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Euclides por Costa Lima

Luiz Costa Lima - O Estado de S.Paulo


Todos sabem que o arcabouço d''Os Sertões trata do confronto entre um movimento messiânico
milenarista sertanejo e as Forças Armadas.
O esquema do livro, como também se sabe, é nitidamente determinista. São três partes: A Terra, O
Homem e A Luta. Quando Euclides começa a escrever a primeira parte do livro, que, a meu ver, é
a mais bela, ele vai fazer o quê? Vai começar pela constituição geológica do continente americano.
Trata, então, do solo, e também da flora, da fauna, do clima, do fenômeno da seca, etc. Isso
constitui o sumário da primeira parte.
Na segunda parte, que se chama O Homem, ele tratará do povoamento e da miscigenação como
processo. Sobre essa segunda parte, quem vai se estender é a colega Lilia Schwarcz, especialista no
assunto. Eu passo, então, em seguida a falar da Luta, que é subdividida em seis capítulos e tem o
mesmo número de páginas que as duas anteriores somadas. Trata-se da parte maior do livro.
É bom não perder de vista o seguinte: que essa parte que se chama A Luta - e que deveria ser, em
princípio, apenas a crônica da guerra - tem trunfos, tem ardis literários e, por isso, deflagra
retroativamente as duas partes iniciais.
A Terra, entre as muitas coisas brilhantes que efetua, realiza a metaforização narrativa dos
vegetais.
Conforme a analogia positiva, temos ali o elogio da resistência dos vegetais, suas virtudes morais e
seu caráter de plantas sociais. Ou seja: trata-se de alegorias do sertanejo, de quem essas plantas são
aliadas e protetoras, porque elas, além de apoiarem umas às outras, repelem o invasor.
Afora a analogia positiva, nós temos também o trabalho da analogia negativa, em que esses
vegetais aparecem da seguinte maneira: o mandacaru, aquele cacto enorme, é chamado de espectro
de árvore. Naqueles entrançados de espinhos, que existem no sertão, se retêm farrapos das fardas
dos soldados que passaram por lá. Ainda mais: cabeça-de-frade, que é um cacto redondo,
espinhento, que produz uma vez por ano uma única flor rubra, é comparado a um conjunto de
cabeças decepadas - que só aparecerão na última parte do livro, na qual vamos saber da prática
sistemática da degola dos prisioneiros.
Também nessa parte inicial se fala de Canudos pela primeira vez, quando Euclides diz que um
soldado estava deitado à sombra de uma árvore, ''descansando'', havia três meses, ou seja, ele
estava morto e mumificado pela secura dos ares do sertão. É assim que o leitor tem contato com
Canudos pela primeira vez no livro. Em seguida, isso é replicado pelo cavalo, igualmente
mumificado, que, preso meio de pé numas pedras, mostra sua crina esvoaçante, de modo que
também tem a aparência enganosa da vida.
Quanto à Luta, vocês sabem que foram necessárias quatro expedições para conseguir debelar a
insurreição do Arraial. E o fim da guerra se deu no dia 5 de outubro de 1897. Antes que a luta
terminasse, o que se divulgava era que se tratava de uma conspiração monarquista internacional,
que tinha Canudos como foco e por objetivo restaurar o império. E o que aconteceu quando a
guerra acabou? Quando a guerra acabou, o que surgiu foi a resistência admirável dos canudenses e
um massacre de gente pobre, mal armada e mal alimentada.
É preciso lembrar que, quando a República foi instaurada no Brasil, houve uma série enorme de
levantes disseminados pelo território nacional, algo normal quando ocorre uma mudança de
regime violenta como essa. Mas a Guerra de Canudos foi o último desses movimentos. Quer dizer,
tamanha repressão, tamanha convocação dos brios do Brasil inteiro acabaram fazendo com que a
República saísse do conflito consolidada. Consolidada à custa do sangue dos canudenses,
evidentemente, mas consolidada.
E o que Os Sertões expressa? Expressa exatamente uma reviravolta de opinião. Quando Euclides
da Cunha foi para Canudos, como todo mundo no Brasil, ele pertencia àquela opinião unânime de
que lá havia uma conspiração monarquista, que significava um retrocesso para o País. Mas quando
chegou ao cenário da guerra, Euclides começou a ver que as coisas eram um pouco diferentes. Já se
encontram no Diário de Uma Expedição os primeiros sinais de uma mudança, da reviravolta que
iria se operar nele. Euclides da Cunha trazia da Escola Militar uma boa bagagem. Ele tinha
estudado geologia, mineralogia, botânica, química, física, ótica, astronomia, geodésica, mecânica
racional, as matemáticas, etc. Só que eram matérias de currículo; nada era muito aprofundado,
como se pode notar lendo Os Sertões. Mas se percebe também que esses saberes adquiridos na
Escola Militar afinam as vistas com que Euclides avalia Canudos e a guerra. Lembremos também
que ele fez estudos novos para escrever o livro. Foi estudar a história de Portugal e do Brasil,
especialmente a colonização e o povoamento; estudou noções de antropologia, de sociologia, de
folclore, de psicologia social e daquilo que se chamava de ''comportamento normal das
multidões'''', porque os cientistas sociais andavam muito preocupados com a Revolução Francesa,
que mobilizara massas revolucionárias nas ruas.
O que nós vamos ter, então, em relação ao conjunto dos saberes de Euclides? Ele mobiliza tudo
isso. Vamos encontrar, misturadas nas páginas da obra, por exemplo, teorias sobre a origem do
fenômeno endêmico das secas e interpretações psicocriminais da instabilidade nervosa dos
mestiços. Ou então uma crítica às táticas do exército misturada com análises de preceitos religiosos
e de heresias ao longo da história.
Com tudo isso, Os Sertões cumpriu sua missão: erigir um monumento literário à memória dos
canudenses, imolados no altar da modernização trazida pela República que se abatera sobre eles.
Desde a primeira leitura de Os Sertões, eu lembro que me chamava a atenção, logo na nota
introdutória, a passagem de uma frase: ''Gumplowicz, maior do que Hobbes.'' Obviamente, eu não
sabia quem era Gumplowicz - se alguém aqui souber, parabéns, porque eu não sabia até
relativamente pouco tempo atrás. Numa das minhas leituras, já adulto, releitura, aliás, de Os
Sertões, eu me deparei outra vez com a frase e disse: ''Não é possível que a esta altura da vida não
saiba ainda quem é Gumplowicz.'' Procurei nas enciclopédias acessíveis, desde logo a Britânica -
nenhuma referência. Até encontrar informações sobre ele na Enciclopédia Italiana, enciclopédia
fascista. Fascista, sim, mas que tem um pequeno verbete sobre Ludwig Gumplowicz. Eu lhes dou
os dados muito rapidamente.
Gumplowicz era um polonês, nascido em 1838 na Cracóvia e foi professor numa pequena cidade
da Áustria, Graz, onde morreu em 1909. No fim do século 19 e início do século 20, a Polônia
pertencia ao Império Austro-Húngaro e a língua da elite, ou pelo menos do grupo docente e
administrativo, era o alemão. Então, Gumplowicz tinha escrito nesse idioma um livro chamado A
Luta das Raças. Euclides não lia em alemão; se já lia muito mal o inglês, imagine o alemão. Mas
descobri que o livro teve uma tradução francesa e deve ter sido nessa língua que Euclides o leu.
É uma obra pequena, sem grandes dificuldades de leitura. Para minha surpresa, lendo o livro, eu
me disse: ''Não, este não pode ser o autor que Euclides cita!'' Por quê? Porque esse autor é todo o
oposto do ''darwinismo social'' que ele esboçava.
E o que Gumplowicz diz explicitamente? Em poucas palavras, depois de reconhecer os méritos de
Darwin, de dizer no que se afasta do autor de A Origem das Espécies, ele vai admitir que as raças
não tinham uma origem única, ou não tinham um tipo único, e sofriam variações de acordo com as
condições do meio. No livro, Gumplowicz explica que não se podem testar as ditas leis universais
nesse caso, porque estamos falando de um tempo de milênios de anos, em que não há um
testemunho disso. Mas, acreditava, podemos bem imaginar que se tratasse de uma multiplicidade
muito grande de grupos humanos - e que esses grupos guerreavam entre si. Aqueles que venciam
cresciam em número, aumentavam, incorporando os vencidos. Então, o primeiro critério do que se
entendia como raça era um critério de ordem social, ou seja: de, família, clã, tribo, grupo vencedor.
Grupo ''vencedor'', leia-se ''raça vencedora'' - então, leia-se ''raça mais forte''. Grupo ''vencido'', leia-
se ''raça inferior''.
''Raça'', portanto, é um critério - falando com os termos de hoje - antes sociocultural do que
biológico. Gumplowicz acrescenta: ''É verdade que a ideia de laço de sangue é um elemento mais
forte, contudo, se trata de um elemento posterior.'' Ou seja, o laço de sangue, a base do que a gente
entende como raça se estabelece depois que aqueles critérios socioculturais se verificam.
Na análise de Os Sertões interessava-me resolver esse enigma. Acho muito estranho que, depois de
um século de estudos euclidianos, eu não haja encontrado nenhum trabalho que se referisse ou
que analisasse Gumplowicz. Talvez alguém possa me desmentir. Mas o fato é que, havendo
referência ou não, a análise do debate da divergência da leitura de Euclides em relação ao que o
polonês dizia, esse debate, que eu saiba, foi estabelecido apenas num livro que eu escrevi no fim
do século passado, chamado Terra Ignota.
Outro ponto sobre o qual eu vou evitar me estender agora, por questão de tempo, é: como seria Os
Sertões se Euclides tivesse lido Gumplowicz corretamente? A ideia básica do cristal de rocha, da
essência da nacionalidade, da necessidade de passar um tempo para que nós superássemos a
mestiçagem - que é, do ponto de vista da antropologia biológica, um crime, etc., etc. -, tudo isso
cairia fora d''Os Sertões. Insisto: o que seria de Os Sertões se Euclides tivesse bem lido
Gumplowicz? Mas essa é uma questão que eu deixo, seguindo o estilo das telenovelas, para um
próximo capítulo.
O Sertões representa um exemplo extremo de obra em que criador e criatura pouco se distinguem.
De um lado, não há mais como falar do episódio de Canudos sem mencionar o autor. De outro, eu
diria que a memória é sempre traiçoeira: o escritor se mistura com Antônio Conselheiro, como bem
mostrou Roberto Ventura.
Eu me deterei aqui na segunda parte de Os Sertões, O Homem. Ela me parece ser mais lamentada
do que destacada. O ataque se dirige justamente ao suposto engano de Euclides da Cunha ao se
apoiar na bibliografia herdada do darwinismo social, a qual condenava o cruzamento de raças e
via nesse cruzamento um forte sinal de degeneração - e também da falta de futuro da nossa
nacionalidade.
Nesta primeira parte do livro, o sertão de Canudos é a síntese dos contrastes. Noites geladas com
sóis ardentes; região hostil com ambiente acolhedor; o cacto que pica, mas dá suco doce; a seca que
é problema, e é também solução. Mas a natureza é, sobretudo, personagem e as ações interferem
diretamente não só no meio físico como também no homem. O homem é entendido como mimese
da natureza. As espécies diferentes da natureza vão ser encontradas agora nos homens, que serão
também variados. Raças, diferentemente do que diziam os teóricos da época, até mesmo aqueles
que Euclides cita, não são estáticas, se modificam na luta pela vida. Assim como as espécies
vegetais, convivem e se alteram no contato com o ambiente físico.
Euclides da Cunha vai estabelecendo esse jogo de simetrias entre a natureza, o homem e o social e
desenhando um quadro que a todo o momento se move. O sertanejo é síntese do clima, do solo e
das condições de vida. É síntese de sua história. Por isso, diz Euclides, ele é foco de contraste, como
a natureza. É valente, mas supersticioso; é forte, porém raquítico; é generoso, mas fanático. Não
por acaso, Euclides da Cunha cita a nata do darwinismo social - Broca, Morton -, assim como
outros autores, caso de Gumplowicz, já mencionado aqui. Diferentemente das raças estacionadas e
em equilíbrio, o mestiço brasileiro estaria em formação e seria um retardatário nesse processo
evolutivo. Interessava a Euclides pensar num mestiço específico: o sertanejo.
Seu argumento é claro: não teríamos uma raça; seríamos um exemplo de formação futura. E aí vem
a grande frase de Euclides da Cunha: ''Estamos condenados à civilização. Ou progredimos ou
desaparecemos.'' O progresso aqui aparece como danação, não exatamente como um ganho. O
dilema desta geração da República Velha era o dilema de duvidar da civilização e, dessa maneira,
também da própria modernidade. Euclides divide o País em três partes, três regiões geográficas: o
Norte, o Centro em transição e o Sul. E as três áreas estabelecem três zonas climáticas distintas. E,
segundo ele, a história traduziria notavelmente a modalidade mesológica. Tudo se relaciona.
Teríamos, portanto, duas histórias distintas, a do Norte e a do Sul; igualmente, duas formas de
desconhecimento, ou melhor, se todos conheciam o Sul, o Norte surgia como absolutamente
desconhecido, um meio físico encravado entre os canaviais da costa e o sertão do interior. O mar e
o deserto. Mais uma vez o contraste; outra vez a relação meio, história e formação étnica. Por isso,
não existiria uma formação étnica, ou um traço de conformidade, ao contrário restaria, mais um
termo de Euclides da Cunha, uma sub-raça efêmera.
É nesse momento do livro que Euclides introduz um trecho, talvez o mais controverso da obra,
chamado Parênteses Irritantes. Abramos esses parênteses. O suposto é claro: ''A mistura de raças
mui diversas é, na maioria dos casos, prejudicial.'' A mistura é ''quase sempre'' prejudicial e o
mestiço é ''quase sempre'' um desequilibrado - e dá-lhe termos negativos (''decaído'', ''híbrido
moral'', etc.); nesse caso, ''a raça forte não destrói a fraca, esmaga-a pela civilização''. É nesse
momento que entendemos as ressalvas que marcam o começo desses Parênteses. Euclides da
Cunha usa termos como ''quase sempre'', ''na maioria das vezes'', não por exercício de estilo, mas
para salvaguardar o sertanejo. Ou seja, diferentemente do mestiço do litoral, esse sim um decaído,
o sertanejo seria um isolado, um retrógrado, mas não um degenerado. Nesse mar de mestiçagem,
Euclides salva o sertanejo. Não esqueçamos que nesse momento o médico baiano Nina Rodrigues
fazia todas as suas teorias em Salvador sobre a falência das raças cruzadas. É impossível obliterar
também o papel de Sílvio Romero, que condenava a mestiçagem, ou então o papel que o Brasil
cumpriria em 1911, no Congresso Universal das Raças, quando João Batista Lacerda escreve um
texto, apoiado em Roquete Pinto, e diz que em três séculos, ou melhor, três gerações, seríamos
brancos. Três séculos, nesse caso, espelhados na obra de Brocos, que é um artista acadêmico, que
pinta especialmente a tela A Redenção de Cã para expressar como em três gerações seríamos
brancos.
O sertanejo se transforma, antes de tudo, em um forte. É nessa parte do livro que Euclides da
Cunha destaca a definição do sertanejo, como um ''Hércules Quasímodo''. Aí está o auge do jogo
das antíteses, ou seja, a ideia de que ele é ambos ao mesmo tempo. Ele é forte e fraco; imenso e
diminuto - mas, sobretudo, é um desconhecido; ele, o sertanejo, é um isolado. Euclides alega a falta
de existência de historiadores do sertão; ele seria o historiador do sertão, e vai entrando agora na
figura de Antônio Conselheiro. Ou seja, se o sertanejo é um forte, o Conselheiro é síntese também,
é condensação, é resumo abreviado desse mal gravíssimo. A vida de Antônio Conselheiro é
detidamente descrita, assim como o episódio de sua separação da esposa - segundo Euclides da
Cunha, uma sobrecarga adicionada à carga hereditária. O Conselheiro nunca mais teria olhado
para as mulheres; falava de costas com as beatas.
Canudos, afirma Euclides, foi o refluxo da nossa história. Refluxo, eu diria, que escancarava as
mazelas da nossa modernidade. O livro termina como uma denúncia, um lamento. E eu gostaria
de ler apenas um trecho, quase no final do livro, quando Euclides diz: ''Canudos não se rendeu.
Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a
palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos
defensores. Eram 4 apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais
rugiam raivosamente 5 mil soldados.''
Denunciar é, de algum modo, levar ao conhecimento - e Euclides se valeu de seu testemunho para
falar da situação in loco.
Eu diria que aí está a pena forte dessa geração, dessa geração melancólica da República, dessa
República que logo ficou velha. A geração de Lima Barreto, de Euclides, de Rondon, que padeceu
dos males da modernidade. Nos termos de Lévi-Strauss, bárbaro é aquele que acredita na própria
barbárie. Euclides da Cunha partira cético para os sertões em guerra e voltara duvidoso. Quem
sabe tudo não passasse de um grande mal-entendido. Duas realidades distintas, duas sociedades
distintas. Euclides usou as ferramentas que tinha na sua época, as ferramentas ''certas'' do
determinismo. Tudo era previsível: geografia, climas, homens e raças. O corpo de Conselheiro
entrava para sempre no imaginário da República Velha - mais uma vez como divisão. Corpo e
alma, corpo e carne, na representação de Euclides da Cunha, que falava dos cadáveres dos
soldados, das cabeças decepadas, das pernas que pendiam no galho flexível. Mas havia naquela
época outras batalhas corporais. Enquanto a corte recebia o corpo do Conselheiro, não se pode
esquecer que, naquele momento, o único personagem histórico que vingara era Tiradentes. Como
não existia qualquer imagem dele, a República tratou de criá-la - e aproximou o herói cívico do
herói religioso. Temos, portanto, a partir de Os Sertões, uma obra de fundação. E aí o termo se
explica: uma obra de reprodução e de releitura, a formação de muitos heróis. E anti-heróis.
Eu não pretendo, claro, ter esgotado nada aqui. Apenas tentei refletir junto com Euclides sobre
certezas e incertezas daquela época, sobre os determinismos de todas as ordens - e termino com a
imagem da vertigem.
Euclides da Cunha chegou ao cenário da luta com cardápio pronto, paisagem montada, mas o
repórter do sertão esqueceu a câmera fotográfica e as próprias certezas. E choveu no sertão, mesmo
se ali não despontou o mar. Quem sabe ao menos a maresia.

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