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Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa

Juízo Central Criminal de Lisboa - Juiz 22


Av. D. João II, Nº1.08.01 Edificio A
1990-097 Lisboa
Telef: 213218300 Fax: 211545125 Mail: lisboa.centralcriminal@tribunais.org.pt

CERTIDÃO

[ Código de acesso1: IGPK-HZ1U-USKH-V873 ]

Processo Comum (Tribunal


Processo: 1365/13.0TDLSB Referência: 380340641
Coletivo)
Autor: Ministério Público e outro(s)...
Arguido: Francisco Eduardo Morais Marques Guimaraes

Augusta Alonso, Escrivã Auxiliar, do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo


Central Criminal de Lisboa - Juiz 22:

CERTIFICO que, a cópia anexa do acórdão proferido por este Tribunal, tem o valor
de certidão e está conforme o original constante nos autos de Processo Comum (Tribunal
Colectivo) nº1365/13.0TDLSB, em que são:
Autor: Ministério Público
Arguido, Francisco Eduardo Morais Marques Guimarães, filho de Daniel Marques
Guimarães e de Maria Zaida Morais Oliveira Marques Guimarães, nascido em 27/10/1978,
natural da freguesia de Espinho.

MAIS CERTIFICO, que o referido acórdão ainda não transitou em julgado,

É quanto me cumpre certificar em face do que dos autos consta e em face do que foi
solicitado.

Lisboa, 10-10-2018.

A Escrivã Auxiliar,

Augusta Alonso

1 O código de acesso da certidão permite:


1. A consulta da certidão, durante o período de seis meses, em
https://certidaojudicial.justica.gov.pt/consulta; 2. Quando disponibilizado pelo requerente a
qualquer entidade, pública ou privada, substituir para todos os efeitos a entrega da certidão; 3. A
comprovação da fidedignidade da informação.

Este documento foi digitalmente certificado por CITIUS em 10-10-2018 16:31:22


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Acordam os Juízes que compõem o Tribunal Colectivo da 1Q Seccão Criminal da


Instância Central de Lisboa:

RELATÓRIO
Para julgamento em processo comum, com intervenção do Tribunal Colectivo,
encontra-se pronunciado:

Francisco Eduardo Morais de Oliveira Marques Guimarães, solteiro,


Engenheiro Civil, filho de Daniel Marques Guimarães e de Maria Zaida Morais
Oliveira Marques Guimarães, nascido em 27/10/1978, natural da freguesia de
Espinho, residente na Rua Dr. Almeida Amaral, n04, 1° Esquerdo em Lisboa,

Pela prática, como autora material, em concurso real e na forma consumada de:
- um crime de infidelidade, ilícito previsto e punido nos termos do artigo 224° nOl
do Código Penal;
- um crime de abuso de confianca, este previsto e punido pelo artigo 205° nOl e
n04 alínea b) do Código Penal; e de

- um crime de burla informática, ilícito previsto e punido nos termos do artigo


221°, nOs 2 e 5 alínea do Código Penal.

*
O arguido Francisco Guimarães apresentou a contestação que se encontra junta a
fls. 804 a 817, cujo teor se tem aqui por integralmente reproduzido.
Alega, em síntese, que não praticou quaisquer actos que consubstanciem actos
ilícitos e culposos geradores de responsabilidade criminal ou mesmo civil; que a gerência da
sociedade "Alto do Parque" sempre foi efectuada de facto pelos seus três Sócios; que a
diminuição do valor de facturação da sociedade assistente se prendeu essencialmente com a
crise económica que assolou o país em 2011 e que teve como efeito uma diminuição da utilização
do parque explorado pela assistente; que oS cheques enumerados no despacho de pronúncia

Pl'ocesso nO 1365/13.üTDLSB
~

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correspondem a pagamentos de obrigações próprias da sociedade Alto Parque e que à mesma

foram directa ou indirectamente imputadas por acordo de todos os sócios.

Nega que tenha deixado a sociedade assistente sem os elementos contabilísticos

respectivos e/ou que tenha mandado apagar quaisquer registos,

Em suma, entende que o presente processo mais não é do que uma perseguição

movida pelo assistente e sócio Amâncio Dominguez que aproveitando-se da sua vantagem

económica pretende ficar sozinho no negócio, dado que várias vezes tentou que o arguido lhe

vendesse a Sua quota.

Termina pugnando pela sua absolvição dos crimes que lhe vêm imputados.

Procedeu-se ao julgamento com observância do formalismo legal, no âmbito do qual

foi efectuada uma comunicação de alteração não substancial dos factos e de qualificação

jurídica.

Analisado o teor da factual idade imputada ao arguido nos pontos 52 e 53 da

pronúncia entendeu o tribunal que os mesmos configuram não a prática de um crime de burla

informática, previsto e punido pelo artigo 221 0 nOs 2 e 5 do Código Penal, mas sim o crime de

falsidade informática, previsto no artigo 3° n01 da Lei nO 109/2009, de 15 de Setembro, tudo

como melhor consta da respectiva Acta de Audiência de Julgamento.


..
Mantêm-se válidos e regulares os pressupostos da instância.
***********************************************

FUNDAMENTAÇÃO
Nota: Na factualidade dada por provada, por uma questão de ordem pragmática, de facilidade de
interpretação e localização, optámos por manter as referências à localização de alguns dos documentos juntos aos
autos.

Discutida a causa resultou. com relevância para os presentes autos. provada a

seguinte matéria de facto constante do despacho de pronúncia proferido:

1. A sociedade queixosa foi registada em Outubro de 2005, tendo o arguido

Francisco Eduardo Morais de Oliveira Marques Guimarães sido nomeado gerente da mesma.

2
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2. Conforme decisão do Tribunal de Comércio de Lisboa, junta a fls. 34 a 57, em 15


de Janeiro de 2013, por sentença proferida pelo 3° Juízo do Tribunal de Comércio de Lisboa o
arguido foi suspenso das funções de gerente.

3. Entre Outubro de 2005 e 15 de Janeiro de 2013 o arguido geriu a sociedade, o


que aconteceu com especial intensidade após a renúncia de José Miguel Rodrigues Coelho que
ocorreu em 3 de Novembro de 2011, sendo da mesma "de facto" o seu único gerente.

4. Nessa situação, apoderou-se de recursos financeiros da sociedade e utilizou os


mesmos em proveito próprio e/ou de outras pessoas colectivas das quais era sócio e principal
titular do capital social, nos termos em que infra se descreverá.

5. A sociedade queixosa explora um parque de estacionamento, sito na Rua da


Misericórdia 20, em Lisboa.

6. Parque que é composto por um mínimo de 88 lugares de estacionamento para


viaturas ligeiras de passageiros.

7. O parque está permanentemente aberto ao público, 24 horas por dia e 365 dias
por ano.

8. A tarifa horária praticada desde o início dos negócios é de 0,90 Euros nos
primeiros 15 minutos e de 0,40 em cada uma das subsequentes fracções de 15 minutos, Le., a
primeira hora custa 2,10 Euros (valores com rVA incluído).

9. Pelo que o preço hora do serviço prestado corresponde a 2,10 Euros rVA
incluído.

10. As receitas eram depositadas numa conta aberta na Caixa Geral de Depósitos,
balcão da Praça da Alegria com o n. 2170015062130.

11. A receita da sociedade era recebida quase sempre em numerário, havendo


quantias menores que eram pagas pelos clientes por cheque ou transferência boncária,
nomeadamente aS quantias respeitantes a "avenças" mensais.

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12. Para o efeito o próprio arguido deslocava-se ao estabelecimento e abria o cofre

existente na máquina automática de pagamento ou encarregava alguém, nomeadamente Marco


Antunes, pessoa da sua inteira confiança e de quem é sócio em outros negócios.

13. O arguido apoderou-se de receitas que eram depositadas na referida conta

aberta pela sociedade queixosa na Caixa Geral de Depósitos.

14. Para tal usou variados métodos, nomeadamente a emissão e entrega a terceiros

de cheques sacados a débito da referida conta bancária para pagamento de dívidas próprias
e/ou de sociedades nas quais era pessoalmente interessado, como por exemplo da sociedade
"Francisco Guimarães Uni pessoal Lda.", NIF 506336883, prejudicando a queixosa.

15. O valor aposto nos cheques infra descrito não corresponde a dívidas fiscais da
sociedade assistente, nomeadamente IVA, sendo manifesto que a data de saque não
corresponde a nenhuma data de vencimento de obrigações tributárias, nem os valores dos

mesmos correspondem a dívidas tributárias suas.

16. Num dos cheques está escrito à mão, no seu verso, um NIF que corresponde a
uma sociedade propriedade do arguido.

Nomeadamente:
1)

No dia 21712009 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 4.752,63 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento de impostos e contribuições de terceira pessoa que não a
sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade em idêntico valor e fazendo
enriquecer, naquele valor de 4.752,63 Euros, terceira pessoa, que assim não suportou a despesa a que
estava obrigada (documento de fls. 94 e 891).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
4.752,63 Euros não lhe pertencia, nem à terceira pessoa, antes pertencia à sociedade queixosa.

2)

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No dia 23/12/2009 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 7.190,70 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento de impostos e contribuições de terceira pessoa que não a
sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade em idêntico valor e fazendo
enriquecer, naquele valor de 7.190,70 Euros, terceira pessoa, que assim não suportou a despesa a que
estava obrigada (documento de fls. 132 e 891).

Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarões bem sabia que o referido valor de
7.190,70 Euros não lhe pertencia, nem à terceira pessoa, antes pertencia à sociedade queixosa.

3)
No dia 27/0112010 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 3.948,32 Euros e endossou-o "nõo à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 3.679,26 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 3.679,26 €, terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 131 e 886).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
3.679,26 €, Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

4)
No dia 24/02/2010 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 5.040,53 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público" para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 3.511,21 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 3.511,21 €, terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 130 e 886).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de 3.511,21
Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

5)

No dia 31103/2010 o arguido Francisco Guimarães com a Sua letra e assinatura preencheu um
impresso pr-óprio de cheque com o valor de 8.655,53 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Publico", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceir'cs pessoas e
5
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da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 6.389,95 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 6.389,95 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 129 e 886).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
6.389,95 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

6)

No dia 30104/2010 o arguido Francisco Guimarães com a Sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 8.089,59 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 6.564,80 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 6.564,80 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 128 e 886).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
6.564,80 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

7)

No dia 31/05/2010 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 6.270,08 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuiçães de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 2.434,21 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 2.434,21 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 127 e 887).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
2.434,21 € Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

8)

No dia 3010612010 o arguido Francisco Guimarães com a Sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 3.014,43 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento de impostos e contribuições de terceiras pessoas que não a

sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade em idêntico valor e fazendo

enriquecer, naquele valor de 3.014,43 Euros, ter~ceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que

estavam obrigadas (documento de fls. 126 e 887).

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Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
3.014,43 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

9)
No dia 29/07/2010 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 8.525,23 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 6.321,87 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 6.321,87 € terceiras pess.oas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 95 e 887).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
6.321,87 € Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

10)
No dia 31/12/2010 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 13.036,10 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 8.841,15 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 8.841,15 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 98 e 887).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
8.841,15 € Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

11)
No dia 28/02/2011 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra c assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 10.316,23 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 6.160,47 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 6.160,47 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 100 e 888).
Ao aei uar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de

6.160,47 € Euros não lhe pertencia, nem às i-erceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosc.

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Processo n° 1365/13.0TDL5B
Juízo Ceutral Criminal de Lisboa - Juíz 22
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12)
No dia 31/03/2011 o arguido Francisco Guimarães com a Sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 8.112,78 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 3.948,65 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 3.948,65 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 101 e 888).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
3.948,65 € não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

13)
No dia 29/04/2011 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 9.188,53 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 5.004,84 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 5.004,84 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 102 e 888).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
5.004,84 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

14)
No dia 31/05/2011 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 10.455,53 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para simultâneo pagamento de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 6.252,90 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 6.252,90 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 103 e 888).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
6.252,90 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

15)
No dia 14/07/2011 o arguido Francisco Guimarães com a sue letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 7.314,61 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
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Gestão do Crédito Público", para pagamento simultaneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Porque, prejudicando esta último sociedade no valor de 6.893,49 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 6.893,49 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 104 e 888).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bel1' sabia que o referido valor de
6.893,49 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

16)
No dia 29/07/2011 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 8.698,68 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultaneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 4.457,54 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 4.457,54 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 105 e 889).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
4.457,54 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

17)
No dia 31/01/2011 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 9.743,89 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultaneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 5.610,49 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 5.610,49 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 99 e 889).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
5.610,49 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

18)
No dia 31/10/2011 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 6.254,81 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
GeSi"õo do Crédito Público", paro pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e

da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 3.445.30 € e fazendo

9
Processo na 1365/13.0TDL5B
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enriquecer, naquele valor de 3.445,30 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documenta de fls. 106 e 889).
Ao actuar desta farma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
3.445,30 não lhe pertencia, nem às terceiraS pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

19)
No dia 15/11/2011 o arguido Francisco Guimarães com a Sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 2.155,75 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento de impostos da sociedade queixosa Alto Parque (documento de
fls. 125 e 889).

20)
No dia 30/1112011 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 8.580,95 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 7.321,45 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 7.321,45 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 116 e 889).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
7.321,45 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

21)
No dia 15/12/2011 o arguida Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 4.758,61 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 3.937,70 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 3.937,70 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 107 e 889).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
3.937,70 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

22)

10
Processo nO 1365/í3.0TDLSB
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Av D. João II, W 1.08.01 A - 1900-097 Lisboa
Telef: 213218300 Fax: 211545127 Mail: Iisboa.varcr78@tribunais.om.m

No dia 29/02/2012 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 6.388,44 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 5.148,22 € e fazendo
enriquecer, naquele valar de 5.148,22 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 123 e 890).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
5.148,22 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

23)
No dia 30/03/2012 a arguido Francisco Guimarães com a Sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 5.740,16 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 3.962,59 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 3.962,59 terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 122 e 890).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
3.962,59 não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

24)
No dia 30/04/2012 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 5.458,29 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 3.441,32 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 3.441,32 terceiras pessoas, que assim lião suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 121 e 890).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
3.441,32 não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

25)
No dia 30/05/2012 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinaiura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 4.538,45 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de tef~cejras pessoas e
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Precesso nO 1365/13.0TDL5B
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da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 2.515.00 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 2.515,00 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 120 e 890).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
2.515,00 Euros não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

26)
No dia 31108/2012 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 3.736,02 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 2.204,58 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 2.204,58 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 118 e 890).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
2.204,58 € não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

27)
No dia 31107/2012 o arguido Francisco Guimarães com a sua letra e assinatura preencheu um
impresso próprio de cheque com o valor de 5.947,39 Euros e endossou-o "não à ordem do Instituto de
Gestão do Crédito Público", para pagamento simultâneo de impostos e contribuições de terceiras pessoas e
da sociedade queixosa Alto Parque, prejudicando esta última sociedade no valor de 3.399,33 € e fazendo
enriquecer, naquele valor de 3.399,33 € terceiras pessoas, que assim não suportaram a despesa a que
estavam obrigadas (documento de fls. 119 e 891).
Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido valor de
3.399,33 € não lhe pertencia, nem às terceiras pessoas, antes pertencia à sociedade queixosa.

17. A sociedade assistente foi executada pela Administração Fiscal porque deixou

de pagar impostos vencidos no período em causa, tendo ocorrido uma reversão contra o aqui

assistente Amâncio Dominguez.

18. Os referidos cheques totalizam o valor de 185.912,26 Euros, sendo que

126.404,08 € se destinaram ao pagamento de imposto de entidades terceiras.

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19. O arguido adquiriu com OS recursos financeiros da S ciedade queixosa a

fornecedores vários, conforme documentação existente na escrita da sociedade e verificado em


sede inspecção levada a cabo pela Administração Tributária e reflectida no relatório que
constitui o apenso dos presentes autos, grande variedade de bens.

20. Ao agir do modo que se descreve, o arguido Francisco Guimarães fez a sociedade
queixosa suportar oS custos com o pagamento dos referidos bens, sabendo que os mesmos não
se destinavam à sociedade assistente, antes se destinaram a outras entidades nomeadamente
do próprio arguido e/ou sociedades por ele participadas.

21. No ano de 2011 o arguido adquiriu para si ou para sociedades terceiras os


seguintes bens cujos custos imputou à assistente:

2011-03T 01/1 Janela 60x100 prat1c br


2011-03T 0211 Tesa roller
2011-03T 03/1 Chaves
2011-03T 05/1 Fag. TRV-300 Termoventil, Sam VCC47JOV3G Eco Wave, Lei. fashion
2011-03T 13/1 Abraçuchas, curvas, tampão PVC,TE simples
2011-03T 14/1 Tinta int exclus mate, selaqua, rolo, trinchas
20 11-03T 15/1 Vaselina, fix portadas, tinta Int exclus. mate.
2011-03T 17/1 Abraçadeira, curva, porta PVC
2011-03T 18/1 Chaves
2011-03T 22/1 Bloco 3 tomadas, torneira de serviço, tubular, mango
2011-03T 23/1 Saco de lenha de sobro e cal viva em pó
2011-03T 27/1 Correntes segurança, entrada correio
2011-03T 28/1 Argila expan Leca
20 11-03T 30/1 Chaves
2011-03T 31/1 Chaves
2011-03T 32/1 Tecidos
2011-03T 33/1 Rolo antl gota
2011-03T 34/1 Drogaria
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2011-03T 35/1 Chaves


2011-03T 36/1 Chaves
2011-06 T 47/1 Berbequim: base de duch: 3 prado mono LL parede; monocomand
banho/duch: torneira B+D monoc: 4 torneiras lav. monoc.
20 11-06 T 50/1 Lixadora, esm.acril acet luxens
2011-06 T 5211 Diversos
2011-06 T 54/1 Chaves
2011-06 T 55/1 Alicate, busca-paios, chave
2011-06 T 57/1 Chave
2011 06 T 58/1 Cadeado pi bicicleta
2011-06 T 59/1 Chaves
2011-06 T 63/1 Drogaria
2011-06T 67/1 Asp.SL224 e dedução indevida
2011-06 T 74/1 diluente, esm dec lux
2011-06 T 8111 Chaves
2011-06 T 8211 Chaves
2011-0ST 83/1 Chaves
2011-0ST 84/1 Chaves
2011-06 T 85/1 Chaves
2011-0ST 96/1 Chaves
2011-06 T 97/1 Chaves
2011-09T 10411 Torneira lav. Monoc. e misturadora parede
2011-09T 110/1 Televisão Mitsai 22UM11 Dedução indevida
2011-09T 120/1 Cabo elástico 8mm/mt
2011-09T 12111 mini rolos cristal (casa de banho) e rede anti-insetos
2011-09T 124/1 Crown TV LCD e Kit máos livres Dedução indevida
2011-09T 126/1 Corda polipropileno.

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22. No ano de 2010 o arguido adquiriu para si ou para sociedades terceiras oS


seguintes bens cujos custos imputou à assistente:

201O-03T 1/1 palet


201 0-03T2/1 Chaves
201O-03T26/1 Fechadura
201O-03T 35/1 Material de escritório
201O-03T 37/1 Diversos
201Q-03T 38/1 Vika Amon TMP 1; Vika curry, outros
201O-03T 39/1 Abraçadeiras; casquilho; con]. Bomba bala; machado; outros
201 0-03T 40/1 Torneira; tubo; união; joelho; bicha; outros
2010-06 T 46/1 Arranc" lamp. Halog 500 wt, outros
2010-06T 47/1 Balastros electrónicos
2010-06T 48/1 Balastros electrónicos
2010-06 T 49/1 Mal. Eléct-exlensão, tomada
20 1O-06T 50/1 Lamp powerstar 150WIWDL
2010-06 T 521 Válv. Lava!.
2010-06 T 53/1 Válv. esfera
2010-06T 57/1 esquentador NECK AR WNlO
2010-06T 58/1 Lig inox pex, mangueira
2010-06 T 417 SI justificação de suporte
2010-09T 63/1 chaves
201O-09T 65/1 Bondex mate Incolor
2010-09T 66/1 Bondex mate mogno escuro
20 1O-09T 67/1 Bondex mate mogno escuro
201 0-09T 69/1 Chaves
2010-12T Tampo sanita
2010-12T Materiais
201O-12T Saco cimento, enchimento, areia, gamela
201 0-12T Lâmpadas
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201O-12T REM.BHT2000 E51

201O-12T Areia pi reboco, lavada pi betão


201O-12T DPT 02 e DPT 06

201O-12T Diverscs

201O-12T Cabos Bat 200A

201O-12T Tesa-fita Calafet.

201O-12T LCD LE32C350.

23. Estes bens tiveram o preço total de 5.622,75 Euros, sendo de 1.051,41 Euros o
valor do IVA à taxa de 23,},o.

24. Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o referido

valor de 5.622,75 Euros não lhe pertencia a si nem a terceiras pessoas, antes pertencia à
sociedade queixosa.

25. O arguido Francisco Guimarães em 31 de Março de 2010 adquiriu uma Caneta

"match. Pênsil Tecflex steel/gold", no estabelecimento da Porsche Design, pelo preço de 225

Euros e fez imputar tal custo à sociedade queixosa, sabendo que o bem adquirido não se
destinava à mesma.

26. O arguido Francisco Guimarães em 30 de Junho de 2010 adquiriu uma Caixa


americana, bandeja, caixa baralho de cartas no estabelecimento Cristal - Marinha Grande, pelo

preço de 171,60 Euros, e fez imputar tal custo à sociedade queixosa, sabendo que o bem
adquirido não se destinava à mesma.

27. O arguido Francisco Guimarães em 31 de Dezembro de 2010 adquiriu um cantil


Vista Alegre, pelo preço de 381,60 Euros, e fez imputar tal custo à sociedade queixosa, sabendo

que o bem adquirido não se destinava à mesma.

28. Ao actuar desta forma o arguido Francisco Guimarães bem sabia que os

referidos valores de 381,60 Euros, 171,60 Euros e 225,00 Euros não lhe pertenciam, nem às

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terceiras pessoas que beneficiaram das aquisições, antes pertenciam à sociedade queixosa, que
ficou prejudicada nos referidos valores.

29. O arguido Francisco Guimarães fez sua parte da receita da sociedade, uma vez
que uma parte do dinheiro levantado da máquina automática de pagamento e proveniente dos
pagamentos das avenças mensais nunca chegaram a ser depositados na conta bancária da
sociedade assistente ou por qualquer outro modo a beneficiaram, antes ingressaram no
património do arguido e/ou de terceiros.

30. A sociedade assistente factura (ainda) mensalmente uma média de 8.000 Euros
de avenças, i.e., 24.000 Euros por trimestre (IVA incluído) - valor a acrescer aos respeitantes à
máquina automática de pagamento.

31. No primeiro trimestre de 2013 as avenças foram recebidas ainda pelo arguido
que explorou o negócio até dia 15 de Janeiro.

32. No período em que o arguido exerceu a gestão da sociedade assistente a


facturação declarada pela sociedade em sede de liquidação de IVA foi manifestamente inferior.

33. O arguido informou a sociedade assistente, o seu sócio Amâncio Dominguez e a


Administração Tributária que a sociedade havia facturado um valor inferior àquele que
efectivamente facturou.

34. Nos últimos sete trimestres da gestão do arguido este apenas declarou ter
recebido os valores seguintes:

Declaração de Iva Base tributável IVA a favor do Estado Total declarado

2010/12 56100,64 11781,13 67881,77


2011/3 37424 176 8607,69 46032,45
2011/6 41404,88 9523,12 50928.00
2011/9 26799,6 6163,9 32963.50
2011/12 26645,53 6128,47 32774,00
2012/3 19450,47 4473,61 23 924,08
2012/[, 40363,49 9283,6 49647,09

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35. Nos últimos 7 trimestres da gestão do arguido a diferença entre o valor


declarado pelo arguido e o valor das receitas efectivamente auferidas, não concretamente
apurado, foi desviada em benefício do arguido e em prejuízo da sociedade assistente em igual
valor.

36. O arguido desviou em seu exclusivo benefício receitas brutas da sociedade de


valor não concretamente apurado.

37. Ao actuar do modo referido o arguido Francisco Guimarães prejudicou a


sociedade assistente em idêntico valor.

38. Ao actuar da forma descrita o arguido Francisco Guimarães bem sabia que o
referido valor não lhe pertencia, antes pertencia à sociedade queixosa, e que a conduta referida
é proibida pelo direito e penalmente sancionada, tendo actuado sempre com o intuito de se
apoderar de valores monetários sabendo que com a sua conduta iria prejudicar a sociedade
assistente.

39. Os 304.150,89 Euros declarados pelo arguido nos 7 trimestres identificados em


34 não foram depositados na conta bancária da sociedade aberta na CGD supra referida ou de
qualquer outro modo utilizados para cumprimento de qualquer obrigação da sociedade
assistente.

40. Isto é, nem mesmo o valor que o arguido declarou ter recebido por conta da
sociedade assistente, de que era gerente, foi encaminhado para a sua conta bancária ou de um
qualquer modo utilizado em seu proveito.

41. Na conta bancária da assistente apenas foi encontrada em 15 de Janeiro de


2013, data na qual o arguido deixou de facto poder gerir a sociedade e a actual gerência tomou
aS rédeas da mesma, a quantia de 154,09 Euros e em "caixa" o fundo de maneio diário.

42. Entre 7 de Abril de 2012 e 15 de Janeiro de 2013 só foi depositado na conta da


Caixa Geral de Depósitos um total de 95.200,30 Euros.

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43. A diferença, entre o valor depositado e o efectivamente recebido, cujo valor

concreto não se logrou apurar, não foi aplicada no cumprimento de nenhuma obrigação da
sociedade assistente, nem beneficiou esta sociedade de qualquer modo, antes foi apoderada

pelo arguido Francisco Guimarães que fez sua tal quantia, actuando ao longo daquele período

com a firme consciência de que o dinheiro retirado da máquina não lhe pertencia, antes é
propriedade da assistente, actuando com o intuito de enriquecer e causar prejuízo, como
causou, à sociedade.

44. Nestes valores não se incluem oS valores das avenças mensais que igualmente
foram recebidas pelo arguido e não foram entregues à sociedade, assim a prejudicando em valor
que não foi possível apurar.

45. No 1° trimestre de 2012, o trimestre no qual o arguido declarou ter recebido


receita no montante de 23.924,08 Euros (IVA incluído) verificou-se que os movimentos da conta
bancária da sociedade foram os seguintes:

Em 6 de Janeiro de 2012 uma transferência de cliente para pagamento de avença;


Em 17 de Janeiro de 2012 um depósito de 2.230,00 Euros de cheques respeitantes a
avenças;

Em 30 de Janeiro de 2012 um depósito em numerário de 1.663,78 Euros:


Em 6 de Fevereiro de 2012 um depósito de um cheque de avença no valor de 1.210.00
Euros;
Em 7 de Fevereiro de 2012 uma transferência de 1.370,00 Euros respeitante a uma
avença;

Em 14 de Fevereiro de 2012 um depósito de 1.240.00 Euros;


Em 29 de Fevereiro de 2012 um depósito de 3.868.50 Euros;
Em 6 de Março de 2012 uma transferência de 1.370.00 Euros respeitante a uma avença;
Em 9 de Março de 2012 dias uma transferência de 4.770.00 Euros respeitante a uma
avença e um depósito de 1.375.00 Euros;
Em 15 de Março de 2012 um depósito de 1.320.00 Euros
Em 30 de Março de 2012 um depósito de 2.136,80.

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46. Um total de 23.924,08 Euros, que corresponde valor declarado à


administração fiscal.

47. Toda a facturação da máquina automática foi registada sempre num computador
existente na sociedade e ligado directamente à máquina automática, através de uma aplicação
informática da responsabilidade da Resopark desde a constituição da sociedade e até à
presente data.

48. Por ordem e com o conhecimento do arguido Francisco Guimorães o computador


foi substituído em inícios de 2012 com ordem expressa de não Se fazer a migração dos dados
para o novo, sendo que posteriormente em 9 de Abril de 2012 os dados foram apagados.

49. Todos os livros de registo das avenças e seu suporte informático


desapareceram.

50. Ao agir como o agiu, o arguido sabia que oS valores recebidos pela sociedade não
eram seus, antes eram propriedode da assistente.

51. Ao agir como agiu, o arguido sabia que violentou grosseiramente o direito da
queixosa.

52. O arguido agiu de forma livre, voluntária e consciente, com o intuito de


prejudicar, como prejudicou a assistente, com absoluto desprezo pelos seus d.ireitos, num valor
não concretamente apurado, mas com toda a segurança superior a 132.805,03 € (valor dos impostos
pagos por conta de terceiros através de cheque, a que acresce o dos bens mencionados nos pontos'23 e 28).

Quanto à situação económico-social do arguido Francisco Guimarães provou-se

53. O seu processo de desenvolvimento decorre.u num meio urbano isento de


conotação com problemáticas de exclusão social.

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Processo nO 1365/13.0TDLSB
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54, O seu agregado familiar, ainda que numeroso (nove descendentes), dispunha de

uma condição económica normal assente nos rendimentos do seu progenitor enquanto engenheiro

mecânico e dirigente empresarial e da sua progenitora, docente do ensino secundário,

55. A dinâmica familiar foi referenciada com ausente de conflitualidade e baseada

na existência de um modelo educativo assente na transmissão de valores,

56, O percurso escolar decorreu em escolas públicas até à conclusão do secundário

sem registo de detenções tendo obtido a licenciatura em Engenharia Civil no Instituto Superior
Técnico.

57. O ingresso na vida profissional activa foi facilitado pela via familiar porquanto os
progenitores eram detentores de diversos bens imóveis, tendo desempenhado funções ao nível

da administração dos respectivos condomínios.

58, Posteriormente, constituiu várias sociedades tendo permanecida na área da

gestão imobiliária,

59. Presentemente, continua a auferir rendimentos mensais assegurados

maioritariamente pelos rendimentos prediais advindos dos activos imobiliários da família, cujo

montante ascende a cerca de 4.300 euros mensais.

60. Esses rendimentos são complementados pelo provento económico auferido na

condição de gerente da empresa uni pessoal "Fernando Guimarães, Lda.", que ascende a cerca de
700 € por mês,

61. Pese embora não aufira qualquer remuneração pela assunção dos cargos de

gestão o volume de negócios mantém-se satisfatório em resultado da actividade das restantes

sociedades nas quais assume posições societárias maioritárias, entre as quais se encontram a

Chiado Vil/age, F/YlIrbis e Mo/dlhollse.

62. Reside com a irmã e o sobrinho numa casa própria, propriedade da família à qual

não se cncon1ra associado qualquer encargo fixo,

21
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'2fi.
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Telef: 213218300 Fax: 211545127 Mail: lisboa.varcr78@tribunais.org.pt

63. Para além das despesas gerais de manutenção o arguido paga 850 € mensais
relativos a um crédito pessoal contraído.

64. Actualmente, despende grande parte do seu tempo livre na prestação de


cuidados à progenitora, a qual padece de doença degenerativa de foro neurológico/demencial.

Relativamente aos antecedentes criminais do arguido Francisco Guimarães


provou - se gue:
65. Por sentença proferida pelo Juízo Local Criminal do Tribunal Judicial da Comarca
de Lisboa no âmbito do processo nO 155/11.9IDL5B, em 5/02/2015 e transitada em julgado em
10/03/2015, foi condenado pela prática de um crime de abusa de confiança fiscal, cometido em
1/0412010, com dispensa de pena.

*
Da matéria constante da contestação apresentada pelo arguido, para além da
constante da acusação e com relevo para a decisão, provou-se que:

*
66. O arguido renunciou à gerência em 10 de Janeiro de 2013.

67. O assistente e o arguido constituíram a sociedade "Alto do Parque - Exploração


e Gestão de Parques de Estacionamento, Lda." e, concomitantemente adquiriram a sociedade
"Moldihouse, Lda".

68. Para que esta última sociedade adquirisse as 88 fracções onde se encontra
instalado o parque de estacionamento explorado pela sociedade "Alto do Parque" foi necessário
recorrer a um mútuo bancário.

69. O qual teve lugar no Banco Caixa Galicia.

70. Todos os sócios das duas sociedades, por coincidirem em ambas, estipularam que
com os lucros provenientes da exploração do parque de estacionamento a sociedade" A Ita do

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Processo nO 1365/13.0TDL5B
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Parque" faria as transferências necessárias para o pagamento das prestações que aquela
sociedade teria que pagar junto do Banco Caixa Galicia por conta do mútuo Bancário já referido
e bem assim para as demais despesas dessa sociedade.

71. A sociedade assistente tinha uma divida proveniente da não entrega do IV A do


primeiro e segundo trimestre de 2010, cujo pagamento em prestações foi deferido durante a
gerência do arguido.

72. Durante o período de gerência do arguido foram realizadas algumas obras de


conservação do parque com vista à melhoria dos acessos.

73. A estrutura societária e de gerência manteve-se a mesma desde a constituição


em 2005 até 2012.

74. A sociedade assistente teve um conjunto de circunstâncias que influenciaram as


suas contas, mormente:

» a não concretização da isenção do Imposto Municipal sobre Im6veis, relativamente às

fracções exploradas pela assistente, propriedade da "Moldihouse", e cuja responsabilidade tinha assumido:

» um subarrendamento de uma fracção aut6noma que cessou em Março de 2009.

75. A sociedade assistente teve uma evolução positiva do seu volume anual de
negócios entre 2006 e 2010.

76. O sistema informático do parque de estacionamento foi substituído no ano de


2012.

77. O sistema apresentava alguns problemas.

78. Em 2007 foi pedida uma proposta para a substituição de todo o equipamento,
que foi remetida pela "Resopark".

79. Na sequência de avaria no equipamento informático foi enviodo um fax à


"Resopark" em 9/12/2009.

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Processo "o 1365/13.0TDL5B
/ .

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{~ ., .....

80. Durante a gerência do arguido foram realizadas reparações ao equipamento


informático.

81. Em data não concretamente apurada, pela Câmara Municipal de Lisboa foi
efectuada a colocação de balizas flexíveis junto à entrada e saída do parque.

.
Da factualidade constante do despacho de pronúncia. e com relevo para a
decisão. entendemos não ter resultado provado que:
» É seguro afirmar que a sociedade assistente factura sempre mais do que
70.619,01 € por trimestre.
» É seguro afirmar que a sociedade assistente tem uma facturação sempre superior
a 80.000 € por trimestre.
» É seguro afirmar que a sociedade assistente no período referido em 34 (7
trimestres) facturou pelo menos 494.333,07 € (70.619,01 € x 7).
» O arguido no lapso de tempo referido em 34 desviou em seu exclusivo benefício
receitas brutas da sociedade assistente de pelo menos 190.182,18 €.
» O arguido durante o lapso de tempo referido em 34 prejudicou a sociedade

assistente em idêntico valor e enriqueceu no valor de 190.182.18 €.


» Entre 7 de Abril de 2012 e 15 de Janeiro de 2013 é seguro que foi retirado da

máquina um total de 205.503,10 €.


» A diferença entre o referido valor de 205.503,10 € e a quantia de 95.200,30 €
que foi depositada na conta da Caixa Geral de Depósitos entre 7 de Abril de 2012 e 15 de
Janeiro de 2013, que ascende a 110.302,80 € foi apoderada pelo arguido que a fez sua com o
intuito de enriquecer e causar prejuízo à assistente.

Da matéria constante da contestacão apresentada pelo arguido, e com relevo


para a decisão. entendemos não ter resultado provado que;

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Processo nO 136,)/1.3.0TDLSB
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» Desde a sua constituição e até 10 de Janeiro de 2013 a gerência da sociedade

assistente foi exercida de facto pelos três sócios gerentes e constituintes da mesma e depois
da renúncia à gerência e cessão de quotas por parte do sócio Miguel Coelho, pelos dois sócios
actuais (o aqui arguido e Amâncio Dominguez assistente).
» Foi com o conhecimento e anuência de todos os sócios que a sociedade assistente

deixou de fazer as transferências necessárias com as quais a "Moldihouse, Lda." contava para
pagamento das prestações ao Banco financiador.
» Todas as decisões relativas à assistente eram tomadas em reuniões semanais nas

quais participavam e deliberavam os três sócios.


» O assistente só se afastou da gerência da sociedade assistente poucos meses

antes de interpor o processo cautelar e após a saída do sócio gerente José Miguel Coelho.
» A partir de 2010 verificou-se um decréscimo acentuado na actividade da

assistente, revelando-se dramótica nos anos subsequentes e reflectindo-se na sua facturação.


» No caSo da sociedade assistente verificou-se todo um conjunto de circunstâncias

que, a par da crise económica, contribuíram para que o negócio da sociedade tivesse sofrido um
decréscimo que em determinados meses foi superior a 40% ou 50% do valor que facturava nos
primeiros anos de actividade.
» A sociedade foi afectada pela sua maior crise, que não pode ser imputada a

ninguém mas apenas às condições económicas que o país atravessou desde finais de 2010.
» O assistente Amâncio Dominguez teve a possibilidade de aceder aos elementos

contabilísticos da sociedade, pois sempre participou em todas as decisões da vida da sociedade.


» Nunca o arguido sozinho tomou qualquer tipo de decisão sem o consentimento do

assistente.
» No final de 2011 tornou-se impossível manter o equipamento do sistema
informático do parque (central de gestão e demais equipamentos de gestão e controle do
parque) face aos inúmeros erros que provocova, com a desactivação dos cartões de clientes,
alteração de tarifários e bloqueio de barreiras.
» As avarias eram constantes.

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» O estacionamento dentro do limite da entrada e saída ao parque, antes da

colocação de balizas flexíveis por parte da Câmara Municipal de Lisboa provocava grandes
transtornos para oS condutores que por esse facto deixavam de utilizar o parque de
estacionamento.
» Só com a substituição do sistema informático introduzida pelo arguido foi possível

adoptar o procedimento que permitia que quando fossem retirados os valores das máquinas de
pagamento fosse retirada também uma listagem dos pagamentos que depois de conferida era
remetida à TOC.
» Até aí, por acordo dos três sócios e gerentes, o controlo contabilístico era feito

através dos extractos bancários que por sua vez correspondiam ao valor retirado diariamente
da máquina.
***********************************************

Convicção do Tribunal
O Tribunal formou a sua conviçção a partir da análise crítica de toda a prova
produzida em audiência e constante dos autos, segundo juízos de experiência comum e de
acordo com o princípio da livre apreciação da prova (cfr. artigo 1270 do CPP).
"A livre apreciação da prova a que alude o artigo 1270 do Código de Processo Penal,
não é reconduzível a um íntimo convencimento, a um convencimento meramente subjectivo, sem
possibJildade de justificação objectiva, mas a uma liberdade de apreciação no âmbito das
operações lógicas probatórias que sustentem um convencimento qualificado pela persuasão
racional do juízo e que, por isso, também externamente possa ser acompanhado no seu processo
formativo segundo o princípio da publiCidade da actividade probatória." (Cfr. o Ac. do STJ de
3/03/1999, in BMJ 485, pág. 248).
Assim, no que concerne à factualidade dada como provada atendeu o tribunal, desde
logo, ao teor da vasta documentação que se encontra junta aos autos a qual complementada pelo
teor da prova testemunha! prestada em audiência de julgamento permitiu ao tribunal dar a
factualidade descrita nos pontos 1 a 52 e 66 a 82 como provada.

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Cumpre, desde logo, referir que parte da factulidade dada como assente acabou por
vir a ser admitida pelo arguido Francisco Guimarães nas declarações que prestou finda a
produção de prova e junta a informação solicitada pelo Tribunal à AT.
A produção de prova testemunhal efectuada ao longo das várias sessões de
julgamento foi bastante vasta denotando de quando em vez o clima de conflitualidade existente
entre arguido e assistente e conhecimentos provenientes de outras acções judiciais existentes
entre ambos. Contudo, diremos que da sua análise e conjugação com oS diversos documentos
juntos aos autos ficámos com a firme convicção que a generalidade dos factos imputados ao
arguido se passou nos exactos termos descritos na pronúncia.
Começando pelos factos relativos ao enquadramento das relações comerciais
existentes entre arguido e assistente assumiram especial importância, desde logo, aS
declarações prestadas pelo assistente Amâncio Dominguez que, de uma forma clara,
fundamentada, coerente e, como tal, totalmente credível explicou as circunstâncias em que a
empresa "Alto do Parque" foi constituída, descreveu o respectivo objecto de negócio e bem
assim a sua estrutura societária.
Admitiu que pese embora os três sócios constituintes figurassem como gerentes da
sociedade a mesma ficou desde o início entregue ao arguido e ao outro sócio Miguel Coelho que
acabou por deixar de assinar cheques e de estar tão presente na vida da sociedade
sensivelmente a partir de 2009.
Referiu recordar-se, aliás, que foi precisamente em finais de 2009 inícios de 2010
que recebeu uma notificação das Finanças a dar conta que se encontravam valores de IV A por
liquidar e um contacto por parte do Banco Galícia a informar que o contrato de mútuo que
haviam celebrado, através de uma outra sociedade de nome "Moldihouse", também se
encontrava em incumprimento.
Na altura recorda-se que contactou o arguido e o Miguel Coelho que o
tranquilizaram e disseram que estava tudo em resolvido.
Relativamente à actividade desenvolvida pela sociedade "Alto do Parque" explicou
que a mesma consistia na exploração de um parque. de estacionamento, com 88 lugares, situado
no centro de Lisboa, mais concretamente no Chiado.

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As receitas da empresa provinham dos pagamentos que eram feitos pelos diversos
utentes do Parque, quer por parte daqueles que o ocupavam pontualmente quer dos que tinham
avenças mensais.

Aquando da constituição da sociedade acordaram que todas aS receitas


provenientes do Parque (dinheiro retirados das máquinas de pagamento, dinheiro ou cheques
entregues por contrapartida das avenças) deveriam ser diariamente depositadas numa conta
aberta em nome da sociedade no Banco BPI.
Durante os primeiros anos reconhece que não houve propriamente reuniões para
aprovação de contaS; iam falando sobre os assuntos e as coisas correram normalmente com
alguma informalidade associada. Somente quando foi alertado pela notificação que recebeu das
Finanças é que começou a tentar obter informações e se começou a aperceber que existiam
cheques passados da conta da sociedade que não tinham correspondência com custos/encargos
da mesma.
Tentou falar com o arguido que, a partir de uma determinada altura, deixou de lhe
dar explicações e atender o telefone.
Recorda-se de ter questionado a contabilidade sobre uma série de cheques que
haviam sido passados a favor do Estado, mais concretamente à ordem do Instituto de Gestão de
Crédito Público, e de chegar à conclusão que oS mesmos não correspondiam à liquidação de
valores devidos a título de imposto pela sociedade assistente.
A partir desse momento tentou inteirar-se da situação financeira e contabilística
da sociedade que descreveu passo a passo e que culminou com a apresentação da queixa que deu
origem aos presentes autos e a numerosas acções que correm termos noutros tribunais.
Ao aperceber-se dos factos descritos nos pontos 13, 14, 19, 48 e 49 decidiu
intentar uma providência cautelar com vista à suspensão das funções de gerente por parte do
arguido.
Relativamente aos valores dos diversos cheques que foram emitidos pelo arguido
entre 2009 e meados de 2012 descritos no ponto 16, nunca conseguiu nem através da análise da
contabilidade nem de informações que tentou obter junto das Finanços saber quem foram os
beneficiários concretos dos montantes neles apostos. Apenas sabe que não se destinaram a

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pagar impostos da assistente "Alto do Parque" porque os montantes não coincidiam com aqueles
que a sociedade tinha que liquidar de impostos, nem em termos de valor nem de data, e não
tinham qualquer suporte contabilísticos.
Acrescentou que se deparou com esse problema no início de 2013 quando assumiu a
a gerência da sociedade, após a destituição do arguido. A contabilidade não se encontrava
devidamente organizada e documentada (conta por regularizar tinha valores elevadíssimos;
existiam custos suportados pela assistente que nada tinham a ver com a sua actividade e
elementos em falta).
Concretizou, ainda que se veio a aperceber, que em 2012 o arguido decidiu
substituir todo o sistema informático do Parque e deu ordens expressas para que toda a
informação anterior não fosse migrada, assim como que fosse apagado o registo existente no
computador, facto que levou a que fosse impossível reconstituir o montante das receitas
auferido nesse período e perceber a taxa efectiva de ocupação do Parque.
Veio a saber por pessoas que trabalhavam lá que o arguido e o Marco Antunes,
braço direito do mesmo, costumavam diariamente proceder à recolha dos montantes pagos pelos
utentes ainda que sem procederem ao respectivo depósito na conta bancária da assistente.
Enfatizou que muitas das situações que dá conta na queixa que apresentou, e que se
encontram documentadas nos autos, foram sinalizadas pela Administração Tributária no âmbito
de uma fiscalização que foi efectuada à contabilidade da "Alto do Parque".
Foram detectadas uma série de facturas relativas à aquisição de bens que nada
tinham a ver com o Parque (quantidade enorme de chaves, janelas, televisões, sanitas e outros
objectos) sendo que algumas até tinham como destino prédios de outras empresas do arguido
Francisco Guimarães.
Desde que tomou conta da administração da sociedade não só as receitas
aumentaram como constatou que as mesmas cobrem perfeitamente as despesas.
Relativamente ao extravio da informação que estava arquivado no antigo
computador e que não foi alvo de migração pediu um relatório à "Resopark", empresa
responsável pela manutenção do mesmo, que veio informar que a informação de Janeiro a Abril

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de 2012 tinha sido toda apagada. Acresce a tal facto que durante o referido período o valor dos
depósitos bancários nem sequer chega ao valor das avenças que foram recebidas.
Recorda-se que quando recebeu a gerência da sociedade a conta da empresa tinha
um saldo de apenas 154 €.
Presentemente tem ideia que as receitas da empresa andam na ordem dos
30/35.000 € e os seus custos na ordem dos 20/25.000 €.
Ainda que por vezes ultrapassando o objecto das questões em causa nos presentes
autos, fruto das inúmeras acções que opõem assistente e arguido e que sõo obviamente do
conhecimento dos seus Ilustres Mandatários, Amâncio Dominguez relatou ainda as relações
existentes entre a sociedade "Alto do Parque" e a "Moldihouse", bem como a forma como
liquidou as obrigações desta empresa junto da Banca e do Estado.
Foi confrontado com fls. 157 a 291 do Apenso da Autoridade Tributária
demonstrando ter conhecimento directo de todos os documentos; com fls. 10 do I Volume, fls.
370 (documento de remoção dos cofres pela "Resopark", sendo do seu conhecimento que estes
valores não só não deram entrada no Banco como também não se encontravam registados na
contabilidade), fls. 683 (relativo a um pedido por si formulado relativamente ao 63 cheques cujo
valor apenas parcialmente está relacionado com dividas da assistente), e fls. 739 (documento
relativo à ocupação de um outro parque de estacionamento a operar na mesma zona).
Relevante para a compreensão de alguns dos aspectos dados por provados e
relatados pelo assistente Amâncio Dominguez afigurou-se o depoimento de Elisabete da
Encarnação Amendoeira, actual contabilista da "Alto do Parque", que de uma forma clara e
escorreita relatou ao tribunal a situação em que recebeu a contabilidade da referida empresa
em inícios de 2013 e as dificuldades com que se deparou em face da ausência de documentação
suporte de lançamentos que haviam sido feitos em anos anteriores.
Confrontada com fls. 109 afirmou conhecer o documento explicando que se trata do
extracto da "conta a regularizar" embora o mesmo não tenha sido feito por si, mas pela colega
que anteriormente se encontrava responsável pela contabilidade da "Alto do Parque". Afirmou
que se reporta a valores que tiveram que sei' contabilizados nesta conta uma vez que respeitam
a pagamentos efectuados co Estado, por cheque, que não podiam ser contabilizados por

JO
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contrapartida de "divida ao Estado" dado que os montantes não eram coincidentes com os
valores a liquidar pela assistente.
Pediram uma lista dos cheques que haviam sido pagos e constataram que tinham sido
emitidos à ordem da Autoridade Tributária sem que, contudo, existisse um documento
comprovativo do pagamento do imposto devido. Mais perplexos ficaram ao serem notificados de
dívidas fiscais da assistente à AT.
Confrontada com fls. 541 admitiu que se trata de uma listagem dos cheques por si
elaborada e que respeita a cheques com correspondência ao pagamento de impostos.
Relativamente às facturas que encontrou recorda-se que algumas tinham moradas
de entrega dos materiais nelas descritos que não coincidiam com a do Parque de Estacionamento
do "A Ito do Parque", nem como nenhuma outra relacionada com a assistente; apercebeu-se que
eram pagas por contrapartida de Caixa ou até mesmo por adiantamento dos sócios.
Relevante para a formação da convicção do tribunal no que tange às funções
desempenhadas pelo arguido Francisco Guimarães na gestão e no dia a dia do Parque afigurou-se
o depoimento prestado por Filipe Nuno Felizardo Valente, funcionário do próprio Parque, que
demonstrou ter um conhecimento directo de grande parte das questões em causa nos presentes
autos excepção feita obviamente às quantias monetárias de que o arguido se encontra acusado
de se ter apropriado.
Esclareceu que em regra trabalhava no Parque entre aS 24hOO e as 8hOO das noites
de maior movimento, ou seja de quarta a domingo, tendo sido convidado para o fazer pelo
arguido Francisco Guimarães, pessoa que lhe pagava e de quem recebia ordens.
Não teve dúvidas em afirmar que era o próprio arguido quem recolhia o dinheiro do
Parque, pelo menos até 2011 altura em que o Marco Antunes também o passou a fazer, assim
como OS pagamentos das avenças quando feito em dinheiro.
Questionado sobre o movimento do Parque ao longo do tempo que lá desempenhou
funções foi peremptório ao afirmar que nunca notou grandes oscilações a eSse nível, dado que
nas noites de maior movimento estava sempre cheio, muito por conta da proximidade 00 Bairro
Alto. No que respeita às avenças também não houve oscilações uma vez que estavam sempre

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completas e com lista de espera. Em suma, nunca se apercebeu de qualquer diminuição de


movimento apesar de a determinada altura o seu salário ter baixado.
Durante o tempo que lá trabalhou, entre 2008 e 2013, nunca viu quaisquer obras
relevantes a serem feitas na casa-de-banho ou nas rampas de acesso excepção feita a algumas
pinturas e à substituição do computador e do sistema informático.
Recorda-se que quando essa substituição foi feita não foi na sequência de nenhuma
avaria, mas que após a mesma todos os registos anteriores desapareceram. No que tange à
substituição do disco rígido recorda-se que a mesma foi feita na presença do arguido, do Marco
Antunes e de mais um Sr. que não consegue identificar no dia 9/04/2012. Ao ser questionado
sobre a precisão na indicação da data explicou que fixou a mesma porquanto tinha tido o jantar
de anos da ex-mulher.
Explicou que, tanto quanto se pôde aperceber, existia uma relação profissional
entre o arguido e Marco Antunes embora com uma hierarquia, dado que era nítido que o Marco
Antunes reportava ao Engenheiro Guimarães.
Concretizou que para retirar as quantias da máquina de pagamento do Parque era
necessária uma chave que estava sempre na posse ou do Marco Antunes ou do Engenheiro
Guimarães, únicas duas pessoas que procediam à recolha da receita do Parque.
Relativamente ao funcionamento do sistema informático do Parque, da máquina de
recolha do pagamento e respectiva substituição baseou o tribunal, para além do mais, a sua
convicção no teor do depoimento prestado pelas testemunhas Paulo Alexandre da Cunha Melo e
João Pedro Leandro.
De forma totalmente clara, circunstanciada e isenta explicaram o funcionamento do
sistema informático instalado no Parque explorado pela sociedade" Alto do Parque"; a forma
como a informação era transferida e armazenada para um computador e permitia a todo o
momento conferir o número de utentes do Parque e as quantias pagas.
Mais descreveram as circunstâncias em que o referido sistema foi substituído sem
que a informação anterior fosse migrada.
Paulo Melo não teve dúvidas em afit'mar que o antigo computador, apesar da idade,
estava a funcional' perfeitamente no momento em que foi substituído. Recorda-se que quando

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foi feita a substituição, segundo as indicações que receberam por parte do cliente, apenas
procederam à migração dos elementos relativos à identificação do Parque e às tarifas
praticadas.
Foi peremptório ao afirmar que a informação relativa à ocupação do Parque e aos
registos não foram migrados por indicação expressa do Sr. Marco Antunes, o qual por diversas
vezes o questionou como se poderia apagar a informação registada no computador.
Confrontado com o Relatório que se encontra junto aos autos a fls. 10 confirmou
que se trata de um documento elaborado pela empresa para a qual trabalha (Resopark),
explicando o seu conteúdo e a razão das conclusões aí vertidas. Foi ainda, confrontado com OS

documentos de fls. 291 do Apenso Tributário e de fls. 370 dos autos principais.
O funcionamento do Parque (registo de informação, taxa de ocupação, recolha dos

valores diários auferidos, obras de conservação realizadas) foi ainda descrito de forma
particularmente relevante pelas testemunhas Aníbal de Matos Horta e António de Lima, ambos
funcionários do Parque.
Analisados os seus depoimentos que nos escusaremos de reproduzir na íntegra, por
razões de economia, não ficámos com quaisquer dúvidas cerca da veracidade do depoimento dos
mesmos que foram ao encontro daquilo que foi referido por todas as testemunhas indicadas pelo
assistente - o Parque manteve sempre uma taxa de ocupação similar ao longo do período em
análise; não houve diminuição de receitas significativas; não houve diminuição do valor das
avenças; não existiram quaisquer obras de conservação relevantes que tenham impedido o
funcionamento normal do Parque; o dinheiro sempre foi recolhido pelo Engenheiro Guimarães ou
por Marco Antunes e houve uma substituição do sistema informático do Parque a partir do qual
se perderam os registos anteriores.
O movimento e ocupação do Parque bem como a ausência de obras de
conservação/manutenção relevantes foi de resto de forma totalmente isenta aflorada por duas
testemunhas que estacionam, por motivos profissionais, diariamente no Parque e nenhuma
relação têm com a sociedade "Alto do Parque" - Abel Saturnino da Silva Pinheiro e Teima Sofia
Dias Ribeiro.

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=---~c-._._-­
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Foi inquirida, ainda, como testemunha Isabel Cristina da Silva Martins Alegria,
inspectora tributária, que efectuou a peritagem realizada pela Autoridade Tributária que se
encontra junta aos autos e que motivou uma correcção aos valores declarados pela sociedade
"Alto do Parque", que disse confirmar as conclusões do Relatório junto a fls. 392.
A forma como o arguido geriu a sociedade assistente e a ausência de elementos
contabilísticos foi ainda explicada e concretizada por Olga Maria Frade de Sousa, actualmente
responsável pela contabilidade da sociedade.
Deu conta dos cheques passados pela empresa sem justificação: de facturas
relativas a bens adquiridos que nada tinham a ver com a actividade da sociedade e das
conclusões a que chegou e que se mostram também vertidas do relatório que foi efectuado pela
Autoridade Tributária depois da auditoria realizada.
Aludiu à falta de documentação e registos que motivam até hoje que a conta a
regularizar se mantenha com um valor elevadíssimo.
Foi também ouvido como testemunha Marco Daniel Antunes, amigo do arguido e
funcionário da "Alto do Parque" entre 2008 e início de 2012. Sem necessidade de
detalhadamente descrevermos o que foi dito por esta testemunha, diremos que se tratou de um
depoimento que não nos mereceu qualquer credibilidade atenta a forma pouco coerente e isenta
como foi prestado.
Na verdade, esta testemunha foi a única que trouxe conhecimentos totalmente
desconformes não só ao que foi relatado por todos oS outros funcionários do Parque como
também àquilo que resulta dos diversos documentos juntos aos autos.
Teve conhecimento de obras que mais ninguém teve; viu uma ocupação no Parque
diferente da dos demais e justificou a não migração da informação registada no sistema
informático como decorrente de uma impossibilidade técnica que lhe foi transmitida pelos
responsáveis da "Resopark".
Teve conhecimento de uma diminuição das receitas das avenças mensais; de avarias
constantes no sistema informático do Parque, da prestação de um mau serviço por parte da
"Resopark", de obras avultadas na rompa de acesso (abertura no betão para alargamento das

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'relef: 213218300 Fax: 21 1545127 Mail: lisboa.val'cr78@tribunais.org.pt

curvas), enfim de uma situação unicamente descrita por si que até poderia levar o tribunal a
pensar que não estaríamos a falar do mesmo Parque.
É certo que poderemos questionar a razão do tribunal entender que foram os
outros funcionários que falaram verdade e não Marco Antunes, mas a mesma é facilmente
compreensível após uma análise cuidada da prova efectuada em julgamento e da sua conjugação
com a vasta prova documental junta aos autos.
Foram ouvidas várias testemunhas, desde funcionários do Parque, a utentes que
nenhuma relação tem com a sociedade assistente, contabilistas, técnicos da empresa que
prestava assistência ao sistema informático do Parque e todas viram e relataram a mesma coisa,
excepção feita curiosamente a esta testemunha, cuja proximidade ao arguido e às próprias
situações relatadas resultou mais do que evidente.
Não pode ignorar o tribunal que Marco Antunes foi várias vezes descrito como o
braço direito do arguido; como a pessoa que procedia ao levantamento de quantias monetárias
da máquina de pagamentos e provenientes das avenças que nunca foram depositadas na conta
bancária da assistente; que foi quem esteve presente na substituição do sistema informático e
do computador dando a indicação de não migração de dados; que se quis inteirar de como se
poderiam apagar os registos do computador enfim.
As incoerências daquilo que descreveu aliada ao conteúdo das situações descritas
por diversas testemunhas, cuja isenção não podemos nem temos qualquer razão objectiva para
colocar em causa, não nos deixam qualquer dúvida na desconsideração daquilo que foi o seu
depoimento.
Por último, cumpre aludir à prova documental de fls. 886 a 890 (informação que foi
remetida pela AT já na fase final do julgamento) que de forma inequívoca veio demonstrar a
factualidade descrita pelo assistente - a utilização por parte do arguido Francisco Guimarães
de dinheiro/receitas da sociedade para pagamento de quantias e despesas totalmente alheias à
sociedade "Alto do Parque", em beneficio de terceiras entidades consigo relacionadas.
Obviamente que perante tal informação ficou totalmente descredibilizada a defesa
do al'guido que finda a produção de prova prestou declarações admitindo as evidências que já
não tinha forma de negar.

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Processo n° 136~/13.0TDLSB
Juízo Central Criminal de Lisboa - Juíz 22
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Analisada a contestação do arguido o mesmo, ponto 119, afirmava que OS cheques


mencionados na pronúncia respeitavam todos a pagamentos de obrigações pecuniárias próprias
da sociedade "Alto do Parque"; a obrigações naturalmente suas ou outras consigo relacionadas e
cujo pagamento tinha sido efectuado por acordo de todos OS sócios.
Obviamente que, com a informação solicitada à AT pelo Tribunal e junta aos autos,
a sua defesa ficou totalmente descredibilizada.
Relativamente a este concreto aspecto cumpre referir que OS valores referidos nas
diversas alíneas do ponto 16 da factual idade dada por provada teve por base a informação
enviada pela Autoridade Tributária (fls. 886 a 891) tendo-se o tribunal limitado a apurar,
relativamente a cada um dos cheques emitidos pelo arguido Francisco Guimarães, o valor em que
a assistente ficou prejudicada, ou seja, o valor por si suportado com o pagamento de impostos
de sociedades terceiras.
Ao contrário do pugnado pela defesa do arguido o tribunal entendeu que os
pagamentos de impostos da sociedade "Moldihouse" também devem ser considerados para
efeitos do cálculo do prejuízo sofrido pela assistente. Com efeito, a circunstância dos sócios
das duas empresas serem os mesmos não mitiga, altera e/ou atenua a substância e gravidade da
conduta do arguido.
A prejudicada com a actuação do arguido foi a sociedade assistente que nada tem a
ver com a responsabilidade pelo pagamento de impostos da "Moldihouse". Tal é, de resto, fácil
de compreender se desde logo pensarmos que em termos contabilísticos nunca a assistente
poderia pagar directamente imposto daquela sociedade porque também nunca poderia registar
nas sua conta de impostos (montante a pagar ao Estado), uma dívida fiscal de que não é titular
nem resulta da sua actividade.
Assim, aquilo que ficou demonstrado à saciedade é que o arguido Francisco
Guimarães geriu sozinho e de facto a sociedade "Alto do Parque" entre 2009 e Janeiro de 2013,
data da sua suspensão de funções, não de forma zelosa, responsável e diligente mas sim como se
de coisa sua se tratasse. Resolveu, através da apropriação de quantias cujo montante exacto
não Se conseguiu apurar, pagar despesas não só da assistente mas de outras sociedades em que
detinha intel'esses.

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Processo nO. 1365/13.01DL5B
Juízo Central Criminal de Lisboa - Juiz 22
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Na verdade o arguido geriu e utilizou as quantias monetárias provenientes das


receitas da assistente como se fossem coisas sua, ignorando que as receitas de uma sociedade
não são bem próprio do sócio gerente e não podem por si ser utilizadas para fins estranhos à
respectiva actividade.

Por outro lado, também, não ficaram quaisquer dúvidas de que adquiriu bens que não
se destinavam à assistente, bastará atentar em algumas facturas e ver os locais de entrega ou
analisar a sua natureza (chaves e mais chaves, entre outros) para se constatar que nada têm a
ver com a assistente não obstante ter sido esta a suportar o seu custo.
Relativamente a este concreto aspecto também não colheu a explicação dada pelo
arguido relativamente ao descritivo de algumas facturas cujos bens não poderiam como é óbvio
destinar-se à assistente.
o arguido chegou a dizer que embora algumas das facturas tivessem escrito que
respeitavam à aquisição de "chaves" tal sucedida, segundo tinha apurado à posteriori, porque não
obstante respeitarem a materiais de natureza diversa destinados à assistente o responsável da
loja por uma questão de facilidade escrevia "chaves".
A afirmação afigura-se tal destituída de sentido e veracidade que nos absteremos
de a comentar.
Quantos aos valores concretos de que o arguido Francisco Guimarães se terá
apropriado e/ou utilizado em benefício próprio ou ter terceiras entidades entendemos que
apenas se provou, com a certeza exigível, os montantes referidos no ponto 52. É certo que
resultou provado que o arguido recolheu dinheiro proveniente da máquina de pagamento
automático e do pagamento das avenças, quantias que nunca entraram nas contas da sociedade,
mas saber ao certo a quanto é que ascendeu tal quantia não foi possível.
Para além dos registos relativos à utilização do Parque e inerentes pagamentos
terem sido apagados, a verdade. é que existiram diversos pagamentos que foram feito por conta
de Caixa, ou seja, não foi possível em concreto determinar o total das receitas que o arguido
teve no período da sua gerência como também não foi possível apurar todos os custos.
Alguns dos funcionórios ouvidos em julgamento disseram que recebiam parte do
ordenado em dinheiro: existiram despesas inerentes à vida da sociedade que fo,'am pagas em

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Processe nO 1365/13.0TDL5B
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."-- ...
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numerário pelo que não se pode estimar qual a concreta quantia que o arguido usou
indevidamente.
Como certo apenas temos as quantias pagas por conta de entidades terceiras
através de cheques e os custos não relacionados com a actividade da assistente.
No que concerne às declarações do arguido apenas uma alusão breve no sentido de
referir que o mesmo tentou explicar a sua actuação no que respeita aos cheques admitindo que
efectivamente não o devia ter feito, mas que se tratou de uma atitude meramente negligente e
pouco profissional da sua parte.
Tentou fazer passar a ideia ao tribunal que não obstante ter diversas empresas nas
quais detém posições maioritárias não percebe muito de gestão ou de obrigações contabilísticas.
Apesar de reconhecer que a partir de determinada altura geriu sozinho a sociedade
"Alto do Parque" afirmou nunca ter tido a intenção de prejudicar a sociedade. Acrescentou que
ao contrário do que o assistente pretende demonstrar houve uma quebra muito grande nas
receitas do Parque; que houve necessidade de efectuar avultadas despesas em obras; que não se
lembrava da substituição do computador ter sido feita no seu tempo, assegurando nunca ter
dado ordens para que a informação não fosse migrada ou fosse apagada.
Em suma, o arguido reconheceu apenas o inevitável em face da informação junta aos
autos pela AT tentando mitigar todas as demais situações sobejamente demonstradas em
audiência, dando a entender que todo este processo resulta de uma perseguição por parte do
assistente Amâncio Dominguez.
Em face do exposto, e sem necessidade de revermos todos os depoimentos
efectuados em audiência de julgamento, sendo certo que aqueles a que não aludimos foi por não
acrescentarem nada de novo ao que havia sido referido por outras testemunhas, importa referir
que o tribunal ficou inteiramente convencido da actuação do arguido Francisco Guimarães e da
testemunha Marco Antunes, a mando daquele.
Na verdade, não temos qualquer dúvida que tudo o que Marco Antunes fez foi a
mando e sob a direcção do erguido. Foi referido por todos quantos com eles lidaram
directamente como sendo o seu braço direito, decorrendo tal ligação também de alguns dos

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documentos juntos aos autos (vide entre autos o fax junto a fls. 1017 em que aparecem como
contactos da "Alto do Parque", precisamente o arguido e Marco Antunes).
Para além do já referido cumpre apenas salientar que assumiram particular
relevância os documentos que se encontram junto aoS autos a fls. 10 a 11 (conclusões da
auditoria efectuada ela "Resopark" aos valores da facturação resultante da exploração do
Parque Chiado ao ano de 2012 e dois meses de 2013); fls. 12 a 33 (comprovativos da entrega das
declarações trimestrais de IVA referentes a 2010, 2011 elo, 2° e 3° trimestre de 2012); fls.
34 a 55 (decisão da providência cautelar que correu termos no Tribunal do Comércio e no
âmbito da qual foi decidido suspender o arguido das funções de gerência); fls. 56, 67 a 71
(certidão permanente da sociedade "Alto do Parque"); fls. 94, 95, 98 a 108 e 116 a 138 (cópias
dos cheques elencados no ponto 16 da factualidade dada por provada); fls. 96 e 97 (pedidos
efectuados por mail da contabilidade ao arguido Francisco Guimarães a solicitar a identificação
dos cheques); fls. 257 (relatório da Autoridade Tributária), fls.366 (listagem dos cheques em
causa nos autos); fls. 367 (declarações fiscais para efeitos de IVA); fls. 369 (dinheiro retirado
da máquina); fls. 370 (relatório de remoção de cofre de moedas e notas); fls. 372 a 410
(declarações periódicas de IVA desde 2005 ao 1° trimestre de 2015); fls. 411 a 446 (extractos
bancários CGD anos de 2010 a 21012); fls. 449 (relatório de auditoria "Alto de Parque", datado
de 31/12/2012 e cujas conclusões apontam para a existência de gestão danosa por parte do
arguido);fls 886 a 891 (informação da AT a que já aludimos), fls. 911 e ss (certidões
permanentes actualizadas de várias empresas detidas pelo arguido que foram beneficiárias dos
pagamentos efectuados e mencionados no ponto 16); fls. 942 a 948 (regulamento municipal
relativo ao horário de funcionamento do Parque) e fls. 1002 (documentação junta pelo arguido
relativa à facturas e a queixas relacionadas com o equipamento informático à "Resopark").
Relativamente às condições pessoais do arguido atendeu-se ao Relatório Social de
fls. 854 e quanto aos antecedentes criminais ao CRC de fls. 1057.
No que respeita à factual idade dada por não provada cumpre referir que a mesma
resultou da menor consistência ou total ausência de prova que sobre o mesmo foi efectuado.

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Processo na 1365/13.0TDL5B
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Com efeito, pelos motivos já aflorados entendemos que não resultaram provados
quais os concretos valores facturados mensalmente pela assistente durante o período de gestão
do arguido.
Já no que respeita à factualidade alegada pelo arguido em sede de contestação
diremos que a mesma se encontrava em clara contradição com o alegado pelo assistente em sede
de requerimento de abertura de instrução e que acabou por ficar sobejamente demonstrado em
sede de julgamento.
Aliás, o próprio arguido nas declaraçães que prestou, finda a produção de prova,
acabou por admitir parte da factualidade que negava de forma veemente em sede de
contestação.
É certo que as testemunhas Marco Antunes e João Paulo Parente Pombo Calado
tentaram de alguma forma corroborar a versão do arguido, contudo, a mesma não colheu quando
analisada à luz da demais prova. Foram as únicas testemunhas que atestaram ter conhecimento
de factos totalmente inverosímeis.
A título de exemplo referiremos que João Paulo Calado afirmou ser do seu
conhecimento que a gerência da assistente sempre foi, pelo menos até 2012, exercida de facto
pelos três sócios da sociedade (facto cuja falta de veracidade acabou por ser admitido pela
próprio arguido); que acreditava que o arguido Francisco Guimarães não só não tinha prejudicado
a sociedade assistente como inclusivamente teria metido dinheiro pessoal seu na sociedade para
fazer face a algumas despesas, recordando-se até de o ver entregar dinheiro do seu bolso para
pagar aoS funcionários (o próprio arguido admitiu ter usado dinheiro da sociedade, emitindo os
cheques identificados, para pagar despesas externas); referiu serem constantes os
engarrafamentos à entrada do Parque por avarias no sistema informático (facto contrariado por
testemunhas que utilizam diariamente o estacionamento), em suma, tentando ir de encontro à
defesa do arguido prestou um depoimento pouco isento e incoerente.
***********************************************

o DIREITO
Do crime de infidelidade

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--~_._-----
Processo nO J 365/13.0TDL5B
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Juízo Central Criminal de Lisboa - Juiz 22


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Encontra-se o arguido Francisco Guimarães acusado da pró ica de um crime de


infidelidade, previsto e punido pelo artigo 224° n0 1 do CP.
a crime é imputado ao arguido por via dos factos relativos à forma como exerceu a
gerência da sociedade assistente entre finais de 2009 e a sua destituição em Janeiro de 2013.
Dispõe o artigo 224° n0 1 que: "Quem, tendo-lhe sido confiado, por lei ou por acto jurídico,
O encargo de dispor de interesses patrimoniais alheios ou de os administrar ou fiscalizar, causar a esses
interesses, intencionalmente e com grave violação dos deveres que lhe incumbem, prejuízo patrimonial
ilnportante é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. "
A previsão do art. 224.° foi introduzida na 1. 0 Comissão Revisora do texto de 1982,
tendo sido então afirmado a necessidade de criar o tipo de infidelidade, com a consideração de
uma formulação genérica, ou de uma tipificação taxativa das situações, tendo-se enveredado
pela primeira, mas limitando suficientemente o tipo (BMJ 287-60).
No Preâmbulo do texto de 1982 do C. Penal eScreveu-se, a propósito do crime de
infidelidade:

"Definiu-se a inftdeltdade... - novo tipa legal de crime contra o património -, cujo


recorte, grosso modo, visa as situações em que não existe a intenção de apropriação material,
mas tão só a intenção de provocar um grave prejuízo patrimonial Além disso, ensina a
criminologia e a política criminal que estes comportamentos não são tão raros como à primeira
vista se julga. De mais a mais, no mundo do tráfico jurídico a regra de ouro é a confiança e a sua
violação pode, em casos bem determinados na lei; necessitar da força interventora do direito
penal, que apesar de tudo, tem de ser entendida, torna-se a dizer, como última ratio".
Desta forma se abandonou, a posição anterior de resolver com o recurso à
indemnização civil aS situações abrangidas pela previsão deste artigo e no domínio do Código
anterior só eram abjecto de punição criminal (como furto, abuso de confiança ou burla,
conforme as circunstâncias) Se se verificasse apropriação indevida.
a artigo 224.° do CP pressupõe que o agente actue nõo apenas com dolo intencional,
mas também com "grave violação dos deveres" que lhe competem e que o prejuízo patrimonial
causado à vítima seja "importante".

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l'r(CéSSO nO 1365/13.0TDL5B
Juízo Central Criminal de Lisboa _ Juíz 22
Av D. Jo'o II, N" 1.08.01 A _ 1900.097 Lisboa
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Telef: 213218300 Fax: 211S45127 Mail: lisboa.varcr78@tribunais.org.pt ~_./...

Acresce ainda que não existe qualquer definição do que se deva entender por
"prejuízo patrimonial importante", nem por "grave violação dos deveres", sendo a utilização de
conceitos indeterminados outro dos problemas que a redação deste artigo levanta.
Como realçou o Autor do Anteprojeto do CP de 1982, EDUARDO CORREIA, o delito
de infidelidade tem subjacente a ideia ética da confiança. Somente a pessoa a quem foi
confiado o dever de dispor, administrar ou fiscalizar interesses patrimoniais alheios, pode ser o
agente deste crime, tratando-se, por isso, de um crime específico próprio.
A relação de confiança pode resultar diretamente da lei (como, por exemplo, os
poderes dos pais, tutores e curadores em relação ao patrimónia das filhos, menares ou
inimputáveis, do cabeça de casal, do administradar judicial, entre outros) ou de acto jurídico
(como, por exemplo, a procuração com poderes para administrar o património, a indicação de
testamenteiro ou a nomeação ou eleição does) gerente(s) de uma pessoa coletiva).
A descrição típica exige assim que a conduta adoptada pelo administrador cause
prejuízo patrimonial importante ao titular dos interesses patrimoniais, isto é, ao sujeito passivo
o qual pode consistir na diminuição do activo patrimonial ou no aumento do passivo patrimonial,
bem como no não aumento do activo ou na não diminuição do passivo.
O prejuízo patrimonial tem é de ser importante. A este respeito tem entendido a
doutrina e a jurisprudência (A. Taipa de Carvalho, in Comentário Conimbricense do Cód. Penal,
Tomo II, pág. 367 e Ac. Rel.Lx. de 28/06/2001, disponível em www.dgsi.pt. com o nO
convencional JTRL00034053) que para efeitos da análise e concretização do ocnceito se deve
recorrer a um duplo critério: objectivo e subjectivo, isto é, deve atender-se à gravidade do
prejuízo em termos absolutos, mas também à situação económica em que a vítima ficou colocada.
Se a vítima fica em situação económica difícil, o prejuízo deve ser considerado importante,
mesmo que em termos absolutos ou quantitativos, não seja elevado; mesmo que a vítima não
fique em situação económica difícil, o prejuízo deve considerar-se importante, sempre que o
valor seja considerado elevado, isto é, seja superior a 50 unidades de conta, por referência ao
art. 202.° aI. a).
No crime de infidelidade relativamente a interesses patrimoniais de saciedade é o
património desta o bem jurídico protegido e, consequentemente, é o interesse desta e não dos

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seus sócios gerentes, que é protegido pela norma legal, independentemente dos danos que
poderão reproduzir-se na esfera patrimonial de cada um dos sócios.
Quanto ao elemento subjectivo, o crime em apreço exige o dolo directo ou
necessário. Basta, por isso, que o agente (administrador) tenha a consciência, saiba que a sua
conduta terá por consequência necessária o causar de um prejuízo patrimonial importante para
a pessoa cujos interesses patrimoniais tem o dever de zelar. Assim, o termo intenção deve
tomar-se no sentido da consciência ou conhecimento da inevitabilidade do resultado e, portanto,
desempenha a função prática de exclusão da suficiência do dolo eventual.
No caso em apreço, pese embora tenha resultado provado que o arguido Francisco
Guimarães sabia que os montantes titulados pelos cheques supra descritos pertenciam à
sociedade assistente e não se destinavam ao pagamento de quaisquer obrigações daquela e que
imputou custos à assistente que nada tinha a ver com o exercício da sua actividade, a verdade é
que houve da sua parte uma intenção de apropriação de tais montantes.
Com efeito, a actuação do arguido visou primeiramente, não prejudicar a assistente
sociedade da qual também era sócio, mas antes locupletar-se com quantias que sabia não lhe
pertencerem.
Assim, por falta de preenchimentos dos elementos do ilícito em causa, entende-se
que o arguido deverá ser absolvido da prática deste crime reconduzindo-se a sua actuação ao
crime de abuso de confiança.

Do crime de abuso de confiança


Encontra-se, também o arguido Francisco Guimarães pronunciado pela prática um
crime de abuso de confiança, previsto e punível pelo artigo 205° nOs 1 e 4 alínea b) do Código
Penal.
Do preceituado no artigo 205° n0 1 do Código Penal resul1a que quem ilegitimamente
se apropriar de coisa móvel de valor elevado que lhe tenha sido entregue por título não
translativo da propriedade é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.
Acrescen1a o n04 do refel'ido preceito que se a coisa referida no n0 1 for de valol'
consideravelmen1e elevado, o agente será punido com pena de prisão de 1 a Banas.

ProceSso nO 1365/13.01)l 5B
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Inserido no Título dos Crimes Contra o Património, tutela-se mediante este tipo
penal a propriedade e, tão somente, esta.
São elementos deste tipo de crime: a apropriação ilegítima, a coisa móvel e a
entrega da coisa ao agente por título não translativo de propriedade.
O preenchimento dos conceitos de coisa móvel e de título não translativo de
propriedade faz-se por referência ao direito civil, designadamente, ao Código Civil. Assim, são
exemplos de entrega por título não translativo as que ocorrem no âmbito de contratos de
depósito, locação, mandato, comissão, administração ou comodato.
A perfectibilidade do tipo, em análise, exige que a coisa tenha sido entregue ao
agente, revelando essa entrega uma relação de confiança ou de fidúcia entre o proprietário da
mesma ou seu detentor legítimo e o agente. Tal entrega pode ser prévia ou concomitante à
apropriação. Esta, forçosamente, ilegítima traduz-se na inversão do título da posse ou detenção:
o agente que recebeu a coisa uti alieno, passa, em momento posterior a comportar-se
relativamente a ela uti dominus. Justamente porque o agente já detém a coisa por efeito da
entrega, a apropriação há-de radicar-se iminentemente, numa certa intenção, numa certa
atitude subjectiva nova: o dispor da coisa como própria, a intenção de se comportar
relativamente a ela como proprietário, uti dominus, com o chamado animus rem sibi habendi
(vide, Comentário Conimbricense ao Código Penal, Parte Especial, Tomo II, p. 103).
O crime de abuso de confiança consiste, assim, no descaminho ou dissipação de
qualquer coisa móvel que ao agente tenha sido entregue de forma lícita e voluntária, por um
título ou fim que implica, a final, a restituição da coisa, ou do seu valor equivalente.
Sendo um tipo doloso o abuso de confiança pressupõe que o agente tenha a
consciência de que tem de restituir a coisa e sabendo-o queira integrá-Ia no seu património ou
dissipá-Ia.
Tal intenção de apropriação tem de ser exteriorizada, claramente revelada por
actos materiais que podem ser os mais variados. Em bom rigor, a venda, a doação, o consumo, a
dissipação, a cessão, o penhor, a caução, a ocultação (a pretexto de a não ter recebido ou de tê-
la perdido), a retenção sem causa legítima ou motivo razoável, podem evidenciar apropriação

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indevida (vide, neste sentido, Leal Henriques e Simas Santos, Código Penal Anotado, 2° Volume,
p.460).
Não basta, pois, para caracterizar a apropriação atitudes neutras como a mera
recusa de devolução da coisa, até porque esta pode ter razões legítimas a fundamentá-Ia (vide
neste sentido, José António Barreiros, Crimes Contra o Património, p. 110).
Saliente-se que o abuso de confiança é um delito especial. concretamente uma
forma de delito de dever, porquanto o seu agente só pode ser aquele que detém uma
qualificação determinada, resultante da relação de confiança que o liga ao proprietário da coisa
recebida, por título não translativo da propriedade e que fundamenta o especial dever de
restituição (vide Comentário Conimbricense do Código Penal, Parte Especial, Tomo II, P. 97).
Ora, efectuado o enquadramento jurídico do crime imputado ao arguido Francisco
Guimarães dúvidas não restam de que terá o mesmo que ser condenado pela sua prática, uma vez
que com a sua conduta preencheu tanto os seus elementos objectivos como subjectivos.
Tal como ficou demonstrado o arguido, no âmbito das suas funções de gerente "de
facto" da sociedade "Alto do Parque", efectuava a gestão das receitas auferidas pela mesma
com a exploração do parque de estacionamento identificado nos autos. Controlava,
inerentemente, as quantias que diariamente eram pagas pelos utentes do parque (através da
máquina de pagamento automático) e o saldo da respectiva conta bancária da qual, em prejuízo
da assistente e sem a autorização ou conhecimento do outro sócio, retirou paulatinamente
diversas quantias monetárias.
Com efeito, resultou provado que o arguido prevaleceu-se das funções que
desempenhava e aproveitou a confiança que em si era depositada pelo outro sócio da empresa
para gerir a referida conta e quantias monetárias em benefício próprio e de entidades terceiras
entre o período compreendido entre 2009 e inícios de 2013, data em que veio a ser suspenso de
funções.
O arguido Francisco Guimarães apoderou-se, tol como resultou provado, ao longo de
mais de três anos de uma quantia não concretamente apurada, mas seguramente superior a
132.805,03 € sabendo que a referida quantia era propriedade da empresa na qual exercia
funções de gerência. Sabia que nãa podel'ia utilizar aS quantias a que tinha acessa em função do

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cargo que exercia na sociedade assistente em proveito próprio e/ou de outras sociedades com
as quais estava relacionado.
O arguido não só utilizou dinheiro da assistente para pagar impostos de entidades

terceiras como o usou para adquirir bens que não se destinavam à "Alto do Parque".
Para além dos gastos que efectuou, que nada tinham a ver com o normal
funcionamento da empresa, o arguido apoderou-se, ainda, de quantias monetárias provenientes
da máquina de pagamentos do parque e de avenças de clientes cujo montante total não foi
possível determinar.
Ainda que o valor total com que se locupletou não tenha sido apurado, a verdade é
que dúvidas não subsistem, até porque parte da factualidade foi admitida pelo arguido, de que
agiu com o propósito logrado de se apoderar e/ou beneficiar de quantias monetárias que
pertenciam à sociedade assistente e de as integrar no seu património directa ou
indirectamente.
A quantia que foi possível com certeza apurar constitui um valor consideravelmente
elevado à luz do disposto no artigo 202° alínea b) do CP, pelos que dúvidas não subsistem que
incorrerá o arguido numa pena entre 1 a 8 anos de prisão.

Do crime de falsidade informática


Vinha imputada ao arguido Francisco Guimarães, para além do mais, a prática, em
autoria material e na forma consumada, de um crime de burla informática p. e p. pelo art. 221°
nOs 2 e 5 do Código Penal.
Não obstante, analisada a factualidade descrita em sede requerimento de abertura
de instrução e imputada ao arguido entendeu o tribunal proceder a uma alteração da
qualificação jurídica uma vez que tais factos consubstanciam não o crime de burla informática,
mas antes, e salvo melhor entendimento, o crime de falsidade informática previsto e punido pelo
artigo 3° nOl da Lei nO 109/2009, de 15 de Setembro.
Dispõe o referido preceito legal que "Quem, com intenção de provocar engano nas
relações jurídicas, introduz;r, modificar, apagar ou suprimir dados informáticos ou por qualquer outra fOrJ]/(J
intclferir num tratamento i;iformático de dados, produzindo dados ou documei1los não genuínos, com {/

Pmcesso nO 1365/13.0TDL5P
~

Juízo Central Criminal de Lisboa - Juiz 22 (/}.


Av D. João II, W 1.08.01 A- 1900-097Lisboa L ,
Telef: 213218300 Fax: 211545127 Mail: IiSboa.varCr78@'dbunais.org'Pt~ ..

intenção de que estes sejmn considerados ou utilizados para finalidades juridicamente relevantes como se o
fossem, é punido com pena de prisão até 5 anos ou multa de 120 a 600 dias. "

Sendo, "dados informáticos", na definição da alínea b), do artigo 2.° da mesma lei,
qualquer representação de factos, informações ou conceitos sob uma forma susceptível de
processamento num sistema informático, incluindo os programas aptos a fazerem um sistema
informático executar uma função".
o bem jurídico tutelado por este crime de falsidade informática não é o património,
como sucede com o crime de burla, mas antes a "integridade dos sistemas de informação" (cfr.
Ac. do TRL de 30/06/2011, proc. TRL189/09.3JASTB.L1-5, disponível em www.dgsi.pt.). através
do qual se "pretende impedir os actos praticados contra a confidencialidade, integridade e
disponibilidade de sistemas informáticos, de redes e dados informáticos, bem como a utilização
fraudulenta desses sistemas, redes e dados (..). Cada vez mais a sociedade actual depende da
utilização de sistemas informáticos, os quais contêm informação sobre todos os elementos da
vida de cada um e ao mesmo tempo que a sua ufllização se tornou banal e mesmo "vita/" para
cada um dos cidadãos. A interferência por qualquer meio nessa informação implicará graves
danos para OS cidadãos visados, que se podem traduzir na violação dos seus direitos
patrimoniais, mas em primeira linha são uma violação aos seus direitos humanos, nomeadamente
ao seu direito ao respeito pela Vida privada e familiar (artigo 8. o da Convenção de Direitos do
Homem do Conselho da Europa)." (in acórdão do TRP, 2111112012, proc. 1001l11.9JAPRT.Pl,
disponível em www.dgsi.pt).
O tipo objectivo do crime de falsidade informática previsto no nO l do artigo 3° da
Lei 109/2009 de 15 de Setembro, que aqui importa, é, assim, integrado, no plano objectivo, pela
introdução, modificação, apagamento ou supressão de dados informáticos ou por qualquer outra
forma de interferência num tratamento informático de dados, de que resulte a produção de
dados ou documentos não genuínos, consumando-se o crime apenas com a produção deste
resultado.
Do ponto de vista subjectivo, o tipo legal supõe o dolo, sob qualquer das formas
previstas no artigo 14° do C. Penal, exigindo, enquanto elemento subjectivo especial do tipo, a
intenção de provocar engano nos relações jurídicas, bem como, relativamente à produção de
dados ou documentos não genuínos, G particular intençõo do agente de que iois düdos ou
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Processo na 1365/13.üTDL5B
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documentos sejam considerados ou utilizados para finalidades juridicamente relevantes como se


fossem genuínos.
No que respeita aos bens jurídicos protegidos, podemos dizer com Pedro Dias
Venâncio, ln Crime de Falsidade Informática in JusNet 120/2010, que, apesar de oS seus
diversos números corresponderem a diferentes tipos de crime, o crime de falsidade informática
previsto no artigo 3° da Lei 109/2009 visa proteger a segurança das relações jurídicas
enquanto interesse público essencial que ao próprio Estado de Direito compete assegurar e não,
acrescentamos nós, a confidencialidade, integridade e disponibilidade de sistemas informáticos,
de redes e de dados informáticos, que corresponde ao bem jurídico protegido pelos restantes
tipos legais que, juntamente com a Falsidade informática, se encontram agrupados no capítulo
que a Lei 109/2009 dedica, indistintamente, às disposições penais materiais.
Na verdade, a Convenção sobre Cibercrime do Conselho da Europa, de 2001,
conhecida por Convenção Budapeste - adaptada ao direito interno português pela Lei 109/2009
-, prevê a Falsificação informática (art. 7°) no título II da secção de Direito penal material, sob
a designação, Infracções relacionadas com computadores, enquanto no primeiro título da mesma
secção se agrupam as Infracções contra a confidencialidade, integridade e disponibilidade de
dados e sistemas informáticos (Acesso ilícito, Intercepção ilícita, Dano provocado nos dados,
Sabotagem informática e Utilização indevida de dispositivos).
Diferentemente destes últimos tipos penais (que correspondem, grosso modo, aos
previstos no segundo capítulo da Lei 109/2009) oS bens jurídicos protegidos pelo crime de
Falsidade informática previsto no artigo 3° da Lei 109/2009, que se aproxima do crime de
falsificação comum (art. 256° do C. Penal), são antes a segurança e credibilidade dos dados e
documentos produzidos em computador mediante o tratamento informático de dados, sendo a
esta luz que deve interpretar-se aquele tipo legal.
Posto isto, temos que ln caSu, o arguido, ao actuar nos termos descritos nos pontos
47, 48 e 49, ou seja, ao substituir o computador onde se encontrava todo o registo das
entradas e saídas do parque e, consequentemente, todo o registo de pagamentos efectuados
pelos utentes na caixa de pagamento fê-lo com o claro objectivo de não poder ser
aferida/reconstituída a receita que G sociedade assistente tinha tido no período da sue gcstão.

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Tal como foi explicado por diversas testemunhas o parque tinha um sistema
informático que registava não só o número de utentes que diariamente o utilizavam como as
quantias monetárias que eram pagas em função das horas de ocupação. Toda a informação
registada nas máquinas de pagamento era automaticamente comunicada e armazenada para um
computador computador cuja substituição o arguido ordenou.
Mais, o arguido não só decidiu substituir todo o sistema informático da assistente
como decidiu apagar a informação existente,
Ao não cuidar da migração da informação registada no anterior sistema informático
de gestão/utilização do Parque e ao mandar apagar a informação armazenada no computador o
arguido sabia que seria impossível com total fidelidade saber quantos utentes teve o Parque em
cada um dos dias ou qual foi a receita auferida durante o período da sua gerência em que
decidiu locupletar-se com quantias monetárias que sabia alheias porque pertencentes à
sociedade e não a si,
O arguido agiu com o intuito de encobrir os seus actos de apropriação das referidas
quantias apagou dados e informação informática relevante, termos em que dúvidas não restam
de que preencheu todos os elementos típicos do crime de falsidade informática p, e p. pelo
artigo 3°, nOs 1 e 3, da Lei 109/2009 de 15/09.

Da Escolha e Medida da Pena


Subsumidos os factos à sua dignidade criminal importa, agora, determinar a
natureza e medida da sanção a aplicar aa arguido Francisco Guimarães.
No que tange à medida concreta da pena, é o art.71° do Código Penal que trata da
sua determinação, que será encontrada dentro da moldura legal abstractamente prevista fixada
pelo legislador no preceito lega!.
Impõe, assim, o art,?lO n0 1 do Código Penal que a pena tenha por limite máximo a
culpa e por limite mínimo as exigências de prevenção gera!.
Debrucemo-nos um pouco sobre estes conceitos, max/me sobre aS suas implicações
em sede de medida concreta da pena.

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A prevenção gerol, a que o legislador manda atender, não é o conceito de prevenção


em sentido amplo, entendendo-se este como a finalidade global de toda a política criminal, isto
é, como o conjunto dos meios e estratégias preventivos, destinados à luta contra a
criminalidade.
O conceito de prevenção geral, no sentido em que é referido no Código Penal, e
enquanto finalidade da pena, visa o reforço da consciência comunitária e do seu sentimento de
segurança face à violação da norma jurídico-penal.
Estamos, pois, perante a noção de prevenção geral positiva ou de integração.
Não se prevê, no Código Penal, a prevenção geral negativa ou de intimidação, em
relação à qual Eduardo Correia manifestou expressa e publicamente, ("Jornadas de Direito
Criminal"- As grandes linhas da reforma penal) a sua oposição e preocupação, pois temia que
caso ela fosse consagrada, o direito penal se transformasse num "direito penal de terror".
Contrariamente, a prevenção geral positiva, enquanto estabilização das
expectativas comunitárias na validade e na vigência da norma infringida, contribuirá também
como factor de reintegração do delinquente na comunidade.
Em suma, a moldura penal mínima, a estabelecer em função da defesa do
ordenamento jurídico, haverá de pautar-se por critérios alheios a quaisquer considerações
atinentes à culpa ou à prevenção especial.
Decisivo deverá ser, somente, o quantum de pena que seja indispensável para que
não se ponham em causa a crença da comunidade na validade da norma e, em consequência, os
sentimentos de confiança e segurança nas instituições jurídico-penais, max/me nos tribunais.
No que concerne ao critério em função do qual vai ser estabelecido o máximo da
pena concretamente aplicável, importa salientar que esse quantum de pena vai ser, como já
dissemos, determinado em função da culpa.
O princípio da culpa é indispensável, exercendo uma função fundamentadora e
limitadora da pena.
No realidade, a função do culpa é a de estabelecer um máximo de pena concreta,
aplicável ao agente, mas de molde o que esta seja ainda compatível com aS exigências,

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constitucionais, de preservação da dignidade da pessoa humana, próprias de um Estado de


Direito Democrático.
Assim, a culpa servirá para estabelecer o limite máximo da pena, o qual não poderá
ser ultrapassado, em obediência ao princípio basilar do nosso direito penal "nulla poena sine
culpa'~

Esta culpa deverá ser entendida como uma censura dirigida ao agente, em virtude
da sua atitude desvaliosa, documentada num determinado facto, sendo de realçar que não
relevarão para a pena, em sede de culpa, quaisquer tipos de circunstâncias atípicas ou extra-
típicas do facto.
Em seguida, e dentro da moldura penal encontrada de acordo com a culpa e a
prevenção geral, irão actuar as exigências de prevenção especial de socialização, sendo esta
finalidade a determinar, em última análise, a medida final da pena aplicável ao agente.
Quanto aos factores a ter em conta na determinação da medida da pena, também aí
o nosso Código Penal fornece indicações ou orientações indiciárias ao julgador, como resulta do
preceituado no nOZ do art.7!o.
A dosimetria penal será, assim, apurada em função da culpa do agente, que fixa o
limite máximo da pena, das exigências de prevenção geral e de prevenção especial, em função
das quais se determina, dentro da moldura penal abstracta aplicável, a pena concreta a aplicar.
Assim, na determinação da medida concreta da pena atender-se-á às circunstâncias
constantes do art.7!O do Código Penal, maxime ao grau de ilicitude, ao modo de execução do
crime, à gravidade das consequências e todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo,
deponham a favor ou contra o agente.
Veja-se, aliás, sobre esta matéria o referido no Acórdão do STJ, de !4/07/Z01O
(in www.dgsi.pt):
"(.) As finalidades da aplicação de uma pena reSidem primordialmente na tutela de
bens jurídicos e, na medida do possível, na reinserção do agente na comunidade. A pena, por
outro lado, não pode ultrapassar em caso algum a medida da culpa.
Assim, pois, primordial e essencialmente, a medida da pena há-de ser dada pela
medida do necessidade de tutela dos bens jurídicos face ao caso concreto e referida ao

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momento da sua aplicação, protecção que assume um significado prospectivo que se traduz na
tutela das expectativas da comunidade na manutenção (ou mesmo no reforço) da validade da
norma infringida. Um significado, deste modo, que por inteiro se cobre com a ideia da prevenção
geral positiva ou de integração que vimos decorrer precipuamente do princípio político-criminal
básico da necessidade da pena».
O crime de abuso de confiança pelo qual o arguido irá ser condenado é punido com

uma pena de prisão de 1 a 8 anos (cfr. artigo 205° nO l e n04 alínea b) do CP).
O crime de falsidade informática qualificada com uma pena de prisão até 5 anos

(cfr. artigo 3°nol da Lei nO 109/2009, de 15 de Setembro).


No caso dos autos, não poderemos deixar de atentar na circunstância de o arguido
Francisco Guimarães ter actuado com dolo directo, sendo intenso e acentuado, do mesmo modo,
o desvalor da sua conduta, não só pelas relações profissionais e de confiança que o ligavam aos
assistentes (recordemos que era sócio gerente da sociedade ofendida), mas também pelo facto
de ter agido movido apenas por interesses de carácter económico.
Há a considerar, igualmente, a gravidade da ilicitude dos actos do arguido. Nesta
vertente, e quanto ao crime de abuso de confiança, atenta o mesmo contra o património da
assistente sociedade e dos demais sócios, sendo que no caso dos autos foi posto em crise e
efectivamente prejudicado o património da sociedade "Alto do Parque" num valor bastante
considerável ainda que não totalmente apurado.
A conduta traduzida na apropriação e uti Iização de quantias monetárias da
sociedade ofendida para proceder ao pagamento de despesas de entidades terceiras nas quais
detinha interesses seus ou para a aquisição de bens que não se destinavam à assistente é grave
em termos de ilicitude, uma vez que permite o desenrolar de transacções comerciais que têm na
sua base o recurso a valores monetários à revelia da respectiva titular, com o prejuízo imediato
consequente para esta e mediato para as outras entidades envolvidas e para o normal
desenvolvimento das relações comerciais.
Acresce ao que Se disse quanto ao prejuízo "pecuniário" im(.diato desde logo
causado pela actuação de Francisco Guimarães que foi possível apurar com certeza, uma outra
dimensão desse prejuízo relativa Ô ossunção, pela próprio lesada, de riscos de liquidez de

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tesouraria em face de situações que não correspondiam à verdade e a que ela sociedade era
alheia.
Veja-se a gravidade da actuação do arguido, desde logo, pela situação em que
colocou a sociedade assistente perante a administração tributária. A "Alto do Parque" emitiu
cheques para pagamento de impostos em montantes muito superiores aqueles que eram por si
devidos ao Estado e, não obstante, foi alvo de execuções fiscais por parte deste. Tudo porque o
arguido Francisco Guimarães utilizou o dinheiro da sociedade não para pagar custos da mesma,
mas dele próprio e de outras sociedades nas quais detinha interesses.
Os valores de que o arguido se apropriou e utilizou indevidamente assumem
expressão relevante para a generalidade das empresas.
Considerados objectivamente, oS actos praticados pelo arguido, que recorde-se era
sócio gerente da sociedade assistente e gozava da total confiança inerente ao desempenho das
suas funções profissionais, são susceptíveis de causar alarme social e de perturbar de forma
bastante relevante o comércio jurídico e as próprias relações profissionais, atenta também a
relativa "facilidade" com que actuava e como conseguiu alcançar os seus objectivos.
Com a prática do crime de falsidade informática o arguido colocou em causa a
integridade de determinados dados e informação cuja relevância e preservação era também
essencial para a sociedade assistente e para o controle por parte de outras entidades,
nomeadamente para a acção fiscalizadora por parte do Estado.
Com os seus actos, foi a própria segurança e credibilidade no tráfico jurídico
probatório resultante dos dados informáticos que apagou que foi posta em crise pelo arguido
Francisco Guimarães.
É particularmente grave nos autos a actuação do arguido, uma vez que a mesma se
mostra transversal à totalidade dos factos. O arguido levou a cabo uma actividade falsária
bastante desenvolvida e bem elaborada, e também reveladora de acentuado investimento
logístico e intelectual - o que, tudo, se reflectia na reconhecida eficácia e "qualidade" da sua
actuação descoberta apenas volvido um lapso de tempo considerável.
São, por tudo isto, também prementes aS exigências de prevençõo geral.

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~~-- -:-:-::-:-::-cc-::-:c=.
Pro ce""" nO 1365/13.0TDLSB
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Milita a favor do arguido a circunstância de ter acabado por admitir a prática de


alguns actos, de ter demonstrado arrependimento pela forma pouco profissional, cuidada e
rigorosa com que desempenhou as funções de gerente da assistente, de, à data da sua prática,
não ter antecedentes criminais o que não em si mesmo não configura nada de relevante, dado
que aquilo que se exige a qualquer cidadão é que paute o seu comportamento de acordo com aS
normas vigentes numa sociedade, e a inserção familiar e social de que beneficia.
Não obstante, estamos perante um arguid que, pese embora a sua idade, instrução e
inserção profissional, social e familiar, num momento de dificuldade financeira evidenciou um
manifesto desprezo pelos mais elementares valores que regem uma sociedade. Não se tratou de
um acto isolado ou irreflectido, tratou-se de uma actuação reiterada ao longo de um lapso
considerável de tempo.

Assim, em face de todo o exposto, da factualidade que resultou provada e da


gravidade dos factos cometidos pelo arguido é nosso entendimento, sob pena de se passar para
a sociedade em geral um sentimento de impunidade, que as exigências de prevenção especial que
o presente caso requer apenas ficam acauteladas com a aplicação de penas de prisão situadas
acima dos limites mínimos das penas legalmente previstas tanto para o crime abuso de confiança
como para o crime de falsidade informática, pelos quais deve ser condenado.
Não deixará, obviamente, o tribunal de atender aos montantes com que o arguido se
locupletou; ao número de cheques adulterados, à natureza dos bens adquiridos e aos diferentes
expedientes a que recorreu para levar a cabo a sua actuação.
Destarte. em face da moldura abstractamente aplicável. do já exposto e tudo
sopesado. tem-se por inteiramente justo, adequado e proporcional condenar;
» o arguido Francisco Guimarães. numa pena de 3 anos e 6 meses de prisão. pela

prática do crime de abuso de confiança;


» o arguido Francisco Guimarães na pena de 1 ano e 3 meses de prisão pela prática

do crime de falsidade informática.

Do cúmulo .Tuddico das penas apliccdas 00 .grguido Francisco Eduol'do Morais de


Oliveira Marques Guimarétes

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Processo r' 1365/13.üTDL5B
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Face ao exposto, haverá que fazer o cúmulo das penas ap . adas ao arguido, nos

termos do disposto no artigo 770 do CP.


Dispõe o referido preceito que "Quando alguém tiver praticado vários crimes antes de
transitar em julgado a condenação por qualquer deles é condenado numa única pena. Na medida
da pena são considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente. (n01)
A pena aplicável tem como limite máximo a soma das penas concretamente aplicadas
aos vários crimes, não podendo ultrapassar 25 anos tratando-se de pena de prisão e 900 dias
tratando-se de pena de multa; e como limite mfnimo a mais elevada das penas concretamente
aplicadas aos vários crimes. (n02)".
A medida da pena a atribuir em sede de cúmulo jurídico tem uma especificidade
própria.
Por um lado, está-se perante uma nova moldura penal mais abrangente. Por outro,
tem lugar uma específica fundamentação, que acresce à decorrente do artigo 71 0 do Código
Penal.
Como refere Figueiredo Dias, in Direito Penal Português - As Consequências
Jurídicas do Crime, Aequitas, Editorial Notícias, 1993, §§ 420 e 421, págs. 290/2, a pena
conjunta do concurso será encontrada em função das exigências gerais de culpa e de prevenção,
fornecendo a lei, para além dos critérios gerais de medida da pena contidos no art. 72 0 -1 (actual
71 0 -1), um critério especial: o do artigo 770 , nO l, 2 a parte.
Explicita o Autor que, na busca da pena do concurso, "Tudo deve passar-se como se
o conjunto dos factos fornecesse a gravidade do ilfcito global perpetrado, sendo decisiva para a sua
avaliação a conexão e o tipo de conexão que entre os factos concorrentes se verifique.
Na avaliação da personalidade - unitária - do agente relevará, sobretudo, a questão de
saber se o conjunto dos factos é reconduzfvel a uma tendência (ou eventualmente mesmo a uma
«carreira») criminosa, ou tão s6 a uma pluriocasionalidade que não radica na personalidade: s6 no
primeiro caso, já não no segundo, será cabido atribuir à pluralidade de crimes um efeito agravante
dentro da moldura penal conjunta".

E acrescenta que "de grande relevo será também a análise do efeito previsfvel da pena
sobre o comportamento futuro do agente (exigências de prevenção especial de socialização)".

Na consideração dos factos (do conjunto dos factos que integram oS crimes em
concurso) está ínsita uma avaliação da grovidode da ilicitude global, que deve ter em conto as
ccnexões e o tipo de conexão entre os factos em concurso (neste sentido, acórdãos do STJ', de
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09-01-2008, CJSTJ 2008, tomo 1, pág. 181; de 06-02-2008, processos n.os 129/08-3° e
3991/07-3° CJSTJ 2008, tomo I, pág. 221; de 06-03-2008, processo n.o 2428/07 - 5°; de 13-
03-2008, processo n.o 1016/07 - 5°; de 02-04-2008, processos n.os 302/08-3° e 427/08-3°;
de 09-04-2008, processo n.o 1011/08 - 5°; de 07-05-2008, processo n.o 294/08 - 3°; de 21-05-
2008, processo n.o 414/08 - 5°; de 04-06-2008, processo n.o 1305/08 - 3°; de 27-01-2009,
processo n.o 4032/08-3°) - cfr. Ac. STJ in Processo nO 8523.06.1, desta 3° Secção supra
citado e que vimos seguindo de perto.
A moldura abstracta do concurso tem como limite mínimo a mais elevada das penas
concretamente aplicadas, e como máximo a soma de todas elas, mas sem ultrapassar os 25 anos
de prisão.
No caso concreto, tendo em atenção as penas parcelares agora aplicadas ao arguido
Francisco Guimarães, a moldura penal a aplicar em cúmulo tem os seguintes limites:
Mínimo: prisão de 3 anos e 6 meses de prisão (a mais elevada das penas
concretamente aplicadas aos dois crimes) e o limite máximo de prisão de 4 anos e 9 meses de
prisão (a soma das penas concretamente aplicadas aos crimes pelos quais vai ser condenado).
A pena única tem de socorrer-se dos parâmetros da fixação das penas parcelares,
podendo funcionar como "guias" na fixação da pena do concurso.
A sua fixação - tal como resulta da lei - não se determina com a soma dos crimes
cometidos e das penas respectivas, mas da dimensão e gravidade global do comportamento
delituoso do arguido, pois tem de ser considerado e ponderado um conjunto de factos e a sua
personalidade "como se o conjunto dos factos fornecesse a gravidade do ilícito global
perpetrado" (Figueiredo Dias, supra citado)
Atento tudo o que se deixou dito, é óbvio que na pena única a aplicar, terá de
relevar a medida de cada uma das penas concretas aplicadas por cada um dos crimes cometidos
pelo arguido.
Quanto à ilicitude, entendida como juízo de desvalor da ordem jurídica sobre um
comportamento, por este lesar e pôr em perigo bens jurídico-criminais, sendo os bens tutelados
(neste caso, o património do assistente e integralidade de diversos dados informáticos) - será
de considerar como bastante elevada.

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Quanto à modalidade de dolo, o arguido agiu com dolo directo e intenso.


Na avaliação da sua personalidade, importa reter o que consta dos factos dados
como provados, nomeadamente, as suas condições de vida, inserção social, familiar e
profissional.
Não obstante a gravidade dos factos, a verdade é que atentas as explicações
trazidas pelo arguido a julgamento, cremos que poderá considerar-se que os ilícitos praticados
são o resultado não de um acto fortuito, dado evidenciarem uma actuação pensada e organizada,
atento nomeadamente o lapso de tempo durante o qual perduraram.
Neste contexto, valorando os ilícitos globais perpetrados, ponderando em conjunto
a gravidade dos factos e a sua relacionação com a personalidade do arguido entendemos justa,
adequada e proporcional (face às penas parcelares aplicadas e supra descritas) a seguinte pena
única - 4 (quatro) anos de prisão.

*
Da eventual suspensão da execução da pena de prisão aplicada ao arguido
Prevê o artigo 50° do Código Penal que "o tribunal suspende a pena de prisão
aplicada em medida não superior a cinco anos se, atendendo à personalidade do agente às
condições da sua Vida, à sua conduta anterior e posterior ao crime e às circunstâncias deste,
concluir que a simples censura do facto e a ameaça da prisão realizam de forma adequada e
suficiente as finalidades da punição'~
Considerando o teor deste preceito legal, impõe-se concluir que a medida da pena
única em que o arguido foi condenado nestes autos, admite a possibilidade da sua suspensão,
havendo que equacionar se deverá aplicar-se o regime da suspensão, aliós como sempre acontece
nas situações em que a medida da pena o admite, sendo este o entendimento jurisprudencial
dominante (cfr. Ac. do STJ de 09/11/2005 in CJ, 05, rII, p.209).
O legislador penal traça um sistema punitivo que parte da ideia fundamental de que
as penas devem ser sempre executadas com um sentido ressocializador, (dando inclusivamente
uma clara preferência à pena de multa - art.700 do Código Penal), afirmando expressamente no
art.400 do Código Penal que as penas visam a protecção de bens jurídicos e a reintegração do
agente na sociedade, ou seja, por outras palavras, as penas têm por fll1alidade a prevenção geral

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(esta na perspectiva positiva de integração e de reforço da consciência jurídica comunitária e


do seu sentimento de segurança face à violação da norma, enquanto estabilização das
expectativas comunitárias na validade e na vigência da norma infringida) e a prevenção especial.
O sistema punitivo plasmado no Código Penal português parte da ideia nuclear de
que a pena tem por objectivo a ressocialiazação, e que, em consequência, a efectiva aplicação
das medidas detentivas apenas deverá ter lugar nos casos mais gravosos, como uma ultima ratio.
A suspensão da execução da pena de prisão vem entroncar na trave mestra do
pensamento legislativo, uma vez que evita o cumprimento efectivo de uma pena de prisão,
fazendo sentir ao agente a forte reprovação da sociedade pelo seu comportamento, mas dando-
lhe a oportunidade de, em liberdade, se ressocializar, no sentido de moldar os seus
comportamentos aos comandos jurídicos, face à censura realizada e perante a ameaça do

cumprimento efectivo de uma pena de prisão.


Como é óbvio, a suspensão da execução da pena, não é, nem podia ser, uma medida
de substituição automática da pena de prisão, apenas devendo ser aplicada nos casos em que o
tribunal considere, em face da personalidade do agente, das condições de vida, da conduta
anterior e posterior ao crime e das circunstâncias do crime que a simples censura do facto e a
ameaça da prisão se bastam para afastar o agente da prática de novos factos criminalmente
ilícitos.
Conforme refere Figueiredo Dias in Direito Penal Português - As Consequências
Jurídicas do Crime, p.342-343 "( .. .}o tribunal, atendendo à personalidade do agente e às
circunstâncias do facto, conclua por um prognóstico favorável relativamente ao comportamento
do agente(..)'.
Todavia, acrescenta o Ilustre Mestre que "(..) a suspensão da execução da prisão
não deverá ser decretada se a ela se opuserem aS necessidades de reprovação e prevenção do
críme/~

Ora, pese embora a gravidade e censurabi lidade do conduta preconizada pela


arguido Francisco Guimarães e o desvalor social e jurídico que a mesma assume, não ignora o
tribunal que o arguido não tinha à data antecedentes criminais pelo prática de crimes de
idêntica natureza e se encon1 ra inserido em termos pt'ofissionais, sociais e familiares.

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Processo nO 1365/13.0TDL5e
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Possui hábitos de trabalho, pelo que entendemos, por ora, ser possível formular um
juízo de prognose favorável de que daqui para a frente conformará a sua vontade de acordo com
o direito e os valores jurídicos vigentes e que a situação apreciada nos presentes autos não terá
passado de uma infeliz, mas grave, fase da sua vida.
Assim sendo e. atendendo a todas estas circunstâncias, entende-se que a simples
censura do facto e a ameaça da pena de prisão bastarão para, por ora, satisfazer as
necessidades de reprovação e prevenção dos crimes em causa, logrando-se obter o efeito
dissuasor e reintegrador que se pretende com a aplicação de uma sanção penal, motivo pelo qual,
se decide suspender a pena de prisão aplicada ao arguido por período igual ao da respectiva
pena.
Dispõem os artigos 51° e 53° do CP que o tribunal pode determinar que a suspensão
seja subordinada ao cumprimento de deveres impostos ao condenado e acompanhada de regime
de prova, se o considerar conveniente e adequado a promover a reintegração do condenado na
sociedade.
Pese embora a natureza dos factos em causa nos presentes autos e o prejuízo que a
conduta do arguido causou à sociedade assistente, veio a mesma informar os presentes autos
que não seria deduzido qualquer pedido de indemnização civil porquanto tal questão se encontra
a ser apreciada em sede de acção civil. Assim, e por forma ao arguido sentir a gravidade da sua
conduta entendemos ser de aplicar não a obrigação prevista no artigo 51° nO l alínea a), a de
aplicação mais evidente num caso como o que analisamos, mas sim a prevista na alínea c).
Destarte, atendendo à gravidade dos factos praticados pelo arguido, às exigências
de prevenção geral que o caso requer e entendendo o tribunal que o mesmo deverá sentir a
gravidade das suas condutas, bem como o desvalor jurídico que as mesmas representam decide-
se subordinar a suspensão da pena aplicada:
» à condição de nos termos do disposto no artigo 51°, nO l alínea c), o arguido
entregar a uma instituição social, in caso à "Ajuda de Berço", durante o período de um ano a
contar do trânsito da presente decisão, a quantia de 5.000 € (cinco mil euros) do qual deverá
feita provo nos presentes autos;

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Processo n° 1365/13.0TDL5B
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» à condição do arguido ser acompanhada por um regime de prova devendo


nomeadamente ser elaborado, pelos serviços competentes, um plano de reinserção social que
permita ao arguido consciencializar-se da gravidade da sua conduta e da necessidade de passar
a pautar os seus comportamentos de acordo com o direito e com as normas sociais vigentes.

************************************************

DECISÃO
Nas termos e pelos fundamentos expostos acordam os juízes que constituem o
Tribunal Colectivo em julgar a pronúncia parcialmente procedente nos termos supra
expostos, e em consequência:
1. Absolver o arguido Francisco Eduardo Morais de Oliveira Marques
Guimarães da prática de um crime de infidelidade, ilícito previsto e punido nos termos do
artigo 224° n01 do Código Penal.
2. Condenar o arguido Francisco Eduardo Morais de Oliveira Marques
Guimarães, pela prática de um crime de abuso de confiança, este previsto e punido pelo
artigo 205° n01 e n04 alínea b) do Código Penal, na pena de 3 (três) anos e 6 (seis) meses de
prisão.
3. Condenar o arguido Francisco Eduardo Morais de Oliveira Marques
Guimarães, na sequência da alteração da qualificação jurídica oportunamente comunicada,
pela prática de um crime de falsidade informática, previsto no artigo 3° n01 da Lei nO
109/2009, de 15 de Setembro, na pena de 1 (um) ano e 3 (três) meses de prisão.
4. Condenar, em cúmulo jurídico, o arguido Francisco Eduardo Morais de
Oliveira Marques Guimarães na pena única de 4 (quatro) anos de prisão suspensa na sua
execução por igual período de tempo, mediante a condição de o arguido, no prazo da
suspensão:
» ser acompanhada por um regime de prova;
» entregar no prazo de 1 ano a contar do trânsito em julQado da presente
decisão à associação "Ajuda de Berço". o quantia de 5.000 € (cinço mil euros), pagamento
que deverá comprovaI". nos presentes autos.

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Processo nO 1365/13.01 DLSB
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5. Condenar ainda o arguido Francisco Eduardo Morais de Oliveira Marques


Guimarães no pagamento das custas criminais do processo, no valor de 4 UC's de taxa de
justica, nos termos do disposto nos artigos 513°, n01 do CPP e 8°, n05 do RCP e tabela
III anexa ao mesmo regulamento.

~ Proceda-se ao depósito do presente acórdão na secretaria deste Tribunal nos


termos do art O 372° n.o 5 do CPP.

~ Após trânsito, remeta boletins ao Registo Criminal.

~ Com cópia da decisão ora proferida, oficie à DGRSP no sentido de ser efectuado
o plano de reinserção social a que alude o artigo 53°, nO 2 do CP.

~ Após trânsito, para efeitos de investigação criminal, e caso se mantenha a


condenação em pena de prisão em medida igualou superior a 3 (três) anos, ainda que suspensa
na sua execução, solicite ao INML a recolha de perfil de ADN do arguido e a sua inserção em
base de dados de perfis de ADN, ao abrigo do disposto nos artigos 1°, n02, 8°, n02, 15°, nOl
alínea e), 16°, Ir e 18°, n03, todos da Lei 5/2008, de 12/02.
A recolha é obrigatoriamente precedida do cumprimento, por escrito, do direito
de informação ao arguido, previsto nos artigos 9° e 17° n03 alínea b) da referida Lei.
Informe o INML da pena aplicada ao arguido.

Lisboa, 1 de Outubro de 2018 (elaborado pela juiz


presidente e integralmente revisto pelo colectivo de juízes)

Mal'garida Alves

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Processo na 1365/13.0TDL5B
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Artur Cordeiro

, via Costa

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Processo nO 1365/130TDLSB

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