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Mestrado em Turismo

Marketing em Turismo

Meetings Industry em Portugal

Manuel Jorge Nunes de Sousa

DOCENTE:
Paulo Faustino

23 de maio de 2014
Índice

Introdução ............................................................................................................................................... 2
O setor turístico e o turismo de negócios ............................................................................................... 3
Meetings industry ................................................................................................................................... 7
Reuniões .............................................................................................................................................. 7
Feiras ................................................................................................................................................... 8
Incentivos ............................................................................................................................................ 8
Tendências........................................................................................................................................... 9
Turismo de Negócios e MI em Portugal ................................................................................................ 11
Conclusão .............................................................................................................................................. 14
Bibliografia............................................................................................................................................. 16

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Introdução

No âmbito da unidade curricular de Marketing em Turismo, do 1.º ano do mestrado


em Turismo da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, foi-nos solicitado que
realizássemos um trabalho de investigação individual. De entre as possibilidades que se
ofereciam, selecionei a área de Eventos Turísticos, mais concretamente a chamada Meetings
Industry, segmento do turismo de negócios. À escolha deste tema não será alheio o facto de,
durante 14 anos, ter estado profissionalmente ligado à Associação Empresarial de Portugal
(AEP), desenvolvendo atividade relacionada com o Europarque – Centro Cultural e de
Congressos, em Santa Maria da Feira, e, muito particularmente, com a Exponor – Feira
Internacional do Porto, em Matosinhos.

Neste trabalho, partimos da análise do desenvolvimento do turismo em geral, para nos


determos no segmento do turismo de negócios e as suas particularidades face ao turismo de
lazer. Damos especial ênfase ao caso português e à presença de diversas cidades portuguesas
nos rankings internacionais de acolhedores de eventos internacionais.
Do turismo de negócios, avançamos para um dos seus subsegmentos, a chamada
Meetings Industry (MI), até recentemente mais conhecida pelo acrónimo MICE.
Decompomos as suas componentes principais – as reuniões, as feiras e os incentivos – e
observamos as suas atuais tendências. Uma vez mais, privilegiamos o caso português,
inventariando as infraestruturas existentes nas principais cidades do país.
Terminamos confirmando o enorme potencial que Portugal tem para o
desenvolvimento do segmento da MI – isto apesar do ambiente de estagnação económica do
país na atualidade – e adiantamos um conjunto de recomendações.

Quando feitas a partir de obras em língua estrangeira, as citações foram traduzidas.


Quando feitas a partir de trabalhos em português, a ortografia foi sempre atualizada.

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O setor turístico e o turismo de negócios

Segundo a Organização Mundial do Turismo “as chegadas internacionais de turistas


têm registado um crescimento ininterrupto: de 25 milhões em 1950, para 278 milhões em
1980, 528 milhões em 1995 e 1035 milhões em 2012” (UNWTO, 2013: 3). Prevê-se que a
tendência de crescimento venha a continuar no futuro. Para o período de 2010 a 2030, a OMT
estima crescimentos médios na ordem dos 3,3% ao ano, o que representa um acréscimo anual
de 43 milhões de chegadas internacionais de turistas, alcançando-se os 1800 milhões em 2030
(UNWTO, 2013).
Na verdade, o turismo transformou-se numa das principais atividades económicas do
mundo e o motor de desenvolvimento de muitos países. A atividade turística é, no entanto,
muito sensível a fatores como oscilações económicas, nos mercados de origem, e
instabilidades político-sociais, nos destinos.
Como definição, podemos dizer que um destino turístico é “uma área geograficamente
delimitada” que combina “todos os produtos, serviços e experiências locais. Tendo na sua
génese a aglomeração de fatores tangíveis e intangíveis, estes elementos adquirem extrema
importância ao institucionalizar um espaço enquanto destino turístico e ao posicioná-lo como
tal no mercado e na mente do consumidor” (Oliveira, 2012: 41).
No contexto global, os destinos competem uns com os outros. A competitividade de
um destino está diretamente relacionada com a sua capacidade de satisfazer melhor as
necessidades do turista, em comparação com os destinos concorrentes. Por isso, a atratividade
do destino é o conjunto de todas as infraestruturas e serviços turísticos – alojamento,
restauração, oferta cultural, etc. – que correspondem ou ultrapassam as expectativas do turista.
Vários autores apresentam distintos modelos em relação aos fatores de atração de um
destino turístico. Cooper et al. (1996) criaram o “Modelo dos Quatro Ás”, sendo os fatores
que determinam a perceção de um destino os seguintes:
 Atrações: naturais, construídas pelo homem;
 Acessibilidades: ligações aéreas, transportes no local;
 Equipamentos (no original Amenities): alojamentos, restauração, entretenimento,
estabelecimentos comerciais e outros serviços;
 Serviços de apoio (no original Ancillary services): na forma de organizações locais
como Convention & Visitors Bureaux e Destination Management Organizations.

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Um dos segmentos com crescente relevância para o turismo é o chamado “turismo de
negócios”. Trata-se de um setor com características muito peculiares, necessitando de especial
preparação e planeamento por parte dos principais intervenientes.
A definição atual apresentada pela Organização Mundial do Turismo refere que o
turismo “inclui as atividades realizadas pelas pessoas durante as suas viagens e estadas em
locais diferentes da sua residência habitual, por um período de tempo consecutivo e inferior a
um ano, com objetivos de lazer, de negócios ou outros” (Marques e Santos, 2011: 238). Ou
seja, o turismo motivado pelos negócios é contemplado na definição geral de turismo.
Concretamente, o Turismo de Negócios pode ser definido da seguinte forma:

“O conjunto de atividades de viagem, de hospedagem, de alimentação e de lazer


praticado por quem viaja a negócios referentes aos diversos setores da atividade
comercial ou industrial ou para conhecer mercados, estabelecer contactos, firmar
convénios, treinar novas tecnologias, vender ou comprar bens ou serviços.” (Ansarah,
1999 cit. in Oliveira, 2012: 28)

Para Davidson (1996) o turismo de negócios refere-se ao turismo originado pelas


pessoas que viajam por motivos relacionados com o seu trabalho, argumentado que essa é
uma das formas mais antigas do turismo. Andrade (1995) definiu-o como o conjunto de
atividades praticado por quem viaja em negócios com o objetivo de conhecer mercados,
estabelecer contactos, familiarizar-se com novas tecnologias, vender ou comprar bens e
serviços. Apesar destas definições, não é obrigatório que este tipo de turismo se relacione
diretamente com uma efetivação de negócio ou uma transação remunerada. Cunha (2006), por
exemplo, considera o turismo de negócios como qualquer atividade que englobe a
participação em congressos, viagens de incentivo e interesses específicos, independentemente
da concretização ou não de negócios.
Em Portugal, a importância do turismo de negócios e a definição de estratégias para o
desenvolvimento deste segmento estão definidas no Plano Estratégico Nacional do Turismo
(PENT). O PENT apresenta o turismo de negócios como a realização de viagens com o
motivo principal de assistir ou participar numa reunião que, por sua vez, poderá ter um caráter
associativo ou corporativo.

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Numa perspetiva histórica, podemos dizer que a mais antiga forma conhecida de
“viagens de negócios” remonta a milhares de anos, ao tempo em que predominava a troca dos
produtos agrícolas entre comunidades. Durante o período medieval, as trocas passaram a ser
feitas preferencialmente nas grandes feiras, realizadas periodicamente nas principais cidades e
vilas, para onde se deslocavam comerciantes de todas as partes. Sabe-se que a Rota da Seda,
por exemplo, impulsionou atividades relacionadas com as viagens de negócios, caso dos
negociantes de camelos, dos guias (profundos conhecedores das características do trajeto),
assim como alojamento e restauração ao longo do percurso (Marques e Santos, 2011).
Entre 1750 e 1900, a Revolução Industrial e a colonização provocaram um forte
crescimento das atividades relacionadas com as viagens em negócios. A vulgarização do
automóvel, na primeira metade do século XX, impulsionou as deslocações domésticas com
caráter comercial e, a partir da segunda metade do século, as atividades relacionadas com as
viagens de negócios evoluíram grandemente, justificando o aparecimento de estruturas
vocacionadas para o acolhimento de grandes aglomerações de pessoas, como pavilhões de
exposições e centros de congressos. Mas foi a partir da década de 1960, com o surgimento dos
aviões a jato e o desenvolvimento das companhias aéreas, que a organização das viagens
associadas ao turismo de negócios se transformou profundamente (Marques e Santos, 2011).

Com o objetivo de promover o desenvolvimento e o marketing do destino como um


todo (cidade, região ou país), surgiram os Convention & Visitors Bureaux (CVB). O primeiro
surgiu em 1896 na cidade de Detroit, nos Estados Unidos. Tendo como foco as viagens e
reuniões relacionadas com os motivos profissionais, o CVB funciona como o elo de ligação e
cooperação entre os diversos agentes locais, regionais ou nacionais que, isoladamente, não
teriam a mesma capacidade de projeção. Geralmente, um CVB é constituído como uma
sociedade entre organizações privadas e públicas ligadas ao setor do turismo. Em Portugal,
atualmente, existem quatro CVB: Porto, Lisboa, Estoril e Algarve (Marques e Santos, 2011).
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2007 o principal motivo
das viagens de estrangeiros a Portugal relacionou-se com o lazer, recreio e férias (cerca de
72%) seguido da motivação relacionada com atividades profissionais e negócios (cerca de
13%) (Marques e Santos, 2011).

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No entanto, ao contrário do turismo de lazer, em que as deslocações ocorrem
especialmente nos meses de verão e nos fins de semana, as deslocações no turismo de
negócios têm lugar durante todo o ano, exceto nos meses de veraneio.

Um aspeto relevante quando pensamos em turismo de negócios é a combinação de


negócios com lazer. Isto porque a realização de uma viagem de negócios apresenta duas
facetas: se por um lado o negócio constitui o objetivo principal da deslocação, por outro,
quase sempre existe algum tempo livre no qual o turista de negócios quer conhecer melhor o
destino (Eye for Travel News, 2008). Não raras vezes, a estadia é mesmo prolongada pelo
turista de negócios de forma a aproveitar algumas das atrações do destino. Além disso, uma
boa impressão do destino aquando de uma deslocação de negócios provoca muitas vezes o
regresso por motivos de lazer com familiares ou amigos (Davidson e Cope, 2002).

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Meetings industry

Um dos subsegmentos do turismo de negócios é a chamada Meetings Industry (MI),


até 2006 conhecida pelo acrónimo MICE - Meetings, Incentives, Conferences e Exhibitions
(Oliveira, 2012). Contempla as “atividades baseadas na organização, promoção,
comercialização e realização de reuniões e eventos; produtos e serviços que incluem reuniões
empresariais, associativas e governamentais, incentivos empresariais, seminários, congressos,
convenções, exposições e feiras” (UNWTO, 2006: 4).
Mill e Morrison apresentam o mercado estruturado em três grandes componentes:
viagens de negócios regulares; viagens de negócios relacionadas com reuniões, conferências e
congressos; viagens de incentivo (Oliveira, 2012: 30). Já Cunha (2006) divide o setor em duas
partes fundamentais: as viagens de caráter coletivo e as individuais. As primeiras têm como
motivo a participação em reuniões, feiras e exposições; enquanto nas segundas se incluem as
viagens de incentivo, as viagens de estudo ou de investigação e os cursos de formação (cit. in
Oliveira, 2012: 30). Por seu lado, a Organização Mundial do Turismo, pelo seu relatório
Measuring the Economic Impact of the Meetings Industry, atribui à MI três componentes
principais: reuniões e congressos, feiras e incentivos (UNWTO, 2006).

Reuniões

As grandes reuniões são organizadas com o objetivo de juntar vários profissionais para
conhecer, debater ou tomar decisões sobre determinado tema (Davidson, 1996). Realizam-se
em centros de congressos, salas de reuniões de hotéis ou auditórios de universidades. Se a
reunião tiver uma duração que ultrapasse os três dias e a ela acorrer um mínimo de 300
delegados de pelo menos cinco países diferentes, a reunião é considerada internacional
(UNWTO, 2006).
Os congressos são grandes eventos de carácter periódico (geralmente, anual ou bienal)
que reúnem centenas ou milhares de delegados da mesma área, mas de diferentes
organizações. Geralmente, os temas são apresentados por um painel de oradores ou pelos
membros da comissão organizadora, não havendo grande espaço para debate. Os congressos
são preparados com um ano ou mais de antecedência, duram entre três a cinco dias,

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dependendo da localização e dos tópicos abordados, e, por norma, são realizados em
auditórios de centros de congressos (Krugman e Wright, 2006).
Por seu lado, quando comparadas com os congressos, as conferências são eventos de
menor escala e, por isso, de maior proximidade e partilha de ideias entre os participantes
(ICCA, 2012). As conferências são reuniões destinadas a membros da mesma organização,
associação ou ramo profissional. Não têm frequência estabelecida, duram um ou mais dias e
contam com uma média de cinquenta participantes (Krugman e Wright, 2006).

Feiras

As feiras são grandes eventos realizados em pavilhões próprios e com duração que
tipicamente varia entre os três dias e uma semana. Realizam-se com o objetivo de apresentar
ou lançar produtos e serviços num dado setor; promover o contacto direto entre atuais e
potenciais clientes (Pedro et al, 2009), entre outros.
As feiras destinadas ao setor turístico – de que são exemplo a IMEX, a nível
internacional, e a BTL, em Portugal – representam grandes oportunidades de negócio para os
meeting planners1 e os CVB, já que são excelentes ocasiões para promover destinos, atingir
novos mercados e captar eventos.
Para Davidson (1996), as feiras categorizam-se em dois tipos: feiras profissionais e
feiras de público. As primeiras são especializadas para um dado setor de atividade e, por
regra, vedadas ao grande público. Nas feiras abertas ao público, o alvo é o público em geral,
apresentando porém uma vertente de negócios.
Como forma de complementar a componente expositiva, todas as grandes feiras
incluem uma componente crescente de atividades paralelas, como sejam conferências,
workshops, espaços de debate, demonstrações, ações de formação especializadas, etc.

Incentivos

As viagens de incentivos são ferramentas que podem assumir diversos formatos e com
diferentes fins. Contribuem para o aumento da fidelidade para com a empresa, para a melhoria

1
Meeting planners são entidades ou indivíduos responsáveis pela organização e realização de eventos.

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da comunicação interna, para o desenvolvimento da cultura empresarial e para a melhoria dos
níveis de autoestima dos colaboradores (UNWTO, 2006). Muitas empresas veem os
incentivos como um recurso eficaz de valorização e de motivação dos seus colaboradores,
com efeitos positivos no seu desempenho posterior (Davidson, 1996).
Na sua grande parte, estes programas assumem a forma de viagens organizadas e
financiadas pelas empresas, havendo a preocupação de as realizar durante a época baixa e
procurando obter uma relação boa relação qualidade/preço. Aspetos como acessibilidades,
infraestruturas e atividades complementares de lazer são também fatores importantes
(Oliveira, 2012).
Apesar do retorno que, em princípio, as empresas acabam por obter dos funcionários
favorecidos, os programas de incentivo constituem a componente mais frágil da MI. Esta área
caracteriza-se por uma acentuada concorrência, nomeadamente por parte de mercados
emergentes como a China e a Índia. Para além disso, as viagens de incentivo caracterizarem-
se por uma grande volatilidade, verificando-se uma constante alteração de destinos
selecionados com base em critérios económicos, de segurança e de atratividade (UNWTO,
2006).

Tendências

A MI é atualmente marcada por diversas tendências. Uma delas é resultante da


conjuntura económica atual. A crise internacional tem-se refletido no orçamento deste tipo de
iniciativas, na sua frequência, duração e número de participantes. No entanto, nem todos os
mercados têm reagido da mesma forma à conjuntura atual. Enquanto na Europa o mercado
está quase estragado, na Ásia encontra-se em franca expansão.
Por outro lado, a crise económica tem ajudado ao desenvolvimento de uma nova
tendência: a de um Turismo de Negócios mais verde e sustentável, em que a redução de
custos tem obrigado a um aproveitamento mais eficaz dos recursos.
Outra tendência marcante do Turismo de Negócios é a proliferação das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC). Inicialmente vistas como ameaças, as TIC são hoje
ferramentas essenciais de gestão e promoção. O consumidor de Turismo de Negócios tem
também novos padrões de consumo que exigem novas abordagens, orientados para a
experiência através dos sentidos: “80% do sucesso de um evento depende dos audiovisuais e

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do catering” (Sousa, 2011 cit. in Oliveira, 2012: 37). Por fim, as alterações demográficas: o
número de casais perde terreno face ao de solteiros e independentes; os lugares de decisão são
cada vez mais ocupados por mulheres.

Os fatores de atração do destino turístico, enunciadas por Cooper et al. através do


“Modelo dos Quatro Ás”, já referido, são igualmente válidos quando falamos da Meetings
Industry (MI), apenas com alguns acrescentos. Dentro do fator “Equipamentos” o centro de
congressos – também conhecido pela designação inglesa venue – tem uma preponderância
decisiva. É ele que define o posicionamento de uma cidade enquanto grande destino no
âmbito do Turismo de Negócios. No fator “Serviços de apoio”, o papel do Convention &
Visitors Bureau pode também ser muito relevante. Tratando-se da entidade que promove o
desenvolvimento e o marketing do destino como um todo, uma das suas principais áreas de
atuação é no âmbito da MI, nomeadamente no apoio aos meeting planners (Oliveira, 2012).

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Turismo de Negócios e MI em Portugal

Segundo dados da International Congress & Convention Association, em 2012


realizaram-se 11.156 reuniões associativas internacionais no mundo inteiro. Portugal ocupava
a 17.ª posição nos países com maior número de reuniões (213), com os Estados Unidos da
América, Alemanha e Espanha a ocupar os três primeiros lugares com, respetivamente, 833,
649 e 550 reuniões. No que respeita ao ranking das cidades mundiais, os três primeiros
lugares eram ocupados por Viena, Paris e Berlim com 195, 181 e 172 reuniões,
respetivamente. A cidade de Lisboa ocupava o 15.º lugar com 106 reuniões; o Porto aparece
na posição 53, com 42 reuniões; Coimbra e Estoril ambos na posição 241, com 9 reuniões
cada; Braga no lugar 286, com 7 reuniões; Aveiro e Funchal ex æquo no lugar 362, ambos
com 5 reuniões (ICCA, 2013).
Em 2007, numa análise feita pelo número de participantes em reuniões, o ranking era
igualmente liderado pelos Estados Unidos (427.556), seguido da Itália e Alemanha com,
respetivamente, 349.614 e 305.809 participantes. Portugal ocupava o 21.º lugar, tendo
recebido 71.274 participantes durante o ano de 2007. Por cidades, os três primeiros lugares
eram ocupados por Viena, Barcelona e Berlim com 117.774, 108.933 e 76.171 participantes,
respetivamente. Lisboa ocupava a 13.ª posição com 32.779 participantes. Os tipos de
instalações mais utilizados para a realização de reuniões associativas foram centros de
conferências/congressos com uma percentagem de cerca de 44%, hotéis com cerca de 26% e
as Universidades com cerca de 16% (Oliveira, 2012).

No Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT), documento norteador do


desenvolvimento sustentado do turismo nacional, o turismo de negócios figura entre os dez
produtos turísticos estratégicos portugueses. Considera-se um produto essencial para o
desenvolvimento, projeção e consolidação de uma dada região e para o crescimento e
expansão do setor turístico de uma forma geral. Reconhece-se que representa um volume de
viagens significativo e que tem potencial de crescimento futuro (PENT, 2007).
Para consolidação e desenvolvimento do turismo de negócios enquanto produto
turístico estratégico, Portugal possui, à partida, a matéria-prima imprescindível para o efeito,
isto é, “condições climatéricas, recursos naturais e culturais” (PENT, 2007:63). Para além
disso, o turismo de negócios constitui uma oportunidade para combater a sazonalidade,

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funcionando como complemento do produto turístico estratégico “Sol e Mar”, nomeadamente
no Algarve.

Portugal tem, no entanto, alguns importantes entraves ao desenvolvimento deste


subsegmento: para além de uma localização geográfica periférica em relação aos mercados
emissores – o que dificulta a captação de reuniões –, são poucas as personalidades
portuguesas em lugares de topo em grandes empresas ou organizações internacionais
(Oliveira, 2012).
No entanto, é inegável que nos últimos anos Portugal tem conhecido um incremento
do número e da qualidade de infraestruturas multiusos e de unidades hoteleiras de referência.
Por outro lado, quando comparado com destinos vizinhos como a Espanha ou o Norte de
África, Portugal apresenta vantagens em relação à segurança de pessoas e bens. Para além
disso, os preços oferecidos são, por regra, bastante competitivos quando comparados com os
praticados por outros destinos (Oliveira, 2012).
No PENT foram consideradas regiões prioritárias para intervenções no produto
Turismo de Negócios Lisboa, Porto, o Algarve e a Madeira, no segmento das pequenas
reuniões (PENT, 2007: 67).
As principais infraestruturas destinadas ao acolhimento de eventos de Turismo de
Negócios situam-se em Lisboa, ao que não é estranho o facto de ocupar um lugar de destaque
no panorama internacional. São de referir, a Feira Internacional de Lisboa, o MEO Arena
(Pavilhão Atlântico), o Centro de Congressos de Lisboa, o Centro Cultural de Belém e o
Centro de Congressos do Estoril. Existe ainda uma boa oferta de hotéis de quatro e cinco
estrelas, muitos deles com espaços concebidos para a realização de reuniões (PENT, 2007).
No Porto são de referir o Centro de Congressos e Exposições da Alfândega, a Exponor
- Feira Internacional do Porto, o Palácio da Bolsa e o Europarque - Centro Cultural e de
Congressos. A oferta hoteleira, com espaços destinados a reuniões, tem também vindo a ser
reforçada com unidades de referência mundial, não só na zona da Boavista, como também na
Baixa. O PENT menciona a necessidade de criar uma estrutura para congressos com
capacidade para mais de mil pessoas na cidade. A dimensão cultural e a riqueza
enogastronómica da região constituem fatores atrativos para a captação de consumidores deste
tipo de turismo (PENT, 2007). No 2.º trimestre de 2013, 31,5% dos turistas que visitaram o

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Porto e Norte de Portugal fizeram-no por razões enquadráveis no turismo de negócio, tendo
metade deles declarado que vieram para reuniões de negócios/trabalho (IPDT, 2013).
No Algarve, o clima ameno e a oferta hoteleira de qualidade são os grandes fatores de
atração do Turismo de Negócios. Embora a região disponha já de um centro de congressos
com capacidade para 3.400 pessoas, situado no Hotel Tivoli Marina Vilamoura, e do Portimão
Arena, capaz de albergar 5.600 participantes, o PENT prevê o desenvolvimento de novas
infraestruturas para congressos na área Faro-Albufeira (PENT, 2007: 76),
A Região Autónoma da Madeira dispõe do Centro de Congressos da Madeira, no
Funchal, equipado com um auditório para 628 pessoas e de uma sala de conferências para 450
pessoas; e do Centro Cultural e de Congressos do Porto Santo, com um auditório para 300
pessoas. São numerosos os hotéis na Madeira e no Porto Santo dotados de salas de
conferências, para além de auditórios em diversas instituições (Oliveira, 2012).
Para além das áreas privilegiadas no PENT, a região Centro de Portugal possui
também vários espaços com as condições necessárias à realização de eventos profissionais.
São de destacar o Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, cujo auditório principal tem
capacidade para 730 pessoas; o Parque de Exposições de Aveiro, com auditório principal com
capacidade para 224 e dois pavilhões com capacidade para 5 mil pessoas cada; Expocenter
Montebelo Hotel & Spa em Viseu, com um salão principal com capacidade para 2 mil
pessoas; o auditório da Universidade de Coimbra, com capacidade para 470 pessoas; o
auditório dos Hospitais da Universidade de Coimbra, com capacidade para 500 pessoas e o
Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz, com o grande auditório com capacidade
para 832 pessoas (Marques e Santos, 2011).

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Conclusão

O produto turismo de negócios e, em especial, a chamada Meetings Industry (MI)


assumem especial importância para Portugal pelo volume de viagens que representam e,
principalmente, por contribuírem para a redução da sazonalidade dos destinos.
Para captar reuniões, feiras e viagens de incentivo é necessário não só promover o
destino junto das grandes entidades promotoras dos eventos, como também promovê-lo junto
dos participantes, uma vez que são estes que decidem a sua participação.
Lisboa alcançou já uma notoriedade mundial e ocupa uma posição de destaque neste
setor. No entanto, o nosso país encerra ainda um enorme potencial de crescimento. Desde
logo, o Algarve e a Madeira, regiões com problemas de sazonalidade, nas quais a MI poderia
ajudar a combater, complementando o produto Sol e Mar. No entanto, também há um
potencial relevante no Porto e Norte de Portugal e mesmo na região Centro que, apesar de não
estar dotada um aeroporto internacional, também já marca presença nos rankings
internacionais (com Coimbra e Aveiro).
Atravessando o país um momento de estagnação económica, não será esta a época
mais indicada para construir os três centros de congressos previstos em 2007 no PENT (em
Lisboa, no Porto e no Algarve). A prioridade deverá ir no sentido da melhoria constante da
estruturação e da sofisticação da oferta, da prospeção de mercado, do enriquecimento da
experiência dos participantes fora das reuniões e da coordenação dos diversos intervenientes.
Neste particular, o destaque vai para os Convention & Visitors Bureaux, mas também para os
turismos regionais e locais, para as associações empresariais, para as unidades hoteleiras, para
os operadores privados de turismo, para as universidades públicas e privadas, Enfim, todos os
stakeholders têm de estar ativamente envolvidos. Neste contexto, parece relevante que as
organizações privadas e as instituições públicas ligadas ao setor do turismo na Madeira e no
Centro se associem criando CVB das respetivas regiões.
Para além de um esforço de promoção de cada cidade e região, deve também haver um
esforço de promoção do país, como um todo. Aí o Turismo de Portugal deverá liderar o
processo, mas também devem estar envolvidos, por exemplo, a TAP Portugal, companhia
aérea de bandeira, as grandes cadeias hoteleiras nacionais e os “portugueses de referência”
espalhados pelo mundo (Cristiano Ronaldo, José Mourinho, António Damásio, Durão
Barroso, entre outros).

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A promoção e os reconhecimentos que Portugal tem tido a nível internacional, fazem
já deste um destino atrativo para o consumidor final. Por conseguinte, um organizador que
aposte em Portugal para a realização de reuniões ou congressos tem já a vida facilitada em
termos de angariação de delgados.
No contexto internacional, Portugal poderia beneficiar de uma associação estratégica a
Espanha, superpotência mundial no segmento da MI. Apresentando-se como uma alternativa
vantajosa a Espanha: melhor relação qualidade/preço, maior segurança, melhor hospitalidade.

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