídos, tão ocupados pela vida que, dificilmente, nos atrevemos a sintonizar
nisso e ouvir, profunda ou intencionalmente, seu chamado. Isso usualmente se
apresenta em diferentes épocas de nossa vida, acenando a nós para nos
questionarmos a nós mesmos, nossos valores e nossas vidas. Infelizmente, mais
frequentemente nos decidimos a confrontar isso quando nos vemos diante de
extrema dor, ou sofrimento. A crise tende a nos fazer parar o tempo suficiente
para questionar a vida, e seu significado.
A pergunta é, “Pelo que ansiamos tão profundamente?” E a resposta não
vem na forma que esperamos. A resposta é, “Ansiamos, profundamente, por
uma comunhão, infinita e absoluta, com o próprio Amor.” A experiência que
buscamos, que afinal sacie toda nossa fome física, emocional, mental e
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

espiritual é, e sempre será, conhecer a nós mesmos como plenos, integrados


Infinitos Seres. Jamais conseguiremos conhecer segurança real, paz real, certeza
real, amor real ou alegria real, até que reconheçamos, e com vontade iniciemos,
essa jornada rumo à inteireza.
Queremos estar livres do caos, medo, insegurança e confusão.
Queremos liberação da carência, limitação e mediocridade. Entretanto, persiste
o fato de que jamais estaremos livres do caos, e comungaremos plenamente com
o próprio Amor, até que identifiquemos a dita, e única, causa de todo sofrimento
e separação.
O trono de todo caos está assestado dentro de nosso ser falso, e
separado, o ser-ego, que é a causa individual, e coletiva, de todo sofrimento no
mundo que percebemos. Não há exceções. Nós, em nosso Estado Infinito
natural, somos íntegros e, indelevelmente, conectados ao Criador, Deus, ou a
Fonte, como a Ele estaremos nos referindo neste livro. Essa é a natureza de
nosso Ser Unificado que, mesmo quase sempre oculto de nossa vista, é o Ser
que está em eterna, e ininterrupta, união e comunicação com a Fonte.
Alcançamos um ponto no trajeto no qual estamos sendo convocados –
sem mais tardança – a despertar para a Verdade interior. Isso significa: temos
de, corajosamente, nos questionar QUEM PENSAMOS REALMENTE SER. Isso
requer que examinemos, determinadamente, nosso ser-ego junto com todos seus
condicionamentos, crenças, e valores. “Pesquisa informa que hoje há cerca de
50 milhões de pessoas, nos Estados Unidos da América, formando uma nova
subcultura interessada em crescimento e transformação pessoal experiencial, e
em resolver problemas criativamente, para fazer um mundo melhor. Esses não
são “novaeranos” – perdão pelo neologismo – ou excluídos da sociedade. São
cientistas, arquitetos, professores de universidade, novelistas, poetas, artistas,
donas de casa, médicos e outros formadores de opinião... [Pesquisadores]
especulam que esses ‘criativos culturais’ podem, também, estar dando nova
forma à nossa cultura maior. Vocês são as pessoas, creio, que estão saindo fora
do velho e fragmentado modo de ser, e entrando em seus seres verdadeiros.
Atingimos o limite de nossa maneira separatista de viver vidas
egocentradas. Como se pode ver, estamos conscientemente conturbando nosso
planeta, bem como a qualidade de nossa vida. O Ser, nossa verdadeira natureza,
nos chama agora para despertar, e assumir a responsabilidade por nos tornar

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

saudáveis e íntegros seres humanos. Estamos evolvendo para nossa seguinte e


maior identidade.”6
Temos de aprender a identidade e a natureza do único opressor no
universo, nosso ser-ego. Em seu reconhecimento e desfazimento,
desenvolveremos um senso unificado do ser que nos traz Amor, Paz e Alegria,
imensos e ilimitados que nós, profundamente, ansiamos experienciar.
Esse Desfazimento é uma iniciativa Infinita cujo tempo chegou. Nós
evolvemos a um ponto no qual não conseguimos mais nos permitir enfraquecer
pela ignorância. Isso é insustentável para nós, para nosso planeta e para futuras
gerações.
O desfazimento é, literalmente, o processo de remover nossos existentes
bloqueios à ciência da presença do Amor. Desfazimento significa,
simplesmente, desaprender. É o desaprender de quaisquer condicionamentos,
crenças ou valores que haja, até agora, distorcido nossa percepção da presença
do Amor. Essa é a maior, e a mais nobre, de todas as jornadas, levando-nos
mais fundo através dos Estágios de Desenvolvimento da Verdade.
Nosso propósito agora é integrar a vida na terra com nossa Identidade
Unificada. Nada há a vencer e tudo a que se render. Quando reconhecemos a
Vontade Unificada e, voluntariamente, abdicarmos de nossa resistência a Ela,
encontraremos que Ela só quer para nós o que nós sempre buscamos, mas que
nunca conseguimos, até agora, aparentemente, receber.
Estamos vivendo agora num tempo excepcionalmente oportuno. Uma
mudança recentemente ocorreu que trouxe uma consciência de ordem mais
elevada. Muitas pessoas podem identificar essa ordem mais elevada como sendo
da Consciência Crística retornando como a “segunda vinda.’ Enquanto desta
vez a Sabedoria Infinita não está confinada a Um Ser, ela agora está disponível
a todos que ecoam ao seu chamado.
Essa nova consciência se refere à descoberta da Verdade. A Verdade
revela que todos somos fragmentos Infinitos do mesmo espelho cósmico que,
aparentemente, explodiu há éons. Nesse único ato, aparentemente nos
esquecemos de quem somos, e da verdadeira razão de nossa existência. Nossa
missão agora é, em nossa consciência terrena, nos recordarmos, individual e

6
Small, Jaquelyn, The Sacred Purpose of Being Human, [O Propósito Sagrado de ser
Humano] Introdução, 26-27 N.T. – Livro sem publicação em português. Observamos
que a tese no livro, por admitir uma intenção de buscar “um mundo melhor” diverge do
sistema de pensamento de Um Curso em Milagres que ensina que “não tens de mudar o
mundo, só a tua mente”.
31
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

coletivamente, de nossa essência pristina, como matéria residual Infinita do


espelho sagrado único.
O Desfazimento nos convoca a nos unirmos no desmantelamento de
todas as ilusões que têm sido responsáveis por nos prender na armadilha do
mundo de caos, limitação e mediocridade do ego. Abraçar a Verdade é alcançar
a essência Unificada que nos liberta do domínio de nosso ser-ego. Aprender o
que é a imensurável segurança alcançada pela aceitação do desconhecido. O
nível de liberdade e alegria que você experimenta depende de sua prontidão e
disponibilidade em confiar no poderoso e misterioso processo de Desfazimento
do ego.

Por que agora?


O conceito de iluminação agora, comparado ao tempo da encarnação de Jesus
Cristo e de Buda, é percebido bem diferente. Nossa consciência evolveu, num
ritmo progressivamente acelerado, ao longo dos últimos 2.000 anos.
No passado, iluminação era, freqüentemente, considerada para e pelos
mestres daquele tempo. Geralmente falando, unicamente místicos conseguiam
realmente ver que essa iluminação significava transcender o mundo da matéria.
No Leste, o objetivo era terminar o ciclo de reencarnação, finalmente vencendo
a necessidade de viver uma vida humana na terra. O objetivo da cristandade era
ganhar, em uma existência, uma permanente entrada no Céu. Ambas as crenças
pareciam ser mutuamente excludentes, naquela existência humana no mundo da
matéria, e o tempo conseguia, unicamente, ser usado como um meio para um
fim. O fim era sempre ser percebido como algum tipo de Nirvana, ou Céu, em
outro mundo. Agora vivemos num tempo onde a consciência acelerada mudou
nossa percepção, para incluir uma visão muito mais ampla e completa da
iluminação, do que aquela de nossos antepassados.
Um novo despertar está ocorrendo. Agora mesmo, aqui mesmo, a
integração da dualidade está rapidamente ganhando ímpeto. As pessoas estão
reconhecendo a separação, ou quebra interior como destrutiva, e estão com
vontade buscando restaurar o amor e a harmonia em suas vidas. Elas estão
respondendo a um chamado mais profundo à Verdade,
“Nós humanos somos uma espécie híbrida tanto de espírito como de matéria. Os
místicos ao longo de décadas sempre souberam disso. E hoje, cientistas estão os
alcançando. Dar-se conta de que você tanto é humano como divino, é o ato de
Auto-lembrança que assesta o princípio fundamental para tudo que você aspira
fazer, e ser. Esse novo impulso evolucionário está agora despertando em nossa

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

psique, exigindo ser conhecido. Não mais nos vemos a nós mesmos como meros
egos necessitando de serem estabelecidos; estamos retirando a coberta de uma
verdade mais profunda de nosso ser, compreendendo (tornando real) que somos
tanto humanos, na aparência, como divinos, na essência. ...Ambos os lados de
nossa natureza têm de ser tornados legítimos agora, ou jamais nos sentiremos
íntegros.
“Viajando o caminho do despertar, afinal aprendemos que ser ‘apenas
humano’ não satisfaz mais nossa alma. É muito tentador experimentar ser
‘apenas espiritual,’ e elevar-nos acima de nossos problemas humanos, mas isso
não funciona, também. Nunca conseguimos transcender coisa alguma da qual
não somos curados e integrados em nossa vida pessoal.”7
A Fonte, ou o conceito do Criador, não é um Ser lá fora, em algum
lugar, separado de nós. É importante que qualquer idéia representando a Fonte,
como uma entidade separada Que nos julgue, de alguma maneira, seja
totalmente rejeitada. Para o propósito da presença do Amor ser compreendida,
por qualquer um de nós, temos de primeiro estar dispostos a abdicar toda noção
de um Deus separado, julgador e punitivo, agora e para todo o sempre. Crer que
a Fonte esteja fora e/ou acima de nós, nos torna desamparados. O conceito de
uma Fonte separada de nós nos enfraquece e nos nega nossa herança, por
direito, como um co-criador.
Para sermos verdadeiramente libertados e para introduzir, tanto pessoal
como globalmente, a paz, precisamos nos tornar cônscios de nossa
inconsciência. Só então conseguimos que medos e limitações sejam desfeitos.
Sensações de desconfortos agudos, qualquer senso de urgência sem nome, ou
insaciável sede de preenchimento, de falta ou carência, são todos sinais de um
chamado interior mais profundo. A dor da ignorância, de não saber que temos
estado, há muito tempo, inconscientes, está se tornando demasiada para
suportar. O fim do sofrimento e do caos se tornará nossa realidade, quando for
resgatada, e vencida, nossa percepção limitada de quem somos nós, o que seja a
Fonte, e o propósito a cumprir, pelo qual fomos divinamente criados.

A Evolução da Espiritualidade – Como começamos?


Originalmente existimos num estado de perfeita unicidade, significando que
nada existe fora, ou separado, de nós. Éramos – e ainda somos - tudo e tínhamos

7
N.T. – Small, Jacquelyn, The Sacred Purpose of Being Human, [O Propósito Secreto
de Ser Humano], p. 45-6. Livro sem publicação em português.
33
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

– e ainda temos – tudo. Estávamos – e ainda estamos – em toda parte, porque


toda parte existia – e ainda existe – dentro de nós. Não havia indivíduos, nem
coisa alguma a perceber, por pertencermos ao Infinito, e à amorosa
inclusividade da Fonte. Daí, uma idéia ocorreu dentro da unicidade, uma idéia
de separação, e apesar dessa idéia ter ocorrido em menos de uma parte de
segundo, ela, mesmo assim, eclodiu numa manifestação de dualidade. De
repente – “não mais que de repente“ – há cerca de 14 bilhões de anos atrás,
tempo, espaço e matéria emergiram, e nosso pedido de experienciar a dualidade,
aparentemente, se iniciou.
Um Curso em Milagres,8 chama, o conceito dessa aparente separação,
de uma “ínfima idéia maluca” e, agradecidamente, isso tudo é uma ilusão,
mesmo aparentando – a nossos olhos do corpo – ser real. Nessa ‘idéia’ foi
decidido experienciar algo diferente da unicidade Infinita. Entretanto, como a
Fonte não consegue criar, produzir, ou reconhecer, ilusão, nós fizemos isso
tudo. E para conseguir fazer isso – reconhecer a ilusão – entramos num estado
separado de sonho, no qual também fizemos, adormecidos, o tempo, o espaço, a
matéria e entidades separadas em aparente realidade.
Enquanto nossa mente Elevada continua eternamente “una” com a
Fonte, nunca havendo embarcado nessa ilusão de separação, o deludido ser-ego
depende inteiramente de projetar, todo o tempo, as noções e os testemunhos de
que este mundo seja real, e que somos todos corpos humanos separados, uns dos
outros, à mercê de um caos randômico. Mesmo assim, enquanto parecemos
estar aqui, sonhando essa experiência de sono a que chamamos vida, nosso Ser
Unificado está plenamente incólume, e continua ininterruptamente alegre,
estendendo Infinito Amor, numa Realidade da qual estamos despercebidos,
ainda, por enquanto.
Todos já tivemos pesadelos à noite, que experienciamos como reais,
enquanto dormimos. Entretanto, quando finalmente acordamos, o que
compreendemos? A primeira coisa que vimos foi de que isso fora tudo um
sonho. Nossa experiência como ego aqui é muito parecida com essa analogia, e
quando, finalmente, “despertarmos,” absolutamente nos rejubilaremos, não
apenas temporária, mas permanente e definitivamente.
No entanto, a Bíblia diz que um sono pesado caiu sobre Adão e não há, em
parte alguma referência ao seu despertar. O mundo ainda não experienciou
nenhum despertar, ou renascer, em escala absoluta. (T-2.I.3:6-7)

8
T-19.IV.C.5:6 UCEM
34
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Esta declaração, vista metaforicamente, sustenta a teoria de que Adão,


que representa nossa descida coletiva ao estado separado, se fez inconsciente.
Desse ponto em diante, o sonho da humanidade continuou a se desdobrar e, até
nossos dias, ainda não houve qualquer despertar global do sonho do ego. Isso
faz parecer que nós, junto com o sono de Adão, encetamos uma jornada mamute
para dentro do inconsciente. Entretanto, como em todo sonho, no final
despertamos para reivindicar nossa divindade, junto com todas as infinitas
bênçãos que vêm junto com ela.
À medida que o ego humano evolvia, e fortalecia sua idéia de resolução
de ser separado, também aumentou sua capacidade de adquirir relativo
conhecimento. Em outras palavras, nossos cérebros desenvolveram por
intermédio de busca de constante informação externa. Nasceu o pensamento
compulsivo, e o capital intelectual se tornou o premio mais invejado, e continua
altamente valorizado no mundo hoje.
Esquecemos que a Luz reside dentro de nós e é a única Fonte que
requeremos para viver uma vida de valor, e plenitude espiritual. A Sabedoria foi
esquecida, em favor da destreza intelectual, e acumulação material. Pensar e
fazer se tornaram atributos glorificados, enquanto os estados de ser de quietude,
reflexão e realização do ser, foram postos de lado.
À medida que o ego ganha mais independência da Fonte, aumenta
para ele o medo da Fonte. O medo de Deus poderia ser traduzido como uma
sensação de vergonha, projeção de culpa, raiva e acusação, e uma permanente
sensação de desamparo.Talvez sua manifestação mais comum seja a sensação
atormentada de que “algo está indo mal,” e a experiência de medo constante, de
alguma forma. Medo da Fonte em todo disfarce possível é, puramente,
insegurança quanto à presença do Amor.
Em termos evolucionários, indica que está na hora de “inverter tudo.” Já
andamos demais sem rumo por aí, e estamos longe de nosso intento original, e
agora está na hora de atender nosso chamado de volta à nossa verdadeira
natureza.
Começamos a reconhecer que criamos nossa própria realidade, por
nossa exclusiva conta, no aqui e agora. E isso nos levou, até agora, a evolver
suficientemente para captar o conceito inclusivo de uma vida de consciência
mais alta, dentro do mundo do tempo e da matéria. Alguns de nós despertamos
para a perspectiva de que não precisamos esperar até vencermos o mundo, ou o
corpo morrer, para reclamar nosso lugar por direito como um co-criador
Unificado. Conseguimos preencher todas nossas mais profundas aspirações com
nosso comprometimento de vontade inabalável de curar nossa própria mente

35
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

separada. Agora, mais do que sempre, é possível, e até mesmo imperioso e


inevitável, que a consciência humana, no final, despertará, criando, assim, uma
experiência de Céu na própria terra. Antes de despertarmos completamente do
sonho de separação, e experienciarmos o que Um Curso em Milagres chama de
“Sonho Feliz,”9 e isso acontece quando o ego for desfeito e a idéia ilusória de
separação e sofrimento for liberada.
Desfazimento é um relembrar sagrado, através do desaprender do que
nos impede de realizar, e – o que é melhor – experienciar, a essência de quem
somos. É uma reinstalação, ou revocar, da confiança e da certeza absolutas que
tínhamos antes de que nossa mente tivesse a ‘idéia’ de se tornar dividida. O
processo, em si mesmo, é dirigido pela Inspiração Universal, ou Divino Espírito
Santo, e o sucesso depende, inteiramente, de sua intenção, comprometimento,
vontade e disponibilidade.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-.

9
T-18.V.h UCEM
36
LEVA-ME À VERDADE N.Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

CAPÍTULO 2

O SER-EGO:
FEITO ATRAVÉS DE PROJEÇÃO

Comecemos indagando de nós mesmos as perguntas: “Quem sou eu?” e “Como


me defino?” Quem somos e como nos definimos? É por nosso papel primário
como pai, ou mãe, empresário, professor espiritual, artista, profissional liberal,
assalariado, desempregado ou estudante? Ou nos definimos por nosso valor,
conquista, desempenho, crença, personalidade, passado, instrução, experiência,
infância, corpo, idade, estado de saúde, ou talvez esperança, sonho, erro, ou
medo?
A maioria de nós, equivocadamente, confunde nosso significado, e
identidade, com um dos muitos acima. Somos obcecados por duas idéias: querer
ter o que pensamos não ter, por exemplo, objetos materiais, relacionamentos,
pessoas, boa carreira, fama, status, dinheiro, ou felicidade; e sermos o que quer
que seja que pensamos não sermos ainda, por exemplo, feliz, pacífico, amoroso,
saudável, rico, bem sucedido, e bom pai, ou mãe. A verdade é que nenhuma
dessas coisas citadas define quem somos agora, e nenhuma delas consegue,
possivelmente, ser usada para definir quem nós seremos ou nos tornaremos.
Antes que nos atrevamos a pensar que conseguiríamos alguma vez ser
plenos nesta existência terrena, temos de descobrir quem nós não somos. Uma
vez reconhecido esse fato, somos libertados para despertar para quem realmente
somos, e receber os dons ilimitados que advém desse conhecimento.
Temos sido conduzidos pelo ego a crer que somos seres humanos
independentes. Mas, para aceitar como verdadeira qualquer das coisas que
reivindicamos definir como nossa identidade, resulta em sermos co-dependentes
e severamente limitados. Tudo que essas definições fazem por nós é reforçar
nossas limitações. O próprio fato de que dependemos tão pesadamente delas
para o nosso sentido de ser, revela apenas como desavisados somos de nossa
própria dependência a condições externas, para fazer, ou desvendar, quem
pensamos ser.
Isso significa que, realmente, não sabemos quem somos; não
conhecemos nosso propósito verdadeiro que, de fato, nos preencherá. Então,
como possivelmente conseguiríamos ser, e nos manter livres do sofrimento, ou
encontrar felicidade verdadeira?
É uma percepção equivocada danosa aceitar como verdadeira a crença
de que “a felicidade depende de condições externas,” ou que não somos
inteiramente responsáveis por nós mesmos, e pela vida que criamos para viver.
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Ambas as idéias aportam a crença de que somos desamparados, e estamos à


mercê de um caos randômico. E ambas as crenças têm de ser reavaliadas, e
transformadas, antes que, honestamente, consigamos conhecer – em verdade –
quem somos, e comecemos uma nova vida, plena de propósito e significação,
em função dessa verdade. Reconhecer exatamente onde, equivocadamente,
colocamos nossa identidade e significado, nos mostra, também, onde investimos
nossa confiança. O que quer que seja que validemos, mental e emocionalmente,
é onde investimos nossa confiança na vida. Para a maioria de nós, essa
confiança foi depositada em qualquer parte, e em toda parte, exceto onde ela
pertence, com nosso “Ser Unificado”, o ser que fomos criados para conhecer e
expressar.
Para conhecer o Ser Unificado primeiro temos de examinar o ser-ego.
Precisamos identificar claramente, e obter uma visão objetiva do sistema de
pensamento destorcido, e equivocadamente orientado, responsável pelo
sofrimento, e desapontamento, no mundo que percebemos.

Que é o ser-ego?
Como mencionado antes, o ser-ego foi feito no ponto de separação que, há éons
passados, tivemos ‘idéia’ de pedir. No início havia apenas uma Vontade, e essa
era a expressão de eterna dádiva de Si Mesma, ou Amor Infinito, da Fonte. Com
a aparente formação do ser-ego, veio a aparente divisão de nossas mentes, e
aparentemente nos esquecemos de nossa Natureza Unificada, em favor de uma
falsa imagem que fizemos de nós mesmos, baseada na crença de separação,
medo e caos.
Vejamos o que faz a aparente entidade do ser-ego e o que
aparentemente faz funcionar seu sistema de crença para desaprender, desfazer e
tornarmo-nos, de novo, íntegros, reconquistando a Confiança. O ser-ego é um
aparente sistema de crença causado pela massa de culpa adquirida por
intermédio da aparente separação.
Na aparência, o ser-ego, inconscientemente, está em direta oposição ao
nosso Ser Unificado. Ele sabe que se separou da Fonte, e passa sua existência
em veemente negação de sua aparente traição. É assim que toda a dualidade
nasceu como bem e mal, e o estado de constante de busca do prazer e de fuga
da dor. O ser-ego se faz mais conhecido a nós por intermédio das preocupações,
que são os julgamentos e desejos, que injeta em nossa mente. A maioria, senão
todos os sofrimentos, são causados por essas suas distrações e experiências, ao
longo das emoções dolorosas. Entretanto, não ficamos conscientes desse

38
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

processo disfuncional, ou do fato de que isso dirige e conturba toda nossa


existência terrena.
No centro de todas nossas necessidades emocionais, além da incessante
busca por amor e/ou alegria, reside um sentido de invencível abandono, uma
sensação de persistente ameaça, e um sentimento de completa e permanente
inadequação. Infelizmente, isso é o legado do ser-ego a nós, e ele está sempre
tentando erradicar essas sensações antigas por intermédio de novas distrações.
A mais triste e a mais insana parte do passatempo do ser-ego é que ele
dirige nossos pensamentos, desejos, sentimentos e ações conseqüentes, sabendo
que nunca consegue nos satisfazer. Quanto mais lutamos para resistir, lutar ou
remover a dor, mais ela se intensifica. O ser-ego jamais encontrará a fonte de
todos os nossos desapontamentos e sofrimentos. Por quê? Porque ele mesmo é a
causa do problema. Expor isso o tornaria obsoleto para sempre, e de uma vez
por todas. Seria alguma surpresa que ele tema que você descubra e desfaça as
falsas percepções dele?
Perguntamos antes, “Quem sou eu?” Se não for para confundir nossa
identidade com exterioridades como nossos papeis, relacionamentos, carreiras,
conquistas, ou o passado, então conseguiríamos nos definir por nossos
pensamentos, ou talvez nossos sentimentos ou emoções? Ou conseguiríamos
definir a nós mesmos por nossos condicionamentos, crenças ou valores?
A resposta aqui é que você poderia muito bem se definir usando
qualquer dos exemplos anteriores; entretanto, ainda assim você só estaria
descrevendo a imagem de seu ser-ego. A pergunta “Quem sou eu?” nunca
consegue ser respondida com uma resposta fictícia.

Pensamento e Projeção. Pensar é Projetar?


Pensamento é uma energia independente, usada
Nós, de fato, é que pela vontade do ser-ego. Pensar, negativo e
positivo, existe unicamente em nossa ego-
damos ao pensamento
percepção, que é dual. Fora de nós, sem um
todo o significado que cérebro para perceber, o pensar não tem
tem para nós, em nenhum efeito. Pensamento não tem significado
todos os instantes de de si próprio.10 Nós, de fato, é que damos ao
nossas vidas. Não há pensamento todo o significado que tem para
pensamentos neutros! nós, em todos os instantes de nossas vidas. Não
Todo pensamento tem
sua conseqüência! E
10 todo pensamento é a
N.T. – E-pI.4, UCEM
causa de um efeito! 39
Nada acontece sem
haver primeiro um
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

há pensamentos neutros!11 Todo pensamento


tem sua conseqüência! E todo pensamento é a
causa de um efeito! Nada acontece sem haver
primeiro um pensamento, idéia, para causá-
lo! Portanto, pensamento significativo é crucial
para criar a vida que nossa alma anseia!12
Isso é vital e fundamental: temos sempre de estar muito atentos quanto ao que
pensamos, tanto em seu conteúdo como em sua qualidade.
Pensamentos criam crenças, que então nós projetamos para fora de nós,
sobre pessoas, coisas e situações, e essas crenças fora de nós são espelhadas de
volta a nós, para a mente que as projetou, com o que reforçam a crença original,
criada pelo nosso próprio pensamento. Crença, portanto, é criada através da
projeção e não é para ser tomada como realidade. Afinal de contas, nossas
crenças acabam sendo, unicamente, as projeções de nossos próprios
pensamentos – feitas por nós mesmos – que as aceitamos como se fossem reais,
porque são refletidas de volta a nós dessa maneira. O que pensamos – e de
pronto projetamos – se torna o que percebemos e o que percebemos se torna o
que cremos. Projeção faz a percepção.13
Quem, então, é o responsável pelo que
ocorre a nós, em nossas vidas? Se o pensamento
– projetado por nós mesmos – cria a realidade
que vemos, então nós mesmos temos de assumir O que pensamos
total responsabilidade pela presença de nossos – e de pronto
pensamentos – projetados por nós – que projetamos –
inconscientemente colocamos em nossa mente. se torna o que
Falando de realidade, a maioria de nossos percebemos e o que
pensamentos, crenças e valores ficam ocultos
percebemos se torna
de nossa mente consciente; mesmo assim, e não
obstante, são os responsáveis pelas experiências o que cremos.
que temos. Você consegue imaginar quanto Projeção faz a
temos de assumir responsabilidade por nossa percepção.
chamada “realidade”?
Todas as pessoas, eventos e circunstâncias que afetam nossas vidas são,
de alguma forma, feitas por nós mesmos (usualmente de forma inconsciente) ou

11
N.T. – E-pI.16, UCEM
12
N.T. – E-pI.1-19 UCEM
13
N.T. – T-13.V.3:5, UCEM
40
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

pelas crenças coletivas reunidas da população do mundo. Damos aos nossos


pensamentos todo o significado que têm para nós.14 São unicamente nossos
pensamentos que nos causam o que experienciamos, prazer ou dor, felicidade
ou infortúnio, paz ou sofrimento, Céu ou inferno. Não há outra causa de
opressão, ou libertação, que nossos próprios pensamentos, equivocados, ou
certos. Há, nisso tudo, uma feliz constatação: mesmo inexorável, sabemos que
nada externo à nossa mente consegue nos ferir; nada senão nossa própria
percepção nos afeta, sem erro ou exceção.
O mundo, que vemos diante de nossos olhos do corpo, nada faz por sua
própria conta, e não tem qualquer efeito, de forma alguma, porque ele,
meramente, representa nossos próprios pensamentos. Da mesma forma,
conseguimos mudar o mundo que vemos, mudando nossos pensamentos a
respeito dele. Se os pensamentos são a causa e o efeito foi nosso passado,
conseguimos mudar o passado interpretando-o de forma diferente. Isso é
“deixá-lo ir-se.” Um hábito muito ameaçador que o ser-ego tem é de tentar nos
convencer de que o ataque, de qualquer forma, seja real. Tendemos a ficar
imediatamente ofendidos por uma palavra que interpretamos como não
amorosa, dirigida a nós. Um Curso em Milagres nos diz:
...“O que projetas, tu acreditas” [e isso significa] ...que vais aprender o que
tu és a partir do que tens projetado sobre os outros e, portanto, acreditas
que eles sejam. (T-7.II.3:1,3)
A verdade aqui é que, se tendemos a experienciar um mundo hostil,15
isso é porque, quer queiramos ou não, estamos conscientes disso, nós abrigamos
essa mesma hostilidade, que sentimos no outro, dentro de nós. E se ficamos
acostumados a ver feiúra, indelicadeza ou até mesmo bondade nos outros, isso
é, de novo, porque, secretamente, nos apegamos à feiúra, indelicadeza, ou
bondade, dentro de nós. O que quer que seja que percebamos nos outros,
fortalecemos, por primeiro tê-la visto em nós.16 Então, a sabedoria nos diz que
sejamos mais atentos ao que pensamos ver nos outros, estejamos em vigília do
pensar, para desfazer o que seja que nosso próprio ser-ego esteja ocultando de
nós. No lado positivo, se tendemos a ver beleza interior nas pessoas que
encontramos diariamente, podemos estar seguros de que o que vemos é o
reflexo da beleza que sentimos em nós mesmos. O que reconhecemos nos

14
N.T. – E-pI.2, UCEM
15
N.T. – E-pI.22, UCEM
16
N.T. – E-pI.19, UCEM
41
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

outros, reconhecemos, antes de tudo, em nós mesmos, e o que compartilhamos


fortalecemos em nós mesmos. Então, dando-nos conta disso, podemos ser mais
vigilantes a respeito a como percebemos toda e cada pessoa que encontramos,
daqui para frente.
Criamos nossa própria realidade, e aumentamos essa realidade,
compartilhando-a. Uma crença coletiva ganha força e ímpeto porque ela é uma
projeção compartilhada entre as mentes. É por isso que precisamos nos fazer
mais atentos às nossas crenças inquestionadas e, abertamente, desafiá-las.
Na física quântica há um termo chamado o “efeito observador,” que
apóia a teoria de que nós criamos nossa própria realidade. O “efeito observador”
afirma que não há realidade, até o instante em que essa realidade seja
‘percebida.’ Tudo que observamos é afetado por nossa percepção dele. Isso
significa que conseguimos mudar nossas vidas, para melhor, ou para pior,
prestando atenção à qualidade dos nossos pensamentos, crenças e sentimentos.
“No mundo da mecânica quântica, no qual vivemos, nós, como observadores,
final e fundamentalmente, afetamos o universo quando o observamos ou damos
atenção a qualquer coisa nele.
“Então, o mundo realmente não é o que parece. Ele certamente aparenta
estar ‘lá fora,’ independente de nós, independente das escolhas que possamos
fazer. Mas a física quântica destrói essa idéia. O que está ”lá fora” depende
diretamente do que escolhemos procurar.”17
Por exemplo, na Figura 2.1 conseguimos ver tanto uma taça branca, ou
dois perfis, em silhueta, frente á frente. Mentalmente, reconhecemos que ambas
as interpretações existem, ao mesmo tempo. Entretanto, somos incapazes de
percebê-las concomitantemente. Quando vemos os dois perfis, estamos vendo
os dois perfis, porque é como os percebemos. No momento seguinte,
escolhemos ver isso como uma taça e, dessa vez, isso se torna uma taça, em
nossa percepção. A figura nada mais é que uma mescla de formas em preto e
branco, dependente de nossa própria percepção, para torná-la na realidade que
elejamos. Nosso mundo, também, é apenas uma massa de energia oscilante, a
que denominamos matéria, tempo e espaço. Tudo em nossa chamada
“realidade” é afetado pela maneira pela qual o percebemos, isto é, pelo que
escolhemos ver, destacar e focalizar, naquela duração de tempo.

17
Wolf, Fred Alen, Matter into Feeling, {Matéria em Sentimento}, p. 148. N.T. –
Livro sem publicação em português, até esta data.
42
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Até agora, todos nós, junto com o resto do mundo, escolhemos o


“objetivismo,” o que significa uma crença de que toda a realidade externa
emerge da mente e, mesmo assim, independente dela. A verdade é que,
entretanto, sempre temos criado, e continuamos a criar – por escolha nossa – a
nossa realidade, individual e coletivamente, em forma de matéria, conforme a
escolha de nossos pensamentos e crenças. Nenhuma realidade existe externa à
ou independente da mente, por ela estar apenas, e só, em nossa mente
Nosso mundo consegue ser, e será, miraculosamente, transformado
através da cura de nosso sistema de crenças, que armazenamos na mente. Isso
muda nossa percepção, e nossa vida se torna um magnífico reflexo da beleza,
Alegria e Amor que reconhecemos primeiro de tudo em nós mesmos, como
nossa própria verdadeira natureza.
Todo pensamento, crença, ação e atitude, que projetamos para fora, é
sempre refletida de volta a nós, mesmo que usualmente sejam, na aparência,
externos, e independentes de nós (Fig. 2.2). Se não estamos cônscios da
projeção, que nós mesmos lançamos, reagimos a qualquer pessoa, ou
circunstância, aparentemente externa, como se fosse randômica, ou separada de
nós. Para nós parece estarmos sendo vítimas da vida.18 Quando ficamos
cônscios da nossa própria projeção, assumimos a responsabilidade por nossas
próprias percepções, com o que assumimos uma vida vastamente mais
significativa.
Quer nos demos conta, ou não, estamos amplamente sob o
encantamento do sistema de pensamento do ser-ego. A vantagem de reconhecer
esse fato é que nos tornamos capazes de escolher abraçar uma maneira muito
mais poderosa de ver e, portanto, de criar nossas vidas.
Se escolhemos nossos pensamentos, então o que dizer de nossas
emoções, como tristeza, raiva, frustração ou ira? Repito, se não tivéssemos um
cérebro para interpretar o pensamento, não experienciaríamos emoção, porque o
pensar é a causa original da emoção. Toda emoção é “energia e movimento,”
vindo de alguma raiz do pensar, mesmo que esteja, frustrantemente, oculta de
nossa visão. Isso acontece porque, quando séria depressão, ansiedade, ou fobias
se assestam, nós, usualmente, recorremos à psicologia, ou psicoterapia, para
exumar as crenças errôneas, que causaram os sintomas a se manifestarem em
nossa psique.

18
N.T. – Eu mesma, antes de estudar o Curso, engolfada numa felicidade incompleta,
dizia que “a vida tem uma dívida comigo”... frase dramática, para uma novela
romântica,...mas inverídica.
43
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Entretanto, nós não escolhemos, conscientemente, uma emoção. Todas


as emoções que sentimos vêm de experiências, padrões de pensamento e
crenças assestados profundamente, que nos condicionam a responder
emocionalmente. Emoção, negativa ou positiva, é a maneira da psique chamar
nossa atenção. A emoção está ali por boas razões, mas, se não for
adequadamente entendida, considerada e dirigida, poderá, muitas vezes, virar-se
contra nós. Como faz ela isso? Dando causa a uma reação negativa nossa, a
emoção fere outros, e a nós mesmos. Se a emoção negativa for reprimida, e
freqüentemente é, vemos o resultado como doença, de diferentes maneiras, no
corpo. Se a emoção vem à superfície, é sempre importante estar alerta para
entender o que esteja nos dizendo. É o que fazemos com a emoção, e para onde
a dirigimos, que ela consegue se tornar ou capacitante, ou destrutiva.
Emoção, de qualquer forma, negativa ou positiva, em si mesma, nem é
boa, nem má. Estabelecemos, até aqui, que não somos nossos pensamentos, ou
nossas emoções. Eles não são quem somos. O mesmo consegue ser dito de
todas nossas respostas; em qualquer situação não somos nossas respostas.
Que dizer de nossos corpos? Conseguimos confundir nossa identidade
com o corpo? Porque, se fazermos isso, então conseguimos estar certos de que,
quando o corpo mude por doença, envelhecimento, ou morte, nossa identidade
será tragicamente esmagada. É importante nos lembrar que não somos nosso
corpo.

Livre Arbítrio
A Fonte criou o Estado Infinito (Céu, ou nirvana) que é eterno, e intocado por
nosso aparente estado de separação, no tempo e no espaço. Quando
aparentamos ter nos separado, adormecemos, e mergulhamos num sonho. Nosso
Ser Unificado pertence, e sempre pertencerá, ao Estado Infinito, mesmo que
nossa evolução terrena seja uma experiência de sonho. O mundo que vemos,
com os olhos do corpo, aparenta existir fora, e independente, de nossas mentes.
Toda forma de medo, inclusive raiva, ataque, carência e ansiedade, é sempre
fragmento projetado de nosso sonho e, portanto, consegue ser curado, por meio
de nosso despertar. Entretanto, enquanto crermos que esse sonho seja real,
nosso ser-ego é o diretor soberano de todas nossas experiências.
Ao tempo da aparente separação, quando nossas mentes pareceram se
fragmentar, fizemos uma vontade, ou intenção, que se moveu no sentido
contrário da Expressão Infinita da presença do Amor. Essa é a vontade de nosso
ínfimo ser, ou ser-ego.

44
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Para começar a compreender porque sua vontade é tão antagônica ao da


Fonte, podemos olhar à sua crença essencial. O ser-ego crê ter feito a si mesmo,
entretanto, em alguma parte, por trás de sua psique, ele sabe que existe fora dele
uma gigantesca Fonte, que fez tudo mais. Ele teme esse Poder, com toda sua
força, porque ele sabe que abandonou a Fonte, e continua a fugir Dela. Um
sentido de culpa, que não tem fundo, rege sua necessidade de manter o controle.
Ele tem um terror até mesmo de, alguma vez, ser descoberto e, com seus
pensamentos, projeta uma noção de que a Fonte seja separada, julgadora e
punitiva. Isso tudo é absoluta ficção. De fato, o ser-ego é tão temeroso de sua
fabricada noção dos castigos da Fonte, que ele entrega seus próprios
julgamentos e punições. Ele pensa que, por julgar e punir seu dono com doença,
acidente, ou culpa, ele escapará da total ira da Fonte. Induzir culpa entre nós é a
maneira do ser-ego evitar, e escapar, de uma ainda mais severa, mesmo
imaginária, resposta vingativa da Fonte.
No âmago do livre arbítrio do ser-ego, fica a crença em separação,
julgamento e retribuição. Nisso é que nosso ser-ego pessoal crê e,
assustadoramente, esse é o mesmo sistema de valor do qual a maioria de nosso
mundo opera, sem fazer perguntas, ou seja, atira primeiro e pergunta depois. Da
política e da lei às corporações, e ao nosso sistema educacional, as instituições,
inconscientemente, ensinam, e aprendem, medo, porque esse é o cerne, e o
fundamento, da natureza do ser-ego, tanto pessoal como global. Medo, e não
Amor, é o motivador oculto de todas as agendas, e planos, de livre arbítrio.
Toda dor, e sofrimento, todos os acidentes e desastres, não são causados
por um Criador irado e punitivo; A Fonte, que nos criou, nos outorgou sermos
Sua extensão, e entrarmos na dimensão do tempo e do espaço do sonho. Nossas
mentes se partiram, e com isso formamos a ilusão de corpos separados, junto
com a idéia de livre arbítrio. A amnésia temporária de nosso estado natural
inclusivo de Amor e Alegria, nos tomou, permitindo ao ser-ego, e à sua
percepção, baseada em medo, assumir os reinos de nossa vontade humana.
Quando nos damos conta disso, conseguimos começar a gostar que haja
uma ordem certa Universal em nosso mundo. Ele não é governado pelo caos,
ou influenciado por alguma força maléfica externa. Há só duas vontades
(intenções) neste mundo, ambas partem de nós, e uma dela não é real.
Examinemos ambas. A primeira é a nossa própria vontade, que valoramos tão
elevadamente.
A vontade do ser-ego é o intento subjetivo em movimento, através da
projeção; nomeadamente culpa, medo, julgamento, apego, controle,
pensamento, emoção, ter e tornar-se. A vontade do ser-ego foi concebida
45
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

através da separação, e é consumada pelo âmago da crença em culpa, medo,


controle, caos, escassez e luta. Sua vontade é subjetiva, e compelida, por sua
natureza, que é contrair, separar e projetar.
A vontade do ser-ego é intensamente pessoal, condicional, julgadora,
exclusiva, restritiva e comprometida, se bem que altamente competente, mesmo
que insana. Ela é, na maior parte, experienciada através do pensamento, do
tempo e da emoção. Por ter de manter controle total deles para sobreviver, o ego
os usa para assegurar que fiquemos entalados no ciclo enfraquecedor de buscar
prazer, com o que tentamos fugir da dor. A base desse sistema de pensamento
depende do apego às idéias de que ataque e defesa sejam reais, e que dar seja
sacrifício, ou perda. Nossa vontade pessoal (ego) não consegue conceber que
qualquer coisa de valor, tal como Amor, Alegria e Paz, quando compartilhados,
consigam sempre aumentar. Ele dá condicionalmente; ele dá para que conseguir
receber algo em retorno, sempre. Ao dar, percebe haver um montante finito a
dar, e fica bravo, em vários graus, quando seu dar não encontra reciprocidade.
Está convencido, e ensina, que dar só consegue significar sacrifício. Ele
fielmente resiste à realidade, se a realidade difere de suas expectativas. A
vontade de nosso ser-ego vai – inevitavelmente – levar ao sofrimento, à dor e,
quase sempre, à morte.
A Vontade do Ser Unificado é intento objetivo em movimento, através da
extensão, nomeadamente perdão, atenção ao momento presente, Amor, Alegria,
Paz, compartilhamento e inspiração criativa. A Vontade Unificada entende que
todo ataque, ou julgamento, é um disfarçado pedido de Amor, e que dar é
receber. A Vontade Unificada é inspirada no Amor e na Alegria Infinitos. O
ímpeto do Ser Unificado é se estender infinita e perenemente. Sua Vontade é
objetiva, e conhecendo-se como sendo integral e inclusivo, ele existe sem a
mente separada; ele é real, ela ilusória. Ele é experienciado através do perdão,
do estar atento ao momento presente, o agora, e guiado intuitivamente e por
inspiração criativa. Amando O Que É, aceita a realidade sem resistência. Ser
permissivo, aceitador, incondicional, impessoal, isento de conveniências,
transigências, acordos e limitações, são os atributos perenes da Vontade do Ser
Unificado.
...exercer uma vontade contrária à de Deus é apenas a projeção de um
desejo, e não uma disposição real da vontade. (T-11.V.5:3)
O conflito que experienciamos, então, fica entre os desejos vãos do ser-ego e a
vontade da Fonte, que compartilhamos. A última coisa que o ser-ego quer é que
descubramos que temos medo dele. E, de fato, estaríamos temerosos se
46
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

compreendêssemos que ele causa todo o medo que experienciamos, que,


literalmente, move e conduz todos os nossos conflitos, interiores, e exteriores.
Ele é a causa dos efeitos de todos aparentes desapontamentos, sofrimentos e
dores. Ele é competente, engenhoso e ardiloso, porém insano, em assegurar que
não descubramos o poço de medo que impulsiona nossa percepção equivocada
e, com isso, nos mantém em servidão. Por baixo do auto-elogio, e da visão
positiva que ambicionamos, o ser-ego nos considera superficiais, inacreditáveis,
distantes, insensíveis e sem compaixão. Toda resposta, todo pensamento,
sentimento ou ação que temos, de raiva, ameaça, frustração, solidão ou
depressão, são todas manifestações oriundas dos fundamentos de separação do
ser-ego, o medo. Ele, habilidosamente, disfarça todas essas respostas, e nos faz
crer que somos vítimas do caos randômico do mundo, do cosmos, assim depois
encorajando nossa dependência, e aliança, com ele.
Nossa liberação depende de abdicar da prisão da vontade do ser-ego e
aprender a deixar-nos ir para nossa herança natural, a Vontade Unificada.
Talvez o aspecto mais convincente da estratégia de nosso ser-ego seja sua
absoluta devoção indivisa a uma única meta de obter total autonomia da Fonte
para perceber, projetar e com isso causar separação de miríades de formas.
Quanto mais aparentemente randômico seja o caos, mais ele aumenta sua força.
Por causa desse seu foco total em buscar autonomia e separação, ele tem uma
vantagem, da qual podemos aprender algo. Nós, diferentes do ser-ego, ainda
não desenvolvemos uma visão e meta únicas que sejam infalivelmente
consistentes. Vacilamos incessantemente e não estamos, de forma alguma,
seguros de nossa visão, ou de nossa meta; é por isso que experienciamos
inconsistência, dúvida e conflito.19
Não é a Vontade Unificada que cria sofrimento, dor, caos e morte, de
nenhuma forma. Como conseguiria o Amor Infinito ser, ou causar, outra coisa,
senão Paz e Alegria, que é e que estende? Nosso propósito é nos lembrar, e
reivindicar, sempre, nossa própria Vontade-Verdadeira, a Vontade da Inspiração
Universal. Alinhamo-nos com essa meta, à medida que desaprendemos nossas
percepções equivocadas.
Não há caos aparente que a Vontade Unificada não consiga
reinterpretar, ou curar. Todo erro, que alguma vez cometemos, consegue ser, e
será, transformado, à medida do nosso reconhecimento dele, e pedido de
perdão, sentidos no coração. Uma vez removidas de nossa visão da mente as

19
N.T. – Essas inconsistência, dúvida e conflito nada mais nem nada menos é que falta
de fé, ou sermos “bule,” aquele que é de ‘pô-ca-fé.’
47
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

lentes do medo, conseguimos ver claramente que tudo que ocorre em nossa vida
é significativo e, perfeitamente, não randômico. Isso é explicado na seguinte
citação de Um Curso em Milagres:
O que deixarias de aceitar se apenas soubesses que tudo o que acontece,
todos os eventos, passados, presentes e por vir, são gentilmente planejados
por Aquele Cujo único propósito é o teu bem? (E-pI.135.18:1)

Medo e Agora
Um Curso em Milagres explica que há apenas dois estados, amor e medo.
O oposto do amor é o medo, mas o que tudo abrange não tem opostos. (T-
In.1:8)
O primeiro é o estado natural e original, de nosso Ser Unificado único. O
segundo, o medo, é o nosso estado falso, ilusório e impermanente, algo
manufaturado por nossa mente separada.
O Amor, mesmo imortal, só consegue florescer, e ser sentido, e
experienciado, na ausência do medo, porque medo, mesmo irreal, distorce nossa
ego-percepção, e nos cega com uma nuvem de confusão. Amor sendo –
aparentemente – oposto do medo, é uma essência infindável, que só conhece
como se estender, ou compartilhar a si próprio e, fazendo, isso ele aumenta, e
fortalece, tanto para o doador como o recebedor. A maioria de nós foi
condicionada a conhecer o medo, mais do que Amor, porque isso é no que a
nossa cultura mais investe.
O medo nos engana, distrai, conturba e perturba, em estados de
confusão, ansiedade e temor. Esperamos desmistificar seu jogo ilusório, e
prover uma alternativa poderosa para seu intento delusório, neste livro.
Quase todo o medo que experienciamos é desnecessário, e debilitante.
O único medo real que podemos necessitar ouvir, e atender, é alguma ameaça
física imediata, e imprevista, instintiva e, muitas vezes, sem tempo para pensar.
Vamos para uma resposta “lutar ou fugir,” como nossos ancestrais faziam
quando, de repente, enfrentavam um animal feroz faminto. Esse tipo de medo
“emergencial” é uma resposta inerente para garantir e manter a sobrevivência
física. Hoje em dia, raramente enfrentamos o medo emergencial. O tipo de
medo a que, mais provavelmente, estamos expostos é de natureza psicológica.
Ele só consegue afluir e sobreviver se ponderamos o passado, ou o futuro.
Todos os medos, usualmente, brotam de nossos pensamentos, nos projetando

48
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

para uma dessas duas ilusões. Se permanecermos focados no presente, no


agora, os medos do passado, e do futuro, não constituem ameaça.
Então muito do nosso medo está, inconscientemente, enraizado em
nossa infância, ou passado, ou crenças aprendidas. Todos os condicionamentos
com base no medo que absorvemos, desenvolveram-se em crenças que ficaram
longa, e largamente, inquestionadas. Essa parede de medo é o que nos limita,
em todos nossos relacionamentos; limita também nossa capacidade de atrair
abundância e de saber que somos saudáveis. O medo não nos permitirá gozar da
plenitude de coisa alguma.
Nosso condicionamento infantil foi, provavelmente, saturado de crenças
brotadas de palavras tais como: impossível, difícil, complicado, complexo, tem
de, deveria, não consigo, nunca e duvido que. Milhões de sementes de
limitação, cautela, insegurança, prudência, medo, incapacidade, fraqueza,
inexperiência e dúvida foram plantadas em nossas jovens, desinformadas e
impressionáveis mentes.20
Nossas mentes agora podem ser como uma coleção de filmes que
convocamos da memória, e passamos, para nós mesmos, conforme a situação.
Nós, de fato, vemos todo dia através de uma lente enevoada de limitações do
passado. Então, não estamos nos relacionando com a realidade como ela se
apresenta agora. Realidade, aqui, é o momento presente, inteiramente livre dos
passados condicionamentos da mente. Estamos de tal maneira condicionados a
perceber cada momento através das lentes lambuzadas de passado, ou a projetar
isso em algum momento futuro, que nos faz existir mais, ou totalmente, fora do
momento agora; isso significa que não estamos realmente presentes aqui e
agora. E, por causa disso, não vemos, ou ouvimos, nem atentamos para coisa
alguma, verdadeiramente. Tudo que realmente vemos, ou experienciamos, é o
distorcido filme velho, da memória do passado, que oblitera o momento do
agora de nossas vidas.
O momento do agora é o único tempo que existe na realidade. Tudo
que, alguma vez, experienciamos foram bilhões de momentos agora, mas a
questão é que não estávamos lá presentes, atentos, para vê-los. Estávamos
distraídos, ou ocupados, para viver na realidade tempo-espaço, por estarmos
morando num passado inútil, ou num futuro imaginado. Isso é uma maneira de
viver ‘de segunda mão’, não realmente aqui, nem agora, nem realmente em
qualquer parte real. Evadir-se do momento do agora é a maneira do ser-ego

20
N.T. – Toda crença destrutiva é baseada no medo e levada a cabo pela falta de querer.
Quem quer vai, quem não quer fica. “Quando há um querer, o caminho aparece.”
49
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

manter-nos presos mental, espiritual, emocional e fisicamente à armadilha dele.


Mais adiante, neste livro, olharemos a como acessar o momento do agora, e
examinar sua importância, no caminho para liberação.

Julgamento
Julgamento é um assunto que a maioria de nós entende equivocado. Ele é uma
qualidade valorizada do ser-ego, mesmo que todo seu fundamento, e o seu
transcurso, seja baseado em ilusão. Todo julgamento que o ser-ego faz, vem de
uma auto-imagem distorcida que, constantemente, busca prazer, enquanto tenta
fugir da dor. Ele crê ter-se criado a si próprio, e seja separado da Fonte, e todos
seus julgamentos são dirigidos no sentido de manter essa separação intacta e
inalterada. Como consegue o ser-ego possivelmente julgar corretamente? Ele
teria de ter um conhecimento Infinito, e atenção abrangente do passado,
presente e futuro. Seria requerido conhecer, antecipadamente, todos os efeitos
de seu julgamento em todos e tudo, neles e com eles, de todas as maneiras
possíveis. Precisaria estar plenamente ciente de nosso mais íntimo intento, em
todos os tempos, e em todos os lugares e circunstâncias. O ser-ego julgaria
como “mau,” ou trágico, um desastre que matasse milhares de pessoas. Por ser
ele baseado em separação e caos, ele não tem qualquer capacidade de perceber
qualquer milagre subjacente, ou ver a verdade que criamos, ou a realidade,
inclusive desastres trágicos, que percebemos. O ser-ego jamais invocará a sua
responsabilidade por criar a realidade, e sempre projetará culpa e acusação fora
de si mesmo, sobre a Fonte, pessoas, fatos ou circunstâncias.
O julgamento de “bom” para uma pessoa, pode ser “mau’ para outra. E
o que possa ter sido um “bom” julgamento uma vez, pode ser percebido como
“mau” numa outra vez. O julgamento do ser-ego é imprevisível e perigoso,
ilusório e danoso.
Usamos o julgamento todo o dia, mas o julgamento do ser-ego é sempre
baseado em projeções ilusórias, percebidas fora de nós. Quando atentamos para
isso, pode ser que nos tornemos mais cuidadosos quando tirarmos conclusões
apressadas a respeito dos outros. Não vemos os outros como íntegros; só vemos
um fragmento da pessoa, e o nosso ser-ego projeta esse fragmento tão
defeituosa e erradamente quanto ele descarta a realidade. Nosso ego projeta, em
pessoas que encontramos, qualidades, e defeitos, que podem, ou não, ser reais,
com o que distorce a realidade. Somos criados desde bebês a ser caçadores de
erros, pensando que ajudamos os outros com “crítica construtiva”. Tudo isso só
nos mantém num estado limitado que bloqueia estarmos cônscios da presença
do Amor, do Ser Unificado.
50
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

O desafio é praticar a permissão e a aceitação. O que damos aos outros,


damos a nós mesmos, e cada vez que, conscientemente, nos recusamos a julgar
alguém, chegamos mais perto de conhecer e aceitar a nós mesmos. Triar nossos
pensamentos por nos tornar observadores de nossas tendência de julgar ou
condenar, nos ajudará grandemente em conter, e enfraquecer, os hábitos
destrutivos do ser-ego.
Não somos nossos pensamentos, crenças e emoções, porque esses estão,
também, sujeitos às nossas próprias projeções errôneas. Não somos nossos
papéis, nosso passado, personalidade, conquistas, corpo, esperanças e medos.
Esses todos são fragmentos mutantes do que cremos ser de verdade, agora.
Entretanto, esses também estão sujeitos a distorções pelo ser-ego e, portanto,
não são reais.
Não somos o ser-ego, nem somos sua percepção. Apenas reconhecer
isso, como um fato, já é um primeiro passo corajoso na direção de descobrir
quem somos, realmente, junto com o propósito majestático que nascemos para
cumprir.
Onde quer que até agora tenhamos investido nossa confiança, é a
direção para onde nos dirigimos. Confiar na ilusão do ser-ego nunca nos deu,
nem nunca nos dará, aquilo que tão profundamente ansiamos. Se, em nosso
âmago, queremos muito uma comunhão absoluta com o Próprio Amor, e se
queremos conhecer a Alegria, a segurança, a abundância infinita e a Paz
Unificada, temos de desejar conhecer o nosso Ser, o Ser Unificado interior
único. Esse é o Ser que responde à Vontade Unificada, e é o instrumento para a
Sua expressão.
Um pré-requisito essencial e inevitável para revelar nosso Ser
Unificado, e sua ilimitada percepção, representa a dissolução, ou o
“desfazimento,” do ser-ego. Referimo-nos a esse processo como “liberação do
ego,” ou morte do ego. Entretanto, o propósito único do Desfazimento é o de
reverter, ou desmanchar, o sistema de pensamento disfuncional do ser-ego. Não
há ‘morte’ efetiva envolvida; em vez disso há uma abdicação voluntária de tudo
que seja falso e destrutivo. Esse processo é tornado muito mais fácil se,
consistentemente, nos lembramos de que
Eu não percebo meus maiores interesses. (E-pI.24),
e nos disponibilizamos a nos render à Inteligência Mais Elevada que percebe.
Adyashanti explica isso mesmo, a partir de outra perspectiva:

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

“Quando o desempenho chamado ‘ser um humano’ termina, chamamos a isso


morte. Fica muito mais fácil se deixares esse desempenho ‘morrer’ antes mesmo
que o corpo morra, e pô-lo para descansar agora.”21
Somos seres buscando integridade, depois de éons atuando através de ilusão, e
separação. Isso requer de nós a renúncia de nossa falsa percepção disfuncional.
Isso é a reversão de um sistema de pensamento separado que, sistematicamente,
elimina todos os bloqueios existentes à consciência da presença do Amor.
Os resultados cumulativos dessa reversão são confiança aumentada na
perfeição da Vontade Unificada, e uma capacidade, cada vez mais profunda, de
deixar ir as limitações anteriores. Aprendemos a reconhecer e a abraçar o Amor
e, como retorno, ficamos sabendo que somos o Amor.

Sentido equivocado de Perder por Si Mesmo a Identidade do “eu”, “me”,


“mim” e “meu”
O ser-ego se crê ser separado, e – por isso mesmo – só, e investe todo seu
conceito de auto valor na idéia de “eu”, “me”, “mim” e “meu.” Quando criança,
muito cedo aprendemos a ligar nosso sentido de ser a toda espécie de objetos,
pessoas, locais e condições. Quando nos tornamos apegados a algo como
brinquedo, cobertor, ou outro objeto especial, automaticamente rotulamos isso
como meu. Dando ao objeto o status de meu, também dou a ele o poder
destrutivo de ser um gênero de extensão do ser, ao qual também rotulei de meu.
Faço-o meu, junto com o identificá-lo como parte de minha identidade
estendida, um falso substituto de meu ser. A aquisição de coisas, como
equivocadamente aprendemos, parece acrescentar substância ao nosso
desenvolvimento de auto-imagem.
Esses objetos especiais que desejamos, e cobiçamos, foram
classificados de ‘nossos,’ como partes de nossa identidade. Muito cedo
aprendemos a colocar grande valor pessoal a essas coisas, confundindo-as com
o que realmente somos. O que somos nada tem a ver com o que nos
identificamos. Porque, verdadeiramente, quem somos não precisa de, ou requer
– objeto, pessoa, lugar ou circunstância, tempo ou espaço – coisa alguma para
ser, ou tornar-se completo.
A armadilha que nos enganou a todos, como crianças, era baseada em
ignorância. Não aprendendo a reconhecer, nem valorizar, o ser real (Ser

21
Adyashanti, Emptiness Dancing, p.18,20. N.T. – Vazio Dançante, livro sem
publicação em português.
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Unificado), fomos induzidos a ‘fazer’ um, para substituí-lo. À medida que


aprendíamos a identificar, pessoalmente, nosso senso de ser com coisas extras
acrescentadas, tais como, atitudes, crenças, opiniões e valores, o ser-ego
arrebanhou ainda mais força. Como partes ilusórias de nossa imagem,
colecionamos miríades de julgamentos, e os assimilamos. Daí, se achamos que
nossas crenças são, ou estão sendo, postos em risco, nos sentimos ameaçados,
ofendidos e, muitas vezes, retaliamos.
Quando quer que tenhamos a sensação de estarmos sendo ofendidos, em
risco, ameaçados, ou nos sintamos defensivos, usualmente isso será porque,
pessoalmente, nos fizemos identificados com algo – idéia, crença, situação,
circunstância, local, pessoa ou opinião – que não é consistente com o que
somos. A Verdade, intangível por sua natureza, por certo, é que “nada real
consegue ser ameaçado,”22 então que é isso contra o qual o ego está se
defendendo? O que quer que isso possa ser, não pode ser real, porque a Verdade
– intangível e inameaçável – jamais precisa de defesa. Então, o que e do que
estamos nos defendendo?
“Você está defendendo a si mesmo [o corpo], ou seja, a ilusão de si mesmo,
a mente substituta fabricada [ego].”23
Dito muito simplesmente, confundimos nossa identidade (Ser
Unificado) quando, emocionalmente, nos pespegamos a algo. Fazemos isso, na
maioria das vezes, com os conceitos de “eu”, “me”, “mim” e “meu”. Quando
consciente, ou inconscientemente, reivindicamos a propriedade, posse ou o
domínio, de pessoa, desempenho, objeto, lugar, resultado, crença, opinião, ou
que seja, é quando os tomamos por nossa essência eterna, nossa real identidade.
Reivindicar propriedade de coisas, fatos, sentimentos, emoções, interpretações
ou circunstâncias – como doenças, atitude de vítima, ressentimentos e
incapacidades – consegue, também, incluir identificações negativas. Por
exemplo, dizer, “Sou um sofredor de alergia,” ou “Sou um portador de ... aids,”
faz você literalmente afirmar a você mesmo, e aos outros, que sua identidade
está entrelaçada com... alergia, aids ou que seja, a que se atribui a si mesmo, em
virtude de diagnóstico clínico do corpo ilusório. A Verdade é que sua identidade
é íntegra, pura e imune a toda e qualquer influência externa. Sem nos darmos
conta disso, nos descrevemos a nós mesmos em termos de nosso mal estar, ou

22
N.T. –T-in.2:2, UCEM
23
Tolle, Eckart, A New Earth, [Uma Nova Terra], p.68
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

sofrimento corporal ilusório. Daí mal estar, condição e sofrimento, se


confundem com nossa identidade.
Quando quer que seja que nos tornemos transtornados, isso, quase
sempre – para não dizer taxativamente sempre – é porque equivocamos
outra coisa como sendo nós mesmos, nos esquecemos de que nosso Ser
Unificado é íntegro, perfeito, curado e sem necessidade alguma de substitutos
ilusórios. Meu sócio, meu emprego, meu carro, meu filho, minha idéia, minha
casa, meu...ou minha ...o que seja, conseguem, muito mais depressa do que
imaginamos, se tornar substitutos de nosso verdadeiro sentido de ser.
Conseguimos dizer dessa forma quando isso ocorre por nossas reações
emocionais à perda, ou mudança, de qualquer das citadas acima. Medo, raiva, e
necessidade de controle são sinais indicativos dessa confusão.24
O processo de despertar sempre incluirá desafios que ameaçam o que
quer que seja que estejamos mais apegados; o que quer que seja que tenhamos,
erradamente, apegado à nossa identidade. Durante o processo, o sofrimento que
sintamos é a exclusão do fator de propriedade. Uma vez desistamos do conceito
de propriedade, e posse, como acima descrito, não mais tomaremos as coisas
pessoalmente. Conseguimos continuar a apreciar a experiência de algumas
dessas identificações satélite. Entretanto, não mais estarão contidas em nossa
identidade.
À medida que evolvamos, os rótulos “eu”, “me,” “mim” e “meu” vão se
tornando cada vez menos requeridos e necessários, e cada vez menos presentes
em nosso vocabulário, e quando sejam requeridos são usados, puramente, por
razões práticas. Vencer a necessidade de reivindicar propriedade de alguém, ou
alguma coisa, remove o vício do ego de apegar-se a pontos de vista mentais
fixos, que sempre servem para convidar o caos, através de suas necessidades
ilusórias de serem adquiridas, protegidas e defendidas.

A teoria Bracelete
O ego, como um sistema de pensamento equivocado, pode ser equiparado a um
bracelete de múltiplas contas, com cada conta representando uma crença
errônea (Figura 2.3). Essas contas se consistem de ambos, o consciente e o
inconsciente, muitos dos quais brotam de herança ancestral, raça, tribo, nação,
cultura, e/ou família. Condicionamentos passados, educação, experiências, e

24
N.T. – Se queremos nos descrever em termos de ilusão, que sejamos então uma ilusão
boa, benéfica, como Sou o próprio carnaval... por estar desfilando numa escola de
samba, vá lá que seja. Ilusão por ilusão, prefira as de contentamento e efusão.
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

meio ambiente também contribuem para a formação de nossos valores, apegos e


opiniões. Cada conta que juntamos à coleção, como uma barreira opaca, nos
bloqueia o conhecimento da presença do Amor nos outros, em nossas vidas e
dentro de nós mesmos.

Erros Potenciais Identificam Contas (Ego)

•Parceiros •Opiniões, valores •Medos


•Relacionamentos •Imagem de corpo, saúde, •Desejos, carências
idade
•Careira ou negócio •Crenças, apegos, •Condicionamentos
•Filhos, pais •Doenças, incapacitações •Educação,
instrução
•Família, parentes •Objetos materiais •Hábitos
•Finanças •Amigos, inimigos, desafetos •Dependências
•Passado, futuro •Autoridade,disciplina, ordem •Experiências
•Emoções •Política, poder, notoriedade •Desempenho,
status
•Pensamentos •Nação, raça, tribo •Conquistas,
fracassos
Cada uma dessas histórias nos dirá quem somos nós e o que queremos ser, na
ilusão. Entretanto, raramente elas nos conduzirão à plenitude e Verdade.
Cada conta do ego de auto-identidade equivocada que adquirimos,
reforça ainda outro ponto fixo de resistência mental e adiciona mais uma
obstrução ao conhecimento da presença do Amor. Quando identificamos algo
como “meu,” confundimos o objeto, pessoa, crença, opinião, emoção, ou
pensamento com o quem nós somos. Daí, quando qualquer um desses fica
sujeito à perda, ameaça, ou mudança, encontramos sofrimento, tristeza,
ansiedade, angústia ou até mesmo depressão. O ego, tomando as coisas
pessoalmente, sente-se pessoalmente ameaçado quando ele percebe julgamento
ou ataque a qualquer uma de suas contas de identidade equivocada, que colocou
em seu bracelete de tormentos.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

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LEVA-ME À VERDADE N.Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

CAPÍTULO 3

O S E R U N I F I C A D O :
CRIADO ATRAVÉS DA EXTENSÃO

O Ser Unificado é um fragmento sagrado de um espelho imaculado que foi – na


aparência – quebrado há éons atrás, quando parecemos ter escolhido o sonho,
para aparentemente nos separar e ilusoriamente vir a encarnar, nesta dimensão
de espaço e tempo. Ele é a parte pura e sagrada de nós mesmos que, na verdade,
nunca deixou Sua Fonte. Nosso Ser Unificado é o guerreiro místico que
conhece tudo, todos os lugares e todos os tempos, no mesmo instante. Sendo
independente da mente, ele nos vê, e às nossas vidas, a partir de uma percepção
pristina.
O Ser, íntegro e curado, é dirigido, unicamente, pela Inspiração
Universal (Divino Espírito Santo) e é a parte de nós cujo propósito é expressar a
Vontade Unificada, aqui na terra. A Inspiração Universal atua como nosso elo
de comunicação entre a Fonte e nosso Ser Unificado. Quando operamos a partir
do Ser Unificado, estamos efetivamente alinhados com, e por isso instrumental,
ao miraculoso jorro de Amor, Alegria, Cura e Paz, que é o nosso propósito.
O Divino Espírito Santo está em ti, num sentido muito literal. Sua é a Voz
Que te chama de volta para onde antes estavas e estarás outra vez [porque
jamais a deixaste]. Mesmo nesse mundo é possível ouvir apenas essa Voz e
nenhuma outra. É preciso esforço e muita disposição para aprender. (T-
5.II.3:7-10)
A Inspiração Universal é a inspiração compartilhada de toda humanidade. Ela é
a energia/luz do Ser Unificado, que induz a miraculosa claridade de visão que
desfrutávamos antes da aparente separação, e ainda a desfrutamos .
O Ser Unificado é ilimitado por não ser governado pelo tempo, espaço,
lógica ou razão. Por isso Ele é referido, com freqüência, como o co-criador, cuja
natureza é Amor, Alegria, Paz, em abundância ilimitada. E é isso o que Ele quer
para nós, que:
• Reconheçamos nossas capacidades como um co-criador.
• Reconheçamos nosso propósito na vida; despertar do sonho.
• Demo-nos conta de nosso pleno potencial prístino.
• Reexperienciemos absoluta certeza e confiança na Ordem Universal.
• Revivamos em Amor, Alegria, Paz e abundância ilimitada.
• Inspiremos outros a ser e ver Amor, que é tudo o que somos.
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Toda sua estrutura de referência é baseada no oposto do ser-ego. O Ser


Unificado é a essência pura do Amor, que, por isso, não consegue perceber
medo; difere do ser-ego, que nasceu no medo, quando o ser pareceu dividir-se
da Fonte. Os dois nada têm em comum; suas metas são diametralmente opostas.
Quase todos nós, a um tempo, ou outro, fomos, grandemente,
desafiados por essa ilusória mente dividida, que nos leva a conflitos interiores.
Por exemplo, nossa intuição pode nos dizer alguma coisa, mas parece que a
mente dividida nos vence, com lógica e razão e, mais tarde, lamentamos não ter
ouvido a urgência intuitiva. A voz do ser-ego é, frequentemente, a mais alta, e a
primeira a falar. Ela depende do intelecto para todas as soluções de questões. O
Ser Unificado usa a intuição, como seu modo infalível de comunicação, e
solução de questões.
A intuição é abstrata, e não linear, como o intelecto. Ela trabalha
independentemente do temo e do espaço; portanto, pode parecer, por vezes,
irracional para nossas mentes. Sendo um conhecer, ou prever, ela opera em
saltos, sem qualquer procedimento lógico, equação ou fórmula; ela “apenas
sabe’.
O intelecto é severamente limitado em sua capacidade de perceber
qualquer outra coisa que as do mundo. Enquanto isso possa ser duro de crer, o
intelecto tem apenas uma fração da capacidade de conhecer da intuição. De
fato, nossa intuição tem a chave do absoluto conhecimento, que o intelecto
jamais consegue nem começar a alcançar. A intuição trabalha fora de qualquer
possibilidade de explicação, porque ela, literalmente, interconecta além do
tempo, do espaço e da matéria.
Nosso intelecto é útil, mas em parte alguma consegue ser tão valioso
quanto a intuição. Infelizmente, nossa cultura ainda confia no intelecto e
marginaliza, evita, a intuição. Basta olhar para nossos sistemas educacionais
para ver que o fundamento e as metas da educação são todos relativos ao
intelecto e à acumulação de habilidades. Conhecemos alguma graduação de
faculdade, mestrado, doutorado ou PhD para Sabedoria Intuitiva?
Intuição requer confiança e entrega totais. O ser-ego é viciado em
controle, e usa a mente para prover e sustentar esse controle. Ele mantém um
modo constante de pensar e avaliar a mente, para sustentar seu controle. Ele
analisa, compara, e racionaliza, para controlar o passado e o futuro, em cada
momento da existência. Quando o pensar ocupa a mente nessa extensão, não
temos nenhuma abertura para a intuição. A verdadeira inteligência ocorre
quando a Intuição se torna o que move e, habilidosamente, dirige o intelecto,
quando preciso. Nosso mundo é baseado, e funciona, através do intelecto apenas

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

e, por causa, disso perdemos muitas oportunidades miraculosas.. Se apenas


soubéssemos quão limitado é o intelecto, então estaríamos dispostos a descobrir,
e confiar mais em nossa intuição, e buscar a sabedoria verdadeira, nela
residente.
Aprender a confiar na intuição requer prática regular. É necessário
aquietar a mente separada, e tornar-se observador dos pensamentos, sensações
e sentimentos. Nossa resposta intuitiva jamais mente para nós; nós é que não
tenhamos prática bastante em detectá-la, consistentemente. Por exemplo,
digamos que você esteja numa situação na qual você deseja comprar um carro
usado. Você quer estar seguro e confiante, para fazer uma boa compra, e não
comprar um bagulho. Isso é um desafio, porque você não tem conhecimento
suficiente de mecânica. Você gostou de dois carros, mas um lhe parece melhor
compra, porque é mais novo. A lógica, e a razão, lhe dizem que o modelo mais
recente é a escolha óbvia. Mesmo seu mecânico, depois de uma conferência
rápida e superficial, pela lógica confirmaria o óbvio. Mesmo assim, em algum
lugar em suas entranhas, há uma sensação sutil, incomodando, de que o modelo
mais novo não é exatamente o bom. O que você faria?
Tipicamente, nessa situação, a maioria de nós desprezaria a intuição, em
favor de toda lógica ‘objetiva’ dos fatos, que salta em sua oposição. Entretanto,
se estivéssemos treinados a estar mais afinados com nossa intuição, daríamos
um passo atrás, e focalizaríamos naquela urgência intuitiva, que nos avisa a não
comprar o caro mais novo, a despeito da falta de evidência lógica. Através da
prática, e da experiência, confiaríamos mais na sensação intuitiva incomodante
de que o carro mais novo não está bom. Um tipo de premonição revela a nós
que o carro mais novo está por desenvolver um problema de motor maior, que
iria nos custar tanto quanto estava sendo cobrado pelo carro.
Isso é intuição. Se valorada, e nutrida, de forma adequada fica
prontamente disponível para nós, a todo o momento de nossa vida. Confiar
nessa ferramenta maravilhosa pode nos salvar de muitos erros dispendiosos, em
todo aspecto da vida com pessoas, circunstâncias e considerações materiais.
A chave para revelar nosso Ser Unificado, e Sua voz intuitiva, é a
entrega. A menos que estejamos disponíveis a entregar todas as nossas
suposições, condicionamentos e conhecimentos, não conseguiremos cingir,
aproveitar essa dádiva preciosa. O ser-ego pensa que sabe tanto; entretanto, tudo
que faz é supor, tirar conclusões, e projetar ilusões sobre os outros. Ele, muito
sem competência, apenas limita nossa capacidade de confiar e experienciar a
verdadeira liberação.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Precisamos acarinhar a incerteza, porque aí encontramos a confiança.


Na incerteza, a entrega é o caminho. Aprendendo a confiar em nosso Ser
Unificado, ficamos liberados da constante obsessão do ser-ego pelo intelecto,
como a suprema inteligência, e proteção. À medida que nossa percepção se
torne mais curada e íntegra, claramente vemos nosso Ser Unificado.
Reconheceremos que o ser-ego, com sua estrutura limitada de inteligência, não
consegue nos levar além de suas capacidades limitadas. Unicamente o Ser
Unificado, unido à Fonte, ilimitada em sua natureza, através da Vontade
Unificada, consegue, alguma vez, revelar dentro de nós as dádivas que, como
co-criadores, nascemos para apreciar.

Eu não percebo os meus maiores interesses25


Dissemos que muito do que nosso ser-ego aprendeu terá de ser desaprendido, se
temos de encarar, nesta vida, nossa própria verdadeira natureza e propósito.
Provavelmente, o primeiro de todos os reconhecimentos conscientes a ser feito é
o fato inegável de que “não percebemos nossos maiores interesses.” Nosso ser-
ego não faz absolutamente nenhuma idéia do que seja melhor para nós, e
sempre nos conduzirá à confusão. Para começar o processo de Desfazimento, é
importante manter nos relembrando de que, “Eu não percebo os meus maiores
interesses.” Isso ajuda a mudar o equilíbrio de poder do ego para o Ser
Unificado, e estimula nosso desejo pela Vontade Unificada de fluir através de
nós, na forma de intuição.

A ilusão de Ataque
Uma das crenças mais fundamentais que requer total reversão, e nada menos
que isso, é a crença em ataque, em todas as formas concebíveis. Para
começarmos a reconhecer quem somos nós na Verdade, temos de estar
disponíveis a abdicar a noção, profundamente assestada, e enraizada, de que
somos todos separados, e diferentes, uns dos outros. Em nosso âmago, somos
todos um só, e o mesmo, tendo sido todos criados absolutamente no Amor, pelo
próprio Amor Infinito, pela Fonte. Nossa missão agora é redescobrir nossa
conexão, uns com os outros, e com a Fonte; temos de alcançar o total
conhecimento de que, de fato, somos só e unicamente Amor. Nossa missão é
alcançada pela relembrança de ver o Ser-Sagrado em todos, e em cada um, ao
nosso redor. Eles são decisivos para nossa própria cura e inteireza.

25
N.T. – E-pI.24.h, UCEM
60
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

No grau em que formos capazes de ver através do ser-ego superficial


dos outros, com suas crenças, valores e comportamentos, no mesmo grau
veremos nossa própria autenticidade. Quando formos capazes de desconsiderar,
nos outros, o erro do ser-ego, isto é, quando nos abraçarmos a capacidade de
incorporar o Amor, necessário para conhecermos, verdadeiramente, quem
somos.
O ser-ego nos vê a todos separados, e entronizou a ilusão irracional de
que estamos em constante risco de perda, e em expostos a sermos atacados, a
todo instante. Para evitar a perda, ele então justifica as defesas, e explica o
contra-ataque. Nossos valores, crenças, opiniões, propriedades e corpos são
vistos em constante ameaça de ataque. A vergonhosa crença do ser-ego de que
esteja separado da Fonte, e por isso requer proteção especial, está no centro de
nosso investimento no pessoal. Por pessoal queremos dizer que o ser-ego
sempre vê as coisas individual e pessoalmente e, em conseqüência, toma todas
as coisas sobre si mesmo. Ele é refinado em sua capacidade de analisar,
interpretar e concluir coisas racionais, tanto da defesa, como do ataque. Sua
conclusão é sempre para se defender, ou atacar, e projeta as razões disso sobre
os outros. Se qualquer dessas conclusões envolvem a percepção de ataque,
podemos estar certos de que o ser-ego conjurou uma imagem, e a projetou, para
que isso consiga ser justificado por nós. Sob qualquer circunstância, ele não
consegue conhecer a realidade da situação, como esteja ocorrendo no momento
agora, porque – nesse momento agora – está projetando uma imagem criada por
ele mesmo, não pela Verdade. Essa imagem que ele projeta é sempre baseada
em experiências passadas, ou temores futuros, pois o ser-ego não tem – de
forma alguma – como ver, atuar, ou se mover, verdadeiramente, no agora.
Admitir a presença do Ser Unificado requer de nós, quando percebemos
ataque, suspender nossa usual reação de tomar como pessoal a ofensa. Isso
exige uma disciplina em treinar – de novo – nossas mentes. Para
experienciarmos liberação, primeiro precisamos liberar os outros e, ao
suspender nossos julgamentos usuais, aprendemos a ver, a nós mesmos, numa
luz mais pura. Nossa intuição, com isso, também é fortalecida, à medida que ela
nos alerta de quaisquer obstáculos, ou oportunidades, que o julgamento
enevoado de nosso ser-ego, previamente, obscureceu.
Na própria base da existência do Ser Unificado está o conhecimento
fundamental de que todo dar é receber. Isso está em contraste direto com a base
do ser-ego, em sua verdadeira existência, que é buscar para receber
para si mesmo, dar para ganhar, e a crença de que o que alguém queira, outro

61
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

vai ter de abrir mão disso. Para o ser-ego, dar significa perder algo. Ele não tem
a mínima idéia de que “todo dar, verdadeiramente, é receber.”
O QUE QUER QUE DEMOS, CONSERVAMOS; essa é uma verdade
universal. Exemplo disso é: se temos a intenção de perdoar alguém que
amamos, escolhendo desconsiderar um erro, em retorno recebemos essa mesma
dádiva que oferecemos. Podemos não ficar conscientes disso, naquele momento,
mas, cada um e todos os atos de perdão que praticamos, libera-nos,
imensamente, enriquecendo nossas vidas de modos e maneiras que antes jamais
conseguiremos imaginar.
Se, por outro lado, culparmos, ou condenarmos, outro, estamos, de fato,
também, dando algo. Isso também conservaremos. Nesse instante, estamos
dando julgamento, raiva, ataque, e culpa. O princípio dar é receber, nesse caso,
permanece exatamente o mesmo; o que quer que projetemos, ou dermos a outra
pessoa, invariavelmente acumulamos internamente. Feiúra dada, retorna como
feiúra, e aquele tipo de caos consegue ser visto ocorrendo em miríades de
formas ao longo da vida.
Como dissemos, anteriormente, todo pensar é uma causa. Não há
pensamentos neutros [ineficientes, inconseqüentes, inócuos ou nulos]. Se cada
pensamento que temos causa – necessária e obrigatoriamente – um efeito, você
consegue imaginar qual seria o efeito cumulativo de fazer, ou ter feito, milhares
de julgamentos falsos? Especialmente agora que nos damos conta de que tudo
que damos – tanto de bom como de mau – retorna à sua fonte? Não há como
escapar dessa verdade, que não tem exceção. Aliás de nenhuma Verdade
escapamos. Entretanto, conseguimos decidir a ser preparados, antecipadamente,
a respeito disso, e melhorar imediatamente, a nós mesmos, e nossa qualidade de
vida, mantendo-nos atentos quanto a nossos pensamentos, sensações e ações.
Simplesmente parando quando a raiva surja,26 e decidindo-nos a observar
nossos pensamentos, emoções, sentimentos e sensações – para ‘escolhê-los
outra vez’ – é uma liberação maravilhosa. Dando-se conta de que você não é
seus pensamentos, nem suas sensações, e que você consegue eleger se
desconectar – do pensamento e/ou da sensação – e se observar é,
provavelmente, a maneira mais rápida de transformar sua vida. Esse processo
será discutido em detalhe na seção “O Momento Agora”.
Em cada, e em todo, encontro que temos com outro, nos é dada a
oportunidade tanto de ou nos aprisionar, ou liberar, a nós mesmos.

26
N.T. – Fazer um “stop”, (parada) como diria Gurdjieff, para se observar e, se preciso,
“escolher outra vez.”
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Conseguimos escolher descartar o erro, e ver a Verdade, ou conseguimos


reforçar o caos em nossas vidas, por escolher perceber o ser-ego como real.
Tudo que damos, nós conservamos conosco.
Unicamente o próprio Amor consegue aumentar toda vez, por ser
compartilhado. A extensão assegura seu aumento. Todo pensamento amoroso,
ou toda oportunidade que dedicamos a pensar, ver, sentir, ou agir, de forma
amorosa, tal como perdoar, ouvir, agradecer, permitir, aceitar e dar, é
manifestado como amor tanto em nós mesmos, como em nossas vidas. Quanto
mais dermos, mais recebemos, e isso se mantém, se estende infinitamente.

Dar Inconsciente
Há alguns de nós, entretanto, que dão ao ponto de cometer erro. Há alguns que
apenas não conseguem dizer “não” e tornam suas vida um infindável ato de dar.
A freqüente sensação que acompanha todo esse dar é exaustão, ressentimento
ocasional, e talvez uma inconfortável sensação de ser usado, manipulado, sem
se dar conta da fonte desse desconforto.
Há algumas marcas registradas desse dar inconsciente, que você pode
reconhecer como seu próprio comportamento. Esses incluem uma necessidade,
ou impulso, de dar, antes que a outra pessoa até mesmo se dê conta de que
precise, ou queira, algo. O doador inconsciente – ou compulsivo – tenta
estabelecer uma conexão com o recebedor que, no final, se torna co-dependente.
Isso é baseado no doador querendo ser necessário, ou em busca de aprovação.
Por ser intenção inconsciente do doador de se tornar necessário, o ato de dar
vem de um senso de carência ou vazio. Invariavelmente o doador atrairá os que
usam, e abusam disso, ou tipos de personalidade de vítima clássica. O ciclo de
dar e receber é enfraquecedor, para ambas as pessoas, porque esse dar não vem
do amor, um intento sem ego. Quando num auto-inquérito encontramos que
nossa motivação subjacente por dar é para receber reconhecimento, aprovação
ou elogio ou desejo de tornar-se necessário, então o dar se torna condicional,
especial e, inconscientemente, demanda pagamento, ou retribuição, mesmo que
não seja monetário.
Curar esse tipo de dar disfuncional requer responsabilidade pessoal;
requer reconhecimento desse comportamento, e aceitação da responsabilidade
por essa verdade, antes da cura. Secundariamente, temos de confiar esse mau
hábito à Inspiração Universal, por conscientemente mudar nossa atenção a cada
caso, onde formos tentados a retornar a esse dar disfuncional. Quando a
urgência familiar seja sentida, nos tornamos o observador, e mentalmente
comandemos nosso caminho, ao longo do encontro. Mantenhamo-nos no
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

momento do agora, e conscientemente observemos quando e onde


experienciamos nossa fraqueza, ajuda a fortalecer o Ser Unificado. É sábio nos
perguntar, e responder cristalinamente, no instante que surja a ânsia de dar
“Qual é meu intento mais profundo nisso?”
O ser-ego é um mestre ao tentar ocultar nosso intento mais profundo de
nós. Ele quer tanto ser notado, aprovado e desejado, que debaixo de tudo toda
essa bravata há uma fastidiosa fenda de vazio que move suas necessidade, a ser
notada como valiosa pelos outros. Ela usa tanto bons, como maus rótulos, ou
comportamentos, para se fazer reconhecida; ela usa qualquer tática que aparente
emprestar-lhe, no momento, o maior poder. Vale notar aqui que qualquer que
seja a tática, boa ou má, motiva o ser-ego a receber atenção, pois no nível do
intento, ambas são igualmente disfuncionais,. Ambas vêm da mesma
identificação equivocada e são, portanto, uma crença errada. O que põe um em
vantagem sobre o outro é a disponibilidade de desistência da ignorância, um
desejo de conhecer a Verdade a atuar nela.

O Poder da Humildade
O Ser Unificado é um infindável armazém de Alta Sabedoria, que a maioria de
nós ainda não descobriu, ao qual, também ainda, nem se rendeu. É uma casa de
força de Verdade, e conhecimento, além do reino finito intelectual, porque é o
receptor direto das intenções miraculosas da Fonte. Quanto mais retirarmos as
camadas da percepção do ser-ego, mais forte se torna nossa capacidade de
estender e receber Amor, Alegria, Paz, visão interior e entendimento. Ataque,
em qualquer forma, não é parte da realidade do Ser Unificado, nem tão pouco a
defesa. A defesa em si mesma é a crença de que o ataque seja real e, portanto,
precisa do contra-ataque da defesa. O ser real, e verdadeiro, nunca consegue ser
atacado e, portanto, não requer qualquer defesa.
O ser-ego investiu muito nessa imagem. Isso inclui idéias, crenças,
opiniões, pessoas e coisas. Ele guarda isso intencionalmente, e está em vigília
por qualquer ameaça de perda, ou mudança, percebida em qualquer um deles,
então usa a defesa como sua resistência à mudança.
A humildade contém o poder da indefensibilidade. Somente o ser-ego
precisa se defender, para manter seu sistema de pensamento insano. Sua defesa
total emerge quando sua identidade fica ameaçada, por nossa possível
descoberta da ilusão despropositada que ela é. Só a ilusão necessita defesa
porque, se a ilusão de qualquer tipo fosse para remover completamente a defesa,
o que restaria? Sendo que a ilusão não mais fica protegida, muito simplesmente,
a única essência que possivelmente restaria é o Amor. A experiência de pôr de
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

lado o ego é, puramente, o descartar de defesas que haviam, até agora, protegido
nossas ilusões, todas elas, inclusive a imagem de nosso ser-ego. Abdicar defesas
significa reconhecer e abraçar a Verdade, que é o Amor em ação.
O descartar do ego não seria necessário se agora, sem demora,
conseguíssemos plenamente abraçar a verdadeira humildade. O ser-ego é como
uma fortaleza, pronta para batalhar contra qualquer um, ou qualquer coisa, que
ameace desestabilizar sua matriz de poder. Precisamos fazer a seguinte
pergunta, “O que nosso ser-ego está protegendo?”, e “Que valor – ou
gratificação – existe em manter tal gigantesca ilusão, que nos bloqueia
experienciar o enlevo extático da presença do Amor?” Se nos rendêssemos, de
todo coração, ao reconhecimento de que nosso mais valioso trunfo é a
humildade, nos tornaríamos iluminados nesse mesmo instante. Se apenas
abraçássemos a humildade, tanto a intensidade, como a duração, da experiência
de liberação do ego seria diminuída.
Temos necessidade de encorajar a presença, consciente e extrema, da
própria honestidade para ganhar humildade. Isso significa erradicar o desejo do
ser-ego de dirigir, produzir ou justificar, nossos pensamentos, sentimentos,
sensações e respostas, todos em seu favor, através de consistente vigília e
atenção. A chave aqui é manter a atenção sadia plena, enquanto exercite o
discernimento, e não usar o julgamento e a condenação, que fomentam a culpa.
Nossa vulnerabilidade é nossa força, quando considerada sob a
perspectiva da Fonte. Não apenas conseguimos nos permitir nos tornar mais
vulneráveis, mas temos de ser mais vulneráveis, se vamos aprender que as
defesas do ser-ego são sem sentido, e cresce a confiança na sabedoria da
Vontade Unificada, trabalhando através e ao redor de nós. Todas as áreas dentro
de nós, e em nossa vida, que consciente, ou inconscientemente, defendemos são
ilusões! Nossos corpos, valores, crenças e status, e o que mais haja, tudo é
ilusão.
Se conseguirmos apenas nos refrear de nos defender, e mantivermos
atenção firme ao momento presente, para assegurar o evolver da Verdade,
alcançamos visão interior e Paz. Mais uma camada de ilusão será removida e
nós daremos até mesmo mais outro gigantesco passo adiante na reconquista de
nosso Ser Unificado e da vida de enlevo que ansiamos.

Certeza
Há apenas duas aparentes realidades neste mundo e, uma delas, é ilusão. Há só
medo, ou amor. Onde houver medo não consegue haver amor. Onde há amor,
medo não há. São mutuamente excludentes. Há, em qualquer momento
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

considerado, todo medo, ou todo amor. Não consegue haver um amor


amedrontado ou um medo amoroso.
O Amor, em si mesmo, é a única real essência em nosso mundo. Isso
deixa o medo ser reconhecido pelo que é, em sua totalidade, ou seja, absoluta
ilusão, coisa nenhuma. Nenhuma parte do medo é real. Ele, apenas, parece real,
quando nossas mentes crêem nele, e o usam como o filtro, através do qual
nossas lentes da percepção enxergam e, consequentemente, sentem
[interpretam] que pessoas, coisas e circunstâncias tentam nos atacar. Não
conseguimos existir, pacificamente, com algum amor e algum medo,
concomitantemente; isso não é possível.
Como chegamos a entender, e abraçar, nosso Ser Unificado? Se o Ser
Unificado é Amor, então sua percepção única tem de ser Amor. Toda
percepção, emergindo de qualquer outro lugar, tem de ser medo, tal como culpa,
a necessidade de controlar, resistir e julgar. Se, em qualquer momento, vemos
medo, sob qualquer forma, temos de nos dar conta de que não vimos a Verdade,
mas uma ilusão. Ver, ou sentir, qualquer forma de medo, então, tem de
significar que estamos enganados, e que entendemos mal o chamado do Amor.
Nesse ponto temos de parar, observar a nós mesmo, e a nosso pensar, e
renunciar à necessidade de agir.
Toda aparência de medo é um sinal de que nossas mentes escolheram
ver através de lentes distorcidas. Isso não precisa acontecer. No momento em
que sintamos dor, ou resistência, temos apenas de pedir para retornar para a
mentalidade certa, e a Inspiração Universal, gentilmente, carregará nosso pensar
de volta à Paz.
Todo medo vem da resistência, isto é, da necessidade de controle.
Resistência é o veneno que forma pensamentos temerosos, ou seja, crenças
amedrontadoras. A realidade parece cheia de desapontamentos, sofrimentos,
dramas e tragédia, mas isso está, unicamente, em nosso pensar e crenças a
respeito disso, que, são, então, pensar e crer, verdadeiramente, o que nos dá
sofrimento.
Nada, por si só, consegue nos fazer sofrer. Nossas percepções nos
causam dor e, se agimos a partir do medo, então, causam ainda mais dor. Se ao
menos desistíssemos de todos nossos pensamentos e crenças, e nos rendêssemos
à Realidade – com R maiúsculo – encontraríamos Paz.
Nosso anseio mais profundo é por Amor, por Unicidade Absoluta.
Afinal de contas, todos nós ansiamos por isso, e só por isso. Nosso estado
natural nos apresenta as oportunidades mais magníficas para transformação
interior. Todo dia, não importa quem, quando ou onde estejamos, não importa

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

em que circunstância, ou que pessoas pareçam nos rodear, pois a cada dado
momento, nós temos o poder – absoluto e irretorquível – de escolher, em plena
liberdade intangível, nossa experiência. Ou deixamos a experiência definir
nossa realidade interior, ou escolhemos a única Realidade que, verdadeiramente,
existe, a Realidade da Paz.
Nossos pensamentos, e crenças, são a causa de qualquer estado
emocional, ansiedade ou conflito, tranqüilidade ou paz, que venhamos a sentir.
Inconscientemente, carregamos conosco pensamentos de medo e de ameaça, ou
de amor e confiança, todo o tempo, porque ainda não compreendemos o poder
de nossas crenças não investigadas. Se estamos com pressa de chegar ao
emprego, e há um engarrafamento no trânsito, nossa resposta usual, e imediata,
é ansiedade. Por quê? Porque a realidade apresenta a demora no tráfego.
Fisicamente, nada há a fazer para mudar isso, mas o pensamento do ser-ego nos
impulsiona para uma ansiedade instantânea, como um gatilho automático. Por
quê? Há apenas uma razão básica: porque, rigidamente, o ser-ego resiste à
realidade aparente. O ser-ego diz que “O que é” está errado. Para o ser-ego, “O
que é,” supostamente não é para ocorrer, desde que conflite com nossa própria
vontade, naquele momento, local ou circunstância. Quantas vezes por dia
ficamos diante desses miniconflitos e desapontamentos? Um problema a
resolver, um pneu furado no trafego intenso, nosso parceiro nos deixa na mão,
ou que seja. Isso é a realidade aparente como ocorre a cada e todo dia. Temos de
controlar o quanto essa realidade aparente se apresenta, a cada dado momento.
Entretanto, temos de nos aperceber de que estamos bem, e, exatamente, no
controle de nossas próprias reações, diante de nossa realidade aparente.
O livro de Byron Katie, Amar o que é, contém um processo muito
simples, e fortalecedor, que nos oferece uma estratégia, dia-a-dia e minuto-a-
minuto, de enxergar através de ilusões. Seu sistema é chamado O Trabalho (ver
o Apêndice I) e é baseado em quatro perguntas, que visam expor que a Verdade
que está no fim é o Amor. O Trabalho nos capacita a identificar, e desmontar,
as crenças incapacitantes que nos provocam reações de ansiedade, raiva e
depressão. Sua descoberta, como um ‘quebra-gelos’ nos ajuda a clarear e a
ajustar nosso pensar, levando-nos à paz dentro de nós mesmos, e a todos nossos
relacionamentos.
Katie identifica:
“há [unicamente] três tipos de negócio no universo: o meu, o seu e o de Deus.
(Para mim, a palavra Deus significa ‘realidade’. Realidade é Deus, porque ela
rege. Tudo que esteja fora do meu controle, do seu controle, e do controle de
quem quer que seja, digo que é encargo de Deus.)”
67
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Katie afirma que,


“[muito] de nosso stress vem de mentalmente viver de nosso próprio negócio.
Quando penso, ‘você tem de arranjar um emprego, quero que você seja feliz,
você deveria ser pontual, você tem de se cuidar, você precisa ...’ estou invadido
seu negócio. Quando estou preocupada com terremotos, inundações, ou quando
vou morrer, estou invadindo o negócio de Deus. Se estou mentalmente em seu
negócio, ou no negócio de Deus, o efeito é separação... Se você está vivendo
sua vida e eu, mentalmente, fico vivendo sua vida, quem está aqui vivendo a
minha?27
Quando estamos mentalmente no negócio de outro, impedimos a nós
mesmos de estar presentes em nosso próprio negócio. Se, dessa maneira, nos
mantemos separados de nós mesmos, nos admiraríamos que nossas vidas não
funcionem?
Se, possivelmente, pensamos conseguir saber o que seja o melhor
interesse do outro, estamos seriamente enganados. O único negócio com que
temos de nos ocupar é o nosso próprio interesse. Quando sentimos ansiedade,
medo ou conflito, temos de parar e nos perguntar, “Em negócio de quem
estou?” Mentalmente, esse exercício nos permite uma regular conferência da
realidade e a oportunidade de ver apenas o quanto estamos verdadeiramente
presentes, porque temos, mentalmente, vivido no negócio de outro, a maior
parte de nossas vidas.
Além disso, começamos a nos dar conta de que nosso próprio negócio
não seja o que acreditemos ser. À medida que evolvemos, descobrimos que o
Ser Unificado anda num tipo de piloto automático Universal, que dissipa a
necessidade obsessiva de controle do ser-ego. Esse piloto automático Universal
é a Vontade Unificada sendo expressa através de nós.
O ser-ego emprega seus pensamentos para criar desejos, e projetos,
dirigidos no sentido de sustentação, reforço ou construção, de si mesmo. Sendo
a escassez seu estado natural, ele depende da busca externa a si mesmo por
coisas, circunstâncias, resultados, relacionamentos ou pessoas, para aplacar sua
insaciável necessidade de ter, ou se tornar. A vontade do ego, devido a seu
ímpeto baseado em carência, está fadada a resistir a O Que É (Realidade), a
menos que essa realidade esteja alinhada com seu interesse particular.
Quando nosso ser-ego resiste a O Que É, meramente está defendendo a
si mesmo, contra a Realidade. Ele faz isso a um custo muito sério, para nossa

27
Byron Katie, Living What Is, (Amando o que é), p.3-4. N.T. – Livro publicado em
português, em Portugal, Para Acabar com o Sofrimento.
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

paz interior, em nossa mente, porque, em sua resistência, nos diz que a vida está
errada. E, se essa mensagem for repetida com bastante freqüência, perderemos
confiança na vida, nos outros, e em nós mesmos. Na próxima vez em que nos
encontremos desapontados com alguém, ou algo, podemos escolher ficar
conscientes de nossa resistência interior a O Que É (ver o Apêndice I,
Formulário de O Trabalho – as 4 perguntas e o ‘volta atrás’). Conseguimos
observar a reação e, gentilmente, nos relembrar, a nós mesmos, dar permissão à
Realidade, em vez de resistir a ela. Por aceitarmos O Que É, aprendemos o
significado real de Paz. Ver essa verdade confirma uma citação anterior de Um
Curso em Milagres:
...tudo o que acontece... [é] gentilmente planejado por Aquele Cujo único
propósito é o teu bem. (E-pI.135.18:1)

O Estado Infinito de Céu


Nesse ponto da aparente separação, em verdade jamais deixamos o Estado
Infinito. Permanecemos, em verdade, dentro da Consciência Suprema, sem
jamais nos afastarmos dela, mas, aparentemente, estamos adormecidos, ou
inconscientes disso. O estado de ego é muito como o estado de sono que
entramos enquanto dormimos, mas, em verdade, é uma absoluta ilusão. Nessa
realidade aparente, crendo sermos um ego, também é sonho. Portanto, pelo
despertar dessa vida-sonho, nossa liberação depende de nos tornarmos cônscios
dessa decepção, antes que se acabe. Nosso propósito, então, é despertar do
sonho e nos tornar lúcidos co-Criadores. A única Realidade que tem valor em
nossa vidas é o Amor. E o Amor aumenta na proporção do nosso grau de
despertar desse estado de ego. Quanto mais nos damos conta disso, mais vemos
que nosso urgente propósito é despertar para nosso Ser Unificado.
A Fonte é Luz Infinita, ou Amor, em toda parte, sempre. Essa energia
existe em toda parte. Em nosso estado aparentemente separado, vivemos a
ilusão de seres separados, crendo que dar é sacrifício e que ataque e defesa
sejam reais. A verdade é que ao nosso redor existe o Estado Infinito em sua
totalidade, mas, muito freqüentemente, estamos cegos à sua beleza e surdos à
sua harmonia.

A “ínfima idéia louca” se expande


Um Curso em Milagres explica que nós, com nossa
...idéia diminuta e louca... (T-27.VIII.6:2)

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

de separação, parecemos ter abalado o Céu; e – ilusoriamente – prosseguimos


adiante para fazer um mundo do tempo e do espaço, selecionar apenas alguns
fragmentos da Luz, e rejeitar outros. Tomamos da Integridade e tentamos
produzir um mundo fragmentado, sem levar em conta o correto relacionamento
entre essas partes, e nos deludimos em crer na ilusão do que fizemos como
mundo, só nosso.
Para desviar a culpa intransponível causada por esse ato, requeremos
que nosso mundo, e tudo nele parecesse como se ele fosse a causa e nós seu
efeito. Dessa maneira projetamos nossa culpa para fora de nós, e fizemos uma
realidade que parecia separar e atacar. Fizemos uma realidade governada pelo
caos. Assim, aparentemente, conseguimos nos convencer a crer que sempre
fôramos as vítimas do mundo que vemos.
O mundo que vês é uma ilusão de um mundo. Deus não o criou, pois o que
Ele cria tem de ser eterno como Ele próprio. No entanto, não há nada no
mundo que vês que vá durar para sempre. (ET-4.1:1-3)
Dentro dessa ilusão, projetamos a Fonte como uma força sobrenatural existente
fora de nós, com o poder de criar, e de destruir, resultando na feitura da ilusão
de nascimento e morte. Tudo nesse mundo, e no universo, parece governado
pela lei de mudança constante; o que quer que aqui tome forma, e aparente
viver, no final passa, e morre. Mesmo os relacionamentos que constituímos
parecem governados pela mudança; por vezes são amorosos, outras vezes
odiosos; ficamos por aqui um pouco, e depois, mais cedo ou mais tarde, nos
vamos.
Se a Fonte é Amor Unificado, perene, sem mudança ou limitação, isso
significa que a separação, em todas as formas, dentro do reino da Fonte, é
literalmente impossível. Dando-nos conta disso, podemos então captar a idéia
de que sonhamos que abalamos o Céu, com nossa diminuta idéia louca28 e,
subsequentemente, também sonhamos uma realidade fictícia dentro desse reino,
a que chamamos mundo, e vida.
Sofremos de uma amnésia que fabricamos. Esquecemos – apagamos da
memória – que fomos nós que fizemos essa realidade, e não a Fonte. A única
Realidade Verdadeira é uma de Amor; e agora precisamos reaprender a ver
Amor, ser Amor, pelo despertar desse sonho de limitação, carência, perda,
mudança, caos, finitude e morte.

28
T-27.VIII.6:2, UCEM
70
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

No estado de pré-separação não tínhamos necessidades. Na unicidade só


conhecíamos extensão, a benignidade do amor e da alegria, infinitamente
estendidos. Pertencíamos a um estado de unicidade onde conhecíamos tudo,
nada havia a projetar, nem necessidade para o conceito de projeção ou
percepção, que nasceram da dualidade, para perceber o que já não conhecemos,
porque o atiramos fora e o esquecemos e, pela separação da Fonte, projetamos a
culpa e o pecado. Nada havia apertado disso. A dualidade requereu a introdução
de divisão na forma de observador e observado, a separação do “um”, que é a
história do universo. No sonho dessa existência separada, falsificamos nossa
ciência da extensão do Amor, em troca da idéia do ego de projetar. Negamos
nosso lugar com a Fonte, e essa negação se tornou projeção, compondo toda
essa realidade do ego. Estamos sonhando essa realidade como uma criação
externa da qual negamos ter tido parte na criação, para parecermos ser apenas
vítimas do mundo que vemos.
Esse nosso mundo é uma alucinação que montamos, usando partes
selecionadas do Estado Infinito. A natureza mutável do mundo é a imagem
externa projetada de nosso estado de mente. Podemos estar aparentemente
vivendo uma experiência de sonho aqui. Entretanto, em verdade, no âmago
somos inteiramente Divinos, pois – na Realidade – jamais deixamos, nem
abandonamos o Estado Infinito. A existente aparência externa da humanidade e
da natureza terrena – animais, plantas, minerais e substâncias orgânicas,
fenômenos climáticos e tormentos meteorológicos – é a forma projetada do
conteúdo de nossas mentes, as formas e as ações criadas por nossos
pensamentos, crenças, opiniões, vontades, aspirações, desejos, medos, culpas,
acrescidos de todas as emoções, sensações, sintomas, com o impulso e o ímpeto
da negatividade, ou positividade, neles envolvida, escolhidos por você. Lembre-
se, há só duas escolhas: Amor ou medo, Céu ou inferno, Paz ou caos, Verdade
ou ilusão, segundo o Professor de sua escolha, e só uma é real.
Todo esse universo material é uma ilusão, feito por nosso desejo de
fragmentar, e de projetar. A Fonte não criou essa realidade material; nós a
fizemos. E tão mais depressa despertemos para esse fato inegável, mais
depressa encontraremos Paz, tanto dentro, como fora de nós. Nada que não haja
sido criado pelo Amor existe. Nada não eterno existe. Portanto, nada no que
você vê nessa realidade visual, exceto o Amor, é real. Tudo mais é mera ilusão,
um sonho de nascimento e morte, de começos e fins.29

29
N.T. – “Fora do Amor, nada é real,” OREMAS, M.Thereza de Barros Camargo, Ibis
Libris, 2007
71
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Só a Verdade é verdadeira e Nada mais é verdade


Pertencemos à Fonte. Nosso Ser Unificado, e a Mente Mais Alta dentro dela, é a
Fonte. Em outras palavras, somos iguais à Fonte, porém não mais elevados que
Ela. Ela criou nosso Ser Unificado, entretanto não A criamos. A perfeição
imaculada da Fonte é absoluta, e isso significa que Ela é sempre e toda
consistente, íntegra e coerente. Não há contradições dentro da Fonte, porque Ela
jamais oscila, nem vacila. Ela é todo Amor, toda eterna, toda Alegria, toda Paz,
e toda Sabedoria. O poder da Fonte nunca dilui e, por sua natureza, consegue ter
nenhum oposto. Essa é a Verdade.
Se a Fonte, e tudo que Ela criou é Um com o Amor, então não somos
nós, também, esse mesmo Amor? Se a Fonte criou algumas das partes do
Estado Infinito, que nossos egos escolheram para adornar nossa existência neste
mundo material ilusório, quais são as qualidades dessas partes? A única
resposta é Amor Infinito. Todas as coisas, todos os pensamentos, emoções,
pessoas, circunstâncias e situações que sejam amorosas, perdoadoras, alegres,
e pacíficas – mesmo aqui – são reais. Isso significa que se percebemos qualquer
outra coisa, além dessa realidade, é alucinação nossa.
...a verdade é verdadeira e nada mais é verdadeiro. (E-pI.138.4:6)
Unicamente o ser-ego consegue projetar a aparência de oposto do Amor e crer
que ele seja real. Nós, por nosso Ser Unificado, não conseguimos, pois Ele só
estende... Amor.
O mal não existe, nenhum poder demoníaco que batalhe contra a Fonte,
porque Ela, e Seu Intento todo-Amor, de condição santa, é a única Verdade que
existe em toda parte, sempre, toda ao mesmo tempo. Então, se virmos, ou
sentirmos, medo, sob qualquer forma, estamos vendo, ou sentindo, uma ilusão
tentando aparentar ser real. A Fonte, e a Inspiração Universal, não conseguem
reconhecer coisa alguma não criada no Amor, e pelo Amor; elas nada vêem
onde enxergamos medo, raiva e culpa. Elas não conseguem ver pecado, porque,
assim como o medo, ele não existe, não tem realidade. Cometemos erros, sim,
praticados sob o sono hipnótico do ser-ego, e os chamamos pecado. Em nossa
insanidade do ser-ego, praticamos, na aparência, pecado real e, em retribuição,
demandamos punição. Todo ataque, acusação e culpa, em qualquer nível, são o
mesmo. Não há graus na ilusão. Sentir-se ofendido é a mesma ilusão que
ofender; não há diferença alguma. Todo e qualquer erro se origina deste único
lugar de ignorância, a ignorância da ilusão. Todo erro notado, toda ofensa
percebida, tem sua causa num pedido de amor, que – envergonhado – se
disfarça de ignorância. Se – ‘ofendidos’ – cometermos o erro de ver, ou tomar

72
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

qualquer ofensa como real, investimos na irreal ilusão de ódio, tanto quanto o
‘ofensor.’
A separação instilou em nós um nível de culpa quase que
intransponível. Essa culpa é tão compacta, que nos impele a encarnar e
reencarnar, repetidas e repetidas vezes, pensando que, com isso, consigamos
escapar, tanto de nossa culpa, como de nosso medo de nossa Fonte. Mas, em
vez disso, o que fazemos é vê-la fora de nós, e torná-la real, crendo que seja
causada pelos outros, ou por circunstâncias externas. Daí nós julgamos,
acusamos, nos envergonhamos e culpamos. Não nos dando conta disso,
acumulamos, sobre nós, ainda mais culpa a cada reencarnação de existência,
porque ainda não estamos cônscios, e disponíveis, para olhar a Verdade face a
face, e reconhecer que, nesse sonho, há apenas Um de nós, pois somos todos só
Um. Separação e individualidade são uma só, e única, ilusão.
Em qualquer situação onde julgamento, medo, raiva, tristeza ou culpa
sejam experienciados, o único remédio é – bem de pressa – pedir à Inspiração
Universal que retorne nossos pensamentos para a mentalidade certa. “Retorna-
me à mentalidade certa,” é um pensamento, ou oração instantânea, que nos
leva – num estalar de dedos – de volta à Paz.
Há extrema simplicidade na Verdade. Verdade é Amor, e tudo que
existe – na Realidade – é Amor, e só Amor. Perceber algo outro que Amor, é
ilusão, é fantasia. Se Amor é tudo que há, que alguma vez houve, e alguma vez
haverá, então por que, no dia-a-dia, experienciamos todas as coisas menos o
Amor? Isso acontece porque isso é o que nós escolhemos experienciar!30
Uma vez dando-nos conta da Verdade de que o Amor é uma escolha, e
que a realidade é só Amor, então há, unicamente, uma escolha a nos conduzir
para a liberação, que é – sem qualquer erro – o Amor. O Amor Ativo é perdão,
onde perdão é o descartar de um erro que, no sonho do ego, realmente, nunca
ocorreu. Dessa maneira, perdão é Amor em ação. Antes, estivemos confusos,
crendo num mundo parte amor e parte ódio. Estávamos aparentemente perdidos
nos caprichos do caos, mas não mais agora.

Aceitar a realidade do ego: Amar O Que É


Se em Verdade, não há opostos ao Amor,31 então temos de retirar os
investimentos feitos em tudo que não seja Amor. Não há exceções. Mesmo

30
N.T. – Sempre lembrar da p.477, do Texto de T-21.II, UCEM – A Responsabilidade
pelo que se vê.
31
N.T. –T-in.1:8, UCEM
73
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

assim – na aparência – diariamente vemos, ouvimos, sabemos e experienciamos


o oposto do Amor. Como conseguimos sobrepujar esse conflito?
Paradoxalmente, o único caminho para vencer o mundo ilusório é aceitá-lo.
Reforçamos o erro se resistirmos a ele.32 Aprender a permitir a realidade ilusória
se apresentar a si mesma, sem argüir sua existência, é soltar de nós a garra do
erro. Investigar nossas crenças é a chave para essa liberação.
Byron Katie diz,
“Em realidade, qualquer que haja sido nossa dor passada, a dor que sentimos a
respeito de um evento passado é criada agora, no presente. O inquérito . . . ‘O
Trabalho’ . . . quando aplicado a um problema específico, vê essa dor presente
e, numa luz inteiramente distinta, capacita você a enxergar o que, realmente,
está conturbando você. Não é o problema que causa nosso sofrimento; é o nosso
pensamento a respeito do problema que nos infelicita. Contrariamente à crença
popular, tentar deixar ir um pensamento doloroso jamais funciona; em lugar
disso, tendo feito ‘O Trabalho,’ o pensamento é que se solta de nós. Nesse
ponto, em verdade, conseguimos amar o que é, apenas como ele é.” 33
Se tudo que realmente queremos é ficar livre do caos, de todas as
formas, e se a paz profunda é a nossa meta, nada há lá fora que consiga ser uma
‘barreira’ real para atingir isso. Não há ‘barreiras’ objetivas para chegar à paz e
à felicidade; toda ‘barreira’ que encontramos é subjetiva, só existindo em nossas
mentes. Esse fato, junto com a Verdade que de que tudo que realmente existe lá
fora, e aqui dentro, é só Amor, significa que conseguimos fazer uma escolha
cônscia por liberação. Que outra escolha nos livraria do sofrimento e da
limitação? Aceitar a realidade do ego, sem resistência, nos traz mais perto de
experienciar a Realidade Unificada, onde a Paz é restaurada.

A Grande Saída: Compromisso de Liberação

32
N.T. – Resistir, combater algo deste mundo ilusório, é valorá-lo, tornar real uma
ilusão, o que o fortalece. Toda campanha “contra” algo, ou alguém, nós os fortalecemos.
Após a campanha o que combatemos estará, por certo, bem mais forte. Talvez por isso
hoje – 2008 – temos a esquerda no poder, por tê-la tanto combatido na década de 60 a
90... tanto batemos na massa que o ‘bolo’ cresceu. Ignorá-la teria sido uma forma de
não fortalecê-la... por certo.
33
Byron Katie, Loving What Is (Amar O Que Éé), p.249 e 2ª capa. N.T. – Livro
publicado em português, em Portugal, Para Acabar com o Sofrimento.
74
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Se verdadeiramente queremos ser livres do sofrimento, então é importante olhar


– com disponibilidade – para a causa fundamental do sofrimento, para nossa
liberação. O ego dia-a-dia age na solução de problemas, a partir de uma
perspectiva severamente limitada e comprometida. Ele primeiro percebe o
problema, e o rotula como tal, sob sua distorcida idéia de realidade. Ele tanto
encara o desapontamento com satisfação, por circunstâncias que ele não tem
nenhuma capacidade de relacionar com, num sentido mais elevado. Quando
percebe um problema ele, rapidamente, tenta resolvê-lo. Visto de uma
perspectiva sadia, as tentativas do ego diante da solução de problemas ficam
risíveis. Nada do que alguma vez ele pensou ter solucionado consegue,
possivelmente, durar, porque todo seu fundamento é baseado na ilusória
separação, e seus ‘resultados’ conduzirão, afinal, do gênero que seja, sempre à
dor.
A forma do ego solucionar problemas é como tentar erradicar um
campo de joio, apenas puxando-os de cima, deixando as raízes. Em alguns dias,
o joio está de volta, mais forte ainda. Se estivermos verdadeiramente
empenhados em ir à fonte da causa básica de todos nossos problemas, temos de
puxar fora a raiz, ou seja, desfazer o ego.
Consistentemente embarcar na jornada de Desfazer o ego nos levará à
Verdade, porque nos conduz à raiz de nosso ser-ego e, portanto, à liberação.
Essa escolha é, realmente, uma que todos nós inevitavelmente faremos, mas
fazendo-a mais cedo, em vez de mais tarde, nos economiza tempo e nos livra de
mais sofrimentos.
Para alcançar o que, de todo coração, desejamos, temos de primeiro
priorizar. Antes de iniciar qualquer ação, previamente fazemos uma escolha
interior de agir na decisão que tomamos. Comprometendo-nos a sermos íntegros
e liberados é preciso colocarmos isso como prioridade sã em nossa mente,
anterior a qualquer desejo pessoal. Essa prioridade se torna o intento absoluto e
soberano, sob cada decisão e ação que fazemos, daqui em diante. Esse é um
compromisso contínuo, para perfeito cumprimento no momento agora, pela
renúncia de um sistema de crenças baseado em caos e separação. Paz, e portanto
Amor, se torna o intento máximo para todas nossas interações. E quando
tomamos essa decisão, reconhecemos que todos os demais desejos ficam em
segundo plano, em relação a ele.
Olhemos para o Amor que estamos prestes a reconhecer, descrito em
Um Curso em Milagres:
Talvez penses que diferentes tipos de amor são possíveis. Talvez penses que
há um tipo de amor para isso, outro para aquilo, um modo de amar uma
75
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

pessoa e ainda um outro modo de amar uma outra. O amor é um. O amor
não tem partes separadas nem intensidades diferentes, nele não há tipos ou
níveis, divergências ou distinções. Ele é como ele mesmo, inteiramente
imutável. Nunca se altera com uma pessoa ou uma circunstância.34 Ele é o
coração de Deus e também o de Seu Filho. (E-pI.127.1:1-6)
Qualquer sofrimento em nós, nossas vidas, ou no mundo é criado
através de nossa crença em separação, ou seja, no medo, caos, ataque, defesa, e
culpa. Qualquer pessoa que encontramos, é um encontro conosco mesmo. Tudo
que dermos ao outro nesse encontro, seja amor, ou julgamento, damos a nós
mesmos, e o fortalecemos.
Se queremos integridade e perfeita Unicidade, livre de sofrimento e
carência, de qualquer espécie, fazemos uma única escolha, o compromisso com
a Verdade, com o Amor. Reconheçamos a insanidade de crer na dualidade
amor/ódio, infinito/limitação, santidade/maldade, paz/caos, alegria/dor e
Céu/inferno. Unicamente Verdade,Amor, Alegria e Paz são reais; nada mais é.
Dizemos querer ser livres do sofrimento, mas queremos isso, de fato? Queremos
isso mais do que qualquer outra coisa? Queremos saber quem somos nós?
Ansiamos, de fato, por descobrir e cumprir nosso propósito? Estamos, em
verdade, preparados para conhecer o Amor, em sua forma Unificada e Eterna?
E, efetivamente, o que buscamos é a liberação jubilosa?
Se assim é, peça para apenas ver a Verdade e seja sedento por nada
mais senão isso, sempre. Só, então, conseguimos parar de apoiar ilusões, e
permitir que a realidade espelhe nossa Unicidade, segurança, Amor, Alegria e
Paz.

‘Culpômetro:’ o medidor de culpa


O “Medidor de Culpa” – chamêmo-lo ‘culpômetro,’ se existisse essa palavra – é
uma tentativa de nos ajudar a rapidamente identificar qualquer culpa
inconsciente que cause sofrimento em nossas vidas. Ele nos mostra, de algumas
formas, como a culpa (ego) – não reconhecida – se manifesta em nós. Com
certo grau de exatidão, você consegue medir qualquer culpa inconsciente, pelo
grau em que você continua a experienciar o seguinte:

34
N.T. – Essa frase nos leva a dois versos do soneto 116 de Shakespeare, para mim o
soneto mais lindo do Bardo: “O amor não se altera com suas breves horas e dias,/Mas
sustenta-se firme até o fim das eras.” Em Shakespeare 44 Sonetos Escolhidos, Thereza
Christina Rocque da Motta, Ibis Libris, 2006.
76
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

• você tanto julga outros como os percebe julgando você


• você reage negativamente a uma ofensa percebida (com raiva, defesa,
frustração ou julgamento)
• você se julga, depreciativamente com freqüência
• você experiencia aparente injustiça na forma de ataque percebido
• você percebe ameaça, ou ansiedade, por adversidade pessoal, ou no mundo
em geral
• suas necessidades parecem não serem atendidas (dinheiro,
relacionamentos, situações. etc.)
• você experiencia “dúvida” na beneficência de sua vida, como escassez,
limitação e incerteza
• você sente desconforto físico ou mal-estar

Julgamento é o combustível que move o ego. Culpa é o seu cerne. A maioria de


suas culpas não é observável por você mesmo; elas ficam ocultas, ou
disfarçadas. Onde se ocultam? Nos outros! Todas suas próprias culpas não
curadas estão escondidas em todos os outros. Toda vez que você julga um outro,
ou se sente atacado, é quando você está “projetando” sua verdadeira culpa
própria. Lembre-se, há apenas um de nós, aparecendo em toda parte como
muitos. O remédio é sempre o Perdão Quântico.

O Eneagrama: Poderosa ferramenta de auto descoberta


Se estamos seriamente dispostos a remover os nossos próprios bloqueios à
presença do Amor, Alegria, Paz, e abundância em nossa vida, então o
Eneagrama35 nos provê uma ferramenta excepcional. Ele nos ajuda a alcançar a
percepção e a manifestação do Amor em todas suas formas.
O Eneagrama é um desenvolvimento da psicologia moderna que tem
suas raízes na sabedoria espiritual de muitas tradições antigas diferentes. Ele
mapeia os nove tipos fundamentais de personalidade da natureza humana, e seus
complexos inter-relacionamentos. Esse sistema poderoso de estudo nos capacita
a, num entendimento humano mundano:

• adquirir mais visão interior de nós mesmos, e dos outros


• ver nossas posturas psicológicas centrais, e nossas forças e fraquezas
interpessoais

35
Riso, D.R. e Hudson, R., The Wisdom of the Eneagram (A Sabedoria do
Eneagrama). N.T. – Edição em português pela Cultrix, 2006
77
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

• discernir nossos filtros pessoais, com os quais percebemos e interpretamos


o mundo e, baseados nisso, o levamos em conta própria
• descobrir nossas questões centrais e identificar maneiras efetivas de lidar
com elas
• ver nossa alma, gentilmente, em toda sua profundeza

Autoconhecimento é a chave principal para abrir a porta ao Amor e ao Ser


Unificado. O ser-ego é um mestre de ilusionismo e truques e fará o máximo
para nos divertir em nossa busca da Verdade.
“Autoconhecimento real é um guardião inestimável contra tal autodecepção. O
Eneagrama nos leva a lugares (e faz o progresso real possível) porque começa a
trabalhar de onde efetivamente estamos. Assim como revela as alturas
espirituais, que somos capazes de atingir, ele também ilumina claramente, sem
julgar, os aspectos escuros, e aprisionados, de nossas vidas. Se vamos viver
como seres espirituais no mundo material, então essas são as áreas que mais
precisamos explorar.”36
Os três elementos básicos necessários para um trabalho de
transformação são:

• Presença (vigília, atenção, cuidado), suprida pelo Ser


• Prática de auto-observação, a partir do autoconhecimento, suprida por você
• Entendimento do significado de sua própria experiência (uma
interpretação acurada num contexto mais amplo, tal como uma comunidade,
ou sistema espiritual), suprido pelo Eneagrama

Transformações ocorrem rapidamente quando trabalhamos com esses três


elementos todos conjugados. O Eneagrama se refere ao mundo, nos diz muita
coisa a respeito de como vemos o mundo, os valores que mantemos no mundo,
os tipos de escolhas tendemos a fazer no mundo, como respondemos ao stress, o
que nos motiva, e muito mais, outro grande benefício seu é que conseguimos
aprender a apreciar – no mundo – perspectivas que são diferentes de nossas
próprias.
“O cerne dessa sagrada psicologia é que nosso tipo básico revela os mecanismos
psicológicos pelos quais esquecemos nossa verdadeira natureza, nossa Divina

36
Riso, D.R. e Hudson, R. The Wisdom of the Enneagram, p.10 N.T. – Livro
publicado em português, A Sabedoria do Eneagrama, São Paulo, SP. Ed. Cultrix, 2006.
78
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Essência, a maneira pela qual nós nos abandonamos a nós mesmos. Nossas
personalidades atuam sobre as capacidades de nosso temperamento [humano]
inato, para desenvolver defesas e compensações, onde fomos feridos na
infância. Para sobreviver a quaisquer dificuldades encontradas a esse tempo,
sem vontade gerenciamos um repertório limitado de estratégias, auto-imagens, e
comportamentos, que nos permitiu enfrentar, e sobreviver, em nosso meio
ambiente inicial. Cada um de nós, portanto, se tornou um “perito” de uma forma
particular de enfrentamento que, se usada excessivamente, também se torna o
centro da área disfuncional de nossa personalidade.
À medida que as defesas e estratégias de nossa personalidade se tornam
mais estruturadas, elas nos causam perder o contato com nossas experiências
diretas de nós mesmos, nossa Essência. A personalidade se torna a fonte de
nossa identidade [mundana], em vez do contato com nosso Ser [divino]... Essa
perda de contato com nossa Essência causa profunda ansiedade, assumindo a
forma de uma das nove Paixões...Uma vez no lugar, essas Paixões, que
usualmente são inconscientes e invisíveis para nós, começam a atuar a
personalidade.”37
Dois de nossos maiores desafios para abraçarmos Amor, Alegria e Paz
Reais são as interpretações distorcidas do ego de pensamento e emoção.
Pensamentos e crenças incapacitantes contribuem para sérios bloqueios, e
limitações, que suportamos, e que aumentam a probabilidade de turbulência
emocional. Pensamentos e crenças incapacitantes nos separam e isolam, mais
provavelmente fazendo-nos perceber ataque e valorizar julgamentos, como um
traço que precisamos para auto proteção. Esse ciclo de projeção aumenta nosso
senso de separação, e reforça o desejo ilusório de ver, e assumir, coisas
pessoalmente.
O Eneagrama é uma excelente ferramenta de auto descoberta que ajuda
recontextualizar nossas interpretações de pensamento, crença, e emoção.
Aprendemos a nos perceber a nós mesmos, aos outros e a vida, numa maneira
mais impessoalmente capacitadora. Confiança, Verdade e Amor crescerão em
proporção ao nosso nível de auto sabedoria, enquanto a disponibilidade e o
comprometimento aceleram nossa jornada.
Reproduzimos aqui um resumo breve de cada um dos nove tipos do
Eneagrama, tirados do livro, A Sabedoria do Eneagrama, por Don Richard Riso
e Russ Hudson:

37
Riso, D.R. e Hudson, R. The Wisdom of the Enneagram, p. 28
79
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

“O trabalho com o Eneagrama começa quando você identifica seu tipo e começa
a entender seus tópicos dominantes.
Enquanto reconheceremos em nós mesmos comportamentos de todos os
tipos, nossas características definidas são notadas em um desses tipos ...
Mantenha em mente que as características listadas aqui são meramente alguns
pontos altos, e não representam todo o espectro de cada tipo de personalidade.
“Tipo Um: O Reformador. Tipo idealista, seguidor de princípios. Éticas e
conscienciosas, as pessoas do Tipo Um têm um senso muito claro do que seja
certo ou errado. São professores e cruzados, que sempre lutam para melhorar as
coisas, mas têm medo de errar. Organizadas, ordeiras e meticulosas, tentam
viver conforme altos padrões, mas podem resvalar para a crítica e o
perfeccionismo. Costumam ter problemas com impaciência e raiva reprimida.
Em seu aspecto mais positivo, quando se encontram na faixa saudável, são
criteriosas, ponderadas, realistas e nobres, além de moralmente heróicas.
“Tipo Dois: O Ajudador. Tipo compreensivo, voltado para o lado interpessoal.
As pessoas do Tipo Dois são amigáveis, generosas, empáticas, sinceras e
afetuosas, mas podem ser também sentimentalistas e aduladoras, esforçando-se
para agradar os outros a qualquer preço. Sua maior motivação é chegar perto
dos demais e, por isso, muitas vezes tentam tornar-se necessárias. Costumam ter
dificuldade em cuidar de si mesmas e reconhecer suas próprias necessidades.
Em seu aspecto mais positivo, quando se encontram na faixa saudável, são
altruístas e desprendidas que, incondicionalmente, amam a si mesmas e aos
demais.
“Tipo Três: O Realizador. Tipo adaptável, movido pelo sucesso. As pessoas do
Tipo Três são seguras de si, atraentes e encantadoras. Ambiciosas, competentes
e sempre prontas a agir, elas podem deixar-se orientar muito bem pelo status e
pela idéia de progredir na vida. Muitas vezes preocupam-se com a própria
imagem, e com o que os outros pensam a seu respeito. Seus problemas,
geralmente, são a paixão excessiva pelo trabalho, e a competitividade. Em seu
aspecto mais positivo, quando se encontram na faixa saudável, são pessoas
autênticas, que se aceitam como são e, de fato, representam tudo aquilo que
parecem ser: modelos que a todos inspiram.
“Tipo Quatro: O Individualista. Tipo romântico, introspectivo. As pessoas do
Tipo Quatro são atentas a si mesmas, sensíveis, calmas e reservadas. São
emocionalmente honestas e não têm medo de revelar-se como são, mas estão
sujeitas a flutuações de humor e inibições. Podem mostrar-se desdenhosas, e
agir como se não estivessem sujeitas às mesmas leis que os demais, ao mesmo
tempo em que se esquivam das pessoas por se sentirem vulneráveis, e cheias de
80
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

defeitos. Seus problemas mais comuns são o comodismo, e a autocomiseração.


Em seu aspecto mais positivo, quando se encontram na faixa saudável, são
muito criativas e inspiradas, capazes de renovar-se, e transformar as próprias
experiências.
“Tipo cinco: O Investigador. Tipo concentrado, cerebral. As pessoas do Tipo
Cinco são alertas, perspicazes e curiosas. Conseguem abstrair-se de tudo e
concentrar-se no cultivo de idéias e dons os mais complexos. Independentes e
inovadoras, quando excessivamente dedicadas a seus pensamentos e construtos
imaginários, podem mostrar-se distantes e irritadiças. Em geral, seus maiores
problemas são o isolamento, a excentricidade a o niilismo. Em seu aspecto mais
positivo, quando se encontram na faixa saudável, as pessoas são como pioneiras
e visionárias, que vivem adiante de seu tempo, e vêem o mundo de uma forma
inteiramente nova.
“Tipo Seis: O Leal. Tipo dedicado, que valoriza a segurança. As pessoas do
Tipo Seis são esforçadas, responsáveis e dignas de confiança, mas podem ser
defensivas, evasivas e muito ansiosas, estressando-se só de reclamar do stress.
Costumam ser indecisas e cautelosas, mas podem mostrar-se reativas,
desafiadoras e rebeldes. Seus problemas mais comuns são a insegurança e a
desconfiança. Em seu aspecto mais positivo, quando se encontram na faixa
saudável, as pessoas são dotadas de muita estabilidade e autoconfiança,
defendendo corajosamente os mais necessitados.
“Tipo Sete: O Entusiasta. Tipo produtivo, sempre ocupado. As pessoas do Tipo
Sete são versáteis, espontâneas e otimistas. Práticas, brincalhonas e joviais,
podem mostrar-se também dispersivas e pouco disciplinadas, tendendo a
assumir mais responsabilidades do que poderiam dar conta. Sua eterna busca de
novas emoções pode levá-las a não terminar o que começaram, exaustas
pelo excesso de atividade. Sem maiores problemas são geralmente a
superficialidade e a impulsividade. Em seu aspecto mais positivo, quando se
encontram na faixa saudável, mostram-se capazes de concentrar-se em metas
louváveis, realizando-se e tornando-se cheias de alegria e gratidão.
“Tipo Oito: O Desafiador. Tipo forte e dominador. As pessoas Tipo Oito são
seguras de si, firmes e assertivas. Protetoras, talentosas e decididas, podem ser
também orgulhosas e dominadoras. Por acharem que precisam controlar o meio
em que vivem, mostram-se muitas vezes contenciosas e intimidadoras. Seu
maior problema é a dificuldade de compartilhar a intimidade. Em seu aspecto
mais positivo, quando se encontram na faixa saudável, as pessoas desse tipo são
mestras do autodomínio – usam sua força para melhorar a vida dos outros,

81
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

mostrando-se heróicas, magnânimas e, às vezes, deixando sua marca na


História.
“Tipo Nove: O Pacificador. Tipo descomplicado, de fácil convivência. As
pessoas do Tipo Nove são constantes, crédulas e receptivas. Têm bom gênio,
bom coração e são fáceis de contentar, mas podem ir longe demais na
disposição de ceder para manter a paz. Em sua ânsia de evitar conflitos, podem
exagerar na complacência, minimizando todos os entraves que surgirem. Seus
maiores problemas são a passividade e a teimosia. Em seu aspecto mais
positivo, quando se encontram na faixa saudável, são incansáveis em sua
dedicação a aproximar os demais e resolver mal-entendidos.”38

Se você deseja identificar seu tipo particular de ego, você pode ou fazer uma
contagem própria, um teste computadorizado de Eneagrama chamado RHETI
(Riso-Hudson Enneagram Type Indicator, Versão 2.5), em
http://www.enneagraminstitute.com, considerado garantir 80% de acerto e,
usualmente, leva cerca de 45 minutos para completar, ou pode completar o
questionário que vem junto com o livro.
O meio mais seguro para melhorar nossas percepções e relacionamentos
é ficar sabendo quem somos nós. O Eneagrama nos diz isso quanto a quem
somos, que personagem estamos representando na ilusão, neste sonho de
pesadelo. Sabendo ser apenas uma roupagem, uma vestimenta da representação
do personagem que somos, um roteiro com falas a ser interpretado na peça
teatral a que chamamos ‘nossa vida’, um ‘faz de conta’ ao vivo, ficamos leves,
e, então, em Paz, nos permitimos ver a nossa própria luz, e a luz nos outros,
para, juntos, iluminarmos nosso caminho de retorno, no despertar.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

38
Riso, D. R. e Hudson, R., A Sabedoria do Eneagrama, Cultrix, 21-23
82
LEVA-ME À VERDADE N.Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

CAPÍTULO 4

RELACIONAMENTOS DE AMOR

O que buscamos num relacionamento? Queremos validação, aprovação,


reconhecimento, suporte, afeição, bondade, compaixão, respeito, entendimento,
admiração, e perdão e, ainda, alguns de nós também querem paixão,
proximidade, enlevo e devoção. Essas são as experiências que a natureza
humana constantemente deseja, tanto consciente como inconscientemente. O
que pensamos, sentimos e fazemos é, usualmente, um subproduto de uma
necessidade mais profunda de vivenciar essas experiências. A essência
subjacente que realmente estamos buscando é o Amor, mas a barreira que se
prova ser a mais significativa em obstruir nossos esforços de alcançar, e manter,
o Amor é irreconhecida e, portanto, irremediada.
A natureza humana busca amor, mas não se dá conta do que seja Amor.
Buscamos por algo que imaginamos, mas – verdadeiramente – não conhecemos.
Então, terminamos aprendendo, e pensando, que amor se equipara a dor,
sacrifício, e que possa – eventualmente – se tornar ódio; isso é o que o mundo,
em geral, crê. A Verdade fundamental que o mundo ainda não se deu conta é de
que Amor é, e ponto final.
O Amor é infinito. O Amor é sempre expansão, perene extensão. O
Amor nunca, jamais e em tempo algum se torna ódio. O Amor é Pacífico e
Jubiloso. O Amor é todo inclusivo. O Amor é ilimitável, incontível.39
“O Amor Real cria uma sensação de Paz que, persistentemente, se aprofunda,
penetrante. Sentimentos dominadores de amor se erguem do âmago de nossa
alma até que não mais haja entendimento do “eu” – há ondas de Amor, Paz,
Alegria, todas eternas; e um conhecimento de conforto e segurança e beleza. Há
um sentido de sua beleza ímpar, incrível gratidão por você, e um extraordinário
amor máximo por você. Ao mesmo tempo, há um sentido de nossa absoluta
interconexão de uns pelos outros, com a Fonte, com toda humanidade, com
todas as fagulhas Infinitas. Na percepção desse Amor eterno, gratidão e

39
N.T. – O Amor tudo sabe, tudo conhece, tudo espera. O Amor é confiança,
segurança, firmeza, constância, paciência. O Amor não muda porque é invariável, não
sofre porque é certeza, não constrange porque é ilimitado, não acaba porque é infinito,
não morre porque é tudo que é. Emoção que assim não seja, pode ser o que for, mas não
é Amor. “Fora do Amor, nada é real.”
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

compartilhamento é um sentimento de ilimitadas possibilidades de criações sem


limite, Paz, Alegria e aventuras inimagináveis.”40
O fator crucial é que, se não estamos experienciando Amor na forma
descrita acima, isso não é porque não sejamos merecedores disso, ou que não
encontramos parceiro, pais, filhos, família, ou amigos certos. Se não estamos
vivendo com Amor diariamente, então apenas uma barreira existe: nós não
conhecemos o Amor. Ainda não reconhecemos o Amor e ainda não o
entendemos plenamente. Todas nossas referências e condicionamentos passados
nos treinaram – equivocadamente – a ver o que o Amor não é. Se não
conhecemos o que estamos procurando, como no mundo iremos encontrá-lo?
Buscamos por uma experiência fictícia de amor-ego que nunca satisfez, e nunca
irá satisfazer nossas mais profundas ambições.
Se, verdadeiramente, queremos essa essência chamada Amor, nosso
primeiro reconhecimento tem de ser de que não o conhecemos em seu sentido
mais profundo, e se não o conhecemos temos também de não saber para que
serve. Nem sabemos como acessá-lo. Amor não é uma emoção. Não é uma
experiência. Não é algo a ser conquistado. Não é algo que seja ganho. Amor é
um Estado de Ser. Esse é o nosso estado de existência natural, que repousa sob
miríades de camadas de mentalidades erradas que acumulamos, ao longo de
existências de vida, levadas através de nosso falso ser-ego.
1A primeira lição em Amor é começar a entender que o Amor só consegue ser
conhecido através da extensão. Isso significa que para conhecer o Amor, temos
– antes de mais nada – de dá-Lo incondicionalmente. O Amor vincula perdoar o
erro do ego nos outros, e em nós mesmos. O ato consciente de dar
incondicionalmente tudo que é nosso, tempo, cuidado, atenção, perdão e amor, é
uma expressão do Estado de Ser que esquecemos, há éons, na aparente
“separação”.
2A segunda lição em Amor é começar a ver que nós somos Amor. Todos nós,
independente do que nosso ser-ego haja feito, somos Amor. E isso é alcançado
através de auto descoberta e atenção.
O Amor não consegue ser conhecido por meio de busca porque já O
somos. Se buscarmos por Ele em nossos amantes, amigos, pais, filhos, ou
família, não O encontraremos jamais, pois ele está em nós. Entretanto, se
dermos Amor (sem julgamento ou condições) às pessoas em nossa vida,

40
Vigil, Sparo Arika, Sept. 2005
84
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

consistentemente, não apenas encontraremos Amor, também descobriremos –


afinal – que já éramos, e sempre fomos, Amor, o tempo todo.
A busca, o esforço e a ânsia que previamente nos moveram, à caça de
uma imagem ilusória de amor, termina aqui. Equivocadamente confundimos
relacionamento condicional com Amor Real; daí rotulamos esse pseudo-
relacionamento de “amor’. Agora temos a oportunidade de envolver o Amor
Real desfazendo, ou desaprendendo, o que ele não é.

O pseudo valor do especialismo


O tipo de amor com que estamos mais familiarizados é o amor “especial,” ou a
variedade de amor condicional. Nossa cultura nos ensina a equiparar amor com
sentir-se especial; de fato, o fator motivador em todo relacionamento de amor
especial é a ‘necessidade’ de se sentir especial. Isso aparenta ser
suficientemente inofensivo, mas na mesma sede da ‘necessidade’ repousa um
compromisso mais sinistro. Se ousarmos olhar mais profundamente nesse
assunto, claramente veremos como essa ‘necessidade’ de se sentir especial
sabotou tantos de nossos relacionamentos, com quase todas as pessoas com
quem interagimos. Alguns dos que mais risco oferecem são os relacionamentos
íntimos com outros, inclusive com nossos filhos, ou pais, sendo que o
especialismo, muitas vezes, se apresenta como a necessidade de aprovação e
apreciação.
A necessidade de sentir-se especial resulta do estado de separação do
ser-ego. A separação nutre um desejo não natural de validação que nos custa
muito na vida. O ser-ego, sendo espiritualmente falido, busca pôr fora o
especialismo, de qualquer forma, boa ou má, que consiga conquistar, desde que
consiga ser colocado acima dos outros. E quando percebemos que estamos
acima, também sabemos que estamos nos pondo à parte, que é uma forma de
desconexão. O especialismo, em qualquer forma, serve como um divisor entre
nós; ele segrega e focaliza, não em nossa unicidade, ou similitude, mas em
nossas diferenças. Em Verdade, especialismo é uma forma de separação, e não
consegue, possivelmente jamais, dar a nós qualquer sentido de valor
profundo, ou duradouro.
Valor real vem de um lugar interior, eterno. Ele é inocência, Amor,
paridade; extensão e confiança. Nosso senso de valor não é algo que
conquistemos de fora; ele nasce do reconhecimento de Quem somos, e é
incrementado pelo nível de reverência que temos pelos outros. Sendo um poço
interior do qual retiramos nossos sustento, aprovação e apreciação, o valor real
nunca deseja manchar sua pureza, por buscar qualquer tipo de especialismo, de
85
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

fora. Ele entende que, nos colocarmos acima, sermos melhor que os outros, é
convocar e aumentar a culpa. O ego viceja com culpa oculta, porque ele nos
isola dos outros, de nós mesmos, e da Fonte, tornando-nos, assim, mais
dependentes de suas promessas vazias. Isso assegura um círculo de
dependência, onde nós suspiramos por “pseudo valorização,” mesmo que a
satisfação temporária que retiramos disso nos separe. Uma vez tenhamos
alcançado o que o ego queria, sentimos uma estranha sensação de vazio e, mais
uma vez, iniciamos o círculo vicioso de buscar por essa “pseudo valorização,”
em outro lugar.
Qualquer forma de competição, ou comparação, é um meio de buscar
por especialismo: se o mais inteligente, mais dotado, criativo, atlético, bonito ou
mesmo o mais doente, mais feio, mais deprimido, infeliz todas são tentativas do
ego de ser colocado à parte. O especialismo, em sua forma indissoluta, vem da
massa de culpa que adquirimos, há milênios, quando acreditamos de abalamos
o Céu e abandonamos a Fonte. A projeção nasceu disso, e continuamos a
projetar nossa culpa para fora, no mundo, aparentemente adquirindo duas
coisas: 1) nossa inocência (porque os outros se tornam culpados, e não nós); e
2) nossa retribuição (nosso ataque, pelo qual o julgamento é justificado, porque
outros nos perseguiram). Essa projeção nos capacita a compor e alcançar o
especialismo.
Agora conseguimos diferenciar entre vítima inocente e perpetrador
culpado, ou entre ganhador e perdedor, e toda gama de dualidade. Tudo que
essa acusação e competição faz é reforçar nossa própria culpa inconsciente,
confirmar a ilusão que nossa valorização é ganha externamente e, afinal, nos
estabelece, e nos mantém, como separado.
A esse tempo, em nossa evolução, certamente nós alcançamos um ponto
onde os temas básicos da vida, como pura sobrevivência e luta ou fuga por
medo, não são mais percebidos como ameaças ou motivações diárias. Uma vez
tendo sido dissipados os temas de sobrevivência imediata, nossa civilização
pareceu focalizar no indivíduo. Havendo mais tempo e inteligência, aumentou
nosso desejo por especialismo, para ser único, original, distinto, exclusivo, e
separado. Desenvolvemos uma adoração cultural, e um desejo por
individualização. Inconscientemente alimentamos, e nutrimos, essa obsessão de
agigantar especialismo, através de tantas amplamente aceitas áreas de nossas
vidas, tais como, educação, política, esportes, negócios, comércio, moda,
música, cinema, media, artes, e jogos de computador e vídeo, só para nomear
apenas alguns.

86
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Encorajamos nossos filhos para que sejam ‘especiais,’ não


reconhecendo as ramificações destrutivas, tais como a individualização
introduziu em nossa cultura. Quantas crianças imploram com urgência, em casa,
ou na escola, por constante atenção, reconhecimento e aprovação? As pressões
por “se tornar,” ou “ter,” são desejos centrais por especialismo, ou
pseudovalidação, extraídos de fontes exteriores. Isso, então, põe combustível no
competitivo ego, para mover inconscientemente no sentido de uma rivalidade
não natural, que nos priva de um sentido de valor interior real e conectividade a
“Tudo Que É.”
Ao longo da história apaixonadamente seguimos um curso para juntar o
individualismo, que nos levou adiante, e para fora de nós mesmos. Agora,
entretanto, tendo alcançado nosso pico individual do pessoal, original,
exclusivo, e separado, encontramos que a evolução está convocando o mundo
de volta a um estado de Unicidade e Unidade.
A consciência planetária está se alinhando com a profunda integração,
dissolvendo no final a idéia de dualidade. Andrew Cohen41 explica:
“para nossos seres pós modernos, a experiência dolorosa da alienação
psicológica e espiritual alcançou seu ápice histórico [por meio do
individualismo]. Em nossa busca por liberdade pessoal, social, filosófica e
espiritual, muitos de nós abandonamos nossas grandes tradições espirituais, e
como resultado perdemos contato com nossa alma individual e coletiva,
inesperadamente ficando bem sós na deserta ilha de nosso próprio ego. Para os
de nós que, desesperadamente, queremos mover-nos adiante, que não
conseguimos voltar para as coisas como eram antes, temos visto, através de
limitações da noção do ser familial, tribal, religioso e nacionalístico – onde mais
procuramos?”
Entramos no nível seguinte da consciência em evolução, indo “além do
que conseguimos chamar de realização pessoal, para algo mais também: um

41
O que é iluminação, artigo principal, A Nova Iluminação, número #25. N.T. –
Andrew Cohen (n.1955) é um guru americano, professor espiritual, editor de revista,
autor, e músico que desenvolveu o que ele caracteriza como um caminho único de
transformação espiritual, que denominou Iluminação Evolucionária (Evolutionary
Enlightenment). Seus escritos estão reunidos na revista O Que é Iluminação (What Is
Enlightenment?) publicada quatro vezes ao ano pela organização internacional fundada
por ele, Ilumine já (EnlightenNext.)

87
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

profundo despertar que transcende o individual.”42 Nossa verdadeira liberação


agora repousa em abraçar relacionamento consciente, como o veículo para cura
de auto realização e planetária. Através disso renunciamos às limitações do ego
destrutivo, e nos expandimos para um reino de Unidade e Unicidade, que é
infinitamente mais libertador do que tudo mais que já conhecemos previamente.
Se verdadeiramente queremos Amor, Paz e um sentido de integridade,
temos de nos lembrar de que esses não conseguem ser adquiridos através de
especialismo fabricado. Amor, Paz e integridade só emergem de dentro de nós,
pela nossa reverência aos outros e Amando O Que É.

Amor consciente
Um dos primeiros expoentes do Eneagrama foi George Ivanovich Gurdjieff. Ele
definiu três tipos de amor:
• Puramente físico, como atração sexual.
• Emocional, que muitas vezes tende a se transformar em ódio.
• Consciente, que leva à perfeição de ambos os parceiros.
Quase todos nós. por nossa cultura. estamos familiarizados com a adoração dos
dois primeiros tipos de amor: amor puramente físico, como atração sexual, e
amor emocional, que muitas vezes se torna ódio. Entretanto, o terceiro, a mais
poderosa forma de amor, o amor consciente, raramente é alguma vez
reconhecido pelo fluxo principal da média, e não é um tópico aberto à
discussão, na maioria das famílias. De fato, se pesquisarmos o público em geral,
perguntando a eles para, honestamente, descreverem “o que é o amor,”
encontraríamos que a maioria das respostas seria colorida pelo amor sexual, ou
emocional, enquanto que amor consciente ficaria tristemente irreconhecido, ou
subvalorizado.
O amor consciente é eterno, não superficial ou temporário. O amor
consciente é realmente a meta primária em qualquer relacionamento físico,
emocional ou platônico. Ele significa nos lembrarmos de que não somos
separados, que cada um de nós projeta sua própria realidade, e que qualquer
conflito, aparentemente causado pelo outro, é sempre uma oportunidade de
curar nossa percepção. O amor consciente emerge do compromisso de
experienciar, e compartilhar, amor para o bem mais alto de todos os envolvidos.
A razão pela qual tantos relacionamentos (românticos, familiares e
amigáveis) se desfazem é porque são baseados em compromissos de ganhos de

42
Idem Ibidem
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

curto-prazo, pessoais, que movem a maioria dos relacionamentos sexuais, ou


emocionais, isto é, a necessidade do ego por especialismo. Enquanto as
emoções, ou o sexo, conseguem contribuir muito para um relacionamento, não
conseguem sustentá-lo, mantê-lo, sem que haja uma verdadeira união de amor
consciente.
Os três principais ingredientes do amor consciente são:
• Compromisso de ambos com o crescimento de um e do outro, i.e., criação de
uma meta unificada.
• Completa responsabilidade pessoal, i.e., reconhecimento de que projetamos
nossa própria realidade.
• Verem ambos qualquer conflito como uma oportunidade de ambos curarem
suas percepções, i.e., cada um se comprometer a desfazer seu respectivo ego.
O Amor consciente clama por disciplina duradoura. A área que mais
precisamos observar é a do vezo de separação do ego, em outras palavras,
qualquer forma de julgamento, acusação e condenação que temos que nos isole
do outro. Aprendemos que amor consciente é o veículo perfeito para
aumentarmos nossa experiência diária de Alegria, Amor, Paz, aceitação e
entusiasmo. Sendo que somos todos amor em ação, é sempre estendido, não
separado, e é mais poderosamente expresso através do nosso dar o seguinte:
• perdão,
• aceitação,
• não julgamento e
• gratidão.

O Filho mantido invisível


Quando um pai, ou mãe, estiver ainda, predominantemente, identificado com o
ser-ego, ele ou ela perceberá o filho através do ego condicionado, e não através
do Ser Unificado. O Ser puro do filho, então, não é visto, o que encoraja a
formação de uma identidade ego mais forte. Isso, por outro lado, enfraquece a
confiança do próprio filho, tanto na Fonte quanto em seu próprio Ser Unificado,
engendrando nele dúvidas e desconfianças em relação à vida.
A maioria de nós aprendeu seu condicionamento inicial do ego
primariamente de nossos pais e familiares. Antes dos cinco anos já havíamos
desenvolvido uma grande necessidade do especialismo do ego. Nossos
pequenos egos estavam bem no caminho de se tornarem uma identidade

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

equivocada, através da qual confundíamos pessoas, coisas, situações e


circunstâncias, com nosso sentido próprio de ser.
Aprendemos a ganhar atenção e aprovação atuando com certo
comportamento, e técnicas rapidamente adaptadas para a sobrevivência do ego,
tais como julgamento, disfarce, mentira, negação, repressão, e projeção. Dar
para ganhar era cotado alto em nossa lista de preocupações diárias, assim como
o desejo de ser especial: o melhor, o pior, o mais diferente, ou o mais bonito.
Por causa de nossa inabilidade de estabelecer uma fronteira saudável entre
nosso senso de ser e o fenômeno que ocorria a nosso redor, equivocadamente
aprendemos que nossa felicidade dependia de termos nossas necessidades
atendidas externamente. Formamos uma forte crença numa identidade pessoal,
cujo valor era baseado em ter, possuir, pegar, tornar-se, fazer, e conseguir, em
vez de nossa essência pristina e imutável, de nosso Ser Unificado. Éramos
encorajados a adquirir conhecimento por observar e aprender de pessoas e
experiências, mas não éramos ensinados a como observar nossos próprios
pensamentos e emoções, ou de questionar qualquer crença limitante, nossa ou
de outro.
Nossos pais se condicionaram a fabricar, para si próprios, uma
identidade de ego que estabeleceram, e que dirigia suas vidas. O triste resultado
de um filho de pais, que ainda equivocam seus egos como sendo o ser, é a muito
real possibilidade dele não haver sido enxergado por seus pais (Imagem 4.1). O
filho, por isso, invariavelmente, sentirá falta de validação e de reconhecimento,
da parte dos pais, porque foi avaliado por eles através da percepção dominante
dos pais, que é o ego.
Para qualquer um de nós haver adquirido um sentido consistente de
nosso própria essência como criança, nossos pais teriam de ter algum
entendimento de seu próprio Ser Unificado. Eles teriam de ter vivido exemplos
de alegria de viver dentro de relacionamentos de amor consciente. Eles teriam
ensinado pelo exemplo, ensinando-nos a arte do amor incondicional, da
contemplação e da observação, auto-inquirição e auto nutrição. Nossos pais
teriam, assim, nos revelado um profundo senso de segurança interior, que
emerge da absoluta confiança numa Ordem Superior, que sempre tem nosso
melhor interesse no coração. Como filhos teríamos revelado, maravilhados, o
profundo senso de interconexão que nos rodeava.
A maioria de nós não foi criado num ambiente iluminado, para que
nosso Ser Unificado tivesse sido, alguma vez, reconhecido, ou visto. Como
adultos não vistos, é mais comum perpetuarmos o ciclo de especialismo
disfuncional do ego, dentro de nossos relacionamentos românticos, e com

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

nossos filhos. É por isso que se torna tão importante para nós nos engajarmos,
de todo coração e empenho, no desfazer de nosso sistema disfuncional de
crenças.

Busca de Amor
“Se me amas, farás o que eu quero.” É uma seção no livro de Byron Katie,
Preciso de Teu Amor – Isso é Verdade? Katie explica que o lançamento da
busca por amor e aprovação se inicia por nossos pensamentos não questionados
a respeito de necessidades e desejos. Como filhos, estimulávamos nossos pais a
nos recompensarem quando éramos bons, e nos punirem quando não
atendíamos às suas exigências.
“A criança espera de seus companheiros que queiram brincar os brinquedos
com que ela queira brincar. Se não, há uma briga, e ambos batem os pés com
força, para encontrar um adulto a quem reclamar: ‘Ele(a) não é mais meu/minha
amigo(a)!’ A crença de que um amigo seja alguém que vá fazer o que você
quer, já está plenamente ativa na criança. .. Seus pais jamais questionaram o
pensamento de que obediência é uma expressão de amor, então porque ele
questiona?” (Byron Katie, Preciso de seu Amor – Isso é Verdade?)
É por isso que a maioria de nós entra no relacionamento de amor com uma
atitude inconsciente de que
“amar-me significa que você atenderá minhas necessidades.”
Ninguém jamais nos ensinou como questionar o que queremos do amor. E não
aprendemos que questionar o que cremos é a chave para nossa liberação do
apertão de gravata de relacionamentos disfuncionais, e insatisfatórios.

O que é um Relacionamento Especial?


Infelizmente, a maioria de nossos relacionamentos é baseada em buscar apoio e
nutrição para nossa própria identidade separada, através de uma interação
exclusiva com alguém significativo43. Isso quer dizer que o único foco do ego é

43
N.T. – Alguém, ou outro, significativo – conforme explicado pelos A à tradutora – é
alguém com quem nutrimos sentimentos de oposição, temos dificuldade de
relacionamento, falta de disposição em perdoar, que desperta em nós emoções sem
amor, e por isso mesmo em quem negamos ver o Ser Unificado, divino, impedindo-nos
de nos ver, a nós mesmos também como tal, em Unicidade com ele, e com todos os
demais.
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

alimentar sua própria imagem através dessa interação. Ele não busca comunhão
e integração com todas as pessoas. Seu plano é usar alguns poucos, com quem
estabeleça um relacionamento especial, para que consiga inflar, embelezar e
reforçar sua grandiosa imagem de ser-ego. Essencialmente, o que isso produz é
fragmentar a psique, ensinar que ódio e amor conseguem coexistir, e atrair uma
abundância de culpa ao processo. Em resumo, o tipo de amor que o ego busca
não é amor, mas o reconhecimento, alimento, manutenção e reforço de seu
estado separado. Dizemos que queremos Amor, mas nossos egos,
inconscientemente, atraem escassez, ataque, julgamento, culpa e medo. Esses
todos levam à separação que, por certo, é exatamente o que o ego quer para nós.
De fato, no topo de sua lista de desejos para nós está, realmente, a morte, e ele
sabe que separação e ataque causam culpa, e culpa engendra medo. Culpa
inconsciente profunda é o perfeito “imã” da doença e da morte.
Então, aqui estamos nós, profundamente ansiando por Amor real, uma
sensação de valor, e comunhão, com nossos outros significativos. Entretanto,
nosso ego, implacavelmente, sabota nossos melhores esforços.
O ego está certo de que o amor é perigoso e esse é sempre o seu
ensinamento central. Ele nunca coloca isso desse modo, pelo contrário, todo
aquele que acredita que o ego é salvação parece estar intensamente
engajado na busca do amor. Todavia, o ego, embora encoraje ativamente a
busca do amor tem uma cláusula: não o aches. Seus ditames podem ser
então simplesmente resumidos dessa forma: “Busca e não aches.” Essa é a
única promessa que o ego te faz e a única que cumprirá. (T-12.IV.1:1-5)
Há grande conflito entre o ego e o Ser Unificado, no tema do amor. O
ego, sendo um mestre ilusionista, nos oferece uma solução que se parece com
isto: ele entrega a promessa de encontrar o amor, mas ele torna garantido que
seja um amor ego. O amor ego é saturado com especialismo, julgamento,
acusação e culpa. Ele envolve sacrifício, projeção, apego, dependência, acordos,
condições, e obrigações. A tentação final é atender seus desejos, e ele emprega
quaisquer meios tortuosos que usa para alcançar isso. Por exemplo, se nosso
parceiro nos abandona, o ego projeta raiva, acusação e, como punição, faz
sofrer: recusa amor. O ego de nosso parceiro então percebe isso como ataque, e
responde com um contra ataque, agressivo ou passivo. Inicia-se a escalada do
não amor. Não há ordem em mentalidade errada. Então a oferta de amor do ego

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

nos leva a experienciar fragmentos de amor, enquanto torna seguro que


soframos um amplo grau de atormentada censura, vergonha e culpa.
Outro aspecto disfuncional do relacionamento especial é o foco do ego
centralizado no corpo, enquanto marginaliza a importância da mente. Ele
assegura que corpos conseguem se juntar, enquanto que as mentes não.
Quaisquer pensamentos ou sensações que tenhamos são privados, e só
considerados reais, ou uma possível ameaça, se externados.
Para o ego a mente é algo privado, e só o corpo pode ser compartilhado. As
idéias basicamente não oferecem interesse, a não ser na medida em que
trazem o corpo do outro para mais perto ou para mais longe. (T-
15.VII.8:5-6)
Através do ego, tendemos a ver nossas necessidades sendo atendidas
pelo comportamento do outro: um sorriso, um favor, um abraço. Em outras
palavras, realmente o que queremos é que o comportamento do outro satisfaça
nossas necessidades. Somos fisicamente atraídos a um parceiro, e esperamos as
palavras, o toque, a ação e o comportamento corretos que satisfaçam nosso
desejo de sermos especiais. E eles esperam a mesma coisa. Raramente alguma
vez chegamos a ver dentro do coração e da alma de alguém e simplesmente o
amamos, não pelo que possam nos dar, mas verdadeiramente por quem eles são
– sem qualquer condição.

Barganhas especiais
Oferecendo liberdade, tu serás livre. Liberdade é a única dádiva que podes
oferecer aos Filhos de Deus, sendo um reconhecimento do que eles são e do
que Ele é. Liberdade é criação, porque é amor. Aquele que buscas
aprisionar, tu não amas. Por conseguinte, quando buscas aprisionar
alguém, incluindo a ti mesmo, não o amas e não podes identificar-te com
ele. Quando tu te aprisionas, estás perdendo de vista a tua verdadeira
identificação comigo e com o Pai. (T-8.IV.7:11-8:1-5)
A razão pela qual a maioria dos relacionamentos de amor especial
definha, ou colapsa, é por barganharmos inconscientemente. Isso pode parecer
de interesse menor; entretanto, isso é veneno para o amor. Para conseguirmos o
amor especial que buscamos, temos de nos engajar em algum tipo de barganha,
transação, ou troca, com a outra pessoa. Isso usualmente envolve dar de nosso
tempo, energia, atenção, amor, ou dádiva, em troca do que queremos. Tão
inocente quanto isso possa parecer, isso certamente não é ingênuo. Se queremos
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

especialismo de alguma forma, então temos de nos sacrificar por isso, como
exige o ego. Entramos num acordo inconsciente, de fato, uma barganha que
detalha o que é esperado de cada um dar ao outro, em troca pelo que cada um
recebe. Sem nos darmos conta disso, mantemos uma talha44 secreta de quem
deu o que, e quem ainda deve o que. Sob tudo isso está puramente o desejo de
tomar, ganhar, que sempre conduz à culpa.
Com freqüência não estamos cônscios do jogo de barganha que rola.
Isso instilará sempre uma sensação de culpa em nós, apesar de ser, quase toda
vez, oculto. Por exemplo, se dou algo como meu tempo, meu amor, ou uma
dádiva, meu ego raciocina inconscientemente, “Eu dei, então agora tenho
menos. E você não só tem mais do que eu agora, mas você é responsável pelo
que, em troca, perdi na transação. E, por causa disso, você é culpado, até que
me dê algo de igual, ou maior, valor, em retribuição.” Esse é o vicioso ciclo
delusório do ego. Tornamos o outro responsável pelo que o ego percebe – e
contabiliza – seja a nossa perda.
No âmago desse ‘comércio’ fica o desejo de ‘comerciar’ o
especialismo, um do outro. O ego sempre vê uma parte de alguém mais que
falte a ele, e quer trocar. Isso muitas vezes ocorre em relacionamentos de amor
romântico, quando inconscientemente permutamos nossos corações, corpos, e
vidas, em troca do aparente especialismo de nosso par. Na busca desse falso
especialismo para nos completar, sub-repticiamente entregamos nosso poder ao
nosso parceiro, e nosso parceiro faz o mesmo. Isso causa ressentimento e, no
final, através da mútua privação de poder, reprimenda e culpa, como projéteis,
são disparadas de lado a lado. Vemos aqui que essa idéia de dar e de
especialismo é puramente um truque do ego para fantasiar o ódio de amor.
Quando o alegado amor induz ansiedade, desespero, medo, julgamento e ataque,
conseguimos reconhecer que isso não é amor, mas só apego especial do ego.
Essa atração falsa, a que chamamos amor, é a razão porque tantos de nossos
relacionamentos fracassam; por serem geralmente baseados em “dar para
ganhar.” Quando esse amor especial se torna escasso com o parceiro, saímos à
cata de um relacionamento substituto, através do qual, inconscientemente,
reencenamos todo o tema do amor especial, outra vez, e outras vezes.
O relacionamento especial nunca nos dará a sensação de valor,
pertencimento, cumplicidade e intimidade pelas quais ansiamos. De fato, ele
44
N.T. – Talha - vara ou pedaço de madeira que trazia escrito, em cada uma das partes,
algumas letras ou sinais indicadores de uma dívida ou de sua quitação, ficando o
devedor com uma parte e o credor com a outra

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

está literalmente fadado a nos levar à escassez e à solidão, e com ambas, o ego
se regala.

Apaixonar-se
Apaixonar-se é amplamente crido e aceito ser uma manifestação autêntica de
amor. Entretanto, a verdade é que a experiência de se apaixonar é sempre algo
temporário. Psiquiatras falam a respeito da formação de fronteiras do ego sendo
definidas e estabelecidas, numa idade muito jovem. Quando um bebê recém
nascido chega, ele não consegue distinguir seu corpo do meio ambiente ao seu
redor. Quando sua mãe se move, ou fala, o bebê não sabe que ele próprio não
está se movendo e falando. Tudo é uno para o recém nascido, porque ele não
adquiriu um sentido de separação, ou fronteiras. À medida que o bebê cresce,
aprende que sua mãe não é ele, que ela é separada dele, algumas vezes
atenciosa, e outras vezes não. Ele começa da formar um senso de identidade,
sabendo agora que ele é um ser separado, que existe fora dos outros. Ele fica
sabendo que seu corpo é dele, assim como sua voz, sensações e pensamentos.
As fronteiras do ego representam o conhecimento desses limites, em nossas
mentes. Essas fronteiras do ego são o que verdadeiramente aprisiona, e limita,
nossa experiência de nos sentirmos plenos, amados, valiosos e apoiados.
Isolamento e solidão são seus subprodutos
Raramente na vida temos a oportunidade de experienciar a euforia e a
conexão que, invariavelmente, ocorre quando essas sólidas fronteiras do ego,
em nossa percepção, temporariamente, colapsam.
“A experiência de se apaixonar nos permite essa escapada, temporária. A
essência do fenômeno de se apaixonar é um súbito colapso de parte das
fronteiras de um ego individual, permitindo a uma pessoa unir sua identidade
com aquela da outra pessoa. A repentina liberação de si próprio de si mesmo, o
explosivo porejar de si no amado, e a dramática cessação da solidão
acompanhando esse colapso das fronteiras do ego, experienciada pela maioria
de nós como êxtase. Nós e nosso amado, ou amada, somos um! Solidão não há
mais!” (Peck, M. Scott, A Estrada Menos Viajada, 8745)

45
N.T. - Morgan Scott Peck (Nova York, 22 maio, 1936 – Connecticut, 25 set.2005)
foi um psiquiatra e autor de sucesso. Graduou-se pela Universidade de Harvard em
Cambridge, Mass. fez estudos pré-médicos na Universidade de Columbia em Nova
York, e recebeu diploma de medico da Universidade de Case Western Reserve, em
Cleveland, Ohio. Seu livro, The Road Less Traveled, publicado em 1978, é o trabalho
95
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

A sensação de enlevo da conectividade e unicidade, uma vez sentida


como um bebê recém nascido, retorna e sentimos a sensação de onipotência,
convencendo-nos de que não há problemas que não consigam ser ultrapassados,
agora que temos nossa outra metade. Erradamente cremos que encontramos o
salvador que nos completará, e nos tornará íntegros. A ilusão de especialismo
seriamente enuviou nossa percepção; agora buscamos trocar o especialismo de
nosso parceiro pelo nosso, e o ciclo disfuncional de “dar para tomar” é iniciado.
Depois de um período relativamente curto, a espiral de queda tem início. Nossas
fronteiras do ego recuperam-se rapidamente, e o amor se vai, tendo de enfrentar
a realidade de que somos dois indivíduos separados, e daí decidimos se
continuamos, ou não, o relacionamento.
Talvez consigamos quebrar o ciclo, de uma vez por todas desta vez,
tomando uma decisão consciente e disciplinada de trabalhar em abraçar e
dedicar um amor consciente. A sensação de apaixonar-se pode ser romântica e
encantadora, mas se equiparamos isso com uma sensação real de amor, estamos
sendo enganados. Amor consciente (amor real) eclipsa a noção ingênua de que
sentir amor significa Verdadeiro Amor. Porque nos damos conta de que, à
medida que crescemos emocional e espiritualmente,
“amor real muitas vezes ocorre num contexto no qual a sensação de amor falta,
quando atuamos amorosamente a despeito do fato de que não nos sentimos
amorosos...
“Apaixonar-se não é uma extensão de seus limites ou fronteiras; é um
colapso parcial e temporário deles. A extensão dos limites de alguém requer
esforço; apaixonar-se é sem esforço... Amor real é uma experiência
permanentemente auto expansível. Apaixonar-se não é.” (Peck, M Scott, A
Estrada menos Viajada, 88-89)

mais conhecido de Peck, e o que fez sua reputação. Ele é, resumindo, uma descrição dos
atributos que compõem um ser humano completo. O livro alçou vôo e pela primeira vez
entrou para a lista de best-sellers em 1983.Em The Road Less Traveled, Peck fala da
importância da disciplina. Ele descreveu quatro aspectos da disciplina:
Gratificações Retardatárias: Sacrificantes confortos presentes por ganhos futuros.
Aceitação de responsabilidade: Aceitar a responsabilidade por suas próprias decisões.
Dedicação à verdade: Honestidade, em palavras e em atos.
Equilíbrio: Requisitos para lidar com conflitos. Scott Peck fala de uma importante
habilidade para priorizar entre diferentes requisitos -- bracketing.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

O ato de apaixonar-se é, por isso, uma experiência autolimitante, que tem


pouca, ou nenhuma, relação com o cultivo, e a nutrição, de nosso
desenvolvimento espiritual.
Apaixonar-se é o temporário colapso de uma seção das fronteiras de
nosso ego (Imagem 4,2). Ela não é uma verdadeira experiência de amor
incondicional. Portanto a experiência está fadada a recuar, à medida que cada
fronteira do ego que, rápida, se restaura à sua parede. Esse tipo de amor é
chamado amor especial e, por causa de sua qualidade condicional, é uma forma
encolhida de amor que, inconscientemente, busca tomar em vez de dar. Por
outro lado, o Amor Consciente requer a extensão incondicional de si mesmo,
dando por dar, sem imposições ou cobranças.

Amor Real jamais é perdido


Quando pensamos a respeito de um relacionamento, raramente investigamos,
verdadeiramente, qual é seu propósito final. Quando nos encontramos com
nosso outro significativo, uma das últimas perguntas que conscientemente
fazemos é,
“Qual é a meta recíproca deste relacionamento?”
Podemos superficialmente crer que nossa meta mútua seja Amor, mas
raramente inquirimos quanto ao verdadeiro significado do termo Amor. A
maioria, se não todos nossos relacionamentos no passado, foram baseados no
amor especial do ego, o inconsciente dar para tomar, ou qualquer variedade
condicionada. Na maior parte estamos muito pouco, ou nada familiarizados com
o real, consciente, incondicional Amor.
A meta subjacente do relacionamento especial sempre é ser mutuamente
exclusiva, porque cada parceiro tem uma agenda inconsciente que é de se sentir
sempre mais especial. Então, à medida que cada pessoa busca uma meta pessoal
de especialismo, temos uma parceria que tem, em seu fundamento, duas metas
auto buscadoras independentes. Adicionado a isso, há a complicação de
justificar nosso relacionamento, por nosso aparente propósito mútuo de ser feliz,
por exemplo, começar uma família, um negócio, ou ser bem sucedido. Na raiz
de toda essa ‘ocupa-ação’ encontra-se a insaciável, mas sempre presente, sede
de especialismo individual, ou pseudo validação. Cada pessoa incompleta
adiciona uma tentativa de se fazer completa, através da atenção especial que
exige do outro. Enquanto possa parecer que a maioria dos relacionamentos
exala uma sensação de companheirismo, invariavelmente esconderão suas
agendas ocultas, por detrás do empreendimento conjunto. Sob toda essa
97
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

pretensão, há duas pessoas dedicadas às necessidades especiais de seus próprios


egos, e se por acaso as necessidades do ego de uma delas os afasta de atender a
necessidade especial de seu parceiro, experienciamos o amor parecendo estar
misturado com ódio. De que outra maneira o amor viraria ódio? A menos que,
por certo, previamente houvesse uma agenda profundamente pessoal,
entretecida com intenções superficiais e auto aumentadoras. Quantos dos assim
chamados relacionamentos de amor (romântico, familial e amistoso)
testemunhamos se tornarem batalhas amargas que nos deixam, e talvez a outros,
temerosos de seu horrendo conflito?
Amor Real nunca consegue acabar; nada neste mundo consegue
efetivamente pôr um termo a ele. Se um relacionamento se desintegra, além de
uma reparação, então a verdade relata que nunca houve um relacionamento
verdadeiro, apenas dois egos competindo por especialismo. Se parece que um
amor cimenta um relacionamento e, mais tarde, se rompe, houve pouco, ou
nenhum, amor lá, em primeiro lugar.46 O Amor é perene, eterno, constante, e
está em permanente e incessante extensão e expansão. Não há como o amor
acabar. Entretanto, é bem possível abortar um relacionamento especial que não
mais ofereça sustentação à pseudovalidação dele por seus participantes.
Isso pode parecer uma declaração crua, dura e má, mas qualquer
relacionamento no qual pensamos haver sofrido pela perda, nada mais é que o
sofrimento pela perda do especialismo do ego, em seu próprio núcleo. Mesmo o
sofrimento na infância continua sendo, em seu centro absoluto, a frustração ou
desestabilização de nosso especialismo. O Ser Unificado, a realidade pura e
inocente de Quem somos nós, se mantém intocada e completamente
invulnerável a qualquer sofrimento infantil. Tudo que foi desabilitado foi o
senso de especialismo de nosso ego, e é por isso que, inconscientemente,
buscamos por remédio para nossa dor, através de relacionamentos, antigos ou
novos. De fato, psicólogos conhecem que atraímos parceiros, que tanto
demonstram as tendências, positivas como negativas, de nossos pais. Mesmo
que não estejamos atentos a isso, atraímos específicas qualidades em parceiros,

46
N.T. – Pouco amor, ou nenhum, é o mesmo, pois não há ordem de grandeza na
realidade. Tudo é, ou não é, há ou não há, sem qualquer nível ou gradação. Isso também
vale no sonho, na ilusão. Um grão de fé, ou do que seja, é um caminhão dela. Mas um
grão de dúvida, junto à grande confiança que não seja total, a anula, como o ‘tijolo
podre’ põe abaixo a parede inteira de tijolos bons. Só o ego pesa, mede, conta, compara,
avalia, analisa, contabiliza e faz balanço, porque não ama. O Divino Espírito Santo
confia ampla, geral e irrestritamente porque só ama, e nada mais.

98
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

que nos desafiam a curar nosso passado. Infelizmente, por estarmos, quase
sempre, desatentos de como curar o especialismo, invariavelmente, caímos na
armadilha do amor especial. Qualquer romance desfeito, que começou com
amor e terminou em ódio, nunca foi, verdadeiramente, amor, em primeiro lugar,
porque o amor real não consegue entrar onde o especialismo seja a meta.
Ninguém jamais perdeu o Amor, porque o Amor jamais consegue ser perdido.
Se cremos que, alguma vez perdemos o Amor, merecemos ver a verdade, que o
perdido não foi o Amor, mas o especialismo.
Muitos de nós, apanhados no ilusório especialismo dos
relacionamentos, dizemos que conhecemos a pessoa que amamos e admiramos.
Se usamos lógica e razão para ver além do óbvio, conseguimos começar a
alcançar a provável possibilidade de que nem ao menos começamos a descobrir
a Suprema Realidade dessa pessoa, mais do que ela descobriu a nossa.
Se, por exemplo, a maioria de nós vive e ama, esquecida dos ditados de
nosso ego, cultivaremos, automaticamente, relacionamentos especiais, em vez
dos Unificados, porque é isso que faz o ego. Dois egos se unem num
relacionamento que usa benefícios mútuos para obscurecer o fato de que cada
um tem uma meta separada – de atrair e manter seu próprio especialismo, ao
custo de seu parceiro. Isso eles fazem totalmente, inconscientemente pensando
que, justificadamente, estão dando para receber.
O especialismo tem sido um conceito inquestionado, incontestado e,
acima de tudo, destrutivo, com o qual temos convivido, desde tenra idade (ou
desde os éons de “separação” do ego). Resumindo, toda pessoa, desde nosso
nascimento, que desonre sob o conceito de especialismo, permanecerá
assombrada como
“figuras feitas de sombra” (T-17.III.1:4)
que inconscientemente nós sobrepomos a nossos amados no presente. Quando
encontramos alguém não os/as vemos como realmente são; o que vemos é uma
soma confusa, uma mixórdia de passado que é sobreposto à Realidade dessa
pessoa que divisamos agora. Nós, literalmente, percebemos só o passado
quando estamos com pessoas.47 Raramente entramos num momento
completamente puro do agora perdoado, para ver a Verdade amorosa, além da
projeção do nosso ego. Para conscientemente suspendermos o julgamento de
nosso ego sobre o outro, para conter qualquer percepção passada, e entrar no
momento presente com elas, claras e limpas, é dar e receber a maior, mais

47
N.T. – E-pI.7, UCEM
99
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

magnificente dádiva imaginável. Isso é o Amor, a real Verdade inocente,


reconhecível pela imensa Paz e Alegria que acompanha esse momento.

A Meta Unificada – o Relacionamento Unificado


Como devemos ter suspeitado por agora, a única característica distinta de um
relacionamento de Amor Consciente, que assegura seu valor profundo e eterno,
é a união a uma meta comum, não uma meta superficial, mas uma que permita
extensão em vez de separação. M.Scott Peck explica isso lindamente:
“Defino amor assim: A vontade de estender-se, no propósito de nutrir o seu
próprio crescimento espiritual, e/ou de outro... [o] comportamento é definido em
termos da meta, ou propósito, que ele pareça servir – nesse caso, crescimento
espiritual... [Quando] ele/ela houver estendido com sucesso seus limites, então
ele/ela cresceu para um estado de ser maior. Assim o ato de amor é um ato de
auto-evolução, mesmo quando o propósito do ato seja o crescimento de alguém
mais. É através de irmos no sentido da evolução, que evolvemos.” (M.Scott
Peck, A Estrada Menos Percorrida, 81-82)
Transformar um relacionamento especial do ego em um Unificado
requer de nós engajar-nos em uma meta compartilhada. Através de uma atenção
disciplinada, conscientemente temos o melhor interesse de nosso parceiro no
coração e, a todo tempo, focalizamos nossas atenções na meta que, finalmente, é
a cura de ambos os parceiros.
Essa meta Unificada pede que assumamos um compromisso de sermos
100% pessoalmente responsáveis por todos nossos pensamentos, sensações e
ações. Uma vez tendo-nos dado conta de que tudo que vemos nos outros é uma
projeção de nós mesmos, e jamais a Verdade, também compreendermos que a
nossa liberação nesta existência de vida depende de nossa absoluta
concordância de reaprender o que é o Amor. Reconheçamos que nada sabemos
a respeito de Amor e, de coração aberto, peçamos à Inspiração Universal que
nos revele, a nós e ao nosso parceiro, a Verdade, através do Ser Unificado. Nos
relembramos, assim, que qualquer ataque, ou julgamento, é um pedido de Amor
disfarçado, e que não há justificativa alguma para contra-ataque. Esses são
todos erros. E aprenderíamos a abraçar, e confiar, o conceito de que todo dar é
receber. Ao longo disso tudo estaremos completamente comprometidos a
abertamente investigar toda crença, ou pensamento, limitante que conservamos,
com a certeza de que, com o seu desmontar, encontraremos como são falsos,
finalmente revelando a Verdade Amorosa, que eles ocultaram de nós.

100
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Entrar num relacionamento Unificado é literalmente o processo de


reverter a força repressora disfuncional da separação, que tem assombrado a
humanidade, desde o começo dos tempos. Esse é o salto mais monumental de
avanço em evolução, que qualquer um de nós, nesse período, conseguiria
possivelmente dar. Compartilhar a meta da Unidade significa que
compartilhamos o mesmo propósito. Isso significa que queremos que nosso
intento se torne unido e que direcionemos nossos esforços no mesmo sentido. O
que fazemos se tornam os meios para o mesmo fim e veremos o mesmo
significado em tudo. Compartilharemos o mesmo propósito, trazendo nossas
mente à unidade e à cura.
Quando você chega a se dar conta de que os únicos tipos de
relacionamentos que você quer são os Relacionamentos Unificados, como isso é
efetivamente alcançado?
“Não há um caminho melhor?’ – quando você chega a compreender que
o único tipo de relacionamento que você quer são os Relacionamentos
Unificados, como isso é alcançado? Como entramos em contato com cada novo
relacionamento com outra pessoa com Verdade e uma meta Unificada? Como
transformamos cada relacionamento existente que temos em um que seja aberto
às ilimitadas possibilidades do Amor? Todos eles conseguem ser mudados por
uma simples pergunta:
‘Não há um caminho melhor?’ ‘Sim... Talvez... eu não sei.’
Quando você permite que sua própria Verdade e convicção aflorar gentilmente
por dizer,
“’Estou seguro de que há um caminho melhor, vamos encontrá-lo juntos’, você
põe em ação uma milagrosa transformação no relacionamento, e a cura tem
começo.” (Vigil, Sparo Arika, ago, 2005)

Janela do Amor
A ferramenta mais poderosa que dispomos para iniciar a cura imediata do
especialismo é o momento do agora. Anteriormente, explicamos como nosso
ser-ego tem sua atenção dirigida exclusivamente tanto com pensamentos do
passado como com expectativas do futuro. Ele não consegue existir no aqui
agora porque quando nos dissolvemos no verdadeiro momento presente, saímos
do tempo e entramos na eternidade. Nesse momento não há pensamento de
passado, de tristeza e limitação. Não há superposição de projeção sobre um

101
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

outro; nesse momento precioso do agora nos tornamos livres do julgamento.


Estar no momento do agora é entrar num reino transcendental.
Como seríamos em relação aos outros, e a nós mesmos, se todos os
pensamentos, medos, e crenças não existissem em nossas mentes? O que
faríamos sem qualquer idéia de medo, sem pensamento de dor, raiva, ou
frustração? A verdade é que nossos pensamentos e crenças não são o que
somos; nós, em nosso estado de ser-ego, projetamos essa realidade e nada disso
é real. Se, assim tão fortemente, queremos ser livres do sofrimento, temos de
compreender que tudo isso foi, inconscientemente, manifestado pelo
pensamento, e pelas subseqüentes crenças debilitantes de nosso ego. Tudo
pareceu tão real e verdadeiro que nossas crenças foram, imediatamente,
refletidas de volta para nós, pelo aparente mundo externo – como num espelho
gigantesco, sem moldura, proscênio, cortina ou ribalta, para que passasse como
real, para nós. Isso tem sido nosso círculo vicioso, a que chamamos nossa
realidade. Realmente pensamos que vemos nisso a confirmação de que a nossa
realidade seja verdade, mas nada dela é verdade! A Verdade aqui é que nós,
através de nossos pensamentos e crenças distorcidos, projetamos qualquer que
seja o sofrimento, pessoal ou coletivo, que percebamos existir em nossa
realidade hoje. Para reverter essa insanidade temos de aprender a entrar em
nosso momento de atenção e quietude, porque é esse lugar onde atingimos a
maravilhosa – e única – sensação de sincera humildade e Unicidade. Nenhum
de nossos pontos de referência do passado permanece, e ficamos literalmente
livres da limitação; por isso, nenhum julgamento entra. Pelo silêncio imposto ao
ego, nossas mentes ficam livres para se abrirem para uma nova perspectiva.
Libertos, nada do que olhamos está tisnado pelo passado, ou pelo futuro; tudo
está viçoso e vivo.
Depois disso, quando voltamos a ver os que amamos, podemos escolher
entrar – de novo – num momento de total atenção e quietude, para conseguir vê-
los sem qualquer forma de referência passada. Podemos permitir-nos, então, vê-
los sem quaisquer pensamentos, crenças ou julgamentos, apenas permitir que
seus Seres Unificados revelem seus autênticos reflexos luminosos da Verdade
que, por tanto tempo, estiveram ocultos por nossas percepções distorcidas.
Quando tiveres aprendido a olhar para todas as pessoas sem fazer
absolutamente nenhuma referência ao passado, ou ao delas ou ao teu,
conforme o percebias, serás capaz de aprender com o que vês agora. ... O
passado do teu irmão não tem realidade no presente, portanto não podes
vê-lo. ... O milagre te capacita a ver o teu irmão sem passado e, assim,
percebê-lo como tendo nascido de novo. Os erros do teu irmão são todos do
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

passado e, por percebê-lo sem erros, tu o estás liberando. E como o passado


do teu irmão é o teu, compartilhas dessa liberação. (T-13.VI.2:3;1:4;5:1-3)
E quando plenamente entramos no instante do agora, experienciamos
...a suspensão das barreiras do tempo e do espaço, a experiência repentina
de paz e de alegria e, acima de tudo, a falta de consciência do corpo, ... (T-
18.VI.13:6)

Decisão de Transformar Nosso Relacionamento


Muitas vezes, decidiremos nos comprometer a transformar nossos
relacionamentos especiais com pessoas que amamos, enquanto elas ainda não
estão desejosas, ou atentas, à necessidade da transformação. Se esse é o nosso
desafio, que desejamos a mudança e eles não a querem, ou não a valorizam, é
sábio sermos pacientes. Qualquer puxada, ou empurrada, de nossa parte só
aumenta a ansiedade de nosso/a parceiro/a, e lhe causa medo. A Verdade é que
tudo que precisamos fazer é, literalmente, colocar nosso intento, de todo
coração, num relacionamento Unificado com a própria Inspiração Universal. O
instante em que pedimos Integridade, é o instante – ‘Instante Santo,’ como o
Curso o chama – em que nosso pedido é envolvido, e a transformação é
iniciada. Todo relacionamento terá sua própria maneira de encontrar uma meta
integrada, na qual o relacionamento Unificado progredirá. Se formos sinceros, e
pacientes, trabalharemos por conta própria, investigando nossos pensamentos
destrutivos, e crenças limitantes, e nos aplicaremos, diligentemente, à tarefa de
remover os bloqueios à ciência da presença do Amor. Seja paciente, e veja isso
como uma oportunidade para sermos um Professor de Amor e de aceitação, por
demonstração. Nossa mudança para melhor é um convite, permanentemente
aberto, à/ao parceira/o, para unir-se conosco nessa meta Unificada de Amor
Infinito.
Algumas vezes, quando duas pessoas estão cara a cara com a mudança
da meta do relacionamento de especial à meta unificada, o resultado pode não
ser o que esperamos. Ocasionalmente, ou um, ou ambos os parceiros, decidem
desistir da transformação, preferindo apegar-se à forma condicional e velha do
amor especial. Pode haver uma inabilidade, ou indisponibilidade, de se
comprometer no nível necessário, para que a reforma de amor verdadeiro
ocorra. Se isso, no final, acontecer, o relacionamento frequentemente se desfaz,
e a velha meta de especialismo é buscada, dentro de outro relacionamento,
novamente, especial.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Quando um relacionamento romântico acaba é, muitas vezes, muito


triste e infeliz, ainda mais quando houve uma tentativa de transformá-lo de
relacionamento especial em Unificado. Nesse caso, é importante compreender
que o rompimento foi o final, por falta de suficiente Amor Real se estender
entre os parceiros. Amor Real só consegue ser aumentado por estendê-lo.
Fazemos através do perdão (deixando passar os erros do ego em si mesmo, e
no/a parceiro/a), gratidão, paciência, dar incondicional, ouvindo, comunicando-
se honestamente, sem agendas ocultas, em absolutamente nenhuma condição,
significando intenção de receber qualquer coisa em retorno. O milagre do Amor
Consciente é conhecido através da extensão incondicional e, inicialmente, isso
pode requerer extrema paciência, e tolerância, na parte inicial do
relacionamento de transição.

Intimidade
Ao iniciar, ou transformar, um relacionamento especial para um relacionamento
Unificado, é útil manter em mente que essa é uma mudança radical, em direção
a águas não mapeadas. Enquanto nossa meta seja alcançar um amor consistente
e irreversível, que não consiga ser ameaçado por ninguém, nem coisa alguma, a
nós está sendo pedido abandonar todas nossas defesas do ego, inclusive suas
escusas, projeções, negações, ressentimentos, ataques e necessidades, truques e
meneios.
Se o que nós, verdadeiramente, ansiamos é um
Amor profundo e eterno, então temos de estar
Intimidade verdadeira
preparados a ajudar a remover os bloqueios à
ciência de Sua presença nos outros, bem como
vai muito além do sexo
em nós mesmos. Isso significa aprender que e de estar, física e
intimidade verdadeira vai muito além do sexo e emocionalmente,
de estar, física e emocionalmente, próximo. próximo.
Intimidade autêntica começa aprendendo a abrir mão de nossas defesas.
É por meio de abrir-se, e ousar ser honesto e vulnerável, com nossos amados
que destrancamos o Portal do Amor. Através disso ganhamos
autoconhecimento, e auto-amor. Aprendemos a confiar em nós mesmos, e na
Fonte. Duradoura intimidade autêntica vem de aprendermos a acessar nossa
própria natureza verdadeira. Entretanto, o que a maioria faz é ficar enleada,
numa fútil busca cíclica por intimidade, em breves encontros de sexo e
proximidade, tanto emocionais ou físicos. Erradamente cremos que esses
encontros comportamentais com outra pessoa nos darão o que ansiamos, mas
eles, consistentemente, não conseguem dar o que, afinal, devemos só encontrar
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

dentro de nós mesmos. É por isso que tantos sentem que o amor parece declinar
com o tempo.
Encontrar intimidade interior é alcançada exercitando o amor sem
defesa. O que quer que seja que nós, equivocadamente, pensemos precisar para
defender, ocultar ou negar em nós mesmos, acabará por negar-nos o Amor que
tão fortemente desejamos. Jett Psaris e Marlena S. Lyons falam a respeito de
intimidade:
“Ansiamos por ultrapassar a rotina, sem paixão, ou relacionamentos movidos
por conflito, mas temos medo de assumir os riscos pessoais necessários, para
nos livrar de nossa maneira auto protetora antiga de ser. Em vez disso,
escolhemos manter-nos emocionalmente seguros, confortáveis, e no controle.
Uma vez reconheçamos que todos nossos esforços para mudar o comportamento
de nosso parceiro, ou parceira, ou encontrar um “melhor’ parceiro, ou parceira,
falharam de nos prover com o que mais desejamos no relacionamento, só então
começamos o desafio de auto exploração, necessário a uma conexão profunda e
nutridora com o outro.
“No processo de aprender a tolerar nossos medos, interromper antigos
padrões defensivos, e deixar ir nossas tentativas de manipular nossos parceiros,
ou parceiras, focalizamos nossa atenção em aumentar nossa ciência nas
camadas mais profundas de nossa experiência. Descobrindo que a intimidade
começa com descobrir a nós mesmos, não com a fixação ou o controle de nós
mesmos ou de nossos parceiros, ou parceiras. Temos de nos tornar visíveis,
antes de conseguir sermos vistos. Temos de nos fazer disponíveis, antes que
nossos corações consigam ser afetados. E temos de nos fazer presentes, antes de
conseguir sermos íntimos. Quando conseguirmos abandonar todas as pretensões,
e nos relacionar com um coração indefeso, conseguimos, finalmente, descobrir a
conexão que ansiamos ter com nossos autênticos seres, e com nossos parceiros,
ou parceiras.” (Amor Sem Defesas, 11-2, Psaris, e Lyons)48

Resolução de Conflito
Mudar nosso limitado relacionamento especial para um relacionamento
Unificado envolve mudanças iniciais, e essas mudanças, a princípio, conseguem

48
N.T. – Jett Psaris e Marlena S. Lyons co-fundadoras de The Conscious Living
Center (Centro de Vivência Consciente) na área da Baía de São Francisco, e co-autoras
de Undefended Love, (Amor Sem Defesas), estudo a respeito de como habitar o espectro
pleno de sua própria humanidade. Sem publicação em português desse livro, até a data

105
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

parecer não amorosas. Estamos, de tal forma, acostumados a querer estar


separados, e sermos especiais, que quando nós, ou nossos parceiros,
abandonamos o especialismo, parece que o próprio Amor foi retirado. Por tanto
tempo estivemos tão identificados com o pseudo-amor que ainda não vimos, e
nem sentimos, os enormes benefícios obtidos por aprender a nos relacionar
Verdadeiramente através do relacionamento Unificado.
Resolver qualquer forma de conflito que haja sido baseado em
ressentimento, raiva, ou julgamento, requer uma abordagem completamente
diferente das que, usualmente, havíamos tomado no passado. Ao primeiro sinal
de perda de paz surge a oportunidade de entender que aí está a probabilidade de
encontrar a meta de renovação de nosso relacionamento. Em lugar de reagirmos
disfuncionalmente, podemos:
• Ver essa perda de paz como um sinal instantâneo, como um ‘pisca alerta’,
para, conscientemente, juntos, nos lembrarmos de nossa meta. Pergunte-se,
“O que quero que advenha disso? Para que serve isso?”
• Lembrar que o propósito dessa situação é apenas para você deixar de lado o
ego. Você faz isso ao não torná-lo real. Você, por vontade própria, decide-se a
não ofender ninguém, nem tão pouco sentir-se ofendido/a por quem quer que
seja, notadamente pelo/a parceiro/a.
• Invocar o momento do agora e manter-se afiadamente atento para que nada
desse conflito obscureça o Ser Unificado de seu/sua parceiro/a ou a meta
conjunta Unificada de ambos. Pedir para ver a Verdade, o tempo todo, nada
mais que isso e senão isso.
Conflito não consegue ser curado quando resolvido em seu próprio
nível. Abordado da forma usual pode unicamente exacerbar a causa do
problema. Isso pede uma judiciosa mudança de mente, no minuto em que
identificamos os sinais de perda de paz (ver neste livro a seção “Que as
condições que causam meu medo sejam removidas”, Estágio 2, Cap. 6),
lembrando-se de ver cada desafio à paz como uma oportunidade de se apegar,
ainda mais, às metas de paz, unidade, perdão e descarte do erro. Perguntemos a
nós mesmos a simples questão: “Eu quero paz ou quero o caos que vem por
deixar o ego pensar que ele esteja com a razão?” Se seguirmos esse processo
seremos capazes de:
• Curar todo conflito porque estamos cônscios de e dedicados a abdicar ao
vício por conflito do ego.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

• Lembrar de que todo conflito emerge ao projetarmos, para fora de nós, nossa
própria culpa submersa. Com isso nos tornamos capazes de impersonalizar
nossa reação inicial, e descartar os detalhes triviais da situação.
• Decidir a escolher paz, sabendo que a fonte real do problema percebido
nunca está fora de nós, mas em nossa mente.
O que é requerido é que, no momento do conflito, quem for o mais são
se lembra da meta, entra no momento do agora, e pede por transformação nesse
ponto.49 Isso é feito a favor de ambos, nós mesmos e nossos parceiros. Esse
processo de resolução é um que urge ser tomado muitas vezes, até que seja
desfeita a crença de que a separação e o conflito estejam fora de nós.
A meta num relacionamento Unificado é um liberar o outro. Por
liberação queremos dizer um liberar o outro da falsa percepção de que sejamos
meros humanos dualistas existindo num ambiente inseguro. Nesse
relacionamento aprendemos que nosso parceiro não está separado – de que ele,
ou ela, somos nós. Por consistente e ininterrupto descarte do ego, finalmente
conseguiremos convencer nosso parceiro de que ele, ou ela, é o Ser Infinito e
Unificado. Nosso parceiro despertará para essa Verdade e vivenciará a
percepção que comunicamos. Essa pessoa, tendo sido amada
incondicionalmente por nós, retorna para nós a dádiva da percepção de nosso
Ser Unificado. Juntos descobrimos que somos Um.

Compromisso Antecipado com a Verdade


Você notou que quando interagimos um com o outro, quase sempre deixamos a
conversação determinar o resultado? Por exemplo, se nos encontramos no meio
de uma conversação carregada emocionalmente, quais são nossos pensamentos
usuais? Por causa do ego querer suas necessidades atendidas, quaisquer crenças,
valores e opiniões que tenhamos, protegeremos. E o que resulta da direção do
ego? O resultado será sempre randômico. O resultado parecerá ser bom, se as
necessidades do ego forem atendidas, e se não o forem, então o ataque, a
acusação e a culpa terminam sendo o resultado.

49
N.T. – Recorro sempre a uma oração: “Eu sei que nada sei, mas Ele Sabe o que é
melhor para todos nós. Por isso coloco-me em disponibilidade para que Ele faça a
Correção na mente de todos os envolvidos nessa falsa percepção. Deus é. Eu sou
Seu Filho. Tudo e todos estão perdoados, ____ inclusive. E o milagre se faz, pelo
que Lhe rendo graças. Amém” de Marcos, Professor de Deus, dirigente do grupo
UCEM da Internet, “a-cura-da-mente-e-o-retorno-a-deus,” o único grupo na net
brasileira que, de fato, ensina Um Curso em Milagres, marcos_morgado@hotmail.com.
107
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

O ego tem suas agendas ocultas em comunicação, e sempre permite à


própria situação determinar o resultado, segundo seus gostos e desgostos. Esse
processo leva, inevitavelmente, à separação porque o resultado de nossa
interação conseguiria ser qualquer coisa. Quando nos comunicamos realmente,
precisamos reverter o procedimento do ego, introduzindo, antes de tudo, uma
meta positiva para todas as nossas interações. Quando quer que seja que
estejamos ao ponto de nos engajar numa conversação, particularmente se ela
conseguiria apertar nossos botões, precisamos nos relembrar de que a meta de
toda interação é – sempre – a paz. Quando nos damos conta de que nossa meta é
a paz, conseguimos decidir antecipadamente o que queremos que aconteça; daí
passamos a ver a situação como o meio de fazê-la acontecer!
Não dê a oportunidade ao ego de produzir uma interação falha com um
outro, apenas porque ele permitiu que o “conteúdo” determinasse o resultado.
Depende de você tomar a decisão de comprometer antecipadamente com a
Verdade. E se você sente, ou fica sabendo, que fracassou, perdoe-se, e comece
tudo outra vez. 50

Confundir o Corpo com a Verdade


Em relacionamentos românticos seremos desafiados a mudar nossa percepção
do corpo (o casulo) para o Ser (a borboleta) dentro dele. Nossa cultura focaliza
sobre o corpo, para exclusão de sua essência e propósito Verdadeiros. Neste
livro, na seção que trata de relacionamentos especiais, discutimos que somos
grandemente enganchados no especialismo; por causa da natureza do ego,
inconscientemente buscamos ganhar sempre, em vez de dar
incondicionalmente.
O corpo, como o ego, é uma ilusão e quando, equivocadamente, nos
identificamos com ele, crendo ser o meio pelo qual ganhamos nossa satisfação,
convidamos a separação e o caos. Como um casulo, o corpo é literalmente
apenas uma concha, temporária e sempre cambiante. Seu único propósito neste
mundo é facilitar a comunicação – comunicação amorosa. Usando-o para atacar,
ou julgar, abusamos dele. Confundir o casulo com a borboleta é uma séria
interpretação equivocada. Mesmo assim, qualquer relacionamento romântico

50
N.T. – Num encontro, seja para o que for, antes de chegar, faço o que chamo de
perdão antecipado, reconhecendo que vou me encontrar com o Filho santo do Pai, que
nosso encontro é o Instante Santo e nossas palavras fluem em união e santidade, pois
nossos interesses, da pessoa e o meu, são o mesmo, Amor, Alegria e Paz.
108
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

fracassado é o legado resultante causado pelo equívoco de confundir o casulo


com a borboleta.
Não somos casulos interagindo uns com os outros, nossa busca é ver
além da concha, e pôr a borboleta em liberdade, nosso parceiro, e a nós
mesmos. Todos os dias encontramos pessoas, nas ruas, no trabalho, nos ônibus,
em toda parte. Esses encontros não são jamais randômicos. Todos esses
encontros são oportunidades de ver, ou o ego, ou o Ser Unificado. O que vemos,
aumentamos em nossa percepção. À medida que vemos além do ego, no sentido
da Perfeição Infinita de cada pessoa, a Perfeição Infinita de nosso próprio Ser
Unificado é refletida de volta a nós. Um simples sorriso do coração, pleno de
Amor Infinito, terá um profundo e incomensurável efeito – onde damos,
recebemos.

Perdão Quântico
Provavelmente a dádiva mais valiosa que conseguimos usar para transformar
nossos relacionamentos especiais em Unificados é a disponibilidade para
perdoar. O perdão real aqui tem um significado inteiramente diferente do
entendimento convencional que temos, e que o mundo tem, da palavra perdão.
A interpretação usual é vista pela perspectiva do ego: vemos primeiro que uma
pessoa pecou, e é merecedora de punição. Entretanto, decidimos perdoá-la e
livrá-la de condenação. Secundariamente, por causa do pecado, vemo-nos mais
superiores, ou especiais, por perdoá-la.
Pela perspectiva do ego, o problema com a visão do perdão é que ele,
inevitavelmente, primeiro acusa o perpetrador do pecado com o que torna o ato
pecaminoso real; daí, ao perdoá-lo, nos coloca no foco de uma luz superior por
sermos percebidos como a vítima, desamparada e inocente, de seu ato. Assim,
mais uma vez o ego acusa, julga e separa. Esse é o perdão do ego. O perdão
quântico, termo usado por Gary Renard (em A Arte do Perdão Avançado
[DVD], http://www.pathwaysoflight.org, Pathways of Light,) descreve a
experiência imensamente transformativa de um novo perdão. Essa nova forma
de perdão é uma dinâmica miraculosa contendo, dentro dele, o poder da
Inspiração Universal. Se algo consegue fazer evaporar muitos anos de dolorosa
evolução e trazer-nos, imediatamente, para um permanente Estado de
Unicidade, é o perdão verdadeiro, chamado por Gary de perdão avançado, ou,
denominado por nós, perdão quântico,
Quando praticamos o perdão quântico nos lembramos de que há apenas
duas interpretações possíveis a qualquer ato ocorrido em nossa realidade; ou o
ato corresponde a uma expressão de amor ou, não sendo amoroso, traz um

109
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

pedido de amor. O último usualmente se apresentará externamente com alguém


– atuando sem amor – julga ou ataca, de alguma forma. O perdão quântico vê
além das ilusões do ego e reconhece uma única realidade, de que o assim
chamado pecado é um pedido de amor e, como tal, requer uma interpretação
amorosa. Isso é feito pela percepção de aí não haver pecado cometido, em
primeiro lugar. Não há tal coisa chamada pecado, só erro causado por
ignorância egóica. A solução não está em reforçar o erro, tornando-o real; está
em descartar o erro e pedir à Inspiração Universal que se ponha entre nós e
quaisquer fantasias de recriminação ou julgamento que nosso ego venha a ter.
Na eventualidade de que seu parceiro, ou alguém mais, lance
julgamento sobre você, lembre-se desta importante Verdade:
qualquer julgamento ao qual você reaja é sempre seu próprio auto julgamento
que está sendo espelhado de volta a você, através da sua própria acusação
antagônica de outro. E se, verdadeiramente, conseguimos pôr nosso ego de lado
por um momento, seremos capazes de, num lampejo, visualizar que, realmente,
ali, diante de mim, não há nenhum outro, ou seja, nada aconteceu; nós somos só
Um.
Se você consegue ver o conteúdo de irrealidade desse erro egóico na outra
pessoa, você está, em Verdade, perdoando e curando sua própria culpa
inconsciente. Quando você acertadamente vê o julgamento, ou ataque de outra
pessoa como apenas um pedido de Amor, então você está curando sua própria
culpa subconsciente, bem como a deles..
É aqui que o poder do precioso momento do agora é convocado. Isso
requer de nós profundamente querer paz e clareza, mesmo no meio de zanga ou
desapontamento. Nesse momento precioso, peça à Inspiração Universal para
você dar um passo atrás de todos os sentimentos, pensamentos e crenças do
passado, e queira ver essa pessoa inteiramente livre do passado, e – importante
– você também. Veja essa pessoa como nova, inocente, sem erros. Daí focalize
Paz, Amor, e conexão total. Nesse instante, vendo essa pessoa sem julgamento,
então você também será libertado de camadas e mais camadas de julgamento.
Sua dádiva a ela, neste momento, libertará a ambas, para sempre. A libertação
dela é a sua, também.
Esse relacionamento, no sentido mais elevado, nos é dado para o
propósito implícito do perdão. É uma lição pessoal na qual encontraremos
oportunidades diárias de cumprir nossas quotas de aprendizado de perdão e,
como meta final, a graduação. Isso exige nossa adesão indivisa, particularmente
focalizando a meta, que é sempre Paz, em tempos de tentação de dar ou levar

110
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

ofensa. Quando entendemos isso, conseguiremos ver que toda interação


frustrante que experimentamos jamais é o que aparenta ser, aos olhos do corpo.
Em vez disso, ela nos dá a oportunidade de reinterpretar a falta, e escolher, em
vez disso, felicidade e paz, porque, na Verdade, nossa felicidade depende de ver
qualquer ataque percebido como mais uma oportunidade de perdão.
Engajar-se no perdão quântico significa descartar as reações do ego de
outro, e cultivar a capacidade de olhar direto através da transparência do ser
ilusório. Isso é o mesmo que aprender a não tomar as coisas pessoalmente,
porque fazer isso implica em manter o nosso próprio ego, e não o Ser Unificado,
como a identidade responsável por interpretar a situação. Lembre-se, não há
ordem em ilusões e, portanto, é apenas um grande erro tomar a ofensa como
vem, para devolvê-la.
Se estamos engajados em desfazer o ego, então o perdão quântico nos
oferece o caminho mais rápido de liberação. Tendo alguém significativo51 com
quem podemos interagir, isso nos dá a perfeita oportunidade de praticar o
perdão completo. Ao mesmo tempo em que podemos ter muitas chances para
perdoar, podemos também ser desafiados por uma frustração comum. Ao
desconsiderar o erro do ego da outra pessoa, podemos oferecer perdão e, mesmo
assim, podemos sentir não tê-lo ainda perdoado. No princípio, isso nos faz
sentir atuando num processo mecânico, todo feito na mente, por intermédio de
nossa intenção de perdoar. Mesmo assim, é uma decisão tomada com a
Inspiração Universal, que pode, ou não, envolver a sensação emocional
imediata de perdão. Algumas vezes poderemos oferecer perdão quântico para
outro ataque aparente, em conseqüência, liberando-nos dele, só para descobrir
que, mais adiante, na continuidade, nossa raiva, ou mágoa, reaparece. Podemos
bem pensar que nossa oferta anterior não teve resultado. Mesmo assim,
resultou; sempre resulta. Quando camadas de raiva ou mágoa aparecem, tudo
que precisamos fazer é entregá-las à Inspiração Universal. Nosso intento
cônscio de desconsiderar o erro é um processo contínuo, e no início algumas
vezes temos de apenas de “fazer de conta que está feito, até que seja feito”.
Fique tranqüilo que sua oferta de perdão quântico sempre funciona. Você até
pode, no momento, não ter a sensação que funcione, mas suas retribuições

51
N.T. – Alguém, ou outro significativo é sempre alguém com quem nutrimos
sentimentos de oposição, temos dificuldade de relacionamento, a quem ainda não
perdoamos, que desperta em nós emoções sem amor, a quem negamos ver o Ser
Unificado, divino, impedindo-nos de nos ver, a nós mesmos como tal, em Unicidade
com ele.
111
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

miraculosas se revelarão a si mesmas, à medida que você aprenda a confiar no


processo.

Visualização útil
Imagine, por um momento, que você desfrute de um estado absolutamente
extático, e bem-aventurado, onde você, e o Amor sejam inseparáveis. Quando
um momento conturbado explode, você, de repente, é catapultado para uma
circunstância desconhecida, insegura, solitária e pré-histórica, onde a linguagem
do Amor ficou estrangeira. Você permanece ali os próximos quatorze bilhões de
anos, lutando através do processo de evolução, unicamente para chegar a esse
ponto aqui, agora mesmo. Nesse momento, um raio de reconhecimento acende
uma memória antiga de seu estado original de bem-aventurança, e você se dá
conta, por completo, de que isso é o que você tanto ansiou, desde o começo dos
tempos. Você se vira, e olha rápido a uma feição familiar, e reconhece essa
pessoa como a corporificação de sua liberação final, nesta mesma existência.
Sob esse véu de mentiras do ego encontra-se a brilhante, imutável, inocente
extensão do Amor. Essa alma está aqui, diante de você, para um único propósito
– para libertar a vocês dois pelo perdão.
Sua liberdade só depende de você, ver a Verdade onde antes viu apenas
ilusão (Figura 4.3). Que gratidão imensa você poderia ter por esse espelho
imaculado de seu próprio Ser Unificado na forma de seu parceiro?
Tu e o teu irmão estão voltando ao lar juntos, após uma longa jornada sem
significado que empreenderam um à parte do outro e que não levou a lugar
nenhum. Tu achaste o teu irmão e vós iluminareis o caminho um para o
outro. ... Um relacionamento santo é um meio de ganhar tempo. Um
instante passado junto com o teu irmão restaura o universo para ambos. ...
O tempo foi economizado para ti, porque tu e o teu irmão estão juntos. (T-
18.III.8:5-6; T-18.VII.5:2-3;6:3)

Meta mútua – Relacionamento Unificado


Criar um Relacionamento Unificado requer que duas pessoas se unam numa
meta comum, unificada – idealmente, o processo de evolvimento espiritual,
alimentado e apoiado por ambos. Isso significa que, no final, ambos
participantes se unirão, em plena e total boa vontade, para favorecer sua jornada

112
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

para a Integridade, juntos. 52 Esse será o acordo fundamental, dentro do qual


repousam todas as suas decisões conjuntas. E quando um se esqueça, e se perca
novamente em especialismo, o outro suspenderá o julgamento e, gentilmente,
lembrará ao primeiro de sua meta conjunta de Paz e Amor.
A iniciação a um Relacionamento Unificado envolve duas pessoas que
se unem, mesmo que seja por um único e ínfimo momento (um precioso
momento do agora), com o sincero e mútuo intento de união na meta do
crescimento espiritual. Nesse instante a força da Inspiração Universal entra e
começa a trabalhar na remoção de bloqueios existentes à ciência da presença do
Amor.
Um Relacionamento Unificado consegue ser iniciado com qualquer um,
de qualquer idade, independente de suas atitudes e crenças particulares. O
ingrediente essencial requerido de nossa parte é a absoluta boa vontade e
prontidão para entrar, e transformar, o relacionamento. E quando estivermos
prontos de fato, nos será dada a pessoa, e a oportunidade. Pode ser com um dos
pais, um irmão, um filho, um amigo, ou um amante, ou mesmo um estranho.
Esse é o alguém significativo. Se formos o iniciador, então pode ser que
trabalhemos primeiro em nossas próprias crenças delusórias, aprendendo a
como perdoar os erros de nosso parceiro, ou parceiros. Pode parecer que nós é
que fazemos a maior parte do trabalho primeiro, mas, em verdade, estamos
praticando mais, e por isso conseguimos ser gratos. Da mesma maneira que um
time esportivo requer sessões regulares de treino, precisamos deixar de ver que
essas sessões de treino como trabalho extra. Vemos que, sem elas, não
conseguiríamos atingir nossa meta. Quando entendemos dessa maneira, a tarefa
instila em nós um sentido de gratidão. Nosso treino então é o aprendizado
continuado de perdão e, através de aprendê-lo, nós, bem literalmente, o
ensinamos. O que ensinamos, de fato aprendemos, e o que quer que seja que
aprendamos, ensinamos demonstrando.
De início, quando desistimos do relacionamento especial, e mutuamente
entramos num Relacionamento Unificado, muitas vezes encontraremos uma
fase inicial de acesso difícil, que parece cheia de inconsistências e conflitos. A
razão para isso é que a anterior meta dividida de especialismo é
instantaneamente substituída por sua meta oposta, a meta mútua de se unir num
Relacionamento Unificado. Como a dinâmica do relacionamento é mudada,

52
N.T. – Foi a decisão conjunta de Dra. Helen Schucman e Dr. William Thetford ao
concordarem em buscar “uma melhor maneira de se relacionar”, que resultou na
canalização de Um Curso em Milagres, em Nova York, a partir de 1965.
113
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

nossos papéis anteriores não mais existem, e isso pode ser, a princípio, bem des-
assentador. Haverá um tempo onde nosso padrão de comportamento anterior
conflite com nosso novo compromisso com uma meta Unificada. Essa fase de
início é uma mudança bem radical, que pode ser, às vezes, sentida como
inconfortável. Temos de nos lembrar de que o que convidamos a entrar é,
diametralmente, oposto ao sistema de pensamento do ego, e que esses estão
prestes a ser tempos de confusão. Para aprender mais a respeito da evolução do
relacionar-se, veja, neste livro, a seção “O Desenvolvimento da Confiança – 6
Estágios de Desfazimento do Ego”, particularmente Estágios de 1 a 4. Pelo
Estágio 4 nós adquirimos, ou estamos em processo de adquirir, o
Relacionamento Unificado.

Desfazer o ego em solidão – a Fórmula PIPQ


Enquanto, talvez, a estrada mais rápida para desfazer o ego seja dentro de um
Relacionamento Unificado, poderá haver circunstâncias que impeçam você de
ter alguém significativo, com quem você possa compartilhar esse processo
sagrado. Se você, por alguma razão, estiver só, você consegue, mesmo assim,
desfazer o único obstáculo à paz que há, o ego. Com toda simplicidade, pratique
a fórmula PIPQ (Presença, Inquirição e Perdão Quântico) por sua conta própria,
quando quer que sua paz interior esteja em risco. Você pode encontrar que suas
oportunidades particulares de perdão estão centradas nos seguintes pontos: no
passado, em você, em Deus e em sua situação ou circunstância. Acima de tudo,
lembre-se que você jamais está, ou fica, só. A Inspiração Universal está em
você, e fica em você, bem literalmente. Tudo que você tem a fazer é “ouvir”, e
sentir, seu medo, ou dúvida, se dissolver por completo. Isso é a Verdade!

A Maior Dádiva Imaginável


Estar no ponto final de dar, ou receber, uma troca de amor absolutamente
incondicional entre duas pessoas é, provavelmente, enquanto ainda no corpo, o
lugar mais próximo que conseguimos chegar de conhecer, e sentir, a Fonte.
Quando nos tornarmos capazes de desconsiderar uma reação do ego, e ver a
realidade mais profunda que as necessidades “reais” do outros são verdadeira e
propriamente as nossas, isso acontece quando o milagre encontra a necessidade
de ambos ao mesmo tempo; ambos recebemos um desfazimento significativo da
percepção do ego, e a memória de nosso estado de inocência imaculada retorna.
Mais uma obstrução à ciência da presença do Amor foi dissolvida.

114
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Muitos de nós já teve algum tipo de experiência mística, talvez um


sonho com visões, ou um despertar através de aquietamento, ou meditação;
mesmo assim, qualquer experiência mística é, realmente, apenas um “estado”
puramente temporário. Um “estado” raramente muda o atual “estágio” de
desenvolvimento espiritual em que possamos presentemente estar. Com o surto
de ensinamentos da Nova Era, que estão por toda parte, nos acostumamos a crer
que há valor em perseguir certos “estados espirituais”. Ao mesmo tempo em
que ter essas experiências espirituais nos dão uma “levantada,” e um sentido de
realização, elas são puramente temporárias e pouco, ou até mesmo nada,
acrescentam às nossas lições diárias de perdão.
Poderíamos dedicar muitos anos a um desses “estados”. Mas, um dia
ainda teríamos de retornar à terra, e viver ao longo de determinadas lições, que
nosso estágio espiritual de desenvolvimento requeira de nós. Não há como
escapar disso, exceto através das táticas diversionistas do ego, que meramente
retardam o inevitável, enquanto garantem também mais sofrimento. Não há
outra escapatória do círculo vicioso de nascimento e morte do que por meio da
renúncia ao ego, e isso é compreendido, unicamente, entrando em
relacionamentos e situações que nosso roteiro imperiosamente colocou diante
de nós. Não há acidentes, acasos, problemas e nem ninguém que você não deva
encontrar.53
Há só “um” neste, e além deste Universo, e você é esse “um”, exceto
que você ainda não sabe que esse “um” é você. A sua cura, e a do Universo,
vem de seu consistente reconhecimento disso, e da resposta ao fato de que cada
pessoa que aparente estar em sua vida, num corpo aparentemente separado do
seu, é só você mesmo!
Você alguma vez já foi amado sem expectativas, sem qualquer
julgamento? Você já foi amado de forma que, sem importar quantos erros você
haja cometido, continuou a ser aceito sem acusação? Alguma vez você foi visto
verdadeiramente, reconhecido de verdade por outro, como o reflexo puro do
Amor imaculado, ao mesmo tempo sabendo que eles estão felizes por,
simplesmente, amá-lo, sem nem um fiapo de exigência a seu respeito? Se você
for absolutamente honesto, você, por certo, dirá “Não”. A maioria de nós ainda
não sentiu aqui esse nível de Amor Cônscio, nem estamos familiarizados em

53
N.T. – UCEM nos ensina que tudo já está feito, terminado e acabado, pronto e
perfeito, nada restando a ser feito, e mesmo o mundo e o cosmos material já não
existem.
115
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

estendê-lo. É, precisamente por isso, que não o experienciamos, porque não o


damos, não o estendemos, ainda!
O ego crê que “dar tudo” e “perdoar a todos”, sem limitações
condicionantes, significa que perderemos. Estaríamos nos sacrificando, e
abrindo mão de muita coisa. O ego crê estarmos todos separados, e se você “dá
tudo” e “perdoa a todos”, então, no melhor, você é deixado com menos e, no
pior, você é deixado sem nada, porque você deu tudo. E aqui reside a
oportunidade para uma completa inversão, uma mudança miraculosa na
percepção. Só uma mudança é requerida para você convidar a experiência
valiosa de amor incondicional pelo outro, um Amor que iria durar para sempre,
e cimentar o relacionamento, cuja meta Santa é a cura de ambos. Se esse nível
de Amor é seu desejo, então apenas uma mudança é necessária em sua
percepção: ver que não há nenhum outro. Esse é você! O que seja que dê –
todo amor, perdão, paciência, confiança, permissão, aceitação e não julgamento
– tudo vem para você, porque é dado a você. Porque, no final, há apenas você,
refletido em toda interação que você tenha com o outro, ou os outros, pois
aparentamos sermos muitos.
Não creia no ego por mais nenhum momento! Se alguma vez você
assumiu totalmente o risco de “dar tudo” e “perdoar a todos,” então você
conhecerá a bem-aventurança, extática e jubilosa, de ser amado por outro que
realmente vê Você, além da identidade superficial do ego. Ser agraciado através
dos olhos amorosos dos perdoados, é conhecer que nós mesmos estamos
perdoados e, portanto, Amados além de nossa imaginação mais selvagem.
Depois de você entrar nesse tipo de Amor Cônscio, nunca mais você aceitará o
gênero de amor falsificado do ego, e sua vida espelhará seu amor incondicional
para todos, indiscriminadamente.
Não há outra. O que damos, damos a nós mesmos, e o que vemos,
fortalecemos, em nós mesmos, e no mundo. Essa é a atitude mental que desfará
o ego, e nos fará retornar à existência magnificamente amorosa, à qual
pertencemos. Essa percepção particular, com sua aplicação prática, é a nossa
estrada mais rápida para Casa. Você realmente quer ir mais lento?
Seu relacionamento Unificado é seu grande catalisador para trazer o
Céu à terra, tanto pessoal, como coletivamente. Há uma transferência mística
que acontece dentro da união de duas mentes, cada uma dedicada
antecipadamente em ver apenas a Verdade, em cada outra. Qualquer
indisposição percebida consegue ser curada pela extensão desse nível de Amor
Cônscio. Muitos vícios anteriores são abandonados, voluntariamente, e sem

116
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

esforço. De fato, é bom saber: os vícios é que deixam você em vez de, ao
contrário, aparentemente, você deixá-los.
Talvez tudo que desejamos, tudo que fazemos, e tudo pelo que vivemos
seja uma gigantesca “cobertura,” para a única coisa que, inequivocamente,
atende todas as nossas necessidades. Toda necessidade que temos de existir
nesta forma, no tempo e no espaço, será revelada pela única Resposta que é o
Amor, que encontraremos como sendo nós mesmos. E isso descobriremos na
maior dádiva imaginável.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

117
LEVA-ME À VERDADE N.Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Capítulo 5

DESENVOLVIMENTO
D A C O N F I A N Ç A :
O DESFAZIMENTO DO EGO

Confiança na Fonte é a mais importante de todas as qualidades requeridas, para


alcançar o nosso potencial. Nos estágios iniciais do desenvolvimento espiritual,
a maior porção de nossa confiança continua sendo investida no ser-ego. Então, a
viagem para a Integridade é aquela que fazemos quando a confiança no ser-ego
é retirada, e mudada para a Fonte. Isso, como dissemos antes, é usualmente
conseguido em estágios, ao longo do tempo.
Quando nos damos conta de que esse crescimento espiritual é a forma
mais básica de aprender a confiar no Ser Unificado, em lugar do ser-ego, nós
nos tornamos melhor preparados para ir adiante, ao longo desse processo. O que
quer que seja que esteja nos impedindo de avançar, ou bloqueando nosso
caminho, será transformado, removido, desfeito e isso é, muitas vezes,
evidenciado por contraste. Como conseguimos aprender a diferença entre o que
é verdadeiramente valioso e o que não o seja, sem contrastá-lo como nosso
professor?
Confiar na Fonte, definitivamente, não é fé ingênua. Essa confiança é
um ponto de equilíbrio afinado, de maneira muito sensível, entre a
responsabilidade pessoal, e a certeza absoluta. Ele vem por meio do
reconhecimento da existência de um conflito interior, e uma disponibilidade de
se render à Fonte, Que sempre tem nosso melhor interesse, como seu objetivo
maior. Em tempos de tormenta, ou desapontamento, a Confiança ilumina a
situação, nos relembrando que, não importa o que aconteça, tudo é sempre
orientado para o nosso mais alto bem. A sabedoria de que tudo é sempre
perfeito vem de saber que a nós será dado o que precisamos, mas, não
necessariamente, o que queremos (ver figura 6.1:Necessidades e Desejos).
Temos de nos lembrar que, aqui, no sonho, nós não percebemos nossos maiores
interesses;54 só a Fonte sabe.
A única maneira pela qual conseguimos perceber a incrível liberação, e
o sentimento absoluto de segurança da Confiança, é pelo desfazimento de nosso
ser-ego. No desenvolvimento da confiança temos de reconhecer que somos
como criancinhas, que não entendem nada do que percebem e, constantemente,
perguntam, “Que significa isso?” Como sempre questionamos nossa nova

54
N.T. – E-pI.24, UCEM
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

percepção e entendimento, temos unicamente de nos lembrar de que a


Inspiração Universal é nosso guia, e sempre responde a nossos apelos.
Não percebemos os nossos maiores interesses e, na primeira vez que
vemos isso, temos de, consistentemente, nos comprometer a entregar nossos
maiores interesses ao nosso Ser Unificado. Somente, então, conseguimos
progredir, sem resistência, ao longo dos estágios de confiança. Um Curso em
Milagres, para nos ajudar, oferece uma analogia ao abraçar a mudança da
percepção do ser-ego, para a integração ao Ser Unificado
“As crianças percebem fantasmas amedrontadores, monstros e dragões, e
ficam aterrorizadas. No entanto, se elas perguntam a alguém em quem
confiam o significado do que percebem e se estão dispostas a soltar as suas
próprias interpretações em favor da realidade, o medo desaparece junto
com elas. Quando uma criança recebe ajuda para traduzir o seu
“fantasma” em uma cortina, o seu “monstro” em uma sombra, o seu
“dragão” em um sonho, ela não mais tem medo e, com felicidade, ri do seu
próprio medo.
...Pois o medo não está na realidade, mas nas mentes das crianças,
que não compreendem a realidade. É apenas a sua falta de compreensão
que as amedronta e, quando aprendem a perceber verdadeiramente, não
mais têm medo. (T-11.VIII.13:1-3;14:4-5)

Estágios do Desenvolvimento da Confiança: Desfazimento do ego


A seção seguinte descreve os vários estágios no desenvolvimento da Confiança,
por meio do processo de desfazer o ego. Essa informação é baseada no Manual
para Professores, pág. 9-11, do tema 4.I – “A Confiança,” em Um Curso em
Milagres.
Os “Seis Estágios do Desenvolvimento da Confiança” são um guia,
completo e acabado, nos ajudando a aumentar a Confiança e, por meio do
desapego do ego, a remover os nossos bloqueios ao entendimento da Presença
do Amor. Eles são destinados a nos assistir na compreensão do processo que
chamamos de Desfazimento. Quando mais desfazemos nosso apego ao ego,
mais confiamos na Fonte.
Cada um desses estágios, na seqüência, amplia e aclara, cada vez mais,
a percepção. Quanto mais avançamos, menos investimos na dualidade, tal como
bom ou mau. “Bom” se torna qualquer coisa que nos traga para mais perto da
Verdade e “mau” é qualquer coisa que nos distancie dela.
Em cada um dos estágios haverá sobreposição. Por exemplo, você pode
estar experienciando muitas intuições no Estágio 4, enquanto ainda luta com
120
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

algumas limitações do Estágio 3. Uma sucessão de eventos recorrentes


consegue, algumas vezes, ocorrer, especialmente pela tentação, trazida pelo ser-
ego, de perceber sacrifício, durante os três primeiros estágios.
Conseguir o desapego do ego erradica medo, limitação e caos. Uma vez
esses sejam descartados, despertamos para os milagres.
Em cada Estágio do desenvolvimento da confiança, nossa percepção da
realidade muda e evolve, como nós evolvemos, prosseguindo em direção ao
desapego do ego. Por exemplo, alguém no Estágio 2 e alguém no Estágio 3,
experienciando o mesmo evento, cada um perceberá os seus arredores
diferentemente. Exemplo da disparidade entre a percepção de pessoas em
estágios diferentes se vê quando alguém, no Estágio 1, fica ofendido quando
ele, ou ela, experiencia uma pessoa, já no Estágio 5, sendo autêntica. Algumas
vezes as ações autênticas, e falas verdadeiras de uma pessoa, que já está no
Estágio 5, e já venceu a falsa humildade e o sacrifício, são mal interpretadas
como sem caridade, irreverentes ou ofensivas ao ego de pessoas ainda nos
estágios bem iniciais de seu desfazimento do ego.55
O evolvimento espiritual pouco tem a ver com o que chamam de ser
bom, e tudo a ver com o que denominamos ser autêntico. Crescer diz respeito a
adquirir autoconhecimento na prática disciplinada da fórmula ‘PIPQ’, Presença,
Investigação e Perdão Quântico. É o desfazer da percepção egóica, e o
desvendar de Quem somos, abaixo da terceira camada de ilusão. À medida que
melhoramos nossa afinação com nossos pensamentos e emoções, aprendemos a
observar, e ajustar, a dinâmica de nosso relacionamento com o mundo. Nossas
vidas se transformam, à medida que nos tornamos mais autênticos, e a nossa
confiança é fortalecida, pela limpidez adquirida pela percepção.
Desenvolvemos Confiança em nosso Ser Unificado ao desaprendermos
nossa aliança com o ser-ego. Todo esse processo é, literalmente, o reverso
daquele no qual nós, automaticamente, cremos seja verdadeiro e real. O quanto
limitada seja nossa capacidade de perceber amor, confiança, paz, alegria e
abundância, ela será desfeita. Esta é uma experiência de desprogramação e
reeducação. É quase literal o processo de seis estágios, assestado na
desidentificação com o ego. A única parte de toda a jornada que causará
desconforto, é a nossa própria resistência. Porque temos existido (pessoal e

55
N.T. – A solução para os mais avançados nos estágios do desfazimento do ego é, de
preferência, silenciarem suas interpretações diante de iniciantes do desfazimento do ego,
para não serem mal interpretados e, por isso, em geral e com freqüência, “expelidos”
dos grupos, que é o que sucede, comumente, como já vi acontecer, várias vezes. “Falar é
prata, calar é ouro,” diz o ditado. Hoje é a minha preferência.
121
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

globalmente) por éons em tal sistema de crença extremamente constrito, e


invertido, de cabeça para baixo, nós nos apegamos, inconscientemente, ao que
seja familiar, quer seja, ou não, em detrimento de nós. Em outras palavras,
repetindo, nós não percebemos nossos maiores interesses, exceto para pedir por
Orientação do Alto.
Se tivermos uma mente totalmente aberta, querendo reconhecer que
nada sabemos, no mais alto sentido Universal, e de todo coração confiamos no
processo, nos deslocamos através do medo para o amor, com ínfima resistência.
Infelizmente, a resistência é mais comum, particularmente no começo do
desfazimento. Entendendo, antecipadamente, quais sejam, ou seriam, as razões
para nossa resistência, nos ajuda a aumentar a confiança.
Esse guia dos Estágios de Desenvolvimento da Confiança é destinado a
prover você com um mapa de estrada aproximado que iluminará seu caminho e
o ajudará a encorajar e apoiar seu compromisso, à medida de seu progresso.

Estágios de Desenvolvimento da Confiança - Resumo

1.Desfazimento
Em primeiro lugar, eles têm de passar pelo que poderia ser chamado de
“um período de desfazer.” Isso não precisa ser doloroso, mas usualmente é
experimentado assim. Parece que as coisas estão sendo tiradas de nós e
inicialmente é raro que se compreenda que o fato de que elas não têm valor
está apenas sendo reconhecido. Como é possível que a ausência de valor
seja percebida, a não ser que a pessoa esteja em uma posição na qual não
possa deixar de ver as coisas sob uma luz diferente? Ela não está ainda
num ponto em que possa fazer toda a mudança internamente. E assim, o
plano algumas vezes pede mudanças no que parecem ser circunstâncias
externas. Essas mudanças são sempre úteis. Quando o professor de Deus
tiver aprendido isso, ele passará para o segundo estádio. (M-4.I.A.3:1-8)
O primeiro estágio56 usualmente começa com um chamado de
despertar, causado por desilusão, por um relacionamento interrompido, um
acidente, uma perda, um colapso na carreira, uma crise de identidade, ou uma
morte. Isso marca uma virada no sentido de nossa busca de uma direção
diferente na vida, e se torna o nosso convite à Inspiração Universal para iniciar
o processo de Desfazimento, dentro de nossa percepção. Ocasionalmente esse

56
N.T. – O Curso registra ‘estádio’ e no livro está ‘estágio’. São sinônimos.
122
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

estágio consegue ser trazido a nós por uma experiência espiritual, que expõe
fortemente a ausência de significado de nossa existência presente, nos
motivando, assim, a buscar um percurso mais leve, dali em diante.
Isso inicia o raiar da responsabilidade pessoal, e da possibilidade de
criar nossa própria realidade. Isso também dá início ao conflito interno do ser-
ego, como um resultado da oposição ao novo sistema de pensamento.

2.Separação
Em seguida, o Professor de Deus tem de atravessar um “período de
seleção”. Isso é sempre um tanto difícil, porque, tendo aprendido que as
mudanças em sua vida são sempre úteis, ele agora terá de decidir todas as
coisas considerando se elas são mais, ou menos, úteis. Ele vai descobrir que
muitas, se não a maior parte, das coisas que valorizava, apenas dificultarão
a sua capacidade de transferir o que aprendeu para novas situações, na
medida em que surjam. Tendo valorizado ao que realmente não tem valor,
ele não vai generalizar a lição por medo de perda e sacrifício. É preciso um
grande aprendizado para compreender que todas as coisas, eventos,
encontros e circunstâncias são úteis. Só na medida em que sejam úteis é
que qualquer grau de realidade lhes devem ser atribuído nesse mundo de
ilusões. A palavra “valor” não se aplica a nada além disso. (M-4.I.A.4:1-7)
Neste ponto começamos a aprender que mudanças são sempre úteis.
Começamos a separar o que estamos aprendendo a ver como sem valor, e a reter
só o que tenha, mesmo que ainda haja medo da perda, e do sacrifício. Aqui há
uma superposição com o Estágio 1.

3. Abandono
O terceiro estádio pelo qual o Professor de Deus tem de passar pode ser
chamado de um “período de abandono”. Se isso for interpretado como uma
desistência do desejável, engendrará enormes conflitos. Poucos Professores
de Deus escapam inteiramente dessa aflição. Não há, porém, nenhum
sentido em separar o que tem valor do que não tem, a não ser que se dê o
passo seguinte, que é óbvio. Portanto, o período intermediário pode ser
aquele no qual o Professor de Deus se sinta solicitado a sacrificar seus mais
caros interesses em nome da verdade. Ele ainda não se deu conta de quão
totalmente impossível seria tal exigência. Ele só pode aprender isso na
medida em que, de fato, desista do que não tem valor. Através disso
aprende que aonde antecipou dor, acha, ao contrário, uma feliz leveza de

123
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

coração; onde pensou que algo lhe estava sendo pedido, acha uma dádiva
concedida para ele. (M-4.I.A.5:1-8)
Se esse estágio for visto como abandono do desejável, então enorme
conflito pode resultar. Aqui aprendemos a abandonar a disfunção de
relacionamentos especiais, e o período pode vir a ser percebido como sendo
“convocação ao sacrifício de nossos maiores interesses em nome da verdade.”57
Ao abandonar o que não tem valor aprendemos que felicidade e leveza de
coração substituem – imediata ou paulatinamente – a mágoa que previamente
podemos ter antecipado.

4.Assentamento
Agora vem um ‘período de assentamento’. Esse é um período de quietude,
no qual o Professor de Deus descansa um pouco em certa paz. Agora ele
consolida o seu aprendizado. Agora começa a ver o valor de transferir o
que aprendeu. O potencial disso é literalmente assombroso e o professor de
Deus está agora em um ponto de seu desenvolvimento no qual vê nisso a
sua saída. “Desiste do que não queres e guarda o que queres.” Como é
simples e óbvio! E como é fácil se fazer! O professor de Deus necessita desse
período de pausa. Contudo ele ainda não veio tão longe quanto imagina. No
entanto, quando estiver pronto para seguir adiante, vai com companheiros
poderosos ao seu lado. Agora ele descansa um pouco e os reúne antes de
prosseguir. Daqui para frente ele não está mais sozinho. (M-4.I.A.6)
Esse é um tempo de consolidação e aprendemos, por meio do abandono
efetivo, que não há, realmente, qualquer sacrifício. Reconhecemos o poder
desse novo sistema de pensamento, e podemos ver nosso caminho livre de todos
os obstáculos. Esse pode vir a ser um período eufórico. O conflito interior se
foi, e a paz é restaurada. Isso é quando nós usualmente reunimos companheiros
poderosos, pelo estabelecimento de Relacionamento Unificado (Santo), e
vamos, dali em frente, com eles. Ou, se estamos sós, podemos vir a encontrar
nossas companhias poderosas emergindo como a Inspiração Universal, e o
perdão Quântico.

5. Desmonte
O próximo estádio é, de fato, um “período de des-assentamento”
[desmonte]. Agora o professor de Deus tem de compreender que ele

57
M-9, UCEM
124
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

realmente não sabia o que tinha e o que não tinha valor. Tudo o que
realmente aprendeu até aqui foi que não queria o que não tinha valor e, de
fato, queria o que tinha. Apesar disso, sua própria seleção foi sem
significado no sentido de lhe ensinar a diferença. A idéia de sacrifício, tão
central em seu próprio sistema de pensamento, fez com que fosse
impossível para ele julgar. Ele pensou ter aprendido a disponibilidade, mas
vê agora que não sabe para que serve essa disponibilidade. E agora tem de
atingir um estádio que talvez por muito, muito tempo ainda lhe seja
impossível alcançar. Precisa aprender a deixar de lado todo julgamento e
pedir apenas o que realmente quer em qualquer circunstância. Se cada
passo nessa direção não fosse tão fortemente reforçado, seria, de fato,
muito duro. (M-4.I.A.7)
Aqui aprendemos a abandonar, pôr de lado, todo julgamento, inclusive
o julgamento do que queremos, passando a pedir à Inspiração Universal para
nos revelar o que é que realmente queremos. O abandono vem a partir do tempo
que ele pareça levar para aprender a aplicar esse princípio, a cada
circunstância individual, relevante ou insignificante, que se apresente a nós. Isso
se passa quando nós – finalmente – nos rendemos, completa e totalmente, à
Vontade da Inspiração Universal, e deixamos ir todo e qualquer investimento
prévio na vontade do ser-ego.

6. Consecução
Finalmente há um ‘período de consecução’. É aqui que o aprendizado é
consolidado. Agora, o que antes era visto como meras sombras, vêm a ser
sólidas conquistas, com as quais se pode contar em todas as “emergências”,
bem como nos momentos tranqüilos. De fato, seu resultado é a
tranqüilidade, o resultado do aprendizado honesto, da consistência do
pensamento e da transferência total. Esse é o estádio da paz real, pois aqui
se reflete inteiramente o estado de Céu. Daqui em diante, o caminho para o
Céu é fácil e está aberto. De fato, é aqui. Quem poderia querer “ir” a
qualquer lugar se a paz já está completa? E quem buscaria trocar a
tranqüilidade por algo mais desejável? O que poderia ser mais desejável
que isso? (M-4.I.A.8)
A figura 5.1 indica a extensão à qual a desistência do ego, e a desistência da
identidade equivocada, ocorrem.

Algemas da Identidade Equivocada fechada:


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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

indica o Grau de submissão ao ego:


• Incapaz de ver além do ser-ego e o grau de escuridão (culpa inconsciente)
causada pelo ego. Resiste, se apega e julga.
• Estende a consciência de separação da Fonte e por isso, do Ser Unificado.
• Confia no ser-ego e na ilusão (identificação pessoal e global).
• Experiencia dualidade, bom e mau. Estende a projeção experienciada.
• Ser dominado por crenças-ego de separação, individualismo, culpa, etc.
• Experiencia limitação e vitimação (do aparente mundo externo e ser).
• Carente: finanças, amor, saúde, vitalidade e abundância.
• Caos randômico, conflito, sacrifício e luta são sensações comuns.
• Ser dominado pelo tempo, pensamento, emoção, ter e tornar-se.
• Incerto e necessitado de pseudo segurança.
• Especialismo, limitado por pseudo-invalidação e no relacionamento.
• Amor e/ou ódio especial (amor condicional) experienciado.
• Depende de outros ou de influências externas para se sentir feliz.
• Conflitado entre reais necessidades e desejos do ego.

Algemas da Identidade Equivocada aberta:


indica o Grau de liberdade e união ao Ser Unificado:
• Capaz de ver e abraçar o Ser Unificado e a Fonte, e experienciar o grau de
liberdade.
• Aceitação, animação, alegria e entusiasmo.
• Responsável pessoal pelo que percebe (a realidade que criamos pessoal e
coletivamente).
• Confiante na Fonte e em nosso Ser Unificado (Verdade).
• Capaz de deixar de ver erro de ego nos outros; perdão Quântico.
• Receptivo e integrado com a Vontade Unificada (intuição)
• Amor, Paz, Alegria e abundância experienciados.
• Liberto de sofrimento, controle e planejamento.
• Liberto de turbulência emocional, de pensamento compulsivo e da
necessidade de ter ou de se tornar.
• Liberto dos constrangimentos causados pelo tempo.
• Liberto em qualquer aspecto da vida.
• Capaz de co-criar nossa realidade e curar as mentes de outros.
• Propósito de vida preenchido.
• Integra necessidades reais e desejos do ego.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

• Mentalmente aberto, flexível, honesto, gentil, tolerante, paciente, consistente


na fé, generoso e ausente de defesas.
• Estado permanente de entusiasmo, alerta, criatividade, élan e paixão pela
vida, bem como vigília, dieta e seleção do pensar e de crenças.

Desfazimento do ego
Para a maioria de nós, o processo de abandono do ego ocupa algum tempo, e
nós precisamos desse tempo para desfazer, ou desaprender, as crenças e
condicionamentos que edificaram, estruturaram e mantiveram nosso ser
separado. Desaprender é um passo exigido para o desvendar de nosso Ser
Unificado Infinito. Não conseguimos viver em paz, ou produtivamente,
enquanto valorizarmos algumas ilusões do ego, em detrimento da Verdade.
“Pois a Verdade é verdadeira e nada mais é verdadeiro.” (E-pI.138.4:6)
é o que encontramos e conhecemos cada vez mais e mais, à medida que
descartamos nossas pesadas limitações do ego.
Na introdução de “Os estágios do desenvolvimento da confiança – seis
estágios de desapego do ego”, falamos a respeito disso ser um processo de
desidentificação nosso com o ego, por meio do qual nós, gradual e firmemente,
compreendemos ser essa a única fonte de todo nosso sofrimento e limitação. À
medida que progredimos, usualmente temos pequeno ou nenhum
reconhecimento de nossos próprios maiores interesses porque, até agora, nosso
ego tem controlado o que, para nós, seja importante percebermos. Ele é
inerentemente incapaz de reconhecer o que tenha valor. Como conseqüência, o
tempo todo ele tenta nos convencer de valorizar insignificâncias, porque
insignificâncias fomentam a idéia de separação.
A melhor atitude a cultivar, e consistentemente praticar, é:
“Eu não percebo meus maiores interesses. ... Eu não sei para que serve
coisa alguma.” (E-pI.24 e E-pI.25)
Isso é muito importante porque as percepções de nosso ego ficam literalmente
de ponta cabeça em relação à Verdade; assim ele crê e vê uma realidade
ilusória, sem realidade alguma.
Humildade e mentalidade aberta são preciosas para nós. A jornada de
renúncia do ego nos leva impetuosamente para uma dimensão do essencial, o
não-saber para conhecer, o oposto absoluto da compulsão da necessidade de
saber e de controlar do ego. O ego não possui nenhum centro de verdade em
que se apóie. Sua compulsão por separação e especialismo é para nutrir sua

127
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

pseudo validação e falso sentido de segurança. Nosso Ser Unificado confia


implicitamente que todas as mudanças são necessariamente benéficas, não
importando quão inconfortáveis inicialmente possam ser. Ele sabe ser
infinitamente seguro, a salvo e valioso; por isso não tem necessidade de nossa
antiga e familiar obsessão por controle, cuidado e necessidade de saber.
Ele se dá conta de que o não saber é
realmente o único lugar que provê o espaço O não saber é
para estar a Verdade. A Inteligência Universal, realmente o único lugar
na forma de conhecimento, é conseguida na que provê o espaço para
proporção de nossa renúncia ao ego. Isso é um estar a Verdade.
paradoxo que só consegue ser verdadeiramente A Inteligência
entendido, e aceito, quando mergulhamos no Universal, na forma de
não saber e no entendimento do momento conhecimento, é
agora; de um momento para outro a Verdade se conseguida na
revela a Si Mesma a nós e o Conhecimento é
proporção de nossa
relembrado no contexto mais Infinito.
O não saber é um prérequisito para o Verdadeiro renúncia ao ego.porque
Conhecimento
99,9% da realidade que cremos ser verdadeira nada tem de verdade. A analogia
seguinte parece se encaixar bem: físicos quânticos provaram que 99,9% da
matéria sólida, e.g. nossos corpos, móveis, carros, e construções, e tudo mais
aparentemente sólido é, apenas, espaço aberto. Tudo é, de fato, energia
oscilante e nada sólida, em absoluto! Entretanto, fomos condicionados a crer o
oposto, que nós somos e tudo neste universo seja sólido, consistente e
compacto.
Isso justamente sumaria o quanto precisamos desaprender, ou
desidentificar, junto com o processo de deixar ir o ego. Isso não é dito para
causar tristeza e depressão; essa é uma Verdade, com a qual iniciamos esta
jornada de Desfazimento tão amplamente ignorantes, e o caminho é tornado
mais fácil se, abertamente, admitirmos em verdade nada saber. Essa atitude
reduzirá muito nossa resistência que, por sua vez, diminuirá nosso medo e
dúvida.
Há duas ferramentas valiosas que podemos usar durante esse tempo:
• a 1ª é a fórmula PIPQ; Presença, Investigação, e Perdão Quântico;
• a 2ª é o Eneagrama (ver neste livro a seção “Poderosa Ferramenta de Auto
Descoberta – o Eneagrama”, Cap. 3),
que identificam o modo particular que percebemos e reagimos à nossa
realidade, e como vencer as questões que limitam nosso potencial. Pela prática
crescemos em confiante alinhamento com o Ser Unificado.
128
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Sintomas Possíveis do processo de Desfazimento do ego


Como explicaremos nos Seis Estágios de Desenvolvimento da Confiança,
desvencilhar-se, deixar ir o ego pode vir a ser cheio de conflito, particularmente
nos dois primeiros estágios. Isso é atribuído à introdução de um novo sistema de
pensamento, oposto àquele do ego. Quando começamos a adotar o sistema de
pensamento Unificado, para impedir que isso ocorra, nosso ego tende a armar
uma briga, e o conflito que se segue é, freqüentemente, sentido dentro de nós,
mas consegue, também, ser espelhado fora de nós, da mesma forma.
As primeiras mudanças serão dentro de relacionamentos íntimos
estabelecidos. Há a mudança de um relacionamento condicional especial para o
ideal Unificado, ou relacionamento incondicional. A mudança inicial
usualmente produz confusão, mal entendidos, projeções, acusações mútuas,
atritos e culpa. No início, o medo parece ser intensificado, mas o desacordo se
dissipará, à medida que o entendimento e a confiança aprofundem. Isso requer
compromisso, tolerância, paciência e Amor.
Libertar-se do ego pode vir a ser uma perspectiva desafiadora para
qualquer um que queira – seriamente – alcançar uma transformação espiritual,
mesmo que isso, não necessária nem obrigatoriamente, tenha de ser assim.
Desistir do ego não se refere tanto à renúncia ao mundo, e a todas suas
distrações, mas diz mais a respeito de discernir e readequar seus valores em
algumas partes, e como um todo. É a jornada que empreendemos na reconquista
de nosso potencial Infinito.
No passado, no cristianismo, libertar-se do ego era comumente citada,
referida e entendida como a morte mística, e conhecida diretamente por grandes
santos e místicos. Agora, entretanto, entramos numa era de despertar
acelerado,58 e a responsabilidade de levantar a humanidade e a terra na qual
vivemos repousa nas massas, e não apenas com alguns que escolhem assim
proceder. Sendo esse o caso, agora ficou imperativo adotarmos a renúncia do
ego e, portanto, nos curemos, a nós mesmos, com o que curamos nosso planeta.
Para esse fim descobriremos, e nos daremos conta de que nosso único propósito
terreno é, de fato, espiritual. Retornar à nossa casa, para nossa natureza
Infinita, nosso Ser Unificado, é o ato mais poderoso e benéfico que qualquer um
consegue realizar, em sua existência de vida. Ser auto realizado é estar liberto,
viver plenamente em Alegria, Amor, Paz e abundância, perenes e espontâneos.

58
N.T. – despertar acelerado ‘consciente’, podemos dizer, detalhando o entendimento
do despertar que nesta época do tempo estamos empenhados, sem necessidade premente
de nos retirarmos ou nos isolarmos da vida em comum com a humanidade, pois a nossa
‘quietude’ consegue ser alcançada no meio do tumulto e do caos, se de fato a queremos.
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Nesse estado, nada fica impossível. E, ao vivenciar esse estado, no íntimo do


seu Ser Unificado, ao reconhecer serem todas as mentes unidas na Mente Una,
os milagres acontecem naturalmente.
Esse processo de transformação é a libertação em si mesma, o
desfazimento da finitude, da limitação; é a dispensa de tudo que limite nosso
potencial. Lembre-se sempre: Ninguém consegue integrar-se e curar-se sem
desfazer o ego. Muitos tentaram, e outros mais ainda tentam, encontrar um
atalho para evitar desfazerem-se do ego. Todos nós tentamos desvios espirituais,
por vezes, mas no fim sofremos recidivas ainda, e a humildade suaviza nossa
resistência à experiência. Recomeçamos outra vez, a cada vez, com um
entendimento mais profundo do que é valioso e do que não é.
Toda a experiência de renúncia ao ego traz à baila o seguinte:
 Discernimos a Verdade; somos capazes de distinguir o valioso do sem
valor.
 O Ser Unificado se torna o dirigente de todos os nossos pensamentos,
sensações e ações. Tornamo-nos mais pró-ativos e menos ou não reativos.
 A dualidade acaba, saímos do bom/mau.
 Deixamos de ser movidos por apetites sensoriais, físicos, mentais e
emocionais compulsivos (o fim do ciclo de busca da felicidade enquanto
tenta evitar dor).
 O estado de Ser está agora integrado ao fazer. A Paz se torna objetiva.
 Tornamo-nos co-criadores viventes.
 Distinguimos necessidade (do físico) de desejo (do coração).

O processo de Desfazimento traz muitas provas e tarefas que nos fazem retirar
nosso investimento prévio na ilusão do ser-ego. No momento preciso em que
pedimos mais Luz em nossa vida, a Inspiração Universal responde, e
começamos a Jornada do Desfazimento. Essa é a iniciação à renúncia ao ego e
nossa subseqüente renúncia a ele. Agora aprendemos a desistir das crenças e
apegos que seriamente prejudicavam nossa percepção, e nosso potencial.
Qualquer crença prejudicada em sua função será desafiada. Qualquer
identificação equivocada com objetos, pessoas, status ou lugares aflorará, para
ser transformada. Um tempo de reestruturação é acelerado, e intensificado,
durante a fase de renúncia ao ego. Será útil lembrar-se de que esta fase é
altamente benéfica em ajudar a revelar feridas profundas ou centros de
convergência de emoções e sensações – gatilhos – que hajam, até agora,
inconscientemente, dirigido sua vida. Essa é a hora de baixar as defesas,
negativas e velhos hábitos de restrição, e começar a pedir para mergulhar na
130
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Verdade. Qualquer bagagem emocional, ou mental, consciente ou inconsciente,


vem à tona para ser reconhecida e transformada. Os gatilhos que apertam seus
botões são, usualmente, pessoas ou circunstâncias que levantam emoções
associadas a feridas convergentes. Sentir-se atacado, traído, abandonado,
humilhado, invalidado ou desqualificado é muito comum durante essa fase.
Durante esse período, especialmente quando nos sentimos perdidos e
sós, experimente ver a figura maior, lembrando-se de que a adversidade que
possamos estar experienciando é sempre uma bênção disfarçada. Qualquer
pessoa, coisa ou circunstância que nos incomode é uma dádiva nos convidando
a responder diferentemente de como fizemos no passado. Ela está nos
ensinando a ver, valorizar e nos comportar de maneira que nos dê poder.
Se nos virmos resistindo, negando, julgando ou nos comparando com
outros – paremos! – detenhamo-nos assim que consigamos. Mentalmente
adiantemo-nos rumo à identificação com a Verdade oculta em cada encontro.
Observar na circunstância: que CRENÇAS ESTAMOS RETENDO E COMO ELAS
AFETARAM NOSSA EMOÇÃO E COMPORTAMENTO? Tudo que temos de fazer é
escolher de novo, agora com a mente certa. Como mencionamos antes, nos
ajudará imensamente: cultivarmos um agudo senso de atenção, mantermo-nos
no momento “agora”, e observarmos nossos pensamentos e emoções.
Qualquer sensação de esforço, ou busca, que nos frustre, ou dificulte,
usualmente é um sinal de que o próprio ego se crê fazendo um “trabalho duro”.
QUALQUER ESFORÇO É EGO...E EGO É ILUSÃO. Estamos engajados no processo
de remoção dos bloqueios existentes do conhecimento da presença do Amor;
isso não é extenuante para a iluminação. É importante manter em mente que
ESFORÇO É PRESSÃO E PRESSÃO É DO EGO. Nós já somos nosso Ser Unificado, em
pristina perfeição; tudo que estamos fazendo aqui é remover as camadas de
ilusões que ocultaram esse Ser. Para reduzir o risco de mais identificações com
o ego, é sábio nos recordarmos, a nós mesmos, que nossa missão diária é de ser
um servidor da Fonte, em vez de ganharmos iluminação.
O que precisamos é a disponibilidade à humildade, plenamente nos
dando conta de que o conhecimento do ego é uma armadilha, exclusivamente
feita, e armada, para nos manter – a todos – limitados nesta forma. Transcender
o ego é abandonar o sabido para contemplar a Verdade. Nós não temos de nos
esforçar, adquirir e alcançar a Verdade. ELA JÁ ESTÁ EM NÓS. Só temos de nos
desfazer de todas as nossas defesas a Ela; descartar toda nossa resistência a O
Que É. Desfaçamo-nos do conhecido e do finito e, de pronto, começamos a ver
a Verdade. Ao começar a vê-La, começamos a vivê-La e daí, num determinado
instante, chegamos a nos dar conta de que somos a Própria, a Verdade.

131
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

O início da libertação do ego freqüentemente se apresenta como uma


crise curativa espiritual. É um processo de desfazer nos urgindo a quebrar os
vínculos com consciência de massa, condicionamento coletivo e nossas
longamente mantidas autolimitações.59 Isso é, realmente, uma forma de
separação do conhecido, e restrito, para mergulharmos no desconhecido e
ilimitado, ou absoluto. Em vez de viver na ilusão de segurança do ego,
aprendamos a confiar na liberdade absoluta do ‘não saber.’ Quando nos
rendemos a esse processo de desfazer, muita liberação nos é restaurada. Por
mergulhar no não saber, o verdadeiro conhecimento é desvendado e se torna
disponível a nós, a cada momento que se desdobra. Isso se dá quando nós,
realmente, aprendemos o valor do NÃO SABER e NÃO PLANEJAR. Entretanto, por
nos tornarmos tão inconfortáveis por não saber, tendemos a resistir-lhe. Essa
resistência é mais intensa na fase inicial, que pode parecer tão intensamente
inconfortável, devido à mudança, e à transformação. Resistência sempre cria
conflito interno, que pode levar à depressão. Se a depressão ocorre, nesse
instante, de fato, então é mais do que provável que seja pela CRISE CURATIVA
ESPIRITUAL, em vez da depressão psicológica clínica.
Esse tipo de crise curativa é diferente, de forma que conseguimos
reconhecer que nós não somos a vítima desse processo e, portanto, não estamos
sem ajuda, não nos encontramos ‘entregues às baratas’, como diz o povo. Em
nosso âmago sabemos que convidamos a Verdade e o Amor a se revelarem,
dentro de nós mesmos, e em nossa vida. Nós conscientemente reconhecemos
que fazer isso pode envolver transformação que, por vezes, pode chegar a ser
desafiadora, como a crise curativa espiritual. Nós nos damos conta, então, que
estamos no processo de renúncia do ser-ego. E o ego irá atacar, para não perder
seu anfitrião. A Confiança é invocada quando o desânimo, ou a crise, se instala.
Fé e coragem são requeridas para não cairmos vítima da sensação de
desamparo, de nosso ego, que a crise pode trazer. Lembre-se que tudo será
revelado na ordem Unificada. Tudo que é requerido de nós, para preencher

59
N.T. – A crise curativa espiritual, assim denominada pela A. é um aparente
agravamento de sintomas da situação, que indica o início da libertação. O mesmo
sintoma se passa com o tratamento com medicação homeopática, quando nas primeiras
doses os sintomas da doença parecem se agravar, em vez de melhorarem. Se o paciente
desconhece a existência dessa crise, pode interromper a medicação, temerosamente
iludido com o agravamento dos sintomas. No desfazimento do ego, a crise curativa
espiritual seria a reação do ego pára manter o ser escravizado, ao sentir que está por
perdê-lo. Como na medicação homeopática, não interrompa o desfazimento, pois está
no caminho certo.
132
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

nossa parte, é AUTO HONESTIDADE, ATENÇÃO AO MOMENTO AGORA, e


COMPROMISSO COM NOSSA META.

Isolamento Social: Causa e Efeito


Por agora já entendemos que crescimento espiritual significa ASSUMIR a
responsabilidade pessoal por nossos pensamentos, intenções, emoções,
sensações, ações e omissões. Nós já compreendemos que nós mesmos somos a
causa da forma e do rumo de nossa vida, engendrada a partir de nossos
primeiros pensamentos, até nossa última omissão. Como vemos o mundo é
responsabilidade nossa. E nós já sabemos que todos os efeitos nascem de sua
causa, e ela começa com a nossa percepção. Unicamente com esse
conhecimento consegue alguém, alguma vez, alcançar o progresso, no sentido
da iluminação espiritual. Isolamento social se desenvolve quando nos
recusamos a nos juntar à mente coletiva, que não assume nenhuma
responsabilidade pessoal. No nível fundamental, a maioria das pessoas, na vida,
é vítima dos efeitos, porque elas, honestamente, não têm nenhuma pista de onde
se situa a causa. Nem elas pensam, ou se lembram, de questioná-las. Pode
parecer que a consciência coletiva haja tomado conta delas, e elas crêem que
todos os efeitos nefastos, e prejudiciais, vieram do caos randômico, e todos os
efeitos bons, e positivos sejam, da mesma forma, gratificações randômicas.60
A noção de que nós, individualmente, projetamos nossa própria
realidade, porque nós somos a sua causa, é, relativamente, um conceito insólito,
que pode parecer bem ameaçador, até mesmo absurdo, a muitas pessoas.
Socializar e engajar em conversações corriqueiras, de todo o dia, muitas vezes,
revela um contraste gritante de crenças e valores nos estágios iniciais do
Desfazimento. Podemos, de repente, achar que, por causa dessa mudança
fundamental, que estamos dispostos a encetar – o Desfazimento – não podemos
deixar de ser autênticos, e nem nos engajar em conversações sem significado
que, amplamente, nos enfraqueçam e, bem honestamente, seja uma perda de
tempo, e energia. Nós, nessa época, iríamos querer nos desengajar de qualquer
contato social fútil, que nos enfraqueça.
Nos relacionamentos próximos, um desafio potencial pode estar em
termos de mudar nosso estilo de nos relacionar, para alinhá-lo mais com o novo
sistema de pensamento Unificado encontrado, de atenção e autenticidade. Se
esse relacionamento era previamente condicional, nosso desafio está em trazer a
Verdade para ele, sem ataque, julgamento ou culpa. Algumas vezes, trazer a

60
N.T. – Randômico,a – aleatório, contingente, fortuito,
133
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Verdade ao relacionamento parece, à outra pessoa, como se estivéssemos


retirando, ou negando, o amor. A maioria de nós se torna viciada em ataques do
ego, e a tomá-lo por amor. Sair fora do ataque de ego pode trazer muita
insegurança, que pode ser expresso, usualmente, em crises de raiva e projeção.
Se “nada real consegue ser ameaçado”, então a possível transformação causada
por nos relacionarmos autenticamente, agora terá como efeito uma mudança
positiva. Se a outra pessoa recusa essa mudança, então, em primeiro lugar, não
havia suficiente respeito, e nem amor real, para manter o relacionamento
íntegro. Só nos resta perdoá-la.
Se acharmos que estamos a maior parte do tempo a sós com nossas
crenças que trazem poder e talvez nos sintamos não apoiados pelos outros,
podemos atravessar um período onde, sinceramente, questionamos a nós
mesmos, e às nossas aparentes crenças alienantes. Encorajamos você a se
lembrar do compromisso original que fez, e de dar-se conta de que neste ponto
no tempo, você é um pioneiro em termos espirituais, e que você deve ser
plenamente capaz, ou então, em primeiro lugar, você não teria ouvido, em seu
coração, o Chamado de despertar. Nossa liberdade repousa em nossa
consistente resposta a esse Chamado, e na lembrança de nosso Ser Unificado.

Emprego, Carreira e Interesses


Algumas vezes podemos estar diante de decisões importantes, referentes a
emprego, ou careira. Tornar-nos mais alinhados com a autenticidade de nosso
Ser Unificado nos presenteará com oportunidades que desafiam os apegos do
ego de benefícios ilusórios de sacrifício e especialismo. Se, antes da libertação
do ego, nosso emprego, ou carreira, envolvia sacrifícios insalubres e conflitos
interiores, nós teremos de fazer face à mudança, mas é sempre mudança
fortalecedora. Parte desse processo é aprender a identificar qualquer conflito
interior, e atender a todos os assuntos de nossa vida, que alimentem essa chama.
Quaisquer áreas de nossa vida que sejam grandemente baseadas em
medo, serão enfatizadas para que as reavaliemos. Ocasionalmente, também
atividades de lazer, intensos interesses paralelos, ou mesmo paixões, podem
diminuir em importância agora. Quando isso ocorre é usualmente para nos
ajudar, e a Sabedoria que isso envolve não se revelará, senão mais adiante no
percurso. Qualquer coisa que antes nos deu um falso sentido de identificação, e
segurança, requererá transformação, ou eliminação.
Nos estágios avançados da renúncia do ego, manter um emprego normal
que não contribua para nossas presentes necessidades, tende a ser difícil. Como
as duas realidades são mutuamente excludentes, esse período intenso é

134
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

usualmente melhor vivido com pessoas de pensamento igual, que respeitem,


acatem e entendam o imenso valor de passar pelo processo de libertação do ego.

O Corpo
Usualmente são os nossos corpos que, na aparência, reagem à nossa renúncia
do ser-ego, e eles podem, bem como conseguem, fazer isso ficando doentes. Se
isso ocorrer, é útil saber, e se lembrar de que o corpo está apenas respondendo
às diretivas da mente do ego,61 e inconscientemente faz isso. Em qualquer
instância, quando o corpo sofre, é sempre sábio cultivar agora momentos de
atenção, e perguntar ao seu Ser Unificado,
“O que meu corpo está a me dizer? Que conflito interior estou experienciando, e
como consigo retornar à Paz?”
Peça por clareza, e nunca se conforme com a consciência de massa
fundada na crença do ego de que doença seja resultado do acaso. Pode haver
grande sabedoria e aprendizado por trás de cada doença, desde que haja
necessidade de experienciá-la. Como já mencionamos antes, em qualquer área
onde nosso ego possa ser abertamente identificado (tal como o corpo e os
prazeres e atrações do corpo) conseguimos esperar transformações. Por
exemplo, durante uma crise curativa, a doença pode levar a um resultado
positivo tal como deixar de fumar, emagrecer, ou entregar-se a um estilo de vida
saudável, de uma vez por todas. À medida que ganhamos maior confiança em
nosso Ser Unificado, e mais completamente renunciemos ao ego, aprendemos a
ver a perfeição e a unidade de toda pessoa, além das limitações de seus, e de
nossos, corpos.

Quem são Nossos Maiores Professores?


Nosso ser-ego, no desejo de prazer e ao evitar a dor, nos dirá que nossos
maiores professores são os que nos dão amor e apoio. Voluntariamente, ele não
identificará as pessoas que nos desafiam e despertam em nós um
comportamento defensivo, ou ofensivo. Só conseguimos reconhecer isso por
nossa resposta aos outros, que pode incluir emoções de embaraço, probidade, e
raiva. Uma parte de nossos maiores professores são esses que, entre outras
coisas, nos frustram, enraivecem, ferem, confundem, ou nos abandonam. Podem
ser sócios, parceiros, familiares, amigos, colegas, parentes, filhos, chefes,
patrões ou estranhos. Essas pessoas todas têm a capacidade de nos
desestabilizar, e incitar várias reações. Essas pessoas “irritantes,” que parecem

61
N.T. – O corpo é a ‘casa' do ego...
135
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

por vezes nos torturar, prejudicar, detêm várias chaves poderosas para nossa
liberdade e liberação. Sem esses comportamentos provocadores e desafiadores,
fica fácil para nosso ego conseguir se manter em êxtase complacente,
crescendo, no final, para um monstro de gigantescas proporções, sempre na
intenção de nossa aniquilação. Sem esses grandes professores, fica muito mais
difícil nos tornarmos cientes da existência do ser-ego. Por intermédio de nossos
encontros aprendemos tanto dos contrastes oferecidos pelo “ofensivo”
comportamento de nosso professor. À medida que prosseguimos nossa jornada,
com nossa crescente atenção, temos a oportunidade de reconhecer – e agradecer
– o valor, e a importância, dessas pessoas em nossas vidas.
Enquanto muitos de nossos maiores professores divulgam
conhecimento por intermédio da experiência de conflito, ocasionalmente
encontramos professores que nos tocam através do amor. Essas são as pessoas
extraordinárias em nossas vidas que escolhem nos perdoar e não tomar
conhecimento de nossos erros.
Qualquer pessoa em nossa vida que demonstre amor incondicional é,
talvez, o maior de todos os professores. Amar consistentemente, sem as
condições do ego, é uma experiência razoavelmente rara. Todos nós ansiamos
por aceitação e perdão incondicionais. E conhecemos a sensação incrivelmente
libertadora de ser perdoado.
O ato de perdão tem um grande e
positivo impacto em ambos, no doador e no
recebedor. Não tomar conhecimento do erro nos Não tomar
outros é a dádiva transformadora mais conhecimento do
poderosa, com o potencial de ensinar Amor, em erro nos outros
sua forma mais pura. Isso consegue ser feito é a dádiva
pela remoção dos bloqueios à ciência da transformadora
presença do Amor. No âmago de todo e em mais poderosa, com
cada ser humano há, indelével, o desejo o potencial de
imorredouro de ser amado incondicionalmente. ensinar Amor, em
Isso jamais é possível ocorrer através do ser- sua forma mais
ego, e de seus valores.
pura
Somente requer uma pessoa para transcender o ser-ego, e suspender a
dúvida, por desconsiderar os erros no outro, para realizar um Milagre. O
Milagre do perdão é a maior ferramenta de ensino disponível entre todas,
mesmo assim parece ser a mais trabalhosa a adotar, do ponto de vista do ser-
ego. Grandes professores são os que resistem pouco e estendem muito. Eles não
se defendem dela, mas são fortemente comprometidos com a Verdade.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Oferecem orientação sem controlar, e não criticam, ou buscam apoio. Sabendo


que
“nada real consegue ser ameaçado,” T-in.2:2
nada têm a defender, ou proteger, com o que afirmam nosso Ser Unificado, e
Sua Perfeição.
Muitos buscadores, que se fizeram professores, cumpriram a jornada de
desfazer, a partir do despertar, logo à porta da renúncia ao ego, e aí estacaram.
Por terem percebido enorme sacrifício envolvido ao suportar o abandono do
ego, resistem e tendem a permanecer, razoavelmente, num estado limitado, e
contido, estacados diante desse vão de porta, por um longo tempo.
Conseguimos encontrar centenas, ou até mesmo milhares, de
professores espirituais, sem disposição de cruzar o portal da morte de seu ego
pessoal, mesmo assim professando, para outros, uma miríade de informações
transformistas, úteis e proveitosas, que não empregam para si. Sem julgamento
ou crítica esse ponto é destacado unicamente para chamar a atenção de que, a
não ser que o professor esteja, inteira e definitivamente, engajado em sua
própria renúncia do ego, pode haver, e sempre há – ao ensinarem – o risco da
intromissão vitoriosa, mas indevida, do ser-ego do professor, a causar retardo ao
progresso de seus estudantes.
Um professor curado, entretanto, já se engajou na renúncia do ego, e
sua humildade testemunha isso. Essa pessoa ensina pelo exemplo, e não
consegue ser tentada, graças à vigília e atenção disciplinada do ego. Por isso um
professor curado é como uma vidraça lavada, que nada oculta, um espelho
limpo, que reflete unicamente a Confiança Absoluta, que permanece para ser
compartilhada e assumida, por todos.
Uma pessoa calorosa, afável, e encorajadora seria o tipo mais desejado
pela maioria dos buscadores, como seu professor ideal. O local de ensino, e as
situações mais requisitadas para aprender, são os impregnados de beleza etérea
e de condições nutridoras de êxtase, felicidade e bem-aventurança. Entretanto,
para a maioria de nós, empreender a jornada do Desfazer do ser-ego ainda
requer entrar em situações, e fazer contato, com pessoas radicais, e algumas
vezes atrozes, tudo no sentido de alcançar a meta única que tem de sacudir,
chacoalhar e abalar nosso ser-ego, até que nós, condescendentes, peçamos à
Inspiração Universal que assuma, e corrija, nossas percepções.
Isso pode incluir pessoas, e circunstâncias extremas, e mesmo
chocantes, para conseguir quebrar a maioria das ilusões do ego! A percepção do
ser-ego, algumas vezes, pede confrontações extremas de muitas formas, para
conseguir alcançar o alívio da pressão de sua garra, e permitir a entrada da
137
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

percepção verdadeira, em nossa mente. Isso nos mantém vivendo num pesado
sono sedado, onde pesadelos diários parecem nos ameaçar. Ficamos, na
aparência, severamente restritos à percepção das condições, leis e medos diários
do mundo e dos que nos rodeiam, criadas por nossas próprias interpretações.
Esse é um nevoeiro, denso e pesado, no qual tentamos tolerar, e existir. A
maioria de nós é desavisada da presença aparente desse nevoeiro pesado, e o
denomina vida. Renascer para a Vida, viver fora do sono sedado da existência
do ego, só consegue, de alguma forma, ocorrer pela total desidentificação com o
ser-ego. O maior de todos os possíveis desafios, e no que toda nossa liberação
se apóia, é a renúncia ao ser-ego. Essa é, de todas mais, a conquista humana
mais poderosa, mais relevante, e por meio dela nos tornamos – outra vez – o
magnífico co-criador, vitorioso em nossa capacidade de transformações
milagrosas.
Talvez já tenhamos nos dado conta de que transcender o ego é a única
razão de termos nascido num corpo e que, até que isso seja assumido por nós,
nossa existência, a que chamamos vida, se resume a um círculo vicioso de
ilusões infindáveis. Se conseguirmos ver isso, então também veremos a
adversidade e os professores cruéis como valiosos veículos de aprendizado.
Nessa disposição conseguimos desarmar a resistência, e apressar nossa própria
transformação. Até que consigamos abandonar percepções egoísticas, estamos
sob a aparente influência de um encantamento – um bruxedo – que,
literalmente, comanda, conduz e controla nossa vida de pensamentos, crenças e
emoções que temos, através de todas suas manifestações, tais como acidentes,
conflitos e devastações.
O objetivo de desfazer o ser-ego é conseguir re-conhecer e re-valorizar
o Amor, total e plenamente. Para fazer isso temos de abandonar nossa obsessão
final pelo medo e pela culpa, junto com todas as demais ilusões. Unicamente,
então, conseguimos conhecer e receber Amor pleno. Através desse processo de
transmutação, a semente de nosso Ser Unificado se rompe e abre a dura crosta
externa do ser-ego, e é agora posto em liberdade. Ele se lança para cima, para a
superfície da terra, e é renascido, no mundo de Luz e beleza. Unicamente agora,
livre da crosta do ser-ego, consegue a semente germinar, e crescer plenamente,
em todo seu potencial.
O processo de renúncia ao ego nos traz ao ponto de absoluta confiança
na Voz da Inspiração Universal, nosso Ser Unificado. Aprendemos, então, que
não há outra Voz que nos conforte. Alinhamos todos os nossos pensamentos, e
intenções, com esse Poder e O consultamos, não apenas todos os dias, todas as
horas, mas de segundo a segundo.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Quando fluímos e nos movemos nesse e com esse Ser Unificado, nossa
vida se torna um reflexo miraculoso desse alinhamento. Há uma paz profunda
em saber que todas as pessoas, coisas e circunstâncias estão, também, sob a
influência do alinhamento Unificado. A desistência ao ser-ego deixou de ser um
sacrifício. Como poderia ser um? Se você trocou inferno por Céu na terra,
chamaria a isso sacrifício?
Uma oração para nós, agora que estamos prontos, é dizer,
“liberta-me da ilusão e traze-me a mentalidade certa”.
Esse simples pedido, feito com sinceridade e paixão, é atendido. Por essa
oração, nosso destino fica garantido, e a orientação nos é provida a cada
segundo, de cada minuto, em nossa jornada para Casa. Uma vez transposta a
renúncia ao ego, então recuperamos maravilhosos dons, que sempre foram
nossos, sem ficarmos apegados a eles. Tudo que pensamos que iríamos perder,
em conseqüência da renúncia ao ego, retorna a nós, limpo e cristalino, despido
de suas prévias ilusões.

Estima pelo ser-ego: A ilusão


A força motriz por detrás de nossa necessidade de auto estima é, se bem que
previsível, infelizmente, o ego. Como já explicamos antes, esse ser ilusório
prospera, é estimulado e vive na separação, e na necessidade de ser especial e
singular. Qualquer área de nossa vida, que seja regada e alimentada por
especialismo ilusório, será convocada à reavaliação, e correção. Toda escora
doente que esteja mantendo a cola de nosso ego firme, requererá desmontagem.
A auto-estima em termos egoísticos não significa nada além de que o ego
iludiu a si mesmo a ponto de aceitar a própria realidade e é, portanto,
temporariamente menos predatório. Essa “auto-estima” é sempre
vulnerável à tensão, um termo que se refere a qualquer coisa percebida
como ameaça à existência do ego. ... O ego é a crença da mente em estar
completamente sozinha. ... Embora o ego, do mesmo modo, não esteja
ciente do espírito, de fato percebe a si mesmo como se estivesse sendo
rejeitado por algo maior do que ele. É por isso que a auto-estima em termos
do ego não pode deixar de ser delusória. (T-4.II.6:8-9;8:4;8-9)
“Iluminação é a maior ameaça que poderia possivelmente haver ao
mundo. Mas na praça de mercado espiritual moderna, esse fato todo importante,
muito freqüentemente parece ser desconsiderado. De fato, em nome da
transformação espiritual, muitos de nós estão devotando muito de seu tempo, e

139
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

atenção, em se aperfeiçoar, ou mesmo começar a questionar, toda a visão do


mundo, dentro do qual esse ser existe.” Cohen, Andrew, Living
Enlightenment, 2462
O ser-ego está sempre buscando modos de se aperfeiçoar, e de se
satisfazer. Ele faz essas coisas para reforçar o valor do pseudo-ser, tentando se
apresentar como uma imagem significativa, e valiosa. Mas imagem ele é, e,
certamente não a Verdade. Verdade Real revela que
Nada real consegue ser ameaçado. (T-in.2:2)
em conseqüência, nada real necessita de melhoria, baseado nele, ou atendendo a
ele. Neste mundo de ilusão de ego, tudo que se requer como objetivo de nosso
Ser Unificado, é a renúncia ao ego. Isso esclarece os últimos vestígios da
identificação com o ego, revelando apenas uma Verdadeira Vontade, que é a
Vontade Unificada, e a reconhecemos como a nossa própria vontade.

Cultivo da Dúvida ser-ego


Todas as áreas do ego que recebem investimento usualmente serão desafiadas, e
transformadas. As qualidades do ego relativas a capacidades, relacionamentos,
objetos materiais, status, e o corpo físico, serão todas destacadas para cura, e
transformação. Um prérequisito para a renúncia ao ego é a auto dúvida, em
quase todas as áreas de nossa vida. Cultivar dúvida, e ceticismo, para todos os
aspectos ilusórios de nossa vida, crenças e valores é, definitivamente, útil nessa
ocasião. Quanto mais freqüentemente consigamos dizer,
“Eu nada sei”,
mais perto ficamos do Ser Unificado.
Eu não percebo os meus maiores interesses. (E-pI.24.h)
é também uma outra excelente afirmação, que muito nos ajuda. A única dúvida
que deve ser evitada, a todo custo, e sob todas as formas, é duvidar do Ser
Unificado. Isso é dúvida em relação à Fonte, falta de Confiança Universal, de

62
N.T. – Andrew Cohen (n.1955) é um guru norte-americano, professor espiritual,
editor de revista, autor, e músico que desenvolveu o que ele define como um caminho
único de transformação espiritual, denominado Evolutionary Enlightenment
(Iluminação Evolucionária). Em 1988, Cohen fundou EnlightenNext (IlumineDaí), uma
rede virtual educacional e espiritual comprometida em criar uma nova cultura global.
Além disso tem pequenos grupos de estudantes localizados em várias partes do mundo.
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

que todas as pessoas e circunstâncias sejam úteis para ensinar o que seja, e o
que não seja valioso.
A experiência de renúncia ao ego nos ensina que a auto estima é,
absolutamente, sem significado, e uma pura desatenção à Verdade. Nós
realmente aprendemos isso diretamente da experiência da perda, ou
transformação, de tudo em que o ego investiu. É por isso que a auto estima,
como a conhecemos, parece ser ameaçada, ou aniquilada, pela renúncia ao ego.
Uma vez todo o ego suporte e quebre, inclusive a falsa auto estima, seja desfeita
e já não mais estejamos identificados com ilusões, nós renascemos. Agora
temos Paz interior, Verdade Infinita e, miraculosamente, capacidades
acentuadas.
Lembre-se disso: se nós estamos incorporando o conceito de desfazer o
ego, então quase que certamente as pessoas mais próximas a nós serão também
afetadas. Porque o ser-ego se sente ameaçado pela mudança, podemos encontrar
resistência nos outros. Isso é comum. Quebrar com a tendência da mente
coletiva pode revelar úteis compreensões interiores, para muitos de nossos
relacionamentos, e algumas dessas compreensões podem vir a suscitar que
sejam feitos novos ajustamentos.
Por exemplo, uma pessoa amiga antiga pode exibir um padrão de ser
uma vítima da vida, e nos damos conta de que nós, inadvertidamente, por apoiar
essa sua imagem de ser-ego, estivemos tirando o poder dessa pessoa. Dando-nos
conta disso, retiramos o apoio disfuncional, e oferecemos um outro novo apoio,
que a fortaleça mais, talvez explicando o conceito de responsabilidade pessoal.
Nossa amiga agora tem de escolher qual é o mais valioso, a amizade ou a sua
identidade de vítima. Abraçar a renúncia ao ego pode trazer mudança para
quase todas as áreas de nossa vida. Um tipo de isolamento social é, comumente,
um produto temporário dessa fase, porque estamos rompendo com crenças, e
valores, do ego coletivo.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

141
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Capítulo 6

O DESAPEGO AO EGO:
OS SEIS ESTÁGIOS

Prosseguindo no caminho de desfazimento do ego, no processo de trazer


mudança em nossas vidas, passamos por vários estágios precisos. Este capítulo
descreve os SEIS ESTÁGIOS dessa transformação, e provê um guia para as
experiências que podem ocorrer ao longo desse caminho. Esse conhecimento
prévio consegue ajudar no alívio de alguma angústia duvidosa se esse é o
caminho correto, e em prover compreensões interiores úteis, relativas às
mudanças que, nesse período, sempre ocorrem dentro de nós mesmos, e em
nossos relacionamentos interpessoais.

1 Estágio 1 – Desfazimento
O começo do Estágio 1 é, muitas vezes, trazido por desilusões, de algum tipo.
Esse período de desfazimento pode ser experienciado como o auge da
supersaturação da identificação com o ser-ego, que causa uma crise iniciada por
perda, ou mudança, tais como:
 Superidentificação com status na carreira, família ou sociedade.
 Superidentificação com riqueza material, ou posses.
 Superidentificação com imagem, corpo, personalidade.
 Superidentificação com relacionamentos, românticos ou familiares.
 Uma crise de saúde, ou tragédia pessoal.
 Depressão, ou desespiritualização prolongada.
É mais do que provável que a fase inicial deste processo, consistente nos
Estágios 1 e 2, pareça ser um tipo de insistente toque de despertar para
mudança. Seu intento é despertar nossa atenção, exigindo de nós
questionamento de nossos valores, e acordar para o verdadeiro propósito de
nossas vidas. Vivemos nossa vida, em grande medida, inconscientemente, e
desapontamento, perda ou crise, extremas que possa haver, são, usualmente, os
únicos meios disponíveis para nos desipnotizar e nos motivar para uma ação
significativa, e mudança consistente de nossa parte.
Em primeiro lugar, freqüentemente, não estamos cientes de nossa
lealdade deslocada. Até agora, nossa percepção do mundo tem sido baseada em
separação, e nós nos valemos – quase que exclusivamente – de nosso ser-ego,
142
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

para obter todas as nossas respostas. Agora precisamos de uma forma melhor
para perceber nossas vidas. A fase de desilusão nos desperta para a ânsia por
significado, mais profundo, em nossas vidas. É aqui, especialmente durante esse
tempo inicial, que a confusão e o caos parecem intensificar o nosso medo.
Entretanto, essa é, realmente, a fase da grande oportunidade. Não até que nos
sintamos ameaçados, aniquilados e vulneráveis clamamos pela Fonte, e pela
Inspiração Universal. Agora buscamos por alma, e pedimos ajuda numa
intenção pura. Nossa vulnerabilidade se torna nossa força, à medida que o ser-
ego, temporariamente, é descartado, e a Verdade é, sinceramente, requisitada.

1º O Primeiro Passo
É durante os Estágios 1 e 2 que damos o primeiro passo, no sentido da auto-
realização. O primeiro passo envolve disponibilidade para:
 Reconhecermos que não sabemos nada da Verdade, e preparar-nos para
demolirmos quaisquer barreiras que encontremos nesse trajeto.
 Comprometer-nos a desaprender tudo que pensamos fosse a realidade,
inclusive nossa própria limitada identidade de ser-ego.
 Assumirmos total responsabilidade por nosso passado, e pela realidade que
criamos, diariamente, diante de nós. Admitirmos, plenamente, que não há
lugar aqui para nenhum desamparo.
 Aceitarmos que a fase inicial do processo seja capaz de trazer muitos e
diferentes medos. Sabermos que conseguimos enfrentar todos esses medos,
em lugar de evitá-los.
 Compreendermos que toda mudança no sentido de auto-realização é
benéfica, mesmo se inconfortável e/ou conturbadora.

Pode ser importante notar, a respeito disso, que muitos, se não a maioria, dos
buscadores e professores espirituais, ainda não deram esse primeiro passo. Eles
conseguiram, talvez, acumular uma surpreendente quantidade de conhecimento
espiritual, entretanto, seus egos estão – ainda – intactos. As armadilhas do ego
são absoltamente espantosas, variadas e imprevistas. O ego, imediatamente, irá
desenvolver meios ardilosos com os quais aparentar iluminação, através de
ostensiva busca, e coleta, de sempre mais e mais informação, e o máximo de
erudição espiritual. O ego consegue amontoar tanta informação espiritual que
chega a enganar, quase a todos, inclusive seu dono, para se acreditar iluminado.
O ego “iluminado”, em todo seu “brilho”, entretanto, nem ao menos começou o

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

desfazimento; de fato, ele caminhou em sentido oposto, juntando ainda mais


crenças, que, mais tarde, irão requerer desmonte.
Dar o primeiro passo inicia o
desfazimento, e o desaprender, do ego. O
A sabedoria só é objetivo é descascar e atirar fora as camadas
revelada através do de autodecepção, afinal revelando a Verdade de
quem nós somos, realmente. Acautele-se com a
desfazimento do ego, e
obsessão do ego de sempre ficar buscando por
não pela aquisição de sabedoria do lado de fora. A sabedoria só é
mais informação revelada através do desfazimento do ego, e não
intelectual. pela aquisição de mais informação, e erudição
intelectual.
Começamos assim a aprender o que, realmente, tem valor na Verdade, e
o que não tem. Incluídas na lista de mudança de valores estão crenças,
conceitos, valores, percepções, e relacionamentos. É onde recebemos os
primeiros lampejos da Ordem Universal em nossas vidas, e somos instados a
confiar, plenamente, nas mudanças que essa Inteligência Universal apresenta.
Aqui não há espaço algum para sensação de desamparo, ou sentimento de
vitimação; sentir-nos assim cancela, anula e afasta, por completo, a
oportunidade de abraçar a Verdade.
Um objetivo desta fase é nos ajudar a nos identificar com o fato de que
toda mudança – sem exceção – é benéfica, mesmo, eventualmente, repito,
inconfortável e/ou conturbadora. A todo o momento é sábio lembrar-se de que
estamos envolvidos no processo de Desfazimento, consistentemente
recordando-nos, repetidamente, de que isso está nos conduzindo, com firmeza, e
certeza, à liberdade, e à paz, perenes, da mente.
É importante compreender que, ao entrar nesses estágios, iremos, com
toda certeza, ser desafiados por conflitos internos. De muitas formas,
provavelmente, esses são os mais difíceis conflitos na progressão dos estágios
de desfazimento, principalmente porque eles resultam do início da colisão – até
mesmo estrondosa – de dois sistemas de pensamento opostos, do ser-ego e de
nosso Ser Unificado. Estávamos pesadamente entrincheirados no desamparo,
limitação e julgamento por guardar e cuidar, anos a fio, de nosso ser-ego,
quando, de repente, nós introduzimos um conceito estranho, que parece
desestabilizar nossas fundações anteriores, de firmeza aparente. O ser-ego fica
ultrajado por abraçarmos o maior inimigo dele, e por termos, por nossa conta e
arbítrio, nos tornado, inteiramente, responsáveis por criar nossa própria
realidade, sem ele. Você consegue imaginar sua hostilidade? O próprio sangue

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

de sua vida está se esvaindo de nossa crença na ilusão de que sejamos vítimas
do mundo que vemos, e:
• que outras pessoas consigam nos atacar;
• que culpa e punição são garantidas; e
• que dar nos priva de algo.
Então quando, daqui para frente, assistirmos a uma irradiação de notícias na
TV, aquela barricada usual de más notícias, dramas, desgraças e infortúnios, nós
já conseguimos vê-las diferente. Talvez não vejamos mais pessoas envolvidas
como vítimas de aparentes perpetradores, tormentos e acidentes. Em vez disso
conseguiremos ver as vítimas como vivendo inconscientes e, assim, fazendo
suas realidades infortunadas como conseqüência.
O ser-ego pode permitir-nos, a princípio, abraçar essa idéia porque isso
não ameaça, imediatamente, sua identidade. Entretanto, deixa-nos olhar para
outro cenário que possa parecer ainda mais desafiador. Talvez seu parceiro, ou
melhor amigo, um dia, de repente, entre onde você esteja e ignore por completo
você, estando claramente zangado. Você fica intrigado, temeroso e/ou
ressentido, e pergunta: “Que está acontecendo?”; “Que há de errado?” A
resposta é, “Deixe-me sossegado. Não estou p’ra papo!” Já aí sua ansiedade se
faz notada, e seus pensamentos imediatos, provavelmente, seriam baseados em
medo: “O que foi que fiz?” “Ele/ela não me ama!” “Vou-me embora daqui!” Ou
ainda, “Temos de nos falar agora!” Num cenário dramático como esse, nós
raramente reconhecemos, ou paramos nossos pensamentos, em quietude, para
buscar clareza; usualmente nos engajamos, de pronto, em familiares
pensamentos perturbadores amedrontados, e daí reagimos, usualmente, de
maneira medrosa.
Nosso novo sistema de pensamento responderia chamando nossa
atenção, e nossa ciência, para passarmos a ser, aqui, o observador, em vez da
vítima. Ele novo sistema de pensamento nos relembraria de:
 Observar, controlar e refrear nossos pensamentos e comportamento
reativos.
 Lembrar-nos de O Que é; a realidade agora é que o parceiro está em
conflito. Se nossos pensamentos estão discutindo com a realidade, então nos
juntamos a ela.
 Lembrar-nos de a quem diz respeito esse assunto; ao parceiro. Então,
respeitemos os desejos dele e cuidemos de, mentalmente, refrear
pensamentos que sejam assunto dele(s), e não nossos.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

 Se pensamentos disfuncionais forem demasiadamente implacáveis para


resistirmos, usemos “O Trabalho,” de Byron Katie. Com papel e com o que
escrever, perguntemos a nós mesmos as quatro questões e usemos a
inversão; anotemos nossas respostas. (Anexo I)
No Estágio 1, nos pomos abertos para essa nova maneira de ver o mundo mas,
com freqüência, estamos, ainda, despreparados para seus desafios iniciais.
Podemos ser mentalmente capazes de captar o conceito de que cada um de nós
cria a realidade que vê, e a experiencia. Entretanto, quando estamos diante de
desafios pessoais, que incluem qualquer um dos nossos relacionamentos
valiosos, pertences materiais, ou crenças, tendemos a, inconscientemente,
excluí-los de nossa nova percepção, por considerá-los, exatamente, valiosos.
Por exemplo, quando enfrentamos o teste de ver que nossos problemas, talvez
referentes a nossos relacionamentos, ou empregos, não são causados através de
pessoas, ou circunstâncias externas, nós, freqüentemente, experienciamos
conflitos internos, pelo ser-ego argumentar seu ponto de que os problemas são,
e sempre foram, lá fora. Depois, encontramos nosso caminho de volta à
sanidade, lembrando-nos de que a única Verdade que existe é saber que o
problema reside em nosso pensar, e crenças, e jamais fora de nós. Olhamos para
a idéia de que o que vemos lá fora é apenas um reflexo de pensamentos e
crenças em nossa própria mente, e isso significa: curar a percepção ilusória –
em nossa mente – que causou, e sempre causa, todos os nossos problemas.
Agora conseguimos alterar nosso foco de mudar o mundo, para mudar nossa
percepção, a respeito do mundo. Crença é a aceitação, pela mente, de que algo é
verdadeiro ou real; entretanto, nós só desenvolvemos alguma crença a respeito
de certa coisa, por evitarmos questionar os demais aspectos de nossa
experiência.
“Podemos crer em vidas passadas, mas não precisamos crer em ontem. Em
outras palavras, guardamos crenças a respeito de coisas a respeito do que não
conhecemos por experiência direta. Por quê? Porque estamos dispostos a
permanecer não conhecendo. Ou seja, escolhemos, queremos não conhecer.
Necessitamos de crença porque nos sentimos cortados de uma profunda
conexão ao que seja real. Animais, crianças pequenas e pessoas transluzentes
[despertas] não precisam crer em nada, porque são leais ao que são.” Ardagh,
Arjuna, A Revolução Transluzente, 94-95.63

63
N.T. – Arjuna Nick Ardagh, nome Nicholas Ardagh, (n. Londres, GB, 1957), é autor
de A Revolução Transluzente, palestrante, e fundador da Living Essence Foundation
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Nossas crenças não investigadas são responsáveis por darem forma a nosso
mundo, e à maneira que nos relacionamos com nós mesmos, e com as pessoas
nele.
É neste ponto que começamos a alcançar o conceito de que nós
queremos, desejamos, determinamos, decidimos, mandamos, escolhemos,
exercemos a vontade em nossos pensamentos, e crenças; depois os projetamos
para fora, unicamente para que reflitam nossa realidade de volta para nós.
Agora – no Estágio 1 do Desfazimento – conseguimos quebrar o ciclo de
projeção, exercendo a posse, e assumindo a responsabilidade por nossa própria
mente, junto com seu poder de criar a realidade, como a vemos. Daqui em
diante, quando alguém nos ofenda, querendo, conseguimos escolher ver a
Verdade, e não responder com ataque, ou defesa. Ataque, ou defesa só reforçam
– validam, dão realidade à – nossa projeção.
Quando primeiro ajustamos nossa visão de mundo, de uma causada por
influências externas, por nossas próprias percepções, é muito provável haver
dúvida e desconforto. Toda nossa vida, equivocadamente vimos, fora de nós, o
mundo que ofende, e isso, para nós, explicava, e justificava nossa crença em
separação, ataque e defesa. Quando quer que fôssemos ameaçados,
automaticamente víamos a causa como separada, alheia e apartada de nós,
argüíamos com a realidade, e projetávamos para fora culpa, e acusação. Agora
isso tem de ser revertido. A verdade é que não há culpa, ou acusação, nem fora,
nem dentro de nós. Por isso é que é tão importante entender que não há
ninguém a acusar, nem a nós mesmos. É um princípio. É verdade que ao
abdicarmos de nossa tendência de projetar, podemos ser assaltados pela
autocrítica, e auto-acusação, porque vemos, e possuímos, pela primeira vez,
nossa própria parte no fracasso de efeitos e relacionamentos, e que –
surpreendentemente – não somos a vítima que pensávamos ser.

(Fundação Essência Viva), em Nevada City, CA., uma igreja dedicada ao “despertar da
consciência no contexto da vida corrente.” Em 1995 Ardagh desenvolveu o Living
Essence Training (Treinamento da Essência Viva), que prepara pessoas como
facilitadores dessa mudança de consciência e cultivadores da translucidez. Ardagh foi
convidado a participar da Oneness University (Universidade Unicidade), Chennai, Índia,
no inverno de 2005, e agora integra a Oneness Blessing (Unicidade da Bênção) em
todos os demais trabalhos que realiza. Ardagh é membro do Transformational
Leadership Council (Conselho de Liderança de Transformação). Ele fala em
conferências internacionais, e apareceu na TV, no radio, e na mídia escrita em doze
países. Ele também ensina nos Deeper Love Seminars (Seminários de Amor Mais
Profundo) com sua esposa norueguesa, Chameli Gad Ardagh. Eles vivem em Nevada
City, CA com seus dois filhos de seu casamento anterior.
147
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Outro sintoma dessa fase de mudança inicial é o agudo conflito interior,


porque a mente requer unidade. Ela funciona razoavelmente bem, desde que
estejamos alinhados a um particular sistema de pensamento, seja ele qual for,
que é como a maioria de nós viveu até agora. A introdução repentina de
pensamentos que conflitem com a realidade do ser-ego, consegue despachar
nossas mentes para um turbilhão aflitivo. É nesta fase que experienciamos a
mais intensa e consistente resistência do ser-ego. Ele razoa que antes da intrusão
desse sistema de pensamento mais Elevado, nós tivemos dele algumas vezes de
soltura, ou fuga ocasional. Agora, no entanto, dando-nos conta de que somos os
responsáveis por nossas vidas, ele nos tenta fazer retornar para os velhos tempos
de ignorância. E se isso não funcionar, ele seguramente, nos encanta, de novo,
nos fazendo ver obstáculos à nossa presente paz, como sendo falha da Fonte, ou
falha de quaisquer outros. Por exemplo, o ser-ego apontará o dedo acusador
para nosso emprego, família, ou circunstâncias financeiras, como o
impedimento para encontrarmos paz. “Se pelo menos...!” e “Quando vou me
sentir melhor?” é o que o ser-ego macaqueia em nossa mente, em algumas das
suas táticas esfarrapadas para nos manter fora do momento AGORA, e nos
projetar para o medo de um futuro ilusório. O foco, e propósito do ego é sempre
nos tirar do AGORA!
O ser-ego também olha para o passado, e defende nossa falta de paz,
insistindo que alguém, ou alguma coisa, no passado, seja responsável por nossa
infelicidade corrente. Todas suas táticas são ilusões. Elas nos manterão julgando
a futura esperança de paz, e acusando o passado por falta de paz, para nos
impedir de ver que conseguimos experienciar PAZ AGORA, a todo momento,
ou seja, o tempo todo!
“Somos divididos por dentro? Se fôssemos divididos por dentro, não haveria
modo, no inferno ou no céu, de amanhã não termos um mundo dividido. Não
importa se temos as melhores intenções do universo, o que importa, realmente,
é o estado a partir do qual atuamos.” Adyashanti, de Arjuna Ardagh, A
Revelação Transluzente, 99
Se antecipadamente formos preparados para reconhecer as principais
estratégias e truques que o ser-ego emprega, para resistirmmos crescer,
conseguimos aliviar esse tempo de conflito interior. Se nos encontrarmos
pensando, ou crendo, em algumas das coisas seguintes, podemos saber, por
certo, que estamos ouvindo a voz errada:

Crenças destrutivas

148
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Que nossa paz e felicidade existe, alguma vez, no futuro (nosso interesse)
quando:
• “Ele/ela me ame mais.”
• “Minha situação financeira progrida.”
• “Eu não esteja tão preocupado com ou cheio de trabalho.”
• “Eu encontre meu propósito na vida.”
• “Eu encontre amigos.”
• “Eu perca/ganhe peso e/ou me ponha em forma.” E, finalmente,
• “Eu ganhe a aprovação, reconhecimento ou validação que preciso,” etc..

Que nosso desconforto presente é causado (eventos do passado) como:


• “Minha infelicidade presente é causada por minha infância disfuncional.”
• “Eu sou não amado, abandonado e zangado porque meus pais me
abandonaram.”
• “Eu perdi meu emprego.”
• “Meu mau humor é causado por uma briga que tivemos,” etc..

Aquele nosso conflito é causado (outros) por:


•“Minha mãe me põe louco.”
• “Meu associado no trabalho é irritante, reclama de tudo e me aborrece.”
• “Meu parceiro/a deveria me amar mais.”
• “Os garotos continuamente me distraem.”
• “O vizinho fala demais e é barulhento,” etc..

Problemas não se resolvem (Deus e o mundo não ajudam) porque:


• “Minhas preces nunca são respondidas.”
• “O mundo é tão disfuncional que não consigo ser eu mesmo.”
• “Se o Universo pelo menos me ajudasse financeiramente, eu poderia ser
mais espiritualmente envolvido,” etc..

Sou infeliz (se eu não fosse tão incapaz ou culpado) porque:


• “Eu sou incapaz de ser amado.”
• “Eu sou um incorrigível desajeitado.”
• “Parece que não tenho mesmo sucesso em nada.”
• “Eu sou meu pior crítico.”
• “Eu sou um inútil, um perdedor, não presto, nunca, para nada.”

149
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

• “Eu não sou atraente, jovem o suficiente, magro o bastante, etc.”


A relação de crenças destrutivas não param por aqui. Qualquer frase
depreciativa a nosso respeito, que habitualmente usemos para explicar porque
não somos felizes, não estamos em paz, não somos bem sucedidos é uma crença
destrutiva e limitante e pode ser incluída aqui. As frases aqui listadas não são
argumentos, não se sustentam diante de qualquer exame e, em realidade,
puramente compõem um painel de crenças destrutivas, e limitantes, não
investigadas. Nosso ser-ego nos bate forte com uma barragem ilimitada de
falsas acusações – crenças destrutivas – na intenção de reinstalar e reforçar seu
sistema de pensamento limitante e destrutivo disfuncional. Quando qualquer
desses pensamentos ou crenças conflitantes despontem, temos uma ferramenta
imediata para nos ajudar a trazer de volta a paz: faça as quatro perguntas (O
Trabalho) e a reversão. (Amando o que é, Byron Katie).64 Se desejamos evitar
longos períodos de desconforto, temos de aprender a reconhecer e a nos dirigir
ao nosso conflito, porque tentando resistir, evadir, negar ou disfarçar nosso
conflito, instalamos em nós, definitivamente, um problema. O único caminho
para a paz é resolver todo conflito – interior, ou aparentemente exterior – por,
corajosamente, inquirir o problema, para que a Verdade seja revelada, trazida à
tona de nosso consciente.
As três premissas do ser-ego, de acordo com Um Curso em Milagres
são que:
1 – “você foi atacado,
2 – seu ataque é justificado [você está com a razão] ,
3 – você não é responsável por isso, de forma alguma;” (T-6.in.1:3)
A resposta da Inspiração Universal está em oposição direta a isso, lembrando-
nos que:
Não podes ser atacado, o ataque não tem justificativa e tu és responsável
por aquilo em que acreditas.65 (T-6.in.1:7)
Em Verdade só algo que seja irreal consegue, possivelmente, ser destruído, e
qualquer coisa Real é, absolutamente, indestrutível.
Em suma, não conseguimos esperar atingir a liberação do desfazimento
do ego nesta existência até que ultrapassemos a ilusão de que conseguimos ser

64
N.T. – Livro publicado em português intitulado “Para acabar com o sofrimento”,
Katie, Byron e Stephen Mitchell, ed. Estrela Polar, Portugal, 2006,
65
N.T. – Reler p. 477 do Texto de UCEM, a responsabilidade pelo que se vê.
150
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

atacados. Ensinamos os outros por demonstração, através de nossas crenças e,


por sua vez, os outros continuarão a reforçar nossas crenças. Por exemplo,
temos de ensinar nossa própria imunidade perfeita para entendê-la. Isso não
consegue ser alcançado por tentar compreender esses conceitos apenas pelo
intelecto. O meio ótimo de pessoalmente conhecer esse conceito da Verdade
(qualquer coisa real é absolutamente indestrutível) é de simular que:
• Aparentemente está sendo atacado (ofendido, traído, insultado...).
• Responde sem defesa, ou contra ataque.
Quando reconhecemos que o ataque do ofensor foi apenas um pedido de Amor,
de ajuda disfarçado, e que não houve nenhuma outra Verdade senão essa,
veremos e experienciaremos a Paz de maneiras nunca pensadas possíveis. Ao
fazer isso, começamos a evolver no sentido da Integridade.

O Veneno da Projeção
Falamos antes a respeito de como nossa mente partida foi formada pela
separação, e como o ser-ego, consumido pela culpa de aparentemente ter se
dividido da Fonte, tenta justificar sua existência separada. Sua ferramenta
principal, para causar a ilusão de todos e de tudo ser separado, é seu truque da
projeção. Bem literalmente, tudo que dissociamos, ou renegamos, o ser-ego
projeta para fora sobre as pessoas, situações, lugares, ou coisas. Então,
inconscientemente, nós vemos um aspecto de alguém com preguiça, raiva ou
que seja e, imediatamente, as julgamos e as vemos como separadas de nós. Os
aspectos que vemos nos outros, que nos frustram, ou enraivecem, entristecem,
ou mesmo alegram, sempre são partes, não vistas, ou não reconhecidas, de
nossa própria psique, ou personalidade. O grau pelo qual repreendemos, ou
reclamamos dos outros, é o grau pelo qual nós, secretamente, estamos agarrados
em nossa própria-verdade, nosso amor próprio. Quanto mais feiúra virmos nos
outros, mais secretamente nos apegamos à feiúra dentro de nós mesmos. Essa
não é a maneira de ganhar a liberdade.
“O que projetas, renegaste, e portanto não o crês teu.” (T-6.II.2:1)
Toda a incrível verdade sob essa projeção que fazemos, é que, enquanto
nos parece estarmos julgando os outros, considerados fora de nós, estamos
apenas, de fato, sempre julgando e condenando a nós mesmos. Toda vez que
ficamos zangados, ressentidos e frustrados com o outro, nós, inconscientemente,
estamos a atacar, unicamente, a nós mesmos. É por isso que ficamos tão
arrasados, tão sem espírito, e tão exauridos de energia, quando experienciamos

151
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

qualquer conflito, por exemplo, no trabalho, com nosso parceiro, sócio ou em


casa, com a família. Sem saber, drenamos nossa força vital a cada vez em que
acreditamos, e justificamos um julgamento negativo contra o outro. Quaisquer
que sejam os aspectos sinistros de outros que encontremos detestáveis, são
aspectos ocultos de nós mesmos; atacar esses aspetos nos outros, é continuar a
separar partes de nós mesmo, e manter-nos sem cura. O único propósito da
projeção é manter vivos, e intactos a separação e o caos, perpetuando a ilusão.
Quando julgamos os outros tentamos obscurecer, para ignorar, o fato de
que atacamos a nós mesmos, dizendo a nós mesmos que estamos a salvo. Raiva
não é possível sem que primeiro tenha havido projeção inconsciente nossa. Essa
é a maneira do ser-ego destruir nossa projeção anterior de um outro, e de nós
mesmos, ao mesmo tempo. Quando nos permitimos tempo para pensar
logicamente a respeito da projeção, podemos ver claramente como insana ela é.
Primeiro, ela começa excluindo algo que existe dentro de nós, mas que
negamos, ou não queremos. Daí ela projeta nossa porção renegada sobre um
outro, e a experiência é destinada a separar e atacar a nós mesmos. E se estamos
pensando que a projeção seja destrutiva na maioria das vezes, mas em alguns
casos seja justificada, então estamos equivocados. Projeção é uma ilusão sempre
destrutiva e a causa fundamental, a maior, de nossa infelicidade. É a causa
radical de todo aparente caos no mundo. Toda vez que cremos ter desarmonia
interior, estamos atacando a nós mesmos e nos separando dos outros. Isso é
absolutamente sem exceção alguma. Projeção, de qualquer tipo ou espécie, é
sempre uma mentira e quanto mais depressa aprendamos a descartá-la, mais
depressa experienciaremos Paz real.
Se conseguíssemos ver claramente que a cada
vez em que julgamos, ou atacamos o outro, Projeção é
qualquer outro, não importa quem, só estamos – uma ilusão
em verdade – diretamente atacando a nós sempre destrutiva e
mesmos, imediatamente pararíamos com essa a causa fundamental,
insanidade. Isso colocado de outra maneira,
a maior,
toda projeção é como injetar veneno, em nós
mesmos, a cada projeção sobre o outro. de nossa infelicidade.
Dentro de algum tempo morreríamos, tão cheios de veneno estaríamos
que secos, murchos, morreríamos. A maioria de nós está inconscientemente
saturada desse veneno, mas continua a apontar o dedo acusador para fora, e
depois ficar imaginando porque estamos morrendo devagar, emocional ou
fisicamente. Se o veneno das projeções fosse renunciado, nossos corpos,
seguramente, iriam curar-se, e ser mais saudáveis por mais tempo. O corpo,
controlado e comandado pela mente, inevitavelmente sofre muito por causa da
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

projeção. Quando ganhamos esse entendimento interior, despertamos para uma


– prática e útil – ferramenta miraculosa para cura, tanto interior como exterior.

Ausência de Culpa
Outra forma de separação e ataque que, da mesma forma, nos envenena – até
nos matar – é a culpa. A jornada através desses estágios iniciais de
desenvolvimento da confiança parece exagerar a culpa, porque estamos
começando a assumir a responsabilidade pela vida que criamos no corpo. Como
cada vez menos acusamos alguém, ou algo, o ser-ego – muito contrariado – nos
acusa de ignorância, lerdeza e maldade, ou coisas ainda piores. Isso nos
envenena e mata tanto quanto acusarmos os outros.
Qualquer culpa se origina no ser-ego, porque ela fomenta medo, culpa,
pecado e separação. Nós nos separamos a nós mesmos do Amor e da conexão
com a Fonte, quando nos pomos em culpa. A Fonte criou apenas o Amor e nós,
com nossa mente partida, fizemos tudo que não seja Amor, Paz e Alegria.
Porque nós, não a Fonte, fizemos o sofrimento e, por tê-lo feito, temos o poder
de curá-lo, não algum dia no futuro, mas agora mesmo, neste mesmo minuto,
instantaneamente. Como? Reconhecendo, e aceitando, que decidimos a cada
momento sermos fiéis, ou ao Ser Unificado para nos curar, ou ao ser-ego, para
sofrer, ficar em dor e morrer. Qual é a qualidade de nossos pensamentos? Se
fizemos – ainda – julgamentos severos de outros, ou de nós mesmos,
simplesmente entreguemo-los, bem depressa, à Inspiração Universal. Tudo isso
é requerido neste momento, em nosso franco e sincero desejo de ficar livre do
julgamento, e de seu conseqüente veneno que ele pronta, invariável e
consistentemente, injeta – sem pestanejar – em nós.
Se sentirmos o julgamento muito difícil de abandonar, então, talvez,
estejamos viciados em ter razão. Nosso ser-ego adora, se rejubila em ter razão,
e o que é pior, em ter razão sempre. Ele quer ser visto como sendo o melhor, o
mais sabido, o mais esperto, e o mais inteligente, malandro e o que leva mais
vantagens em tudo, sempre. Entrar nos estágios iniciais de confiança significa
que temos de, acima de tudo mais, priorizar a Paz em cada e todo momento.
Isso requer de nós a vigília de nossos pensamentos, crenças. Ser observador e
fazer a escolha pela Paz onde quer que haja desafio. Por exemplo, um
companheiro de trabalho pode comportar-se com arrogância, querendo que você
reconheça que ele, ou ela, está com a razão e, portanto, superior. Você tem duas
opções, claras, marcadas e distintas:

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

1 – O ser-ego vê hostilidade e urge você a se defender, tentando fazer com


que a outra pessoa veja você tão com a razão e superior, e o(s) outro(s) sem
razão e inferior(es).
2 – Seu Ser Unificado escolhe desconsiderar a aparente hostilidade e
relembrar você de que a atitude arrogante é, em seu núcleo, simplesmente um
disfarçado pedido de Amor, de ajuda ou de cura.
Agora, se respondermos à insanidade do ego da outra pessoa com confrontação,
estaremos reforçando, o ataque interior e a separação exterior, igualmente.
Estaremos nos injetando veneno e pedindo a morte. Entretanto, se decidirmos
desconsiderar o erro de nosso colega de trabalho, e tentarmos ver a Verdade,
além da ilusão, profundamente, curamos a nós mesmos, além de apagarmos o
aparente iniciante incêndio externo. Podemos não nos dar conta de que nesse
único ato, não apenas revertemos causa e efeito, mas também ambas as mentes
ficam curadas, sendo só uma. Isso pode não ser imediatamente aparente; nosso
colega de trabalho pode continuar a aparentar uma atitude irracional e arrogante,
por algum tempo, ainda, mas, no final, o Amor sempre prepondera, pois só Ele
é real. Se persistirmos, e especialmente se confiarmos, veremos transformações
miraculosas que espelham nossa própria transformação. Experimente, isso
funciona!
Na próxima vez que você seja confrontado com a tentação de retaliar –
o que é o mesmo que atacar – faça a si mesmo esta importante pergunta:
“Quero ter razão
(perpetuar a ilusão e tomar uma injeção de veneno)
ou eu realmente quero Paz ?
(libertar-me e, saudavelmente, ser feliz?)
Se, por vezes, seu ser-ego tenta convencer você de que você sempre
parece deixar passar todas as coisas nos relacionamentos, que é você – como
bobo – é o que perdoa e se refreia de ficar com raiva, ou que, “Isso não é justo e
por quê sempre tenho de ser eu o que tem o coração grande ?” a razão disso é
porque, note bem e lembre-se sempre:
você é a pessoa mais sã.
Você está suficientemente vigilante, atento e ciente para escolher ter – e usar – a
mentalidade certa. Você sabe que há só uma escolha, e que é sua
responsabilidade fazer a única escolha que há, a escolha pelo Amor. Pode ser
que muitas pessoas à sua volta não estejam ainda cientes de que têm uma
escolha a fazer, entre o ego e o Ser Unificado. Se você sabe que isso é verdade,
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

reconheça isso e aceite isso para você, por agora. Você consegue, talvez, ver
que você tem uma maravilhosa oportunidade de ensinar agora, pelo exemplo,
por viver – na pele – esses princípios. Não busque aprovação externa. Aprenda
como dar a você mesmo sua própria aprovação, pois de outra forma, você
equivocadamente ficará ressentido com qualquer um que não lhe dê o que você
– por erro – acredita que precisa: aprovação alheia! Essa é uma armadilha
comum, usualmente se fazendo presente nesses estágios iniciais. É por isso que,
se estamos nos sentindo ressentidos, ou zangados, é importante pegar papel e
objeto escrevente, e fazer O Trabalho de Byron Katie e a inversão. (Apêndice I)
Isso nos traz de volta à Paz e à Realidade Ideal.
A todo instante, ouvimos na mente duas vozes interiores: a primeira, e a
mais alta, estridente, é a de nosso ser-ego; e a segunda, a mais suave, é a de
nosso Ser Unificado, a Voz da Inspiração Universal. No final, com prática, e
nosso querer, iremos, automaticamente, ouvir distintamente Sua Voz cada vez
Mais Alta e conseguir atender ao nosso Ser Unificado. Lembre-se sempre que a
voz do ser-ego projeta e a Voz do Ser Unificado estende; uma clama por medo
e separação, e a outra só concita por união e Paz.
A única maneira de encontrarmos verdadeira felicidade neste mundo é
aprender a dar o que precisamos para conhecer o que e quem somos, no interior
profundo. O que precisamos saber a respeito de quem somos? Nunca queremos
descobrir o que pensamos ser: nulo, imperfeito, mau, egoísta, fraco,
insubordinado, inútil, insuficiente, sujo, pervertido, desabrigado, indisciplinado,
insensível, doentio, ignorante, enganador, desonesto, sem sentimentos,
necessitado, sem valor, desamparado, estúpido, duas caras, autocentrado, ou um
traidor. Contudo, na verdade somos tão ligeiros para ver esses mesmos aspectos
em nossos sócios, parceiros, família, parentes, amigos, colegas e mesmo
desconhecidos eventualmente encontrados rapidamente até no elevador. Mesmo
quando lemos jornais ou assistimos TV, amamos passar julgamento nas pessoas,
e em situações que nada nos dizem respeito. Vemos tanta feiúra em outros e,
secreta ou publicamente, os perseguimos por isso. Será que conseguimos ver o
supinamente ridículo e fútil desse passatempo danoso? Dizemos que queremos
Amor, aceitação, entendimento e perdão; mesmo assim, nos perdemos
procurando por eles fora de nós. Por cima disso tudo, nós ainda acumulamos
veneno interior para nós mesmos, por meio de acrescentar a tudo isso
negatividade, ao projetar isso sobre os outros. Nos recusamos a dar a outros,
aberta e inquestionavelmente, o que ansiamos em amor incondicional,
entendimento, aceitação e perdão, para nós mesmos.
A maneira mais rápida de aprender o que e quem somos, é olhar por
isso nos outros. Amor Incondicional, Alegria, Paz, aceitação, entendimento e
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

perdão – isso é o que e quem somos! Nunca saberemos isso até que nos demos
conta de que cada uma das pessoas viventes é uma parte de nós; elas apenas, no
tempo e no espaço, parecem ser separadas de nós. Conseguimos vencer essa
ilusão palpável unicamente quando deixamos de ver o erro, e damos aos outros
tudo que nós, profundamente, buscamos em nós mesmos. Dessa maneira,
praticando-o literalmente, começamos a aprender quem verdadeiramente somos,
e experienciamos em nós mesmos e em relação aos outros, Amor incondicional
e Alegria profunda. Quando pararmos de ver feiúra lá fora, conseguiremos ver a
beleza da Verdade dentro da nossa própria existência – Amor.

Dar é Receber – Desfazer o Conceito de “Tomar”


Aqui é onde começamos a aprender o que é verdadeiramente de valor em nossa
vida. Até agora, não conseguíamos saber isso, porque o ser-ego preparou uma
lista, foi atrás dela e manifestou tudo nela contido, trazendo-nos o que,
presentemente, chamamos de ‘valioso’. Sob o cabeçalho rotulado de ‘valioso’
estão: relacionamentos, pessoas, o corpo, posses, artigos e objetos materiais,
crenças, imagens ou identidade, carreira, saúde e riqueza financeira, cargos,
situações, oportunidades e circunstâncias.
Há uma fórmula ensinada em UCEM
que, se buscada com uma intenção pura, e um
compromisso consistente, nos levará, com
Nós ainda certeza, a manifestar uma vida de extremo
não sabemos que, Amor, Alegria e Paz. Em termos evolucionários
se algo requer essa fórmula nos provê, provavelmente, o
a ilusão caminho mais rápido à iluminação, conhecido
de guarda e proteção, na seqüência corrente do espaço-tempo.
então isso tem de ser O primeiro passo para isso é
– obrigatoriamente – “Para ter, dá tudo a todos.” (T-6.V.A.5:13).
sem valor.
Esse é um passo preliminar a ser aprendido, porque a maioria de nós ainda não
compreende, ou pratica, isso inteiramente, então podemos ver isso como uma
idéia estranha. Desfazer o conceito de receber significa aprender que
“...ter se baseia em dar e não em receber.” (T-6.V.C.6:1)
Quando entendermos que o quer que seja que estendamos (damos) nós
recebemos, e o que damos, por conseguirmos dar, reconhecemos como algo que
já temos. Nós sempre recebemos a bondade que damos e quando nós,
genuinamente, oferecemos perdão, em troca recebemos perdão.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

O ser-ego ensina que O QUE DAMOS, PERDEMOS, e baseia sua segurança


em tomar e tentar guardar. Ele não se dá conta de que tudo exclusivamente
cobiçado, no final, – com certeza – será perdido, porque qualquer coisa de valor
Real só consegue ser acrescentado pelo compartilhar (ao ser dado). Qualquer
coisa – objeto, pessoa ou valor, dinheiro inclusive – em seu âmago, é pura
energia.
O que os torna especiais, para nós, é apenas a nossa percepção deles, no
tempo. Se para conseguir qualquer coisa, usarmos o conceito do ser-ego de
tomar, iremos atrás de nosso tesouro, nos sacrificaremos por ele e
ameaçaremos a todos ou qualquer coisa que pensemos possa vir roubá-lo. E
para garantir que nosso tesouro não seja perdido, nem roubado, investimos
pesadamente em sua proteção e defesa. Nós ainda não sabemos que, se algo
requer a ilusão de guarda, defesa e proteção, então isso tem de ser –
obrigatoriamente – sem valor.
A Verdade Universal é de que qualquer coisa de Real Valor, neste
mundo, só consegue aumentar sendo compartilhada. Se dermos Amor,
compaixão, perdão, compreensão e aceitação, essas qualidades se multiplicam
em nós mesmos, em nossas vidas e nas vidas das pessoas ao nosso redor. Tudo
que o doador dê, ele, ou ela, o recebe. Mesmo no caso em que sinceramente
demos, e o receptor pareça não reconhecer nossa doação, de forma alguma
aparente, mesmo assim nós a receberemos. O dar é um ato infinito que não
aguarda no tempo para fazer milagres. Nunca fique abatido se seu dar caloroso
pareça ser rejeitado, ou desapercebido. Lembre-se sempre que o ato de sua
dádiva ressoa imediatamente além do tempo e do espaço, e prossegue na criação
e na extensão, perene e ilimitada. Você não consegue saber, exatamente,
quantas pessoas são afetadas beneficamente pelo seu único ato de dar, porque
isso reverbera como Amor, através do Universo. Neale Donald Walsh
pungentemente explica a transação milagrosa que ocorre através da prática de
que ter repousa no dar, e não em tomar:

“Quando você sabe que há abundância – seja do que for – você pára de
competir, disputar, com outros. Você pára de competir por amor, dinheiro, sexo,
poder, o que quer que seja, que você sinta não haver o suficiente para você.
A competição, a disputa, acaba.
Isso altera tudo. Agora, em vez de competir – disputar – com outros para
apanhar o que você quer, você começa a dar o que você quer ter. Em vez de
lutar por mais amor, você começa a dar amor. Em vez de lutar por sucesso,

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

você começa a assegurar que todos os demais sejam bem sucedidos. Em vez de
sair à cata de poder, você começa a fortalecer o poder nos outros.
Em vez de buscar – disputar – afeição, atenção, satisfação sexual, e segurança
emocional, você se põe sendo a fonte disso. De fato, tudo que você alguma vez
quis, você agora está suprindo a outros. E o surpreendente de tudo isso é que, à
medida que você dá, assim você recebe. De repente você se dá conta de que tem
mais do que você está dando.
A razão para isso é clara. Isso nada tem a ver com o fato de que o que você fez
seja ‘moralmente correto’, ou ‘espiritualmente iluminado’, ou a ‘Vontade de
Deus’66. Isso tem a ver com uma simples verdade: Não há ninguém mais no
lugar onde você se encontra!
Há apenas um de nós!”
(Comunhão com Deus, Neale Donald Walsh, p.75-6)67

A rendição final de nosso ser-ego depende do nosso aprendizado de que dar é –


de fato – receber. Esse é o fundamento sólido do qual nossa libertação ganhará
seu ímpeto. Para o ser-ego, o conceito de tomar é um dos mais difíceis de
renunciar. A maior parte, senão toda sobrevivência do ego depende de nosso
investimento pessoal no conceito de tomar. Uma vez comecemos a introduzir a
noção de que dar é receber, sentiremos o ultraje do tomar do ser-ego, de muitas
formas.
A Verdade de que nós, no final, nos damos conta de que o alvo do
propósito de nossa vida é atingir o conhecimento de que nós já somos e já temos
tudo o que precisamos. O propósito de conhecer o ego é de conseguir remover
os bloqueios à Realidade Ideal, pelo conhecimento de que já somos e já temos
um suprimento infinito de Amor, Paz, Alegria e abundância. O melhor caminho
para ganharmos esse entendimento é pela prática autêntica da extensão e da
doação compartilhada, absolutamente sem ‘dar para apanhar’. Um método de
aprendizado bem sucedido é feito pelo uso do contraste. À medida que viajamos
ao longo dos seis estágios, por olhar para trás ganhamos muito discernimento, e

66
N.T. – Se bem que seja – também – isso tudo: moralmente correto, espiritualmente
iluminado bem como a Vontade de Deus.
67
N.T. – Neale Donald Walsch (Milwaukee, 10/set/1943) é o autor norte-americano da
série de livros Conversando com Deus, dentre outros. Numa madrugada de 1992,
deprimido, ele escreveu uma carta para Deus, onde perguntava ao Criador o que fazer
para a vida dar certo. Como mágica, ouviu uma voz respondendo essa e outras questões,
que mais tarde se transformaram na série "Conversando com Deus".
158
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

observar, o que agora é reconhecido como de valor, mas previamente era visto
como sem valor. Crescemos muito vendo agora nossos apegos anteriores como
não apenas sem valor, mas completamente destrutivos. O contraste é uma das
maneiras da Inspiração Universal nos ajudar a encontrar a liberação de nosso
ser-ego.
Observemos nossos vícios culturais em “tomar” e “ter”. Temos alguma
vez realmente olhado para o que cremos a respeito de dar? No centro da crença
do ser-ego está – com pedra e cal – o conceito de que ter só consegue ser
adquirido por meio do apanhar. Tomar alguma coisa requer algum grau de
manipulação, e vemos isso muito claramente em relacionamentos íntimos.
Quando num relacionamento o ser-ego iguala amor à troca, e mede o amor pelo
que vê que consegue tomar. Por exemplo, se nosso parceiro está atrasado, sem
telefonar e nem explicar, como julgamos isso um ataque, negamos amor, e
respondemos com frieza, que é uma forma de contra-ataque. Entretanto, se
nosso parceiro chega em casa, ou ao encontro, à hora aprazada, e traz um
presente inesperado, respondemos com amor e felicidade.
Se nossas necessidades são atendidas, estendemos amor, e se elas forem
ameaçadas, ou não preenchidas, odiamos (recusamos amor). Então, o que
estamos ensinando pelo exemplo? Quando amamos num determinado minuto e
ficamos zangados, ou odiosos, no seguinte, estamos ensinando que amor e ódio
conseguem co-existir; que o amor é imprevisível, instável e passageiro, segundo
a satisfação, ou não, de suas necessidades. Estamos, inconscientemente,
enganchados no “tomar”, que sempre nos conduz ao desapontamento, e à
infelicidade. O ser-ego sempre busca ganhar dando um jeito, conspirando,
enfim.68 Mesmo no amor, ele ganha pela compra, sempre impondo condições ao
amor. Há um custo no ‘tomar’ o que cremos – na aparência – não ter.
A maioria dos relacionamentos chamados românticos são, sem saber,
baseados em carência. Percebido que precisamos de atenção, aprovação,
apreciação, validação e amor exteriorizado, automaticamente ficamos
zangados e frustrados quando percebemos que alguém nos nega sua atenção,
aprovação, apreciação, validação ou amor por nós – com isso não atendendo
nossas necessidades percebidas. Se acharmos que nossos parceiros não atendem
nossas necessidades, que fazemos em resposta? Retiramos nossa atenção,
aprovação, apreciação, validação e amor por eles. Primeiro percebemos o
ataque, e daí, contra-atacamos.
Em outro instante, podemos estar preparados para agradar nossos
parceiros. Entretanto, para fazermos isso, decidimos sacrificar, e não sermos

68
N.T. – O famoso ‘jeitinho’, para levar vantagem, é o ego em ação.
159
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

verdadeiros a nós mesmos. Depois de tudo, um pouco de sacrifício parece


aceitável, se conseguimos ‘tomar’ alguma aprovação em retribuição. Mas nossa
barganha é tiro pela culatra, quando nosso parceiro não responde, daí ficamos
zangados. Em seguida, retiramos o amor, e uma separação temporária ocorre
entre nós.
Como pode ser isso? Somos criados
para crer que o amor, como uma torneira de A Verdade é que
água, pode ser aberta, ou fechada, quando o Amor nunca titubeia
queremos. A Verdade é que o Amor nunca nem vacila,
titubeia nem vacila, nunca morre, nunca recua nunca morre,
ou contrai; ele consistentemente estende, e nunca recua
permanece ao nosso redor, de muitas maneiras. ou contrai;
Nosso ser-ego nunca consegue ver isso porque
ele consistentemente
nosso ser-ego é como uma nuvem escura que
obscurece a luz do sol. O sol jamais desaparece, estende e permanece
mas as nuvens causam variadas quantidades de ao nosso redor,
escuridão. Como nuvens pesadas, o ser-ego é de muitas maneiras.
um bloqueio à nossa percepção da expansão da
presença do Amor.
O que quer que percebamos que nos falte, precisemos, queiramos e
demandemos de outra pessoa, ou da vida, efetivamente usamos bloquear o
Amor um do outro e de nossas vidas.
Os primeiros passos em nossa jornada à integridade são dirigidos à
remoção desses bloqueios de conhecimento da presença do Amor. Se sofremos
algumas delusões, então cremos dever estar preparados para sua revelação pela
experiência, tanto as sem valor, quanto as valiosas. Através disso,
reconhecemos que nosso próprio método antigo de “escolha” foi baseado no
medo, e não no Amor real, Paz e abundância.

Reforma do Relacionamento
Se nesta fase inicial de desenvolvimento da confiança estivermos envolvidos em
relacionamentos, temos de conhecer que eles – inevitavelmente – passarão por
transformação. Nosso sistema de pensamento do ego está lentamente sendo
substituído, por uma maneira inteiramente nova de se relacionar com o mundo.
Estamos aprendendo agora, que fomos nós que criamos o mundo que vemos, e
que dar é receber. Até agora, nossos relacionamentos foram baseados em ‘dar e
tomar’. Em conseqüência, sem dúvida, sentiremos que uma mudança penetrante

160
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

ocorre, ao abraçar esse novo compromisso – aprender que dar é receber. UCEM
explica que essa parte inicial na transição do relacionamento pode
“parecer perturbado, desunido e até mesmo bastante angustiante.’ (T-
17.V.3:3)
A razão pela qual primariamente sentimos essa mudança, é porque a
meta original de ganho, ou dar para tomar, fica abruptamente mudada para seu
oposto, a meta de ‘dar para receber’. Dificuldades, tais como frustrações,
confusões e raiva, podem fazer sua escalada, nessa fase inicial, porque a própria
base de nossos relacionamentos muda, ao longo da troca de seu sentido de
direção.
Muitos de nós nos perguntamos, “Porque fazer o começo dessa jornada
é tão difícil?” De acordo com UCEM, essa dificuldade inicial é necessária – por
ser útil – pela seguinte razão:
Não seria mais benigno deslocar a meta com mais lentidão, porque o
contraste seria obscurecido e o ego ganharia tempo para reinterpretar cada
passo lento de acordo com seu desejo. Só um deslocamento radical no
propósito é capaz de induzir a uma completa mudança de idéia a respeito
da razão de ser de todo o relacionamento. À medida que essa mudança se
desenvolve e é, afinal, realizada, ele cresce, passando a ser cada vez mais
benéfico e alegre. Mas no início a situação é vivenciada como muito
precária. (T-17.V.5:1-4)
Nunca avaliamos o suficiente o quanto subestimamos o que
secretamente o ego nos engana. Da mesma forma que vemos o fragmento de um
iceberg acima da linha d’água, e ignoramos o que está debaixo d’água, podemos
subestimar a enormidade da massa de ego escondida abaixo de nossa
consciência, por estar fora de nossa vista. Para desfazer o sistema de
pensamento do ser-ego, temos de, inicialmente, dar uma reviravolta, não apenas
nos óbvios fragmentos que vemos, mas muito mais importante, na gigantesca
massa que fica por baixo de nosso conhecimento consciente. Serão apresentados
a nós muitos contrastes nesse estágio inicial para que consigamos experienciar a
diferença entre nosso ser-ego e nosso Ser Unificado. Infelizmente, esse
contraste usualmente é experienciado como um conflito intenso. Esse conflito
intenso, geralmente, compele em nós um grande desejo de absolutamente mudar
nossa forma de pensar, e nossos valores. Rapidamente, vemos que não
queremos isso nos relacionamentos, e com isso nos motivamos a abraçar,
resolutamente, a mudança positiva.

161
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Talvez o mais difícil de todo o estágio inicial dos desafios em


relacionamentos esteja dentro de um relacionamento romântico estabelecido,
também conhecido como relacionamento especial (reler “Relacionamento
Especial”, cap. 4, neste livro). Por nossas metas apresentarem mudanças tão
drásticas, nosso estilo de nos relacionar também muda e causa suspeição, medo
e confusão. Esquecidos de que projetamos nossos medos, nós, a seguir,
exacerbamos o conflito, por vê-lo – projetado – em nosso parceiro e, olvidados
de que a própria projeção é nossa, reagimos, em defesa, com um ataque
percebido como se fosse de fora.
Tendo sido avisados de antemão que esse tempo conflitante é bem
provável ocorrer, conseguimos, então, estar preparados a fazer a escolha de
ficarmos atentos e presentes. Entram, então, o conflito e o caos instantâneos,
mas nós, avisados previamente, conseguimos escolher ser o observador de
nossas emoções e pensamentos, em vez de nos perdermos como participantes
disso e, possivelmente, como conseqüência, pormos em risco nosso
relacionamento. Tendo reconhecido que esse caos inicial é inevitável, nos
lembramos a nós mesmos que seu único propósito é reformar – e curar – nossos
relacionamentos.
“Muitos relacionamentos foram rompidos nesse ponto e a busca da antiga
meta [o ser-ego dando para tomar] restabelecida em outro relacionamento.”
(T-17.V.3:8)
Agora conseguimos reconhecer a enorme tentação de abandonar o
relacionamento, que parece perdido no caos. Entretanto, se atentos olharmos
mais de perto, veremos além da ilusão. Se abandonarmos o relacionamento
nesta fase prematura, é mais provável que busquemos retornar para o nosso
familiar sistema de pensamento disfuncional. Este é um tempo temperador no
qual faríamos melhor abraçar mais do que resistir mais. Qualquer desconforto
sentido por nós aí nasce sempre de nossa resistência a O Que É, no tempo
presente.
Encontrando que neste estágio alcançamos, em nossos relacionamentos,
um tempo particularmente desafiador, podemos ser aliviados por saber que esse
veículo – o relacionamento – provavelmente é o mais veloz meio de alcançar
liberação nesta existência. Um Curso em Milagres indica que anos de meditação
e contemplação, como nas religiões orientais, e a luta contra o pecado das
religiões ocidentais primárias, ambas consomem tempo demais e são,
unicamente, focadas no futuro. Elas tendem a sugerir, e garantir, que
precisamos passar por longo processo de aperfeiçoamento para colher nossas
recompensas.
162
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

“Esse curso não pretende ensinar mais do que o que eles aprenderam no
tempo, mas tem como objetivo economizar tempo. Podes estar tentando
seguir uma estrada muito longa para a meta que aceitaste. É extremamente
difícil atingir a Expiação lutando contra o pecado. Um esforço enorme é
gasto na tentativa de tornar santo o que é odiado e desprezado. Nem há
necessidade de toda uma vida de contemplação e de longos períodos de
meditação com o objetivo de desapegar-te do corpo. Todas essas tentativas,
em última instância, terão sucesso devido ao seu propósito. No entanto, os
meios são tediosos e consomem uma grande quantidade de tempo, pois
todos procuram a liberação no futuro, a partir de um presente estado de
indignidade e inadequação.
O teu caminho será diferente, não em relação ao propósito, mas ao
meio. Um relacionamento santo é um meio de ganhar tempo. (T-18.VII.4:5-
5:2)
Então, se estamos determinados a alcançar a Realidade Ideal, e
conquistar nossa meta de Amor, Paz e Alegria nesta existência, é sábio nos
relembrarmos, a nós mesmos, exatamente, quão valiosos – mesmo que algumas
vezes desafiadores – são nossos relacionamentos para nós, em nossa viagem
rumo à liberdade. Tenha fé em você mesmo, e em seu parceiro, nessa primeira
mudança de sentido porque, como dito anteriormente, o começo é o remendo
mais rude a ser experienciado. Uma vez vencida a confusão inicial, vemos
nossos relacionamentos crescerem em profundidade, e extensão, no sentido de
um amor tão seguro, rico e multifacetado, por nós nunca antes imaginado
possível.
No início deste capítulo demos alguns exemplos possíveis, do que
conseguiria ajudar a iniciar nossa busca de um melhor caminho. O processo
inicial pode incluir rompimento de relacionamento, crise de identidade, perda
de carreira, tragédia pessoal, ou falência na saúde. Isso pode induzir nosso
ponto crítico, porque freqüentemente servem de fatores decisivos para nos
habilitar a mudar, para o melhor, nossa mente e nossa vida.
O Estágio 1 é um período de desfazer e, como tal, usualmente tomamos
um tempo para recobrar-nos dele, freqüentemente vendo, por algum tempo, só
os aspectos negativos da experiência. Isso poderia levar meses, ou mesmo anos.
Mesmo assim, a luz de estar ciente finalmente raia em nossas mentes, e
começamos a ver que nossas mudanças, mesmo dolorosas, foram benéficas.
Essa postura de que “toda mudança é útil” é uma decisão que aprendemos a
desenvolver ao longo da viagem, cada vez mais. Gradualmente abraçamos a
Verdade de que tudo que ocorre tem lugar por uma Razão maior e quando,
163
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

finalmente, compreendemos isso, estamos prontos para avançar para o Estágio


2, A Escolha.

Liberação do Ego – Necessidades e Desejos


Quando embarcamos na viagem rumo à Confiança, por certo, nós
encontraremos que o que desejamos e o que necessitamos parecem ser palavras
apartadas – e em muitas maneiras elas são (Figura 6.1). Necessidades incluem
lições que nos ensinam o valor do perdão, aceitação, permissão, confiança e
amor. Desejos, por outro lado, muito freqüente se apresentam como um adendo
do ego, i.e., nossas crenças limitadas, opiniões e condicionamentos. A maior
parte, que conscientemente valoramos e desejamos, é nascida da necessidade do
ego de comandar e manter o controle. O processo de deixar ir o ego é um
processo de desfazer e desaprender. A Vontade Unificada aumenta sua
influência e direção, em nossa vida, à medida que abandonamos a submissão ao
controle do ego.
Durante os Estágios de 1 a 3, quando é possível haver mudança
ocorrendo em nossas circunstâncias externas, nossa falta de Confiança pode,
equivocadamente, causar a percepção de que nossas necessidades não estejam
sendo atendidas, a despeito de nossa aliança recém descoberta pela adoção
desse novo sistema de pensamento. Isso não é assim. Nós não sabemos nossos
próprios maiores interesses; por isso, como possivelmente conseguimos saber
quais são nossas reais necessidades? Nosso ego demandará que seus desejos
sejam atendidos e, não sendo atendidos, a sua resistência aflui como conflito
interno, emocional, físico e/ou mental, e encontramos que estamos resistindo a
O Que É – discutindo com a realidade outra vez! Ao ocorrer isso, tão depressa
quanto possível, observe atento o conflito, ou o desapontamento. Observe
quaisquer pensamentos, ou sensações, de ser vítima Daquilo Que É. Lembre-se
de que o que você quer agora mesmo, pode não ser exatamente o que você, de
fato, precisa, e há uma razão muito boa para isso, apesar de seu ego querer
descobrir, e mudar, as coisas agora. Se você não estiver recebendo o que pensa
querer, peça à Inspiração Universal por orientação, na forma de clarear sua
percepção, para ser capaz de entregar a resistência a O Que É – ou ao que você
precisa.
No Estágio 1 pode ser que o que seu ego deseja, e o que for para o
nosso maior bem, pareçam quase que, dramaticamente, opostos. Por exemplo,
uma amizade antiga, previamente baseada em especialismo, parece estar se
rompendo, ou talvez uma carreira, estável mas aborrecida e desespiritualizada,
entre em colapso. Nosso ego ainda quererá manter a amizade e quererá manter

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

a carreira, porque não tem qualquer idéia a respeito da Verdade. Nos estágios
iniciais, ao sermos apresentados ao que precisamos [a mudança corretora],
podemos ainda não conseguir ver que isso era uma bênção disfarçada.
Quando nos sentimos vítima de nossa circunstância, Jacquelyn Small
nos lembra da Verdade:
”Se conseguirmos nos lembrar de que viemos para cá como seres espirituais
para aprender como sermos humanos (Princípio Um) [para seus 12 Princípios],
jamais confundiremos o que ocorre a nós com quem somos. Em vez disso,
intensamente nos envolvemos na vida, mesmo nos tempos dolorosos, com esta
pergunta:
‘Que lição há ali/nisso para mim?’
‘Qual é a intenção da minha alma nessa situação?’
Isso nos coloca num degrau mais alto em nossa escada evolucionária.
Conseguimos, assim, aprender a ver as coisas do alto, acima da tempestade, ao
passarmos através dela. Essa maneira de viver trabalha lindamente para almas
apaixonadas. Ela traz imenso prazer de trabalhar vendo mais o sentido sagrado,
em vez do outro de experiências mais mundanas. Isso nos faz sentir ligados à
nossa Fonte. Podemos nos apaixonar pela viagem em si mesma quando
pararmos de permitir nossas condições nos definirem.
“Não importa quão agrilhoados à rocha nos sintamos estar, em qualquer
situação, a Centelha divina em você está conduzindo você firme em direção ao
seu total desabrochar.” (Jacquelyn Small, O Propósito Secreto de Ser Humano,
p.59)69

2 Estágio 2 – Escolha e Separação

69
N.T.– Jacquelyn Small – Terapeuta individual, autora, professora, preparadora,
consultora, terapeuta, fundou em 1975, em Austin, Texas, o Eupsychia Institute, Inc.
(Empresa Instituto Eupsíquia, pronunciado eu-psi'-ki-a) que significa “boa psique” ou
"bem estar," em grego, um programa profissional de treinamento e cura, sem fins
lucrativos, onde é diretora, baseado em psicologia da alma, e trabalho integrativo
respiratório. Graduada em psicologia, mestre em Serviço Social clínico, 1971, membro
da HEW Fellowship da Universidade do Texas, em Austin. Autora de oito livros sobre
o que pratica e ensina, dentre os quais o citado aqui, O Propósito Secreto de Ser
Humano, sem publicação em português, ainda.

165
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Este estágio é uma progressão no aprendizado de que não apenas algumas


mudanças são úteis, mas que todas as mudanças são úteis. Aqui temos de olhar
para as coisas, pessoas, situações, hábitos e atitudes das quais, talvez, sejamos
desafiados a liberar ou transformar. E, considerando que o ser-ego está ainda
quase totalmente imerso em sua crença de que isso significará perda, tendemos
a resistir à mudança, porque percebemos que o sacrifício está ali envolvido,
mesmo que isso não seja verdade, no sentido Real. Nesse estágio, geralmente,
conseguimos nos dar conta de que alguns de nossos atuais vícios não estão,
definitivamente, em alinhamento com nosso novo compromisso com a Verdade.
Isso pode, algumas vezes, vir a ser experienciado como doloroso, se
consideramos sua desistência como um sacrifício.
Por exemplo, se tivermos nos identificado além da conta com nossa
carreira, ou com nosso papel como pai, ou mãe e, sem saber, entretecemos
nossa identidade com nosso trabalho, ou nosso papel, se nossa carreira fracassa,
ou nossos filhos saem de casa, podemos considerar isso como uma crise de
perda de identidade. No Estágio 2, uma vez tendo nos recuperado da crise
inicial, reconhecemos que essa aparente perda foi útil, de muitas maneiras.
Talvez a carreira tivesse sido a máscara de alguém em busca de resultados
acima do esperado, na luta de receber infinita aprovação externa. Agora a
pessoa encontra essa aprovação interna e, em conseqüência, se põe mais
próximo da família. Talvez agora, sem distrações e tensões externas, a
criatividade desperte e, muito mais gratificante, um propósito se abra.
Entretanto, para buscar, e atingir, esse novo propósito, há certo número de
ajustes ainda a serem feitos.
No Estágio 2 a convocação às reformas poderá muito bem ser vista
como sacrifício. Só quando, de fato, começarmos a atender essas mudanças, e
testemunhar seus benefícios, é que começaremos a apreciar e saber que todas as
mudanças são úteis. Agora nos tornamos um pouco mais confiantes e
começamos a considerar as mudanças sob nova luz.
Junto com essa atitude, mais investida de poder que estamos adquirindo,
vem uma nova resistência do ser-ego, e pode parecer indicar haver desafios
mais adiante. A tentação nesse ponto é de nos sentirmos desesperançados e
desamparados, acusando a Fonte por nosso dilema, ou perplexidade. Ressentir-
se, e sentir-se vítima são sinais incontestes de que o ser-ego busca nos
comandar.
O objetivo deste Estágio 2 é de, verdadeiramente, compreender, e
assumir – cada vez mais – que nós, através de nossa mente – no querer,
propiciar e permitir – fazemos toda a realidade percebida por nós, em nossa
circunstância. Somos encarregados, e responsáveis, e não somos vítima dos
166
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

outros, de circunstâncias, ou de coisa alguma. Se não somos felizes, temos de


assumir a responsabilidade do que nos acontece, e escolher mudar a situação, ou
mudar nossa maneira de pensar, na mente, único lugar onde mudança consegue
ser feita.

“Eu sou responsável pelo que vejo.


Eu escolho os sentimentos que experimento, e
eu decido quanto à meta que quero alcançar.
E todas as coisas que parecem me acontecer
eu as peço e as recebo conforme pedi. (T-21.II.2:3-5)

Isso entendido é onde e quando começamos, realmente, a aprender que só,


exclusiva e unicamente nossos próprios pensamentos, e crenças, nos causam
paz, ou dor. Precisamos, com conhecimento convicto, nos sentir pessoalmente
cem por cento responsáveis por nossos pensamentos, e crenças e, com decisão
firme, saber que meta tencionamos e escolhemos alcançar. O processo de
aprender a ver que somos nós, só e apenas nós, que estamos fazendo – atraindo
– essa realidade para nós mesmos, não apenas uma parte do tempo, mas todo o
tempo. E, primeiro, veremos isso em algumas áreas de nossas vidas, com a
maioria de nossas vidas ainda aparentemente ditadas por influências externas,
pelas quais não estamos dispostos a assumir – voluntariamente – nenhuma
responsabilidade.
Todo nosso conflito interior é causado por estar ele sendo operado a
partir do interior de dois sistemas de pensamento opostos. Ainda mantemos
muitas das ilusões do ser-ego como reais; mesmo assim, em algumas áreas,
ativamente vivemos a partir de nosso Ser Unificado. Por exemplo, podemos,
finalmente, ter alcançado Paz num relacionamento de longa duração, mas, no
mesmo dia, nos zangamos, por nada, com um caixeiro inepto ou preguiçoso.
Estamos aprendendo que
se estendemos Paz, recebemos Paz,
mas ainda não aprendemos a aplicar esse princípio a todas as circunstâncias, em
todos os instantes, com todas as pessoas, generalizadamente.
Temos de nos lembrar de que, recentemente, abraçamos o conceito de
que ‘dar é receber’. Nosso ser-ego é insistente e consistente em seu firme
argumento de que ter é o oposto de dar e, arrogante e provocador, instiga,
“Como pode dar levar-nos a ter alguma coisa?”

167
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Claramente isso indica que usamos dois sistemas de pensamento opostos, e


excludentes, ao mesmo tempo, funcionando em nossas mentes. Algumas vezes
entendemos, praticamos e colhemos as recompensas do “dar é receber” e, em
outras vezes, nosso ser-ego oblitera a Verdade, e denuncia isso como uma
insanidade. Aqui ficamos à mercê de crenças opostas e nossa mente, conflitada,
obtém resultados conflitantes. Repousem tranqüilos e seguros de que esse
dilema é – felizmente – temporário, passageiro e a Paz é restaurada ao
entender, aceitar e praticar o único sistema de pensamento certo: a mentalidade
Unificada. Isso leva tempo, paciência, muita vigília e disciplina, variando o
quanto de pessoa a pessoa.
Compreendam que quaisquer desapontamentos e conflitos exteriores
são, por certo, manifestações externas de nossa própria confusão interna entre
os dois sistemas de pensamento, opostos e excludentes. Culpas e sentimentos de
inadequação e frustração conseguem, algumas vezes, encorajar períodos de
desvios, ou retardos, que são tempos onde negamos, fugimos ou nos distraímos,
a nós mesmos, com passatempos sem sentido. O melhor conselho é sempre
aceitar o desafio de reconhecer e reconhecer esses tempos onde parecemos sair
dos trilhos. Se o conflito, interno ou externo, for aparente, sentem-se com papel
e com o que escrever e respondam às quatro perguntas de Byron Katie em O
Trabalho (no Apêndice I deste livro), e retornem à sanidade e à Paz. Vocês
podem usar a fórmula ‘PIPQ’ – Presença, Inquirição e Perdão Quântico.
Simplesmente pedir à Inspiração Universal para nos retornar à mentalidade
certa também faz maravilhas.70

Que as condições que causam meu medo sejam removidas


Falamos antes (na seção “Medo e Agora,” neste livro) da existência de dois
tipos de medo, um dos quais é raramente encontrado nesses dias, chamado medo
emergencial. Medo emergencial é uma resposta psicológica embutida, também
chamada “lute ou fuja”, que emerge ao sermos confrontados com perigo
inesperado repentino imediato. O tipo de medo com que estamos mais
familiarizados é a barragem diária de medo psicológico, resultante de
inquietação a respeito do futuro, ou do passado. O ego investe nessas
inquietações, e pré-ocupações, para que consiga manter nossas mentes fora do

70
N.T. – Tudo só depende de você QUERER a cura. Você fez o caos, você o desfaz. É
muito simples. Quem escolhe é você; Céu ou inferno. Esteja atento à escolha. Só uma é
real.

168
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

momento agora, onde fica a liberação do medo. Dessa maneira o ego mantém o
controle sobre nós e, o que é melhor, permite a ele não se expor.
Todo tormento, inquietação, conflito e medo que encontramos, emerge
da insegurança do ego. Por não ter um âmago real, ele tem de se defender
mantendo um controle vigilante estrito e interminável sobre tudo que percebe,
pois tudo pode, a qualquer momento, pô-lo em risco e ameaçá-lo. Qualquer
coisa que possa arriscar seu especialismo, seus apegos, suas crenças, seus
valores, suas satisfações, o ego evitará, defenderá, suprimirá, atacará,
manipulará ou disfarçará, que é sua forma de sobrevivência. A enormidade de
sua tarefa para controlar, e evitar, exposição é massiva. Ele pensa que consegue
estar no controle todo segundo, minuto e hora, vinte e quatro horas do dia, sete
dias da semana, cinqüenta e duas semanas ao ano, todos os anos de nossa vida.
Os únicos momentos em que o ego pára, por ser obrigado a isso, é
• quando estamos ativamente observando e corrigindo nossos próprios
pensamentos, crenças e reações e
• quando suspendemos todo pensamento e crença e entramos em atenta
mentalidade desperta, em relação ao momento do agora.
Uma vez desenvolvida suficientemente nossa confiança, ficamos capazes de
entender, e aceitar que nossa total liberdade repousa no abandono completo do
controle do ego sobre nós, e saber como exercê-la.
Se o ego causa todo nosso medo psicológico (aflição, angústia,
ansiedade, necessidade de controle e resistência a O Que É) então ele também
tem de ser a causa de todos nossos medos e conflitos. A Fonte e a Inspiração
Universal não conseguem ver, ou reconhecer, ilusões, e o medo é a ilusão
máxima. Por estarmos tão acostumados em crer que o medo seja real,
usualmente pedimos para que o próprio medo seja retirado, ou que seja
removido o quer que seja que percebamos ser a ameaça direta à nossa paz. Por
exemplo, podemos ter um amigo que esteja doente, e pedimos que a doença
seja curada. Ou podemos ser desafiados por uma tarefa amedrontadora, e
pedimos que a própria tarefa seja removida, ou facilitada. E, em ambos os casos
estaremos pedindo por uma negação em forma de um rogo. Pedir pelo que
parece causar o medo (os sintomas de uma doença, de uma perda, de um desafio
ou dificuldade) para ser removido não consegue ser atendido, porque o medo,
em si mesmo, é uma ilusão, e onde quer que percebamos estar a causa do medo
é, também, uma ilusão. Ilusões não conseguem ser curadas, ou erradicadas, por
torná-las reais. Se de todo coração queremos ficar livres do medo, então,
primeiro precisamos reconhecer onde a causa original sempre está, em nossas
mentes, não fora de nós, de nenhuma forma. Qualquer pessoa, coisa ou situação
169
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

que traga medo é, puramente, um sintoma da causa subjacente de medo. Uma


vez reconhecido que queremos a liberação das condições que causaram o medo,
então podemos entregar os sintomas à Inspiração Universal, que cuidará deles.
Quando sentimos medo isso é sinal seguro de que permitimos que os
pensamentos do ego nos dominem.71 O remédio para remover o medo, então, é
agir assim que nos dermos conta de que uma perda de paz ocorra, e daí nós,
muito atentos, cientes e em vigília, pedimos que nossos pensamentos e crenças
retornem à mentalidade Unificada (mente certa). Isso é a nossa permissão ao
nosso Ser Unificado para assumir e dissipar a causa efetiva do medo.
“Quando estás amedrontado, escolheste errado. Essa é a razão de sentir-te
responsável por isso. Tens de mudar a tua mente, não teu comportamento,
e isso é uma questão de disponibilidade. Tu não precisas de orientação,
exceto ao nível da mente. O único lugar da correção é o nível onde a
correção é possível. A mudança nada significa ao nível dos sintomas, onde
não pode funcionar.
A correção do medo é tua responsabilidade. Quando pedes a liberação do
medo, estás deduzindo que não é. Deverias pedir, ao invés disso, ajuda nas
condições que trouxeram o medo.” (T-2.VI.3:2-4:3)
Quando queremos liberação do medo, então, temos de pedir pelo
restabelecimento da mentalidade certa, bem como que as condições que
causaram o medo sejam levadas à Luz, para serem removidas por dissolução.
Qualquer conflito que sintamos sempre virá de um lugar mais profundo de
dentro de nós. A forma que o conflito tome não importa; qualquer conflito
emerge quando o ego deseja algo, ou algum resultado, enquanto o Ser Unificado
sabe, exatamente, o que nós precisamos. Eles – ser-ego e Ser Unificado – são
opostos, e essa oposição é o conflito que causa o medo. Bem simplesmente,
quando não estamos alinhados com a Vontade Unificada não estamos plenos ou
felizes, e isso é o conflito subjacente por trás de todos nossos medos.
O conflito ocorre em uma de duas maneiras:
1 – escolhemos fazer coisas conflitantes, simultânea ou sucessivamente; ou
2 – nos comportamos da maneira que pensamos, mas não como realmente
queremos (superiormente) nos comportar.

71
N.T. – Permitir é o mesmo que pedir. Reler pg. 477 do Texto de UCEM, “A
Responsabilidade pelo que se vê.” O ego, mesmo ilusório, é ‘nutrido’ só por nós, e sua
ação só se verifica por nossa permissão, a nosso pedido, por assim querermos que sejam
as coisas, como tudo mais em nossa vida.
170
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Na primeira maneira, nossa mente está dividida no conflito de querer coisas


diferentes, portanto, isso produz comportamento conflitante. Na segunda
maneira, fazemos o que pensamos que deveríamos, mas estamos em conflito
porque é um grande esforço agir de maneira contrária à nossa Verdade. Em
ambos os casos não estamos sendo verdadeiros, ou autênticos. Isso produz
medo. Em qualquer caso, onde sentirmos conflito, isso é um sinal de que
escolhemos pensar sem amor, e o remédio é pedir para que nossos pensamentos
sejam retornados à mentalidade Unificada, certa, do Amor.

Tempo, Pensar e Sentir.


Ao crescermos através dos Estágios 1 a 3 pode ser especialmente útil fazer
freqüentes verificações de realidade, tanto de nós mesmos, bem como de
aparentes fatores externos. Para fazer isso podemos usar um ponto de referência
rápido, que nos permita verificar a nossa assim chamada realidade. Isso atua
muito rápido, interna e externamente, e é útil, em qualquer oportunidade, que o
medo e o conflito estejam conectados, de qualquer forma. Esse processo nos
permite:
• Tomar ciência de e reconhecer a perda da Paz, e os conflitos percebidos,
internos ou externos.
• Reconhecer honestamente essa perda da Paz. Pedir imediatamente: “por
favor remova as condições que causaram meu medo.” Isso nos retorna à
mentalidade certa.
• Decidir qual ação restaura Paz/Amor e é portanto Verdade, versus qual a
ação que requer ataque/defesa e é portanto insanidade e proteção do ego.
• Pôr em execução a ação requerida.
Em seu atraente livro, Andrew Cohen explica:
“[os] três aspectos fundamentais, mas confusos, da experiência humana são: o
transcurso pelo tempo, a resolução pelo pensar e o entendimento pelo sentir.
É o nosso sempre condicionado e profundamente compulsivo
relacionamento com essas três configurações fundamentais de nossa experiência
que cria a dolorosa prisão ilusória que é o ego.” Cohen, A., Abraçando Céu e
Terra, P. 61
Se em algum ponto nos sentirmos perdidos, zangados ou tristes isso será porque
estamos experienciando um relacionamento disfuncional com o tempo, o pensar
e/ou o sentir.

171
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Tempo
Se formos capturados pelo transcurso do tempo, então experienciaremos
resoluções e sensações de antecipação, à espera da chegada do futuro.
Investimos no futuro por crer que haverá progresso em relação ao agora. Ao
fazer isso, não conseguimos estar aqui e agora, e nos pomos, assim, deslocados
de tudo que ocorra no instante. Ausentes do agora, ficamos apartados dos
outros, de nossa circunvizinhança, da Alta Orientação e de nós mesmos.
Então, se sentirmos ansiedade ou medo, tendemos a saltar adiante à
espera do futuro, quando cremos que nos sentiremos melhor, não nos dando
conta de nosso atalho e de que a Realidade ideal está disponível só no agora,
não mais tarde, algum dia, ou no vir a ser do futuro.
Nada há do que escapar, e nem lugar algum para onde ir. O desafio que
enfrentamos é nos darmos conta de que o que quer que seja que o agora nos
apresente, isso será sempre uma oportunidade a abraçar. Nossa recompensa
chega unicamente no agora, por ficarmos cientemente presentes aqui mesmo,
exatamente agora. Todas as respostas se tornam disponíveis, exclusiva e
exatamente, nesse precioso momento único do agora. Estamos sempre
equipados com tudo que precisamos exatamente agora, para cada momento do
agora. É apenas o nosso ser-ego que vê carência ou medo e nos diz, ‘agora não
está certo, mais tarde é que será certo.’ O agora é o único momento que existe.

Pensar
Não somos nossos pensamentos, nem nossas crenças. Damos a nossos
pensamentos, e crenças, todo o significado que têm para nós, e existimos,
independentemente, do pensamento que pensamos pensar e da crença que
cremos crer. Estar livre de conflitos significa observar-nos a nós mesmos
pensando, e crendo, e não confundir nossos pensamentos, ou crenças, como se
eles fossem nós.
“Como figuras num álbum de fotografias, quando vistos objetivamente, os
pensamentos em si, e de si mesmos, são reconhecidos como sendo nada mais
que representações abstratas de eventos históricos. Cessando de cometer o erro
crucial de crer que pensamentos sejam inerentemente reais, instantaneamente
revela a verdade de quem somos nós sempre tem sido livre de e anterior à
ciência do pensamento...
Perdido e desamparadamente distraído pelo pensamento, e pela chegada
do pensar, a maioria de nós passa toda sua vida alienado de nossas próprias
profundezas e, como resultado, frequentemente experiencia um intrigante

172
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

sentido de separação do mundo no qual vivemos. “ (Cohen, A., Abraçando o


Céu e a Terra, p. 65)
Quando nos permitimos ficar perdidos em pensamento compulsivo, o
ser-ego exige – e consegue – controle. Ele usa o pensamento, ou a crença, na
tentativa de imobilizar, e/ou anular, nosso Ser Unificado. É interessante notar
que quase todos nossos pensamentos, e crenças, acabam sendo um julgamento,
de alguma espécie. Nosso pensar atua num modo avaliador, peneirando com
base em dados percebidos e acumulados, para tirar conclusões que são, quase
sempre, levadas para alimentar, ou defender, o ser-ego. Basta observar ou,
melhor ainda, anote, seus pensamentos, e suas crenças, nos próximos três
minutos.
Quantos pensamentos, e crenças, continham qualquer destas palavras,
ou seus significados: deveria, não deveria, quero, preciso, tenho de, mais,
menos, melhor, pior? Quantas crenças autolimitantes adquirimos desses
pensamentos ilusórios?
E quantos de nossos pensamentos, ou crenças, foram baseados em
avaliações de nós mesmos, de outros, circunstâncias, ou coisas? Nossos
pensamentos estão fazendo milhões de minijulgamentos segundo a segundo,
todo dia; e quase todos – senão todos – são inverídicos. Pensamos, ou cremos;
daí projetamos nossos pensamentos, ou crenças, para fora, e a realidade do ego,
nos devolve, como um raio instantâneo, uma imagem espelhada de nossas
suposições, provendo, e provando, na aparência, nossa projeção como um fato.
Nada disso é verdade.
A única Verdade é o Amor, a suspensão do julgamento
e a entrega da nossa avaliação ao nosso Ser Unificado.
Lembre-se de que,
“Eu não percebo meus maiores interesses.” (E-pI.24.h)
e peça, de pronto, para retornar à mentalidade certa. Nosso Ser Unificado
sempre decidirá por uma resposta que nos conduz à Paz, nunca ao conflito, nem
interno, nem externo. O mecanismo do pensamento, e da crença, controlado
pelo ser-ego nunca solucionou, soluciona e nunca solucionará, qualquer
problema, porque, em si mesmo, é a fonte dos problemas. 72

Sentir

72
N.T. – Em UCEM, ler lição 8, no Livro de Exercícios, p. 13.
173
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Para atingir um razoável grau de percepção


correta impessoal, temos primeiro de olhar para
Somos doutrinados a o que realmente é ‘sentir’. Nosso ‘sentir’ é,
seguir nossas como o tempo meteorológico, imprevisível, e
respostas ‘sentidas’ muda sem aviso prévio. Por exemplo, se nos
pela emoção e não nos acordamos ‘sentindo’ miserável, perceberemos
damos conta de que nosso dia através da lente distorcida do
‘sentir’ emoção – infortúnio, da depressão, e se nos sentimos
como pensar zangados com alguém veremos através de
ou crer – é lentes distorcidas da raiva e da zanga. Somos
independente de doutrinados a seguir por nossas respostas
‘sentidas’ pela emoção, e não nos damos conta
quem somos nós. de que ‘sentir’ emoção – como pensar ou crer –
é independente de quem somos nós.
Se nesta existência de vida estamos verdadeiramente comprometidos
com a liberação, temos de aprender a nos tornar totalmente cônscios de e alerta
com o que ‘sentimos’ por meio de nossas emoções. Nós não somos o que
‘sentimos’ por nossas emoções, não importa quão aparentemente real e intenso
seja o que ‘sintamos’ por meio delas
Se permitirmos que o que ‘sentimos’ pelas emoções ditem nossas
respostas, então perdemos – por completo – nosso poder. Ser livre significa
estar integralmente comprometido com a cura de nossa mente separada. Nossa
Prioridade número 1 é Paz. Se nosso ‘sentir’ emocional perturba essa Paz,
podemos parar, passar a ser o observador de Aquilo Que É e, mentalmente,
dirigir e direcionar nosso caminho através da experiência. Isso requer grande
disciplina para trabalhar com o que e através do que ‘sentimos’ pelas emoções.
A regra é: seja paciente! Uma ferramenta vital que nos ajuda a curar
pensamentos e crenças que causam ‘sentir’ dor emocional é O Trabalho, de
Byron Katie. (Apêndice I deste livro). Poderosas ferramentas que também
ajudam nesse processo são A Sabedoria do Eneagrama, de Don Richard Riso e
Russ Hudson e a fórmula “PIPQ” - Presença, Inquirição e Perdão Quântico.
Se acharmos que estamos presos na armadilha de nos ‘sentir’ vítima das
emoções, pensamentos e crenças aparentemente causados pelo passado, para
nossa cura é imperativo que a luz da Verdade seja lançada sobre tudo isso.
Nesse estágio, qualquer coisa, que pareça haver nos retirado ou limitado poder,
requerirá ser ‘desenterrada’ e ‘reavaliada’ para vermos, claramente, que jamais
fomos, nem somos, a vítima que pensamos e cremos ser. Esse processo (melhor
realizado com papel e escrevedor através de O Trabalho, de Byron Katie,

174
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Apêndice I, deste livro) nos permite ver os pensamentos e as crenças não


investigadas, que nos causaram tanta dor, sem acusação ou culpa.
Conseguimos medir nosso grau de confiança, observando como
progredimos nas áreas de percepção, e como tomamos as coisas pessoalmente.
À medida que progredimos, encontraremos que nos tornamos mais
impessoalmente amorosos, e menos julgadores. Aumento de Amor, Paz e
Alegria é sempre o resultado dessa mudança fundamental.

Uma Visão Impessoal


No que pensamos, ou cremos, ao mencionar a palavra impessoal? A maioria de
nós provavelmente igualaria impessoal com termos como desapegado, frio,
desligado e sem coração. Mas, o verdadeiro sentido de impessoal é bem o
oposto.
Hoje, as pessoas são obcecadas em serem especiais, únicas, famosas, as
melhores, mais jovens, e coisas assim. Esse sentido de especialismo que
buscamos é uma armadilha para nos seduzir e conduzir à separação; faz-nos a
crer que somos todos diferentes. Isso é uma manobra, um estratagema, um
truque, uma isca, para segregar a realidade do ego em classes de superioridade,
ou inferioridade, e outras razões para o ser-ego julgar erradamente. E isso é
feito julgando a nós mesmos, os outros, situações, circunstâncias e eventos,
passado e futuro, mantendo-nos alienados, atados à limitação e à separação.
O ser-ego deseja ser especial, e o autor da realidade. Seu combustível é
sua crença de devoção em ser pessoal, e seu veículo é o controle ditatorial que
administra, pela manipulação de nossas vidas, e nossas reações à realidade. O
sentido de pessoal, em termos do ser-ego, inclui separado, diferente, único,
inferior, superior, exclusivo, meu e seu.
Se tomamos ofensa pessoalmente, imediatamente rejeitamos a pessoa,
defendemos e contra-atacamos, como meio de puni-los. Tomar qualquer coisa
pessoalmente nos coloca num mundo limitado, pequeno e escuro, onde o
círculo vicioso da separação, julgamento e retribuição nos persegue, como uma
sombra amedrontadora.
O verdadeiro sentido de impessoal é
inclusivo, íntegro, indiviso, amoroso, sem
julgamento, com aceitabilidade, permissão,
O verdadeiro sentido expansibilidade, extensividade e
de impessoal é estendibilidade. Quando aprendemos a aceitar a
inclusivo, íntegro, vida sem julgamentos, a não tomar as coisas
indiviso, amoroso, pessoalmente, nos tornamos mais objetivos e
sem julgamento,
175
com aceitabilidade,
permissão,
expansibilidade e
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

menos críticos. Adotar o impessoal nos permite


dar um passo atrás e observar o desdobramento
do plano geral, em perpectiva. Nesse espaço
liberamos nossos impulsos autocentrados, e
mantemos nosso equilíbrio mesmo em pleno
caos, confusão ou batalha.
Conservamos uma estabilidade invariável e inflexível – auto-sustentável
e confiável por natureza – para outros que possam precisar de nossa ajuda.

Tentação de Negar e Evitar


Provavelmente as nossas maiores tentações nos Estágios 1 e 2 são negar e
evitar. Por este novo sistema de pensamento ser de abertura e união, nosso ser-
ego se sente imediata e severamente ameaçado e, pelo desafio de ter de
enfrentar tudo e evitar nada, instantaneamente contra-ataca e promove a
escalada de nossos medos, violenta ou sutilmente, em função da oportunidade
que as circunstâncias lhe ofereçam.
O ser-ego, sem descanso, fica sempre empenhado na separação,
enquanto o tempo todo, o Ser Unificado impávido, anseia, em segurança, por
Unicidade e Integridade. Quando de novo estreitamos a nós a Integridade
(liberação), e começamos a revelar onde nosso ser-ego nos deludiu em suas
percepções, muito certamente experienciaremos um retorno – maior ou menor –
do medo. O ser-ego tem de – por sua natureza – resistir a essa nossa
investigação inicial, e faz isso usando mais medo contra nós, para, incansável,
outra vez, tentar nos submeter. Ao olharmos dentro de nossas próprias mentes, a
última coisa que o ser-ego quer é que descubramos os obscuros pilares de
culpas e julgamentos que nós mesmos escondemos de nossa própria ciência.
Uma parte inevitável desse processo agora atinge um ponto onde já não
conseguimos mais deixar de ver, e conhecer, o quanto temos projetado e
negado. Nós nos contorcemos de aborrecimento quando descobrimos a
extensão, a densidade e a profundidade do nosso vício de projeção de nossa
própria culpa inconsciente, sobre os outros, por meio de nosso ser-ego. Isso
queremos, sempre, obscurecer de nossa atenção. Entretanto, nosso desafio real e
urgente é de fazer, exatamente, o oposto, oferecer tudo isso à reinterpretação da
Inspiração Universal. Ao entregar todos nossos erros à Inspiração Universal,
desenvolvemos confiança e, assim, colhemos o entendimento de que o conceito
de pecado jamais existiu, exceto dentro da crença delusória do ser-ego, aportada
pela atração pela culpa.

176
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

É aqui onde somos testados a tomar a decisão de nos agarrarmos ao


nosso estado separado, para assegurar e permitir a sobrevivência de nosso ser-
ego, ou corajosamente entregamos nossos escuros medos à brilhante iluminação
da Verdade. A liberação chega quando ousamos, com desassombro, investigar o
que nos motiva a decidir pelas escolhas que fazemos. Muitas vezes nos
abatemos pelo que encontramos, e chegamos a querer evitar, ou negar, mais
uma vez, nossa autoria delas. Mas a verdadeira liberdade está em nossa
disciplinada decisão de expor as encobertas camadas de decepção que,
anteriormente, foram causadoras e responsáveis por todo o caos em nossa vida.
Quando tentados a negar, ou a evitar, uma das coisas mais importantes
a lembrar é a profundidade do compromisso que assumimos de sermos total e
integralmente imbuídos de Verdade. Se nossa intenção apaixonada é pela
ampla, geral e irrestrita liberdade – que é Paz – então devemos isso a nós
mesmos, para estarmos e permanecermos atentamente cônscios de qualquer
impulso de negar, ou evitar. Somente então conseguimos, construtivamente,
observar nossas reações internas, e expor a urgência enganosa oculta por trás
delas. E nada disso pretende nos envergonhar, ou acusar. A resposta usual por
descobrir nossas próprias projeções e medos é de auto-acusação. Não nos ocorre
estar apenas mudando a acusação exterior para o interior, que é igualmente
destrutiva. Assumir total responsabilidade por nós mesmos, nossa percepção, e
nossa realidade é um salto gigante saindo fora do ser-ego e, infelizmente,
acarreta um tempo de culpa adicional. Essa é realmente toda a culpa que,
inconscientemente, projetamos para fora nos outros. Essa nova mudança na
ciência do que se passa ao nosso redor nos ajuda a retirar nossa acusação
externa, para conseguirmos parar de ver os outros como culpados. Começamos
a retirar o julgamento externo e, num instante, em nós mesmos, nos tornamos
cientes dele. Isso é assim para que consigamos, finalmente, revelar isso, para
curá-lo. Essa parte do processo é engrenada para expor, e eliminar, os aspectos
destrutivos de nossa mente dividida. Qualquer culpa que sintamos – atenção! –
não é real. Lembremo-nos de que, pensar e sentir emoção de culpa jamais
consegue ter o significado que nós lhe damos.

Sair do Estágio 2 “Você o verá quando crer nele”


O segredo de avançar além do Estágio 2 é fé e disponibilidade. Enfrentaremos
situações que, aparentemente, justificam defesa. Entretanto, nosso
compromisso, continuamente, nos convoca a dar e oferecer paz. É a hora da
“prática” de desconsiderar o erro e oferecer perdão, a despeito do fato de que
pessoas e circunstâncias possam parecer ameaçadoras. Jamais ganharemos

177
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

confiança até que – definitivamente – coloquemos a dinâmica de UCEM 73em


ação. Então, neste estágio, praticaremos o perdão, conforme ensina o Curso,
mesmo que na maior parte do tempo não nos sintamos, ainda, bons perdoadores.
Iniciamos a prática da dinâmica da extensão sem o investimento do ego em
resultados. Isso é hostil ao ego, e de pronto ele nos desafiará, porque esse
conceito fica em oposição direta aos valores do ego. Fé e disponibilidade são as
qualidades chave que aprendemos a aplicar, e através da prática efetiva dessa
dupla dinâmica, veremos sua evidência em nossas vidas do dia-a-dia.
Aprendemos agora que, por aplicar consistentemente o princípio do perdão,
“...o milagre justificará a tua fé nele” (E-pII.13.4:3)
como promete UCEM. Aumentando a Paz interior e a Alegria constante, o
alívio se torna experiência mais regular para nós, à medida que confiamos
através da fé e da disponibilidade.
À medida que demonstramos Amor, Paz, perdão e doação encontramos,
mesmo no que possam previamente parecer situações irreversíveis, esses
mesmos em retorno, como dádivas dos outros. Nesse estágio, abraçamos a idéia
de Realidade Ideal e a preferimos mais do que os confins da ego-realidade. Ao
agirmos agora, preferimos mais escolher agir a partir de nosso Ser Unificado.
Tomamos uma decisão de sermos livres do conflito interior entre sistemas de
pensamento adotando muito mais a Verdade, do que qualquer outra coisa.

Aquietação Contemplativa e Meditar


O uso da mentalidade certa se torna mais freqüente, mais fácil, à medida que
naturalmente passamos mais tempo no momento presente do AGORA. O ego-
desapego é um processo pelo qual desfazemos a formação disfuncional de
camadas de ilusão que juntamos ao longo de nossa vida. Cultivar mentalidade
atenta nos ajuda a nos desapegar a nós mesmos do círculo vicioso e compulsivo
do pensar e sentir emoção do ego, por levar-nos para o momento do agora.
Saiba então que:
Pensar vem da carência. Seu propósito é ganhar.
Mas, por nosso Ser Unificado ser Íntegro,
não consegue perceber falta.
Não há pergunta, resposta ou necessidade

73
N.T. – Um Curso em Milagres, o material ditado por Jesus de Nazaré a Dra. Helen
Schucman e hoje publicado até em português. Ver nota sobre o Curso no início deste
livro.
178
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

que já não esteja suprida pelo Ser Uno.


Uma das práticas mias benéficas para aquietar a mente é a aquietação
contemplativa, ou meditar.74 Por meio dela libertamos nossa mente do jugo do
pensar e crer egóico, desenvolvendo a atenção e a aceitação a Aquilo que é, e
que não foi feito ou criado por nós. À medida que praticamos isso deixamos ir
medo, culpa, julgamento e a incessante necessidade de controlar e de saber
tudo. Tempo, pensamento, emoção, ter e se tornar, tudo recede rapidamente
quando abraçamos a aquietação contemplativa, ou meditar. Nesse silêncio
espaçoso sabemos estar seguros. Unicamente aquietados, no momento presente,
conseguimos ouvir e sentir o chamado ou receber instrução do Ser Unificado.
Ao meditar – aquietação contemplativa – aprendemos a disciplinar a
mente e a permitir que nossa atenção se torne em vigília, quietamente atenta e
perfeitamente alerta. A aquietação contemplativa, por outro lado, consegue ser
acessada a qualquer momento, e não impõe que fiquemos, necessariamente,
parados, sentados, em posturas determinadas, ou de olhos fechados. Basta,
simplesmente, estar presente e na observação de nossos pensamentos e crenças,
e de circunstâncias que nos rodeiam, a esse tempo. Sendo o observador atento,
estamos presentes, e ficamos cientes, sem estarmos – necessariamente –
absorvidos por nossos pensamentos e crenças. É o ato de estar cônscio e
presente no que quer que seja que façamos, onde quer que seja que estejamos, a
qualquer instante e momento..
Aquietação contemplativa
“é a atividade mais frutífera e significativa do trabalho espiritual. Com muito
pouca prática, conseguimos adquirir a capacidade de funcionar no mundo com
apenas uma mínima aquietação contemplativa de interrupção de reflexão. A
meditação, como hoje é usualmente praticada, entretanto, é limitada no tempo e
no espaço e, muitas vezes, requer isolamento e cessação de atividade. Mesmo
parecendo menos intensa, a aquietação contemplativa e a reflexão, de fato, por

74
N.T. – Meditar aqui difere das várias formas de meditação conhecida, em que
imagens, idéias, sons, afirmações ou palavras sejam induzidas ao pensamento ou crença,
como forma de ‘meditar’. Aquietação contemplativa, ou meditar, então significa, de
fato, calar a mente, esvaziar a mente de tudo – pensamentos, crenças, idéias, imagens,
lembranças, orações, rezas, cantos, afirmações, ou o que seja – deixando espaço para a
Inspiração Universal (Divino Espírito Santo) Aquilo Que É assumi-la, para o Ser
Unificado Se revelar a você, em você, nos instantes em que esteja silente, quieta, em
contemplação, daí o nome ‘aquietação contemplativa’ de preferência, em vez de
meditação. Krishnamurti chama o silêncio da mente de a não-mente.
179
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

sua constante influência, dissolvem os obstáculos. Aquietação contemplativa é,


portanto, uma forma de meditação, não menor ou inferior à meditação sentada,
de pernas cruzadas.” (“O Olho do Eu”, David R. Hawkins, p. 133)75
Geralmente falando, nossas mentes atuam em duas partes: uma “pensa”
e a outra “fica atenta.” A parte que pensa (o ser-ego) usa lógica, memória,
pensamento, linguagem, razão, e funciona de forma linear, compondo suas
próprias conclusões, pelas quais define a si mesma e o mundo. Ela consegue
única e continuamente saber a respeito de alguma coisa ou alguém; ela,
intrinsecamente, nunca sabe coisa alguma. A parte que “fica atenta” (o Ser
Unificado) é perifericamente atenta a tudo, ao mesmo tempo. Ela opera além do
tempo, da causa e do efeito. Sua atenção é ilimitada e inclusiva. Não tem
necessidade de aprender ou de saber a respeito de coisa alguma, porque ela,
inerentemente, já tudo sabe. Essa é a mente quieta e alerta que, ao longo da
travessia dos Estágios do Desenvolvimento da Confiança, aprendemos acessar
mais prontamente. Meditar consistente e/ou aquietação contemplativa são
práticas necessárias para recuperar nosso conhecimento original da Integridade
absoluta e da interconectibilidade.

3 Estágio 3 – Período de Renúncia


Nos Estágios 1 e 2, experienciamos o mais difícil de todos os ajustamentos, que
é mudar para um sistema de pensamento inteiramente diferente. Essa fase inicial
parece, a princípio, incrementar gradativamente nosso conflito interno, em lugar
de suavizá-lo. Mas, ao nos mudar para o Estágio 3, começamos a viajar para
longe do conflito e, imperturbavelmente, dirigido no sentido da Paz. Agora
estabelecemos que preferimos atuar a partir de nosso Ser Unificado, mas não
estamos totalmente convencidos porque, em alguns casos, ainda vemos e
atuamos a partir do ser-ego. Há, ainda, uma porção significativa de nosso ser
inconsciente investida na ego-realidade, e este estágio nos apresenta
oportunidades tanto para distintamente reconhecer, como dizer “não” à
percepção do ego.
O Manual para Professores de UCEM fala desse estágio,

75
N.T..– David R. Hawkins (n. 1927), místico norte-americano, professor, psiquiatra e
autor de Force vs. Power (Força vs. Poder) e The Eye of the I (O Olho do Eu), entre
outros livros, sem publicação em português, até esta data. Trata destacadamente do
‘mapeamento’ da veracidade ou mentira das pessoas, por um sistema matemático
empírico a que chama ‘calibração.’

180
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

“Se isso for interpretado como uma desistência do desejável, engendrará


enormes conflitos. Poucos professores de Deus escapam inteiramente dessa
aflição. Não há porém nenhum sentido em separar o que tem valor do que
não tem, a não ser que se dê o passo seguinte, que é óbvio. Portanto, o
período intermediário pode ser aquele no qual o professor de Deus se sente
solicitado a sacrificar seus mais caros interesses em nome da verdade. Ele
ainda não se deu conta de quão totalmente impossível seria tal exigência.
Ele só pode aprender isso na medida em que, de fato, desista do que não
tem valor. Através disso aprende que aonde antecipou dor, acha, ao
contrário, uma feliz leveza de coração; onde pensou que algo lhe estava
sendo pedido, acha uma dádiva concedia a ele.” (M-4.I.A.5:2-8)

A Árvore do Julgamento
Quase todos nossos julgamentos, senão todos, vem do ser-ego. Toda decisão
que tomamos, a cada momento, desde quando ver televisão a com quem
devemos nos casar, emerge, em primeira instância, da semente original do ego.
E o primeiro broto a aparecer rapidamente espalha as inerentes crenças
destrutivas de culpa e medo, que vêm da grão da separação.
Tudo que o ego quer, e precisa, em seu profundo âmago, é de culpa e
medo. É o que deseja e o que busca para nós, enquanto permanecemos
esquecidos de suas maquinações inconscientes. Ficamos imaginando, por que
em nossas vidas há caos, desapontamento, felicidade inconsistente? A razão
disso é porque estamos sendo dirigidos pelo ego disfuncional, cuja própria
existência depende do sustento regular de nutrição que lhe damos, tanto de
nossa culpa, quanto de nosso medo. Para a maioria de nós, de idade suficiente
para ler este livro, o primeiro broto delicado de culpa e medo por agora já se
desenvolveu numa grande e monstruosa árvore, com milhões de galhos, um
tronco de mais de metro de diâmetro e frondosa copa. Quando olhamos para
isso dessa maneira, podemos imaginar o tamanho da raiz do sistema de
pensamento do ego!
A crença fundamental do ego de que o pecado seja real e justifica
punição, é a base para seu pesado investimento em medo, culpa e julgamento.
Se fosse para abraçar a Verdade de que não há pecado, que cada equivoco é
sempre causado por um erro que puramente é “um pedido de amor, ou de
ajuda”, então não haveria nenhuma culpa! E não havendo culpa a projetar sobre
os outros, significa que seríamos destemidos e não julgadores.
O julgamento segue a culpa e o medo. Isso é um fato. E porque o
sustento do ego depende do julgamento para reforçar e manter sua culpa, a

181
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

última coisa que o ego alguma vez abriria mão é seu vício de julgar. Se não
houver julgamento nem culpa, isso é o fim do disfuncional ego. É importante
para nós compreender que o ego atira julgamentos para o expresso propósito de
reforçar nossa própria culpa subconsciente. Pensamos que ao ver e acusar outros
como culpados, nos sentiremos menos culpados. Esse é o pensamento invertido
do ego, sempre nos deludindo a crer em separação.
Se nos sentimos culpados isso nos leva a julgar e culpar os outros, e
assim seguimos e os julgamos e culpamos, crendo que merecem ser punidos. O
que se passa quando cremos haver negado a Fonte (o que fizemos na separação)
é que nossa mente quer
“negar a si mesma, e escapar da penalidade da negação” (T-13.in.1:5)
Ela então assume que escapará da retribuição culpando alguém outro. Esse é o
próprio fundamento da razão que pensamos precisar para julgar. Julgar é o
combustível, e o que ateia fogo é o nosso senso de separação.
Inconscientemente aceitamos o
julgamento como uma necessidade diária Julgar
quando, de fato, isso é uma pré-ocupação é o combustível
deletéria. Só imagine se não houvéssemos e o que ateia fogo
julgado, se deliberadamente desistíssemos de é o nosso
julgar. O que estaríamos deixando de fazer?
senso de separação.
Estaríamos deixando ir toda nossa queixa, raiva,
frustração, e desespero. Toda nossa culpa, Julgar é
ansiedade, solidão e vazio desapareceriam. uma pré-ocupação
O ponto decisivo é que nossa ânsia de julgar vem dedeletéria.
uma fonte insana.
O ser-ego não sabe:

• quem é ele.
• por que é ele.
• onde está ele.
• como é ele.
• que propósito tem ele.

Como consegue, então, o ser-ego, possível e sadiamente, julgar qualquer coisa,


ou alguém? Obviamente, se estamos comprometidos com a liberação, não
apenas algumas mas todas nossas crenças, suposições e valores requererão
investigação e transformação. Bem aqui e agora temos todas as maneiras de
assistência possível para nos ajudar a nos desvencilhar de todas nossas crenças
errôneas. Chama-se Realidade. O que quer que seja, e quem é que esteja
182
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

presente agora, não importa quão aparentemente irritante ou amedrontador, é o


perfeito catalisador para começarmos a aprender a “Amar Aquilo que É”
(aceitar a Realidade). Se é amor, entendimento e aceitação que queremos,
primeiro temos de encorajar a aceitação interior e exterior. De fato, qualquer
um, ou qualquer coisa, que nos cause ansiedade, ou infortúnio, é um perfeito
catalisador para investigarmos o pensamento por trás de nosso julgamento, ou
crença.
Julgamos para nos separar a nós mesmos de todos os outros; é por isso
que o ego precisa criar zangas: para reforçar a fragmentação. O que o ego não
se dá conta é de que, em Verdade, não estamos, e nunca estivemos, separados.
Somos todos um, sonhando uma experiência ilusória de separação.
Compreendendo isso, então, torna-se evidente que quando julgamos, ou
atacamos, o outro, atacamos e julgamos a nós mesmos. O que abominamos no
outro é, realmente, a imagem projetada de nossa própria culpa. Quando
fizermos as perguntas em O Trabalho (Bryan Katie, Apêndice I), e chegarmos à
inversão final, com freqüência vemos claramente que nosso infortúnio é
causado por nossas crenças erradas. Não há acusação, não há culpa, apenas
claridade limpa de cristal, e uma sensação de liberação real.

Abandone o Julgamento
Durante o Estágio 3, lentamente, nós aprendemos que ambos os sistemas de
pensamento – do ser-ego e do Ser Unificado – não conseguem coexistir em
nossa mente. Temos de fazer uma escolha límpida, e isso significa, realmente,
entender e praticar que
“... o ataque não pode ser justificado.” (T-25.III.1:2)
Estamos, nesse estágio, com certeza suficiente para refrear julgamento/ataque,
se a aparente confrontação não for demasiadamente pessoal. Entretanto,
podemos, ocasionalmente, “perdê-la” se formos gentilmente desafiados. Se isso
ocorre, tão cedo quanto possível, invoque a MENTALIDADE CERTA e
compreenda que estamos aprendendo a abandonar o ataque em geral, o tempo
todo, não apenas na maior parte do tempo.
A maneira mais perfeita de aprender essa lição é de física, mental e
sentidamente praticá-la na emoção, ciente de que,
“Para ter paz, ensina paz para aprendê-la.” (T-6.V.B.7:5)
Para sermos convencidos disso, temos de praticá-la, experienciá-la, vivê-la, e
muito, muito mesmo. À medida que demonstramos Paz, nós – de fato – a

183
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

ensinamos. E, ensinando-a dessa maneira, aprendemos essa Verdade


congruentemente.

Perdão Quântico e Responsabilidade


Abandonar o julgamento significa levar em conta o perdão, considerar o perdão
como item relevante e ponderável. Lembre-se de usar a fórmula PIPQ
(Presença, Inquirição e Perdão Quântico). Como todo ataque é irreal, temos de
encontrar uma maneira pela qual consigamos vê-lo pelo que é – ILUSÃO.
Algumas maneiras de fazer isso são:

1. Ver além do ego da outra pessoa. Se há conflito, veja isso apenas como
um erro causado por um ego (não real). Se você vir esse erro como real,
você mesmo, momentaneamente, perdeu sua sanidade e você próprio
validou a ilusão para si mesmo. A Verdade aqui, nesse sonho, é que essa
outra pessoa é, realmente, você mesmo e está dando a você a oportunidade
de curar sua culpa inconsciente.
“Você não está realmente aqui. Se eu penso que você seja culpado ou a casa
do problema, e se eu fabriquei você, então a culpa e o medo imaginados, por
mim, têm de estar em mim. Sendo que a separação de Deus jamais ocorreu,
eu perdôo a “ambos” de nós pelo que nós realmente nunca fizemos. Agora
há apenas inocência e eu me uno ao Divino Espírito Santo [Inspiração
Universal] em paz.” Renard, G., O Desaparecimento do Universo, pg. 256
2. Lembre-se de que qualquer ataque é puramente guiado
equivocadamente e, em verdade, é um pedido de amor, de ajuda. Isso é
uma convocação da mentalidade certa e uma oferta de Paz para você. É uma
dádiva de uma oportunidade para você escolher Amor, Paz e Céu, em vez de
ilusão, caos e inferno.
3. Compreenda a Realidade exatamente como ela é. Compreenda que
tudo em sua vida, não importa quão externa ela pareça estar, é como se
apresenta. O único controle que você tem é entender e reconhecer que “Eu
sou responsável pelo que vejo. Eu escolho os sentimentos que eu
experiencio, e eu decido quanto à meta que quero alcançar. E todas as
coisas que parecem me acontecer eu as peço e as recebo conforme pedi.”
(T-21.II.2:3-5)

Estamos começando a aprender algo muito IMPORTANTE: nosso pensar e crer


são a CAUSA, e o mundo, com tudo que nele ocorre, para nós, é o EFEITO desse
184
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

nosso pensar e crer. Isso significa que estamos nos dando conta da vital
importância e atuação de nosso pensar e crer. A Vigília de nossas reações
emocional, física e mentalmente nos relembra de, regularmente, vigiar e
conferir nosso pensar e nosso crer. Se experienciamos qualquer perda de Paz –
por mais sutil e insignificante que isso possa ser – estamos aprendendo que fora
de nós, nada há que consiga nos ferir.

O Ser Unificado
Tomamos milhares de decisões todo dia, a toda hora, a todo minuto e segundo,
algumas tão pequenas que, nem ao menos, ficamos cientes delas. Uma grande
parte desse processo de liberação envolve aprender, exatamente, qual de nossas
vozes interiores é A Que se pode confiar. O ego fala primeiro, e usualmente alto
e estridente. Nosso Ser Unificado emite mais freqüentemente um sussurro, ou
transmite um sentimento sutil que, quieto e manso, nos acena suave para
levarmos em conta sua mensagem. Estamos muito condicionados a responder à
voz mais alta, ou sensação inicial, do ego. Tornar-nos peritos em OUVIR
PRIMEIRO a Ser Unificado requer paciência significativa, disposição inabalável
e prática interessada. Tome alguns momentos para mentalmente visualizar a si
mesmo em cada um dos cenários e externos, sintonizando deliberada e
firmemente na voz quieta, ao impulso, ou sentir interior. Diga, por exemplo,
você recebe um telefonema em seu dia de folga, e uma amiga chegada,
espontaneamente, pede que você a acompanhe numa excursão à tarde.
Estímulos internos lampejam porque você visualizara esse dia para fazer só o
que você realmente gosta de fazer. O que acontece então? Quais das escolhas
você fará? Não seria melhor escolher a resposta que pareça mais pacífica? O
que acontece a seguir? Qual das escolhas possíveis fazer? Tome alguns
momentos para, mentalmente, visualizar a si mesmo em cada um dos cenários.
Em cada uma das visualizações, pergunte a si mesmo, “isso me faz sentir bem?
Isso é sentir paz?” Usualmente, através desse simples exercício, indagação que
deve se tornar normal e freqüente, seu Ser Unificado fará você saber qual
escolha fazer, havendo disponibilidade se sua parte.
Complicações, interferências ocorrem, entretanto, quando há culpa
oculta, ou uma pauta, subjacente à tomada de decisão. Se em sua mente, sua
amiga deve a você ou se você deve a ela, de alguma forma, o ego é quem estará
falando. Quaisquer sinais de culpa, frustração, medo ou raiva são indicadores
definidos de que algum trabalho de tratamento interno é requerido.

185
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Avanço
Desde nosso ponto crítico inicial, a primeira decisão de tomar um caminho
melhor, e a jornada complexa através dos Estágios 1 e 2, já andamos um bom.
Mesmo que estejamos ainda na fase preliminar, nosso estar cônscio progrediu
significativamente. Antes disso, podemos ter-nos sentido amalucados por tantas
pancadas na cabeça, pelos movimentos e mudanças, na maior parte internas, que
precisamos fazer para acomodar tudo. A diferença agora é que estamos muito
mais cônscios de nossas escolhas interiores, e preferimos responder ao nosso
Ser Unificado, em vez do ser-ego. Começamos a realmente valorizar a
Inspiração Universal em nós, mais do que antes. A Verdade está sendo
desenvolvida. Uma vez alcancemos o ponto onde, verdadeiramente, preferirmos
ouvir e responder ao Ser Unificado, indica que nos aproximamos da marca de
metade do caminho e, então, nosso compromisso se torna mais harmônico.
Por esse tempo experienciaremos um aprofundamento do entendimento
do sistema de pensamento do ego. A meta desse estágio é
• revelar os aspectos ocultos do ego e
• buscar o âmago de suas crenças.
Aqui é onde a mudança fundamental ocorrerá. O que geralmente ocorre durante
esta fase é a descoberta gradual de nossas próprias camadas da disfunção do
ego. Primeiro começamos a ver muitas de nossas crenças não questionadas
sendo afloradas e desfeitas, enquanto novos discernimentos interiores as
substituirão. Entretanto, à medida que viajamos no sentido do centro do sistema
de pensamento do ego, todo nosso sistema de valores é exumado, e isso pode vir
a ser bem inconfortável. Ficaremos espantados em como o ego consegue ser
tortuoso e enganador, e o processo evocará todo tipo de reações emocionais,
especialmente à medida que chegarmos cada vez mais perto do ponto central do
ego.
Todos os pensamentos de zanga, medo, raiva e frustração não são
produto de um sortimento de diferentes problemas. O ego nos embaraça com
sua insana percepção de complexidade confusa. Aprendemos, por meio de nossa
própria ego-ilusão, de que a nossa miríade de problemas gradualmente passa por
um processo de destilação pelo qual, no final, reconhecemos que há, e sempre
houve, unicamente, um dilema, e esse é o único obstáculo à presença da Paz e
do Amor em nossa vida – nossa crença em separação de Deus. Ao longo do
tempo vemos que qualquer uma delas que pareça apertar nossos botões do ego
não deve ser negada ou evitada. Se experienciamos essa familiar perda de Paz,
podemos olhar para ela como um sinal imediato de que teremos ainda trabalho a

186
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

fazer ao desfazermos a crença do ego em separação. O desconforto, então, se


torna a oportunidade e a liberdade fica a um passo mais perto.
Toda vez que perdemos a Paz isso é importante, uma vez estando atento
à sua perda, para sinceramente pedir pelo retorno da mentalidade certa. A
Inspiração Universal sempre responde a um pedido sincero por Unicidade, Paz e
sanidade.

O Que em Verdade Queremos


Nós apreciamos, aceitamos e entendemos plenamente que a Vontade da Fonte e
a nossa vontade são a mesma? Se nesse estágio não estamos seguros disso,
talvez não conheçamos nossa própria vontade, e ainda não saibamos o que, em
realidade, queremos.
Começamos essa viagem aprendendo que não queríamos o ego e seu
ataque, culpa e confusão sem fim, mas que queríamos Paz, Amor e inteireza.
Estamos aprendendo a apreciar, aceitar e entender o Amor, e a segurança que
ele traz. Mesmo que isso signifique expor a feiúra dos trabalhos de nosso ego,
agora valorizamos seu desfazimento.
Nesse ponto estamos abraçando rápido a idéia de que o Ser Unificado,
com sua Paz infinita, não seja apenas o que queremos, mas é a própria razão de
nossa existência! Aqui nós reavaliamos o que estamos acostumados a escolher
em lugar da Paz (Para ter razão? Para apanhar? Para vencer? Para disfarçar?
Para defender? Para julgar?). Primeiro tomamos a decisão pela Paz. Damos Paz
e a recebemos e, ao compartilhá-la, a experienciamos. Mesmo que nossa paz
não seja ainda consistente, desejamos viver mais plenamente nesse estado de
serenidade. Aqui desejamos Paz mais freqüentemente, mas há instantes em que
ainda percebemos que julgamentos, ou raiva, sejam justificados. Encontraremos
que parece haver coisas que o ego quer mais do que a Paz. E isso não haverá, a
não ser que associemos o sofrimento com toda instância de não-paz, que
façamos, então, um compromisso compreensivo para assegurar que a Paz é tudo
e só o que queremos.
Ao caminhar ao longo dessa estrada
encaramos a compreensão de que o que sempre
pensamos querer não é, realmente, verdade. ...façamos, então,
Chegamos a ver, com crescente clareza, que a um compromisso
única coisa que queremos, e a solução para todo compreensivo
problema, é a Verdade, que é a Paz. Aqui para assegurar que
recebemos, em primeira mão, a compreensão a Paz é tudo e
interior reveladora de que há Uma Vontade só o que queremos.
187
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Perfeita, e que nosso propósito e alegria são


aumentados, momento a momento por, cada vez
mais, reconhecê-la como, propriamente, a
nossa.
Ao mesmo tempo em que estamos reunindo ímpeto na área da
confiança, podemos também estar descobrindo mais aspectos ocultos do ego do
que nos dávamos conta existir. À primeira vista, isso pode ser conturbador, até
que dispostos nos unamos na busca de eliminar o especialismo do ego de nós
mesmos. À medida que vemos o benefício de fazer isso, nos tornamos capazes
de renunciar à nossa resistência. Esse é um tempo poderoso onde nossa re-
encontrada força do ser nos capacita a relaxar nossas respostas ao ego. Note
bem e lembre-se sempre:
O ego ganha força quando reagimos a ele
como se ele fosse uma ameaça real.
Isso o faz sentir-se significativo, e invencível.
À medida que ganhamos força, podemos olhar para os arroubos do ego com
humor aumentado. Freqüentemente olhamos através de seus pífios intentos de
ganhar ascendência, e vemos o lado cômico de suas ridículas investidas.
Estamos aprendendo a não dar a satisfação ao ego de tornar nenhum medo,
raiva ou julgamento real para nós.
Se fazemos do Amor, Alegria, Paz e da liberação a nossa meta mais
importante, destronamos nosso ego. As necessidades do ego não são mais nossa
prioridade, porque a nossa atenção e foco estão, inteiramente, colocados em nos
conservar estritamente num estado de mentalidade certa. Quando nos
assentamos nesse espaço de mentalidade certa e atenção no momento do agora,
sem recriminação ou julgamento, nos tornamos agudamente atentos a todas as
coisas, pessoas e circunstâncias estarem em relacionamento certo umas com as
outras. Não há “bons” ou “maus”. Apenas são. Tornamo-nos cada vez mais
cônscios de que uma Inteligência Superior dirige tudo, a nós, inclusive. Quando
nosso foco é retirado do alimentar e defender o ego, a cada minuto de cada dia,
recebemos a dádiva da Confiança. Nossa Confiança se desenvolve à medida que
aprendamos que há apenas Uma Vontade, e que seguimos infelizes até que A
compartilhemos e A reconheçamos como nossa própria Vontade Unificada.

A Decisão
Um Curso em Milagres chama esse ponto de
“A bifurcação da estrada.” (T-22.IV.h);
188
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

até este ponto caminhamos em direção à Paz, tendo encontrado alguns sérios
conflitos interiores, ao longo do percurso. Nosso conflito, por certo, foi gerado
por ainda entretermos algumas ilusões do ego, enquanto focalizamos,
principalmente, atingir a Inteireza, ambas mutuamente incompatíveis.
Entretanto, esse é o ponto no qual temos de fazer um RENOVADO COMPROMISSO
SINCERO COM A VERDADE NO SER UNIFICADO, através da orientação da
Inspiração Universal. Estamos aqui, diante da decisão, à luz de tudo que
aprendemos. Em verdade, a decisão já foi tomada, mas podemos, ainda,
escolher titubear, ou interromper, o processo por buscar um desvio (ver figura
6.3). Isso freqüentemente se manifestará como a última defesa do ego em sua
busca por especialismo que é, mais uma vez, separação. Ele convocará todos os
pontos para assegurar sua sobrevivência. Neste ponto ele jogará um az, um tema
de âmago profundo, ou crença, que embalará nossa nova confiança. Esses são
os últimos truques do ego – antes de morrer – para tentar nos manter no giro, e
evitar o agora do presente e a decisão final, nosso compromisso total, e
inequívoco, com a Verdade. Não conseguimos, nesse ponto, retornar mais.
Tudo que conseguimos fazer é seguir em frente, plena e completamente jurado à
Verdade, ou decidir estancar, por um instante, e suportar, mais um pouco, do
insano torvelinho conflitante do ego. Se optamos pelo giro podemos estar
seguros de experienciar algumas lições muito desconfortáveis e dolorosas, todas
elas maquinadas para contrastar o ser-ego com o Ser Unificado. Iremos, devido
à intensidade do desconforto, no final buscar refúgio e visitar, mais uma vez, “a
bifurcação da estrada” onde, desta vez, nossa sanidade fez a escolha única
para liberação.
A liberação vem da integração de nossa espiritualidade em nossas vidas,
através das escolhas que fazemos. Ela vem quando não mais conseguimos viver
em conflito com nosso código de ética espiritual, para um aspecto de nossas
vidas, e as regras de todo dia do ego, por outro lado. A pessoa competitiva de
negócio, que seja uma pessoa familiar amorosa, se torna o modelo para o
conflito interno e, finalmente, conflito externo e de saúde precária.
A Paz verdadeira e duradoura emerge de assumir um compromisso
sincero de viver todas e cada área de sua vida por uma única escolha, isto é, a
Verdade. A renúncia ao ego demole a obsessão do ego pela
compartimentalização de idéias em ‘de valor’ ou ‘sem valor.’ Em vez de tentar
introduzir a Verdade na vida, lancemos nossa vida totalmente na Verdade.76
Um Curso em Milagres afirma,

76
Adyashanti, Emptiness Dancing, 118
189
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

“Quando chegas ao local onde a bifurcação


na estrada é bem evidente, não podes ir
adiante. [como previamente, com ambos em
Em vez de tentar conflito, ego e Ser Unificado] Tens de ir por
introduzir a Verdade um caminho ou por outro. Pois agora se
na vida, lancemos fores em frente pelo caminho que seguias
nossa vida totalmente antes de chegar á bifurcação, não irás a
parte alguma. Todo o propósito de vires até
na Verdade.1
aqui era decidir qual o rumo que tomarás
agora.” (T-22.IV.1:1-4)
Chegar a este ponto de decisão é um lugar que nós, sem dúvida,
reconhecemos ao alcançá-lo. E, ao fazer a única escolha a ser feita, ficamos
prontos a entrar na última metade de nossa jornada para Casa. Sem o conflito
interno de dois sistemas de pensamento opostos, nossa decisão de buscar nossa
meta unificada traz grande paz e gratidão. Por estarmos agora sinceramente
comprometidos com a Paz e desaprovando o conflito, sentimos o caminho se
tornar mais gentil e mais fácil. É aqui que realmente vemos o total vazio da
felicidade do ego que uma vez cremos precisar e querer; um tipo de felicidade
sempre sob ameaça de perda, ou mudança, e parecia vir de fora de nós. E com
essa nova apreciação de felicidade estável vem uma sensação de segurança e
estabilidade que nunca antes encontramos. Um profundo senso de interconexão
e Ordem Mais Elevada permeia nossa resplandecente felicidade.
“Escapar da escuridão envolve dois estádios: primeiro o reconhecimento de
que a escuridão não pode ocultar. Esse passo, usualmente, acarreta medo.
[estágios 1,2 e 3] Segundo, o reconhecimento de que não há nada que
queiras ocultar, ainda que pudesses. Esse passo traz o escapar do medo.
Quando tiveres passado a estar disposto a não esconder nada, não só estará
disposto a entrar em comunhão, como também compreenderás a paz e a
alegria. [dando Paz, estendendo Amor por dá-lo]” (T-1.IV.1:1-5)

Estágio 4 – Assentamento
4
Dos seis estágios em “O Desenvolvimento da Confiança” (M-4.I.A) só dois
são definidos como, na maioria das vezes, mais em paz e alegria. Eles são os
Estágios 4 e 6 onde, quase literalmente, nos unimos ao Amor, Paz e Alegria, e
nossas vidas são, totalmente, transformadas. Encontramos um bem merecido
descanso ao chegarmos ao Estágio 4. Reconhecemos agora uma das maiores
bênçãos referente a coisas, crenças e relacionamentos, antes valorizados e agora

190
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

mudados, ou perdidos, não são percebidos como tendo sido sacrificados. Bem o
oposto é verdade; olhamos para trás e constatamos que todas as mudanças são
necessárias e úteis, e o legado que deixaram para nós é uma recompensa sempre
crescente. Agora nossa confiança é fortalecida, à medida que revemos o passado
e reconhecemos que todas as mudanças, mesmo que desafiadoras, nos
trouxeram ao ponto onde estamos agora. Essas mudanças nos ajudaram a nos
desidentificar com o ego, e encontramos grande alívio nisso. Esse discernimento
interior nos traz gratidão, e nossa confiança é incrementada, porque agora
sabemos que o futuro também evidenciará a fé que desenvolvemos.
Entramos num período, em muitos aspectos, eufórico, por termos
tomado uma decisão unida à Verdade, e reconhecemos que somente nós, com
nossas mentes, conseguimos fazê-la acontecer. Veremos coisas agora com tanta
clareza que o medo, e a dúvida, parecem palavras de um passado distante.
Sendo capazes de entender e apreciar o enorme salto que demos, vemos o futuro
com visão imaculada, liberta do véu do ego. Nossa Paz recém encontrada abre
caminho para muitos discernimentos internos valiosos e, talvez, uma bem-vinda
inundação de inspiração criativa flua através de nós. Suportamos o sofrimento
causado pelos três estágios de surrar nosso ego: Desfazimento; Escolha e
Separação; Renúncia. Poderíamos ser perdoados, depois de toda essa mudança
drástica, por pensar termos chegado agora ao nosso destino final de
conhecimento desperto, sem nenhuma oposição.
A primeira metade dessa viagem foi para revelação e remoção dos
bloqueios à ciência da presença do Amor, que é a Verdade. Esta segunda
metade, livre do conflito interno insano, revela a face do Amor que tanto
ansiamos ver em nós, e nos outros. Isso é a Fonte emanando em tudo que
fazemos, em todos que encontramos, e em tudo que experienciamos.
Um Curso em Milagres explica que no Estágio 4,
Contudo, ele ainda não veio tão longe quanto imagina. (M-4;I;A.6:10)
Isso vem a ser, realmente, a última estação de descanso, e há ainda um longo
caminho à frente, a fazer.
Desiste do que não queres e guarda o que queres. (M-4.I.A.6:6)
À medida que progredimos, compreendemos haver ainda muito mais a fazer,
mas recomeçamos agora com uma mente em paz, dentro de si mesma.

Juntando Companheiros Poderosos


É no Estágio 4 que, em UCEM, nos é dito:

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

No entanto, quando estiver pronto para seguir adiante, vai com


companheiros poderosos ao seu lado. Agora ele descansa um pouco e os
reúne antes de prosseguir. Daqui para frente, ele não irá sozinho. (M-4.I.A
6:11-13)
Parece, ou ao longo do caminho ou nesse estágio, entrarmos no Relacionamento
Unificado (Santo) e viajar, daqui para frente, juntos, mão na mão, mutuamente
comprometidos com uma única meta. Desenvolveremos relacionamentos com
outros, também comprometidos com a Verdade. O suporte mútuo, e a meta
Unificada, juntos, criarão um fundamento vitalício, a partir do qual
manifestaremos todas as formas de abundância. Outra interpretação correta de
nossos ‘companheiros poderosos’ seria a de que eles são a Inspiração Universal
e o perdão Quântico. Ao que se refere aos autores, cada um de nós reconhecerá
seus companheiros poderosos, emergindo na forma perfeita para cada um de
nós, no instante.
Como mencionado antes, nesse estágio em evolução, nossa rota mais
rápida, e mais segura, para despertar completamente à presença do Amor é
através do Relacionamento Unificado. Essa é a resposta ao despertar global, e à
literal compreensão do Estado Infinito (Céu), na terra.
Quando te liberas a ti mesmo, não só a ti liberas, mas o Ser é liberado.
Estás, assim, te lembrando do Ser de todas as pessoas, pois é o mesmo Ser.
Compreendendo isso, fica habilitada a total transformação da interação
humana. (Adyashanti, Vazio Dançante, p.23)

Busca Espiritual e Verdade


Há diferença entre busca espiritual e rendição à Verdade: quando buscamos
espiritualidade, nossa meta primeira é a experiência de uma “elevação”
espiritual que algum dia crescerá, de uma “elevação” espiritual ocasional para
uma consistente. Isso é o que muitos pensam ser iluminação – uma experiência
que buscamos e, certamente, quando for, encontramos e guardamos. Pensamos
que conseguimos adquiri-la com prática, disciplina e conhecimento acumulado
sobre o assunto. O problema com essa percepção de busca espiritual é:
• Quem está fazendo a busca? O ego ou o Ser Unificado? O ego se regozija
em buscar, especialmente, “elevação” iluminada ou espiritual, qualquer coisa
que seja, menos a Verdade que revelará e demolirá o ego. Por outro lado, o
Ser Unificado é Íntegro e Infinitamente interconectado, não requer resultado,
conhecimento, treino ou busca.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

• A busca, muitas vezes, cria uma expectativa de conquista de algo que seja,
tanto no futuro e como uma experiência de valor espiritual, mais do que
revelar a Verdade de O Que É.
Podemos ficar amarrados em
experiências positivas, ou “elevação” espiritual;
Tornar-se viciado uma vez que recuem, daí caímos chapados de
em alcançar novo. Tornar-se viciado em alcançar
experiências espirituais não é Liberação, e
experiências
raramente nos levarão à Verdade.
espirituais Ocasionalmente, as eufóricas experiências,
não é Liberação freqüentemente sentidas no Estágio 4, podem
e raramente ser viciadoras. É por isso que é importante
nos levarão permanecer, para sempre, focado em pedir pela
à Verdade. Verdade, em vez de viciar-se em buscar meras
experiências.
Ainda não sabemos quem somos, ou qual é nosso Propósito. Procurar
por uma experiência chamada iluminação não vai, realmente, nos levar para lá.
O que realmente precisamos pedir e procurar por é a Verdade. A Verdade está
além de qualquer experiência, porque ela revela o Amor Infinito que nós todos
somos. Buscar experiência espiritual implica – erroneamente – que precisamos
obter algo para tornar-nos mais espiritualmente avançados. Obter é uma
maneira bonita de dizer tomar, e tornar-se é uma maneira suave de dizer que
você ainda não está lá (no agora). Ambos os significados vêm da percepção do
ego, e não são reais. O ego sabidamente, sempre que lhe permitimos, tenta se
mascarar de Inspiração Universal e, com sua capacidade navegadora, nos leva a
toda parte, exceto para o esconderijo do ego. Tudo isso é executado em nome da
busca dita espiritual.
Quando pensamos na palavra “iluminação”, tendemos a associá-la a um
processo que envolve busca persistente, aperfeiçoamento e aprendizado.
Muitos ensinamentos de hoje pintam uma visão de Auto Realização, orientada
para o futuro, focalizada na conquista de experiências espirituais, meditação
mais profunda, estados de êxtase, e mais conhecimento espiritual. Oficinas de
aprendizado espiritual, freqüentemente, incluem técnicas de enriquecimento de
nossas vidas, junto com informações em como mais profundamente “nos
conhecer”. Mesmo que toda essa informação seja positivamente manobrada, e
dirigida no sentido de nos ajudar a nos conectar com nossa natureza e propósito
mais elevados, isso não trará, de si mesmo, iluminação.

193
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Se nosso intento é Auto Realização, ou iluminação, é importante nos


perguntarmos, consistente e honestamente, apenas: “quem” é que precisa mais
conhecimento e progresso? Deve ser nossa identidade equivocada, o ego.
Iluminação é um projeto de demolição.77 Não conseguimos chegar lá,
sem desmantelar tudo que pensamos saber. Trata-se de desaprender tudo que
nos mantém atados à crença de que temos de estabelecer e conservar o
controle. Desapegar-se do ego remove todos os bloqueios à ciência da presença
do Amor, que nos inibem de experienciar e conhecer Amor, Alegria, Paz, e
abundância. Essa é a nossa identidade, e o nosso propósito.
Há apenas aqui e agora. O Ser
Unificado já é iluminado. Isso não é um estado,
ou experiência, a ser atingida através de busca A jornada para Casa
externa, ou progresso interior. Nada há a é de entrega,
buscar, ou coisa alguma sobre o que desfazimento e
melhorar. O mais difícil desafio que, desaprender, pela
possivelmente, temos de enfrentar é o ato de renúncia – ampla,
renúncia, a incondicional aceitação de O Que É. geral e irrestrita –
Isso é sair do controle. É a humildade final, do ego.
nascida do verdadeiro reconhecimento –
completo, total e absoluto – de não saber.
A Verdade se revela quando entregamos os obstáculos que obscurecem
sua presença. Verdade é Amor. O único obstáculo ao nosso conhecimento do
Amor e, portanto, da Verdade, é a nossa identidade aceita por nós, o ego. A
maneira de nos lembrarmos é através da Verdade, por trás do esquecer. Ou seja,
a jornada para Casa é de entrega, desfazimento e desaprender, pela renúncia –
ampla, geral e irrestrita – do ego.

5 Estágio 5
Absoluta Certeza trazida por um Período de Des-Assentamento
A jornada do Estágio 5 pode bem envolver um período de confusão e fadiga. A
confusão geralmente vem da re-entrada de alguns desafios anteriores, mas, desta
vez, com plena atenção. Pode ser um tipo de experiência de dejà vu. Nesta vez,
no entanto, vemos as coisas com clareza e recebemos a oportunidade de
reconhecer, tomar ciência, e interpretar a Verdade, mas sem os apegos
emocionais, e mudanças drásticas definitivas, dos Estágios 1 a 3. Diferente do
Estágio 4, onde nos sentimos totalmente conectados, o Estágio 5 pode vir a ser

77
Adyashanti, Vazio Dançante, 195-96
194
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

um lugar solitário, em termos de nossa conexão com a Fonte. Aprendemos


muito; porém ainda ansiamos pela conectividade esquiva que experienciamos
no Estágio 4. Lembramo-nos de quão real, e forte, era nossa conexão com o
Estado Infinito, mas, por alguma estranha razão, nós apenas não conseguimos
capturá-la agora.
Esse pode ser um período onde, tanto a paixão quanto a direção,
decaem, deixando-nos hesitantes, sem sabermos coisa alguma com segurança,
exceto aquilo que não queremos. Chegamos a um estado em que os velhos dias
se foram, mas o novo nível de entendimento ainda não está plenamente
manifestado. Esse momento pode fazer-nos sentir um pouco como numa
suspensão temporária das funções vitais, resultante de asfixia, afogamento, ou
pré-morte.
Primeiro entramos num tempo de limpar nossa percepção nos Estágios
de 1 a 3, para vermos realidade, e descascarmos os remanescentes da ilusão; daí
entramos no Estágio 4, onde nos tornamos essa Realidade. Então, a maior parte
do des-assentamento que experienciamos no Estágio 5 nos ensina a renunciar ao
fazer para, finalmente, abraçarmos o ser, porque nossa renúncia final será para
o Conhecimento Infinito interior, de que somos e temos tudo, sempre.
Lições, que podem acompanhar esse período de transição, onde ainda
nos movemos do ver para ser o Ser Unificado, revolvem em torno de nossas
circunstâncias. Tendo atravessado os Estágios de 1 a 4, podemos ter ficado com
algumas ressacas mundanas, como no legado de perda, ou transição, em áreas
tais como finanças, carreira, relacionamentos e/ou saúde. Por exemplo, o
colapso de uma carreira, que possa ter ocorrido no Estágio 1, talvez nos
conduzindo a encontrar nossa verdadeira vocação, e criatividade,
temporariamente pode causar limitação financeira todo o tempo, ao longo do
Estágio 5. Algumas vezes nossa vida prática de todo o dia refletirá simplicidade
nua nesse estágio. Entretanto, tudo transcorre sem ressentimento, nem sensação
de perda ou privação, porque, verdadeiramente, já aprendemos o valor da
simplicidade. De fato, abertamente escolhemos a simplicidade, em lugar da
complexidade.
Se, ao entrarmos no Estágio 5, encontramos que nossas circunstâncias
de vida estão fora de sintonia, com o nível de nosso conhecimento espiritual,
isso jamais deve ser confundido com carência. Não há carência, ela não é real;
só há unicamente abundância infinita, que é real. Entretanto, podemos ser
tentados, sempre e mais uma vez, a cair no foco do ego, a ilusão de falta.
Pensamentos e crença de falta causam medo; o medo nos leva a acordos, e
acordos nos conduzem ao sacrifício. Por exemplo, o medo pode nos levar a ver
a aparência de insegurança financeira. Sentindo o medo da falta como real,
195
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

nosso ego aparecerá com uma barganha e nos diz – convincente, mas mentiroso
– que podemos trabalhar em condições adversas para reconquistar uma
segurança financeira. É assim que o ego mantém seu círculo do medo, fazendo-
nos ver a falta onde, em realidade, há abundância do que é Real.
Nesse estágio podemos encontrar que
temos, na maior parte, alcançado um estado
interior de Realidade Ideal, mas nossa realidade Nosso encargo
externa no mundo ainda não alcançou o ponto é perfeita fé
desejado. Lembremos de que para “Ame O Que – certeza absoluta
É” nada está errado.
Muitas vezes, isso ainda é, simplesmente, outro contraste ocorrendo
para nos ensinar e reforçar o que já aprendemos. A nós está sendo apresentada
maravilhosa oportunidade de desconsiderarmos, efetivamente, a escassez, e com
absoluta certeza ver a única Verdade que consegue haver, que é nossa realidade
externa logo refletirá nossa abundância interna. Seja paciente, porque agora
estabelecemos internamente os princípios que aprendemos através dos Estágios
de 1 a 4. Aqui é onde aprendemos a ter absoluta certeza. Tudo ocorre em
perfeita cronometragem; cronometragem é encargo da Fonte, não nosso. Nosso
encargo é perfeita fé – certeza absoluta.78
O Estágio 5 é, usualmente, longo. Há ainda muitas lições a aprender e
muita consolidação a ser feita. Enquanto os quatro primeiros estágios exigiram
de nós reforma e ação, aqui somos desafiados a só agir quando a Inspiração
Universal nos instrua a isso. Encontraremos que nossas iniciativas não pedem
quaisquer resultados. A razão para isso é de nos ensinar duas coisas: como
desistir do controle e como permitir que a Suprema Orientação nos guie.
Qualquer resistência, por parte de nosso ego, frustrará nossa capacidade
de acessar essa maravilhosa percepção, e estado de Amor. Essa resistência vem
em forma de tentação de julgar, e controlar, independentemente, por nossa
conta, sem consultar a Inspiração Universal. Esse período nos dá tempo para nos
tornarmos peritos em rever nossos pensamentos e decisões. Treinamos, a nós
mesmos, a priorizar a Paz, especialmente em alguma escolha em relação à
percepção de ataque, ou em dar para apanhar. Questionemos, profundamente, a
intenção por trás de todas as nossas decisões, mesmo as menores, que possam
parecer inconseqüentes. Como agora já aprendemos que nenhum pensamento é
sem conseqüência, com segurança e determinação façamos por proteger, nossas
mentes, de qualquer interpretação equivocada.

78
N.T. – É o conselho que recebi de meu pai na carne: “Não duvide nunca!”, que só fui
entender plenamente depois do estudo e prática de Um Curso em Milagres.
196
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Aqui, na existência, ouvimos intencionalmente e sentimos


intuitivamente. Em qualquer emergência inesperada desenvolvamos a
capacidade de, rapidamente, aquietar tanto o pânico do nosso próprio ego, como
o pânico de outros, pois da aquietação emana uma sensação de Paz, calma, e
certeza. Imediatamente aconselhemos – a nós mesmos – que a realidade é, e
aceitemos que o que está ocorrendo é como é, na ilusão, permitindo-nos, assim,
fazer a Paz chegar a nós por não discutir com a ocorrência ilusória no sonho.
No evento de um incidente perturbador podemos oferecer muita calma e
discernimento íntimo porque, realmente, somos a única pessoa presente nesse
momento. Por presente, não queremos dizer na base medrosa de futuro, ou de
passado do ego, e não se situando, mentalmente, no assunto de qualquer outra
pessoa. Quando estamos presentes, plenamente em vigília, atentos, cientes, e
livres do ego, estamos em nosso Estado de Realidade Ideal. A partir desse
Estado de quietude interior nós conseguimos:
 acessar a orientação clara do Ser Unificado.
 manter a nossa Paz.
 ajudar a outros sem esforço.
 estar, eficientemente, instrumentado para lidar com qualquer situação.
No Estágio 5 aprendemos, verdadeiramente, que já não há mais decisões que
queiramos tomar, sem primeiro consultar nosso Guia Interior. E se pressionados
a tomar uma decisão, que não esteja ainda pronta a ser feita, em quietude
interior reconhecemos e aceitamos, para nós mesmos, em certeza, que a resposta
virá na hora certa e perfeita.
Ao interagir com outros, que ainda confundem seus egos consigo
próprios, sejamos excepcionalmente pacientes e claramente congruentes ao
compartilharmos a Verdade. A Verdade é entregue sem ataque, julgamento ou
acusação, e mesmo que o ego do recebedor interprete a Verdade como um
ataque (o que pode acontecer com freqüência), não ofereçamos qualquer defesa.
O ‘não saber’ açula nosso pior medo, relacionado ao ‘não existir,’ e isso
se equipara ao medo da morte. Para o ego, a perda do controle, i. e., o ‘não
saber,’ é sentido como morte, porque, se conseguíssemos, já agora, abdicar o
controle para a Inspiração Universal, o ser-ego não mais existiria. Retirar a
vontade de controle significa que o ser-ego disfuncional já não mais existe. O
ego resiste à idéia de ‘não saber’ por que isso significa, para ele mesmo, a
morte. É um tipo de morte, mesmo que nada real morra.79
79
N.T. – A única ‘morte’ é a do ego em nossa mente. O ego ‘morrerá’ à medida que
deixemos de nutri-lo. Nós o fizemos, nós o alimentamos e só nós nos desfaremos dele.
197
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Podemos perguntar, então, se a “desistência” do ego, ou o desapego a


ele acontece quando o corpo morre. A resposta é, “Não”. Reencarnaríamos
repetidamente dez mil, ou milhões, de vezes, ou mais, e mesmo assim, o ego
ainda manteria sua vontade para controlar.80
Isso significa que a vontade do ego de comandar e controlar sobrevive
mesmo à morte física; é assim como, persistente e insistentemente, ele quer
manter o controle. Não nos livramos dele nem depois da morte, pois sobrevive
ao corpo81. Se a meta de nossa vida terrena é de encontrar a liberação final na
Verdade, então parece lógico formar a conclusão de que nossa meta
fundamental é o desapego do ego. Numa casca de noz, desfazer o ego é um pré-
requisito básico para eliminar o conceito de uma morte física. Com a completa
liberação desse sistema de pensamento delusório, nós desistimos de todo
fragmento da culpa original causada pela separação. Essa culpa chocante,
inconsciente é o que causou nosso desejo de nos ocultarmos da Verdade, do
Amor e da Fonte, vindo nos ‘esconder’ no mundo, na materialidade, dentro de
um aparente corpo. É a atração fundamental para nos manter a todos
enganchados no círculo vicioso de nascimento e morte. Essa é uma ilusão
absoluta. Por que seguir através de milhares de existências de vida, nesse
círculo vicioso de nascimentos, sobrevivências, sofrimentos, e mortes, quando
podemos, da mesma forma, facilmente atingir essa liberação do ego, e tê-lo
vencido e acabado?
Conseguir que a Inspiração Universal dirija nossas vidas, unir-nos à
Vontade Unificada, significa viver livres da vontade de controle. Essa é uma
liberação do ego, em seu âmago, bem como o último ponto que teremos com o
medo, porque A RAIZ DO MEDO É A VONTADE DE CONTROLAR. O medo final é
de não existir, medo da morte, do nada. É por isso que a morte física representa
tanto uma ameaça, particularmente aos que não estão seguros de uma pós-vida.
Entender que não existo como “eu, como me conheço” é a desistência absoluta
de todo controle. Se o “eu, como me conheço” não existe, então o ego nada tem
a controlar, ou o ego nada controla. O que aprendemos a compreender nesse
estágio é que a vontade do ego é cheia de ocos e vazios – como um queijo suíço
– e sempre nos deixa abatidos, quando nos identificamos com ela. Já
experienciamos o suficiente da Vontade Unificada para confiar que essa é a
única Vontade que, consistentemente, revela a Verdade e o Amor Infinito
existente, por trás de toda realidade aparente.

80
Adyashanti, Vazio Dançante, p.156.
81
N.T. – Kenneth Wapnick, 50 Princípios dos Milagres, p. 123, ambos os livros sem
publicação em português, ainda.
198
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Da Preferência à Confiança Total


Durante os Estágios de 1 a 4, as características predominantes eram reforma e
ação. No Estágio 5, as nossas mais importantes características são:
1 – aprender a pôr de lado todo julgamento (desistir da necessidade de
controle do ego) e
2 – ser.
Muitas vezes, a desestabilização que sentimos nesse estágio vem de estarmos
acostumados à reforma e à ação, mas aqui aprendemos a permutá-las por
• ser,
• permitir (o Agora presente) e
• vigiar.
Aqui aprendemos a ficar tão atentos e presentes que conseguimos
• ouvir, ou até mesmo
• sentir a orientação minuto a minuto.
Qualquer escolha que tentarmos fazer tem – obrigatoriamente – de ser entregue
sem titubeio ao nosso Ser Unificado. Isso requer um foco real em estar no
momento do agora, não importa o que façamos, ou onde estejamos. Vigiar é
prestar atenção ao momento presente e, através dessa prática nos movemos da
reforma e ação dos Estágios de 1 a 4 para nos tornarmos um condutor através
do qual nós, sem qualquer esforço, expressamos a Vontade Unificada. A
enorme energia que foi requerida para sustentar o ilusório ego é agora liberada
para ser estendida, sem limite, através do Ser Unificado.
Em estágios anteriores estávamos acostumados à ação e reforma. Agora
precisamos deixar ir a cada instante para a instrução da Inspiração Universal.
Não precisamos atuar mais a partir de nosso próprio espaço; aprendemos agora
que a Vontade Unificada é a nossa própria Vontade. A seguir a descrição do
Estágio 5 de UCEM:
O próximo estádio82 é, de fato, um período de “des-assentamento”. Agora o
professor de Deus tem de compreender que ele realmente não sabia o que
tinha e o que não tinha valor. Tudo o que realmente aprendeu até aqui foi o
que não queria, o que não tinha valor e, de fato, queria o que tinha. Apesar
disso, sua própria seleção foi sem significado no sentido de lhe ensinar a
diferença. A idéia de sacrifício, tão central no seu próprio sistema de
pensamento, fez com que fosse impossível para ele julgar. Ele pensou ter
aprendido a disponibilidade, mas vê agora que não sabe para que serve

82
N.T. – ‘Estádio’ é o mesmo que ‘estágio’. A citação tem de manter as palavras com a
grafia da tradução, em respeito ao direito autoral, por lei.
199
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

essa disponibilidade. E agora tem de atingir um estado que talvez por


muito, muito tempo ainda lhe seja impossível alcançar. Precisa aprender a
deixar de lado todo julgamento e pedir apenas o que realmente quer em
qualquer circunstância. Se cada passo nessa direção não fosse tão
fortemente reforçado, seria de fato muito duro. (M-4.I.A.7:1-9)
O problema a enfrentar agora é que perceberemos sacrifício ao mantermos todo
julgamento, controle e tomada de decisão, e entregarmos todo o processo à
Inspiração Universal. Há obviamente alguns julgamentos e decisões ainda por
serem abandonados, mas que nosso ego prefere manter. Teremos lições a
aprender a respeito de nossa maneira de escolher para conseguir separar,
adequadamente, o valioso do sem valor.
Como UCEM menciona,
Ele pensou ter aprendido a disponibilidade, mas vê agora que não sabe
para que serve essa disponibilidade. (M-4.I.A.7:6)
Sim, de fato aprendemos disponibilidade: aprendemos muito nos Estágios de 1 a
5 a respeito de como aumentar nossa disponibilidade na preferência pelo novo
sistema de pensamento.
E agora tem de atingir um estado que talvez por muito, muito tempo ainda
lhe seja impossível alcançar. (M-4.I.A 7:7)
O que parecerá levar um longo, longo tempo consegue ser grandemente
encurtado por apenas um ajustamento. Pergunte-se:
Você gostaria de experienciar tumulto por mais tempo do que o absolutamente
necessário?
A única inegável correção que torna a liberação irresistível é o nosso
compromisso de mente unida de nos rendermos completamente à Inspiração
Universal, e nela ter uma fé inabalável. Dando um passo a mais além da
preferência, no sentido de total confiança, alcançamos a completa mentalidade
certa. Isso significa absoluta mentalidade certa, sem preferências.
Uma vez essa decisão seja integralmente tomada, será a decisão final
que alguma vez faremos por conta própria, porque, daqui para frente, nosso Ser
Unificado fica, de fato, sem as limitações do ego. A Inspiração Universal
através de nós é o nosso ‘tomador de decisões,’ e não lutamos nem controlamos
mais. Assumir esse compromisso único remove, totalmente, os últimos
bloqueios existentes à ciência da presença do Amor, e nos tornamos,

200
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

literalmente, irrestritos co-criadores, cônscios de quaisquer pensamentos


anteriores, ou aparente realidade.
Podemos até mesmo levar um período de tempo excessivamente longo
para aprender a distinguir entre a Voz da Verdade e a voz do ego. Finalmente,
entretanto, nos damos conta de que há apenas uma escolha real a ser feita, que é
a de não mais tomar quaisquer decisões, insignificantes ou relevantes, exceto
pela Verdade, de uma vez por todas.
Dito muito simplesmente, não há hierarquia em ilusões. No Estágio 5,
nos damos conta de que não há nenhuma ilusão restante à que demos maior
valor do que outra, apenas porque isso pareça mais verdadeiro para nosso ego.
Vemos que todas as ilusões são igualmente inverídicas.
É impossível que uma ilusão seja menos passível de ser conduzida à
verdade do que as outras. Mas é possível que a algumas seja dado maior
valor, e essas tens menos disposição de oferecer à verdade para serem
curadas e ajudadas. Nenhuma ilusão contém qualquer verdade em si
mesma. No entanto, algumas parecem ser mais verdadeiras do que outras,
embora isso claramente não faça sentido algum. Tudo o que uma
hierarquia de ilusões pode revelar é preferência, não realidade. Que
relevância tem a preferência para a verdade? Ilusões são ilusões e são todas
falsas. (T-26.VII.6:1-7)

Vigília
Nos Estágios 1 e 2, enfrentamos enormes conflitos entre sistemas de
pensamento, e o Estágio 3 ainda envolveu algum conflito. Entretanto, no
Estágio 5, nosso maior desafio é o de manter atenta guarda contra qualquer
possível conflito, ou julgamento, uma vigília constante, ao que possa ameaçar
nossa Paz interior. Em qualquer ponto, ou instante, onde haja perda de Paz,
imediatamente reconheçamos tratar-se de um sinal de aviso, um pisca alerta, e
implementemos a mentalidade certa de acordo com a circunstância. Isso não é
difícil, nem é um esforço; isso é apenas um tempo onde visamos querer atuar
com consistente vigília em relação a nossos pensamentos, e crenças, para
alcançarmos um ponto onde nosso piloto-automático assuma. Uma vez ligado
nosso piloto-automático, não temos mais necessidade de estar atentos ao
conflito, ou julgamento, porque esses não farão mais parte de nossa ciência.
Este estágio envolve cura, alcançada
por nossa extensão do Amor e do Perdão. Cura,
A nossa única
nesse contexto, significa a cura de toda aparente
função neste mundo é separação, como culpa, dor, doença, ou
ajudar a cura da
mente dos outros, 201
curando nossas
próprias mentes, com
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

depressão, todas provindas da mentalidade


errada. E assim aprendemos que nossa única
função neste mundo é ajudar a cura da mente
dos outros, curando nossas próprias mentes,
com as quais curamos a dos outros.
Não ficamos felizes ou nos tornamos completos a não ser que
estendamos esse Amor aos outros, nossa forma de curá-los. Tornamo-nos um
espelho bem-vindo no qual as pessoas vêem belos e inocentes reflexos de si
mesmas, em vez de culpa, medo e julgamento.
Reconhecemos que há muitos outros pesadamente sedados por viver no
sonho-do-ego, mas não compartilhamos seu pesadelo; em vez disso oferecemos
a Luz pela qual vejam uma maneira de despertar. Nesse estágio encontramos
que nós, não apenas desejamos sentido e conexão em nossas vidas, como
também precisamos deles. Estamos abraçando o princípio de “dar é receber”, e
estamos ficando familiarizados com a alegria e a confiança que esta dinâmica
instila em nós. Não estamos mais satisfeitos com estar separados; ativamente
buscamos nos engajar na extensão com outros através do Amor e do perdão.
Damo-nos conta de que, pela natureza de nossa nova Paz reencontrada, nos
tornamos um ímpeto de cura para todos com quem nos envolvemos. Não há
maior alegria a ter senão essa.

Mudanças Possíveis
Quando estamos vivendo mais na Realidade Ideal, alguns ajustamentos naturais
podem ocorrer, todos eles altamente benéficos. Usualmente nos encontramos
passando muitos momentos no agora, porque não mais confiamos na pré-
ocupação do ego com o tempo e pensamentos de futuro, ou passado. Não nos
afligimos a respeito do que acabou de acontecer, ou pelo que, mais tarde, possa
vir a acontecer. Não temos a necessidade de nos afligir com o que precisamos, o
que comprar ou de como consegui-lo. Todos os dias, de toda forma,
responsáveis, cônscios e atentos, enfrentamos cada momento fazendo por atuar
conforme todas as instruções de nosso Ser Unificado. Agora sabemos que
cuidar de um negócio – ou do que quer que seja, insignificante ou relevante –
significa:
• primeiro ouvir atento, e responder à Vontade Unificada (sensação
intuitiva), depois,
• atender o que ela diz, e
• daí manter em tudo e com todos, o tempo todo, Amor, Alegria e Paz pelo
perdão, e aí, então,

202
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

• ir cuidar de qualquer outro assunto prático, que requeira atenção.


A prioridade é nessa ordem.
Se há um desapontamento, por exemplo, se tínhamos em mente um
resultado preferido, que não ocorreu, imediatamente reconhecemos a Verdade e
lembremo-nos: não há resultado mal sucedido. Reconheçamos que todos que
encontramos são uma bênção, mesmo que disfarçada. Saibamos bem que tudo
que ocorre tem sua razão para acontecer da forma que aconteceu, nessa
circunstância e nesse momento, e nunca e nada há o que discutir com o
acontecido. Apreciemos, sempre, qualquer mudança que venha junto.
Nossos corpos também se alinham à mentalidade certa. A necessidade
de força de vontade e a resistência do ego para vencer maus hábitos, como
tabagismo, alcoolismo, excesso de comer, má nutrição e falta de exercício, já se
foi. Uma progressão muito natural advinda da mentalidade certa é de que nossos
maus hábitos é que nos abandonam, e não ao contrário. Esse processo não
requer qualquer esforço, ou sacrifício, quando a mentalidade certa convoca o
corpo à saúde. Nossos corpos se tornam mais limpos, mais claros, mais leves e
mais refinados, e nos dizem o que conseguimos, ou não, tolerar. Por exemplo:
• o álcool que nunca foi problema, mesmo em pequenas proporções, pode, de
repente, vir a causar insônia, ressaca ou palpitações no coração, urgindo-nos
a abandoná-lo, de vez.
• comidas que toda vida comemos, que não são boas para o corpo, de
repente, podemos sentir que não mais as toleramos, como trigo, alimentos
gordurosos ou produtos láticos.
• toda uma vida fumando pode parar, sem causar sintomas inconfortáveis de
interrupção.
• o vício por distrações dispensáveis, podem desaparecer, da noite para o dia,
tais como TV, ou jogos de vídeo, compulsivos ou habituais.
Cultivamos uma apreciação excepcional pela natureza nos dias de hoje.
Encontramos excepcional beleza e gratidão nas coisas mais simples da natureza.
A beleza que vemos nos outros, e no que nos rodeia, muitas vezes nos deixa
embevecidos. Estamos, continuamente, atentos a quaisquer sinais, ou
oportunidades, apresentados a nós, e reagimos a eles. Agora sabemos, sem
qualquer dúvida, que todos nossas necessidades estão preenchidas, e que grande
Paz nos inunda. Nossas vidas estão plenas de simplicidade e beleza enquanto
que a complexidade, sob qualquer forma, não faz mais parte de nossa realidade.
Em enlevo reconhecemos que nossa Vontade sempre foi, e sempre será,
uma com a Inspiração Universal. Agora que a percepção original é restaurada,

203
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

nossa majestática visão contempla unicamente a Verdade, o Amor e a beleza,


em toda parte, e em todas as pessoas, sempre.

6 Estágio 6 – Um Período de Realização


Uma vez tendo nos alinhado totalmente com a Vontade Unificada, o caminho
agora se torna reto, e sem esforço.
Uma vez que tiveres aceito o Seu plano como a única função que queres
cumprir, nada mais haverá que o Divino Espírito Santo não arranje para ti
sem o teu esforço. Ele irá diante de ti endireitando as tuas veredas e não
deixando em teu caminho nenhuma pedra em que possas tropeçar, nenhum
obstáculo para impedir o teu passo. Nada do que necessitas te será negado.
Nenhuma dificuldade aparente deixará de se desvanecer antes que a
alcances. Não precisas pensar em nada, descuidado de todas as coisas,
exceto do único propósito que queres realizar. (T-20.IV.8:4-8)
Nossos relacionamentos Unificados são instrumentos vivos através dos
quais trazemos cura para todo o mundo. Neste estágio estamos ativamente
engajados em viver a Verdade viva, como uma extensão do Amor, da Alegria e
da Paz. Unimo-nos aos outros para partilhar o único Propósito que nascemos
para preencher. Essa é uma manifestação miraculosa do Estado de Enlevo, que
nosso ego nos negou por tanto tempo.
Neste nível de conhecimento, o sentido de “eu”, “me”, “mim” e “meu”
foram vencidos. Nada resta do ser-ego para fixa e rigidamente prender, limitar e
distorcer a percepção. Uma imensa liberação é um subproduto do abandono do
ser finito – o ser-ego – que percebe tudo como separado. O ego, por sua fixação
em dualidade, monta uma rigidez na percepção que não consegue deixar de
julgar, controlar, e analisar para comparar, contar, medir e pesar. Ele toma um
aspecto da aparente realidade e a favorece, ou a abomina, recusando-se a ver
que perceber por uma única perspectiva é negar que qualquer outra
perspectiva exista. Isso seria como ver uma xícara sobre uma mesa, sem
considerar sua alça e seu padrão. De uma perspectiva vemos uma xícara lisa
sem alça, e o ego diz, “Esta xícara é lisa e sem alça.” Do outro lado da mesa
alguém mais vê a xícara de um ângulo diferente e diz, “Esta xícara tem uma
alça e um desenho.” A verdade sobre a xícara nunca consegue ser apreciada
pela percepção dela, a partir de uma única perspectiva, ou mesmo de muitas
perspectivas diferentes. Só quando aceitamos que a xícara é simplesmente O
Que Ela É, sem a interferência de nossa própria percepção limitada dela, é que
conseguimos apreciá-la. Em verdade, a xícara é 99,9% espaço vazio, mascarado

204
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

de matéria sólida, e na mais elevada interpretação, não sabemos nem para o que
serve a xícara. Da mesma maneira, cada pessoa, lugar, objeto, e circunstância
com que nos deparamos não são conhecidos por nosso ser limitado.
O ego vê a nossa identidade como
completamente separada e tem um hábito
viciado de ver as coisas por uma perspectiva
Em verdade, a xícara é
extremamente estreita, restrita, unipontual e
99,9% espaço vazio, fixa. O “eu” é visto sempre como separado de
mascarado de matéria todos, de tudo e de qualquer circunstância. Ele
sólida, e na mais avalia sempre a partir da perspectiva de que
elevada interpretação, esteja separado: “Eu gosto, eu não gosto, eu
não sabemos para o que vejo, eu sinto.” Tudo que ocorre, acontece a
serve a xícara. esse “eu” que sempre se vê como separado do
que ele percebe estar engajado.
O que ocorre no Estágio 6 é que o “eu” não mais percebe separação, ou
falta, ou desigualdade. No Estágio 6, a percepção se torna inclusiva, vendo tudo
como uma parte de tudo mais, sem a menor diferenciação. A resistência, sob
toda forma, acabou.
Quando o ser-ego é liberado, uma “testemunha” profundamente
expansiva e integrada, é plenamente revelada. Essa testemunha tudo vê de
maneira multidimensional, sem restrições, tais como julgamento ou resistência.
Essa testemunha é o nosso Ser Unificado.
Nesse estado a Verdade sem rival nasce para saber que a ilusão de
individualidade é que causa todo sofrimento. Aqui vemos que somos tudo e
todos, e que tudo e todos somos nós, por todos sermos só Um. O Universo
somos nós e nós somos o Universo. No que quer que pousemos os olhos, nós
somos; o que somos, estamos vendo diante de nós.
Vemos os outros como nós e encontramos que nosso amor por eles é
indiscriminado. Não mais tomamos conhecimento do ego, e somos
magnetizados pela imensa beleza de cada alma que contemplamos.
Reconhecemos que, enquanto a maioria das pessoas está dormindo no ego, seu
Ser Unificado é Amor puro, firme e resoluto e reconhecemos que, no final,
todos despertarão do sonho de limitação e separação. Aqui está uma
compreensão interior do despertar pessoal:
“Tudo e todos no mundo eram luminosos e perfeitamente lindos. Todas as
coisas vivas se tornaram radiosas, e expressavam essa radiância em quietude e
esplendor. Ficara aparente que toda humanidade é, de fato, motivada por amor
205
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

interior, mas que simplesmente havia se tornado sem ciência disso; a maioria
das pessoas vive suas vidas como se fosse adormecida, sem despertar para a
percepção de quem é realmente. Todos aparentavam estar adormecidos, mas
eram incrivelmente lindos – eu estava amando todas as pessoas.” (David
R.Hawkins, Poder vs. Força, p.14)
No Estágio 6, não encontramos nenhum sobe e desce associado a “elevações”
espirituais. Aqui já não somos mais quem experiencia; nós somos a experiência.
Extrema gratidão algumas vezes nos assume, quando nos lembramos de
nosso estado original de Unicidade e, como resultado, um ímpeto Infinito de
estender Amor se torna uma ocorrência comum. Sabemos que tudo está vivo,
pulsando com energia radiante. Já não mais retratamos como feio e bonito,
morto e vivo, mas que tudo é beleza. O tempo parece diminuir a velocidade e já
desapareceu toda necessidade de planejar, controlar e manipular. Não há desejo
de esperar ou ânsia de ganhar. A Inspiração Universal é agora o nosso Piloto
Automático Sagrado que dirige nossa vida, de momento a momento. Todas as
buscas terminam, ao desdobrar contínuo de nossa existência.
Nesse estágio encontramos que
abandonamos nosso sentido familiar de ser- Ausência de projeção
inpirador e vemos que aquele que pensávamos
indica que não mais
ser é apenas uma mistura refogada de crenças e
antigos apegos emocionais. Quando tentamos
temos necessidade de
puxar pela memória desse ser, ficamos pasmos memória distorcida.
porque ele, realmente, apenas não existe mais!
A memória é enevoada, ou não existente. Porque aprendemos agora a
perceber, sem as lentes enlameadas do ego, vemos coisas e pessoas como elas
são, não mais distorcidas, como o ego as projetava. Ausência de projeção indica
que não mais temos necessidade de memória distorcida. É aqui que deixamos
para trás a memória sem sentido de quem éramos nós.
Maravilhamo-nos por nosso ser anterior ter-se ido, mas o que ficou
desafia qualquer definição de si próprio. Estamos mais vivos, mais presentes,
mais alegres e mais amorosos, como jamais imaginamos. Sem nenhum “ser” de
quem falar, somos todos, em toda parte, ao mesmo tempo, e ainda existindo na
terra, aparentemente, neste corpo.
No Estágio 6, já não somos mais o “eu” fabricado do ego – esse foi
abandonado para revelar o “eu” por trás e além do conceito ilusório. Ainda
retemos um fiapo de ego para que consigamos manter o corpo; entretanto esse
fiapo foi entregue inteiramente à Inspiração Universal. Esse estado é
absolutamente notável. Ele está livre da carga de nossas responsabilidades
206
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

prévias. Toda necessidade de controle já nos abandonou. Ficamos estupefatos


de como de nada necessitamos, a nada resistimos, a nada ansiamos, a nada
tememos, e, por certo, nada temos a proteger. A noção de que nos sacrificamos
para alcançar esse ponto é hilária. Deste lado da ‘cerca’ apenas não
conseguimos crer o quanto uma vez resistimos abandonar nossas identidades
pessoais.
Neste estágio, teremos emoções.
Neste estágio, teremos Entretanto, não são marcadas; elas não
emoções. Entretanto, conseguem mais aderir a nós, porque não resta
nenhuma identidade à qual se apegarem. Em
não são marcadas;
vez disso, deixamos as emoções gentilmente
elas não conseguem passarem através de nós, sem darmos a elas
mais aderir a nós, nenhuma realidade. E quando precisamos
porque não resta acessar uma emoção, ou comportamento
nenhuma identidade particular, conseguimos procurar, em nosso
à qual se apegarem. sistema de arquivo particular, e selecionar a
resposta apropriada.
Não há mais histórias em nossa psique para alimentar quaisquer
crenças, ou sentimentos de separação. Neste estágio, o arquivo da separação não
apenas está vazio; ele foi deletado da memória. Enquanto vivendo neste mundo,
nossa paixão é dirigida no sentido da iluminação dos outros. Nossa
inextinguível extensão de Amor ajuda a cura de mentes de todas as pessoas com
quem entramos em contato, e mesmo mentes de muitas que nem ao menos
encontramos ainda. Vemos e participamos do despertar de mentes adormecidas,
sabendo que esse é nosso propósito terreno máximo.
Por agora eclipsamos o “eu”, ou o “mim”, e visualizamos nossa
personalidade como sendo mais um “isso”, sem posição fixa, a partir da qual
extrair resistência, ou criar oposição. Seguimos, sim, tendo preferências, gostos,
rejeições, estilos e certos hábitos, mas sem fixação, compulsão, ou importância.
Portanto, não sofremos pela busca do prazer, ou escape da dor. Tudo se passa
como é. Não há apegos, nem tampouco dependências.
Uma parte maior desse estágio é aprender a adotar uma forma mais
pura de comunicação, especialmente através da linguagem, construtiva e
afirmativa. À medida que avançamos ao longo do Estágio 5, no sentido do
Estágio 6, nos confrontamos com o reconhecimento da extensão da
insignificância da irrelevante comunicação através da qual a maioria dos egos
interagem. O Amor e a autenticidade nos convocam a reinterpretar a Verdade
subjacente, por trás de cada conversação supérflua. Quando perguntas são
feitas, damos tempo para deixar a Inspiração Universal responder por nosso
207
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

intermédio. Cada palavra é energia e notamos que a única energia com a qual
nos unimos é a da Verdade; nossas conversações todas mantêm e compartilham
a essência da Verdade e do Amor. O humor aumenta sua capacidade de ser um
catalisador curativo para muitas conversações. Nada conseguimos fazer senão
ver o lado engraçado da vida e infectamos os outros com essa visão humorística
do que comumente teria uma visão problemática na existência.
Aqui, no Estágio 6, há um sentido profundo de consistente Paz,
entremeada de grandes surtos de alegria extática. Aqui nenhum medo é
possível. Sabemos que, finalmente, chegamos à nossa real e única Casa. O
mundo parece mudar sua aparência e comportamento, à medida que reflete seu
núcleo divino e original. Tudo e todos são Luz, acesa e mantida pela energia do
Amor. Tudo é infinitamente interconectado, e mesmo eventos, aparentemente
seqüenciais, revelam sua impecável sincronicidade. Através da verdadeira
percepção, nossa mentalidade certa interpreta que tudo é íntegro e completo.
Agora entendemos o sentido implícito da perfeição, e a nossa missão nos
conduz a atender a outros, no redescobrimento de suas Identidades e Propósitos,
nessa miraculosa Unicidade da qual somos todos parte e à qual, no final, todos
retornamos.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

208
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

CAPÍTULO 7

ORIENTAÇÃO NO CAMINHO

Este capítulo trata do suporte disponível para os que estão atravessando o


processo de desfazimento do ego. Essa não é uma viagem obrigatoriamente
solitária. Na desistência do ego conhecemos que:
• somos parte do todo,
• temos um propósito específico na vida,
• entregando-nos ao momento do agora, ao presente, e
• perdoamos – ampla, geral e irrestrito – a tudo e a todos, a toda hora,
somos capazes de alcançar a Alegria, o Amor e a Paz.

Cada um de nós tem um propósito específico


Todos nós temos um propósito específico que, no final, preencheremos; UCEM
se refere a esse propósito como nossa função especial.83 Ficamos mais perto de
reconhecer nossa única função, à medida que progredimos mais para adiante, ao
longo dos Estágios do Desenvolvimento da Confiança. O que todos
compreenderemos ao liberarmos o ego é que não estamos sós. Talvez nos
estágios iniciais nosso foco fique primeiro em nossa própria jornada, mas, à
medida que prosseguimos, compreendemos que nosso senso de cuidado e
compaixão continua a estender mais adiante e mais profundo, para mais
pessoas.
Começamos a ver uns aos outros não mais como diferentes, apenas
como mais unidos do que conseguíamos possivelmente ter imaginado antes.
Vemos agora nossas similaridades com incrível clareza. Vemos que julgar,
comparar e analisar os outros é uma perda da preciosa força de vida. Chegamos
a um ponto onde, para nos sentirmos plenamente vivos a cada dia, temos de ter
um sentido, um propósito e uma direção em nossas vidas do dia-a-dia. Ao
aprofundarmos nossa confiança na Verdade, conseguimos reconhecer que
sutilmente fomos conduzidos a um ponto particular, onde nosso destino começa
a se materializar e/ou manifestar. Podemos ver as peças do quebra-cabeças de
nossa vida finalmente fazer sentido, e se juntar para formar um retrato
excepcional. Pode parecer que a sincronicidade esteja tecendo juntos todos os

83
UCEM, Um Curso em Milagres.
209
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

aparentes fios separados de nossa vida, e começamos a ver aparecer um tecido


íntegro – o da Verdade.
Cada um de nós tem talentos e capacidades particulares que serão
utilizados para nosso específico propósito – a nossa função. E à medida que
progredimos ficamos muitas vezes maravilhados de como o desabrochar de
nossas vidas revela uma rica integração de nossas forças em áreas que não
conhecíamos tê-las. Na proporção do desfazer do ego, reconhecemos a
revelação de certas capacidades antes não distinguidas. Todo o potencial
ignorado dentro de nós, previamente oculto pelo ego, é despertado,
desembaraçado, desatrelado e posto em ação. Essa é uma experiência bem
espantosa. Vemos antigas limitações dissolvidas, e em seu lugar ficamos
deliciados ao descobrir um novo e poderoso dinamismo, atuando dentro de nós,
com uma força que nos conduz, sem esforço, para nosso Propósito Maior.
Nossa função especial sempre nos conduzirá a participar do despertar
de mentes, mesmo que a forma que isso tome possa parecer bem diferente para
cada indivíduo. Cada um de nós tem talentos e capacidades reconhecidas e
irreconhecidas, que emergirão à medida que vivamos e estendamos a Verdade.
Engajar em nossa função especial não significa que ficamos livres do
erro. O ego, por vezes, ainda nos confundirá. Entretanto, estamos, de todo
coração, comprometidos com a Verdade, e dando cumprimento agora à nossa
função, adquirimos um imenso senso de significado e propósito, em nossa vida.
É aqui que podemos relembrar nosso antigo ser que estava possível e
aparentemente perdido, limitado e desnorteado, por sua identificação com
ilusões. Talvez estivesse esgotado, perdido, infeliz, insatisfeito e vazio, por
buscar o Amor em todos os lugares errados. Finalmente, dirigindo-nos à
Verdade, não apenas encontramos Amor, Paz e Alegria, mas nossas vidas agora
espelham uma sensação de Unicidade, significado e propósito que eclipsam, por
completo, tudo que alguma vez pudesse ter havido antes.

A Vontade Unificada
O propósito de nossas vidas aqui neste mundo é de redescobrir nosso antigo
Estado Unificado, nosso Ser Unificado, e aprender como experienciar nossa
vida diária desse Ser. Nosso objetivo então é descobrir tanto nossa identidade
como nosso propósito. O processo de nos desengajarmos do ego, e o
desenvolvimento incrementado da confiança que isso gera, nos realinha,
profundamente, de forma a podermos receber a orientação direta, inconfundível,
da Inteligência Superior. Essa é a Vontade Unificada da Fonte, de onde emanam
todas as manifestações do Amor.

210
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Agora podemos concluir que conseguimos confiar em nós mesmos, para


distinguir entre o que o Amor é e o que ele não é. Entretanto, mais parece que
ainda vivemos, pensamos e atuamos a partir de nosso ser-ego, e isso nos impede
de verdadeiramente conhecer muito de tudo que ocorre nos estágios de renúncia
do ego.
Eu não percebo os meus maiores interesses (E-pI.24.h)
– há grande liberdade nesse reconhecimento. Vivemos num aparente estado
separado, um sonho que está rodando, enquanto na Realidade nosso
indestrutível Ser Unificado está bem inatingido pelos eventos no sonho. Todo
sofrimento, dor, esforço e injustiça são figuras desse sonho e, a partir do interior
desse estado, são mal interpretadas. Conseguimos olhar ao nosso redor e dizer
que
• o mundo cai aos pedaços,
• o crime está aumentando,
• a sustentação ecológica declina rápida, e
• os governos se tornam cada vez mais corruptos.
Numa escala mais pessoal, vemos
• adversidade em nossa carência de finanças,
• injustiça nos trabalhos de meio ambiente,
• tragédia em nossas famílias, e
• crise dentro dos relacionamentos.
Entretanto, esses todos são sintomas diversos de um problema único, que é
nosso estado ilusório de mente separada. Essas são todas projeções feitas por
nossa mente aparentemente dividida.
O ser-ego não consegue distinguir entre o benéfico e o prejudicial. Seu
julgamento é absurdo e fundamentado no medo, separação e escassez. Ele não
tem sequer capacidade de ver qualquer Verdade em alguma situação, quer seja
amorosa ou sem amor. O Ser Unificado, entretanto, visualiza tudo com
imponente desapego, sabendo muito bem que absolutamente nada ocorre nessa
realidade que não esteja de acordo com a Meta com que todos nós nos
comprometemos, no início da ilusão do tempo. Todas as coisas, todas as
pessoas e todos os eventos que experienciamos são fragmentos da missão que
buscamos realizar. Nada há de bom ou mau a respeito disso. Nada é randômico.
Como dissemos antes neste livro, tudo é ou Amor ou uma ilusão.84 Nada
consegue ser parte Amor e parte ódio, alguns bons e alguns maus. A Fonte é só
Amor. Criamos nosso próprio sonho aqui neste Universo, do qual coletivamente

84
N.T. – “Fora do amor, nada é real.”, OREMAS, Camargo, M,T,B.
211
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

estamos tentando despertar. Qualquer medo, ódio ou tragédia, mesmo chocante


ou dolorosa, nunca é para ser julgada como má por nosso ser-ego. Podemos
sentir dor, raiva ou tristeza, mas permanecemos cônscios todo o tempo, e
sabemos que nenhuma aparente adversidade é alguma vez um ataque a nós, a
outros, ou a qualquer coisa que seja real.
Lembre-se que nessa realidade do ego curamos por reconhecer que ou
algo se manifesta como uma expressão de Amor ou se manifesta como um
pedido de Amor. Há uma Inteligência Maior que é Amor, Infinito Amor, e ela
não consegue reconhecer qualquer parte de nossa realidade que não seja Amor.
Dessa forma, ela interpreta qualquer negatividade como um pedido de Amor,
não importando que forma isso tome.
Muitos de nós fomos criados para crer e admirar nosso próprio livre
arbítrio, crendo ser diferente da Vontade da Fonte. Inconscientemente pensamos
que a Vontade Unificada seja uma oposição à nossa própria vontade. Não
confiamos nela, e preferimos investir em
• pensamentos,
• crenças,
• condicionamentos de massa, e
• experiências passadas do nosso ego.
Confiamos nesse ínfimo surrado ser-ego, e em sua vontade, para nos levarem ao
Amor e à abundância, que sempre desejamos. Mas como ele vai conseguir isso?
Como consegue uma entidade cuja agenda é literalmente para separar, e acabar
conosco como seres humanos, ser um guia confiável? Sua vontade para nós é
permeada por percepção envenenada que projeta e manifesta
• ódio e guerra,
• morte e doença,
• sofrimento e escassez,
• desigualdade e corrupção,
• perda e sacrifício.
Se isso soa deprimente, então está ótimo! Quanto mais depressa aprendamos a
desvalorizar o ego, e suas arapucas, mais depressa veremos e abraçaremos a
Realidade Unificada aqui e agora, mesmo na terra.
Como somos todos expressões da Fonte, pertencemos a uma realidade
nascida do Amor e da Unicidade, não do medo e da separação. A essência do
que somos quer e merece Amor, Alegria, Paz, criatividade e abundância
ilimitados. A Fonte é tudo isso e mais, nunca capaz de ver ou julgar qualquer
forma de pecado, ou negatividade. Como consegue a ilusão entrar e afetar a
Verdade? Ela não consegue – jamais! Criamos nossa ilusão dessa realidade
para sermos especiais e apartados da Fonte, tornando nosso ser-ego a principal
212
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

fundação para orientação, pela qual navegamos nossas existências de vida.


Qualquer pecado, ou negatividade percebida é fabricada pelo ilusório ser-ego.
Todas as justificativas para julgamento e perseguição também são fabricadas
por esse ínfimo ser falso, para entortar a culpa e, assim, induzir recriminação.

O que tememos na renúncia do ego?


O medo da Vontade de Deus é uma das crenças mais estranhas que a mente
humana jamais engendrou. Ela nunca poderia ter ocorrido se a mente já
não estivesse profundamente dividida, o que possibilitou que ela viesse a ter
medo daquilo que, na verdade, é. A realidade não pode “ameaçar” coisa
alguma a não ser ilusões, já que a realidade só pode apoiar a verdade. O
próprio fato de que a Vontade de Deus, que é o que tu és, seja percebida
como amedrontadora demonstra que tu tens medo do que tu és. Não é,
então, da Vontade de Deus que tens medo, mas da tua. (T-9.I.1:1-5)
O que mais tememos em nossa renúncia do ego? Nós evitamos
renunciá-lo porque associamos desistirmos dele com perda. Cremos que
desfazer percepções egóicas significa perder o que valoramos. O ego humano
está convencido de que todos seus pensamentos, agendas, crenças,
relacionamentos, e possessões são valiosas para cobiçar e defender. É por isso
que nos apoiamos tanto em seus conselhos e diretrizes, porque,
equivocadamente, investimos no sistema de valor delusório que ele oferece e
sustenta.
Tudo que o ego valoriza é uma ilusão. Todos seus acessórios, nossas
reações quanto à sua perda ou transformação, inclusive, são também uma ilusão.
Ainda não sabemos, com certeza, quem somos, ou qual é nosso propósito.
Como, possivelmente, conseguimos nós, então, esclarecer o que é e o que não é
valioso? Estamos viciados em valorar ilusões, e somos medrosos e desconfiados
de qualquer coisa que tente nos libertar da existência severamente limitada que
presentemente suportamos. O maior medo do ego, com certeza, é a ameaça de
perder sua identidade. Sem identidade, sua vontade de controle morre, e esse é o
seu fim. Não ter uma identidade de ego significa que enfrentaríamos nossa
maior revelação de que somos a Fonte! Sem o ego somos a graça e o poder
onipotente do Infinito, e isso, literalmente, é um pensamento aterrador para o
ego. Ele preferiria suportar a morte do corpo do que enfrentar seu próprio fim,
desistindo de liberdade absoluta em troca de limitação.
Os Seis Estágios do Desenvolvimento da Verdade é um caminho
inestimável para descobrir, e apreciar, a magnitude de nossa verdadeira
identidade e propósito. Entretanto, isso primeiro requer de nós que nos
213
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

comprometamos, de todo coração, com a liberação. Isso significa querer abrir


mão das agendas de nosso ego, e pedir que nosso propósito seja cumprido.
Entregar nossa vida à orientação plena da Inspiração Universal, através do Ser
Unificado, não é sacrifício, nem esforço, mas liberdade absoluta.
Uma vez desistamos do ego, o que estamos realmente deixando ir? Com
a desistência do ego deixamos ir
• culpa, julgamento,
• sacrifício, vergonha,
• insegurança, medo e
• a triste sensação de sempre estarmos sós, abandonados, desassistidos
apenas para citar alguns. Quando desistimos do ego, realmente abrimos mão de
miríades de sentimentos e crenças escuras, que toldam nossa visão da presença
da Luz do Amor.
Eu já enfatizei muitas vezes que o Divino Espírito Santo [Inspiração
Universal] nunca irá te pedir que sacrifiques o que quer que seja. ... Não
existe nenhuma diferença entre a Vontade de Deus e a tua. Se tu não
tivesses uma mente dividida, reconhecerias que o exercício da Vontade é a
salvação, porque é comunicação. (T-9.I.5:1,3-4)
Nosso grande medo do desconhecido se equivale à perda do que é
conhecido. A Verdade, entretanto, é que se queremos pedir pela Orientação
Mais Elevada, e segui-la, o desconhecido se revela a si mesmo como o que
sempre ansiamos, em primeiro lugar, mas jamais divisamos. E quando
finalmente abraçamos aquilo pelo qual, de fato, existimos, sabemos que isso
nunca consegue ser substituído, mudado ou perdido, e a segurança de saber isso
concede uma sensação infinita de segurança, Paz, Amor ilimitado e Alegria
extática.
Nós não pedimos pelo que realmente queremos, no sentido Mais Alto,
porque ficamos aterrados com a idéia de que podemos, de fato, vir a recebê-lo e,
sem dúvida, o receberemos! Como UCEM explica:
Nenhuma mente certa pode acreditar que a sua vontade é mais forte que A
de Deus. Então, se uma mente acredita que a sua vontade é diferente da de
Deus, ela só pode decidir que Deus não existe ou que a Vontade de Deus é
amedrontadora. O primeiro é o cado do ateu e o segundo o do mártir, que
acredita que Deus exige sacrifícios. Qualquer uma dessas decisões insanas
induzirá ao pânico, porque o ateu acredita que está sozinho e o mártir
acredita que Deus o está sacrificando. No entanto, ninguém quer abandono
ou vingança, mesmo que muitos possam buscar os dois. ...

214
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

O medo não pode ser real sem uma causa e Deus é a única Causa.
Deus é Amor e tu O queres. (T-9.I.8:1-5,9:6-7)
Além disso, a Fonte é Amor, jamais medo. Então, nossa Vontade Unificada, em
seu âmago, é o mesmo que a Fonte. Quando desejamos, queremos a partir de
nosso ego, então estamos pedindo uma ilusão, algo que, no final, nesta
realidade, sempre nos ferirá. Uma grande parte de nossos pedidos são
desconhecidamente contrários ao nosso potencial, no entanto, cegamente
buscamos realizá-los. Para piorar ainda mais as coisas, se nossos desejos não
são atendidos, nos sentimos negados, e perdemos a fé. Se pedirmos que um
desejo do ego seja atendido, temos de nos dar conta de que estamos pedindo por
coisa alguma, senão ilusão. Então, quando um desejo ficar desatendido, ou uma
agenda não funcione, considere a proteção que nos é dada, por termos
manifestado nossos desejos ilusórios. A nós sempre é dada uma segunda
oportunidade de pedir algo que seja o que verdadeiramente precisamos, e não o
que seja desejo de nosso ego.

Oração
Toda oração no sentido da remoção do medo, ou da ilusão, é sempre
respondida, no prazo que seja o mais apropriado às necessidades mais elevadas
daquele indivíduo. No grau em que o desejo e a disposição sejam expressos, no
mesmo grau o medo ou a ilusão conseguem ser removidos, ou transformados.
Podemos, entretanto, escolher não ouvir a resposta e, equivocadamente,
concluir que nosso pedido não foi respondido, especialmente quando ela não é
dada na forma esperada por nosso ego.
Qualquer oração que peça especialismo ficará irreconhecida, por que o
especialismo é uma forma de ilusão, e a Inspiração Universal não concede
ilusões. Sua função é nos ajudar a desfazer o medo e a ilusão, não reforçar, ou
confirmá-las. De fato, se nosso desejo e disposição nos levam a pedir por
quaisquer erros, ou ilusões, a serem retificados, Ela responde positivamente.
Quando nos damos conta de um erro, no pensamento, crença, ou ação,
conseguimos, e devemos, pedir à Inteligência Superior para reparar, ou curá-la.
Ela sempre trabalha no sentido de nosso maior interesse. Nossa própria
realidade de solução de problemas de nosso ego cria mais problemas (porque
não sabemos nossos próprios maiores interesses), mas aparece como se fosse
assistência; essa, por certo, é a sua natureza.
O que nos faria feliz é só o que a Inspiração Universal quer para nós. O
problema é que o ego não faz a mínima idéia do que nos faz feliz, e o que a
maioria de nós pede nasce das percepções do ego. Então, se pedimos por algo a
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

partir do ego, isso é, realmente, uma negação em forma de pedido. O que


logicamente se segue é reconhecermos nossa ignorância a respeito do que nos
faz feliz, e só pedir pelo Superior resultado, usualmente um que nosso ego
jamais conseguiria imaginar. Há a pedir
• Paz,
• grande poder e liberdade em aceitar não saber, e
• alívio assolador pela desistência do controle.
Desenvolver a confiança usualmente leva tempo, por causa do nível do
medo que associamos ao ato de entrega. Para o ego, entrega significa perda.
Porém, em verdade, isso nada mais traz que ganho. Esse processo de
aprendizado envolve muitos níveis de contraste, capacitando-nos a aprender a
reavaliar o significado, e distingui-lo da ausência de sentido.
O fato de que Deus é Amor não requer crença, mas requer aceitação. É
possível que negues fatos, embora seja para ti impossível mudá-los. Se
manténs as mãos sobre os teus olhos tu não verás porque estás interferindo
com as leis que possibilitam ver. Se negas o amor, tu não o conhecerás,
porque a tua cooperação é a lei que faz do amor o que ele é. Tu não podes
mudar leis que não fizeste e as leis da felicidade foram feitas para ti, não
por ti. (T-9.I.11:5-9)
Uma das maneiras mais rápidas de entrega é aceitar a realidade como
ela se apresenta a si mesma – não para negá-la, ou resistir a ela, porque se
fazemos isso, ficamos em conflito conosco mesmo, e com a Vontade Unificada.
Despendemos tanta energia em defender, negar e resistir O Que É. Em vez disso
conseguiríamos amolecer nossa resistência, e convidar a situação a nos ensinar,
e nos conduzir, ao que, realmente, queremos. Qualquer desafio que percebamos
é, puramente, o veículo para aprender mais a respeito de quem somos nós, e a
respeito de nosso Propósito.

Quando orações parecem ficar desatendidas


Um indivíduo pode pedir a cura física porque tem medo de um dano
corporal. Ao mesmo tempo, se fosse fisicamente curado, a ameaça ao seu
sistema de pensamento poderia ser consideravelmente mais amedrontadora
para ele do que sua expressão física. Nesse caso ele não está realmente
pedindo a liberação do medo, mas a remoção de um sintoma que ele
próprio escolheu. Esse pedido portanto, absolutamente não é um pedido de
cura. (T-9.II.2:4-7)

216
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

O poder da oração não é para ser questionado. Entretanto, os desejos de


nosso ego são. Não temos qualquer idéia do que seja verdadeiramente benéfico
para nós, ao passo que nosso Ser Unificado sabe, de fato, muito bem isso. A
mais valiosa oração para nós, ou qualquer pessoa, é pedir por mentalidade
certa, para que nossas mentes sejam curadas. Uma vez a cura da mente seja
feita, nossa Vontade Unificada se liberta, para sincronizar ilimitados milagres, à
medida que nos libera
• do medo,
• do controle e
• de necessidades ilusórias.
Em verdade, nada há mais valioso do que essa oração, porque ela é o núcleo do
qual nosso próprio Céu na Terra florescerá. Ser mentalmente certo é a dádiva
maior que conseguimos doar à humanidade. Em nosso estado de cura mental,
todos ao nosso redor se beneficiarão grandemente, ao mesmo tempo em que
atraímos e mantemos Amor, Alegria e Paz, para nós.

O Momento Agora
À medida que caminhamos ao longo dos Estágios de Desenvolvimento da
Confiança, compreendemos que esperar por qualquer coisa é fútil, porque
sabemos, com clareza e confiança, sempre cada vez maiores, que tudo que
alguma vez precisamos já está toda conosco e inteira dentro de nós. Aquele
instante íntimo de quieta entrega ao momento do agora, a segurança de Paz, nos
relembra que este – o AGORA – é o único lugar seguro para estar. À medida
que nos alinhamos com a Vontade Unificada, torna-se óbvio para nós que
ficarmos ausentes de nós mesmos, engolfados no tempo psicológico (passado
ou futuro) e, consequentemente, fora do AGORA, nos rouba de nossos mais
preciosos bens – a Paz, o Amor e a Gratidão da eternidade e a união com A
Fonte.
Estamos tão habituados a pensar, que, provavelmente, muitos de nós
não somos familiarizados com a sensação de não pensar. A cessação do pensar
é o portal mais poderoso de ligação imediata com nosso Ser Unificado. Esse é
um veículo através do qual conseguimos, espontaneamente, receber a Sabedoria
Maior. Nada é necessariamente requerido, exceto a disponibilidade para
suspender o pensar.
Se usamos a mente construtivamente, ela atua como uma maravilhosa
ferramenta, para nos assistir em levar avante as Diretrizes Maiores que nos são
dadas de minuto-a-minuto, segundo-a-segundo, sem interrupção. Não
conseguimos conhecer essas Diretrizes, entretanto, se a mente está atuando sem
orientação. Quase todos nós sofremos por causa das fúrias de nossa mente
217
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

separada na forma de pensar compulsivo. Permitimos às nossas mentes


correrem exaltadas, de maneira muito destrutiva. Isso não indica que usemos
nossas mentes equivocadamente; a verdade é que nosso pensar nos comanda. O
problema existe porque tomamos equivocadamente nosso pensar pelo que
somos e, ao fazermos isso, nossas mentes nos assumem. Isso é uma desordem,
uma moléstia.85
Conseguimos começar a descartar pensamentos compulsivos para, em
vez disso, nos tornar observadores de cada pensamento, quando ele chega,
assim ensinando-nos que conseguimos vigiar e dirigir nosso pensar, e nosso
crer. Essa prática desenvolve em nós o reconhecimento de que não somos nosso
pensar e crer. Como imparcialmente passamos a ouvir cada pensamento, ou
crença, sem julgá-lo, começamos a relaxar, e nos tornar acessíveis. No final nos
identificaremos como observadores, e nossos pensamentos, e crenças, se tornam
um tráfego independente, que apenas transita em nossa mente, sem nela
estacionar. O ponto onde, em verdade, aceitamos que esse ‘observador’ somos
nós (e não o pensar, ou o crer) temos uma sensação imediata de liberação,
porque, finalmente, reconhecemos que somos muito mais do que apenas nossa
mente e o pensar, e crer, dentro dela. Nós somos o “eu” por trás da mente! A
mente é apenas o instrumento que empregamos para investigar essa nossa vida.
Reconhecemos – felizes – que a mente não é quem nós somos.
Antes, falando de quando encontramos novas pessoas ou novas
situações, falamos a respeito de como raramente conseguimos vê-las como
realmente são. Quando encaramos algo novo, é muito difícil ver seus valores
presentes, porque nosso próprio pensar, e crer, acumulados de
condicionamentos e experiências passadas, estão subconscientemente
superpostos ao tema que divisamos agora, afogando-o. Isso significa que,
realmente, estamos divisando o presente com uma percepção distorcida. E a
partir disso tentamos avaliar pessoas, objetos, e circunstâncias com essa
apresentação distorcidamente paramentada. Não admira que muito do nosso
passado pareça se repetir, porque, sem nos darmos conta do que estamos
fazendo, recriamos o passado no presente, trazendo-o de volta ao julgar o novo
pensamento, ou crença, no agora, através do véu de projeções passadas.
Sem perceber isso, qualquer descontentamento que experienciamos se
origina de nosso pensar, ou crer, que, por sua vez, engendra novas crenças.
Todo o condicionamento coletivo que recebemos ao longo da infância, escola,
mídia, e experiência de vida, se compactou num filtro-tela espesso e grudento,
através do qual, hoje, buscamos ver a realidade. Nossos principais antagonistas

85
Tolle, Eckhart, O Poder do Agora, pág.13, no orirginal.
218
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

são nossos pensamentos, e crenças, inquestionados, sem vigília nem direção, e a


voz do ser-ego em nossa cabeça que, ininterruptamente, critica, julga e avalia
tudo e todos que os olhos vêem.
O ser-ego não consegue permanecer no comando, controle e direção de
coisa alguma sem esse fluxo intenso de pensamento, e crença, atabalhoados. Ele
emprega o pensamento,e a crença, para submeter e distrair nossa atenção, para,
a qualquer preço, tirar-nos do agora. Enquanto nos mantivermos
constantemente preocupados com as ilusões deste sonho que vivemos, o ego
fica a salvo de ser descoberto e, daí, sem ser descartado. Mantendo-nos
ocupados com pensamentos de direção, providências, cuidados e controle, tais
como tempo, emoção, ter e se tornar, eventos, oportunidades, situações e
circunstâncias imprevistas, é o método seguro do ego de nos colocar e prender
firme no laço da armadilha da sua teia de limitações.

Liberdade é aprender a suspender o pensamento


A idéia de suspender o pensamento, e a crença, pode ser assustadora porque
muitas vezes associamos “nenhum pensamento, ou crença” com perda de
identidade, ou vazio. Em verdade ficar, por instantes, sem pensamento, ou
crença, de fato, expande nossa atenção. Por termos, temporariamente, removido
a lente gosmenta do pensar, e do crer, chegamos a experienciar toda a extensão
de nossos sentidos. Nossa atenção espreita, não apenas através de nossos cinco
sentidos, mas, muito mais importante, começamos a experienciar o estado de
Unicidade que eclipsa qualquer coisa que nossos pensamentos, ou crenças, por
sua própria conta, conseguiriam possivelmente nos dar. Tornamo-nos
incrementadamente atentos ao “eu” que pensávamos ser, que, afinal, é apenas
um mero fragmento desse expansivo e autêntico Ser Que, alegremente, está
conectado a Tudo Que É!
Ao suspender o pensamento, e a crença, ficamos livres para apenas ser
– tornando-nos intensamente atentos à nossa respiração, sons e sensações
físicas. Estar neste espaço encoraja um senso agudo de atenção, onde entramos
na realidade agora. Conseguimos praticar isso em qualquer lugar, a qualquer
momento. Isso não requer, necessariamente, olhos fechados, como no meditar.
Tente acessar o momento agora enquanto faz as corriqueiras tarefas diária,
como escovar dentes, lavar mãos ou qualquer outra tarefa elementar. Fique
agudamente atento a toda e qualquer sensação, ao som da água, ao som da
escova contra seus dentes, a sensação das cerdas zigzagueando por suas
gengivas, tudo acontecendo agora.. Esteja bem ali, sinta qualquer sensação,
qualquer som. Este é um momento presente de atenção plena, total e profunda.
Esteja ali em sua ação, qualquer que seja ela, focalizando atenção na presença, e
219
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

não permitindo a você estar ausente da experiência, através da usual corrente de


pensamentos, e crenças. Pratique focalizar sua atenção na prática diária de
atenção presente minuciosa. Veja quão freqüente conseguimos acessar esse
precioso momento de atenção plena no agora.
Ganhamos uma aprofundada sensação de Paz, conexão, e liberdade, ao
acumularmos mais experiências da presença no momento do agora. Ansiedade,
preocupação, medo e resistência são reduzidos consideravelmente, e nossa
percepção clareia, abre caminho a momentos de genuína realização pura. É
aqui que podemos ver a aceitação de nossa cultura de pensamento, e crença,
compulsivos como uma moléstia, largamente indiagnosticada e intratada. Temos
de nos comprometer a nos libertar de sua influência destrutiva, com toda
urgência, decisão e firmeza.
Idealmente, uma vez tenhamos estabelecido um âmago de Paz interior,
não seremos mais incomodados pelo persistente sentido de ameaça que o ego
usa para atrair alianças a ele. Esse sentido de ameaça se funde com a ilusão de
que somos separados, solitários e desassistidos, nutrindo a necessidade de ter,
de defender e de se tornar.
À medida que desenvolvemos esse âmago de Paz interior,
compreendemos que a verdadeira criatividade e o discernimento íntimo nascem
desse Ser expandido, não sendo derivado do mecânico processo limitado de
pensar, e crer. A verdadeira inspiração sempre vem de além do finito, levando-
nos no sentido da liberação.
Tantos de nós experienciamos o que parece ser doença, depressão ou
acidente, que se apresentam de forma aparentemente randômica. Entretanto,
muito de nosso sofrimento é inconscientemente causado por emoções presas em
nossos corpos. Qualquer sentimento negativo consegue se fazer num bloqueio
destrutivo, que se edifica fisicamente em nossos corpos, e causa moléstia, mal
estar, indisposição, preguiça, cansaço, mau humor, e muitos outros problemas.
É por isso que é importante desenvolver uma atenção em relação às reações de
nossos corpos, e de nossa disposição porque, primariamente, é através do corpo
e da disposição que a emoção se expressa.
É importante cultivar atenção às sensações, e notar onde ansiedade,
medo e raiva ficam localizados no corpo. Nossa saúde física e comportamental
depende dessa atenção mente-corpo, para conseguirmos efetivamente trabalhar
a emoção, o pensar e o crer de maneira zelosa, ou então, no caso de escolhermos
atuar, por falta de zelo, com pensamento, crença e emoção randômicos, o
inevitável resultado é moléstia do corpo, ou da mente.
O ego, expressando-se através do pensar e crer compulsivos, está
sempre tentando consertar as coisas relativas a nós. Um de seus desempenhos
220
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

principais é remover, reprimir ou resistir dores emocionais. Esse é um encargo


dele de tempo integral que opera continuadamente; daí a fieira incessante de
pensamentos, e crenças, que isso gera. O ego empenha-se firme para, na
aparência, eliminar a dor; mesmo assim tudo, que resulta é intensificá-la ainda
mais. Quanto mais forte a mente trabalhe para cessar, estancar e cortar a dor,
maior ela fica. Essa é uma batalha sem fim, com a mente jamais chegando a
uma solução. Por que? Porque o problema é o ego, e não a dor.86

Amor, Alegria e Paz


Amor, Alegria e Paz não são emoções. Amor, Alegria e Paz reais não emergem
de nenhuma fonte fora de nós. Felicidade, tristeza, culpa, raiva e mágoa nascem
de nossas emoções, e são nossos pensamentos e crenças que causam nossas
respostas emocionais – não qualquer aparente pessoa, coisa, circunstância, ou
que seja, fora de nós. Todas nossas emoções são o produto de nossa própria
percepção, ou interpretação e, por isso, estão expostas às suas expressões
emocionais opostas dualistas.
Por exemplo, algo ou alguém nos faz “feliz”, mas também tem igual
capacidade de nos tornar “triste,” por perda, mudança, ou que seja. Ficamos
“contentes” com uma situação, ou pessoa, mas quando a circunstância, ou a
pessoa, não preenche nossas necessidades, nos “frustramos.” E, como muitos de
nós sabemos, o amor humano é da variedade especial (ver Capítulo 4,
Relacionamentos de Amor, neste livro) que, infelizmente, não é Amor real, de
forma alguma, mas está ali, disfarçado, mascarado, em busca de “dar para
tomar”. O amor especial não tem agenda, e por causa disso, é suscetível à
mudança e à cessação, quando sua agenda é ameaçada, contrariada.
Amor Consciente, como dissemos, não tem opostos, é constante,
indestrutível, e se estende a si mesmo, perene e infinito, sem condições ou
acordos, de nenhum tipo. Ele, em absoluto, nada busca, porque sabe ser tudo, de
todas as formas, todo o tempo.
Amor é um estado puro, totalmente interconectado com a Alegria e a
Paz. Experienciar um desses estados é estar dentro desta trilogia inclusiva.
Amor, Alegria e Paz erguem-se além de nossos limitados sentidos. Todos são e
cada um deles é causado por nosso contato central com uma Fonte, que desafia
explicação. Amor, Alegria e Paz induzem em nós um estado temporário de
graça, que reconhecemos como a expressão Unificada de interconectibilidade
emergindo de dentro.

86
Tolle, Eckhard, O Poder do Agora, pg.23 (original)
221
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Amor, Alegria e Paz são estados de ser e, portanto, não conseguem ser
experienciados através do ser-ego. O ego depende de dualidade para tornar sua
existência real, e faz isso através do uso de emoções para contrastar as
sensações. Com o Amor, a Alegria e a Paz não há contraste possível. Eles são as
condições de nosso estado natural de ser, unicamente acessível quando o
pensar, e a crença, são suspensos, e nós e a experiência nos tornamos
inexplicável e completamente imersos na Unicidade. Esses momentos de Graça
são o portal de recuperação de nossa herança consistente de enlevo e êxtase,
dentro do reino, mesmo do tempo e do espaço.
Alguma vez, ou outra, podemos nos lembrar desse instante de imensa
Paz, Amor e Alegria. Esses momentos não conseguem ser definidos por
palavras, e sua magnitude desafia descrição. Por exemplo, o nascimento de um
bebê, um pôr de sol inspirador, uma irresistível conexão com a natureza, ou um
meigo momento de unicidade, compartilhado com a pessoa amada. O momento
presente – o agora – detém tal poder que a duras penas reconhecemos a
magnífica oportunidade que sempre temos, a cada segundo, de começar nossas
vidas de novo, outra vez. Com apenas um momento íntegro consciente,
conseguimos iniciar grande cura, dentro de nós mesmos, e do Universo.
A essência do que somos, sem a ilusão do ego, é Amor, Paz e Alegria.
Então, em realidade, cada um de nós é um fragmento sagrado do Único Ser – A
Fonte. Nesta realidade terrena imaginamos o tempo como real e limitado, e
pensamos em todos e em tudo como separado. A verdade além da ilusão é que o
tempo consegue apenas existir quando estamos sob seu encantamento, existindo
no passado lembrado, ou no futuro imaginado. Isso é o que Eckart Tolle chama
de “tempo psicológico.”87
Dissemos antes que o tempo era puramente a sucessão, um colar de
momento de agora, mas que raramente estávamos lá para experienciá-los em
plenitude. Ocupados em pensar, e em crer, quase sempre perdemos o agora
como está ocorrendo, em sua expressão completa. Portanto, se não estávamos
lá, não estávamos presentes. Para começarmos a reconhecer quem somos e
quem são todos mais e por que estamos aqui, precisamos acessar esse portal
para a mentalidade certa. É no momento do agora, brilhando de tão limpo por
não ter passado, nem futuro, que nossa verdadeira natureza é revelada. Nesse
instante não há medo de culpa, não há passado de medo e nem medo futuro; há
apenas o Ser prístino, que sempre temos sido, e sempre seremos, perenemente.
Esse Ser Unificado já foi completamente intocado, por muitos erros, e aparentes

87
Tolle, Eckhart, O Poder do Agora, p. 46 (original)
222
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

injustiças, causadas pelo ego, e continuará a ser a perfeição magnificente, e


gloriosa, não importa o que.
No agora não há medo. O medo só consegue aparecer em
pensamentos,e crenças, de passado, ou de futuro. Estar inteiramente presente
nesse momento do agora, oblitera o medo. Nosso Ser Unificado perfeito
aguarda que despertemos para Sua perfeição imutada, e reivindiquemos nossa
herança por direito, como co-criadores.
Cada instante agora é límpido, e se estende para sempre. Aí é onde
residem Paz, Amor e Alegria Infinitos, em Sua imutabilidade. Toda vez em que
paramos, conscientemente deixando nossos pensamentos, e crenças, para trás,
entrando num momento do agora, damo-nos conta de que não leva tempo
algum – um estalar de dedos, talvez – para sabermos ser Quem somos, sem
quaisquer restrições do ego. Mesmo que nossos pensamentos, e crenças, se
ocupem com o passado, ou futuro, é importante compreender – vigorosamente e
sem nenhuma dúvida – que coisa alguma, na realidade, existe fora do agora!
Se o agora é eterno, e o tempo é uma ilusão, como conseguimos
entender o tempo no contexto de nossas vidas do dia-a-dia? Cada coisa que
alguma vez fizemos, ocorreu num momento agora. O fato é que jamais fomos a
parte alguma, ou fizemos coisa alguma, fora do momento agora. Mesmo
eventos do futuro aparente ocorrem só no momento agora.
Quando pensamos no passado, tudo que estamos fazendo é trazer de
volta momentos que estão armazenados na mente, lembranças e memórias.
Mesmo assim, todos ocorreram em outro agora, no agora anterior. E quando
estamos relembrando o passado, estamos lembrando disso no agora que
vivemos nesse instante.. O futuro é um agora projetado e quando ele chega – na
aparência – nós o recebemos no agora.88 Se nossa vida é puramente um colar de
momentos agora, com o passado sendo lembrado e o futuro só imaginado,
talvez consigamos então perguntar a nós mesmos:
“Em meu colar de vida, em quantos momentos de agora estive verdadeiramente
presente?”
Conseguimos tomar a decisão consciente de observar nossos
pensamentos, e crenças, tornando-nos o vigia – atento e cuidadoso – de nossas
mentes. Conseguimos praticar isso mantendo-nos em vigília quanto a nossos
pensamentos, crenças, emoções e reações. Numa situação inconfortável, que
instala a reação em nós, tentemos nos manter atentos, sem julgamento de nós
mesmos, da situação, ou de outros. Deixe tudo ser neutro, e vigie quão

88
Tolle, Eckhart, O Poder do Agora,p.41 (original).
223
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

repetidamente nós sondamos pensamentos, e crenças, do passado, ou do futuro.


Com prática nos identificaremos mais como o observador, do que sermos
governados por nosso pensar, ou crer. Finalmente, ganhamos uma base segura
no estado de ser. Somos os observadores imparciais, capazes de acessar a
enorme Paz e a claridade, disponíveis a nós, em qualquer momento escolhido.

Chaves Poderosas para a Liberdade


Aprender como abandonar o julgamento e a culpa nos fornece duas das mais
poderosas chaves para descerrar a porta para a liberação pessoal. Sem
abandoná-los, ficamos inconscientemente presos no atoleiro do tempo
psicológico acumulado. Isso nos impede de entrar e estar no presente, porque o
negamos muitas vezes, através de sensações de ressentimento, arrependimento,
mágoa, culpa ou tristeza. O que não nos damos conta é que essas sensações
negativas são sentidas em relação a emoções referentes a histórias, ou situações
de vida, que nós mesmos criamos. Elas não existem independentes de nossa
própria interpretação, quer rotulemos nossas histórias de negativas, ou positivas,
e asseguremos que nosso estado emocional esteja de acordo com nossa
percepção particular. Por exemplo, se tivemos um relacionamento longo, e
nosso parceiro, ou parceira, nos deixa por outro, ou outra, segundo o ego,
poderíamos interpretar essa história de muitas maneiras, sendo que todas elas
nos levariam a um estado ainda mais separado. Sensações de abandono,
ressentimento, e amargura mancham nossa história, tornando-se impedimentos
(bloqueios) para nossa disponibilidade de entrar no poder de cura do novo
momento do agora. É por isso que se torna tão importante questionar qualquer
história nossa que nos retrate como vítima, de qualquer espécie.
As pessoas e situações as quais, mais provavelmente, temos de
rechaçar, usualmente detêm o maior potencial de cura, por terem nos exposto
aos nossos medos assombrados, bloqueios ao Amor e liberdade presentes. Não
precisamos – necessariamente – voltar ao nosso passado, para analisá-lo e,
assim, conseguir curá-lo; a nós sempre são trazidas, no agora, todas as
situações, e as pessoas perfeitas, e idênticas, com as quais conseguimos
trabalhar por meio dos mesmos bloqueios, que ali estiveram por tanto tempo.
Essa é a beleza, utilidade e a perfeição absoluta, do agora. Qualquer um de nós,
a qualquer tempo consegue, com disponibilidade de todo coração, curar
qualquer dor passada, através de relacionamentos presentes. Isso é boa notícia
para os que tenham outros significativos que não mais estejam fisicamente
presentes entre nós. Qualquer ressentimento que carreguemos em culpa, se
interpõe entre nós e o Amor, e servem para nos levar a buscar distrações em
outra parte, para mitigar nosso desconforto presente. Nosso ego jamais
224
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

agradecerá nosso reconhecimento de que a fonte de nosso desconforto tem um


sentido de divergência com a realidade. A negação da realidade, muitas vezes,
cria-nos um longo, e difícil, curso de vida. A liberdade vem de nossa
disponibilidade de assumir total e completa responsabilidade pela realidade que
criamos. A realidade em que vivemos é uma projeção que parte de detrás de
nossas lentes da percepção e, se essa lente ficou distorcida, suja, enlameada,
nossa realidade espelhará essa distorção.
A situação que, mais certamente, nos garante o maior potencial para
entrar no agora, para a cura de nossa percepção, é um relacionamento pessoal
próximo (ver Cap. 4, Relacionamentos de Amor, deste livro). Ao mesmo tempo
em que esses relacionamentos usualmente nos trazem o que queremos, por
vezes eles também nos desafiam causando conflito, e dor. No evento de
desunião, como uma discussão, ou desentendimento acalorado com a pessoa
amada, podemos escolher usar a atenção dos momentos do agora. Por nos
decidirmos ser o observador de nossas reações, em vez de o participante
emocional, damos a nós o poder, por meio de uma ferramenta de cura
maravilhosa, o agora. Uma tremenda recuperação da imobilidade passada é
alcançada em cada momento agora que escolhamos estar consciamente
presentes, sem julgamento ou ataque:
Eu sou responsável pelo que vejo.
Eu escolho os sentimentos que experimento e
Eu decido quanto à meta que quero alcançar.
E todas as coisas que parecem me acontecer
Eu as peço e as recebo conforme pedi....
Tudo que te é pedido é que abras espaço para a verdade. Não te é pedido
que faças ou executes o que está além da tua compreensão. Tudo o que te é
pedido é que a deixes entrar; apenas que pares de interferir com o que
acontecerá por si mesmo; simplesmente reconheças de novo a presença do
que pensaste que tinhas descartado.
Que estejas disposto, por um instante, a deixar os teus altares livres
do que depositaste sobre eles e o que realmente lá está tu não podes deixar
de ver. O instante santo não é um instante de criação, mas de
reconhecimento. Pois o reconhecimento vem da visão e da suspensão do
julgamento. Só então fica possível olhar para dentro e ver o que tem de
estar lá, claramente visível e totalmente independente de interferência e
julgamento. O desfazer não é tarefa tua, mas de fato depende de ti dar
boas-vindas a isso ou não. A fé e o desejo caminham de mãos dadas, pois
todas as pessoas acreditam naquilo que querem. (T-21.II.2:3-5;7:6-8;8:1-6)

225
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Problemas e Agora
Quando estamos consumidos por problemas não estamos presentes no agora,
porque estamos ocupados com o tempo psicológico, entretidos no passado, ou
no futuro. O que usualmente fazemos é ter esperança que o futuro melhore, e
tentamos suportar o presente, à espera dessa hipotética melhora futura. Assim,
o presente é consumido por infortúnios. Então, fugimos da própria condição
onde a resposta e a liberdade repousam: o pacífico momento agora. O ego é
obcecado por comando, controle e resolução de problemas. Sua estratégia de
nos distrair de seu medo de nossa rendição e capacidade de deixar fluir, e nos
mover para a atenção ao momento presente, porque se ousarmos dar uma
“pausa ao ego,” todos nossos problemas se desvanecem, e nos catapultamos
para um estado de ser seguro e – o que é melhor – a salvo. Aí somos
genuinamente felizes, porque a infelicidade não consegue existir nesse lugar.
No passado havia algumas coisas que não aconteciam de acordo com o
plano. Como conseqüência, você experienciou, em diferentes ocasiões, uma
série de sensações, de desapontamento direto para devastação. Seu ego ainda
está resistindo o que aconteceu no passado. Por quê? Porque ele considera que o
que houve foi errado, e não tem valor. Ele pinta um quadro no qual você foi a
vítima de circunstâncias e, por meio dessa crença, ele alimenta sua necessidade
de controle do futuro. Quando o Agora chega, a primeira coisa que o ego faz é
resistir a O que é. Daí ele cria a “esperança,” uma mentira ‘linda’ para manter
você em movimento, assegurando-se de que você evite o agora, por focalizar
“esperanças” fluidas do futuro.89 Você consegue apenas ver como
tortuosamente o ego manobra nossa atenção, para nos fazer estar em qualquer
outra parte, mas nunca no agora. Nossa infelicidade vem por evitarmos o
agora, e isso é exatamente o que o ego quer, e gosta. Dessa maneira
permanecemos presos na armadilha delusória do método do ego de resolver
problemas, levando em conta um passado intocável e um futuro inatingido.
A verdade é que, exatamente neste mesmo momento, com problemas ou
não, tudo conosco está certo. Se mantivermos nosso foco afiado no momento
presente do agora, incorrupto pelos pensamentos, e crenças, de amanhã, ou da
semana passada, do ego, nos damos conta de que, decididamente, não somos
nossos problemas, ou as história de nossa vida. Elas apenas seguem adiante,
sem importância, nem valor. Há grande Paz a usufruir aqui, em vez disso.
Um dos grandes benefícios de acessar o agora é que isso permite que os
assim chamados problemas sejam resolvidos, sem influência egóica. O ego não
conseguiria sobreviver sem problemas, porque sua própria identidade foi feita a

89
Tolle, Eckhart, O Poder do Agora, p. 51-52 (original)
226
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

partir deles, e se rejubila neles. Separação, desigualdade e injustiça, seu


alimento vivo, sustentam sua existência. Idealmente, o caminho para nosso Ser
Unificado requer que abdiquemos as soluções de problemas do ego, e nos
rendamos ao Conhecimento da Inspiração Universal. Isso significa que
precisamos estar atentamente cônscios como o observadr de nosso pensar,
crenças, sensações e ações, pedindo ajuda – sem cessar – à Orientação Superior.
O agora tem todas as respostas que o ego – limitado e julgador – jamais
consegue nos oferecer.

Nossa Vontade Unificada


A vontade de nosso ego é, puramente, uma defesa contra a Realidade. Sob essa
defesa estão a Verdade e o Amor. A constante preocupação do ego com controle
fica evidente toda vez que ele resiste à realidade, e tenta redirecioná-la, de
acordo com seu sistema de valores, para seus propósitos. Ele não tem, em tempo
algum, nenhuma referência quanto ao que seja nosso maior interesse; mesmo
assim, segundo nossa cultura, nós continuamos a propiciar a ele nossa atenção e
fidelidade indivisas. Pensamos estar rejeitando uma estrutura externa, mas, em
essência, qualquer rejeição à realidade é uma rejeição a nós mesmos e À Fonte.
A mensagem subjacente do ego é que algo esteja errado. Isso nos causa
contração e perda de fé, tornando-nos hostis, negativos ou deprimidos. Quando
nossa realidade se apresenta como incongruente pela percepção de nosso
limitado ego, o medo ensombra nossos pensamentos, e sucumbimos à crença de
estarmos assediados por uma sensação persistente de ameaça, e riso que nos
torna receosos. Estamos habituados a traduzir realidade em um contexto
negativo, a não ser que ela esteja alinhada com nosso livre arbítrio (ego).
Julgamos o que seja bom e mau, quem seja bom e mau, onde e quando esteja ou
seja bom ou mau, enquanto, mental ou fisicamente, administramos nosso
veredicto justificado da pessoa, ou da situação, do lugar ou da ocasião.
Se, ao menos, sem qualquer dúvida, soubéssemos que a realidade, como
ela se apresenta, não é nossa ocupação. Nossa ocupação, de fato, é reconhecer e
confiar que a realidade é um meio pelo qual conseguimos despertar. A
realidade, quando vista corretamente, é uma dádiva do aqui e agora, através da
qual desfazemos todos os bloqueios, ao ficarmos cônscios da presença do
Amor. A única coisa estipulada aqui é que nos comprometamos, por vontade
própria, a renunciar a qualquer interpretação anterior que tenhamos disso, e
entreguemos a realidade à Inspiração Universal, para que a Verdade seja
revelada.
Todas nossas necessidades de controlar pessoas, tempo, situações e
resultados são todas defesas contra a Realidade. Todos os planos (a não ser os
227
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

dirigidos pela Inspiração Universal) são também defesas contra a Realidade.


Desapontamento, culpa, raiva, e frustração são todos indicadores clamando-nos
à busca da Verdade. Qualquer angústia, ansiedade, ou desespero é uma
imediata dica, um alarme, um pisca-alerta, mostrando-nos que aí há necessidade
de reinterpretação. Não há essa coisa chamada situação ruim, mas, unicamente,
uma ocorrência que pede para ser reinterpretada.
À medida que evolvemos espiritualmente, aprendemos a avaliar
qualquer resistência à Realidade, como um espelho, refletindo onde nossa
percepção está desalinhada. Quando desistimos de resistir a O Que É e o vemos
como um amigo, e jamais como um inimigo, o medo cede, e desponta a clareza;
agora a Orientação Superior é ativada e a nós são mostradas as respostas, bem
como as perguntas, às quais, anteriormente, estávamos cegos. A Fonte avança
em Seu caminho através de todas as ilusões por ser Amor, sendo Verdade.
Enquanto ainda percebermos e crermos em nosso mundo ilusório, a própria
Verdade sempre está lá, pacificamente estirada sob nossas muitas delusões.
Nossa liberdade é alcançada através desse momento de reconhecimento de que
nossa percepção de O Que É, não é, necessariamente, a Verdade unida ao nosso
sincero pedido por mentalidade certa.
Quando o mundo aparenta ser randômico e caótico, a Inspiração
Universal se infiltra em todo ele, transmutando a ilusão sempre na Meta Única,
para nos incitar a reconhecer, não a dor, a tristeza e a separação, mas a
Verdade.
E tudo o que precisas fazer é desejar que o Céu te seja dado no lugar do
inferno, e cada tranca ou barreira que parece manter a porta trancada com
firmeza impedindo a passagem, meramente se desfará e desaparecerá. (T-
26.II.8:5)

A futilidade de Planos
Nós, bem inocentemente, cremos que planejar seja um componente construtivo,
útil e necessário, do que depende a maioria de nossas metas. Entretanto, o
desenvolver da confiança nos pede para renunciar a nossos planos,
compreendendo que os planos a partir de nosso ser-ego sempre emergem da
semente da separação.
Talvez não seja fácil perceber que planos iniciados por nós mesmos não
passam de defesas e todos foram feitos para realizar esse propósito. São o
meio pelo qual a mente assustada quer empreender a sua própria proteção,
ao custo da verdade. Isso não é difícil de reconhecer em algumas das
formas que toma o auto-engano, em que a negação da realidade é bem
228
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

óbvia. No entanto, fazer planos não é freqüentemente reconhecido como


uma defesa. (E-pI.135.14:1-4)
O intento subjacente, e quase sempre inconsciente, por trás de todos os
planos do ser-ego, é para nos conturbar e levar para longe da cura, direto ao
mergulho no caos, não importa quão renomada sua apresentação possa ser.
Nosso Ser Unificado, por outro lado, extrai seu impulso – com direção e sentido
– de um único intento, o Amor. A comunicação direta com a Inspiração
Universal nos leva a pessoas e situações que melhor atendam nosso processo
particular de desfazer; ela conhece quais são as melhores decisões e direções a
tomar, sempre em nosso benefício.
Sem desfazermos nossas ilusões, não conseguimos ser liberados. Amor,
Paz e Alegria cônscios, em vez da resistência, cada vez mais, são revelados, no
momento presente, à medida que olhamos cada instante com atenção, sem
defesas. Aprendemos que, em qualquer tempo em que sintamos resistência, é
uma oportunidade de reconhecer, e agradecer, a resistência, sem culpa, ou
julgamento, e abdicar à Verdade de que não percebemos os nossos maiores
interesses.90 Há tanta liberdade ganha em reconhecer, aberta, e sinceramente,
que apenas não sabemos coisa alguma do que é interpretado por nosso ego.
Realmente não sabemos quem são as pessoas, para que servem coisas e
situações, por que estamos aqui e como corrigir essas mesmas coisas, e
situações. Verdadeiramente uma grande dádiva é a humildade de dizer,
convicto:
“Quero me sentir confortável com não saber.”
No mesmo segundo em que renunciamos à nossa limitada experiência de saber,
ficamos instantaneamente aliviados de nossa carga. Nesse instante, somos
unidos à Vontade Unificada, quer reconheçamos isso, ou não.
Uma mente curada não faz planos. Executa os planos que recebe ouvindo a
Sabedoria que não lhe é própria. Espera até que lhe seja ensinado o que
deve ser feito e, então, começa a fazê-lo. Não depende de si mesma para
coisa alguma, a não ser para a sua adequação em cumprir os planos que
foram designados para ela.
Uma mente curada está livre da crença de que tem de fazer planos,
mesmo sem poder saber qual o melhor resultado, quais os meios de
consegui-los, ou como reconhecer o problema que o plano pretende
solucionar. (E-pI.135.11:1-4;12:1)

90
E-pI.24, UCEM
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Apelar ao não saber liberta nosso medo, e resistência, porque ambos são
produto da necessidade do ego de saber tudo. Ao admitir que não sabemos,
pedimos à Vontade Unificada para iluminar a nós, e à situação.
Suponhamos que nos sintamos medrosos, culpados, desconectados e
bravos; simplesmente observando essas sensações, e entregando-as ao não
saber, convidamos a Vontade Unificada para assumir. No trono do ego repousa
um morro massivo de culpa, que se equivale à nossa necessidade de julgar e
condenar, que é uma tentativa de deslocar esse peso da culpa. Essa sensação
permanente de ameaça parte diretamente da insistência do ego de que nos
sintamos culpados em nosso âmago, donde a obsessão do ego por controle
através de sua vontade.
Abrir para a Vontade Unificada significa que reconhecemos que a culpa
move nosso ego, nossos medos, e nossos desejos, que comunica isso ao livre
arbítrio, gerado do medo e destinado a nos separar, uns dos outros, de várias
maneiras. Com essa compreensão parece lógico passar a querer abrir mão de
nossa necessidade de controlar, julgar, e planejar, para, voluntariamente, abraçar
o processo de desenvolvimento da confiança, que se alinha perfeitamente com
nossa identidade e propósito.
Se houver planos a serem feitos, eles te serão comunicados. Talvez não
sejam os planos que pensavas serem necessários, ou as respostas para os
problemas que pensavas estar enfrentando. Mas são resposta para um
outro tipo de pergunta, que permanece sem resposta e precisa ser
respondida até que a Resposta venha a ti. (E-pI.135.23:2-4)
Uma dos maiores equívocos de percepção que fazemos é de pensar que
alinhar a mente com a Vontade Unificada significa perder algo de valor. A
palavra ‘valor’ é a única percepção equivocada aqui, porque em relação à
Verdade, perderíamos algo, sim, mas culpa, medo, e sofrimento, nem com
muita imaginação, seriam capazes de ser classificados como algo de valor.
A percepção errada é a vontade de que as coisas sejam como não são. A
realidade de todas as coisas é totalmente inócua, pois a condição de sua
realidade é a inocuidade total. ... Tu não tens de buscar a realidade. Ela
buscará a ti e te achará quando tiveres satisfeito as suas condições. ... A
integridade cura porque é da mente. Todas as formas de doença, até
mesmo a morte, são expressões físicas do medo do despertar. Elas são
tentativas de reforçar o sono por medo do acordar. ... A cura é a libertação
do medo de despertar e sua substituição pela decisão de acordar. A decisão
de acordar é o reflexo da vontade de amar, já que toda cura envolve a
substituição do medo pelo amor. (T-8.IX.2:1-2,4-5;3:1-3;5:1-2)
230
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Somos Amor, só Amor, nada mais que Amor. Uma vez decidamos, de
coração inteiro, adotar a Percepção Unificada, aprenderemos abandonar, de uma
vez por todas, o sistema de pensamento do ego. Daí passaremos a ver a
realidade de todo o dia como o veículo perfeito através do qual nossa
transformação acontece. À medida que a nossa resistência a O Que é abrande,
nossa Confiança na Vontade Unificada aumenta. Ao longo da jornada
ganhamos confiança ao olharmos para trás para ver não desastre, mas,
simplesmente, o desabrochar de nosso caminho, seu único valor sendo que esse
percurso, no final, nos leva ao despertar. Então vemos a futilidade de nossa
inútil resistência à realidade, agradecidamente aceitando que seu único
propósito foi o de nos ajudar a desfazer a percepção equivocada que, por tanto
tempo, nos apartou do Amor.
Lembra-te que a Vontade de Deus já é possível e nenhuma outra coisa
jamais o será. Essa é a simples aceitação da realidade porque só isso é real.
Não podes distorcer a realidade e conhecer o que ela é. E se, de fato,
distorces a realidade, vais sentir ansiedade, depressão e, em última
instância, pânico, pois estás tentando fazer com que sejas irreal. Quando
sentes essas coisas, não tentes procurar pela verdade além de ti mesmo,
pois a verdade só pode estar dentro de ti. (T-9.I.14:1-5)
Pertencemos á Fonte; somos partes viventes do Próprio Amor. Em cada
um de nós a Inspiração Universal espera por nosso reconhecimento de nosso
próprio Ser Unificado.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

231
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

CAPÍTULO 8

A V E R D A D E

Ser livre, liberado, ou desperto, é abraçar a Verdade. A Verdade é grandemente


temida pelo ego, porque parar de resistir à realidade revela a Verdade e isso,
obrigatoriamente, resulta no fim – dissolução, desfazimento, extinção, morte –
do ego. Abraçar a confiança significa conscientemente terminar nossa discussão
com a realidade, como ela se apresenta a si mesma, através de nós, de outros,
situações, circunstâncias e toda materialidade. Significa abdicar de nossas
necessidades de controle de todas as coisas, porque, afinal, qualquer
necessidade de controle equivale a resistir, ou negar, a Verdade. À medida que
entendemos mais, conseguimos começar a captar que a realidade (vida de todo
dia) é como se apresenta. Tanto quanto a realidade pode ser um sonho criado
pelo ego, a Fonte está sempre presente, emanando de cada aparente partícula
percebida, em nosso universo cósmico. Nosso encargo é não resistir a essa
realidade; nossa incumbência é abraçá-la! Ela não é para ser transcendida, ou
ultrapassada, mas para nos integrarmos a ela, consciente e voluntariamente. A
Verdade, e a subseqüente confiança que ela cria, vem da renúncia e da
abdicação do controle.
Não somos nossos pensamentos, corpos, crenças, valores ou conquistas.
Essa nossa vida é preciosa, não importa o quanto se torne feia. Por que? Porque,
em todos seus rodopios, meneios e trejeitos, ela sempre nos oferece mais uma
oportunidade de reenquadrá-la, por não tomá-la pessoalmente, não a julgar, não
a manipular, não a controlar, mas apenas permiti-la. A cada momento, de novo,
é nos dada a oportunidade de ou ver a ilusão, ou a Verdade. É inteiramente
entregue a nós a decisão da escolha da percepção que usaremos. Olhando de
frente como se apresenta essa realidade, e todos nossos relacionamentos dentro
dela, é a mais perfeita situação de aprendizado – a sala de aula mais perfeita e
correta – que qualquer um de nós conseguiria, alguma vez, precisar, querer ou
esperar ter. Qualquer confusão, dor ou sofrimento nasce da resistência – mental,
emocional, ou física – em aceitá-la como ela é.
Nada sabemos de Real através do ego. Quando apreendermos esse fato,
totalmente, nos damos conta de que estamos seguros para abrir mão de nossa
necessidade de saber. Pensamos que sabemos, e que necessitamos saber porque
a verdade é que o ego vê o conhecer como uma oportunidade de controle,
direção e manipulação. Ele estabelece um ponto de vista, e adiciona isso à sua
lista de coisas a defender, na manifestação de dúvida, desconfiança e
233
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

separação. Todo esse processo de desenvolvimento da confiança (despertar), e


renúncia do ego, é um processo de desfazer, desaprender, desarticular e
desmontar.
Quando uma aparente adversidade surge, lembre-se sempre de que se
trata – invariavelmente – de uma oportunidade de aprendizado disfarçada. Ela
jamais será para nos punir, ou para nos guiar errado. Não importa quão
desagradável possa se tornar, ela está aguardando nosso reconhecimento para
vê-la como um catalisador, pelo qual desfazemos nossas percepções disso, no
passado ilusório. Antes isso foi desastre, dor, má sorte; agora se torna uma
oportunidade de pedir pela Verdade, que está debaixo de sua aparência – a
pedir uma re-interpretação.
Entrar na passagem para a Verdade nos exige a abdicação de nossa
sensação de impotência. A lição a abraçar aqui é dupla:
1 – “Não percebemos os nossos maiores interesses;”91 e
2 – “Eu não sou vítima do mundo que vejo.”92
A Verdade e a Confiança não coexistem com dúvida e consciência de
vitimação. Para alcançar a Verdade temos de renunciar à nossa incerteza e
percepção de vitimação. Então, no mesmo grau em que consciente, ou
inconscientemente, crermos ser uma vítima desamparada, no mesmo grau
resistimos à Verdade e, em conseqüência, à Confiança. É para isso que serve a
renúncia do ego, para nos ajudar a abandonar nossa resistência à Verdade, com
o que aumentamos nossa Confiança.
Permita todo instante à Verdade. Não se deixe limitar pelos desvios de
“picos” da espiritualidade, ou de “fossos” do ego. Todos são meras dispersões.
Deixar vir a Verdade, segundo a segundo, não é uma experiência a ser buscada,
e conseguida com esforço; ela é a humildade abertamente permitindo que nossa
realidade nos ensine a Verdade, à medida que, ela própria, se desdobra. Nossa
resistência é a única coisa que consegue bloqueá-la.
Não importa onde estamos, ou quais sejam as circunstâncias de nossa
vida, talvez sempre tivemos, dentro de nós, os meios para acessar a Verdade,
mas sem jamais lançar mão deles. Tudo que é preciso é:
• Comprometimento absoluto com a Verdade.
• Disponibilidade de desistir do controle e estender o Perdão Quântico.
• Vigília e disciplina consistente pela mentalidade certa

91
N.T. – E-pI.24,UCEM
92
E-pI.31, UCEM
234
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

• Atenção diligente, estar plenamente presente e questionar tudo, todas as


nossas crenças, com auto-honestidade radical.
• Entrega de percepção, pensamentos, e emoções à Inspiração Universal para
fazer brilhar a Verdade subjacente.
Por sermos demasiadamente programados a perceber carência dentro de nós
mesmos, e em nossas vidas, pode ficar difícil, ou absurdo, reconhecer que nós
somos e temos tudo que precisamos para completar essa jornada. A Verdade, no
entanto, é que tudo que precisamos para despertar está aqui mesmo, e agora.
Se, de todo coração e com toda alma, desejamos retornar ao Amor, viver, aqui
na terra, conscientes, na Realidade Máxima, então redescobriremos nossa
identidade, bem como o propósito que nascemos para cumprir.
Humildade, intenção autêntica e sincera, e auto-honestidade radical
estão todas disponíveis a nós, em todos os momentos, em toda parte. Não há
situação, circunstância ou pessoa capaz de nos impedir coisa alguma. Qualquer
apreensão, escusa ou necessidade de controle consegue ser reconhecida como
resistência do ego em mudança de transformação. Sofrer, viciar-se em ter e se
tornar, ter relacionamentos especiais, consciência de vitimação, dar para
tomar, julgar, ou atacar são todos produtos da mentalidade errada.
Enquanto que, na realidade, isto aqui não seja nem certo nem errado,
bom ou ruim, continuamos aparentemente a existir dentro deste sonho, e
enquanto parecer estarmos adormecidos neste sonho, continuamos, na
aparência, a experienciar pesadelos. Se ouvirmos o chamado de despertar, por
que quereríamos pegar no sono de novo, e retornar aos nossos ilusórios
pesadelos? Não seria muito melhor ficarmos livres dos pesadelos, de uma vez
por todas? Não nos atiraríamos nas oportunidades de liberação, não só para nós
mesmos, mas também para todos?

Um Guia para Tomada de Decisão


Quando quisermos saber o melhor curso de ação a tomar, a resposta para uma
pergunta, ou qual escolha seguir, é sábio praticar um processo de consulta
interna, como o que se encontra abaixo. Como quase todas nossas decisões, e
respostas, vêm do sistema de crenças do nosso ego, é importante visualizar
nossas escolhas, antes de aceitá-las cegamente. Dessa maneira aprenderemos,
depressa, como distinguir entre as respostas, ou escolhas, do ego, e as do Ser
Unificado, economizando, assim, muito tempo e possíveis sofrimentos.
O questionamento interno, e o processo de visualização para decisão, se
tornará automático, se praticado adequada, ordenada e regularmente. Antes de
fazer uma escolha, confira suas opções, de acordo com o sumário abaixo:
235
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Opção ou escolha do ego é sentida como: exaltação, sensação de apego, ou


ficar atado a um resultado, quando, lá no fundo, ele é sentido como errado.

Ele deseja: Especialismo (ficar separado e exclusivo), não se estender, não


dar, ou partilhar; segurança, comando, controle, proteção e/ou defesa de
emoções, corpo físico e/ou mente; como nada lhe basta, está sempre à cata
do que pensa não ter, ainda.
Pistas: Distração, competitividade, julgamento, acusação, carência, escassez,
medo, culpa, raiva, exclusividade, separação, dar para conseguir,
manipulação, supressão, agressividade, ataque, violência.

Opção ou escolha do Ser Unificado é sentida como: desafio ou frustração dos


desejos do ego, entretanto, lá no fundo é sentido como certo.

Ele deseja: Unidade, integridade, interconexão e união – não tem


necessidade de ser visto como especial; extensão, dar e compartilhar
incondicional; como já está salvo não tem necessidade de defesa ou
proteção; como já tem tudo, nada lhe falta.
Pistas: Perdão, compartilhamento, doação, inclusividade, confiança,
apreciação, atenção, abertura, natureza incondicional, cuidado, doçura,
gentileza, paciência, cuidado, compaixão, misericórdia, abundância, Amor,
Alegria e Paz constantes, incondicionais, afinal.

O Começo
Podemos saber e sentir que queremos Amor e liberação, mas perguntemo-nos:
estaremos preparados para abandonar o sistema de pensamento responsável por
nos fechar fora deles? Dizemos e sentimos que queremos Paz. Amor e Alegria,
mas estaremos preparados para deixar ir nossas próprias percepções de
julgamento e ataque? E sabemos e sentimos querermos experienciar
abundância, mas estaremos prontos e dispostos a soltar nossas percepções de
escassez e abraçar a Verdade de dar é receber?
A Verdade é toda poderosa. Se conseguíssemos contemplar esse
símbolo ímpar com todo intento reverente e amoroso que mobilizássemos, o
mistério por trás da palavra se tornaria conhecido a nós. A estrada que leva à
Verdade se consiste de nossa ausência de defesas. E se situa na aceitação e no
reconhecimento de O Que É, é. É o desejo de entrega à Fonte de todo controle e
sofrimento, e o despertar para a Realidade de que só há Uma Vontade e que

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

todos somos expressões dessa Única Vontade. Somos todos Um. Não há busca
a ser feita, nenhum esforço a sem aplicado, nada a ser realizado.
Há, entretanto, um sonho, do qual estamos sendo chamados a despertar;
um sonho de limitação e separação. Cada um de nós consegue despertar agora
simplesmente pela escolha da Paz. Paz é Verdade, é Amor.
Ao longo deste livro resumimos o perfil de um meio pelo qual
conseguimos todos despertar por completo para a verdade. Sua liberdade reside
dentro de você, assim como a Verdade, a Paz e o Amor, porque isso é Quem
você é.
Quando você ouvir – porque você irá ouvir, com absoluta certeza – o
Chamado à Verdade, você reunirá coragem, comprometimento e
disponibilidade suficientes para liberar o sonho, e reclamar sua herança como
um co-criador magnificente que é. Esse é o fim do sofrimento, porque todo
sofrimento é meramente o medo do despertar.
• • • • •
Tu vais lembrar-te de tudo no instante em que desejares totalmente, pois se
desejar totalmente é criar, o exercício da tua vontade terá afastado para
longe a separação e, ao mesmo tempo, terá feito a tua mente retornar para
o teu Criador e às tuas criações. Conhecendo-as, não sentirás desejo de
dormir, mas apenas desejo de estar desperto e ser contente. Os sonhos
serão impossíveis, porque só vais querer a Verdade e sendo, afinal, a tua
vontade, ela será tua. (T-10.I.4:1-3)

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

237
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

A P Ê N D I C E I

“ O T R A B A L H O ”

©2002 Byron Katie, Inc. Todos os direitos reservados. Para mais informações
a respeito de O Trabalho, visite www.thework.com

I N S T R U Ç Õ E S C O M O F A Z E R
“O TRABALHO”

Seja sincero e confirme: Você realmente quer conhecer a verdade?

“O Trabalho”, como o denominamos, é uma ponderação sobre alguém a quem


você ainda não perdoou cem por cento. Trata-se de estar atento ao que sua
mente responde, não de mudar sua mente. Leia as perguntas constantes do
Fornulário. Dê-se um tempo. Deixe sua mente responder; espere até que as
repostas mais profundas, em sua mente venham à tona; daí pondere sobre cada
uma de suas respostas. Feitas as ponderações, escreva as respostas, em plena
sinceridade e pureza, nos espaços em branco. Respondidas, releia tudo e
investigue as respostas dadas, revise cada uma delas, com base nas quatro
perguntas, abaixo, e depois faça a inversão, indicada depois do formulário.

Questões Básicas para Fundamentação das Respostas

1.Isso é verdade?
2.Você consegue absolutamente saber que isso é verdade?
3. Como você reage quando pensa esse pensamento?
4.Quem você seria sem o pensamento?

Aqui está um exemplo de como as quatro perguntas poderiam ser aplicadas na


declaração “Paulo deveria me entender.”

1. Isso é verdade? É verdade que ele/a deveria entender você? Aquiete-


se.aguarde, calmo, a resposta do coração.

2. Você consegue absolutamente saber que isso é verdade? Conclusivamente,


você consegue realmente saber o que ele/a deveria, ou não, entender? Você
consegue absolutamente saber o que é do melhor interesse dele/a entender?

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

3. Como você reage quando tem esse pensamento? O que acontece quando
você pensa “Paulo deveria me entender” e ele não entende você? Você
experiencia raiva, zanga, aflição e frustração, ou o que? Você dá a ele aquele
“olhar”? Você tenta mudá-lo de alguma forma? Como se sente reagindo assim?
Esse pensamento traz para sua vida tensão, ou paz? Aquiete-se para ouvir sua
mente.

4. Quem você seria sem o pensamento? Feche os olhos. Veja na mente o


quadro de você na presença da pessoa que você quer que entenda você. Agora,
apenas por um momento, imagine-se olhando para a pessoa sem o pensamento
“Eu quero que ele/a me entenda”. O que vê? O que sente? Como seria a sua
vida sem esse pensamento?

FORMULÁRIO PARA RESPONDER


“O TRABALHO”

©2002 Byron Katie, Inc. Todos os direitos reservados. Para mais informações
a respeito de O Trabalho, visite www.thework.com

JULGUE SEU VIZINHO • RESPONDA


• FAÇA-SE QUATRO PERGUNTAS
• INVERTA SUAS RESPOSTAS

Seguindo as instruções acima, preencha os espaços em branco do formulário,


escrevendo sobre alguém a quem você ainda não perdoou cem por cento. (Não
escreva ainda sobre você mesmo.) Use sentenças curtas e simples. Não se
censure. Como se a situação estivesse ocorrendo agora mesmo, tente, outra vez,
experienciar plenamente a zanga, ou dor, ou aborrecimento, ou que seja, pelo
que passou. Use essa oportunidade para expressar seus julgamentos no papel.
Leia com atenção cada pergunta, antes de responder.
1. Quem dá raiva, confunde, aborrece ou desaponta você, e por quê? Do
que é que você não gosta?

[Por exemplo: Estou zangado/a com Paulo porque ele não me ama. Estou
confuso/a com Paulo porque _______ ...etc.]

___________________________________________________________
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

___________________________________________________________

___________________________________________________________

2. Como você quer que ele(s) mude(m)? O que você quer que ele(s)
faça(m)?

Eu quero que________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

3. O que eles/as deveriam, ou não, fazer, pensar ou sentir? Que conselho


você lhes daria?

Eles/as deveriam/não deveriam _________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

___________________________________________________________

4. Você precisa de alguma coisa deles? O que eles/as precisar fazer para
você para tornar você feliz?

Eu preciso_________________________________________________

___________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

___________________________________________________________

5. O que você pensa deles/as? Faça uma lista.

______________________ é___________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

6. O que você não quer experienciar com aquela pessoa outra vez?

Jamais quero que____________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

A Inversão

Terminadas e revistas as respostas, agora, inverta suas respostas. A inversão é


uma oportunidade de considerar o oposto daquilo que você crê ser verdade.
Você pode encontrar várias inversões para cada resposta. Por exemplo, “Paulo
deveria me entender” fica invertida para:

• Paulo não deveria me entender. (Não é assim de fato algumas vezes?)

• Eu deveria me entender. (É minha incumbência, não dele.)

• Eu deveria entender Paulo. (Posso entender que ele não me entenda?)

Deixe-se experienciar plenamente as inversões. Para cada inversão, pergunte-se


”Isso é tão verdade quanto o que eu respondi, ou mais verdade?” Isso não diz
respeito a se acusar, se incriminar ou fazer você sentir-se culpado. Isso trata de
descobrir ‘alternativas’ que consigam dar-lhe paz.

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

A Inversão para questão nº 6

A inversão para a resposta nº 6 é um pouco diferente:

“Nunca mais quero experienciar uma discussão com Paulo outra vez”, é
invertida para

• Estou disposto/a a experienciar uma discussão com Paulo outra vez, e

• Aguardo com interesse experienciar uma discussão com Paulo outra vez.

A afirmação nº 6 trata de dar boas-vindas a todos seus pensamentos e


experiências, de braços abertos. (seja conciso, consistente e verdadeiro)

Arremate de “O Trabalho”

Se sentiu qualquer resistência a algum pensamento, O Trabalho não conseguiu


ser satisfatoriamente feito. Repita-o em outra oportunidade. Estamos todos aqui
só para aprender. Trata-se de estar atento ao que sua mente responde, não de
mudar sua mente.

Quando você conseguir – tranqüilamente – desejar ter, com interesse, as


experiências que hajam sido inconfortáveis, nada mais há o que temer na vida:
tudo estará vindo a você como uma dádiva que consegue lhe trazer auto
realização.

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

APÊNDICE II

LEITURAS E ESTUDOS RECOMENDADOS


E LISTA DE SITES DA INTERNET

Desfazer o ego é um propósito excepcional de vida. Essa imagem de ser falso a


que chamamos ego nos infesta por milênios, e ele não se entregará sem nos
oferecer todas as partículas de resistência que consiga convocar para impedir.
Sabendo disso, uma preparação consegue fazer nossa transição muito menos
inconfortável.
Se estivermos comprometidos com a Verdade, e desejamos,
positivamente, transformar nossas vidas, então necessitamos tanto os meios
pelos quais alcançá-lo como o suporte, bem como a orientação para nos ajudar a
atravessar. Nós mesmos, os autores, vivemos muito o processo de liberação do
ego. Queremos aliviar, para os outros, o que foi para nós um tempo longo, e
confuso, que acarretaram níveis desnecessários de sofrimento. Estamos
dedicados a facilitar o processo de abandono do ego, oferecendo nosso suporte,
via apresentações em grupo, e oficinas de trabalho, de ‘Desfazimento do Ego.’
Um Curso em Milagres oferece um poderoso e único meio de alcançar a
Verdade através de seu Texto, Livro de Exercícios, 365 Lições diárias, o
Manual para o Professor e a Explicação de Termos. Todos devem ser lidos
ao mesmo tempo, completando-se uns aos outros, pois formam uma unidade. As
lições são recursos diários para nos ajudar a despertar do sonho do ego.
Desenvolver Confiança, e liberar o ego, requerirá um comprometimento
consistente e firme, para desfazer ilusões e, nesse percurso, podemos encontrar
que cada um precisa de várias ferramentas, e recursos, como assistência.
Enquanto UCEM ofereça talvez o caminho mais rápido, e mais brilhantemente
iluminado, para o despertar, abaixo há uma lista de outros recursos que temos
também encontrado úteis em nossas jornadas;.

• Um Curso em Milagres, UCEM, (A Course in Miracles, ACIM)


Foundation for Inner Peace, Fundação para a Paz Interior
Site na net: http://www.acim.org
• Foundation for A Course in Miracles, Fundação para Um Curso em Milagres.
A seção Perguntas e Respostas orienta suas indagações.
Site na net: http://www.facim.org

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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

• O Desaparecimento do Universo Conversa direta sobre ilusões, vidas


pasadas, religião, sexo, política, segredos do universo e os milagres do perdão,
Gary R. Renard
Site na net: http://www.garyrenard.com
• Sua Realidade Imortal: Como quebrar o ciclo repetitivo de nascimento e
morte de uma vez por todas, Gary R. Renard
Site na net: http://www.garyrenard.com
• Absence from Felicity: The Story of Helen Schucman and Her Scribing of A
Course in Miracles, Fundação para Um Curso em Milagres, Temecula, Calif.,
1991
• Awaken from the Dream, Kenneth and Gloria Wapnick (mais livros listados na
bibliografia), Fundação para Um Curso em Milagres
Site na net: http://ww.facim.org
• Healing the Cause – A Path of Forgiveness, Michael Dawson
Site na net: http://www.acfip.org
• The Findhorn Book of Forgiveness, Michael Dawson
Site na net: http://www.acfip.org
• Loving What Is, I Need Your Love – Is that True?, Byron Katie
Site na net: http://www.thework.com
• Emptiness Dancing, Adyashanti
Site na net: http://www.adyashanti.org
• Spiritual Enlightenment: The Damnedest Thing, Jed McKenna
Site na net: http://www.WiseFoolPress.com
• Excuse Me: Your Life Is Waiting, Lynn Grabhorn
Site na net: http://www.lynngrabhorn.com
• O Poder do Agora, The New Earth, Eckhart Tolle
Site na net: http://www.eckarttolle.com
• The Translucent Revolution, Arjuna Ardagh
Site na net: http://www.translucents.org
• Igniting the Soul at Work: A Mandate for Mystics, Robert Rabbin
Site na net: http://www.radicalsages.com/founder.php
• Matthew Andrae
Site na net: http://www.teachtheworldtosing.com
• A Sabedoria do Eneagrama, Don Richard Riso e Russ Hudson
Site na net: http://www.enneagraminstitute.com
• The Sacred Purpose of Being Human, Jacquelyn Small
Site na net: http://www.eupsychiainc.com
• Living Enlightenment, Embracing Heaven and Earth, Andrew Cohen
Site na net: http://www.andrewcohen.com
246
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

• Communion With God, Neale Donald Walsch


Site na net: http://www.nealedonaldwalsch.com
• The Road Less Traveled, M.Scott Peck, M.D.
Site na net: http://www.mscottpeck.com
• The Power of Intention, Dr. Wayne W. Dyer
Site na net: http://www.drwaynedyer.com
• Reality and Illusion, Relationships as a Spirituall Journey, Path of Light,
Robert Perry. Site na net: http://www.circlepublishing.com (Circle of
Atonement)
• The Journey Home, Allen Watson
Site na net: http://www.circlepublishing.com (Circle of Atonement)
• Undefended Love, Jett Psaris e Marlena S. Lyons
Site na net: http://undefendedlove.com
• Power vs. Force, The Eye of the I, David Hawkins, M.D.
Site na net: http://www.beyondtheordinary.net/drhawkins.shtml
• Awakening the Buda Within, Lama Surya Das
Site na net: http://www.dzogchen.org
• Radical Forgiveness, Colin T. Tipping
Site na net: http://www.radicalforgiveness.com
• Pathways of Light, a uma organização sem fins lucrativos, provê cursos
focalizados espiritualmente sob a orientação de Um Curso em Milagres
Site na net: http://www.pathwaysoflight.org

247
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

BIBLIOGRAFIA93

Adyashanti. The Impact of Awakening: Excerpts from the teachings of


Adyashanti. Los Gatos, Calif.: Open gate, 2000
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Open Gate, 2003
―. Emptiness Dancing: Selected Dharma Talks of Adyashanti. Los Gatos,
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Ardagh, Arjuna. The Translucent Revolution: How People Just Like You Are
WAKING UP and CHANGING the World. Novato, Calif.: New World Library,
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Blanton, Brad. The Truthtellers: Stories of Success by Radically Honest People.
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Abalone, 1999.

93
N.T. – A maioria doa bibliografia citada não tem publicação em português, exceto a
mencionada aqui.
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LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

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Katie, Byron, com Michael Katz. I Need Your Love Is That True? How To Stop
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\katie, Byron, com Stephen Mitchell. Loving What Is: Four Questions That
Can Change Your Life.New York: Harmony, 2002.
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—. Sua Realidade Imortal: Como Quebrar o Círculo Vicioso de Nascimento e
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250
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

PEROLAS DESTE LIVRO


Todo e qualquer erro
se origina
do lugar único de ignorância,
a ignorância da ilusão.
Todo erro notado,
toda ofensa percebida,
é causado por
um pedido de amor
que se disfarça de ignorância.
Cometer o erro
de ver, ou tomar
qualquer ofensa como real,
investimos na
ilusão de ódio,
tanto quanto o ofensor,
(alimentamos e mantemos
a ilusão, o sonho, a separação,
com tudo que acarreta
em sofrimento, tormento e dor,
tanto quanto o vitimador,)
dizem Nouk Sanchez e
Tomas Vieira,
em LEVA-ME À VERDADE,
p. 80
Qualquer pessoa que encontremos, estamos nos
encontrando conosco mesmo. Tudo que damos, seja amor
ou julgamento, damos a nós mesmos, e o fortalecemos.
O único propósito da projeção é manter vivos, e intactos
a separação e o caos, perpetuando a ilusão.
Projeção é uma ilusão sempre destrutiva e
a causa fundamental, a maior, de nossa infelicidade.
Toda vez que cremos ter desarmonia interior, estamos
atacando a nós mesmos, e nos separando dos outros.
Ressentir-se, e sentir-se vítima são sinais incontestes
de que o ser-ego busca nos comandar.
251
LEVA-ME À VERDADE – N Sanchez e T.Vieira Trad. M.Thereza de Barros Camargo

Pensamentos de falta causam medo; o medo nos leva a acordos, e


acordos nos conduzem ao sacrifício. Por exemplo, o medo pode nos levar a
ver a aparência de insegurança financeira, ou de amor. Sentindo o medo da
falta como real, nosso ego aparecerá com uma barganha e nos diz –
convincente, mas mentiroso – que podemos trabalhar em condições
adversas para reconquistar uma segurança financeira. É assim que o ego
mantém seu círculo do medo, fazendo-nos ver a falta onde, em realidade, há
abundância do que é Real.
Coisa alguma, na realidade, existe fora do agora!
Não há essa coisa chamada situação ruim, mas, unicamente, uma
ocorrência que pede para ser reinterpretada.
Toda cura envolve a substituição do medo pelo amor.
Insignificâncias fomentam a idéia de separação.
O não saber é realmente o único lugar que provê o espaço para estar a
Verdade.
A Inteligência Universal, na forma de conhecimento,
é conseguida na proporção de nossa renúncia ao ego.
A mais valiosa oração para nós, ou qualquer pessoa, é pedir por
mentalidade certa, para que nossas mentes sejam curadas.
A cessação do pensar é o portal mais poderoso de ligação imediata com
nosso Ser Unificado. Esse é um veículo através do qual conseguimos,
espontaneamente, receber a Sabedoria Maior. Nada é necessariamente
requerido, exceto a disponibilidade para suspender o pensar.
Não há essa coisa chamada situação ruim, mas, unicamente, uma
ocorrência que pede para ser reinterpretada.
Tu não tens de buscar a realidade. Ela buscará a ti
e te achará quando tiveres satisfeito as suas condições.
A estrada que leva à Verdade se consiste de nossa ausência de defesas. E se
situa na aceitação e no reconhecimento de O Que É, é.

252
PAIS E FILHOS, parte I e II – K.Wapnick – Trad. M.Thereza de Barros Camargo 253

RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES

Não faça cópias deste exemplar. É um livro protegido por direito autoral e
estamos contratados para traduzi-lo e publicá-lo no Brasil e nos países de língua
portuguesa. Esta é uma cópia de rascunho, de distribuição controlada, destinada
especialmente a estudo nos grupos de UCEM de que participa a tradutora. Por
favor, peça-as a

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Onde aprendemos como ser feliz e estar em paz pelo perdão.
Where we learn how to be happy and abide in peace through
forgiveness.
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