Você está na página 1de 48

CURANDO O SONHO DA DOENÇA

Trechos de um workshop efetuado no Institute & Retreat Center of the Foundation for A
Course in Miracles

Kenneth Wapnick, Ph.D.

Tradução: Eliane Ferreira de Oliveira

Parte I – Introdução

Eu pensei em começar falando sobre o sonho, uma vez que, em certo sentido, isso vai ao cerne não
apenas do que estaremos discutindo nesse workshop, mas de todo o Curso. Quando falamos sobre
sonhos, é sempre apropriado invocar Sigmund Freud, sem o qual, como já disse muitas vezes, não
haveria Um Curso em Milagres. Seu trabalho sobre os sonhos permanece como não apenas a parte
central de todo o seu trabalho, mas realmente de toda a psicologia no século XX e agora no século
XXI. Seu primeiro livro principal, A Interpretação dos Sonhos, publicado em 1900, foi devotado
aos sonhos, obviamente; mas ele usou aquele estudo como um trampolim para compreender como o
psiquismo como um todo funciona. Ele escreveu esse livro em uma época na qual a maioria dos
pesquisadores ou pessoas que escreviam sobre sonhos tendia a denegri-los, vendo os sonhos como
basicamente tolos, e sem significado. Um dos pontos mais importantes que veio desse trabalho
inicial de Freud foi nos mostrar que os sonhos realmente eram muito significativos e repletos de
propósito. Propósito, como vocês sabem, é um termo significativo no Curso. Jesus fala sobre isso
muitas e muitas vezes, e, se formos compreender qualquer coisa nesse mundo, precisamos entender
o propósito ao qual isso serve, tanto em termos do sistema de pensamento do ego quanto da sua
correção através do sistema de pensamento do Espírito Santo.

Quando Freud falou sobre a natureza intencional dos sonhos, ele falou especificamente sobre sua
capacidade de realizar um desejo, geralmente conhecida como “a teoria da realização de desejos”.
Falando de forma geral, os sonhos nos mantêm adormecidos. Portanto, à noite, quando estamos
adormecidos, nossas defesas tendem a se relaxar de alguma forma e todo o perverso material
inconsciente ameaça vir à superfície e, conseqüentemente, nos despertar. O propósito do sonho é
subjugar essas forças selvagens (como Freud pensava em relação a elas) em nosso inconsciente e
entrar em um acordo com elas – com efeito, permitir que elas existam e ajudá-las a alcançar algum
tipo de resolução ou satisfação. Essa é a idéia mais específica do desejo: satisfazer todos esses
impulsos instintivos, mas, primariamente, de tal forma que permaneçamos adormecidos. De forma
geral, portanto, diríamos que os sonhos existem para satisfazer o desejo de permanecermos
adormecidos, e secundariamente para satisfazer os desejos gerados por essas forças instintuais que
sempre têm relação, em última instância na teoria de Freud, com a sexualidade infantil. Foi nos
ajudando a compreender que os sonhos servem a um propósito, que ele fez uma de suas mais
duradouras contribuições.

Quando olhamos para a visão que o Curso tem sobre os sonhos, enxergando através das lentes de
Freud em termos desse propósito mais geral de satisfazer um desejo, então, podemos subitamente
compreender por que o sonho aconteceu, e especificamente por que o sonho que chamamos de
universo físico e os sonhos individuais que pensamos serem nossas vidas aconteceram da forma que
aconteceram. Existe um método na loucura do ego e esse método é a satisfação de um desejo. Nós
aprendemos a partir do nosso estudo do Um Curso em Milagres, que o desejo que o mundo satisfaz
para nós, e especificamente o desejo que nossas vidas individuais satisfazem nesse mundo, é o de
nos manter adormecidos, assim como Freud ensinou. No entanto, visto em um contexto metafórico,

1
isso significa manter vivo o desejo de sermos separados de Deus. Esse é o sonho da separação. O
Curso nos diz que nós estamos “em casa em Deus, sonhando com o exílio” (T-10.I.2:1). O exílio do
Curso é gerado pela idéia de que realmente alcançamos o impossível e nos separados do Amor de
Deus. Essa é a origem do sonho, e é isso que Jesus quer dizendo quando fala, como faz em diversos
trechos, que o conteúdo de cada sonho é o medo (T-18.II.4; “As Dádivas de Deus”, p. 115-117). É o
medo de que, de alguma forma, Deus vai retaliar e nos punir por nosso pecado de nos separarmos
Dele. Portanto, o propósito dominante a que o sonho do ego serve é nos manter adormecidos. Isso
mantém o sonho da separação real para que não despertemos do sonho e reconheçamos que todo o
sistema de pensamento do ego é o sonho.

Perto do final do Capítulo 27, Jesus faz a distinção entre os dois níveis dos sonhos: o sonho secreto
e o sonho do mundo (T-27.VII.11;12). No gráfico, o primeiro nível é representado pela caixa da
mente errada. Esse é o sonho que esconde o desejo e o pensamento de sermos separados. É a origem
da trindade profana de pecado, culpa e medo. O ego nos diz que nossa separação de Deus foi um
pecado, que nós matamos Deus para podermos viver – é um ou outro. Somos ensinados que
deveríamos nos sentir culpados por nosso imenso pecado de destruirmos o amor do céu; e, uma vez
que no sistema do ego, a culpa sempre requer punição, nós então ficamos com medo da punição que
acreditamos ser inevitável e merecida – nós merecemos ser punidos pelo objeto do nosso pecado,
isto é, Deus. Esse é o sonho secreto, o campo de batalha original onde o ego nos vê em guerra com
Deus.

Uma vez que essa constelação de pensamentos é tão horrível e repleta do terror, o ego nos
aconselha de que podemos ficar livres da dor e da nossa culpa, e escaparmos do terror da nossa
aniquilação nas mãos desse Deus vingativo, maníaco, deixando a mente, fazendo um mundo e nos
escondendo nesse mundo. Especificamente, vamos esconder nosso sistema de pensamento, nossa
imagem de nós mesmos em um corpo. Esse é o início do que Jesus chama de o “sonho do mundo”,
representado no gráfico como a caixa no nível mais baixo: o mundo e o corpo. Essa é a segunda
parte da realização dos desejos do ego: a criação do mundo e de todos os pensamentos
fragmentados, cada um parecendo estar encapsulado em um corpo. No plano do ego, o mundo nos
capacita a manter essa existência individual, esse ser especial como nossa identidade – único,
autônomo, independente e livre; mas podemos transferir toda a responsabilidade para ele.

Resumindo brevemente, o propósito do ego para o sonho do mundo e do corpo é manter a separação
que nós acreditamos ter roubado de Deus, mas passar para frente o pecado associado a ela. Quando
falamos sobre passar para frente o pecado, estamos falando sobre projeção, outro termo que
descreve essa dinâmica incrivelmente importante. Alguma coisa de que eu não gosto em mim
mesmo, eu rejeito, nego, reprimo. Qualquer coisa que eu reprima se torna inconsciente, e eu
automaticamente a projeto. Essa é a lei da mente dividida: o que eu reprimo, inevitavelmente
projeto. Eu primeiro o empurro para baixo, para não ficar consciente dele, e então, o empurro para
fora. Eu preciso de corpos ou objetos sobre os quais possa jogar essa culpa. É por isso que o mundo
foi feito. Ele foi feito para hospedar todos esses bilhões e bilhões de fragmentos que chamamos de
corpos ou formas, porque eles vêm em variedades de formatos e tamanhos, tanto animados quanto
inanimados. No entanto, nós aprendemos no texto que nada é realmente inanimado ou animado,
tudo é o mesmo (T-23.II.19). Tudo é literalmente nada, que nós acreditamos ser alguma coisa. Nós
pegamos a culpa em relação à nossa responsabilidade pela separação que está em nossas mentes, e
dizemos que não é mais nossa; não somos responsáveis pela separação, outra pessoa fez isso, e o
mundo surge para atender a essa necessidade, ou para satisfazer esse desejo.

Esse é o propósito de todos os sonhos. Eles começam como o sonho secreto, como está afirmado,
por exemplo, no início da Lição 93 – “Pensas que és o lar do mal, da escuridão e do pecado” (LE-
pI.93.1:1). O mundo surge para nos proteger do horror desse pensamento; e então, todos os outros

2
se tornam “o lar do mal, da escuridão e do pecado”. Se eu tiver uma imagem negativa de mim
mesmo, ainda vou acreditar que não é culpa minha. Eu sou essa pessoa horrível, inadequada,
inferior porque algo me tornou assim: meus genes, minha criação, todas as forças no mundo que me
dirigem, que me formaram e me tornaram o que eu sou. Não importando o que pensemos sobre nós
mesmos nesse mundo, acaba não sendo nossa culpa. Novamente, o ego consegue ter seu bolo e
comê-lo também. Nós mantemos a separação que acreditamos ter roubado com sucesso de Deus,
mas empurramos o pecado para longe – o pecado sendo a crença de que fizemos isso. Agora, tenho
meu ser separado sem ter o conhecimento, a consciência ou a memória de onde ele veio; isto é, eu e
os ‘eus’ de todos nós, porque nós começamos como o Filho único e nos separamos como o Filho
único. O sonho secreto é compartilhado por todos nós igualmente, porque é tudo uma coisa só. A
fragmentação em bilhões de seres aparentemente separados não acontece até que o segundo sonho
começa a emergir, tema do início do Capítulo 18: a primeira projeção do erro (T-18.I.4-6). O erro
original é o que todos nós compartilhamos como um – o sonho secreto. O mundo do sonho surge
como uma defesa contra isso. Seu propósito é manter o ser separado intacto, mas para tornarmos
alguém, ou tudo e todos, incluindo o Deus que inventamos, responsáveis. Esse é o sonho.

O que vemos discutido através de todo o Curso, assim como nos dois panfletos que o
complementam, é a idéia de separar o efeito da causa, para que o efeito agora pareça ser a causa. Na
parte superior esquerda do gráfico está o mundo da causa, significando que a mente dividida é a
causa do mundo, o mundo, portanto, não sendo nem mais nem menos do que o efeito. Uma vez que
projetamos a crença na separação – o pensamento do pecado, culpa e medo – de nossas mentes e a
vemos em todos os lugares, então, aquilo no qual a projetamos se torna o efeito. Esse efeito é
provocado pelo pensamento na mente, que é animado e energizado pela dinâmica da projeção. O
mundo é o efeito e a mente é a causa. Quando separamos o efeito da causa, nos esquecemos da
causa. Percebam também, no gráfico, a linha contínua, que chamamos de “véu da negação”, ou
“véu do esquecimento”, separando a mente do mundo. Esse véu cai sobre nossas mentes para que
nos esqueçamos de onde o mundo veio, e sem consciência da causa, vemos só o efeito. Então,
tivemos que inventar alguma causa: De onde o mundo veio? Como chegamos aqui? Qual é o
propósito do mundo? Nós então acreditamos que o mundo é a nossa causa. Esse ser que acredito
que sou tem sua causa no mundo que contém forças além do meu controle, começando com a união
do esperma com um óvulo. Quer isso seja feito no quarto ou em um tubo de ensaio, não faz
diferença; acredito que minha vida física e psicológica começa quando o esperma e o óvulo se
juntam. Ou, no contexto de vidas passadas, eu diria que quem eu sou hoje é o efeito de muitos
espermas e óvulos unindo-se durante um período de séculos ou milênios. De qualquer forma que
você tente entender isso, chegamos ao mesmo conteúdo: não estou aqui por minha própria decisão,
mas porque algo fora de mim foi a minha causa.

Quando separamos a causa do efeito e a reprimimos, não temos mais qualquer conhecimento sobre
ela. Em outras palavras, nos tornamos sem mente, porque a causa é a mente. Então, somos deixados
com o efeito que nós agora acreditamos ser a causa. Como vamos ver depois, a doença é
compreendida nessa moldura. Quando pensamos na doença, quer sejam sintomas físicos ou
mentais, o que rotulamos de doente ou enfermo não é nem mais nem menos do que o efeito da
causa. Um princípio muito importante no Curso, ao qual voltamos de novo e de novo pelo fato de
ser tão central, é o princípio de que idéias não deixam sua fonte. A idéia de um universo físico –
literalmente um universo físico, não apenas o mundo que percebemos – é a idéia que nunca deixou
sua fonte, na mente. Isso significa literalmente que não existe um mundo fora das nossas mentes
porque idéias não deixam sua fonte.

No nível microcósmico, por exemplo, quando busco me livrar da minha culpa, a projeto em você, o
torno culpado, encontro falhas, julgo você, o culpo, o critico, etc., tenho a esperança mágica de que
me livrei da minha culpa, do meu auto-ódio, esse terrível julgamento sobre mim mesmo, colocando-

3
o em você e tornando-o o lar do mal, do pecado e da escuridão. A culpa e o pecado estão em você;
não estão mais em mim. Essa é a esperança mágica. Isso não significa que eu vá me sentir menos
culpado. De fato, o que tal ataque faz é reforçar a minha culpa, porque existe uma parte de mim que
sabe que eu o ataquei falsamente. Não importando o que você tenha feito, não importando o quão
repreensíveis e cruéis suas ações possam ser aos meus olhos ou aos olhos de mundo todo, isso ainda
não o torna responsável pelo fato de me sentir tão mal, angustiado, inquieto ou pelo desassossego
que sinto dentro de mim. Não importando o quanto eu tente projetar minha culpa em alguém e
torná-lo responsável pelo fato de me sentir tão mal, isso não muda o fato de que a culpa ainda está
dentro de mim, porque idéias não deixam sua fonte. A fonte da culpa na minha mente nunca me
deixou simplesmente porque fui indulgente com a idéia mágica de pensar que poderia jogá-la fora,
colocando-a em você, e então encontrando falhas em você.

O princípio de que idéias não deixam sua fonte também funciona no Céu. Somos uma idéia na
Mente de Deus, e é isso o que Jesus quer dizer no Curso quando fala sobre sermos um pensamento.
Somos um pensamento, não somos carne. Somos um pensamento na Mente de Deus. Juntar isso
com o princípio de que idéias não deixam sua fonte é uma reafirmação do princípio da Expiação
que diz que a separação de Deus nunca aconteceu. Somos livres dentro de nosso sonho insano para
acreditar que alcançamos o impossível, mas isso não significa que o fizemos, porque idéias não
deixam sua fonte. A idéia do Filho de Deus nunca deixou sua fonte em Deus. A idéia da culpa
nunca deixou sua fonte na minha mente, enquanto eu busco projetá-la em você. A doença de
acreditar que eu poderia destruir Deus, ter sucesso nisso e então ser feliz nunca deixou sua fonte,
ainda que eu tenha feito um corpo e o tenha feito para ser doente. A doença nunca deixou sua fonte;
a culpa nunca deixou sua fonte; o amor nunca deixou sua Fonte.

O ego, é claro, ensina exatamente o oposto. Todo o sistema de pensamento do ego começa com a
proposição de que idéias realmente deixam sua fonte. Novamente, uma vez que a idéia deixa sua
fonte, acreditamos que a fonte foi tornada inexistente. E, então, uma vez que começamos o sonho
secreto do ego, que é o lar da culpa, o ego me fala que idéias realmente deixam sua fonte: eu posso
me livrar da minha culpa, fazendo um mundo que abriga corpos separados, nos quais agora estou
livre para projetar minha culpa. Portanto, estou cheio disso, e alguém mais vai pagar o preço pelo
meu pecado, não eu. De fato, uma das causas e propósitos da doença é que ela me capacita a dizer
que você fez isso comigo. Você me deixou doente. E não importa se eu defino que a patogenia está
em você, na minha mãe, no meu pai, nos meus irmãos, nos meus amantes, no meu esposo, nos meus
filhos, etc., ou se eu defino a patogenia como um vírus ou bactéria. Em qualquer caso, ainda estou
dizendo que a razão pelo fato de estar me sentindo tão miserável, tão inquieto, tão desconfortável é
que fui invadido por um poder ou força além do meu controle. Esse é o propósito ao qual a doença
serve, e vamos voltar a isso muitas vezes.

Mas o que é criticamente importante, o que em um sentido forma o cenário para tudo o que vamos
discutir, é realmente entender que não há corpo, não há doença, não há mundo – idéias não deixam
sua fonte. Existem apenas pensamentos doentes dentro das nossas mentes. Isso é a doença. Um
corpo doente pode ser definido de muitas formas: por um sintoma físico, aquilo que geralmente
entendemos como doença mental, ou apenas por estar transtornado em relação a algo, um estado
emocional transitório. Tudo isso não é nem mais nem menos do que uma tentativa do ego de
satisfazer o desejo do seu sonho de nos manter separados, acreditando que temos uma identidade
separada de Deus. Esse pensamento, então, fica alojado em um corpo, que depois define a si mesmo
em termos da diferenciação entre ele mesmo e os outros corpos. Isso é a doença – a crença de que é
isso o que eu sou.

Novamente, o desejo secreto do ego é manter o ser separado intacto, mas culpar algo ou alguém
mais por isso. De forma interessante, a palavra patogenia vem do grego pathos, significando

4
“doença ou enfermidade”, e seu gênero significa “causa” ou o que produz algo. Em nosso mundo,
tendemos a pensar sobre as patogenias – como a maioria dos biólogos e médicos faz – como
organismos tais como bactérias ou vírus que provocam as doenças. Quando estudamos Um Curso
em Milagres, compreendemos que a verdadeira patogenia é a culpa. Essa é a causa da doença; e
ainda mais especificamente, é nossa decisão pela culpa, porque a culpa não existe fora da nossa
crença nela, e do nosso desejo por ela. Nós desejamos a culpa porque ela diz que eu pequei. O
pecado diz que eu me separei de Deus, o que significa que esse ser separado com o qual agora sou
indulgente é real, mas não quero ser punido por isso. É por isso que temos o segundo sonho, o
sonho do mundo, que busca completar o desejo do ego, satisfazendo-o – encontrando falhas em
tudo e em todos, e rotulando tudo no mundo como uma patogenia potencial ou real. Estou muito
doente não por minha causa, mas por causa de algo ou de alguém. É por isso que existe um mundo.
Lembrem-se, novamente, vocês precisam entender o propósito. Se você for entender qualquer coisa
sobre esse mundo, e acima de tudo compreender qualquer coisa sobre esse curso, precisa reconhecer
o único propósito ao qual o mundo serve, que é o de ter essa capacidade de satisfazer o desejo de
manter meu pecado e meu ser separado intactos, ambos os quais estão na minha mente, mas, então,
magicamente acreditar que posso me livrar de toda a responsabilidade pela minha pecaminosidade e
pelo meu ser, culpando outra pessoa. É por isso que existe um mundo de corpos. Como o livro de
exercícios diz, dessa forma foi feita a especificidade (LE-pI.161.3:1). Tem que haver algo que eu
odeio. Preciso de algo lá fora como um meio de me livrar do meu ódio, o ódio de mim mesmo.

Como vamos ver depois, o Espírito Santo tem um uso diferente para o corpo: corrigir nossa
confusão entre causa e efeito. Nós vemos corpos como sendo tanto a causa quanto o efeito: seu
corpo causou o efeito, que é a dor no meu corpo. O Espírito Santo nos ajuda a reconhecer, através
das nossas concepções errôneas do corpo, que o único propósito ao qual o corpo serve é trazer nossa
atenção de volta para a causa real, que é a escolha pela culpa na mente. Isso é doença.

Parte II

“A Causa da Doença”

Vamos agora passar para o panfleto A Canção da Oração, primeira seção, Capítulo3, “A Causa da
Doença” (C-3.I). Vamos ler apenas os primeiros três parágrafos, que apresentam afirmações bem
claras sobre o princípio de causa e efeito que já vimos. Lembrem-se, no Curso, doença é a crença na
separação – é daí que vem a culpa. Isso vai se tornar muito importante quando discutirmos a
natureza da cura, mais tarde.

(C-3.I.1:1) Não tomes equivocadamente o efeito pela causa...

Em outras palavras, na confunda o sintoma – a doença como se manifesta no corpo, física ou


psicologicamente – com a causa, que é a decisão em nossas mentes de acreditarmos no ego ao invés
de no Espírito Santo: escolher a separação ao invés da unidade, a culpa ao invés do amor.

(C-3.I.1:1-3) … nem penses que a doença está à parte ou separada do que é a sua causa.

Esse é nosso velho amigo, o princípio de que idéias não deixam sua fonte. Aqui, Jesus está se
referindo aos sintomas. A doença não está à parte ou separada da sua causa, que está na mente, e
apenas na mente. É por isso que é tão importante sempre termos uma compreensão subjacente da
metafísica do Um Curso em Milagres; de outra forma, vamos confundir tudo o que ele diz sobre o
mundo: seu propósito e aparente realidade. Você vai pensar que o perdão e a cura têm a ver com o
mundo ou com os corpos. Esses erros só vão tirá-lo dos trilhos. Literalmente não existe mundo,
porque idéias não deixam sua fonte.

5
(C-3.I.1:3-4) É um sinal [a doença, os sintomas corporais], uma sombra e um pensamento mau que
parece ter realidade e ser justo, segundo os costumes do mundo.

Essa idéia de sombra é importante no Curso, e é encontrada através de todo o material. O mundo
não é nada mais do que uma sombra da nossa culpa. Muitos de vocês estão cientes da seção
importante “Os dois mundos”, no final do Capítulo 18 (T-18.IX), na qual Jesus fala sobre o mundo
e o corpo como sombras da culpa – eles simplesmente fazem o que a culpa lhes diz para fazer. Nós
sabemos, a partir da nossa vida diária, que a sombra não tem substância. Você está andando na rua e
vê a sombra de uma árvore sobre o chão. Podemos considerar a árvore como a realidade dentro do
mundo, e então a sombra simplesmente seria a ausência de luz causada pela própria árvore. A
sombra não tem substância; não é nada. É por isso que Jesus usa o termo sombra através de todo o
Curso e aqui, no panfleto.

Nossa doença é uma sombra. É uma projeção do pensamento ruim que parece ter realidade, e esse
pensamento ruim é a crença de que somos maus – “o lar da escuridão e do pecado” (LE-pI.93.1:1)
– por causa do que fizemos. Nós, de forma egoísta e impensada, destruímos Deus, crucificamos Seu
Filho, Cristo, para que pudéssemos ter o que queríamos. Quando você pensa na palavra pecado, é
útil equacioná-lo com o egoísmo, porque isso é algo com que todos nós estamos acostumados em
nossas vidas diárias. Pecado é basicamente dizer: “Não me importo nem um pouco com Deus,
quero minha vida. E se a minha vida for conseguida à custa de Deus, que seja! Quero ser autônomo.
Quero ser independente. Quero ter meus próprios pensamentos, sem que estejam ligados a Ele.
Quero o amor por conta própria, de acordo com os meus termos. Não quero o amor ligado a Ele.
Não gosto dessa coisa de idéias-não-deixam-sua-fonte. Gosto de ter minha própria identidade. E
não me importo com que devastação ela desencadeie. Não me importo se ela destrói o Céu. Vou
conseguir o que quero por que é isso o que quero!”.

Esse é o pecado do egoísmo, e é assim que todos nós vivemos aqui. Esse é o cerne do especialismo.
Eu não me importo com a forma com a qual uso as outras pessoas desde que minhas necessidades –
físicas e emocionais sejam atendidas. É claro, será muito melhor se eu puder disfarçar tudo isso com
termos religiosos e lhe dar algum tipo de contexto. Mas, tudo o que estou fazendo é tentar disfarçar
no que estou realmente envolvido. É o meu canibalismo egoísta que quer tirar de fora e trazer para
dentro, porque é isso o que eu preciso, e é o que eu quero. Não me importo com quem sofre; tudo o
que me importa é que eu consiga o que quero. Essa é a culpa real. Esse é o pensamento que
rotulamos de mau e pecaminoso. E então, é isso o que a doença é: uma sombra desse pensamento.

(C-3.I.1:5-7) É uma prova externa dos ‘pecados’ internos e dá testemunho de pensamentos


incapazes de perdoar que ferem e magoam o Filho de Deus.

Nós podemos ver aqui, como vamos ver muitas outras vezes – e, é claro, em qualquer página do
Curso – como Jesus está redefinindo o problema. Ele está dizendo que isso não está fora, está
dentro de nossas mentes. Nós queremos pensar que estão do lado de fora, e então, temos definido de
forma brilhante, durante séculos e milênios, a doença, e chegamos a entendê-la: de onde ela vem,
por que ela vem, o que acontece e como tratá-la – que é exatamente o que o ego quer. Então, toda a
nossa atenção está enraizada no mundo e no corpo – você vê o mundo adoecido na primeira linha,
nessa caixa, no gráfico. Tudo isso é uma forma muito habilidosa e inteligentemente disfarçada de
proteger o que Um Curso em Milagres chama de “o sonho secreto” (T-27.VII.11), que é a doença
real. É aí que está a culpa – onde o mal aparente está em nossas mentes. E só quando o trazemos de
volta à sua fonte em nossas mentes é que podemos perceber o que está em nossas mentes, e que
tudo foi inventado.

6
Novamente, estamos definindo a doença livremente como sendo qualquer coisa que me leve a um
estado de inquietação e de não estar em paz, quer seja porque tenho um órgão doente, por meu
corpo doer, ou por meu psiquismo doer por causa de algo que aquela pessoa fez, ou por causa de
uma memória ou de alguma interpretação de um fato do nosso relacionamento. Tudo isso prova que
eu fiz uma coisa ruim, pela qual mereço ser punido. Lembrem-se, o sistema de pensamento do ego
repousa em um sonho secreto que diz que Deus vai executar Sua vingança sobre nós, por causa do
que fizemos a Ele. E nós carregamos essa culpa conosco para o mundo dos sonhos. Nós pensamos
que a mantemos enterrada em nossas mentes, mas o que enterramos em nossas mentes vem
conosco. Freud nos ajudou a ver que esses demônios são inexistentes; eles existem dentro de nós, e,
por mais que tentemos encobri-los, eles ainda estão ali. Então, nunca seremos felizes ou estaremos
em paz até que desenterremos os demônios e domestiquemos as “bestas selvagens”, como Freud os
via, para emprestar a analogia de Platão sobre os cavalos selvagens.

Então, nós carregamos essa culpa conosco – o pensamento que diz que merecemos ser punidos.
Então, quando ficamos doentes, ou algo vai mal com nossos corpos ou com nossas vidas, nosso ego
interpreta isso como punição de Deus. John Calvin construiu uma religião sobre a idéia de que Deus
pune aquelas pessoas que são pecadoras. E você sabe que é um pecador pelo simples fato de que
algo vai mal em sua vida – você não é rico, por exemplo. As pessoas da Nova Era fazem o mesmo
que os calvinistas. Elas dizem que existe algo errado com você se estiver dente. O que elas não
percebem é que, com certeza, existe algo errado com você se estiver doente, mas todos são doentes.
Pessoas sãs, saudáveis, não vêm para cá. Pessoas doentes vêm para cá porque sua doença é uma
crença em que são separadas de Deus. Ao invés de selecionar certos membros da espécie como
sendo pecadores, fracassados, ou más pessoas pelo fato de as coisas estarem erradas com elas ou
suas vidas, deveríamos expandir isso para percebermos que existe algo errado com todos, quer sua
vida esteja indo bem ou não, de acordo com a sociedade. Corpos nunca são saudáveis. Corpos
sempre morrem. Freud também disse que desde o momento em que nascemos, estamos nos
preparando para a morte. Ele quis dizer isso tanto biológica quanto psicologicamente. Então, todos
aqui estão doentes, não importando o quanto você pense que o seu corpo está bem. Um corpo não
pode ser saudável, porque um corpo não é nada, e vamos ver isso em breve.

A doença não está no corpo. Não é o corpo que tem que ser curado. A crença na morte é o
problema, não o fato de o corpo morrer. O corpo não morre, porque o corpo não vive. Isso não
significa, no entanto, que ele seja imortal. Ele não vive! Como o nada pode viver? Como o nada
pode morrer? A morte é um pensamento, como Um Curso em Milagres nos ensina muitas e muitas
vezes. É um pensamento que tem sua origem na crença de que Deus morreu para que eu pudesse
viver, e agora, eu vou morrer para que Ele possa viver. Essa é a interpretação do ego sobre a morte
física: é a vingança de Deus. Mas, quer o corpo viva ou morra, o pensamento da morte está com
você de qualquer forma. Não é o corpo que interessa, não é o corpo que tem que ser curado, não é o
corpo que tem que ser ajudado. É a mente que tem que ser ajudada, mas você não pode ajudar uma
mente que não acredita que exista.

Essa é a única coisa positiva que podemos dizer sobre a doença. Ela chama sua atenção para um
problema, e, quando você realmente pede a ajuda de Jesus, ele vai ajudá-lo a entender que o
problema não está no corpo – não é por causa de outra pessoa ou pelo que algum agente patogênico
fez para feri-lo ou deixá-lo doente. O problema é seu processo de tomador de decisões: ele saiu do
prumo, você fez a escolha errada. Esse é o problema. Uma vez que reconheçamos que existe um
problema e que não podemos culpar as outras pessoas por ele, ou buscar uma solução para ele fora
de nós mesmos, o corpo se torna um instrumento muito útil – mas não por que o corpo seja nada
magnífico. Ele não é nada magnífico. Não é nada terrível. Ele não é nada. É simplesmente um
artifício que projetamos, e, uma vez projetado, podemos nos lembrar de que o ego fala primeiro e
fala errado (T-5.VI.3:5; 4:2). Portanto, nós reconhecemos que existe um problema para o qual

7
precisamos de ajuda, e essa ajuda consiste em irmos para dentro de nossas mentes, onde Jesus ou o
Espírito Santo estão. A ajuda que Eles oferecem é que é a cura, que é nos ensinar que o corpo
doente – o organismo enfermo com o qual nos identificamos – é simplesmente uma sombra de uma
crença no mal, que tornamos real em nossas mentes. Compreendendo isso, nós agora podemos fazer
algo sobre o problema, porque percebemos que ele não está do lado de fora, mas do lado de dentro.
Como o início do Capítulo 21 afirma, o mundo é “o retrato externo de uma condição interna” (T-
21.in.1:4-5). O que está fora nos diz o que está dentro. Nós temos um professor em nossas mentes
que vai guiar nossa visão de fora – onde nossos sentidos a colocaram – de volta para o que está
dentro, em nossa mente. É isso o que Jesus está falando aqui. Novamente, quando o corpo está
doente ou quando existe dor, nosso ego fala primeiro e interpreta isso como: você está recebendo o
que merece!

Quando Jesus descreve o mundo dos sonhos, como ele faz perto do fim do Capítulo 27, fala sobre o
fato de existir um assassino lá fora que quer que a sua morte seja “lenta e demorada” (T-
27.VII.12:1). É isso o que o corpo faz, e é assim que ele morre. Desde o momento em que
nascemos, nossa morte é inevitável, mas lenta. Isso é o que um torturador gosta de fazer. Ele não
quer arrancar sua vida de uma vez; ele quer que você pague por seu crime, por seu pecado, por sua
injustiça. E é isso o que acreditamos que Deus está fazendo quando acreditamos que Ele fez o
corpo. Ele trama nossa morte, mais vai fazê-lo de forma demorada, lenta e muito dolorosa. É claro
que o que nós fazemos com tudo isso é dizer que não foi Deus Quem fez isso; você fez – alguém ou
alguma outra coisa é responsável por minha doença. Então, não estou sendo punido por meu
pecado, é o seu pecado que está me tentando fazer sofrer. Uma vez que eu perceba isso dessa forma
– e nós nascemos para perceber isso dessa forma -, vou sofrer alegremente. Vou ser alegremente
abusado e vitimado. Vou abraçar, acarinhar e vou guardar bem dentro do meu coração como tenho
sido abusado, mal compreendido, e injustamente tratado através de toda a minha vida. Vou sofrer
alegremente para que possa dizer, “Contempla-me, irmão, em tuas mãos eu morro” (T-27.I.4:6). E
isso significa que Deus vai puni-lo quando Ele me vir como um corpo sofredor, abusado e vitimado
– tanto mental quanto fisicamente. Esse sofrimento está apontando um dedo acusador para alguém e
dizendo, “Você fez isso!”. E, em meu pensamento mágico, insano, acredito que Deus vai me ouvir e
seguir meu dedo acusador que está apontando diretamente para você. Então, Ele vai puni-lo.

Portanto, a enfermidade, a doença, o desconforto são sombras. Eles são uma bandeira vermelha que
diz que existe pecado aqui, e seguindo o propósito do ego ao criar o mundo – que é o
preenchimento de desejos -, verei o pecado em você ou em algo, em algum agente externo, ao invés
de em mim. É por isso que:

(C.3.I.1:7-10) Curar o corpo é impossível, e isso é demonstrado pela natureza breve da ‘cura’. O
corpo ainda tem que morrer, e assim a sua cura apenas atrasa a sua volta ao pó, onde ele nasceu e
ao qual vai retornar.

É por isso que as pessoas gostam de fazer a vida durar cada vez mais. E, em nossa sociedade agora
isso é um prêmio. Antigamente, se você vivesse até ter quarenta ou sessenta anos, isso era uma
grande coisa. Agora, oitenta não são nada. As pessoas querem ter cem ou cento e dez anos, até
mesmo cento e vinte. As pessoas querem viver para sempre. Por quê? Porque nós queremos enganar
o Ceifeiro, queremos enganar Deus. E tudo o que estamos fazendo é tornar a morte real, porque
estamos tentando enganá-la. Estamos tornando a culpa real, tentando negar que existe qualquer
culpa, porque, se não morrermos, isso significa que Deus não nos encontrou e, então, nós
permanecemos nesse corpo. Por que qualquer pessoa sã iria querer continuar nesse corpo? Esse não
é o nosso lar. Como o Curso diz, é um travesti, uma paródia da maravilhosa criação de Deus: Cristo
como espírito, não como corpo (vejam T-24.VII.1:11; 10:9). O corpo é o lar da culpa, não do amor.
É isso o que Jesus está dizendo aqui. “A breve natureza da cura” se refere à nossa cura aparente da

8
doença, mas, no final, o corpo morre – como prova de que o sistema de pensamento do ego de
pecado, culpa e medo está vivo e bem, e, acima de tudo, é real.
Parte III

(C-3.I.2:1) A causa do corpo [o corpo é o efeito] é não perdoar o Filho de Deus.

Jesus nem mesmo está falando sobre um corpo doente, no sentido no qual geralmente rotulamos a
doença. O próprio corpo tem sua causa na falta de perdão do Filho de Deus. O que é a falta de
perdão? Culpa e ataque. Eu projeto minha culpa e, dessa forma, nego meu perdão a cada coisa viva.
Isso é ataque. E essa é a causa do corpo. Mais uma vez, idéias não deixam sua fonte. O corpo é a
incorporação de um sistema de pensamento de pecado, culpa e medo – a expressão do pensamento
de separação. Ele não tem existência fora daquele pensamento. O corpo é uma sombra, e, uma vez
que sombras não têm substância, é uma sombra de nada.

No entanto, criancinhas podem transformar sombras em algo real. Uma criancinha na cama, à noite,
pode ouvir o vento soprando nas árvores, ou ver sombras provocadas pelos galhos da árvore
chacoalhando-se ao vento. Ela projeta todo seu medo e culpa nas sombras, e então pensa que elas
são ladrões lá fora, ou assassinos, ou alienígenas. Isso é muito, muito real para a criança. Mas as
sombras não são reais. Elas não são nada, mas é nesse nada que projetamos algo que pensamos ser
real e ter substância. Nós pegamos a culpa em nossas mentes, que vem da crença de que somos
separados de Deus, e a projetamos no corpo. Então, de repente, o corpo se torna a incorporação do
pensamento de separação. É o pensamento da separação que recebe forma. E é um pensamento de
culpa e pecado. Então, eu pego a culpa e o pecado na minha mente, que se manifestam como as
sombras do meu corpo, e rapidamente me livro deles, projetando-os. É por isso que, quando
fizemos nosso sonho coletivo – o que fizemos todos, como o Filho único -, o fizemos para que
houvessem pais. (Não vamos falar sobre as outras espécies ou as chamadas formas de “vida”, nem
das formas de “não-vida”. Vamos permanecer com o homo sapiens). Por que nós fizemos nosso
sonho com pais? Era o nosso sonho, então, não tínhamos que ter pais. Mas nós fizemos isso dessa
forma porque precisávamos de alguns corpos nos quais poderíamos projetar nossa culpa. Então,
meu corpo e sua condição agora se tornam o efeito da sua culpa e do seu pecado, não dos meus. É
sobre isso que Jesus está falando aqui.

(C-3.I.2:2-5) Ele [o corpo] não deixou a sua fonte, e isso é claramente demonstrado na sua dor, no
seu envelhecimento e na marca da morte que está sobre ele.

Por que você pensa que as pessoas envelhecem? Por que você pensa que as pessoas querem
desfazer a dor, sem falar na razão óbvia de não quererem sentir dor? É para mostrar que meu corpo
vive, e se meu corpo vive, e estou livre da dor, então, posso mostrar que não existe culpa. Mas tudo
o que eu fiz, uma vez que idéias não deixam sua fonte, é enterrar a culpa. Eu coloco outro véu sobre
o sonho secreto para que nunca cheguem nem mesmo perto dele. Tudo é parte da estratégia do ego
para manter o pensamento da separação intacto, passando a culpa para que outra pessoa seja
responsabilizada por ela, significando que outra pessoa será punida pelo meu pecado. O que é muito
interessante quando alguém olha para os relacionamentos no mundo, é ver que todos nós fazemos a
mesma coisa uns com os outros, tentando desesperadamente fingir que não estamos fazendo isso de
forma alguma. Estamos todos tentando ver a nós mesmos como as vítimas inocentes do pecado de
outras pessoas.

Portanto, eu mantenho meu ser separado, e sofro alegremente abuso e vitimação para que possa
apontar meu dedo acusador para você e dizer, “Você fez isso comigo”. Eu faço isso pra você, você
faz isso para mim, e esse é o relacionamento especial de que Jesus tanto fala no texto. Esses tipos de
relacionamento não são muito bons, obviamente. Nós tentamos embrulhá-lo com lindas fitas e

9
papéis de embrulho, mas eles não são muito bons, porque são todos sobre roubar, canibalizar e
egoisticamente tentar extrair de outra pessoa a vida que nos falta. Foi isso o que fizemos
originalmente com Deus, e é isso o que fazemos a cada vez em que encontramos outro corpo. E
parte do nosso sonho é feita de microorganismos (vírus e bactérias) os quais podemos culpar por
invadirem nosso espaço e canibalizarem nossa carne.

Lembrem-se, tudo isso é um sonho, e Freud nos ajudou a entender que os sonhos têm um propósito.
Eles não acontecem simplesmente. Na primeira parte de A Interpretação dos Sonhos, ele nos dá
uma visão histórica de como as pessoas têm considerado os sonhos. Ele nos mostra que os sonhos
atendem a um propósito. Expandindo tudo isso para o nível macrocósmico, podemos ver que o
sonho do universo físico – o cosmos inteiro – serve a um propósito. Um curso em Milagres nos
ajuda a entender, como nenhum outro caminho espiritual já fez, o propósito ao qual o mundo físico
serve, portanto, o propósito do nosso nascimento individual e da vida no mundo físico. Não é um
propósito muito bom. É manter o que roubamos, e termos alguém para ser culpado e se tornar
responsável por isso, e, no final, ser punido.

Outro princípio altamente importante do ego que se encaixa nisso tudo é o de ou um ou outro. É ou
Deus ou eu. Se Deus vive, eu não posso viver, porque em Deus eu não tenho vida independente. Se
tudo o que existe é Deus – Amor e Unicidade – então, como poderia haver um ser individual,
especial, único, autônomo, livre e independente? Não poderia. Portanto, se eu vou ser esse ser
especial, individual, único autônomo, livre e independente, a Unicidade de Deus tem que ser
sacrificada. É uma ou outra. Esse é o princípio básico e padrão sobre o qual todo o mundo foi
formado. Nossas vidas são baseadas no ou um ou outro. Eu quero sobreviver, e isso significa que
precisa ser à sua custa. Se eu vou manter minha separação, mas quero ser sem pecado, então, você
precisa ser o pecador. O que eu dou a você, não tenho mais; você o tem. Essa é a natureza do
mundo, e é disso que Jesus está falando aqui.

Novamente, “Ele [o corpo] não deixou a sua fonte, e isso é claramente demonstrado na sua dor, no
seu envelhecimento e na marca da morte que está sobre ele”. Jesus está dizendo para não
transformarmos o corpo em algo maravilhoso, glorioso e santo. Ele não é. Deus não tem nada a ver
com ele. O Espírito Santo usa o corpo para servir a um propósito santo, mas o corpo em si mesmo
não é nada. Ele foi feito para ser o lar, na forma, do mal, da escuridão e do pecado (LE-pI.93.1:1), e
é exatamente isso o que ele está dizendo aqui. O corpo foi feito para ser a prova final de que a
separação de Deus aconteceu.

É por isso que ninguém realmente gosta deste curso, apesar do que os estudantes dizem. Como você
poderia gostar de um curso que lhe diz não apenas que você não existe, mas, que na débil, frágil,
existência que pensa ter, você é cruel, canibalístico e assassino? Isso não o torna uma pessoa muito
boa. Como você poderia gostar de um curso que lhe diz isso? E você tem que passar através dessa
parte do Curso para chegar ao final, que é perceber, como a Lição 93 do livro de exercícios diz, “A
luz, a alegria e a paz habitam em mim”. Você não pode atingir a luz, a paz e a alegria até que
atravesse o mal, a escuridão e o pecado. Então, você vai gostar desse curso. De fato, nesse ponto,
não vai mais precisar dele.

(C-3.I.2:4-6) Amedrontado e frágil ele [o corpo] parece ser para aqueles que pensam que a sua
vida está presa ao seu comando e atada ao seu sopro diminuto e instável.

Apesar do que todos os metafísicos no mundo do Um Curso em Milagres pensariam, o que


realmente acreditamos é que nossas vidas estão muito ligadas a esse corpo. Apenas vejam o que
aconteceria com vocês se seu suprimento de oxigênio fosse desligado por um minuto. Todas as suas
idéias espirituais voariam pela janela muito rapidamente. Então, o que Jesus está efetivamente nos

10
dizendo aqui, assim como em muitas outras passagens no Curso, é que nós não deveríamos fingir
que não somos corpos: “Não me diga que você realmente acredita no que estou lhes dizendo.
Acreditar verdadeiramente nisso significa que você está no fim da sua jornada, no topo da escada.
Mas, por enquanto, você pensa que é um corpo, então, vamos tratá-lo como se fosse. Não tente
negar o que o seu corpo é”.

(C-3.I.2:6-10) A morte os encara à medida que cada momento passa irrevogável, além das suas
garras, que não podem fazê-los parar. E sentem medo à medida que seus corpos mudam e
adoecem. Sentem o cheiro pesado da morte sobre os seus corações.

Essa é uma forma literal de dizer o que Freud e muitas outras pessoas disseram: que desde o
momento em que nascemos, estamos nos preparando para a morte. Mais para o final da sua vida,
Freud começou a falar sobre o instinto de morte, porque ele reconheceu que havia algo faltando em
sua teoria.

Então, o que Jesus está fazendo aqui é nos ajudar a reconhecer o que o corpo realmente é. Como
muitos de vocês sabem, A Canção da Oração foi escrita depois que o Curso foi publicado pela
primeira vez, e estava destinada a ser uma correção para os erros notórios que os estudantes já
estavam cometendo. A primária concepção errônea que esse panfleto foi originalmente escrito para
corrigir tinha a ver com o que significa pedir ajuda ao Espírito Santo – o que a oração realmente é.
Esse é o foco do primeiro capítulo o segundo capítulo lida com o perdão e expõe o plano do ego do
perdão-para-destruir, que é citado através de todo o Curso, embora esse termo só tenha sido usado
nesse panfleto. Ele tenta nos ajudar a entender o que o perdão realmente é e o que não é, e ele faz a
mesma coisa aqui, no terceiro capítulo sobre a cura.

Muitos estudantes nesses primeiros tempos pediam, e estudantes de hoje em dia (que obviamente
também podem ser vistos como sendo parte do início do Curso) ainda estão pedindo ao Espírito
Santo para curá-los. Jesus está tentando explicar: “Não me peça para curar o corpo. Como eu
poderia curar algo que não existe? Não me torne tão insano quanto você. Peça-me para curar a sua
mente, porque é aí que está o problema”. E não tente negar o propósito pelo qual o corpo foi feito.
Ele veio de um pensamento de morte e, portanto, é um pensamento de morte: idéias não deixam sua
fonte. Corpos mudam e enfraquecem, se deterioram e morrem porque eles se tornam o pensamento
da culpa. Nós acreditamos que matamos Deus e que Ele vai nos punir. É esse pensamento que tem
que ser desfeito, não o corpo.

Parte IV

(C-3.I.3:1-2) O corpo só pode ser curado como um efeito do verdadeiro perdão.

Agora, Jesus está falando sobre o corpo físico aqui. Em outras palavras, os sintomas vão
desaparecer quando a culpa se for; mas é possível, em princípio, que a culpa vá embora e, no
entanto, os sintomas físicos ainda permaneçam. No entanto, a pessoa não está mais “doente”,
porque os sintomas agora servem a um propósito diferente, qualquer que seja ele. Não defina a
doença pelo sintoma. Você quer se focalizar é na melhoria da sua culpa, o que só vai acontecer
quando reconhecer que a culpa é sua escolha, e compreender por que a escolheu, então, poderá
fazer uma escolha mais equilibrada – contra a culpa e pela Expiação. O corpo é curado quando você
não projeta mais sua culpa sobre ele.

(C-3.I.3:2-8) Só isso pode dar a lembrança da imortalidade, que é a dádiva da santidade e do


amor. O perdão tem que ser dado por uma mente que compreenda que ela tem que ignorar todas as
sombras sobre a face santa de Cristo, entre as quais a doença deve ser vista apenas como mais

11
uma. Nada além disso [não veja a doença como qualquer coisa além de uma sombra]: o sinal de um
julgamento feito por um irmão sobre outro irmão, um julgamento do Filho de Deus sobre ele
mesmo.

Eu primeiro coloco o julgamento sobre mim mesmo. Eu me julgo culpado por causa do que fiz a
Deus. Então, eu projeto essa culpa para fora e agora julgo você e o culpo pelo que não posso aceitar
como minha própria responsabilidade, que é a decisão de ser separado.
(C-3.I.3:8-10) Pois ele amaldiçoou o seu corpo como sua prisão, e esqueceu que foi ele que lhe deu
esse papel.

Essa é uma linha muito, muito importante. O “ele que lhe deu esse papel” não é o “Eu” que eu
penso ser. Isso é o que chamamos de tomador de decisões. É a parte tomadora de decisões da minha
mente que escolhe acreditar na interpretação de separação do ego ao invés de na do Espírito Santo;
e então, o que se seguiu, passo a passo, é que tudo o que o ego nos disse nós aceitamos como o
evangelho da verdade: Não apenas eu me separei, mas pequei; não apenas eu cometi um pecado,
mas deveria me sentir culpado; não apenas eu sou culpado, mas deveria ser punido por meu pecado.
E, para escapar dessa punição, o ego diz rapidamente: “Deixe a mente, projete a culpa para fora,
faça um mundo e um corpo; mantenha sua separação, esqueça de onde ela veio, e dê a culpa a outra
pessoa”. E então, eu me esqueço de que fiz isso. É por isso que falamos sobre aquele véu do
esquecimento. Eu agora acredito que fui encerrado nesse corpo como em uma prisão. Caí em uma
armadilha aqui. E se eu acreditar que estou aprisionado no meu corpo, vou acreditar que a liberação
e a liberdade virão quando eu deixar o corpo. É por isso que existe aquela linha muito, muito
importante também no capítulo 27: “Existe um risco de pensar que a morte é a paz” (T-
27.VII.10:2). As pessoas pensam, “Quando eu estiver livre do meu corpo, quando eu morrer, então
serei livre, estarei liberado”. Bem, não estará de forma alguma. Você estará na mesma prisão da
culpa em que estava antes de “morrer”. Ou, algumas vezes, isso assume outra forma: “Sim, meu
corpo é uma prisão, mas eu poderia vesti-lo muito bem. Eu poderia colocar flores sobre ele, pintar
as barras de ferro e fazer todos os tipos de coisas boas, e eu poderia transformar essa prisão em algo
tão maravilhoso que nunca iria querer deixá-lo”. Tudo isso é simplesmente uma tentativa de
encobrir a culpa na minha mente para que eu nunca me volte para dentro, para descobri-la.

Pedir a ajuda de Jesus é pedir a ele para olhar para a culpa com você, não em outra pessoa, onde
você a colocou. Traga a culpa de volta para sua própria mente. Reconheça finalmente que você tem
uma mente. Compreenda o propósito ao qual a mente dividida serve, compreenda o propósito ao
qual a culpa serve, compreenda o propósito ao qual o seu mundo serve. Só então, você será capaz
de mudar o propósito da culpa para a santidade, do pecado para a salvação, do ódio para o amor, do
ego para Deus, o mundo para o Céu, do corpo para o espírito – todos termos diferentes para
descrever o mesmo processo.

E, voltando à terceira sentença: “O perdão tem que ser dado por uma mente que compreenda que
ela tem que ignorar todas as sombras sobre a face santa de Cristo, entre as quais a doença deve ser
vista apenas como mais uma”. Esse perdão só pode acontecer através da minha compreensão do
propósito ao qual a falta de perdão serve em minha vida, tanto mantendo o pensamento da
separação real, quanto protegendo-o do desfazer, projetando-o nas outras pessoas.

O mundo é literalmente uma sombra do pensamento de culpa em nossas mentes. Nossos corpos
individuais são literalmente sombras do pensamento de culpa em nossas mentes. Não é a sombra
que tem que ser curada, não é a sombra que tem que ser modificada, e certamente não é a sombra
que tem que ser atacada. É apenas para a culpa em nossas mentes que precisamos nos voltar. O
único valor que o mundo e nossa vida em um corpo têm é o valor de chamar nossa atenção de volta
para dentro. Então, novamente, nós reconhecemos que o mundo é “o retrato externo de uma

12
condição interna”. Eu preciso do mundo porque não sei que existe uma condição interna. Eu
preciso do mundo como o único veículo que tenho – o que Freud se referiu em termos do sonho ser
“a via régia”. Ele disse que o sonho é “a via régia para a compreensão das atividades da mente
inconsciente”. Jesus diria a mesma coisa. O sonho que é o mundo, o sonho que é o corpo, é a “via
régia” para compreendermos as atividades da mente inconsciente. O que são essas atividades? São
as decisões contínuas pela separação e pela culpa.

Então, chegando a entender como estou me separando de você, como estou usando minha doença
para conseguir o ganho secundário de torná-lo responsável por mim, de manipulá-lo para que cuide
de mim e sinta pena de mim, para se sentir culpado, entendendo todos os propósitos para os quais
tenho usado o corpo, e especificamente para o que tenho usado a doença, eu então poderei
reconhecer que tudo isso eram projeções de um propósito interior: a necessidade interior de me ver
como separado. Essa é a doença original, mas eu quero culpar a todos os outros por ela.

Então, quando você começa a se voltar para a doença tanto em si mesmo quanto nas outras pessoas,
quer vê-la dentro do contexto mais amplo do propósito dos sonhos de vitimação do ego. Nós
fizemos o corpo para falhar, assim como os fabricantes fazem carros para falhar, para que você
sempre tenha que levá-los à oficina. Se nós pudemos colocar um homem na lua, seria de se
presumir que poderíamos fazer um carro que não precise ser consertado, mas não o fazemos. Então,
nós fizemos o corpo para falhar. E é obvio que o corpo falha se você não o alimenta, se não lhe dá
água, se não o veste, lhe dá recreação, etc., etc. Por que nós fizemos o corpo dessa forma? Ele é um
sonho. Você pode fazer um sonho da forma que desejar – nós fazemos isso todas as noites. Nós
fizemos nosso sonho dessa forma porque queremos que o corpo seja o instrumento de vitimação nas
mãos de alguém ou de alguma outra coisa – os acima mencionados poderes e forças além do nosso
controle.

Você precisa entender sua vida em um corpo, e especificamente a doença do seu corpo, no contexto
dessa perspectiva metafísica mais ampla, que nos ajuda a entender o propósito: o propósito ao qual
o mundo serve, e o propósito ao qual o corpo serve, assim como tudo o que acontece com o corpo.
Para dizer de outra forma, a doença – os sintomas físicos ou psicológicos – representa os
relacionamentos especiais. Eu tenho um relacionamento muito especial com meu corpo doente e
com minha psique doente. Eu os amo porque eles me capacitam a conseguir o que eu quero. Eu uso
o meu relacionamento especial com o meu corpo para aprofundar meus relacionamentos especiais
com outros corpos. Eu uso meu corpo para fazer outros corpos se sentirem culpados para que eu
possa conseguir deles o que quero.

Toda criança sabe qual é o ganho secundário da doença: você não vai à escola, consegue muita
atenção, algumas vezes, mamãe fica em casa com você se não ficar de outra forma. Como adulto, se
você não gostar do seu trabalho, você fica doente. Se você sentir que precisa de um dia de folga,
mas quer ser pago por ele, fica doente. Existe um tremendo ganho secundário em ficar doente. Se
você quer que as pessoas sintam pena de você, fique doente, machuque-se, faça o que o mundo
chama de ato heróico, e todos vão dizer: “Ô, coitadinho... veja o quanto você sofreu. Você perdeu
um membro, mas veja que coisa maravilhosa você fez”. Nós tornamos nossos mártires heróis. Nós
tornamos as vítimas heroínas. Existe um tremendo ganho secundário.

Existe uma razão para o que acontece com o corpo. Nada acontece acidentalmente. É o nosso
sonho. Nós fizemos o corpo para falhar, para ser vitimado por poderes e forças além do nosso
controle. O fato de o corpo ser dessa forma não é um acaso. Você precisa passar do efeito, que é o
corpo doente, para a causa, que é a mente doente, e vai entender a causa por entender o propósito.
Nós queremos manter a separação que roubamos de Deus, mas queremos dar o pecado e a culpa
embora; e uma das melhores formas de fazer isso é ficar doente: “Esse vírus me atacou, e por isso

13
estou doente”.
Agora, isso não significa que no nível do mundo, você deva negar que existem vírus e bactérias.
Certamente existem, mas estão lá por desígnio. Eles são parte da mesma Filiação doente da qual
fazemos parte. Todos nós pegamos o papel de vítimas porque somos todos secretamente
vitimadores. Todos nós assumimos o papel de vitimadores, porque somos todos secretamente
vítimas. Isso funciona das duas formas. Somos todos vitimadores, mas alguém nos fez assim,
portanto, somos a vítima da vitimação de alguma outra pessoa, e isso continua indefinidamente.
P: Eu quero sair daqui hoje com algumas novas realidades e acho que isso vai acontecer, mas só
estou pensando sobre simplesmente deixar a falha do corpo mais clara, sem criar um grande caso
em relação a isso.

R: Uma das razões pela qual penso ser importante sermos um poucos sérios sobre isso – por que é
importante falar sobre o corpo dessa forma – é que a maioria das pessoas não gosta de falar sobre
ele dessa maneira. E eu acho que Jesus tira as luvas de pelica nesse curso e fala conosco daquele
jeito porque existe uma forte tendência no mundo para não compreendermos o ego. E ele realmente
quer que o compreendamos, porque, de outra forma, não seremos capazes de fazer uma escolha
significativa contra ele, mas nós o transformamos em algo terrível porque primeiro nos
transformamos em algo terrível, e não podemos entender que esse horror que fizemos não é nada,
enquanto não olharmos para o horror do que pensamos. O Curso diz que você precisa olhar para o
ódio; Jesus diz isso em inúmeras passagens. Você precisa olhar para o ódio antes de poder olhar
para o amor. Você precisa olhar para o ódio não porque ele seja real, mas porque você o tornou real;
e então, você tornou o ódio tão odioso e amedrontador que não quer olhar para ele. Então, o mundo
e o corpo se tornaram sua defesa contra esse olhar.

Parte V

Vamos voltar para o panfleto Psicoterapia, a seção chamada “O processo da enfermidade” (P-
2.IV). O contexto desse panfleto, é claro, é a psicoterapia e sua prática. Mas alguém não tem que ser
um terapeuta profissional para se beneficiar dele, embora tenha sido para eles que o panfleto tenha
sido especificamente escrito. Ele é um maravilhoso resumo dos princípios de cura do Curso (que já
vimos e vamos ver novamente), basicamente, que toda doença é alguma forma de falta de perdão e,
portanto, toda terapia é realmente alguma forma de perdão.

(P-2.IV.1:1-2) Como toda terapia é psicoterapia, assim também toda enfermidade é doença mental.

Quando Jesus diz “toda terapia é psicoterapia”, ele quer dizer que toda terapia é da mente, porque
toda doença é da mente – “toda enfermidade é doença mental”. Dito de outra forma, todos os
nossos problemas são sombras da nossa culpa – como vimos quando discutimos as passagens de A
Canção da Oração – e, portanto, toda terapia e toda cura é o desfazer da culpa, que vem através do
perdão. Colocado de outra forma, toda doença é uma expressão da crença de que meus interesses
são separados dos seus. Um corolário a essa idéia é o conceito de um ou outro: eu realmente não me
importo com você, só me importo com minhas próprias necessidades. Esse, obviamente, é o cerne
de qualquer relacionamento especial, e está baseado na idéia de que temos interesses separados.
Outro aspecto desse corolário é a idéia de que eu posso escapar do que o ego me diz ser a fonte da
minha dor, jogando minha culpa em você, dessa forma tornando-o pecador e me tornando inocente.
É um ou outro: você tem o pecado e eu não. Meus interesses são separados dos seus. Eu não me
importo com você de forma alguma; só me importo em salvar a minha pele.

Outra forma de entender a doença é que ela é perceber interesses separados, o que começou com a
crença original de que meus interesses são separados de Deus. Eu não me importo com Deus e não
me importo com Cristo, eu só me importo comigo mesmo – meus interesses vêm primeiro. Eu

14
quero minha vida, e, se isso significa que Deus tem que ser sacrificado e Seu Filho crucificado,
bem, é assim que vai ser; mas eu terei a minha vida. Se nós definirmos a doença como a crença em
interesses separados, então, poderíamos definir a cura como a crença em interesses compartilhados,
isto é, que nós temos objetivos compartilhados. Eu não posso ser sem pecado a menos que você
também seja. Se eu acreditar que sou pecador, então, vou torná-lo pecador, e se eu acreditar que
você é pecador, então, estarei reforçando minha própria crença no pecado. Mas se eu
verdadeiramente quiser me lembrar da minha inocência como Cristo, como o Filho verdadeiro de
Deus, então, essa inocência tem que ser percebida em todos, porque o Filho de Deus é um.

Novamente, essa primeira sentença significa que toda doença é culpa, o que vem da nossa crença
em interesses separados. Toda terapia e toda cura é da mente, porque é aí que a crença está. A cura
corrige a crença em interesses separados, substituindo-a por nosso reconhecimento de que nossos
interesses são compartilhados. Como o texto diz, “vamos para casa juntos, ou não vamos de forma
alguma” (T-19.IV-D.12:8) e “O arco da paz é atravessado dois a dois” (T-20.IV.6:5).

(P-2.IV.1:2-3) É um julgamento feito sobre o Filho de Deus, e o julgamento é uma atividade


mental.

Jesus está falando sobre a mente, o que, quase sempre, não é sobre o que os psicólogos estão
falando. Mesmo quando Freud falava sobre a psique, ele sempre tinha um modelo biológico em
mente. Ele começou como um neurologista e pesquisador, e escreveu uma clássica monografia
sobre a afasia antes de começar seu trabalho psicológico. Perto do fim da sua vida, ele afirmou que
algum dia no futuro, toda a sua pesquisa, investigações e tudo o que ele tinha trazido à tona seria
compreendido eletroquimicamente. Quando os psicólogos falam sobre a mente, não estão falando
sobre ela da mesma forma que o Um Curso em Milagres faz. Eles estão falando sobre ela como
algum aspecto do cérebro. Novamente, quando Jesus fala sobre “atividade mental”, ele quer dizer
literalmente “da mente”, que está totalmente fora do corpo e do cérebro.

(P-2.IV.1:3-7) O julgamento é uma decisão, tomada uma e outra vez, contra a criação e o seu
criador. É uma decisão de perceber o universo assim como tu o terias criado. É uma decisão
segundo a qual a verdade pode mentir e não pode deixar de ser mentira.

Essas são todas formas diferentes de descrever o que aconteceu no momento original ontológico no
qual a “diminuta e louca idéia” pareceu surgir na mente do Filho de Deus, e o Filho tinha uma
escolha entre ouvir a verdade do Espírito Santo ou a mentira do ego. A interpretação do Espírito
Santo sobre a “diminuta e louca idéia” foi a de que a separação nunca aconteceu – não existe
“diminuta e louca idéia”. É isso o que Um Curso em Milagres chama de princípio da Expiação. A
mentira do ego é a de que a “diminuta e louca idéia” não apenas aconteceu, mas é real, pecaminosa,
justifica nossa culpa, o que então nos torna merecedores de punição. Nós escolhemos que a mentira
do ego tome o lugar da verdade do Espírito Santo.

Inerente a tudo isso está o julgamento, julgamento, julgamento. Primeiro nós julgamos contra Deus
– que Seu Amor não era suficiente para nós. Depois, fomos em frente e fizemos nosso próprio
mundo interior, e mais tarde, um mundo físico, onde nós acreditamos que iríamos encontrar amor,
felicidade, paz e alegria em nossa existência independente, individual. Nós então fizemos
julgamentos contra nós mesmos porque nos sentimos tão culpados em relação ao que fizemos – nós
dissemos a Deus para ficar de fora, que Seu Amor não era o que queríamos e não era suficiente; e se
isso significava que Ele tinha que ser extinto, então que fosse! Então, é claro, nós pegamos o
julgamento que fizemos sobre nós mesmos, o projetamos para fora, e agora julgamos todos os
outros. É disso que Jesus está falando aqui. O universo que nós agora percebemos da forma com
que o criamos – que realmente é como o criamos mal – é o universo da separação, julgamento,

15
culpa, punição, sofrimento, dor e finalmente morte. Esse é o universo da mente errada. Pelo fato do
universo estar dentro de nossas mentes, é o universo que surge quando o projetamos. Novamente, é
um mundo de sofrimento, pecado, separação, especialismo e morte.

(P-2.IV.1:7-10) Nesse caso, o que pode ser a enfermidade senão uma expressão de pesar e de
culpa? E quem poderia chorar exceto pela própria inocência?
Essa é uma linha maravilhosa, que cito com freqüência. Todas as nossas lágrimas, pesares, tristezas,
solidão e tudo o que dói dentro de nós só tem uma causa: nossa crença de que jogamos fora a
inocência do Filho de Deus quando nos separados Dele, e que nunca vamos consegui-la de volta.
Todas as nossas lágrimas são por nossa inocência. E, ainda que ela seja devolvida, vamos sentir que
não a merecemos, porque primeiro resolvemos destruí-la. É isso o que a nossa culpa nos diz. Jesus
está dizendo que toda doença, não importando a forma na qual é expressa e na qual a
experienciamos, não é nada mais do que uma sombra: uma “expressão de pesar e de culpa”.
Novamente, toda solidão, tristeza e ansiedade que todos nós sentimos de vez em quando em nossas
vidas tem sua única causa na decisão que tomamos uma vez, e continuamente reforçamos, de
empurrar o Amor de Deus para longe de nós.

Com muita freqüência, a forma na qual experienciamos isso aqui é que nós empurramos o Amor de
Jesus ou do Espírito Santo, dizendo a Eles que Seu Amor não é suficiente para nós: queremos o
amor dessa pessoa especial; quero o conforto dessa substância especial; quero qualquer coisa que o
mundo possa me dar e não Você. Tudo o que fazemos quando empurramos Jesus para longe é
reforçar a culpa original de quando empurramos Deus para longe e dissemos a Ele para ficar de fora
porque Seu Amor não era suficiente. É isso o que fazemos de novo e de novo.

Lembrem-se, não há mundo lá fora exceto como uma sombra ou uma projeção do mundo interior.
No mundo interior, não existe tempo nem espaço. O mundo linear do tempo e do espaço não surgiu
até a projeção do erro. Na mente, tudo é sem tempo, não no sentido da eternidade, mas no sentido
de que não existe tempo. O pensamento do pecado, culpa e medo projetado faz surgir a linearidade
do passado, presente e futuro.

Novamente, o que você quer ser capaz de entender é que tudo o que está sentindo em sua vida atual,
em seu momento presente – memórias de dores do passado, ou coisas que você está antecipando do
futuro – não é o que você pensa. Elas são simplesmente, como já expliquei, formas de manter sua
separação, colocando a culpa ou a responsabilidade por ela em algo ou alguém fora de você.

(P-2.IV.2:1-2) Uma vez que o Filho de Deus é visto como um ser culpado...

Tudo isso acontece antes do tempo e antes do mundo. Acontece na mente, mas ainda está
acontecendo. É por isso que é tão importante ver que o sistema de pensamento do ego está além da
mente. Nós apenas o projetamos como tempo, e pensamos nele em termos de seqüência, mas está
sempre lá e sempre vai buscar uma forma de expressão.

(P-2.IV.2:1-3) Uma vez que o Filho de Deus é visto como um ser culpado, a enfermidade vem a ser
inevitável. Ela foi pedida e será recebida.

É impossível não ter alguma forma de doença uma vez que a culpa é tornada real na mente.
Enquanto acreditarmos que estamos aqui nesse mundo e que somos um corpo, enquanto
acreditarmos que somos a personalidade que temos, enquanto acreditarmos que esse ser é quem
realmente somos, nos sentiremos culpados. Esse ser poderia emergir apenas da crença prévia de que
poderíamos nos separar de Deus, de que nós alcançamos o impossível, fato pelo qual nossos
sentimentos de auto-ódio e auto-aversão são mais do que justificados. Para escapar desses

16
sentimentos de auto-aversão, nós então acreditamos que nosso único recurso é projetá-los e
encontrar as falhas em todas as outras pessoas. É isso o que Jesus quer dizem com “ela foi pedida e
será recebida”.

(P-2.IV.2:3-6) E todos aqueles que pedem uma enfermidade, agora condenaram a si mesmos a
buscar remédios que não podem ajudar porque a sua fé foi colocada na enfermidade e não na
salvação.
Aqui, Jesus está se referindo à mágica. Se você olhar para a primeira linha com a caixa do mundo,
no seu gráfico, verá solução/mágica. Qualquer tentativa de resolver um problema no nível do
mundo e do corpo, o Curso chama de mágica, porque não será bem sucedida. Qualquer coisa que
tente resolver um problema no nível da mente, o Curso chama de milagre. É por isso que existe uma
linha no lado direito do seu gráfico, indo do mundo de volta para o tomador de decisões. O arco
denota o processo de tirar nossa atenção do mundo – onde o ego a colocou para que pudéssemos
culpar a todos – e trazê-la de volta para a mente da qual tentamos nos esconder.

A mágica é uma tentativa de resolver um problema onde ele não existe - isto é, no corpo e no
mundo -, enquanto o milagre resolve o problema onde ele existe, que é na mente. Nós
continuamente buscamos remédios para nossa dor nos níveis que nunca irão ajudar, porque eles
foram designados a não ajudar. Lembrem-se, a estratégia fundamental do ego é nos impedir até de
mudar nossas mentes sobre o ego. O sistema de pensamento do ego é uma estratégia
cuidadosamente pensada e planejada, e é absolutamente brilhante. O medo do ego é de que, em
algum ponto, vamos acordar para o que fizemos, e reconhecer nossa escolha errada, mudando
nossas mentes. E, no instante em que escolhermos contra o ego e pelo Espírito Santo, o ego vai
desaparecer – ele não é real. Ele tem a aparência de realidade apenas na extensão em que
acreditamos nele.

No texto, Jesus fala sobre fé, e ele não quer dizer fé no sentido usual do mundo. Ele está falando
sobre depositar fé no ego ou no Espírito Santo (T-17.VII). Colocar sua fé no ego é o que ele
descreve como falta de fé, porque estamos colocando nossa fé em nada. Mas, uma vez que o
fazemos, investimos nossa crença no ego e, nesse ponto, o ego parece real – tão real e monstruoso,
de fato, que nós então tivemos que projetá-lo para fora e fazer um mundo que pensamos ser real.
Mas, como o Rei Lear diz, “nada virá de nada”. O mundo não é nada porque ele vem do nada, mas
nós acreditamos que é tudo – sólido, real e muito doloroso porque acreditamos nele. Quando
retiramos nossa crença, retiramos nossa fé e o ego entra em colapso como um balão que deixou
escapar todo o seu ar. O ego tem medo dessa eventualidade, portanto, conclui que a forma de
escapar da inevitabilidade de mudarmos nossas mentes é nos tornar sem mente. É por isso que
existe um mundo.

Essa é outra forma de entender o propósito do mundo. O propósito do mundo é nos fazer esquecer
de que temos uma mente. Novamente, para voltarmos ao que discutimos mais cedo, nós nos
esquecemos de que a mente é a causa e o mundo é apenas o efeito. Tornando-nos sem mente – o
que significa que um véu opaco caiu sobre nossas mentes -, não temos lembrança sobre ela e vamos
ficar para sempre sem mente, porque nos esquecemos sobre a causa. Tudo o que sabemos é: meu
corpo está doente e precisa de ajuda, minha psique está magoada e precisa de ajuda, eu me sinto
solitário e isolado, e preciso de outro corpo para agarrar para me sentir confortado, meu estômago
se sente vazio e está rugindo, então, tenho que enchê-lo com algo que vem de fora, eu tenho uma
enxaqueca, então, preciso de uma pílula que vai me ajudar a descomprimir minhas artérias para que
a dor vá embora, e assim por diante indefinidamente. Mas nenhum desses remédios vai funcionar
porque eles não desfazem a causa. Eles apenas brincam um pouco com a sombra, mas a causa da
sombra permanece exatamente onde estava.

17
É disso que Jesus está falando aqui. Nós colocamos nossa fé na doença porque não queremos ser
salvos. Uma parte de nós gosta da nossa identidade individual, gosta de ser única, de ser uma
pessoa, e não quer ser salva. A salvação significa, no contexto do Um Curso em Milagres, que
somos salvos de nossa crença no sistema de pensamento do ego – um sistema de pensamento de
individualidade, separação, especialismo, etc.

O que Jesus tenta fazer nesse panfleto, assim como faz no Curso, é nos levar a reconhecer
exatamente o que estamos fazendo e por que o fazemos; por que nós tão teimosamente insistimos
em estar certos e em que sabemos, e o Espírito Santo não sabe, ou que o que o Espírito Santo sabe é
o que nós ensinamos a Ele. O mundo tem adorado o Jesus que nós fizemos à nossa própria imagem.
Esse é o Jesus que confirma nosso sistema de pensamento da separação, pecado, salvação através
do sofrimento, morte, corpos, etc.; mas estamos aterrorizados do que o Jesus real ensina porque não
queremos ser salvos da forma que ele quer nos salvar. Nós queremos ser salvos da nossa dor, tendo
outra pessoa para pagar o preço por isso.

(P-2.IV.2:6-8) Não há nada que uma mudança da mente não possa realizar, pois todas as coisas
externas são apenas sombras de uma decisão já tomada.

Decisões são tomadas apenas na mente e é por isso que falamos sobre o tomador de decisões. Por
“todas as coisas externas” Jesus quer dizer tudo aqui: todo o universo físico assim como nosso
universo pessoal. “Todas as coisas externas são apenas sombras de uma decisão que já foi
tomada” na mente – uma decisão de sermos separados e, mais uma vez, de mantermos nossa
separação intacta, projetando a causa e culpando todos os outros por isso.

(P-2.IV.2:8-11) Muda a decisão, e assim como seria possível que a sua sombra ficasse sem ser
mudada? A enfermidade só pode ser a sombra da culpa, grotesca e feia, já que é uma mímica da
deformidade.

A deformidade de que Jesus está falando é o pensamento deformado que diz que eu sou um Filho de
Deus, independente do meu Criador e Fonte; esse ser egóico – o lar do mal, escuridão e pecado – é
quem eu sou. Essa é a deformidade. Uma vez que eu tenho um pensamento deformado, como
poderia sua sombra ser algo mais além de deformada? Mesmo quando seu corpo parece funcionar
perfeitamente, ele é deformado. Ele é deformado por causa da sua grotesca paródia e travesti de
Quem realmente somos, porque nossos corpos nos mantêm separados de todos os outros corpos.
Nossos corpos mudam, sem falar que definham e morrem, e é isso o que proclamamos ser o
glorioso Filho de Deus. E se isso não fosse ruim o suficiente, quando você olha para o corpo no
contexto da Bíblia, ele fica ainda pior, porque Deus então se torna o Criador dessa deformidade.
Isso, é claro, torna Deus tão deformado quanto nós.

(P-2.IV.2:11-13) Se a deformidade é vista como algo real, como poderia ser a sua sombra senão
deformada?

Tudo o que Jesus está dizendo aqui, em uma linguagem muito forte, é que o mundo e o corpo são os
efeitos da causa, que é a decisão da nossa mente de sermos separados e depois nos sentirmos
culpados. O que chamamos de enfermidade não é apenas a forma de deformidade. O próprio corpo
é uma deformidade. O mundo é uma deformidade. Qualquer coisa que pareça existir nesse e mundo,
qualquer coisa que mude, cresça, definhe, se deteriore e morra é uma deformidade, porque é uma
sombra do pensamento deformado original que diz que eu existo fora do Céu e tenho uma
identidade individual que me mantém separado e me diferencia Dele, e conseqüentemente, me
mantém separado de todos os outros. Como isso poderia ser amor? Como isso poderia ser real? O
propósito dessa identidade é provar que o amor está na mentira e a realidade está na ilusão; ou, em

18
outras palavras, que a ilusão é a realidade e o amor especial é a verdade. O amor especial é sempre
sobre separação, interesses separados e barganhas. É sempre exclusivo, significando que não inclui
toda a Filiação.

Vocês podem ver que Jesus está transformando a idéia e compreensão da doença do ponto de vista
limitado do mundo e do corpo para a mente. Ele está dizendo que qualquer coisa que aconteça aqui
é uma sombra. Portanto, o que você quer fazer é voltar para a fonte da sombra. É isso o que tem que
ser modificado e desfeito.

Parte VI

(P-2.IV.3:1-3) A descida ao inferno [que é o que realmente o mundo acaba sendo] acontece passo a
passo em um curso inevitável uma vez que a decisão de que a culpa é real foi tomada.

É disso que Jesus fala em Um Curso em Milagres como o caminho louco para a insanidade (T-
18.I.7). Ele também se refere a isso como a escada que a separação nos fez descer (T-28.III.1:2).
Isso está representado no gráfico com Deus mostrado no topo – o Deus que acreditamos ter
deixado. Então, existe a parte tomadora de decisões da mente que fez a escolha errada e busca
obliterar o Espírito Santo. Agora, nosso ser não é mais um Ser e nem mesmo um ser tomador de
decisões; ele agora é um ser egóico, pequeno e diminuto, fingindo em sua grandiosidade ser algo
importante. A partir disso, nós finalmente descemos para o nível do mundo. É disso que Jesus está
falando nessa passagem.

Isso é inevitável uma vez que tornamos a culpa real, porque a culpa requer punição e então ficamos
com medo de ser punidos. Isso exige que deixemos a mente para escaparmos da ira de Deus, o que
fazemos inventando um mundo. Isso não é algo que aconteceu uma vez no tempo. Isso acontece de
novo e de novo a cada instante. Existe uma seção maravilhosa “O pequeno obstáculo”, no texto, que
diz: “A cada dia e em cada minuto de cada dia e em cada instante que cada minuto contém, tu
apenas revives o único instante em que o tempo do terror tomou o lugar do amor” (T-26.V-13:1-4).
Nós reencenamos aquele momento quando dissemos ao Espírito Santo para cair fora e ouvimos o
ego ao invés dele. Nós fazemos isso de novo e de novo fora do tempo, mas experienciamos seus
efeitos dentro do tempo. O problema está fora do tempo, o que significa que a cura tem que estar
fora do tempo. É isso o que é o instante santo. É um instante fora do tempo e do espaço quando
escolhemos o Espírito Santo ao invés do ego.

(P-2.IV.3:3-5) A doença, a morte e a miséria agora assombram a terra em ondas incessantes,


algumas vezes juntas e algumas vezes em inflexível sucessão.

Esse é o retrato que Jesus faz do mundo. Não é o único trecho do material no qual ele fala sobre isso
dessa forma. Ele está tentando nos ajudar a perceber que esse não é um bom lugar, e, portanto, que
não deveríamos tentar transformá-lo em um bom lugar. É isso o que o mundo é: um lugar de
“doença, morte e miséria”. Como ele diz no livro de exercícios, é um deserto, “aonde criaturas
famintas e sedentas vêm para morrer” (LE-pII.13.5:1). E essa não é a única vez em que ele usa a
imagem de um deserto também. Não existe vida aqui. Não existe vida no deserto do ego. Ele nos
diz que não existe vida fora do Céu (T-23.II.19:1). O ponto de tudo isso não é nos atormentar e nos
fazer sentir culpados, mas nos tornar motivados a querermos deixar esse buraco infernal, esse
deserto. Jesus está nos motivando a não querermos permanecer em um lugar, para repetir, “aonde
criaturas famintas e sedentas vêm para morrer” – um lugar onde “a doença e a morte e a miséria”
espalham-se silenciosamente pela terra. Essas são as más notícias em termos do mundo que
pensamos ser tão real e tão maravilhoso. As boas notícias é que todas essas coisas, não importando
o quanto pareçam reais, são só ilusões.

19
O problema com essa afirmação, assim como com muitas afirmações similares, é que se eu aceito o
que ele está dizendo – que a doença, a morte e a miséria são ilusões – então, preciso também aceitar
o fato de que esse corpo também é uma ilusão. Mais uma vez, é por isso que ninguém realmente
gosta desse curso. Jesus não está apenas dizendo para liberarmos todas as nossas mágoas, falta de
perdão, raivas mesquinhas e especialismo. Na verdade, ele está dizendo para desistirmos de tudo
isso, mas também está dizendo que desistir disso tudo é a pedra fundamental em relação a
eventualmente desistirmos de todo esse ser. Seu propósito não é nos fazer viver mais felizes no
sonho, no qual toda doença e morte foram erradicadas e as pessoas vivem cada vez mais, e todos
são felizes. Seu propósito é nos despertar do sonho, e o sonho de corpos é apenas uma sombra do
sonho de culpa que está na mente.

Nós temos que ser motivados. Se Jesus é nosso professor, então, ele compartilha o desafio que
qualquer professor tem, que é motivar os seus alunos. Eles têm que querer aprender os cursos que
seus professores estão ensinando. Bem, a única maneira de Jesus nos levar a realmente aprender
esse curso é nos fazer perceber o quanto somos infelizes enquanto estamos aqui. Se nós
acreditarmos que tudo é maravilhoso, vamos estudar o Curso por seis meses e pensar que
entendemos a idéia e caminhar em direção ao pôr do sol. Não nos sentiremos motivados a realmente
estudar e praticar tanto o texto quando o livro de exercícios diariamente, pelo resto de nossas vidas.
Temos que nos sentir motivados, percebendo que nossa vida não funciona.

É por isso que todas essas passagens estão aqui. Se você pensar que esse mundo funciona ou pode
funcionar, ou que Um Curso em Milagres veio a esse mundo para torná-lo um lugar melhor – para
trazer paz, prosperidade e felicidade ao mundo -, nunca se sentirá motivado a aprendê-lo. O
propósito desse curso é nos ajudar a deixar o mundo voluntariamente, assim como o ego teve que
nos convencer, logo no início, a deixar a mente. Ele fez isso nos contando uma mentira na qual nós
acreditamos: que a mente era um lugar perigoso. Por inventar seu conto de pecado, culpa e medo,
ele nos deu a motivação para deixarmos a mente, porque nós acreditamos que se permanecêssemos
lá, um Deus feroz, maníaco e insano iria efetuar sua vingança sobre nós, nos causando muita
infelicidade, e finalmente nos destruindo.

O ego foi um professor muito bom – insano -, mas um ótimo professor. Ele sabia que tinha que nos
motivar a deixar a mente e criar um mundo, ensinando-nos que a mente iria nos tornar muito
infelizes. Jesus faz a mesma coisa, exceto que sua lição é sã. Ele agora tem nos motivado a desfazer
a motivação do ego. Ele tem que nos ensinar que permanecer no corpo e no mundo vai nos matar e
nos tornar muito infelizes, e que retornar à mente vai nos trazer alegria real. O problema é que nós
ainda acreditamos no ego e, portanto, ainda nos sentimos motivados a escapar das nossas mentes,
vivendo no mundo. O ego diz, “Certo, agora que estamos aqui, vamos tornar o mundo um lugar
melhor”. O propósito desse curso não é fazer um mundo melhor. Ao contrário da Bíblia, Um Curso
em Milagres não tenta criar uma “nova Jerusalém” aqui na terra, ou fundir o Céu e a terra, ou trazer
o Céu à terra. Você não pode integrar dois reinos mutuamente excludentes.

Jesus tem que nos motivar a olharmos de novo para esse mundo e para o corpo, e tudo o que for
material. Esse é o propósito do texto, do livro de exercícios, do manual, dos dois panfletos e dos
poemas de Helen. Mas nos sentimos tão tentados a dizer que Jesus realmente não quer dizer que o
mundo está errado, e que, ao invés disso, ele quer dizer que nós percebemos o mundo de forma
errada. Mas ele não quer dizer isso. Jesus quer dizer que o mundo é errado porque foi feito para ser
uma defesa contra o que está certo, que é o princípio da Expiação em nossas mentes. Vocês
precisam entender isso; de outra forma, seu trabalho com esse curso será severamente limitado.
Você poderia colocar um aro bem apertado ao redor dele para que ele diga apenas o que você quer
que ele diga, que é como você pode viver melhor nesse mundo e sentir melhor nesse corpo. Jesus

20
está dizendo que você não pode se sentir melhor em um corpo porque não existe corpo, mas deixe-
me fazê-lo se sentir melhor na mente, ensinando que o ego mentiu para você. A mente não é um
lugar perigoso. Não existe um Deus colérico, maligno, determinado a destruí-lo. Não existe uma
pessoa pecaminosa, culpada, cruel e má chamada ‘você’ em sua mente. Toda a coisa foi inventada.
A mente é a única coisa que pode salvá-lo, porque a mente é a única coisa que pode amaldiçoá-lo.

Mas Jesus tem que nos motivar; ele tem que nos fazer querer aprender seu curso. É por isso que
passagens como essa aparecem aqui – para que não nos sintamos tentados a puxá-lo para cá e tornar
o mundo um lugar melhor.
(P-2.IV.3:5-8) Quem poderia depositar nelas sua fé, uma vez que isso é compreendido? E quem
poderia não depositar a sua fé em todas elas até que compreenda isso?

Jesus está tentando nos fazer perceber que a doença, a morte e a miséria são ilusões. Ele fala sobre
isso em muitos trechos, tal como a Introdução ao Capítulo 13 no texto, onde diz que o mundo é “um
sistema ilusório daqueles a quem a culpa enlouqueceu” (T-13.in.2:2). Ele então vai em frente para
descrever o que esse mundo realmente é: não é um bom lugar e que “se fosse o mundo real, Deus
seria cruel” (T-13.in.3:1). Ele quer que compreendamos o que o corpo é. Só então iremos
reconhecer que o corpo é neutro, e só então poderemos perceber que o corpo poderia servir a um
propósito diferente: como uma sala de aula para nos levar além do corpo, ao invés de ser uma prisão
que nos faz apodrecer e culpar todas as outras pessoas por isso.

(P-2.IV.3:8-10) A cura é a terapia ou correção, e nós já dissemos, e vamos repetir, que toda terapia
é psicoterapia. Curar o doente é, apenas, trazer a ele a consciência disso.

A razão pela qual a frase “toda terapia é psicoterapia” é tão importante é que ela se refere à idéia de
que toda cura está na mente e não pode ser nada mais. Jesus está simplesmente nos ajudando a
entender a diferença entre mágica e milagre. Respirar e comer são coisas mágicas, significando que
acreditamos que vamos morrer se não comermos, bebermos ou respirarmos. Jesus não está dizendo
que você deveria parar de comer ou de respirar, ou que não deveria usar mágica porque é má ou
prejudicial. Ele simplesmente está tentando nos ajudar a entender a qual propósito comer e respirar
servem.

(P-2.IV.4:1-2) A palavra ‘cura’ passou a ter má reputação entre os terapeutas mais ‘respeitáveis’
do mundo, e com razão.

O panfleto Psicoterapia foi transcrito em 1970, e é uma referência ao debate que estava acontecendo
naquela época entre psicoterapeutas – resultado do trabalho pós-guerra de Carl Rogers – sobre se
existe ou não cura em psicoterapia. Jesus está dizendo algo totalmente diferente do que os
psicoterapeutas diriam sobre seu trabalho. Ele está dizendo que não existe cura aqui porque a cura
não tem nada a ver com o corpo, ou com a interação entre corpos. A cura, ou o restabelecimento, só
pode acontecer na mente.

(P-2.IV.4:2-3) Nenhum deles pode curar e nenhum deles compreende a cura.

Isso é demais para todos os terapeutas do mundo! É por isso que existe um panfleto para
psicoterapeutas, porque eles não entendem o que a psicoterapia e a cura realmente são. A propósito,
isso não significa que se você estiver em terapia, ou pensando em iniciar uma terapia, deveria parar
ou não seguir em frente. Novamente, não existe nada errado com a mágica; e, por favor, se você
estiver em terapia ou estiver para iniciar uma, não leve esse panfleto com você. Isso não vai ajudar,
e poderia também ser uma expressão de ataque mascarado como resistência.

21
(P-2.IV.4:3-10) Na pior das hipóteses, eles apenas fazem com que o corpo seja real em suas
próprias mentes e, tendo feito isso, buscam uma mágica com a qual curar as enfermidades com as
quais as suas mentes o dotaram, como tal processo poderia curar? É ridículo do início ao fim.
Contudo, tendo iniciado o processo, ele não pode deixar de terminar assim. [Isso começa de forma
ridícula porque vê o problema onde ele não está, e, portanto, precisa terminar de forma ridícula]. É
como se Deus fosse o diabo e precisasse ser encontrado no mal.

A cura é de Deus e está na mente, que não tem nada a ver com o corpo. Não é que o corpo seja mau,
mas que ele não funciona. Com “corpo” Jesus também quer dizer psique. Mais cedo, eu disse que
quando Freud falou sobre a psique, queria dizer o corpo; isso é verdadeiro sobre Jung também. Eles
não queriam dizer mente da mesma forma que o Curso fala sobre ela. Eles viam a mente como um
adjunto a, ou alguma expressão de, uma atividade relacionada ao cérebro. Eles não estavam falando
sobre a mente.

(P-2.IV.4:10-12) Como poderia o amor estar presente? E como poderia uma doença curar? Não
são ambas uma única pergunta?

Como poderia haver amor no corpo? Como poderia haver amor quando você está procurando por
ele no lugar errado? O amor é encontrado no princípio da Expiação do Espírito Santo, na mente
certa, onde memória do Amor de Deus está. Nossa escolha pela mente certa é a maior ameaça ao
ego. O ego sabe, como já expliquei, que se retirarmos nossa crença nele, ele vai desaparecer. Uma
vez que a mente dividia é governada pelo princípio de ou um ou outro, retirar nossa crença no ego
significa colocar nossa fé e crença no Espírito Santo. Isso significa que parte de nós quer se lembrar
do Amor de Deus ao invés de tentar atacá-lo continuamente. Negar esse Amor e erigir a culpa e o
amor especial em seu lugar é doença. É isso que vai fazer surgir uma experiência de doença nesse
mundo, não importando a forma dos sintomas.

Escolher o Espírito Santo é o nascimento da idéia de que “tem que existir outro caminho”. Minha
forma de viver nesse mundo não está funcionando para mim. Minha forma de viver esse curso não
está funcionando para mim porque estou sempre tentando trazer Jesus ou o Espírito santo para o
mundo, ao invés de usá-los como o meio de deixar o mundo. Deixar o mundo não significa morrer
fisicamente, no entanto; significa gradualmente retirar minha percepção do mundo como sendo real
e fora de mim, passando para a verdadeira percepção, ou visão, do Espírito santo que vê o mundo
como “um retrato externo de uma condição interna”. É para essa condição interna que eu quero
voltar, porque esse é o problema. E eu quero corrigir o problema na sua fonte: a parte tomadora de
decisões da minha mente que escolhe o ego ao invés do Espírito Santo.

Parte VII

(P-2.IV.6:1-4) Qualquer tipo de enfermidade pode se definido como o resultado de uma perspectiva
que vê o ser como fraco, vulnerável, mau e em perigo, e assim em necessidade de defesa constante.

Novamente, isso amplia nossa compreensão da enfermidade. Estudantes do Um Curso em Milagres


adoram apontar um dedo acusador para os outros estudantes do Curso que ficam doentes, dizendo,
“Você não está fazendo o Curso de forma correta; você não sabe que ‘a doença é uma defesa contra
a verdade’”?! (LE-pI.136) – e assim por diante. Jesus não está falando sobre um sintoma, mas ele
está dizendo que a enfermidade é qualquer experiência no corpo. Quando você está com forme, isso
é uma enfermidade Qualquer coisa que esteja errada com o corpo, quer seja falta de oxigênio, de
comida, ou o que chamamos de doença é uma enfermidade. Toda enfermidade requer uma solução
mágica. A solidão é uma enfermidade, e querer outra pessoa com você é uma solução mágica. Tudo
aqui é uma enfermidade, e não existe hierarquia de ilusões – ao contrário da primeira lei do caos.

22
Então, seja gentil e benigno com seus amigos e com você mesmo.

“Qualquer tipo de enfermidade pode ser definido como o resultado” significa que a enfermidade é
o efeito e a causa é a percepção de si mesmo como “fraco, vulnerável, mau e em perigo”. Essa é a
percepção do pecado, da culpa e do medo – nós acreditamos que somos “o lar do mal, escuridão e
pecado” (LE-pI.93.1:1), e que essa é a causa de nos sentirmos tão vulneráveis e nus perto da ira de
Deus, Que vai descer sobre nós e nos destruir. Esse ser vulnerável precisa de uma defesa, que é o
mundo, e o mundo então se torna uma defesa contra a nossa culpa e nossa percepção de nós
mesmos como “fracos, vulneráveis, maus e em perigo”. Essa percepção do nosso ser é, por seu
lado, uma defesa contra o glorioso Ser que Deus criou, do qual o princípio da Expiação é um
lembrete.

Todo o sistema de pensamento do ego está encapsulado nessa única sentença – e compreender esse
sistema de pensamento é o desfazer do ego. Implícita na visão da mente errada está a correção da
mente certa, porque, quando nós realmente olharmos para o que o ego está fazendo, ele
desaparecerá. É por isso que vocês têm que ler cada sentença muito cuidadosamente.

(P-2.IV.6:4-5) No entanto, se o ser fosse assim realmente, defendê-lo seria impossível.

O que é claro, é que mesmo assim o mundo não funciona. Vejam o quanto o ego é inteligente e o
quanto somos insanos em acreditar nele. O ego nos convence de que nosso ser na mente é fraco,
vulnerável, mau e em perigo, e precisa da proteção do mundo e do corpo. Então, nós fazemos um
corpo, mas ele, também, é fraco e vulnerável. Se alguém olhar para seu corpo zombando dele, você
se sentirá destruído. Isso só mostra o quanto sua percepção de si mesmo é fraca e frágil. E, se você
for atingido por um carro enquanto estiver atravessando a rua, estará destruído de outra maneira.
Como já vimos várias vezes, o corpo nasceu para morrer. Desde o momento do nascimento, as
células começam a morrer e finalmente morrem. Então, como isso pode funcionar como uma
defesa?

Existe uma passagem maravilhosa no texto, onde Jesus explica a insanidade do ego e como suas
defesas não funcionam (T-4.V.4). Jesus nos faz confrontar o ego com uma pergunta que
basicamente é: “O que acontece? Você me disse para fazer um corpo porque eu precisava de ajuda e
proteção, e agora meu corpo precisa de ajuda e de proteção. Não importando o tipo de ajuda que ele
consiga, ainda vai morrer no final. Que tipo de ajuda é essa?”. Jesus diz que o ego responde
obliterando a questão – ele faz com que um véu caia sobre nossa mente, obliterando qualquer
memória do que é tudo isso. Nós não estamos mais conscientes de que a defesa do ego – o corpo –
não funciona porque não estamos mais conscientes contra o que ele deveria nos defender, que era
da dor em nossas mentes. Nós nos esquecemos que nascer em um corpo é uma defesa e agora
pensamos que é a realidade – nós pensamos que isso é uma dádiva de Deus.

É por isso que precisamos de um curso que exponha o ego pelo que é. Jesus levanta o véu e diz,
“Deixe-me ajudá-lo a olhar para o que você esteve encobrindo. Você vai querer se afastar das
fétidas e grotescas formas que vê em sua mente, mas vou ficar lá com você e ajudá-lo a olhar.
Então, você vai perceber que toda a coisa foi literalmente uma fantasia, uma alucinação, uma ilusão,
e aí tudo vai desaparecer. Mas você não vai saber disso até olhar para sua mente”. Jesus está nos
ajudando a entender que se nós queremos ver o que está na mente, deveríamos olhar para o mundo
como realmente é. Ele não é um lugar de vida, é um lugar de morte. É por isso que Jesus diz no
livro de exercícios, “O mundo foi feito como um ataque a Deus... [ele] estava destinado a ser um
lugar onde Deus não poderia entrar...” (LE-pII.3.2:1,4).
(6:5-6) Portanto, as defesas buscadas para isso não podem deixar de ser mágicas.

23
Elas são mágicas porque não resolvem nada. Em nosso mundo diário, a mágica é associada à ilusão
– nós pensamos que vemos coisas que realmente não aconteceram. Bem, o mundo não aconteceu, e
a doença é apenas uma das defesas ou formas de mágica que o ego usa para nos proteger da doença
real, que está em nossas mentes. Esse é o ponto todo da Lição 136, “A doença é uma defesa contra
a verdade” (LE-pI.136), onde Jesus descreve a doença como uma defesa que o ego usa para nos
impedir de despertar para a verdade de que nossa realidade é espírito. Jesus descreve
especificamente a estratégia defensiva do ego, apontando que ela não é algo que simplesmente
aconteça. Nós não somos vítimas inocentes de forças ou agente patogênicos além do nosso controle.
É nosso sonho e serve a um poderoso propósito do ponto de vista do ego: isto é, atender ao desejo
de manter nossa separação, mas culpando outra pessoa por isso.

(P-2.IV.6:5-9) Elas [as defesas] têm que vencer todos os limites percebidos no ser e ao mesmo
tempo fazer um auto-conceito novo, no qual o velho não pode reaparecer. Em uma palavra, o erro
é aceito como real e se lida com isso através de ilusões.

Essa idéia de tentar construir um conceito diferente do self tem sido proeminente em nosso mundo
desde a segunda guerra mundial. Existe um ramo da teoria psicológica chamado “teoria do self”,
com Rogers, Allport e Maslow entre seus teoristas mais famosos. Essa teoria é sobre criar um novo
auto-conceito que seja mais forte, menos vulnerável e nos faça sentir melhor – sem termos que lidar
com o conceito subjacente do ego de que somos “fracos, vulneráveis, maus e em perigo constante”.
Ao invés de olharmos para dentro, para esse auto-conceito, nós simplesmente colocamos outro véu
sobre ele, fazendo um self melhor – um corpo físico e psicológico melhor no mundo. Nós não
percebemos que estamos apenas fazendo sombras, seres aparentemente amorosos e repletos de luz
que são maiores, melhores e mais bonitos, mas ainda assim, sombras que usamos para encobrir a
escuridão que é nossa crença aterrorizante sobre nós mesmos.

(P-2.IV.6:9-10) Como a verdade foi trazida às ilusões, a realidade agora passa a ser uma ameaça e
é percebida como o mal.

É isso o que o ego faz. O verdadeiro Deus é agora percebido como uma ameaça, e aqueles que
acreditam Nele são vistos como heréticos maus, pagãos e não crentes porque não subscreveram o
sistema de pensamento do ego que torna o mundo, o corpo, o individuo, o Deus do ego, e o próprio
ego reais. Novamente, é por isso que ninguém gosta desse curso. A maioria dos estudantes do Curso
não o chamaria de mal, mas evitam o que ele diz como se fosse o diabo, o tempo todo pensando que
estão praticando o Curso quando na verdade, o estão encobrindo. Eles pensam que ele é sobre se
tornar um ser mais misericordioso, amoroso, pacífico e benigno aqui. Meu ego me diz que se eu
fizer o Curso “direito”, nunca vou ficar doente, porque o que eu quero é um ser melhor, mais
saudável, aqui. Esse erro é exatamente ao que Jesus está se referindo aqui.

(P-2.IV.6:10-11) O amor passa a ser temido porque a realidade é amor.

A razão pela qual o amor é temido é que o amor real, verdadeiro, é de total unicidade e abrangência,
mas não no nível da forma. Isso não está dizendo que vocês deveriam fazer amor com o mundo
todo, mas no nível da mente, seu amor por alguém não deveria excluir mais ninguém. Ele não
escolhe lados, ele não diz que é um ou outro. Seu amor é um amor que abraça toda a Filiação como
uma, porque a Filiação é uma. O ego nos faria acreditar que é fragmentado e, portanto, temos que
curar todos os fragmentos separados. Você apenas tem que curar o único fragmento que acredita
ser. Quando sua mente estiver totalmente curada, você saberá que a Filiação é uma.

(P-2.IV.6:11-12) Assim, o círculo se fecha contra as “trilhas internas” da salvação.

24
Quando você traz a verdade do Curso e Jesus, o professor da verdade, para o mundo da ilusão,
constrói uma barricada contra a salvação real, que está na mente.

(P-2.IV.7:1-2) A enfermidade, portanto, é um equívoco e precisa ser corrigida.

No Curso, “equívoco” e “correção” aplicam-se apenas à mente. Você quer corrigir a escolha
equivocada pelo ego, a crença equivocada de que poderia fazer isso por conta própria. Essa idéia é
discutida mais profundamente no parágrafo 5, que eu não incluí nos meus comentários aqui.

(P-2.IV.7:2-4) Como nós já enfatizamos, a correção não pode ser realizada quando se estabelece
em primeiro lugar o ‘direito’ do equívoco para depois ignorá-lo.

No panfleto A Canção da Oração, Jesus se refere ao “perdão-para-destruir” e, com efeito, a “rezar


para destruir” e “curar para destruir”, todas expressões da mesma idéia. Essas são formas de tornar
o problema real e depois buscar resolvê-lo tanto por dizer que aquela pessoa pecou contra mim e
contra outros, mas eu a perdôo de qualquer forma, quanto rezando para Jesus, pedindo ajuda para
resolver meu problema com você no mundo, ou para curar um corpo que eu digo estar doente.

(P-2.IV.7:4-7) Se a enfermidade é real, ela não pode ser ignorada na verdade, pois não ver a
realidade é insano. No entanto, esse é o propósito da mágica: fazer com que as ilusões sejam reais
através de uma percepção falsa.

É isso o que a mágica faz. Meu corpo doente é uma solução mágica para minha culpa; mas, então,
meus sintomas requerem sua própria solução mágica, quer seja algum medicamento ou algo que
consideremos espiritual, como oração ou esse curso. Esse não é um curso em aliviar doenças ou
sintomas; é um curso em remover a causa da doença ou dos sintomas. Esse é um curso em mudar
sua mente e não o comportamento, como está expresso nessa linha muito importante no texto,
“Esse é um curso em causa, não em efeito” (T-21.VII.7:8).

(P-2.IV.7:7-9) Isso [mágica] não pode curar, pois se opõe à verdade. Talvez uma ilusão de saúde a
substitua por pouco tempo, mas nunca dura.

Todos nós fazemos isso. Nós temos uma ilusão de saúde física depois de termos um período de
doença, ou uma ilusão de saúde emocional depois de um período de turbilhão emocional ou
angústia. Mas isso não dura. Lembrem-se, o corpo foi obviamente feito para falhar; ele não pode
funcionar perfeitamente porque idéias não deixam sua fonte. Só o espírito funciona perfeitamente.
O corpo vem de um pensamento de separação que já é uma doença, uma deformidade que não
funciona. Tenham cuidado com a tentação de tornar o corpo real, tentando melhorá-lo física ou
psicologicamente. Usem o corpo meramente como uma sala de aula na qual vocês o vejam como a
tela na qual projetam seus próprios “pecados secretos e ódios ocultos” (T-31.VIII.9:2). Vocês então
podem se recordar do que projetaram e trazê-lo de volta para dentro, permitindo-se perceber que o
pensamento de separação era sua decisão. Agora, vocês podem perdoar a si mesmos, fazendo outra
escolha.

(P-2.IV.7:9-11) O medo não pode ser escondido por ilusões, pois é parte delas. Ele escapará e
tomará outra forma, sendo a fonte de todas as ilusões.

Freud foi o primeiro a falar sobre “substituição de sintomas”. Essa é a idéia de que você não pode
desfazer o sintoma sem desfazer a causa, porque se o fizer, a causa – nossa culpa inconsciente – vai
automaticamente continuar a se projetar para fora, criando novos sintomas. Aqui, Jesus também está
dizendo que se você curar seu corpo ou psique doentes sem desfazer sua crença na realidade da

25
culpa – de que a culpa é boa porque a separação é boa -, a culpa simplesmente vai continuar a gerar
mais problemas. A culpa é como uma bomba hidráulica que constantemente bombeia a imundície
da sua própria feiúra. Ela vai continuar a se projetar e fazer mais e mais sombras até que limpemos
a mente, fazendo outra escolha. Até então, a culpa, ou o medo (Jesus freqüentemente usa pecado,
culpa e medo como sinônimos), vão sempre escapar e assumir outra forma.

Novamente, o ponto dessa discussão é deixar muito claro que o corpo não é o problema ou a
solução. Uma vez que digamos que deve existir outro caminho ou outro professor, o único
propósito do corpo é ser um veículo para nos capacitar a voltarmos para nossas mentes, onde o
trabalho tem que ser feito. Ele não pode ser feito no nível do corpo.

Parte VII

Freqüentemente, em uma discussão sobre doença e cura, surgem questões com relação ao uso de
medicamentos e outras formas de cura disponíveis no mundo. Eu gostaria de me voltar para isso
com relação a “O deslocamento na percepção”, a segunda subseção sob “Como se realiza a
cura?”, no manual para professores, iniciando com o parágrafo 2.

(MP-5.II.2:1-3) A aceitação da doença como um decisão da mente, com um propósito para o qual
ela quer usar o corpo, é a base da cura. E isso é assim para a cura em todas as formas.

Como já dissemos muitas vezes, a doença não tem nada a ver com o corpo; ela tem a ver com uma
decisão na mente pela culpa ao invés de pela Expiação. Uma vez que essa decisão é tomada, a
doença é inevitável, não importando a forma que assuma. A cura, então, traz o sintoma de volta do
corpo – quer seja no nível emocional ou físico – para a mente, que é onde a culpa está, e onde a cura
ou o remédio estão. Você traz o problema de volta à resposta, que está sempre na mente.

(MP-5.II.2:2-3-6) E isso é assim para a cura em todas as formas. Um paciente decide que isso é
assim e se recupera. Caso se decida contra a recuperação, não será curado. Quem é o medico?
Apenas a mente do próprio doente.

O medico não é a pessoa externa, e o chamado agente curativo não é o que cura. O médico está na
mente, como Jesus diz nessa passagem. Ele estava na mente que tornou a si mesma doente quando
se afastou do Espírito Santo e se voltou para o ego; portanto, é apenas na mente que pode corrigir a
si mesmo. É isso o que significa pedir a ajuda de Jesus – significa voltarmos para nossa mente e
escolhermos um professor diferente, o que significa escolher contra o ego. Basicamente, somos nós
que tornamos a nós mesmos doentes escolhendo contra o Espírito Santo, e somos nós os únicos que
podemos trazer a cura, agora escolhendo contra o ego, a favor do Espírito Santo. Essa é a cura; esse
é o curador.

(MP-5.II.2:6-13) O resultado é aquele que ele decidir. Aparentemente, agentes especiais trabalham
nele, mas não fazem senão dar forma à sua própria escolha. Ele os escolhe de modo a dar forma
tangível a seus desejos. Isso é o que fazem e nada mais. De fato, não são absolutamente
necessários. O paciente, sem o seu auxílio, poderia simplesmente levantar-se e dizer: “Eu não
tenho nenhuma utilidade para isso”. Não há forma de doença que não seja curada imediatamente.

Os “agentes especiais” seriam qualquer coisa que você tome ou faça para aliviar um problema,
qualquer coisa externa: uma aspirina, ou algum tipo de droga, remédios alternativos, remédios
homeopáticos, medicina chinesa, dieta especial, exercícios especiais, um travesseiro especial para
suas costas ou pescoço à noite. Não importa o que seja; todos eles vêm sob a mesma categoria de
“agentes especiais”. Jesus está dizendo que, quando nos sentimos doentes e tomamos uma pílula, ou

26
nos submetemos a algum procedimento, ou fazemos qualquer outra coisa para aliviar a dor
emocional ou física, só nos sentimos melhor porque nossa mente tomou a decisão de liberar o
sintoma.

Nós elegemos uma abordagem conciliatória por causa do medo do poder das nossas mentes que
ainda é muito grande, baseado na voz do ego que nos diz que se nós voltarmos para nossas mentes e
entrarmos em contato com seu poder, mais uma vez escolheremos o pecado, e Deus mais uma vez
vai escolher nos destruir. Nós escolhemos liberar a dor, mas, ao invés de vermos o poder das nossas
mentes como o agente que libera a dor, nós dizemos que foi a pílula, o médico, o procedimento, a
dieta, etc. Todos nós temos nossa longa lista de coisas que nos ajudam. Nenhuma delas é melhor ou
pior do que qualquer outra. A coisa infeliz sobre pessoas que usam abordagens alternativas é que
elas pensam que são melhores do que pessoas que praticam medicina tradicional. Uma vai
funcionar para algumas pessoas, outra será melhor para outras pessoas. Isso não significa que você
não deveria usar um método alternativo se for o que funciona para você, nem significa que você não
deveria seguir a medicina tradicional se ela funciona para você. Mas pensar que sua escolha é
melhor do que qualquer outra coisa e que você é melhor porque seus a seus olhos, está fazendo algo
que é santo, puro e natural, ao invés das coisas terríveis que as outras pessoas fazem é arrogância do
ego. Por quê? Porque você está excluindo e separando, e, acima de tudo, está caindo na primeira lei
do caos: você está dizendo que existe uma hierarquia de ilusões, que alguma mágica é melhor do
que outra. Se Jesus acreditasse em pecado, isso seria um pecado. É por isso que ele enfatiza tanto
para não tornarmos o erro real.

Você deveria seguir o que quer que funcionasse para você; apenas não pense que é de qualquer
forma melhor do que a mágica de qualquer outra pessoa, ou que uma forma de mágica é de
qualquer maneira melhor do que outra. Se funcionar para você, seria tolo em não usar. Lembrem-se,
o entanto, de que vocês poderiam ser curados simplesmente mudando sua mente, tendo um
pensamento benigno sobre alguém. Isso poderia curá-lo. Mas a implicação última de uma cura
dessas é a de que ela iria levá-lo para fora do seu mundo e do seu corpo, de volta para sua mente.
Todos nós nutrimos um medo tremendo em relação a isso, porque, como já discutimos, a maior
ameaça ao ego é que nós exercitemos o poder de nossa mente e escolhamos contra ele. Esse é o
medo. O que nos levou à loucura foi acreditarmos no conto de pecado, culpa e medo do ego; e
então, nos tornamos ainda mais insanos quando fizemos um mundo, e depois o defendemos contra
tudo isso, esquecendo o que fizemos. Existe uma razão pela qual fizemos o mundo e continuamos a
viver aqui.

Nunca se esqueçam de que tudo acontece em nossa mente, e acontece por nossa própria escolha.
Todos nós aceitamos a canção e a dança do ego logo no início. Nós nunca a questionamos porque o
ego nunca nos deu uma chance de fazer isso – assim que realmente escolhemos o ego, ele obliterou
toda memória de nossa mente; a mente, então, simplesmente se foi. Nesse mesmo instante, o mundo
foi feito e o corpo nasceu, governado pelo cérebro, sem consciência da mente de forma alguma. Nós
temos um conjunto elaborado de aparato sensório por uma razão: nossos órgãos sensórios foram
feitos especificamente para olhar para fora, para experimentar, cheirar e sentir o que está fora. E
nosso próprio corpo também está fora. O cérebro, então, interpreta todos os dados sensórios, soma
dois mais dois e chega a quatro e três quartos. Ele interpreta o que vê como realidade, e nos diz que
é a realidade. E, uma vez que não existe ninguém mais a quem possamos perguntar exceto as outras
pessoas insanas, acreditamos na mentira. E nós acreditamos nela porque estamos aterrorizados de
que se voltarmos para nossas mentes, vamos perder esse ser, o que aconteceria mesmo. Como Jesus
diz no Capítulo 13, nosso medo é o de que iríamos pular nos braços do nosso Pai e esse mundo iria
desaparecer:

Reconheces que, removendo a nuvem escura que o obscurece, o teu amor pelo teu Pai iria impelir-

27
te a responder ao Seu chamado e dar um salto para o Céu... Pensas que fizeste um mundo que Deus
quer destruir e amando-o como tu O amas, jogarias fora esse mundo, o que, de fato, farias (T-
13.III.2:9-11; 4:6-8).

E então, para preservarmos essa identidade, esse ser separado e individualizado, nós continuamente
temos que escolher permanecer fora de nossas mentes.

Esse medo é o motivo pelo qual elegemos uma abordagem conciliatória – o uso dos “agentes
especiais”. Nós não precisamos realmente de nada para desfazer a dor em nosso corpo, porque não
existe dor no corpo. Como poderia algo que não existe sentir dor? A dor é a culpa em nossas mentes
que nós projetamos ou colocamos no corpo. Então, sentimos a dor em nossos corpos e tentador
fazer algo com o corpo. Não importa o que você faça. Se algo aliviar a dor e ajudá-lo a se sentir
melhor, faça isso de todas as formas. Só não pense que é isso o que a cura é. Você está
simplesmente escolhendo esses agentes ou essa forma de mágica para trazer forma tangível aos seus
desejos, sua escolha pela cura. De forma alguma isso significa que você não deveria escolher a
mágica. Uma grande equívoco que os estudantes do Um Curso em Milagres cometem é pensar,
“Estou sentindo dor, mas está tudo na minha mente e não vou tomar nada”. Isso implica em que a
mágica é má. Jesus fala sobre essa idéia no Capítulo 2:

Todos os meios materiais que aceitas como remédios para enfermidades corporais são
reafirmações de princípios mágicos. Esse é o primeiro passo para se acreditar que o corpo faz as
suas próprias enfermidades. O segundo passo equivocado é tentar curá-lo através de agentes não-
criativos. Contudo, não decorre daí que o uso e tais agentes com propósitos corretivos seja mau (T-
2.IV.4:1-6).

Essa é uma passagem muito importante. Jesus não está dizendo que não deveríamos tomar uma
aspirina, ou ir a um médico, fazer uma cirurgia, ou fazer qualquer coisa que nos faça sentir melhor.
Ele explica:

Às vezes, a enfermidade tem um controle que é suficientemente forte sobre a mente para tornar
para tornar a pessoa temporariamente inacessível à Expiação. Nesse caso, pode ser sábio usar
uma abordagem de transigência para com a mente e o corpo, na qual por algum tempo se acredita
que a cura venha de alguma coisa de fora. Isso é assim porque a última coisa que pode ajudar
aquele que tem a mente disposta ao que não é certo, ou o doente, é fazer algo que aumente o seu
medo. Se são prematuramente expostos a um milagres podem ser precipitados ao pânico. É
provável que isso ocorra quando a percepção invertida induziu à crença em que milagres são
assustadores (T-2.IV.4:7-18).

Essa é a mesma idéia que estivemos discutindo: a estratégia do ego é nos convencer de que se
permanecermos em nossas mentes, seremos mortos. Portanto, podemos estar a salvo somente
fugindo da ira de Deus através da criação de um mundo e da escolha de nascermos em um corpo.
Uma vez que todos nós obviamente acreditamos que somos um corpo e cuidamos dele, e nos
importamos com o que os outros corpos pensam sobre o nosso corpo, Jesus está dizendo para não
fingirmos que acreditamos em outra coisa.

Ao dizer “às vezes, a enfermidade tem um controle que é suficientemente forte”, Jesus está sendo
um pouco gentil porque quase sempre, a doença tem um controle suficientemente forte, de outra
forma, não iríamos escolhê-la. Ficamos aterrorizados do poder da nossa mente – que é o que
literalmente fez esse mundo e aquilo que o sustenta. Existe uma pequena voz resmungona que está
sempre dizendo, “Não volte para sua mente, porque se o fizer, vai pecar de novo”. E então, todos
nós nos tornamos ineptos, desamparados, impotentes, e sem mente, na esperança mágica de que isso

28
vai nos proteger de jamais pecarmos novamente. É claro, o golpe súbito do sistema do ego é que ele
pega o pecado do qual nos sentimos tão aterrorizados, o projeta para fora, e depois, o vemos em
todas as outras pessoas. Então, agora, temos uma proteção dupla: estou totalmente desamparado e
sem mente e, dessa forma, não poderei pecar. Como Deus poderia me acusar disso quando sou tão
indefeso? Não apenas isso, a outra pessoa – o “pecador” – é aquela com o poder, não eu. Aquela
pessoa é aquela que me feriu.

Portanto, fazer um mundo, experienciar a nós mesmos com um corpo, experienciar a dor, o
desconforto e o sofrimento no corpo são todos partes da estratégia do ego para nos manter fora de
nossas mentes – literal e figurativamente -, porque somos todos insanos. Seria aterrorizante para nós
sabermos – não apenas intelectualmente -, mas realmente sabermos que inventamos isso. No
entanto, saber disso iria nos curar, porque iríamos entender por que fizemos isso; iríamos perceber o
quanto tudo isso foi estúpido e depois iríamos fazer outra escolha.

Não existe nada errado com uma abordagem de transigência. Como um estudante sério do Um
Curso em Milagres, se você ficar doente ou algo estiver errado, use qualquer forma de mágica que
possa ajudá-lo, mas esteja ciente de que é mágica. Não tente forçar espiritualidade ou verdade
metafísica sobre si mesmo enquanto ainda estiver ancorado no mundo e no corpo. Isso é
simplesmente uma tolice. Não é espiritual e termina fazendo com que você se torne uma pessoa
absolutamente ameaçadora para si mesma e para todas as outras ao seu redor. É por isso que eu
freqüentemente brinco com os estudantes do Um Curso em Milagres – eles podem ser terríveis
nesse sentido. Eles têm muita dificuldade com isso porque embora possam compreender
intelectualmente uma verdade metafísica, certamente não a vivenciam como se acreditassem nela. É
por isso que a imagem de uma escada que Jesus nos dá em A Canção da Oração é tão útil (vejam
C-1.II). A idéia da oração ou do perdão como uma escada significa que ela é um processo, e só no
topo da escada podemos entender que toda essa coisa foi inventada. Você sabe, não apenas
intelectualmente, mas experimentalmente, que o seu ser está fora do sonho. É isso o que permite
que você atravesse seus dias, meses e anos aqui sem ser afetado pelo mundo.

Foi assim que Jesus viveu aqui. Ninguém realmente sabe como ele era aqui, mas, qualquer que
fosse sua aparência, e qualquer que fossem suas experiências, podemos estar certos de que ele sabia
que não estava aqui. É isso o que significa estar no mundo real, mas isso não acontece até que
atinjamos o topo da escada. Até chegarmos a esse ponto, ainda estaremos presos aqui, e ainda
vamos cambalear até o banheiro a cada manhã e vermos algo no espelho que erroneamente
pensamos ser o nosso ser. Alguns dias, poderemos gostar do que vemos, mas na maior parte do
tempo – especialmente conforme envelhecemos -, não o faremos. De qualquer forma, você pensa
que o que vê é você. Mas não finja que não é um corpo; e, se estive doente, faça qualquer coisa que
possa ajudá-lo durante o dia e pelo resto da sua vida. Como um bom estudante do Curso, você
poderia pelo menos praticar estar consciente de que esta é apenas uma abordagem de transigência,
até que realmente saiba que tudo isso foi inventado.

Também é verdade, como eu já disse em outras aulas, que quando você estiver perto do topo da
escada, não precisará do livro. O propósito do livro é simplesmente levá-lo a subir a escada.
Quando estiver perto do topo, não vai mais precisar ouvir sobre o quanto o corpo é feio e terrível, e
o quanto os relacionamentos especiais são cruéis e assassinos, porque você saberá, naquele ponto,
que tudo isso é um sonho. Você não terá que ser motivado a deixar o mundo e o sonho, porque já o
terá deixado. Esse é o propósito desse curso – nos instilar a motivação para despertarmos do sonho.

O Curso é uma forma de mágica, assim como as pílulas o são. As pessoas formam o relacionamento
especial com Um Curso em Milagres da mesma forma que fazem com o álcool, a comida, as
pessoas, ou qualquer outra coisa. Elas sentem que não podem atravessar o dia sem sua lição diária

29
do livro de exercícios, então, têm que fazer uma lição por dia para o resto de suas vidas – ou algo
assim. O Curso obviamente é destinado a ser muito útil, mas não deve ser uma muleta. Ele está
destinado a ser um esquema de treinamento mental. Não há nada nesse livro que seja mais santo do
que qualquer outra coisa, mas as pessoas formam relacionamentos muito especiais não apenas com
Um Curso em Milagres como um sistema de pensamento, mas com seus livros.
Quando você estiver consciente disso em si mesmo, não crie um grande caso, apenas diga, “O que
há de novo? É claro que vou formar um relacionamento especial com ele”. Não se deixe enganar
pelo seu ego e não pense que será de qualquer forma diferente. Eu gosto de lembrar às pessoas que
o ego é um sistema de pensamento cem por cento, que não diminui. O ego é o que é; ele não
encolhe. Ele é ódio, assassinato, sofrimento, culpa e dor, assim como o sistema de pensamento do
Espírito Santo representa o perdão, o amor e a paz. O que muda é a quantidade de tempo que você
passa lá e a quantidade de fé que deposita no ego ou no Espírito Santo. O ego em si mesmo nunca
muda. Portanto, fazer progressos nesse curso não impede que você tenha massivos ataques do ego
de vez em quando. A diferença seria que, quando isso acontece, você vai reconhecê-los pelo que
são; você não ficará devastado por eles e não irá tentar devastar as outras pessoas por eles.
Novamente, o ego não encolhe. O que encolhe ou muda é a quantidade de tempo, energia e
pensamento que você investe no sistema de pensamento do ego.

Nós podemos ver o propósito do Curso como sendo o de nos ajudar a reconhecer o quanto iríamos
nos sentir melhor em não passarmos tempo com o ego, e o quanto nos sentiríamos melhor passando
o tempo com o Espírito Santo. É isso o que vai nos motivar. Mas é isso também que torna o
processo desse Curso longo e difícil, porque não estamos tão convencidos de que estaríamos melhor
sem nossos egos. Culpa, sedução, manipulação, relacionamentos especiais são velhos amigos e
aliados confiáveis; eles nos têm levado através de muitos períodos miseráveis em nossas vidas, e até
parecem nos fazer felizes de tempos em tempos. Mas eles não trazem a paz de Deus, a felicidade
não dura, e o amor não é realmente amor. Mas aprender a aceitar isso leva muito tempo. Como
adultos, se passarmos por um período muito amedrontador, vamos exercer o que é citado como uma
regressão, quando voltamos a um estágio anterior. De fato, algumas vezes, vemos adultos chupando
o dedo – eles se tornaram muito amedrontados e ansiosos, e então voltam à segurança que chupar o
dedo deu a eles quando eram crianças. Quando estamos extremamente angustiados, voltamos a
quaisquer padrões anteriores que nos ajudaram a atravessar situações difíceis, ainda que
intelectualmente saibamos que não funciona mais. Isso é algo padrão para a espécie.

Bem, quando ficamos amedrontados, voltamos ao que nos ajudou no passado: o ego. Isso está
poderosamente expresso no final do Capítulo 19, onde Jesus descreve o quanto ficamos
amedrontados ao ficarmos diante do quarto e último obstáculo, quando o véu está para ser levantado
(T-19.IV-D.6). Esse é o fim do ego, o que significa o fim do ser que pensamos que somos. E, ao
invés de olharmos diretamente através do véu, nossos olhos olham para baixo, lembrando da nossa
promessa aos nossos amigos. E quem são os nossos amigos? A culpa, o pecado, o medo e a morte.
E então, nós ansiamos por pular diretamente em seus braços, não porque eles sejam tão atraentes em
si mesmos, mas por causa do que nos oferecem: a certeza de que esse ser individual vai sobreviver.
Portanto, nós pensamos, não me importo com o quão miserável eu seja desde que eu seja aquele que
vai ser miserável. Tão dolorosa quanto possa ser minha doença, minha idade avançada, meu estado
mental, e toda a dor que estou sentindo, é a minha dor; e eu não quero que ninguém, incluindo
Jesus, a tire de mim. Então, ele tem que esperar. E a forma de ele esperar é continuamente nos
apresentar as duas escolhas. Ele diz, “olhe para o que o ego oferece a você e para o que estou
oferecendo”; e então, ele espera pacientemente. Felizmente, ele não faz isso no tempo, então, não
existe perigo de acabar sua paciência.

É importante entender o quanto esse curso realmente é amedrontador, e, para o curador, entender “o
medo da liberação”, de que Jesus fala na seção chamada “A função do trabalhador de milagres”:

30
Antes que os trabalhadores de milagres estejam prontos para empreender sua função nesse mundo,
é essencial que compreendam inteiramente o medo da liberação. De outro modo, podem
inadvertidamente fomentar a crença em que liberação é aprisionamento, uma crença que já
prevalece muito (T-2.V.1:1-5).

Nosso medo é o de sermos liberados da nossa culpa, do nosso medo e do sistema de pensamento do
ego. Se não entendermos isso, vamos nos tornar impacientes e condenatórios conosco e com os
outros. É muito importante entender nosso medo de nos liberarmos da prisão do egoísmo porque o
ego nos ensina que liberação é aprisionamento, e que aprisionamento é realmente liberdade. No
final do Capítulo 7 (T-7.X) e no início do Capítulo 8 (T-8.II), Jesus fala sobre a confusão entre a dor
e a alegria, e a diferença entre aprisionamento e liberdade. Nós não sabemos a diferença, então,
precisamos de um professor que as demonstre para nós gentil e pacientemente, com cuidado e amor,
para que possamos fazer a escolha por nós mesmos. Jesus está nos pedindo para sermos
simplesmente tão gentis, atenciosos e amorosos uns com os outros como ele é conosco, e para não
sermos impacientes quando as pessoas estão amedrontadas. Quando as pessoas fazem coisas
estúpidas ou cruéis, não é porque sejam estúpidas ou cruéis, mas porque estão amedrontadas. Esse é
o julgamento e a visão do Espírito Santo. Ele não vê o pecado. Ele vê expressões de amor ou
pedidos de amor, e pedidos de amor nascem do medo. Você pode dizer como está se saindo vendo
como age em relação aos outros. Você é impaciente e julgador? Se for assim, isso está mostrando a
você sua própria impaciência e julgamento sobre si mesmo, uma vez que o mundo é “o retrato
externo de uma condição interna” (T-21.1:5). A forma com que somos com os outros nos mostra
como somos conosco mesmos.

Nós não aceitamos o que esse curso diz, nós não aceitamos a fonte real da cura, e não perdoarmos e
liberamos nossas mágoas porque estamos muito aterrorizados. Estamos aterrorizados das
conseqüências de liberar o sistema de pensamento do ego, o que significa que iríamos voltar para
nossas mentes. É por isso que fizemos o mundo e as outras pessoas. Nós precisamos delas para que
possamos projetar nosso ódio por nós mesmos e nossa culpa nelas, que é o motivo pelo qual
odiamos a todos. Você precisa entender que esse é o propósito do mundo e especificamente o
propósito ao qual nossos corpos foram feitos para servir. Isso vai lhe dar uma apreciação muito
melhor do seu próprio medo. E se você levantar pela manhã e olhar para o espelho, e literalmente
não vir ninguém ali, não apenas visualmente, mas e se você realmente soubesse que não existe
ninguém ali? Isso é aterrorizando, e ninguém iria gostar disso. Jesus pergunta:

O que aconteceria se reconhecesses que esse mundo é uma alucinação? O que aconteceria se
compreendesses realmente que o inventaste: o que aconteceria se te desses conta de que aqueles
que parecem perambular sobre ele, para pecar e morrer, atacar e assassinar e destruir a si
mesmos, são totalmente irreais?(T-20.VIII.7:4-9).

Se você não for cuidadoso, e não entender isso muito gentil e lentamente, poderia se tornar
psicótico, porque o terror seria esmagador demais. É por isso que você precisa de um professor que
leve isso adiante bem lentamente. Jesus é mais gentil conosco do que jamais seríamos. Você precisa
ter uma apreciação apropriada sobre seu próprio medo da liberação do aprisionamento do ego.

Parte IX

Agora, vamos falar sobre o que a cura realmente é. Assim como com qualquer coisa no Curso, quer
seja cura, perdão, o milagre, salvação, ou a expiação, uma vez que você entenda o problema, então,
a solução é muito simples. Você simplesmente olha para o problema onde ele está, e não onde você
pensa que está. Existe uma linha muito importante no Capítulo 27, onde Jesus dá uma resposta de

31
uma sentença para uma pergunta sobre como transcender todo sofrimento e dor no mundo. Existem
outros trechos onde ele faz uma afirmação similar, mas lá ele diz, “Tudo o que é necessário é que tu
examines o problema como ele é, e não da forma que tu o estabeleceste” (T-27.VII.2:2). O que
poderia ser mais simples? É por isso que Jesus diz que esse é um curso simples, descomplicado.
Novamente, a saída para todo sofrimento, dor e enfermidade é simplesmente “examinar o problema
como ele é, não da forma que o estabelecemos”.

Isso pode ser visto claramente no gráfico. Nós fizemos o problema para estar no mundo. Nós
pegamos o problema da culpa que veio da nossa decisão pela culpa em nossas mentes, e o
projetamos para fora, e então, abdicamos de toda responsabilidade pela decisão. Nós abdicamos do
nosso poder de tomar decisões e nos tornamos desamparados diante de forças além do nosso
controle. Portanto, nós não vemos mais o problema “como é” (nossa decisão de estarmos doentes
primeiro em nossas mentes, e depois em nossos corpos), mas, ao invés disso, o vemos como nós o
estabelecemos, que é ver o problema no mundo e no corpo. E então, nós dizemos, “não é minha
culpa”. Não foi minha escolha vir para cá; não foi minha decisão nascer; foi um acidente. Eu não
pude escolher meu cabelo, olhos ou cor da pele, ou minha configuração genética que determinou
minhas habilidades e inteligência. Eu não pude escolher meu ambiente, o tipo de relacionamento
que meus pais tinham, sua saúde, situação financeira. Eu não pude evitar nascer no Afeganistão e
toda minha família ser explodida; eu não pude evitar nascer como judeu na Alemanha nazista. Não
foi minha culpa.

Nós estabelecemos o problema de tal forma que ficássemos impotentes e então víssemos outras
pessoas e forças como a causa da nossa dor. Jesus diz que tudo o que temos que fazer é ir além
disso, e ver o problema como ele é e não da forma que o fizemos. Isso é o que é a cura. Ele ensina
que o perdão “é quieto, e em sua quietude, nada faz... Ele meramente olha, e espera e não julga”
(LE-pII.1.4:1,3). Também no livro de exercícios, ele diz, “ele [o milagre] meramente olha para a
devastação e lembra à mente de que o que ela vê é falso” (LE-pII.13.1:3). Essas afirmações
basicamente dizem a mesma coisa: “Simplesmente olhe comigo para o problema e deixe-me ajudá-
lo a enxergar através dos meus olhos; então, você vai entender, como eu faço, que o seu problema
não está do lado de fora, porque não há nada do lado de fora. Você coloca o problema do lado de
fora para poder acreditar que está lá. Olhando através dos meus olhos, você vai reconhecer que o
mundo é ‘um retrato externo de uma condição interna’” (T-21.in.1:5).

Permitindo que Jesus o ajude a olhar para o mundo através dos seus olhos ao invés dos seus
próprios, você vai começar a entender, novamente, que o que vê do lado de fora é uma projeção, e o
motivo pelo qual você o projetou. As razões têm a ver com o que nós falamos mais cedo: a
estratégia do ego para nos tornar sem mente. Você olha para sua decisão de empurrar Deus para
longe e usurpar Seu lugar no trono; você olha para sua decisão de destruir o Céu e crucificar o Filho
de Deus, dessa forma, matando-o psicologicamente (senão fisicamente algumas vezes), e culpando
a todos os outros por isso. Você olha para toda essa devastação e se lembra de que ela não é
verdadeira; foi tudo inventado; é um pesadelo. Você olha para o que está em seu sistema de
pensamento que você projetou para fora, o traz para dentro, e olha para isso quietamente, com
paciência e sem julgamento. Isso é olhar para o problema “como ele é e não da maneira que tu o
estabeleceste”. Isso é tudo o que você tem que fazer. Não existe nada mais simples.

Os princípios do Curso são muitos simples e básicos, mas nós não os seguimos porque não
queremos liberar o problema. É isso o que você realmente precisa apreciar e compreender sobre si
mesmo e sobre todos os outros. É por isso que as pessoas fazem coisas tão ultrajantes – e as coisas
mais ultrajantes geralmente são feitas por pessoas que são religiosas. Os estudantes não estão
isentos disso. Nós usamos a religião e a espiritualidade como uma defesa contra o ódio em nossas
mentes, nosso ódio por nós mesmos pelo que acreditamos ter feito. Nós tentamos nos livrar dele

32
projetando-o nos infiéis, pagãos, hereges, não crentes, etc. Quando isso é feito em um contexto
religioso, aparentemente tem a benção de Deus, o que torna Deus tão insano quanto todos os outros.
Quer seja o judaísmo, o cristianismo, o budismo, hinduísmo, religião muçulmana, Um Curso em
Milagres, ou Ciência Cristã de Deus, não importa. Eles são todos insanos porque são vistos como
formas de justificar o sistema de pensamento do ego de seus seguidores, e estão acostumados a
fechar os olhos para o julgamento e alguns mesmo até mesmo para o assassinato.

Você precisa apreciar, com humildade e gentileza em relação a si mesmo, o quanto está
amedrontado em relação a esse curso, o que significa que está com medo da cura – não do corpo,
mas da mente. Tudo o que você faz para ver o problema “como ele é”, é trazê-lo de fora de você,
onde o colocou, para dentro, onde pode olhar para ele com o amor de Jesus ao seu lado. Como ele
diz no fim do Capítulo 23, “Quem, com o Amor de Deus sustentando-o poderia achar a escolha
entre milagres e assassinato difícil de fazer?” (T-23.IV.9:8). Isso significa que você não pode fazer
essa escolha sem seu amor guiando-o (ou o amor de qualquer outro símbolo que você escolha; não
tem que ser Jesus). Mas você realmente precisa ver que a escolha é entre milagres (o princípio da
Expiação) e assassinato. Você precisa ver que sua existência tem sido construída sobre um esquife
no qual Deus repousa. E você precisa ver que tenta matar a todos os outros e transformá-lo em
criminosos para que eles sejam punidos pelo esquife no qual você repousa. É isso o que você tem
que ver. A culpa em relação a isso é enorme.

Para termos um vislumbre da enormidade da nossa culpa, apenas considerem que todo o universo
físico literalmente repousa na projeção do erro de acreditar que nos separamos de Deus. Foi essa
culpa que literalmente nos levou à loucura e para fora das nossas mentes. Todo o universo físico é
simplesmente um pesadelo. Tão complicado quanto o cosmo seja – parecendo ser infinito; se
estendendo por bilhões e bilhões de anos; contendo galáxias e mais galáxias, conhecidas e
desconhecidas, algumas em outras dimensões de tempo – é tudo um único sonho. Tudo isso veio de
uma única fonte: culpa. Isso faz com que compreendamos o quando nossa crença na culpa é
poderosa. Quase todas as religiões ou caminhos espirituais que começaram com um alto nível de
inspiração por parte de seus fundadores terminaram de forma terrível. As pessoas se sentiram
aterrorizadas pela verdade não-dualista de que a realidade é imaterial e atemporal, e isso é tudo o
que há. Isso não tem nenhuma divisão. É perfeita unicidade.

Não existe nenhum movimento religioso ou espiritual que não tenha experimentado isso. O
hinduísmo começou com os Vedas e os Upanishads – ensinamentos muito elevados -, e terminou
como a igreja católica romana: estátuas, rituais, ódio e outras coisas fora da sua inspiração original.
O cristianismo começou com Jesus. Não poderíamos ter nada melhor do que isso, mas veja como
terminou! E não fiquem surpresos quando a mesma coisa acontecer com o Um Curso em Milagres.
Isso não invalida a inspiração que iniciou um movimento, mais do que o faria com o Curso, mas
simplesmente diz que as pessoas ficaram amedrontadas, e, como o próprio Curso diz, “pessoas
amedrontadas podem ser cruéis” (T-3.I.4:2). Elas podem ser muito cruéis. Mas, sob a crueldade,
está o medo: Quem eu seria sem a minha raiva? Quem eu seria sem o meu ódio? Quem eu seria sem
o meu julgamento? Quem eu seria sem eu mesmo? Esse é o medo real.

O que nos define é o auto-ódio, porque essa é nossa origem. O ego nasceu do ódio por Deus, e
então, o auto-ódio que experienciamos em relação ao que acreditamos ter feito a Deus. Seguindo as
leis da mente dividida, qualquer coisa que acreditamos sobre nós mesmos será tão terrível e
horrorosa que vamos reprimi-la, e qualquer coisa que reprimamos nós projetamos. Uma vez que
todos nós fizemos isso como um Filho, quando transformamos o único em coletivo, nós fizemos o
cosmos; então, o Filho único simplesmente se fragmentou em bilhões e bilhões de pedaços, com
cada pequeno fragmento contendo o todo: toda a insanidade do ego assim como toda sanidade do
Espírito Santo que corrige e desfaz o ego. Cada um de nós carrega isso em sua totalidade, todo o

33
completo sistema do ego e todo o completo sistema do Espírito Santo. Todos nós nascemos do
mesmo medo, então, por que deveria ser uma surpresa que todos odeiam a todos?

Existe um julgamento e criticismo constantes acontecendo – se não for assassinato ou mutilação –


porque é isso o que o mundo é. Ele começou com um assassinato, não se esqueçam disso. Ele
começou com o assassinato de Deus, e uma vez que idéias não deixam sua fonte, tudo o mais é
simplesmente o fragmento sombrio daquele pensamento original. Isso é o que é a doença. Ela não
tem nada a ver com sintomas externos. A doença é o pensamento, “eu fiz isso, e não apenas aquilo,
mas vou fazer de novo”. De fato, não apenas nós o faríamos novamente, mas o estamos fazendo
nesse exato instante. Cada momento em que respiramos, cada momento em que pensamos estar
aqui, cada momento em que somos indulgentes com o especialismo, estamos matando Deus
novamente. É isso o que Jesus quer dizer no Capítulo 16, quando fala, “Se tu percebesses o
relacionamento especial como um triunfo sobre Deus, ainda iria querê-lo?” (T-16.V.10:1). E a
horrível verdade é que ainda que ele nos diga que isso é um “triunfo sobre Deus”, nós mesmo assim
o queremos. Quantos estudantes do Um Curso em Milagres leram essa linha muitas vezes e ainda
são indulgentes com o especialismo?

É importante entender e manter em mente que tudo o que fazemos aqui é uma sombra microscópica
do que acreditamos ter feito originalmente no início. Essa é a culpa que estamos carregando por aí
conosco. Se você não entender isso, a culpa vai continuar enterrada, e se permanecer enterrada, virá
continuamente à tona através da projeção. É isso o que tem acontecido através da história do
universo. Certamente tem acontecido através da história do que conhecemos como homo sapiens. É
por isso que todos estão sempre matando todos. Indivíduos fazem isso, governos fazem isso, raças e
religiões fazem isso, porque ninguém pára e olha para dentro. É por isso que esse curso é um
documento espiritual tão importante e impressivo. Mais do que qualquer outro ensinamento
espiritual que eu conheça, ele documenta o ego – e não é uma imagem bonita. Mas o mundo foi
feito para encobrir a feiúra da pintura.

Vocês provavelmente conhecem a seção no texto chamada, “Os dois retratos” (T-17.IV), onde
Jesus fala sobre a necessidade de olharmos para o retrato do ego, que é o retrato da morte, e não
sermos enganados pela moldura elaborada que o ego colocou ao redor dele. Nesse contexto, a
moldura é o relacionamento especial. Não se deixem levar pelo brilho do que parecem ser jóias na
moldura. O propósito da moldura é nos impedir de olhar para o retrato. É uma seção muito
importante, uma das mais importantes no livro, porque fala ao coração do problema do mundo, e a
todos os problemas religiosos dentro dele. As pessoas são tão enganadas pelo brilho da moldura do
relacionamento especial – especialmente quando Deus pode ser conectado a ela – que não vêem a
feiúra e o aspecto assassino do retrato. A maioria das religiões e espiritualidades tanto ignoram o
ego quanto o cobrem de açúcar, ou o encobrem, dizendo, “Deixe isso para lá; dê tudo ao Espírito
Santo. Realmente não é nada. Apenas escolha amar”. Bem, se fosse tão fácil, o mundo não existiria,
e não haveria necessidade de um curso que passasse tanto tempo falando sobre ódio, assassinato e
culpa, ao invés de apenas sobre amor e paz. Nós precisamos de algo que nos leve através da sujeira.

Como já mencionei, foi isso o que Freud fez por todos nós. Ele deu uma contribuição muito
importante, apesar da tolice de muito do que disse. Mais do que ninguém, ele foi firme em insistir
que as pessoas deveriam olhar para o ego. Uma das principais críticas de Jung a Freud era a de que
ele achava que tudo o que Freud queria era olhar para a feiúra e a sujeira. Infelizmente, Freud estava
certo e Jung errado, porque Jung usou todas as suas elevadas idéias espirituais, ou pseudo-
espirituais, como uma forma de encobrir sutilmente o que estava dentro. E Freud continuou dizendo
que é essencial olhar para dentro; e o que está lá não é bom. Jesus, em Um Curso em Milagres diz a
mesma coisa: olhem para o retrato; isso está em itálico até mesmo na seção “Os dois retratos”.
Olhem para o retrato. O perdão olha (LE-pII.1.4:3). O milagre olha para a devastação (LE-

34
pII.13.1:3). Olhe para o problema como ele é, e não como você o estabeleceu (T-27.VII.2:2). É isso
o que a cura é; curar é olhar.

Parte X

Nos primeiros dois parágrafos de “A ‘dinâmica’ do ego”, Jesus explica a mesma idéia, de que a
cura envolve olhar. Vamos examinar apenas o segundo parágrafo.

(T-11.V.2:1-2) O que é a cura senão a remoção de tudo aquilo que se interpõe no caminho do
conhecimento?

Nada sobre imposição de mãos, nada sobre fazer orações, nada sobre mantras, permanecer em sua
cabeça ou recitar as lições do Um Curso em Milagres. A cura é “... a remoção de tudo aquilo que se
interpõe no caminho do conhecimento”. Como?

(T-11.V.2:2-6,11-14) E de que outra forma pode alguém desfazer ilusões, a não ser olhando
diretamente para elas, sem protegê-las? Não temas, portanto, pois estarás olhando para a fonte do
medo e estás começando a aprender que o medo não é real... Não tenhas medo, portanto, de olhar
para o medo, pois ele não pode ser visto. A claridade desfaz a confusão por definição e olhar para
a escuridão através da luz não pode deixar de dissipá-la.

É isso o que a cura é. Não é diferente do que o milagre é, do que é a salvação ou do que o perdão e a
Expiação são. A culpa, agarrar-se às mágoas e à doença são todos o mesmo problema. Olhar é a
forma de remover tudo o que fica no caminho do conhecimento e tudo o que nos impede de nos
lembrarmos do Amor do nosso Criador, e de quem somos como o verdadeiro Filho de Deus: “E de
que outra forma pode alguém desfazer ilusões, a não ser olhando diretamente para elas, sem
protegê-las?”. O mundo é a proteção.

Essas idéias estão presentes através de todo esse material: os dois panfletos e os três livros do Curso
em si mesmo. Não protejam a ilusão em sua mente insistindo que não existe mente, e que existe
apenas um corpo e um mundo; existem pessoas lá fora; existe doença e relacionamentos lá fora.
Isso é exatamente o que o ego quer que façamos. Olhar para a ilusão na sua mente sem protegê-la
através dos seus relacionamentos especiais é outra forma de dizer a mesma coisa. Jesus nos diz para
não termos medo porque estamos com medo. Ele sabe com quem está lidando. Estamos
aterrorizados. É por isso que ele nos chama de “pequenas crianças”. Temos muito medo do escuro,
dos monstros que pensamos estarem espreitando, fora da janela do quarto, debaixo da cama. Nós
somos como pequenas crianças aterrorizadas. Mas ele está nos dizendo que não existe nada a temer
e para deixarmos que ele nos ajude a olhar. Jesus está dizendo que quando você olha para a fonte do
medo, que é a crença em que você atacou Deus e Deus vai atacá-lo de volta, vai perceber que não
existe nada a temer, porque não existe ataque. Ele está dizendo para não termos medo do medo,
porque você não pode ver o medo – ele não está lá. Não existem monstros escondidos sob sua cama
ou no seu closet. Foi apenas o seu medo que os colocou lá.

Não somos diferentes do menininho ou da menininha que tem aqueles pesadelos. É isso o que a
doença é. A doença é acreditar que algo está lá quando não está. A cura é olhar e perceber que não
há nada lá. Mas você precisa olhar para a escuridão e ultrapassá-la em direção à luz, de outra forma,
não vai dissipá-la. É por isso que esse é um curso em escuridão. Jesus nos diz logo no início da
Introdução: “O curso não tem por objetivo ensinar o significado do amor, pois isso está além do
que pode ser ensinado. Ele objetiva, contudo, remover os bloqueios à consciência da presença do
amor, que é a tua herança natural” (T-in.1:4-7). É sobre isso que é o curso. Ele fala sobre os
bloqueios e obstáculos. Ele está expondo o sistema de pensamento do ego. É isso o que a cura é, e a

35
doença está lutando contra isso. A doença está excluindo Jesus ou o Espírito Santo para que você
não deixe entrar Sua sabedoria, visão e amor. E você não deixa nada disso entrar, não porque é uma
má pessoa, mas porque está aterrorizado.

Novamente, o medo mínimo é: Quem eu seria sem eu mesmo? E nós definimos a nós mesmos por
todos os tipos de coisas – geralmente por nossa vitimação, ou abuso, e por nossa histórias terríveis.
Todos têm histórias terríveis. Não existe hierarquia de histórias terríveis – e não existe carência
delas também. Todos nós as temos, e as temos o tempo todo. Elas diferem na forma, mas o
conteúdo é o mesmo. O conteúdo é sempre alguma versão disso: eu não fiz isso, não foi minha
culpa. Não foi minha culpa não ter sido amado. Não foi minha culpa ter sido rejeitado. Não foi
minha culpa eu não ter tido o que toda criança teve. Não foi minha culpa eu não ter tido amigos.
Não foi minha culpa eu ter nascido feio. E assim por diante. Esse é o mantra: não foi minha culpa.

É por isso que o ego colocou a doença no seu sonho, e porque, quando reuniu o elenco de
personagens para o seu épico, de longe o maior elenco foi formado por microorganismos, vírus e
bactérias – muito mais numerosos do que animais e seres humanos. Por quê? Porque eles são os
“heróis”. São eles que provam além de qualquer sombra de dúvida que não é nossa culpa. Nós
precisamos dos microorganismos. Nós precisamos dos agentes patogênicos. Qualquer coisa vai
funcionar desde que não seja culpa. Lembrem-se dessa importante linha do Capítulo 27: “Entre as
muitas causas que percebias como portadoras de dor e de sofrimento para ti, a tua culpa não
constava” (T-27.VII.7:5-6). A doença é acreditar que “não é minha culpa”.

Vejam agora no início do Capítulo 10:

(T-10.in.1:1-4) Nada além de ti mesmo pode fazer com que tenhas medo ou sintas amor porque não
há nada além de ti. O tempo e a eternidade estão ambos em tua mente e irão conflitar até que
percebas o tempo só como um meio de reaver a eternidade.

O tempo está em nossas mentes erradas porque é onde o pecado, a culpa e o medo deram início ao
tempo. A eternidade está em nossas mentes certas através do princípio da Expiação que diz que
nada aconteceu e que a separação nunca aconteceu.

Você vai acreditar que Deus e o seu ego estão em guerra um com o outro. É isso o que Jesus quer
dizer com tempo e eternidade. O tempo representa o ego, e a eternidade representa o Espírito Santo
e Deus. E eles estarão em conflito na sua mente (obviamente não na Mente de Deus, Que nem
mesmo sabe nada sobre o tempo) até que você veja o tempo como inexistente em si mesmo, como
irreal, como não tendo nenhum impacto sobre você, mas apenas como um esquema de
aprendizagem e uma sala de aula na qual você pode aprender as lições que vão libertá-lo
inteiramente do tempo. Lembrem-se, uma vez que idéias não deixam sua mente, o tempo está ligado
ao pecado, culpa e medo em nossas mentes. Sem o pecado, a culpa e o medo, não haveria tempo.
Projetados para fora, nossos pecados se tornam o passado, a culpa se torna o presente, e o futuro se
torna o medo da retaliação de Deus. Eu pequei no passado, sou culpado no presente, e estou com
medo da punição que virá no futuro.

Até que eu reconheça que você e eu não temos interesses separados, vou continuar a acreditar na
separação, o que significa que vou continuar a acreditar no pecado, culpa e medo, o que, por seu
lado, significa que vou continuar a acreditar que sou uma vítima do mundo do tempo. Conforme eu
começo a desfazer isso e a aprender que você e eu não somos separados – nós compartilhamos a
mesma insanidade, a mesma necessidade, e o mesmo objetivo de despertar dessa insanidade –
então, estou desfazendo a crença na separação. Sem separação não existe pecado, culpa, medo e
nem tempo.

36
Nós, portanto, vemos nossas experiências dentro do mundo do tempo simplesmente como um
instrumento de aprendizado que Jesus usa para nos ensinar que o problema não está do lado de fora,
está dentro; e que o problema que está dentro da mente é um que escolhemos. Além disso, podemos
começar a entender que tão facilmente quanto o escolhemos, podemos agora escolher contra ele.

(T-10.in.1:4-8) Tu não podes fazer isso enquanto acreditares que qualquer coisa que esteja
acontecendo é causada por fatores externos a ti. Precisas aprender que tempo está somente à tua
disposição e que nada no mundo pode tirar essa responsabilidade de ti.

Esse não é o único trecho onde Jesus fala isso. Precisamos aprender que qualquer coisa que esteja
acontecendo conosco não é causada por fatores fora de nós. Isso é muito difícil, porque nossos
cérebros são programados pela mente para acreditarem exatamente no oposto – que tudo que
acontece conosco é causado por fatores fora de nós mesmos. É por isso que nascemos.

Não se esqueçam sobre a idéia do propósito. Existe um propósito por trás do nosso nascimento. Nós
nascemos para aprender que não somos responsáveis. Portanto, eu mantenho minha identidade
separada e algo ou alguém mais é punido por isso. Eu não sou responsável. Nada nesse mundo pode
tirar de mim a responsabilidade pela forma com que uso meu tempo. É minha escolha. Eu uso o
tempo como uma forma de me manter no mundo de ódio do ego, ou eu o uso como um instrumento
para me ajudar a me lembrar do que é o amor, olhando para o ego e então indo além dele? Esse
curso ensina que você não pode atingir a luz até que passe através da escuridão. Jesus nos pede, em
vários trechos, para segurarmos sua mão para que ele atravesse as nuvens de culpa conosco.
Especificamente na Lição 70 do livro de exercícios, ele diz, “Se isso puder ajudar-te, pensa em
mim segurando a tua mão e conduzindo-te. E eu te asseguro que essa não será nenhuma fantasia
vã” (LE-pI.70.9:5-7). As nuvens são as nuvens de culpa – nuvens de tempestade, de aspecto
ameaçador, aterrorizantes -, mas não são nada. Nós não podemos atravessá-las sozinhos, mas
podemos atravessá-las com uma mão amorosa, benigna e gentil segurando a nossa. Nós precisamos
querer atravessá-las, o que significa que deve existir pelo menos uma pequena parte de nós que
esteja querendo dizer, “Nada aqui funciona, e eu quero algo que vá realmente me trazer felicidade e
paz”. Mas nós precisamos estar motivados pelo desejo de deixar esse sonho. Uma vez que a
motivação esteja presente, nós então iniciamos a longa jornada; e é uma jornada através da
escuridão, que gradualmente se torna mais e mais iluminada. É isso o que Jesus quer dizer quando
fala sobre os sonhos felizes.

Parte XI

Vamos examinar uma passagem importante de “A definição de cura”, do panfleto Psicoterapia.


Esse é um desses trechos notáveis no material, no qual Jesus resume tudo em uma ou duas
sentenças. Nessa seção, ele está falando sobre a doença, e termina dizendo que toda doença é uma
forma de ausência de perdão, e, portanto, simplesmente compreender de onde a doença está vindo –
o que o sintoma basicamente significa – não vai levá-lo a lugar algum. Isso é assim porque o que
cura uma ausência de perdão é apenas uma única coisa: o perdão. Ele então diz:

(P-2.VI.6:1-5) A compreensão dessa idéia é a meta final da psicoterapia. Como é realizada? O


terapeuta vê no paciente tudo o que ele não perdoou em si mesmo e assim lhe é dada uma outra
chance de olhar para isso, abri-lo para reavaliação e perdoá-lo.

Isso é cura. O que é incrível sobre essa afirmação é que ela não diz absolutamente nada sobre o
paciente. Ela não diz nada, absolutamente nada sobre o processo da psicoterapia. De forma muito
simples, a maneira de atingir a meta da psicoterapia e a forma com que a cura acontece é através do

37
perdão do terapeuta a si mesmo. É assim que você cura. É assim que o sonho da doença termina. “O
terapeuta vê no paciente tudo o que ele não perdoou em si mesmo”. Isso é um paradigma para o
que Jesus nos pede para fazermos o tempo todo. Eu me vejo em uma situação ou relacionamento no
qual estou zangado, transtornado, culpado, deprimido, amedrontado ou seja o que for. E, é claro, eu
penso que tudo isso acontece por causa da situação ou do relacionamento – as circunstâncias sobre
as quais eu não tenho controle. Então, finalmente, eu digo a Jesus, “Deve existir outra maneira de
olhar para isso, porque olhei para esse tipo de coisa minha vida toda, e lidei e lutei com isso minha
vida toda, e isso não me tornou feliz. Poderia ter me deixado rico, feliz em termos de coisas
materiais, e me fazer progredir, e outros tipos de coisas mundanas, mas realmente não me tornou
feliz. Por favor, ajude-me”.

Jesus não nos ajuda fazendo um gesto mágico para que o problema vá embora. Ele nos ajuda
oferecendo-nos seus óculos para que possamos ver a situação à maneira dele. Ele nos ajuda a
perceber que o que estamos percebendo é “um retrato externo de uma condição interna” (T-
21.in.1:5). Portanto, o conflito não é entre essa outra pessoa e eu, entre meu chefe e eu, ou entre
meu corpo e eu. O conflito é entre um Deus inexistente e eu – Deus do ego. No gráfico, na caixa da
mente errada, vemos o termo campo de batalha. Eu pego um conflito interno entre mim e o Deus
insano inventado, e o coloco no meu corpo, ou me tornando doente ou ficando doente por causa de
outras pessoas que estão me deixando doente. Em outras palavras, eu pego a crença em meu próprio
pecado em relação ao que acredito ter feito a Deus e a projeto para fora, vendo-a em você. Eu não
sou uma vítima do que fiz; eu sou uma vítima do que Deus vai fazer comigo. E esse Deus punitivo
agora emerge como você, quem quer que você seja. Em nossos primeiros anos, é claro, são os
nossos pais; e então, passa a ser qualquer figura de autoridade, qualquer um que tenha poder sobre
nós, qualquer um quem tenha algo que nós queremos e de que precisamos: o amor, atenção,
benignidade, compreensão de alguém, a apreciação de alguma pessoa por nossa inteligência, nosso
trabalho – seja o que for. Essa pessoa é simplesmente uma figura ou um símbolo de um Deus
punitivo que vai nos punir por causa do nosso pecado.

Qualquer coisa que eu estiver vendo na situação e que esteja me deixando infeliz é uma projeção do
que eu acredito sobre mim mesmo, e é isso o que Jesus quer dizer quando fala, “O terapeuta vê no
paciente tudo o que ele não perdoou em si mesmo”. O valor do meu paciente, do meu amigo, do
meu esposo, dos meus filhos, dos meus pais, ou de qualquer outra pessoa é que eles me oferecem a
oportunidade de ver do lado de fora aquilo que me deixou tão aterrorizado de ver dentro. Eles se
tornam a tela na qual eu projeto o que tentei desesperadamente manter reprimido em minha própria
mente. O ego me diz que se eu olhar para dentro, meus olhos vão cair sobre o pecado e Deus vai me
deixar cego (T-21.IV.2:3). Então, eu não olho para dentro, porque a culpa é horrível. Ao invés de
olhar para dentro, eu olho para fora e vejo a culpa em você. Sou tão perverso em minha insanidade
que uma das formas de poder demonstrar o quanto você é culpado, é me tornando doente por sua
causa. Contemple-me, irmão, em suas mãos eu morro. Contemple-me, irmão, em suas mãos perco
meu emprego. Contemple-me, irmão, em suas mãos eu perco minha família. Contemple-me, irmão,
em suas mãos eu perco minha saúde. Seja o que for.

Portanto, eu não sei o que está dentro, então, continuo projetando isso para fora até um dia dizer,
“Por favor, ajude-me. Tem que existir outra forma de olhar para isso”. E essa é a resposta de Jesus,
que é o motivo pelo qual ninguém gosta dele. Não é a resposta que queremos. Eu, portanto, recebo
outra chance de olhar para seja o que for que não tenha perdoado em mim mesmo, e abri-lo para
reavaliação. No instante em que escolhemos o ego, nossas mentes se fecham como uma armadilha
de aço. Um pesado portão se fechou, e nós fizemos um voto ao ego de que nunca iríamos olhar
novamente para nossa decisão de sermos pecadores, o que significa que nunca tivemos a
oportunidade, desde então, de olharmos para ela e dizer que talvez tenha sido a escolha errada, e
que talvez o que escolhemos não seja realmente nada. Nós nunca tivemos a oportunidade de

38
reavaliá-la porque o ego fechou o livro. Terminado! E então, agora recebemos outra oportunidade
de olhar para isso.

(P-2.VI.6:5-6) Quando isso acontece, ele [o terapeuta] vê que os seus pecados desapareceram num
passado que não está mais presente.

Essa é a linha de partida, e é isso o que Jesus quer dizer quando fala sobre o riso gentil. Nós nos
agarramos desesperadamente a algo que não apenas não está lá, mas que nem mesmo aconteceu. No
início do Capítulo 28, ele diz:

Esse mundo acabou há muito tempo. Os pensamentos que o fizeram já não estão mais na mente que
os pensou e os amou por um breve período de tempo (T-28.I.1:4-7).

Todo esse mundo foi construído como uma defesa contra algo que não existe. Agora, isso é uma
tolice! Você não poderia pedir nada mais tolo. Nós literalmente construímos todo esse massivo
sistema defensivo para nos protegermos contra um inimigo que não existe. É por isso que os
governos fazem coisas tão tolas – construir sistemas de armamentos contra inimigos que não
existem. Todo esse curso é sobre expor a insanidade e tolice disso. Isso não nos torna pecadores,
mas certamente nos torna muito tolos. Vamos defender essa defesa contra qualquer coisa. Não
vamos deixar ninguém tirar esse mundo ou esse corpo de nós, nem mesmo Jesus. Vamos matar ao
invés disso. Vamos destruir sua mensagem ao invés disso. Mas, aquilo a que estamos nos agarrando
não existe. Não existe nada lá. É isso o que ele está dizendo: “Quando isso acontece, ele vê que os
seus pecados desapareceram num passado que não está mais presente”.

No início do parágrafo, Jesus diz:

O milagre nada faz. Tudo o que ele faz é desfazer. E assim anula a interferência naquilo que foi
feito. Ele não acrescenta, apenas retira (T-28.I.1:1-3).

O milagre leva embora o sistema de pensamento do ego. Para citar novamente a linha do livro de
exercícios, “[O milagre] apenas olha para a devastação e lembra à mente que o que ela vê é falso”
(LE-pII.13.1:2-3). É falso porque não está lá.

E o que ele leva embora é tardio, uma vez que se vai, mas sendo mantido na memória, parece ter
efeitos imediatos. Esse mundo terminou há muito tempo. “Os pensamentos que o fizeram já não
estão mais na mente que os pensou e os amou por um breve período de tempo” (T-28.I.1:5-7).

É demais para esse grande cosmos maravilhoso – esse mundo que pensamos ser tão glorioso. Ele
não está aqui. Os pensamentos que fizeram o mundo, os pensamentos de culpa, não estão mais aqui.
Eles não estão mais aqui porque nunca estiveram. Nós pensamos que estavam, e então, tivemos que
construir essa defesa massiva contra um pensamento que nunca existiu. Isso é esperto? Nem um
pouco! Homo sapiens é um oximoro que significa “homem sábio”.

Pulando para o parágrafo 2.

Todos os efeitos da culpa já não estão mais aqui. [Os “efeitos da culpa” são tudo no mundo]. Pois a
culpa terminou. Com a sua passagem, foram-se também as suas conseqüências, deixadas sem uma
causa (T-28.I.2:1-3).

É por isso que o mundo terminou há muito tempo. Não existe mundo! É como se estivéssemos
olhando para uma pós-imagem. Algumas vezes, você desliga a televisão e ainda existe um pouco de

39
eletricidade, então, existe uma breve pós-imagem até que desaparece. Esse mundo inteiro é uma
pós-imagem. Não existe mais eletricidade no sistema. O aparelho foi desligado, mas nós ainda
pensamos que vemos algo, e reagimos ao que pensamos ver.

Por que irias prender-te a ela na memória se não desejasses os seus efeitos? (T-28.I.2:3-4).

Essa é uma linha muito importante. Por que você iria se prender a uma causa – a culpa -, a menos
que quisesse os efeitos – o mundo? Por que nós queremos o mundo? Porque o mundo prova que a
culpa é real; a culpa prova que a separação é real; a separação prova que eu sou real. Eu quero que
exista um mundo porque quero manter minha identidade e culpar a todos os outros por ela. Eu
preciso de um mundo para isso. “O ódio é específico” (LE-pI.161.7:1). Deve existir alguém que eu
possa odiar, então, tenho que inventá-lo. Nós falamos sobre pessoas psicóticas como aquelas que
têm alucinações e criam pessoas que não existem. O filme Uma Mente Brilhante é sobre um homem
que inventa um mundo que não existe, e então reage a ele como se fosse real. Todos nós fazemos
isso. É por isso que Jesus diz que o mundo todo é uma alucinação (T-20.VIII.7:3). Estamos todos
tendo alucinações; mas agimos como se o mundo fosse real. Nós realmente pensamos que vemos
algo na tela à nossa frente. Isso é enfermidade; isso é doença. Não importa se você tem um sintoma
físico ou não; o fato de você acreditar que existe um mundo, um corpo, e a culpa, é a doença; essa é
a doença, o que significa que é isso o que tem que ser curado.

Voltando agora à passagem no panfleto Psicoterapia, a forma de curar é reconhecer que o que você
está percebendo do lado de fora, em outra pessoa, em um relacionamento, em uma situação ou em
uma circunstância em seu próprio corpo é uma projeção do que você não perdoou em si mesmo.
Novamente:

(P-2.VI.6:5-8) Quando isso acontece, ele vê que os seus pecados desapareceram num passado que
não está mais presente. Até que faça isso, não pode deixar de pensar que o mal o está atacando
aqui e agora.

Eu não vejo o mal em mim. Eu o vejo ao meu redor. Tudo e todos são um agente patogênico em
potencial, porque todos podem me tornar muito doente.

(P-2.VI.6:8-9) O paciente é a tela para a projeção de seus pecados, capacitando-o a soltá-los.

Isso não é apenas sobre psicoterapia. O mesmo princípio obviamente se aplica a tudo o que
fazemos; a qualquer pessoa com a qual estamos, a qualquer pessoa com a qual estamos dentro de
nossas mentes, porque a pessoa morreu ou é alguém sobre quem fantasiamos. Qualquer coisa em
que pensamos é uma tela na qual projetamos nossos pecados. Quando fazemos a pergunta certa ao
professor certo, o mundo se torna – para usar uma frase de Freud – “a via régia” que nos leva de
volta para dentro, para que possamos finalmente olhar para o que está em nossas mentes. Sem essas
oportunidades, sem todas essas pessoas em nossas vidas, não teríamos a chance de fazer isso,
porque nossas mentes foram seladas naquele instante em que o ego tornou a culpa real. Isso nos
motivou a deixar a culpa para trás, jurando nunca voltarmos para lá. Esse mundo, então, é a
testemunha dessa promessa.

É isso o que Jesus quer dizer no texto, quando fala “Não jures morrer, tu, o Filho santo de Deus!
Tu fizeste uma barganha que não podes manter” (T-29.VI.2:1-2). Nós fizemos uma promessa de
que iríamos morrer porque é isso o que o corpo faz, e então, culpamos a tudo e a todos por essa
morte. Mas nós não podemos fazer isso porque é tudo inventado. Nós imaginamos pensar que o ego
está certo, e podemos pensar que podemos fazer um mundo que prova que o ego está certo, mas isso
não o torna real.

40
Parte XII

Antes de continuarmos com nossa discussão sobre “Como a cura é alcançada?”, do manual, deixem
falar sobre duas perguntas que são freqüentemente levantadas.

1) Como chegamos à experiência da parte intelectual do aprendizado?

Minha resposta é que não existe uma fórmula real, porque isso não é algo que você faça. O texto é
escrito em um nível altamente intelectual e requer muita leitura, muito mais do que o livro de
exercícios e o manual. O próprio processo de lutar para compreender o que as palavras estão
dizendo se torna uma parte da própria experiência de aprendê-lo. Isso é parte da pedagogia do
Curso. As pessoas reclamam que o texto é difícil demais para se entender, mas ele realmente não é
difícil. Muitas das passagens que li são muito claras e diretas. A razão pela qual o significado não é
imediatamente aparente não é por causa da dificuldade da linguagem; é nosso medo e resistência
que tornam o significado obscuro ou difícil de entender. É como se nosso ego não quisesse que
compreendêssemos o que está escrito. Portanto, uma mensagem é dada ao nosso cérebro para não
compreendermos o que estamos lendo, e então, não compreendemos. O processo de aprendermos a
dominar intelectualmente o material realmente não é intelectual, mas, ao invés disso, é um processo
de liberarmos nossa resistência, e isso simplesmente acontece. É muito melhor se acontecer sem que
tentemos fazer com que aconteça.

Em certo sentido, o programa de um ano de treinamento do livro de exercícios é uma forma de


iniciar o processo de integrar o que entendemos com nossos cérebros com o que entendemos a partir
de dentro de nós. O programa de treinamento do livro de exercícios tem seu foco em aplicar os
princípios da lição, que são baseados no texto, à nossa vida diária. Somos solicitados a pensar em
Deus a cada hora, meia hora, ou seis vezes por hora, e a pensar ou usar a lição durante o dia sempre
que formos tentados a ficar transtornados. Então, existe uma integração do que parece ser uma
compreensão intelectual da teoria com a aplicação prática. Na realidade, não é verdadeiramente
assim tão direto. A luta para aprender o que o texto diz carrega em si o processo inerente de se
tornar o que o texto diz. Novamente, as palavras não são tão difíceis. É nosso medo e resistência
que nos impedem de realmente entender o que estamos lendo. Nosso estudo e prática em relação a
ele durante um período de muitos anos é um reflexo do nosso desejo de aprendermos e nos
tornarmos o que ele diz.

2) Se você estiver pisando no meu dedão e eu o perdoar, isso significa que não me machucou?

Eu poderia contar a vocês muitas experiências que eu tive enquanto estava crescendo na cidade de
Nova Iorque, andando no metrô, que freqüentemente estava muito cheio, tornando quase impossível
não ser empurrado ou não ter meus pés pisados. Os nova-iorquinos, de certa forma merecidamente,
têm a reputação de realmente não se importarem, embora nem sempre seja esse o caso. Mas, se
alguém pisar no seu pé e rapidamente se virar para você e pedir desculpas, garanto que você vai
sentir menos dor do que se a pessoa não apenas pisar no seu pé, mas também empurrá-lo no chão na
pressa de sair pela porta.

Quando você vai para sua mente certa e realmente perdoa, a experiência nesse instante santo é a de
que você não vai tomar como pessoal o que parece ser um ataque, ainda que isso esteja destinado
como um ataque pelas outras pessoas. Nesse momento, você é um “curador curado” – até que fique
amedrontado e então recue outra vez e se torne um “curador não curado”. No contexto da
psicoterapia, um curador não curado seria alguém em uma profissão de saúde que não veja o
propósito como sendo para sua própria cura. Portanto, curadores não curados são aqueles que

41
tentam ser úteis para as outras pessoas, mas não vêem a si mesmas como parte do processo.

Deixem-me elaborar um pouco essa idéia de não tomar um ataque como algo pessoal. O que isso
significa perdoar é você não fazer a conexão que o ego iria levá-lo a fazer – entre o ataque das
outras pessoas, quer seja verbal ou físico, e você mesmo. Helen teve várias experiências que
registrei em meu livro, Ausência de Felicidade. Uma clássica, que deve ter acontecido antes do
Curso ter começado a ser ditado, aconteceu quando ela vivia em um prédio de apartamentos em
Nova Iorque. O quarto no apartamento sobre o dela ficava diretamente sobre o seu quarto. A mulher
naquele apartamento tinha um hábito muito irritante, segundo o ponto de vista de Helen. Por volta
da meia-noite, ela começava a andar pelo seu quarto de saltos altos sobre o piso de madeira. Agora,
Helen tinha ido para a cama em uma hora razoável, porque ela tinha acordado muito cedo para ia
até o Medical Center, e ela ficava atormentada e agitada em sua mente, realmente furiosa com essa
mulher por ser tão insensível, e pensando sobre todos os tipos de coisas que iria fazer. Em algum
ponto em meio à sua fúria interior, ela disse para si mesma, “o problema realmente é que eu penso
que existe uma corda que liga seus saltos altos à minha cabeça, então, penso que ela está sapateando
sobre minha cabeça. Se esse é o caso, tudo o que tenho que fazer é cortar a corda”. Sendo uma
pessoa tanto visual quanto auditiva, Helen pegou uma tesoura em sua mente, cortou a corda, e então
foi dormir direto.

As histórias nem sempre são tão simples e diretas, nem todas elas têm um final feliz como essa, mas
o principio é muito claro. O problema era a interpretação que ela fez; e o que a estava realmente
irritando aqui, não era tanto o som dos saltos sobre o chão, mas a idéia de que essa mulher pudesse
ser tão insensível, impensada, e não cuidadosa. Foi isso que provocou o problema. É a mesma coisa
no exemplo que dei sobre o metrô lotado. Se alguém pisar no seu pé, mas se desculpar rapidamente,
não machuca tanto quanto se a outra pessoa for muito insensível e culpar você por isso. Em um
sentido, é isso o que é o perdão – você restaura a conexão causal apropriada. A razão pela qual
estou transtornado e estou me revirando na minha cama não é pelo que a mulher está fazendo, ou
pelo que aquela pessoa fez, ou disse, ou qualquer outra coisa. É que estou fazendo uma conexão,
uma falsa conexão causal, entre aquela pessoa e eu. Isso é uma interpretação, não um fato. O Curso
enfatiza que percepção é um interpretação, não um fato (vejam T-21.V.1; LE-pII.304.1:3; MP-
17.4:1-7). A interpretação é a de que ela está fazendo isso comigo. Se eu mudar minha percepção,
então, não verei a causa da minha angústia como sendo seus saltos altos ou qualquer coisa fora de
mim, mas, ao invés disso, minha própria interpretação do que ela está fazendo. Então, não haverá
um problema.

Esse é um bom paradigma para como é o processo. Você não nega o que a outra pessoa faz. Se um
médico diz, “Sinto muito, mas o caroço no seu seio é câncer”, você não faz de conta que não é, e
diz que é tudo uma ilusão e que o seio já terminou há muito tempo (T-28.I.1:6). Isso é tolice. Mas
você pode olhar para isso de forma diferente. Você não tem que encará-lo como um ataque pessoal,
tanto do médico, de algo que você comeu, de uma pílula que não deveria ter tomado, do seu próprio
corpo, de Deus, ou seja do que for. Em um sentido, é apenas outro evento no mundo. A escolha
então é se eu olho para isso através dos olhos do meu ego, que são os olhos da culpa, ódio e medo,
ou se olho para isso através dos olhos do Espírito Santo, Que vai me ajudar a ver isso como outra
oportunidade de aprender que não sou o meu corpo, sem negar o fato de que existe um problema do
qual tenho que cuidar medicinalmente. É assim que atravessamos a vida. Não tentamos mudar o
mundo externo. Mudamos nossa mente em relação ao mundo externo. O início do Capítulo 21 diz,
“… não busques mudar o mundo, mas escolhe mudar a tua mente em relação ao mundo” (T-
21.in.1:7). A idéia novamente, é que você não tome como pessoal o que outras pessoas fazem ou
dizem. O ego sempre ira levá-lo a tomar isso como pessoal.

Voltando ao que estávamos falando mais cedo, o propósito do sonho do mundo é que tenhamos

42
uma experiência após a outra de culpa justificada aos outros, ao fato de que alguém fez isso contra
mim, e, portanto, minha reação imediata seria, “por que você fez isso comigo?!” – como você é
grosseiro, desatento, não amoroso, desprezível, maldoso, cruel, assassino, etc. Ao invés disso, você
percebe que essa é a reação do ego, porque foi por esse motivo que o mundo foi feito – para que
pudéssemos sempre culpar alguém ou alguma outra coisa. Lembrem-se daquele princípio muito
importante, a percepção é uma interpretação, não um fato. Meus olhos físicos vêem fatos
perceptuais ou objetivos no mundo, mas meu cérebro interpreta esses fatos aparentes, e a
interpretação do cérebro é um reflexo direto da decisão da mente. Se eu quiser encontrar pessoas
para culpar, vou encontrá-las sem qualquer problema. Mas eu poderia tão facilmente ver o ataque,
como o Curso diz, como uma expressão de medo, que é um pedido de amor que foi negado e que eu
sinto não merecer, ou que os outros não sentem merecer. Então, o foco nunca está no que está fora,
mas está sempre no que está dentro. A maior parte do tempo, eu não tenho poder sobre o mundo ou
sobre as outras pessoas no mundo. A única coisa sobre a qual tenho poder é minha própria mente.
Vou interpretar o mundo tanto através dos olhos do meu ego, que sempre será em termos de
vencedores e perdedores, vítimas e vitimadores, ou vou interpretá-lo através dos olhos de Jesus, que
vai ver a todos nós como compartilhando os mesmos interesses, a mesma necessidade e o mesmo
objetivo.

Parte XIII

Vamos voltar agora ao que lemos mais cedo no manual para professores, seção 5, “Como se realiza
a cura?”. A segunda subseção depois dessa é “O deslocamento na percepção”, e vamos começar
com o parágrafo 3.

(MP-5.II.3:1-3) Qual o requisito único para essa mudança na percepção? Simplesmente isso: o
reconhecimento de que a doença é da mente e não tem nada a ver com o corpo.

Estamos falando especificamente sobre doença, mas obviamente isso inclui muitas formas de
inquietude, perturbação ou transtorno. Como a Lição 5 diz, “Eu nunca estou transtornado pela
razão que imagino”. Você poderia ligar qualquer palavra a isso: Eu nunca estou desencorajado,
zangado, feliz, extasiado, excitado, desapontado, ou doente pela razão que imagino. Essa lição em
particular não chega a dar qualquer explicação detalhada sobre o móvito pelo qual estamos
transtornados, mas, obviamente, tantos outros trechos no livro de exercícios, no texto e no manual o
fazem. Novamente, estamos falando especificamente sobre doença, mas podemos generalizar
facilmente para qualquer coisa que nos deixe transtornados.

(MP-5.II.3:3-5) O que “custa” esse reconhecimento? Custa todo o mundo que vês, pois nunca mais
o mundo vai parecer reinar sobre a mente.

Literalmente custa o mundo todo, porque o mundo todo vai desaparecer junto com você no final,
mas ainda não estamos no final. Então, enquanto ainda estamos subindo a escada, o que muda é a
forma com que vemos o mundo. Nós temos visto o mundo como nos comandando: nós somos as
vítimas, os efeitos, de causas além do nosso controle. Olhar para o mundo através dos olhos do
Espírito Santo, ou segurar a mão de Jesus e atravessar as nuvens da culpa, não significa que não
vemos mais o mundo através dos nossos olhos; significa, ao invés disso, que nossa interpretação
muda. Não somos mais as vítimas de algo feito a nós. Essa é a mudança. Novamente, o custo é
“todo o mundo que vês, pois nunca mais o mundo vai parecer reinar sobre a mente”.

(MP-5.II.3:5-7) Pois junto com esse reconhecimento a responsabilidade é colocada no seu devido
lugar; não no mundo, mas naquele que olha para o mundo e o vê como não é.

43
Ver o mundo “como não é” pode ser compreendido em dois níveis. O nível imediato de que
estamos falando aqui é que eu não vejo mais o mundo como me dirigindo, como sendo a causa da
minha angústia e infelicidade. Quando chego mais perto do topo da escada, subitamente percebo
que vejo o mundo como ele não é, significando que vejo um mundo que existe, quando ele não
existe de forma alguma – é apenas um sonho. Mas, até chegar ao ponto em que sou capaz de
perceber que a coisa toda é literalmente um sonho, e a pessoa que chamo de mim mesma é
simplesmente uma figura nele, tenho o que Um Curso em Milagres chama de sonhos felizes, onde
ainda experiencio o mundo como real, mas não o experiencio mais como me atacando. Quando
Helen fez a mudança e cortou a corda entre os saltos altos da mulher e sua cabeça (vejam o excerto
precedente), os saltos altos da mulher pararam de bater no chão, e Helen ainda estava deitada na
cama com sua cabeça sobre o travesseiro. A diferença era que ela não via mais a conexão da forma
com que a tinha visto antes. Essa é a mudança. Não é que o mundo mude externamente; o que muda
é sua interpretação do mundo: você não o vê mais como tendo um efeito sobre você.

(MP-5.II.3:8) Ele olha para o que escolhe ver. Nada mais, nada menos.

Essa basicamente é a idéia de que a projeção faz a percepção. Eu olho para dentro e escolho o ego
ou o Espírito Santo. Qualquer professor que eu escolher vai determinar a forma com que vou
perceber o mundo: tanto como um lugar de pecado, culpa, medo, ódio e sofrimento, quanto uma
sala de aula na qual todos, sem exceção, têm que aprender a mesma lição. O que nos une a todos é
termos um interesse e um objetivo, ao invés de interesses e objetivos separados.

(MP-5.II.3:8-9) O mundo não fez nada com ele. Ele apenas imaginava que fazia.

No nível do corpo, o mundo certamente faz coisas conosco. Jesus não está sugerindo que caiamos
na negação, onde fazemos de conta que o mundo não tem efeito sobre nossos corpos. Ele realmente
tem. Ele nos diz, no Capítulo 2, que negar nossa experiência física no mundo é “uma forma
particularmente indigna de negação” (T-2.IV.3:11). Ele não está dizendo que devemos negar o
mundo; ele está simplesmente dizendo que deveríamos negar nossa interpretação do mundo. “O
mundo não fez nada com ele. Ele apenas imaginava que fazia”.

(MP-5.II.3:10-12) Nem ele faz nada com o mundo, pois estava equivocado em relação ao que ele é.
Aí está a liberação de ambas, culpa e doença, posto que são uma só.

Não é apenas que o mundo não faz nada para mim, eu não fiz nada com o mundo, porque minha
crença de que as pessoas estão me atacando e vitimando é uma projeção do meu pensamento secreto
de que fui eu que vitimei outras pessoas. Eu comecei com Deus, e depois fiz um mundo para que
pudesse vitimá-lo. Mas, quando atravesso essas nuvens com Jesus, percebo que o que eu percebia
do lado de fora espelha de volta para mim o que eu tornei real dentro de mim, e o que tornei real do
lado de dentro não tem efeitos também. Essas são as boas notícias. Não penas o meu ataque a você
é injustificado, não importando o que você fez; meu ataque a mim mesmo é injustificado, não
importando o que eu fiz. É assim que a culpa é desfeita. Culpa e doença são uma.

(MP-5.II.3:12-14) No entanto, para aceitar essa liberação, é preciso que a idéia da insignificância
do corpo seja aceitável.

Bingo! Esse é o problema. Você simplesmente navega nessas palavras maravilhosas: Sim, posso
fazer isso, posso fazer aquilo, e, subitamente, opa!, não, acho que posso fazer aquilo. Esse é nosso
medo da liberação. Não negue seu apego ao seu corpo, a si mesmo, à sua personalidade ou à sua
história, porque se você negar isso, não poderá curá-lo e liberá-lo; mas esteja consciente do quanto
isso é difícil. Na importante seção, “A última pergunta sem resposta” (T-21.VII), existem quatro

44
perguntas. As três primeiras são relativamente fáceis de responder. Elas são relevantes aqui, porque
todas as três questões basicamente têm a ver com não vermos mais o mundo como nos vitimando. A
quarta questão, a mais direta, é “Eu quero ver o que tenho negado porque é a verdade?” (T-
21.VII.5:14). É essa que não queremos responder, porque é ela que muda nossa mente. As três
primeiras mudam nossa percepção do mundo. Isso já é difícil o suficiente, mas nós alcançamos isso
depois de um tempo. A última, que é a mesma de que Jesus está falando aqui, é que eu preciso olhar
para o que escolhi negar porque é a verdade. Se eu olhar para isso novamente porque é a verdade, a
ilusão que é o meu ser, que é porque meu corpo é insignificante, vai desaparecer.

É por isso que Jesus diz que o problema com essa pergunta é que nós não a compreendemos. No
entanto, responder a essa pergunta com um “sim” significa “não dizer não” (T-21.VII.12:4). Com
isso, ele quer dizer que a reposta “Sim, quero ver o que tenho negado por que é a verdade”, significa
que você quer voltar para sua mente certa e permanecer lá. Para dizer isso e realmente querer dizer
isso, você precisa olhar para o sistema de pensamento do ego, que é o “não”, e dizer que você não o
quer mais. Esse é o problema. O sistema de pensamento do ego que nós abraçamos – na verdade,
fizemos – é o ser. Nós queremos ser identidades individuais, separadas, especiais e únicas. Esse ser
é quem é cada um de nós. E é para isso que temos que olhar e dizer que não o queremos mais. É por
isso que a última pergunta sem resposta continua sem resposta, porque isso significa olhar para o
ego e dizer que não o queremos.

O que você quer fazer com você mesmo, que é o início do processo da cura, é ser honesto e
perceber que não tem certeza de que quer fazer isso. “Sim, acho que será bom para mim praticar a
liberação das mágoas, e realmente não quero me agarrar ao passado e culpar as outras pessoas por
coisas que estou fazendo”. Isso é ótimo, e muito importante. Vai levá-lo através dos primeiros
quatro estágios no desenvolvimento da confiança de que as primeiras páginas do manual falam
(MP-4.I-IV), mas não vai levá-los através do quarto e quinto estágios, porque o quinto estágio é
liberar nosso senso do ser, e o sexto é alcançar o mundo real.

Existem muitos trechos dados no Curso onde Jesus diz a mesma coisa – de que tudo o que você
precisam fazer é apenas estar consciente para não negar seu medo ou sua identificação com o ego, e
não tentar embelezá-los. Você simplesmente está dizendo que “Sim, é aqui que estou e não estou
pronto ainda. Até estar pronto para dar esses passos finais na subida da escada, posso dar vários
passos intermediários – como realmente aprender a liberar minhas mágoas. Posso aprender a pedir a
ajuda de Jesus sempre que me perceber ficando zangado, aborrecido, amedrontado ou culpado, e
perceber que são essas coisas que estou escolhendo. Eu posso aprender a não culpar outras pessoas
e apenas ser paciente, benigno e gentil comigo mesmo, conforme passo por tudo isso”.

Parte XIV

Conclusão

(MP-5.II.4:1-6) Com essa idéia, a dor se vai para sempre. Mas também com essa idéia vai-se toda
a confusão a respeito da criação. Não são decorrências inevitáveis? Coloca causa e efeito em sua
verdadeira seqüência com relação a uma única coisa e o aprendizado vai se generalizar e
transformar o mundo. O valor de transferência de uma única idéia verdadeira não tem fim ou
limite.

Essa noção de “valor de transferência” é a idéia chave em Um Curso em Milagres. Esse curso
contém um currículo, e professores sempre querem que seus alunos generalizem o que aprendem. A
introdução do livro de exercícios afirma isso muito claramente (LE-in.4-7). A forma de eu começar
a “colocar a causa e efeito em sua verdadeira seqüência”, é reconhecer meu relacionamento especial

45
com outra pessoa. Eu começo a ver que a outra pessoa não é a causa da minha angústia, nem da
minha salvação. Na verdade, a outra pessoa não tem absolutamente nada a ver com o fato de eu
estar transtornado ou me sentindo feliz. Se eu estiver feliz, é porque escolhi o Espírito Santo como
meu Professor; se eu estiver transtornado ou me sentindo desapontado, ou culpado, é porque escolhi
o ego. É muito simples. Eu volto para minha mente. Existe uma linha no texto que diz: “O milagre
é o primeiro passo na devolução à Causa da função da causalidade, não do efeito” (T-28.II.9:3). A
causa é a mente. Eu começo a entender, assim como Helen fez, que a outra pessoa não é a causa da
minha angústia (o efeito). É a interpretação da minha mente em relação ao evento, pessoa ou
relacionamento que é a causa.

O que todos nós fazemos ao invés disso, no entanto, é trazer o nosso passado – o que o texto chama
de “sombras do passado” (T-17.III) – para justificar nossa reação: As pessoas estão sempre pisando
na minha cabeça; estão sempre sendo injustas, rudes, e insensíveis comigo. Minha mãe nunca
pensou em mim; meu pai nunca estava em casa, e nunca se importou comigo. Ninguém jamais se
importou comigo – eu estava sempre machucado e com dor, e ninguém se importava. Eu trago tudo
isso comigo – durante quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta, oitenta anos – e então, de repente, uma
mulher anda com saltos altos no piso acima do meu quarto e eu começo a ficar justificadamente
zangado. E, por trás dela, estão milhares de outros, e mais outros milhares por trás deles, como o
texto diz (T-27.V.10:4). Eu os vejo, e vejo o mundo como a causa da minha infelicidade.

A cura acontece quando nós revertemos isso e damos de novo à causa sua função de causalidade.
Nós devolvemos o problema à mente, que é o que o milagre faz – ele restaura à causa sua função de
causalidade. O propósito do Um Curso em Milagres é nos levar a fazer isso. A forma de podermos
praticar isso é percebendo que sempre que estamos procurando por algo, por exemplo, estamos
dando a isso um poder que ele não tem. Estamos sempre dando nosso poder embora. Por quê?
Porque o ego nos diz que uma vez tivemos esse poder, e veja só o que fizemos com ele: o Céu está
escurecido, Deus foi destruído, o amor foi subjugado, e tudo por causa do que fizemos. É assim que
somos tão poderosos! A culpa em relação a isso é tão esmagadora que faremos qualquer coisa para
nunca repetirmos nada disso. Então, damos nosso poder. É por isso que nascemos como bebês
desamparados. Nós poderíamos nascer como adultos crescidos – é o nosso sonho. Mas nada é tão
desamparado quanto um bebezinho; e conforme o bebê cresce e começa a conseguir um poder do
mundo, ainda está à mercê de um mundo maior do que si mesmo. Essa é outra forma de entender
por que o mundo foi feito: para que pudéssemos entregar nosso poder. Para nós, o poder da mente é
o poder do pecado. Então, se eu der a você poder sobre mim, você será o pecador, e Deus vai matá-
lo, não a mim. Isso é a doença. É uma ótima doença, no entanto, porque sob ela está a acusação,
“Veja o que eu fiz; eu destruí Deus! O que isso vai me tornar? Isso me torna Deus”. Que
esquizofrenia paranóide! É por isso que Jesus diz que nós somos todos insanos.

Portanto, cura e perdão estão relacionados a pegarmos o poder de volta – não o poder de pecar ou
de destruir, mas o poder de amar, e de aprender que qualquer coisa que pensamos ter feito não teve
efeitos. É assim que curamos uns aos outros. Quando estou na minha mente certa, estou totalmente
em paz e não estou zangado nem culpando qualquer pessoa. Então, a partir desse instante santo, eu
demonstro a você que não importando o que está acontecendo com o seu corpo ou com a sua vida,
você pode fazer a mesma escolha que eu fiz. Estou dizendo que o poder da nossa mente é o amor,
não o pecado e o ódio. É isso o que a cura é. É por isso que aquela passagem maravilhosa que li do
panfleto Psicoterapia (P-2.VI.6:3) não fala nada sobre o paciente, o diagnóstico do paciente, o
curso do tratamento, e certamente nada sobre técnicas. Tudo o que ela diz é que o terapeuta cura sua
mente, trazendo o problema para dentro dela, que é onde o Espírito Santo se torna o terapeuta. É
assim que a cura acontece. Nesse instante, o terapeuta espelha para ao paciente a mesma escolha
que o paciente pode fazer, não importando o que é dito no consultório, os insights brilhantes que o
terapeuta possa ter, ou os problemas que o paciente traz. Tudo isso é totalmente irrelevante para o

46
real processo de cura, que é o de que o terapeuta olha para o paciente através de olhos que não
julgam, porque ele não julga mais a si mesmo. De fato, o panfleto também diz que a cura acontece
quando o terapeuta se esquece de julgar (P-3.II.6:1).

A única forma de poder evitar julgar você, é eu evitar me julgar. No entanto, eu não sei que existe
qualquer coisa que eu tenha que julgar e mudar em mim mesmo, porque não sei nada sobre o
julgamento. Então, eu, portanto, preciso observar cuidadosamente minhas reações, por causa de
quem você é na minha vida. Minhas reações vão me mostrar o que eu projetei da minha mente,
sobre o que estava totalmente inconsciente. Uma vez que minha atenção é trazida de volta de fora
para dentro e eu olho para qualquer coisa de que esteja me acusando – todo meu auto-ódio e auto-
aversão -, e olho para isso como o amor de Jesus ao meu lado, tudo vai desaparecer, quando eu
realmente fizer isso. Nesse ponto, não existe julgamento em mim, porque eu reconheço que nada
aconteceu. Eu percebo que minha grandiosidade e ilusões paranóicas de grandeza não têm efeitos
sobre nada; o Amor de Deus não foi prejudicado; a Unicidade do Céu não foi dividida em bilhões
de fragmentos. Nada aconteceu! Nesse instante, minha culpa e julgamento se vão, o que significa
que é impossível para mim, julgar você. É aí que a cura acontece, porque estou demonstrando a
você que você agora pode fazer a mesma escolha que eu fiz. É muito simples. Isso se aplica quer
estejamos falando sobre psicoterapia, um quarto de hospital, um consultório médico, um escritório
de advogado, uma família, ou um negócio. Não importa onde você está, o processo é sempre o
mesmo.

(MP-5.II.4:6-7) O resultado final dessa lição é a lembrança de Deus.

A lição é a de que a mente fez o mundo, e agora nós entendemos por que ela o fez. Nosso grande
medo é o de que vamos nos lembrar de Deus, porque então, eu não existirei, não haverá
individualidade, especialismo nem singularidade – nada, exceto o Amor de Deus.

(MP-5.II.4:7-9) O que significam agora culpa e doença, dor, desastre e todo o tipo de sofrimento?
Não tendo propósito, eles se vão.

A palavra importante aqui é propósito. É incrível com que freqüência ela aparece no Curso (mais de
600 vezes). O propósito da doença, dor, desastre e sofrimento é provar que a separação é real, mas
que alguém mais a provocou, não eu. Uma vez que percebemos que não existe culpa a expiar,
então, não existe culpa da qual tenho que me livrar, atacando você. Se não existe culpa de forma
alguma, então, toda doença, dor, desastre e sofrimento desaparecem, porque seu propósito se foi. Eu
não tenho mais que manter em minha memória um pensamento que já foi desfeito e curado no
instante em que pareceu surgir. Não tenho mais medo da memória de Deus. Nós todos, como um
Filho coletivo, escolhemos contra isso quando fizemos do ego nosso professor, ao invés do Espírito
Santo, e é isso o que agora podemos corrigir. Quando nós finalmente escolhermos isso, nossa mente
será curada, o que significa que o Filho de Deus será um novamente. É isso o que Jesus quer dizer
em Um Curso em Milagres quando fala que estávamos com ele quando ele ascendeu (ET-6.5:5).
Isso não tem nada a ver com ressurreição física, que é realmente tola do ponto de vista do Curso.
Como um corpo poderia ressuscitar se nunca foi morto? E ele nunca foi morto porque nunca viveu.
Em Um Curso em Milagres, Jesus está falando que quando despertou, estávamos com ele, porque
somos todos um, e, nessa unicidade, não existe Jesus nem Ken – existe apenas um. Existe apenas o
Filho único de Deus que não tem nome, porque seu Nome é com um “N” maiúsculo, como as
Lições 183 e 184 dizem (“Invoco o nome de Deus e o meu próprio”; “O nome de Deus é a minha
herança”).

MP-5.II.4:9-12) E com eles se vão todos os efeitos que pareciam causar. Causa e efeito são apenas
uma réplica da criação. Vistos em sua perspectiva correta, sem distorção e sem medo, eles

47
restabelecem o Céu.

A Causa original é Deus. Ele é a Primeira Causa, não existe segunda; e Cristo, Seu Filho, é Seu
Efeito. Essa é a Causa e o Efeito originais. O ego nos diz que nós nos separamos de Deus, e que o
efeito realmente deixa sua causa, porque idéias realmente deixam sua fonte. Uma vez que
separamos a causa e o efeito, continuamos a dividi-la; a mente agora é a causa e o mundo é o efeito.
Quando trazemos a causa e o efeito de volta ao alinhamento, percebemos que as idéias não deixam
sua fonte. O mundo, então, volta à sua fonte, que é a culpa na nossa mente. Nós agora estamos de
volta às nossas mentes para olharmos para a culpa novamente, que desaparece. Agora, tudo o que é
necessário é olhar para dentro – que é o que torna alguém um curador, e é assim que o sonho da
doença é curado e desfeito. Eu primeiro faço isso olhando para fora, através dos olhos do meu novo
professor, que me instrui que o que eu vejo do lado de fora é uma projeção do que tornei real dentro
de mim. Então, eu olho para dentro e começo a rir – com o “riso gentil” de que Jesus fala. Eu rio da
tolice de jamais pensar que poderia ser Deus, que eu até iria querer ser Deus, e de que para que eu
exista e continue a existir, tenho que matar continuamente Deus, e então, matar a todos os outros
nessa ópera mambembe quase sem fim de fraude, assassinato, dor e morte. O sonho todo termina no
instante em que qualquer um de nós subitamente reconhece o que está acontecendo.

Como um encerramento, vamos voltar aos dois lindos parágrafos perto do fim do Capítulo 2 do
panfleto Psicoterapia. Jesus está falando especificamente sobre o trabalho do terapeuta, mas
podemos facilmente aplicar o que ele diz a qualquer situação na qual estejamos com qualquer
pessoa. Lembrem-se de que os relacionamentos não acontecem no corpo; eles acontecem na mente,
então, vocês podem imaginar essa cena, talvez em termos da morte de um de seus pais a quem não
perdoaram, ou em termos de uma figura pública com quem vocês tenham um relacionamento
especial, mas nunca tenham conhecido. Não importa, porque é tudo pensamento de qualquer forma.
Portanto, qualquer que seja a natureza do seu relacionamento, não é nada mais do que uma projeção
do seu relacionamento com Deus na sua mente. Esse é o conflito original; o relacionamento
especial; e ao invés de olhar para ele do lado de dentro, nós o projetamos para fora.

Pensa no que a união de dois irmãos realmente significa. E depois esquece o mundo e todos os seus
pequenos triunfos e seus sonhos de morte. Aqueles que são o mesmo são um só, e nada agora pode
ser lembrado do mundo da culpa. A sala passa a ser um templo, e a rua um riacho de estrelas que
passa de leve por cima de todos os sonhos doentios. A cura está realizada, pois o que é perfeito não
precisa de cura, e o que resta para ser perdoado onde não há nenhum pecado?

Sê grato, terapeuta, por poderes ver coisas tais como essas, se apenas compreenderes o teu papel
corretamente. Mas, se falhares nisso, terás negado que Deus te criou e assim não saberás que tu és
Seu Filho. Quem é o teu irmão agora? Que santo pode vir para levar-te para casa com ele? Tu
perdeste o caminho. E podes agora esperar ver nele uma reposta que te recusaste a dar? Cura, e
fica também curado. Não há nenhuma outra escolha com relação à estrada que possa conduzir à
paz. Ah, deixa o teu paciente entrar, pois ele veio a ti da parte de Deus. Não é a sua santidade
suficiente para acordar em ti a memória d’Ele? (P-2.VII.8; 9).

48

Você também pode gostar