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FORTALEZA – CEARÁ
2019
SARAH DO NASCIMENTO MUNIZ
FORTALEZA – CEARÁ
2019
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Sistema de Bibliotecas
Matthew Lipman
RESUMO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................9
2 O EXERCÍCIO DA FILOSOFIA NAS ESCOLAS ........................................................12
2.1 MOVIMENTO PENDULAR NO CURRÍCULO ESCOLAR ................................. 12
2.2 A FILOSOFIA COMO DISCIPLINA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ...................16
2.3 PENSANDO A FILOSOFIA PARA CRIANÇAS .................................................. 20
3 O PROGRAMA DE FILOSOFIA PARA CRIANÇAS ...................................................33
3.1 A PROPOSTA DO PROGRAMA ........................................................................ 33
3.2 A ESTRUTURA DO PROGRAMA ......................................................................37
3.3 A COMUNIDADE DE INVESTIGAÇÃO ............................................................. 42
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 45
REFERÊNCIAS ..................................................................................................46
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1 INTRODUÇÃO
É bem verdade que sempre existiu uma linha educacional que defende
que o exercício de pensar deve ser a principal atividade nas escolas, mas tal
linha educacional se justifica de diferentes maneiras. Alguns justificam sua
importância na necessidade de escolarização da população em uma sociedade
democrática, outros se baseiam nos sistemas social, econômico, burocrático e
legal, outros ainda defendem que é um direito da criança.
Na década de 70, a quantidade de defensores do pensamento crítico
nas escolas e nas universidades cresceu consideravelmente e nos anos 80 a
indústria dos livros didáticos depois de décadas voltada para outra direção,
finalmente começa a fazer algumas concessões embora ainda fossem tímidas,
aparecendo em uma ou outras questões que fortalecessem o pensamento
independente do conteúdo. Já a indústria dos testes foi mais resistente, dada a
dificuldade de avaliar ou dar nota à reflexão e passou a se dedicar a testes em
larga escala.
A maior parte das escolas, produtores e editores defendem a ideia de
que a aprendizagem na infância deve ser um divertimento sensório e físico e não
especificadamente intelectual, esquecendo que o próprio intelecto pode ser
divertido e causar felicidade.
Mas o que, enfim, constitui o ato de pensar? Alguns especialistas tratam
a mente como um computador. Afirmam que pensar bem é pensar de maneira
precisa, consistente e coerente. Por outro lado, outros afirmam que pensar bem é
pensar com criatividade, de modo ampliativo e imaginativo.
No meio de tanta discordância, surge o programa “Filosofia para Crianças
- Educação para o Pensar”, proposto pelo Prof. Dr. Matthew Lipman, filósofo
e educador norte-americano. Para o autor, as crianças e os filósofos têm em comum
a capacidade de se maravilhar com o mundo. Por isso, devemos dirigi-las para
uma total eficiência do raciocínio, visando preservar e desenvolver esse dom
natural através da investigação e não nos contentarmos com menos do que isto,
como não nos contentamos com cálculos errados e erros gramaticais.
Assim sendo, este trabalho inclina-se para o estudo da obra de
Matthew Lipman, a partir da obra de 1995, “O Pensar na Educação”, um
prólogo da sua proposta, que é a pedagogia da comunidade de investigação do seu
programa. Assim como o procedimento do autor, que se apresenta de forma
sistemática, o principal
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de ousadia, de pensar por si mesmo, onde o método científico não se aplica e onde
é preciso se desvincular dele e criar um método especifico para filosofia, onde
os estudantes tenham liberdade de pensamento, no sentido de como lidar com
as questões filosóficas colocadas pelas crianças, colocando-as como sujeitos da
sua própria aprendizagem. É importante fazer uso da tradição filosófica somete
como base, utilizando o que foi pensado no passado como base para pensar o
presente, podendo, assim, construir um pensamento autônomo.
Se observamos a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), em seu Art. 2°, prescreve esse que a educação tem por
finalidade o “pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e a sua qualificação para o trabalho”. Já o Art. 27, que trata dos
conteúdos curriculares da Educação Básica, estabelece como diretrizes a difusão
de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos,
de respeito ao bem comum e à ordem democrática.
Na elaboração da atual LDB, que vigora desde 1996, prevalecem os
interesses do capital. Apesar da filosofia voltar a ser obrigatória nos currículos
escolares, ela assume, como finalidade, os atendimentos das exigências da nova
fase do modo de produção capitalista, e sua importância se dá basicamente a
valores éticos. É possível observarmos isso no inciso III, do Artigo 35, que afirma
que o ‘‘[...] aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico’’. Segundo essa lei, isso aconteceria por meio do preparo do aluno para a
cidadania, a solidariedade, o espírito de ajuda mútua, a boa convivência, a
criatividade, a qualificação para o trabalho e a adaptação para que ele consiga
viver em um mundo de rápida e continua transformação. Com a criação da LDB,
surgiu a necessidade de criar um documento que pudesse auxiliar a organização
dos currículos nas escolas e orientar o ensino das áreas do conhecimento
classificadas em três grandes áreas – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias,
Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas
Tecnologias. E para isso foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino Fundamental e Médio (PCN). Tais parâmetros têm como premissa o
respeito, solidariedade, tolerância e a valorização da democracia e da família.
Sendo assim, a filosofia deve se voltar à ética e ser trabalhada por todas as
áreas do conhecimento, visando formar sujeitos capazes de exercer plenamente a
cidadania.
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curiosidade. E, por fim, temos a terceira parte, que é quando a curiosidade se torna
intelectual e a criança é autonomamente capaz de sanar sua própria curiosidade.
conseguimos extrair uma solução. Essa conclusão não é algo separado do todo pois
a mesma faz parte do processo, consequentemente é apenas o resultado do mesmo.
Como já foi dito fazemos experiências em todos os momentos da nossa
vida, mas é preciso salientar que nem toda experiência é educativa. Inclusive
certas experiências deseducam e criam bloqueios que impossibilitam a vivencia
de experiências futuras. Como exemplo podemos supor o fato de um aluno estar
insatisfeito com o modelo de ensino no qual está inserido tal experiência desmotiva
o aluno e faz com que o mesmo não experimente corretamente as
experiências, consequente isso atrapalha totalmente seu desempenho e faz com
que as experiências não sejam vividas adequadamente. Aqui fica claro que o
aproveitamento da experiência depende muito da sua qualidade. " Tudo depende
da qualidade da experiência porque se passa. A qualidade de qualquer experiência
tem dois aspectos: o imediato de ser agradável ou desagradável e o mediato de
sua influência sobre experiências posteriores" (DEWEY, 1971, p. 16 – grifo nosso).
A intensão dele não é inserir novas experiências na vida da criança, mas fazer com
que as experiências que já acontecem na escola sejam experimentadas
corretamente e tragam frutos para a vida dos alunos.
Tal processo inclui características de interação e continuidade por isso a
insistência do mesmo em que na escola haja a interação entre as disciplinas, a vida
e a educação para que assim as experiências formem uma corrente e interfiram
positivamente nas futuras. Lipman concorda com as ideias de Dewey, mas
complementa seu pensamento com o fato de que todas as experiências sejam
boas ou ruins, bem aproveitadas ou não são importantes. Salienta também o fator
da idade daquele que vive as experiências. Para Lipman quanto maior a idade
melhor aproveitamos e nos aproveitamos das experiências. Sendo assim aqueles
que tem uma idade menor sofrem com o prejuízo de ter menos discernimento nas
decisões, falta de consistência nas discursões e alguns medos na hora de enfrentar
os problemas. Eis aí que surge a questão com tão poucas experiências como
base é possível que crianças filosofem? E se isso é possível isso seria uma ação
imediata ou um processo educativo?
Apenas inserir discussões em sala de aula com as crianças seria o
mesmo que fingir fazer filosofia. É preciso que se saia do âmbito da opinião
através do raciocínio e é de extrema importância que esse acontecimento
filosófico aconteça dentro e fora da escola para que haja um envolvimento com
a tradição filosófica
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mesmo que não se fale diretamente de algum filosofo. As crianças são capazes
de experimentar intensamente as experiências por isso nessa fase o mais
importante não é a quantidade das experiências, mas a sua qualidade. A produção
filosófica será um resultado inevitável pois ambos fazem parte de um mesmo
processo.
É preciso destacar também a importância da lógica na investigação tanto
para Lipman quanto para Dewey. Dewey salienta a diferença entre o que o homem
"pensa" e aquilo que ele "deveria pensar". Quando se pensa sem usar a lógica
usando somente experiências passadas esses pensamentos estão comprometidos
na sua veracidade e consistência. A lógica ajuda a encontrar resultados mais
acertados sobre o estudo proposto. Investigar não é repetir conhecimentos
passados por gerações e sim as utilizar para refletir sobre os atuais
acontecimentos. Passando então a fazer desses acontecimentos experiências.
Para deixar isso mais claro ele salienta a diferença entre o senso comum que
não tem base lógica é apenas uma investigação comum feita por um grupo de
pessoas que leva em consideração apenas a sua cultura. "Quando um
significado sugerido é aceito imediatamente, a investigação se interrompe"
(DEWEY, 1980, p. 64). Já na investigação cientifica existe uma inter- relação de
significados e a investigação busca provar sua validade. "As conclusões
alcançadas em uma investigação tornam-se meios materiais e de procedimento,
para a conclusão de investigações ulteriores" (DEWEY, 1980, P. 71). Isso reforça
a veracidade das conclusões lógicas que isentas de erro podem ser usadas em
outras experiências.
No Programa de Filosofia para Crianças, Lipman propõe a lógica
formal para ordenar as estruturas das frases e suas conexões, dar razões
avaliando e justificando o que é afirmado e como ação racional padronizando o
comportamento racional. A lógica é fundamental porque ajuda na ordenação do
pensamento racional. Pensando de forma ordenada as crianças pode pensar
melhor sobre seu próprio pensamento e as afirmações dos colegas. No programa o
primeiro passo é ter contato com as novelas filosóficas, nelas a lógica se apresenta
contendo histórias que na sala de aula geram discussões que apresentam as
formas erradas e corretas de pensar. O segundo passo é dar espaço para que as
crianças exemplifiquem o raciocínio logico como o apresentado no texto e a partir
daí essa capacidade vai aos poucos se desenvolvendo.
1
Vygotsky nasceu em 5 de novembro de 1896, na cidade de Orsha, na Rússia e morreu de
tuberculose em 11 de junho de 1934, com 38 anos. No que ser refere a educação russa sua
presença e contribuição foram muito marcantes.
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tantas outras determinadas para outras dimensões. Assim, talvez houvesse mais
franqueza em admitir que as convicções que possuímos na vida adulta são um
amadurecimento das que adquirimos na infância e mesmo que se parta do
pressuposto de que as convicções que se possui na vida adulta são o oposto das
que se possuía na infância não é possível afirmar que elas eram menos filosóficas
ou que não foram importantes para a formação das novas.
Para uma área merecer a criação de uma nova vertente filosófica
ela precisa ser rica o suficiente e poder contribuir com as demais áreas da filosofia
e no que diz respeito a filosofia para crianças podemos encontrar ambas
características. A filosofia se trabalhada desde a infância pode fornecer uma
grande contribuição em áreas como metafísica lógica e epistemologia entre outras.
A filosofia não precisa ser algo incompatível com a infância, nem tão
pouco as experiências vividas na infância precisam ser incompatíveis com as vividas
na vida adulta. O fato de temos idades biológicas diferentes não nos torna
menos compreensíveis se comparados a diferença de sexo por exemplo. No que diz
respeito ao sexo a diferença estará sempre presente pois além da diferença de
perspectivas das experiências vivenciadas por ambos, elas muitas vezes servem de
desculpa para hostilidade e culpa por gerações, enquanto na de idade, apesar da
criança nunca ter sido um adulto, todo adulto já foi uma criança, portanto a
troca de experiências consiste na troca de compartilhamento de experiências
humanas.
O que Lipman propõe é um modelo de educação ativa, participante
com liberdade e abertura para o aluno que comtemple não somente o conteúdo dos
livros didáticos, mas que através de uma inter-relação entre professor-aluno e
aluno-aluno as experiências pessoais possam ser usadas para fazer com que
tais conteúdos façam mais sentido e sejam mais úteis e necessários na vida do
aluno.
O próprio autor não tem a intenção de que as crianças aprendam tudo
sobre a história da filosofia para que escrevam artigos e apresentem seminários aos
colegas. Seu objetivo é fazer com que as mesmas pensem melhor e se engajem
em um comportamento filosófico, que elas desde os primeiros anos escolares
tenham contato com temas filosóficos e desenvolvam discussões acerca desses
temas e para isso ele viu tanto a necessidade de criar uma metodologia
pedagógica quanto a de formar professores para desenvolver com sucesso tal
metodologia.
Na educação é notável uma grande reflexão, até mesmo uma
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preocupação sobre os direitos das crianças, e no que concerne a filosofia
fica para nós o
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Assim, as crianças mais jovens (de cinco a nove anos) precisam de prática
em raciocínio e formação de conceito, com relativamente menos ênfase na
aprendizagem de princípios. Nas séries intermediárias no segundo grau
(dos dez aos treze anos), os alunos estão numa posição melhor para
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compreender os princípios do raciocínio válido e nas séries posteriores (dos
quatorze aos dezessete anos) eles podem ser auxiliados e aplicar
estes princípios,
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Ele desenvolveu seus estudos primeiramente com crianças por volta dos
dez anos de idade. Vendo os objetivos do programa sendo alcançados com
sucesso seu trabalho se estendeu para as outras idades e ele passou a oferecer
material para todas as séries escolares.
Lipman acredita que um modelo puramente socrático sem texto para os
alunos e nenhum manual para os professores seria totalmente impraticável, então
seu material contém textos para o acompanhamento da disciplina e leituras extras-
sala, e planos de aula para os professores discutirem os temas com os alunos e
para servir de orientação para os professores, manuais de acompanhamento e
instrução para discussões.
A instrução de professores exige o preparo de monitores habilitados
e experientes. Tais monitores na verdade devem ser professores graduados em
filosofia e que tenham um domínio da Filosofia e da História da Filosofia, para que
esses por sua vez possam orientar e auxiliar os professores em suas dúvidas. Essa
preparação envolve um seminário de dez dias com discussões dialógicas e um
período de trabalho com as crianças.
Também existe a necessidade da preparação de professores
coordenadores. Tal preparação deve ter cinco horas por semana e pode ser feita na
própria escola dividindo a sua carga horária igualmente entre seminário e
prática durante vinte e oito semanas. Já em um segundo ano ocorreria na forma de
oficinas intensivas de três dias. Tais exigências de acompanhamento foram
pensadas por ele para evitar que o trabalho tivesse uma constância e não se
perdesse dos seus objetivos.
Por fim é necessária uma pesquisa educacional com o objetivo de
perceber o envolvimento das crianças com a filosofia, atitudes sociais, criatividade,
motivação e raciocínio entre outros, e perceber também até que ponto elas
acreditam que a filosofia é importante em suas vidas. Essa pesquisa deve ser feita
anualmente pois é ela que servirá de medida para medir o funcionamento do
programa.
Apesar de toda essa preparação o autor do programa acredita que
para esses novos paradigmas se realizarem a Filosofia precisa estar na grade
curricular como disciplina e por isso elaborou uma série de pressuposições e
estratégias para a elaboração do currículo que propõe.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS