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XIII ENCONTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

Universidade de Fortaleza
21 a 25 de outubro de 2013

Entre o urbano e o natural: um retrato sobre o espaço geográfico e a


sociedade florianense
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Andrezannatta de Alencar Campos (PQ), Rose Danielle de Carvalho Batista (PQ), Adaleuton de
*
Queiroz Soares (PG).

1Especialista em Geografia, Universidade Federal do Piauí, Teresina-PI;


2 Especialista em Saúde da Família, Universidade Estadual do Piauí, Teresina-PI;
3Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Faculdade Católica de Fortaleza, Fortaleza-CE.

queirozka@hotmail.com

Palavras-chave: Paisagem natural. Espaço urbano. Sociedade.

Resumo
Este projeto propôs maximizar a aprendizagem através da imagem fotográfica a partir de temas relevantes
como, natureza, cultura, sociedade, urbanização, lixo, desenvolvimento sustentável, de modo dinâmico e
contextualizado, fortalecendo o aprendizado e novas possibilidades de articulação entre professores, escola
e comunidade. A experiência do uso da fotografia para o ensino de Geografia e Sociologia iniciou-se, pois,
com os alunos do 2º ano do Colégio Impacto, localizado no município de Floriano-PI, divididos em dois
grupos, um grupo “A” com 21 integrantes e um grupo “B” com 24 integrantes. Foram realizadas observações
“in loco” no aterro sanitário e na galeria de esgotos da cidade, fundamentadas em um levantamento
bibliográfico preliminar e registradas através de fotografias, o que permitiu uma aproximação direta com a
realidade e seu desgaste socioambiental, possibilitando reflexões sobre a dimensão simbólica das ações
dos sujeitos e suas complexas relações sociais. Desse modo, percebeu-se que o uso de imagens
fotográficas como instrumento da ação didática se mostra ferramenta eficaz na apreensão do olhar dos
sujeitos sobre a questão socioambiental e sua inter-relação a temas geográficos e sociológicos da
atualidade. Conhecer e valorizar o espaço vivido é fundamental para a sustentabilidade das relações com o
meio ambiente gerando uma melhor qualidade de vida para todos. Faz-se urgente, portanto, (re)conhecer o
lugar onde se vive e o seu valor.

Introdução
Atualmente a maior parte da sociedade se concentra nas áreas urbanas, local onde estabelecem múltiplas
relações, com diversas instituições sociais – família, escola, igreja, grupos culturais, entre outros. A cidade,
por natureza, nos traz uma série de satisfações e conflitos, desde os mais simples, fáceis de serem
sanados, até graves problemas urbanos. “[...] a cidade é lócus privilegiado da vida social, na medida em que,
mais do que abrigar a maior parte da população, ela produz um modo de vida que se generaliza”
(CAVALCANTI, p. 63-64, 2008).
A cidade de Floriano, município brasileiro do estado do Piauí, apresenta problemas e qualidades comuns a
todos os centros urbanos, mas também é dotada de características particulares. Com a identificação dessas
particularidades, o presente projeto visou à produção de material (fotográfico) da paisagem da cidade de
Floriano capaz de gerar reflexões imediatas acerca das diversas transformações sofridas pelo espaço e os
principais impactos ambientais na paisagem.
Segundo Tonini (2003, p.43):

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Trabalhar com imagem, seu impacto e sua influência na subjetividade é um desafio
legítimo e sedutor: a imagem cruza fronteiras, especificidades e barrismo; possibilita novas
formas de buscar o saber num dos mais antigos recursos pedagógicos, e tão disponíveis
na escola.

De forma específica, desenvolvido numa escola privada de ensino, o projeto buscou despertar nos alunos do
2º ano do ensino médio a produção criativa a partir da realidade local, possibilitando a construção de novos
paradigmas para o pleno desenvolvimento de cidadãos socioambientais críticos, além de sensibilizar a
comunidade escolar quanto à importância em se estabelecer relações sustentáveis entre sociedade e
natureza no processo de transformação do espaço.
Lenzi (2005) indica que a forma discursiva de democracia está associada ao caráter público das questões
socioambientais. A sustentabilidade consiste em um bem público vital aos seres humanos. Assim, ressalta-
se a importância do meio ambiente para as necessidades básicas humanas.
É fato que o espaço urbano possui uma predominância de paisagens culturais, mas nem por isso a
paisagem natural é inexistente. Sendo a paisagem o aspecto visível, podemos realizar análises da paisagem
urbana e natural através de uma visita “in loco”, onde as disciplinas de Geografia e Sociologia contribuirão
para compreensão dos cenários identificados no material produzido.
Nesse contexto, a atividade proposta capacitou os alunos a fazerem a devida leitura de mundo em que
estamos inseridos problematizando as reflexões geradas no projeto sobre as transformações sofridas no
espaço e os principais impactos ambientais na paisagem. “[...] compreender a realidade significa,
principalmente, concretizar pensamentos não apenas a partir de atos, de diferentes formas de inferência na
realidade, mas, sobretudo, a partir da possibilidade de (re)transmissão de informações” (BELO, 2009, p.72).

Metodologia
Este projeto consistiu em uma pesquisa de campo sobre a temática supracitada, com vistas a produzir um
arquivo fotográfico dos principais impactos ambientais sofridos na paisagem, tomando como foco, o
município de Floriano, onde se localiza o Colégio Impacto. Distante da capital do Piauí 244 quilômetros, a
Princesa do Sul, como é conhecida, situa-se na Zona Fisiográfica do Médio Parnaíba, à margem direita
desse mesmo Rio, em frente à cidade de Barão de Grajaú, Maranhão. Suas coordenadas geográficas são:
06°46'01” de latitude sul, e 43°01'22” de longitude oeste em relação a Greenwich (IBGE, 2010).
As atividades desta pesquisa foram desenvolvidas durante o período de uma semana, sob a coordenação
dos professores de geografia e sociologia, abrangendo um total de 4 aulas de geografia e 2 aulas de
sociologia de 50 minutos (em cada turma), no primeiro semestre do ano letivo de 2012. O projeto conta com
a participação dos alunos do 2º ano do ensino médio do Colégio Impacto, divididos em dois grupos, o grupo
“A” com 21 integrantes e o grupo “B” com 24 integrantes.
Inicialmente os alunos dos grupos A e B, reuniram-se no horário da aula com os professores envolvidos,
dando início à primeira etapa do trabalho, a apresentação da proposta do projeto e seus principais objetivos.
Na segunda etapa, os grupos realizaram uma pesquisa bibliográfica sobre o tema estudado, tendo como
fontes – livros, revistas, internet, etc. Nessa etapa os professores deixaram bem claro que os conteúdos
trabalhados seriam adequados à realidade local do município, considerando o envolvimento ativo do
educando no processo de aprendizagem através da pesquisa.
Terminada a etapa de pesquisa bibliográfica, teve início a terceira etapa, onde os alunos expressaram suas
ideias, conhecimentos e questões sobre o tema escolhido. Nesta fez-se necessário a mediação
interdisciplinar dos professores acerca dos questionamentos elaborados na problematização do projeto.

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Na quarta e última etapa, teve início a pesquisa “in loco” e a produção do material fotográfico resultado da
observação dos lugares predeterminados no trabalho, o aterro sanitário do bairro Guia, a margem direita do
rio Parnaíba e a galeria de esgotos da cidade.
As fotografias tiradas pelos alunos foram avaliadas por uma equipe multidisciplinar convidada a colaborar
com o projeto. Participaram dessa equipe, além dos professores de geografia e sociologia, um professor de
história e um pedagogo. Em seguida foram selecionadas 40 fotografias para exposição, sendo 20 para cada
turma, de acordo com os seguintes critérios: originalidade, criatividade e ineditismo.
A metodologia aqui descrita desenvolvida nas aulas de geografia e sociologia teve sua culminância com uma
Exposição fotográfica, um momento onde foram colocadas em evidência todas as diferentes
(re)interpretações da realidade, valorizando experiências, e portanto a vida.

Resultados e Discussão
A reprodução do mundo através da fotografia é repleta de concepções políticas, sociais, ideológicas, é um
registro na forma da realidade documentada de uma determinada época, expressão do pensamento social
de um grupo social. Por isso podemos estudá-la na escola em diálogo com as diversas disciplinas do
currículo comum do ensino médio: geografia, sociologia, história, pedagogia, etc.
A primeira etapa do trabalho teve início com uma discussão da proposta do projeto, dos objetivos da
atividade, evidenciando os conhecimentos prévios dos alunos. Nesta etapa, ficou visível que grande parte
dos educandos tinha uma visão equivocada sobre os reais problemas ambientais sofridos na paisagem local
do município estudado. Com a apresentação de vários temas sobre meio ambiente e sociedade, natureza,
cultura, urbanização, lixo e desenvolvimento sustentável, os professores mediaram os conflitos e sanaram
os equívocos.
Na segunda etapa, foram discutidos textos sobre as temáticas citadas acima, onde surgiram inúmeros
questionamentos acerca dos sérios problemas urbanos enfrentados pela comunidade local no município de
Floriano. Neste momento, os professores aproveitaram a vivência social dos alunos para dar início a terceira
etapa do projeto a partir do confronto de ideias e de questionamentos sobre a vida em sociedade, cenário
ideal para troca de experiências entre os grupos gerando reflexões de suas próprias atitudes. Percebeu-se
nessa etapa que os alunos tiveram dificuldades na organização das ideias e elaboração dos
questionamentos, sendo de extrema importância a intervenção dos professores, enriquecendo as
discussões e promovendo o exercício da autonomia dos educandos na construção da sua própria
aprendizagem.
Durante a pesquisa de campo, através da observação, buscou-se construir um novo olhar, de teor mais
crítico, da paisagem visitada, constatando a dinamicidade das relações existentes nesses espaços onde
vivem como partes integrantes do meio e potenciais modificadores do mesmo. Os alunos, ao longo do
avanço das atividades, estabeleceram uma aproximação entre a problemática relação do homem e a
natureza com a sua realidade, promovendo uma rica troca de saberes e (re)significação de valores,
essenciais para o bom desenvolvimento do projeto.
A divulgação dos resultados do projeto teve como objetivo socializar o conhecimento produzido pelos
grupos, neste caso a exposição das imagens reveladas pelos olhares dos alunos do 2º ano do ensino médio
do Colégio Impacto, valorizando a participação ativa do educando no processo ensino-aprendizagem através
da pesquisa.
Durante a visita ao aterro sanitário, pôde-se avaliar a falta de políticas públicas para a correta destinação
final dos resíduos sólidos e o não envolvimento entre município e comunidade, no interesse e na busca de

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soluções para sanar o problema. Nesse sentido, foi percebido o quanto é importante à correta gerência dos
aterros sanitários, garantindo qualidade de vida e a preservação do meio ambiente. Os alunos verificaram
que o problema só se agrava, não há planejamento estratégico, tanto no que diz respeito à propagação de
doenças como na degradação ambiental (Fig. 01).

Figura 01: Entrada do aterro sanitário do bairro Figura 02: Lixo depositado de forma
Guia, Floriano-PI. inadequada.

Fonte: Alunos do grupo “A”, 2012. Fonte: Alunos do grupo “A”, 2012.
Os alunos observaram que no aterro sanitário havia todo tipo de lixo sem nenhuma pré-seleção
estabelecida. São resíduos como: animais mortos, sofás, madeiras, lixo doméstico, lixo comercial, lixo
hospitalar, sacos plásticos, papelão, restos de carros, entre outros (Fig. 02).
Percebeu-se que os alunos reafirmaram a importância de se preservar o meio ambiente, (re)descobrindo
seu papel de cidadão crítico e atuante no grupo social onde vive, revelando, portanto, um cuidado ampliado
com a natureza, condição essencial para uma boa qualidade de vida. “Em muitos governos as políticas são
tomadas em favor das empresas, prejudicando os interesses da sociedade”. (Relato de um aluno do 2° ano
grupo “B”).
De acordo com o que foi observado na figura 03, os alunos localizaram em diversos pontos da margem
direita do Rio Parnaíba grotas de esgotos despejados sem nenhum tratamento no rio Parnaíba. O rio sofre
com o despejo de quase todo o esgoto da cidade de Floriano, sem a menor fiscalização do poder público.
“Os problemas sanitários têm ligação direta com a saúde pública e os problemas ambientais a afetam
indiretamente”. (Relato de um aluno do 2º ano grupo “A”).
Figura 03: Grota de esgoto localizada na Figura 04: Galeria de esgoto a céu aberto,
margem direita do rio Parnaíba, Floriano-PI. Floriano-PI.

Fonte: Alunos do grupo “A”, 2012. Fonte: Alunos do grupo “B”, 2012.

A situação do centro da cidade não se difere muito da problemática encontrada em áreas menos habitadas.
Os grupos reafirmaram que a falta de saneamento básico adequado em Floriano gera uma série de
transtornos para a população que reside próximo a esses córregos, causando doenças, contaminando
solos, rios e mananciais com impactos diretos à saúde da população e ao meio ambiente (Fig. 04). “A
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sociedade deve se unir e cobrar de seus governantes um olhar mais atento e investimentos prioritários na
coleta e tratamento de esgoto devem ser feitos para garantir qualidade de vida à nossa população e,
principalmente, às nossas futuras gerações”. (Relato de um aluno do 2º ano grupo “B”).

Conclusão
A pesquisa de campo se mostrou fundamental para a finalização do projeto, uma vez que, ao explorarem
áreas da cidade, os alunos despertaram e desenvolveram um novo olhar sobre a realidade socioambiental,
revalorizando os componentes da paisagem local e reafirmando sua identidade através da troca de
conhecimentos.
Nesse sentido, o aluno cria uma identidade maior com o ambiente (re)significando o espaço onde vive,
realizando suas funções, não apenas com o espaço a seu redor, mas com um ambiente em incansável
mudança, resultado de interações do próprio aluno com o meio em questão.
Almeja-se que a Geografia e a Sociologia cumpram inicialmente o seu papel curricular obrigatório nas
escolas e sejam ferramentas eficazes de auxílio para a percepção do estudante perante o mundo que o
cerca, e que, a partir disto, ele desenvolva as habilidades para tornar-se um cidadão decidido, crítico e
consciente.
Nessa perspectiva, o uso da fotografia como ferramenta didática, enquanto canal de comunicação e meio de
conhecimento promoveu a criação de espaços de debates, leituras e trocas no qual proporcionou
movimentos interativos no contexto da diversidade de experiências, fundamentais em sala de aula. Acredita-
se, que o desafio consiste em trabalhar com outras práticas pedagógicas, no caso a fotografia, que
despertem o interesse dos alunos pela Geografia e Sociologia. Nestes termos, (re)interpretar o mundo e
refletir sobre sua própria realidade transcende todo e qualquer limite exigido em metodologias acadêmicas, o
que prevalece de fato é o real valor dado as experiências vividas entre o homem e o espaço e dos homens
entre si.
Em suma, podemos entender que o que é determinado como velho é necessário ao estabelecimento de
novos conceitos e paradigmas, pois novas explicações científicas são supridas na medida em que
(re)interpretamos um mundo já constituído, mas em constante transformação.

Referências
BELO, E. M. Imagem: Geografia da realidade ou realidade geográfica? uma abordagem sobre a
importância das imagens obtidas a partir dos diferentes tipos de texto e sua contribuição na interpretação da
realidade. Tese (Doutorado em Geografia). Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade
Estadual Paulista: Rio Claro, 2009.

CAVALCANTI, L. S. A geografia escolar e a cidade: ensaios sobre o ensino de geografia para a vida
urbana cotidiana – Campinas, SP: Papirus, 2008. – (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). IBGE Cidades. IBGE, 2010. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/perfil.php?codmun=220390>. Acesso em: 22 set. 2012.

LENZI, C. L. Sociologia ambiental: risco e sustentabilidade na modernidade. Bauru, SP: EDUSC, 2006.

TONINI, I. M. Imagens nos livros didáticos de Geografia: seus ensinamentos, sua pedagogia. In: Mercator,
ano. 2, n.4, 2003.

Agradecimentos

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Gostaria de agradecer ao professor e diretor Marcos Aurélio de Oliveira Santos por todo o apoio e também
por ter me ajudado durante todo o processo.
Agradeço aos professores Sidney Conrado de Amorim e Sidneya Conrado de Amorim Flach pela parceria e
amizade durante todo o desenvolvimento do trabalho.
Outro agradecimento em especial para a minha coordenadora pedagógica, esposa e companheira, Rose
Danielle de Carvalho Batista, que me deu toda ajuda e apoio na execução do trabalho.
Queria agradecer a meu amigo Adaleuton de Queiroz Soares, pela grande ajuda nas horas de sufoco e pela
paciência!
Também gostaria de agradecer a meus pais, Maria da Assunção de Alencar Campos e Francisco das
Chagas Campos por tudo aquilo que me ensinaram e pelos muitos momentos de dificuldades que
enfrentamos, mas que não impediram que me dessem todos os apoios necessários, financeiro e humano,
desde o colégio.
Por último, agradeço a Deus por todas as alegrias, pela saúde e pela força que me concedeu, para que
conseguisse chegar até aqui.

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