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O QUE SIGNIFICA SER UM PROFESSOR DE DEUS

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Trechos do Workshop efetuado no Institute & Retreat Center of the Foundation for A
Course in Miracles®
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Kenneth Wapnick, Ph.D.

Tradução: Eliane Ferreira de Oliveira

Parte I – Introdução

Eu estruturei o tópico, o que significa ser um professor de Deus, em três categorias básicas,
baseadas nas seções mais importantes do Manual para Professores que tratam do professor
de Deus. A primeira é sobre as características do professor de Deus, no início do Manual
(MP-4). A segunda é o tema da mágica, uma questão extremamente importante no Manual,
e uma crucial para qualquer um que trabalhe com o Curso. Nós vamos discutir não apenas o
que são pensamentos mágicos e como eles interferem com nosso funcionamento, mas
também a questão importante de como lidar com a raiva, o que está intimamente
relacionado com o conceito de pensamentos mágicos. O tema final é a cura e o
relacionamento entre o ensinamento e a cura, que são realmente a mesma coisa. Então,
essas são as três áreas básicas de ser um professor de Deus sobre as quais vamos falar.

Vou começar dizendo algumas poucas palavras da introdução sobre o que é e o que não é
um professor de Deus. A frase “um professor de Deus” não aparece no texto ou no livro de
exercícios de forma alguma – ela é usada apenas no Manual. Basicamente, um professor de
Deus é qualquer um que aceite sua função, que é ensinar e aprender o perdão. O Curso diz
que “a única responsabilidade do trabalhador de milagres é aceitar a Expiação para si
mesmo” (T-2.V.5:1, T-5.V.7-8, MP-6.3:2). No momento em que aceitamos isso como o
motivo pelo qual estamos aqui, nos tornamos um professor. O Curso repetidamente iguala o
ensino ao aprendizado. Nós ensinamos o que estamos aprendendo, e, conforme ensinamos,
aprendemos. Todos nós estamos ensinando e aprendendo ao mesmo tempo. Esse tema de
ensino-aprendizado está refletido em toda a estrutura do Curso. Seus três livros incluem um
livro texto, que nós obviamente devemos estudar; um livro de exercícios, que obviamente
vai nos ensinar conforme praticarmos as lições, e um manual para professores, que nos
lembra da nossa função e ensino-aprendizado. Então, o currículo, por sua própria natureza,
enfatiza que somos todos professores e alunos ao mesmo tempo.

Um resumo adorável do que significa ser um professor de Deus é dado logo no início do
manual:

Professor de Deus é qualquer um que escolha sê-lo. Suas qualificações consistem somente
nisso: de algum modo, em algum lugar, ele fez uma opção deliberada na qual não viu seus
interesses como se estivesse à parte dos de outra pessoa. (MP-1:1-4).

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O principal critério que estabelece alguém como um professor de Deus é que ele vê a união,
e não a separação, como sua realidade. Essa também é uma forma de caracterizar a
diferença entre um relacionamento santo e um relacionamento especial. Em um
relacionamento especial, nós sempre vemos nossos interesses como diferentes e separados e
mais importantes do que os de qualquer outra pessoa. Em nossas mentes, então, isso
justifica o ataque assassino que está sob o conteúdo do especialismo. Em um
relacionamento santo, por outro lado, eu não percebo você como separado de mim, nem
tendo interesses separados dos meus. Ao invés disso, nós vamos para o Céu juntos. Essa
mudança não é no nível da forma – ela acontece na minha mente, para que eu não perceba
minha salvação como separada ou independente de você.

Portanto, atacá-lo com a crença de que meu ataque sobre você vai me manter fora do anzol
para que eu me sinta melhor vai me manter no inferno do ego. Na mudança para um
relacionamento santo, eu reconheço que você é realmente um comigo e que nós dois temos
o mesmo problema. Nós, e todos os outros nessa terra, acreditamos que estamos presos no
mundo, sem nenhuma esperança de nos libertarmos. E, ao me unir com você, eu percebo
que nós compartilhamos o interesse comum de despertar desse pesadelo. É isso o que
caracteriza o professor de Deus e torna o relacionamento santo. Não que nós nos
identifiquemos perfeitamente com esse propósito. Se nós o fizéssemos, não estaríamos
aqui. Isso é simplesmente o que a nossa meta se tornou. Esse é um tema ao qual vamos
retornar muitas vezes nesse workshop.

Como em muitas outras áreas dos seus ensinamentos, o Curso fala sobre um professor de
Deus em dois níveis. Está claro na introdução da seção sobre as características dos
professores de Deus que essas características pertencem ao que o Curso chama de
“professores avançados de Deus” (MP-4.2:2) – aqueles que já aprenderam algumas das
lições básicas de perdão. Uma vez que essas lições básicas tenham sido aprendidas, então,
nós compartilhamos as dez características.

Em outro nível, entretanto, todos nós somos professores porque estamos todos aprendendo.
Nesse nível, ser um professor de Deus não significa que nos tornamos mestres em todas as
lições. De fato, uma afirmação é feita no texto e repetida nas características dos professores
de Deus, que sempre deveria ser lembrada como um conforto: a prontidão não significa
mestria (T-2.VII.7, MP-4.IX.1:10). Nós podemos estar prontos para ensinar sem termos nos
tornado mestres em todo o currículo. Se isso não fosse verdade, nenhum de nós poderia
fazer nada porque, obviamente, nenhum de nós já se tornou mestre em todo o currículo do
Curso.

Então, nós aprendemos o Curso – e obviamente isso significa fazê-lo não intelectualmente,
mas na prática – aprendendo nossas lições de perdão. Quanto mais as aprendemos, mais as
ensinamos. Ao ensiná-las, também as aprendemos. Ensinar e aprender são sempre
recíprocos.

Um professor de Deus não é alguém que ensina grandes coisas ou faz grandes coisas no
mundo. Ao invés disso, um professor de Deus é alguém que aceitou seu propósito no
mundo como o do aprendizado do perdão. Quando o Curso fala sobre função, não está
falando sobre nada externo. Ele está falando apenas sobre aceitar uma função de perdão. E,

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no final das contas, é claro, nós não perdoamos a pessoa lá fora. Nós perdoamos a nós
mesmos.

Uma vez que aceitamos o perdão como nosso propósito – não uma vez que o tenhamos
aprendido, mas uma vez que o tenhamos aceitado como nosso propósito – então, estamos
estabelecidos como professores. E, então, vou ver que tudo o que acontece em minha vida
diária, assim como o que acontece durante toda a minha vida, é parte de uma sala de aula na
qual eu aprendo minhas lições de perdão. Então, não importa se as coisas vão bem ou não,
conforme eu as avalio. Eu vou perceber que as duas opções são a mesma, porque elas
compartilham o mesmo propósito. O Curso diz que a única questão que deveríamos
perguntar sobre qualquer coisa é: pra que isso serve? (T-4.V.6:7:9). Se nós ouvirmos o ego,
então, tudo é para estabelecer que somos vítimas, ou que outra pessoa é uma vítima. E tudo
no mundo é visto desse ponto de vista – o tema inteiro da vitimação está vivo e bem nesse
mundo. E isso, é claro, mantém o ego vivo e bem.

O Espírito Santo, em contraste, vê tudo nesse mundo como servindo ao propósito de


desfazer essa crença na vitimação – é isso o que o perdão faz. Uma vez que aceitemos o
perdão como nossa função, nos tornamos professores de Deus, que vêem tudo nesse mundo
como nos capacitando a aprender a lição de que não somos vítimas. E, conforme a
aprendemos, o Amor do Espírito Santo e de Jesus se estende através de nós. E isso ensina
outros. Não são nossas palavras ou ações ou comportamento que ensinam – é o Amor de
Deus através de nós que ensina simplesmente por sua presença.

O Curso, como sabemos, faz uma distinção entre a forma e o conteúdo. A forma é as nossas
palavras, nosso comportamento, e nossos atos. Mas não é isso o que ensina. É o nosso
conteúdo que ensina. Em outras palavras, se o amor estiver na minha mente e nada mais
estiver se estendendo através de mim, então, não importando o que eu esteja ou não
fazendo, a mensagem que estarei ensinando é amor. Não faz diferença se eu fico em pé
diante de uma classe ensinando Um Curso em Milagres, ou se estou ensinando para uma
classe da terceira série como ler, escrever e somar. Não é a forma que ensina – é o conteúdo
na minha mente que ensina. As palavras e o comportamento se tornam simplesmente os
meios através dos quais esse conteúdo ou esse amor em minha mente se expressa.

Vamos para o Manual para Professores agora, e vamos começar com as características dos
professores de Deus (MP-4). Vamos discutir essas dez características em profundidade –
essa é realmente uma boa forma de falar sobre qual é o conteúdo do Curso todo. Vamos
começar com a Introdução.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-4) Os traços superficiais dos professores de Deus não são de
modo algum parecidos. Eles não são parecidos aos olhos do corpo, vêm de origens muito
diferentes, suas experiências do mundo variam muito e suas ‘personalidades’ superficiais
são bastante distintas.

Isso é óbvio para qualquer um. Todos parecem diferentes de todos. Somos todos diferentes
em forma. As características a que isso se dirige são de conteúdo, de atitude – não nossa
aparência, ou o que dizemos ou fazemos, mas basicamente como pensamos e as
características desse pensamento.

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(Parágrafo 1 – Sentenças 5-7) Nos primeiros estágios de seu trabalho como professores de
Deus, ainda não adquiriram as características mais profundas que os estabelecerão como
o que são.

Esse é o nível inicial de ser um professor, o primeiro dos dois níveis que já descrevi. Os
“primeiros estágios” seriam nosso ponto de partida na jornada do perdão, que vem com o
reconhecimento de que esse é o propósito de estarmos aqui. Ainda não iniciamos o
processo de verdadeiramente aprender e integrar o que são essas lições – ainda estamos
começando.

(Parágrafo 1 – Sentenças 7-9) Deus dá dádivas especiais aos Seus professores porque eles
têm um papel especial no Seu plano para a Expiação.

Essa é uma daquelas afirmações que, se tomadas fora de contexto, realmente faz com que
pareça que Deus tem favoritos, o que é claramente uma antítese a tudo o que o Curso está
dizendo. Isso realmente está dizendo que aqueles a quem o Curso chama de “professores
avançados” – aqueles que realmente liberaram seu investimento na culpa, separação,
ataque, medo, etc. – aceitaram as dádivas que já estavam lá. E basicamente existe apenas
uma única dádiva de Deus – a dádiva do Amor. Ou poderíamos dizer a dádiva da liberdade,
ou a dádiva da vida eterna – todos aspectos diferentes da mesma dádiva básica. Nenhum
desses aspectos pode ser conhecido nesse mundo, como vamos ler no final dessa seção
sobre características (MP-4.X.3). O que é conhecido nesse mundo é o reflexo dessa dádiva
de Amor.

As dez características dos professores de Deus então são reflexos dessa única dádiva que
Deus já deus a todos nós. Então, quando o Curso diz aqui que Deus dá Suas dádivas
especiais, o que realmente quer dizer é que os professores avançados que já deixaram de
lado seus egos, estão permitindo a si mesmos aceitarem e experienciarem o Amor de Deus.
Esse Amor, então, vai se manifestar em sua vida diária através dessas dez características.
Por favor, não pensem que Deus favorece certas pessoas ou dá Suas dádivas apenas para
aqueles que são bons, etc.

(Parágrafo 1 – Sentenças 9-11) A sua especialidade é, obviamente, apenas temporária;


estabelecida no tempo como um meio de conduzir para fora do tempo.

Nesse sentido, alguém como Jesus é especial. Todos os relacionamentos especiais são
baseados na idéia de que somos diferentes uns dos outros. Você tem algo especial de que eu
preciso e quero tirar de você – isso é amor especial. Ou você tem certos traços que eu
detesto e, portanto, me sinto justificado em atacá-lo – isso é ódio especial. Mas tudo isso
está baseado na idéia de que somos diferentes. O Curso deixa claro que somos diferentes no
tempo, mas não somos diferentes na eternidade. Por essa razão, o Curso fala tanto sobre os
estágios iniciais quanto sobre os estágios avançados de ser um professor de Deus. A seção
sobre confiança (MP-4.I) descreve seis estágios no desenvolvimento da confiança. Isso
obviamente está falando sobre diferenças – pessoas diferentes estarão em estágios
diferentes. Agora, sempre existe o perigo de tentar determinar quem está em qual estágio, e
quando eles chegaram lá, etc. – esse é um truque do ego.

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Mas, nesse mundo, existem diferenças e, portanto, Jesus no Curso está basicamente nos
dizendo, “Eu não sou diferente de você na eternidade, mas no tempo eu sou diferente,
porque sou mais sábio do que você. Eu despertei do sonho e agora vou voltar e ajudar todos
os outros a despertarem do mesmo sonho”. Dentro do tempo, existem diferenças – não
somos solicitados a negar isso. A idéia seria não fazermos julgamentos baseado em
diferenças. O fato de Jesus já ter despertado do sonho não significa que ele é nem um pouco
melhor do que qualquer outra pessoa, ou que Deus o ama mais. Isso simplesmente quer
dizer que ele ama a si mesmo mais nesse ponto do que nós amamos a nós mesmos. Mas
essas diferenças desaparecem quando o ego desaparece. Essa mesma idéia está expressa
quando Jesus diz, “Tu não és sem culpa no tempo, mas na eternidade” (T-13.I.3:2). No
mundo do tempo, que é o mundo da ilusão, o mundo do sonho, somos todos culpados. De
outra forma, não estaríamos aqui. Mas essa não é nossa verdadeira realidade no Céu –
somos todos o mesmo no Céu. Nesse mundo, não somos o mesmo.

(Parágrafo 1 – Sentenças 11-15) Estas dádivas especiais, nascidas no relacionamento santo


para o qual a situação de ensino-aprendizado está dirigida, vêm a ser características de
todos os professores de Deus que tenham avançado no seu próprio aprendizado. Nesse
aspecto, todos eles se parecem.

O que dá origem a essas dádivas especiais, então, é o relacionamento santo. Nós evoluímos
em relação a essas dez características e as aceitamos através do processo de liberar todos os
nossos sentimentos negativos sobre nós mesmos, sobre os outros, e sobre Deus – isso é o
perdão. Como já disse, o perdão não faz nada – ele desfaz. Ele simplesmente leva embora o
que o ego colocou lá.

Deus nos dá Seu Amor como nossa verdadeira Identidade. Mas nós o encobrimos com
culpa, ódio e medo. Então, não temos que fazer nada sobre o Amor de Deus dentro de nós –
ele já está lá. Mas nós realmente temos que identificar as interferências que colocamos
entre nós mesmos e a presença do amor em nossas mentes, para que o perdão possa levá-las
embora. É assim que avançamos em nosso caminho espiritual.

Então, o perdão nos permite aceitar essas dádivas especiais ao nos ajudar a desfazer ou
levar embora todos os pensamentos egóicos que pusemos em nossas mentes para tomar o
lugar do pensamento de Amor que Deus nos deu. Essas dádivas especiais, portanto, serão
características de todos nós uma vez que escolhamos o perdão. E, como vamos ver
conforme as revisarmos, em relação à maioria das características, ter uma realmente
implica em todas as outras. Todas as dez são realmente apenas formas diferentes de
falarmos sobre o que automática e inevitavelmente se segue quando liberamos nossa crença
no pecado e na culpa. E o perdão é o processo através do qual isso acontece.

(Parágrafo 2 – Sentenças 1-3) Todas as diferenças entre os Filhos de Deus são


temporárias. Entretanto, no tempo, pode-se dizer que os professores de Deus avançados
têm as seguintes características:

No final, todas as diferenças vão desaparecer. Mas, enquanto estivermos no tempo, haverá
aquelas que serão “avançadas”. Novamente, existe um perigo real em tentar identificar

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quem é avançado e quem não é – é sempre o ego que faz isso, porque ele está sempre
interessado em diferenças. E, se o ego está fazendo isso, sabemos que, desde o início, será
um erro. Quando o ego faz qualquer coisa, ele sempre julga baseado na forma, nunca no
conteúdo. E essa é uma das formas principais de distinguir um relacionamento santo de um
especial. Um relacionamento especial sempre avalia o amor baseado na forma – o amor
para o ego é sempre quantitativo e não qualitativo. Ele pode ser mensurado. De forma
similar, o ódio é sempre baseado na forma – eu odeio algo em você ou eu odeio você. Eu
não reconheço que o que eu odeio em você é realmente o que odeio em mim mesmo, o que
significa que ambos somos o mesmo.

Todo especialismo – tudo no ego – é baseado em diferenças. Todas as diferenças são


avaliadas baseadas na forma. Então, quando tentamos julgar quem é mais ou menos
avançado espiritualmente, sempre usamos um conjunto de critérios em nossas mentes
baseados na forma para fazer nossa avaliação.

Parte II

Confiança

Vamos começar com a confiança que, como o Curso explica, é a característica mais
importante, porque todas as outras são baseadas nela. Ao revisarmos as características
vamos ver que o Curso quase sempre as descreve em termos de negar ou desfazer uma
característica do ego. Em outras palavras, as dez características não são muito positivas em
e por si mesmas – ao invés disso, elas são a negação ou recusa do que o ego tornou real.

Uma linha importante no texto – que, na verdade, é um princípio que ajuda a esclarecer o
sistema de pensamento total do Curso – diz que “a tarefa do trabalhador de milagres vem
a ser, então, negar a negação da verdade” (T-12.II.1:5-7). Essa idéia extremamente
importante é expressa em muitas formas diferentes através de todo o Curso, mas essa é sua
afirmação mais clara e mais sucinta – nossa tarefa é negar a negação da verdade. Nossa
tarefa não é afirmar a verdade. Como a Introdução diz, o objetivo do Curso não é ensinar
ou explicar o significado do amor; é nos ajudar a “remover os bloqueios à consciência da
presença do amor” (T-in.1:6-7).

Então, nossa tarefa não é afirmar a verdade. Não é continuar dizendo o quanto somos
maravilhosos, como um mantra. A idéia é olhar para a negação da verdade do ego, entender
o sistema de pensamento do ego, e, então, dizer, “Isso não é a verdade”. Nós olhamos para
a negação da verdade do ego e, então, negamos que sua negação seja verdade. O ego diz
que sua negação da verdade é verdadeira – ele diz que Deus não é amor, mas que Deus é
ódio, Deus é vingativo, e que Deus deve ser temido. E isso é a negação da verdade.

É claro, nós todos aceitamos a negação do ego como a realidade. E essa negação foi o que
deu início, como já mencionei, à criação do mundo. O mundo todo foi feito como uma
defesa contra, e portanto um ataque, o Amor de Deus. Então, queremos olhar para o sistema
de pensamentos do ego, que nega que Deus é Amor, nega que somos crianças do amor, e
nega que todos os outros são crianças do amor, e dizer que ele não faz sentido. Nós não
precisamos necessariamente fazer isso confrontando a aparente enormidade do sistema de

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pensamento do ego de uma vez só. Essa enormidade está refletida em cada pequena escolha
que fazemos de ficar zangados, culpados, amedrontados, ansiosos, doentes. E, então,
podemos olhar para a negação da verdade que o ego tem tornado real em cada uma dessas
circunstâncias e dizer, “Existe outra maneira de olhar para isso”. E esse é todo o processo
do Um Curso em Milagres.

Por exemplo, se eu tiver pensamentos assassinos em relação a você porque acredito que
você me tratou de forma injusta, essa é a negação da verdade. Meu ego poderia dizer, “Isso
é verdade – você realmente merece ser assassinado porque é tão pecador, etc.”. Mas outra
parte de mim pode dizer, “Não apenas você merece ser morto, mas eu também, porque
mereci o que você fez a mim por ser tão terrível”. Então a idéia é nós simplesmente
olharmos para esses pensamentos e dizermos, “Isso não faz sentido”. Em outras palavras,
nós não os levamos a sério – e, então, eles desaparecem.

Então, quando o Curso discute essas dez características, com muita freqüência, ele
realmente fala sobre seu oposto. Um exemplo claro posterior é a seção sobre a gentileza
(MP-4.IV), que começa falando sobre a maldade. A verdade é que Deus é gentil. A negação
da verdade é que Deus é mau, que Ele vai nos ferir, e que nós temos que ser maus para
protegermos a nós mesmos. Então, olhamos para essa linha de pensamento e dizemos, “Isso
é tolice”. Quando liberamos toda a maldade do ego, o que resta é a gentileza de Deus.
Basicamente, então, as dez características são todas negação da negação da verdade.

A primeira e mais básica das características é a confiança. A confiança é a negação da


negação da verdade do ego. A verdade, é claro, é que podemos confiar em Deus. O ego nos
diz, “Não confie em Deus. Nem chegue perto Dele porque Ele vai destruí-lo por causa da
coisa terrível que você fez a Ele”. O ego tem nos ensinado a não confiar no Amor de Deus.
E ele também tem nos ensinado a não confiar na Presença do Espírito Santo em nossas
mentes, porque, o ego nos diz, “Se você chegar perto demais do Espírito Santo, Ele vai
levá-lo de volta para Deus, Que vai destruí-lo”. O ego continua, “Não confie no Espírito
Santo. Ele lhe diz que é seu Amigo. Ele lhe diz que ama você. Ele diz que a idéia de que
Deus está zangado e quer destruí-lo foi inventada. Não confie Nele”. E nós todos
acreditamos no ego. Nós aceitamos a negação da verdade como verdadeira – que Deus e o
Espírito Santo não são confiáveis, mas que deveríamos, ao invés disso, confiar no ego.
Então, quando falamos sobre a verdade, estamos realmente falando sobre olhar para o que o
ego tem nos dito – que não podemos confiar em Deus – e então dizer, “Mas isso não é
verdade. Eu posso confiar Nele”. É para isso que esses parágrafos estão direcionados.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-2) Esse é o fundamento no qual repousa a sua capacidade de


cumprir a função que lhes cabe.

“Que lhes cabe”, é claro, se refere aos professores avançados de Deus.

(Parágrafo 1 – Sentenças 2-4) A percepção é o resultado do aprendizado. De fato,


percepção é aprendizado, posto que causa e efeito nunca estão separados.

Esse princípio de causa e efeito é um conceito chave no Curso, então, deixem-me falar um
pouco mais sobre ele. No nível do Céu, Deus é a primeira Causa e nós, como Cristo, somos

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Seu Efeito. Se a causa e o efeito nunca estão separados, então, nunca deixamos Deus. E se
nós nunca deixamos Deus, então, todo o sistema de pensamento da separação está errado. O
ego tem nos dito desde o início que nós realmente deixamos Deus – que o efeito deixou sua
causa – e, portanto, que a separação é real. E, pelo fato de termos deixado Deus constituir
um ataque a Ele, Ele está zangado conosco. O princípio da Expiação, que a presença do
Espírito Santo em nossas mentes representa, afirma que a separação nunca aconteceu. Ela é
só uma tola e louca idéia que não tem efeitos de forma alguma. E, então, com efeito, o
princípio da Expiação diz que a causa e o efeito são sempre um – o efeito nunca deixou sua
causa. O ego nos diz exatamente o oposto.

O mesmo princípio de causa e efeito se aplica ao mundo. O Curso diz, “A projeção faz a
percepção”. De fato, ele afirma isso duas vezes (T-13.V.3:5, T-21.in.1:1). Isso significa
que primeiro olho para dentro e estabeleço o que é real. A partir do ponto de vista do ego,
olho para dentro e estabeleço que a separação e a culpa são reais, e, então, as projeto para
fora. E, então, pareço perceber fora de mim o que realmente primeiro percebi dentro de
mim. Então, se eu me sinto culpado e separado, vou olhar para o mundo lá fora no qual
julgo a todos os outros como culpados – obviamente, estou vendo um mundo que é
separado de mim. Mas o problema não é o que estou percebendo fora de mim – isso não é
nada mais do que uma projeção do que está dentro de mim.

Portanto, eu não quero mudar o que está fora. Eu quero mudar a minha mente – que é onde
o problema está. Em outras palavras, eu quero mudar o que aprendi dentro de mim mesmo,
que realmente significa que quero mudar o professor que escolhi. É por isso que o Curso
diz que o processo é simples – existem apenas dois professores em nossas mentes. E a
única escolha que temos mesmo que fazer é qual professor vamos escolher seguir – o ego
ou o Espírito Santo.

Nosso problema é que não conseguimos distinguir um do outro. Todo o sistema de


pensamento e a prática do Curso é aprender como diferenciar os dois. Uma vez que eu
escolho com quem vou aprender, percebo e experiencio o mundo – que é realmente o que o
Curso quer dizer com perceber – através das lentes do meu professor. Quando eu aprendo
do ego, percebo e experiencio o mundo de separação e ataque. Quando aprendo do Espírito
Santo, experiencio o mundo como uma sala de aula na qual todos – vítimas e vitimadores,
bons e maus – estão aqui para aprender a mesma lição: como despertar desse pesadelo. E
então é isso o que significa “percepção é aprendizado”.

(Parágrafo 1 – Sentenças 4-7) Os professores de Deus têm confiança no mundo, porque


aprenderam que ele não é governado pelas leis que o mundo inventou. Ele é governado por
um Poder Que está neles mas não vem deles.

Quando o ego é o meu professor, acredito no poder das leis das quais o mundo do ego foi
feito. E essas leis são da separação, ataque, perda, dor, culpa e morte. Quando o Espírito
Santo é o meu professor, eu olho através dos Seus olhos para um mundo que funciona sob
outro conjunto de leis – as leis do perdão. Isso significa que, embora eu não esteja no
controle do que você faz ou do que o mundo faz, estou no controle da forma pela qual o
experiencio. Portanto, se eu escolher me identificar com o Espírito Santo, vou me sentir em
paz, não importando o que esteja acontecendo. Essa é a lei do mundo como interpretada

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pelo Espírito Santo: não importando o que aconteça no mundo, não sou uma vítima, porque
só sou vitima dos meus próprios pensamentos. Eu não posso mudar o que o mundo faz, mas
posso mudar minha maneira de pensar sobre o que o mundo faz.

As leis do ego que fizeram o mundo são as leis das vítimas e dos vitimadores. Sob essas
leis, eu não sou responsável pelo que sinto, porque alguém mais fez algo a mim. A lei do
Espírito Santo – o perdão, que é a correção das leis do ego – diz que ninguém é uma vítima
nesse mundo a menos que escolha ser. Nesse ponto, o problema não é o que o mundo fez a
mim – ao invés disso, é a forma que eu escolhi olhar para o que aconteceu.

E eu reconheço que esse poder de Deus está em minha mente, mas não é da minha mente.
Não é da mente do meu ego, nem da minha mente dividida – ele vem de Deus. E o Espírito
Santo é a Presença desse amor em minha mente.

Parte III

Confiança (continuação)

(Parágrafo 4 – Sentenças 7-9) É esse Poder Que mantém todas as coisas a salvo. É através
deste Poder que os professores de Deus olham para um mundo perdoado.

Agora, de acordo com as leis do mundo – que é onde colocamos nossa confiança – certas
coisas no mundo nos protegem e nos mantêm a salvo. Defesas nos mantêm a salvo. Ataque
nos mantém a salvo. O especialismo nos mantém a salvo ao garantir, através de suas leis,
que a manipulação, a adulação, sedução e o ataque a outros vão conseguir para nós o que
queremos e o que precisamos deles. Nós guardamos com carinho todas essas leis que
funcionam dentro da moldura do ego. Eu consigo o que quero de você nesse mundo
fazendo com que se sinta culpado, e então me dê o que quero. Portanto, acredito que o que
me mantém a salvo é saber como controlar o mundo ao meu redor.

Quando nos identificamos com o Espírito Santo e com Seu Amor, não ficamos
preocupados com questões de segurança no mundo. Isso não significa, entretanto, que não
faremos o que todos os outros fazem, mas, ao invés disso, que nossa paz interior não
depende de nada externo. Se eu mantiver minha mente focalizada no Amor de Deus, estarei
sempre a salvo, porque minha percepção de perigo e ameaça não tem nada a ver com o
mundo exterior. Eu percebo a ameaça no mundo apenas porque me sinto culpado em
relação a minha separação de Deus e da Filiação. É por causa dessa culpa que eu acredito
que deveria ser punido – a culpa sempre requer punição. Todo o meu medo e senso de
vulnerabilidade vêm do sistema de pensamento do meu ego, que me ensina que sou
culpado. Pelo fato de ser culpado, terrível, inadequado, pecador e canalha, mereço ser
punido.

Além disso, se algum aspecto da minha culpa vem dos meus pensamentos de ataque contra
você, então preciso acreditar que você está justificado em me atacar de volta. E, uma vez
que eu acredito que você vai me atacar de volta, então, preciso acreditar que preciso de uma
defesa contra seu ataque, e que não estou a salvo a menos que tenha uma. Mas, se eu
escolher me identificar com Quem realmente sou como Criança de Deus e como uma

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extensão do Seu Amor, não há culpa, o que significa que não há medo e nem ameaça de
punição. Eu sei que estou perfeitamente a salvo.

Jesus sabia disso na cruz. Apesar do que o mundo teria dito ser uma tremenda ameaça, ele
sabia que não poderia ser ferido, porque sabia Quem ele era. Apesar do que estava sendo
feito ao seu corpo, ele sabia que não era seu corpo. Ele não tinha culpa em sua mente que
exigisse que fosse punido e, portanto, não percebia o mundo como ameaçador e punitivo,
apesar do que os olhos do corpo estavam vendo. Toda a idéia é não acreditar nos olhos do
corpo, porque, assim como acontece com uma marionete, os olhos simplesmente vêem o
que o titereiro, ou a mente, diz a eles para enxergarem.

Quase todos nós na situação em que Jesus se encontrava, na cruz, teria dito, “Estou em
grande perigo”. E, sob esse pensamento está o pensamento, “Estou em grande perigo por
causa do grande dano que causei”. Nossa mente – nesse ponto, uma mente de medo e de
culpa – teria ditado que o corpo deveria reagir de acordo. Em outras palavras, o corpo
deveria ser amedrontado e culpado, ele deveria atacar, ficar doente, ser ferido e morrer.
Uma vez que a mente de Jesus estava identificada apenas com pensamentos de amor, sua
mente deu ao seu corpo apenas uma mensagem de amor. E é por isso que ele diz no Curso
que a mensagem da crucificação é: “Ensina só amor, pois é isso o que tu és” (T-6.I.13:1-
2). Foi isso o que ele ensinou – não havia pensamentos de culpa, ataque, sofrimento,
doença ou morte dentro de sua mente.

E, então, é isso o que significa confiança. Jesus confiou que o Amor do Espírito Santo é o
Amor de Deus, e que ele era aquele Amor. Nesse ponto, então, ele sabia que tudo o mais –
qualquer outro pensamento – era uma parte de um sonho irreal. No Curso, ele não nos pede
para aprender ou ensinar aquela lição da mesma forma que ele, mas ele realmente diz que
deveríamos tomá-lo como nosso modelo. Nós deveríamos aprender com o que ele nos
ensinou sobre como ser sem defesas, pacíficos e totalmente amorosos, e como nos
sentirmos totalmente a salvo e seguros em uma situação que, para o mundo, parece ser
assombrosamente amedrontadora e ameaçadora.

O medo, portanto, não vem de nada externo - ele vem de nossa própria culpa. E a confiança
significa que eu confio no amor dentro de mim, que ele não vai me punir ou me crucificar,
mas que vai me proteger simplesmente por ser o que é. Por causa desse poder – o Amor de
Deus, ou o Espírito Santo, em minha mente – olho para um mundo que é perdoado. Não há
pecado dentro da minha mente que eu tenha a necessidade de projetar em mais ninguém.
Nesse sentido, Jesus não teve necessidade de perdoar ninguém da cruz – nada nele estava
atacando ninguém. O perdão é meramente desfazer. Olhar para um mundo perdoado é ver
um mundo no qual não há pensamentos de pecado ou de ataque. O que nós vemos fora de
nós é simplesmente o espelho do que está dentro, em nossas mentes. Então, se eu vejo
apenas amor dentro de mim, vou ver só amor do lado de fora, na forma da correção ou
desfazer do ataque do ego.

(Parágrafo 2 – Sentenças 1-2) Uma vez que esse Poder tenha sido experimentado, é
impossível confiar na insignificante força de cada um outra vez.

Uma vez que tenhamos pelo menos um pressentimento da experiência do Amor de Deus

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dentro de nós, qualquer outro pensamento que tenhamos é totalmente desfeito. Mesmo que
tenhamos a experiência por apenas um instante, esse instante será suficiente – nós nunca
mais, em cem por cento do tempo, acreditaremos no ego. Com apenas uma experiência do
Amor de Deus, nós realmente sabemos, ainda que por um instante, que fomos perdoados.
Então, não importa o quanto possamos tentar bloquear ou esconder essa experiência no
futuro, a memória sempre vai permanecer dentro de nós.

(Parágrafo 2 – Sentenças 2-4) Quem tentaria voar com as asas diminutas de um pardal
quando lhe foi dado o grande poder da águia?

O “pardal” obviamente é o ego e “o grande poder da águia” refere-se ao Espírito Santo.


Essas mesmas imagens são usadas no texto: “Não pergunte ao pardal como a águia se
eleva aos ares, pois aqueles que têm asas curtas não aceitaram para si mesmos o poder
para compartilharem contigo” (T-20.IV.4:9-11). Nesse mundo, nós sempre estamos
pedindo ao ego para nos contar sobre Deus, a salvação e a felicidade e a paz, ao invés de
perguntar ao Espírito Santo, a presença do Amor de Deus, em nossas mentes. Essa é a
mesma idéia: uma vez que comecemos a nos permitir ter a experiência de deixar o Amor de
Deus ser nossa segurança no mundo, ao invés de todas as pequenas coisas que o mundo nos
diz que vai nos deixar a salvo, será muito difícil confiar totalmente nas coisas do mundo
outra vez. Isso não significa que não vamos ir e voltar entre o ego e o Espírito Santo, ou
que não seremos tentados a reconstruir nossa vida do ego. Mas sempre haverá uma parte de
nossas mentes que teve a experiência do Amor de Deus que vai ser um lembrete para nós
de que, quando liberamos nosso investimento em nossos egos, quando realmente liberamos
a mágoa que estivemos carregando por anos, nos sentimos bem melhor. Então, quando
formos tentados no futuro a nos agarrarmos a mágoas, pelo menos teremos uma memória
dentro de nós, nessa vida, que nos diz, “Você sabe, eu liberei a mágoa uma vez e
funcionou”.

(Parágrafo 2 – Sentenças 4-6) E quem colocaria sua fé nas pobres oferendas do ego
quando as dádivas de Deus foram depositadas diante de si?

Uma linha no texto diz que o Espírito Santo ensina através do contraste (T-13.II.1:2-3).
Qualquer bom professor sabe que o contraste é sempre uma forma útil de tornar uma lição
compreensível. E o Curso, de uma forma ou de outra, sempre usa o contraste entre o que o
ego nos oferece e o que o Espírito Santo nos oferece para demonstrar um ponto específico.
O objetivo de Jesus para nós no Curso é que, em cada situação que nos confronte, sejamos
capazes de ver o contraste em nossas mentes de forma cada vez mais clara através do
tempo, para que possamos reconhecer o que o ego realmente está nos oferecendo. Então, se
eu realmente continuar no rumo em que estou indo – principalmente que estou zangado e
quero vingança – o que virá será mais culpa e medo, mas certamente não paz, e nenhum
senso de segurança.

Mas, se eu continuar – e isso não tem nada a ver com a forma, mas, ao invés disso, com
uma atitude – sem vingança e sem raiva, e for pacífico, então, a oferta do Espírito Santo
para mim será a paz. Nesse ponto, por que eu iria escolher as dádivas esfarrapadas do ego
que serão desconforto, ansiedade, medo, culpa, etc., quando posso ter a dádiva de Deus,
que seria Sua paz? Então, o propósito do Um Curso em Milagres é nos ajudar a aprender a

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diferenciar entre essas duas dádivas o tempo todo. E elas são sempre as mesmas – a dádiva
do medo ou a dádiva do amor. E, novamente, não estamos falando sobre comportamento,
estamos falando sobre uma atitude.

Então, se nós temos uma experiência desse poder e então sentimos que estamos retornando
à confiança em nossa própria força insignificante, isso iria refletir uma escolha de não ter o
Amor de Deus. É extremamente útil quando estamos tentados a nos sentirmos
transtornados, irritados, culpados, ansiosos, amedrontados, furiosos, doentes, ou seja o que
for, perceber que, nesse ponto, nós desvalorizamos o Amor de Deus e basicamente
dissemos, “Eu não quero isso”. Nós trocamos a dádiva de Deus pela dádiva do ego. É
impossível ter um pensamento, uma emoção ou uma reação que não seja a escolhida por
nós. Impossível porque nenhuma mente tem o poder de fazer nada a nós, nenhum corpo
tem o poder de nos afetar de forma alguma – a menos que tenhamos dado poder a essa
mente ou a esse corpo. E esse é o problema.

Se eu estiver transtornado, é porque dei minha paz a você. Agora, a maioria das coisas que
nos deixam transtornados são relativamente triviais. Se nós pudéssemos ver isso e então
dizer, por exemplo, “Você sabe, eu dei de presente minha paz a esse garoto de dez anos de
idade que me deixou transtornado. A paz de Deus que eu dei de presente, eu a voltei contra
ele”. Isso é sem sentido, mas é isso o que fazemos. Ou eu estou dirigindo por uma auto-
estrada, alegremente sentado com Deus e sentindo Seu Amor, e, de repente, fico aborrecido
com outro motorista. Eu entreguei minha experiência de paz e de amor a esse motorista.
Agora, se eu pudesse realmente ver com clareza o que escolhi fazer, então, seria difícil
justificar o ato de culpar todas as coisas no mundo que eu responsabilizei por me deixarem
transtornado.

Em certo sentido, nós poderíamos resumir todo o Curso em Milagres a apenas esse
ensinamento. Nós estaríamos nos saindo muito, muito bem se realmente entendêssemos que
a cada vez que ficamos transtornados, é porque nós deliberada e resolutamente – ainda que
possamos não estar conscientes disso – tomamos uma decisão de não mais valorizarmos o
Amor de Deus e a paz. Nós demos mais valor a ficarmos zangados, doentes ou ansiosos.
Mas, pelo fato de termos escolhido o ego, podemos com a mesma facilidade mudar nossas
mentes outra vez. E, então, esse é o significado de “Quem tentaria voar com as asas
diminutas de um pardal quando lhe foi dado o grande poder da águia?”.

Parte IV

Nós vamos pular a próxima seção, “O desenvolvimento da confiança”. É uma seção


importante, mas iria nos tirar um pouco do caminho.

2. Honestidade (M-4.II)

Vamos voltar agora para a segunda das características, a honestidade. Honestidade no


Curso não é o que pensamos que deveria ser. Não é sobre comportamento ou palavras. Ela
se refere à consistência entre o que fazemos ou dizemos e o que pensamos. Por exemplo, da
perspectiva do mundo, visitar um velório e parecer triste ao ajoelhar ao lado de um caixão e
rezar por alguém que nem mesmo está lá é desonesto. Mas não é desonesto se meu

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comportamento for consistente com o pensamento amoroso em minha mente. Meu
comportamento é uma forma de me unir em amor com outros que estão lá sofrendo. É isso
o que torna meu comportamento consistente com o pensamento na minha mente.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-3) Todos os outros traços dos professores de Deus baseiam-se
na confiança. Uma vez que ela tenha sido alcançada, os outros não podem deixar de se
seguir.

Como sabemos, todo o sistema de pensamento do ego repousa na negação de que Deus é
confiável. Aceitação do sistema de pensamento do Espírito Santo repousa na negação da
negação do ego. Então, uma vez que eu realmente sei que posso confiar no Espírito Santo,
não tenho necessidade, nesse ponto, de me agarrar às asas diminutas de um pardal. A única
razão pela qual iria me agarrar ao medo, pecado, culpa, separação, ataque e solidão, é que
eu tenho medo do Amor de Deus.

O sistema de pensamento do ego é proposital. Sua função é nos proteger do Amor de Deus
porque nossas mentes não o valorizam. No início, naquele instante original, nós escolhemos
não valorizar o ensinamento do Espírito Santo de que o ego e seus efeitos foram
inventados. Ao invés disso, dizemos que não queríamos a correção do Espírito Santo,
queríamos o ego. Mas, uma vez que mudamos nossas mentes e dizemos que não
valorizamos mais o ego, e que valorizamos apenas o Amor de Deus como tudo o que
queremos e que não temos medo dele, então, tudo que o ego tem nos ensinado não tem
mais um propósito para nós. Nós simplesmente o liberamos, e todas as outras
características se seguem automaticamente.

(Parágrafo 1 – Sentenças 3-4) Só aqueles que confiam podem se permitir a honestidade,


pois só eles podem ver seu valor.

O sistema de pensamento do ego inteiro é baseado em uma mentira. Assim como na


história de Adão e Eva – que é realmente uma forma maravilhosa de simbolizar o
nascimento do ego -, o diabo, ou a serpente, mente. Todo o sistema de pensamento do ego é
baseado em um pensamento desonesto, isto é, que nós realmente nos separados de Deus e
que Ele está zangado conosco. Deus nem mesmo sabe nada sobre nós, como poderia estar
zangado?

Em outras palavras, desde o início, quando escolhemos o ego, nós valorizamos a


desonestidade. Nós ficamos com medo e não valorizamos a honestidade. Então, quando
agora dizemos, “Eu confio no Espírito Santo e não no ego”, estamos valorizando a
honestidade ou a verdade.

(Parágrafo 1 – Sentenças 4-8) A honestidade não se aplica apenas ao que dizes. De fato, o
termo significa consistência. Nada do que dizes contradiz o que pensas ou fazes, nenhum
pensamento se opõe a outro pensamento, nenhum ato trai tua palavra e nenhuma palavra
discorda de outra.

Logo no início, o pensamento do ego se opôs ao pensamento do Espírito Santo, de tal


forma que a mente dividida se tornou um campo de batalha, um lugar de oposição. Do

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ponto de vista do ego, ele está em guerra com Deus, ele está se opondo a Deus. E o ego
conta uma mentira atrás da outra, primeiro por fazer um Deus Que está zangado, e, depois,
por fazer um mundo que ele nos diz que vai nos deixar a salvo e nos proteger da ira de
Deus. Mas, então, fica evidente que o mundo não é um lugar seguro, porque todos nele
sofrem dor e todos morrem. Esse mundo dificilmente é seguro.

Então, o ego mente o tempo todo, desde o início. Ele faz um mundo a partir de uma
mentira, a mentira de que o mundo vai nos defender e nos proteger – o corpo vai nos
proteger. Bem, o corpo é uma coisa infernal para nos proteger – ele está sempre
sucumbindo, e um dia vai morrer. Desde o início, uma inconsistência segue a outra.

(Parágrafo 1 – Sentenças 9-12) Tais são os verdadeiramente honestos. Não há nenhum


nível em que estejam em conflito consigo mesmos. Portanto, é impossível para eles estar
em conflito com qualquer pessoa ou qualquer coisa.

É isso o que me capacita, então, ir a um funeral e me unir com todos, parecendo estar
transtornado. Existe apenas amor dentro de mim e o amor só une. A única coisa que é
importante é minha união com todos os outros. Eu me uno com todas as pessoas no funeral
– toda a minha família e amigos que acreditam que sofreram perda e que algo terrível
aconteceu, o que lembra a eles da perda original que acreditam ter sofrido.

Mas, se eu entrar falando as palavras de Um Curso em milagres, estarei me separando


deles. Estarei dizendo a eles que sua percepção da separação e perda está correta, porque
estou demonstrando que a separação é real. Todos eles estão unidos em pesar. Minha ida lá,
segurando a bandeira da “verdade” e do “amor”, etc., não está me unindo a eles. Está me
separando deles. Então, eu quero me unir a eles em um nível que possam aceitar e
compreender – isso é honesto. Minha honestidade não é falar a verdade do Curso em
Milagres. Minha honestidade vem de primeiro me unir com o amor dentro da minha mente
que, depois, me direciona e me guia a me unir com as pessoas no nível da forma.

Deixem-me ler algo do texto que deixa esse ponto claro. Essa passagem é útil sempre que
formos tentados a cair na armadilha de pregar a verdade de uma forma que é realmente um
ataque. O contexto dessa seção é o uso da mágica, ou medicina. Ela está dizendo que o uso
da mágica ou da medicina não é pecaminoso, e, de fato, com freqüência é amoroso porque
estamos nos unindo com as pessoas no nível onde elas estão.

O valor da Expiação não está na maneira pela qual é expressa [o nível da forma]. De fato,
se ela for usada verdadeiramente, inevitavelmente será expressa de qualquer forma que for
mais útil para o recebedor. [Então, se a coisa mais útil para alguém que está lamentando a
morte de um ser amado é nos unirmos a ele lá, então é isso o que fazemos]. Isso significa
que um milagre, para atingir sua plena eficácia, precisa ser expresso em uma linguagem
que o recipiente possa entender sem medo (T-2.IV.5:1-3).

Se eu for a um funeral acreditando que sou esse símbolo de Amor perfeito de Deus, e
verbalizar todas essas verdades perfeitamente maravilhosas, as outras pessoas quase com
toda a certeza vão experienciar isso como ameaçador. Isso, portanto, não seria útil, porque
iria apenas aumentar seu medo.

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Isso não significa necessariamente que esse seja o nível mais elevado de comunicação de
que ele seja capaz. Mas realmente significa que esse é o mais elevado nível de
comunicação de que ele é capaz agora. Todo o objetivo do milagre é elevar o nível de
comunicação, não rebaixá-lo por aumentar o medo (T-2.IV.5:4-6).

================

O que é honesto não é a forma. Não é a forma que é verdadeira, mas o amor que a inspira.
E o amor sempre vai levar a uma expressão de união. Nós não queremos ficar aprisionados
na idéia de que para sermos um perfeito professor do Curso em Milagres, etc., temos que
olhar e agir como uma pessoa santa, espiritual – essa é uma idéia do ego.

(Parágrafo 2 – Sentenças 1-3) A paz da mente que experimentam os professores de Deus


avançados se deve em grande parte à sua perfeita honestidade. Só o desejo de enganar é
que faz a guerra.

A razão pela qual não estou em paz não tem nada a ver com coisa alguma fora de mim. Eu
não estou em paz porque escolhi não estar em paz – eu vi a mim mesmo em guerra com
Deus. E, quando eu torno minha guerra com Deus real dentro da minha mente, esse
pensamento precisa então ser projetado para fora e fazer um mundo que acredita que está
em guerra também. Então, a experiência de todos é que o mundo é um campo de batalha –
eu tenho que cuidar de mim mesmo e prestar atenção para que as outras pessoas não me
firam. Portanto, eu não estou em paz, porque acredito que estou vivendo em uma zona de
guerra.

Mas, se eu pudesse ser perfeitamente honesto – o que significa que eu me identifico com a
honestidade de Deus e com a verdade do Espírito Santo – saberia que não existe guerra. E,
se não existe campo de batalha na minha mente, não vou perceber o mundo como um.
Então, não importando o que aconteça ao meu redor, estarei em paz.

(Parágrafo 2 – Sentenças 3-4) Ninguém em unidade consigo mesmo é capaz de sequer


conceber o conflito.

Isso basicamente é uma tautologia. Se eu sou um comigo mesmo, então, minha mente não é
dividida e não pode haver conflito.

(Parágrafo 2 – Sentenças 4-6) O conflito é o resultado inevitável do auto-engano e o auto-


engano é desonestidade.

O conflito surge porque eu enganei a mim mesmo sobre quem eu sou. Eu ouvi a voz do
ego, que é a voz desonesta, e bloqueei a Voz do Espírito Santo, que é a Voz da honestidade.
Uma vez que escolhi contra mim mesmo, preciso estar em conflito. Preciso estar em estado
de desonestidade, o que significa que vou valorizar a desonestidade e não vou valorizar a
honestidade ou a verdade. Uma vez que eu acredite que estou em conflito ou em guerra
comigo mesmo, também preciso acreditar que estou em guerra com todos os outros, e todos
no mundo estão em conflito comigo.

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Eu não apenas estou me enganando sobre quem eu sou como uma criança de Deus, mas
também estou me enganando sobre quem é você como meu irmão ou irmã em Cristo. Uma
vez que somos todos partes do mesmo ser, estou em conflito não apenas com o ser que
estou experienciando como eu mesmo, mas também com o ser mais amplo, coletivo. Estou
vendo todos dentro desse grande ser ou mente, como estranhos uns aos outros. Então, tudo
no mundo parece estar em conflito, e tudo, portanto, precisa ser uma ilusão, porque o
conflito não é a verdade. A verdade é que somos todos um.

(Parágrafo 2 – Sentenças 6-9) Não há nenhum desafio para um professor de Deus. Desafio
implica dúvida e a confiança na qual os professores de Deus descansam em segurança faz
com que a dúvida seja impossível.

Nossa sociedade sempre valoriza pessoas que vencem grandes desafios e adversidades.
Esses são os heróis – pessoas que possuem grande coragem. Do ponto de vista do Curso,
esses são todos aspectos da tentativa do ego de triunfar e provar que é maior do que Deus.

Considerem Jesus como um exemplo – ele não era um homem corajoso. Ele não tinha
coragem alguma. Ele simplesmente era quem era. Não havia nada que ele tivesse que
vencer, nada sobre o que tivesse que ser corajoso. Bravura, coragem, etc., são atributos do
ego. O ego fez um mundo que tem que ser vencido, e, então, gasta uma quantidade de
tempo e uma energia imensas tentando vencer esses obstáculos que ele mesmo fez. Seu
propósito é nos distrair da única coisa que temos que nos lembrar: Quem nós somos. Isso
não requer bravura, coragem, esforço. Tudo o mais que pusemos entre nós e Deus
simplesmente tem que ser desfeito, então, não há desafio.

Mas uma vez que somos desonestos, nós nos separamos da honestidade de Deus. E, então,
fizemos um mundo desonesto como uma resposta desonesta a uma pergunta desonesta.
Nosso grande desafio na vida então é ultrapassar todos os obstáculos. Mas toda a coisa é
inventada. Não há desafio. Uma vez que nos lembramos de Quem somos, todas as dúvidas
desaparecem, todos os obstáculos desaparecem, e toda necessidade de triunfo desaparece.
Lembrem-se, o sistema de pensamento do ego começa com a premissa de que triunfou
sobre Deus, que venceu seu inimigo. Ele finalmente se libertou da tirania do perfeito amor
e estabeleceu seu mundo oposto, seu mundo de oposição. Desse momento em diante, tudo o
que o ego faz vai envolver algum tipo de triunfo. E, então, nesse mundo, nós estamos
sempre tentando triunfar uns sobre os outros, sobre nossa adversidade, sobre outros que
estão tentando nos atacar, e assim por diante. A expressão popular, “O amor triunfa sobre
tudo” implica que algo lá fora tem que ser vencido. Entretanto, uma vez que aceitamos a
honestidade de Deus e a verdade do Espírito Santo como nossa, Deus se torna Alguém em
Quem nós confiamos. Não há dúvidas sobre Ele ou sobre Seu Amor, e não há dúvidas
sobre nossa verdadeira identidade. Portanto, não há desafio.

(Parágrafo 2 – Sentença 9) Por conseguinte, só podem ter sucesso.

Isso não significa necessariamente que os professores de Deus vão ter sucesso no mundo,
mas também não vão necessariamente falhar. É irrelevante que eles tenham sucesso ou
falhem no mundo. Quando lutamos por algo no mundo – buscando vencer, ter sucesso,

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evitar a falha – obviamente, estamos tornando o mundo lá fora real. E o mundo foi feito
simplesmente como uma defesa contra nossa verdadeira natureza como o Filho de Deus. O
mundo é uma cortina de fumaça gigantesca. Uma vez que acreditemos que algo lá fora tem
que ser modificado, vencido, ou que temos que triunfar sobre ele, caímos na armadilha do
ego.

(Parágrafo 2 – Sentenças 9-16) Nisso, como em todas as coisas, são honestos. Só podem ter
sucesso porque nunca fazem a própria vontade sozinhos. Escolhem por toda a
humanidade, por todo o mundo e por todas as coisas dentro dele, pelo que não muda e
permanece imutável alem das aparências, pelo Filho de Deus e pelo seu criador. Como
poderiam não ter sucesso? Escolhem em perfeita honestidade, seguros da sua escolha
tanto quanto de si mesmos.
A linha “eles nunca fazem sua própria vontade sozinhos” significa, como já mencionamos,
que eles não acreditam em interesses separados. Eles reconhecem que sua vontade é uma
com a vontade da filiação, assim com a Vontade de Deus. Então, ao escolher estar em paz,
eu preciso estar escolhendo que todos os outros estejam em paz também. Se somos todos
crianças do único Deus, parte da Mente única e do Filho único, então, não pode acontecer
de eu ter uma vontade separada da de ninguém mais, incluindo meu Criador. A crença de
que eu realmente tenho uma vontade separada da de Deus foi o pensamento original do ego.
Esse pensamento então foi projetado e defendido, fazendo um mundo no qual interesses
separados parecem ser a lei.

O que se segue então é que eu não me importo com o que acontece com você, com sua
família, com sua religião ou com seu país. Eu só me importo com o que acontece comigo,
com minha família, minha religião, meu país e todos os grupos com os quais me identifico.
Mas, quando eu reconheço que somos todos um e que não podemos manter quaisquer
pensamentos de separação ou de ataque e ser pacíficos, então, também reconheço que é
minha decisão, meu poder de tomador de decisão, escolher de forma diferente.

A escolha “pelo que não muda e permanece imutável, além das aparências” é a escolha
pelo Cristo que está em todos nós. Apesar de todas as diferenças aparentes que nos mantêm
separados nesse mundo, o que nos une é que todos nós temos a mesma Fonte, e todos temos
a mesma Mente. O mundo foi feito para dar testemunho à mentira, isto é, que somos todos
diferentes. Então, minha aliança não é com o mundo como um grupo de corpos separados,
nem com o planeta como um organismo vivo em e por si mesmo, como muitas pessoas
falam sobre ele hoje. Minha aliança e minha fidelidade são em relação à verdade além de
todas as aparências – ao Cristo que todos nós compartilhamos.

O que vamos encontrar conforme revisarmos cada uma dessas características é que vou
dizer a mesma coisa muitas e muitas vezes – assim como encontramos em cada parágrafo
do Curso. Palavras diferentes talvez, formas diferentes, mas o conteúdo é sempre o mesmo.

Parte V

Quais são as Características dos Professores de Deus?

III. Tolerância (MP-4.II)

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Essa característica do professor de Deus, tolerância, não é a tolerância de que o mundo
geralmente fala, mas, ao invés disso, é a ausência de julgamento. O significado do mundo é
realmente uma máscara para o ataque – que eu tolero você, ou que sou uma pessoa
tolerante. O Curso está falando sobre algo totalmente oposto a isso – uma percepção ou
uma visão que não vê diferenças ou, em outras palavras, que vê apenas o imutável e o
inalterável.

Agora, certamente, aos olhos do corpo, todos são diferentes. Quando o Curso diz para não
julgarmos, ele não quer dizer que devemos negar as diferenças que existem no plano físico.
Ele quer dizer que não devemos transformar as diferenças em uma grande coisa. Quando o
Curso diz para não julgar, ele realmente quer dizer não atacar. Todos aqui tiveram que fazer
um julgamento para estar nesse workshop. Todos tiveram que fazer um julgamento para
estudar o Curso. Esses são julgamentos. Nós não podemos estudar cada forma de
espiritualidade no mundo, então, temos que fazer um julgamento. O Curso não é contra
fazer julgamentos. Ele simplesmente nos pede para não os fazermos por conta própria.

Mas, acima de tudo, quando ele diz para não julgarmos, ele quer dizer para não
condenarmos. De forma similar, quando o Curso diz para não vermos nosso irmão como
um corpo, ele não quer dizer para negarmos que existe um organismo físico diante de nós.
Isso é tolo e o Curso não é tolo. Ele é simples, mas não é simplório. Quando somos
solicitados a não ver nosso irmão como um corpo, o Curso está querendo dizer para não o
julgarmos como um corpo, e para não vermos o corpo como o ego faz – sempre como um
meio de ataque e separação, e de provar que Deus é uma ilusão.

Não estamos sendo solicitados a negar o corpo diante de nós, ou o corpo que
experienciamos como nós mesmos. Estamos sendo solicitados a não compartilhar a
interpretação do ego para o corpo como um meio de atacar – como algo com o qual atacar e
ser atacado.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-2) Os professores de Deus não julgam. Julgar é ser desonesto,
pois julgar é assumir uma posição que não tens.

O Curso repete esse tema muitas vezes no manual assim como em outras passagens. O
Único Que pode julgar de forma justa e aberta e com grande sabedoria é o Espírito Santo.
Nós somos insanos por acreditar que podemos fazer qualquer julgamento razoável sobre o
que é do melhor interesse de qualquer pessoa, incluindo a nós mesmos – que podemos, de
qualquer forma, saber o que seria melhor em qualquer circunstância. Fazer isso, como o
Curso explica em outra passagem (MP-10.3:3-7), iria envolver um conhecimento de tudo o
que aconteceu no passado, de tudo o que vai acontecer no futuro, e como esse julgamento
em particular vai afetar todas as pessoas envolvidas de qualquer forma com ele. E,
obviamente, ninguém nesse mundo tem esse tipo de perspectiva.

Então, é desonesto presumir que podemos estar nesse tipo de posição. Mas essa posição é
exatamente a que o ego assumiu desde o início – chutar Deus do trono e O suplantar,
usurpando Sua posição e então afirmando que agora é Deus. Sempre que acreditamos que
sabemos o que é melhor, estamos mais uma vez refletindo aquela idéia original do ego e

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aquele instante original em que demos um empurrão em Deus e tomamos Seu lugar.

Vamos ao fim do manual para lermos outra passagem sobre essa idéia:

Há uma outra vantagem – e muito importante – ao se passar as decisões ao Espírito Santo


com cada vez mais freqüência. Talvez não tenhas pensado nesse aspecto, mas a sua
importância central é óbvia. Seguir a orientação do Espírito Santo é se deixar absolver da
culpa. É a essência da Expiação. É o núcleo do currículo. A usurpação imaginária de
funções que não são tuas é a base do medo. O mundo inteiro que vês reflete a ilusão de que
fizeste isso, fazendo com que o medo seja inevitável. Assim sendo, devolver a função
Àquele a Quem ela pertence é escapar do medo. E é isso o que permite que a memória do
amor volte a ti. Assim sendo, não penses que é necessário seguir a orientação do Espírito
Santo meramente devido às tuas próprias inadequações. Para ti, é o caminho para saíres
do inferno (MP-29.3).

Logo no início, nós tomamos o lugar de Deus – o que é a fonte da culpa. A essência da
Expiação então é o desfazer da crença insana de que podemos atacar e matar Deus, tirar
Seu lugar, e realmente sermos Deus. A essência da Expiação é reconhecer que nada disso
sequer aconteceu. O Amor de Deus ainda é o que sempre foi; e nós, como uma extensão
desse Amor, também ainda somos o que sempre fomos. Pedir a ajuda do Espírito Santo,
portanto, é uma expressão do nosso reconhecimento de que a presença do Amor, para
Quem podemos nos voltar, e de Quem podemos depender, está lá, em nossas mentes.

Então, o erro do ego tem sido acreditar que é independente e pode funcionar por conta
própria. Nós só podemos ter uma idéia aproximada da quantidade de terror que está
envolvida, se considerarmos como uma criança pequena se sente quando se perde
temporariamente e se sente completamente sozinha. Essa é uma expressão muito branda do
terror sobrepujante dentro de cada um de nós em relação à crença de que realmente tivemos
sucesso nisso – que nós chutamos Deus para fora e agora estamos totalmente por conta
própria.

O mundo todo, então, tornou-se a tela que nos protege do nosso terror em relação a termos
tirado o lugar de Deus. Como a passagem que acabamos de ler diz, “A usurpação
imaginária de funções que não são tuas é a base do medo. O mundo inteiro que vês reflete
a ilusão de que fizeste isso...”. Então, meu aprendizado em confiar no Espírito Santo é meu
reconhecimento de que não posso desfazer meu ego por conta própria, e que não quero
fazer isso por conta própria. Isso, então, é o que Jesus quer dizer com a desonestidade do
nosso julgamento em assumir uma posição que não temos. Nosso pensamento também é
desonesto porque ele implica em algo do que escolher, ou entre o que escolher, que só pode
ser verdadeiro em um mundo de separação e de dualidade. No Céu, não existe julgamento
porque não existem escolhas a serem feitas.

Então, a crença de que nosso julgamento é importante e faz uma diferença é a tentativa do
ego de nos convencer de que o mundo e o ego são reais e importantes. Nós queremos
reconhecer que não importa o que escolhemos no nível do mundo. O que realmente importa
é qual professor vamos escolher. Reconhecer isso é uma parte útil do processo de voltar
para casa.

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(Parágrafo 1 – Sentenças 3-5) O julgamento implica que tens te enganado nos teus irmãos.
Como, então, poderias não ter te enganado contigo mesmo?

Julgar contra você implica em que deve ter havido algum tipo de ataque – ou você me
atacou ou eu ataquei você. É claro, em minha própria mente, geralmente serão os dois. E,
uma vez que eu acredito que a separação e o ataque são reais, não apenas terei enganado
você, mas terei enganado a mim mesmo também. Pois como eu perceberei você será
exatamente como percebo a mim mesmo – não haverá diferença.

(Parágrafo 1 – Sentenças 5-8) O julgamento implica falta de confiança e a confiança


continua sendo a estrutura sobre a qual se baseia todo o sistema de pensamento do
professor de Deus. Deixa que isso se perca e todo o teu aprendizado se vai.

Se eu não confiar no Espírito Santo, mas confiar no ego ao invés disso, já fiz um
julgamento – contra mim mesmo. A razão pela qual eu não confio no Espírito Santo é que
já acusei a mim mesmo de ser culpado do pecado contra Deus. E, então, eu temo a punição
de Deus e fico com medo da Presença amorosa e gentil do Espírito Santo em minha mente,
acreditando, ao invés disso, que ela é uma presença hostil que vai me destruir.

Então, eu já fiz um julgamento contra mim mesmo. Eu fiz um julgamento que diz que
existe um campo de batalha na minha mente, como já disse. Esse julgamento, esse sistema
de pensamento de um campo de batalha na minha mente, é projetado para fora, fazendo
surgir um mundo que é um campo de batalha. E eu não posso confiar em ninguém no
mundo porque meu auto-ódio demanda que eu seja punido pelo meu ataque a Deus. Então,
eu faço julgamentos em termos do que é seguro e do que não é. E, quando eu faço um
julgamento de que alguma situação na qual estou não é segura, então, faço um julgamento
sobre o que vai me proteger. Eu tento determinar quem posso manipular para me guardar e
me proteger do perigo. E eu preciso encontrar proteção por causa do meu julgamento
prévio contra mim mesmo, isto é, que eu pequei contra Deus e mereço ser punido.

(Parágrafos 8-10) Sem julgamento todas as coisas são igualmente aceitáveis, pois quem
poderia julgar de outra maneira?

Quando eu libero o julgamento, o que significa que eu libero minha desconfiança em Deus,
eu me lembro de quem sou e posso me identificar com aquela Presença de Amor dentro da
minha mente. E esse Amor é unidade. Não há separação ou divisão aqui. Esse Amor então
se estende através de mim e eu vejo todas as coisas nesse mundo como abraçadas por
aquele Amor. E não vejo diferenças – eu não sou iludido pelas diferenças superficiais que
os olhos do meu corpo percebem. Tudo o que eu vejo – como o Curso diz, o único
julgamento que o Espírito Santo faz no mundo – é ou uma expressão de amor ou um pedido
de amor. Não existe outra possibilidade.

Isso torna minha resposta extremamente simples. Se você é meu irmão ou irmã em Cristo, e
você estende e expressa amor para mim então, obviamente, vou expressá-lo de volta para
você. Se você é meu irmão ou irmã em Cristo e está pedindo amor, não acreditando que o
merece, então, como seu irmão ou irmã em Cristo, vou estender amor a você. Então, isso

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não faz diferença. E esse é o único julgamento que o Espírito Santo faz – um julgamento
que pede a mesma exata resposta.

(Parágrafo 1 – Sentenças 10-13) Sem julgamento, todos os homens são irmãos, pois quem
haveria de estar separado? O julgamento destrói a honestidade e despedaça a confiança.
Nenhum professor de Deus pode julgar e esperar aprender.

Jesus está se referindo aqui aos julgamentos de ataque e condenação contra outros. Ele não
quer dizer que deveríamos não fazer quaisquer julgamentos nesse mundo – nós precisamos.
Mas deveríamos não transformar o julgamento em uma grande coisa – nós não temos que
perguntar ao Espírito Santo a cada vez que formos fazer alguma coisa, como ele explica
nessa seção que acabamos de ler (MP-29.5:4-8). Em outras palavras, quando eu me levanto
pela manhã, não tenho que criar um grande caso sobre que cor de calças vou vestir, ou que
camiseta vou usar, a menos que, por qualquer razão, esse tipo de escolha tenha se tornado
um símbolo principal de medo ou culpa para mim. Por exemplo, se eu me perceber
pensando que vou ver fulana hoje e aquela pessoa adora azul, vou usar azul porque isso vai
me ajudar a manipular aquela pessoa para me dar o que eu quero. Nesse ponto, meu
julgamento sobre usar azul é um ataque. É aí que eu deveria me voltar para o Espírito
Santo. Não que a roupa que uso importe, mas a motivação para minha escolha importa.

Nós não temos que perguntar ao Espírito Santo a cada vez que queremos fazer algo. Nós
simplesmente queremos estar razoavelmente atentos em relação a quando nossos
julgamentos têm pensamentos do ego associados a eles. Nesse ponto, deveríamos pedir a
ajuda do Espírito Santo, não com as coisas específicas da escolha, tal como que cor usar,
mas, ao invés disso, para liberar quaisquer pensamentos de ataque ou de medo, etc.,
associados com a decisão.

Considerem outro exemplo – votar em uma eleição. Nós deveríamos simplesmente votar
para quem pensarmos que será o melhor presidente, primeiro ministro ou seja o que for,
sem qualquer investimento. Em outras palavras, nós fazemos um julgamento assim como
iríamos decidir se vamos tomar café ou chá, ou usar roupa branca ou cor-de-rosa, ou virar à
direita ou à esquerda. Ou vir para essa aula ou fazer outra coisa. O ponto é não criarmos um
grande caso sobre isso. E como um dos nossos papéis é sermos cidadãos do nosso país,
então nós fazemos o que os cidadãos em nosso país fazem quando votamos.

A menos que sejamos especialmente guiados de outra forma – e deveríamos ter muita
cautela com esse tipo de orientação – deveríamos sempre permanecer dentro dos papéis que
aceitamos – esposa, mãe, criança, filha, irmã, amigo, cidadão, etc. E nós deveríamos fazer o
que o papel diz que deveríamos fazer, porque essa é uma sala de aula que nós escolhemos.
Nós deveríamos da mesma forma obedecer às regras da sala de aula, a menos que estejamos
muito certos de estarmos sendo guiados de outra forma. Então, quando forem votar, votem
para o republicano ou para o democrata, ou seja pra qual partido político com o qual
estiverem envolvidos, mas não transformem isso em uma grande coisa.

Parte VI

Quais são as Características dos Professores de Deus?

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Gentileza (MP-4.IV)

O primeiro parágrafo dessa seção não fala realmente sobre gentileza. Ele fala sobre dano. A
razão para isso é que o desfazer do negativo é o que estabelece algo como positivo. O
Curso diz que o amor nesse mundo é impossível porque o mundo todo foi feito como uma
defesa contra o amor e um ataque a ele. Ele também diz que “o que não é amor é
assassinato” (T-23.IV.1:10). Segue-se, portanto, que tudo nesse mundo é assassinato. O
mais perto que podemos chegar do amor nesse mundo é para desfazermos as barreiras ao
amor. E o que desfaz essas barreiras é o perdão. O livro de exercícios também diz que o
perdão é o equivalente no mundo ao Amor do Céu (LE-pI.6-.1:4-5). O perdão desfaz a
maldade que é o centro do sistema de pensamento do ego: a crença de que nós ferimos
Deus, o que é uma crença absolutamente insana e arrogante. Nós então projetamos a
maldade sobre Deus, e agora acreditamos que Ele vai nos ferir. A seguir, negamos todo
esse massivo sistema de pensamento de terror (o pensamento, entretanto, ainda permanece
profundamente dentro de nós) e o projetamos para fora de nossas mentes, para que nós
agora possamos viver em um mundo de maldade. Lembrem-se, “o que não é amor é
assassinato”, e nenhum amor é possível nesse mundo.

(Parágrafo 1 – Sentença 1) O dano é impossível para os professores de Deus.

“Professores de Deus” aqui, refere-se aos professores avançados – aqueles que já


avançaram até a confiança completa no Amor de Deus dentro de todos nós. Eles confiam
porque sabem que o poder dentro de nós nos deixa a todos a salvo. Eles não são iludidos
pela alegação do ego de que o poder de Deus vai nos destruir. Uma vez que reconhecemos
isso, desfizemos a crença no pecado, que é a crença de que nós atacamos Deus e destruímos
o Amor do Céu. E, uma vez que esses pensamentos se vão, não podemos continuar
projetando o que não existe mais dentro de nossas mentes. Se o ódio estiver na minha
mente, então, o ódio é exatamente o que será projetado no meu mundo. Se apenas o amor
estiver na minha mente, então, apenas o amor será projetado.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-2) Eles não podem infligi-lo nem sofrê-lo.

Aos olhos do mundo, Jesus foi ferido na cruz. E, então, o cristianismo durante 2.000 anos
tem construído a si mesmo sobre a concepção errônea de que Jesus foi ferido – que ele
sofreu e morreu na cruz. Como ele explica no texto, entretanto, tudo isso resultou de uma
interpretação errônea vinda do medo dos apóstolos (T-6.I.14:2-3). Se não existe corpo e o
corpo é apenas uma marionete sem vida, ele não pode sofrer dor, e não pode morrer. A
mente escolhe sofrer e então projeta esse pensamento sobre o corpo, que se comporta de
acordo com isso. Uma vez que Jesus não tinha pensamentos de sofrimento, culpa ou medo,
e ele sabia quem era, ele, portanto, não tinha nada em sua mente para projetar em seu corpo
exceto amor. Mas o medo e a culpa daqueles ao redor dele fizeram com que eles o
percebessem sofrendo, e percebessem Deus como um Deus irado, Que exigia vingança por
nossos pecados contra Ele, e exigiu que Seu único Filho fosse sacrificado. Então,
novamente, o corpo de Jesus não foi ferido. Parecia que podia ser ferido. Na realidade,
poderíamos dizer que seu corpo foi ferido, mas ele não foi ferido porque ele sabia que não
era o seu corpo.

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(Parágrafo 1 – Sentenças 2-3) O dano é o resultado do julgamento. É o ato desonesto que
segue um pensamento desonesto.

O julgamento original e a desonestidade original é que eu ataquei Deus e tirei Seu lugar –
que eu realmente fiz isso. Eu não apenas tenho o pensamento de conseguir isso, mas já o
consegui. E o mundo parece atestar o fato de que eu realmente tive sucesso nisso, porque
esse é um lugar, como o livro de exercícios diz, onde Deus não pode entrar (LE-pII.3.2:4).
Foi por isso que o mundo foi feito. Deus está em nossas mentes (representado lá pelo
Espírito Santo), e o mundo foi feito como uma defesa contra a mente. Somos todos como
marionetes cujos braços, pernas, corpos, etc., são manipulados por um titereiro acima do
palco. Mas nenhum de nós está consciente dele. E todo nosso propósito em estabelecer tudo
dessa forma tem sido manter o verdadeiro poder e função da mente fora de nossa
consciência. Então, parece para nós que nossos corpos e cérebros agem por conta própria,
independentemente de tudo o mais. Esse é o truque mágico que o ego lançou sobre nós. O
julgamento original de que eu ataquei Deus e pequei contra Ele continua a ser projetado de
novo e de novo.

(Parágrafo 1 – Sentenças 3-5) É um veredicto de culpa para um irmão e, portanto, para a


própria pessoa.

Então, se eu ataco você, que é o que é o dano, estou dizendo que você é o culpado, não eu.
Entretanto, eu primeiro ataquei a mim mesmo quando disse que sou culpado e pecador.
Mas não posso suportar olhar para a extensão do meu auto-ódio e, portanto, eu o empurro
para o fundo da minha mente para que não tenha que vê-lo. Então, eu o projeto em você,
dizendo que você é o culpado, o único responsável por quanto me sinto mal em relação a
mim mesmo. Não é minha culpa. Você fez isso a mim. E, então, eu transferi minha culpa
para o seu corpo e, ao fazer isso, ataquei você.

(Parágrafo 1 – Sentenças 5-7) É o fim da paz e a negação do aprendizado. Demonstra a


ausência do currículo de Deus e a sua substituição pela insanidade.

Dano ou ataque obviamente são o fim da paz – nenhum de nós poderia afirmar que está
pacífico enquanto está atacando. E se eu não estou pacífico, não posso aprender, porque o
único aprendizado real é o que vem de ouvir o Espírito Santo. O Curso diz em vários
trechos que o ego não pode aprender. O que pode aprender, entretanto, é a parte da mente
que ouve o Espírito Santo. Mas, uma vez que eu ataco e torno o ataque real, tento apagar a
presença do Espírito Santo da minha consciência. Nesse ponto, não posso aprender mais
nada porque já julguei o que a realidade e a verdade são, o que significa que fechei a porta
para qualquer outro tipo de aprendizado. Eu já disse que ataque, separação e culpa são a
realidade e a verdade. Nesse ponto, minha mente está fechada e eu não posso ouvir
nenhuma outra voz. Eu neguei o currículo do Espírito Santo: a Expiação, ou o perdão.

(Parágrafo 1 – Sentenças 7-9) Nenhum professor de Deus pode deixar de aprender – e bem
cedo no seu treinamento - que causar dano oblitera completamente a sua função na sua
consciência.

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No Manual para Professores, uma seção sobre a paz de Deus fala sobre como nós perdemos
a paz de Deus quanto ficamos zangados (MP-20.3:3-4). É como se caísse uma cortina. A
paz de Deus pode vir apenas do Espírito Santo, Que é a Voz do amor e da unidade. Ataque,
obviamente, é uma voz de desunião. Ninguém acreditaria que está unido a outra pessoa que
acabou de atingir na cabeça! Todos nós temos que estar com medo da paz de Deus se nos
identificamos com o ego. Se nós não queremos a paz de Deus, nós a entregamos por
atacarmos alguém. Mas, então, nós negamos que somos aqueles que entregaram a paz, e
acusamos outra pessoa de roubá-la de nós. E isso justifica nosso ataque.

(Parágrafo 1 – Sentenças 9-14) Fará [o dano] com que ele fique confuso, amedrontado,
raivoso e desconfiado. Fará com que seja impossível aprender as lições do Espírito Santo.
E o Professor de Deus também não pode sequer ser ouvido a não ser por aqueles que
compreendem que o dano, de fato, nada pode conseguir. Nenhum ganho pode dele advir.
Essa é outra forma de entender a lição central do Curso, que é que eu preciso reconhecer
que atacar outra pessoa não me traz nada de bom. Jesus é muito inteligente no Curso, vocês
sabem. Ele não nos diz para fazermos o que ele diz só pelo fato dele dizer que deveríamos
fazê-lo. Ele diz, ao invés disso, “Faça o que eu digo porque isso vai fazer com que você se
sinta melhor”. E ele nos diz também que nós não entendemos o que vai nos fazer sentir
melhor. Nós confundimos dor com alegria, e prisão com liberdade – nós sempre vemos
tudo invertido. E, então, poderíamos dizer que o propósito do Curso é nos ajudar a discernir
a diferença entre o que vai nos deixar realmente felizes e o que vai nos trazer dor, porque
nós não entendemos. Como ele explica no texto, nós acreditamos que existe uma diferença
entre prazer e dor, que ele usa para nos mostrar o quanto somos insanos (T-19.IV-B.12). O
que nós acreditamos que vai nos trazer prazer realmente faz o oposto, porque é uma
tentativa de negar seu oposto, que é a dor.

Se eu acreditar que qualquer coisa nesse mundo tem o poder de me dar prazer ou de me
fazer feliz, estarei tornando o mundo real. E, se eu tornar o mundo real, estarei tornando a
separação real. Se eu tornar a separação real, estarei tornando a minha culpa real. E minha
culpa é a fonte de toda a minha dor. Então, quer eu diga que algo é prazeroso ou doloroso,
são lados opostos do mesmo erro. Ambos estão baseados na premissa de que o mundo é
real.

Um derivado disso é a crença em que o ataque vai me trazer o que eu quero, então, o ataque
é prazeroso. E eu vou evitar a dor do meu auto-ódio ao atacar você – tornando-o
responsável pela minha dor. É por isso que todos ficam zangados. A raiva não é uma
emoção humana básica no sentido de que é algo que não podemos controlar. A raiva é a
emoção básica do ego. É a raiva que mantém o sistema de pensamento do ego vivo.

Um dos propósitos do Curso é nos ajudar a perceber que a raiva não vai nos fazer sentir
bem, ela não vai nos trazer o que queremos. Nós pensamos que a raiva nos tira do anzol e
nos permite evitar confrontar nossa própria culpa porque a colocamos em outra pessoa. Não
estamos conscientes de que, quando atacamos outra pessoa, isso faz com que nos sintamos
ainda mais culpados. A própria culpa que estamos tentando remover projetando-a em outra
pessoa através do ataque faz com que nos sintamos ainda mais culpados. Isso é um círculo
vicioso, um círculo que apenas continua se repetindo vezes sem conta.

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O manual diz que a doença vai desaparecer quando formos capazes de dizer que não temos
mais necessidade dela (MP-5.II). A mesma coisa é verdadeira em relação à raiva. A raiva,
como um problema para mim, vai desaparecer quando eu puder reconhecer que não tenho
necessidade dela, que ela realmente não vai me trazer o que eu quero. O que eu realmente
quero é a paz de Deus, e eu não posso tê-la quando fico zangado ou quando ataco alguém.
Quando isso ficar claro para mim, então, não terei problemas em tomar a decisão.

Existe uma passagem maravilhosa no final do Capitulo 23 que diz, “Quem, sustentado pelo
Amor de Deus, poderia achar a escolha entre os milagres e o assassinato difícil de fazer?”
(T-23.IV.9:10-12). O problema é que nós não sabemos que existe uma diferença. E, então,
com o Amor de Deus, com o Amor de Jesus ou do Espírito Santo ao nosso lado,
poderíamos olhar muito claramente para a escolha que temos entre o perdão, que é o
milagre, e a mágoa ou o ataque, que é assassinato. Poderíamos ver ambas as escolhas
claramente e entender seus efeitos. E, então, não teríamos problemas em fazer a escolha.
Mas o ego mantém a clareza dessa escolha obscura e oculta de nós para que não a vejamos.
E então, nós acreditamos que está tudo certo em ficarmos zangados. Nós podemos dizer
que o assassinar outros fisicamente não está certo, mas pensando que está certo, ou também
que vociferar ou gritar com outras pessoas está certo. Nós não entendemos, como já
discutimos, que não faz diferença se eu realmente mato você fisicamente ou se
simplesmente penso que o estou matando. A culpa ainda permanece. Eu não posso pensar
em ataque ou guerra e ser pacífico, porque esses são estados mutuamente excludentes.

E até mesmo desejar que alguém não estivesse por perto é a mesma coisa. Ainda estamos
dizendo que essa pessoa é intragável. Essa pessoa é detestável. Ela interfere com a nossa
paz. Não é diferente. Como o Curso diz, não existe diferença entre uma pequena pontada de
aborrecimento e intensa fúria (LE-pI.21.2:5). Mas o ponto é que Jesus espera totalmente
que nós sejamos zangados. Nós poderíamos dizer que o objetivo do Curso não é que não
tenhamos raiva, embora essa seria a meta final, mas, ao invés disso, que não a
justifiquemos. O Curso nunca diz, “Não fiquem zangados”. Mas ele realmente diz que a
raiva nunca é justificada, e existe uma grande, grande diferença. De outra forma, ficaríamos
presos na armadilha de dizer, “Tenho estudado o Um Curso em Milagres durante sete dias e
meio (semanas, anos, ou sete décadas e meia) e ainda estou ficando zangado. O que estou
fazendo de errado? Estou falhando com o Curso”!

Estamos falhando com o Curso se criarmos um grande caso sobre isso. Nossa reação a
nossa raiva deveria simplesmente ser dizer, “Ah, fiquei zangado. O que tem de novo
nisso?”. Então, a idéia não é ficarmos sem nossa raiva ou nossos pensamentos de ataque,
mas, ao invés disso, não criarmos um grande caso em relação a eles, não levá-los a sério. E,
acima de tudo, não justificá-los.

Conforme praticamos o Curso, vamos nos tornar cada vez mais conscientes dos
pensamentos assassinos, e então, em um nível, vai parecer que ficamos piores. Mas esses
pensamentos assassinos sempre estiveram lá – nós apenas os tínhamos encoberto. E, então,
começamos a descobri-los – é como descascar as camadas de uma cebola. E, então, ficamos
horrorizados com o que vemos. É por isso que um dos pontos essenciais no Curso, em
termos de prática, é que não façamos isso por conta própria. Nós fazemos isso com o amor
de Jesus ou do Espírito Santo ao nosso lado. Então, quando olhamos para a confusão

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terrível dentro de nós, que está dentro da mente de todos, não ficaremos tão horrorizados.

Quando começamos a entrar em contato com esses níveis profundos de culpa, ataque e
assassinato dentro de nossas mentes, é um bom sinal. Mas é aí que o caminho pode ficar
acidentado, porque estaremos olhando para o que prometemos nunca olhar, como o Curso
diz no texto (T-19.IV-D.6:1-3). Se nós considerarmos que o mundo todo foi feito como um
ataque ao amor, então, ficaremos com a conclusão inevitável de que esse mundo é
realmente um lugar de assassinato.

(Parágrafo 2 – Sentenças 1-3) Portanto, os professores de Deus são totalmente gentis.


Necessitam da força da gentileza, pois é nisso que a função da salvação vem a ser fácil.

Isso se torna fácil porque não fazemos nada. Então, o que significa ser um professor de
Deus? Significa que não fazemos nada. A vida se torna muito, muito fácil porque tudo é
feito através de nós. O trabalho está em desfazer todas as barreiras a esse fluxo fácil de
amor através de nós.

A vida de Jesus foi muito fácil – ele não fez nada. Não havia tensão no que ele fazia. Não
importava para ele se iria dar uma caminhada gostosa pela manhã ou se seria crucificado.
Se nós dissermos que existe uma diferença – como obviamente seríamos tentados a dizer –
é porque pensamos que existe uma diferença. Se nós pensamos que existe uma diferença,
estamos tornando o mundo e o corpo reais. Mas não existe diferença. Quando nós
realmente aprendemos essa lição, a vida se torna muito, muito fácil.

(Parágrafo 2 – Sentenças 3-6) Para aqueles que querem causar dano, ela [a função da
salvação – perdoar] é impossível. Para aqueles que não vêem significado no dano, ela é
meramente natural. Que outra escolha além dessa pode ter significado para quem é são?
A escolha, principalmente, é sermos prejudiciais ou gentis. Isso é tudo o que é. É a mesma
coisa que dizer que a única escolha é ouvir o ego ou o Espírito Santo, “ser anfitrião do ego
ou de Deus” como o Curso diz (T-11.II.7:1; T-15.III.5:1).

(Parágrafo 2 – Sentenças 6-7) Quem escolhe o inferno quando percebe um caminho para o
Céu?

É claro que o problema é que nós não percebemos o perdão como um caminho para o Céu.
Nós não percebemos que o problema não tem nada a ver com o mundo. O problema tem a
ver com a forma com a qual pensamos sobre o mundo. O perdão não faz nada no mundo,
mas ele realmente desfaz a culpa e o medo em nossas mentes.

(Parágrafo 2 – Sentenças 7-9) E quem escolheria a fraqueza que não pode deixar de vir do
dano, em lugar da força infalível, totalmente abrangente e sem limites da gentileza?

Obviamente, o mundo não olha para isso dessa forma. O mundo sempre vê a fraqueza e a
força de forma invertida. Acreditar que nossa força, física e/ou mental, é o que vai nos
proteger e é necessária para nos proteger no mundo, é realmente reafirmar nossa própria
fraqueza como um ego. Apenas um ego poderia acreditar que tem que se proteger no
mundo, o que foi a lição da crucificação. Aos olhos do mundo, Jesus pareceu fraco porque

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ele não se defendeu e terminou em uma morte denegridora. Mas o mundo estava olhando
tudo invertido.

A força vem da quieta aceitação do Amor de Deus dentro de nós. Quando nos identificamos
com esse Amor, estamos perfeitamente a salvo. Dessa posição, o corpo e o mundo são
vistos exatamente pelo que são: finos véus que estão tentando manter a luz da verdade
longe de nós.

(Parágrafo 2 – Sentenças 9-12) O poder dos professores de Deus está em sua gentileza,
pois compreenderam que seus pensamentos maus não vieram nem do Filho de Deus nem
do seu Criador.

Nossa pergunta, então, é, “De onde eles vêm?”. Eles vêm de uma mente inexistente. A
única verdade, a única realidade é a Mente de Cristo e a Mente de Deus. Dentro dessa
Mente não pode haver um pensamento de separação ou de ataque. Então, isso significa que
esses pensamentos vêm de uma mente inexistente. E, uma vez que fica claro que não há
pensamentos maus em mim – que existe apenas uma crença de que existem pensamentos
maus em mim – então, não há pecado, nem culpa, nem medo. E, portanto, não há
necessidade de me defender, construindo um forte, que é o que o mundo e o corpo são.

(Parágrafo 2 – Sentenças 12-14) Assim, uniram os seus pensamentos Àquele Que é a sua
Fonte. E assim, a vontade deles que sempre foi a Dele próprio, é livre para ser ela mesma.

Quando o Curso fala sobre “liberdade” ou “livre-arbítrio”, existem duas formas de entender
isso. No nível do mundo, existe livre-arbítrio, ou liberdade de escolha – a escolha entre
Deus e o ego. Uma vez que fizemos um mundo de dualidade, com algo entre o que
escolher, então, temos a liberdade de escolher entre o sistema de pensamento do Espírito
Santo e o sistema de pensamento do ego.

Mas, no Céu, não existe livre-arbítrio no sentido da escolha, porque não há opções entre as
quais escolher. O estado do Céu é um estado de perfeita unidade e de perfeita unicidade.
Nesse nível, a liberdade de escolha significa que a Vontade de Deus é livre apesar de todas
as tentativas do ego de aprisioná-la – o sistema de pensamento do ego é uma tentativa de
aprisionar a Vontade de Deus e, portanto, de aprisionar nossa própria vontade também.

O princípio da Expiação ensina que não podemos estar na prisão. Portanto, não podemos
ser libertados da prisão, porque nada aconteceu. Eu só acredito que minha vontade tem sido
aprisionada. E, quando eu despertar do sonho, vou perceber que estar na prisão era apenas
um sonho. “E assim, a vontade deles que sempre foi a Dele próprio, é livre para ser ela
mesma”. Isso tem sido totalmente não afetado pelos pensamentos de ataque do ego.

Parte VII

Quais são as Características dos Professores de Deus?

Alegria (MP-4.V)

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O próximo traço é a alegria. Quando Curso fala sobre alegria, assim como em relação a
tudo o mais, não está falando sobre o significado da alegria para o mundo. A alegria nesse
mundo é como nos sentimos quando conseguimos o que queremos. Do ponto de vista do
Curso, a alegria seria a negação da negação. Então, a única alegria real nesse mundo é
quando verdadeiramente experienciamos a realidade de termos sido perdoados – isso é
alegria. Estamos todos trabalhando sob essa tremenda carga de auto-ódio e culpa,
acreditando que não merecemos ser perdoados, que não merecemos ser crianças de Deus,
se é que existe um Deus. Todos nós carregamos essa tremenda carga conosco.

Quando verdadeiramente reconhecemos que literalmente inventamos tudo isso, que Deus
nunca deixou de nos amar, e que estamos perdoados pelo que nunca fizemos, isso é alegria.
É a total negação, ausência e desfazer do sistema de pensamento do ego de culpa, ataque,
culpa, etc. Isso é alegria – e não tem nada a ver com nada externo.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1) A alegria é o resultado inevitável da gentileza.

Alegria, então, é o estado natural de nossas mentes, comparada à presença do Amor de


Deus em nós. Se não existe dano nem ataque na minha mente, não há culpa. E não há
necessidade de sentir que tenho que ser punido. Uma vez que libero o ataque, a gentileza do
Espírito Santo permanece. E minha aceitação dessa gentileza me permite sentir Sua alegria.

O Curso nos ajuda a distinguir entre a dor e a alegria, porque nós confundimos as duas (T-
7.X). E uma parte da nossa confusão surge da nossa crença em que o prazer é diferente da
dor. Jesus está tentando nos ensinar que o prazer e a dor são a mesma ilusão (T-19.IV-
B.12). Mas, em outro nível, o Curso diz que “todo prazer real vem de fazer a Vontade de
Deus” (T-1.VII.1:4). Na primeira afirmação, onde o prazer e a dor são lados opostos da
mesma ilusão, Jesus está falando do prazer e da dor que estão associados ao corpo:
Portanto, eu experiencio o prazer quando meu corpo consegue o que quer e a dor quando
não consegue. E a definição do mundo para alegria é a mesma de prazer: Alegria refere-se a
conseguir o que eu quero, e dor a não conseguir. Nesse nível, tanto a dor quanto a alegria
são a mesma ilusão.

Em contraste, “prazer real” não tem nada a ver com o prazer e a dor do ego. Ele se refere ao
prazer de aceitar a Vontade de Deus, que é realmente o desfazer do ego. E esse prazer é o
mesmo que a alegria que estamos discutindo aqui – a alegria de ir além da escravidão do
prazer e da dor, ou da alegria e da dor, no nível do ego. Em outras palavras, a alegria real, o
prazer real, não tem nada a ver com conseguir o que eu quero, ou evitar o que eu não quero
no mundo. A alegria se refere ao estado da minha mente naquele instante em que ela sabe
que foi absolvida de toda a culpa e que a culpa simplesmente desapareceu.

Isso não significa que não deveríamos aproveitar as coisas no mundo. Só significa que,
quando as aproveitamos, não deveríamos criar um grande caso em relação a elas. Se nós o
fizermos, estaremos presos, porque elas não vão durar. Por exemplo, todos apreciam um
lindo dia – o Curso nunca diria que é pecaminoso apreciar um lindo dia. Mas o que eu faço
se chover durante cinco dias seguidos? Isso significa que fico empacado, sem a paz de
Deus, absolutamente miserável? Isso é uma armadilha. O que nós queremos fazer é apreciá-
lo, mas não ficarmos apegados a isso, acreditando que a salvação consiste em ter um clima

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maravilhoso. Isso iria nos tornar independentes.

Nós não deveríamos nos sentir culpados porque estamos apreciando certas coisas ou não
apreciando outras, como certos alimentos. O ponto, novamente, é não criar um grande caso
em relação a isso. Comam o que gostarem e não comam o que não gostarem. Vivam em um
clima que os deixa felizes e evitem um clima que não os deixa felizes. Só não criem um
grande caso em relação a isso. Uma vez que transformamos isso em uma grande coisa,
estamos acreditando que algo nesse mundo é nossa salvação ou nossa condenação. Então,
estaremos tornando isso real e estaremos presos. Novamente,

(Parágrafo 1 – Sentenças1-3) A gentileza significa que o medo agora é impossível e o que


poderia vir para interferir com a alegria?

Em outras palavras, as interferências foram removidas. Ataque, dano, culpa, etc. são as
interferências à alegria. Quando escolhemos a gentileza do Espírito Santo, não podemos
ficar com medo. Se eu estiver com o Amor do Espírito Santo, então, não posso ter medo do
Seu Amor. Eu aceitei Seu Amor, então, esse medo agora é impossível – não existem mais
barreiras que poderiam interferir com essa alegria.

(Parágrafo 1 – Sentenças 3-4) As mãos abertas da gentileza estão sempre cheias.

Essa é uma linha importante. Seu “oposto” seria que as mãos da nocividade estão fechadas.
O ego nos disse que nossas mentes estão cheias de escuridão, maldade, pecado e culpa. E
nós estamos horrorizados. Então, quando o ego diz que minhas mãos seguram o mal, a
escuridão e o pecado, eu rapidamente as fecho, dizendo que nunca mais vou olhar para isso,
porque, se o fizer, serei terrivelmente assassinado pelo Deus irado e vingativo que eu
ataquei. E, se minhas mãos estiverem fechadas, como eu poderia segurar a mão de Jesus ou
do Espírito Santo? Minhas mãos estão fechadas para proteger meu auto-ódio, meu ódio de
Deus, meu julgamento de todos, e meu medo. Essa é a nocividade.

O Curso nos ajuda a perceber que não estamos protegendo absolutamente nada. Quando
nós finalmente atingimos o ponto onde podemos abrir nossas mãos, percebemos que não há
absolutamente nada lá – toda a coisa foi inventada. Eu primeiro fecho minhas mãos sobre a
culpa, o auto-ódio e o assassinato. Eu acredito que matei Deus e Cristo, e então digo que
nunca vou abri-las novamente porque, se o fizer, serei destruído. Então, eu construí um
mundo que é como um forte ao redor dessa caixa forte trancada para que eu nunca mais
chegue nem perto de nada disso. Meu ego me diz que se eu o fizer serei destruído. Meu ego
não me diz que se eu um dia olhar para dentro, não vou encontrar nada.

Uma seção extremamente importante no texto, chamada “O medo de olhar para dentro” (T-
21.IV), descreve como o ego nos aconselha a não olharmos para dentro de nossas mentes,
porque, se o fizermos, nossos olhos irão iluminar o pecado e ficaremos totalmente cegos –
uma forma suave de dizer que Deus vai nos destruir. Então todos nós dizemos, “Ah, meu
Deus. Eu não quero fazer isso”. E nós rapidamente nos fechamos e não olhamos para
dentro para que não vejamos o terror que está lá. Mas, no parágrafo seguinte, o Curso
pergunta, “O que aconteceria se olhasses para dentro e não visses pecado algum” (T-
21.IV.3:1-2), ou, em outras palavras, e se nós abríssemos nossas mãos e víssemos que não

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existe pecado? Esse é o medo do ego. O ego sabe que se olharmos para dentro e
percebermos que não há nada lá, não vamos mais acreditar nele. Vamos ouvir o Espírito
Santo; vamos despertar do sonho, e o ego terá partido. Então, lutando para se proteger, o
ego inventa essa grande história – na qual todos nós acreditamos – de que existe algo
horrível em nossas mentes. Como resultado disso, temos que fechar bem nossas mentes,
como uma caixa forte, ou uma “tumba escura” (T-28.V.7:5). Então, não vamos nem chegar
perto disso, vamos construir um forte ao redor dela: o mundo e o corpo.

O que me capacita a iniciar o processo de liberar isso é começar a questionar a validade do


sistema de pensamento do meu ego. O ego nunca me deixou fazer isso, e se eu me
identificar com ele, nunca vou questioná-lo. Ao invés disso, eu digo que, sim, ele é
absolutamente verdadeiro – eu sou uma pessoa miserável, desprezível, horrível, e Deus é
um Criador irado e vingativo. Não vou tocar nada disso nem com uma vara de trezentos
metros. E desse ponto em diante, nunca o faço. Eu fecho meu punho bem apertado, e nunca
olho para ele. Eu faço um mundo para me distrair do meu punho fechado, e, então, torno
todos os meus problemas no mundo muito reais. E eu nunca questiono que toda a coisa foi
inventada.

O perdão, então, é o processo através do qual começamos a questionar o que o ego tem dito
a nós que nunca deveríamos questionar. Algumas das premissas que começamos a
questionar em nossas vidas diárias são que o ataque é justificado, que a dor e a perda são
reais, que os problemas e suas soluções são reais no mundo, etc. Então, o Curso está nos
presenteando com esse imenso sistema de pensamento que acaba sendo incrivelmente
simples. Ele diz, “Aquilo que é falso é falso e o que é verdadeiro jamais mudou” (LE-
pII.10.1:2-3). A verdade que nunca mudou é o Amor de Deus, e o que é falso é o sistema de
pensamento do ego. Conforme eu começo a mudar minha percepção sobre você, não o
vendo mais como esse terrível vilão, estarei vagarosamente começando a mudar minhas
percepções sobre mim mesmo, porque a forma pela qual percebo você é a forma pela qual
percebo a mim mesmo. E é assim que o perdão começa lentamente a desfazer o sistema de
pensamento do ego.

Então, novamente, é isso o que significa essa linha, “As mãos abertas da gentileza estão
sempre cheias”. E aquilo de que minhas mãos estão cheias quando eu as abro, é o Amor de
Deus. Quando elas estão cheias com Seu Amor, não pode haver medo, culpa, ataque, dano.
E não pode haver dor, só alegria.

(Parágrafo 1 – Sentenças 4-6) Os que são gentis não têm dor. Não podem sofrer. Por que
não seriam alegres? Eles estão certos de que são amados e de que estão a salvo.

Toda a dor vem da crença de que eu mereço sofrer e estar em dor, o que significa que toda
a dor vem da culpa ou da falta de perdão. Isso é tudo o que é. Então, enquanto minhas mãos
estiverem firmemente apertadas, a fonte da dor sempre estará lá. A fonte da dor é o que eu
acredito estar dentro da minha mente – a falta de perdão que vem de acreditar que ataquei
Deus.

Quando eu abro meu punho e a escuridão desaparece – ela nunca esteve lá para início de
conversa, só estava oculta da luz – então, não existe mais fonte de dor, porque não existe

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mais culpa ou falta de perdão que exija punição. E, então, toda a coisa desaparece.

(Parágrafo 1 – Sentenças 6-7) A alegria vai com a gentileza assim como o sofrimento
acompanha o ataque.

O sofrimento precisa acompanhar o ataque porque, quando eu ataco, preciso acreditar que
você vai me atacar de volta e, portanto, vou ficar assustado. Quando eu ataco, só pode ser
porque estou tentando proteger esse sistema de pensamento de ser separado de Deus. Uma
das melhores formas de me assegurar de que nunca vou abrir meu punho fechado – essa
tumba fechada em minha mente – é atacar. Quando eu ataco você, estou dizendo que estou
aborrecido por causa do que você fez a mim e não pelo fato de estar protegendo meu
punho, na minha mente. Então, estou mantendo esse sistema de pensamento intacto em
minha mente, e nunca o questiono. Nunca o libero.

Dentro desse sistema de pensamento, onde existe esse terrível senso de pecaminosidade,
auto-ódio e medo, está o pensamento central de que sou pecador, culpado e amedrontado,
porque ataquei Deus e joguei o Céu fora. Essa é a minha aflição. Uma linha no panfleto
Psicoterapia diz, “E quem poderia chorar exceto pela própria inocência?” (S-2.IV.1:10-
11) A única fonte da verdadeira tristeza e aflição nesse mundo é a crença de que jogamos
fora a inocência de Cristo, a inocência de Quem somos, e nunca vamos consegui-la de
volta. É por isso que todos nós somos tristes. É isso o que é a depressão – o que é a aflição
– o que é a solidão – o que é o pesar – o que é o lamento. É daí que tudo o que é negativo
nesse mundo está vindo.

Se eu apenas puder abrir minha mão e olhar para dentro, vou ver que não fiz nada. Eu não
joguei fora a inocência do Céu. O Espírito Santo a guardou para mim em minha memória.
Toda a idéia da inocência perdida foi apenas uma história inventada. E, então, se eu olhar
para dentro, o sistema de pensamento do ego “desaparecerá no nada do qual [ele] foi
feito” (T-10.IV.1:11-12). Mas, se eu não olhar para ele, vou continuar a acreditar que ele
está lá e é real, e a porta para minha mente vai permanecer trancada. É daí que a aflição e a
dor estão vindo.

Todo o propósito do Curso é nos fazer perceber que estamos protegendo nada –
literalmente nada. E o perdão é esse processo gentil passo-a-passo que nos ajuda a perceber
isso. Mas, uma vez que fiquemos presos no mundo, acreditando que qualquer coisa nele
significa algo, estou dizendo que existe um forte que é real e que é necessário para me
proteger desse medo em minha mente. Uma linha na seção do anti-Cristo (T-29.VIII) – o
que é claro é o ego ou um ídolo – fala do pensamento de que existe outro poder nesse
mundo além da onipotência de Deus, que é o diabo ou o anti-Cristo ou um ídolo. Da
perspectiva do Curso, o ego está tentando glorificar a si mesmo dizendo que existe uma
realidade fora de Deus. E, na verdade, o diabo não é nada mais do que o pensamento do ego
projetado para fora para que não tenhamos que olhar para nossas mentes fechadas. A mente
ainda é mantida bem fechada dentro porque insistimos que o diabo está do lado de fora.
Então, nunca temos que olhar para o diabo que nós acreditamos estar realmente dentro de
nós.

(Parágrafo 1 – Sentenças 7-9) Os professores de Deus confiam Nele. E estão certos de que

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o Professor de Deus [o Espírito Santo] vai à sua frente, assegurando que nenhum dano lhes
venha a suceder.

Existem várias passagens através do próprio Curso que parecem sugerir que o Espírito
Santo faz coisas por nós no mundo. Uma passagem no texto, baseada no famoso versículo
de Isaías sobre tornar nosso caminho reto, parece sugerir que o Espírito Santo remove os
obstáculos do nosso caminho no mundo para que ele seja fácil (T-20.Iv.8:4-8). Não é isso
literalmente o que o Curso está dizendo – é apenas uma metáfora.

O Espírito Santo não pode remover obstáculos do nosso caminho no mundo porque não há
mundo, e muito menos quaisquer obstáculos nele! Ele remove os obstáculos da culpa e do
medo em nossas mentes – os obstáculos à paz. E mesmo isso Ele não faz de forma ativa.
Sua presença em nossas mentes é como um farol que simplesmente brilha um facho de
amor que não faz nada. Quando trazemos a escuridão da nossa própria culpa e medo até Ele
ao abrirmos nossas mentes fechadas, Sua luz automaticamente brilha através dela,
dissipando-a.

Em outras palavras, quando fecho meu punho, quando fecho minha mente, aprisionando o
que meu ego diz ser minha culpa e medo lá, a luz do Espírito Santo está ao meu redor,
porque Sua luz está na minha mente. Então, quando abro minha mente e olho para ela – que
é o que significa trazer a escuridão à luz, ou a ilusão à verdade – então, a luz simplesmente
brilha e dissipa o que nunca esteve lá para início de conversa.

E, então, os efeitos da culpa vão desaparecer também. Mas isso não vai ter nada a ver com
qualquer intervenção do Espírito Santo. Então, por exemplo, se eu estivesse para sofrer um
acidente e o pensamento por trás do acidente fosse a culpa ou a nocividade, se eu me
voltasse para o Espírito Santo e liberasse minha culpa para Ele, não iria sofrer dano. Existe
um perigo, entretanto, em julgar tudo pela forma. Talvez algo possa acontecer a mim
quando eu sofro um acidente que poderia ser uma forma maravilhosa de ensinar e aprender.
Por exemplo, Jesus teve um “mau acidente”: sua crucificação. Mas o “acidente” não foi
causado por seus pensamentos nocivos. Ele foi causado por seu amor como uma forma de
nos prover com uma lição de aprendizado.

Em princípio, se a causa de um acidente ou de uma doença for a culpa ou o ataque, e não


existir culpa ou ataque em minha mente, então, não posso sofrer um acidente e não posso
ficar doente. Mas é possível – ainda que o Curso não focalize isso porque seu foco está nas
causas do ego para a doença – que uma forma que o mundo julga ser negativa realmente
possa ser provocada por um pensamento amoroso por causa do seu exemplo de ensino e
aprendizado.
Então, novamente, o Espírito Santo não remove os obstáculos – Ele não faz nada. Sua luz
está apenas lá. Eu removo meus obstáculos trazendo-os a Ele. Agora, nossa experiência no
mundo é que Ele os tira de nós, que é porque o Curso fala conosco dessa forma. Como já
dissemos, Jesus fala conosco no nível da escolinha do berçário, porque é aí que estamos.
Ele se dirige a nós no nível da nossa experiência. E nossa experiência é que o Espírito
Santo faz coisas para mim ou por mim – Ele leva algo embora, ou Ele me dá algo. É assim
que experienciamos isso, sendo criancinhas. Mas, na realidade, Ele não faz nada. Ele
simplesmente é.

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O Curso diz, “Dizemos ‘Deus é’ e então deixamos de falar” (LE-pI.169.5:3-4). Bem, o
Espírito Santo é a presença do Amor de Deus em nossa mente dividida. E Ele simplesmente
é – Ele não faz nada. Somos nós que fazemos, porque somos nós que fizemos algo em
primeiro lugar – nós fugimos do Céu. O Céu simplesmente permanece lá. E, então, temos
que voltar ao Céu – somos nós que fizemos isso.

Seu Amor, novamente, é como um farol, brilhando sobre um oceano escurecido, nos
mostrando um lugar de refúgio e segurança, dizendo, “Eu estou aqui”. Nós vamos ver,
conforme continuarmos, que, da mesma forma, o professor de Deus não faz nada. Ele
simplesmente diz, não necessariamente com palavras, mas com sua presença amorosa, “Eu
estou aqui”. E o “eu” não é mais o “eu” pessoal do professor de Deus. É o “eu” do Amor de
Deus falando através dele. Então, isso é tudo o que um professor de Deus faz, e isso é tudo
o que o Espírito Santo faz.

Mas nossa experiência é que o Espírito Santo leva as coisas embora, assim como nossa
experiência é que o sol se levanta e se põe. Todos nós vemos o nascer e o pôr do sol, mas
todos sabemos intelectualmente que o sol não está realmente se movendo através do céu. A
terra está se movendo – fazendo sua rotação. Mas nossa experiência é que o sol se levanta e
se põe, o que é uma maneira maravilhosa de mostrar como os olhos do corpo mentem. De
forma similar, parece que o mundo é plano, mas sabemos que não é.

Então, os olhos do corpo mentem. De fato, o corpo em geral mente. O cérebro mente
porque recebe suas falsas mensagens do ego, que é inerentemente uma mentira. Esse é o
pensamento desonesto. Então, usando o mesmo símbolo, nossa experiência é que o Espírito
Santo se move ao redor de nós – Ele faz coisas para nós. Na realidade, somos nós que nos
movemos. Somos nós que trazemos nossas ilusões à Sua verdade para que Ela possa
iluminá-las.

(Parágrafo 1 – Sentenças 10-15) Eles mantêm as Suas dádivas e seguem no Seu caminho
porque a Voz de Deus os dirige em todas as coisas. A alegria é a sua canção de
agradecimento. E Cristo também inclina-Se olhando para eles com gratidão. A Sua
necessidade deles é tão grande quanto a que eles têm Dele. Que alegria é compartilhar o
propósito da salvação!

Isso fala da necessidade de Cristo. A necessidade que Cristo tem de nós certamente não está
no mesmo nível das nossas necessidades. Isso realmente está falando sobre a necessidade
de Cristo de que simplesmente estendamos Seu Amor. Não tem nada a ver com qualquer
necessidade humana. Como já discutimos, quando o Curso fala de Deus como chorando (T-
5.VII.4:5) e como sendo incompleto sem nós (T-9.VII.8:2; T-9.VIII.9:8), ele está
simplesmente usando metáforas para Seu Amor por nós. Então, da mesma forma, quando o
Curso fala aqui sobre a necessidade que Cristo tem de nós, está simplesmente dizendo que,
para que a salvação seja completa, todos temos que aceitar a verdade de Cristo – não é que
Cristo tenha uma necessidade pessoal.

Parte VIII

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Quais são as Características dos Professores de Deus?

Ausência de Defesas (MP-4.VI)

Ser sem defesas obviamente significa não ter defesas. Lembrem-se, isso começou com o
ego me dizendo que minha mente está cheia de escuridão, maldade e pecado, e, então,
precisa ser fechada firmemente para protegê-la por ser tão horrível. E, então, eu construí
uma defesa ao redor dela – o mundo – para que nunca olhasse para ela novamente. O ego
diz que não estou mais lá. Eu escapei da mente para o mundo, que é o forte ao redor da
minha mente. Essa é a defesa.

E, enquanto eu acreditar que sou culpado e pecador, vou ter medo da punição de Deus, o
que significa que vou precisar me defender contra ela. Quando começo a liberar meu
investimento na culpa como uma forma de manter o Amor de Deus distante, vou ter menos
culpa e portanto menos necessidade de me defender. Então, serei capaz de iniciar o
processo de liberar minhas defesas. Jesus foi um exemplo perfeito de alguém que pôde
viver no mundo totalmente sem qualquer defesa, porque ele não tinha culpa que tivesse que
ser protegida. Outra definição para “ausência de defesas”, então, poderia ser “ser sem
ataque”, porque defesas são ataques.

(Parágrafo 1 – Sentença 1) Os professores de Deus aprenderam como ser simples.

O sistema de pensamento do ego é tudo menos simples – é por isso que o Curso parece ser
tão complicado. Mas, quanto ao âmago do que o Curso está dizendo, ele é realmente muito
simples. Parece ser complicado porque o ego é tão complicado. Como o Curso diz, “A
complexidade é do ego” (T-15.IV.6:2). É o ato de desemaranhar a complexidade do ego
que parece tornar o Curso tão difícil de entender. Quando fica totalmente claro que tudo em
relação a esse mundo é a mesma ilusão, então, o que o Curso está dizendo também é muito
claro e muito, muito simples. O ego pegou uma verdade muito simples – Deus é Amor – e a
encobriu com escuridão e pecado. O ego então rapidamente complicou as coisas fazendo
um mundo como uma defesa. E esse mundo é muito complicado.

Desde a origem de nossa existência como homo sapiens, conforme começamos a


desenvolver cérebros que podiam observar, tentamos desemaranhar os mistérios da vida,
biológica, física, química, social, psicológica, política e economicamente. Isso é tudo o que
podemos fazer para tentar entender esse mundo e universo físicos tão incrivelmente
complexos que fizemos. E, fazendo isso, nos precipitamos na armadilha outra vez, tentando
analisar algo que não está lá – que não faz absolutamente sentido algum. O Curso
repetidamente nos diz que o que estamos fazendo não faz sentido. Estamos analisando algo
que foi feito para nos aprisionar e nos confundir, para complicar tudo. A verdade é muito
simples. “Nós dizemos ‘Deus é’, e então deixamos de falar” (LE-pI.169.5:4), porque não
há nada mais. O ego diz, “Existe algo mais. Vou protegê-lo. Vou fazer um mundo que vem
desse algo mais. E vou passar o resto do tempo – eons e eons – tentando entender e
desvendar o mistério último sobre o que é a vida”. E, é claro, nunca vamos fazer isso. Ao
estudar a origem do universo, cientistas afirmam que podem voltar ao segundo exato no
qual o universo apareceu. Mas eles nunca podem ir além desse segundo, porque esse
segundo exato é a culpa, localizada na mente sobre a qual eles não sabem nada.

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Novamente, “os professores de Deus aprenderam como ser simples”. Apenas as defesas
contra a simplicidade da verdade de Deus são complicadas. O Curso repetidamente diz o
quanto ele é simples. O último capítulo do texto começa com uma seção chamada, “A
simplicidade da Salvação” (T-31.I). Ela é muito simples para dizer que apenas Deus é real,
que apenas a presença do Espírito Santo em nossas mentes é real. Tudo o mais foi
inventado – isso é simples. E, então, a escolha é sempre entre a ilusão e a verdade, não
importando as inúmeras formas que a ilusão pareça assumir.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-2) Eles não têm sonhos que necessitem de defesa contra a
verdade.

O sonho que precisa de defesa contra a verdade é o sonho da culpa, do pecado e do medo.
Esse é o sonho original de ser separado que tem sido trancado em nossas mentes e
protegido pelo mundo como uma defesa.

(Parágrafo 1 – Sentenças 2-3) Eles não tentam fazer a si mesmos.

Isso, é claro, é o que o ego sempre faz. Nosso ser aqui em um corpo, com um ser pessoal –
física, emocional e psicologicamente – é o ego fazendo a si mesmo.

(Parágrafo 1 – Sentenças 3-4) Sua alegria vem da sua compreensão de Quem os criou.

E nós podemos acrescentar, de não sentirem medo de Quem os criou. Não foi o ego que me
criou; foi Deus.

(Parágrafo 1 – Sentença 4) E o que Deus criou necessita de defesa?

Obviamente, a resposta é não. É isso o que Jesus demonstrou, como uma lição do livro de
exercícios diz, que “o Filho de Deus não precisa de nenhuma defesa contra a verdade da
sua realidade” (LE-pI.135.26:10-11). Essa lição foi escrita na época da Páscoa. Ela é
obviamente uma referência a Jesus. Mas, ela também se refere a todos nós, uma vez que
somos todos o Filho de Deus. Nós não precisamos de defesa para nos proteger de Quem
somos.

(Parágrafo 1 – Sentenças 5-7) Ninguém pode vir a ser um professor de Deus avançado
enquanto não compreender inteiramente que defesas não passam de tolos guardiões de
ilusões loucas.

A louca ilusão original é que eu me separei de Deus – que é a “verdade” do ego que eu
escondo na minha mente. Desse ponto em diante, eu tive que me proteger, pois, de outra
forma, Deus virá arrebentando para dentro da minha mente onde o pecado está, e vai me
destruir. Então, o ego de forma muito inteligente, me leva para outro lugar, para o mundo,
que agora é separado da mente. E o mundo então se torna uma defesa onde Deus não pode
entrar (LE-pII.3.2:3-4).

(Parágrafo 1 – Sentenças 7-8) Quanto mais grotesco o sonho, mais firmes e poderosas

35
aparentam ser as suas defesas.

Se nós pensarmos sobre o grotesco sonho de termos atacado e assassinado Deus e Cristo,
colocando-nos no trono da criação, isso é horrível. Então, nós precisamos de uma defesa
mais feroz e poderosa, que é o que esse mundo é. Agora, o ódio e o assassinato estão lá
fora, no mundo, e não dentro da minha mente. Essa é a defesa do ego. O horror do campo
de batalha na minha mente diz que é ou o meu sangue ou o de Deus. Uma passagem que
vamos ler mais tarde, no manual, fala sobre “matar ou ser morto” (M-17.7:11). Então, ao
invés de ver o campo de batalha dentro da minha mente, eu a fecho como um alçapão de
aço e faço um mundo onde todo o sangue agora se derrama. Mas isso não está mais dentro
de mim – eu não sou responsável por nada.

(Parágrafo 1 – Sentenças 9-11) No entanto, quando o professor de Deus finalmente


concorda em olhar para o que vem depois delas, descobre que ali não havia nada.

O Curso se refere ao mundo como nuvens de culpa (T-19.II.6). As nuvens de culpa são
realmente destinadas a obscurecer de nós a luz do Amor de Deus e a verdade. Quando nós
finalmente concordarmos em ultrapassar todas as defesas do mundo e perceber que elas são
cortinas de fumaça, olharemos para dentro das nossas mentes e vamos descobrir que nada
está lá.

(Parágrafo 1 – Sentença 11) Lentamente, no início, ele se deixa ser desenganado.

Então, isso é um processo, que eu faço passo a passo. O ego nos tem dito que se olharmos
para dentro de nossas mentes, vamos ficar mortalmente chocados. Deus não é de confiança,
o ego nos diz. Então, temos que fazer isso gradualmente, passo a passo, desaprendendo
nosso medo do Amor de Deus. Gradualmente, começamos a construir a confiança de que
Deus e o Espírito Santo são nossos amigos, e que podemos nos voltar para eles em busca de
ajuda. Esse é o valor de pedir ajuda do Espírito Santo nos acontecimentos do mundo,
mesmo que seja algo tão limitado e específico quanto uma vaga para estacionar. O Espírito
Santo não nos consegue literalmente uma vaga para estacionar, por todas as razões sobre as
quais já conversamos, mas pelo menos, nos estágios iniciais, Suas respostas aparentes aos
nossos pedidos limitados são úteis para quebrar nosso medo de que Deus se importa
conosco, que Deus nos odeia. Então, nós pelo menos podemos começar a ter a idéia de que
o Espírito Santo realmente nos ajuda. Não que seja Ele quem vai encontrar vaga para
estacionarmos, mas a ilusão de que Ele faz isso é muito mais útil do que a ilusão de que Ele
não dá a mínima para nós e que, de fato, Ele vai nos destruir.

Como o panfleto “A Canção da Oração” descreve, “pedir-por-necessidade” é o nível mais


baixo da escada (S-1.II.2-3). Pedir ao Espírito Santo para fazer coisas para nós no mundo é
o degrau inicial, mas nós temos que começar em algum lugar. E esse é um lugar útil para
começar – não por causa da forma de acreditar que Ele vai achar lugar para estacionarmos,
mas por causa do conteúdo, que é que nós agora estamos começando a duvidar do que o
ego nos disse, que não podemos confiar no Espírito Santo. Então, estamos começando a
construir um relacionamento de confiança de que Ele vai nos ajudar. E Ele vai nos ajudar
porque Ele nos ama. Mas, por causa do nosso medo, fazemos isso gradualmente.

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(Parágrafo 1 – Sentenças 11-13) Porém aprende mais rápido à medida em que aumenta a
sua confiança.

Conforme eu aprendo mais e mais que posso confiar no Espírito Santo e no Amor de Deus,
eu fico com menos medo de voltar para Casa, o que significa que agora posso ir muito mais
rapidamente.

(Parágrafo 1 – Sentença 13) Não é o perigo que vem quando se abre mão das defesas.

O ego me diz que se eu deixar o mundo de lado como uma defesa, junto com todas as
outras defesas que tornei reais no mundo, Deus vai me destruir, porque eu terei voltado
para a mente onde o perigo está, e onde a ira de Deus está. Então, meu processo de
aprendizado me deixa ver que, ao liberar minhas defesas, não sou destruído. Os psicólogos,
durante anos, trabalharam com o medo do ego, assegurando que se liberássemos nossas
defesas, nos tornaríamos psicóticos.

Na verdade, quando liberamos nossas defesas, nos tornamos sãos – não psicóticos. Mas, se
fizermos isso rápido demais, nosso ego grita: “Não chegue perto demais, porque se você
ficar sem nenhuma das suas defesas, Deus vai destruí-lo”. Então, temos que fazer isso
gradualmente.

(Parágrafo 1 – Sentenças 13-14) Não é o perigo que vem quando se abre mão das defesas.
É a segurança. É a paz. É a alegria. E é Deus.

É isso o que encontramos quando finalmente abrimos nossas mãos – não todos os
pensamentos escuros de pecado que o ego tem dito que iríamos encontrar, não o campo de
batalha sangrento onde Deus vai nos destruir. Tudo o que encontramos é a paz e o Amor de
Deus. Como vamos ver repetidamente, ao nos identificarmos com, e experienciarmos
aquela paz e o Amor de Deus dentro de nós, ele automaticamente vai se estender através de
nós. É isso o que significa dizer que um professor de Deus não faz absolutamente nada. Ao
liberarmos todas as barreiras e véus, o gentil Amor de Deus simplesmente se estende
através de nós.

Parte IX

Quais são as Características dos Professores de Deus?

Generosidade (MP-4.VII)

O tema principal dessa característica é a idéia importante no Curso de que dar e receber são
a mesma coisa. Nos termos do mundo, é claro, quando eu dou algo não o tenho mais. Na
compreensão do Curso sobre dar, a única forma de eu realmente dar é dar através do
Espírito Santo, o que significa que eu dou amor. E quanto mais amor eu dou, mais o
compartilho e o torno real, o que significa que mais eu o aceito. Então, dar e receber são a
mesma coisa.

Dar e receber também são o mesmo em relação ao ego, embora com um conteúdo

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totalmente oposto. Quanto mais eu dou culpa, projetando-a sobre os outros e atacando-os,
mais culpado me sinto e, portanto, mais recebo culpa.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-4) O termo generosidade tem um significado especial para o


professor de Deus. Não é o significado usual da palavra; de fato, é um significado que tem
que ser aprendido e aprendido muito cuidadosamente.

Esse tema – de que quando damos não perdemos – é enfatizado vezes sem conta no texto,
no livro de exercícios, no manual para professores. De fato, da perspectiva do Curso, ao
invés de perder o que damos, o oposto exato é verdadeiro: é dando que recebemos. De
forma similar à nossa discussão anterior de que as características de um professor de Deus
não são definidas em termos positivos, nós realmente não chamaríamos um professor de
Deus de “generoso”, como o mundo o define; i.e., alguém que tem muito dinheiro ou tempo
e os dá para a caridade, ou os devota a outros.

Do ponto de vista do Curso isso é sacrifício. O verdadeiro ato de dar é simplesmente dar de
si mesmo e receber de si mesmo. Não tem nada a ver com qualquer coisa material ou
mensurável.

Então, um professor de Deus não é generoso de acordo com a definição usual da palavra.
Um professor de Deus é generoso no sentido de que o que está sendo dado também está
sendo recebido, o que não tem nada a ver com coisa alguma tangível ou material. Nós
simplesmente deixamos o Amor de Deus e o amor do nosso Ser real se estender através de
nós para os outros – é isso o que estamos dando. E, é claro, não há perda nesse ponto.

(Parágrafo 1 – Sentenças 4-6) Como todos os outros atributos dos professores de Deus,
esse se baseia em última instância na confiança, pois sem confiança ninguém pode ser
generoso no sentido verdadeiro.

Eu realmente não posso dar a menos que dê o Amor de Deus dentro de mim, o que significa
que preciso confiar que o Amor de Deus é meu amigo, ao invés de, como o ego me diz,
meu inimigo. Portanto, como ele diz através de toda essa seção, todas as características
repousam sobre a confiança. Uma vez que confiamos no Amor de Deus, todo o resto se
segue.

(Parágrafo 1 – Sentenças 7-14) Para o mundo, generosidade significa “dar para os outros”
no sentido de “abrir mão”. Para os professores de Deus, significa dar para poder ter. Isso
tem sido enfatizado em todo o texto e no livro de exercícios, mas talvez seja mais alheio ao
pensamento do mundo do que muitas das outras idéias no nosso currículo. Sua maior
estranheza está simplesmente na obviedade da reversão que faz no modo de pensar do
mundo. No sentido mais claro possível e no mais simples dos níveis, a palavra significa
exatamente o oposto para os professores de Deus e para o mundo.

O que faz a diferença gritante entre o entendimento do Curso e o do mundo sobre dar e
receber claramente é que o mundo acredita que é real e que tudo é material e mensurável.
Portanto, por exemplo, eu não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo, eu não posso
amar duas pessoas ao mesmo tempo, eu não posso dar algo e esperar tê-lo ainda. Tudo isso

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faz um sentido perfeito se acreditarmos na realidade do mundo material. Quando
reconhecemos que o mundo material é simplesmente uma expressão do pensamento, e
pensamentos são qualitativos, não quantitativos, e que eles são compartilhados, então, todo
o significado do termo muda. Então, o que eu dou é o que mantenho, porque só estou dando
a mim mesmo – não existe nada fora de mim de qualquer forma.

(Parágrafo 2 – Sentenças 1-3) O professor de Deus é generoso por interesse para com Ele
Mesmo. Isso não se refere, no entanto, ao ser de que fala o mundo.

O “Ser” aqui é o Cristo dentro de nós.

(Parágrafo 2 – Sentenças 3-5) O professor de Deus não quer nada que não possa dar aos
outros, porque compreende, por definição, que isso não teria valor algum para ele.

Em outras palavras, se eu quero qualquer coisa para mantê-la para mim, eu a estou
tornando real. E, se eu a tiver, isso significa que você não tem, o que, novamente, é verdade
sobre o mundo, mas não sobre Deus. Se eu valorizar qualquer coisa do mundo, estarei
usando-a como um substituto para Deus, e, então, ela se torna um ídolo ou um objeto de
amor especial – algo que eu quero e de que preciso. E, se você o tiver, isso significa que eu
não tenho. E, portanto, tenho que tirá-lo de você. Mas, tudo o que eu realmente tenho,
preciso e quero é o Amor de Deus. E, se você não o tiver, isso significa que eu não o tenho,
porque o amor é total. Todas as crianças de Deus precisam compartilhar esse mesmo amor.
Então, não é nada que eu iria querer manter para mim mesmo.

A separação original aconteceu quando o Filho de Deus percebeu que ele e Deus eram
diferentes: Deus era o primeiro e mais importante Criador, e o Filho foi criado. O Filho
avaliou essa diferença e decidiu que ela não era justa: “Deus tem algo que eu não tenho, e
eu quero isso”. E, então, o Filho o roubou de Deus, usurpando Seu lugar. É isso o que é
conhecido como pecado. Mas, quando percebemos que Deus é o único Amor, que é o que
todos nós somos também, e que não existe diferença entre nós naquele nível, então, não
existe mais nada que precisamos, de que sentimos falta, ou que sintamos ter que roubar.
Mas, enquanto eu acreditar que existe algo que preciso roubar, então, tenho que protegê-lo
para impedir você de roubá-lo de volta de mim.

Essas idéias, sobre dar e receber, em ultima instância, não podem ser compreendidas sem
reconhecermos sua base metafísica.

(Parágrafo 2 – Sentenças 5-7) Para que ele iria querer tal coisa? Só teria a perder com
isso. Não poderia ganhar. Portanto, ele não busca aquilo que só ele poderia ter, porque
essa é a garantia da perda.

Em outras palavras, o que ele iria querer manter e para quê? Um professor de Deus não
busca algo que seria somente seu e de ninguém mais. Se eu não puder compartilhar o que
tenho e o que sou com toda a criação, não vale à pena ter. Esse é o oposto exato do que o
mundo ensina.

(Parágrafo 2 – Sentenças 7-8) Ele não quer sofrer. Por que razão infligiria dor a si mesmo?

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Eu iria sofrer e estaria assegurando a dor para mim mesmo se estivesse agarrado a algo,
dizendo, “Isso é a salvação para mim”. Eu estaria excluindo o Amor de Deus, a única coisa
que pode me salvar. E, então, desse ponto em diante, estaria reforçando o sistema de
pensamento do ego, que é baseado no sofrimento, dor e culpa.

(Parágrafo 2 – Sentenças 8-12) Mas ele quer ter para si todas as coisas que são de Deus e,
portanto, são para o Seu Filho. Estas são as coisas que lhe pertencem. Estas, ele pode dar
com generosidade verdadeira, protegendo-as sempre para si mesmo.

O termo “proteger” não quer dizer aqui a mesma coisa que quando o ego o usa. Ao invés
disso, significa que eu asseguro que vou sempre me lembrar de que sou uma criança do
amor ao permitir que o amor se estenda através de mim. Quando ficamos zangados e
atacamos, claramente estamos desistindo do nosso amor e da nossa paz. Minha raiva contra
mim mesmo, meu auto-ódio – que é minha culpa – é o que eu tento dar ficando irritado
com você, magicamente esperando que, ao dar minha raiva e minha culpa para você, vou
ficar livre delas.

Pode ser útil distinguir entre o que o Curso quer dizer quando diz dar e o que tem sido
atribuído a Jesus nos evangelhos. Em um evangelho, Jesus diz a um rapaz que veio até ele
que ele deveria vender tudo o que tinha e dar aos pobres. A interpretação comum tem sido
que Jesus estava falando sobre coisas materiais. Agora, não sabemos o que Jesus estava
realmente dizendo ou não nos evangelhos, mas, se queremos presumir que ele realmente
tenha dito algo como isso, então, ele não poderia estar se referindo a nada material. Ele
realmente quer dizer que deveríamos dar nosso ego, e seguir a ele, Jesus.

Jesus também supostamente disse que seria mais fácil para um camelo passar pelo buraco
da agulha do que um rico entrar no reino do Céu. Acho que essas palavras têm sido
atribuídas a Jesus porque pessoas pobres provavelmente escreveram os evangelhos, e não
estou brincando a esse respeito. Esse tem que ter sido o caso. E, infelizmente, essa
passagem tem levado a uma tremenda separação entre os ricos e os pobres, onde os ricos
são vistos como maus e os pobres são vistos como vítimas sem esperança. Isso torna o
mundo muito real, e a riqueza material ou sua falta muito, muito reais.

Abraçar a pobreza é o mesmo erro que abraçar o materialismo. Quando o Curso fala sobre
pobreza e abundância, não está falando sobre coisas materiais. A pobreza é o estado do ego
no qual nós nos privamos das riquezas de Deus. E a abundância não tem nada a ver com o
tamanho da nossa conta bancária. Abundância refere-se ao Amor de Deus que aceitamos
como nosso.

Quais são as Características dos Professores de Deus?

Paciência (MP- 4.VIII)

A paciência é uma das características dos professores de Deus simplesmente porque todos
nós tendemos a ser muito impacientes. Tendo criado o tempo, nós então nos tornamos
escravos dele.

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(Parágrafo 1 – Sentenças 1-2) Aqueles que estão certos do resultado podem se dar ao luxo
de esperar e esperar sem ansiedade.

Isso está nos dizendo que quando nos percebemos impacientes em relação a algo, é porque
realmente não confiamos no resultado. Sempre. Então, voltamos novamente à idéia da
confiança. Se eu estou impaciente, é porque estou com medo de que se algo que eu quero
não acontecer exatamente na hora em que eu quero que aconteça, então, não vai acontecer
de forma alguma, ou vai acontecer de forma diferente da que eu quero. E isso é assim
porque eu não confio. Eu também acredito que se algo não acontecer dentro da moldura de
tempo que estabeleci para ele, então, algo terrível vai acontecer. Eu serei uma vítima de
uma pessoa que vai chegar tarde ou de um trabalho que não vai ser concluído a tempo, etc.
Tudo isso, obviamente, é uma forma sutil de tornar o erro real, tornando o mundo real, e
acreditando que minha salvação, minha paz e minha alegria dependem de algo externo.

Se eu puder realmente identificar o Amor de Deus como minha identidade e me lembrar de


que o Amor é eterno, então, que diferença pode fazer qualquer coisa no mundo? Agora, isso
não significa que dentro do meu papel específico eu não faça o que tiver que fazer, mas que
posso fazê-lo sem ansiedade. E se no final acontecer de isso simplesmente não ser feito, ou
de outros não fazerem sua parte, ou algo não acontecer dentro do tempo previsto, isso não
significa que eu vou sofrer como resultado disso. Eu confio, sabendo que meu centro e
minha fonte não são desse mundo. Nesse nível, nada externo a mim importa, porque nada
fora de mim tem o poder de tirar o amor e a paz de dentro de mim.

(Parágrafo 1 – Sentenças 2-5) A paciência é natural para o professor de Deus. Tudo o que
ele vê é o resultado certo, por algum tempo talvez ainda desconhecido por ele, mas não
posto em dúvida.

Agora, o “resultado certo” não tem nada a ver com nada material. O resultado certo é que
todos nós vamos voltar para casa. O texto diz, “O resultado é tão certo quanto Deus” (T-
2.III.3:10; T-4.II.5:8), sendo que o resultado é transcendermos nossos egos, despertarmos
do sonho, e voltarmos para casa que nunca deixamos. Isso é certo, e o que mais importa
além disso? Chegar tarde a um compromisso, perder um prazo final – que relevância eles
têm para o despertar do sonho e estar de volta em casa com Deus? Só isso é importante. E
esse resultado já é certo – o Espírito Santo já está presente e nós nunca nos separamos de
Deus.

A idéia é monitorar nossas mentes quando nos percebermos ficando impacientes –


impacientes em relação a pessoas que não aprendem com a mesma rapidez que pensamos
que deveriam aprender, ou que não estão trabalhando rápido o suficiente, etc. Nesse ponto,
queremos perceber que mais uma vez desvalorizamos a certeza de Deus e a paz do Céu,
dando nossa paz para aquele com quem estivermos impacientes. Eu não estou transtornado
porque você é um desperdício de tempo. Estou transtornado porque não valorizei o Amor e
a paz de Deus – e as dei, e então culpei você por isso.

(Parágrafo 1 – Sentenças 5-9) O tempo será tão certo quanto a resposta. E isso é
verdadeiro para tudo o que acontece agora ou no futuro. O passado, do mesmo modo, não

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conteve nenhum equívoco; nada que não tenha servido para beneficiar o mundo, assim
como a ele a quem as coisas pareciam acontecer.

Agora, isso não significa que as pessoas fazem as escolhas mais amorosas. Como é óbvio, o
mundo demonstra a nós que esse não é o caso. Mas, mesmo os erros que cometemos se
transformam em oportunidades de aprendizado, e, nesse ponto, eles não são erros de uma
forma negativa. Todos nós cometemos erros. Estar nesse mundo é um erro, um erro
cósmico – que é extremamente importante manter em mente. Então, portanto, não
deveríamos ficar transtornados por causa dos erros. O fato de que estamos aqui,
aparentemente vivos e respirando, é um engano.

O Curso não está dizendo que deveríamos negar que estamos aqui, vivos e respirando. Ele
está se referindo a uma atitude que envolve olhar para as coisas que fizemos “errado” e
perceber que era nosso medo falando. Mas o Espírito Santo, a Presença de Amor, ainda está
lá, dentro de nossas mentes, junto com nosso medo, e Ele pode nos ajudar a olhar para
nossos medos de forma diferente. Não importa se estamos falando sobre algo maior. Na
escala do Holocausto, ou algo trivial, como ficarmos um pouco aborrecidos com alguém –
tudo tem o mesmo potencial de nos ensinar que a forma do ego de olhar para o mundo não
é correta. Se nós olharmos para cada situação de forma apropriada, através dos olhos do
Espírito Santo, então, tudo muda para nós. E, portanto, não existem erros no sentido usual –
eles simplesmente se tornam parte do meu processo de aprendizado.

E é isso o que significa a paciência. Eu percebo que cada exato momento contém a salvação
dentro de si se eu escolher olhar para ele com o Espírito Santo ao invés de com o ego. E a
forma não faz diferença. Eu posso estar no processo de ficar realmente transtornado sobre
algo, fazendo todas as coisas que pessoas transtornadas fazem – berrando e gritando, e me
deixando influenciar por todas as coisas horríveis que estão acontecendo ao meu redor. E,
no meio do meu transtorno, ainda tenho o poder dentro da minha mente de escolher de
forma diferente. E no instante em que faço isso, tudo desaparece – tudo o que eu estava
fazendo há cinco minutos não existe mais. Então, meu erro em levar um acontecimento no
mundo à sério, e ver toda a vitimação ao redor de mim se torna minha sala de aula na qual
sou capaz de dizer, “É isso o que estou fazendo, mas quero fazer outra coisa”. Meu erro
então se torna santo, porque ele se torna uma oportunidade para que eu aprenda algo
diferente. É sobre isso que essa passagem está falando.

A paciência, então, é entender que, não importando o que está acontecendo no mundo mais
amplo ou em meu mundo pessoal, a lição pode ser aprendida agora, e espera apenas minha
decisão de realmente querer aprender o perdão agora ao invés da raiva. E, nesse momento,
todo o passado desaparece. E, então, uma vez que não há tempo, toda a idéia da
impaciência se torna irrelevante.

Algumas vezes, as pessoas dizem que se o Curso ensina que toda a Filiação tem que voltar
como uma, então, e Jesus? Ele está preso em algum lugar, esperando pelo resto de nós. Ele
vai ter que esperar milhões de anos até que todos nós mudemos nossas mentes. Mas Jesus
não está no tempo, então, não existe um tempo no qual esteja esperando. Uma vez que ele
está identificado apenas com o Amor e com a certeza de Deus, não há nada sobre o que
estar impaciente. Não há nem mesmo nada pelo que esperar. Dentro de um mundo de

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tempo, palavras como “impaciente” e “espera” têm grande significado, mas isso é dentro do
mundo do tempo do ego. Dentro da eternidade, elas são sem significado. E, então,
conforme ampliamos a aceitação da eterna Presença do Amor em nossas mentes, somos
capazes de nos tornar cada vez mais pacientes conosco e com todos os outros.

A impaciência pode ser entendida de outra forma também. Se eu estiver impaciente tanto
comigo mesmo quanto com outra pessoa por não aprendermos o processo do perdão com
rapidez suficiente, ou por qualquer outra razão, estarei sendo realmente confrontado com a
tremenda dor da minha indignidade, minha própria falha, e minha própria culpa, e eu não
quero olhar para isso. E, então, minha impaciência está dizendo que eu só quero que isso
termine tão rapidamente quanto possível, porque a dor é grande demais. É como sentar na
cadeira do dentista e, conforme a dor da broca fica grande demais, eu só quero que aquilo
termine o mais rápido possível. E, então, a impaciência que posso sentir sobre qualquer
coisa realmente está vindo da minha intolerância de olhar para o meu ego, o que
obviamente o torna muito real.

Portanto, a forma de ultrapassar meu ego é aprender a olhar para ele sem ser intolerante em
relação a ele ou impaciente comigo mesmo. Quero ser capaz de olhar para o meu ego sem
levá-lo a sério, olhar para toda a feiúra dentro de mim mesmo – todos os pensamentos
assassinos em relação a mim mesmo e aos outros – e apenas dizer, “Bem, esse é o meu ego,
mas eu não tenho que ter medo dele porque existe uma outra Voz gentil dentro de mim.
“Esse é o início da paciência. Eu aprendo a não ter medo da feiúra que penso ser real dentro
de mim, conforme eu gradualmente amplio a fé e a confiança de que a beleza e o amor
estão dentro de mim também. E tudo o que eu tenho que fazer é escolher.

(Parágrafo 1 – Sentenças 9-10) Talvez isso não tenha sido compreendido na época.

Essa provavelmente é uma exposição incompleta, leve. O fato do passado não ter contido
erros provavelmente não foi compreendido naquele momento porque eu pensei que algo
terrível tinha acontecido. Mas o “algo terrível” é simplesmente meu ego, vivo e
esperneando, e fazendo com que eu o sinta de forma muito dolorosa. Mas agora eu sei que
existe outra Presença na minha mente que se manifesta de forma muito alegre. E eu posso
olhar através dos olhos do Espírito Santo ou de Jesus de forma que o que eu pensei ser tão
terrível agora é visto como uma sala de aula útil.

(Parágrafo 1 – Sentenças 10-12) Mesmo assim, o professor de Deus está disposto a


reconsiderar todas as suas decisões passadas, caso estejam causando dor a alguém.

Em outras palavras, estou consciente de ter feito algo no passado que reforçou a culpa de
outra pessoa – é isso o que significa estar causando dor a alguém -, ou permanece uma
fonte de profunda culpa dentro de mim porque ainda estou tornando-a real para mim
mesmo, nesse exato momento, até que eu mude minha mente. Não existe passado ou futuro.
Tudo isso é um truque inventado dentro da minha mente. Então, eu sempre tenho a escolha,
no momento atual, entre continuar me agarrando à minha culpa, meus pecados do passado e
meu medo do futuro, ou não. E, se eu estiver me agarrando a eles, então, preciso olhar para
essa escolha, porque essa é uma sala de aula que eu tornei real para mim mesmo. Então, eu
olho para meus erros passados – que o ego tem chamado de pecado – com o amor de Jesus

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ao meu lado, e agora isso vai parecer totalmente diferente para mim.

(Parágrafo 1 – Sentenças 12-15) A paciência é natural para aqueles que confiam. Certos da
interpretação final de todas as coisas no tempo, nenhum resultado já visto ou ainda por vir
pode causar-lhes medo.

A “interpretação final de todas as coisas no tempo é do Espírito Santo. Como a lição do


livro de exercícios diz, “Todas as coisas são lições que Deus quer que eu aprenda” (LE-
pI.193) – essa é a interpretação final. Tudo é uma oportunidade de aprendizado. Quer
estejamos falando sobre nazistas alemães ou algo menor que aconteceu comigo ontem, não
importa. Essa é a interpretação final, e eu estou certo dela porque estou certo da presença
do Espírito Santo dentro de mim. Mas, se eu não estiver certo da presença do Espírito Santo
dentro de mim, isso é uma falta de confiança. E se eu não confio no Seu Amor e na Sua
paz, estou escolhendo o ego, o que me prende a interpretação do ego sobre os eventos.

.......

Em outras palavras, quando estou certo do resultado, não tenho dúvidas de que sou uma
criança de Deus, e que nunca deixei a casa do meu Pai, então, absolutamente nada nesse
mundo pode me transtornar. E então, eu percebo o que parece estar acontecendo no mundo
– seja no meu mundo particular ou no mundo mais amplo – simplesmente como uma parte
da sala de aula que vai me ensinar a lição que em outro nível eu já aprendi. Nesse ponto,
qualquer ansiedade, impaciência ou medo se tornam irrelevantes.

A chave nisso, como venho dizendo repetidamente, não é nos iludirmos ou negarmos o fato
de que ainda estamos aprendendo isso. Em outras palavras, simplesmente pegar essa
afirmação e usá-la para empurrar para baixo toda nossa ansiedade e medo não é útil. Nosso
objetivo é realmente saber que nada tem qualquer significado além de ser uma sala de aula
na qual eu aprendo novamente o que já aprendi, mas ainda não aceitei. Esse princípio então
torna mais fácil enfrentarmos as situações difíceis. Mas eu não quero negar todo o
aprendizado que ainda tenho que fazer – não quero pular degraus, espiritualizando
sentimentos de raiva, desapontamento, ansiedade, culpa ou quaisquer outros sentimentos
que possa estar experimentando.

Parte XI

Quais são as Características dos Professores de Deus?

Fidelidade (MP-4.IX)

Essa seção é basicamente sobre generalização – ter fé que os ensinamentos do Curso


funcionam em todas as situações. Isso, é claro, precisa ser verdade porque todas as
situações são a mesma. O ego ensina que tudo é diferente – cada problema é único e
diferente, e tem que ser enfrentado de forma diferente, baseado em suas próprias
circunstâncias especiais. Mas, na verdade, todos os problemas são um só. Todo problema é
apenas outra expressão da separação, o que significa que todos os problemas têm uma
solução: o perdão do Espírito Santo ou a união.

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Então, fidelidade significa saber que só temos que mudar a forma de olhar para o problema,
e o Amor de Deus vai resolvê-lo para nós. Não no nível da forma, é claro. O Amor de Deus
vai simplesmente ser o conteúdo que se filtra através de nossas mentes, e qualquer forma
em que abordarmos o problema nesse ponto será pacífica e amorosa, e vai funcionar.
Novamente, não necessariamente na forma, mas vai funcionar no sentido de que vamos ser
pacíficos. Nosso único problema é que não estamos em paz. Então, quando ficarmos
novamente em paz, o problema foi resolvido. E é sobre isso que a fidelidade é, como é
apresentada nessa seção.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-2) A extensão da fidelidade do professor de Deus é a medida do


seu progresso no currículo.

O “currículo” é aprender que todos os problemas são um só, e, portanto, todas as soluções
são uma só. Então, na extensão em que formos fiéis – de termos fé que todos os nossos
problemas serão resolvidos – será a medida do quanto fomos longe. Isso realmente implica
em que o caminho espiritual, o caminho de se tornar um professor avançado de Deus
através da prática do seu Curso, é um processo.

(Parágrafo 1 – Sentenças 2-4) Ele ainda seleciona certos aspectos da sua vida para trazer
ao seu aprendizado, enquanto mantém outros à parte?

Todos nós, é claro, fazemos isso. Nós permitimos que o processo funcione em algumas
áreas de nossas vidas, mas não em todas. Então, por exemplo, vamos deixar o Espírito
Santo nos ajudar a perdoar essa pessoa, nessa situação, mas não aquela pessoa, naquela
situação. Ou Ele pode nos ajudar a lidar com essa forma particular de dor e sofrimento, mas
não com outra que decidimos ser grande demais. Tudo o que estamos fazendo é dizer que
existem diferenças no mundo. E, uma vez que dizemos isso, nós obviamente estamos
tornando o mundo real.

A seção muito poderosa, “As Leis do Caos” (T-23.II), no Capítulo 23, descreve as cinco
leis do ego. A primeira lei é que existe uma hierarquia de ilusões. Algumas ilusões são
melhores, algumas são piores do que outras. Algumas ilusões são santas, outras não são.
Esses julgamentos são todos baseados na forma. Todos no mundo pensam em termos de
forma. Portanto, podemos resolver certos problemas mais facilmente do que outros. Agora,
no mundo da forma, isso é indubitavelmente verdadeiro. Mas lembrem-se que todo o
mundo da forma é parte do sonho. E, quando reconhecemos que o único problema é que
acreditamos que o sonho é real – e esse é o problema – então, tudo é simples. Então, dentro
do sonho, parece que existem diferenças. Mas, quando reconhecemos que todas as
diferenças vêm do mesmo pensamento básico de separação – que é ilusório – então, eles
são todos o mesmo.

(Parágrafo 1 – Sentenças 4-5) Se é assim, seu progresso é limitado e sua confiança ainda
não está firmemente estabelecida.

Em outras palavras, ainda recusamos certos problemas ao Espírito Santo, o que


basicamente significa que ainda acreditamos que certas coisas que acontecem no mundo

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têm o poder de nos impedir de sermos pacíficos e de sentirmos o Amor de Deus. Estamos
dizendo que existem certas fontes de dor ou doença, ou certas condições no mundo, ou
certas coisas que as pessoas fazem que têm o poder de manter a paz de Deus distante de
nós. É isso o que todos nós estamos dizendo quando não generalizamos as lições de perdão
a todas as situações. A verdade é que, não importando o que está acontecendo ao nosso
redor, ainda podemos estar em paz e saber que o Amor de Deus está dentro de nós. Não
saber disso é o único problema e aceitar isso é a única solução.

(Parágrafo 1 – Sentenças 5-7) A fidelidade é a confiança do professor de Deus no Verbo de


Deus em dispor todas as coisas do modo certo; não algumas, mas todas.

Como é usada no Curso, a frase “a Palavra de Deus” é quase sempre alguma expressão da
Resposta de Deus, do princípio da Expiação do Espírito Santo. Algumas vezes, ela é usada
como um sinônimo para o Espírito Santo, em outras para o princípio da Expiação, ou para o
plano da Expiação, ou para o perdão, etc.

Então, fidelidade é saber que, não importando a fonte da nossa angústia, o Amor do
Espírito Santo em nossas mentes pode tornar todas as coisas certas. Isso não significa que
Ele vá consertar tudo no mundo. Pensem em Jesus: sua vida não foi consertada no final.
Não de forma externa, certamente. Ou pense nas pessoas nos campos de concentração que
morreram lá. Suas vidas não foram arrumadas, como o mundo iria julgar isso. Todas as
coisas são arrumadas em nossa experiência ou percepção delas de tal forma que, não
importando o que esteja acontecendo ao nosso redor, sem exceção, estaremos preenchidos
com o Amor e a paz de Deus. Uma vez que abrimos uma exceção, estamos dizendo que
existe uma hierarquia de ilusões e o mundo da separação e sistema de pensamento de
separação do ego são reais. E ficamos aprisionados.

(Parágrafo 1 – Sentenças 7-9) Em geral, sua fidelidade começa focalizando apenas alguns
problemas, permanecendo cuidadosamente limitada por algum tempo.

No início, isso seria natural para nós.

(Parágrafo 1 – Sentenças 9-12) Abrir mão de todos os problemas em função de uma


Resposta é reverter inteiramente o pensamento do mundo. Só isso é fidelidade. Nada além
disso realmente merece esse nome.

Novamente, é isso o que torna o Curso tão incrivelmente simples. E isso não pode ser
compreendido, sem falar em profundamente experienciado, sem realmente sabermos –
tanto experiencialmente quanto intelectualmente – que o mundo todo foi inventado e que,
de fato, não há mundo. Toda a coisa é um sonho cujo único propósito é nos impedir de
despertar. Sem exceção, o mundo todo é isso. Conforme essa idéia cresce em nós, primeiro
intelectualmente e depois como parte da nossa experiência, começamos a entender por que
existe apenas um problema e uma resposta, e por que não há ordem de dificuldade em
milagres.

O único problema é que eu penso que existe um problema – esse é o problema! E,


novamente, o problema não é a diminuta e louca idéia de sermos separados de Deus. O

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problema é transformá-la em um problema, encarando-a como algo sério – esse é o
problema. E nós repetimos esse erro básico de novo e de novo. Nós ficamos transtornados
com algo que não está lá. Recordem-se de que falamos antes sobre o punho fechado como
uma metáfora para a mente fechada – nós realmente acreditamos que algo terrível está
dentro do punho fechado. Então, nunca olhamos nem perto dele. Mas esse é um problema
inventado. Quando atingimos o ponto onde podemos olhar para ele e ver que não há nada
ali, tudo desaparece. Toda a ansiedade, preocupação e culpa desaparecem.

Tudo nesse mundo é como isso. E então, é isso o que significa ser um professor de Deus:
reconhecer que não há nada que tenha que ser ensinado e nada que tenha que ser aprendido.
Nós simplesmente aceitamos a verdade que já está presente em nós. Isso significa que
olhamos com honestidade para o sistema de pensamento do ego e todas as suas
manifestações – todas as coisas que nos transtornam e nos preocupam. Nós olhamos para
elas e dizemos, “Esse não é o problema – isso não é o que parece ser”. Então, progredir no
Um Curso em Milagres significa reconhecer que não há nada lá fora que tenha que ser
perdoado ou corrigido. Não há nada nem ninguém lá fora que tenha que ser ajudado ou
curado. O que tem que ser ajudado e curado é a minha mente que percebe algo lá fora a ser
ajudado ou curado.

Isso não significa que nossos corpos não façam nada, ou que nossos corpos não assumam a
forma de ajudar outras pessoas. Mas eu não experiencio a mim mesmo como dando essa
ajuda. Eu experiencio a mim mesmo como sendo o instrumento através do qual a ajuda
vem. Em uma passagem adorável no livro de exercícios, Jesus diz, “Pois é só disso que
preciso, que ouças as palavras que digo e as dês ao mundo. Tu és a minha voz, os meus
olhos, os meus pés, as minhas mãos, através das quais eu salvo o mundo” (LE-pI.rV.9:1-
4)). O que é particularmente importante sobre essa passagem é que Jesus diz que é ele
quem salva o mundo, não nós, mas que ele não pode salvá-lo a não ser através de nós –
assim como ele não poderia transmitir sua mensagem a menos que tivesse o corpo de Helen
através do qual falar.

Então, novamente, isso não significa que nós viramos as costas para o que acontece no
mundo. Simplesmente significa que voltamos nossas mentes para Aquele Que realmente
sabe o que está acontecendo no mundo. E, então, Seu Amor trabalha através de nós,
guiando nossos corpos para fazer o que quer que façamos. Quando fazemos isso direito,
não mais experienciamos a nós mesmos como fazendo isso. E, então, não temos
investimento nas pessoas serem curadas, ficando bem ou sendo alimentadas, e nenhum
investimento em haver paz no mundo, ou qualquer coisa como essa. Uma vez que tenhamos
um investimento em qualquer coisa, obviamente a estamos tornando real. Nós queremos ter
um investimento em ter nossas mentes curadas, trazendo todos os nossos pensamentos de
separação, culpa, medo e ataque à Presença do Amor em nossas mentes. Quando nos
reunimos ao amor de Jesus, seu amor trabalha através de nós.

Agora, embora tenhamos acabado de ler que a fidelidade não tem exceções (ela significa
dar todos os nossos problemas à única Resposta), Jesus então diz:

(Parágrafo 1 – Sentenças 12-14) No entanto, vale a pena alcançar cada degrau por menor
que seja. Estar pronto, como diz o texto, não significa maestria.

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Em outras palavras, Jesus está dizendo que o ideal e a meta é sermos capazes de aplicar
esse princípio a todas as situações, a todos os problemas, e a todos os relacionamentos, sem
exceção. Mas ele também está nos dizendo que não podemos fazer isso certo logo de cara.
E, então, damos pequenos passos, e cada pequeno passo é válido. Ele está dizendo que em
qualquer momento determinado, quando formos capazes de entregar um problema a ele,
fizemos um progresso. E estamos prontos para fazer isso, mesmo que não tenhamos
dominado o princípio inteiro. Ainda que não sejamos perfeitos, ainda podemos caminhar
pela estrada de nos tornarmos perfeitos.

O que é útil sobre isso – e nós encontramos isso através de todos os três livros – é a
gentileza e a paciência de Jesus, se nós pudermos usar uma palavra para defini-lo. Ele não
está esperando que sejamos perfeitos. Nós podemos ser tentados a dizer, “Bem, eu não
posso fazer isso porque continuo ficando irritado, ou continuo ficando doente, ou continuo
me sentindo deprimido, e, então, me sinto culpado”. Mas o objetivo do Curso não é
acabarmos com tudo isso de uma hora para outra. O objetivo, ao invés disso, é prover os
meios através dos quais, passo a passo, damos todos os pequenos passos em um longo
caminho, que um dia vai nos levar além de todos os pensamentos do ego. Mas isso é um
processo. Não é algo que acontece da noite para o dia.

Então, outra forma de entender a paciência é termos paciência conosco mesmos, sabendo
que não temos que ser perfeitos. Nós podemos estar prontos para aprender o Curso e
praticá-lo sem termos dominado tudo, porque, se tivéssemos dominado tudo, não
precisaríamos dele. Então, o propósito do Curso é satisfazer nossa necessidade de algo que
nos ajude a desfazer toda a nossa raiva, culpa, ansiedades, etc.

(Parágrafo 2 – Sentença 1) A fidelidade verdadeira, porém, não se desvia.

Então, agora, estamos voltando ao sentido último. Em outras palavras, quando somos
verdadeiramente fiéis, deixamos de ir e voltar.

(Parágrafo 2 – Sentenças 1-11) Sendo consistente, é totalmente honesta. Sendo constante, é


plena de confiança. Sendo baseada na ausência do medo, é gentil. Tendo certeza, é alegre.
E sendo confiante, é tolerante. A fidelidade, então, combina em si mesma os outros
atributos dos professores de Deus. Implica aceitação do Verbo de Deus e a Sua definição a
respeito do Seu Filho. É para Eles [Deus e Seu Filho] que a fidelidade no sentido
verdadeiro é sempre dirigida. É na direção Deles que ela olha, buscando até achar. A
ausência de defesas a acompanha naturalmente e a alegria é a condição para achá-la. E
tendo achado, descansa na certeza quieta Daquilo a Que toda fidelidade é devida [o que, é
claro, é Deus].

Para resumir: a fé é outro desses termos que o Curso usa de uma forma diferente da
comum. O Curso não está falando sobre fé em Deus da forma que as pessoas geralmente
falam sobre ela. No Curso, e especialmente nesse contexto, isso significa ter verdadeira
confiança no processo, que obviamente está a cargo do Espírito Santo. E em nossa fé e
confiança no processo, também reconhecemos que nossos egos não têm poder. Então,
apesar de todas as tentativas do ego de iludir a nós e aos outros, somos capazes de olhar

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além dele – nós e todos os outros – e confiar e ter fé em que a luz de Cristo ainda está
brilhando dentro de nossas mentes. Apesar de todos os pensamentos assassinos que o
mundo mantém – isso fez e sustenta o mundo –, o Amor de Deus e a paz do Céu não foram
tocados de forma alguma. E eu vivo essa fé em minha vida diária acreditando que, não
importando o quanto eu fique transtornado, ainda existe uma presença inabalável,
inexorável e constante na minha mente que está sempre lá para mim. E não apenas ela está
sempre lá para mim, mas está em todas as outras pessoas também. Eu confio que estou no
caminho certo, e que o amor está me guiando e é o meu objetivo. E eu vou aceitá-lo.
Quando vou fazê-lo não importa. Tudo o que importa é a certeza de que vou abrir espaço
para ele. Isso é fé.

Parte XII

Quais são as Características dos Professores de Deus?

Mentalidade Aberta (MP-4.X)

A última característica é a mentalidade aberta. Basicamente, mentalidade aberta significa


que minha mente não está fechada a nada nem a ninguém, ou a qualquer parte da Filiação.
Ela está aberta no sentido de que “todas as coisas são lições que Deus quer que eu
aprenda” (LE-pI.193), sem exceção. Tudo o que eu percebo fora de mim é parte da mesma
Filiação de Cristo que eu sou. Então, minha mente não está fechada a qualquer lição de
perdão, e não está fechada para nenhuma parte da Filiação.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-4) Pode-se compreender facilmente o papel central que ocupa a
mentalidade aberta, talvez o último dos atributos que o professor de Deus adquire, quando
se reconhece a sua relação com o perdão. A mentalidade aberta vem com a ausência de
julgamento.

E isso, é claro, é o que o perdão faz. Ele desfaz o julgamento.

(Parágrafo 1 – Sentenças 5-6) Assim como o julgamento fecha a mente contra o Professor
de Deus, assim a mentalidade aberta O convida a entrar.

Meu ato original de fechar minha mente contra o Espírito Santo foi o meu julgamento de
que eu pequei. Eu primeiro fiz um julgamento contra o Filho de Deus: ele é um pecador e é
culpado. Então, fiz um julgamento contra Deus: Ele é irado e vingativo e, portanto, Ele não
é mais um Ser de perfeito Amor. Desse julgamento veio meu próximo julgamento: o ego e
não o Espírito Santo é meu amigo. E de todos esses julgamentos veio o mundo, junto com
todos os julgamentos que acontecem aqui, no mundo.

(Parágrafo 1 – Sentenças 6-9) Assim como a condenação julga como mau o Filho de Deus,
a mentalidade aberta permite que ele seja julgado pela Voz por Deus a Seu favor.

O julgamento original foi que o Filho de Deus é mau e pecador por causa do que Ele fez. E
a mentalidade aberta é como abrir meu punho que eu fechei quando coloquei o mal e o
pecado nele. Esse foi um julgamento contra mim mesmo. A mentalidade aberta é abrir-se

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ao julgamento do Espírito Santo que simplesmente diz, “Nada aconteceu. A inocência que
você tinha como Filho de Deus ainda é sua, e nunca foi tirada de você”.

(Parágrafo 1 – Sentenças 9-12) Assim como a projeção da culpa sobre ele o mandaria ao
inferno, a mentalidade aberta deixa que a imagem de Cristo seja estendida a ele. Só quem
tem a mente aberta pode estar em paz, pois só eles vêem razão para isso.

Quando eu projeto minha culpa em você como um símbolo do Filho de Deus separado,
minha projeção está condenando você ao inferno. Eu estou dizendo, “Você é um pecador
miserável e merece ser punido”. Por outro lado, quando eu libero todos os julgamentos
sobre mim mesmo, então, a imagem de Cristo – uma imagem de perfeito amor e inocência
– se estende através de mim até você.

(Parágrafo 2 – Sentenças 1-2) Como é que os que têm a mente aberta perdoam? Eles
abandonaram tudo o que impede o perdão.

Essa é outra das afirmações muito claras sobre o que é todo o processo do Curso, sobre o
que é o perdão. O perdão não faz nada. Ele desfaz ou libera o que o ego colocou lá. O
propósito do Curso é remover as interferências à consciência da presença do amor. Existem
poucas linhas em uma das seções sobre relacionamentos especiais que dizem a mesma
coisa: “A tua tarefa não é buscar o amor, mas simplesmente buscar e achar todas as
barreiras que construíste dentro de ti contra ele. Não é necessário buscar o que é
verdadeiro, mas é necessário buscar o que é falso” (T-16.IV.6:1-4). Então, nós não temos
que nos preocupar em encontrar Deus, o Espírito Santo, ou a verdade. Nós buscamos as
interferências dentro de nossas mentes que nos impedem de aceitar o amor que já está lá.
Nossa tarefa é buscar e encontrar os bloqueios que construímos contra o amor.

Nós perdoamos por simplesmente olharmos para todas as coisas que colocamos no caminho
do perdão, coisas como julgamento, ataque, culpa, etc. E então, as deixamos ir abrindo
aquele punho fechado e dizendo, “Eu não quero mais projetar essas coisas. Eu não quero
mais ter medo delas. Eu não quero mais me sentir culpado em relação a elas”. E, então, a
luz da verdade brilha até afastá-las.

(Parágrafo 2 – Sentenças 2-5) Na verdade, abandonaram o mundo e permitiram que esse


lhes fosse restaurado com tal frescor e em alegria tão gloriosa, que nunca teriam podido
conceber tamanha mudança.

Isso está se referindo ao mundo real. Não significa que o mundo vai desaparecer. O mundo
que desaparece é um mundo de pecado, culpa e sofrimento. É isso o que abandonamos. E,
então, o mundo é restaurado a nós em uma novidade e gloriosa alegria. Isso não significa
que o mundo tenha mudado fisicamente. O que mudou é que nós agora olhamos para esse
mundo através dos olhos da luz, do amor e da paz, ao invés de através dos olhos da
escuridão, do ataque, condenação e sofrimento. Então, o mundo real não é uma mudança no
mundo. É uma mudança na mente de alguém que está olhando para o mundo. Se nós
pensarmos em Jesus na cruz, seu mundo não mudou, o mundo físico ao redor dele não
mudou, mas só havia luz em sua mente e portanto, era isso que ele percebia.

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(Parágrafo 2 – Sentenças 5-6) Nada é agora como era antes. Nada deixa de cintilar agora,
que antes parecia tão opaco e sem vida.

Ele era opaco e sem vida porque a culpa é opaca e sem vida, e a culpa é realmente morte.

(Parágrafo 2 – Sentenças 6-8) E acima de tudo, todas as coisas lhes dão as boas-vindas,
pois a ameaça se foi.

Todas as coisas são bem vindas porque tudo é visto como uma sala de aula. Eu não digo,
“Isso o que vai acontecer é algo terrível, então tenho que impedi-lo”. Nada no mundo é
visto como uma ameaça porque eu percebo que não há nada no mundo. Como eu poderia
ser ferido por algo que não existe? Eu só posso ser ferido pela minha crença de que existe
algo que pode me ferir, mas acreditar nisso não o torna verdadeiro. Então, em um certo
sentido, essa é outra forma de afirmar o princípio da Expiação: eu sou livre para acreditar
que sou separado de Deus, mas não sou livre para fazer isso acontecer.

(Parágrafo 2 – Sentenças 8-9) Nenhuma nuvem permanece para encobrir a face de Cristo.
Agora a meta foi conseguida.

“A face de Cristo” é usada no Curso como um símbolo para o perdão. Não é algo que nós
realmente vemos. Eu não vejo a face de Jesus em alguém. Nós não vemos a face física de
outra pessoa mudar. O que muda é a forma com que olho para sua face. Ver a face de
Cristo no meu irmão é realmente uma expressão de perdão. Significa que eu olho para você
através dos olhos da inocência, e não o vejo mais como culpado ou pecador. E, portanto,
você brilha, cintila e parece lindo não por causa de qualquer coisa física sobre você, mas
simplesmente porque eu agora vejo você sem todas as projeções de ódio, culpa e ataque que
eu tinha colocado lá.

As “nuvens”, como já mencionei, é um termo freqüentemente utilizado no Curso como um


símbolo das ilusões do ego, e com muita freqüência, especificamente de culpa, como “a
nuvem de culpa” (e.g., T-13.IX.h) que ocultam a luz do Espírito Santo.

(Parágrafo 2 – Sentenças 9-10) O perdão é a meta final do currículo.

O objetivo final do Um Curso em Milagres não é Deus ou o Céu; o objetivo final é a paz. O
perdão é o meio de atingir essa paz. Então, o currículo do Curso é bastante especifico – é
um currículo em desfazer. O perdão desfaz. O milagre desfaz. E, quando nós desfazemos
todas as coisas que o ego colocou em nossas mentes, só resta o Amor de Deus.

O Curso tem um tipo de fórmula básica: eu vejo a face de Cristo no meu irmão e então eu
me lembro de Deus. Ver a face de Cristo no meu irmão é perdoar. Esse é o processo todo.
Quando acontecer e estiver completo, o Curso terá completado seu propósito. O que esta
face é, é a memória de Deus, que agora expande-se em nossas mentes. A memória de Deus
é guardada em nossas mentes pelo Espírito Santo. De fato, Ele é a memória do Amor de
Deus em nossas mentes separadas dentro do sonho. Então, quando nós tivermos desfeito
totalmente todos os sonhos do ego, tudo o que resta é a memória de Deus.

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(Parágrafo 2 – Sentenças 10-11) Pavimenta o caminho para o que vai além de todo
aprendizado.

E esse é o amor de Deus.

(Parágrafo 2 – Sentenças 11-14) O currículo não faz esforços para exceder sua meta
legítima. O perdão é o seu único objetivo, para o qual todo o aprendizado converge em
ultima instância. É, de fato, o suficiente.

O Curso não fala sobre o amor ou o ensina; esse não é o objetivo. Isso está além do que
pode ser ensinado. O que pode ser ensinado é como desfazer o que ensinamos a nós
mesmos. Nós ensinamos a nós mesmos todo o sistema de pensamento do ego, um sistema
de pensamento baseado no ataque, separação, doença, etc. E, então, precisamos de outro
sistema de pensamento para desfazer isso, que nos ensine algo diferente. O perdão faz isso.
Quando o perdão for completo e tivermos desfeito tudo o que o ego nos tem ensinado, todo
o aprendizado desaparecerá. O aprendizado então terá cumprido seu propósito, e o que
permanecerá é a memória de Deus.

Isso completa nossa discussão sobre a mentalidade aberta. A última parte dessa sub-seção é
como um resumo de toda a seção.

(Parágrafo 3 – Sentenças 1-5) Podes ter notado que a lista dos atributos dos professores de
Deus não inclui coisas que constituem a herança do Filho de Deus. Termos como amor,
impecabilidade, perfeição, conhecimento e verdade eterna não aparecem nesse contexto.
Seriam por demais impróprios aqui.

O foco aqui está em desfazer o sistema de pensamento do ego. E então as características


realmente não são as características do Céu. Elas são o que caracteriza viver nesse mundo
sem o sistema de pensamento do ego. Quando o sistema de pensamento do Espírito Santo
corrigiu e desfez totalmente o sistema de pensamento do ego, tudo o que resta são os
atributos de Cristo. Mas, atingir esses atributos não é o objetivo do Curso. Novamente, o
objetivo do Curso é atingir o que ele chama de pensamento da mente certa, que incorpora
as características do professor de Deus. Em outras palavras, o objetivo é ensinar e aprender
o perdão. Quando esse processo está completo, ele apaga a lousa e o que resta são as
características de Cristo: amor, ausência de pecado, perfeição, etc.

(Parágrafo 3 – Sentenças 5-6) O que Deus deu em tanto excede o nosso currículo que o
aprendizado desaparece diante da sua presença.

O que Deus tem dado é Seu Amor, Seu Ser, que é o que somos como Cristo. Uma vez que
tenhamos completado nosso aprendizado e vejamos a face de Cristo, tudo da mente
dividida desaparece. E o que se expande em nossas mentes é a memória de Deus. Nesse
ponto, tudo o mais desaparece.

(Parágrafo 3 – Sentenças 6-7) No entanto, quando a sua presença está obscurecida, o foco
recai acertadamente sobre o currículo.

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Em outras palavras, enquanto a presença de Deus está obscura, enquanto ainda estamos
com medo do perfeito amor que somos, ainda temos que aprender a desfazer o medo. E
isso, novamente, é o que o perdão faz, que é o direcionamento todo do Curso.

(Parágrafo 3 – Sentenças 7-8) A função dos professores de Deus é trazer ao mundo o


verdadeiro aprendizado.

Mas não somos nós, como professores de Deus, que trazemos o verdadeiro aprendizado ao
mundo. Ele é trazido através de nós. Nossas mentes divididas, e portanto, nossos corpos,
simplesmente se tornam instrumentos através dos quais esse perfeito amor se estende.

(Parágrafo 3 – Sentenças 8-10) Propriamente falando, o que trazem é “des-aprendizado”,


pois esse é o “aprendizado verdadeiro” no mundo.

Novamente, todo esse Curso é um curso sobre desaprender e desfazer – remover o que o
ego tem colocado em nossas mentes. Agora, o Curso diz “o ego sempre fala primeiro” (T-
6.IV.1:2), mas o que ele diz é errado. E o Espírito Santo é a Resposta que cancela a
afirmação do ego.

(Parágrafo 3 – Sentenças 10-12) Aos professores de Deus é dado trazer ao mundo as boas-
novas do perdão completo. Bem-aventurados são eles, em verdade, pois são os portadores
da salvação.

Novamente, não somos nós que trazemos essa mensagem. Nós somos os instrumentos
através dos quais ela vem. Não somos nós que fazemos isso. Nosso trabalho é
simplesmente nos mantermos fora do caminho. Como vamos ver mais tarde quando
estivermos falando sobre a cura, não somos nós que curamos. Um professor de Deus não
cura. Ele simplesmente permite que a cura se estenda através dele.

Parte XII

Conclusão

1. Vivendo Um Curso em Milagres

O que torna o Curso tão desafiador de se viver é que ele diz que deveríamos permanecer no
mundo, fazendo o que se costuma fazer no mundo, mas com uma atitude diferente. Então,
por exemplo, se eu estiver no papel de um supervisor com responsabilidades que qualquer
um nessa situação teria, então, é isso o que eu faço. A diferença é que existe uma parte de
mim que não perde sua paz pelo fato dos membros da equipe não terem feito seu trabalho
direito. Eu ainda continuo fazendo o que qualquer outro chefe faria. Mas, se eu estiver
fazendo isso direito, eu o faço com a consciência de que meu local de trabalho é uma sala
de aula na qual eu sigo todas as regras e procedimentos dessa sala de aula enquanto, ao
mesmo tempo, reconheço que elas realmente não importam. Isso é muito difícil de fazer.
Envolve estar nesse mundo e, no entanto, não ser dele, para usar uma linha bíblica que o
Curso freqüentemente parafraseia e adapta (T-7.XI.1:3; T-26.VII.4:5). É muito mais fácil,
como as pessoas em caminhos espiritual têm feito por eons, separar-se do mundo e apenas

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meditar sobre verdades eternas. Esse é um caminho espiritual, mas não é o do Curso.

O caminho do Curso, com raríssimas exceções, nos pede que, como seus estudantes,
permaneçamos exatamente onde estamos, dentro de nossos papéis – quer sejamos um
cônjuge, um professor, supervisor, ou seja o que for. Essa é nossa sala de aula. Mas nós
fazemos isso enquanto aprendemos a lição de que, na realidade, isso não importa. Então,
podemos fazer qualquer coisa que nossos papéis requeiram e ainda assim permanecer
pacíficos. Eu posso levantar minha voz e ainda ser pacífico. Eu posso demitir alguém e
ainda ser pacífico. Eu posso não demitir alguém e ainda ser pacífico. Nada disso faz
qualquer diferença.

O que torna o processo claro é a experiência de paz, e essa experiência se aprofunda


durante um período de tempo no qual percebemos que a lição consiste em aprender a não
ver ninguém como uma vítima – eu mesmo ou qualquer outra pessoa. Como outro
exemplo, vamos dizer que estou comandando uma grande cozinha, e que existem muitas
pessoas que precisam ser alimentadas em momentos determinados. Mas alguém na equipe
da cozinha não está fazendo seu trabalho. Como resultado disso, embora a comida devesse
estar pronta as 6:30 hs, já são 6:20 e ela não está pronta, e obviamente não estará pronta
dentro dos próximos vinte minutos. Então, se eu estiver sentado lá, esperando
impacientemente que tudo isso aconteça, pensando, “Ah, meu Deus, essas pessoas não
serão alimentadas a tempo”, estarei sem saída. Estarei dizendo que as pessoas a serem
alimentadas são vítimas, e que a equipe que não fez seu trabalho são vitimadores. Nesse
ponto, não importando o que eu faça, estarei errado.

Mas se eu reconhecer que minha lição é perceber que ninguém é uma vítima, que as
pessoas cometem erros, mas ninguém é uma vítima e ninguém é um vitimador – e se eu
realmente quiser aprender isso -, então, isso vai sempre me trazer de volta à questão central
e ao objetivo central. Então, quando eu começo a ficar transtornado em relação ao fato de
que todas as pessoas não vão conseguir receber sua comida a tempo, vou querer dizer a
mim mesmo, “Eu caí na armadilha – eu tornei o erro real. Eu acreditei que vão existir
vítimas, o que significa que existem pessoas que pecaram contra elas e que merecem minha
raiva”. Então, eu dou um passo atrás e digo, “Eu escolhi o professor errado, porque esse é o
ego falando sobre o pecado”. É necessária muita prática para sermos capazes de fazer isso
sem cairmos na negação sobre minhas reações.

Nós queremos ser cuidadosos sobre não estarmos tentando nos tornar perfeitos por tornar a
coisa “espiritual”. Nós queremos aprender a lição para que possamos nos sentir pacíficos, e
para que possamos sentir o Amor de Deus muito mais presente para nós. Nós queremos ver
cada situação como um meio de alcançar o objetivo de aprender o que é o perdão, o que é o
tema da seção “Estabelecendo a meta” (T-17.VI). E, especificamente, isso significa
aprender que esse não é um mundo de vítimas e vitimadores. É útil ver que seja o que for
que estiver me transtornando sempre tem a algo a ver com vitimação – sem exceção! Ou eu
sou uma vítima, ou me identifico com outras pessoas lá fora como vítimas. O que realmente
me ajuda a me mover ao longo do caminho do perdão é perceber que existe outra forma de
olhar para cada situação, enquanto ainda estamos participando dela.

Como eu já disse, o problema não é a diminuta e louca idéia da separação. O problema é

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levá-la a sério. O problema não é as pessoas que não vão ser alimentadas a tempo; o
problema é que estou transformando a situação em uma grande coisa. Eu a estou
transformando em um pecado, uma repetição total de um cenário de vitimação. E, se eu
mudar minha mente sobre o cenário, então, uma forma diferente de vê-la se torna possível.

Portanto, o primeiro passo é pelo menos reconhecer que existe uma forma diferente de
olhar para a situação e de entender o que é aquela forma diferente. Viver a forma diferente
obviamente requer muita prática. É crucial não abdicarmos de nossa responsabilidade em
relação a nosso papel como o mundo o vê. Nós fazemos o que o papel está no pedindo, tão
amorosamente quanto pudermos, mas sabemos que esse papel agora está servindo a um
propósito diferente, e isso o torna diferente. Isso nos capacita, com o tempo, em muitas
situações, a sermos ainda mais efetivos e eficientes no que estamos fazendo, porque
estaremos mais pacíficos. Existirá menos interferência, menos ansiedade, menos tensão,
menos impaciência e menos necessidade de exigirmos que os outros façam o que queremos
que eles façam.

2. O “Plano” do Espírito Santo

Sob a luz dessa discussão sobre as características, e particularmente em relação à paciência,


pode ser útil examinar uma sentença do livro de exercícios que é freqüentemente mal
compreendida: “O que deixarias de aceitar se apenas soubesses que tudo o que acontece,
todos os eventos, passados, presentes e por vir, são gentilmente planejados por Aquele
Cujo único propósito é o teu bem? (LE-pI.135.18:1-3). É importante sempre mantermos em
mente que a abordagem básica do Curso é para corrigir as interpretações errôneas do ego. O
contexto dessa lição é encontrado em linhas anteriores: “A mente curada não faz planos.
Executa os planos que recebe ouvindo a Sabedoria que não lhe é própria” ((LE-
pI.135.11:1-2).

O Curso repetidamente discute o plano do Espírito Santo da Expiação, contrastando-o com


o plano do ego, que é sempre atacar Deus e Seu Filho. O Curso também fala algumas vezes
como se o Espírito Santo tivesse conscientemente traçado um plano que inclui cada um de
nós individualmente, com tudo em nossa vida tendo sido planejado. O Curso fala conosco
nesse nível porque Jesus sabe que nós pensamos como criancinhas, e nos sentimos
confortados por palavras que nos reasseguram que Deus tem planos para nós, que Ele nos
ama e cuida de nós.

Como já vimos, entretanto, Deus não faz nada. Ele simplesmente é. Se ele fizesse qualquer
coisa, então, estaria agindo no mundo como se ele fosse real. E, de fato, quando fazemos
planos, obviamente estamos falando sobre tempo. Não existe tempo para Deus, então, Ele
não pode fazer planos. Essa passagem está realmente falando sobre um processo no qual,
quando a separação pareceu acontecer, todo o tempo também ocorreu dentro daquele único
instante e, de fato, ainda está ocorrendo dentro daquele instante – o que o Curso chama de
“diminuto tic-tac do tempo” na seção chamada “O pequeno obstáculo”. E todos os erros,
ele explica, aconteceram dentro desse primeiro erro (T-26.V.3:6-7).

O erro original é o pensamento de ser separado de Deus. Esse pensamento se fragmentou


em bilhões e bilhões de pedaços, que se espalharam sobre o tempo. Foi como se um

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diminuto tic-tac do tempo tivesse sido esmagado em cima de uma grande mesa e espalhado.
E o ato de espalhar é o que chamamos de início do mundo e eventual fim do mundo, com
todo o processo da evolução entre esses dois pontos. Mas todo o tempo aconteceu dentro
daquele único instante. Todas as diferentes formas nas quais nós manifestamos nossa
crença na separação – todos os nossos relacionamentos especiais – aconteceram dentro
daquele único instante.

É isso o que o Curso quer dizer quando fala que “o roteiro está escrito” (LE-pI.158.4:3) e
que ele já aconteceu. Esse é o roteiro – o único erro que foi explodido em bilhões e bilhões
de fragmentos. Cada um de nós, como um ser separado, é uma parte desse processo de
fragmentação. E todas as nossas experiências são partes dele – todas as diferentes
expressões do sistema de pensamento do ego. Mas lado a lado com o sistema de
pensamento do ego, na mente dividida, está o pensamento de correção do Espírito Santo – o
que o Curso chama de princípio da Expiação ou memória do Amor de Deus. Esse
pensamento também estava na nossa mente quando ela se fragmentou. Então, o pensamento
de Amor do Espírito Santo é a resposta ou a correção para o errôneo pensamento de medo
do ego – existe uma correspondência perfeita entre os dois. Conforme o pensamento de
medo do ego se fragmenta, escrevendo um roteiro com bilhões e bilhões de formas de
expressar medo, culpa e ataque, de forma correspondente, existe o roteiro de correção do
Espírito Santo para cada um dos pensamentos do ego.

Em outras palavras, cada exato pensamento fragmentado de especialismo, ataque,


separação e culpa do ego em nossas mentes, tem um pensamento correspondente de perdão
e união do Espírito Santo. Essa é a correção, cada uma correspondendo a cada
relacionamento especial. Esse é o roteiro do Espírito Santo, citado no livro de exercícios
como o roteiro da salvação (LE-pI.169.9:3). Agora, o Espírito Santo não escreveu o roteiro
original. De fato, o roteiro do Espírito Santo não é nada mais do que o roteiro do ego, mas
agora com o conteúdo do Espírito Santo de correção ou de perdão. Então, esse é o plano a
que se refere a sentença citada. Não é um plano que o Espírito Santo fez junto com Jesus ou
com Deus, e fez funcionar para cada um de nós. Ao invés disso, é o desfazer inevitável e
automático do roteiro do ego ou do seu sistema de pensamento.

Então, tudo o que o ego tem feito para nos atacar se torna uma sala de aula na qual o
Espírito Santo nos ensina como olhar para isso de forma diferente. O ego escreve o roteiro
básico e o Espírito Santo dá um conteúdo ou interpretação diferente. Compreender isso leva
à paciência porque nós percebemos que o resultado é tão certo quanto Deus – pois ele já
aconteceu. Em outras palavras, o Espírito Santo desfez todo o sistema de pensamento do
ego, e esse desfazer, que é a aceitação da Expiação para nós mesmos, já está em nossas
mentes. Tudo o que temos que fazer é escolhê-la – essa é a aceitação citada.

A Expiação já aconteceu. Jesus diz, no final do Curso, que nós estávamos com ele quando
ele ascendeu (ET-6.5:5). Em outras palavras, quando ele despertou do sonho, nós
estávamos com ele porque nossas mentes são unidas. O problema é que nós pegamos
aquele pensamento de ressurreição, de despertar do sonho da morte em nossas mentes, e o
colocamos de lado e o silenciamos, para que ficasse trancado e nunca mais olhássemos para
ele. Mas ele está lá e só requer nossa aceitação em relação a ele. A paciência vem da
certeza de saber que esse sonho já acabou. Então, por que eu ficaria transtornado ou

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impaciente em relação a qualquer coisa que aconteça dentro do sonho, se eu sei que ele já
acabou?

Quando eu sei disso, sou o que os pesquisadores do sonho chamam de sonhador lúcido –
alguém que, enquanto está dormindo e sonhando à noite, está consciente dentro do sonho
de que aquilo é um sonho. Então, estou observando a mim mesmo tendo um sonho. Treinar
minha mente para ser um sonhador lúcido pode ser muito útil, especialmente se eu estiver
tendo um pesadelo ou um sonho ruim. Dentro do sonho, então, eu posso dizer a mim
mesmo, “Ah, isso é só um sonho. Nada realmente está acontecendo”.

Em certo sentido, é isso o que o Curso está nos treinando para fazermos. Na linguagem do
Curso, ser um sonhador lúcido é viver no mundo real. Então, eu estou vivendo dentro do
sonho, mas estou ciente de que é um sonho. É por isso que não fico transtornado. E é por
isso que posso ser paciente – eu sei que não há nada com o que ficar transtornado ou
impaciente. Eu sei que existe uma parte da minha mente que já acabou com tudo isso e já
despertou do sonho. Mas, se eu ainda não estiver pronto para aceitar essa realidade – estar
no mundo real – bem, então, ainda não estou pronto para aceitá-la. Mas ela estará lá quando
eu estiver pronto – ela não vai a lugar algum.

Nossa impaciência com situações em nossas vidas também podem carregar um sentimento
de que se algo não acontecer exatamente agora, nunca vai acontecer. E isso é apenas uma
sombra do pensamento subjacente do ego de que eu nunca vou voltar para casa – eu fui
banido do Céu, eu o joguei fora, e nunca vou voltar. E então, minha impaciência é
realmente o medo de que se eu não o tiver exatamente agora, nunca vou tê-lo. Então, a
paciência vem do reconhecimento de que eu não joguei o Céu fora. Eu o coloquei fora de
lugar na minha mente, mas o Espírito Santo ainda o está guardando para mim – ele não está
perdido. Eu não posso vê-lo nesse momento, mas isso não significa que ele não está lá.

Quando nos percebemos agindo de formas aparentemente um pouco impacientes no


mundo, isso é apenas uma cobertura, uma cortina de fumaça, para um julgamento mais
profundo do ego contra nós mesmos. Tudo no mundo é uma cortina de fumaça – tudo. É
útil lembrarmos de que não existe tempo e de que tudo está acontecendo simultaneamente.
Então, quer estejamos considerando o sistema de pensamento original do ego, ou um
pensamento que estou tendo exatamente nesse momento, é tudo o a mesma coisa. Existem
apenas duas alternativas possíveis. O que eu estou pensando e fazendo é um reflexo ou do
sistema de pensamento do meu ego – o que eu vou reconhecer pelo fato de não estar em paz
-, ou do sistema de pensamento do Espírito Santo. E, se é o meu ego, é uma cortina de
fumaça. Eu posso pensar que estou transtornado porque eu não gosto da forma como
alguém está vestido, ou por algo que alguém disse, ou por algo que está acontecendo ao
meu redor, mas cada situação é uma cortina de fumaça para me manter inconsciente do que
realmente está me transtornando. Como o Curso diz, antes, no livro de exercícios, “Eu
nunca estou transtornado pela razão que imagino” (LE-pI.5).

Parte XIV

Rituais e Meditação

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Nós agora vamos examinar a seção “Como o Professor de Deus deveria passar Seu Dia?”
(MP-16), e vamos nos focalizar na última parte dessa seção, que fala especificamente sobre
mágica. Mas primeiro, quero resumir a parte anterior, que discute como um professor de
Deus deveria passar seu dia. Ela diz que, para um professor avançado de Deus, essa
pergunta não faz sentido, porque ele simplesmente passa seu dia da forma que o Espírito
Santo o guia a fazer. O que está sendo demonstrado aqui é a idéia de rituais e, então, eu
gostaria de falar mais sobre esse tema.

A maioria das pessoas que cresceu no mundo ocidental, seja como judeus ou cristãos,
cresceu em uma religião de rituais. Como o Um Curso em Milagres discute no contexto dos
relacionamentos especiais, essa é uma confusão da forma com o conteúdo. Nós acreditamos
que atos de obediência a certas leis, seguir certos rituais, rezar de certas formas, vão por si
só agradar a Deus e, portanto, serão a salvação para nós. Acreditando nisso, nós
basicamente estamos dizendo que não temos que mudar nossas mentes – nós apenas
precisamos mudar nosso comportamento. Nós ritualizamos nossas vidas, controlamos
nosso comportamento, e fazemos todas as coisas que se espera que façamos. E nós
acreditamos que se fizermos tudo isso, em algum ponto, Deus vai nos perdoar e nos receber
de volta em Seu Reino. O que acontece com muita freqüência, é claro, é que os rituais em si
mesmos se tornam substitutos para Deus. Eles se tornam substitutos para a experiência e o
processo de mudarmos nossas mentes. Eles se tornam ídolos. É por isso que Jesus diz que
“a religião formal não tem lugar na psicoterapia, mas também não tem realmente lugar na
religião” (S-2.II.2:1-2) – esse é o ponto.

O livro de exercícios, entretanto, é extremamente organizado, com exercícios altamente


estruturados. Ele nos diz exatamente quanto tempo de cada dia deveríamos passar pensando
sobre Deus, quando e como deveríamos fazer isso, que palavras deveríamos usar, etc. É
importante manter em mente que o livro de exercícios é um programa de treinamento para
um ano, e que ele começa com a premissa de que todos nós somos espiritualmente muito
imaturos – que nossas mentes são indisciplinadas. Afirmações como essa são feitas no
próprio livro de exercícios (e.g., LE-pI.20.2:6; LE-pI.44.3:3-5). Nós precisamos de
disciplina. O livro de exercícios nos ensina como desenvolver uma certa quantidade de
disciplina que permita que nossas mentes pensem de forma diferente – pensem de acordo
com as linhas que o Curso estabelece, ao invés de estar de acordo com as linhas que o ego
estabelece. Uma parte essencial do processo de treinamento mental é mudar nossa crença
no sistema de pensamento que vê o Espírito Santo como alguém que vai nos punir e em
Quem não podemos confiar, para a crença na qual vemos o Espírito Santo como Alguém
em quem podemos confiar.

O ponto inicial desse programa de treinamento de um ano do livro de exercícios é nos fazer
perceber que nós não temos controle sobre nossas mentes, que elas simplesmente estão
correndo livres, obedecendo a um poder dentro de nós. Em outras palavras, não somos nós
que estamos controlando nossas mentes, e é realmente possível mudar a forma com que
pensamos. Ensinar isso para nós é um dos propósitos do livro de exercícios. E, então, para
fazer isso, ele nos provê com períodos de prática muito estruturados. Como explica a Lição
95 – e essa é a única lição que realmente faz isso -, apesar do fato de estar estabelecido
dessa forma, o livro de exercícios não está destinado a ser uma série de rituais que têm que
ser feitos exatamente como eles devem ser feitos (LE-pI.95.4-9). Então, se nós não

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fizermos as lições como “se espera que façamos” – por exemplo, se não pensarmos sobre
Deus seis vezes por hora, em cada hora do dia em que estivermos despertos – Jesus não vai
estar lá em cima, no Céu, com um cartão de pontos marcando todas as nossas falhas,
pretendendo em algum ponto arremessar aqui pra baixo um raio junto com um trovão e nos
destruir por nossos pecados. O propósito do livro de exercícios é treinar nossas mentes para
querermos pensar de acordo com as linhas do livro de exercícios – queremos que nossas
mentes pensem sobre Deus o dia todo.

Da mesma forma clara, Jesus não está esperando que nós façamos isso, porque ele nos deu
365 lições, não apenas uma. É verdade que se nós fizermos qualquer lição perfeitamente,
teremos feito todas, porque, como ele diz, “cada uma [lição] contém todo o currículo” (LE-
pI.rVI.2:2). Mas, novamente, ele claramente não espera que façamos isso. E, no final desse
programa de treinamento de um ano, ele diz que “esse Curso é um início, não um fim”
(LE-pII.ep.1:1).

Então, estrutura é extremamente útil para a maioria das pessoas, porque é uma forma de nos
ajudar a começarmos a disciplinar nossas mentes para que possamos começar a entrar em
contato com nossos pensamentos de querermos atacar Deus, a nós mesmos e uns aos
outros. Mas existe um perigo inerente a estrutura, que é porque Jesus diz o que ele faz em
relação a isso no livro de exercícios, Lição 95. E ele nos previne ainda mais nessa seção do
manual que “As rotinas como tais são perigosas, porque facilmente vêm a ser deuses em
seu próprio direito, ameaçando aquelas mesmas metas em nome das quais foram
estabelecidas” (MP-16.2:5-8). Ele está dizendo que nós deveríamos usar todos os períodos
de prática estruturada e outras rotinas que ele nos dá como um meio de alcançar um fim,
mas não deveríamos confundi-las pelo fim em si mesmo. O propósito dos períodos
estruturados é nos levar além de toda necessidade de ter uma estrutura. Então, todo nosso
dia é simplesmente colocado sob a orientação do Espírito Santo. E aí nós não acreditamos
mais que a única forma de podermos sentir paz, a única forma de podermos mudar nossas
mentes do ataque para o amor, é nos sentarmos quietamente sozinhos em certo período do
dia, em certa posição, lendo certa coisa, etc. Fazer isso é útil nos estágios iniciais do
processo de correção, mas não é útil se “as rotinas... vêm a ser deuses em seu próprio
direito”.

Um Curso em Milagres diz repetidamente que seu propósito é ser prático. E não seria muito
pratico se só pudéssemos encontrar paz nos sentando quietamente em um canto. O que eu
faço se estiver no meio de um congestionamento na auto-estrada? Ou o que eu faço como
terapeuta se estou com um paciente e subitamente fico muito ansioso, culpado,
amedrontado ou transtornado? Eu não posso me desculpar por me ausentar por quinze
minutos, e ir para outra sala e meditar. Então, o propósito do Curso é nos ajudar a treinar
nossas mentes para que, não importando onde estejamos, possamos rapidamente voltar à
presença do Espírito Santo em nossas mentes e pedir ajuda. Fisicamente, nada muda. Ainda
estou perfeitamente presente para você, mas uma parte da minha mente volta para aquele
lugar de paz e diz, “Ajude-me. Preciso escolhê-Lo novamente porque não estou me
sentindo em paz. Estou me sentindo culpado, ansioso e amedrontado”.

Para que eu atinja o ponto onde posso fazer isso muito rapidamente o tempo todo, preciso
de um período de aprendizado estruturado, assim como eu não me sentaria ao piano pela

59
primeira vez e tocaria uma fuga de Bach perfeitamente. Eu teria que praticar por muitas
longas horas – muita prática estruturada – até ser capaz de me sentar e tocar livremente uma
fuga de Bach ou uma sonata de Beethoven. Nós precisamos de períodos de pratica
estruturados. Como um artista, meu objetivo seria atingir o ponto no qual eu não mais
estaria preso à estrutura ou à forma. A inspiração então, apenas viria através de mim. Meu
ato de tocar, então, se torna mais do que apenas manter as marcas do metrônomo – eu posso
tocar com o mesmo tipo de liberdade e amor que havia na composição da música.

A mesma coisa é verdadeira em relação a viver diariamente, minuto a minuto, com o


Espírito Santo. Nós não queremos ser limitados pela rigidez da estrutura. Nós queremos
que Seu Amor flua livremente através de nós. É por isso que essa seção diz que um
professor avançado de Deus não tem uma estrutura fixa (MP-16.1). Entretanto, nós não
queremos cair na armadilha de pensar, “Bem, eu sou um professor avançado de Deus
porque acabei de passar um ano com o livro de exercícios. Portanto, eu não tenho que
meditar, eu não tenho que praticar”, etc. Não há nada errado em ter períodos estruturados.
Nós só não queremos transformá-los em deuses em si mesmos. O verdadeiro objetivo do
Curso é transformar todo o nosso dia de vinte e quatro horas em uma meditação e uma
oração. Então, não importando onde eu esteja, ou com quem esteja, existe uma parte da
minha mente que sempre se lembra de que ela está em contato com o Espírito Santo ou com
Jesus. Então, quando eu me pego transtornado, posso voltar àquele lugar quieto na minha
mente.

..........

Quando nós estamos cansados do ritual, a noção de um Deus punitivo pode, com
freqüência, tornar-se mais proeminente em nosso pensamento. Ele não conhece forma. O
Amor é sem forma. Mas, pelo fato de termos sido tão treinados em nossas mentes para
negarmos a ausência de forma e para transformamos a forma em realidade, precisamos
começar com ela. Não porque ela seja real, mas porque a forma agora pode servir a um
conteúdo diferente. E esse conteúdo é o caminho do Espírito Santo, que nos leva através da
forma, além da forma, em direção a ausência de forma. Em contraste, o uso do ego para a
forma nos enraíza ainda mais profundamente na forma.

Uma linha no Curso diz que nós “nem mesmo podemos pensar em Deus sem um corpo”
(T-18.VIII.1:7), o que nós perceberíamos ser verdade se prestássemos atenção aos nossos
pensamentos sobre Deus. Todas as nossas noções de Deus – até mesmo a maioria das
noções expressas no Curso sobre Deus como um Pai amoroso – estão enraizadas em um
conceito de corpo. Pelo fato de nem mesmo podermos pensar em Deus sem um corpo ou
com alguma forma, precisamos de uma forma e de um conceito de Deus como um corpo,
que pelo menos inicie o processo de desfazer o uso do ego de Deus como um corpo – como
um Pai vingativo, por exemplo.

Então, se eu passar alguns poucos dias sem ler o Curso e começar a me sentir aborrecido e
colocar a culpa no fato de não estar lendo o material, eu poderia estar negando essa
Presença viva dentro da minha vida. Por outro lado, também pode ser que minha decisão de
não ler o Curso estivesse vindo de um pensamento anterior em minha mente que disse, “Eu
não vou me lembrar de Deus. Eu vou atacar a mim mesmo”. Nesse contexto, ler o Curso

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pode ser útil, porque agora estou usando a forma para um propósito diferente. Nós sempre
temos que ser cuidadosos porque não podemos avaliar cada situação da mesma forma. O
pensamento é sempre o que dá significado à ação ou à forma. O propósito dá seu
significado, não a coisa em si mesma.

Parte XV

Como o Professor de Deus deveria passar seu dia? (MP-16)

Vamos agora nos voltar para “Como o professor de Deus deveria passar seu dia?” que vai
tratar da questão da mágica. Vamos começar com o parágrafo oito.

(Parágrafo 8 – Sentenças 1-3) No entanto, existirão tentações ao longo do caminho pelo


qual o professor de Deus tem ainda que viajar e ao longo do dia ele tem necessidade de
lembrar a si mesmo da sua proteção.

“Sua proteção”, é claro, é a presença do Espírito Santo. Não há nada no mundo de que
necessitamos para nossa proteção, e nada do que tenhamos que ser protegidos. A proteção
vem da paz dentro de nossas mentes. O que acreditamos que nos protege no mundo é o que
o que o Curso quer dizer com mágica. Nós primeiro acreditamos que existe um problema
fora das nossas mentes que tem que ser resolvido – quer o problema esteja no meu próprio
corpo, ou nos de outros, ou em algum lugar no mundo. E nós acreditamos que sabemos
qual é a solução, o que nós usamos para resolver o problema que definimos. A solução,
então, é o que o Curso chama de mágica.

Por exemplo, se eu tiver uma dor de cabeça, o que é um problema que experiencio no meu
corpo, e eu disser que uma aspirina vai cuidar da dor de cabeça, então, a aspirina é uma
forma de mágica. Chamá-la de mágica não significa que a aspirina ou qualquer outro
medicamento ou intervenção não funcione. Ele realmente funciona no nível do sonho. Mas
ele não desfaz a causa da dor de cabeça, o que é a ausência de perdão ou a culpa na minha
mente. A única forma de “curar” a ausência de perdão na minha mente é eu me perdoar.

O Curso freqüentemente contrasta a mágica com o milagre. O milagre envolve reconhecer


que o problema – a culpa – está na minha mente, e que é lá que o perdão pode liberá-la.
Isso é realmente resolver o problema. Isso é o milagre. E a mágica é tudo menos isso. A
mágica mantém minha atenção enraizada no meu corpo e no mundo, e longe da minha
mente, onde tanto o problema da culpa quanto sua solução são encontrados. A mágica diz
que meu problema está fora da minha mente, no meu corpo, ou lá fora no mundo, e que eu
sei como resolvê-lo. Então, a mágica tenta resolver um problema sem realmente nunca
resolvê-lo. E é por isso que o Curso diz que a regra ou máxima do ego é: “Busque mas não
aches” (e.g., T-12.IV.1:4; T-16.V.6:5; LE-pI.71.4:2). Estamos sempre tentando achar
soluções para problemas que não existem. E, é claro, nós nunca encontramos as soluções
porque os problemas não estão fora de nós. O único problema é nossa crença em sermos
separados e culpados, e essa crença está em nossas mentes. Então, portanto, a única forma
de resolver o problema é levá-lo de volta para dentro de nossas mentes, e depois o
liberarmos para o Espírito Santo.

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Então, novamente, a mágica diz que o problema e sua solução estão ambos do lado de fora.
O problema é algo no mundo que está me ameaçando. E, portanto, o que vai me proteger é
alguma expressão de mágica.

(Parágrafo 8 – Sentenças 3-5) Como pode fazer isso, particularmente nos momentos em que
sua mente está ocupada com coisas externas?

Em outras palavras, como eu posso me lembrar durante todo o dia do que realmente me
protege? Como eu posso lembrar a mim mesmo que a solução para o que me preocupa está
dentro da minha mente se eu continuamente estou preocupado com o que está do lado de
fora?

(Parágrafo 8 – Sentenças 5-9) Ele não pode fazer outra coisa senão tentar, e seu sucesso
depende da sua convicção de que terá sucesso. Ele tem que estar certo de que o sucesso
não lhe pertence, mas lhe será dado a qualquer momento, em qualquer lugar e
circunstância em que chamar por ele.

Não importando o que esteja me preocupando, eu sei que em qualquer momento


determinado posso encontrar a ajuda de Deus. Eu só tenho que pedi-la e aceitá-la. A mágica
diz: “Eu não preciso de Deus. Eu sei qual é o problema e posso fazer isso por conta
própria”. Então, a mágica é uma forma de defesa contra o problema da culpa na minha
mente por colocar o problema fora da minha mente e tentar resolvê-lo lá. Nós poderíamos
dizer, então, em um sentido mais amplo, que a criação do mundo foi a tentativa mágica do
ego de resolver o problema por si mesmo!

Como já dissemos, o ego diz que a culpa é real e está em nossas mentes. Nós a trancamos
em nossas mentes e então está bem fechado, e depois a projetamos para fora e dizemos que
o problema estava fora de nossas mentes. O problema está em toda parte no mundo. Essa é
a forma do ego resolver magicamente o problema da culpa. E, então, nós passamos o resto
de nossas vidas tentando resolver todos os problemas do mundo, esquecendo-nos de que
não existem problemas no mundo porque não existe mundo. O único problema é
simplesmente a crença de que há um mundo, e de que existe uma necessidade de um
mundo porque é isso o que nos protege de olharmos para dentro de nossas mentes. O
milagre traz o problema de volta para dentro da mente e a mágica continuamente o joga de
volta para fora.

(Parágrafo 8 – Sentenças 9-12) Haverá ocasiões em que a sua certeza vacilará e no


instante em que isso ocorrer, voltará às tentativas anteriores de depositar a confiança só
em si mesmo.

“Só em mim mesmo”, independente do Espírito Santo, não significa que meu ego não me
leve a me “unir” com você – é sua própria versão de união – e a dizer: “Você vai me dizer o
que fazer”. Mas eu ainda sou aquele que está inventando a coisa toda.

(Parágrafo 8 – Sentenças 12-15) Não te esqueças de que isso é mágica e a mágica é um


triste substituto para a verdadeira assistência. Não é suficientemente bom para o professor
de Deus, pois não é suficiente para o Filho de Deus.

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“Verdadeira assistência” só pode ser a do Espírito Santo. Nada nesse mundo jamais pode
tomar o lugar de Deus. Todo o sistema de pensamento do ego começou com a crença de
que ele poderia tomar o lugar de Deus.

(Parágrafo 9 – Sentenças 1-3) Evitar a mágica é evitar a tentação. Pois toda tentação não é
nada mais do que a tentativa de substituir a Vontade de Deus por outra.

A tentação original aconteceu quando o Filho de Deus escolheu ouvir o ego ao invés do
Espírito Santo. No contexto do mito de Adão e Eva, eles foram tentados pela serpente a
acreditarem que outra voz além da de Deus falava em suas mentes, e, ainda mais ao ponto,
que essa outra voz realmente é nossa amiga e Deus não é.

(Parágrafo 9 – Sentenças 3-4) Essas tentativas podem, de fato, parecer amedrontadoras,


mas são apenas patéticas.

As coisas no mundo parecem amedrontadoras, mas tudo é apenas uma forma de mágica.
Até mesmo a ameaça da extensão de uma guerra nuclear não é nada mais do que mágica. É
uma tentativa do ego de dizer ao Filho o que vai salvá-lo: “Não olhe para o campo de
batalha dentro da sua própria mente porque isso vai destruí-lo. Ao invés disso, olha para o
campo de batalha lá fora, no mundo. E nós vamos transformá-la em uma batalha muito boa
para que você fique preocupado com ela”. Isso é mágica porque é a forma do ego de dizer
ao Filho, “Olhe para fora e você será protegido porque você não vai ter que entrar em
contato com o horror e o terror do campo de batalha dentro de você mesmo”.

A preocupação com qualquer coisa do mundo é mágica: preocupação em salvar o planeta,


em salvar o mundo, em tornar a terra pura, em livrar o mundo do câncer, da AIDS, da
pólio, fome, escassez, etc. Tudo isso são tentativas mágicas de resolver um problema que
nunca será resolvido. Toda a história do mundo como a conhecemos é apenas uma
progressão de uma guerra para outra, de uma doença para outra, e outra, e outra. E isso
nunca vai mudar.

Tudo isso são cortinas de fumaça para que nunca olhemos para onde o problema realmente
está. Isso é mágica. O ego está nos dizendo: “Não existe forma de você poder lidar com
esse terror horrível e culpa dentro da sua mente. Então, nós apenas não nos voltamos para
isso. Nós só vamos trancá-lo do lado de fora e nem vamos chegar perto dele. Nós vamos
resolver o problema magicamente vendo-o do lado de fora e resolvendo lá”. Isso é tentação.

(Parágrafo 9 – Sentenças 4-6) Não podem surtir nenhum efeito, nem bom nem mau, nem
recompensador nem que exija sacrifício, nem curativo nem destrutivo, nem tranqüilizador
nem amedrontador.

Essas são todas as coisas que fazemos no mundo, todas as nossas tentativas mágicas. Jesus
está novamente dizendo que não há absolutamente nada no mundo. Não há nada de bom,
não há nada de mal. Ninguém fica doente, ninguém é curado. Ninguém nasce, ninguém
more. Tudo é inventado. E nós estamos apenas escolhendo entre marionetes diferentes,
dizendo: “Essa é uma boa marionete. Essa não é uma boa marionete”.

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E tudo isso é apenas uma continuação da tentativa do ego de copiar o poder de Deus. Em
contraste, no mundo real, nós olhamos para tudo e simplesmente dizemos, “É tudo a mesma
coisa”. Não existem manifestações variadas de doenças ou incômodos físicos no mundo
real, porque ele não é o mundo. É uma atitude, um estado mental. E, quando todos
compartilham esse estado mental, o mundo simplesmente desaparece. O objetivo do Curso
não é se livrar do mundo de escassez, pestilência, doença e guerra – isso seria trocar nada
por nada.

As pessoas têm tentado por séculos ter um mundo perfeito, uma utopia. Mas o mundo não
pode ser tornado perfeito porque ele foi feito à partir de um pensamento imperfeito. O
Curso diz, na seção “A função especial” que neste mundo, que não é perfeito, ainda assim
podemos fazer uma coisa perfeita, que é perdoar (T-25.VI.5:1-3). A idéia não é idealizar
um mundo perfeito; esse não é o ponto. A abordagem do Curso é olhar para a imperfeição
do mundo e sorrir diante dela. E, então, ele desaparece.

(Parágrafo 9 – Sentenças 7-8) Quando toda mágica é reconhecida como meramente nada, o
professor de Deus alcançou o estado mais avançado.

Toda a mágica, que é todas as soluções para todas as questões no mundo, não é boa nem
má. Não é nada. Uma vez que valorizamos qualquer uma das soluções, estamos obviamente
dando a elas uma realidade que elas não têm. Elas não são boas nem más. Elas não são
nada. O único “mal” e “bem” é o sistema de pensamento do Espírito Santo em nossas
mentes. E ele não tem nada a ver com o mundo.

(Parágrafo 9 – Sentenças 8-14) Todas as lições intermediárias levam apenas a isso e


trazem essa meta para mais perto do reconhecimento. Pois qualquer tipo de mágica, em
todas as suas formas, simplesmente não faz nada. Ela não tem poder e é essa a razão pela
qual é tão fácil escapar. O que não tem efeito dificilmente pode aterrorizar.

Um dos símbolos recorrentes no Curso que eu já mencionei é sobre os brinquedos de


crianças. Jesus fala sobre brinquedos parecendo ameaçadores a uma criança porque a
criança não reconhece que eles são simplesmente brinquedos. E, quando a criança percebe
que são brinquedos, não tem mais medo (T-30.IV.2-3). De forma similar, o Curso está
tentando nos ajudar a perceber que todas as coisas desse mundo são simplesmente
brinquedos, e que elas não são ameaçadoras. Como poderíamos ser amedrontados por algo
que não está vivo? Nós precisamos perceber que tudo é simplesmente parte de um show de
marionetes e que as marionetes são absolutamente sem vida. A ação toda está acontecendo
no nível da mente.

É a nossa mente que nos diz que deveríamos ter medo e que o medo é real. Quando
percebemos isso, então, nada nesse mundo, sem exceção, vai nos causar qualquer ansiedade
ou dor de forma alguma. O objetivo é perceber que nada nesse mundo tem qualquer poder
sobre nós. Pode ter poder sobre o corpo. Como o Curso diz: “Os pensamentos são
perigosos? Para o corpo sim” (T-21.VIII.1:1-2). Mas se nós reconhecermos que não somos
corpos, então, eles não podem ter nenhum efeito sobre nós. Agora, nós não pulamos
simplesmente do sistema de pensamento do ego diretamente para essa realização. É um

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processo passo a passo: as “lições intermediárias” às quais Jesus se refere aqui. E é por isso
que existe uma forte ênfase sobre isso ser um processo.

O que nos ajuda a seguirmos ao longo do processo com muito mais rapidez – pelo menos
em um nível intelectual, mesmo que ainda não estejamos prontos para experiência-lo – é
entender que não existe literalmente nada aqui. Eu estou transtornado em relação ao
propósito que dei a essa marionete sem vida que chamo de meu ser, ou que chamo desse
planeta, ou dessa nação de pessoas. Minha reação não tem absolutamente nada a ver com
nada que esteja aqui. É simplesmente uma projeção de um pensamento na minha mente que
o ego me diz que vai me proteger magicamente do meu problema real, que é a vingança de
Deus. E quando eu começo a ver que tudo aqui é uma expressão da vingança de Deus, do
ponto de vista do meu ego, percebo que é insano. Minha compreensão pode começar como
um processo intelectual, mas muito rapidamente ela vai se tornar uma experiência,
conforme eu começar a aplicar esses princípios às coisas na minha vida que estão me
deixando ansioso, transtornado, zangado, culpado e amedrontado. Eu começo a ver que
realmente posso olhar para as coisas de forma diferente. Eu não estou transtornado por
causa do que está lá fora. Simplesmente estou transtornado pelo que eu acredito ser real
dentro da minha mente. Eu não posso mudar o que está lá fora, mas com certeza posso
mudar o que está dentro de mim. Não importando o que esteja acontecendo ao meu redor,
eu posso estar em paz. Isso, novamente, é o que significa ser um professor de Deus.

Parte XVI

Como um professor de Deus deveria passar seu dia? (M-16)

(Parágrafo 10 – Sentenças 1-2) Não há nenhum substituto para a Vontade de Deus. Em


termos simples, é a esse fato que o professor de Deus dedica o seu dia.

O ego, é claro, diz que existe um substituto, e a mágica é a testemunha principal para essa
afirmação. Então, como um professor de Deus, como alguém que está seguindo Um Curso
em Milagres como um caminho espiritual, eu atravesso meu dia tendo um tipo de visão
dupla, não importando o que esteja acontecendo. Uma parte da minha mente está prestando
atenção ao mundo lá fora e aos diversos papéis e salas de aula que escolhi para mim
mesmo. Mas, outra parte da minha mente permanece unida ao Espírito Santo. E, então, em
certo sentido, eu estou olhando para fora, mas também estou olhando para dentro. E olhar
para fora é uma extensão do que eu vejo quando olho para dentro. Isso significa que eu
presto atenção a tudo no mundo, assim como todas as outras pessoas fazem, mas reconheço
que nada está realmente lá fora. E o que parece estar fora é simplesmente minha sala de
aula. Minha função então, como um professor de Deus, o que é outro termo para
trabalhador de milagres ou curador, é simplesmente ser um lembrete para todos, incluindo a
mim mesmo, de que o que está lá fora não é a questão. A única questão é o que está dentro
da minha mente. E isso é tudo o que um professor de Deus faz.

Conforme minha mente é curada, o Amor do Espírito Santo trabalha através de mim e me
guia em tudo o que eu faço. Uma vez que eu apreendo a idéia geral, praticar esse Curso é
muito simples. Nós nos tornamos cada vez mais perceptivos em relação ao momento em
que estamos nos tornando transtornados, ansiosos, culpados, zangados, aborrecidos,

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amedrontados, etc., reconhecendo nosso ego tão rapidamente quanto possível. A rapidez
com que conseguirmos reconhecer isso é a medida para o quanto estamos avançando no
currículo. Quase com a mesma rapidez com que o transtorno começa, quero me lembrar de
que estou transtornado porque me esqueci Quem é meu real Professor, escolhendo o ego ao
invés do Espírito Santo. Então, o problema nunca é o que eu acredito que está me deixando
transtornado. O problema é que eu me esqueci. Quando eu me lembro de me voltar para
dentro da minha mente e de me identificar com aquele lugar de amor e paz interior, então,
quando minha atenção estiver focalizada fora novamente, estarei em paz. E, então, qualquer
coisa em meu mundo que precise de atenção será resolvida sem esforço, ansiedade ou
tensão, e com total amor.

(Parágrafo 10 – Sentenças 3-4) Qualquer substituto que ele possa aceitar como real só
pode enganá-lo. Mas ele está a salvo de todo engano, se assim o decidir.

Tudo o que o mundo nos oferece como importante, santo, prazeroso, etc., vai nos
decepcionar. Nada nesse mundo dura. Tudo nesse mundo foi feito literalmente como um
substituto para Deus. Então, investir energia em qualquer coisa do mundo, seja alcançar
algo que eu julgo como desejável, ou evitá-lo porque o julgo como doloroso, serve
realmente para me direcionar para longe de Deus e, de fato, contra Deus. Portanto, cada
substituto vai se tornar um símbolo de pecado e de culpa.

(Parágrafo 10 – Sentenças 5-6) Talvez tenha necessidade de lembrar “Deus está comigo.
Não posso ser enganado”.

Em outras palavras, a razão pela qual sou enganado por qualquer coisa do mundo (ser
enganado significa que eu acredito que alcançar algo vai me trazer prazer ou o Céu, ou que
evitá-lo vai me trazer paz) é que eu me esqueci de Deus. E, então, quando eu me lembro de
que sou uma criança de Deus, nada nesse mundo pode me enganar, porque não vou buscar
no mundo um substituto para Deus. Quando minha mente está focalizada no Amor do
Espírito Santo, então, tudo no mundo é visto como exatamente o mesmo: não como um
objeto que eu desejo, pelo qual suplico, ou que quero evitar, mas, ao invés disso, como uma
oportunidade de aprendizado e uma sala de aula.

(Parágrafo 10 – Sentenças 6-7) Talvez prefira outras palavras, ou apenas uma, ou


nenhuma.

Não importa o que eu diga em minha mente ou o qual seja meu processo individual, desde
que o conteúdo permaneça o mesmo: isto é, eu não tomo nada nesse mundo como real, ou
como tendo qualquer importância para mim, além de servir como veículo para me ajudar a
despertar do sonho.

(Parágrafo 10 – Sentenças 7-11) No entanto, qualquer tentação de aceitar a mágica como


verdadeira tem que ser abandonada através do seu próprio reconhecimento, não por ser
ela amedrontadora, não por ser pecaminosa, não por ser perigosa, mas meramente por ser
sem significado.

Nós vimos a mesma idéia no parágrafo anterior. Em qualquer momento que qualquer coisa

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nesse mundo chame nossa atenção, nós a tornamos significativa. De outra forma, não
iríamos investir nossa atenção nela. Se qualquer coisa nesse mundo nos transtorna ou
preocupa, isso é uma armadilha. Nós nos esquecemos de que tudo nesse mundo, sem
exceção, é igualmente sem significado. O propósito das primeiras lições no livro de
exercícios, que parecem bem simplórias, mas são exatamente o posto; é iniciar o processo
de nos alertar para o fato de que tudo nesse mundo é sem significado. Somos nós que temos
dado significado a tudo, e esse significado é uma arma contra Deus.

Tudo nesse mundo pode ter um significado quando o Espírito Santo determina o
significado. O significa que tudo teria então é simplesmente ser uma sala de aula para nós.
Mas em e por si mesmo nada nesse mundo tem qualquer significado. Em e por si mesmo,
tudo nesse mundo é nada, sendo simplesmente um véu que foi jogado sobre a culpa e o
pecado em nossas mentes, o que, por seu lado, tornou-se uma cobertura para esconder o
Amor de Deus da nossa consciência. Esse ponto vem aparecendo vezes sem conta nesse
workshop, o que também acontece no Curso.

A mágica é, portanto, qualquer coisa nesse mundo que acreditamos que vai nos dar prazer,
felicidade, paz, libertação da dor, etc. Qualquer coisa no mundo que valorizemos se torna
uma forma de mágica. Entretanto, em um sentido mais amplo, tudo nesse mundo é uma
forma e mágica porque é parte da defesa mágica do ego contra Deus. De um ponto de vista
metafísico, todo o mundo é uma solução mágica para um problema inexistente. É a solução
do ego para o problema inventado da vingança de Deus. O ego nos diz que o mundo vai nos
proteger dessa vingança. Por outro lado, o milagre – a solução do Espírito Santo para o
problema da vingança de Deus – envolve olhar para o problema. Quando olhamos para ele,
percebemos que toda a coisa é ilógica e então, ela desaparece. O ego, como já vimos, torna
o problema real, o coloca em um cofre na mente, o tranca, e diz, “Precisamos nunca chegar
perto dele. E, para assegurar que não vamos fazer isso, vamos construir um forte ao seu
redor. E isso vai resolver o problema da vingança de Deus”. Então, o forte – o mundo – é
mágica.

Em outras palavras, a mágica é uma tentativa de resolver um problema sem realmente


resolvê-lo. O mundo todo foi feito para ser isso, no nível metafísico ou cósmico. Em um
nível individual, o mundo é neutro; ele não tem valor de forma alguma. O ego então projeta
valor no mundo, e isso é mágica. Então, eu olho para o mundo para me fazer feliz. Deus
não pode me fazer feliz, mas o mundo pode! Deus não pode tirar minha dor, mas esse
exterminador de dores pode! Isso é mágica. O Espírito Santo estende Seu propósito para o
mundo e ele então serve ao propósito do milagre. O mundo se torna uma sala de aula na
qual eu aprendo que minha culpa não está lá fora, meu problema não está lá fora; ele está
de volta dentro da minha mente.

(Parágrafo 10 – Sentenças 11-14) Como a mágica é enraizada no sacrifício e na separação,


dois aspectos de um único erro e nada mais, ele apenas escolhe abrir mão do que nunca
teve. E por esse “sacrifício”, o Céu é restaurado à sua consciência.

Em outras palavras, tanto o sacrifício quanto a separação são formas do mesmo erro. O
grande problema, o ego nos diz, é que se nós liberarmos nosso investimento nas coisas
desse mundo, se liberarmos nossos sistema de pensamento de ataque e sacrifício, então, não

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vamos ter nada. Vamos apenas desaparecer no esquecimento. Parte do processo do Curso,
então, é quebrar sistematicamente nosso medo de realmente olharmos para o sistema de
pensamento do ego, para que, um dia, sejamos capazes de perceber que o sofrimento, o
sacrifício e o apego às coisas do mundo não estão nos trazendo paz. E, então, nós liberamos
as ilusões de que essas coisas são significativas, de que essas coisas vão nos trazer o Céu.
Basicamente, nós acabamos abrindo mão de nada.

Uma linha maravilhosa no texto, na seção “A ponte para o Mundo Real” (T-16.VI), diz que
quando nós atravessamos a ponte e estamos no mundo real, “irás pensar, em feliz espanto,
que por tudo isso a nada renunciaste!” (T-16.VI.11:5). Mas, quando ainda estamos desse
lado da ponte, parece que estamos sendo solicitados a renunciar a tudo. E, então, ainda nos
agarramos ao sistema de pensamento do nosso ego. Uma parte de nossas mentes ainda
acredita no que o ego nos disse logo no início: Nós precisamos do mundo como uma defesa
contra a ira de Deus. Enquanto uma parte de nós acreditar que Deus vai nos punir, então,
ainda vamos acreditar que precisamos desse mundo e de tudo o que vem com ele – dor,
sofrimento, sacrifício, ataque, etc. E, então, nós nos agarramos a todo o nosso tolo
sofrimento, porque acreditamos que a dor que estamos enfrentando é melhor do que a dor
que vamos experienciar depois, quando Deus nos destruir.

(Parágrafo 11 – Sentenças 1-2) Não é essa uma troca que queres fazer? O mundo a faria
com contentamento se soubesse que poderia ser feita.

Nós nos agarramos à nossa insanidade de acreditar que o sacrifício e o sofrimento vão nos
trazer felicidade, porque não acreditamos que exista qualquer outra escolha. Então, um dos
principais propósitos do Curso é nos ajudar a perceber que existe outra escolha. Ele é
delineado minuciosamente em grandes detalhes em relação ao que é o sistema de
pensamento do ego, para que possamos entender o quanto ele é insano. Então, ele é
colocado lado a lado com o sistema de pensamento do Espírito Santo, e Jesus basicamente
diz, “Agora, olhe para os dois lados disso, de olhos abertos, com honestidade, comigo ao
seu lado. Essa escolha é difícil?”. Mas a escolha não é apenas difícil, ela é impossível se
não estivermos cientes de que temos uma escolha.

(Parágrafo 11 – Sentenças 2-4) São os professores de Deus que têm que ensinar ao mundo
que isso é possível. E assim, é sua função assegurar-se de que a aprenderam.

Então, como professores de Deus, queremos ensinar o mundo de que há uma escolha. E nós
não ensinamos isso com nossas palavras ou atitudes. Nós o ensinamos liberando as
interferências ao instrumento de ensino em que o Espírito Santo transforma o mundo. Ele é
o Professor. Nós somos os instrumentos e Ele é o Professor. Nós somos a forma. Ele é o
conteúdo. Nossa única função é tirar nossos egos do caminho, o que é outra forma de dizer
que nossa única função é aceitar a Expiação para nós mesmos. Não há nada mais.

(Parágrafo 11 – Sentenças 4-6) Não há risco possível ao longo do dia a não ser o de
colocar a tua confiança na mágica, pois é somente isso que leva à dor.

Não existe perigo, nenhuma ameaça, nenhum risco durante o dia, se eu estiver focalizado
em Deus; Jesus é meu professor e eu me identificando com ele, nunca posso ter medo. O

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risco, o perigo, a ameaça, a dor vêm quando eu me esqueço dele. Eu escolho colocá-lo de
lado e ponho minha fé em algum tipo de mágica. Essa é a causa da dor. Toda dor, então,
sem exceção, vem porque eu escolhi empurrar Jesus para fora da minha mente. É como se
eu o tivesse trancado em um armário e dito: “Vou fazer isso do meu jeito”. Essa é a causa
da dor, e a dor será instantânea.

Eu posso não experimentar a dor instantaneamente, mas com certeza ela virá logo, só que
eu não vou me lembrar de onde ela veio. Vou acreditar que a dor tem que estar vindo de
algo em meu corpo, ou de algo que outra pessoa fez a mim, ou de qualquer coisa mais no
mundo. Vou me esquecer de que a dor veio porque, em outro nível que eu agora neguei
com sucesso, eu escolhi colocar distância entre mim mesmo e o Espírito Santo ou Jesus.
Essa é a dor. É isso o que o Curso chama de “pequena brecha”, um símbolo ou reflexo da
brecha original, a brecha que eu coloquei entre mim mesmo e Deus. Como o Curso diz, as
sementes da doença são lançadas e crescem nessa brecha (T-28.III.4:2-5;5:5). A brecha é a
separação do meu ser egóico do meu verdadeiro Ser. A mente está onde é experienciada, e
esse é o único lugar que pode ser curado.

Mas o sistema defensivo do ego é tão esperto que nós nem chegamos perto de nossas
mentes, e toda a dinâmica é negada e projetada para fora, conforme é deslocada para todas
as outras coisas. Então, eu penso que estou transtornado por causa de todas as coisas no
mundo. E, é claro, todas as fontes de dor são vistas, de uma forma ou de outra, como
relacionadas ao corpo, quer seja o meu ou o de outra pessoa. Mas o problema não tem nada
a ver com o corpo de forma alguma, como estamos vendo muitas e muitas vezes. Ele está
naquela pequena brecha na minha mente onde eu disse a Jesus e ao Espírito Santo, “Caiam
fora. Eu vou fazer isso sozinho”. Essa é a dor.

O milagre traz a dor do mundo de volta para dentro, para aquela pequena brecha. Eu posso
fazer algo sobre a dor porque agora estou de volta ao ponto onde fiz a escolha. A mágica
diz, “O problema não está na sua mente. Ele está lá fora, no mundo. Nós vamos resolvê-lo,
e aqui está um band-aid. Vamos usar isso e aquilo, e isso vai ser resolvido”. E, é claro, nada
jamais chega a ser realmente curado dessa forma.

É minha função como professor de Deus apontar para aquela pequena brecha. Não através
de qualquer coisa que eu diga ou faça, mas simplesmente pelo amor que vem através de
mim, que funciona como um lembrete e brilha como uma luz na escuridão em sua mente e
diz: “É aqui que o problema está”. Mas eu não faço isso, eu não tenho que dizer ou fazer
nada. Eu posso fazer o que todos os outros fazem, qualquer que seja a situação; mas o
amor, a paz e a ausência de defesas dentro de mim são os professores.

Jesus ensinou, não pelo que disse ou fez. O puro amor que veio através dele foi o que
ensinou. As pessoas eram atraídas não por suas palavras, não por sua pessoa, e não por suas
curas aparentes – não por qualquer coisa que ele fez ou deixou de fazer. As pessoas eram
atraídas pela pureza do amor que vinha através dele. Foi isso também que as pessoas
atacaram. Nunca é o que uma pessoa diz ou faz ou que aparência tem que realmente nos
atrai ou nos transtorna. É algo mais, mas nenhum de nós sabe o que é esse algo mais porque
nós o escondemos em nós mesmos. E esse algo mais é o lugar de amor em nossas mentes.

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(Parágrafo 11 – Sentenças 6-7) Não há outra vontade, senão a de Deus.

Essa é outra forma de atestar o princípio da Expiação. O ego diz que existe outra vontade
além da de Deus: a minha! E minha vontade está viva, bem e muito poderosa. O princípio
da Expiação diz: “Isso é tolice. Como poderia haver qualquer outra coisa além de Deus?
Qualquer outro pensamento é simplesmente um sonho”.

(Parágrafo 11 – Sentenças 7-8) Os Seus professores [os professores de Deus] sabem que
isso é assim, e aprenderam que tudo o mais é apenas mágica.

Tudo o mais no mundo foi inventado como uma tentativa de manter essa única e simples
verdade fora da nossa consciência.

(Parágrafo 11 – Sentenças 9-10) Toda a crença na mágica é mantida apenas por uma única
ilusão simplória – a de que ela funciona.

Todos nós acreditamos nisso. Caso contrário, não estaríamos tão interessados no mundo e
no corpo. Nós acreditamos que a mágica funciona porque ela mantém o Amor de Deus
longe de nós. É simples e claro assim. E, dentro do mundo do ego, ela realmente o faz.

(Parágrafo 11 – Sentenças 10-13) No decorrer de todo seu treinamento, a cada dia e a cada
hora e até mesmo a cada minuto e segundo, os professores de Deus têm que aprender a
reconhecer as formas de mágica e a perceber que são sem significado.

Conforme eu fico frente a frente com as diversas formas de mágica em minha vida, seja ela
uma pessoa em particular ou uma situação pessoal, ou algo acontecendo no mundo, preciso
reconhecer que são todas mágicas. Se eu me percebo ficando transtornado, ansioso,
culpado, me sentindo mal por alguém, etc., é porque me esqueci de que tudo aqui é mágica.
Isso torna tudo muito, muito simples.

Embora isso não deva ser tomado como uma regra rígida, muitas passagens no Curso
sugerem que quando despertamos pela manhã, deveríamos nos lembrar do nosso objetivo
para o dia tão logo pudéssemos (e.g., T-30.I.1:5, MP-16.4). Quando estamos fazendo o
livro de exercícios, isso é fácil porque ele nos lembra. Mas a idéia é generalizar para que
não precisemos de um livro para nos lembrar do nosso objetivo. E nosso objetivo é
aprender a reconhecer todas as formas de mágica, e não sermos levados por elas. E, então,
logo que pudermos, quando despertarmos, queremos nos lembrar dessa meta, para que
possamos aprender a reconhecer todas as ilusões, todas as formas de mágica no mundo, e
perceber que elas não são nada que queiramos escolher. Manter isso em mente significa –
se nós estabelecermos essa meta de manhã – que então vamos ver tudo o que acontecer
conosco durante o dia como um forma de nos ajudar a reconhecer isso.

Vamos dizer que quando eu desperto pela manhã, me lembro de que tenho uma reunião
importante no final do dia sobre a qual estou muito ansioso, seja por qual motivo for. Ou
alguma situação vai acontecer durante o dia que vai me deixar muito amedrontado ou
culpado em relação a ela. Se eu me lembrar da minha meta, então, posso dar um passo
atrás, olhar para a situação de modo diferente, e dizer, “Bem, essa é uma maneira de eu

70
aprender que não tenho que estar ansioso. Não tenho que ter medo, e não tenho que estar no
controle”. E então, posso ver que essa própria reunião ou circunstância sobre as quais estou
me sentindo tão ansioso e transtornado não são nada mais do que uma sala de aula que eu
escolhi. Se eu continuar a ficar ansioso, culpado ou amedrontado, é porque escolhi o ego
como meu professor. É só o ego que ensina através da ansiedade, culpa e medo.

Mas se eu escolher o Espírito Santo, vou me sentir pacífico e calmo, e vou aprender a lição,
não importando o resultado. Se eu continuar a me sentir ansioso durante o dia conforme a
reunião se aproxima, é porque escolhi o professor errado. Nesse ponto, não vou querer lutar
contra minha ansiedade ou minha culpa. Só vou querer me lembrar de que estou ansioso
porque escolhi o professor errado, o que significa que ainda estou com medo de ser
pacífico. E eu quero ter muita clareza dentro da minha mente em relação ao que estou
fazendo. Isso é tudo o que tenho que fazer. Então, eu posso ir à reunião e me sentir culpado,
estar ansioso e irritado, bater o pé e ter um acesso de raiva. Eu posso fazer o que quiser,
desde que esteja em contato com aquela parte da minha mente que sabe que estou fazendo
isso para me defender contra o Amor de Deus, e que nesse momento em particular, estou
escolhendo contra o Amor e a paz de Deus. Isso não é pecaminoso. É um pouco tolo, mas
não é pecaminoso.

Isso é tudo o que eu faço. Eu não luto contra nada. Eu posso deixar meu ego ir à cidade,
mas vou ter uma pequena parte da minha mente que está sentada lá atrás, na platéia com
Jesus, olhando para o meu ego tendo um acesso de raiva, ficando terrivelmente
amedrontado ou sendo levado pela culpa. Eu quero estar consciente do que estou tornando
real, e do porque o estou tornando real. Jesus está sussurrando para mim: “Isso é uma
comédia. Vamos rir juntos”. Mas eu digo, “Não, isso não é uma comédia. É muito sério e
estou escolhendo ir contra o que você está me dizendo porque estou com medo demais
disso”. Nós simplesmente queremos ficar conscientes disso. E, quando podemos fazer isso:

(Parágrafo 11 – Sentenças 13-14) O medo é retirado dessas formas [as formas de mágica] e
assim eles seguem.

Isso está dizendo que o que mantém as formas de mágica como realidade para nós é nosso
medo. Se nós pudermos olhar para o que tornamos real, com Jesus ao nosso lado, então,
não existirá medo e as formas desaparecerão. No texto, Jesus diz: “Vigia com cuidado e vê
o que é que estás realmente pedindo Sê muito honesto contigo mesmo nisso, pois é preciso
que não escondamos nada um do outro.(T-4.III.6:1-3). Ele está nos pedindo para ser muito
honestos e olharmos para os pensamentos do nosso ego, e que deveríamos olhar com ele:
“Sê muito honesto contigo mesmo nisso, pois é preciso que não escondamos nada um do
outro”. E então isso significa que se eu estiver amedrontado, ansioso, irritado ou seja o que
for, estarei excluindo Jesus. Mas se eu puder me unir a ele e olhar para os pensamentos do
ego com ele, isso vai tirar todo o impulso do ego. Jesus continua, “Se tu realmente vais
tentar fazer isso, terás dado o primeiro passo na direção de preparar a tua mente para a
entrada Daquele que é Santo [Deus]. Vamos nos preparar para isso juntos, pois uma vez
que Ele tiver vindo, tu estarás pronto para me ajudar a fazer com que outras mentes
estejam prontas para Ele [e é isso o que faz um professor de Deus]. Por quanto tempo vais
negar a Ele o Seu Reino?” (T-4.III.8:3-8). Deus não está nos negando Seu Reino. Nós
estamos negando Seu Reino a nós mesmos, porque nosso ego tem nos ensinado a não

71
valorizá-lo. E, então, nós jogamos fora o Reino de Deus e, em troca, adotamos o reino do
ego como nosso lar.

(Parágrafo 11 – Sentenças 14-16) E, deste modo, a porta do Céu é reaberta e a sua luz
pode brilhar mais uma vez sobre a mente imperturbada.

Uma vez que nós tenhamos aberto a caixa forte em nossas mentes, a luz do Céu
simplesmente vai brilhar sobre ela. E tudo o que somos solicitados a fazer como
professores de Deus, portanto, é trazer nossas mentes em unidade com Jesus ou com o
Espírito Santo. Isso é tudo o que fazemos. Seu Amor vai fluir através de nós. Com muita
freqüência, ele assume a forma de palavras, ações ou comportamentos. Mas, nesse ponto,
nosso ego não está envolvido de forma alguma e não somos nós que estamos fazendo nada
disso. No texto, Jesus fala sobre como vamos ver os milagres que ele tem feito através de
nós, e vamos perceber que não os fizemos. Mas Algo em nós os fez (T-11.VI.9:3; T-
16.II.2:4-8).

Parte XVII

Como um professor de Deus lida com pensamentos mágicos? (MP-17)

Essa é uma seção extremamente importante e vamos passar bastante tempo nela. Um
pensamento mágico, como já vimos, é algo que fazemos para resolver um problema de uma
forma que ele nunca poderia ser resolvido. Em outras palavras. É uma tentativa de resolver
um problema interior, o que todo problema é – o problema da culpa na mente -, fazendo
algo fora da mente, com o corpo. Então, tudo o que todos nós fazemos o tempo todo é uma
forma de pensamento mágico.

Essa seção mostra como eu, como professor de Deus, deveria reagir aos pensamentos
mágicos de outras pessoas. A primeira parte explica como nossa tentação sempre é tornar o
pensamento mágico real e ficar irritado com ele. A segunda parte mostra de forma muito
gráfica e poderosa porque nós ficamos zangados com os pensamentos mágicos de outras
pessoas. Essa é uma das discussões mais brilhantes no Curso, integrando a metafísica
subjacente do que acontece em nossas mentes – entre nós mesmos e Deus – com o que
acontece, em um nível muito prático, em nossa experiência diária aqui.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-5) Essa é uma questão crucial tanto para o professor como
para o aluno. Se esse assunto é tratado equivocadamente, o professor de Deus feriu a si
mesmo e também atacou o seu aluno. Isso fortalece o medo e faz com que a mágica pareça
bastante real para ambos.

A questão será tratada equivocadamente se eu, como um professor de Deus – somos todos
alunos e professores – vir seu pensamento mágico e ficar transtornado com ele. Isso
significa que o estou tornando real, o que é exatamente o que meu ego fez logo no início.
Esse é todo o ponto dessa seção. A parte da minha mente que é o ego olhou para a diminuta
e louca idéia e disse, “Isso é muito transtornador”. Em outras palavras, ele a levou a sério.

Então, desde o início, minha mente tem lidado equivocadamente com o pensamento da

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separação. Se eu tivesse me identificado com o Espírito Santo, eu simplesmente teria rido
dele, percebendo que era apenas um pensamento mágico tolo que não tinha efeito de forma
alguma, e ele teria desaparecido de volta no nada de que foi feito. Mas eu o tratei
equivocadamente por torná-lo real, por ficar transtornado em relação a ele. Desse ponto em
diante, meu ego e eu já estávamos longe, correndo. E isso fortalece o medo, porque o
pensamento mágico, em última instância, é baseado na crença de que eu pequei contra
Deus, e que Ele está zangado. Portanto, eu deveria ter medo. Se eu tornar meu pensamento
mágico real – o que, em última instância, é sempre o pensamento de ser separado de Deus –
eu preciso ter medo, porque os pensamentos mágicos, do ponto de vista do ego, são
igualados aos pecados.

(Parágrafo 1 – Sentenças 5-13) Como lidar com a mágica vem a ser, então, uma lição
fundamental para o professor de Deus dominar. Sua primeira responsabilidade nisso é não
atacá-la. Se um pensamento mágico faz surgir qualquer forma de raiva, o professor de
Deus pode estar certo de que está dando força à sua própria crença no pecado, tendo
condenado a si mesmo. Também pode estar certo de que está pedindo a depressão, a dor, o
medo e o desastre para que venham a ele. Que ele se lembre, então, de que não é isso o que
quer ensinar, já que não é isso o que quer aprender.

Novamente, um pensamento mágico é qualquer coisa nesse mundo que acreditemos ser a
salvação. Então, se qualquer coisa no mundo me deixar transtornado, eu tornei o
pensamento mágico real. Por exemplo, eu sou um estudante do Curso em Milagres –
devotado, sincero, dedicado, santo, etc. – e você, que está em meu grupo do Curso em
Milagres, fica com dor de cabeça e toma uma aspirina, um pensamento mágico óbvio. Eu
me pego ficando transtornado e digo, “Bem, você não é um bom estudante do Curso em
Milagres! Você não sabe que a doença é uma defesa contra a verdade? Você não sabe que
ela está na sua mente? Você não sabe que a aspirina não vai ajudá-lo?”. E vou em frente
com toda essa atenção “amorosa”. Bem, eu me tornei tão doente quanto você, meu pobre
companheiro estudante do Curso em Milagres. De fato, eu posso estar até mais doente
porque provavelmente estou tornando isso ainda mais real do que você. Eu ataquei o seu
pensamento mágico.

Sim, certamente, tomar uma aspirina é um pensamento mágico. Mas por que isso deveria
me deixar transtornado? Como vamos ver em breve, isso está me deixando transtornado
porque está me lembrando das minhas próprias fracas tentativas mágicas de me proteger
contra meu próprio pensamento de pecado. Essa é a única razão pela qual isso poderia me
deixar transtornado. Essa é só outra expressão da dinâmica básica da projeção. Eu não
posso olhar para meu próprio sentido de pecado, minha própria culpa em relação aos meus
próprios pensamentos mágicos. Portanto, eu os projeto em você e o ataco por isso.

Mas isso é verdadeiro em relação a qualquer coisa no mundo. Alguém que estupra e mata
quinze mulheres acredita que por matá-las e estuprá-las vai se sentir melhor. Isso é mágica.
O assassinato de treze milhões de pessoas por Adolf Hitler é um pensamento mágico. Ele
acreditou que livrando o mundo de treze mil pessoas que ele via como cheia de impurezas,
iria preservar sua inocência e a inocência do povo alemão. Bem, isso é tolice. Agora, se nós
olharmos para suas ações do ponto de vista do mundo, elas são sérias, não tolas. Mas, se
nós nos elevarmos acima do campo de batalha e olharmos para baixo, o pensamento é

73
inacreditável. E isso é um pensamento mágico. Mas isso não é diferente do conteúdo do
pensamento mágico de alguém tomando uma aspirina. Eles podem parecer diferentes
porque o mundo coloca regras em tudo, e tudo no mundo é mensurável. E, do ponto de
vista do mundo, existe uma hierarquia de ilusões. Algumas ilusões são piores do que outras.
Pouquíssimas pessoas sentiriam que matar treze milhões de pessoas é a mesma coisa que
tomar uma aspirina. Mas lembrem-se da afirmação que já citei: “O que não é amor é
assassinato” (T-23.IV.1:10). Pouquíssimas pessoas iriam acreditar que assassinar treze
milhões de pessoas é amoroso. Entretanto, a maioria delas não iria pensar que tomar uma
aspirina não é amoroso; mas, é claro, não é. É tornar a culpa e o medo reais na mente por
não prestar atenção a ela, e, dizendo, ao invés disso, “O problema está no meu corpo e eu
vou tomar uma pílula e vou me sentir melhor”. Isso é negar a presença e o poder do amor
na minha mente. Nesse sentido, não é amoroso. Ao que não é amor tem que ser assassinato
(T-23.IV.1:10). Portanto, as formas são diferentes, mas o conteúdo é o mesmo.

Isso significa, então, que como um professor de Deus, eu me torno extremamente sensível
durante um período de tempo a qualquer coisa no mundo que me traga um leve
aborrecimento ou que me remeta a um estado de intensa fúria. Eu vou reconhecer que são
exatamente a mesma coisa. E realmente não faz diferença se estamos falando sobre ações
das chamadas pessoas sãs ou de alguém que possa ser classificado como mentalmente
doente. Elas são todas a mesma coisa. O que chamamos de doença mental é só uma forma
extrema de medo. Isso é tudo. É tudo parte do mesmo sistema de pensamento. Não existe
diferença entre o sistema de pensamento de alguém que mantemos dentro de um hospital
psiquiátrico e as pessoas vivendo do lado de fora. É apenas uma questão de grau. O sistema
de pensamento que o Curso está descrevendo dentro de cada um de nós é basicamente o
esquizo-paranóide. Nós somos tudo isso. Todos nós acreditamos que somos vítimas do
mundo. Todos nós acreditamos que a realidade é ilusória e que a ilusão é realidade. Isso
não é uma definição de psicose? Então, é apenas uma questão de grau. Nesse mundo, nós
distinguimos entre pessoas que são clinicamente insanas e pessoas que são espiritualmente
insanas. Mas não existe diferença. Qualquer pessoa que já trabalhou em um hospital
psiquiátrico já teve a consciência, em algum ponto, de que a única diferença entre os que
estão “dentro” e os que estão “fora” é que os que estão fora têm a chave. É isso o que
estabelece a sanidade. Eu sou da equipe e tenho as chaves. É apenas uma questão de grau;
nós todos compartilhamos a mesma insanidade.

Então, essas linhas estão dizendo que minha única lição como um professor do Curso, se
meu desejo é ser um professor avançado de Deus progredindo no processo do perdão, é
aprender a determinar a diferença entre mágica e um milagre. E, então, eu quero ser
sensível dentro de mim mesmo a todos os meus pensamentos de ataque, todas as minhas
preocupações e transtornos em relação a todas as formas de mágica no mundo, para que eu
possa aprender a reconhecer quando me enganei. Eu quero reconhecer isso tão rapidamente
quanto puder para que possa me voltar para meu Professor interior e dizer, “Por favor, eu
fiquei zangado, transtornado, aborrecido com algo. Deve ser porque me esqueci de Você”.
Esse é o problema porque, se eu me identificar com o Espírito Santo, vou ver tudo no
mundo como uma sala de aula, e não terá outro valor além desse. Se eu excluir o Amor do
Espírito Santo, então, vou ver tudo nesse mundo como uma forma de mágica que eu
acredito que de uma forma ou outra pode resolver meus problemas.

74
Vamos pular para o terceiro parágrafo.

(Parágrafo 3 – Sentenças 1-4) É mais fácil deixar que o erro seja corrigido onde ele é mais
aparente e os erros podem ser reconhecidos pelos seus resultados. Uma lição
verdadeiramente ensinada só pode levar à liberação do professor e do aluno, que
compartilham uma só intenção.

Agora, compartilhar “uma só intenção” não significa necessariamente que você está
conscientemente alerta em relação ao que eu escolhi. Algumas vezes, acontece dessa forma;
em outras não. Isso realmente significa que na minha mente eu me uni a você, e nós dois
agora estamos unidos. Quer você aceite a união ou não, é sua decisão. Mas, na minha
mente, eu não o vejo mais como separado de mim. E o erro tem que ser corrigido onde está,
que é na mente e não em algum outro lugar.

(Parágrafo 3 – Sentenças 5-8) O ataque só pode entrar se a percepção de metas separadas


já tiver entrado. E, de fato, é isso o que não pode deixar de ter acontecido se o resultado
for qualquer outra coisa exceto a alegria.

Se eu acreditar que minha salvação pode ser conseguida às suas custas, nós temos metas
separadas. Isso precisa ser um ataque por que não estou vendo nem você nem a mim
mesmo como Cristo. Cristo é unidade total. Se eu estiver sentindo qualquer coisa além de
alegria e paz – isso não está se referindo à alegria do mundo -, preciso ter escolhido o
professor errado.

(Parágrafo 3 – Sentenças 8-10) O objetivo único do professor orienta a meta dividida do


aluno em uma única direção e o pedido de ajuda vem a ser o seu único apelo.

Isso não tem nada a ver com o que pode estar ou não acontecendo com você, mas apenas
com o que está acontecendo dentro da minha própria mente. Eu escolhi uma meta para mim
mesmo e, portanto, a escolhi para você também. Você ainda pode ter uma meta dividida:
Deus e o ego. Uma parte de você quer ficar livre da dor, mas outra ainda está se agarrando
a ela. Mas, se eu fizer a escolha de que tudo o que quero é a libertação da dor – e isso vem
de me identificar com o Amor do Espírito Santo -, uma vez que nossas mentes são unidas,
eu fiz a mesma escolha para você também.

Novamente, você pode escolher nesse momento aceitar isso ou não, mas uma parte da sua
mente precisar ter aceitado porque as mentes são unidas. A mesma barreira que você
colocou entre você e o Espírito Santo, também colocou entre você e eu. Mas, assim como o
Amor do Espírito Santo está sempre presente em sua mente, agora meu amor também está
sempre presente na sua mente.

(Parágrafo 3 – Sentenças 10-13) Isso, então, é facilmente respondido com uma única
resposta e essa resposta não falhará em vir à mente do professor. Daí ela brilha na mente
do seu aluno, fazendo com que ela seja uma com a sua.

Mentes são unidas. E a única resposta é o perdão – o reconhecimento de que o que está
acontecendo é simplesmente uma forma de mágica. E mágica não pode curar.

75
Parte XVIII

(Parágrafo 4 – Sentenças 1-4) Talvez seja útil lembrar que ninguém pode ter raiva de um
fato. É sempre uma interpretação que faz surgir emoções negativas, independentemente da
sua aparente justificativa pelo que parecem ser os fatos.

Essa é outra dessas idéias que são extremamente importantes de se manter em mente. Nós
nunca temos raiva de um fato, sempre temos raiva de uma interpretação. A diminuta e
louca idéia de ser separado de Deus é um fato, pelo menos dentro do sonho. Nós tivemos o
pensamento. A interpretação é: “Isso é horrível! Isso é pecaminoso! Isso é terrível!”. É
desse pensamento então que ficamos com raiva. Ou o fato é que você está pegando uma
arma e vai atirar em mim. Esse é um fato. A interpretação é que você vai me atacar e me
vitimar. Mas isso só pode ser verdadeiro se eu identificar tanto você quanto eu como
corpos.

No mundo bíblico é um fato que Jesus foi crucificado. As pessoas enfiaram pregos em seu
corpo e o colocaram na cruz. A interpretação é que ele estava sendo atacado. A lição, é
claro, é que o Filho de Deus não pode ser atacado porque Deus não pode ser atacado. O
corpo de Jesus foi atacado, mas ele sabia que não estava sendo atacado porque sabia que
não era um corpo.

A raiva sempre vem de uma interpretação; nunca vem simplesmente de um fato.


Interpretações sempre personalizam, de uma forma ou de outra, o que aconteceu para que
eu me veja como uma vítima. Por exemplo, estou dirigindo por uma auto-estrada e outro
motorista corta minha frente. Isso é um fato. Mas a interpretação é que ele fez isso comigo.
Eu sou uma vítima da sua insensibilidade, do fato de ele dirigir mal, da sua grosseria, etc.
Se você vier até mim e começar a me insultar, isso é um fato. Você está dizendo certas
palavras e tomando certas atitudes. Isso é um fato. A interpretação é que você está fazendo
isso comigo e que eu sou uma vítima do que você está dizendo e fazendo.

Eu não posso mudar um fato. Eu não posso mudar o fato de que você está dizendo coisas
insultuosas sobre mim ou para mim. Mas eu certamente posso mudar a forma de perceber o
que você está dizendo e fazendo. Essa é a interpretação. A interpretação do ego é sempre,
“Você está fazendo isso comigo”, porque a vitimação é o princípio e propósito do mundo.
Se eu estiver me sentindo tratado injustamente, ou atacado, é porque escolhi o professor
errado. Eu não estou transtornado por causa do que você está dizendo. Estou transtornado
por causa do significado que estou dando a isso.

O problema é que eu escolhi o ego como meu professor ao invés de Jesus. Essa é a questão.
Uma vez que isso está claro, eu posso facilmente mudar minha interpretação dizendo, “Eu
não quero excluir o amor de Jesus, ou sua paz. E é com esse amor e paz que quero perceber
você”. Então, vou ver que o que você está dizendo ou fazendo é uma expressão de amor ou
um pedido de amor. Como já vimos, quer seja uma expressão de amor ou um pedido de
amor, minha resposta será a mesma. Isso torna ser um professor de Deus muito simples. O
processo de aprendizado nem sempre é fácil, mas o princípio é muito, muito simples.

76
(Parágrafo 4 – Sentenças 4-5) Independentemente, também, da intensidade da raiva que é
provocada.

Nós estamos vendo a mesma coisa aqui que é citada no livro de exercícios (LE-pI.21.2:5).

(Parágrafo 4 – Sentenças 5-9) Pode ser apenas uma leve irritação, talvez até leve demais
para que seja claramente reconhecida. Ou pode também tomar a forma de intensa ira,
acompanhada de pensamentos de violência, fantasiados ou aparentemente encenados. No
importa.

A razão pela qual Jesus diz “aparentemente encenados” é que nós realmente não podemos
encenar nada, porque um corpo não faz nada. Psicólogos exploram as fantasias das pessoas,
e se elas são ou não encenadas. Com freqüência, eles dizem que é muito melhor manter
nossas fantasias para nós mesmos. Mas, do ponto de vista do Curso, isso não faz qualquer
diferença, porque os pensamentos estão sempre lá. E não é realmente o meu corpo que está
encenando as fantasias. Minha mente simplesmente dá ordens ao meu corpo.

(Parágrafo 4 – Sentenças 9-13) Todas essas reações são a mesma. Elas obscurecem a
verdade, e isso nunca pode ser uma questão de grau. Ou a verdade é aparente ou não o é.
Não pode ser parcialmente reconhecida. Aquele que não está ciente da verdade não pode
deixar de contemplar ilusões.

Você está ou com o Espírito Santo ou contra Ele, mas não existe nada intermediário. Ou é
uma coisa ou outra. Ou eu tenho o ego ou o Espírito Santo como meu professor. Agora,
nesse mundo, nós freqüentemente experienciamos uma fase intermediaria de ir e voltar
entre uma coisa e outra. Na realidade, nós escolhemos ou o Espírito Santo em cem por
cento, ou o ego em cem por cento. E nós só nos movemos pra frente e pra trás entre eles tão
rapidamente que não parece que é tudo ou nada. Mas, na realidade, é tudo ou nada: ou um
ou outro.

Mesmo que eu só esteja um pouco aborrecido, ainda estou me vendo como uma vítima.
Estou um pouco aborrecido porque você fez alguma coisa. E, se eu estiver em intensa fúria,
estarei me vendo como uma vítima. Em ambos os casos o conteúdo é o mesmo. Então,
nesse nível, não faz qualquer diferença. Que eu encene minha fantasia de assassinar você
ou simplesmente a mantenha como uma fantasia dentro da minha mente, isso não faz
qualquer diferença. Ainda estou percebendo a mim mesmo como separado de você. Ainda
estou me percebendo como sua vítima. E, então, em algum nível, ainda estou acreditando
que a mágica vai me ajudar.

A forma de mágica pode ser negar o problema. Como vamos ver um pouco mais tarde, os
mecanismos de defesa são formas de mágica. Eu posso encenar um comportamento
atirando em você, ou excluindo-o da minha vida, ou sendo gentil com você para que você
não me ataque mais. Ou eu posso usar o sono como uma forma de negar ou evitar o
problema. Dormir é uma defesa, obviamente. Eu posso estar ouvido algo que não quero
mais ouvir, e subitamente fico aborrecido e cansado. Mas, então, eu penso que estou
sonolento porque não dormi o suficiente na noite passada, ou porque está calor demais na
sala, ou porque o que estou ouvindo é aborrecido. Entretanto, não é realmente por nenhuma

77
dessas razões.

Quando Helen e eu estávamos editando o manuscrito do Curso, geralmente sentávamos no


sofá da sua sala de estar. Conforme trabalhávamos juntos, algumas vezes, eu olhava para
ela e a pegava bocejando e se afundando no sofá. E, entretanto, em geral, ela era sempre
muito alerta. Ela tinha muita energia e nunca ficava cansada, exceto tarde da noite. Mas era
três horas da tarde e Helen estava se afundando no sofá. Ela bocejava, tinha um acesso de
tosse, e ria de si mesma, tudo ao mesmo tempo, o que era realmente uma façanha! Então,
dormir é uma defesa muito poderosa. Mas qualquer coisa que eu faça sem olhar para o
problema real – ver a mim mesmo como uma vítima e você como um vitimador porque
escolhi ouvir a voz errada – é uma forma de mágica.

O milagre me diz que o problema não é o que você ou eu fizemos. O problema é que eu
escolhi colocar a luz para fora da minha mente e escolhi, ao invés dela, a escuridão. E,
então, o milagre traz a atenção da minha mente de volta para aquele ponto de escolha, e diz,
como o Curso diz muitas e muitas vezes, especialmente no fim, “Meu irmão, escolhe outra
vez” (T-31.VIII.3:2). Essa é a mensagem fundamental que recebemos o tempo todo no
Curso. Jesus ou o Espírito Santo estão sempre nos dizendo: “Meu irmão, escolhe outra
vez”. E, então, a idéia é que se eu estiver transtornado, é porque escolhi de forma errada.
Não tem absolutamente nada a ver com qualquer outra coisa. Um professor de Deus está
sempre ciente disso.

(Parágrafo 5 – Sentenças 1-4) A raiva, em resposta a pensamentos mágicos percebidos, é


uma causa básica do medo. Considera o que significa essa reação e sua posição central no
sistema de pensamento do mundo passa a ser aparente.

A raiva leva ao medo porque se eu percebo seus pensamentos mágicos como pecaminosos
ou maus, justificando minha raiva contra você, então, estou atacando-o. Estou vendo meu
pecado em você e estou negando-o em mim mesmo. Eu o estou atacando de forma não
justificada e falsa porque, do meu ponto de vista, sou realmente eu e não você que é
pecaminoso. Então, estou atacando você, sabendo que o estou atacando sem motivo, o que
apenas me deixa mais culpado. E, quando me sinto culpado, preciso acreditar que preciso
ser punido porque a culpa exige punição.

E eu acredito que mereço ser punido não apenas por Deus, mas também por você, porque
sei que o estou atacando sem motivo. Então, vou ficar com medo do seu ataque em resposta
ao meu. E aí vou precisar de uma defesa contra esse ataque, que é de onde o medo vem.
Agora, meu raciocínio pode não ter absolutamente nada a ver com o que está acontecendo
na sua mente, porque você pode não estar ciente do meu ataque a você – ele está na minha
mente. Mas, na minha própria mente, se eu o tiver atacado sem motivo – o que todo ataque
obviamente é – vou me sentir culpado. E vou acreditar que mereço ser atacado em
retaliação ao que tenho feito a você. E vou ficar com medo do seu ataque. É sobre isso que
esse trecho está falando.

Parte XIX

Essa seção agora vai descrever, com efeito, todo o sistema de pensamento do ego, desde

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sua origem. Ela é brilhante na sua forma de ir de nossa experiência individual de ficarmos
irritados com os pensamentos mágicos de outros até a origem dessa raiva em nosso
relacionamento com Deus. E depois de explorar sua origem, vamos ser levados de volta
para examinar nossas reações aos pensamentos mágicos dos outros. Essa mudança é
possível basicamente porque o sistema de pensamento do ego é uma coisa só. O que nós
acreditamos ter feito a Deus naquele instante original e nosso medo do que Deus vai fazer
conosco em retaliação pelo que sempre está presente em nossa mente – logo no início da
minha consciência. E tudo o que eu faço como um indivíduo, um ser corporal do ego é
simplesmente a irradiação daquele pensamento original subjacente. Ele simplesmente se
irradia através da minha mente e é expresso em meus relacionamentos específicos.

Pensem em um funil que é estreito na ponta e depois se abre em cima. A ponta do funil é a
idéia básica do ego sobre o que nós fizemos com Deus. Tudo o mais que já pareceu
acontecer desde então é simplesmente a fragmentação daquele pensamento original. É
similar ao que acontece quando nós colocamos uma gota de tinta vermelha em um copo de
água: todo o copo de água se torna vermelho. Toda a nossa mente se torna infectada, como
era, com o pensamento original de ataque a Deus e o medo do contra-ataque se segue a
isso. Tudo no mundo é simplesmente uma expressão do pensamento básico. Então, agora, o
Curso primeiro vai descer à ponta do funil e descrever o que acontece ali.

(Parágrafo 5 – Sentenças 4-5) Um pensamento mágico, pela sua simples presença, toma
conhecimento de que houve uma separação de Deus.

O próprio fato de eu estar envolvido em qualquer tipo de mágica no mundo precisa


significar que eu acredito que o mundo é real. Então, essa crença precisa vir da premissa
original de que eu sou separado de Deus, porque o mundo é um lugar de separação. Meu
envolvimento na mágica é uma tentativa de substituir Deus. Estou dizendo que não é Deus
Que vai me fazer feliz. Não é Deus Que vai me libertar dessa dor terrível. É aquela mágica
lá fora. Então, meu uso da mágica se torna um símbolo do meu ataque a Deus, da minha
separação de Deus.

(Parágrafo 5 – Sentenças 6-8) Declara [o pensamento mágico], da forma mais clara


possível, que a mente que acredita que tem uma vontade capaz de se opor à Vontade de
Deus, acredita também que pode ter sucesso.

O fato é que existe um mundo no qual acredito estar. E o mundo que estou usando como
um substituto para Deus é a testemunha do fato de que bem profundamente dentro da
minha mente eu acredito não apenas que tenho uma vontade que pode ser oposta à Vontade
de Deus, mas que eu realmente a tenho em oposição à Dele. Eu usurpei o lugar de Deus, e
estou sentado em Seu trono dizendo que eu sou Deus, e que o Deus real agora é impotente.
Ele não pode me ajudar, mas eu posso me ajudar. Meu próprio deus pode; minha própria
mente pode. Isso é mágica. E, é claro, é isso o que são os relacionamentos especiais; eles
são nossa forma de colocar nosso dedo no nariz de Deus e dizer “O que Você não pôde
fazer por mim, essa pessoa maravilhosa pode, ou essa droga maravilhosa pode. Você não
tem poder nessa situação, mas essas coisas maravilhosas no mundo têm.

(Parágrafo 5 – Sentenças 8-10) É óbvio que isso dificilmente pode ser um fato. Entretanto,

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é igualmente óbvio que pode-se acreditar nisso como um fato.

Em outras palavras, como pode haver um mundo separado de Deus? Mas o fato de todos
nós estarmos aqui diz, sim, nós realmente acreditamos que podemos nos separar de Deus.

(Parágrafo 5 - Sentenças 10) E aqui está o berço da culpa.

A crença de que somos separados de Deus é pecado. E esse é o berço da culpa. Eu me sinto
culpado porque acredito que usurpei o lugar de Deus. Eu O chutei para fora do trono, e
agora sou eu que sou o encarregado. E a culpa em relação a isso, como já discutimos, é
enorme. De fato, não existem palavras que possam expressar a enormidade do auto-ódio, da
culpa, e do medo que estão envolvidos nessa crença. E é aqui que o medo entra:

(Parágrafo 5 – Sentenças 11-12) Quem usurpa o lugar de Deus e o toma para si tem agora
um “inimigo” mortal.

“Inimigo” é colocado entre aspas porque obviamente Deus não é um inimigo; essa é a
imagem que o ego faz sobre Ele. E Deus é meu inimigo porque eu acredito que O ataquei.
Eu preciso acreditar que Deus agora está justificado em me atacar de volta. É sobre Deus
que estamos falando aqui: Ele vai me destruir.

(Parágrafo 5 – Sentenças 12-15) E tem que ficar sozinho para proteger-se e fazer um
escudo para si mesmo para guardar-se de uma fúria que nunca pode ser abatida e de uma
vingança que nunca pode ser satisfeita.

Esse é o ego, a crença de que agora estou por conta própria. E o “escudo” é o forte de que
estivemos falando, o mundo. Esse “escudo” vai supostamente, de acordo com o ego, me
manter a salvo da fúria de Deus que “nunca pode ser satisfeita”; ela nunca vai embora. É
uma vingança que nunca, jamais, pode ser satisfeita. A sede que Deus tem do meu sangue
nunca será satisfeita. Ele nunca vai conseguir o suficiente dele. Esta é a imagem que todos
nós temos de Deus. E, então, quando as pessoas religiosas falam sobre o Amor de Deus e o
quanto Ele é maravilhosamente suave, gentil e amoroso, estão encobrindo esse pensamento.
Isso explica porque a maioria das religiões do mundo termina sendo assassina e justificando
o assassinato. O ódio subjacente vem à superfície, mas nós nunca sabemos de onde ele está
vindo. As pessoas então se envolvem em guerras “santas” e escrevem livros “santos”, e
advogam ensinamentos que dizem que é a Vontade de Deus que nós punamos os infiéis, os
pagãos, heréticos, etc.

Essas ações não fazem nenhum sentido a menos que compreendamos as dinâmicas
subjacentes, de que profundamente dentro de nossas mentes, todos nós sentimos que Deus é
um assassino sedento de sangue. Esse pensamento é tão horrível e tão absolutamente
doloroso que nós o encobrimos e rapidamente inventamos religiões que dizem que Deus é
todo amoroso e maravilhoso. Mas o ódio desliza através delas; nós o vemos na bíblia. Ele
também se espalha quando as pessoas começam a praticar as religiões de Deus. Nós
colocamos nosso terror da ira de Deus por nossos pecados e por nossa culpa sobre outras
pessoas, dizendo que elas são pecadoras e culpadas, e agora vamos agir em nome de Deus e
matá-las.

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(Parágrafo 6 – Sentenças 1-2) Como é possível que essa batalha desigual seja resolvida?
Seu fim é inevitável, pois seu resultado tem que ser a morte.

A “batalha desigual” está na mente do Filho separado, a mente dividida que se tornou um
campo de batalha no qual o ego acredita estar em guerra com Deus. Obviamente, os
números estão todos a favor de Deus; o ego não é páreo para Ele, então, o fim é inevitável.
Então, o ego pergunta, “Bem, o que vamos fazer sobre isso?”.

(Parágrafo 6 – Sentenças 2-3) Como, então, pode-se acreditar nas suas defesas?

Em outras palavras, eu fiz um mundo. Eu fiz um escudo por trás do qual vou me esconder
de Deus. Mas, a qualquer momento, eu sei que Deus vai se arremessar contra mim, como o
céu na fábula da Pequena Galinha. Nesse conto, a Pequena Galinha está com medo de que,
a qualquer momento, o céu vai desabar sobre sua cabeça. E isso é realmente uma expressão
desse medo de que, em algum momento, Deus vai arrebentar do escudo que fizemos e nos
destruir de vez.

Então, a questão é, como eu posso acreditar nas minhas defesas? Meu ego tem me dito que
eu me defendo de Deus fazendo esse escudo que vai me proteger. No entanto, obviamente,
isso não vai funcionar, porque a culpa que diz que eu mereço ser punido ainda está na
minha mente. Tudo isso não tem absolutamente nada a ver com a realidade ou com Deus.
Só tem a ver com o pensamento distorcido do ego. Então, eu acredito que fiz um mundo
como um escudo, mas isso não vai ajudar. Então, agora, o que eu faço?

(Parágrafo 6 – Sentenças 3-5) Como, então, pode-se acreditar nas suas defesas? Mais uma
vez, a mágica precisa ajudar. Esquece a batalha. Aceita-a como um fato e depois esquece-
a.

Esse é o mecanismo psicológico de defesa da repressão ou da negação. A batalha


acontecendo na minha mente é medonha, e o terror é absolutamente impossível de tolerar,
então, eu apenas o encubro. Isso é mágica. É uma tentativa de resolver um problema por
não resolvê-lo. A maneira certa de resolver um problema, se nós ouvirmos o Espírito Santo,
é olhar para ele com Seu Amor ao nosso lado e dizer, “Isso foi tudo inventado. Deus não
fez isso. Isso é tolice”. Mas nós não olhamos para ele. Ao invés disso, nós fechamos nossos
olhos e encobrimos o campo de batalha para que ele permaneça, mas nós não o vejamos,
como o avestruz enterrando sua cabeça na areia.

Eu aceito isso como um fato; eu tornei o erro real. Eu aceito que minha mente é um campo
de batalha, e que Deus está furioso comigo porque eu usurpei Seu papel. Agora, Ele vai
tentar pegá-lo de volta e me destruir. Mas então, eu digo, “Mas eu não o vejo”, exceto que
existe uma parte da minha mente que ainda o está experienciando. E essa é a fonte de todo
o terror, toda a tensão, todo o conflito, e toda a dor que sentimos.

(Parágrafo 6 – Sentenças 5-7) Não te lembres das chances impossíveis contra ti. Não te
lembres da imensidão do “inimigo” e não penses na tua fragilidade em comparação a isso.

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Em outras palavras, eu me esqueço de toda a batalha; exceto que não a esqueço realmente.
Ela ainda está à espreita profundamente dentro da minha mente.

(Parágrafo 6 – Sentenças 7-8) Aceita tua separação, mas não te lembres de como ela veio.

Então, o ego me faz aceitar como um fato que isso é certo; nós realmente nos separamos de
Deus. Deus ainda é um mentiroso, e o Espírito Santo ainda não me diz a verdade. Tudo isso
é muito real. Eu aceito a separação como real porque é algo que eu fiz. Mas vou esquecer
como isso aconteceu. Então, eu vivo nesse mundo, que obviamente é um mundo de
separação, mas sem memória de como ele veio.

Nós já falamos sobre os cientistas olhando para o Big Bang e investigando as origens do
universo físico. Eles não foram capazes de voltar àquele momento ancestral em que toda a
coisa começou. Ela começou com nosso pensamento de culpa e nossa necessidade de nos
defendermos contra a ira de Deus fazendo um mundo. Foi isso o que foi esquecido, e nós
nunca voltamos àquele ponto. Os cientistas voltam ao ponto em que o mundo foi feito, mas
nunca ao pensamento subjacente a ele, a necessidade de nos defendermos contra a ira de
Deus.

Então, é assim que uma negação bem sucedida é como uma defesa. Essa é a mais primitiva
de todas as defesas, mas é certamente a mais poderosa porque mantém o mundo
funcionando. Se nós pudéssemos um dia nos lembrar de como e porque o mundo apareceu,
diríamos, “Toda essa coisa foi inventada. Ela só existe na minha mente. É só como um
pesadelo”. Mas nós esquecemos como ele veio, e então, agora ele parece muito real, muito
presente, e muito insolúvel como um problema. É óbvio que resolver os problemas do
mundo só fica mais e mais complicado.

(Parágrafo 6 – Sentenças 8-11) Acredita que tu a venceste, mas não retenhas a mais leve
lembrança de Quem realmente é o grande “oponente”.

Eu acredito que meu oponente está lá fora, no mundo; todas as pessoas terríveis na minha
vida que fazem coisas horríveis comigo. Ou que meu corpo é meu grande oponente. Ou que
o mundo é meu grande oponente. Algo lá fora é meu grande oponente. E eu me esqueço
Quem é o grande oponente real na mente do meu ego: isto é, Deus.

(Parágrafo 6 – Sentenças 11-12) Projetando o teu “esquecimento” Nele, a ti parece que Ele
também esqueceu.

Esse é o cúmulo da mágica. Não apenas eu quero esquecer sobre isso, mas também espero e
rezo – embora é claro, esteja rezando para ninguém – para que Deus o tenha esquecido
também. Porque, se Deus puder se lembrar, então, estarei acabado.

Agora, a seção volta para nossas experiências diárias: quando eu me pego ficando
transtornado com o pensamento mágico de outra pessoa. Por exemplo, nós ficamos
transtornados porque um estudante de Um Curso em Milagres espirra. Estudantes do Curso
em Milagres não devem espirrar porque eles não devem ficar doentes! Ou nós nos
percebemos ficando transtornados por causa de algo que lemos nos jornais. Nós nos

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percebemos ficando transtornados por causa de um político que rouba: eles não deveriam
fazer isso! Esse é um pensamento mágico: qualquer coisa que me deixe transtornado.

(Parágrafo 7 – Sentenças 1-3) Mas qual será agora a tua reação a todos os pensamentos
mágicos? Eles só podem redespertar a culpa adormecida, que ocultaste, mas não soltaste.

Quando você faz algo que é mágica e eu fico transtornado com isso, estou transtornado
porque seu pensamento mágico é um lembrete dos meus pensamentos mágicos. Mas não
simplesmente dos meus pensamentos mágicos diários; eles também são um lembrete
simbólico do pensamento mágico original de que eu só posso escapar da ira de Deus me
esquecendo sobre ela, usando o mecanismo de defesa da negação. Então, se eu me pegar
ficando irritado com o seu uso de defesas – o que é o que a mágica é – é porque elas são um
lembrete do meu próprio uso da mágica. E por que eu uso mágica? Para manter minha
culpa fora da minha consciência para que eu não tenha que contemplar a coisa horrível que
fiz a Deus e a terrível catástrofe que é inevitável: a punição de Deus por meu pecado contra
Ele, que a minha culpa exige.

Meu pensamento mágico foi uma tentativa de manter tudo isso profundamente enterrado
em minha mente para que eu nunca tivesse que olhar para ele. Seu uso da mágica, então, se
torna um lembrete do meu uso da mágica. E meu uso da mágica, quando me torno
consciente dele, mesmo que levemente, é o lembrete da minha “culpa adormecida”, aquilo
de que minha defesa deve me proteger. Então, como já lemos, isso só pode redespertar a
culpa adormecida, que eu escondi, mas obviamente nunca soltei. O milagre me capacita a
soltá-la. Se eu olhar para minha culpa com o Amor do Espírito Santo ao meu lado, ela
desaparece. A mágica a torna real, mas a empurra para baixo e a encobre.

(Parágrafo 7 – Sentenças 3-5) Cada um [cada pensamento mágico] diz claramente à tua
mente assustada: “Tu usurpaste o lugar de Deus. Não penses que Ele esqueceu”.

Esse é o meu medo real. Cada pensamento mágico me lembra de que eu roubei Deus. Eu
usurpei Seu lugar. Eu pequei contra Ele e obviamente Ele nunca pode esquecer. Ele precisa
sempre buscar me punir pelo que eu fiz. Eu pensei que poderia projetar tudo isso para fora
com sucesso, mas seu pensamento mágico é um lembrete do meu pensamento mágico, que
é um lembrete da minha culpa, que é um lembrete de que Deus vai me destruir.

(Parágrafo 7 – Sentenças 5-7) Aqui temos o medo de Deus mais nitidamente representado.
Pois nesse pensamento, a culpa já ergueu a loucura ao trono do próprio Deus.

Minha culpa, que demanda a punição e a vingança de Deus, tem tornado Deus tão insano
quanto eu; ela tem colocado a loucura como um relicário no trono de Deus. Deus é insano e
furioso em relação ao meu pecado contra Ele, o que obviamente, na realidade, nem mesmo
aconteceu. Aí então, Deus precisa me destruir pelo que eu realmente nunca fiz. O ego
pegou o Amor de Deus, a verdade e a sanidade e os virou de ponta cabeça. Agora, Deus é
insano, Deus é furioso, e Ele é qualquer coisa menos amoroso.

(Parágrafo 7 – Sentenças 7-10) E agora não há nenhuma esperança. A não ser matar. Aqui
está a salvação agora. Um pai enraivecido persegue seu filho culpado. Matar ou ser

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morto, pois a escolha está apenas nisso.

O campo de batalha está evidente agora, e essa é a única escolha que existe nesse mundo: é
você ou eu. Todo o mundo físico é baseado nisso. Pensem só por um minuto. O que nos
mantém vivos fisicamente é comer alguma outra coisa, o que é uma forma de matar. A
única forma de nossos corpos físicos poderem sobreviver é matando outra coisa e
consumindo-a, seja animal, vegetal, ou qualquer outra coisa. Até mesmo no ato de respirar
estamos destruindo centenas de milhares de microorganismos. A única forma de um
organismo físico poder sobreviver nesse mundo é nos alimentar de, ou matarmos algo.
Então, os fatos físicos mais básicos e grosseiros de nossa existência nesse mundo são
expressões de matar ou ser morto. E isso nem mesmo está falando sobre nada psicológico.

A raiva que nós sentimos é uma expressão do “matar ou morrer”. Ou eu vou ser morto por
esse Deus raivoso Que vai me punir por minha culpa, ou vou projetar minha culpa em você
e acreditar que Deus vai matá-lo por seu pecado. O pecado para o qual eu não quero olhar
em mim mesmo, vou ver em você. Estou tentando, de alguma forma, colocar Deus atrás de
você ao invés de atrás de mim. Essa é a única escolha nesse mundo: ou é você ou sou eu.

(Parágrafo 7 – Sentenças 10-11) Além dessa, não há nenhuma, pois o que foi feito não pode
ser desfeito.

O pecado agora é real; não existe forma de mudá-lo. Esse é um fato no mundo do ego. E,
então, não podemos fingir que não está aqui. A única questão agora é: quem é o pecador? É
claro, bem profundamente dentro da minha mente eu sei que sou eu, mas não quero olhar
para isso. Então, eu digo, “Eu não sou o pecador. Você é. E você merece ser morto ao invés
de mim”. Sem dúvida nenhuma Deus vai matar alguém. Minha esperança é que não serei
eu, será você. Nós vemos isso na história do cristianismo. Os cristãos serão salvos e os
pagãos, infiéis e não-crentes serão mortos. Magicamente, eu espero poder me tirar da mira
porque agora coloquei Deus atrás deles. É claro, toda a coisa é totalmente inventada.

(Parágrafo 7 – Sentenças 11-13) A mancha de sangue nunca pode ser removida e qualquer
um que carregue essa mancha em si mesmo não pode deixar de encontrar a morte.

A mancha de sangue quando matei Deus e usurpei Seu lugar está em minhas mãos. E eu
quero transferi-la rapidamente para as suas. Então, com a mancha em você agora, você será
morto ao invés de mim, uma vez que, obviamente, não há forma de matar Deus. Essa é a
situação do mundo. E a única forma de eu poder lidar com isso é através da mágica, a
mágica de negar todo esse terrível campo de batalha, todo esse terrível roteiro,
simplesmente empurrando-o para baixo. Então, eu o empurro para fora da minha mente,
projetando-o no mundo e dizendo, “Todas as pessoas más, todos os vitimadores, estão lá
fora. Todos os estupradores, todos os assassinos, todos os trapaceiros estão lá e não em
mim”. Então, eu quero fazer uma barganha rapidamente com Deus e me juntar ao Seu lado,
para que eu possa sentir que estou justificado, que sou bom e que sou santo, e que Ele vai
odiar todas as outras pessoas lá fora. A mágica faz tudo isso acontecer para mim
psicologicamente. Eu a nego em mim mesmo e a projeto em você para que você seja o
pecador que vai ser punido.

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Portanto, eu fico transtornado com seus pensamentos mágicos porque eles me lembram da
minha própria culpa e pecado. Como um professor de Deus, minha lição é estar ciente
continuamente de que mesmo uma pequena pontada de aborrecimento representa meu
desejo de ver o pecado, não em mim, mas em você, por causa do seu uso da mágica. O
próximo passo é reconhecer que eu realmente acredito que o pecado está em mim, e que é
por isso que fiquei transtornado. Ele me lembra de que eu acredito que o pecado dentro de
mim precisa ser punido. E, dentro desse sistema, não existe saída.

Parte XX

(Parágrafo 8 – Sentenças 1-2) De encontro a essa situação sem esperança, Deus envia os
Seus professores.

Isso se refere a todos nós. Nós somos a esperança do mundo.

(Parágrafo 8 – Sentenças 2-5) Eles trazem a luz da esperança do próprio Deus. Há um


caminho através do qual é possível escapar. Ele pode ser aprendido e ensinado, mas isso
requer paciência e disponibilidade abundante.

Essa é uma das poucas passagens no Curso que não fala de “um pouco de disponibilidade”,
mas de “disponibilidade abundante”. Nós nos tornamos instrumentos de esperança e
professores de Deus, permanecendo totalmente presentes na escuridão do mundo ao nosso
redor – toda a mágica correndo solta e selvagem no mundo –, mas nós não a levamos a
sério. Se eu não levar a mágica lá fora à sério, deve ser porque, em outro nível, não estou
mais levando-a a sério dentro de mim mesmo. Esse é o início do processo de olhar para a
“diminuta e louca idéia” e ver um lampejo de luz nela. E o lampejo de luz é que ela é tola.
É uma luz de riso, ao invés da escuridão de dizer, “Esse é um pecado sério”. Então,
aprendendo a não levar seus “pecados” tão a sério, eu realmente estou aprendendo a mesma
lição dentro de mim mesmo. Eu posso dizer, “Isso não é um pecado terrível. É apenas um
erro tolo. Eu ouvi a voz errada. E assim como ouvi a voz errada, o poder da minha mente
agora pode escolher ouvir a Voz certa”.

Mas essa não é uma lição que eu aprendo da noite para o dia. E eu não quero aprendê-la
apenas porque essa seção diz isso. É uma lição que requer uma grande quantidade de
paciência – eu preciso aprender a ser paciente com o meu medo – e a disponibilidade
abundante para aprender continuamente e praticar repetidamente.

(Parágrafo 8 – Sentenças 5-7) Quando isso é dado, a simplicidade manifestada na lição se


destaca como uma intensa luz branca contra um horizonte negro, pois tal ela é.

Quando estou no meio de algum tipo de escuridão – seja um ser amado que está muito
doente, uma aparente catástrofe no trabalho ou dentro da minha família, ou alguma crise ou
desastre no mundo – esse é o “horizonte escuro” do sistema de pensamento do ego. Se eu
não levá-lo à sério – ou pelo menos começar o processo de questionar a validade da minha
justificativa em levá-la à sério - então, a luz começa a brilhar. E quanto mais eu faço isso, a
luz se torna cada vez mais intensa e clara.

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Eu não tenho que fazer nada. Nós não estamos falando sobre comportamento – estamos
falando sobre uma escolha que acontece dentro da mente. E então, o meu punho fechado –
aquele cofre fechado na minha mente – começa a se abrir e a luz começa a se espalhar. O
que eu acreditava ser escuridão agora se torna cada vez mais luz. E, conforme isso se torna
cada vez mais luz dentro da minha mente, essa luz se estende para fora e eu olho para fora e
vejo a luz. Mesmo que eu estivesse olhando lá fora para treze milhões de pessoas sendo
mortas em campos de concentração, ainda veria a luz. A luz não está lá fora no mundo, ou
em uma situação especifica. Ela está dentro da minha mente.

(Parágrafo 8 – Sentenças 7-8) Se a raiva vem de uma interpretação e não de um fato, ela
nunca é justificada.

Eu não estou realmente zangado com o fato de que treze milhões de pessoas foram mortas.
Estou zangado com a interpretação que dei a esse fato, isto é, de que ele é mau e
pecaminoso, e eu me identifico com as vítimas. Então, minha raiva não é justificada porque
fui eu que dei essa interpretação. Não estou zangado com o que você fez. Estou zangado
com minha percepção do que você fez. Minha raiva não é realmente contra você, mas, ao
invés disso, contra minha forma de olhar para você.

(Parágrafo 8 – Sentenças 8-11) Uma vez que isso seja percebido, mesmo que vagamente, o
caminho está aberto. Agora é possível dar o próximo passo. A interpretação pode ser
mudada afinal.

Jesus diz, “uma vez que isso seja percebido, mesmo vagamente” – em outras palavras, nós
não temos que fazer isso em cem por cento. Não temos que fazê-lo com perfeição. Isso é
algo no que progredimos. Mas uma vez que nós pelo menos começamos o processo de abrir
a porta dizendo, “Bem, talvez meu ego tenha a possibilidade de estar errado”, isso inicia o
processo. E todo o propósito do Curso é nos convencer de que nosso ego está errado.

Uma linha maravilhosa no texto diz, “Preferes estar certo ou ser feliz?” (T-29.VII.1:10).
Todos nesse mundo querem estar certos. E nós temos centenas e centenas, até mesmo
milhares, de testemunhas para provar que nossa percepção do mundo está certa. Mas nós
não estamos cientes de que querer estar certo é uma escolha contra a estar feliz. Ir contra o
Espírito Santo nunca vai nos fazer felizes, mas esse é o propósito disso. Então, uma vez que
podemos começar o processo de questionar a validade das nossas interpretações, estamos
permitindo a nós mesmos sermos levados para casa. Não existe absolutamente nada no
mundo que justifique a raiva, nada mesmo. O Curso diz, em um ponto, “Deus não é
simbólico; Ele é um Fato” (T-3.I.8:2). Tudo o mais é inventado.

Então, “a interpretação pode ser mudada afinal”. Finalmente, uma luz está brilhando no
fim do túnel. Eu não posso mudar os fatos do mundo. Eu não posso mudar o fato de que
toda minha família foi assassinada. Eu não posso mudar o fato de que coisas terríveis estão
acontecendo. Eu não posso mudar o fato de que treze milhões de pessoas foram mortas no
Holocausto. Eu não posso mudar qualquer um desses fatos, mas posso mudar a maneira
com a qual olho para eles. O Curso diz, “Não busque mudar o mundo, mas escolhe mudar
a tua mente sobre o mundo” (T-21.in.1:7). Liberdade e alegria vêm dessa escolha.

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(Parágrafo 8 – Sentenças 11-12) Pensamentos mágicos não têm que conduzir à
condenação, pois realmente não têm o poder de fazer surgir a culpa.

Pensamentos mágicos não são pecaminosos. O pecado faz surgir a culpa e a culpa é
condenada. Estou zangado porque pequei e condenei a mim mesmo. É por isso que me
sinto culpado. Ou então eu o acuso de pecar e o condeno por isso. Mas pensamentos
mágicos são só uma tentativa tola e débil da parte do ego de sustentar a si mesmo,
mantendo o Amor, o poder, a força e a alegria de Deus distantes de mim. Isso é tudo o que
são. Então, como um pensamento mágico poderia ter qualquer efeito sobre Deus? Quando
começo realmente a olhar para isso, não é mais pecaminoso. É tolo. E se é somente tolo,
então, certamente não pode ser condenado, e não garante qualquer culpa.

(Parágrafo 8 – Sentenças 12-14) E assim podem não ser vistos e, portanto, esquecidos no
sentido mais verdadeiro.

Não esquecidos como o ego esquece, que é negação, para tornar real primeiro e depois
então perdoar. Ao invés disso, pensamentos mágicos podem ser “esquecidos no sentido
mais verdadeiro” porque eles não existem. Esse não é o esquecimento do ego, escondendo-
o em minha memória. O pensamento mágico simplesmente se dissolve, desaparecendo em
sua própria nulidade.

(Parágrafo 9 – Sentença 1) A loucura apenas parece terrível.

“Loucura” seria toda a insanidade do sistema de pensamento do ego. E ela realmente parece
terrível. Parece terrível acreditar que poderíamos despedaçar a unidade do Céu e o Amor de
Deus e de Cristo. O que acontece nesse mundo parece terrível.

(Parágrafo 9 – Sentenças 1-2) Na verdade, não tem poder para fazer coisa alguma.

A loucura do sistema de pensamento do ego não tem poder de fazer um ser que pudesse se
opor a Deus, sem contar um mundo que poderia se opor a Deus.

(Parágrafo 9 – Sentenças 2-3) Como a mágica, que vem a ser sua serva, ela não ataca nem
protege.

O ego nos disse que atacamos Deus. E, então, ele nos disse que vai nos proteger. E, como já
vimos, o mundo então se tornou um forte principal. Mas ele realmente não pode nos
proteger porque não existe. Toda a coisa é apenas uma fantasia.

(Parágrafo 9 – Sentenças 3-4) Vê-la e reconhecer seu sistema de pensamento é olhar para o
nada.

Lembrem-se, o ego nos disse, “Você não pode olhar para esse sistema de pensamento
porque ele vai destruí-lo”. Então, nós o trancamos em uma tumba escura, ou em uma
câmara mortuária, em nossas mentes. Mas se realmente olharmos para ele, vamos perceber
que literalmente nada está ali. Foi tudo inventado. O imperador está nu.

87
(Parágrafo 9 – Sentenças 4-5) Pode o nada fazer surgir a raiva? Dificilmente.

Da mesma forma, podemos perguntar, “Pode o nada fazer surgir a culpa? Pode o nada fazer
surgir um mundo? Pode o nada fazer surgir a morte? Pode o nada fazer surgir o
sofrimento?”. Obviamente, acreditamos que pode, porque esse é o mundo que tornamos
real. Se nós realmente pensarmos sobre o que isso está dizendo – o que todo o Curso está
dizendo -, essa obviamente é uma reinterpretação muito radical de absolutamente tudo em
que acreditamos, sem exceção.

Uma linha no Curso diz, “Aprender esse curso requer disponibilidade para questionar
todos os valores que manténs” (T-24.in.2:1). Todos os valores! Cada pequeno pensamento!
Agora, não temos que fazer isso da noite para o dia. Mas apenas pensar sobre esse
ensinamento – que não existe exceção – dá um sentido da imensidão e da profundidade do
sistema de pensamento do Um Curso em Milagres. Se o ego é realmente nada, então, cada
pequena coisa que veio desde então também é nada. E isso significa que não faz sentido
ficarmos transtornados com algo que não existe.

Mas esse é um processo passo a passo – lento, gradual e gentil – que nos leva a uma
compreensão e aceitação crescentes dessa verdade. E, então, ser um professor de Deus é
dizer, “Sim, é isso o que eu realmente quero aprender, e que seja ensinado através de mim”,
e então, confiar no processo, conforme o Amor do Espírito Santo ou de Jesus caminham
conosco, passo a passo, até que essa verdade se torne um simples fato para nós.

(Parágrafo 9 – Sentenças 5-8) Lembra-te, então, professor de Deus, de que a raiva toma
conhecimento de uma realidade que não existe; no entanto, a raiva é uma testemunha certa
de que tu acreditas nela como um fato.

Nós dissemos que não podemos ficar com raiva de um fato, mas agora podemos dar mais
esse passo. O fato é que nada está lá. Nós ficamos irritados com uma interpretação que diz
que algo está lá que é pecaminoso, trazendo culpa, e merecendo punição. Se eu estou
irritado, obviamente estou irritado com algo, o que significa que neguei a nulidade do que
está diante de mim. Eu acredito que esse algo é um fato. E o fato último é o pecado. Eu me
separei de Deus, O ataquei e Ele está vindo me atacar em troca. Isso é um fato. Então, como
já foi dito antes nessa seção, eu aceito isso como um fato e depois o perdôo.

(Parágrafo 9 – Sentença 8) Agora, escapar é impossível...

Uma vez que eu tornei a separação real e o pecado um fato, para onde vou? Agora sou um
produto daquele pecado. A única forma de enfrentar isso, então, é usar a mágica de alguma
forma para negar esse fato terrível, e tirar o melhor do que já é uma situação perfeitamente
terrível. É por isso que esse mundo é sem esperança, sombrio e miserável. Não existe
esperança dentro desse sistema. A única esperança vem de fora do sistema, da luz do
Espírito Santo. Novamente,

(Parágrafo 9 – Sentenças 8-10) Agora, escapar é impossível até que vejas que respondeste
à tua própria interpretação, que tu projetaste sobre um mundo exterior.

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Essa é a esperança: eu inventei tudo isso. E é por isso que é tão essencial, conforme
trabalhamos com o Curso, que não deixemos de lado os ensinamentos metafísicos sobre o
mundo ser uma ilusão que não está realmente aqui. Sem essa compreensão, nosso
aprendizado realmente será limitado; ele será limitado por nossa crença de que existe um
mundo aqui que tem que ser consertado.

O mundo não tem que ser consertado porque não há mundo. Nós não lutamos para tornar o
imperfeito perfeito. Nós lutamos para olhar para a imperfeição e perceber que ela não
existe. E, então, nós dizemos, “Sim, o mundo imperfeito, a situação imperfeita, vêm de um
pensamento imperfeito, mas o pensamento imperfeito é simplesmente tolo. Ele não é
pecaminoso. É apenas um pensamento errôneo. Eu cometi o erro de ouvir a orientação da
voz errada. Isso foi tudo o que fiz. Posso com a mesma facilidade tomar o outro caminho e
ouvir a Voz do Espírito Santo. E então tudo o mais vai desaparecer”.

(Parágrafo 9 – Sentenças 10-11) Deixa que essa espada sombria seja afastada de ti agora.
A morte já não existe. Essa espada não existe.

Essa espada, a arma do ego, é o seu sistema de pensamento – que é loucura.

(Parágrafo 9 – Sentença 11-12) Não há causa para o medo de Deus.

O “medo de Deus” é provocado pelo pecado, mas não existe pecado. Se não existe pecado,
não existe causa que poderia ter efeitos. O efeito do pecado é o medo de Deus e a morte.
Mas não existe pecado – se toda a coisa foi inventada -, então, isso não é uma causa. E,
então, o pecado não pode ter efeitos, o que significa que não existe morte nem medo.

(Parágrafo 9 – Sentenças 12-14) Mas o Seu Amor é a Causa de todas as coisas além de
todo o medo e, assim, para sempre real e sempre verdadeiro.

Parte XXI

Como se faz a correção? (MP-18)

Vamos continuar com nossa conversa sobre raiva e pensamento mágicos. Vamos ler duas
seções que lidam com essas questões. A próxima seção no manual “Como se faz a
correção?” (MP-18), que vamos ler agora, está voltada para a tentação de querer corrigir os
erros dos outros ou seus pensamentos mágicos. Vamos então ler uma seção paralela
chamada “A correção do erro” (T-9.III).

Assim como em tudo no Curso, essas seções estão falando sobre o conteúdo e não sobre a
forma. Jesus não está dizendo que não deveríamos, no nível da forma, corrigir os erros de
outra pessoa. Ele está falando sobre uma atitude de julgamento e condenação, baseada na
premissa de que a outra pessoa está errada. E não meramente errada em termos de dar a
resposta errada em um teste, por exemplo, mas errada simplesmente em virtude de sua
própria pecaminosidade. É isso o que a seção está dizendo. Então, a questão não é não
corrigir erros no nível a forma. O propósito todo do Curso é corrigir nossos erros, então,
obviamente, Jesus não está dizendo que erros não deveriam ser corrigidos nesse nível. Mas

89
nenhum de nós trabalhando com o Curso – a menos que estejamos realmente projetando –
iria acreditar que Jesus esteja nos atacando ou condenando por termos cometido um erro.

Se nós lermos cuidadosamente as palavras de Jesus, abrindo nossas mentes e nossos


corações, poderemos sentir seu amor gentil em tudo o que está dizendo, mesmo quando está
fazendo afirmações muito enérgicas sobre os diversos erros que o mundo cometeu. E, ainda
mais direto ao ponto, quando ele está corrigindo dois mil anos de ensinamento cristão,
dizendo que os cristãos entenderam mal o que ele ensinou, no nível da forma, ele
obviamente está corrigindo nossos erros ou enganos. Mas ele não está fazendo isso em um
espírito de julgamento, ataque, condenação ou separação.

Com em todas as coisas, o Curso está dizendo que deveríamos não tentar corrigir os erros
de outra pessoa sem primeiro unirmos nossa mente com o Amor do Espírito Santo. Então,
quando falarmos, não importando o que dissermos, só vamos expressar amor. Então,
novamente, as seções não estão dizendo que não deveríamos corrigir os erros das pessoas
no nível da forma.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-3) A correção de natureza duradoura – e só essa é correção


verdadeira – não pode ser feita enquanto o professor de Deus não deixar de confundir
interpretação com fato, ou ilusão com verdade.

“A correção de natureza duradoura” é corrigir o único erro ou engano básico, isto é, que
nós somos um ego e que a separação é real. E esse erro é desfeito ou corrigido
simplesmente demonstrando que sua premissa fundamental não é verdadeira. Se a premissa
fundamental é a de que somos separados de Deus, então, a correção ou o desfazer disso
seria expressar e experienciar o Amor de Deus. Se eu estiver expressando o Amor de Deus,
não posso ser separado Dele. Se eu estiver experienciando o Amor de Deus, não posso ser
separado dele. Essa é a correção de natureza duradoura, que é do que estamos falando.

Outra forma de dizer “enquanto o professor de Deus não deixar de confundir interpretação
com fato, ou ilusão com verdade” é que nós não confundimos mais a forma com o
conteúdo. A forma pode ser que uma pessoa diga algo insultuoso, ou que uma pessoa tenha
câncer. Esses são fatos dentro desse mundo – essa é a forma. A interpretação seria que essa
é uma coisa terrível, isso é uma expressão do pecado e da culpa que deveriam ser atacados
e corrigidos. Isso é interpretação. Como já discutimos, a interpretação básica do ego sobre
tudo está baseada na realidade da vitimação: o que você fez é um ataque pessoal a mim ou
às pessoas com as quais me identifico. Ou eu mesmo, como um Filho de Deus, sou
diminuído quando estou doente. Tudo isso são interpretações.

(Parágrafo 1 – Sentenças 4-7) Se ele discute com seu aluno sobre um pensamento mágico,
se o ataca ou tenta demonstrar o erro ou a falsidade desse pensamento, não está fazendo
outra coisa senão testemunhar a realidade disso.

Então, por exemplo, se eu estiver dando uma aula sobre Um Curso em Milagres e terminar
discutindo com você porque você não compartilha minha visão em relação ao Curso, estou
tornando a diferença real. Isso não é para dizer que eu tenho que concordar com o que você
está dizendo. Mas, quando me vejo em uma posição de argumentar, ou de querer

90
demonstrar que estou certo e você errado, então, sei que meu ego entrou no caminho. Tudo
o que estou fazendo nesse momento é reviver aquele instante ancestral no qual o ego
acreditou que estava em guerra com Deus.

Eu estou usurpando o papel de Deus, Que é perfeito e conhece a verdade, e estou atacando
você, a quem estou vendo como um ego. Isso é verdadeiro a qualquer momento em que
entramos em uma discussão ou debate com qualquer pessoa, ou em uma situação onde é
importante para nós comprovarmos que estamos certos. Como já vimos, isso sempre
representa uma escolha entre estar certo ou ser feliz. Agora, eu não tenho que concordar
com o que você diz se eu pensar que a forma na qual está dizendo está errada. Mas estamos
falando sobre um sentimento ou atitude subjacente no qual quero estar certo, onde tenho
um investimento em demonstrar para mim mesmo, e para todos os outros ao meu redor, que
estou certo e você está errado. Nesse ponto, é claro, estou errado porque estou vendo a
separação como real. Estou confundindo forma com conteúdo, interpretação com fato,
ilusão com verdade.

De forma similar, se eu for um professor de alguma escola, parte do meu trabalho


obviamente é dar testes e corrigir erros. Eu posso fazer isso tanto em um espírito de amor
quanto em um espírito de ataque. Se eu me perceber tentando provar que seu pensamento
mágico está errado, preciso acreditar que o que você está dizendo é real. Caso contrário, eu
não iria estar tentando atacá-lo e abafar seus gritos.

No Curso, Jesus fala a verdade sem atacar qualquer coisa ou qualquer outra pessoa. Ele
simplesmente diz, “Isso é a verdade”. O leitor é livre para aceitá-la ou não. Então, se eu
estiver ensinando o Curso, quero refletir a mesma atitude. Quero apresentar o Curso e sua
verdade como os compreendo, mas sem qualquer tentativa de impor minhas crenças a
ninguém mais. Essa pode ser uma ótima sala de aula para reconhecer quando meu ego
realmente se torna engajado e eu torno a separação real.

Em outras palavras, quero reconhecer que você e eu somos unidos no Amor de Deus, e que
essa é a única realidade. O fato de que as formas que usamos são diferentes não faz
qualquer diferença. As formas são irrelevantes. Mas, quando discuto com você e quero
provar que você está errado e eu certo, estou tornando as formas reais e estou dizendo que
somos separados.

(Parágrafo 1 – Sentenças 7-9) A depressão é, então, inevitável, pois ele “provou”, tanto
para o seu aluno como para si mesmo, que a tarefa de ambos é escapar do que é real.

Uma vez que nós estabelecemos o erro como real, uma vez que estabelecemos o ego e o
mundo e quaisquer pensamentos nesse mundo como reais e importantes, não existe forma
de escapar. E, então, a depressão entra. Nós podemos ter uma alegria real e evitar a dor e a
depressão somente por reconhecer que realmente temos o poder de deixar esse mundo,
simplesmente porque ele não é verdadeiro. Mas, se eu o torno real, não posso escapar dele.

(Parágrafo 1 – Sentenças 9-12) E isso [isto é, escapar do que é real] só pode ser impossível.
A realidade é imutável. Pensamento mágicos são apenas ilusões. De outro modo, a
salvação não passaria do mesmo velho sonho impossível, apenas com outra forma.

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Quase todos os sonhos de salvação na história do mundo têm sido apenas a mesma velha
tentativa do ego de resolver um problema por não resolvê-lo; primeiro tornando o ego, o
mundo e o pecado reais, e depois tentando maquinar forma engenhosas – teológicas,
econômicas, políticas, sociais, etc. – de escapar deles. Mas eu não posso escapar de algo
depois que ele se tornou real para mim. Eu só posso escapar dando um passo atrás e vendo
a mim mesmo acima do campo de batalha, ou deixando o palco e indo para a platéia com
Jesus, olhando de volta para o palco e dizendo, “Isso é simplesmente um sonho, e eu posso
despertar de um sonho”. Isso termina com tudo. Isso é escapar verdadeiramente. Mas eu
não posso escapar de algo uma vez que o estabeleci como real, porque sempre vai haver um
pensamento incômodo em algum lugar dentro de mim que vai me alcançar avidamente.

(Parágrafo 1 – Sentenças 12-14) No entanto, o sonho da salvação tem novo conteúdo. Não
é apenas na forma que está a diferença.

A salvação é um sonho também, mas, como o Curso diz, é um sonho feliz (T-18.IV.7:1-2).
Então, eu não mudo ou manipulo as formas simplesmente. Eu mudo o conteúdo. O
conteúdo para os sonhos de “salvação” do ego é que o pecado é real e que existem formas
mágicas de escapar dele. Esse é o conteúdo fundamental. O conteúdo do Espírito Santo é
que o pecado é irreal, e reconhecer sua irrealidade constitui a forma de escapar dele.

Mas, sempre que reagimos a qualquer coisa no mundo como se fosse real, importante,
valiosa, ou ameaçadora, estamos tornando o erro real; estamos tornando a mágica real; e
estamos nos esquecendo de que ainda é tudo um sonho. Então, lutar contra uma doença, por
exemplo, é uma forma de torná-la real. Discutir com alguém sobre a correção da sua
posição é outra forma de tornar a diferença entre nós real.

(Parágrafo 2 – Sentenças 1-2) A maior lição dos professores de Deus é aprender como
reagir a pensamentos mágicos totalmente sem raiva.

De fato, poderíamos até dizer que essa é a única lição.

(Parágrafo 2 – Sentenças 2-3) Só dessa forma podem eles proclamar a verdade sobre si
mesmos.

Quando Jesus fala sobre proclamar a verdade, ele não quer dizer ficarmos em pé em cima
de um caixote. Proclamar a verdade simplesmente significa deixar a verdade se estender
através de nós. Nossa voz não fala a verdade; a voz de Jesus a diz através de nós. Nossos
corpos não demonstram e dão a verdade; isso é feito através de nós.

(Parágrafo 2 – Sentenças 3-4) Através deles [professores de Deus], o Espírito Santo pode
agora falar da realidade do Filho de Deus.

Novamente, não somos aqueles que falam a verdade. A verdade não é os princípios do Um
Curso em Milagres. A verdade é o amor que inspirou o Curso. Esse mesmo amor inspirou
milhares de outros caminhos espirituais também. Esse amor é a verdade, e ele não é falado.
Uma vez que falamos a verdade, ela deixa de ser a verdade. Eu uso os ensinamentos do

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Curso se esse for o meu caminho particular, mas os uso simplesmente como um veículo
para permitir que o Amor e a verdade do Espírito Santo se estendam através de mim. Então,
quando o Espírito Santo fala “da realidade do Filho de Deus”, Ele não fala em palavras,
não as palavras ou ensinamentos de Um Curso em Milagres.

Isso é verdadeiro em relação a qualquer caminho espiritual. A verdade é o amor que


inspirou os ensinamentos do caminho espiritual. Se nós olharmos para a história do mundo,
com todos os conflitos tanto dentro das religiões quanto dentro dos caminhos espirituais,
veremos a confusão da forma com o conteúdo, um dos erros primários, fundamentais, do
ego. A forma não cura ou salva, porque ela é uma ilusão. O Curso diz isso. Ele também diz
que vem dentro da moldura do ego (ET-in.3:1). Ele tem que fazer isso, pois, de outra
forma, não poderíamos compreendê-lo. Mas as palavras não são o que é santo. Os três
livros não são santos. O amor que os inspira é santo, e esse amor é abstrato. E esse mesmo
amor, essa presença de Jesus, está dentro de todos. Então, o mesmo amor pode ser expresso
se eu ficar em frente a um grupo lendo uma lista telefônica. Que diferença isso faz? É
apenas forma.

Então, o Curso está no mundo, mas não é do mundo. Novamente, ele vem dentro da
moldura do ego. Então, entrar em uma discussão ou debate com alguém sobre se ele é
verdadeiro ou não perde totalmente o foco. Se ele é verdadeiro para mim, isso é tudo o que
tenho que saber. Se eu o defendo, estou dizendo que o Curso é vulnerável, uma forma
maravilhosa do ego restabelecer sua própria posição. A assertiva básica do ego é que Deus
é vulnerável. Essa insanidade e arrogância – que o ego tem o poder de atacar Deus –
começou a coisa toda. Se eu acreditar que o Curso é a Palavra de Deus e que Seu Amor o
inspirou, e eu também acreditar que ele pode ser atacado e que tenho que defendê-lo, então,
estou fazendo a mesma coisa tudo de novo. A verdade não precisa de defesa. O amor não
tem opostos. “Nós dizemos, ‘Deus É’, e então deixamos de falar” (LE-pI.169.5:4) porque
não existe mais nada para dizer.

(Parágrafo 2 – Sentenças 5-7) Agora Ele pode lembrar ao mundo a impecabilidade, a única
condição que não foi mudada, a única condição imutável de tudo o que Deus criou.

Isso, é claro, é a criação do espírito, que está no Céu. O lembrete é simplesmente minha
demonstração, por minha própria atitude de ausência de defesas e paz, de que não sou
pecador. Se eu estiver argumentativo, defensivo, ansioso ou culpado, obviamente preciso
acreditar que sou pecador. Todas essas outras características vêm da crença de que sou
pecador e separado. Se eu sou pecador, então, preciso me sentir culpado. Preciso então
projetar essa culpa em outras pessoas e atacá-las. Preciso então também acreditar que
outros vão me atacar de volta, uma vez que a culpa exige punição. E, então, eu fico com
medo do que vai acontecer comigo e acredito que tenho que me proteger como resultado
disso. Todos os atributos do ego derivam desse único pensamento básico ou premissa de
que sou pecador.

O Espírito Santo lembra o mundo da impecabilidade através de mim, não por minha ações,
palavras, ou comportamento, mas simplesmente pelo amor que é expresso através de mim,
conforme minha vida demonstra as características de um professor de Deus. Minha parte é
simplesmente permitir que as interferências do ego sejam removidas e fazer outra escolha.

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E, então, o amor e a luz que já estão dentro de mim e de todos os outros simplesmente
brilham. Isso é tudo o que temos que fazer.
(Parágrafo 2 – Sentenças 7-8) Agora Ele pode falar do Verbo de Deus a ouvidos que
escutam e trazer a visão de Cristo a olhos que vêem.

O “Verbo de Deus”, novamente, é basicamente a expressão do princípio da Expiação: a


separação que nunca aconteceu. Aqueles que estão abertos e prontos para aceitar essas
palavras e a verdade vão ouvi-la. Se eles não a ouvirem através de mim, então, vão ouvi-la
através de alguém mais. Não importa quem é o professor de Deus nem qual é o caminho
espiritual. Como é dito antes, no manual, quando o professor está pronto para aprender, o
aluno aparece (MP-2.1).

A forma na qual a mensagem é entregue não é importante. Estou pronto para meu papel
como professor quando – pelo menos por um instante – deixei de lado meus bloqueios e
permiti que o amor e a luz brilhassem. E aqueles que têm esperado por essa expressão
particular em forma de amor e luz, então, virão. Mas, para repetir, não é a forma que cura
ou salva; é o conteúdo.

(Parágrafo 2 – Sentenças 9-11) Agora está Ele [o Espírito Santo] livre para ensinar a todas
as mentes a verdade do que elas são, de modo que se voltem para Ele com contentamento.

O Amor do Espírito Santo não está livre para se estender através de nós enquanto
acreditarmos que somos pecadores e culpados, enquanto estivermos zangados e ouvirmos o
ego ao invés do Espírito Santo. Não que Ele esteja aprisionado, mas a extensão do Seu
Amor fica bloqueada pela barreira da nossa raiva e culpa. Nosso trabalho então é
simplesmente acabar com o aprisionamento desse Amor, removendo os impedimentos para
que ele se estenda e flua livremente através de nós. Se eu menciono isso repetidamente,
como faz o próprio Curso, é porque é absolutamente essencial entendermos que não temos
que fazer nada. Nós simplesmente estamos envolvidos no processo de desfazer as barreiras
que colocamos entre nós mesmos e o Espírito Santo.

(Parágrafo 2 – Sentenças 11-12) E agora a culpa é perdoada, deixa de ser vista


completamente no Seu modo de ver e no Verbo de Deus.

A culpa foi perdoada no instante em que surgiu, porque nesse mesmo instante a memória de
Deus na mente do Filho a desfez. Sua luz dissolveu totalmente os pensamentos escuros de
pecado e culpa. O problema é que nós obscurecemos a Voz do Espírito Santo. Então, nossa
culpa ou pecado são perdoados simplesmente por removermos os bloqueios ao perdão que
já aconteceu dentro de nossas mentes. O Curso continuamente enfatiza que o perdão não
faz nada; ele desfaz. O perdão já é perfeito dentro de nós; ele já foi completado. O único
problema é que nós o escondemos. Então, a culpa é perdoada conforme nós simplesmente
removemos as interferências ou os véus que nos mantiveram separados do perdão.

Parte XXII

(Parágrafo 3 – Sentenças 1) A raiva apenas resmunga, “A culpa é real!”.

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Quando estou zangado com você, estou dizendo, “Você é o culpado, não eu”. Mas eu não
poderia estar acusando você se primeiro, em outro nível, não tivesse acusado a mim
mesmo. Então, quando eu o ataco e fico com raiva de você, estou dizendo não apenas que
sua culpa é real, mas que minha culpa também é real, embora eu não esteja consciente
disso. Isso se torna mais claro se eu posso entender que, quando fico irritado com você,
obviamente preciso acreditar que você e eu somos separados. De outra forma, eu não
poderia estar zangado com você. E se eu acredito que somos separados, estou dizendo que a
separação é real, o pecado é real e, portanto, preciso me sentir culpado pelo que fiz.

(Parágrafo 3 – Sentenças 1-3) E a realidade é apagada à medida em que essa crença


insana é aceita em substituição ao Verbo de Deus.

O “Verbo de Deus”, aqui, representa o princípio de que a separação nunca aconteceu. Isso é
realidade e verdade. Ela é encoberta quando eu ataco você porque, novamente, eu
obviamente estou dizendo a você que somos separados.

(Parágrafo 3 – Sentenças 3-5) Os olhos do corpo agora “vêem”; só seus ouvidos são
capazes de “ouvir”. O espaço pequeno do corpo e seu fôlego diminuto vêm a ser a medida
da realidade.

Uma vez que eu tornei o pecado e a culpa reais, e disse que você e eu somos separados,
obviamente estou tornando o corpo real. Eu me esqueci totalmente de que o problema é a
culpa dentro da minha própria mente, e que isso não tem absolutamente nada a ver com
você. Nesse ponto, minha mente egóica dá ao meu corpo a instrução: “Encontre o pecado,
torne-o real, e então o ataque”. E, então, meus olhos vêem que você fez uma coisa terrível,
e meus ouvidos ouvem as coisas terríveis que você disse. Minha interpretação é que você é
pecador e culpado e merece ser punido. A implicação é que eu sou livre e inocente.

Mas eu vejo isso dessa forma porque primeiro tomei uma decisão na minha mente de que é
isso o que quero ver. Então, é exatamente isso o que meus olhos vêem. Mas, se eu mudar
minha mente para ter o Espírito Santo como meu Professor ao invés do ego, então, meus
olhos vão ver e meus ouvidos vão ouvir algo totalmente diferente. Eu vejo o que você fez
tanto como uma expressão de amor ou um pedido de amor. E eu sei que a realidade é que
você e eu somos um em Cristo.

(Parágrafo 3 – Sentenças 5-6) E a verdade vem a ser diminuta e sem significado.

Quando eu ouço o ego, a verdade do Amor de Deus fica sem sentido. O ego encobre
totalmente o Amor de Deus, e ele se torna ameaçador. A imensidão e a eternidade do Céu é
trocada por esse “espaço pequeno do corpo e seu fôlego diminuto” – isto é, o corpo e o
mundo – que nós dizemos ser a realidade. Portanto, eu joguei fora a grandeza do Céu, como
o Curso diria, e a troquei pela grandiosidade do ego (T-9.VIII), ou peguei a magnitude de
Cristo e a troquei pela pequenez do ego (T-15.III). Mesmo que eu não esteja em contato
com essa escolha, eu escolhi deliberadamente não valorizar quem realmente sou, ou Quem
Deus é. Eu escolhi, ao invés disso, as pequenas dádivas do ego.

(Parágrafo 3 – Sentenças 6-8) A correção tem uma única resposta para tudo isso e para o

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mundo que se baseia nisso:

O que se segue é a correção, a única que funciona. Basicamente, é a mensagem que o


Espírito Santo nos dá sempre que tentamos tornar o erro ou a mágica reais.

(Parágrafo 3 – Sentenças 9-10) Tu estás apenas tomando equivocadamente a interpretação


pela verdade. E estás errado.

Jesus não está nos criticando aqui. Ele simplesmente está nos dizendo que o que
acreditamos não é verdade. Então, ele deixa por nossa conta aceitar sua correção ou não.

(Parágrafo 3 – Sentenças 10-11) Mas um equívoco não é um pecado, nem a realidade foi
tirada de seu trono pelos teus equívocos.

O ego nos diz que roubamos o trono do Céu, que nos estabelecemos nele, e que o que
fizemos foi pecaminoso. Jesus diz que isso não é pecaminoso; foi apenas um engano, um
pensamento tolo, e nunca aconteceu.

(Parágrafo 3 – Sentenças 12-13) Deus reina para sempre, e só as Suas leis prevalecem
sobre ti e sobre o mundo.

Suas leis do Amor prevalecem sobre o mundo através do Espírito Santo e Seu plano de
perdão.

(Parágrafo 3 – Sentenças 13-14) Seu Amor permanece sendo a única coisa que existe. O
medo é ilusão pois tu és como Ele.

Isso, é claro, é o oposto exato do que diz o sistema de pensamento do ego. O ego nos diz
que Deus não reina mais; o ego reina e suas leis governam ao invés das Dele, e o Amor de
Deus se transformou em vingança, o que nós agora deveríamos temer. Nós estamos
escolhendo negar Seu Amor sempre que tornamos o erro real, sempre que ficamos
transtornados com qualquer coisa, seja uma leve pontada de aborrecimento ou uma intensa
fúria. O único problema em todo o mundo, não importando o tamanho ou forma, é que nós
escolhemos negar a verdade. E, então, nossa parte como um professor de Deus, é
simplesmente nos lembrarmos da verdade. Isso é tudo. Se nós realmente nos lembrarmos,
então, nada no mundo pode jamais nos transtornar, absolutamente nada. A verdade então
vai automaticamente se expressar através de nós.

Então, se eu ficar transtornado com qualquer coisa no mundo, como os pensamentos


mágicos de alguém, isso significa que eu escolhi, em outro nível, negar a verdade porque
não a valorizo mais. E estou dizendo que minha ansiedade, transtorno, culpa são muito
mais valiosos para mim do que o Amor de Deus.

(Parágrafo 4 – sentenças 1-2) Para curar, então, vem a ser essencial para o professor de
Deus deixar que todos os seus próprios equívocos sejam corrigidos.

Para poder ser um curador, para poder ser um professor avançado de Deus, eu

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simplesmente preciso deixar o sistema de pensamento do meu próprio ego ser corrigido –
isso é tudo o que tenho que fazer. Eu não corrijo seus erros.

Deixem-me ler algo relevante do panfleto “Psicoterapia”. A questão para a qual essa seção
está direcionada é como nós alcançamos o objetivo final da psicoterapia, que é o perdão. E
ele pergunta: “Como é realizada?” (P-2.VI.6:2), que é como o terapeuta alcança sua meta
final, como a terapia se torna bem sucedida? E a resposta é: “O terapeuta vê no paciente
tudo o que ele não perdoou em si mesmo e assim lhe é dada uma outra chance de olhar
para isso, abri-lo para reavaliação e perdoá-lo” (P-2.VI.6:2-5). Essa é uma resposta
incrível se nós pensarmos sobre ela. A resposta à questão de como a psicoterapia atinge seu
objetivo não tem absolutamente nada a ver com o paciente. Novamente, ela diz: “O
terapeuta vê no paciente tudo o que ele não perdoou em si mesmo”. Isso não tem nada a
ver com a técnica, brilhantismo ou sabedoria do terapeuta. Simplesmente tem a ver com a
cura da mente do terapeuta. É assim que a terapia funciona e o que é a cura. Só é necessário
que o terapeuta traga quaisquer preocupações, ansiedades, medos, culpa, etc., ao Espírito
Santo. Conforme esses são liberados, o Amor do Espírito Santo automaticamente flui
através dele, e o terapeuta, então, vai fazer o que quer que seja mais útil e amoroso. Mas a
cura não vem do que o terapeuta diz ou faz. Ela vem quando a mente do terapeuta se uniu à
mente do paciente. E isso não pode acontecer enquanto o terapeuta estiver mantendo
pensamento de medo, culpa, julgamento, etc.

A linha que acabamos de ler dessa seção no manual está dizendo exatamente a mesma
coisa: “Para curar, então, vem a ser essencial para o professor de Deus deixar que todos
os seus próprios equívocos sejam corrigidos”. A cura não é uma técnica mais do que é a
psicoterapia. Não importa o que eu digo ou faço. Eu posso sentar com um paciente ou
alguém com problemas e ler a lista telefônica. A forma específica não faz qualquer
diferença.

Existe uma história maravilhosa sobre Beethoven. O marido de uma boa amiga dele tinha
morrido. Então, ele a visitou e ofereceu suas condolências. Ao entrar em sua casa, ele disse
a ela, “Hoje à noite, devemos falar juntos em tons”. E então, ele se sentou ao piano, tocou
durante duas horas e meia, e depois saiu, sem dizer nenhuma palavra. E a mulher se sentiu
extremamente reconfortada com isso. Ele estava se unindo a ela da maneira que podia,
através de sua música – a forma não fez qualquer diferença.

Ele poderia ter se sentado e tocado piano como fez, ou poderia ter se sentado e lido para ela
a bíblia, ou poderia ter colocado suas mãos sobre ela. Isso não teria feito qualquer
diferença. Naquele momento, ele quis ser útil e se unir com sua amiga. E, portanto, em
certo sentido, ele deu seu corpo ao amor de Jesus ou do Espírito Santo, para que o amor
pudesse fluir através dele, o qual, obviamente, era o corpo de um compositor e pianista. E,
então, o amor se expressou daquela forma. A forma não é importante; é só o conteúdo que
importa.

Então, para sermos um curador, para sermos um professor avançado de Deus, nós
simplesmente damos a Jesus todas as interferências que colocamos entre nós mesmos e seu
amor, para que seu amor possa vir através de nós, ao invés de nosso amor especial. O foco
não tem absolutamente nada a ver com qualquer coisa fora de nós porque não existe nada lá

97
fora. Então, se eu ficar preocupado em que preciso fazer algo para resolver um problema no
mundo, já me coloquei em uma armadilha.

O problema, nesse ponto, não é o que eu deveria fazer para ajudar outra pessoa, mas o que
preciso fazer para permitir que minha própria mente seja curada. Eu preciso reconhecer que
se estou vendo o erro fora de mim, e tornei a mágica real, é porque tenho um investimento
em reforçar e perpetuar o sistema de pensamento do ego ao invés de aceitar o do Espírito
Santo. Esse é o problema. Eu escolhi jogar fora o amor de Jesus e substituí-lo, ao invés
disso, pelo “amor” do meu ego, o que sempre envolve ajudar outras pessoas para que eu me
sinta melhor.

Então, eu me uno a outra mente simplesmente por trazer minha mente ao Amor do Espírito
Santo ou de Jesus dentro da minha mente. Isso é tudo o que eu faço. E eu faço isso me
tornando consciente de qualquer dos meus pensamentos que iriam me manter separado
dessa Mente e desse Amor. Em outras palavras, tudo o que eu faço – e isso é basicamente o
que o Curso significa – é me tornar cada vez mais sensível às interferências do meu próprio
sistema de pensamento, da minha própria mente, que são sempre pensamentos de que a
mágica é real, de que o mundo é real, de que a dor e o sofrimento são reais, e que a raiva é
justificada. Essas são todas apenas formas diferentes de separação. O processo crucial é se
tornar consciente de que qualquer pensamento que eu tenha de raiva, preocupação,
ansiedade, culpa ou depressão, qualquer pensamento de que alguém lá fora está sofrendo
dor no nível do corpo e do mundo, está vindo de uma escolha prévia que eu fiz de manter a
verdade e o Amor de Deus longe de mim. Se eu fico transtornado com o que está
acontecendo com você, não estou em um espaço de amor. Estou em um espaço egóico
“amoroso”, mas não em um espaço genuinamente amoroso, porque tornei a separação e o
pecado reais.

Então, Jesus está nos dizendo, muitas e muitas vezes, para estar conscientes sobre o
investimento que temos em tornar o erro real e em manter o Amor de Deus separado de
nós. Eu quero aprender a reconhecer que minha preocupação em relação a você, meu
sentimento de pesar por você, e minha vontade de acabar com sua dor não é amor. Parece
ser amor, mas não é, porque está vindo de mim, da minha interpretação, e não da
interpretação do Espírito Santo. Então, eu quero me separar do que estou vendo no mundo e
dizer ao invés disso, “Eu realmente quero me unir com o amor que está dentro de mim, mas
que não vem de mim”. Desse ponto em diante, o amor vai se expressar através de mim e
então, eu vou fazer ou dizer o que quer se seja mais útil – quer seja passar duas horas e
meia tocando piano, fazendo imposição de mãos, fazendo uma oração, ou seja o que for.

Novamente:

(Parágrafo 4 – Sentenças 1-2) Para curar, então, vem a ser essencial para o professor de
Deus deixar que todos os seus próprios equívocos sejam corrigidos.

O foco nunca está no que está do lado de fora; está sempre no que está dentro de mim.

(Parágrafo 4 – Sentenças 2-5) Se ele sente o mais leve sinal de irritação em si mesmo
enquanto responde a qualquer pessoa, que tome consciência instantaneamente de que fez

98
uma interpretação que não é verdadeira.

Nós estamos sendo chamados a monitorar nossas mentes muito cuidadosamente – a sermos
vigilantes com os pensamentos do nosso ego. A luta sempre termina em nossas mentes. Eu
nunca posso culpar ninguém. A Terceira lição do Espírito Santo é “Sê vigilante só a favor
de Deus e do Seu Reino” (T-6.V-C). Obviamente, nós não temos que ser vigilantes por
Deus. Ser vigilantes em nome de Deus é sermos vigilantes contra as defesas do nosso
próprio ego contra Ele.

O desafio é nos tornarmos cada vez mais conscientes até mesmo da mais leve sugestão de
irritação sem nos sentirmos culpados em relação a isso. Nosso ego gostaria de nos fazer
praticar o Curso e usá-lo para seu propósito invertido: nos tornando cada vez mais
conscientes da feiúra do nosso ego e então nos pregando um grande truque. Obviamente,
isso vai contra o propósito do Curso, que é desfazer a culpa através do perdão.

Nós queremos ser capazes de fazer isso gradualmente, nos tornando cada vez mais
conscientes dos pensamentos assassinos que estão dentro de todos nós, enquanto
aprendemos como sorrir diante deles e dizer, “Bem, é claro, o que tem de novo aí? Por que
mais eu estaria nesse mundo se não fosse um assassino? Esse mundo representa o
assassinato de Deus. Então, é claro, o que há de novo aí?”. Isso nos permite nos tornamos
cada vez mais objetivos em relação ao ego em nós mesmos.

A imagem de sentar em uma platéia com Jesus, olhando para a encenação do meu ego, e
sorrindo diante dela, pode ser útil. Isso significa que uma parte da minha mente está com
Jesus, olhando para o meu ego fazendo suas coisas, e, juntos, estamos dizendo, “Isso não é
uma tolice?”. É isso o que significa nos lembrarmos de rir diante do ego; nós não o levamos
a serio. Tudo nesse mundo é resultado de levar o ego a sério, e tudo no mundo então se
torna sério para nós. Sempre que eu levo qualquer coisa no mundo a sério, eu quero, tão
rapidamente quanto puder, voltar para dentro da minha mente e perceber que fiz uma
interpretação que não é verdadeira. A interpretação é que o que você está fazendo tem um
efeito terrível sobre mim, sobre meus seres amados, sobre o planeta, sobre Deus, etc. Então,
eu quero perceber que isso não tem efeito algum. A realidade do Filho de Deus é
desimpedida e imutável por qualquer pensamento do ego.

(Parágrafo 4 – Sentenças 5-7) Que ele então se volte para dentro, para o seu Guia Eterno
[o Espírito Santo] e deixe que Ele [não nós] julgue qual deve ser a resposta.

Uma passagem no final do Capítulo 27 no texto fala sobre como somos nós que julgamos
os efeitos (T-27.VIII.8:4). Nós julgamos todas as coisas que acontecem no mundo. Nós as
julgamos tanto como medonhas e terríveis, e precisando ser modificadas, desfeitas ou
punidas, quanto como maravilhosas, que queremos que aconteça. Somos nós que julgamos
os efeitos. Em contraste, o Espírito Santo julga sua causa.e a causa de todos os efeitos no
mundo é a “diminuta e louca idéia” de separação de Deus. O julgamento do Espírito Santo
sobre essa causa é que ela é tola. É tolo acreditar que o ego tem poder de atacar Deus ou de
despedaçar o Céu. Quando nós julgamos a causa – o ego – como pecaminosa e culpada, e
merecendo ser levada a sério, isso leva à necessidade de nos defendermos dela.

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E é isso o que o mundo é. Todos os terríveis efeitos no mundo vêm porque nós nos
esquecemos da sua causa. Então, como essa passagem explica, o Espírito Santo não julga
os efeitos. Ele não olha para os efeitos. Ele não presta atenção a eles. Ele nem mesmo os vê.
O Espírito Santo não está envolvido com nada no mundo. Ele olha para a causa, que está
em nossas mentes, e diz: “Isso é tolice”. E, conforme pudermos nos identificar com Sua
interpretação da causa, também vamos olhar para tudo no mundo e não levá-lo a sério. Isso
nos permite ser verdadeiros instrumentos de amor e compaixão em relação aos outros no
mundo, porque nosso ego não está envolvido. O Amor de Deus agora está envolvido. Nesse
ponto, não estou escolhendo qual é a resposta amorosa ou curativa. A escolha é feita
através de mim.

(Parágrafo 4 – Sentenças 7-8) Assim ele é curado e, na sua cura, seu aluno é curado com
ele.

“Ele” se refere ao professor de Deus, que se tornou consciente até da mais leve pontada de
irritação, assim como de raiva, ódio, piedade, medo, etc. Como o Curso explica, são
necessários dois para fazer uma doença, mas apenas um para curar (T-28.III.2). São
necessários dois para fazer a doença porque os dois precisam concordar que são separados.
É preciso um para curar porque, se eu não concordar que você e eu somos separados, então,
nós não somos. Da mesma forma, são necessários dois para travar uma guerra. Se uma das
duas partes não lutar, então, não há guerra. A doença também é uma guerra, uma guerra
feita pelo ego contra Deus. Se nós nos unirmos nisso – você, que acredita estar doente, e eu,
que me sinto responsável por ou reajo a isso – então, a doença se torna real. O campo de
batalha se torna real. Se um de nós mudar nossa mente – é isso o que a cura é – então, não
existe campo de batalha e nem doença. O Curso não define a doença pelos sintomas físicos.
A doença é definida pelo pensamento na mente de ser separado.

Essa é uma expressão micro-cósmica da cura última do Espírito Santo. O pensamento de


separação é que o ego e Deus agora estão separados. O Filho de Deus agora está separado
do seu Pai. Mas a presença do Espírito Santo na mente do Filho é uma testemunha do fato
de que o Filho não está separado do Pai. Se o Espírito Santo é a memória do Amor de Deus
que permanece dentro da mente, então, a mente do Filho não é separada dessa memória, e,
portanto, não é separada do Amor de Deus.

É por isso que o Curso diz que a separação foi curada no instante em que pareceu acontecer
(T-26.V.3-5; T-28.III.5:2-4). A presença do amor na mente do Filho significa que ele não é
separado do amor. Ele ainda é livre para escolher acreditar que é separado e doente. Mas a
realidade é que ele já está curado. E tudo o que aconteceu desde então – o pensamento de
separação, a evolução do sistema de pensamento do ego, a criação do mundo – se tornou
um truque para esconder ou obscurecer a cura que já aconteceu.

Todas as vezes em que escolhemos ser curados e não tornarmos o erro real, estamos
refletindo e nos tornando uma manifestação do princípio de cura do Espírito Santo dentro
de nossas mentes. É assim que a cura funciona. Então, se eu mudar minha mente sobre
você, então, não torno seu pensamento mágico real. Não fico irritado com você, não o
ataco, ou me sinto pesaroso por você. Eu reconheço que nossas mentes são
verdadeiramente unidas no Amor de Deus. Eu sei não apenas que estou curado, mas que

100
você também está, embora talvez ainda não tenha aceitado isso.

(Parágrafo 4 – Sentenças 8-9) A única responsabilidade do professor de Deus é aceitar a


Expiação para si mesmo.

Essa é uma forma maravilhosa de resumir o que significa todo o Curso. Nossa
responsabilidade não é curar ninguém mais. Não é alimentar os famintos, ou vestir os
desnudos, ou visitar aqueles que estão na prisão, ou curar os doentes, ou ressuscitar os
mortos, ou trazer a paz mundial, ou salvar as baleias, as árvores, ou o planeta. Não é nada
dessas coisas. Nossa única responsabilidade é aceitar a verdade do Espírito Santo dentro de
nós mesmos. Essa é a aceitação da Expiação. Nada mais. Esse é o conteúdo.

(Parágrafo 4 – Sentenças 9-10) Expiação significa correção ou o desfazer dos erros.

Essa é uma definição muito clara sobre a Expiação. É o desfazer ou a correção. Não é nada
positivo. É simplesmente o desfazer ou a negação da negação do ego da verdade.

(Parágrafo 4 – Sentenças 10-12) Quando isso tiver sido realizado, o professor de Deus vem
a ser o trabalhador de milagres por definição.

Quando os erros dentro da minha mente tiverem sido curados, eu não acreditarei mais no
sistema de pensamento do ego. E, pelo fato da definição do trabalhador de milagres ser
alguém que aceita a Expiação para si mesmo, se eu aceito a Expiação para mim mesmo,
então, sou um trabalhador de milagres. Esse silogismo é um exemplo da lógica do Curso.

(Parágrafo 4 – Sentenças 12-13) Seus pecados lhe foram perdoados e ele já não se
condena.

Eu aceitei o perdão pelos meus pecados que sempre esteve lá, esperando por mim. Não é
algo que acontece como um resultado do que estou fazendo. O perdão dos meus pecados
está sempre lá e eu simplesmente desfaço os bloqueios à minha aceitação da consciência
dele. Então, eu não julgo mais a mim mesmo como tendo feito algo pecaminoso. Se eu não
julgo ou condeno a mim mesmo, então, também não posso condenar ninguém mais, como a
próxima linha diz:

(Parágrafo 4 – Sentenças 13-14) Como pode então condenar quem quer que seja? E há
alguém a quem o seu perdão não possa curar?

A cura não tem nada a ver com nada externo. Uma vez que eu aceitei o perdão do Espírito
Santo dentro da minha mente, apenas amor e luz estão dentro dela. E uma vez que todas as
nossas mentes são unidas, esse amor e luz se estendem a todas as mentes. Ninguém deixa
de ser afetado pelo amor dentro de mim.

Como já mencionei, Jesus nos diz no Curso que nós ascendemos com ele (ET-6.5:5).
Quando ele despertou do sonho da morte, todos estavam com ele porque as mentes são
unidas. Então, assim como ele se tornou a manifestação do Espírito Santo, nós então
podemos nos tornar sua manifestação simplesmente por exemplificarmos sua vida e seu

101
amor em nós – e isso é a cura. Isso não tem nada a ver com o que é percebido do lado de
fora.

Existe sempre o perigo de que, quando estamos na presença de alguém que se tornou uma
manifestação de Jesus ou do Espírito Santo, nos sintamos bem pelas razões erradas. Isso
pode se tornar algo mágico onde eu percebo que você tem uma santidade que eu não tenho,
mas que se eu me sentar na sua presença, vou receber a santidade de você, o que vai
magicamente encobrir todos os meus pecados. A cura real na presença de uma pessoa santa
vem quando eu aceito que o amor que estou sentindo nessa pessoa também está dentro de
mim. E, então, eu sei que meus pecados estão perdoados. Isso é cura real e alegria real.
Então, a pessoa santa não pode olhar dentro da minha mente e remover as barreiras à
presença do amor por mim. Para usar um exemplo que estivemos discutindo, vamos dizer
que estou doente no hospital e você vem me ver. Você não tem ego, então, não torna minha
doença real. Você aceitou sua santidade. Mas eu só posso experienciar essa cura quando eu
aceito, não que você fez algo por mim, mas que a luz dentro das nossas duas mentes
iluminou o amor dentro da minha mente e dispersou toda a escuridão. Nesse ponto, minha
alegria é real e eu aceitei essa cura.

Parte XXIII

A correção do erro (T-9.III)

Vamos voltar ao texto agora e examinar a seção, “A correção do erro” (T-9.III), que
basicamente está voltada para a mesma questão que estivemos examinando no manual.

(Parágrafo 1 – Sentenças 1-2) O estado de alerta do ego para os erros de outros egos não é
o tipo de vigilância que o Espírito Santo quer que mantenhas.

Obviamente, não é isso o que geralmente acreditamos. Deixem-me comentar sobre esse
tipo de vigilância. Meu medo básico é que fui eu que cometi o erro, sou eu que estou
errado. Meu ego me diz que eu sou o pecador, porque eu me separei de Deus. O ego então
me diz que esse pensamento de responsabilidade é esmagador, e se eu realmente quiser
entrar em contato com ele, então, entrarei em contato com o horror da minha culpa e meu
terror pela punição de Deus. Então, portanto, eu quero negar que sou responsável. E eu me
asseguro de que nunca vou entrar em contato com essa parte da minha mente que é
responsável pela separação, projetando-a pra fora e dizendo que alguém mais é responsável.
Meu ego então precisa sempre estar vigilante para apoderar-se do erro de alguém, para que
eu possa dizer: “Ah, aqui está o culpado”.

Basicamente, essa passagem está falando sobre o quanto todos nós somos super-vigilantes
para encontrar erros ou enganos nos outros, para encontrar onde os outros estão errados. No
momento em que encontramos alguém que tenha feito algo errado, nós nos apoderamos
dele e voltamos correndo ao Espírito Santo em nossas mentes e dizemos: “Veja, eu lhe
disse que era inocente. Aqui está o culpado”.

É útil ser vigilante com nossas mentes para reconhecermos o quanto somos vigilantes em
relação a encontrar erros dos outros, em relação a encontrar faltas nos outros. E é muito

102
fácil encontrar faltas. Em um mundo de bilhões de pessoas, nós geralmente não temos que
ir muito longe de onde estamos vivendo ou trabalhando para encontrarmos pessoas que
estão erradas. Todos cometem erros. Então, nós queremos estar conscientes da parte das
nossas mentes que quer que outras pessoas cometam erros, para que possamos agarrar seu
pecado e exibi-lo para o Espírito Santo dizendo: “Veja, não sou eu o pecador; essa pessoa é
que é”.

Isso não é para dizer que as pessoas não cometem erros. Obviamente, todos cometem erros.
Mas nós temos que ser vigilantes em relação à parte de nós que quer que as pessoas
cometam erros, e está em vigília para encontrá-los, para que possamos atacá-las. Não que
nós encontremos um erro, o reconheçamos como um pedido de amor, e então permitimos
que o amor se estenda através de nós. Ao invés disso, nós queremos encontrar um erro,
agarrá-lo e chamá-lo de pecado. É sobre isso que estamos falando.

(Parágrafo 1 – Sentenças 2-4) Os egos são críticos em termos do tipo de “sentido” que
representam. Compreendem esse tipo de sentido porque faz sentido para eles.

Esse é um dos terríveis jogos de palavras que encontramos através de todo o livro. Então,
Jesus o torna ainda pior.

(Parágrafo 1 – Sentenças 5) Para o Espírito Santo, não faz sentido algum.

O senso do ego, em termos do que ele percebe, é ser extremamente sensível aos erros ou
pecados dos outros. Faz muito sentido para o ego que tem que haver erros ou pecados ao
meu redor, exceto em mim mesmo. Para o Espírito Santo, entretanto, “não faz sentido
algum” porque o Espírito Santo não vê pecados. Ele vê erros, mas para Ele todos os erros
são o mesmo. E Sua visão é simplesmente a de que cada erro é um pedido de amor e um
pedido para Sua correção. Então, o ego percebe erros ao seu redor. E, para o ego, isso faz
muito sentido porque todo o sistema de pensamento do ego é um erro – exceto que ele tenta
jogar a responsabilidade pelo erro sobre outra pessoa.

(Parágrafo 2 – Sentenças 1-2) Para o ego, é benigno, certo e bom apontar erros e “corrigi-
los”.

Obviamente, o ego tenta fazer isso em nome do amor, honestidade, e de ser útil. Mas, na
realidade, ele só está tentando dizer: “Eu estou certo e você está errado”. E, é claro, nós
sempre gostamos de encontrar aliados que vão concordar conosco. Então, eu não só corro
de volta para o Espírito Santo e digo: “Veja o que essa pessoa fez. Isso é tão estúpido”,
como também diz: “Existem centenas, milhares ou milhões de pessoas que concordam
comigo”. Lembrem-se, o ego sempre mede as coisas em termos de quantidade.

(Parágrafo 2 – Sentenças 2-3) Isso faz sentido perfeito para o ego, que não está ciente do
que são os erros e do que é a correção.

O ego não vê erros; ele vê pecados. E pecados não são para serem corrigidos ou perdoados
ou desfeitos, mas para serem punidos.

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(Parágrafo 2 – Sentenças 3-4) Os erros são do ego e a correção dos erros está no
abandono do ego.

O ego é um erro, um engano básico. A verdadeira forma de corrigir erros é liberar o ego e
não estabelecê-lo como real. Em outras palavras, quando nós corrigimos erros, nossos egos
estão fazendo isso. O ego estabelece o erro como real e pecaminoso e então diz: “É assim
que nós corrigimos o problema. Nós punimos as pessoas más”.

(Parágrafo 2 – Sentenças 4-5) Quando corriges um irmão, tu estás lhe dizendo que ele está
errado.

Isso implica em que nós estamos corrigindo um irmão por conta própria.

(Parágrafo 2 – Sentenças 5-9) Ele pode não estar fazendo nenhum sentido nessa ocasião e,
é certo que se estiver falando a partir do ego, não estará fazendo sentido. Ainda assim, a
tua tarefa é dizer-lhe que ele está certo. Tu não lhe dizes isso verbalmente, se ele estiver
falando tolices.

Se você disser que dois mais dois é igual a cinco, eu não digo: sim, dois mais dois é igual a
cinco. Isso está falando sobre conteúdo, não sobre forma. Jesus não está dizendo que as
pessoas não cometem erros. E ele não está dizendo que eu deveria dizer a você que você
está certo quando está cometendo um erro. Nós poderíamos fazer isso no momento, mas
Jesus não está dizendo que eu deveria necessariamente concordar com você no nível da
forma. Então, ele diz, “Tu não lhe dizes isso verbalmente, se ele estiver falando tolices”.

(Parágrafo 2 – Sentenças 9-10) Ele necessita de correção em outro nível, porque seu erro
está em outro nível.

O outro nível de que Jesus está falando é o nível do conteúdo, não da forma. O nível no
qual você está enganado é o mesmo nível no qual todos nós estamos enganados: o nível de
acreditar no ego ao invés de no Espírito Santo, acreditando que a separação de Deus é real.

(Parágrafo 2 – Sentenças 11-12) Ainda assim, ele está certo porque é um Filho de Deus. O
seu ego está sempre errado, não importa o que diga ou faça.

Nós queremos corrigir o erro no nível do conteúdo. Eu quero dizer a você que você está
certo porque você é um Filho de Deus. O ego diz que você está errado porque você traiu o
fato de que é um Filho de Deus, e é agora um filho do ego. Esse é o erro que queremos
curar. Como já discutimos antes, o erro básico que todos compartilhamos é a crença em que
a separação é real. E, então, eu corrijo o erro no nível do conteúdo, unindo-me a você. E,
nessa união, nesse amor, nessa ausência de defesas, eu o ensino que você está certo.

Você cometeu um erro ao escolher a voz do ego, mas você está certo porque o Amor de
Deus está presente dentro de você. E, então, o amor com o qual eu corrijo o seu erro, no
nível da forma, está dizendo a você que o amor dentro de mim está se estendendo através
da minha mente. E, uma vez que nossas mentes são unidas, o amor também está dentro de
você. E, então, eu me torno um lembrete da verdade, da retidão e do amor que também

104
estão dentro de você.

E isso não tem absolutamente nada a ver com a forma. Então, eu digo a você: “Não, dois
mais dois não são cinco; dois mais dois são quatro”. E eu posso dizer isso sem ódio ou
condenação, e posso dizê-lo com amor. Eu posso até dizer isso de forma firme. As palavras
não são importantes. A falta de ataque é o que é importante.

Isso também significa que se eu disser a você: “Não, dois mais dois são quatro”, e você
disser: “Não, dois mais dois são cinco”, eu não sinto que tenho que corrigi-lo novamente.
Eu não tenho que bater na sua cabeça para fazê-lo mudar sua mente. Se eu disser: “Não,
dois mais dois são quatro”, e você insistir em que dois mais dois são cinco, então, para você
dois mais dois são cinco. Que diferença isso faz? Isso não tem efeito sobre a Filiação ou o
Reino. Se passar a ser importante para mim convencer você de que dois mais dois são
quatro, como já vimos, isso é o meu problema. Eu acredito que a forma é o que importa.

(Parágrafo 3 – Sentenças 1-3) Se apontas os erros do ego do teu irmão, tens que estar
vendo através dos teus, porque o Espírito Santo não percebe os seus erros.

Novamente, isso não está falando sobre a forma. Isso está se referindo à parte de mim que
quer apontar seus erros, que quer tornar você errado para que eu possa estar certo. Com
muita freqüência, nós nos vemos em situações, seja no trabalho, na família ou com amigos,
nas quais parece muito importante para nós que o que dizemos seja aceito, porque sabemos
como algo precisa ser feito. Não importando o que seja, nós pensamos que sabemos
melhor. Mas, então, eu fico insistindo que você faça o que eu digo, e eu fico aborrecido se
você não fizer. Então, eu falo sobre você por trás das suas costas, ou conspiro contra você.
Eu faço tudo o que posso para me assegurar de que a situação está sendo manejada de
forma correta. E tudo isso é no nível da forma, o que, é claro, me torna tão insano quanto
qualquer outra pessoa nessa situação. E eu posso estar certo de acordo com as regras do
mundo, mas estou errado se me preocupo com isso.

Se eu tiver um investimento em que algo seja feito de forma certa ou perfeita, então, sou
tão insano e tão errado quanto aquele que eu sinto estar errado, porque estou julgando de
acordo com a forma. E eu me esqueci do que é realmente importante. O que é realmente
importante não é que a tarefa seja feita: não a casa a ser construída, a prescrição médica a
ser seguida, os planos para viagem, ou seja o que for sobre o que eu acredite estar certo.
Não é isso o que é importante; isso não tem efeitos sobre a eternidade.

O que é importante é que eu não veja a separação como real. E isso significa que eu sempre
tenho que prestar atenção ao conteúdo e não à forma, ainda que eu possa estar certo no
nível da forma. Novamente, isso não significa que eu não digo o que acredito ser correto,
mas eu digo isso sem um investimento no resultado, sem um investimento em que outras
pessoas concordem comigo. Eu simplesmente digo o que sinto, consistente com o papel no
qual estou, mas sem qualquer investimento em estar certo e em provar que você está errado.
Então, em contraste, ao apontar os erros do ego do meu irmão, meu interesse não é
simplesmente fazer com que o projeto seja cumprido de forma apropriada, mas, ao invés
disso, está em provar que estou certo e você errado. No final das contas, eu realmente quero
provar que estou certo e Deus errado. Só estou usando situações específicas como um meio

105
de provar isso. E é por isso que estou errado.

Então, aí preciso ver seus erros através dos meus próprios, porque o Espírito Santo não
percebe erros. Ele vê enganos ou erros como simplesmente um véu frágil que é uma
tentativa de esconder a luz, mas Ele ainda vê a luz. Como já dissemos, o Espírito Santo não
olha ou julga os efeitos. Ele olha para a causa e é isso o que Ele julga. E a causa é o
pensamento de ser separado, que Ele diz que é simplesmente tolo.

Portanto, eu quero me aliar com esse julgamento gentil e não tentar provar que estou certo e
você errado. É muito fácil encontrar os erros das pessoas. Isso não é difícil. É mais difícil
perceber que todos estão certos como um Filho de Deus e que os erros e enganos são sem
conseqüências. Isso só pode acontecer se eu reconhecer o que é verdadeiramente
importante, e jogar isso fora. Se eu ficar transtornado com algo no mundo e insistir em que
estou certo, e isso se tornar importante para mim, é porque eu não valorizo a verdade. A
verdade é que todos estão errados nesse mundo. Mas eu não valorizo isso, e, ao invés disso,
valorizo o pensamento de que algumas pessoas estão certas, e eu estou entre elas. O que é
verdadeiro é o fato de que o Espírito Santo e o ego vêem coisas inteiramente diferentes. O
ego vê erros e o Espírito Santo não.

(Parágrafo 3 – Sentenças 3-4) Isso não pode deixar de ser verdadeiro uma vez que não
existe comunicação entre o ego e o Espírito Santo.

Eles são estados e pensamentos mutuamente excludentes.

(Parágrafo 3 – Sentenças 4-6) O ego não faz nenhum sentido e o Espírito Santo não tenta
compreender nada que surja dele.

O ego está sempre tentando entender o que surge de si mesmo. Como o Curso diz depois:
“Ainda estás convencido de que a tua compreensão é uma contribuição poderosa para a
verdade e faz dela o que ela é” (T-18.V.7:7-8). Todos nós pensamos isso. Todos nós
sentimos que é importante entender o que está acontecendo. A única coisa que é importante
é entender que nada acontece e, portanto, não há nada para ser entendido.

Existe uma linha maravilhosa algumas poucas páginas depois que é um comentário não
muito sutil de Jesus em relação aos psicoterapeutas. Uma das preocupações dos
psicoterapeutas tem sido tentar explicar o que acontece na psicoterapia. E Jesus diz, “Tais
inconsistências evidentes são a razão por que ninguém realmente explicou o que acontece
na psicoterapia. Nada realmente acontece”. (T-9.V.5:2-4)

A mesma coisa pode ser dita em relação ao mundo; nada acontece no mundo. Tudo o que
temos que entender é que nada aqui é compreensível porque nada está aqui. O ego fez um
mundo muito complicado e intrincado. E nós passamos eons de tempo tentando explicar e
entender algo que nem existe para início de conversa. Então, o Espírito Santo não tenta
entender nada que surja do ego.

(Parágrafo 3 – Sentenças 6-7) Uma vez que Ele não o compreende, Ele não o julga,
sabendo que nada do que o ego faz significa coisa alguma.

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É isso o que o Curso quer dizer quando fala que o Espírito Santo não julga os efeitos. Ele
julga a causa. E a causa é o pensamento original de separação. E Seu julgamento é que esse
pensamento é simplesmente uma tolice – não é mau ou pecaminoso ou sério -, mas é tolo.

(Parágrafo 4 – Sentenças 1-2) Quando reages de qualquer modo que seja a erros, não estás
escutando o Espírito Santo.

Isso não significa que no nível do mundo não vamos perceber erros ou enganos. Dois mais
dois no mundo não são cinco; são quatro. Essa afirmação está se referindo à minha reação
de raiva contra sua crença mágica e insistência de que a salvação para você consiste no fato
de que dois mais dois são cinco. Quando eu reajo a você e torno seu erro real, isso
obviamente significa que não estou ouvindo o Espírito Santo. De fato, estou reagindo a
você porque não quero ouvir o Espírito Santo. Então, eu uso a mágica do ego para
obscurecer a Voz do Espírito Santo, porque é disso que tenho medo.

(Parágrafo 4 – Sentenças 2-3) Ele [o Espírito Santo] meramente os ignorou [os erros] e se
prestas atenção a eles, não O estás ouvindo.

Estou prestando atenção ao que está lá fora. Então, se você está doente, eu posso, em um
certo nível, entender por que você está doente, em termos das leis do mundo sobre saúde e
doença. Mas não é esse realmente o motivo pelo qual você está doente, então, eu não
entendo nada. Eu só tenho que entender que você escolheu a doença porque está com medo
do Amor de Deus – isso é tudo. Se eu estou tornando sua doença real para mim, escolhi vê-
lo como doente porque estou com medo do Amor de Deus. Isso é tudo o que tenho que
entender. Eu não tenho que entender em termos do mundo por que você ficou doente, ou a
provável progressão da doença, ou qual será o remédio.

Se eu estiver ouvindo o Espírito Santo, minha atenção será retirada do seu corpo doente ou
do que quer que seja o problema externo. E, eu vou voltar para onde o problema realmente
está, na minha mente, onde o Espírito Santo também está. E vou pedir a ajuda do Espírito
Santo se me perceber ficando preso na realidade aparente do seu problema.

(Parágrafo 4 – Sentenças 3-5) Se não O ouves [o Espírito Santo], estás escutando o teu ego
[tem que ser um ou outro] e estás fazendo tão pouco sentido quanto aquele irmão cujos
erros tu percebes. Isso não pode ser correção.

Obviamente, eu agora estou tão errado quanto o estou acusando de estar. Isso sempre volta
ao mesmo ponto básico – todo problema é simplesmente minha escolha de desconsiderar o
Espírito Santo e ouvir o ego. E a solução para esse problema não está fora de mim. A
solução é voltar minha mente àquele ponto e fazer uma escolha diferente.

(Parágrafo 4 – Sentenças 6-7) No entanto, é mais do que apenas uma falta de correção
para ele. É abrir mão da correção em ti mesmo.

Não apenas eu não sou mais capaz de corrigir seus erros transmitindo-lhe a mensagem de
que Deus é apenas Amor, mas também estou atacando a mim mesmo e me privando da

107
mesma correção. O que eu faço para você, faço para mim mesmo.
Parte XXIV

(Parágrafo 5 – Sentenças 1-3) Quando um irmão se comporta de maneira insana só podes


curá-lo percebendo nele a sanidade. Se percebes os seus erros e os aceitas, estás aceitando
os teus próprios.

Eu percebo a sanidade em você percebendo a sanidade em mim mesmo. Eu primeiro


preciso voltar para dentro da minha mente e dizer ao Espírito Santo: “Eu preciso estar
percebendo de forma errada porque estou vendo um problema como fora de mim e estou
reagindo a ele”. Não é apenas que eu veja seus erros, mas que os aceito como reais. Jesus
não está nos pedindo para negarmos o que o seu corpo ou o meu estão fazendo; o problema
surge do meu ato de torná-lo real através da minha reação a ele. Essa é a questão.

Se eu tornar seus erros reais, preciso primeiro ter olhado para dentro de mim mesmo e
tornado meus erros reais; então, esse é o meu problema se eu realmente quiser ser útil a
você com seu problema – seja qual forma ele assumir – preciso primeiro me tirar do
caminho. De outra forma, será o meu ego tentando ajudar o seu, o que parece funcionar
muito bem no mundo algumas vezes; mas não vai trazer paz, amor ou cura. E não vai
resolver realmente o problema. Isso pode resolver o problema temporariamente no nível da
forma, mas o mesmo problema virá em outra forma.

(Parágrafo 5 – Sentenças 3-4) Se queres entregar os teus ao Espírito Santo, tens que fazer o
mesmo com os dele.

Eu posso dizer que quero ser perdoado e experienciar o Amor de Deus, mas não vou fazer
isso enquanto projetar meu pecado em você e atacá-lo por ele.

(Parágrafo 5 – Sentenças 4-7) A não ser que essa venha a ser a única forma de lidares com
todos os erros, não poderás compreender como todos os erros são desfeitos.

Todos os erros são desfeitos trazendo-os ao Espírito Santo – reconhecendo que eles não têm
efeitos, e não têm significado ou poder.

(Parágrafo 5 – Sentenças 7-8) Há alguma diferença entre dizer-te que o que ensinas tu
aprendes e isso?

É exatamente a mesma coisa.

(Parágrafo 5 – Sentenças 8-9) O teu irmão está tão certo quanto tu estás e se pensas que ele
está errado, estás condenando a ti mesmo.

Novamente, isso não é sobre a forma; é sobre o conteúdo. Você está tão certo quanto eu,
porque nós dois somos crianças do mesmo Deus, e nós dois compartilhamos a mesma
solução. Qualquer coisa que eu faça a você ou pense sobre você reflete o que penso sobre
mim mesmo.

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(Parágrafo 6 – Sentenças 1-2) Tu não podes corrigir a ti mesmo. É possível, então,
corrigires um outro?

Eu não posso corrigir a mim mesmo. Apenas o Espírito Santo pode. Então, se eu não posso
fazer isso para mim mesmo, o que me faz acreditar que posso fazer para você? É claro, é o
meu ego que quer que eu acredite que posso corrigir você, porque isso prova que nós somos
separados: você está errado e eu certo.
(Parágrafo 6 – Sentenças 2-3) No entanto, podes vê-lo verdadeiramente porque é possível
para ti ver a ti mesmo verdadeiramente.

E isso, é claro, só é possível aceitando o Espírito Santo como meu Professor e meu Amigo,
e ouvindo o que Ele diz.

(Parágrafo 6 – Sentenças 3-4) Não depende de ti mudar o teu irmão, mas meramente
aceitá-lo como é.

Eu não ataco você por cometer um erro. Eu não tenho necessidade de insistir que, uma vez
que você cometeu um erro, vai ter que consertá-lo. Eu simplesmente o vejo como meu
irmão em Cristo, sem qualquer diferença. Nesse ponto, o Amor do Espírito Santo vai
trabalhar através de mim. Qualquer coisa que eu disser ou fizer – e isso pode tomar a forma
de corrigir o problema ou consertar uma situação – será então amoroso. Isso não será feito
em um espírito de ataque ou separação.

(Parágrafo 6 – Sentenças 4-6) Os seus erros não vêm da verdade que está nele e só essa
verdade é sua.

Seus erros vêm porque ele fez a mesma escolha errada que eu fiz. Ele escolheu ouvir o ego.
Se eu o atacar por escolher o ego, obviamente, estou tornando o mesmo erro real para mim
mesmo.

(Parágrafo 6 – Sentenças 6-8) Os seus erros não podem mudar isso e não podem ter
qualquer efeito sobre a verdade em ti.

Seus erros não podem mudar a verdade. O sistema de pensamento do ego começou com um
ensinamento fundamental de que o erro do Filho de Deus afetou a verdade e a modificou. É
por isso que o Curso fala sobre “realidade imutável”, como é o título de uma seção adorável
perto do fim do texto (T-30.VIII). Outra seção no texto é chamada de “A morada imutável”
(T-29.V). E, no manual, nós lemos antes que “a realidade é imutável” (MP-18.1:5).

Esse é o princípio da Expiação. A realidade não pode ser mudada por todos os meus
pensamentos tolos; meus sonhos não tiveram efeito. Se eu tiver um pesadelo, isso não tem
efeito sobre a realidade de que estou dormindo a salvo na minha cama. De forma similar,
todos os nossos sonhos tolos sobre atacar Deus e fazer um mundo, e atacar um ao outro não
têm efeito sobre a realidade. Mas se eu ficar transtornado com seu erro e quiser provar que
você está errado e encontrar outros para concordar comigo, então, estou dizendo que a
realidade foi modificada. Se o que você fizer aqui for importante para mim, isso só pode
significar que na minha mente você e eu estamos aqui. O que nós fazemos aqui só pode ser

109
importante se nós acreditarmos que existe um “aqui”. E, se nós acreditarmos que existe um
“aqui”, então, estamos dizendo que não existe um “lá” – significando o Céu – porque é um
ou outro.

(Parágrafo 6 – Sentenças 8-12) Perceber erros em qualquer pessoa e reagir a eles como se
fossem reais é fazer com que sejam reais para ti. Não vais escapar de pagar o preço disso,
não porque estás sendo punido por isso, mas porque estás seguindo o guia errado e
portanto perderás o teu caminho.

O preço que pagamos é a experiência de alienação, depressão, tristeza, raiva, ansiedade,


tensão, culpa, etc. Não que Deus esteja nos punindo por vermos o erro, mas nós estamos
punindo a nós mesmos por continuarmos nos separando de Deus, Que é nossa única fonte
de paz, alegria e amor.

(Parágrafo 7 – Sentenças 1-2) Os erros do teu irmão não são dele, assim como os teus não
são teus.

Os erros vêm da parte da minha mente que não é real. Eles não vêm do que eu realmente
sou, da mesma forma que os seus também não.

(Parágrafo 7 – Sentenças 2-4) Aceita os seus erros como reais, e terás atacado a ti mesmo.
Se queres achar o teu caminho e mantê-lo, vê só a verdade ao teu lado, pois vós caminhais
juntos.

Se eu vir o erro como real e ficar transtornado em relação a ele, fiz uma escolha de deixar o
caminho porque estou com medo de aonde ele está levando. Meu ego me disse que se eu
ficar nesse caminho, irei para casa e vou encontrar Deus lá, e Ele vai me punir. Então, se eu
acreditar nisso, vou querer sair do caminho. E o que me capacita a sair do caminho é ficar
zangado, ou insistir em que estou certo, encontrando erros e enganos nos outros.

(Parágrafo 7 – Sentenças 4-7) O Espírito Santo em ti perdoa todas as coisas em ti e no teu


irmão. Os seus erros são perdoados junto com os teus. A Expiação não é mais separada do
que o amor. A Expiação não pode ser separada porque vem do amor.

Não existem exceções. Eu preciso ver Cristo em todos, e preciso ver todos os erros que
estou percebendo e tornando reais como não sendo nada mais do que um frágil véu que eu
iria usar para esconder ou disfarçar a verdade. Eu não posso fazer quaisquer exceções na
forma de perceber qualquer pessoa.

(Parágrafo 7 – Sentenças 8-10) Qualquer tentativa que faças para corrigir um irmão
significa que acreditas que a correção é possível através de ti e isso só pode ser
arrogância do ego. A correção é de Deus Que não conhece arrogância.

Isso reflete a arrogância fundamental do ego, de que ele sabe melhor, de que pode julgar, e
que, de fato, ele é Deus.

(Parágrafo 8 – Sentenças 1-2) O Espírito Santo tudo perdoa porque Deus tudo criou. Não

110
assumas a Sua função, ou esquecerás a tua.

Não existem exceções; o Espírito Santo perdoa tudo. Sua função é perdoar e ser a fonte de
amor que está em nossas mentes. Sua função é ser a correção de todos os erros. Esse é o
princípio da Expiação, o desfazer ou correção do sistema de pensamento do ego. Nossa
função é simplesmente deixar Sua função ser tudo o que está presente em nós.

(Parágrafo 8 – Sentenças 2-3) Aceita só a função de curar no tempo, porque é para isso
que o tempo serve.

A cura é basicamente o desfazer do pensamento de doença, a correção do erro.

(Parágrafo 8 – Sentenças 3-5) Deus te deu a função de criar na eternidade. Tu não precisas
aprender isso, mas precisas aprender a querer isso.

Em outras palavras, eu preciso querer voltar para casa. A lição do livro de exercícios “Eu
quero a paz de Deus” (LE-pI.185) começa com as palavras: “Dizer estas palavras não é
nada. Mas dizê-la com real intenção é tudo” (LE-pI.185.1-2). Nós não queremos dizê-las
porque ainda acreditamos que a paz de Deus vai nos destruir. O poema de Helen, “Amém”,
termina com A linha: “Deus não crucifica. Ele meramente é” (As Dádivas de Deus, p.91).

O amor não crucifica; o amor não pune. O amor simplesmente é o que é. Ele não sabe nada
sobre punição ou pecado. Nós não precisamos aprender sobre o amor e a criação – nossa
função no Céu -, mas nós realmente precisamos aprender a querê-lo.

(Parágrafo 8 – Sentenças 5-6) Para tal foi feito todo o aprendizado.

O propósito do Curso é nos ensinar o que nós realmente queremos e nos mostrar que o que
o ego diz que é valioso nesse mundo não é valioso. O que o ego nos diz que vai nos trazer
prazer e evitar a dor nesse mundo não vai funcionar. Então, o Curso nos ensina, passo a
passo, muito lenta e gentilmente, a reconhecer todas as dádivas que o ego nos oferece, e
dizer: “Essas não são dádivas que eu quero”. Nós aprendemos a ir além da forma em que
cada dádiva está embalada, em direção ao que a dádiva realmente é, reconhecendo que o
ego envolve suas dádivas – realmente morte, dor, ataque e assassinato – em uma linda
embalagem.

(Parágrafo 8 – Sentenças 6-7) Esse é o uso que o Espírito Santo faz de uma capacidade que
não precisas, mas fizeste.

Aprender é uma habilidade que nós fizemos. Ela não é necessária no Céu, porque não há
aprendizado no Céu. Mas nós realmente temos que aprender o sistema de pensamento do
ego; e todos nós aprendemos isso muito, muito bem. Uma vez que nós usamos a mente
como um modelo de aprendizado para atacar, o Espírito Santo então pode usar a mesma
habilidade da mente para nos ensinar algo mais. E quando nós finalmente e totalmente
aprendermos Suas lições, todo o aprendizado desaparecerá. Ele não será mais necessário.

(Parágrafo 8 – Sentença 7) Dá a Ele essa capacidade!

111
Nós deveríamos deixar o Espírito Santo ser nosso Professor, não o ego. Enquanto
estivermos nesse mundo, teremos que aprender. E, então, o mundo é uma sala de aula.
Nossa única escolha então é em relação a qual professor vai nos ensinar.

(Parágrafo 8 – Sentenças 8-10) Tu não compreendes como usá-la. Ele te ensinará como ver
a ti mesmo sem condenação por aprenderes a olhar todas as coisas sem ela.

Obviamente, nós não sabemos como usar nossa habilidade para aprender, porque o que
aprendemos por nós mesmos não é muito feliz e amoroso. Nós ensinamos a nós mesmos a
condenar tudo e todos. Nós vemos tudo como separado, para que não tenhamos que
experienciar nossa condenação de nós mesmos. Então, é aí que a lição de perdão tem que
começar. Nós aprendemos a não condenar os outros reconhecendo que, quando o fazemos,
estamos realmente condenando a nós mesmos secretamente.

Portanto, o propósito do Curso é nos fazer perguntar a nós mesmos se é isso mesmo o que
queremos. Criticando você e encontrando falhas em você, estou realmente atacando a mim
mesmo. É isso mesmo o que eu quero fazer? O problema é que eu não estou consciente de
que é isso o que estou fazendo. Conforme vai ficando cada vez mais claro para mim o que
estou fazendo, a escolha de não condenar e atacar outros se torna cada vez mais fácil de
fazer.

(Parágrafo 8 – Sentenças 10-11) A condenação, então, não será real para ti e todos os teus
erros serão perdoados.

Eu não vou mais ver a condenação como real, mas simplesmente como um erro tolo. E, ao
fazer isso, no final das contas, estou dizendo que minha condenação de Deus e de Cristo
também é tola. Nesse ponto, eu reconheço que nada em mim tem que ser perdoado, porque
nada está em mim exceto o Amor de Deus. E esse reconhecimento vem através do processo
de reverter a necessidade do meu ego de encontrar falhas em todos os outros, para corrigi-
los e atacá-los.

Parte XXV

A Função do Professor de Deus (MP-5.III)

Vamos voltar agora para o manual. Vamos começar com a seção chamada “A função do
Professor de Deus” (MP-5.III), que é a terceira sub-seção de “Como a cura é alcançada?”
(MP-5). Vamos ler apenas o segundo parágrafo. Essa provavelmente é a afirmação mais
clara do que estivemos falando. Nós vamos nos direcionar especificamente em termos do
tópico da cura, no contexto de ser um professor de Deus.

Como nós já vimos repetidamente, um professor de Deus não faz nada. Se eu fizer qualquer
coisa, se eu acreditar que existe um problema que tem que ser resolvido, uma doença que
tem que ser curada, então, eu me torno parte de um problema. Tudo o que eu tenho que
fazer é ter minha mente curada e então acreditar que o Amor de Deus vai funcionar através
de mim. E será esse Amor que dá instruções a essa marionete – meu corpo. É como se eu

112
agora deixasse o Espírito Santo ser o titereiro, e permitisse que Ele puxasse os cordões do
meu corpo, para que a mensagem dada ao meu corpo seja apenas de amor. Então, qualquer
coisa que meu corpo faça ou diga ou pense virá do amor.

Então, o foco não está no que meu corpo faz. O foco está meramente na mudança da minha
mente de escolher o ego como meu titereiro para escolher o Espírito Santo. O próximo
texto (“Quantos professores de Deus são necessários para salvar o mundo?”) é sobre isso.
Então, quando estou na presença de alguém que está sentindo dor, minha única função é
permitir que minha mente seja curada para que a mensagem que vou dar seja a de que o ego
está errado e o Espírito Santo está certo, e de que a presença do Amor do Espírito Santo
está viva e bem. Em essência, estarei dizendo à outra pessoa: você vai se lembrar do amor
em si mesma porque vai vê-lo e experiência-lo em mim. Esse é o meu único propósito.

(Parágrafo 2 – Sentenças 1-2) O professor de Deus vem a eles para representar uma outra
escolha, aquela que haviam esquecido.

O “eles” seriam aqueles que acreditam que estão doentes; e isso se refere não apenas a
doença física. Qualquer um tendo alguma preocupação ou problema está doente. Qualquer
crença em que o ego seja real é doença. Todos nós esquecemos a escolha. Nós acreditamos
que a escolha pelo ego que nós fizemos originalmente é irrevogável, e que não existe
esperança nem saída. Isso significa que nós esquecemos que existe outra escolha, outra
presença, outro professor em nossas mentes. Então, como um dos professores de Deus, nós
queremos ser o lembrete de que realmente existe outra presença que podemos escolher.

(Parágrafo 2 – Sentenças 2-3) A simples presença de um professor de Deus é um lembrete.

Eu não tenho que dizer ou fazer nada. Eu apenas tenho que estar lá.

(Parágrafo 2 – Sentenças 3-4) Os seus pensamentos solicitam o direito de questionar o que


o paciente aceitou como verdadeiro.

Em outras palavras, você aceitou como verdade que o sistema de pensamento do ego é o
único. A paz e amor que eu escolhi dentro de mim mesmo, que estou experienciando, e que
você agora está experienciando dentro de mim, está basicamente dizendo, “Talvez exista
algo mais aqui. Talvez exista outra forma de olhar para tudo isso”. Com efeito, é um
convite para você abrir sua mente à possibilidade de que existe outra forma de perceber a si
mesmo e à situação.

(Parágrafo 2 – Sentenças 5-7) Como mensageiros de Deus, os Seus professores são os


símbolos da salvação. Eles pedem ao paciente perdão para o Filho de Deus em seu próprio
Nome. Eles representam a Alternativa.

Novamente, isso não tem nada a ver com o que eu digo ou faço. Mas o amor que está vindo
através de mim está pedindo a você para perdoar a si mesmo, não levando o sistema de
pensamento do seu ego tão a sério quanto tem feito, e não tornando o erro real. Então, eu
simplesmente represento a presença do Espírito Santo ou de Jesus.

113
(Parágrafo 2 – Sentenças 7-9) Com o Verbo de Deus em suas mentes, eles vêm para
abençoar, não para curar os doentes, mas para lembrar-lhes do remédio que Deus já lhes
deu.

A Palavra de Deus é o princípio da Expiação. E o que eu trago é minha aceitação do que o


Espírito Santo está dizendo: isto é, de que a separação de Deus nunca aconteceu, de que só
o amor é verdade, de que só o amor é real, e de que nada mais o afetou. Isso é
extremamente importante. Meu trabalho não é curar você da sua doença, seja qual for a sua
forma, não tirar o problema ou fazê-lo ir embora, não tornar tudo bom. Essa não é minha
função. Minha função é simplesmente ser um lembrete de que existe uma solução para o
seu problema, que está dentro da sua mente. Eu não tenho que resolver o problema para
você porque o Amor de Deus dentro da sua mente o fará. E, se eu tentar fazer isso por você
– tirar sua dor – estarei me colocando no lugar do Espírito Santo, usurpando Sua função. E
eu estou realmente ensinando o oposto exato do que você quer aprender. Nesse ponto, estou
ensinando a você que existe um substituto para Deus: eu!

Deixem-me falar um pouco mais sobre isso, porque essa é realmente a idéia central. A
tentação sempre é tentar tornar a situação melhor – sempre. Se nós pudéssemos apenas
manter esse pensamento em mente: tudo o que eu preciso é experienciar o remédio dentro
de mim mesmo, e então, saber e confiar que o remédio também está dentro da sua mente. O
Amor de Deus é o remédio que vai resolver o problema. Eu não tenho que resolvê-lo. Se eu
tentar resolvê-lo, estarei realmente ensinando o oposto exato. Estarei ensinando que existe
um substituto para Deus e que eu agora represento Deus para você. Eu vou magicamente
curar seu problema e tirar a dor. Eu não posso tirar a dor, Jesus não pode tirar a dor, porque
é você que coloca a dor lá. O que Jesus faz é simplesmente brilhar seu amor em sua mente e
através dessa irradiação dizer, “Meu irmão ou minha irmã, escolhe outra vez”. Isso é tudo o
que seu amor faz. Seu amor não tira a dor a menos e até que nós possamos trazer a dor a
ele. Então, ela é levada embora.

A fonte da dor é a culpa e o medo que eu acredito ter trancado na minha mente. Jesus não
invade minhas defesas e ilumina a escuridão. Ele me convence gentil e amorosamente de
que eu serei mais feliz se abrir minha mente primeiro – se eu deixar minha resistência, se eu
liberar a necessidade de defesa. Seu amor é o lembrete de que posso liberar minha
resistência, se eu liberar a necessidade de defesa. Seu amor é o lembrete de que eu posso
liberar, e sua gentileza me permite, durante um período de tempo, fazer isso. Seu amor e
sua luz brilham e iluminam o que nunca esteve lá. Mas Jesus não faz isso para mim. Sou eu
que tenho que destrancar ou abrir meu punho. Sou eu que tenho que pegar a chave: o
perdão, a mudança na mente que abre a caixa forte trancada. Eu faço isso segurando sua
mão, o que é claro é a única forma de eu poder fazer isso. Jesus não pode fazer isso por
mim. Eu preciso fazer isso. A dor e o sofrimento são minha responsabilidade porque eu as
escolhi, mas Jesus representa a outra resposta. Ele representa a alternativa que diz, “Não
tenha medo. Abra sua mente e deixe o meu amor curar o que está lá, porque não há nada
lá”. Basicamente, Jesus cura o que não existe.

É essencial em tudo isso que eu me lembre do meu propósito. Meu propósito não é fazer os
problemas desaparecerem. Meu propósito é aceitar que meus problemas desapareceram
porque eu escolhi o Amor de Deus ao invés do ódio do ego. E isso é tudo o que eu faço.

114
Nesse ponto, o perdão e o amor na minha mente são o farol que me lembra de que a mesma
escolha está aberta para você. Eu não faço a escolha por você. Eu não tento pressionar você
a fazer a escolha. Eu simplesmente permaneço como um lembrete de que você, também,
pode fazer a mesma escolha que eu.

(Parágrafo 2 – Sentenças 9-10) Não são as suas mãos que curam. Não é a sua voz que
profere o Verbo de Deus.

Essas são só duas formas em milhares diferentes que as pessoas tentam curar. As pessoas
que fazem imposição de mãos acreditam que têm um toque especial que cura, como se elas
tivessem algo que as outras não têm, como se o poder de Deus trabalhasse através dos seus
corpos. Ele não pode trabalhar através de um corpo; ele trabalha através de uma mente. As
pessoas podem ter “mãos curadoras”, no sentido de que um sopro quente vem através delas
– não existe dúvida sobre isso. Mas sopros quentes são simplesmente formas diferentes de
energia física, como eletromagnetismo, que podem ficar muito quentes.

O espírito não é energia no sentido no qual pensamos sobre energia. Quando o espírito é
igualado à energia, estamos tornando o corpo real. Entretanto, se você acreditar que pode
curar através das suas mãos, e se eu estiver doente e acreditar e tiver fé em que você pode
curar através das suas mãos – “fé curativa” -, então, suas mãos se tornam um símbolo
através do qual o amor na minha mente vai fluir. Mas suas mãos não curam. Apenas o
Amor de Deus cura.

Isso é essencial de se entender. Se eu acreditar que posso curar apenas através das minhas
mãos, estarei limitando o Amor de Deus. O que acontece se eu sofro um acidente e perco
minhas mãos? Se o amor é amor e o amor cura, ele precisa curar o tempo todo, porque não
existe tempo ou lugar onde o amor não esteja. O amor não está no corpo. Entretanto, se eu
puder experienciar o Amor de Deus apenas através da limitação do meu corpo – o que
geralmente é o caso para nós -, então, vai parecer que o corpo está fazendo a cura. Na
realidade, o corpo é apenas um veiculo para uma união aparente no nível físico, mas a
união real está no nível da mente.

Da mesma forma, acreditar que dizer certas orações vai curar é a mesma tentativa de limitar
Deus. Ou, se eu acreditar que a cura vem apenas através de um período de jejum – como a
bíblia algumas vezes descreve -, ou que a cura vem através de uma cirurgia ou de outros
meios tradicionais ou não-tradicionais, estou dizendo que a cura é do corpo: o corpo cura e
o corpo é curado. Eu então estou substituindo a forma pelo conteúdo. Mas esse é o
conteúdo que cura. Lembrem-se: a cura não faz nada – ela simplesmente desfaz o que
nunca foi. Nós fazemos isso trazendo os pensamentos do nosso ego para o Amor de Deus
em nossas mentes. É isso o que a cura é.

(Parágrafo 2 – Sentenças 10-11) Eles meramente dão o que lhes foi dado.

E, é claro, o dar não é no nível do comportamento. Dar é deixar o Amor de Deus que foi
dado a mim se estender através de mim. É muito fácil, muito simples. Praticar psicoterapia,
por exemplo, então, se torna muito simples. Eu não faço nada exceto prestar atenção ao que
o ego está fazendo em mim, o que eu trago ao Espírito Santo. Isso é tudo o que eu faço. E é

115
o mesmo em relação a tudo o que eu faço, qualquer ocupação ou profissão.

(Parágrafo 2 – Sentenças 11-13) Com muita gentileza apelam para os seus irmãos para que
se afastem da morte: “Contempla tu, Filho de Deus, o que a Vida pode te oferecer.
Escolherias a doença em lugar disso?”

Quando Um Curso em Milagres diz, “eu chamo meus irmãos”, não quer dizer verbalmente.
A própria presença do amor na minha mente é o chamado para você, porque mentes são
unidas. É uma forma de dizer “escolhe outra vez”, como essa linha diz. A maior parte do
tempo, nós não diríamos palavras como essas, embora, algumas vezes, possamos fazer.
Mas as palavras não são importantes; esse pensamento é. Eu nem mesmo tenho que pensar
esse pensamento na minha mente. Eu só tenho que ser absolutamente pacífico e sentir o
Amor de Deus ou o amor de Jesus vindo através de mim, de dentro de mim. Esse amor
então representa essas palavras de que você e eu, ambos, temos outra escolha.

Lembrem-se: Todo o problema surgiu, voltando ao instante original, quando o ego disse,
“Escolha a mim ao invés do Espírito Santo. Não ouça o que o Espírito Santo está dizendo a
você, que a separação realmente nunca aconteceu”. Nesse ponto, eu me esqueci de que
tinha uma escolha porque escolhi o ego e tranquei o Espírito Santo em uma pequena caixa.
E eu nunca mais pensei sobre minha escolha. Tudo o que aconteceu desde então veio da
crença de que eu escolhi uma vez e para sempre, e isso é tudo! Agora, eu acredito que tenho
todas essas escolhas no mundo, mas elas realmente são expressões da única escolha que eu
já fiz, que eu jurei ao meu ego nunca reconsiderar. Eu transformei Deus em um mentiroso e
o ego na verdade. Então, eu tenho que perceber que eu realmente tenho uma escolha. E
minha escolha não é entre o médico que eu deveria chamar ou qual forma de ajuda deveria
conseguir. A escolha é entre ouvir o meu ego e ouvir o Espírito Santo. Eu realmente tenho
uma escolha. E, então, como professores de Deus, nós representamos essa escolha: a
escolha pela vida ao invés da escolha pela morte.

Isso não significa, entretanto, que nós não deveríamos ir a um médico quando estivermos
doentes. Nós apenas não queremos confundir a forma com o conteúdo, ou a mágica com o
milagre. Deixem-me ler algo relevante para isso, logo do início do texto: “Todos os meios
materiais que aceitas como remédios para enfermidades corporais são reafirmações de
princípios mágicos” (T-2.IV.4:1-2). Isso está se referindo a intervenções como tomar um
remédio, ir a um médico, usar o que é considerado medicina da Nova Era, como
acupuntura, dieta, tomar vitaminas, fazer exercícios, permanecer na sua cabeça, ou seja o
que for.

Jesus continua: “Esse é o primeiro passo para se acreditar que o corpo faz a suas próprias
enfermidades. O segundo passo equivocado é tentar curá-lo através de agentes não-
criativos” (T-2.IV.4:3-5). O primeiro erro é acreditar que meu corpo está doente e que ele,
não minha mente, fez a doença. Uma vez que eu aceito isso, o segundo passo
automaticamente se segue: se meu corpo está doente, então, eu preciso fazer algo no nível
do corpo, no nível físico, para cuidar da doença. Essa passagem está dizendo que é um erro
fazer isso.

Mas então, Jesus diz, “Contudo, não decorre daí que o uso de tais agentes com propósitos

116
corretivos seja mau. Às vezes, a enfermidade tem um controle que é suficientemente forte
sobre a mente para tornar a pessoa temporariamente inacessível à Expiação” (T-2.IV.4:5-
9). Eu penso que Jesus está sendo gentil aqui – isso é verdadeiro para nós a maior parte do
tempo. O ego tem dito a nós que se nós aceitarmos a cura real – a aceitação da Expiação –
seremos destruídos. Aceitar o Amor e a presença do Espírito Santo é a cura real. Mas eu
quase sempre estou com medo demais disso porque o ego vem me dizendo que seu eu ficar
perto demais do Espírito Santo não serei curado, serei destruído. Uma linha do livro de
exercícios diz, “Pensas que és destruído, mas és salvo” (LE-pI.93.4:6-7).

Mas enquanto esse medo estiver dentro de mim – e eu fiz a doença em primeiro lugar para
manter a fonte real do medo oculta de mim -, ouvir que tudo está na minha mente e eu
apenas tenho que mudar minha mente será muito ameaçador. Meu ego me diz que se eu
voltar para minha mente, vou voltar a entrar em contato com a parte da minha mente que
escolhe atacar Deus, e Deus, Que também está lá na minha mente, vai me destruir por esse
ataque. Esse é o meu medo. Uma vez que esse medo está lá, Jesus diz, “Nesse caso, pode
ser sábio usar uma abordagem de transigência para com a mente e o corpo, na qual por
algum tempo se acredita que a cura venha de alguma coisa de fora. Isso é assim porque a
última coisa que pode ajudar aquele que tem a mente disposta ao que não é certo, ou o
doente, é fazer algo que aumente o seu medo” (T-2.IV.4:7-12).

Então, suponha que eu estou doente e sei o que o Curso ensina – que toda doença é uma
forma de falta de perdão. Mas eu não estou pronto ainda para perdoar você
verdadeiramente, para mudar minha mente sobre você. Eu sei, em última instância, que é
isso o que tenho que fazer, mas, enquanto isso, ainda estou com muita dor. A coisa mais
amorosa que posso fazer por mim mesmo nesse ponto então é ir ver um mágico, seja ele um
médico, um acupunturista, um curador, etc., que possa aliviar minha dor. O que quer que eu
acredite que vai me ajudar é o que poderá me ajudar. Portanto, ir a um médico é uma forma
de mágica que vai tirar minha dor. E ir a um médico também pode ser uma expressão de
união. Basicamente, estou dizendo ao médico, “A única ajuda que posso aceitar de Deus,
nesse ponto, é através de você”. Em retorno, o médico está dizendo para mim, “A única
ajuda que posso dar a você de Deus, nesse ponto, é através da minha mágica”. Então,
ambos estamos unidos, compartilhando um propósito comum de ajudar e ser ajudado. E
isso é cura. Mas, pelo fato de eu estar com medo demais da cura, eu acredito que o que vai
me ajudar é a forma de mágica que o médico está me dando.

Parte XXVI

Quantos professores de Deus são necessários para salvar o mundo? (MP-12)

Vamos agora voltar para a seção no manual que responde à pergunta, “Quantos professores
de Deus são necessários para salvar o mundo?” (MP-12). Não vamos nos voltar para essa
pergunta aqui, mas vamos pular para o quarto parágrafo, onde a seção começa a falar sobre
como o professor de Deus olha para o corpo. Basicamente, vamos contrastar o uso que o
ego faz do corpo – que é sempre para atacar, manter separado, e reforçar o sistema de
pensamento do ego – com o uso que o Espírito Santo faz do corpo como uma sala de aula.
O corpo em e por si mesmo não tem propósito ou significado, mas ele pode servir ao
propósito santo que o Espírito Santo dá a ele – ser uma sala de aula na qual aprendemos

117
nossas lições de perdão, de tal forma que o corpo então possa se tornar um instrumento ou
marionete através da qual a Voz do Amor fala.

(Parágrafo 4 – Sentenças 1-2) Entretanto, o que faz os professores de Deus é o seu


reconhecimento do propósito que é próprio do corpo.

Isso está realmente falando sobre o que estabelece alguém como um professor avançado de
Deus.

(Parágrafo 4 – Sentenças 2-5) À medida em que avançam em sua profissão, vêm a estar
cada vez mais certos de que a função do corpo é apenas deixar que a Voz de Deus fale
através dele para ouvidos humanos.

Portanto, eu quero deixar meu ego e meu investimento no corpo fora do caminho para que
o Amor de Deus fale através do meu corpo.

(Parágrafo 4 – Sentenças 5-7) E esses ouvidos carregarão para a mente do ouvinte


mensagens que não são desse mundo e a mente compreenderá devido à Sua Fonte.

As mensagens serão expressas nas formas do mundo, pois, de outra forma, não poderiam
ser compreendias aqui. Mas sua Fonte não é desse mundo. Elas vêm do amor ao invés de
do medo.

(Parágrafo 4 – Sentenças 7-11) Dessa compreensão virá o reconhecimento, nesse novo


professor de Deus, de qual é realmente o propósito do corpo, do único uso que realmente
existe para ele. Essa lição é suficiente para permitir a entrada do pensamento da unidade,
e o que é um é reconhecido como um.

O pensamento da unidade será refletido no reconhecimento de que tudo no mundo é visto


como servindo ao mesmo propósito. Isso não é para negar que esse é um mundo de
multiplicidade, como os hindus dizem, ou que todos são diferente e separados dentro do
mundo da ilusão, do mundo da forma. Mas somos todos unidos ao compartilhar um
propósito comum. Esse é o pensamento da unidade. Então, embora os corpos do mundo
pareçam testemunhar a separação e os interesses separados, quando dados ao Espírito
Santo, servem como uma sala de aula na qual aprendemos que somos todos realmente o
mesmo porque todos nós compartilhamos a mesma necessidade de voltar para casa.

(Parágrafo 4 – Sentenças 12-14) Os professores de Deus parecem compartilhar a ilusão da


separação, mas devido ao propósito para o qual usam o corpo, não acreditam na ilusão
apesar das aparências.

Um professor de Deus usa todas as formas do mundo, todas as ilusões de separação, mas
para um propósito diferente. Deixem-me ler algo que já citei, da Lição 155, do livro de
exercícios:

Há uma maneira de viver no mundo que não está aqui, embora pareça estar. Tu não mudas
de aparência, embora sorrias mais freqüentemente. A tua fronte é serena, os teus olhos

118
tranqüilos. E aqueles que caminham pelo mundo como tu, te reconhecem como um deles.
No entanto, aqueles que ainda não perceberam o caminho também te reconhecerão e
acreditarão que és igual a eles, como eras antes. (LE-pI.155.1)

Então, como um professor de Deus, eu ainda pareço com qualquer outra pessoa. A única
diferença é que eu sorrio mais e existe uma paz maior dentro de mim. E então, eu pareço
com qualquer outra pessoa, faço o que todos os outros fazem, e compartilho todas as
ilusões do mundo. Eu não me separo das ilusões do mundo, eu me uno a elas, trabalho
dentro delas, cumpro os mesmos papéis que todos os outros. A diferença é que eu percebo
que eles são apenas aparências, e que estamos compartilhando uma ilusão. Mas, enquanto
eu me uno no nível da ilusão da forma, dou um conteúdo diferente – o conteúdo do perdão
ou do amor.

Como já dissemos no início desse workshop, o objetivo é estar no mundo e, no entanto,


perceber que não somos dele. Um professor avançado de Deus sente-se totalmente
confortável com o corpo, e não o vê como um inimigo ou uma fonte de vergonha,
embaraço, ou prazer. Ele o vê simplesmente como um instrumento inerentemente neutro
que pode servir a um propósito santo. O professor avançado de Deus também se sente
totalmente confortável dentro de mundo e não o sente como hostil, mau, ameaçador ou
aprisionador. Ao invés disso, o mundo é visto como uma sala de aula.

Aqueles que sentem um desconforto em estar no mundo e no corpo ainda estão, de alguma
forma, aprisionados, porque estão tornando o mundo e o corpo reais. Como um professor
de Deus, meu objetivo é estar nesse mundo e me sentir confortável nele, mas estar
confortável porque eu reconheço que não há nada no mundo que eu quero ou preciso ou
tenha que evitar. Então, eu posso andar nesse mundo em paz porque sei que sou uma
criança da paz, e que o Príncipe da Paz está caminhando comigo. É assim que o professor
avançado de Deus é diferente. Mas eu iria me parecer com todos os outros, a menos que me
seja dito especificamente para fazer algo diferente. E isso é relativamente raro. Retornando
ao manual:

(Parágrafo 5 – Sentenças 1-5) A lição central é sempre essa: seja para o que for que o
corpo sirva para ti, é isso que ele virá a ser para ti. Usa-o para o pecado ou para o ataque
[o que, é claro, é especialismo], que é o mesmo que pecado, e o verás como pecaminoso.
Por que é pecaminoso é fraco e, sendo fraco, sofre e morre.

Esse é o uso do ego para o corpo. Se eu ouvir a voz do meu ego e usar o corpo como uma
arma, como uma forma de roubar o mundo, então, estarei usando-o para propósitos de
pecado e ataque e, conseqüentemente, vou vê-lo como pecaminoso. Eu preciso também ver
a mim mesmo como pecaminoso, porque estou usando o corpo para um propósito
pecaminoso. Se o corpo é pecaminoso, precisa ser fraco, porque está separado de Deus –
pecaminosidade é realmente separação. E, se eu sou separado de Deus, Que é minha única
força, então, preciso ser fraco. E se o corpo é fraco, vai sofrer e morrer. Uma vez que eu
acredito que meu corpo é fraco e pecaminoso, preciso acreditar que ele vai sofrer e morrer.

Essa é a ilusão sob a qual todos nós funcionamos. Estamos usando o corpo para servir ao
propósito pecaminoso do ego, e então, o corpo se torna identificado com esse propósito. E,

119
é claro, uma vez que nos identificamos com o corpo, então, também nos vemos como
pecaminosos, fracos e capazes de sofrer e de morrer. Mas isso realmente não tem nada a ver
com o corpo. Isso tem a ver com o propósito que nós demos a ele.

E agora, nós ouvimos o uso do Espírito Santo para o corpo:

(Parágrafo 5 – Sentenças 5-6) Usa-o para trazer o Verbo de Deus àqueles que não o têm, e
o corpo vem a ser santo.

Quando o corpo é usado como um instrumento de salvação ou de perdão – essa é a “Palavra


de Deus” – então, ele se torna santo. Não porque o corpo em si mesmo seja santo, mas seu
propósito agora é.

(Parágrafo 5 – Sentenças 6-7) Por ser santo, não pode adoecer nem pode morrer.

Lembrem-se novamente de que o corpo não fica doente ou morre. A mente dá ordens ao
corpo. E, se a única Voz na minha mente dando ordens ao corpo for aquela da santidade,
então, o corpo não pode ficar doente, porque a doença é uma expressão da culpa. Se não há
culpa, mas apenas santidade do Espírito Santo na minha mente, então, meu corpo não pode
se tornar uma expressão da culpa, o que significa que não pode ficar doente.

(Parágrafo 5 – Sentenças 7-9) Quando sua utilidade finda, ele é deixado de lado e isso é
tudo. A mente toma essa decisão assim como toma todas as decisões que são responsáveis
pela condição do corpo.

Nós vemos aqui novamente uma afirmação muito clara de que o corpo não faz nada; ele
simplesmente cumpre os desejos da mente. Então, a morte significa apenas que a utilidade
do corpo terminou. Se eu participo de uma aula na universidade, quando passei por todo o
curso, fiz todas as lições, aprendi tudo o que o professor me passou, então, completei o
curso e o encerrei. É isso o que é. O corpo é deixado para trás uma vez que tenha servido ao
seu propósito como uma sala de aula. Isso é tudo o que a morte é.

(Parágrafo 5 – Sentenças 9-12) Contudo, o professor de Deus não toma sozinho essa
decisão. Fazê-lo seria dar ao corpo outro propósito além daquele que o mantém santo.

A decisão é tomada junto com o Espírito Santo. Se eu decidir por conta própria, estarei
tomando a decisão com o meu ego de novo e de novo. Então, eu realmente não posso
decidir por conta própria, como o texto explica (T-30.I.14). Eu decido ou com o meu ego
ou com o Espírito Santo. Tomar sozinho a decisão de deixar meu corpo realmente significa
que faço isso com o ego, ao invés de com o Espírito Santo. E isso, é claro, é o problema
original – nós decidimos por conta própria e nos separamos de Deus. Nós, com efeito,
dissemos a Deus, “Eu não preciso mais de Você”. Se eu tomar uma decisão com o meu ego
ou, em outras palavras, sem o Espírito Santo, estarei dando ao corpo um outro propósito:
representar o sistema de pensamento do ego de separação e ataque.

(Parágrafo 5 – Sentenças 12-15) A Voz de Deus vai dizer-lhe quando estará cumprido o seu
papel, assim como Ela lhe diz qual é a sua função. Ele não sofre nem por ir nem por ficar.

120
Agora a doença é impossível para ele.

Se minha mente estiver unida em amor com o Espírito Santo, eu serei guiado ou a ficar
mais um pouco no corpo, ou a deixá-lo. Eu não vou sentir dor ou sofrimento, em qualquer
uma das duas formas; isso não vai fazer absolutamente diferença nenhuma. Como eu já
disse, não teria feito diferença para Jesus, no dia em que foi crucificado, se ele tivesse sido
guiado a dar um passeio ao invés disso. Então, nós apenas fazemos uma coisa ou outra, e
não experienciamos qualquer dor, sofrimento ou prazer associados com qualquer uma das
atividades. O prazer real vem de nos identificarmos com a Vontade de Deus, e a dor real ou
sofrimento vem de nos dissociarmos da Vontade de Deus.

Agora, isso não significa que podemos viver eternamente dentro do corpo. Nada menos do
que a eternidade, em princípio, seria possível. Uma vez que podemos aceitar a premissa
subjacente de que o mundo não está aqui de forma alguma, e que a mente não está no corpo
mas simplesmente diz ao corpo o que fazer, todos esses pensamentos se tornam muito
claros e se seguem logicamente às premissas originais.

(Parágrafo 6 – Sentença 1) A unicidade e a doença não podem coexistir.

Essa é uma escolha de palavras interessante, porque a doença aqui obviamente está sendo
associada com a falta de unicidade, ou separação. Essa é outra forma de dizer que eu não
posso ouvir duas vozes simultaneamente. Se eu não quiser ouvir a Voz do Espírito Santo,
então, aumento o volume do ego, o que abafa o Espírito Santo. É claro, o oposto também é
verdadeiro.

(Parágrafo 6 – Sentenças 1-4) Os professores de Deus escolhem olhar para os sonhos por
algum tempo. É uma escolha consciente. Pois aprenderam que todas as escolhas são feitas
conscientemente,com total ciência de suas conseqüências.

Os professores de Deus conscientemente escolhem viver no mundo do corpo. A Lição 136,


“A doença é uma defesa contra a verdade” afirma explicitamente que as defesas – e as
doenças são vistas como uma defesa – são escolhidas conscientemente. Então, com a
mesma rapidez com que são escolhidas, o ego joga um véu de esquecimento ou negação, e
nós esquecemos que as escolhemos (LE-pI.136.3-4). De forma similar, quando nossa mente
egóica fez esse mundo, nós então nos esquecemos que o fizemos. E, então, parece que eu
subitamente vim para o mundo, que existe independentemente da minha mente. É o mesmo
com a doença – nós nos esquecemos que escolhemos estar doentes, e então parece que a
doença nos escolheu. Então, estou doente porque um germe ou um vírus está por perto, mas
não sou responsável por isso.

O professor de Deus aprendeu que tudo é uma escolha consciente. Quando dizemos que
algo está fora da nossa consciência, ou inconsciente, estamos realmente falando sobre os
efeitos do medo. O inconsciente não é um lugar – é uma dinâmica ou processo. E é uma
dinâmica de medo. Eu escolhi ver, experienciar ou sentir algo. E, então, fico com medo
disso e digo que não quero olhar para ele. Nesse ponto, o neguei. Nós dissemos que o
reprimimos e que ele se foi para o inconsciente, como se houvesse um celeiro em nossas
mentes onde os pensamentos são armazenados. Na realidade, tudo isso é medo. Então, um

121
professor avançado de Deus não tem medo, e não tem inconsciente. Alguém como Jesus é
totalmente consciente de tudo o tempo todo.

(Parágrafo 6 – Sentenças 5-6) O sonho diz o contrário, mas quem depositaria sua fé em
sonhos uma vez reconhecidos pelo que são?

O sonho, que é o mundo do ego, diz, o contrário: essas escolhas não foram feitas de forma
consciente e então, de fato, eu não as fiz de forma alguma. As coisas fizeram algo a mim.
Eu sou uma vítima das coisas que acontecem fora do meu controle. E isso é essencial se o
plano do ego vai funcionar, porque eu não iria colocar minha fé no mundo se me lembrasse
de que ele foi inventado. Eu só posso por fé no mundo – o que meu ego quer que eu faça
como uma defesa contra Deus – se acreditar que ele é real. Eu posso acreditar que o mundo
é real apenas se me esquecer de que eu o fiz e que ele não tem existência fora da minha
mente.

Então, a doença é uma defesa contra a verdade, porque é uma forma de me proteger contra
Deus e culpar você por meu sofrimento e dor. O texto explica em várias passagens que a
doença realmente é minha forma de atacar você (e.g., T-27.I.4). Se eu vou usar a doença
como uma defesa, e usá-la de forma bem sucedida, preciso acreditar que ela é real. Se eu
me lembrasse de onde a doença vem, ela não poderia mais me ajudar porque eu iria
perceber que foi tudo inventado, e que a doença está realmente na minha mente. E se minha
atenção for redirecionada para dentro da minha mente, em algum ponto, vou me lembrar
Quem mais está dentro dela. E é disso que temos tanto pavor – do “Quem mais”.

Para que a doença seja bem sucedida como defesa, é imperativo que eu acredite que sua
fonte está fora da minha mente. É isso o que significa a linha, “O sonho diz o contrário,
mas quem depositaria sua fé em sonhos uma vez reconhecidos pelo que são?”. O que eles
realmente são é uma projeção do que está dentro da minha mente.

(Parágrafo 6 – Sentenças 6-7) A consciência do sonhar é a função real dos professores de


Deus.

Isso é a mesma coisa, como já mencionamos, de se tornar um sonhador lúcido. Quando nós
dormimos à noite, é possível treinar nossas mentes para nos tornamos conscientes de que
estamos dormindo – isso é sonho lúcido. Estou sonhando, mas dentro do sonho, sei que
estou sonhando. O propósito do Curso é nos ensinar a nos tornar sonhadores lúcidos no
mundo, estarmos conscientes de que isso é um sonho e nada mais.

(Parágrafo 6 – Sentenças 7-9) Eles observam as figuras dos sonhos ir e vir, se deslocar e
mudar, sofrer e morrer. Apesar disso, não são enganados pelo que vêem.

Nós não negamos tudo o que acontece no mundo. Nós não negamos o que parece estar
sofrendo, morrendo e todas as outras mudanças que acontecem no mundo. Mas não somos
enganados por elas, porque sabemos que estamos observando apenas figuras de sonho.

(Parágrafo 6 – Sentenças 9-11) Reconhecem que contemplar uma figura de sonho como
doente e separada não é mais real do que considerá-la saudável e bonita.

122
Existem algumas afirmações muito claras nessa passagem. A alegria está em saber que
nada aqui é bom, nada aqui é mau. Nada aqui é saudável, nada aqui é doente. Nada aqui
está vivo, nada aqui está morto. Como um professor avançado de Deus, eu vivo com essa
compreensão. Eu vivo no mundo, funcionando plenamente como uma marionete junto com
todas as outras marionetes, fazendo o que todos os outros fazem. Mas percebo que tudo isso
é um sonho e que é tudo inventado. E isso torna minha mente totalmente acessível ao Amor
de Deus dentro dela, o que significa que tudo o que eu faço será amoroso e confortador.
Não como o mundo o julga, porque o amor e o conforto do mundo sempre têm um anzol –
um preço que tem que ser pago por eles.

O amor que vem de Jesus não tem preço ou custo associados a ele. Então, eu posso estar
totalmente presente para toda dor e sofrimento porque percebo que não existe sofrimento e
dor, mas apenas uma crença nele. O poder do amor na minha mente então se estende para a
crença errônea na sua mente e a cura. Eu simplesmente sou um lembrete de onde a verdade
e a cura estão.

(Parágrafo 6 – Sentenças 11-13) E é isso que os professores de Deus reconhecem por trás
do sonho, além de todas as aparências e ainda assim como algo que, com toda certeza,
lhes pertence.

Sonhos produzem um mundo de multiplicidade, separação e dualidade – não unidade.


Então, eu vivo no mundo, mas sei que não sou dele. Eu sei que sou do Céu, da unidade, e
que nunca deixei a Casa do meu Pai. E, no entanto, eu ainda vivo dentro do mundo de
sonhos. Esse é o desafio – estar totalmente presente no mundo de sonhos, mas para ser
levado por qualquer coisa que aconteça aqui. Estar unido com o Amor de Deus na minha
mente me permite fazer isso.

Parte XXVII

Qual a relação entre a expiação e a cura? (MP-22)

A seção que vamos examinar agora fala muito sobre o professor de Deus em termos de
doença e cura. Vamos começar perto do fim do primeiro parágrafo:

(Parágrafo 1 – Sentenças 10-13) Perdoar é curar. O Professor de Deus aceitou a Expiação


para si mesmo como sua única função. Assim sendo o que existe que ele não possa curar?
Que milagre pode deixar de ser dado a ele?

Como um professor avançado de Deus, eu percebo que não tenho outra função além de ter
minha mente curada. Minha função não é curar outros, ou trazer paz e amor ao mundo, ou
salvar pessoas ou coisas no mundo. Minha função é simplesmente aceitar a Expiação para
mim mesmo. Uma vez que a cura tenha sido aceita na minha mente, não há nada que eu não
possa curar, porque minha mente é unida a todas as coisas. Isso não significa que o mundo
físico vá mudar necessariamente, que as pessoas ao redor de mim vão jogar fora suas
muletas e começar a andar, etc. Simplesmente significa que o pensamento de cura dentro da
minha mente está unido com a necessidade de cura na mente de todas as outras pessoas.

123
(Parágrafo 2 – Sentenças 1-3) O progresso do professor de Deus pode ser lento ou rápido,
depende de que ele reconheça a total abrangência da Expiação ou, por algum tempo,
exclua daí certas áreas problemáticas.

Nós já discutimos essa idéia quando examinamos a “fidelidade” nas características de um


professor de Deus. O professor avançado de Deus tem fé de que esse princípio inclui todas
as situações sem exceção – o que tem que fazer! Excluir certas áreas e dizer que eu posso
perdoar tudo exceto o aborto, ou o genocídio, ou o preconceito, ou exceto isso ou aquilo, é
tornar o erro real, e dizer que existe uma hierarquia de ilusões – a primeira lei do caos.

Meu progresso como um professor de Deus e como um estudante do Curso é marcado por
minha habilidade de generalizar essa lição de perdão para tudo e todas as pessoas, e não dar
a nada nem a ninguém nesse mundo poder sobre o princípio da Expiação. Se a separação de
Deus nunca aconteceu, - que é o que o princípio afirma -, então, nada nesse mundo pode ser
real porque tudo nele fala de separação.

Então, ao atravessarmos nosso dia, queremos ficar cada vez mais perceptivos a essas coisas
que apertam nossos botões, que nos aborrecem, que nos deixa com medo, culpados ou
doentes. E nós queremos estar cientes de que quando essas coisas acontecem, é porque nos
esquecemos de que o Amor de Deus é tudo o que existe. Tudo o mais que pareça diferente
nesse mundo – sofrimento, dor, mal, pecado – precisa estar fora do Seu Amor. Portanto,
não existe; não tem poder sobre nossas mentes, e não tem poder de tirar o Amor e a paz de
Deus que realmente somos.

O desafio, novamente, é não fazer exceções e, quando fizermos, estar cientes delas sem
sentimento de culpa. Eu simplesmente preciso dizer, “Eu fiz uma exceção porque existe
uma parte da minha mente que ainda tem medo do Amor de Deus. E, então, estou usando
isso como uma forma de racionalizar a decisão que tomei de manter o Amor de Deus
separado de mim”.

(Parágrafo 2 – Sentenças 3-6) Em alguns casos, há uma consciência repentina e completa


da aplicabilidade perfeita da lição da Expiação a todas as situações, mas isso é
comparativamente raro.

Jesus está dizendo que é possível que alguém possa subitamente mudar e entender que tudo
é ilusório, mas que isso não acontece com freqüência. Com muito mais freqüência, isso é
um processo.

(Parágrafo 2 – Sentenças 6-8) O professor de Deus pode ter aceito a função que Deus lhe
deu muito tempo antes de ter aprendido tudo o que a sua própria aceitação lhe oferece.

Eu posso ter aceito que minha função é aprender a perdoar, a curar minha mente e aceitar a
Expiação, mas não estou realmente consciente do que isso verdadeiramente requer – o que
usualmente é uma benção! A seção que nós pulamos, chamada “O desenvolvimento da
confiança” (MP-4.I-A), fala sobre isso como um processo envolvendo seis estágios. Uma
parte das nossas mentes pode ter aceito nossa função, mas nós não estamos realmente

124
cientes do que isso envolve. E, então, os seis estágios descrevem o processo de se tornar
cada vez mais consciente do que realmente significa liberar o que nunca existiu.

(Parágrafo 2 – Sentenças 8-11) Somente o fim é certo. Em qualquer lugar ao longo do


caminho, o reconhecimento da abrangência total, que é necessário, pode alcançá-lo. Se o
caminho parece longo, que ele fique contente.

Em outras palavras, Jesus está nos dizendo para não sermos impacientes e não nos
julgarmos durante, ou nos sentirmos culpados por ainda não sermos perfeitos.

(Parágrafo 2 – Sentenças 11-12) Já decidiu em que direção quer seguir. O que mais lhe foi
pedido?

O livro de exercícios basicamente nos ajuda a decidir a direção que queremos tomar,
ajudando-nos a ver que estaremos melhor seguindo o caminho do Espírito Santo ao invés
do caminho do ego. Isso não significa que, quando completarmos o livro de exercícios,
estaremos a um passo do Céu, como temos visto. É por isso que o Curso diz sobre si
mesmo, “Esse curso é um início, não um fim” (LE-pII.ep.1:1).

(Parágrafo 2 – Sentenças – 12-13) E tendo feito o que foi requisitado [um pouco de boa
vontade], acaso Deus deixaria de dar-lhe o resto?

E isso realmente é confiança, o que nos leva de volta ao que dissemos no início. Nós
desenvolvemos a confiança e a paciência de que, uma vez que tenhamos iniciado esse
caminho, vamos completá-lo porque o Amor de Deus está caminhando conosco, passo a
passo. Só é necessário estarmos cientes de que estamos envolvidos em um processo, uma
jornada, com o Amor do Espírito Santo, Que vai nos ensinar dia a dia o que precisamos
aprender. E não existe punição por ficarmos com medo ou nos sentirmos culpados, ou por
um dia dizermos, “Eu não vou aprender isso; vou fazer isso do jeito do ego: quero ficar
irritado, deprimido, cruel e culpado”. Nós podemos fazer tudo isso sem culpa ou medo. A
única perda ou punição nesse dia será que vamos nos sentir miseráveis – isso é tudo.
Estamos escolhendo ser miseráveis porque estamos com medo demais da paz de Deus. E
tudo bem – isso não é um pecado.

(Parágrafo 3 – Sentenças 1-2) É preciso compreender que o perdão é cura, se o professor


de Deus quer progredir.

Em outras palavras, não existe diferença. Perdão e cura são apenas formas diferentes. Ficar
irritado e atacar você lá fora é um erro, e o perdão o desfaz. Basicamente, eu peguei a culpa
na minha mente e a projetei no seu corpo para justificar meu ataque a você. O perdão é o
nome que o Curso dá para o desfazer disso.

O processo é exatamente o mesmo quando eu projeto minha culpa no meu corpo e fico
doente, exceto que chamamos isso de doença ao invés de raiva. E, então, a solução nesse
caso é chamada de cura, mas a dinâmica e o processo são essencialmente os mesmos.

(Parágrafo 3 – Sentenças 2-3) A idéia de que um corpo pode adoecer é um conceito central

125
no sistema de pensamento do ego.

Isso torna o corpo real, torna a punição de Deus real, e mantém a mente protegida.

(Parágrafo 3 – Sentenças 3-6) Esse pensamento dá autonomia ao corpo, separa-o da mente


e mantém intocada a idéia do ataque. Se o corpo pudesse adoecer, a Expiação seria
impossível.

A idéia de que o corpo está doente faz com que pareça que o corpo é separado da mente.
Então, eu não acredito que minha mente fez meu corpo ficar doente, mas que foi um germe,
um vírus, ou algo mais no mundo. E, portanto, o corpo é separado da mente, e o ataque é
mantido inviolado ou sacrossanto. Em outras palavras, o ataque foi tornado real e nunca
pode ser revertido.

Se o corpo pode ficar doente, então, a separação e o ataque são reais, e a Expiação é uma
mentira. Não é assim que o mundo olha para a expiação, obviamente. A expiação, no
judaísmo e no cristianismo conota sofrimento e sacrifício como redentores, e como o que
Deus quer. Mas essa é a expiação do ego. Não é a Expiação do Espírito Santo, que corrige
o erro mostrando que ele nunca existiu. A expiação do mundo “corrige” o erro
estabelecendo o pecado como real, e então dizendo que temos que sofrer e nos sacrificar
para expiá-lo, o que, é claro, mantém o pecado real. Ela não libera o pecado nem o desfaz.

(Parágrafo 3 – Sentenças 6-8) Um corpo capaz de ditar à mente o que fazer, de acordo com
o que lhe parece adequado, meramente toma o lugar de Deus e prova que a salvação é
impossível.

O ego reverteu causa e efeito. De fato, a mente é a causa e o corpo é o efeito. Minha mente
me faz ficar doente. Mas o ego não quer que eu me lembre disso, então, ele vira a relação
causal de cabeça pra baixo. Agora, meu corpo é a fonte da doença, o que tem um efeito em
mim, e então eu experiencio dor. Se isso fosse verdade, então, meu corpo teria todo o
poder. Ele teria usurpado o papel de Deus , e a salvação seria impossível. Se a salvação só
pode vir de Deus, e Deus foi substituído pelo ego, então, apenas a salvação do ego é
possível agora. E, é claro, ela não salva nada de forma alguma – ela meramente condena.

(Parágrafo 3 – Sentenças 8-11) O que sobra então para curar? O corpo veio a ser senhor
da mente. Como poderia a mente retornar ao Espírito Santo a não ser que o corpo fosse
morto? E quem iria querer a salvação a esse preço?

E, no entanto, isso é exatamente o que o mundo tem sempre escolhido. O corpo é visto
como a causa e a mente como o efeito. O corpo é a prisão na qual a mente está aprisionada.
E a mente pode ser libertada apenas se o corpo for morto. Então, por exemplo, muitos
cristãos têm buscado sua morte e a vinda do Senhor Jesus para trazê-los de volta – alguns
até rezam pela morte, como se o corpo fosse o problema.

(Parágrafo 4 – Sentenças 1-6) É certo que a doença não parece ser uma decisão. E
ninguém, de fato, acreditaria que quer ser doente. Talvez possa aceitar a idéia em teoria,
mas raramente, talvez nunca, ela é consistentemente aplicada a todas as formas específicas

126
de doença, tanto na percepção individual de si mesmo, quanto na percepção de todos os
outros.

Acho isso extremamente importante porque é obvio que esse é o caso. Mesmo que
possamos aceitar em princípio que a mente torna o corpo doente, é muito difícil aplicar esse
princípio a todas as situações, sem exceção, envolvendo a nós mesmos e a todos os outros
no mundo. E, portanto, esse é um dos selos de qualidade de um professor avançado – o
reconhecimento de que esse princípio não tem exceções.

(Parágrafo 4 – Sentenças 6-9) Nem é nesse nível que o professor de Deus invoca o milagre
da cura. Ele não vê nem a mente nem o corpo, vendo apenas a face de Cristo brilhando
diante de si, corrigindo todos os equívocos e curando toda percepção.

Em outras palavras, eu não tomo conhecimento da doença no corpo nem na mente – ambas
são igualmente ilusórias. O corpo não está doente e a mente não está doente porque não
existe pensamento de separação. Eu olho direto para o princípio da Expiação: o erro, a
separação de Deus nunca aconteceu. A culpa na minha mente é irreal, e, portanto, a
projeção da culpa sobre meu corpo também precisa ser irreal. “A face de Cristo” não é nada
literal ou físico – é simplesmente a face da ausência de culpa ou inocência.

(Parágrafo 4 – Sentenças 9-11) A cura é o resultado do reconhecimento, pelo professor de


Deus, de quem é que tem necessidade da cura.

Não é você – é a minha mente que precisa de cura.

(Parágrafo 4 – Sentenças 11-13) Esse reconhecimento não tem nenhuma referência


especial. É verdadeiro em relação a todas as coisas que Deus criou. Nele todas as ilusões
são curadas.

Como um professor de Deus, eu reconheço que se eu percebo você como doente ou com
dor, é minha mente que precisa de cura.
Parte XXVIII

(Parágrafo 5 – Sentenças 1-3) Quando um professor de Deus falha em curar, é porque se


esqueceu de Quem ele é. Assim, a doença do outro vem a ser a sua.

Esse é o princípio central da cura. Eu falho em curar se tornei seu erro real. Eu vejo sua
doença e seu sofrimento como reais, e me esqueci de Quem eu sou, e agora estou tão
doente quanto você, porque estou me identificando com meu ego.

(Parágrafo 5 – Sentenças 3-9) Ao permitir que isso aconteça, ele se identifica com o ego de
outro, tendo-o, desse modo, confundido com um corpo. Fazendo isso, recusou-se a aceitar
a Expiação para si mesmo e dificilmente pode oferecê-la ao seu irmão em nome de Cristo.
De fato, não será capaz de reconhecer seu irmão em absoluto, pois seu Pai não criou
corpos e assim ele está vendo em seu irmão somente o irreal.

Essa é outra afirmação clara no Curso de que assim como Deus não criou o mundo, Ele não

127
criou corpos. Então, se estou vendo você como um corpo – o que eu preciso estar fazendo
se o estou vendo como doente – eu preciso não estar vendo-o como Deus o criou. Estou
vendo você como uma ilusão, o que significa que estou vendo-o como irreal porque quero
ver a mim mesmo como irreal. Estou com medo da realidade de Quem eu realmente sou.
Estou com medo do amor.

(Parágrafo 5 – Sentenças 9-12) Equívocos não corrigem equívocos e a percepção


distorcida não cura. Volta atrás agora, professor de Deus. Tu erraste. Não mostres o
caminho, pois o perdeste. Volta-te rapidamente para o teu Professor e permite que sejas
curado.

Essa é uma clara afirmação do processo. Eu me torno ciente de quando meu ego entrou no
caminho. E eu sei que por essas distorções de percepção, por ver o sofrimento e a doença
como reais, eu preciso estar me sentindo culpado em relação a algo, algo que não quero
olhar, algo que quero corrigir. Então, se existe algo que eu quero fazer em relação a alguma
coisa, de uma forma ou de outra, minha percepção está doente. E, portanto, eu preciso dar
um passo atrás em relação ao meu ego e dizer, “Deve existir outra forma de olhar para isso.
Por favor, ajude-me”.

(Parágrafo 6 – Sentenças 1-2) A oferta da Expiação é universal. Ela é igualmente aplicável


a todos os indivíduos em todas as circunstâncias.

Novamente, não há ordem de dificuldade em milagres. Esse princípio funciona não


importando o que está acontecendo no mundo, porque não existe mundo fora da minha
mente. Está tudo dentro da minha mente. E cada problema que eu percebo no mundo, não
importando sua forma, surge porque eu primeiro olhei dentro da minha mente e percebi o
problema lá. O problema é minha culpa e meu medo da punição de Deus. Então, tudo o que
tenho que fazer é trazer minha mente de volta àquele ponto onde escolhi a culpa e o medo e
dizer, “Não é o meu ego que está certo; é o Espírito Santo. Eu agora posso fazer outra
escolha”. Nesse ponto, todos os meus problemas desaparecem. Agora, as formas nas quais
eles aparecem no mundo não precisam necessariamente mudar, mas os problemas
desaparecerão na minha percepção. Ao invés de ver problemas lá fora que precisam ser
resolvidos, modificados, curados ou consertados, eu vejo ou uma expressão de amor ou um
pedido de amor, que são respondidos igualmente pelo amor na minha mente. E isso é tudo o
que eu percebo.

(Parágrafo 6 – Sentenças 2-3) E nela está o poder de curar todos os indivíduos de todas as
formas de doença.

Novamente, isso não está se referindo a nada externo ou físico. A forma da doença é
simplesmente uma máscara que esconde a doença da culpa e da separação na mente. O
objetivo da cura não é mudar a forma. Se você está fisicamente doente, sua doença está
vindo de um pensamento doente de culpa na sua mente. Então, quando minha mente é
curada para que só o amor flua através dela e isso for tudo o que eu expressar a você, uma
vez que sua mente é unida com a minha, então, sua mente também é curada. Nesse ponto,
se eu escolher aceitar essa união e amor, a forma da sua doença vai desaparecer. Quer você
escolha aceitá-la ou não, é sua escolha. Esse é o significado dessa passagem.

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Então, minha mente cura o pensamento, não a forma, da doença na sua mente. Eu não
posso curar a forma da doença uma vez que foi sua mente que a fez. Eu não a fiz. Mas eu a
curo desfazendo o pensamento de doença que fez a forma da doença, e esse pensamento de
doença em sua mente é o pensamento da separação. Se eu me uno a você e aceito a união e
unicidade que estão lá, então, sua mente é curada desse pensamento de separação. E você
tanto pode aceitar a cura quanto pode não aceitá-la. Se você a aceitar, a forma da doença
vai desaparecer. Se não, então, tanto a forma quanto o pensamento da separação
permanecem. Mas o pensamento da cura também permanece até o momento em que você
possa aceitá-lo.

(Parágrafo 6 – Sentenças 4-5) Não acreditar nisso é ser injusto para com Deus e, portanto,
infiel para com ele.

Obviamente, Deus não nos percebe como sendo infiéis a Ele, mas em nossas mentes, somos
infiéis a Deus porque nossa crença é de um ataque a Ele. Isso está dizendo, “Existe algo
nesse mundo que tem o poder de contrariar o Seu Amor”, ou, como o texto afirma, “Existe
um poder além da onipotência” (T-29.VIII.6:2). Existe um poder nesse mundo que é maior
do que o poder do Amor, e esse seria o poder do ego.

(Parágrafo 6 – Sentenças 5-6) Uma pessoa doente se percebe como separada de Deus.
Queres vê-la separada de ti?

Toda doença vem de uma crença básica de que somos separados de Deus. De outra forma,
não ficaríamos doentes. A doença não é definida por nada do corpo. Ele é definida por um
pensamento na mente.

(Parágrafo 6 – Sentenças 6-9) Tua tarefa é curar o senso de separação que a fez doente.
Tua função é reconhecer para ela que o que acredita acerca de si mesma não é a verdade.
É o teu perdão que tem que mostrar isso a ela.

E, novamente, não é o que dizemos ou fazemos. Nós estamos simplesmente sendo um


lembrete da verdade – o perdão faz isso. O perdão limpa o caminho de todos os
impedimentos, obstáculos e bloqueios em nossas mentes que iriam impedir o Amor e a
verdade de Deus de fluírem através de nós. Portanto, essa passagem afirma claramente que
tudo o que precisamos fazer é perdoar. O perdão torna todas as curas possíveis.

(Parágrafo 6 – Sentenças 9-12) A cura é muito simples. A Expiação é recebida e oferecida.


Tendo sido recebida, tem que ser aceita. É no recebimento, portanto, que está a cura. Tudo
o mais tem que decorrer deste único propósito.

É interessante que isso não diz, “A Expiação é oferecida e recebida”. A razão pela qual isso
está invertido é que é simultâneo. A cura é simples porque eu aceito a Expiação dentro de
mim mesmo, eu a ofereço a você, e você a recebe. Essa é outra forma de entender essas
passagens. Sou eu que recebo a Expiação e então a ofereço a você. Isso pode ser entendido
de uma forma ou de outra.

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(Parágrafo 7 – Sentenças 1) Quem pode limitar o poder do próprio Deus?

O ego diz, “Eu posso limitar o poder do próprio Deus”. A doença diz, “Eu posso limitar o
poder do próprio Deus”. O mundo diz, “eu posso limitar o poder do próprio Deus”. O
mundo todo se torna um símbolo do anti-Cristo, no sentido de que existe um poder além da
onipotência do Céu. Quando o ego diz, “Eu posso fazer um mundo no qual Deus não pode
entrar”, ele está afirmando sua crença de que tem o poder de manter Deus de fora.

Agora, a verdade é que Deus não pode entrar no mundo porque não há mundo. Como Deus
poderia entrar em uma ilusão? Mas não é isso o que o ego nos diz. O ego nos diz que
vamos fazer um mundo onde Deus não pode entrar porque somos mais poderosos do que
Ele. Então, basicamente, Deus é impotente.

O ego diz, “Você vê, nós podemos fazer todas as coisas terríveis no mundo e Deus não
pode intervir. Isso só mostra a você o quanto esse seu Deus é poderoso! Ele não pode fazer
nada!”. O poder real de Deus é que ele é a única verdade e realidade, e, portanto, Ele não
sabe de nada fora de Si Mesmo. Esse é o poder de Deus. O ego vira isso de ponta cabeça e
afirma que Deus é impotente e que ele mesmo é todo poderoso.

(Parágrafo 7 – Sentenças 1-4) Quem, então, pode dizer quem pode ser curado de quê e o
que tem que permanecer além do poder de Deus de perdoar? Isso, de fato, é insanidade.

No entanto, isso é o que todos nós dizemos. Nós dizemos que algumas pessoas são
resistentes à cura, algumas doenças não podem ser curadas, etc. Em outras palavras, nós
fazemos uma hierarquia de ilusões: “Existe uma ordem de dificuldade em milagres. O
Amor de Deus pode ajudar em alguns lugares, com algumas pessoas, com alguns
problemas, mas não com todos eles”. Nós dizemos isso porque realmente acreditamos que
existe um mundo aqui.

O Amor de Deus cura tudo porque existe um único problema – a crença de que existe um
problema e de que existe um lugar fora desse Amor. O Amor de Deus é a afirmação que diz
que não existe nada lá fora. Nesse princípio, na aceitação dessa verdade, todos os
problemas desaparecem.

Mas nós fizemos leis de cura e leis de Deus. Nós fizemos leis sobre o que o Amor de Deus
vai fazer e qual será a punição de Deus. Todas as teologias fazem isso. Essas são tentativas
do ego de controlar Deus e basicamente brincar de Deus. Nós dizemos a Deus o que Ele
deveria pensar e o que Ele deveria fazer. A seção “As leis do caos” (T-23.II) é
provavelmente a afirmação mais clara no Curso sobre a insanidade disso.

(Parágrafo 7 – Sentenças 4-5) Não cabe aos professores de Deus traçar limites para Deus,
porque não lhes cabe julgar o Seu Filho.

O julgamento é algo que o ego fez. Nós estamos julgando quando tomamos partido, ou
dizemos que um problema é pior do que o outro.

(Parágrafo 7 – Sentenças 5-6) E julgar o Seu Filho é limitar o seu Pai. Ambos são

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igualmente sem significado.

Tal pai, tal filho. Se nós dizemos que o Filho de Deus é limitado ou que o Filho de Deus é
um corpo, então, precisamos estar dizendo que Deus é limitado ou que Ele é um corpo
também. A idéia de que poderíamos julgar o Filho de Deus e de que poderíamos limitar
Deus são igualmente sem significado.

(Parágrafo 7 – Sentenças 7-8) No entanto, isso não será compreendido enquanto o


professor de Deus não reconhecer que ambos são o mesmo equívoco.

Agora, entender que ambos são o mesmo erro significa reconhecer que tornar qualquer
aspecto do mundo real por julgar aspectos da Filiação – alguns estão doentes, alguns estão
bem; alguns são bonitos, outros são feios; alguns são velhos, outros são jovens; alguns
nasceram, outros morreram; alguns são bons, outros são maus – é limitar Deus.

Não é assim que o mundo normalmente pensa. Mas é isso o que o Curso está dizendo. O
Filho precisa ser como o Pai. Se Deus é total unidade, perfeição e Amor, então, Seu Filho,
Cristo, precisa ser exatamente como Ele – sem quaisquer diferenças, sem quaisquer
exceções. Então, se eu vejo o Filho como limitado e fragmentado, preciso estar dizendo
exatamente o mesmo sobre Deus. Entretanto, se eu digo que Deus é perfeito e todo-
amoroso, então, o mesmo precisa ser verdadeiro em relação a Cristo. Segue-se a isso que
nada que eu perceba como diferente daquele amor e perfeição deve ser real porque não
pode ser de Deus.

Esse é o significado dessas linhas – eu reconheço que o que digo sobre Deus precisa ser
verdadeiro sobre Seu Filho, e o que eu digo sobre Seu Filho precisa ser verdadeiro sobre
Deus. E se eu acredito que o Filho pode ficar doente e morrer, então, preciso estar dizendo
que o mesmo é verdadeiro em relação a Deus – Deus pode ser limitado e pode ser atacado.

(Parágrafo 7 – Sentenças 8-10) Assim ele recebe a Expiação, pois retira seu julgamento do
Filho de Deus, aceitando-o tal como Deus o criou.

Quando eu reconheço que o Filho precisa ser como o Pai, isso é a Expiação. Estou dizendo
que se Deus é perfeito Amor e unidade, então, Seu Filho, que é como Ele, também precisa
ser. O ego negou isso, dizendo, “O Filho não é diferente da criação de Deus. Ele não é
como Deus o criou. Ele é limitado, fragmentado, culpado, separado”. Então, aceitar a
Expiação para mim mesmo significa aceitar minha identidade como Filho de Deus, como
Ele me criou – perfeito, amoroso e um com Ele. E isso significa que tudo o que vejo nesse
mundo precisa ser uma ilusão, porque, obviamente, esse mundo não é como Deus.

(Parágrafo 7 – Sentenças 10-12) Ele já não está à parte de Deus, determinando onde a cura
deve ser dada e onde deve ser recusada.

Isso, obviamente, é o que todos nós fazemos. Nós escolhemos lados.

(Parágrafo 7 – Sentenças – 12-13) Agora, ele pode dizer com Deus: “Esse é o meu Filho
amado, criado na perfeição e para sempre perfeito”.

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Nós dizemos isso para cada uma das partes aparentemente fragmentadas da Filiação –
incluindo a nós mesmos. E, então, eu não vejo mais a doença, a morte, a dor, o
especialismo ou as diferenças como reais. Eu vejo todos aqui como simplesmente uma
criança assustada, colocando um véu ou um cobertor sobre seus olhos para manter essa
verdade oculta de si mesmo – de que somos como Deus nos criou. Nós somos perfeitos e
essa perfeição nunca pode ser modificada.

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Eu pensei em encerrar com uma leitura do final do manual para professores (MP-29.7-8),
incluindo o adorável poema final, que expressa lindamente o que significa ser um professor
de Deus. A primeira pessoa nessas passagens, é claro, é Jesus: falando conosco e nos
agradecendo por nossa boa-vontade de nos unirmos a ele para que junto com ele, possamos
ser as expressões da Voz de Deus no mundo.
(Parágrafo 7 – Sentenças 1-12) Lembra-te de que tu és a Sua Completeza e o Seu Amor.
Lembra-te de que a tua fraqueza é a Sua força. Mas não leias isso apressadamente ou
erroneamente. Se a Sua força está em ti, o que percebes como tua fraqueza não passa de
ilusão. E Ele te deu o meio de provar que isso é assim. Pede todas as coisas ao Seu
Professor e todas as coisas te serão dadas. Não no futuro, mas imediatamente; agora.
Deus não espera pois a espera implica tempo e Ele é intemporal. Esquece as tuas imagens
tolas, o teu senso de fragilidade e o teu medo do dano, teus sonhos de perigo e “erros”
escolhidos. Deus só conhece o Seu Filho e como ele foi criado, assim ele é. Em confiança,
eu te coloco nas Suas Mãos e agradeço por ti que seja assim.

(Parágrafo 8 – Sentenças 1-17)

E agora, em tudo o que faças sê tu abençoado.


Deus volta-Se para ti pedindo ajuda para salvar o mundo.
Professor de Deus, Ele te oferece a Sua gratidão,
E o mundo todo fica em silêncio na graça que trazes do Pai.
Tu és o Filho que Ele ama, e te é dado ser o meio
através do qual a Sua voz é ouvida em todo o mundo
para acabar com todas as coisas nascidas do tempo,
para trazer o fim de todas as coisas visíveis e
para desfazer todas as coisas que mudam.
Através de ti, se anuncia um mundo que não é visto
nem ouvido, embora esteja verdadeiramente presente.
Santo és tu, e na tua luz o mundo reflete a tua santidade,
pois não estás só nem sem amigos. Eu agradeço por ti,
e me uno aos teus esforços a favor de Deus
sabendo que são também a meu favor,
e a favor de todos aqueles que caminham para Deus comigo.

AMÉM

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