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Quatro catequeses sobre a Vocação da Família

título:
A vocação da família

autor:
Coordenação Diocesana de Pastoral

data:
fevereiro 2019
Introdução

Cada família,
uma história de amor

O matrimónio é uma vocação, sendo uma resposta ao chamamento


específico para viver o amor conjugal como sinal imperfeito do amor
entre Cristo e a Igreja. A decisão de se casar e formar uma família deve
ser fruto dum discernimento vocacional. É uma autêntica vocação
divina e um caminho para a santidade. Os esposos cristãos encontram
na vida matrimonial e familiar a matéria da sua santificação pessoal.

A aposta deste ano num programa para e com as famílias pretende


traduzir o desafio pastoral lançado na Carta Pastoral "Jesus chamou os
que Ele quis…" onde se afirma que há necessidade de estimular uma
pastoral de atenção integral à família para que esta esteja no centro das
nossas preocupações pastorais quer diocesanas quer paroquiais (cf.
nº24). É urgente proclamar o Evangelho da família como «resposta às
expectativas mais profundas da pessoa humana: a sua dignidade e plena
realização na reciprocidade, na comunhão e na fecundidade. Não se trata
apenas de apresentar uma normativa, mas de propor valores, correspondendo
à necessidade deles que se constata hoje, mesmo nos países mais secularizados».
(AL 201)

#03
A vocação da família

Um estilo de vida cristã encontra o seu estímulo, apoio e


consistência no exemplo dos pais, que se torna para os nubentes um
verdadeiro testemunho. Para iluminar este caminho, seria bom animar
as famílias a crescerem na fé, estimulá-las para a leitura da Palavra de
Deus, convidá-las a criar espaços semanais de oração familiar, porque
«a família que reza unida permanece unida»; estimulá-las a participar na
Eucaristia, que é força e estímulo para viver cada dia a aliança
matrimonial como «igreja doméstica; encorajá-las a vencer a rotina
com a festa, a não perder a capacidade de celebrar em família, a alegrar-
se e festejar as experiências belas.

Desejo, sinceramente, que as catequeses agora propostas a toda a


Diocese sobre a "Vocação da família" sejam uma ajuda para uma
reflexão profunda sobre o amor que dá sentido à vida humana e ajude a
família nos muitos problemas sociais e eclesiais que a afetam nos dias de
hoje. Há que seguir em frente, sem perder a alegria, a audácia e a
dedicação cheia de esperança: «é isto o que eu peço, que o vosso amor cresça
cada vez mais em conhecimento e sensibilidade, a fim de poderdes discernir o
que mais convém» (Fl 1,9-10).

O que parece humanamente impossível torna-se possível com a


força de Deus.

Aveiro, 6 de fevereiro de 2020.

+ António Manuel Moiteiro Ramos,


Bispo de Aveiro.

#04
Apresentação

Com o presente guião colocam-se nas vossas mãos quatro catequeses,


para que possamos reflectir juntos sobre a Vocação da Família:

Encontro 1
A família, uma história de amor

Encontro 2
O matrimónio, dom e vocação

Encontro 3
Amadurecer para casar, celebrar para viver,
acompanhar para crescer

Encontro 4
A família, escola para uma cultura da vida

Cada catequese ou encontro tem sempre a mesma estrutura:

- Objetivos
- 1º Passo – Tempo de oração
- 2º Passo – Olhar o chão que pisamos
- 3º Passo – Olhar mais longe

#05
A vocação da família

- 4º Passo – Para concluir


- 5º Passo – Respostas a enviar
- 6º Passo – Oração de conclusão
- Textos de Apoio

As respostas às perguntas (5º passo) serão um contributo muito


importante para conhecer a realidade das famílias da nossa diocese.

Na Festa das Famílias, 28 de junho, serão apresentados alguns


resultados desta partilha.

As respostas devem ser enviadas, até ao dia 17 de maio, para o mail:


pastoral@diocese-aveiro.pt.

Bom trabalho.

#06
Encontro #01

A família,
uma história de amor

Vivemos uma mudança de época e, por conseguinte, é necessário e


urgente escutar a realidade das famílias e os desafios a que estas estão
sujeitas. É o que se pretende com este primeiro tema: olhar a realidade
atual da família em toda a sua complexidade, nas suas luzes e sombras,
com uma saudável atitude de humildade, realismo e autocrítica. Porque
muitas vezes "agimos na defensiva e gastámos as energias pastorais
multiplicando os ataques ao mundo decadente, com pouca capacidade
de propor e indicar caminhos de felicidade" (AL 38), queremos
empreender um caminho que coloca o amor no centro da vida cristã e
do projeto matrimonial.

Objetivos
a) Olhar criticamente e com espírito cristão as situações concretas
da vida familiar com as suas luzes e sombras.

b) Questionar as razões para a falta de confiança no projeto


matrimonial sacramental.

c) Situar o amor como centro de toda a existência e centro da vida


cristã.

#07
A vocação da família

1º Passo
Tempo de oração
O encontro deve começar por um tempo de silêncio, de serenidade, após o qual
se recita em conjunto esta oração. Evitar fazer da oração apenas mais um
texto que se lê.

Maria, Mulher da escuta, abre os nossos ouvidos;


faz com que saibamos ouvir a Palavra do teu Filho Jesus,
no meio das mil palavras deste mundo;
faz com que saibamos ouvir a realidade em que vivemos,
cada pessoa que encontramos,
especialmente quem é pobre e necessitado,
quem se encontra em dificuldade.
Maria, Mulher da decisão,
ilumina a nossa mente e o nosso coração,
para que saibamos obedecer à Palavra do teu Filho Jesus,
sem hesitações;
concede-nos a coragem da decisão,
para não nos deixarmos arrastar
para que outros orientem a nossa vida.
Maria, Mulher da ação,
faz com que as nossas mãos e os nossos pés
se movam «apressadamente» rumo aos outros,
para levar a caridade e o amor do teu Filho Jesus,
para levar ao mundo, como tu, a luz do Evangelho. Amén!

(Papa Francisco, Praça São Pedro 31 de maio de 2013)

2º Passo
Olhar o chão que pisamos
O animador do grupo propõe que se dialogue sobre a realidade da
família hoje, como cada um interpreta o que se passa com as famílias de
hoje. Não esquecer, como dizia um pensador americano, se alguém
procura problemas na família, só verá problemas; mas se procura
fortalezas, encontrará fortalezas.
#08
Encontro #01 | A família, uma história de amor

Podem fazer-se algumas perguntas para ajudar a entrar no tema:

a) Na nossa vida familiar e conjugal há a experiência de situações


complicadas, dificuldades, problemas, a que se chama muitas
vezes "crises". Indicar as situações mais frequentes.

b) Como enfrentamos essas "situações de crise"?

c) De que modo essas "crises" ajudam ao crescimento do amor


familiar e conjugal?

Também pode ser muito útil, ler os textos de apoio 1, 2 e 3 e


compará-los.

3º Passo
Olhar mais longe
Na sua carta "Cada família uma história de amor", o senhor bispo
António Moiteiro afirma que "aprender a amar alguém não é algo que
se improvisa, nem pode ser o objetivo dum breve curso antes da
celebração do matrimónio. É preciso ajudar os jovens a descobrir o
valor e a riqueza do matrimónio.

"O amor é fundamentalmente dar… É uma arte, assim como viver é


uma arte" escreveu Eriche Fromm (texto de apoio 4). A crise
fundamental, vivida hoje mais do que nunca pelas famílias, preocupa-se
precisamente com o analfabetismo afetivo, que parte da relação
fundamental entre os esposos em todas as outras áreas, gerando a
"cultura do provisório".

"Refiro-me, por exemplo, à rapidez com que as pessoas passam duma


relação afetiva para outra. Creem que o amor, como acontece nas redes
sociais, se possa conectar ou desconectar ao gosto do consumidor e,
inclusive, bloquear rapidamente. Penso também no medo que desperta
a perspetiva dum compromisso permanente, na obsessão pelo tempo
livre, nas relações que medem custos e benefícios e mantêm-se apenas

#09
A vocação da família

se forem um meio para remediar a solidão, ter proteção ou receber


algum serviço. Transpõe-se para as relações afetivas o que acontece
com os objetos e o meio ambiente: tudo é descartável, cada um usa e
joga fora, gasta e rompe, aproveita e espreme enquanto serve; depois…
adeus" (AL 39).

Tudo isso desencoraja claramente a geração mais jovem em formar


uma família, assustada pelo fracasso daqueles que fizeram essa escolha
antes deles. Com tudo isto, importa refletir e partilhar:

a) Em que sentido o amor é a realidade fundamental da vida


humana? Tem sentido a vida sem amor?

b) Porque é difícil que a beleza da cultura do "amor para sempre"


resulte atrativa face à cultura do provisório?

c) Em que medida os jovens e os adultos assumem o amor como


uma arte que se aprende?

4º Passo
Para concluir
O encontro pode terminar com um exercício de síntese do tema, tendo
o nº 57 da Amoris Laetitia como guia:

a) Que motivos encontramos para dar graças a Deus?

b) A que devemos prestar muita atenção?

c) Que esperanças nos animam e nos fazem caminhar?

#10
Encontro #01 | A família, uma história de amor

5º Passo
Respostas a enviar

1. O Papa Francisco convida-nos a olhar a realidade da família em


toda a sua complexidade, nas suas luzes e sombras. Que
diagnóstico fazemos das famílias de hoje? O que sobressai como
sombras e como luz?

2. Como deveria interagir uma comunidade eclesial/paroquial com


as várias crises familiares? O que é chamada a oferecer em nome
de Jesus?

3. Ao ser um dom de Deus, "cada família, mesmo na sua fragilidade,


pode tornar-se uma luz na escuridão do mundo." (AL 66) Que luz
irradiam as famílias atuais sobre o matrimónio, a família, o
projeto de vida?

6º Passo
Oração de conclusão
O animador convida os presentes a fazerem uma partilha sobre o que mais os
tocou no encontro. Não é preciso que todos partilhem, são suficientes dois ou
três sublinhados.
No fim reza-se o Pai Nosso.

#11
A vocação da família

Textos de apoio

#01.
Fortemente marcada por essa dinâmica de egoísmo e de egocentrismo,
a cultura do nosso tempo apresenta sinais de degradação preocupante
quanto a alguns valores fundamentais. É uma cultura do provisório,
que dá prioridade ao que é efémero sobre as realidades perenes com a
marca da eternidade: propõe que se viva ao sabor do imediato e do
momento, e subalterniza as opções definitivas, os valores duradouros.
É uma cultura do prazer, que orienta para a satisfação imediata e
egoísta dos próprios anseios e desejos: ao apresentar o amor e a
sexualidade como objeto de consumo imediato e descomprometido,
banaliza e empobrece a conceção da dimensão sexual humana e
esconde ao homem o horizonte da verdadeira felicidade. É uma cultura
do consumo e do bem-estar material: ao criar ilusões e necessidades
inúteis, ao seduzir os homens com o brilho dos bens perecíveis, ao
potenciar o reinado do «ter» sobre o «ser», escraviza o homem e
relativiza a busca da identidade espiritual. É uma cultura da
facilidade, que ensina a evitar tudo o que exige esforço, sofrimento e
luta: produz pessoas incapazes de lutar por objetivos exigentes e por
realizar projetos que exijam esforço, fidelidade, compromisso e
sacrifício. É uma cultura do indivíduo: ao sublinhar fortemente os
direitos e deveres do indivíduo, anula a dimensão de comunhão e fere de
morte a família como comunidade de vida e de amor. É uma cultura
irresponsável, que relativiza os princípios éticos: prepara leis
destinadas a regular as "crises", sem se preocupar em atacar os
comportamentos inadequados e em educar para um projeto de valores
verdadeiros. É uma cultura de morte: desvaloriza de forma dramática
a vida humana e aceita, com leviandade, que lógicas utilitaristas e
materialistas se sobreponham aos direitos das crianças não nascidas,
dos débeis, dos doentes e das pessoas idosas. É uma cultura
mediatizada: todos estes traços culturais impõem-se, continuamente,
às famílias, através da avalanche dos meios de comunicação, alterando
fortemente os ritmos familiares e não deixando espaço para um
discernimento sadio da realidade familiar.
Conferência Episcopal Portuguesa,
A Família, esperança da Igreja e do mundo, nº 12
#12
Encontro #01 | A família, uma história de amor

#02.
Nas situações difíceis em que vivem as pessoas mais necessitadas, a
Igreja deve pôr um cuidado especial em compreender, consolar e
integrar, evitando impor-lhes um conjunto de normas como se fossem
uma rocha, tendo como resultado fazê-las sentir-se julgadas e
abandonadas precisamente por aquela Mãe que é chamada a levar-lhes
a misericórdia de Deus. Assim, em vez de oferecer a força sanadora da
graça e da luz do Evangelho, alguns querem «doutrinar» o Evangelho,
transformá-lo em «pedras mortas para as jogar contra os outros».
Papa Francisco,
A Alegria do Amor, nº 49

#03.
Dou graças a Deus porque muitas famílias, que estão bem longe de se
considerarem perfeitas, vivem no amor, realizam a sua vocação e
continuam para diante embora caiam muitas vezes ao longo do
caminho. Partindo das reflexões sinodais, não se chega a um
estereótipo da família ideal, mas um interpelante mosaico formado por
muitas realidades diferentes, cheias de alegrias, dramas e sonhos. As
realidades que nos preocupam, são desafios. Não caiamos na armadilha
de nos consumirmos em lamentações autodefensivas, em vez de
suscitar uma criatividade missionária. Em todas as situações, «a Igreja
sente a necessidade de dizer uma palavra de verdade e de esperança. (...)
Os grandes valores do matrimónio e da família cristã correspondem à
busca que atravessa a existência humana». Se constatamos muitas
dificuldades, estas são – como disseram os bispos da Colômbia – um
apelo para «libertar em nós as energias da esperança, traduzindo-as em
sonhos proféticos, ações transformadoras e imaginação da caridade».
Papa Francisco,
A Alegria do Amor, 2016, nº 57

#04.
Essa atitude — a de que nada é mais fácil do que amar — tem
continuado a ser a ideia predominante a respeito do amor, apesar da
esmagadora prova em contrário. Dificilmente haverá qualquer
atividade, qualquer empreendimento que comece com tão tremendas

#13
A vocação da família

esperanças e expectativas e que, contudo, fracasse com tanta


regularidade, quanto o amor. O primeiro passo a dar é tornar-se
consciente de que o amor é uma arte, assim como viver é uma arte; se
quisermos aprender como se ama, devemos proceder do mesmo modo
por que agiríamos se quiséssemos aprender qualquer outra arte, seja a
música, a pintura, a carpintaria, ou a arte da medicina ou da engenharia.
Quais são os passos necessários para aprender qualquer arte?
O processo de aprendizagem de uma arte pode ser adequadamente
dividido em duas partes: uma, o domínio da teoria: outra, o domínio da
prática (…) Isto é verdade quanto à música, à medicina, à carpintaria —
e quanto ao amor. E talvez aí esteja a resposta à pesquisa sobre os
motivos pelos quais a gente de nossa cultura tão raramente tenta
aprender essa arte, a despeito de seus evidentes fracassos: apesar da
profundamente enraizada avidez pelo amor, quase tudo é considerado
mais importante do que o amor: o sucesso, o prestígio, o dinheiro,
o poder. Quase toda a nossa energia é utilizada em aprender como
alcançar esses alvos e quase nenhuma é dedicada a aprender a arte de
amar.
Erich Fromm, A arte de amar

#05.
Muitos dos nossos contemporâneos têm em grande apreço o
verdadeiro amor entre marido e mulher, manifestado de diversas
maneiras, de acordo com os honestos costumes dos povos e dos tempos.
Esse amor, dado que é eminentemente humano - pois vai de pessoa a
pessoa com um afeto voluntário - compreende o bem de toda a pessoa e,
por conseguinte, pode conferir especial dignidade às manifestações do
corpo e do espírito, enobrecendo-as como elementos e sinais peculiares
do amor conjugal. E o Senhor dignou-se sanar, aperfeiçoar e elevar este
amor com um dom especial de graça e caridade. Unindo o humano e o
divino, esse amor leva os esposos ao livre e recíproco dom de si
mesmos, que se manifesta com a ternura do afeto e, com as obras, e
penetra toda a sua vida; e aperfeiçoa-se e aumenta pela sua própria
generosa atuação.
Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes 49

#14
Encontro #02

O matrimónio,
dom e vocação

No momento histórico que nos coube viver, em que não poucas vezes se
confunde "amor" com "amoricos", respeito com indiferença, "para
sempre" com "enquanto dure", comunicação com monólogos,
autoestima com egoísmo encoberto, é importante determo-nos sobre o
que é o matrimónio cristão. No matrimónio tem de haver amor
verdadeiro, compromisso, fecundidade, ternura, capacidade de
sacrifício. O matrimónio cristão é aquele em que os seus membros,
homem e mulher, colocam a sua confiança no Senhor e reconhecem o
esposo/esposa como mediação privilegiada do amor de Deus. O
matrimónio, dom e vocação, é cristão quando quer ser transparência do
amor de Jesus pela sua Igreja e se sabe destinatário da oferta da graça
de Deus para realizar a sua vocação. Por isso, neste tema pretendemos:

Objetivos
a) Descrever a natureza e as características do amor conjugal:
humano, livre, total, heterossexual, fiel, exclusivo, fecundo.

b) Situar o amor em casal na sua relação com a fé para o celebrar e


viver cristãmente.

c) Sublinhar que amor humano, vivido em casal é sinal do amor e da


presença de Deus, é sacramento.

#15
A vocação da família

1º Passo
Tempo de oração

O encontro deve começar por um tempo de silêncio, de serenidade, após o qual


se recita em conjunto esta oração. Evitar fazer da oração apenas mais um
texto que se lê.

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,


se não tiver amor, sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não tiver amor, nada sou.
Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor, de nada me aproveita.
O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
1 Coríntios 13, 1-7

2º Passo
Olhar o chão que pisamos
Após o tempo de oração, o animador do grupo convida os presentes a
partilharem a característica do amor que achem mais relevante e lhe
toque de entre as que forma lidas a partir de 1Cor 13, 1-7. Não se pode

#16
Encontro #02 | O matrimónio, dom e vocação

esquecer, como afirmou o papa Bento XVI, que a palavra amor, uma das
mais usadas, muitas vezes aparece desfigurada e até abusada, à qual
associamos significados completamente diferentes (texto apoio 1).
O diálogo inicial pode ser completado com a tentativa de resposta às
perguntas:

a) Tem sentido o casamento sem amor?

b) O que é que impede, destrói e dificulta o crescimento do amor no


matrimónio? E o que ajuda mais?

c) Quais são as exigências mais importantes do amor conjugal?

Pode concluir-se esta etapa olhando detalhadamente para o texto


de apoio 2, fazendo uma síntese de resposta à última das perguntas.

3º Passo
Olhar mais longe
Casar ou não casar pela Igreja? Vantagens e desvantagens, medos,
dúvidas, incertezas, precipitações… Já ouvimos de tudo um pouco a
propósito da celebração do sacramento do matrimónio. Afinal de
contas, porque é que é importante casar na Igreja? Porque é que o
casamento é um sacramento?

O matrimónio cristão, para quem vive esta realidade tão


profundamente humana e põe a sua confiança no Senhor, é lugar de
doação, de serviço e de verdadeiro amor; é lugar de busca, de
discernimento, de eleição e revela a excelência do amor de Deus
realizado em Cristo. Escreveu João Paulo II que os esposos são "para a
Igreja a lembrança permanente daquilo que aconteceu na cruz; são um
para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação, da qual o
sacramento os faz participar." (FC13) "O matrimónio cristão é um sinal
que não só indica quanto Cristo amou a sua Igreja na Aliança selada na
Cruz, mas torna presente esse amor na comunhão dos esposos." (AL
73)

#17
A vocação da família

O amor cristão vivido por um casal em liberdade, fecundidade e


fidelidade constrói Igreja, realiza Igreja. O matrimónio cristão que é
"fruto da Igreja", ao mesmo tempo e "construtor da Igreja".
Com tudo isto, importa refletir e partilhar:

a) Esta doutrina sobre o matrimónio como sacramento é


assimilada pelos jovens nos percursos de catequese? Faz parte
dos itinerários de educação da fé?

b) Que consequências tem na vida de um casal assimilar e viver a


sacramentalidade do seu matrimónio?

c) Os casais cristão que conhecemos sentem e vivem esta realidade


sacramental do seu amor que faz deles "igreja doméstica"?
Sentem-se fruto mas também construtores da Igreja?

d) Como olhamos aqueles que vivem em situações complexas,


dolorosas ou "imperfeitas" o ideal matrimonial cristão? Como se
sentem aqueles que estão nestas situações? A linguagem e a
atitude que usamos com eles é de acolhimento, acompanhamento,
ajuda?

4º Passo
Para concluir
O encontro pode terminar com a leitura e o comentário à afirmação
convicta do Papa Francisco citada na AL 321: "querer formar uma
família é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de
sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele, a coragem de unir-se
a Ele nesta história».

Sentimo-nos parte integrante do grande sonho de Deus que é amor e


se revela no amor? Com que convicções saímos deste encontro de
reflexão? Que coragem nos anima? Estamos disponíveis para anunciar
que o matrimónio cristão é comunidade de vida e de amor?

#18
Encontro #02 | O matrimónio, dom e vocação

5º Passo
Respostas a enviar
1. Como formar, então, os jovens para uma verdadeira liberdade
interior que conduza à entrega ao outro e a uma relação de
compromisso cujo vínculo é indissolúvel?

2. O Papa Francisco recorda que o matrimónio é um dom do Senhor


(AL 61). Por isso não é um jugo mas uma maneira de viver a
liberdade. É assim que os casais vivem hoje a realidade do seu
amor conjugal?

3. Quais as condições necessárias para celebrar o sacramento do


matrimónio? O que é fundamental ter em conta?

6º Passo
Oração de conclusão
O animador convida os presentes a fazerem uma partilha sobre o que mais os
tocou no encontro. Não é preciso que todos partilhem, são suficientes dois ou
três sublinhados. No fim reza-se o Pai Nosso.

Textos de apoio

#01.
Na verdade, existe um «vasto campo semântico da palavra «amor»:
fala-se de amor da pátria, amor à profissão, amor entre amigos, amor ao
trabalho, amor entre pais e filhos, entre irmão se familiares, amor ao
próximo e amor a Deus. Em toda esta gama de significados, porém, o
amor entre o homem e a mulher, no qual concorrem indivisivelmente

#19
A vocação da família

corpo e alma e se abre ao ser humano uma promessa de felicidade que


parece irresistível, sobressai como arquétipo de amor por excelência,
de tal modo que, comparados com ele, à primeira vista todos os demais
tipos de amor se ofuscam»
Papa Bento XVI, Deus caritas est nº 2

#02.
Características do amor conjugal: Totalidade – o amor conjugal é
total, incondicional, para sempre. Apesar de frágeis e imperfeitos, os
esposos são chamados a viver um amor pleno na sua vida real. (…)
Implica também uma opção consciente por uma pessoa que se ama.
Sendo uma opção consciente, é uma escolhe e não um dever.
Reciprocidade – é um amor generoso de dupla
entrega. O amor conjugal não pode, no entanto, ser vivido como
exigência ao outro, mas antes como entrega total e confiante. Não se
ama para ser feliz, mas para fazer o outro feliz. Ainda que por amarmos
sejamos felizes ao fazer o outro feliz. (…) O amor não pode ser egoísta.
Para prevalecer tem de ser generoso e altruísta. (…) O amor conjugal é
pleno na sua demonstração de afetos. Vive-se na espiritualidade, na
comunhão de vida e na partilha generosa dos corpos. Esta partilha não
busca apenas a procriação, mas não a deve negar já que, por ela, o casal é
chamado a tomar parte na obra criadora de Deus.
CPM, Caminhada em matrimónio, páginas 65-66

#03.
O matrimónio tende a ser visto como mera forma de gratificação
afetiva, que se pode constituir de qualquer maneira e modificar-se de
acordo com a sensibilidade de cada um. Mas a contribuição
indispensável do matrimónio à sociedade supera o nível da afetividade
e o das necessidades ocasionais do casal. Como ensinam os Bispos
franceses, não provém «do sentimento amoroso, efémero por definição,
mas da profundidade do compromisso assumido pelos esposos que
aceitam entrar numa união de vida total».
Papa Francisco, A Alegria do Evangelho 66

#20
Encontro #02 | O matrimónio, dom e vocação

#04.
O sacramento do matrimónio não é uma convenção social, um rito
vazio ou o mero sinal externo dum compromisso. O sacramento é um
dom para a santificação e a salvação dos esposos, porque «a sua
pertença recíproca é a representação real, através do sinal sacramental,
da mesma relação de Cristo com a Igreja. Os esposos são, portanto,
para a Igreja a lembrança permanente daquilo que aconteceu na cruz;
são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação, da qual o
sacramento os faz participar». O matrimónio é uma vocação, sendo
uma resposta à chamada específica para viver o amor conjugal como
sinal imperfeito do amor entre Cristo e a Igreja. Por isso, a decisão de se
casar e formar uma família deve ser fruto dum discernimento
vocacional.
Papa Francisco, A Alegria do Amor, AL 72

#05.
Mas o que entendemos por «amor»? Apenas um sentimento, uma
condição psicofísica? Sem dúvida, se for assim, não será possível
construir sobre ele algo de sólido. Ao contrário, se o amor for uma
relação, então será uma realidade que cresce, e como exemplo até
podemos dizer que se constrói como uma casa. E a casa constrói-se
juntos, não sozinhos! Aqui, construir significa favorecer e ajudar o
crescimento. (…) Do mesmo modo como o amor de Deus é estável e
para sempre, assim também no caso do amor que funda a família,
desejamos que ele seja estável e para sempre. Por favor, não devemos
deixar-nos dominar pela «cultura do provisório»! Esta cultura que
hoje invade todos nós. (…) O «para sempre» não é apenas um problema
de duração! Um matrimónio não é bem-sucedido unicamente quando
dura, mas é importante a sua qualidade. Estar juntos e saber amar-se
para sempre, eis no que consiste o desafio dos esposos cristãos.
Papa Francisco, Discurso aos noivos
que se preparam para o matrimónio, 14 fevereiro 2014

#21
A vocação da família

#22
Encontro #03

Amadurecer para casar,


celebrar para viver,
acompanhar para crescer
Existe uma convicção generalizada de que é cada mais importante ver a
preparação para o matrimónio como um processo, um caminho. O papa
Francisco não se cansa de recordar que a vida familiar deve ser construída não
sobre a "areia dos sentimentos que vão e voltam", mas sobre "a rocha do amor
verdadeiro, o amor que vem de Deus". Por isso, preparar o matrimónio é um
caminho com várias etapas. "Viver juntos é uma arte, um caminho paciente,
belo e fascinante. Não acaba quando se conquistaram um ao outro, aliás é aí
mesmo que começa. Este é um caminho de cada dia tem regras que se podem
resumir em três palavras, que repito tantas vezes às famílias: com licença,
obrigado e desculpa". É preciso aprender esta arte.

Objetivos
a) Refletir sobre a natureza do amor conjugal para compreender o seu
autêntico significado: livre, total, heterossexual, fiel, exclusivo,
fecundo.
b) Compreender que se chega esta conceção de amor em casal fruto de um
processo de enamoramento e discernimento.
c) Situar o amor em casal na sua relação com a fé para o celebrar e viver
cristãmente.
d) Assumir que o matrimónio não é algo pronto de uma vez para sempre
mas é sempre projeto em caminho de concretização e aperfeiçoamento.

#23
A vocação da família

1º Passo
Tempo de oração
O encontro deve começar por um tempo de silêncio, de serenidade, após o qual
se recita em conjunto esta oração. Evitar fazer da oração apenas mais um
texto que se lê.

Senhor, cuida do nosso lar.


Que não se apague o fogo do amor.
Vela pela integridade da nossa família.
Estreita os laços do nosso mútuo afeto,
de modo que nada o consiga violar.

Dá-nos hoje o pão da Tua Palavra.


Dá-nos também o pão de cada dia.
Conserva-nos a alegria.
Guarda os nossos filhos.
Que eles tenham saúde e paz.

Fica connosco, Senhor,


já que nos reunimos em Teu nome.
Revela-nos a Tua presença,
no sorriso de nossos filhos,
no nosso mútuo afeto e, mais ainda,
nas renúncias que nos inspiras para a felicidade do nosso lar.
Ámen.

2º Passo
Olhar o chão que pisamos
O animador do grupo, após o tempo de oração, convida o grupo a
partilhar as suas experiências e opiniões do que entendem por
"preparação para o matrimónio". Pode ser interessante que os
membros do grupo, os que são casados, partilhem a sua experiência
pessoal de preparação para o matrimónio: quanto tempo durou, quem
ajudou, que caminho foi percorrido? Que luzes e sombras
experimentámos nesse caminho de preparação?
#24
Encontro #03 | Amadurecer para casar, celebrar para viver, acompanhar para crescer

3º Passo
Olhar mais longe

A preparação para o matrimónio é um desafio pastoral de primeira


ordem. O papa Francisco recorda que "o matrimónio é uma questão de
amor: só se podem casar aqueles que se escolhem livremente e se
amam." E ainda que "aprender a amar alguém não é algo que se
improvisa, nem pode ser o objetivo dum breve curso antes da
celebração do matrimónio. Na realidade, cada pessoa prepara-se para o
matrimónio, desde o seu nascimento." (ver texto de apoio 1).

Também os bispos portugueses, na sua Carta Pastoral de 2019, "A


alegria do amor no matrimónio cristão", chamam a atenção para esta
urgência pastoral. Dizem que se deve" investir numa pastoral do
namoro, em que todos, catequistas, líderes de grupos de jovens,
promotores vocacionais e demais agentes pastorais unam esforços e
trabalhem juntos de forma a, com tempo, começar a preparação e o
discernimento para o namoro, noivado e matrimónio."

Se é necessária uma preparação séria e profunda para que se possa viver


o amor fecundo, fiel e indissolúvel: (ver texto apoio 4)

a) Será a mesma coisa falar de preparação para a vida de casado e a


preparação para a celebração do casamento?

b) O que será esse discernimento? Quando deve ser feito?

c) O que deve ser a preparação remota para o matrimónio? Quem


deve estar envolvido?

d) O que deve ser a preparação imediata? Consiste em quê? Quem


deve estar envolvido?

A história de um casamento é história de salvação. É um caminho


tecido pelo respeito mútuo, apesar das diferenças; por uma
comunicação permanente para enfrentar as dificuldades inevitáveis;

#25
A vocação da família

por uma atitude de ternura para superar conflitos que a vida em comum
trás consigo; pela capacidade de arriscar por amar mais.
Sabendo que o "matrimónio não se pode entender como algo acabado",
e que "é preciso pôr de lado as ilusões e aceitá-lo como é: inacabado,
chamado a crescer, em caminho" (AL 218): quais os ingredientes que
ajudam a crescer juntos, a aprofundar esse dom e essa graça?

4º Passo
Para concluir
O encontro pode terminar com um exercício de síntese do tema, tendo
o nº 220 da Amoris Laetitia como guia:

a) Indicar as várias etapas do processo de crescimento do amor


conjugal

b) Que atitudes são imprescindíveis para que esse caminho se


concretize?

5º Passo
Respostas a enviar
1. Tendo em conta as várias fases da vida, quais os maiores
obstáculos para a compreensão do amor como caminho?

2. Como podemos ajudar mais e melhor para acompanhar o


caminho do amor dos noivos?

3. A preparação dos noivos que está a ser feita sublinha a beleza do


matrimónio como autêntica vocação que conduz à felicidade
mútua? Como?

#26
Encontro #03 | Amadurecer para casar, celebrar para viver, acompanhar para crescer

6º Passo
Oração de conclusão
O animador convida os presentes a fazerem uma partilha sobre o que mais os
tocou no encontro. Não é preciso que todos partilhem, são suficientes dois ou
três sublinhados. No fim reza-se o Pai Nosso.

Textos de apoio

#01.
Cada pessoa prepara-se para o matrimónio, desde o seu nascimento.
Tudo o que a família lhe deu, deveria permitir-lhe aprender da própria
história e torná-la capaz dum compromisso pleno e definitivo.
Provavelmente os que chegam melhor preparados ao casamento são
aqueles que aprenderam dos seus próprios pais o que é um matrimónio
cristão, onde se escolheram um ao outro sem condições e continuam a
renovar esta decisão. Neste sentido todas as atividades pastorais, que
tendem a ajudar os cônjuges a crescer no amor e a viver o Evangelho na
família, são uma ajuda inestimável a fim de que os seus filhos se
preparem para a sua futura vida matrimonial. Também não devemos
esquecer os valiosos recursos da pastoral popular. Só para dar um
exemplo simples, lembro o Dia de São Valentim, que, em alguns países,
é melhor aproveitado pelos comerciantes do que pela criatividade dos
pastores.
Papa Francisco, A Alegria do Amor, 208

#02.
O matrimónio é uma questão de amor: só se podem casar aqueles que se
escolhem livremente e se amam. Apesar disso, se o amor se reduzir a
mera atração ou a uma vaga afetividade, isto faz com que os cônjuges
sofram duma extraordinária fragilidade quando a afetividade entra em

#27
A vocação da família

crise ou a atração física diminui. Uma vez que estas confusões são
frequentes, torna-se indispensável o acompanhamento dos esposos nos
primeiros anos de vida matrimonial, para enriquecer e aprofundar a
decisão consciente e livre de se pertencerem e amarem até ao fim.
Muitas vezes o tempo de noivado não é suficiente, a decisão de casar-se
apressa-se por várias razões e, como se não bastasse, atrasou a
maturação dos jovens. Assim os recém-casados têm de completar
aquele percurso que deveria ter sido feito durante o noivado.
Papa Francisco, A Alegria do Amor, 217

#03.
"Quem se casa na Igreja, afirma diante da comunidade que:
a) Quer fazer da vida a dois um sinal de que tudo o que "na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença" é fruto do amor e possível em Jesus
Cristo;
b) Quer testemunhar com a sua vida de casal (projetos, atitudes,
filhos…) que o amor de Deus por cada pessoa e pela humanidade é
uma realidade eficaz, que transforma o mundo, e que Cristo nunca
abandona a sua Igreja;
c) Procura, no seu compromisso, encontrar uma vida feliz, porque sinal
do amor de Cristo, que, na sua expressão máxima de total oferta da
vida, venceu a morte para sempre e deu o maior contributo para a
construção do Reino de Deus;
d) Acredita que Deus, através deste sacramento, dá a força eficaz (a
graça) para cumprir esse compromisso e essa missão, a força
manifestada principalmente na morte e ressurreição do Seu Filho
Jesus Cristo, de que vive a Igreja;
e) Acredita que vale realmente a pena contrair um matrimónio cristão,
pelo bem que só nele se pode obter e transmitir."

Conferência Episcopal Portuguesa,


A alegria do amor no matrimónio cristão, nº 19

#28
Encontro #03 | Amadurecer para casar, celebrar para viver, acompanhar para crescer

#04.
Uma apropriada preparação para o matrimónio deverá conduzir os
noivos a:
a) Saber avaliar a maturidade afetiva, psicológica e espiritual, própria e
do outro;
b) Saber avaliar a própria relação, nos seus pontos fortes e fracos, bem
como prever possíveis consequências decorrentes desses pontos;
c) Delinear um projeto de vida familiar: princípios orientadores,
valores "inegociáveis" e metas a alcançar enquanto família;
d) Uma metodologia para uma maior maturidade familiar: momentos
de paragem para avaliar e lançar para o futuro. Só assim é possível
"detetar os sinais de perigo que poderá apresentar a relação, para se
encontrar os meios que permitam enfrentá-los com bom êxito" (AL
210);
e) Elaborar "estratégias" de gestão e superação de conflitos;
f) Descobrir a comunidade cristã como lugar onde a família se pode pôr
ao serviço dos outros, pode procurar ajuda para as suas necessidades
e crises e ganha profundo sentido a celebração de diferentes
situações familiares e comunitárias;
g) Aprofundar o conhecimento da doutrina da Igreja sobre o
sacramento: as propriedades e os fins próprios do matrimónio,
nomeadamente o vínculo de unidade indissolúvel, bem como as
condições sine qua non para a validade do sacramento, isto é,
liberdade, fidelidade e fecundidade. Tudo na perspetiva da
construção de uma verdadeira felicidade.

Conferência Episcopal Portuguesa, A alegria do


amor no matrimónio cristão, nº 27

#05.
O caminho implica passar por diferentes etapas, que convidam a doar-
se com generosidade: do impacto inicial caracterizado por uma atração
decididamente sensível, passa-se à necessidade do outro sentido como
parte da vida própria. Daqui passa-se ao gosto da pertença mútua,
seguido pela compreensão da vida inteira como um projeto de ambos,
pela capacidade de colocar a felicidade do outro acima das necessidades
próprias, e pela alegria de ver o próprio matrimónio como um bem para

#29
A vocação da família

a sociedade. O amadurecimento do amor implica também aprender a


«negociar». Não se trata duma atitude interesseira nem dum jogo de
tipo comercial, mas, em última análise, dum exercício do amor
recíproco, já que esta negociação é um entrelaçado de recíprocas
ofertas e renúncias para o bem da família. Em cada nova etapa da vida
matrimonial, é preciso sentar-se e negociar novamente os acordos, de
modo que não haja vencedores nem vencidos, mas ganhem ambos. No
lar, as decisões não se tomam unilateralmente, e ambos compartilham a
responsabilidade pela família; mas cada lar é único e cada síntese
conjugal é diferente.
Papa Francisco, A Alegria do Amor, 220

#06.
Então Almitra falou novamente e disse:
- E quanto ao casamento, Mestre?
E ele respondeu, dizendo:
- Nascestes juntos, e juntos ficareis para sempre.
Estareis juntos quando as asas brancas da morte acabarem com os
vossos dias.
Ah, estareis juntos mesmo na memória silenciosa de Deus.
Mas que haja espaços na vossa união e que os ventos celestiais
possam dançar entre vós.
Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor uma prisão;
Deixai antes que seja um mar ondulante entre as margens das
vossas almas.
Enchei a taça um do outro mas não bebais de uma só taça.
Parti o vosso pão ao meio mas não comais do mesmo pão.
Cantai e dançai juntos, mas deixai que cada um de vós fique sozinho.
Como as cordas de uma lira estão sozinhas embora vibrem ao som da
mesma música.
Entregai os vossos corações mas não ao cuidado um do outro.
Pois só a mão da Vida pode conter os vossos corações.
E ficai juntos mas não demasiado juntos:
Pois os pilares do templo estão afastados, e o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.
K. Gibran, O Profeta

#30
Encontro #04

A família,
escola para uma cultura da vida
A família é a escola por excelência para promovermos uma sociedade
que ama e protege a vida. O papa Francisco recorda-nos: "para
compreender a realidade da vida, é preciso baixar-se, como nos
baixamos para beijar uma criança" e comparou os idosos a "um coral
permanente de um grande santuário espiritual, no qual a oração de
súplica e o canto de louvor alicerçam a comunidade que trabalha e luta
no campo da vida". Vivemos numa sociedade de consumo exacerbado,
onde se consome e se deita fora: uma sociedade do descarte, onde se
corre o risco de descartarmos as próprias pessoas. O desafio é
promover, a partir da família, uma cultura da vida, pois a vida é o
grande dom de Deus.

Objetivos
a) Acentuar que a vida humana é um dom sagrado e inviolável de
Deus.

b) Perceber a família como lugar, por excelência, para promover


uma cultura da vida em todas as fases da sua existência.

c) Valorizar os diferentes papéis na família

#31
A vocação da família

1º Passo
Tempo de oração

O encontro deve começar por um tempo de silêncio, de serenidade, após o qual


se recita em conjunto esta oração. Evitar fazer da oração apenas mais um texto
que se lê.
2
Ó Senhor, nosso Deus,
como é admirável o teu nome em toda a terra!
Adorarei a tua majestade, mais alta que os céus.
3
Da boca das crianças e dos pequeninos
fizeste uma fortaleza contra os teus inimigos,
para fazer calar os adversários rebeldes.
4
Quando contemplo os céus, obra das tuas mãos,
a Lua e as estrelas que Tu criaste:
5
que é o homem para te lembrares dele,
o filho do homem para com ele te preocupares?
6
Quase fizeste dele um ser divino;
de glória e de honra o coroaste.
7
Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos,
tudo submeteste a seus pés:
8
rebanhos e gado, sem exceção,
e até mesmo os animais bravios;
9
as aves do céu e os peixes do mar,
tudo o que percorre os caminhos do oceano.
10
Ó Senhor, nosso Deus,
como é admirável o teu nome em toda a terra!
Glória ao Pai e ao Filho ao Espírito Santo
Como era no princípio, agora e sempre. Ámen!

Salmo 8

#32
Encontro #04 | A família, escola para uma cultura da vida

2º Passo
Olhar o chão que pisamos
O animador do grupo, após o tempo de oração, convida os presentes a
partilharem o que o título deste encontro lhes sugere: "A família,
escola para uma cultura da vida." O diálogo pode orientar-se na
procura da resposta a algumas perguntas:

a) O que significa para nós "cultura da vida"?

b) Que lugar ocupa na vida das nossas famílias a atenção, o


cuidado, a proteção da vida, a nossa e a dos nossos? Que
responsabilidade sentimos?
c) Experimentamos medos, preocupações, dúvidas? Quais?

A família pode converter-se em promotora da cultura da vida, quando


se reconhece a si mesma como lugar por excelência da presença de
Deus. Não será um grande desafio para as famílias deste tempo?

3º Passo
Olhar mais longe

Na exortação apostólica "A alegria do Amor", o papa Francisco


recorda-nos que a família é o âmbito não só da geração, mas também do
acolhimento da vida que chega como um presente de Deus. A vida é um
dom dum que o Senhor confia ao pai e à mãe: tem início com o seu
acolhimento, continua com a sua guarda ao longo da vida terrena e tem
como destino final a alegria da vida eterna. É a partir desta convicção
que podemos falar de maternidade e paternidade responsáveis.

a) Ser mãe é…. Ser pai é…

b) Como se entreajudam e se complementam hoje o 'ser pai' e o


'ser mãe'?
#33
A vocação da família

Está cada vez mais difundida a mentalidade de que se possa satisfazer o


desejo de ter um filho a qualquer preço. O filho pode torna-se uma
obsessão e não uma vida que se deseja e se acolhe como dom. O papa
afirma taxativamente que um filho não "é um complemento ou uma
solução para uma aspiração pessoal, mas um ser humano, com um valor
imenso, e não pode ser usado para benefício próprio" (ver texto de
apoio 2). Afinal, os que somos pais e mães, sentimo-nos correias de
transmissão do amor de Deus? É preciso que cada família se reconheça
como lugar por excelência da presença de Deus.

A família, a exemplo da Igreja, tem de viver o seu amor de forma


solidária e partilhada. Ser pai, ser mãe, ser filho, avô e avó. Como são
vividas hoje estas realidades nas nossas famílias? Sentimos que
navegamos por este mundo na procura se um mundo melhor, guiados
pelo Espírito Santo? (ver texto de apoio 3) O papa Francisco recorda
que o matrimónio desafia-nos a encontrarmos uma nova maneira de
ser filho.
a) No seio da nossa família, que lugar damos aos idosos? Que
desafios encontramos a propósito desta realidade?

b) Numa sociedade em que é melhor ser jovem, bonito e rico, do


que feio e pobre, como tratamos a velhice, a dependência, a
doença?

Trabalhar no sentido de uma cultura da vida, a partir da família, é


recordar que a "atenção aos idosos distingue uma civilização. Numa
civilização, presta-se atenção ao idoso? Há lugar para o idoso? Esta
civilização irá em frente, se souber respeitar a sabedoria dos idosos".

#34
Encontro #04 | A família, escola para uma cultura da vida

4º Passo
Para concluir
O encontro pode terminar com uma síntese sobre o que será promover
em família uma cultura da vida. A partir do texto de apoio número 5,
partilhar em que medida já vivemos ou não o que o papa Francisco nos
desafia a viver. E nesta grande família, que é a Igreja, vivemos assim?

5º Passo
Respostas a enviar
a) O vínculo natural e inseparável entre o amor e a vida está
hoje a tornar-se cada vez mais fraco. O que é aconselhável
fazer para evidenciar que aquele vínculo é necessário e
fundamental?

b) Não podemos promover a cultura da vida sem a família. O


que pode ser feito na pastoral paroquial e diocesana para
que esta cultura da vida seja uma realidade na prática da
Igreja?

6º Passo
Oração de conclusão
O animador convida os presentes a fazerem uma partilha sobre o que mais os
tocou no encontro. Não é preciso que todos partilhem, são suficientes dois ou
três sublinhados. No fim reza-se o Pai Nosso.

#35
A vocação da família

Textos de apoio

#01.
O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, também possui
altíssima dignidade que não podemos calcar e que somos convocados a
respeitar e promover. A vida é presente gratuito de Deus, dom e tarefa
que devemos cuidar desde a conceção, em todas as suas etapas, até à
morte natural, sem relativismos. (Aparecida 464)

#02.
A mãe, que traz [o filho] no ventre, precisa de pedir luz a Deus para
poder conhecer em profundidade o seu próprio filho e saber esperá-lo
como ele é. Alguns pais sentem que o seu filho não chega no melhor
momento; faz-lhes falta pedir ao Senhor que os cure e fortaleça para
aceitarem plenamente aquele filho, para o esperarem com todo o
coração. É importante que aquela criança se sinta esperada. Não é um
complemento ou uma solução para uma aspiração pessoal, mas um ser
humano, com um valor imenso, e não pode ser usado para benefício
próprio. Por conseguinte, não é importante se esta nova vida te será útil
ou não, se possui características que te agradam ou não, se corresponde
ou não aos teus projetos e sonhos. Porque «os filhos são uma dádiva!
Cada um é único e irrepetível (...). Um filho é amado porque é filho: não,
porque é bonito ou porque é deste modo ou daquele, mas porque é filho!
Não, porque pensa como eu, nem porque encarna as minhas aspirações.
Um filho é um filho». O amor dos pais é instrumento do amor de Deus
Pai, que espera com ternura o nascimento de cada criança, aceita-a
incondicionalmente e acolhe-a gratuitamente.
Papa Francisco, A Alegria do Amor, 170

#36
Encontro #04 | A família, escola para uma cultura da vida

#03.
Igreja é uma canoa, na qual os idosos ajudam a manter a rota,
interpretando a posição das estrelas, e os jovens remam com força
imaginando o que os espera mais além. Não nos deixemos extraviar
nem pelos jovens que pensam que os adultos são um passado que já não
conta, que já está superado, nem pelos adultos que julgam saber sempre
como se deveriam comportar os jovens. O melhor é subirmos todos
para a mesma canoa e, juntos, procurarmos um mundo melhor, sob o
impulso sempre novo do Espírito Santo.
Papa Francisco, Cristo Vive, 201

#04.
A Igreja olha para as pessoas idosas com afeto, reconhecimento e
grande estima. Elas são parte essencial da comunidade cristã e da
sociedade. Não sei se ouvistes bem: os idosos são parte essencial da
comunidade cristã e da sociedade. Em particular representam as raízes
e a memória de um povo. Vós sois uma presença importante, porque a
vossa experiência constitui um tesouro precioso, indispensável para
olhar para o futuro com esperança e responsabilidade. A vossa
maturidade e sabedoria, acumuladas nos anos, possam ajudar os mais
jovens, apoiando-os no caminho do crescimento e da abertura ao
futuro, na busca do seu caminho. Com efeito, os idosos testemunham
que, até nas provações mais difíceis, nunca se deve perder a confiança
em Deus e num futuro melhor. São como as árvores que continuam a
dar fruto: mesmo carregados com o peso dos anos, podem dar a sua
contribuição original para uma sociedade rica de valores e para a
afirmação da cultura da vida.
Papa Francisco, Discurso à federação nacional
dos trabalhadores idosos, 15 outubro 2016

#37
A vocação da família

#05.
Esta família alargada deveria acolher, com tanto amor, as mães
solteiras, as crianças sem pais, as mulheres abandonadas que devem
continuar a educação dos seus filhos, as pessoas deficientes que
requerem muito carinho e proximidade, os jovens que lutam contra
uma dependência, as pessoas solteiras, separadas ou viúvas que sofrem
a solidão, os idosos e os doentes que não recebem o apoio dos seus
filhos, até incluir no seio dela «mesmo os mais desastrados nos
comportamentos da sua vida». E pode também ajudar a compensar as
fragilidades dos pais, ou a descobrir e denunciar a tempo possíveis
situações de violência ou mesmo de abuso sofridas pelas crianças,
dando-lhes um amor sadio e um sustentáculo familiar, quando os seus
pais não o podem assegurar.
Papa Francisco, A Alegria do Amor, 197

#06.
Depois, uma mulher que trazia uma criança ao colo disse:
- Fala-nos das Crianças.
E ele respondeu:
- Os vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da Vida
que anseia por si mesma.
Eles vêm através de vós mas não de vós.
E embora estejam convosco não vos pertencem.
Podeis dar-lhes o vosso amor mas não os vossos pensamentos,
pois eles têm os seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar os seus corpos mas não as suas almas.
Pois as suas almas vivem na casa do amanhã,
que vós não podereis visitar, nem em sonhos.
Podereis tentar ser como eles, mas não tenteis torná-los como vós.
Pois a vida não anda para trás nem se detém no ontem.
Vós sois os arcos de onde os vossos filhos,
quais flechas vivas, serão lançados.
O arqueiro vê o sinal no caminho do infinito e Ele com o Seu poder
faz com que as Suas flechas partam rápidas e cheguem longe.
K. Gibran, O profeta
#38
Referências bibliográficas:

A Alegria do Amor,
Exortação Apostólica, Papa Francisco (2016)

A alegria do amor no matrimónio cristão,


Carta Pastoral dos Bispos Portugueses (2019)

Caminhada em matrimónio,
CPM - Portugal (2018)

A família, esperança da Igreja e do mundo,


Carta Pastoral dos Bispos Portugueses (2004)

Catecumenado Matrimonial,
Padre Manuel J. Rocha (2019)

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