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AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO PARÁ - BRASIL

EVALUATION OF PHARMACEUTICAL SERVICES IN PRIMARY CARE IN PARA


- BRAZIL

Ana Carla Godinho Pinto1, Agnes Nami Kamissono2, Marselle Nobre de Carvalho3

1. Farmacêutica. Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso. Hospital Universitário


João de Barros Barreto (HUJBB).
2. Farmacêutica. Departamento Estadual de Assistência Farmacêutica (DEAF).
Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (SESPA).
3. Farmacêutica. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas
(PPGCF). Universidade de Brasília (UnB). E-mail do autor correspondente:
marsellecarvalho@gmail.com.

Declaramos ausência de conflito de interesses

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


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RESUMO

O objetivo deste trabalho é avaliar a assistência farmacêutica na atenção básica no estado do


Pará. Tomou-se por base os dados secundários fornecidos pela Coordenação Estadual de
Assistência Farmacêutica da Secretaria de Estado de Saúde Pública (CEAF/SESPA),
coletados através do preenchimento do questionário de Avaliação da Assistência
Farmacêutica, documento este obrigatório do termo de adesão referente à pactuação do
componente básico da assistência farmacêutica básica. Como objetivos secundários buscam-
se o conhecimento da estrutura e organização da rede básica de saúde, o levantamento dos
dados sobre as etapas de seleção, programação, aquisição, armazenamento e dispensação dos
medicamentos. Para tanto se utilizou do modelo de organização de dados estabelecido no
Instrumento de Auto-avaliação para o Planejamento da Assistência Farmacêutica (IAPAF) do
Ministério da Saúde, através da compreensão dos dados em quatro dimensões: gestão, rede de
saúde, recursos humanos e ciclo da assistência farmacêutica. Conclui-se que a assistência
farmacêutica se encontra institucionalizada no estado, entretanto existe uma concentração de
farmacêuticos em algumas cidades e um número reduzido de profissionais em outras, além da
existência de uma rede de saúde insuficiente para atender a demanda populacional. O ciclo da
assistência farmacêutica apresenta diferenças entre as regiões, entretanto o critério mais
utilizado é o elenco pactuado pela Comissão Intergestores Bipartite (CIB).

Palavras-chave: governo local; assistência farmacêutica; atenção primária em saúde.

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ABSTRACT

The aim of this paper is to evaluation of pharmaceutical care in primary care in the state of
Pará was taken based on secondary data provided by the State Pharmaceutical Assistance
Coordination of the State Department of Public Health (CEAF / SESPA) collected through
the completing the questionnaire Assessment of Pharmaceutical Care, a document binding the
term membership regarding the agreement on the basic component of basic pharmaceutical
care. As a secondary objective to seek the knowledge of the structure and organization of
basic health services, the survey data on the steps of selecting, planning, purchase, storage and
dispensing of medicines. For that we used the model of data organization established in the
Self-Assessment Instrument for Planning of Drug Assistance (IAPAF) of the Ministry of
Health, through the understanding of the data in four areas: management, network health,
human resources and pharmaceutical care cycle. It is concluded that pharmaceutical care is
institutionalized in the state, however there is a concentration of pharmaceuticals in some
cities and a few other professionals, besides the existence of a health system inadequate to
meet the demand of population. The cycle of pharmaceutical care differs between regions,
however the most commonly used criterion is the cast agreed Bipartite Commission (CIB).

Keywords: local government; pharmaceutical services; primary care.

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Introdução

A assistência farmacêutica no Brasil é parte indissociável do modelo de atenção à

saúde. De caráter multiprofissional e intersetorial1, consiste em um conjunto de práticas

voltadas à promoção, prevenção e recuperação de saúde, tendo o medicamento como insumo

essencial.

Com a promulgação da Constituição de 1988, a criação do Sistema Único de Saúde

(SUS) e a publicação de documentos norteadores, tais como a Política Nacional de

Medicamentos – PNM2 e a Política Nacional de Assistência Farmacêutica – PNAF, a

assistência farmacêutica passa a ser entendida como parte integrante de um conjunto de

atividades voltadas à promoção, prevenção e recuperação de saúde, extrapolando o

abastecimento de medicamentos, e o município assume papel central na execução desses

atividades.

Este trabalho tem como objetivo a descrição do perfil da assistência farmacêutica na

atenção básica no estado do Pará, além de estabelecer a situação sóciodemográfica dos

municípios, a estrutura e organização da rede básica de saúde. Dentro do ciclo da assistência

farmacêutica objetiva-se igualmente o levantamento de dados sobre a execução das etapas de

seleção, programação, aquisição, armazenamento e dispensação.

Metodologia

Trata-se de estudo descritivo, de recorte transversal, sobre a estrutura e organização da

assistência farmacêutica básica nos municípios do estado do Pará (Amazônia, Brasil), no ano

de 2009, considerando três dimensões: gestão, recursos humanos e execução, com base no

Instrumento de Auto-avaliação para o Planejamento da Assistência Farmacêutica – IAPAF.3

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Foi realizada a partir de dados secundários obtidos mediante aplicação do

Questionário de Avaliação da Assistência Farmacêutica, elaborado por técnicos da

Coordenação Estadual de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Estado de Saúde Pública

do Pará (CEAF/SESPA), contendo perguntas referentes ao sistema de saúde e o ciclo da

assistência farmacêutica, respondidos por um informante-chave: o farmacêutico do

município.

Na ausência do farmacêutico, o questionário pôde ser respondido por qualquer

profissional, desde que este exerça atividade diretamente relacionada à assistência

farmacêutica.

Os critérios de inclusão consistiriam em: os questionários que atendendessem aos

critérios determinados pela CEAF/SESPA, conforme referido acima, devidamente

preenchidos e legíveis. Os critérios de exclusão compreenderam os questionários respondidos

por outra pessoa que não exerça atividade na assistência farmacêutica, além dos questionários

incompletos e ilegíveis.

Dos 143 municípios que compõem o estado, 136 tiveram os questionários enquadrados

nos critérios de inclusão, correspondendo a 95% do total, tornando-se o objeto da pesquisa.

Como se trata de um estudo realizado a partir de dados secundários, que tem como

objetivo descrever a situação da assistência farmacêutica nos municípios do Estado do Pará,

os resultados expressam a realidade informada pelos responsáveis pelo fornecimento das

informações, onde as mesmas foram preenchidas na ausência de pesquisador e não houve a

validação in loco dos dados expressos nos questionários com a realidade. Todavia, os dados

apresentados são oficiais porque foram solicitados e obtidos por via formal, de acordo com os

trâmites da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará.

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Segundo a Resolução CIB no 215, de 29 de novembro de 20104, o estado do Pará está

dividido em 8 (oito) macrorregiões e 23 (vinte e três) microrregiões. Os dados obtidos foram

organizados de acordo com as macrorregiões de saúde, conforme a tabela abaixo.

Tabela 1. Caracterização das macro e microrregiões do estado do Pará.


Macrorregião Número total de municípios Número de municípios da pesquisa

Extremo Norte (EN) 16 14


Norte (N) 14 13
Norte-Leste (NL) 10 10
Nordeste (NE) 38 38
Centro-Oeste (CO) 09 09
Oeste (OE) 19 16
Sudeste (SE) 22 21
Sul (S) 15 15
TOTAL 143 136
Fonte: NISPLAN/SESPA (2009).

Resultados

Os dados apresentados neste artigo foram divididos em três dimensões (gestão,

recursos humanos e ciclo da assistência farmacêutica), livremente adaptadas pelas autoras, do

Instrumento de Auto-avaliação para o Planejamento da Assistência Farmacêutica – IAPAF3.

Essas dimensões têm como objetivo facilitar a organização e compreensão dos achados da

pesquisa.

Dimensão 01: Gestão

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Entre os 136 municípios pesquisados, 89 relataram existência da Coordenação de

Assistência Farmacêutica no organograma, o que demonstra a sua institucionalização em mais

de 70% dos municípios do Pará.

Ao compararmos todas as macrorregiões, a Nordeste apresentou o maior número de

municípios com coordenação presente no organograma (n = 21/38). Contudo, ao

considerarmos a proporção de municípios contendo a coordenação em relação ao número total

de municípios de cada macrorregião, a Norte, composta pela capital (Belém) e região

metropolitana, possui o melhor desempenho intra-regional (n = 10/13), conforme a tabela

abaixo.

Tabela 2. Municípios com Assistência Farmacêutica institucionalizada por macrorregião do


estado do Pará (n = 136 municípios).
GESTÃO EN N NL NE CO OE SE S
Coordenação no organograma
Sim 8/14 10/13 6/10 21/38 5/9 12/16 9/21 0/15
Não 6/14 3/13 4/10 17/38 4/9 3/16 10/21 14/15
Sem resposta 0/14 0/13 0/10 0/38 0/9 1/16 2/21 1/15
Legenda: EN = Extremo-Norte, N = Norte, NL = Norte-Leste, NE = Nordeste; CO = Centro-Oeste, OE = Oeste, SE =
Sudeste, S = Sul.

Dimensão 02: Recursos humanos (farmacêutico)

De acordo com os dados referidos, no estado do Pará há 426 farmacêuticos

trabalhando em 136 municípios, sendo 224 concursados e 202 contratados, desempenhando

funções no Laboratório de Análises Clínicas (n = 169/136), Farmácia das Unidades de Saúde

(n = 122/136), Assistência Farmacêutica (n = 112/136), Farmácia Hospitalar (n = 79/136),

Almoxarifado (n = 78/136), Vigilância Sanitária (n = 48/136) e Farmácia Popular do Brasil (n

= 13/136).

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A distribuição do profissional farmacêutico é extremamente desigual entre as regiões.

A macrorregião Norte apresenta o maior número de farmacêuticos (n = 158/13), mais

especificamente distribuídos na capital, Belém (n = 109), enquanto que a Extremo Norte,

composta pelos municípios do Marajó, possui o menor (n = 12/14), conforme demonstra a

figura abaixo.

Figura 1. Distribuição de farmacêuticos nas macrorregiões do Pará.

A situação se agrava ao compararmos o número total de farmacêuticos em cada

macrorregião e a sua distribuição nas diversas atividades e ou funções desempenhadas por

esses profissionais. De modo geral, o farmacêutico desempenha mais de uma atividade no

município (tabela 3), dividindo-se entre a função de gestor da assistência farmacêutica e

técnico na área de vigilância sanitária e ou em unidades de serviço, tais como unidades

básicas de saúde, hospitais e laboratórios de análises clínicas.

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Tabela 3. Distribuição das atividades e funções dos farmacêuticos nos municípios por
macrorregião do estado do Pará (n = 136 municípios).
RECURSOS HUMANOS EN N NL NE CO OE SE S
Assistência farmacêutica 8/14 16/13 12/10 26/38 5/9 11/16 20/21 15/15
Almoxarifado 6/14 12/13 8/10 18/38 4/9 5/16 16/21 8/15
Vigilância sanitária 0/14 11/13 8/10 4/38 2/9 3/16 12/21 6/15
Farmácia hospitalar 6/14 25/13 8/10 6/38 3/9 4/16 17/21 9/15
Farmácias de UBS 6/14 55/13 7/10 10/38 4/9 1/16 29/21 9/15
Laboratório de análises 9/14 54/13 9/10 35/38 10/9 15/16 27/21 15/15
Total de farmacêuticos 12/14 158/13 37/10 65/38 15/9 27/16 76/21 37/15
Legenda: EN = Extremo-Norte, N = Norte, NL = Norte-Leste, NE = Nordeste; CO = Centro-Oeste, OE = Oeste, SE =
Sudeste, S = Sul. UBS = Unidade Básica de Saúde.

Dimensão 03: Ciclo da Assistência Farmacêutica

Seleção, programação e aquisição

Dos 136 municípios investigados, apenas 13 (9,1%) declaram ter Comissão de

Farmácia e Terapêutica (CFT) instituída e atuante.

De modo geral, os municípios relataram utilizar como critérios para a seleção de

medicamentos: o elenco pactuado na CIB (n = 112/136; 81,8%), o perfil epidemiológico (n =

96/136; 70,1%), o estoque do almoxarifado (n = 87/136; 64%) e a REMUME (n = 65/136;

47%).

Regionalmente, a utilização do elenco pactuado na CIB se destaca nas macrorregiões

Norte, Norte-Leste, Centro-Oeste, Oeste e Sudeste, enquanto o perfil epidemiológico se

sobressai como critério no Extremo Norte e Sul (ver tabela 4).

Quanto à programação, os municípios relatam utilizar como critério: elenco pactuado

na CIB (n = 102/136; 75%), perfil epidemiológico (n = 101/136; 74,2%), estoque do

almoxarifado (n = 75/136; 55,1%) e Demanda Não Atendida – DNA (n = 49/136; 6,6%).

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À semelhança da seleção, os critérios da programação de medicamentos também

possuem ligeiras diferenças inter-regionais. O elenco pactuado na CIB se destaca como

critério nas macrorregiões Norte, Norte-Leste, Centro-Oeste, Oeste e Sudeste, enquanto

Extremo Norte e Sul utilizam o perfil epidemiológico. Vale ressaltar que o critério Demanda

Não Atendida - DNA é o segundo critério mais utilizado pelos municípios, empatando com o

perfil epidemiológico (ver tabela 4).

Tabela 4. Critérios de seleção, programação e aquisição de medicamentos nos municípios por


macrorregião estado do Pará (n = 136 municípios).
CRITÉRIOS EN N NL NE CO OE SE S
Seleção
REMUME 9/14 9/13 3/10 23/38 3/9 10/16 8/21 0/15
Elenco pactuado na CIB 9/14 9/13 9/10 29/38 8/9 16/16 17/21 13/15
Perfil epidemiológico 11/14 7/13 6/10 29/38 5/9 12/16 15/21 10/15
Programação
REMUME 10/14 10/13 3/10 25/38 4/9 10/16 8/21 0/15
Elenco pactuado na CIB 9/14 10/13 8/10 27/38 8/9 16/16 18/21 14/15
Perfil epidemiológico 13/14 7/13 6/10 30/38 5/9 13/16 16/21 10/15
Demanda Não Atendida - DNA 4/14 5/13 4/10 11/38 4/9 6/16 7/21 2/15
Estoque no almoxarifado 8/14 10/13 5/10 21/38 8/9 12/16 12/21 9/15
Consumo histórico 5/14 6/13 4/10 12/38 6/9 9/16 9/21 6/15
Capacidade física instalada 4/14 5/13 3/10 12/38 3/9 7/16 9/21 2/15
Aquisição
Menor preço 7/14 11/13 5/10 28/38 9/9 14/16 13/21 13/15
Elenco pactuado na CIB 8/14 9/13 5/10 27/38 7/9 13/16 18/21 14/15
Perfil epidemiológico 10/14 7/13 3/10 26/38 3/9 12/16 14/21 9/15
Estoque no almoxarifado 9/14 11/13 4/10 21/38 5/9 12/16 14/21 7/15
Estimativa de consumo 10/14 9/13 4/10 21/38 7/9 11/16 11/21 8/15
Capacidade física instalada 3/14 5/13 3/10 11/38 2/9 7/16 15/21 2/15
Legenda: EN = Extremo-Norte, N = Norte, NL = Norte-Leste, NE = Nordeste; CO = Centro-Oeste, OE = Oeste, SE =
Sudeste, S = Sul

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Os municípios têm utilizado os seguintes critérios à aquisição de medicamentos:

menor preço (n = 113/136; 83%), elenco pactuado na CIB (n = 105/136; 77%), estoque no

almoxarifado (n=88/136; 64,7%) e perfil epidemiológico (n = 85/136; 62,5%).

Embora no panorama geral, o menor preço tenha sido o critério mais utilizado pelos

municípios, ao observarmos atentamente a tabela 4, iremos perceber inter-regionalmente os

municípios acabam utilizando vários critérios no processo de aquisição e o menor preço não

aparece sozinho e, sim, combinado ao elenco pactuado na CIB, perfil epidemiológico, estoque

no almoxarifado e estimativa de consumo.

Armazenamento

Dos 136 municípios que participaram da pesquisa, 134 relataram a presença de um

local específico para o armazenamento dos medicamentos. Apenas os municípios Baião

(macrorregião Norte-Leste) e Magalhães Barata (macrorregião Nordeste) referiram não ter

local especifico (ver tabela 5).

Tabela 5. Condição de armazenamento de medicamentos nos municípios por macrorregião do


estado do Pará (n = 136 municípios).
CONDIÇÕES EN N NL NE CO OE SE S

Local específico para medicamentos


Sim 14/14 13/13 9/10 37/38 9/9 16/16 21/21 15/15
Não 0/14 0/13 1/10 1/38 0/9 0/16 0/21 0/15
Estrutura
Ar condicionado 11/14 9/13 5/10 29/38 9/9 14/16 13/21 12/15
Paredes /pisos laváveis 9/14 4/13 3/10 20/38 4/9 7/16 17/21 8/15
Termômetro 3/14 6/13 1/10 8/38 1/9 4/16 11/21 2/15
Geladeira 2/14 3/13 2/10 9/38 1/9 8/16 7/21 6/15
Estantes e estrados 14/14 13/13 5/10 34/38 9/9 16/16 16/21 15/15
Armário com chave /controlados 12/14 8/13 5/10 21/38 8/9 12/16 19/21 12/12

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Continuação...

CONDIÇÕES EN N NL NE CO OE SE S

Estrutura
Extintores de incêndio 5/14 6/13 4/10 9/38 5/9 9/16 15/21 5/15
Sistema informatizado 4/14 6/13 3/10 14/38 5/9 5/16 6/21 9/15
Computador com acesso à internet 2/14 4/13 3/10 7/38 2/9 3/16 10/21 3/15
Iluminação artificial – tipo luz fria 11/14 8/13 5/10 24/38 5/9 11/16 15/21 7/15
Proc. Operac. Padrão - POP 2/14 4/13 1/10 5/38 2/9 1/16 5/21 4/15
Fichas de prateleira 12/14 10/13 5/10 22/38 7/9 14/16 13/21 11/15
Legenda: EN = Extremo-Norte, N = Norte, NL = Norte-Leste, NE = Nordeste; CO = Centro-Oeste, OE = Oeste, SE =
Sudeste, S = Sul

Em linhas gerais, a infra-estrutura de equipamentos e materiais do local destinado ao

armazenamento de medicamentos é composta por: estantes e estrados (n = 132/136; 97%), ar

condicionado (n = 115/136; 84,6%), armários com chave para controlados (n = 102/136;

75%), ficha de prateleira (n = 101/136; 74,3%), iluminação artificial (n = 86/136; 63,2%),

paredes / pisos laváveis (n = 74/136; 54,4%), termômetro (n=41/136; 30,2%) e geladeira (n =

36; 24,5%).

Dispensação

Entre os municípios que responderam ao questionário, 121 referiram atender

prescrições contendo a Denominação Comum Brasileira (DCB), o que corresponde a 88,98%

do total. Esse resultado demonstra o descumprimento da legislação vigente no país. A lei

9.787/99 estabelece que os medicamentos devam estar obrigatoriamente na sua Denominação

Comum Brasileira (DCB) ou na Denominação Comum Internacional (DCI) se não possuir a

primeira (MARIN et. al., 2003), entretanto metade dos municípios (n = 69; 50,73%) relatam o

uso do nome comercial na prescrição médica, mesmo esta prática sendo proibida por lei. O
Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil
13

quadro se torna mais grave quando as prescrições dos municípios são redigidas utilizando

somente o nome comercial, como refere Marapanim na região do Rio Guamá.

Quanto aos critérios utilizados na prescrição, os municípios relatam: REMUME (n =

55; 40,4%), elenco pactuado na CIB (n = 80; 58,8%), RENAME (n = 47; 36,6%) e outros (n =

13; 9,6%). O uso de medicamentos que não contidos nas listas oficiais e relações de

medicamentos pode indicar a aquisição de medicamentos não selecionados.

Discussão

Segundo o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Assistência Farmacêutica (NEPAF),

gestão é “um processo técnico, político e social capaz de produzir resultados”.5

O Ministério da Saúde, por meio do Instrumento de Auto-avaliação para o

Planejamento da Assistência Farmacêutica (IAPAF)3, considera como indicadores para a

avaliação da gestão: a existência de assistência farmacêutica no organograma da Secretaria

Municipal de Saúde e a inserção da assistência farmacêutica no Plano Municipal de Saúde,

com a descrição de seus objetivos e metas.

O Plano de Assistência Farmacêutica é um instrumento norteador que contempla as

ações específicas da assistência farmacêutica e descreve as atividades e ações a serem

realizadas pelos programas da mesma. Deve ser periodicamente atualizado e revisado para

atender os objetivos da Política Nacional de Assistência Farmacêutica.

Quando se relaciona o número de habitantes com a estrutura de saúde existente nas

microrregiões observa-se uma grande demanda de atendimento para o serviço de saúde. A

média da demanda dos serviços no estado é de 11.374,44 habitantes por unidade do PSF e

34.940,45 habitantes por farmácia na unidade de saúde.

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


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Metade dos municípios (n = 68) referiu ter apenas um farmacêutico exercendo todas

ou a maioria das funções expressas no instrumento, o que provavelmente se reproduz também

em municípios que referiram possuir mais de um farmacêutico.

Em relação às atividades realizadas, visualiza-se uma concentração nos laboratórios de

análises clínicas que muitos municípios relataram como sendo a única atividade realizada pelo

farmacêutico local, indicando que atividades específicas da farmácia como a Assistência

Farmacêutica, a Farmácia Hospitalar e a Farmácias das Unidades de Saúde ou não são

realizadas ou o são, mas por outros profissionais.

Estudo realizado no ano de 2003, para avaliar a assistência farmacêutica básica na 17˚

regional de saúde do Rio Grande do Sul encontrou resultado semelhante em relação à

distribuição dos farmacêuticos, nos 20 municípios estudados foram encontrados apenas cinco

farmacêuticos. Os autores concluíram que “são geralmente cidades pequenas, que não

possuem rede extensa de serviços de saúde, em que a ausência do farmacêutico pode

comprometer a qualidade do serviço prestado”.6

Quando se considera a qualidade como fator para o desenvolvimento, a presença do

farmacêutico, especialmente na assistência farmacêutica, é imprescindível. A sua participação

efetiva e integral no sistema de saúde é estratégica, pois é considerado pela OMS como o

profissional mais indicado para a condução de ações relacionadas à melhoria do acesso e a

promoção do uso racional dos medicamentos.6

Embora a Assistência Farmacêutica não seja atividade exclusiva do farmacêutico, este

profissional é fundamental para a execução da gestão e das etapas de seleção, programação,

aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação de medicamentos essenciais.

Na maioria dos municípios, à exceção de Belém, o farmacêutico – muitas vezes, o

único do município – realiza múltiplas atividades, desde a gestão do medicamento até

vigilância sanitária e análises clínicas.

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


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Estudo realizado na Bahia identificou ausência de farmacêutico nas unidades básicas

de saúde em três municípios.5

Uma pesquisa realizada no Rio Grande do Sul, dos vinte municípios entrevistados,

apenas cinco (25% do total) possuíam um farmacêutico como responsável pela assistência

farmacêutica. 6

Estudo realizado em 201 municípios de Santa Catarina e encontraram elevado número

de farmacêuticos trabalhando em municípios de grande porte populacional, enquanto que

municípios menores não possuíam farmacêutico responsável pela assistência farmacêutica.7

Com base em trabalhos realizados em municípios de diferentes estados da federação,

se pode observar a baixa participação do profissional farmacêutico no sistema de saúde

público, o que possivelmente se deve à ineficiente articulação entre a Política Nacional de

Assistência Farmacêutica à Política Nacional de Saúde, às limitações financeiras, sobretudo

nos municípios pequenos, e essencialmente à visão estreita dos gestores em relação à

assistência farmacêutica, que ainda é vista apenas como mero fornecimento de medicamentos,

cujas atividades são centralizadas no abastecimento e distribuição.5-16

A institucionalização da assistência é o primeiro passo, mas é necessário reforçar a

base de trabalho, pois somente à presença do farmacêutico não é fator determinante na

melhoria da qualidade da assistência farmacêutica se este não possui o mínimo de condições

de trabalho, como recursos humanos e físicos para o desenvolvimento de suas atividades.11

O desenvolvimento da relação de medicamentos essenciais pela CFT, baseada em

critérios técnico-científicos e no conhecimento das peculiaridades socioeconômico-culturais

locais15 e que a elaboração de uma relação municipal de medicamentos essenciais, além da

lista pactuada, é um indicador de qualidade da seleção17, esses resultados podem significar o

desconhecimento do informante sobre a CFT e a relação municipal de medicamentos ou, mais

grave que isso, refletir desqualificação do processo de seleção municipal de medicamentos.

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


16

A seleção dos medicamentos deve ser baseada nos critérios epidemiológicos e

farmacoeconômicos, além de considerar a eficácia (evidências clínicas), a segurança dos

medicamentos, a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME, as Relações

Estaduais e ou Municipais de Medicamentos Essenciais e o Formulário Terapêutico Nacional

- FTN.1,14,15

O conhecimento atualizado do perfil epidemiológico do município é considerado um

dos critérios mais importantes durante o processo de seleção, pois fornece dados sobre a

situação de saúde dos municípios, como morbimortalidade, contudo observa-se sua

subutilização pelos mesmos.

A subutilização do perfil epidemiológico pode resultar na seleção de medicamentos

não adequados ao município, em especial se os medicamentos forem selecionados de listas

nacionais e estaduais sem uma adequação as características regionais.

Diferentemente do Pará, Ferraes16 ao avaliar a Assistência Farmacêutica no estado do

Paraná relatou que 44,1% dos municípios possuíam CFT.

A seleção de medicamentos de qualidade requer a constituição formal de um grupo de

profissionais vinculados à rede de serviços, denominada Comitê Científico ou Comissão de

Farmácia e Terapêutica (CFT), que tem como função elaborar e avaliar a relação de

medicamentos essenciais para os diferentes níveis de atenção, tendo como base critérios

técnico-científicos. Além disso, a CFT também tem como função normatizar a prescrição e

emitir pareceres sobre pedidos de inclusão ou exclusão de medicamentos.14

A ausência ou funcionamento precário da Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT)

também foi encontrado em pesquisa realizada por Barreto e Guimarães em três municípios

baianos. Para as autoras, a “inexistência de funcionamento da CFT, assim como a ausência do

farmacêutico na operacionalização de atividades essenciais, limitam o âmbito de ação da

assistência farmacêutica no SUS municipal do Estado da Bahia”. 5

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


17

A programação frequentemente é considerada como um processo administrativo, fato

exacerbado pela existência de recursos financeiros insuficientes, situação cada vez mais

comum, o que resulta em programações mais baseadas nos recursos financeiros disponíveis

do que nas reais necessidades da população.15

Dupim15 cita como critérios para a realização da programação: o conhecimento do

quadro de morbidade e mortalidade; a seleção dos medicamentos de acordo com a relação de

medicamentos essenciais; a análise do consumo histórico e da demanda não atendida; o

estoque disponível e a capacidade física de armazenamento.

Uma boa programação é resultado da combinação de mais de um critério, pois se

desenvolve uma maior compreensão do estado atual e fornece informações em relação a

quando comprar e em que quantidade.13-15

A programação pode ser comprometida por diversos fatores como a falta de critérios

técnico-científicos, sistema de informação com dados não confiáveis, recursos humanos

despreparados e recursos financeiros insuficientes. Seu comprometimento gera a falta de

alguns medicamentos e o excesso de outros. Quadro que poderia ser revertido com a adoção

de algumas medidas, como o treinamento dos profissionais envolvidos no processo.14,15

A aquisição objetiva contribuir para o abastecimento dos medicamentos em

quantidade adequada e qualidade assegurada, ao menor custo possível, dentro da realidade do

mercado, apoiando a terapêutica racional, em área e tempo determinados.15

O processo de aquisição depende de uma seleção e programação bem planejadas,

sendo frequentemente considerada uma atividade burocrática e administrativa, realizada por

administradores e advogados. Estes podem desconsiderar aspectos técnicos da farmácia e

focar no aspecto econômico.

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


18

O uso de múltiplos critérios durante a aquisição contribui para evitar a

descontinuidade no suprimento dos medicamentos e promover a confiabilidade dos produtos

adquiridods.15

A aquisição tem seu processo regulamentado pela Lei nº 8.666/93 complementada

pela Medida Provisória nº 495/201018, que define as formas de aquisição e as divide em

licitação e dispensa de licitação. A licitação é subdividida de acordo com os valores da

compra, carta convite (até R$ 80.000,00), tomada de preços (até R$ 650.000,00) e

concorrência (acima de R$ 650.000,00). Também pode ocorrer através de compra direta com

valores de até R$ 8.000,00.15,16

Diversos fatores podem comprometer a realização da aquisição como recursos

humanos, seleção de fornecedores, conhecimentos técnicos e outros. Durante a elaboração da

requisição de compras é necessário realizar as especificações técnicas relativas aos produtos e

ao transporte para garantir a qualidade dos produtos adquiridos. A periodicidade da aquisição

é um fator importante, pois é necessário considerar a capacidade de armazenamento e o tempo

de espera dos produtos adquiridos.14,15

A ausência da CAF pode indicar que os medicamentos são armazenados diretamente

no local de dispensação. Aqui cabe a diferenciação entre CAF e almoxarifado. O primeiro é o

local específico para a guarda dos medicamentos em condições pré-determinadas e o segundo

é o local de armazenamento de produtos gerais, como material de escritório e produtos de

limpeza.16

O principal objetivo do armazenamento é a garantia da qualidade sob condições

adequadas e controle de estoque eficaz, além da garantia da disponibilidade dos produtos em

todos os locais de atendimento com a qualidade assegurada do recebimento até a entrega ao

usuário. O armazenamento ocorre em locais específicos, denominados Centrais de

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


19

Atendimento Farmacêutico (CAF), as centrais possuem diferentes tamanhos e capacidades,

entretanto devem ser desenvolvidas de acordo com critérios específicos de infra-estrutura.14,15

As instalações devam ser construídas considerando aspectos como: facilitar o fluxo de

recebimento e distribuição; permitir fácil movimentação; garantir adequada ventilação;

favorecer controle rigoroso de temperatura e umidade; apresentar superfícies lisas que

facilitem a limpeza; dispor de iluminação artificial (luz fria). Além dos aspectos estruturais

ela deve ser organizada de modo a facilitar o controle de estoque, funcionando como uma

base de dados sobre consumo e gerar dados sobre o próprio armazenamento, onde poderão

basear-se a programação, aquisição e a seleção.14,15

Estantes e estrados, iluminação artificial, paredes e piso laváveis e ar condicionado são

critérios diretamente relacionados com a infra-estrutura da CAF e sua instalação, pois eles

garantem a proteção dos medicamentos contra fatores extrínsecos como a temperatura,

luminosidade e umidade, além de facilitar a limpeza, a organização e circulação.

A ficha de prateleira é fundamental para o controle de estoque, pois permite uma

rápida visualização do nível do estoque e do perfil de saída. A existência de um sistema

informatizado facilita o controle de grandes estoques, entretanto ele não é substituto para as

fichas de prateleira, pois está sujeito a erros mecânicos e seus dados nem sempre estarão

atualizados.

O armazenamento pode ser considerado como uma atividade administrativa com

objetivo de manter informações confiáveis sobre níveis e movimentação física e financeira de

estoques necessários ao atendimento da demanda evitando a superposição ou o

desabastecimento do sistema.15

O controle do estoque dos medicamentos pode ocorrer através das fichas de prateleira

e, quando disponível, com o uso de sistemas informatizados. Entretanto é necessário realizar

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


20

periodicamente o inventário dos medicamentos em estoque, a fim de comparação entre os

valores registrados nas fichas e o existente fisicamente.

Longos intervalos entre os inventários podem comprometer a realização das etapas de

programação, aquisição e seleção, além de promover perdas, desperdícios e ocorrer o

desabastecimento.15

No trabalho de Bernardi, Bieberbach e Thome, 22% dos itens exigidos para as Boas

Práticas de Armazenamento (BPA) foram cumpridos no armazenamento de medicamentos em

20 municípios gaúchos.6 Dentre os itens não cumpridos pela maioria dos municípios estão: a

inexistência de equipamentos de refrigeração na farmácia, para produtos como as insulinas,

que necessitam de um controle de temperatura, e que estão sendo armazenados em outras

salas, as quais possuem o refrigerador; falta de uma infra-estrutura adequada, onde na maioria

das farmácias visitadas, o espaço físico insuficiente faz com que muitos dos medicamentos

fiquem em contato direto com o piso e paredes, estando fora dos padrões de BPA.

Em dois municípios baianos, Barreto e Guimaraes encontraram problemas como

temperatura inadequada nos locais de armazenamento dos medicamentos, ausência de

prateleiras e pallets, ausência do controle de estoque, inadequação da programação e das

aquisições, além de transporte inadequado.5

Segundo a Lei 5.991/73, a prescrição somente poderá ser aviada ou os medicamentos

dispensados com a apresentação desta. Todos os municípios referiram que a dispensação de

medicamentos é realizada apenas com a apresentação da prescrição médica.15

A utilização da DCB é obrigatória para prescrições no SUS, pois visa reduzir os custos

do tratamento e assegurar a qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos prescritos . Isso

contribui também para facilitar a dispensação, pois os processos de aquisição devem ser

baseados na denominação genérica. A quantificação de medicamentos prescritos pela DCB

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


21

e/ou DCI tem como objetivo verificar a obediência as normas legais e a extensão do

conhecimento e cumprimento dos prescritores do sistema vigente.6

A utilização dos nomes comerciais pode indicar uma falta de conhecimento do

prescritor em relação aos medicamentos existentes na farmácia ou mesmo uma divulgação

deficiente do elenco municipal.

Como a maioria dos farmacêuticos está concentrada na região metropolitana de

Belém, e certamente não há farmacêuticos em todas as unidades da rede de saúde do

município, o que chamamos de dispensação se resume, na maioria dos casos, na entrega de

medicamentos ao usuário e esta é realizada por outra pessoa, obviamente não habilitada a

orientar sobre a sua utilização correta.

Barreto e Guimaraes referem ausência de farmacêutico nas unidades básicas de saúde

em três municípios baianos e Oliveira et al, em um artigo de revisão sobre assistência

farmacêutica no SUS, a dispensação é feita por trabalhadores sem capacitação, e muitas vezes

existem grades separando o usuário do profissional que faz o atendimento, descaracterizando

a humanização do serviço.5,9

Conclusão

Ao estudar o estado do Pará, as diferenças sociais, culturais, demográficas e

econômicas entre as regiões do estado são enormes, o que dificulta a comparação inter-

regional. O mesmo é encontrado durante o estudo das condições do atendimento a saúde.

Para que seja realizada a assistência farmacêutica é necessária a existência da

Coordenação de Assistência Farmacêutica no município para que desenvolva o plano de

Assistência Farmacêutica. No estado, 89 municípios relataram possuir a coordenação,

contudo existem 106 planos com tempo de existência maior de dois anos, especialmente na

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


22

região Araguaia-Xingu em que todos se enquadram nesta categoria e na região Caeté-Capim

onde ocorre em grande número de municípios. Diferente de regiões como Alto do Rio

Tocantins e Transamazônica onde a maioria dos planos possui um ano.

Para a realização de uma assistência farmacêutica de qualidade é necessária a sua

institucionalização, a existência de rede de saúde e recursos humanos compatíveis com a

demanda populacional e a realização eficiente do ciclo da assistência farmacêutica.

A rede de saúde deve-se distribuir pelo município e garantir o acesso da população,

entretanto observaram-se grande número de pessoas sendo atendidas por unidade de saúde,

aproximadamente 34.941 habitantes, indicando uma demanda maior do que pode suportar a

rede de saúde municipal. Este quadro é observado em mais de 75% das regiões do estado,

indicando que pode se tratar de um problema generalizado.

Entretanto não basta institucionalizar a assistência farmacêutica, construir farmácias e

adquirir medicamentos sem a presença de farmacêuticos atuantes. No estado existem 426

farmacêuticos trabalhando em 136 municípios, todavia não existe uma distribuição igualitária

dos profissionais, pois a região Metropolitana concentra 157 farmacêuticos em 16 municípios,

sendo 109 somente em Belém. As outras regiões possuem uma média de 2,5 farmacêuticos.

Dentro dos municípios os farmacêuticos se distribuem na assistência farmacêutica,

farmácia hospitalar, farmácia popular, almoxarifado, farmácia das unidades de saúde,

vigilância sanitária e laboratório de análises clínicas, resultando em acumulo atribuições.

Ainda existem municípios que não possuem farmacêuticos.

O ciclo da assistência farmacêutica proporciona a aquisição dos medicamentos mais

indicados ao menor preço, com segurança e qualidade. Para se realizar a seleção e elaboração

da REMUME é necessária a instalação da CFT o que ocorre em apenas 32 municípios,

entretanto 85 relatam utilizar a REMUME, podendo indicar um desconhecimento sobre o

papel da CFT.

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


23

As etapas de seleção, programação e aquisição são realizadas principalmente através

do que foi pactuado com o estado através da CIB, sendo relatado por cerca de 80% dos

municípios. O fator mais considerado durante o processo de aquisição foi o menor preço,

podendo indicar uma maior preocupação com o custo final do que a qualidade do produto

obtido.

Em relação ao armazenamento e a CAF mais de 70% dos municípios possuem os

elementos básicos (estantes e estrados, ar condicionado, armário com chave para controlados

e ficha de prateleira) indicando uma preocupação com a conservação dos medicamentos

adquiridos, entretanto somente 30% possuem geladeira e termômetro, comprometendo o

armazenamento dos medicamentos termolábeis.

Contudo não basta armazenar sem o controle dos medicamentos em estoque e seus

prazos de validade, sendo necessária a realização de inventários periódicos, entretanto 23

municípios o realizam semestralmente e 25 em outra periodicidade que pode ser maior que

seis meses, podendo provocar perda de medicamentos.

A dispensação depende da realização correta das outras etapas do ciclo e por ser

realizada em uma instituição pública é obrigada por lei a ter sua prescrição escrita na DCB ou

na DCI, entretanto somente 121 relataram utilizar a DCB. Do total, 69 informam a utilização

do nome comercial, isso pode indicar a existência de prescrições mistas ou prescritores que

utilizem somente a denominação comercial.

A assistência farmacêutica encontra-se institucionalizada no estado do Pará e as etapas

do ciclo na maioria das regiões obedecem ao determinado em lei, entretanto ao se observar a

rede de saúde e o número de farmacêuticos encontram-se uma rede de saúde sobrecarregada e

um número insuficiente de farmacêuticos, podendo comprometer a qualidade do serviço.

Avaliação da assistência farmacêutica básica no Pará - Brasil


24

Em resumo, à semelhança de outros trabalhos, a assistência farmacêutica nos

municípios estudados é realizada com muitas restrições, o que exige maior investimento em

recursos humanos, físicos e materiais.

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