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Évora inaugura memorial aos milhares de vítimas da Inquisição - DN https://www.dn.pt/sociedade/evora-inaugura-memorial-aos-milhares-de-v...

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INÍCIO / SOCIEDADE

Nos 480 anos da criação do Tribunal do Santo Ofício na cidade alentejana, nasce um
monumento na Praça do Giraldo

Praça do Giraldo em Évora. Gravura antiga© Arquivo Global Imagens

Luís Godinho s milhares de vítimas da Inquisição portuguesa passam, a


22 Outubro 2016 — 01:23
partir de hoje, a ter um monumento em sua homenagem na
cidade de Évora. Situado entre a fonte da Praça do Giraldo e a
Igreja de Santo Antão, onde se realizaram diversos autos-de-fé, o
monumento, da autoria do escultor João Sotero, é inaugurado no
TÓPICOS
dia em que se assinalam 480 anos sobre a data em que foi lida na
Igreja Católica
Évora Sé de Évora, perante o rei D. João III, a bula papal que autorizava

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Inquisição
MENU 10 a instalação e o funcionamento em Portugal do Tribunal do Santo
Sociedade
Ofício.

Relacionados "Deu-se a circunstância de o rei D. João III estar em Évora, e


haveria de ser aqui que seria lida a bula papal de criação da
Inquisição em Portugal", diz ao DN o historiador Manuel Branco,
revelando que o projeto de criação do memorial surgiu depois de
terem sido encontradas diversas ossadas junto ao antigo Palácio
AUTARQUIA
da Inquisição, atual Fórum Eugénio de Almeida.

"As últimas obras ali realizadas puseram a descoberto as ossadas


de diversas pessoas que morreram enquanto se encontravam
detidas nos cárceres da Inquisição e que foram lançadas para a
entulheira como se de um animal se tratasse", refere.

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Nem a morte das vítimas parou a ação persecutória do Santo


Ofício: "Nalguns casos foi feita uma esfinge da pessoa para ser
queimada na praça pública. Não escapavam a este ato de
exorcismo."

Manuel Branco refere-se à Inquisição como "uma época trágica"


que pôs "em evidência" a intolerância da sociedade portuguesa.
Daí o desafio lançado à Câmara de Évora para a criação de um
memorial de homenagem às vítimas.

"A intolerância, religiosa ou de outro tipo, é um problema que tem


de ser banido da sociedade. Esta iniciativa pretende sensibilizar as
pessoas para a importância de conviverem com a diferença", diz o
presidente da autarquia, Carlos Pinto de Sá, lamentando que "se
continuem a levantar vozes em torno de valores que julgávamos
ultrapassados, como a xenofobia perante os imigrantes ou o
terrorismo".

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MENU 10 Durante o seu período de funcionamento, até 1794, os tribunais da


Inquisição de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora queimaram 1175
pessoas vivas (mais 633 em efígie) e impuseram castigos a mais
cerca de 30 mil, número que os historiadores dizem "subestimar" a
realidade.

Praça do Giraldo em Évora. Gravura antiga© Arquivo Global Imagens

"De início tudo o que era cristão novo ou luterano era alvo do Santo
Ofício. Depois foi tudo a eito. Tudo o que era denunciado por
comportamentos desviantes", diz o historiador Francisco Bilou.
"Muitos morreram por ação direta da Inquisição, outros eram
enviados para as galés ou para os lugares mais longínquos do
reino."

No caso de Évora, Francisco Bilou diz não existir uma certeza


absoluta sobre o local onde eram montados os cadafalsos, embora
esse sítio fosse seguramente entre a fonte da Praça do Giraldo e a

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MENU 10 Igreja de Santo Antão. "As vítimas saíam em procissão desde o


palácio da Inquisição, com os jesuítas à frente, desciam a Rua 5 de
Outubro e eram encaminhadas para um palco em torno do qual
tinham sido levantadas diversas bancadas."

Aí chegadas, restava-lhes esperar pela leitura das respetivas


sentenças: "Algumas tinham de se retratar publicamente, outras
eram açoitadas, outras deportadas. Os casos mais graves
culminavam com a queima dos réus numa fogueira."

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Segundo Francisco Bilou, uma vez conhecida a sentença e "lidas


as penas", a Igreja não ficava a ver a consumação do castigo:
"Entregava o réu ao braço secular da justiça e a hipocrisia chegava
ao ponto de dizerem que uma determinada pessoa deveria ser
queimada, mas não deveria ser morta."

"Era uma festa, às vezes com o rei a assistir, um espetáculo que


culminava com uma fogueira destinada a fazer o que diziam ser a
justiça."

O historiador refere que qualquer "comportamento estranho" era


suficiente para a abertura de um processo, algo que surgia
diariamente fruto de uma "rede de cumplicidades e denúncias".
Entre os casos que estudou, destaca o de um rapaz de 9 anos que
teria dito em público "viva a lei de Moisés, abaixo a de Cristo".

"Foi denunciado à Inquisição por uma pessoa que dizia estar na

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MENU 10 rua para ir rezar a ave-maria. Ficou a suspeita de o miúdo estar


tomado pela bebida, sem culpa alguma, mas ainda assim passou
mais de um ano na prisão e foi condenado ao pagamento das
custas, a alguns açoites e a vir à praça pública dizer que estava
arrependido. Um requinte de malvadez", remata.

"Nom queria comer nem come touçinho nem carne de porco"

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Entre os muitos "pecados" de Justa Rodríguez, queimada em auto-


de-fé na Praça do Giraldo a 23 de setembro de 1543, constava o
da alimentação. "Nom queria comer nem come touçinho nem carne
de porco", escreveu o inquisidor, que viu nesta vontade da ré um
claro indício de judaísmo, religião que proíbe o consumo de
diversos alimentos.

De origem espanhola, a mulher foi condenada por se ter desviado


da "Santa fé católica" nos anos que antecederam a sua prisão no
aljube de Évora. No processo é acusada, por exemplo, de ter
lavado o cadáver do segundo marido derramando a água dos
cântaros "ao modo e maneira que os judeus fazem a seus mortos",
de ser vista a seguir os "ritos e cerimoniais" da lei judaica e de em
certa ocasião ter negado que Jesus Cristo fosse o messias enviado
por Deus.

Perante a gravidade das acusações, a Inquisição de Évora não


teve dúvidas em considerá-la "herege e apóstata" (quem renuncia
a uma determinada religião), condenando-a à pena mais grave.

Destino idêntico teve Luis de la Penha, garrotado e queimado na


fogueira em 1626, depois de ter ganho fama como vidente e
curandeiro. "Benzia enfermos, dizendo orações e palavras em voz
baixa de modo que se não podiam ouvir e tinha um livro de

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adivinhava coisas que estavam por vir", registou o inquisidor
Francisco Barreto, acusando ainda o réu de ter "muitos papéis
escritos de sua letra, nos quais se continham invocações do
Demónio, sortes para adivinhar, caracteres incógnitos e muitas
orações supersticiosas e coisas tocantes à danada arte de magia e
feitiçaria".

Nascido em Espanha, Luis de la Penha foi "denunciado, preso e


sentenciado pela Inquisição em 1619", diz o historiador Francisco
Bilou. Libertado uma primeira vez, acabaria por ser novamente
preso e, desta vez, condenado à fogueira "porque a Igreja não tem
mais que fazer com o réu por usar mal a misericórdia que no
primeiro lapso lhe foi concedida".

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PA R T I L H A R

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