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A Psicologia Hospitalar diante do

fenômeno da morte e do morrer


Psicologia Hospitalar
6º período
Professora: Beatriz Vieira
Tópicos da aula
• A psicologia hospitalar diante da morte e do morrer;
• O paciente, a família e a equipe diante da terminalidade;
• Estratégias para o profissional de Psicologia nesse
contexto.

• Referências:
Medeiros, L. A.; Lustosa, M. A. A difícil tarefa de falar sobre a
morte no hospital. Rev. SBPH vol.14 no.2, Rio de Janeiro -
Jul/Dez. – 2011.
Considerações sobre o fenômeno
• Morte entendida como a cessação definitiva da vida e o
morrer enquanto intervalo entre o momento em que a
doença se torna irreversível e o a morte propriamente
dita (Moritz, 2002).

• Unidade entre vida e morte não impede que esta venha


acompanhada de angústias, medos, melancolia.

• Sociedade contemporânea: negação da morte como


continente à vida e da existência de experiências
dolorosas – conspiração do silêncio (Kovács, 2005).
A morte institucionalizada
• Desenvolvimento da medicina e repulsa à morte:
passagem do lar da pessoa doente para o hospital –
morte solitária, institucionalizada e medicalizada.

• Profissionais: treinados para intervir, mas não para


assistir às reais necessidades do paciente e sua família.

• Tecnologia à serviço do prolongamento da vida, mas não


no auxílio do processo de morrer – curar x cuidar.
A morte institucionalizada
• Morte no século XXI:
▫ Ato prolongado – desenvolvimento tecnológico
▫ Fato científico – monitoramento
▫ Fato passivo – decisões pertencem a todos, menos ao
enfermo;
▫ Ato profano – choque com crenças e valores do paciente
▫ Fato de isolamento – “o ser humano morre socialmente em
solidão”.

• O processo de morrer traz à tona a questão sobre qual


aspectos da vida do paciente deve ser priorizado: a
qualidade ou a quantidade de vida.
A morte e o morrer no hospital
• “Boa morte”: garantir o processo enquanto um ato de
cuidado – profissional e paciente enquanto indivíduos
finitos e não como sujeito x objeto (pretensa
neutralidade científica).

• Consequências:
▫ Privação de meios de comunicar emoções e luto mal
elaborado;
▫ Sofrimento psíquico por parte dos profissionais.
O manejo psicológico para com a
família
• Às vezes, a notícia pode desencadear reações emocionais
que excedem as necessidades psicológicas do paciente;

• “O luto não começa com a morte” (Bromberg, 1994):


mesmo quando é considerado normal, traz conteúdo
dolorosos, exige adaptação às novas condições, afeta o
funcionamento do círculo familiar.
O manejo psicológico para com a
família
• Fases do luto
▫ Negação diante da gravidade do diagnóstico ;
▫ Raiva a partir do questionamento do poder da
equipe/poderes superiores – revolta, hostilidade,
impotência;
▫ Barganha: busca de métodos mágicos de cura, pactos e
promessas – esperança de cura.
▫ Depressão, angústia e introspecção frente ao estado do
paciente.
▫ Aceitação como momento de quietude e isolamento –
necessidade de descanso e desinvestimento afetivo.
A família e o luto
• Momento potencializador de crise: alterações na saúde
da pessoa que vivencia a perda, expressões e sentimentos
correlatos à tristeza articulados a um
desinteresse/afastamento das atividades cotidianas e
lazer.
• Outras pessoas, respondem ao luto com execução e
ocupação de atividades, em um movimento de não-
contato com o sentimento de dor.

• E a(o) psicóloga(o) diante dessas reações diferentes?

• Contexto cultural, histórias de vida e experiências


individuais de luto.
A família e o luto
• Necessidade de comunicação e relação franca entre os
membros da família em relação à morte do paciente.
• Famílias que conseguem se comunicar, compartilhar
informações, valem-se de fontes de apoio parecem se
reestabilizar melhor após a morte.
Relembrando o papel da Psicologia
Hospitalar...
• O adoecimento não acontece num vácuo, mas encarnado
nas pessoas concretas: no paciente, na família, na
equipe.
• Não trabalha somente com a dor do paciente, mas com a
angústia (às vezes não) declarada da família, a angústia
disfarçada ou mesmo negada da equipe.

• Acompanhamento e acolhimento: melhor


momento/maneira de intervir, de acordo com as
características emocionais de cada um, bem como na
realização do enfrentamento do processo de
adoecimento/luto.
Foco da PH diante da morte e do
morrer
• Reforço de vínculos e rede de apoio familiar –
intervenção diante do luto patológico;
• Auxílio na organização psíquica frente ao sofrimento;
• Facilitação da expressão e trabalho de medos, fantasias,
angústias, ansiedades;
• Enfrentamento da dor e medo da morte do paciente;
• Facilitação e incentivar vínculos e trocas entre a equipe
de saúde;
• Auxílio no estabelecimento de canais de comunicação –
solução de situações emocionais;
• Preparação do luto.
A equipe de saúde
• Função do hospital contemporâneo: recuperação da
força de trabalho x acolhimento da morte.
• Deslocamento: morte como fenômeno partilhado
socialmente para experiência restrita ao âmbito
hospitalar.

• Formação da equipe: promoção e preservação da vida –


morte como algo contrário, e não parte dela.

• Obstinação terapêutica pode levar à desumanização do


atendimento àquele que morre.
A equipe de saúde
• Para uma formação que:
▫ Entenda a morte como algo “vivido”, dotado de
um corpo, de um ser humano – contradições.
▫ Identifique os múltiplos significados da morte e
das formas de morrer.
▫ Evite a impessoalidade e distanciamento da dor,
do sofrimento e da morte.
A equipe de saúde
• Calosidade profissional: resultado de anos de atuação.
Depois de muito tempo lidando com a dor, o sofrimento
e a morte, o profissional cria uma barreira ou
um calo frente às situações vividas no trabalho.

• Empatia genuína: barreiras menos rígidas na relação


profissional;
• Profissionalismo afetivo: respeito pela dor e pelo
sofrimento do paciente;
• Distanciamento crítico não significa neutralidade
sentimental;
Formação da equipe para lidar com a
morte e o morrer
• Criação de espaços de discussão – compartilhamento de
afetos e emoções de forma a minimizar as consequências
de se lidar todos os dias com a morte.
• Comunicação fluida das informações e das más notícias
entre equipe, familiares e paciente.
▫ Informações claras e precisas x vagas e imprecisas;
▫ Linguagem acessível ao receptor x terminologia médica;
▫ Segurança profissional x insegurança;
▫ Comunicação empática x fria e distante.
• “O profissional deve tentar entender os seus próprios
sentimentos evocados no momento em que se comunica
notícias difíceis. Ao enfrentar seus medos e ansiedades,
aprende a reconhecê-los e controlá-los, o profissional se
sente mais à vontade diante das reações dos pacientes
e/ou familiares, podendo ajudá-los da melhor forma
possível”.

• Ou seja, ter como foco as reais necessidades de quem é


cuidado, de quem acompanha e de quem cuida –
assistência humanizada e humanizadora.

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