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Estudo entre o pensamento de Durkheim e Karl Marx quanto ao objeto da sociologia e os métodos

utilizados pelos mesmos ao abordar a realidade social e posicionamento do autor ante os dois pensadores

na atualidade.

Começaremos nossa análise a partir do objeto de estudo de cada autor, verificando, desde já, existir entre

eles diferenças sensíveis e antagônicas. Enquanto Durkheim atem-se ao estudo do “fato social”, com a

sociedade determinando as ações do indivíduo, Marx procura entender os movimentos da sociedade tendo

como objeto as “relações sociais” e a “luta de classes” transformando os fenômenos sociais e para

Durkheim a luta entre as classes expressa anormalidade no que tange às relações sociais.

Utilizando-se do método positivo, apoiado na observação, indução e experimentação é que Durkheim

tenta formular proposições que estabeleçam relações constantes entre os fenômenos, os chamados “fatos

sociais”, a fim de compreender a maneira de agir fixa ou não do indivíduo, obedecendo a coerção exterior,

determinada pela sociedade sobre o mesmo, implicando, assim, que a sociedade se impõe ao indivíduo,

ditando a ele normas de comportamento, e que a ele compete, apenas, assimilá-las, não importando se

haveria interesses ou motivações individuais que determinassem o “fato social”, haja vista, para ele ser o

todo mais importante do que as partes que o compõem, sendo cada indivíduo, portanto, apenas um

átomo na grande química que é a sociedade.

Segundo ele, um dos fatores de agregação da sociedade é a “divisão do trabalho”, tendo em vista a

interdependência entre os indivíduos, advinda da mesma, como consequência das especializações nas

tarefas, identificando, aqui, a coerção da consciência coletiva sobre as consciências individuais.

Os fenômenos que constituem a sociedade têm sua origem na coletividade, onde os “fatos sociais” são

formados pelas “representações coletivas”, através de suas lendas, mitos, religião, e crenças morais que

são legadas de geração para geração, acrescentadas de experiências e sabedoria acumuladas, sendo

assim, de forma muito particular, infinitamente, mais rica e complexa do que a do indivíduo, reafirmando a

teoria de que a sociedade é que determina o indivíduo.

Mesmo estudando fatos já cristalizados, que para Durkheim, constituem “maneiras de ser” sociais, tais

como: forma de nossas casas, nosso vestiário, a linguagem escrita, são para ele, realidades exteriores à

vontade dos indivíduos, tornando-os, assim, “fatos sociais”, que possuem ascendência sobre eles,

arrastando-os e influenciando-os, ditando normas e costumes que são internalizados nos indivíduos,

através da educação. Não educamos nossos filhos como queremos, mas sim da forma que a sociedade

admite e propõe, pois muito do que passamos aos mesmos já existia antes deles.

Se, porventura, tentamos escapar aos ditames de normas pré-estabelecidas, violando uma regra moral ou

desafiando uma lei, verificaremos toda sorte de dificuldades e obstáculos que nos serão impostos pelos
demais membros da comunidade na tentativa de nos impedir que assim procedamos para que não

sejamos punidos, mostrando-nos, sempre, que estamos diante de algo que nos é superior.

As idéias e os sentimentos coletivos não podem ser modificados ao nosso bel prazer.

A mudança é possível, no entanto, necessário se faz que vários indivíduos, através de uma ação

combinada consigam constituir um novo “fato social”. As resistências àquela seriam tanto maiores quanto

fossem a importância dos valores a serem modificados, incorrendo, assim, numa batalha feroz de forças

antagônicas, visando a consolidação, ou não, das mudanças pretendidas.

Como já dissemos, antes, segundo o pensamento de Durkheim as instituições são impostas aos

indivíduos, e eles, a elas adere, mesmo que de forma constrangedora, ainda assim, ele encontra

vantagens, tais como as regras morais, que apesar de coercitivas, a eles se apresentam como coisas

agradáveis e desejáveis, embora, impliquem em deveres que demandam esforço no seu cumprimento. A

sociedade tem vida própria, antecede e sucede aos indivíduos, tal qual um ente superior que independe

deles, possui sobre eles autoridade e ainda que os constranja, ainda assim eles a amam.

Durkheim defende que o melhor método para se explicar a função do “fato social” na sociedade, seria

através da observação, de maneira semelhante ao adotado pelos cientistas naturais, levando-se em conta,

entretanto, que o objeto do estudo dentro da Sociologia tem peculiaridades próprias, distintas dos

fenômenos naturais. No entanto, acreditava ele que investigando-se as relações de causa e efeito e

regularidade, poderia se chegar a descoberta de leis, que determinassem a existência de um “fato social”

qualquer e que por conseguinte, determinaria, este, a ação dos indivíduos.

Para ele, os fenômenos coletivos variam de acordo com o substrato social em que vivem os indivíduos,

sendo esse substrato definido pelo território em que os mesmos vivem e se movimentam, decorrendo daí

a comunicação e a interação entre os mesmos, fatos estes de relevante importância na vida social.

Ao observar um “fato social”, que ele passa a designar como “coisa”, o cientista deve afastar-se de todo e

qualquer conhecimento anterior que ele possua do mesmo, tomando-o como uma realidade exterior, sem

considerar as suas manifestações individuais, evitando, assim, interferências no resultado da pesquisa a

que se propôs. “Seu papel é exprimir a realidade, não julgá-la”. p. 27 (TÃNIA QUINTANEIRO).

Quanto ao pensamento de Marx, podemos entendê-lo como uma tentativa dele próprio de compreender a

sociedade capitalista através da “luta de classes”, onde a minoria (capitalista) dita as regras para o viver e

pensar da minoria (trabalhadores). A distância e as contradições cada vez maiores entre os que detêm os

instrumentos para a produção e os que têm apenas sua força de trabalho, constituem, assim, duas classes

básicas, cada vez mais polarizadas, que se transformam no seu objeto de estudo sociológico.
O conflito antagônico, resultante das desigualdades econômicas destas duas classes (opressores e

oprimidos) é para Marx o ponto chave das sociedades industriais modernas, onde esses setores opostos,

em seu processo de interação, buscam uma solução para as tensões resultantes de suas diferenças, ainda

que exista uma manipulação de idéias com o único intuito de engrupir o povo, através da alienação

política e cultural, para que este não perceba o vínculo entre o poder econômico e o poder político que irá

influenciar na qualidade de vida de todos.

Desse conflito, podemos destacar o antagonismo existente entre a evolução da indústria moderna e das

ciências, com a criação ou incentivo à criação de máquinas e/ou tecnologias cada vez mais avançadas,

patrocinadas pelos meios de produção (capitalistas), e em contra partida a essas novas criações o

aumento da miséria e da decadência do proletariado.

A criação dessas novas máquinas e/ou tecnologias acabariam por substituir a mão-de-obra empregada,

maximizando o lucro dos capitalistas, através da liberação de pagamento dos encargos inerentes a ela e

criando, ainda, um contingente de desempregados que seria usado como força inibidora de ação, por

parte dos que se mantêm no emprego, de qualquer demonstração de insatisfação com relação às forças

de produção, dificultando, assim, as transformações nas relações sociais entre os contrários.

Aos detentores dos meios de produção, interessa, sempre, aumentar os lucros para garantir a

manutenção do poder e seu padrão de vida. Os lucros advindos das novas tecnologias não são traduzidos

em renda para os que continuam em seus postos de trabalho, aumentado, assim, cada vez mais as

diferenças entre as classes sociais. O trabalhador comum, alienado do pensamento político, através da

negação, a ele, da educação escolar, por exemplo, não é mais dono do produto de seu trabalho,

transformando-se em assalariado da propriedade privada, determinando, assim, o crescimento dos

dependentes proletários e sua miséria. Enfim, o crescimento dos meios de produção não se traduz em

melhoria de vida dos trabalhadores. A alienação, econômica e cultural, produz no trabalhador a alienação

política, que só interessa à classe dominante, para manutenção do status quo.

Para Marx, o grau de desenvolvimento (justiça social) de uma sociedade é medido a partir das relações

sociais que envolvem os meios de produção e as forças produtivas, levando-se em consideração a “divisão

do trabalho” e a interdependência correlata a esta, através da análise crítica do que produzem e como

produzem, determinando, desta maneira, o ser. O homem, na interação com a natureza e outros homens,

procuram suprir suas carências, determinando o que produzir e como produzir, provocando a

transformação da sociedade, na busca constante por melhores condições de vida.

“A alienação imputável à propriedade privada dos meios de produção se manifesta no fato de que o

trabalho, atividade essencialmente humana, que define a humanidade (e criatividade) do homem, perde

suas características, já que passa a ser, para os assalariados, nada mais que um meio de sobrevivência.
Em vez do trabalho ser a expressão do próprio homem, o trabalho se vê degradado em instrumento, em

meio de viver.” Essa é na concepção de Raymond Aron (apud CARLOS ANTÔNIO FRAGOSO GUIMARÃES)

uma das interpretações para o pensamento de Karl Marx.

Para Heráclito de Éfeso, a realidade é um constante devir, onde o contraditório é presença marcante na

explicação do movimento, da transformação das coisas distintas entre si, porém interrelacionadas, como

assim considera a dialética.

E, através da dialética materialista é que Marx tenta explicar a realidade social, procurando mostrar que

não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, exatamente o contrário.

Para Marx a pesquisa da realidade social só seria possível se a matéria fosse investigada em seus

pormenores e nas diferentes formas de desenvolvimento, e, perquirida a conexão que há entre elas, só

assim, seria possível espelhar, no plano ideal, a realidade pesquisada. Assim ele procede na análise

minuciosa do modo de produção do capitalismo, identificando nele os elementos contraditórios, as suas

interdependências, sem esquecer que se trata de uma realidade.

É, então, através dos elementos contraditórios de cada realidade, onde o movimento, a qualidade e as

mudanças são peculiares que o método deve subordinar-se ao objeto, à matéria estudada.

Apesar de engajar-se numa teoria que ele afirma ser “crítica e revolucionária”, o próprio Marx alerta que o

método por ele usado não significa o estabelecimento da verdade, até porque não existe verdade objetiva,

apenas verdades, e alerta, ainda, para o fato de sua crítica ao modo de produção capitalista representa “o

ponto de vista do proletariado” assim como a economia clássica representa o “ponto de vista da

burguesia”, mostrando, assim, que ao contrário da metafísica, a dialética é contestadora, questionadora,

exigindo, dessa forma, um constante reexame da teoria e a crítica prática.

Para Lênin: “marxismo é um guia para ação e não um dogma”.

Finalizando essa exposição, entendo, ser, a sociedade de hoje uma conjugação do pensamento tanto de

Durkheim quanto de Marx, tendo em vista que a vida do indivíduo em muito é determinada pelos padrões

sociais ditados pela classe dominante (detentora do poder), embasada em dogmas morais, religiosos e de

condutas que são passados de geração para geração, como descreve Durkheim e, de uma forma branda,

como descreveu Marx, posto que o povo continua alienado, alijado dos seus direitos básicos, como comer,

por exemplo, numa luta de classes desleal, tal qual Davi e Golias, haja vista o desemprego crescente como

inibidor de tomada de ações por aqueles que continuam em seus postos de trabalho, sendo este, cada vez

mais degradado, espoliado, vilipendiado, tornando-se, cada vez mais meio de sobrevivência para a classe

do proletariado que é obrigado a sustentar os lucros, sempre maiores, solicitados pelo capitalista,

eternizando o conflito entre as classes.


BIBLIOGRAFIA

1. QUINTANEIRO, Tania. Um Toque de Clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte. Editora UFMG.

1995. P. 17 a 57 e 64 a 77.

2. GADOTTI, Moacir. Concepção Dialética da Educação: Um Estudo Introdutório. São Paulo. Editora

Cortez. 9ª ed. 1995. P. 15 a 38.

3. GUIMARÃES, Carlos Antônio Fragoso. Karl Marx: Gênio e Profeta. in

Internet. http://www.terravista.pt/FerNoronha P. 01 a 09.

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