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Elementos do

Figurino
Linguagem e Fala –
Roland Barthes

• “(...) não há língua sem fala e não há


fala fora da língua; é nessa troca que
se situa a verdadeira práxis linguística.”
Barthes
• A Língua se apresenta como
um sistema linguístico, uma
instituição social e, a Fala, em
contrapartida, como individual
e particular. No entanto,
ambas estão emaranhadas e
interdependentes uma da
outra;
• “Língua é uma instituição, um
corpo abstrato de coerções;
fala é a parte momentânea
dessa instituição, que o
indivíduo extrai e atualiza para
atender às necessidades da
comunicação; a língua é
oriunda da massa de falas
emitidas, no entanto toda fala
é extraída da língua: em
história, essa dialética é a
dialética entre estrutura e
acontecimento; em teoria da
comunicação, dialética entre
código e mensagem.” Barthes
Vestuário, indumentária
e figurino
• Vestuário/traje: conjunto de roupas e
acessórios utilizados por uma pessoa ou
um grupo social.

• Indumentária: história do vestuário ou de


hábitos relacionados com o traje em
determinada época, local, cultura etc.

• Figurino: traje usado por um personagem


de uma produção artística
Imagem: a representação
do real (ideia)
• Em analogia às estruturas descritas por
Barthes, é possível aproximar o figurino
ao vestuário-imagem e,
consequentemente, ao vestuário-real,
onde um irá representar o outro.
• O figurino enquanto vestuário-imagem
parte de um modelo, o do vestuário-real,
e que tem sua origem na concepção do
diretor do filme.
• O figurino, no entanto, não é somente um
modelo que copia o real, mas atua ele
próprio como produtor de sentido.
• Enquanto vestuário-imagem, o
figurino apresenta duas
possibilidades estruturais
importantes: sua dimensão
enquanto Língua e sua dimensão
enquanto Fala das personagens.
• A Língua do figurino é entendida
como aquilo que é constituído por
um conjunto de formas, relações e
estruturas.
• É uma estrutura que se baseia no
vestuário-real, na indumentária
propriamente dita, sendo, portanto,
uma manifestação das coerções
institucionais: a saia foi
convencionada como um artigo
feminino, o preto no ocidente, dá
sentido ao luto, o hábito é usado
por freiras, e assim por diante.
• A Fala do figurino dará conta de
algo individualizado, escolhido, que
responde a um estilo, a uma
proposta intencional, deliberada e
particular.
• Refere-se à parte unicamente
individual da personagem, com
vistas a exprimir suas características
e particularidades. Através do
aspecto combinatório de códigos da
Língua do figurino, a Fala será a
manifestação externa da
personalidade de cada
personagem.
• Convencionou-se que saia, vestido, decote e
acessórios brincos, colares e bolsa pertencem ao
universo feminino. São sinais que dão sentido às
roupas, portanto estamos tratando em Língua.

• Cores, estampas, corte das roupas, estilos e


estética, referem-se à Fala do figurino da
personagem. Trata-se aqui de uma mulher
alegre, vaidosa, cuidadosa, sensual, pois é o que
a roupa da personagem nos fala. A Fala é
formada aqui por variações impressas pela
personagem. Possivelmente a Fala do figurino de
outra personagem terá outras particularidades,
ainda que esta personagem seja uma mulher que
vista saia, blusa, colares e bolsas.
• Uma vez que o signo indumentário se coloca à
leitura, por meio de imagens que o transformam
em função (esta blusa serve para designar
sensualidade à personagem), podemos supor que
o figurino (ou vestuário imagem), comporta uma
relevante relação de significação.

• A personagem Raimunda é uma mulher forte e


determinada, porém sofrida e com uma marca
terrível de dor familiar. No entanto ela é vaidosa,
tem esmero ao se arrumar, transparece capricho e
cuidados pessoais. De acordo com o diretor do
filme, Pedro Almodóvar, ele buscou na
personagem exatamente esta marca da beleza e
sensualidade ao vestir a personagem Raimunda;
• “O significado tem caráter conceitual, ele é uma ideia;
existe na memória do espectador, e o significante
apenas o atualiza, tem sobre o significado um poder de
apelo, não de definição (...) (Barthes, 2005:43).

• “Embora meu filme espire-se no neo-realismo,


com alguns toques de surrealismo, não hesitei em
dar a Penélope uma imagem que recorresse a
todos os artifícios puramente cinematográficos. Se
eu tivesse mantido rigorosamente o registro neo-
realista, ela teria sido menos maquilada, e vestida
com menos esmero. Mas eu queria descobrir a
imagem da mulher, da mãe de família em todo o
seu esplendor, tal como existe no cinema italiano.
(...) No cinema italiano, as mulheres do lar
também são ancoradas na realidade, mas
continuam desejáveis.” Almodóvar
Estilos: realistas ou
estilizados:
• Realistas: comportando todos os
figurinos que retratam o vestuário
da época retratada pelo filme com
precisão histórica;
• Simbólicos: quando a exatidão
histórica perde completamente a
importância e cede espaço para a
função de traduzir simbolicamente
caracteres, estados de alma, ou,
ainda, de criar efeitos dramáticos
ou psicológicos.
• Ultrarrealistas: O figurinista
inspira-se na moda da época para
realizar seu trabalho, mas
procedendo de uma estilização
onde a preocupação com o estilo e
a beleza prevalece sobre a
exatidão pura e simples;
Cores

• Cores expressam sensações e podem


definir um contexto com muitos
significados. Através das cores pode-se
detectar o estado de espírito (se está
alegre, triste, de luto, se é
recatada, clean, rebelde, etc) e o gênero
no qual a peça/filme está inserido
(drama, comédia etc).

• “Empregada de maneira inteligente pelo


produtor e pelo designer, a cor pode
dirigir a atenção da plateia e apontar
ações importantes e, é claro, em uma
primeira vista pode melhorar a figura do
palco e dar prazer aos olhos. A cor em
figurinos individuais pode ajudar um ator
a estabelecer e sublinhar sua personagem
e sua importância na peça”
Volume

• Produções estilizadas pode ser


utilizadas de formas exageradas ou
pequenas demais para enfatizar
uma cena. Pode se utilizar para
ressaltar aspectos do corpo do
ator como, por exemplo, uma
barriga saliente numa personagem
com caráter cômico.
Texturas

• É o aspecto de uma superfície ou seja, a


"pele" de uma forma, que permite
identificá-la e distingui-la de outras
formas. Quando tocamos ou olhamos
para um objeto ou uma superfície
sentimos se a sua pele é lisa, rugosa,
macia, áspera ou ondulada. A textura é,
por isso, uma sensação visual ou tocável.
Texturas de certos objetos ajudam em sua
identificação.
• Através das texturas pode se demonstrar
algo sobre a personagem no
relacionamento dele com os outros
personagens, ou de determinados grupos.
A demonstração de classes sociais menos
favorecidas geralmente é visualizada
fortemente em tecidos mais rústicos e
sujos.
Contexto e ambiente

• “Muitas vezes a escolha do vestuário muda de


significado segundo o contexto em que se insere
por exemplo, usar camisola para dormir tem um
significado, mas sair na rua com ela tem outro
bem diferente. E todas estas significações auxiliam
na personificação de uma personagem.”
• É de suma importância notar o figurino
corresponde ao contexto pedido na cena, assim
como observar a ambientação culturalmente,
temporalmente, se não há conflito entre o
figurino, a cenografia e a iluminação para que não
haja uma descaracterização, ou sobreposição de
sentidos que faça o figurino perder em conceito.
Elemento de Destaque

• Para a construção da personagem muitas


vezes se escolhe um elemento de destaque a
ser priorizado na construção do figurino, seja
ele inerente à personalidade da personagem,
a sua história ou seu contexto cultural.
Contraste

• O contraste pode ser entre cores, cenário,


personagens, elementos antagônicos e muito
discrepantes;
Exagero
• O excesso de frequência de certo
elemento específico, excesso
de volume, de uso de uma
determinada cor.
Ordem de
aparição
• Diz respeito ao primeiro conjunto
de roupas a ser notado pelo
público;
Ausência
• A falta de certo elemento, como
peças de roupa essenciais — a
exemplo de nus — faz o público
sentir a estranheza pela quebra da
convenção social e portanto notar a
falta desse elemento;
Deslocamento

• Colocar um objeto do figurino que em


condições normais, ou seja, na realidade, não
estaria presente nesse determinado local do
ator, ou ele não o manejaria desta forma.
Referências
• KWITKO, Ana Paula. O sistema do
figurino no cinema: uma
abordagem semiológica., In:
http://www.revistas.univerciencia.o
rg/index.php/comtempo/article/vie
wFile/7096/6494
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Figuri
no

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